universidade de brasÍlia -...
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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA - UNB
FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP
LICENCIATURA EM EDUCACcedilO DO CAMPO - LEdoC
VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL
RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS
ELAINE PERES MULLER
Planaltina ndash DF
2013
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA ndash UNB
FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP
LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO - LEDOC
VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL
RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura
em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade
de Brasiacutelia como requisito agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de
licenciado em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo
na Aacuterea de Linguagens
Orientadora Prof Dra Rosineide Magalhatildees de
Sousa
Planaltina ndash DF
2013
ELAINE PERES MULLER
VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL
RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de
Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de
Licenciada em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo
na Aacuterea de Linguagens
Aprovada em 05 12 2013
Banca Examinadora
Prof Dra Rosineide Magalhatildees de Sousa (UnBFUP) ndash Orientadora
Prof Msc Roberta Ribeiro Rocha (LIPunB) ndash Examinadora
Prof Dra Monica Castagna Molina (UnBFUP) ndash Examinadora
Prof Dr Djiby Maneacute (UnBFUP) ndash Examinadora
Planaltina ndash DF
2013
Dedico este trabalho
As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada
momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus
irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou
grata a eles pelo apoio e compreensatildeo
AGRADECIMENTOS
Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria
Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa
por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito
me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano
Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar
para engrandecer minha pesquisa
A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito
contribuiacuteram comigo
A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para
o desenvolvimento de atividades durante todo o curso
Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela
oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica
Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso
Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e
convivecircncia no coletivo
A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de
contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o
inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes
desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis
estava ao meu lado dando forccedila e carinho
Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel
Paulo Freire
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA ndash UNB
FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP
LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO - LEDOC
VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL
RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura
em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade
de Brasiacutelia como requisito agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de
licenciado em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo
na Aacuterea de Linguagens
Orientadora Prof Dra Rosineide Magalhatildees de
Sousa
Planaltina ndash DF
2013
ELAINE PERES MULLER
VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL
RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de
Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de
Licenciada em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo
na Aacuterea de Linguagens
Aprovada em 05 12 2013
Banca Examinadora
Prof Dra Rosineide Magalhatildees de Sousa (UnBFUP) ndash Orientadora
Prof Msc Roberta Ribeiro Rocha (LIPunB) ndash Examinadora
Prof Dra Monica Castagna Molina (UnBFUP) ndash Examinadora
Prof Dr Djiby Maneacute (UnBFUP) ndash Examinadora
Planaltina ndash DF
2013
Dedico este trabalho
As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada
momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus
irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou
grata a eles pelo apoio e compreensatildeo
AGRADECIMENTOS
Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria
Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa
por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito
me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano
Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar
para engrandecer minha pesquisa
A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito
contribuiacuteram comigo
A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para
o desenvolvimento de atividades durante todo o curso
Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela
oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica
Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso
Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e
convivecircncia no coletivo
A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de
contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o
inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes
desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis
estava ao meu lado dando forccedila e carinho
Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel
Paulo Freire
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
Paraacutebola 2002
BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002
FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013
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LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica
2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as
1300 h
ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem
pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica
2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
2009
49
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variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola
2001 p 237 ndash 254
SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
ELAINE PERES MULLER
VARIACcedilAtildeO LINGUIacuteSTICA E ENSINO NA ESCOLA POLO MUNICIPAL
RURAL SAtildeO MANUEL ANASTAacuteCIO-MS
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de
Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de
Licenciada em Educaccedilatildeo do Campo com habilitaccedilatildeo
na Aacuterea de Linguagens
Aprovada em 05 12 2013
Banca Examinadora
Prof Dra Rosineide Magalhatildees de Sousa (UnBFUP) ndash Orientadora
Prof Msc Roberta Ribeiro Rocha (LIPunB) ndash Examinadora
Prof Dra Monica Castagna Molina (UnBFUP) ndash Examinadora
Prof Dr Djiby Maneacute (UnBFUP) ndash Examinadora
Planaltina ndash DF
2013
Dedico este trabalho
As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada
momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus
irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou
grata a eles pelo apoio e compreensatildeo
AGRADECIMENTOS
Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria
Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa
por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito
me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano
Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar
para engrandecer minha pesquisa
A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito
contribuiacuteram comigo
A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para
o desenvolvimento de atividades durante todo o curso
Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela
oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica
Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso
Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e
convivecircncia no coletivo
A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de
contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o
inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes
desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis
estava ao meu lado dando forccedila e carinho
Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel
Paulo Freire
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
Dedico este trabalho
As minhas amadas filhas Maria Eduarda e Karine que viveram cada
momento desta jornada comigo e que me completam a cada dia Aos meus
irmatildeos e irmatildes que muito me apoiaram e se consigo chegar ateacute aqui sou
grata a eles pelo apoio e compreensatildeo
AGRADECIMENTOS
Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria
Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa
por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito
me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano
Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar
para engrandecer minha pesquisa
A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito
contribuiacuteram comigo
A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para
o desenvolvimento de atividades durante todo o curso
Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela
oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica
Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso
Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e
convivecircncia no coletivo
A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de
contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o
inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes
desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis
estava ao meu lado dando forccedila e carinho
Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel
Paulo Freire
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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49
M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da
variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola
2001 p 237 ndash 254
SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
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Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
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Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
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6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
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12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
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de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
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conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
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No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
AGRADECIMENTOS
Ao bom Deus que me deu o dom da vida e me proporcionou forccedila e sabedoria
Agradeccedilo agrave minha professora e orientadora Rosineide Magalhatildees de Sousa
por acreditar na minha capacidade compreendendo meus limites e que muito
me ensinou natildeo somente no aprendizado mas tambeacutem como ser humano
Aos Educadores da banca aos quais soacute tenho a engrandecer em colaborar
para engrandecer minha pesquisa
A todos os meus professores e professoras do Curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo do Campo que fizeram parte de toda esta caminhada e muito
contribuiacuteram comigo
A Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que me proporcionou abertura para
o desenvolvimento de atividades durante todo o curso
Agradeccedilo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ndash MST pela
oportunidade de formaccedilatildeo de educadores do campo e em especial a Mocircnica
Molina que sempre contribui para existecircncia e permanecircncia do curso
Aos meus colegas de graduaccedilatildeo da turma Dandara pelo acolhimento e
convivecircncia no coletivo
A toda minha famiacutelia que se hoje chego aqui tem uma grande parcela de
contribuiccedilatildeo de todos eles a minha comadre que me acompanhou desde o
inicio me incentivando e apoiando durante estes quatro anos de grandes
desafios e ao meu querido companheiro que nos momentos mais difiacuteceis
estava ao meu lado dando forccedila e carinho
Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel
Paulo Freire
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
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2008
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Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
2009
49
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variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
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SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
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2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
Ensinar exige a convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel
Paulo Freire
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
LISTA DE AB REVIATURA
UnB - Universidade de Brasiacutelia
FUP- Faculdade de Planaltina
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
STR - Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
CPT - Comissatildeo Pastoral da Terra
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MS - Mato Grosso do Sul
INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraria
PRONACAMPO ndash Programa Nacional de Educaccedilatildeo do Campo
