universidade de brasÍlia -...

58
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB FACULDADE UNB PLANALTINA FUP LICENCIATURA EM EDUCAÇO DO CAMPO - LEdoC VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL RURAL SÃO MANUEL ANASTÁCIO-MS ELAINE PERES MULLER Planaltina DF 2013

Upload: truongcong

Post on 12-Dec-2018

232 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA - UNB

FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP

LICENCIATURA EM EDUCACcedilO DO CAMPO - LEdoC

VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL

RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS

ELAINE PERES MULLER

Planaltina ndash DF

2013

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA ndash UNB

FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP

LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO - LEDOC

VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL

RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura

em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade

de Brasiacutelia como requisito agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de

licenciado em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo

na Aacuterea de Linguagens

Orientadora Prof Dra Rosineide Magalhatildees de

Sousa

Planaltina ndash DF

2013

ELAINE PERES MULLER

VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL

RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de

Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de

Licenciada em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo

na Aacuterea de Linguagens

Aprovada em 05 12 2013

Banca Examinadora

Prof Dra Rosineide Magalhatildees de Sousa (UnBFUP) ndash Orientadora

Prof Msc Roberta Ribeiro Rocha (LIPunB) ndash Examinadora

Prof Dra Monica Castagna Molina (UnBFUP) ndash Examinadora

Prof Dr Djiby Maneacute (UnBFUP) ndash Examinadora

Planaltina ndash DF

2013

Dedico este trabalho

As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada

momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus

irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou

grata a eles pelo apoio e compreensatildeo

AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria

Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa

por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito

me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano

Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar

para engrandecer minha pesquisa

A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito

contribuiacuteram comigo

A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para

o desenvolvimento de atividades durante todo o curso

Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela

oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica

Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso

Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e

convivecircncia no coletivo

A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de

contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o

inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes

desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis

estava ao meu lado dando forccedila e carinho

Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel

Paulo Freire

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA ndash UNB

FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP

LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO - LEDOC

VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL

RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura

em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade

de Brasiacutelia como requisito agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de