TU ndash Tempo Universidade
TC- Tempo Comunidade
EPMR ndash Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
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CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
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Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
NORMAS DE TRANSCRICcedilAtildeO
[] supressatildeo de falas
Pausa breve
Pausa Longa
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
RESUMO
Este trabalho consiste em investigar as variedades linguiacutesticas existentes no
Assentamento Satildeo Manoel e na escola com alunos das series finais no intuito
de compreender como as variaccedilotildees satildeo trabalhadas em sala de aula por
professores de liacutengua portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm anos Buscamos subsiacutedios nos teoacutericos linguistas para a realizaccedilatildeo deste
estudo na pesquisa de campo e para analisar os dados recolhidos de
moradores da comunidade e estudantes Estaacute fundamentado em uma pesquisa
qualitativa com base teoacuterica da sociolinguiacutestica O estudo teoacuterico da
sociolinguiacutestica mostra que a liacutengua tem um mar de diversidade que permeia
entre os falantes e estaacute em constante transformaccedilatildeo A falta de conhecimento
dos professores de liacutengua portuguesa sobre a variedade linguiacutestica faz com
que o estudo linguiacutestico fique limitado nos livros didaacuteticos e gramaacutetica
normativa dificultando uma visatildeo ampla sobre as variedades linguiacutesticas dos
alunos Desta forma este estudo das variaccedilotildees contribuiraacute na construccedilatildeo de
sujeitos criacuteticos com visatildeo ampla da liacutengua humana com a finalidade de
compreender as variedades sem estigmatizaacute-las
Palavras ndash chave Variaccedilatildeo linguiacutestica Variedades e ensino na educaccedilatildeo
do campo
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 12
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA 16
11 -Pesquisa qualitativa 16
12 Pessoas pesquisadas 16
13 - Instrumentos de pesquisa 17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manoel 18
15 - Objetivo geral 19
16 - Objetivos especiacuteficos 19
17 - Pergunta norteadora 19
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 21
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA 25
31 - Variedades linguiacutesticas 27
32 - Norma linguiacutestica 29
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica 32
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS 36
41- Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da escola
Polo Municipal Rural Satildeo Manoel 36
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel 36
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel 40
4 4 ndash classificaccedilatildeo linguiacutestica de algumas frases de moradores e alunos 42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica 43
46 - Variaccedilatildeo semacircntica 44
47 - Variaccedilatildeo morfossintaxe 45
48- Variaccedilatildeo lexical 45
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 49
APEcircNDICE 51
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
11
INTRODUCcedilAtildeO
Atraveacutes do objeto de estudo denominado ldquoliacutenguardquo que pode ser
entendido como um sistema de sons e significados que se organizam para
permitir a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo humana neste sentido pode-se analisar a
fala de uma determinada comunidade e as diversas situaccedilotildees de
transformaccedilatildeo e influecircncias que a sustentam A liacutengua eacute uma rede de relaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo humana inevitavelmente estaacute em transformaccedilatildeo em funccedilatildeo de
todo um contexto histoacuterico social que permite suas variaccedilotildees sendo estas de
acordo com sua distribuiccedilatildeo geograacutefica classe social atividades diaacuterias que
demandam comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos nos discursos
dialetais e culturais
A Sociolinguiacutestica estuda a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e o uso dos
que satildeo reflexos das estruturas sociais e culturais dos falantes Portanto tem-
se com este trabalho o propoacutesito de analisar as variedades linguiacutesticas de
alguns moradores do Assentamento Satildeo Manoel municiacutepio de Anastaacutecio MS e
como estas variedades satildeo trabalhadas na escola com os alunos das seacuteries
finais do Ensino Fundamental do 8ordm e 9ordm ano A pesquisa eacute investigatoacuteria de
caraacuteter qualitativo possibilitando um maior entendimento das variedades
linguiacutesticas suas causas e influecircncias Para esta investigaccedilatildeo foram feitas
observaccedilatildeo da diversidade linguiacutestica entre moradores pesquisa sobre o ponto
de vista dos professores que trabalham com a liacutengua na escola observaccedilatildeo
em sala de aula das variaccedilotildees entre alunos com intuito de analisar o ensino da
liacutengua formal e a liacutengua materna
Para nortear o estudo sociolinguiacutestico e as pesquisas de campo
utilizamos das teorias de vaacuterios linguistas entre eles Bagno (2002 e 2007)
Sousa (2007) Freitas (2013) Antunes (2007) entre outros
Para melhor compreensatildeo do trabalho organizamos em quatro capiacutetulos
sendo a introduccedilatildeo que apresenta o objetivo da pesquisa O primeiro capiacutetulo
traz a metodologia utilizada na pesquisa No segundo capiacutetulo eacute apresentada
um breve histoacuterico da Educaccedilatildeo do campo O terceiro capiacutetulo traz a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica da sociolinguiacutestica e o quarto capitulo mostra a anaacutelise
dos dados coletados na comunidade em pesquisa seguido das consideraccedilotildees
finais
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
12
Apoacutes os estudos teoacutericos sobre a sociolinguiacutestica e suas variaccedilotildees
estudadas na LEdoC ndash (Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo) observamos
que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante transformaccedilatildeo em
funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social em que teoacutericos
pesquisadores linguistas como Marcos Bagno defendem que as variaccedilotildees
linguiacutesticas existem natildeo por que as pessoas satildeo ignorantes mas porque a
liacutengua eacute inevitavelmente heterogecircnea e muacuteltipla Portanto a norma culta natildeo
deve ser absolutizada como sendo um recurso suficiente mas deve sim ser
usada adequadamente de acordo com a situaccedilatildeo de cada falante e
monitoradamente na escrita pois natildeo existe liacutengua sem variaccedilatildeo e natildeo existe
variaccedilatildeo sem liacutengua
Tendo uma visatildeo mais ampla da linguagem humana a partir de vaacuterios
teoacutericos estudados pude observar durante o periacuteodo de estaacutegio que realizei no
8ordm e 9ordm ano do ensino fundamental no periacuteodo do Tempo Comunidade na
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel que as variantes linguiacutesticas trazidas
pelos alunos satildeo tratadas na escola de forma fragmentada Natildeo sendo elas
discutidas e reconhecidas como liacutengua materna do aluno sendo que quando
os alunos chegam ateacute a escola jaacute possui seu vocabulaacuterio de acordo com sua
liacutengua materna pois existe todo um processo histoacuterico cultural e familiar dos
falantes que ao chegar na escola satildeo ldquodesvalorizadardquo em funccedilatildeo da norma
padratildeo Esta posta para ser ensinada como sendo a mais eficiente natildeo
levando em consideraccedilatildeo que existe todo um conjunto de atitude linguiacutestica
que utilizamos para nos comunicar desde a infacircncia
E o vernaacuteculo que aprendemos em casa com os familiares antes de
chegarmos agrave escola e que tambeacutem sofre mudanccedilas sempre de acordo com a
realidade do falante sua regiatildeo mudanccedilas sociais e tecnoloacutegicas Sendo
assim buscamos investigar as seacuteries finais do ensino fundamental 8ordm e 9ordm
ano em funccedilatildeo de os alunos irem para o ensino meacutedio e ateacute mesmo para uma
universidade sem compreender o ensino da liacutengua e seu leque de variedade
que inevitavelmente estamos inseridos
Os estudos linguiacutesticos dos intelectuais que buscam compreender as
variantes existentes datildeo-nos suporte para pesquisar fatores reais existentes
no dia-dia de uma comunidade com diversidade de dialetos Pois mais que a
liacutengua tenha variedades tem sempre um contexto histoacuterico que deve ser
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
13
reconhecido e valorizado poreacutem as mudanccedilas na gramaacutetica normativa
desvalorizam o vernaacuteculo brasileiro trazem a forma culta como sendo a correta
e padratildeo a ser ensinada nas escolas sem levar em consideraccedilatildeo os
conhecimentos preacutevios dos alunos
A liacutengua possui muacuteltiplas variedades e caracteriacutesticas proacuteprias que
devem ser valorizadas e natildeo estigmatizadas pelos falantes de norma padratildeo
que muitas vezes julga-as como sendo errada Natildeo se trata aqui em dizer o
que eacute ldquocertordquo ou ldquoerradordquo se ensinar na escola mas sim de discutir juntamente
com os professores alunos as diversas formas linguiacutesticas de um determinado
lugar ou de um povo Para que as pessoas possam compreender as
variedades existentes entre si sem preconceitos linguiacutesticos e mitos como
afirma o titulo do livro de Marcos Bagno ldquoNada na liacutengua eacute por acasordquo
Tendo em vista que a liacutengua eacute heterogecircnea ou seja esta vinculada a
todo contexto social do falante a escola deve utilizar desses conceitos
linguiacutesticos para fazer um paralelo entre liacutengua materna e liacutengua padratildeo pois
cada uma tem suas especificidades de acordo com cada falante Sendo assim
a escola deve ser o lugar de interaccedilatildeo linguiacutestica colocando os alunos em
contato com estas variantes fazendo sempre paralelos entre a fala menos
monitorada a mais monitorada utilizando a norma padratildeo na fala e na escrita
sem estigmatizar as variedades da liacutengua materna explorando de forma
relevante e eficaz a gramaacutetica normativa e o livro didaacutetico que daacute suporte ao
ensino da liacutengua formal em diversos contextos
A escola pode servir-se das teorias sociolinguiacutesticas para mostrar aos
alunos um mar de diversidade linguiacutestica entre falantes pois natildeo existe uma
uacutenica liacutengua ou uma uacutenica forma padratildeo a ser ensinada e cabe agrave escola
mostrar estes mitos que a norma padratildeo traz nas gramaticas normativas Natildeo
vem ao caso dizer aqui que natildeo pode se ensinar a gramaacutetica nas escolas mas
utilizaacute-la de acordo com as condiccedilotildees do aluno na realizaccedilatildeo das atividades ou
seja eacute ir aleacutem do que jaacute se faz possibilitando aos alunos maior capacidade
para utilizaacute-la adequadamente em cada circunstacircncia dialogando sempre com
sua realidade
Sendo assim esta pesquisa das variantes linguiacutesticas existentes na
comunidade e escola poderaacute contribuir com uma visatildeo mais ampla da liacutengua
linguagem e suas especificidades de acordo com cada falante e suas origens
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
14
ajudando na conscientizaccedilatildeo de nossa sociedade de que natildeo existe uma
liacutengua ldquocorretardquo o que se tem satildeo variaccedilotildees que inevitavelmente circula entre
os falantes de uma liacutengua viva
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
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12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
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de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
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3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
15
CAPIacuteTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA
11 - Pesquisa qualitativa
Neste contexto seratildeo abordados os meacutetodos da pesquisa qualitativa e
como esta emprega diferentes argumentaccedilotildees estrateacutegias de investigaccedilotildees da
pesquisa para anaacutelise de dados A pesquisa qualitativa eacute a analise de dados
atraveacutes do estudo das accedilotildees individuais e grupais em que o pesquisador faz
descriccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pessoa ou de um cenaacuterio para discutir o
tema proposto
A pesquisa qualitativa eacute um processo investigativo no qual o pesquisador
gradualmente compreende o sentido de um fenocircmeno social ao contrastar
comparar reproduzir e classificar o objeto do estudo esta se caracteriza pelo
cenaacuterio escolhido para o estudo ela eacute feita onde ocorre o comportamento
humano em vaacuterias dimensotildees do cotidiano e se concentra no resultado de
dados coletado pelo pesquisador
A coleta de dados em que o pesquisador prepara o terreno para a
discussatildeo das questotildees tambeacutem pode servir de fronteiras para o estudo de
levantamento de registros Este registro de informaccedilotildees seraacute atraveacutes de
observaccedilotildees na escola com alunos e professores entrevistas com alguns
moradores do assentamento e materiais didaacuteticos utilizados por professores na
disciplina de Liacutengua Portuguesa no caso desta pesquisa Assim o pesquisador
iraacute Identificar e pontuar os locais ou as pessoas propositalmente para o estudo
linguiacutestico em questatildeo facilitando seu trabalho investigatoacuterio
12 Pessoas pesquisadas
Neste propoacutesito buscaremos tratar aqui sobre o perfil das pessoas
entrevistadas da comunidade e escola que fazem parte desta pesquisa A
liacutengua humana eacute heterogecircnea e suas variaccedilotildees linguiacutesticas satildeo de acordo com
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
16
a origem geograacutefica grau de escolaridade idade homens e mulheres entre
outros
As pessoas a serem analisadas neste propoacutesito satildeo as que moram no
assentamento desde seu iniacutecio e que acompanharam todo o processo histoacuterico
de lutas e conquistas do assentamento Na escola foi investigado como a
professora de Liacutengua Portuguesa das seacuteries finais do Ensino Fundamental 8ordm
e 9ordm ano trabalha a variaccedilatildeo linguiacutestica e alunos das respectivas seacuteries
citadas Estes alunos foram escolhidos em funccedilatildeo de serem de seacuteries finais do
ensino fundamental indo para o ensino meacutedio E de acordo com os estudos
teoacutericos sobre o ensino da liacutengua podemos perceber que os mesmos natildeo
estatildeo preparados para entender e discutir sobre a liacutengua portuguesa na
escola e seu uso no dia a dia O seja existe uma fragilidade na aprendizagem
da liacutengua em funccedilatildeo de como esta eacute ensinada trazendo consequecircncias no
aprendizado dos alunos no ensino meacutedio e nos demais estudos acadecircmicos
De acordo com as investigaccedilotildees podemos perceber que os alunos natildeo
dominam a liacutengua portuguesa ensinada nas escolas em funccedilatildeo de natildeo
compreenderem suas proacuteprias variedades
13 - Instrumentos de pesquisa
Para identificar as variedades linguiacutesticas existentes na comunidade e
escola foram realizadas observaccedilatildeo das maneiras de falar de um grupo de
cinco (05) pessoas moradoras do Assentamento Satildeo Manoel localizado no
Municiacutepio de Anastaacutecio ndash MS tendo como base a famiacutelia entrevistas (diaacutelogo)
com professores sobre o ponto de vista das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes na
escola e observaccedilatildeo em sala de aula das variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos e
como estas satildeo trabalhadas em sala com os professores utilizando os mateacuterias
didaacuteticos e a liacutengua materna
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
17
14 - Contexto do Assentamento Satildeo Manuel e Escola EPMR Satildeo Manuel
Natildeo podemos falar da escola sem fazermos um breve histoacuterico do
Assentamento Satildeo Manuel pois a escola eacute fruto das lutas das famiacutelias aqui
assentadas Sua organizaccedilatildeo se deu com a ajuda das lideranccedilas de Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais (STR) Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) e
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) O Assentamento Satildeo Manuel
estaacute localizado a 20 km da cidade de Anastaacutecio e a 127 km de Campo Grande
capital do Mato Grosso do Sul com uma aacuterea de 4327 hectares aacuterea que
compreende aleacutem dos lotes reservas e aacutereas sociais das agrovilas
Este assentamento eacute um exemplo de conquista da Reforma Agraacuteria no
Estado de Mato Grosso do Sul sendo mais um assentamento com ocupaccedilatildeo
de famiacutelias mobilizadas pelos movimentos sociais Para a conquista da terra foi
preciso trecircs ocupaccedilotildees onde houve trecircs despejos de forma cruel e desumana
Aqui homens mulheres e crianccedilas enfrentaram a precariedade na busca de um
objetivo comum que era um pedaccedilo de terra para viver com dignidade e educar
seus filhos
Essa terra foi legalizada em 26 de fevereiro de 1993 quando foi
implantado o Projeto de Reforma Agraacuteria atraveacutes da resoluccedilatildeo ndeg 28 do
Conselho de Diretores do INCRA A aacuterea foi dividida em 147 lotes que
compreendem uma extensatildeo de 4327 hectares As famiacutelias aqui assentadas
vieram de municiacutepios diferentes do estado de Mato Grosso do Sul como
Bonito Nioaque Dois Irmatildeos do Buriti Ivinhema etc
O assentamento foi formado por pessoas que moravam no estado mas
que suas raiacutezes familiares vieram de varias regiotildees do paiacutes como Nordeste
(Cearaacute) Sul (Paranaacute) Sul do oeste (Satildeo Paulo) e Minas Gerais e Centro
Oeste originaacuterios do sul mato-grossenses com culturas e costumes diferentes
que inevitavelmente eacute constituiacutedo de grande variedade linguiacutestica onde ateacute
mesmo dentro de uma mesma famiacutelia as variedades estatildeo presentes
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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2008
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49
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Acessado em agosto de 2013
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
18
15 - Objetivo geral
Investigar a variedade linguiacutestica do Assentamento e da escola Satildeo
Manoel principalmente nas seacuteries finais do ensino fundamental E ainda
verificar como os professores de liacutengua portuguesa abordam estas variaccedilotildees
na escola
16 - Objetivos especiacuteficos
Identificar a variedade linguiacutestica do Assentamento Satildeo Manoel
com pessoas que vieram de diversos locais do Brasil e de outros
paiacuteses
Identificar a variedade linguiacutestica de alguns alunos do 8ordm e 9ordm ano da
Escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Refletir como a escola trata a variedade linguiacutestica dos alunos e
como a variedade linguiacutestica poderia ser tema para o ensino da
liacutengua portuguesa
17 ndash Pergunta norteadora
Como se apresenta a variedade linguiacutestica na comunidade e na escola
do Assentamento Satildeo Manoel especificamente nos anos finais do ensino
fundamental e como os professores de liacutengua portuguesa abordam as
variantes linguiacutesticas
A sociolinguiacutestica tem grandes contribuiccedilotildees para que possamos
compreender as variedades existentes entre os falantes de uma liacutengua viva
pois se as pessoas evoluem inevitavelmente a liacutengua sofre modificaccedilotildees
Sendo assim nos falantes temos que utilizar as modificaccedilotildees e variaccedilotildees a
nosso favor classificando-as de acordo com as situaccedilotildees e necessidades
Discutir o ensino da liacutengua eacute de fundamental importacircncia tanto como
profissionais educadores como falantes que trazem variedades no vocabulaacuterio
De acordo com estudos teoacutericos podemos perceber que nossa politica
educacional brasileira natildeo tem como objetivo discutir as variaccedilotildees linguiacutesticas
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
Paraacutebola 2002
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FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
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Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
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de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
19
de forma minuciosa que possibilitem um maior entendimento sobra liacutengua
havendo equiacutevocos no ensino e aprendizagem da liacutengua nas escolas
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
20
CAPIacuteTULO II - BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
A poliacutetica educacional brasileira perpassa por mudanccedilas e conquista que
muito marcaram o processo de educaccedilatildeo tendo por base o movimento de
disputa em torno de projetos poliacuteticos educacionais que acontecem na
sociedade sendo intencionais visando uma melhoria para o mercado de
trabalho em geral As escolas do campo tecircm graves problemas quando se fala
em educaccedilatildeo ou formaccedilatildeo de professores e satildeo muitas as contradiccedilotildees e
empecilhos que - se tem pois muitas escolas natildeo tem infraestrutura adequada
com materiais didaacuteticos que auxilia o professor e ateacute mesmo uma formaccedilatildeo
continuada aos educadores para que ofereccedilam aos os educandos uma
educaccedilatildeo de qualidade
Sabemos que a educaccedilatildeo sempre foi comandada pelo sistema
capitalista pois o desenvolvimento da sociedade precisa de educaccedilatildeo para a
formaccedilatildeo de pessoas para o mercado de trabalho detendo o controle entre a
classe dominante e a classe trabalhadora Sendo assim para o sistema
capitalista natildeo conveacutem formar sujeitos contra hegemocircnicos que possam vir
disputar espaccedilo na sociedade Portanto este modelo de ensino vem para
dificultar a compreensatildeo do sujeito como ser pensante capaz de escolher suas
accedilotildees na sociedade com um olhar criacutetico sobre a realidade
As leis de diretrizes operacionais para a educaccedilatildeo baacutesica nas escolas do
campo na lei orgacircnica que tratava do ensino agriacutecola no decreto-lei nordm 9613
de 20 de agosto de 1946 que tinha como objetivo principal a preparaccedilatildeo
profissional para os trabalhadores e esse curso era destinado aos mais
pobres Na constituiccedilatildeo de 1934 no art198 tinha como objetivo ldquoa educaccedilatildeo eacute
direito de todos e seraacute dada no lar e na escolardquo sendo benefiacutecio ao povo do
campo ainda existem lacunas e controversas que natildeo satisfazem a educaccedilatildeo
pois os direitos individuais satildeo muitos falados jaacute os direitos sociais satildeo poucos
lembrados
Utilizando das normas e leis a educaccedilatildeo do campo que almejamos trata
de uma poliacutetica puacuteblica de interesses das classes trabalhadoras travando uma
luta que contrapotildee a burguesia com propostas pedagoacutegicas embutidas na
coletividade e formaccedilatildeo do sujeito que ali vivem em que possam ter
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
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49
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Acessado em agosto de 2013
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de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
21
educadores que entendam a sua realidade formados com uma visatildeo de
mundo contra hegemocircnica nesta sociedade capitalista que impotildee os meacutetodos
de ensino Assim como Gramsci defende a formaccedilatildeo de uma escola
totalmente diferenciada da atual que aleacutem de ldquodesinteressada e formativardquo
estaacute a sucumbir em crise A escola de Gramsci defende uma nova concepccedilatildeo
de organizaccedilatildeo em que haja vida coletiva criaccedilatildeo de boas condiccedilotildees
humanas didaacuteticas e fiacutesicas com responsabilidade autonomia e criatividade
Conveacutem lembrar os Marcos Normativos que fazem parte da politica
educacional pois nasceram de um processo histoacuterico de lutas dos povos do
campo atraveacutes das necessidades e realidades do campo direitos de uma
educaccedilatildeo diferenciada e contra hegemocircnica em que os direitos civis direto
politico direitos sociais devem sempre ser trabalhados em funccedilatildeo de uma
visatildeo criacutetica sobre o ensino nas escolas em geral
As Poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo do Campo surgiram de lutas unitaacuterias
feitas pelos proacuteprios trabalhadores e suas organizaccedilotildees para garantir o direito
das populaccedilotildees do campo agrave educaccedilatildeo e que as experiecircncias poliacutetico-
pedagoacutegicas acumuladas por estes sujeitos fossem reconhecidas Assim
tambeacutem vatildeo surgindo novos programas como PRONACAMPO que natildeo
conseguiu assegurar as expectativas pelo decreto 7532 de 4 de Novembro de
2010 Visto que este programa tem o caraacuteter de preparaccedilatildeo de matildeo de obra
em ambos os casos a loacutegica supotildee como eacute proacuteprio ao modo de produccedilatildeo
capitalista natildeo sendo uma proposta eficaz com a proposta de educaccedilatildeo que
almejamos mas que de certa forma podemos utilizaacute-la a nosso favor
A proposta de educaccedilatildeo do Campo que buscamos esta vinculada ao
direito agrave terra ao trabalho e agrave justiccedila social para que natildeo seja simplesmente
um repasse de conhecimento mecanizado mas que valorize o sujeito
Portanto sabemos que se tecircm os problemas estruturais e poliacuteticos que
entendemos serem frutos dessa hegemonia do capital que tem como ecircnfase
garantir elementos de poliacutetica puacuteblica que permite avanccedilar na preparaccedilatildeo da
matildeo-de-obra para o mercado de trabalho
A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo eacute de uma visatildeo de totalidade que
garanta uma educaccedilatildeo vinculada ao direito de acesso agrave terra ao trabalho e agrave
justiccedila social agrave poliacutetica puacuteblica que considere o sujeito e suas necessidades
Nesta perspectiva podemos dizer que uma das conquistas da educaccedilatildeo do
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
22
campo eacute que estatildeo sendo formados educadores sem perder o viacutenculo com o
campo tendo em vista que conseguimos levar para as escolas e secretarias
municipais cursos de niacutevel superior
Mesmo que ainda natildeo conseguimos desenvolver nossas escolas nos
moldes Gramsciano por estarem alienadas ao sistema urbano jaacute existem
frutos a serem colhidos posteriormente e que seratildeo aumentados