licenciado em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo

na Aacuterea de Linguagens

Orientadora Prof Dra Rosineide Magalhatildees de

Sousa

Planaltina ndash DF

2013

ELAINE PERES MULLER

VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL

RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de

Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de

Licenciada em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo

na Aacuterea de Linguagens

Aprovada em 05 12 2013

Banca Examinadora

Prof Dra Rosineide Magalhatildees de Sousa (UnBFUP) ndash Orientadora

Prof Msc Roberta Ribeiro Rocha (LIPunB) ndash Examinadora

Prof Dra Monica Castagna Molina (UnBFUP) ndash Examinadora

Prof Dr Djiby Maneacute (UnBFUP) ndash Examinadora

Planaltina ndash DF

2013

Dedico este trabalho

As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada

momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus

irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou

grata a eles pelo apoio e compreensatildeo

AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria

Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa

por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito

me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano

Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar

para engrandecer minha pesquisa

A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito

contribuiacuteram comigo

A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para

o desenvolvimento de atividades durante todo o curso

Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela

oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica

Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso

Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e

convivecircncia no coletivo

A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de

contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o

inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes

desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis

estava ao meu lado dando forccedila e carinho

Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel

Paulo Freire

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

ELAINE PERES MULLER

VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL

RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de

Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de

Licenciada em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo

na Aacuterea de Linguagens

Aprovada em 05 12 2013

Banca Examinadora

Prof Dra Rosineide Magalhatildees de Sousa (UnBFUP) ndash Orientadora

Prof Msc Roberta Ribeiro Rocha (LIPunB) ndash Examinadora

Prof Dra Monica Castagna Molina (UnBFUP) ndash Examinadora

Prof Dr Djiby Maneacute (UnBFUP) ndash Examinadora

Planaltina ndash DF

2013

Dedico este trabalho

As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada

momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus

irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou

grata a eles pelo apoio e compreensatildeo

AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria

Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa

por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito

me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano

Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar

para engrandecer minha pesquisa

A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito

contribuiacuteram comigo

A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para

o desenvolvimento de atividades durante todo o curso

Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela

oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica

Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso

Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e

convivecircncia no coletivo

A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de

contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o

inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes

desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis

estava ao meu lado dando forccedila e carinho

Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel

Paulo Freire

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

Dedico este trabalho

As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada

momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus

irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou

grata a eles pelo apoio e compreensatildeo

AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria

Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa

por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito

me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano

Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar

para engrandecer minha pesquisa

A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito

contribuiacuteram comigo

A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para

o desenvolvimento de atividades durante todo o curso

Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela

oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica

Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso

Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e

convivecircncia no coletivo

A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de

contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o

inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes

desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis

estava ao meu lado dando forccedila e carinho

Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel

Paulo Freire

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria

Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa

por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito

me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano

Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar

para engrandecer minha pesquisa

A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em

Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito

contribuiacuteram comigo

A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para

o desenvolvimento de atividades durante todo o curso

Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela

oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica

Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso

Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e

convivecircncia no coletivo

A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de

contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o

inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes

desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis

estava ao meu lado dando forccedila e carinho

Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel

Paulo Freire

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel

Paulo Freire

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

LISTA DE AB REVIATURA

UnB - Universidade de Brasiacutelia

FUP- Faculdade de Planaltina

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MS - Mato Grosso do Sul

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria

PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo

TU ndash Tempo Universidade

TC- Tempo Comunidade

EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO

[] supressatildeo de falas

Pausa breve

Pausa Longa

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

RESUMO

Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no

Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito

de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por

professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste

estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de

moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa

qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da

sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia

entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento

dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com

que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica

normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos

alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de

sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de

compreender as variedades sem estigmatizaacute-las

Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo

do campo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16

11 -Pesquisa qualitativa 16

12 Pessoas pesquisadas 16

13 - Instrumentos de pesquisa 17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18

15 - Objetivo geral 19

16 - Objetivos especiacuteficos 19

17 - Pergunta norteadora 19

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25

31 - Variedades linguiacutesticas 27

32 - Norma linguiacutestica 29

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36

41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola

Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40

4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43

46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44

47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45

48- Variaccedilatildeo lexical 45

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

APEcircNDICE 51

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

11

INTRODUCcedilAtildeO

Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser

entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para

permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a

fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de

transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de

todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de

acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que

demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos

dialetais e culturais

A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos

que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-

se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de

alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e

como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries

finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de

caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades

linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas

observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto

de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo

em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da

liacutengua formal e a liacutengua materna

Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo

utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)

Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros

Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos

sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo

traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada

um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise

dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees

finais

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

12

Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees

estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos

que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em

funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos

pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees

linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a

liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo

deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser

usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e

monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe

variaccedilatildeo sem liacutengua

Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios

teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no

8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas

pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas

discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando

os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua

liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos

falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma

padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo

levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica

que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia

E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de

chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a

realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo

assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm

ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma

universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade

que inevitavelmente estamos inseridos

Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as

variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes

no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a

liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

13

reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa

desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta

e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os

conhecimentos preacutevios dos alunos

A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que

devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo

que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o

que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente

com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado

lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as

variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como

afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo

Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a

todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos

linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois

cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim

a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em

contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos

monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita

sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma

relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao

ensino da liacutengua formal em diversos contextos

A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos

alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma

uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola

mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo

vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas

utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou

seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade

para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com

sua realidade

Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na

comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua

linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

14

ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma

liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre

os falantes de uma liacutengua viva

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

15

CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

11 - Pesquisa qualitativa

Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e

como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da

pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados

atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz

descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o

tema proposto

A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador

gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar

comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo

cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento

humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de

dados coletado pelo pesquisador

A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a

discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de

levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de

observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns

moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na

disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador

iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo

linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio

12 Pessoas pesquisadas

Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas

entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A

liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

16

a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre

outros

As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no

assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico

de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a

professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm

e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries

citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do

ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos

teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo

estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na

escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem

da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no

aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos

De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo

dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo

compreenderem suas proacuteprias variedades

13 - Instrumentos de pesquisa

Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e

escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de

cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no

Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)