gradativamente Pois quando as licenciaturas surgiram isso era um projeto
somente para suprir o nuacutemero de educadores do campo Mas ocupando
espaccedilos e fazendo diferente podemos ampliar a proposta de uma educaccedilatildeo
libertadora e irmos aleacutem de uma simples formaccedilatildeo de professores que repassa
o conhecimento cientifico aos alunos de maneira mecanizado
A escola viva que Gramsci defende objetiva sim formar sujeitos que
saibam fazer uma leitura criacutetica da realidade se posicionando na sociedade
hegemocircnica em que vivemos e sentir-se como parte dela e agir como sujeitos
de direitos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo surgiu pelo processo de reflexatildeo
da atual educaccedilatildeo brasileira pois se analisarmos o processo de educaccedilatildeo
desde antiguidade perpassando por todos os demais periacuteodos podemos ver
mudanccedilas e benefiacutecios Sendo assim a educaccedilatildeo natildeo pode ser vista como
uma utopia mas satildeo conquistas que vem crescendo a cada dia com propostas
pedagoacutegicas diferenciadas que venham contrapor o sistema de ensino
tradicional
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo atende ao puacuteblico de pessoas
que vivem no campo que fazem parte do processo de lutas com um propoacutesito
de uma pedagogia transformadora com meacutetodos de ensinar que valoriza o
sujeito e o faz ter uma visatildeo ampla de mundo deixando de ser um objeto do
sistema e sendo um intelectual capaz de ver a essecircncia aleacutem das aparecircncias
ou seja ir aleacutem do que estaacute posto se reconhecer na sociedade e fazer parte
dela como um ser humano de valores e direitos
A licenciatura do Campo com a proposta de uma formaccedilatildeo
emancipadora proporciona aos sujeitos construir sua proacutepria histoacuteria
reconhecendo e valorizando a comunidade em que vive tendo como objetivo
uma escola do campo natildeo apenas uma escola no campo buscando uma
unificaccedilatildeo entre escola e comunidade ou seja uma escola que dialoga com a
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
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49
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
23
famiacutelia para que a famiacutelia venha se unificar a escola com o compromisso de
garantir uma qualidade vida digna a todos
A Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo (LEdoC) objetiva formar
profissionais habilitados para atuarem nas seacuteries finais do ensino baacutesico
fundamental e meacutedio possibilitando a transformaccedilatildeo dos conhecimentos
empiacutericos histoacutericos adquiridos em seu percurso histoacuterico em conhecimentos
cientiacuteficos e serem transmitidos aos demais educando do campo
Sendo assim o curso tem algumas especificidades que vecircm contribuir
para o ingresso de jovens e adultos oferecendo uma formaccedilatildeo continuada sem
que deixe seus afazeres da comunidade O modelo de alternacircncia busca
oportunizar e conciliar o tempo estudo (TU) na Universidade com os demais
tempo trabalho na comunidade ( TC)
Ao organizar metodologicamente o curriacuteculo por alternacircncia entre
Tempo Universidade e Tempo Comunidade a proposta curricular do curso
objetiva integrar a atuaccedilatildeo dos sujeitos educandos na construccedilatildeo do
conhecimento necessaacuterio agrave sua formaccedilatildeo de educadores natildeo apenas nos
espaccedilos formativos escolares mas tambeacutem nos tempos de produccedilatildeo da vida
nas comunidades onde se encontram as escolas do campo (MOLINA e SAacute
2012 p468)
A licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo com a proposta pedagoacutegica
multidisciplinar envolvendo aacutereas do conhecimento que atendem a Linguagens
e Ciecircncias da Natureza e Matemaacutetica satildeo disciplinas que envolve um trabalho
interdsciplinar entre os conteuacutedos e entre os educadores poscibilitando o
intercambio entre (TC) tempo comunidade com o (TU) tempo universidade
A metodologia alternada do curso faz com que o educando se envolvem
com a comunidade identificando os conflitos esturturais existente atraveacutes das
pesquisas de campo solicitadas pelos educadores As atividades de tempo
comunidade estatildeo relacionadas interdiciplinarmente possibilitando uma maior
compreensatildeo dos educandos sendo assim eles se identificam na sua
realidade tendo uma maior clareza de suas accedilotildees
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
24
CAPIacuteTULO III ndash PRESSUPOSTOS TEOacuteRICOS DA SOCIOLINGUIacuteSTICA
O Brasil eacute constituiacutedo de uma miscigenaccedilatildeo racial entre povos com
misturas de etnias dando origem a inuacutemeras variedades linguiacutesticas Os
colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Liacutengua
Portuguesa Esta se foi transformando com os contatos entre as pessoas
surgindo vocaacutebulos e expressotildees originaacuterias daqui surgindo assim novas
pronuacutencias que podemos definir como sendo uma linguagem de um povo ou
de uma determinada localidade com particularidade e influecircncias das liacutenguas
indiacutegenas africanas e europeias
Sabemos que liacutengua eacute um conjunto de palavras e expressotildees usadas
por um povo por uma naccedilatildeo ou seja eacute um conjunto de regras gramaticais que
utilizamos na expressatildeo escrita ou verbal Sendo que a linguagem eacute um
sistema de signos que permite a comunicaccedilatildeo entre os indiviacuteduos de uma
comunidade linguiacutestica para expressar ideias sentimentos modos de
comportamento etc
Portanto falar da liacutengua e natildeo de variaccedilatildeo linguiacutestica seria um grande
equiacutevoco pois eacute impossiacutevel conceber uma sem a outra Pesquisas teoacutericas nos
datildeo suporte para compreendermos as variedades linguiacutesticas existentes
A sociolinguiacutestica surgiu nos Estados Unidos em meados da deacutecada de
1960 quando pesquisadores linguistas decidiram que natildeo era possiacutevel estudar
a liacutengua sem levar em consideraccedilatildeo a sociedade em que ela eacute falada
Labov (1963) foi um linguista que muito contribuiu com suas teorias que
defendendo que natildeo existe uma liacutengua isolada e sim todo um processo de
interaccedilatildeo e variaccedilatildeo que estaacute correlacionado sistematicamente a diferenccedilas
sociais e que natildeo chegam a um denominador comum em funccedilatildeo das muacuteltiplas
mudanccedilas Em suma a Sociolinguiacutestica busca relacionar heterogeneidade
linguiacutestica e heterogeneidade social pois liacutengua e sociedade estatildeo juntas
inevitavelmente
Ainda quanto ao surgimento da sociolinguiacutestica Tarallo (2001) postula que
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
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Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
25
Foi portanto William Labov quem mais veemente voltou
a insistir na relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade e na
possibilidade virtual e real de se sistematizar a variaccedilatildeo
existente e proacutepria da liacutengua falada Desde seu primeiro
estudo de 1963 sobre o inglecircs falado na ilha de Martha‟s
Vineyard no Estado de Massachusetts (Estados Unidos)
(p 7)
Estudar as variedades linguiacutesticas de uma determinada comunidade
nada mais eacute do que compreender os diversos modos de se falar uma liacutengua
levando em consideraccedilatildeo os fatores sociais que a influenciam A partir das
teorias linguiacutesticas existentes buscaremos nesta pesquisa compreender as
variedades existentes e como satildeo tratadas na escola para possivelmente
contribuir nas discussotildees com alunos e comunidade que estamos pesquisando
Sabemos que eacute amplo e complexo o ensino da liacutengua nas escolas em funccedilatildeo
das diversidades pedagoacutegicas dos professores de liacutengua que se baseiam em
meacutetodos simplesmente repetidores oferecendo uma educaccedilatildeo em funccedilatildeo de
politicas puacuteblicas capacitando os alunos apenas para o mercado de trabalho
evoluindo de acordo com a tecnologia e natildeo juntamente com as descobertas e
renovaccedilatildeo da linguagem humana
Para dar continuidade ao referencial teoacuterico que serve de embasamento
para a compreensatildeo das variaccedilotildees linguiacutesticas existentes buscaremos
referecircncias aos linguistas Bagno Antunes Calvet Bortoni- Ricardo entre
outros
Segundo nos aponta Levi-Mattoso (2008) a sociolinguiacutestica procura
descobrir as leis sociais ou normas que justifiquem o comportamento de
determinada liacutengua e o comportamento de um falante em relaccedilatildeo agrave liacutengua
usada dentro da comunidade
Para o autor contrariando os princiacutepios do estruturalismo de Saussure e
do gerativismo de Chomsky que concebem a liacutengua como realidade abstrata
independente de fatores extralinguiacutesticos a sociolinguiacutestica surgiu na deacutecada
de 60 nos Estados Unidos tendo como representante de expressatildeo William
Labov
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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Acessado em agosto de 2013
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
26
Mollica e Braga (2008) comentam que ldquoA sociolinguiacutestica estuda a
liacutengua em uso no seio das comunidades de fala voltando a atenccedilatildeo para um
tipo de investigaccedilatildeo que correlaciona aspectos linguiacutesticos e sociaisrdquo (p 9)
Ao se ater na relaccedilatildeo existente entre liacutengua e sociedade a
sociolinguiacutestica estaacute voltada aos usos linguiacutesticos de falantes em determinados
contextos sociais e situaccedilotildees
De acordo com Bagno (2007) o objetivo central dessa corrente teoacuterica eacute
estabelecer relaccedilatildeo entre a heterogeneidade linguiacutestica com a heterogeneidade
social Assim liacutengua e sociedade estatildeo interligadas
Jaacute Levi-Mattoso (2008) defende que o objeto de estudo da
sociolinguiacutestica satildeo as variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua falada que eacute tomada
como entidade concreta heterogecircnea na relaccedilatildeo com seus usuaacuterios no
contexto geograacutefico social e interacional ao contraacuterio da oacutetica estruturalista
Para o autor eacute relevante destacar que a heterogeneidade da liacutengua
adquiriu um status cientiacutefico a partir de estudos desenvolvidos por Labov em
1963 na Ilha de Martharsquos Vineyard em Massachussets Estados Unidos onde
pesquisou variedade do inglecircs americano Em 1964 estudou o inglecircs falado
em Nova York Com esses estudos Labov conseguiu comprovar a variaccedilatildeo de
usos da liacutengua em funccedilatildeo da variaccedilatildeo social Definiu tambeacutem a liacutengua falada
como escopo da sociolinguiacutestica Dessa forma surgiu a sociolinguiacutestica
variacionista com que se firma a variaccedilatildeo da liacutengua
31 - Variedades linguiacutesticas
Como afirma Bagno (2002 p 23) a liacutengua natildeo eacute uma abstraccedilatildeo muito
pelo contraacuterio ela eacute tatildeo concreta quanto os mesmos seres humanos de carne
e osso que se servem dela e dos quais ela eacute parte integrante Se tivermos isso
sempre em mente podemos deslocar nossas reflexotildees de um plano abstrato ndash
(a liacutengua) ndash para um plano concreto ndash os falantes da liacutengua Sendo assim a
liacutengua poderaacute ser considerada um fato social sem estigma pois a norma culta
natildeo deve ser vista como algo estaacutevel e acabado pronto para o consumo Todos
tecircm o direito de conhecer as classificaccedilotildees gramaticais de norma culta seja o
falante do meio urbano de classe media seja o falante do campo de classe
baixa pois a liacutengua inevitavelmente eacute utilizada por todos e todos tecircm o direito
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
27
de utilizaacute-la no seu dia-dia de acordo com as necessidades de uma
formalidade maior ou natildeo
Freitas (2013) afirma que a liacutengua eacute utilizada de maneira homogecircnea por
todos os seus falantes porque seu uso varia de eacutepoca para eacutepoca de regiatildeo
por regiatildeo de classe social para classe social e assim por diante Para ela
nem de maneira individual pode-se afirmar que o uso da liacutengua seja uniforme
pois conforme a situaccedilatildeo uma mesma pessoa pode usar diversas variedades
de uma soacute forma da liacutengua dependendo do contexto em que se situa
De acordo com Travaglia (2000) as variedades linguiacutesticas se dividem
em dois tipos Para ele basicamente podemos ter dois tipos de variedades
linguiacutesticas os dialetos e os registros (estes tambeacutem chamados de estilos por
muitos estudiosos) Os dialetos satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo das
pessoas que usam a liacutengua ou como preferem alguns para empregar uma
terminologia derivada da teoria da comunicaccedilatildeo dos emissores Jaacute os registros
satildeo as variedades que ocorrem em funccedilatildeo do uso que se faz a liacutengua ou como
preferem alguns dependem do recebedor da mensagem ou da situaccedilatildeo(p
42)
De acordo com a citaccedilatildeo podemos perceber durante as entrevista
realizadas com moradores do assentamento em um diaacutelogo monitorado e uma
conversa espontacircnea de uma roda de terereacute Esta variaccedilatildeo depende do meio
que se situa o emissor e de quem eacute o receptor O entrevistado se potildee de forma
monitoradamente de acordo com a liacutengua formal estabelecida gramaticalmente
com um determinado puacuteblico e em uma roda de terereacute com um puacuteblico menos
escolarizado utiliza uma linguagem variada ou seja o entrevistado conhece as
duas normas a culta e a natildeo culta e cabe a ele utilizaacute-la de acordo com sua
necessidade ou situaccedilatildeo
Freitas (2013) salienta que por causa dessas variedades eacute importante
uma abordagem em sala de aula para que as dificuldades sejam evitadas
Sendo assim os falantes poderatildeo conhecer e utilizar a norma culta e a natildeo
culta sem estigma Portanto a escola deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo entre falantes que inevitavelmente traz variantes que agraves vezes
satildeo estigmatizadas entre alunos e professores
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
28
32 - Norma linguiacutestica
Conforme nos aponta Paquette (2001) ldquoo campo semacircntico de norma
compreendem palavras que designam instrumentos de mediccedilatildeo norma do
latim norma significando ldquoesquadrordquo niacutevel do latim libella ldquopequena balanccedilardquo
e regra do latim regula ldquoreacuteguardquo (p 243)
Para ele o estabelecimento das liacutenguas vernaacuteculas na Europa
aconteceu por meio de documentos juriacutedicos Sobre o surgimento das
gramaacuteticas o autor pondera que
se as gramaacuteticas se apresentam ateacute os nossos dias sob a
forma de um verdadeiro coacutedigo de direito com a regra os
paraacutegrafos os artigos as exceccedilotildees quanto aos exemplos
g2tirados dos autores eacute porque elas tecircm mais ou menos
uma funccedilatildeo anaacuteloga agrave da jurisprudecircncia (PAQUETTE
2001 246)
O mesmo autor comenta ainda que antes do surgimento das gramaacuteticas
houve um primeiro sinal de metalinguiacutestica na Europa em que foi criado um
formulaacuterio que seria o primeiro movimento de normatizaccedilatildeo linguiacutestica mais
sistemaacutetica dos gramaacuteticos do seacuteculo claacutessico O referido formulaacuterio chegou
tambeacutem agraves fronteiras parlamentares E foi nesse cenaacuterio legislativo que a
liacutengua passou a ser tema de discussotildees ou seja nasciam os primeiros
discursos metalinguiacutesticos
Marques (2011) comenta que o normativismo surgiu dessa forma na
esfera juriacutedica e passou a ser estendida agrave legislativa e chegou a gramaacutetica que
se constituiu politicamente em uma arma dos impeacuterios em um instrumento tatildeo
belicoso quanto a espada ou a arma de fogo
Paquette (2001) comenta que uma investigaccedilatildeo mais profunda das
funccedilotildees antropoloacutegicas que fazem da chancelaria o lugar de fundaccedilatildeo da
normatizaccedilatildeo da liacutengua tem sua base na escrita O referido autor aponta ainda
que outra variaacutevel que natildeo pode ser apartada desse contexto eacute o poder Sendo
assim eacute a partir do momento em que o escrito de uma liacutengua interveacutem como
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
29
um lugar onde se pratica um certo trabalho sobre a liacutengua que o processo de
normatizaccedilatildeo pode historicamente se pocircr em marcha [] a escrita como
ldquofragmentordquo e o ldquoprestiacutegiordquo teacutecnico de que ela goza uma grande parte do seu
alcance e de sua aptidatildeo para influir sobre o ldquorestordquo da liacutengua lhe adveacutem
precisamente de sua proximidade do poder (PAQUETE 2001 p 248251)
Diante disso Marques (2011) salienta que a fundaccedilatildeo da normatizaccedilatildeo
da liacutengua encontra-se na escrita se constituindo em um lugar de onde se
concretiza um trabalho sobre a liacutengua colocando em movimento sua
normatizaccedilatildeo Ligada ao poder a liacutengua pode influenciar sobre os aspectos da
liacutengua e legitimar a dominaccedilatildeo
Segundo Faraco (2002) a existecircncia de diversas normas levando em
consideraccedilatildeo que os grupos sociais se distinguem pelas formas linguiacutesticas
satildeo de uso comum Dessa forma em uma sociedade com o a brasileira
diversificada e estratificada em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo racial que foi
constituiacuteda haacute diversas normas linguiacutesticas e estas normas natildeo deixam de
chegar ateacute as escolas
O autor identifica ainda uma variedade impositiva da liacutengua que se
sobrepotildee agraves outras sendo a norma-padratildeo explicando o seu surgimento na
sociedade brasileira A imposiccedilatildeo da norma padratildeo nas escolas traz
consequecircncias de estigmas entre os falantes e dificuldade na aprendizagem
das variantes existentes
Sendo assim os alunos das seacuteries finais do ensino fundamenta vatildeo
para o ensino meacutedio e assim por diante sem entender o porquecirc de tantas
regras gramaticais Em muitas das vezes natildeo dominam o uso da liacutengua
portuguesa nem na fala e nem na escrita ficando a mercecirc da sociedade que
impotildee as normas padratildeo e que natildeo conseguimos nos adequar a ela e esta
natildeo conveacutem salientar as em seus escritos as variedades dos falantes
permanecendo entatildeo os equiacutevocos linguiacutesticos nas escolas no ensino da
liacutengua
Diante disso entendemos ser fundamental fazer um levantamento
acerca da variaccedilatildeo linguiacutestica que para Mollica e Braga (2008) eacute entendida
pela sociolinguiacutestica como um princiacutepio geral e universal passiacutevel de anaacutelise e
descriccedilatildeo cientiacutefica aleacutem de um fenocircmeno existente em todas as liacutenguas
naturais
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
30
Sob essa perspectiva Levi-Mattoso (2008) afirma que haacute muito tempo
natildeo se pode aceitar e utilizar uma praacutetica pedagoacutegica que anula os conceitos
sociolinguiacutesticos uma vez que assim o professor estaria favorecendo o
desconhecimento da influecircncia sociocultural na liacutengua aleacutem de favorecer a
discriminaccedilatildeo o preconceito e principalmente a exclusatildeo social com a liacutengua e
pela liacutengua Para o auto as variaccedilotildees linguiacutesticas refletem o que haacute de mais
genuiacuteno na identidade do sujeito e negaacute-las significa negar ao homem o direito
de dizer a liacutengua e de estar no mundo por meio da palavra
Para Oliveira (2013) a variaccedilatildeo linguiacutestica eacute reconhecida como um
incocircmodo para a maioria absoluta das teorias linguiacutesticas No entanto uma vez
que os fatos da variaccedilatildeo natildeo poderiam ser totalmente ignorados surgiram
inuacutemeras tentativas desde o iniacutecio do seacuteculo XX para lidar com fenocircmenos
dessa natureza seja para descartaacute-los ou para encaraacute-los
O autor comenta que para Saussure (1916) a variaccedilatildeo linguiacutestica passou
a ser relegada agrave parole e assim fora do escopo da linguiacutestica que deveria se
voltar para a langue
Ao se descartar a variaccedilatildeo como um fenocircmeno digno de ser investigada
a linguiacutestica de Saussure se voltou para a descriccedilatildeo dos sistemas abstratos
Para Saussure o significado e o significante eram elementos da langue
Soares (2002) aponta que
Eacute o uso da liacutengua na escola que evidencia mais
claramente as diferenccedilas entre grupos sociais e que gera
discriminaccedilotildees e fracasso o uso pelos alunos
provenientes das camadas populares de variantes
linguiacutesticas social e escolarmente estigmatizadas provoca
preconceitos linguiacutesticos e leva as dificuldades de
aprendizagem jaacute que a escola usa e quer ver usada a
variante-padratildeo socialmente prestigiada (2002 p 17)
Bagno (2002) salienta que ldquoO que acontece eacute que em toda liacutengua do
mundo existe um fenocircmeno chamado variaccedilatildeo isto eacute nenhuma liacutengua eacute falada
do mesmo jeito em todos os lugares assim como nem todas as pessoas falam
a proacutepria liacutengua de modo idecircnticordquo (p 52)
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
31
Essa variaccedilatildeo acontece em todos os ambientes de falantes No entanto
eacute na escola que ela fica mais evidente pois a mistura de raccedilas e culturas faz
com que haacute mudanccedilas na liacutengua humana tornando haacute cada vez mais viva
Mesmo que a liacutengua natildeo eacute falada do mesmo jeito em todos os lugares
a escola soacute proporciona o ensino tradicional da Liacutengua Portuguesa direcionado
para a nomenclatura gramaacutetica onde tudo que foge ao padratildeo da norma culta eacute
considerado como lsquoerrorsquo desconsiderando seus conhecimentos preacutevios que
poderia ser mais uma ferramenta pedagoacutegica ao professor de liacutengua
Utilizar-se do ambiente escolar com tantas variaccedilotildees seria um
reconhecimento e valorizaccedilatildeo da liacutengua materna do aluno que inevitavelmente
estatildeo presentes ou ateacute mesmo usando-a para discutir suas origens e vertentes
sendo um rico material pedagoacutegico sem sair do contexto gramatical facilitando
seu entendimento e utilizando de acordo com o contexto pois de acordo com
Freitas (2013) uma vez que a Liacutengua Portuguesa eacute heterogecircnea foram
realizados diversos estudos sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica que registram pelo
menos seis dimensotildees de variaccedilatildeo dialetal a territorial a social a de idade de
sexo de geraccedilatildeo e de funccedilatildeo Sendo assim pode ser analisadas e trabalhadas
em todos estes aspectos
Antunes ( 2007) em seu livro Muito Aleacutem da Gramaacutetica destaca que o
professor deve propiciar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na
liacutengua pois trata-se de uma instituiccedilatildeo social que natildeo pode ser considerada
como forma de domiacutenio eou classificada em escala de valores pois muitas
vezes os preconceitos satildeo gerados por causa do desconhecimento da variaccedilatildeo
linguiacutestica
Fregonezi (1975 apud FREITAS 2013 p 5) aponta que ldquoA capacidade
de utilizar corretamente a liacutengua em uma variedade de situaccedilotildees socialmente
determinadas eacute parte integrante e central da competecircncia linguiacutestica tanto
quanto a capacidade de produzir oraccedilotildees gramaticalmente bem formadasrdquo
33- Niacuteveis de variaccedilatildeo linguiacutestica
A variaccedilatildeo linguiacutestica tambeacutem pode se dar em vaacuterios niacuteveis foneacutetico-
fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico lexical e estiliacutestico-pragmaacutetico
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Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
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Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
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Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
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CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
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Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
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seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
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investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
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Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
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deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
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professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
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4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
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pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
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47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
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Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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Acessado em agosto de 2013
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de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
32
Esses niacuteveis acontecem em funccedilatildeo da natureza espacial do individuo satildeo
caracterizados pelos falares regionais
O niacutevel foneacutetico-fonoloacutegico acontece quando uma palavra eacute pronunciada
de diversos modos seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou substituiccedilatildeotroca de
um fonema Eacute o que caracteriza o sotaque Como por exemplo as diversas
formas de se pronunciar o r como na palavra porta
O niacutevel morfoloacutegico varia quando existem modificaccedilotildees na forma das palavras
esses termos expressam a mesma ideia poreacutem satildeo construiacutedos com sufixos
A variaccedilatildeo sintaacutetica se daacute quando existem diferenccedilas como no caso das
concordacircncias verbal e nominal e tambeacutem na posiccedilatildeo dos termos na
construccedilatildeo de uma frase Como exemplo pode-se citar a expressatildeo decirc-me um
cigarro usado em Portugal e me daacute um cigarro falada no Brasil Para
exemplificar tambeacutem pode ser citado o modo como o povo caipira constroacutei a
negativa natildeo vai ningueacutem natildeo ou nem vou aparecer onde se pode constatar a
presenccedila de mais de uma partiacutecula negativa na mesma frase
O semacircntico eacute notado quando o significado eou o sentido de uma