com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na

escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e

como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias

didaacuteticos e a liacutengua materna

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

17

14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel

Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do

Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui

assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel

estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande

capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que

compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas

Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no

Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo

de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi

preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana

Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um

objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar

seus filhos

Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi

implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do

Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que

compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas

vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como

Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc

O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas

que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste

(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro

Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes

que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute

mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

18

15 - Objetivo geral

Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo

Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda

verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees

na escola

16 - Objetivos especiacuteficos

Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel

com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros

paiacuteses

Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da

Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e

como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da

liacutengua portuguesa

17 ndash Pergunta norteadora

Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola

do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino

fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as

variantes linguiacutesticas

A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos

compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva

pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees

Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a

nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades

Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como

profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio

De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica

educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

19

de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua

havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

20

CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que

muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de

disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na

sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de

trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala

em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e

empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada

com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo

continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma

educaccedilatildeo de qualidade

Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema

capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a

formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a

classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema

capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir

disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para

dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas

accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade

As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do

campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613

de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo

profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais

pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute

direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do

campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo

pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos

lembrados

Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata

de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma

luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na

coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

21

educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de

mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos

de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola

totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo

estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo

de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees

humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade

Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica

educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do

campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma

educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto

politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma

visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral

As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias

feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito

das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-

pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim

tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo

conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de

2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra

em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo

capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que

almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor

A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao

direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente

um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito

Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que

entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase

garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da

matildeo-de-obra para o mercado de trabalho

A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que

garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave

justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades

Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

22

campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o

campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias

municipais cursos de niacutevel superior

Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos

moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem

frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados

gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto

somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando

espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo

libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa

o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado

A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que

saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade

hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos

de direitos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo

da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo

desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver

mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como

uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas

pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino

tradicional

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas

que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito

de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o

sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do

sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias

ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte

dela como um ser humano de valores e direitos

A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo

emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria

reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo

uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma

unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

23

famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de

garantir uma qualidade vida digna a todos

A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar

profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico

fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos

empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos

cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo

Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir

para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem

que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca

oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais

tempo trabalho na comunidade ( TC)

Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre

Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso

objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do

conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos

espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida

nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute

2012 p468)

A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica

multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens

e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho

interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o

intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade

A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem

com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das

pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo

comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior

compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua

realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

24

CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA

O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com

misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os

colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua

Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas

surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas

pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou

de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas

indiacutegenas africanas e europeias

Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas

por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que

utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um

sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma

comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de

comportamento etc

Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande

equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos

datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes

A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de

1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar

a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada

Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que

defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de

interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas

sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas

mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade

linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas

inevitavelmente

Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

25

Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou

a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na

possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo

existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro

estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s

Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)

(p 7)

Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade

nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua

levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das

teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as

variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente

contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando

Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo

das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em

meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de

politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho

evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e

renovaccedilatildeo da linguagem humana

Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento

para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos

referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre

outros

Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura

descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de

determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua

usada dentro da comunidade

Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e

do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata

independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada

de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William

Labov

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

26

Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a

liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um

tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)

Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a

sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados

contextos sociais e situaccedilotildees

De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute

estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade

social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas

Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da

sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada

como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no

contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista

Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua

adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em

1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde

pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado

em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de

usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada

como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica

variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua

31 - Variedades linguiacutesticas

Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito

pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne

e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso

sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash

(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a

liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta

natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos

tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o

falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe

baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

27

de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma

formalidade maior ou natildeo

Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por

todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo

por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela

nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme

pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades

de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa

De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem

em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades

linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por

muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das

pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma

terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros

satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como

preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p

42)

De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista

realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma

conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio

que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma

monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente

com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos

escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as

duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua

necessidade ou situaccedilatildeo

Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante

uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas

Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo

culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes

satildeo estigmatizadas entre alunos e professores

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

28

32 - Norma linguiacutestica

Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma

compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do

latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo

e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)

Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa

aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das

gramaacuteticas o autor pondera que

se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a

forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os

paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos

g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos

uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE

2001 246)

O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas

houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um

formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais

sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou

tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a

liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros

discursos metalinguiacutesticos

Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na

esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que

se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo

belicoso quanto a espada ou a arma de fogo

Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das

funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da

normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda

que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo

assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

29

um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de

normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como

ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu

alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem

precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)

Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo

da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se

concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua

normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da

liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo

Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em

consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas

satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira

diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi

constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de

chegar ateacute as escolas

O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se

sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na

sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz

consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem

das variantes existentes

Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo

para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas

regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua

portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que

impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta

natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes

permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da

liacutengua

Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento

acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida

pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e

descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas

naturais

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

30

Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo

natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos

sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o

desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a

discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e

pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais

genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito

de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra

Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um

incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez

que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram

inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos

dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los

O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou

a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se

voltar para a langue

Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada

a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos

Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue

Soares (2002) aponta que

Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais

claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera

discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos

provenientes das camadas populares de variantes

linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca

preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de

aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a

variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)

Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do

mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada

do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam

a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

31

Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto

eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz

com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva

Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares

a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado

para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute

considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que

poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua

Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um

reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente

estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes

sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando

seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com

Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram

realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo

menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de

sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas

em todos estes aspectos

Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o

professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na

liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada

como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas

vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo

linguiacutestica

Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade

de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente

determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto

quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo

33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica

A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-

fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

32

Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo

caracterizados pelos falares regionais

O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada

de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de

um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas

formas de se pronunciar o r como na palavra porta

O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras

esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos

A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das

concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na

construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um

cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para

exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a

negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a

presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase

O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma

palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica

eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para

quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse

tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra

palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa

variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante

Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo

objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar

o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para

designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito

utilizadas no assentamento em pesquisa

Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou

menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores

podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de

interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos

abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em

situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

33

Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um

grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que

consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em

consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado

a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas

importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo

mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas

as liacutenguas possuem suas variedades

Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos

os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais

perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno

complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam

simultaneamente

O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel

fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave

pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute

pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No

entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado

como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado

O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e

concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se

fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de

deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo

da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por

meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta

Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada

regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber

como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil

podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca

que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do

paiacutes

Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente

agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

34

Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o

processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da

linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal

fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira

estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo

presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser

reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo

que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica

cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao

ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como

se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que

possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito

vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma

comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

35

CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS

41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da

escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns

moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato

Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de

metodologia

Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio

entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola

local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a

sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua

portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos

Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que

convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e

criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em

determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua

materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for

necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute

preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da

liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande

desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e

alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la

sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a

sociedade

42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel

Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada

comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se

fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu

sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais

escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

36

Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do

Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso

do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para

esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou

seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e

influecircncias

O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande

variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo

pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as

culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E

para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram

analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de

aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos

destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de

dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes

para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados

proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim

consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em

agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender

como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua

portuguesa

Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de

origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental

incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como

nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis

vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute

eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias

Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque

regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes

desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

37

seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece

suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis

linguiacutesticos como faremos mais a diante

Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender

suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa

natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu

vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal

ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a

entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a

escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz

em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu

cotidiano

[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava

ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando

cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto

uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de

variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser

trabalhada em sala de aula

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola

que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto

o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos

possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as

demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a

liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

38

investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo

iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e

professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua

mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola

inevitavelmente

No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees

para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico

para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim

sua visatildeo sobre a liacutengua

Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo

inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por

exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao

dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical

Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que

atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais

viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre

seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo

com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado

utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com

conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada

circunstacircncia Vajamos

[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito

na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []

[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na

escrita isso eacute importante [ ]

Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo

entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente

escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do

ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e

posiccedilatildeo na sociedade

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

39

Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os

que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por

diversas razotildees do cotidiano

Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas

que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades

linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes

Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em

funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra

pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de

se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado

natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando

ela se refere

Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso

Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito

desce povo fala num eacute mesmo bichinha

Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios

falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas

para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo

cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam

adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de

maiores variedades como inferiores

43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo

haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos

Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

40

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante

observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os

alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que

dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto

tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora

dibaxo do peacute de manga

Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees

linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos

sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

41

professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes

de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens

juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes

Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas

propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema

livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste

propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo

alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de

concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o

ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as

falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo

cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem

sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices

44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento

e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel

Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes

com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a

sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da

escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto

estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma

analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a

sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees

existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada

apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos

entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos

Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da

seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e

jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos

sociolinguiacutesticos como

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

42

4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica

A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras

que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou

substituiccedilatildeo de algum fonema

De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma

palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando

reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu

Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN

A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo

ela de origem nordestina Vejamos o exemplo

Gostu muito daqui []

A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som

chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem

e regiatildeo

Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a

senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da

vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar

o plural no uso dos verbos

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino

estudante do 9 ano do ensino fundamental

Aluno 1-

Num vai convenhaacute a voceis []

nois combinemu di dexa a prossora doida []

us minino me itanazavam []

Senhora N-

viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []

Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

43

pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []

46 - variaccedilatildeo semacircntica

De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre

pendendo da origem regional do falante

Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com

alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas

dessa origem

era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido

a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender

os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem

Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as

variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis

arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I

Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo

A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo

noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []

Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []

combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem

pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta

ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo

A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa

tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo

ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH

Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da

consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem

caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

44

47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe

A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o

falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas

Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal

Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)

ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo

Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)

Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal

ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []

ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []

ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []

ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []

48 - Variaccedilatildeo lexical

A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por

termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao

mesmo objeto ou accedilatildeo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)

ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se

refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a

regiatildeo do falante

ldquoPensa cumu era custoso []

A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2

ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []

O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina

eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []

esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

45

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []

O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher

garota

Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash

us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar

deixava raivoso

eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado

terriacutevel danado)

Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo

Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N

la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras

regiotildees como bar mercearia bazar venda

Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu

esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado

vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar

analisar averigua olhar

Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua

Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos

natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro

mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos

conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de

uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social

ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de

juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso

estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a

responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio

comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento

No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema

variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja

menos estigmas entre os falantes

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

46

Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado

como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as

diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos

existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e

de nossa vida pessoal

Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras

regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes

adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que

isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam

ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar

mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de

maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo

assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

47

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de

moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e

minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os

falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio

buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem

entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade

social em que vivem

Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo

presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e

professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica

nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da

liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos

fatores sociais dos falantes

Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma

mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo

ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas

situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo

variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos

Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante

transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social

Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto

o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana

Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma

com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a

reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois

as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes

fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a

norma padratildeo

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

48

REFEREcircNCIAS

AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa

2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr

Acesso em agosto de 2013 as 19 h

BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007

BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo

Paraacutebola 2002

BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002

FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas

publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013

as 14 h

LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica

2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as

1300 h

ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem

pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007

CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002

CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica

2008

MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos

Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM

2009

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

49

M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da

variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008

PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros

de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola

2001 p 237 ndash 254

SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo

Aacutetica 2009

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna

In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e

2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000

MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas

observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes

Acessado em agosto de 2013

VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees

de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em

httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

50

Apecircndice

O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense

Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos

Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de

origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a

grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto

Senhora ndash ( N )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )

terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai

vemu pra caacute

2- Porque vocecircs vieram para caacute

Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa

era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti

tem qui sai da casa do paineacute

Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois

anos depois veimus pro assentamento aqui perto

3- Vocecircs gostavam de onde moravam

Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a

gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que

pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as

coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas

chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava

me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte

pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um

pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc

ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro

antigamente naum

4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

51

Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus

pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma

colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso

foro ixi nossa era bom di mais

Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis

inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas

eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha

farrrtura assim natildeo

5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias

Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui

se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la

nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute

Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom

6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias

Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca

gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)

7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos

comparando a outras crianccedilas daqui

Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r

as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque

la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois

natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e

tambeacutem o pe no forro

8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora

Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli

tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto

natildeo e paro

9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

52

Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma

coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo

sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina

Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do

assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental

Incompleto

Senhora (Nina )

1- Qual a origem de sua famiacutelia

Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu

marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis

ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo

2- Como vocecircs se conheceram

Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se

conheceu aqui mesmo

3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel

Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que

veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)

4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento

Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio

di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras

5- A senhora gosta do local onde mora

Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o

japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora

la

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

53

6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo

Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci

tamem quando eu fui laacute no Japao

7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que

a senhora conhece

Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu

gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o

arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti

Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz

muti[] ( tipo de comida japonesa)

8 Gosta do lugar onde mora

Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute

eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que

tem que trabaia

Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo

9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias

acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis

mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta

10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento

Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa

tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai

vem proce sunta

11 Qual o grau de escolaridade

Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais

ai desisti num adiantava natildeo

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

54

12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as

pessoas

Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri

Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas

bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute

mesmo bichinha

O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos

falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer

parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece

que puxa o R e o S em suas pronuncias

Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante

uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com

um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo

ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental

incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do

assentamento

Jovem - R

1- Qual sua origem familiar

Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e

meu pai tamem

2- Vocecirc gosta do lugar onde mora

Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum

num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo

num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui

purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []

3- Por que vocecirc parou de estudar

Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que

trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

55

de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira

ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []

4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola

Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai

gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita

coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem

5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

falantes

Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum

entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo

naum

6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam

Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis

gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui

eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada

O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do

ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o

que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo

sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na

pronuncia Vejamos

onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis

cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que

tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja

quando cheguemu im casa [ ]

As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de

acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

56

conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma

frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo

Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo

de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de

oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu

vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo

algo desconhecido desses falantes

O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do

assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a

escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista

em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis

linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou

seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que

utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos

1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola

Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os

alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso

quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na

universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees

2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os

alunos

Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na

relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da

escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila

na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo

diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos

se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o

sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias

satildeo parecidos

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

57

3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos

professores de liacutengua

Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados

nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados

com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer

trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo

discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom

[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra

usa na escritaisso eacute importante

4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo

Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo

e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis

professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute

falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas

tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito

porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita

frescura

43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel

Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um

planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de

vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries

finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com

profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade

linguiacutestica

Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua

portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas

variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo

deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por

inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha

58

No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos

sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees

que mostra a existecircncia dessas variedades

Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai

convenha a voceis

Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo

Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na

escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta

Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou

Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa

queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora

professora dibaxo do peacute de manga

Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)

Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava

tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la

pra fora e quebramu tudo o vidru da escola

Professora- Por que fizeram isso

Aluno- 3- purque us minino me itanazavam

Professora- o que eacute itanazavam

Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela

gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela

Professora- o que eacute gasela saltitante

Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano

ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela

saltitante porque ela eacute muito doidinha