palavra varia em regiotildees diferentes ou seja o termo eacute o mesmo o que modifica
eacute o seu significado A ocorrecircncia dessa variaccedilatildeo depende de quem fala para
quem fala onde e quando a fala acontece A palavra ata eacute um exemplo desse
tipo de variaccedilatildeo pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofiacutecio outra
palavra nesse sentido eacute vexame que pode ser vergonha ou pressa Essa
variaccedilatildeo depende sobretudo da origem regional do falante
Jaacute a variaccedilatildeo lexical eacute a mudanccedila de termos para designar um mesmo
objeto As palavras mandioca macaxeira aipim satildeo empregadas para designar
o mesmo tubeacuterculo as expressotildees guri menino e moleque satildeo utilizadas para
designar uma crianccedila do sexo masculino Estas expressotildees satildeo muito
utilizadas no assentamento em pesquisa
Por fim a variaccedilatildeo estiliacutestico-pragmaacutetica estaacute ligada ao grau de maior ou
menor formalidade do ambiente e da intimidade entre os interlocutores
podendo ser utilizada pelo mesmo indiviacuteduo em situaccedilotildees distintas de
interaccedilatildeo As expressotildees lsquopor favor abram o livrorsquo lsquoabre o livro logorsquo e lsquovamos
abrir o livro gentersquo correspondem ao mesmo ato poreacutem satildeo empregadas em
situaccedilotildees diferentes de interaccedilatildeo social
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
33
Contudo o problema estaacute no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que
consideram um determinado modo de falar como o ldquocorretordquo natildeo levando em
consideraccedilatildeo essas variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua O falante natildeo eacute obrigado
a usar determinado modo de falar apenas porque algumas pessoas ditas
importantes o consideram como sendo o melhor pois as variaccedilotildees satildeo
mudanccedilas naturais da liacutengua e natildeo satildeo exclusivas da liacutengua portuguesa todas
as liacutenguas possuem suas variedades
Aureacutelio (2011) destaca que o processo de variaccedilatildeo acontece em todos
os niacuteveis de funcionamento da linguagem Contudo geralmente eacute mais
perceptiacutevel na pronuacutencia e no vocabulaacuterio tornando variaccedilatildeo um fenocircmeno
complexo uma vez que os niacuteveis em determinados contextos se realizam
simultaneamente
O autor aponta que os niacuteveis da variaccedilatildeo linguiacutestica satildeo o niacutevel
fonoloacutegico morfossintaacutetico e vocabular O primeiro deles estaacute ligado agrave
pronuacutencia que inevitavelmente traz variaccedilotildees Na maioria das vezes eacute
pronunciado como consoante pelos gauacutechos e pessoas mais idosas No
entanto praticamente em todos os outros estados brasileiros eacute pronunciado
como a vogal ldquourdquo que na pronuncia pode ter um som diferenciado
O niacutevel morfossintaacutetico refere-se agraves questotildees de regecircncia e
concordacircncia e muitas pessoas costumam conjugar verbos irregulares como se
fossem regulares Dessa forma utilizam por exemplo ldquodeteurdquo ao inveacutes de
deteverdquo O autor afirma ainda que as crianccedilas durante o processo de aquisiccedilatildeo
da linguagem muitas vezes dizem ldquoeu fazirdquo ao inveacutes de ldquoeu fizrdquo Assim por
meio da tentativa e erro elas acabam incorporando a forma correta
Finalmente o niacutevel vocabular refere-se agraves especificidades de cada
regiatildeo no tocante ao uso dos vocaacutebulos Eacute por meio dele que se pode conceber
como a palavra ldquomochilardquo no sudeste ou como ldquoborocardquo no norte do Brasil
podem referir-se a um mesmo objeto Isso acontece tambeacutem com a mandioca
que tambeacutem eacute conhecida por aipim e macaxeira dependendo da regiatildeo do
paiacutes
Aureacutelio (2011) salienta que esses fatos ocorrem devido agrave cultura inerente
agrave regiatildeo em que se utiliza cada um dos sinocircnimos
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
34
Vellasco e Sousa (2007) afirmam que eacute importante observar que o
processo de variaccedilatildeo acontece em todos os niacuteveis de funcionamento da
linguagem sendo mais faacutecil sua percepccedilatildeo na pronuacutencia e no vocabulaacuterio Tal
fenocircmeno eacute mais complexo porque os niacuteveis natildeo se apresentam de maneira
estanque eles se superpotildeem Sendo assim os niacuteveis de variaccedilatildeo estatildeo
presentes entre os falantes seja de forma direta ou indiretamente podem ser
reconhecidas portanto investigar o uso dessas variantes na pronuncia eacute algo
que fortalece a liacutengua humana e a torna a viva Diante dessas afirmaccedilotildees fica
cada vez mais claro que devemos ter um olhar mais profundo em relaccedilatildeo ao
ensino da liacutengua pois como a liacutengua eacute viva natildeo podemos deixaacute-la neutra como
se fosse um objeto que apenas utilizamos para comunicaccedilatildeo mas algo que
possa esta sendo sempre sendo discutida em nosso meio Com este propoacutesito
vejamos no capitulo a seguir as anaacutelises de dados coletados em uma
comunidade de falantes com variedades linguiacutesticas e semelhanccedilas entre si
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
35
CAPITULO IV- ANAacuteLISE DE DADOS
41-Variaccedilatildeo linguiacutestica de moradores do Assentamento e alunos da
escola Polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Neste capitulo procede-se a anaacutelise de registro de falas de alguns
moradores do Assentamento Satildeo Manoel no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato
Grosso do Sul de acordo com o que foi citado acima no capitulo de
metodologia
Nesta seccedilatildeo examinaremos alguns registros realizados por meio
entrevistas e depoimentos de moradores do assentamento e alunos da escola
local Para esta anaacutelise utilizaremos os niacuteveis de variaccedilatildeo de acordo com a
sociolinguiacutestica com a finalidade de propor estrateacutegias de ensino da liacutengua
portuguesa na escola utilizando as variaccedilotildees linguiacutesticas dos alunos
Eacute necessaacuterio termos uma visatildeo ampla do tempo e do espaccedilo em que
convivemos bem como possibilitar atraveacutes da educaccedilatildeo uma visatildeo poliacutetica e
criacutetica formando leitores capazes de se expressarem com coerecircncia em
determinadas circunstacircncias sem estigmatizar os diversos falantes da liacutengua
materna mas utilizando o ensino da liacutengua padratildeo a seu favor sempre que for
necessaacuterio pois ter o domiacutenio e o conhecimento das normas gramaticais eacute
preciso para se interagir no meio social em vive Satildeo muitas as variedades da
liacutengua humana portanto ensinaacute-las na escola de forma prazerosa eacute um grande
desafio pois natildeo existe uma receita pronta e acabada cabe a professores e
alunos identificar o gosto pelo estudo da liacutengua para utiliza-la e compreende-la
sem que seja um peso nos periacuteodos estudos e nos estigmas perante a
sociedade
42 ndash Variedade linguiacutestica de moradores do Assentamento Satildeo Manoel
Variedade ou variante linguiacutestica satildeo as formas pela qual determinada
comunidade de falantes vinculados por relaccedilotildees sociais ou geograacuteficas se
fazem variar ou seja satildeo possibilidades de variaccedilatildeo dos elementos do seu
sistema vocabulaacuterio pronuacutencia e sintaxe ligadas a fatores sociais culturais
escolaridade profissatildeo sexo idade grupo social etc
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
36
Analisaremos aqui as variedades linguiacutesticas de alguns moradores do
Assentamento Satildeo Manoel localizado no Municiacutepio de Anastaacutecio Mato Grosso
do Sul em que os pesquisados variam de acordo com o citado acima Para
esta anaacutelise tivemos um olhar mais profundo da origem dos moradores ou
seja entender de onde vieram para compreendermos suas variedades e
influecircncias
O Assentamento satildeo Manoel em pesquisa se constitui de uma grande
variedade linguiacutestica por ter moradores de vaacuterios lugares do pais e ateacute mesmo
pessoas que vieram de outros paiacuteses trazendo suas culturas e conhecendo as
culturas locais havendo assim uma miscigenaccedilatildeo cultural entre os falantes E
para compreendecirc-las um pouco e como elas chegam ateacute a escola foram
analisadas 5 ( cinco ) pessoas da comunidade e em observaccedilatildeo na sala de
aula com as turmas do 8 e 9 ano relatando as variaccedilotildees de 4 ( quatro) alunos
destas turmas com variedades linguiacutesticas diferentes O levantamento de
dados foi feito um questionaacuterio norteador afim de recolher dados importantes
para compreender suas origens e facilitar o diaacutelogo entre os entrevistados
proporcionado aos mesmo espontaneidade na oralidade sendo assim
consegui identificar as variedades linguiacutesticas e registraacute-las
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense As entrevistas foram realizadas em
agosto de 2013 Com a identificaccedilatildeo das variaccedilotildees podemos compreender
como elas chegam ate a escola e suas influencias no ensino da liacutengua
portuguesa
Vejamos alguns exemplos das variaccedilotildees linguiacutestica da senhora de
origem nordestina com o grau de escolaridade de ensino fundamental
incompleto em que elas traz em seu vocaacutebulo variantes como
nois era laacute do nordesti ciarence mesmo laacute daqueles s chiado Noacuteis
vendemu uma chaacutecaradepois voltemous gostu muito daqui viemus pra caacute
eu tava com 18 anos veimus em seis famiacutelias
Podemos observar nas frases citadas pela senhora nordestina o sotaque
regional quando ela utiliza o S e R satildeo variaccedilotildees comuns entre os falantes
desta regiatildeo mesmo natildeo estando morando no nordeste eles trazem consigo
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
37
seus costumes e sotaques na pronuncia A sociolinguiacutestica nos oferece
suporte para entendermos estas variaccedilotildees e classifica-las dentro dos niacuteveis
linguiacutesticos como faremos mais a diante
Observar os falantes de uma comunidade nos instiga a compreender
suas origens familiares e regionais pois observa-se que mesmo uma pessoa
natildeo sendo oriunda daquela localidade ou vise e versa ela traz em seu
vocabulaacuterio costumes e variaccedilotildees familiares que influencia no dialogo formal
ou informal como por exemplo podemos identificar variaccedilotildees durante a
entrevista com o jovem R sendo um Sul Mato-grossense com a
escolaridade de Ensino Fundamental incompleto em que o entrevistado traz
em seu vocabulaacuterio variaccedilotildees que estatildeo ligadas a fatores diversos do seu
cotidiano
[ ] onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que tava
ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomemu uma cervejaquando
cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo ou seja tanto
uma pessoa com grau maior de escolaridade e outra natildeo fazem o uso de
variedades em sua pronuncia pois estas satildeo inevitaacuteveis portanto devem ser
trabalhada em sala de aula
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes pois mesmo que natildeo eacute somente a escola
que ensina ela deve sim ser agrave base de formaccedilatildeo do conhecimento No entanto
o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees para que os indiviacuteduos
possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico para compreender as
demais formas gramaticais existentes ampliando assim sua visatildeo sobre a
liacutengua O espaccedilo educativo eacute amplo e a escola deve ser um lugar de
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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2008
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49
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2001 p 237 ndash 254
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Aacutetica 2009
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In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
38
investigaccedilatildeo da liacutengua e da linguagem pois segundo estudos teoacutericos natildeo
iremos encontrar respostas prontas na gramaacutetica normativa e a escola e
professores natildeo devem se fechar e ensinar de forma fragmentada a liacutengua
mas sim utilizar do conhecimento materno do aluno que chega ate a escola
inevitavelmente
No entanto o ensino da liacutengua deve criar possibilidades e condiccedilotildees
para que os indiviacuteduos possam utilizar de seu proacuteprio conhecimento linguiacutestico
para compreender as demais formas gramaticais existentes ampliando assim
sua visatildeo sobre a liacutengua
Como dito anteriormente as variedades existem entre os falantes satildeo
inevitaacuteveis pois dependem de vaacuterios fatores em que vive o falante como por
exemplo um falante com o grau de escolaridade maior se monitora mais ao
dialogar por ter um conhecimento do uso gramatical
Durante a elaboraccedilatildeo do trabalho entrevistamos um pedagogo que
atuou na escola do assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais
viacutenculo direto com a escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre
seu ponto de vista em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo
com os niacuteveis linguiacutesticos podemos observar que o pedagogo entrevistado
utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou seja uso um vocabulaacuterio monitorado com
conhecimento de niacutevel superior que utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada
circunstacircncia Vajamos
[] Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito
na relaccedilatildeo uns com os outros natildeo Porque quase todos os alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmo []
[] A cultura e os costumes das famiacutelias satildeo parecidos [ ]
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra usa na
escrita isso eacute importante [ ]
Podemos notar que satildeo miacutenimas as variedades utilizadas pelo
entrevistado acredito que por ter frequentado por maior tempo o ambiente
escolar e universitaacuterio ele tem um vocabulaacuterio monitorado e com uma visatildeo do
ensino da liacutengua como sendo algo indispensaacutevel para a formaccedilatildeo acadecircmica e
posiccedilatildeo na sociedade
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
39
Entre os entrevistados temos os que se monitoram em seus dialogo e os
que natildeo tem o domiacutenio de monitoramento da liacutengua culta gramatical por
diversas razotildees do cotidiano
Dentre as variedades existentes podemos perceber durante as entrevistas
que existe tambeacutem pontos de vistas diferenciadas em ralaccedilatildeo as diversidades
linguiacutesticas de acordo com a origem familiar dos falantes
Uma entrevistada de origem mineira com alguns costumes japoneses em
funccedilatildeo da convivecircncia com o marido ela se refere a variedade de uma outra
pessoas como se sua cultura e seus costumes focem a forma mais correta de
se falar e jaacute a do seu vizinho que tem variedades diferentes fossem o errado
natildeo levando em consideraccedilatildeo sua origem e cultura como por exemplo quando
ela se refere
Eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso
Nois fala si cubrieles falam ribusaO bichinha que coisa mais besta o jeito
desce povo fala num eacute mesmo bichinha
Percebe-se que as variedades natildeo satildeo compreendidas entre os proacuteprios
falantes Portanto torna-se importante discutir o tema variaccedilotildees linguiacutesticas
para que aja conscientizaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo ao erro que vem sendo
cometidos por meio de julgamentos preconcebidos daqueles que se julgam
adeptos da norma padratildeo culta sem mesmo domina-la julgando os falantes de
maiores variedades como inferiores
43 ndash Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
professora de liacutengua portuguesa da unidade escolar fica subentendido que natildeo
haacute diversidade linguiacutestica entre os alunos
Diante disso apresentandashse a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
40
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem alguns dos dados recolhidos na escola durante
observaccedilotildees orais que comprovem a existecircncia dessas variedades entre os
alunos Estas satildeo frases de alunos do 8 e 9 ano do ensino fundamental que
dialogam espontaneamente durante uma aula de liacutengua portuguesa
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndash fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa queto
tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora professora
dibaxo do peacute de manga
Professora ndash fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
As variaccedilotildees citadas podemos dizer que natildeo satildeo apenas variaccedilotildees
linguiacutesticas ocasionais mas tem pertinecircncias culturais regionais estratos
sociais e educacionais dos falantes fatores estes que acaba levando os
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
41
professores a equiacutevocos no ensino da liacutengua a fim de corrigir estas variantes
de acordo com as regras gramaticais sem o dialogo de suas origens
juntamente com os proacuteprios alunos que os traz presentes
Dentre as observaccedilotildees da oralidade dos alunos durante as aulas
propusemos - lhes que produzissem espontaneamente um conto com o tema
livre para que pudeacutessemos comparar a oralidade com a escrita Neste
propoacutesito observamos que os textos escritos satildeo mais monitorados havendo
alguns erros ortograacuteficos mas que existe toda uma organizaccedilatildeo de
concordacircncia textual que mostra que estes alunos estatildeo compreendendo o
ensino da liacutengua de acordo com as regras gramaticais Ou seja durante as
falas existem variaccedilotildees e na escrita tem um maior monitoramento portanto natildeo
cabe a nos dizermos que natildeo existem variaccedilotildees entre os alunos elas existem
sim e satildeo evidentes Para averiguarmos seguem os textos em apecircndices
44ndashAnaacutelise linguiacutestico de algumas frases de moradores do assentamento
e alunos da Escola EPMR satildeo Manoel
Para uma melhor compreensatildeo das variaccedilotildees dos falantes contribuintes
com esta pesquisa monograacutefica as frases foram classificadas de acordo com a
sociolinguiacutestica sendo elas de moradores do assentamento e de alunos da
escola que apresentam variaccedilotildees dentro dos niacuteveis linguiacutesticos Entretanto
estes niacuteveis que foram utilizados no decorrer deste trabalho natildeo eacute feita uma
analise aprofundada destes conceitos de acordo com os metaplasmos que a
sociolinguiacutestica nos oferece pois o intuiacutedo do trabalho eacute identificar as variaccedilotildees
existentes e como elas chegam ate a escola poreacutem seratildeo apresentada
apenas algumas das variaccedilotildees para isso natildeo satildeo citado nomes dos
entrevistados mas utilizado apenas iniciais para identificaccedilatildeo dos mesmos
Neste proposito a identificaccedilatildeo dos entrevistados estatildeo classificada da
seguinte maneira aluno -1 aluno -2 aluno- 3 senhora N senhora Nina e
jovem R para esta identificaccedilatildeo utilizaremos alguns dos recursos
sociolinguiacutesticos como
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
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httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
42
4 5 - Variaccedilatildeo foneacutetica ndash fonoloacutegica
A variaccedilatildeo foneacutetico-fonoloacutegica eacute caracterizada pelas diferentes maneiras
que uma palavra pode ser pronunciada seja pelo acreacutescimo decreacutescimo ou
substituiccedilatildeo de algum fonema
De acordo com Bagno ( 2007 p41) quando um falante pronuncia uma
palavra com o s chiado essa pronuncia chama a atenccedilatildeo provocando
reaccedilotildees da parte de outros falantes de socioleto diferente do seu
Exemplo da variaccedilatildeo da senhora ndashN
A contribuinte traz em sua variante o som do S sibilante chiado sendo
ela de origem nordestina Vejamos o exemplo
Gostu muito daqui []
A palavra ( gosto ) que a nordestina pronuncia o s tem um som
chiados e longo sendo esta uma variaccedilatildeo foneacutetica de acordo com sua origem
e regiatildeo
Noacuteis vendemu uma chaacutecaradepois voltemus nesta frase que a
senhora pronuncia nois houve o acreacutescimo da vogou I a substituiccedilatildeo da
vogal o pela vogal u na palavra vendemu e voltemu deixando de utilizar
o plural no uso dos verbos
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees foneacutetica de um aluno do sexo masculino
estudante do 9 ano do ensino fundamental
Aluno 1-
Num vai convenhaacute a voceis []
nois combinemu di dexa a prossora doida []
us minino me itanazavam []
Senhora N-
viemus pra caacute eu tava com 18 anosveimus em seis famiacutelias []
Exemplo de variaccedilatildeo do jovem -R
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
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2008
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2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
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Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
43
pur kas disso e ainda meu pai mi dismintiu []
46 - variaccedilatildeo semacircntica
De acordo com Bagno ( 2007 p 40 ) a variaccedilatildeo semacircntica ocorre
pendendo da origem regional do falante
Exemplificaccedilatildeo de variaccedilotildees de uma senhora de origem mineira com
alguns costumes de origem japonesa em funccedilatildeo de seu conviacutevio com pessoas
dessa origem
era burra memu burra de mais ai desiste num adiantava natildeo [] neste sentido
a entrevistada se compara a um animal ldquo burrordquo em funccedilatildeo de natildeo apreender
os estudos pois se acha inferior no processo de aprendizagem
Podemos perceber nas frases citadas no questionaacuterio acima as
variaccedilotildees na foneacutetica ndash fonoloacutegica em que ocorre ditongaccedilatildeo em voceis
arrois nois que eacute acrescentada por uma vogal alta I
Monotongacatildeo eacute quando eacute suprimido ei e ia ldquodexardquo
A modificaccedilatildeo das vogais media e e o nas palavras ldquodirdquo
noacuteis foi la pra fora e quebramu tudo o vidru da escola []
Noacuteis vinhemu praacute uma chaacutecara depois voltemus []
combinemu vidru quebramu voutemus lsquordquo por vogais alta i Acontecem
pela assimilaccedilatildeo dos sons de as duas vogais serem alta
ldquoso tinha que trabaia trabaia ajudanu meu pairdquo
A supressatildeo do infinitivo ldquoconvenhardquo ldquotrabaiardquo ocorre no r final Essa
tendecircncia esta na pronuacutencia pelos falantes em questatildeo E na palavra ldquotrabaiardquo
ocorreu a supressatildeo da consoante palatal LH
Nesse sentido Bortoni-Ricardo ( 2004 p 58 ) discorre a vocalizaccedilatildeo da
consoante lateral palatal LH e a perda do R final a primeira regra tem
caraacuteter descontinuo e pode ser observada em trabalhar trabaia
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
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2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
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49
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2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
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VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
44
47 ndash Variaccedilatildeo morfossintaxe
A variaccedilatildeo morfossintaxe acontece na construccedilatildeo das frases em que o
falante varia nas formas das palavras e na construccedilatildeo das sentenccedilas
Quando varia na construccedilatildeo de uma concordacircncia nominal
Exemplo da variaccedilatildeo morfossintaxe da senhora ndash (Nina)
ldquogosto sim bichinha aqui num eacute ruim natildeo []rdquo
Exemplo de frases com variaccedilotildees do jovem ndash (R)
Quando haacute variaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma concordacircncia verbal
ldquoquando nois cheguemu la tomemu um terere dipois nois fumu []
ldquoonti nois foi pra cidade Num da nada natildeo []
ldquonois foi la pra fora e nois quebramu tudo o vidru da escola []
ldquomeu pai mi dismintiu e falo qui era mintira []
48 - Variaccedilatildeo lexical
A variaccedilatildeo lexical ocorre quando um objeto ou accedilatildeo satildeo designados por
termos diferentes O falante substitui um termo por outro para designar ao
mesmo objeto ou accedilatildeo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash (N)
ldquoera muito difiacutecil o cacaurdquo A palavras ldquocacaurdquo que a entrevistada se
refere significa tambeacutem ldquodinheirordquo esta variaccedilatildeo acontece de acordo com a
regiatildeo do falante
ldquoPensa cumu era custoso []
A palavra ldquocustosordquo se refere a algo difiacutecil
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da aluna - 2
ldquoiiii soacute tem coisa cabulosa dexa queto []
O que a aluna se refere como cabulosa eacute algo estranho assustador
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora - Nina
eles falam ribuccedila e nois fala si cubri []
esta variaccedilatildeo ocorre quando o falante quer se referir ao ato de se cobrir
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
Paraacutebola 2002
BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002
FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013
as 14 h
LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica
2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
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2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
2009
49
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variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
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2001 p 237 ndash 254
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Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
45
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha []
O uso da palavra ldquobichinhardquo pela entrevistada se refere a menina mulher
garota
Exemplo da variaccedilatildeo do aluno 3 ndash
us minino me itanazavam [] este termo se refere a incomodar atentar
deixava raivoso
eu aprontava eu eacutera o capeta [] pode se utilizar os termos atentado
terriacutevel danado)
Aquela gazela saltitante [] se refere a um animal ldquo veadordquo
Exemplificaccedilatildeo da variaccedilatildeo lexical da senhora ndash N
la agenti chama de budegas ou bulicho[] tambeacutem conhecido em outras
regiotildees como bar mercearia bazar venda
Tem tamem o mungunzaacute [] este termo se refere a polenta ou angu
esse s e r puxado arretado[] bravo nervoso agitado
vem caacute proce sunta [] esta palavra sunta se refere ao ato de observar
analisar averigua olhar
Utilizando os recursos da sociolinguiacutestica professores da Liacutengua
Portuguesa tecircm a tarefa de trabalhar a reeducaccedilatildeo sociolinguiacutestica dos alunos
natildeo no sentido de fazer correccedilotildees ou substituir um modo de falar pelo outro
mas no sentido de respeitar o que jaacute se sabe e tambeacutem buscando novos
conhecimentos Devemos fazer com que o aluno reconheccedila que eacute possuidor de
uma liacutengua que lhe serve como instrumento eficaz de interaccedilatildeo social
ressaltando que o ldquocertordquo e o ldquoerradordquo satildeo resultantes de visotildees de mundo de
juiacutezo de valor de crenccedilas culturais e de ideologias E exatamente por isso
estamos sujeitos a mudar com o tempo Portanto cabe aos professores a
responsabilidade de despertar nos alunos a vontade de ampliar seu repertorio
comunicativo e adquirir novas praacuteticas de letramento
No entanto frisamos novamente que eacute importante discutir o tema
variaccedilotildees linguiacutesticas na escola e de modo geral na sociedade para que haja
menos estigmas entre os falantes
46
Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
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BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
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BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002
FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
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2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
2009
49
M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da
variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola
2001 p 237 ndash 254
SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
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Em nossas escolas agraves variedades estigmatizadas devem ser enfrentado
como parte do objetivo educacional que tenha como propoacutesito respeitar as
diferenccedilas dos falantes buscando uma maior valorizaccedilatildeo dos vernaacuteculos
existentes reconhecendo neles a riqueza de nossa liacutengua de nossa cultura e
de nossa vida pessoal
Natildeo deixemos de frisar que eacute dever da escola apresentar as outras
regras gramaticais aos alunos de modo que eles possam julgaacute-las pertinentes
adequando-as conforme a necessidade do contexto de fala de maneira que
isso natildeo serva de arame farpado entre os que falam ldquocertordquo e os que falam
ldquoerradordquo ou seja a escola como sendo um ambiente educacional deve buscar
mecanismos para trabalhar as variaccedilotildees dos alunos e junto a elas explorar de
maneira eficaz a norma padratildeo de ensino que estaacute posta nas escolas Sendo
assim o aluno teraacute um entendimento maior do ensino da liacutengua sem estigmas
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
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REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
Paraacutebola 2002
BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002
FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013
as 14 h
LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica
2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as
1300 h
ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem
pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica
2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
2009
49
M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da
variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola
2001 p 237 ndash 254
SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
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Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
47
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Consideramos que investigar as variantes existentes em um grupo de
moradores da comunidade Satildeo Manoel eacute uma investigaccedilatildeo contiacutenua e
minuciosa para compreender os fatos que as influenciam sem estigmatizar os
falantes como sendo o ldquocertordquo ou ldquoerradordquo mas que julgo necessaacuterio
buscarmos contribuiccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para que os falantes se encontrem
entre si sem preconceitos linguiacutesticos que possam influenciar na realidade
social em que vivem
Verificamos por meio desse estudo que as variaccedilotildees linguiacutesticas estatildeo
presentes no diandashdia dentro da comunidade na escola com alunos e
professores e ateacute mesmo no conviacutevio familiar Sendo assim a sociolinguiacutestica
nos faz entender estas variaccedilotildees natildeo como um ldquoproblemardquo um ldquodefeitordquo da
liacutengua a ser corrigido mas sim variaccedilotildees inevitaacuteveis em funccedilatildeo de diversos
fatores sociais dos falantes
Foi possiacutevel verificar ainda que os usos das variaccedilotildees estatildeo de forma
mais explicitas nos falantes que natildeo frequentaram a escola por muito tempo
ou seja natildeo conheceram as normas gramaticais e seu uso em determinadas
situaccedilotildees natildeo que as pessoas mais letradas natildeo trazem em seu vocaacutebulo
variaccedilotildees pois elas existem e estatildeo presentes em vaacuterios contextos
Observamos tambeacutem que a liacutengua tem uma amplitude e estaacute em constante
transformaccedilatildeo em funccedilatildeo da miscigenaccedilatildeo dos falantes e sua interaccedilatildeo social
Sendo assim verifica-se que a liacutengua eacute viva enquanto houver falantes portanto
o ambiente escolar deve sim ser um lugar de interaccedilatildeo humana
Neste intuito buscamos com esta pesquisa contribuir de alguma forma
com o ensino da liacutengua na escola para que nossos alunos venham a
reconhecer valorizar e interagir com ensino da liacutengua sem estigmatiza-las pois
as variantes estatildeo presentes e devem ser tratadas na escola sem grandes
fragilidades Entretanto compreendendo que se faz necessaacuterio apreender a
norma padratildeo
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
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BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002
FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
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pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica
2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
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2001 p 237 ndash 254
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Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
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Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
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6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
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12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
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de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
48
REFEREcircNCIAS
AUREacuteLIO Renato Pereira Aspectos constitutivos da liacutengua portuguesa
2011 Disponiacutevel em httpwwwfilesprojetovivalinguagemwebnodecombr
Acesso em agosto de 2013 as 19 h
BAGNO Marcos Nada na Liacutengua eacute por Acaso Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
BAGNO Marcos Liacutengua Materna letramento variaccedilatildeo e ensino Satildeo Paulo
Paraacutebola 2002
BAGNO Marcos Preconceito Linguiacutestico Satildeo Paulo Loyola 2002
FREITAS Weacutellem Aparecida de Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica nas escolas
publicas Disponiacutevel em httpwwwwwwuelbr Acesso em agosto de 2013
as 14 h
LEVI-MATOOSO Margot Relaccedilatildeo entre psicolinguiacutestica e sociolinguiacutestica
2008 Disponiacutevel httpwwwgpesdcombr Acesso em agosto de 2013 as
1300 h
ANTUNES Irandeacute Muito Aleacutem da Gramatica por um ensino de liacutenguas sem
pedras no caminho Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2007
CALVET LJ Sociolinguiacutestica Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
CARBONI Florence Introduccedilatildeo agrave linguiacutestica Belo Horizonte Autecircntica
2008
MARCHETTI Greta STRECKER Heidi CLETO Mirela L Para Viver Juntos
Portuguecircs 9 ano do ensino fundamental 1 ed rev Satildeo Paulo Ediccedilotildees SM
2009
49
M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da
variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola
2001 p 237 ndash 254
SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
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3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
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M C e BRAGA M L (orgs) Introduccedilatildeo agrave sociolinguiacutestica O tratamento da
variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008
PAQUETTE Jean ndash Marcel Processos de normatizaccedilatildeo e niacuteveisregistros
de liacutengua In BAGNO Marcos (org) Norma linguiacutestica Satildeo Paulo Loyola
2001 p 237 ndash 254
SOARES Magda Linguagem e escola uma perspectiva social Satildeo Paulo
Aacutetica 2009
TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna
In Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1ordm e
2ordm Graus 5ordm ed Satildeo Paulo Cortez 2000
MARQUES Joseacute Geraldo Normas linguiacutesticas e purismo algumas
observaccedilotildees criacuteticas 2011 Disponiacutevel em httpwwwdialnetuniriojaes
Acessado em agosto de 2013
VELLASCO Ana Maria de Moraes Sarmento SOUSA Rosineide Magalhatildees
de Pedagogia educaccedilatildeo e liacutengua materna II 2007 Disponiacutevel em
httpwwwfeunbbr Acessado em agosto de 2013
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
50
Apecircndice
O questionaacuterio foi realizado com pessoas de origem Mineira Cearense
Japonesa e dois Sul Mato-grossense Vejamos
Entrevista realizada em agosto de 2013 com uma senhora de
origem nordestina que mora no assentamento desde sua origem com a
grau de escolaridade de Ensino fundamental incompleto
Senhora ndash ( N )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
E ndash nois era laacute do nordesticiarence mesmo laacute daquelas (s chiado )
terras pobri eu e o meu marido noacuteis nos conhecemu laacute mesmo ai
vemu pra caacute
2- Porque vocecircs vieram para caacute
Viemos de Cearaacute pra trabalhaacute em uma fazenda aqui perto laacute as coisa
era muito dificio naum tinha emprego e quando a genti casa a genti
tem qui sai da casa do paineacute
Noacuteis vendemu uma chaacutecara depois voltemous pra norte e depois de dois
anos depois veimus pro assentamento aqui perto
3- Vocecircs gostavam de onde moravam
Ateacute que nois gostava de lamais la mais la natildeo tinha emprego Laacute a
gente ara assimcomia soacute comida de milho e pexe e ainda tinha que
pescaacute era muito dificio o cacau pro cecirc entendecirc a genti so compra as
coisanas vendas que la a genti de chama de basar ou budegas
chegava assim pra compraacute um poquinho de arrois di accediluca e falava
me da uma meia ou um quarto de meia di arrois ( comprar por parte
pequena) Era assim minina ningueacutem tinha dinheiro pra compraacute um
pacote de arois naum a coisa era dificioaqui a genti num vecirc
ningueacutem vendeassim no mercahoje tudo mundo tem dinheiro
antigamente naum
4- Vocecircs gostam daqui onde moram agora
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
51
Pra noacuteis a vida aqui e melhor tem fartura gostu muito daqui viemus
pra caacute eu tava com 18 anos veimus em seis famiacuteliasnois tinha uma
colocircnia de cearensePensa cumu era custoso agente danccedilava nosso
foro ixi nossa era bom di mais
Minha fia cumecirc arrois pra nois laacute era feeeestasoacute tinha diveis
inquandosabi como eram comprado um terco de meianas vendas
eles vendia tudo di poquinhu agente buscava na caneca num tinha
farrrtura assim natildeo
5- Quais os costumes culturais dessas famiacutelias
Gosto de tudo a polenta que se chama laacute de angu o cucus queaqui
se fala laacute noacuteis chama de pao de milho Tem tamem o mungunzaacute la
nois num conhece a canjica laacute eacute mungunzaacute
Di costume nosso nois gosta muito do foro De laacute e muito bom
6- Consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre as famiacutelias
Oxi minina vocecircs num falam goooostoso quinem nois natildeo Aqui eacute poca
gente qui fala esse s e r puchado aretado ( risos)
7- A senhora percebe alguma variaccedilatildeo na fala dos seus filhos
comparando a outras crianccedilas daqui
Sim Na escola eles tiravam saro dus meus nininus Do sutaque do r
as crianccedilas tirava saro do jeito qui elis falava meus fi sofreu na iscola porque
la na eacutepoca tinha muito paulissssssta aquele povo mitida da colocircnia depois
natildeo parece que todo mundo se acossstuma eacute Nois so arasta mais a fala e
tambeacutem o pe no forro
8- Qual eacute o grau de escolaridade da senhora
Estudei ate 4 ano jaacute o meu marido e analfabeto ele nao sabe ler ate qui eli
tento estuda naquele aula que tinha a noiti dos adultos mais natildeo deu cerrrrto
natildeo e paro
9- O que a senhora acha do ensino da liacutengua na escola
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
52
Aaa num sei muito mas acho qui eles ensina bem mais ensina uma
coisa soacute num ensina esses sutaquenosso nem dos outros mesmo
sendo que tem tanto jeito di fala neacute mesmo ninina
Entrevista realizada com uma senhora de origem mineira moradora do
assentamento desde o inicio com escolaridade de Ensino Fundamental
Incompleto
Senhora (Nina )
1- Qual a origem de sua famiacutelia
Eu soacute de famiacutelia minera bichinha meus pais memu eacute minerus jaacute meu
marido era de Satildeo Paulo tamem soacute qui elei eacute das raccedila duis Japoneis
ele eacute japoneis mais morava em Satildeo Paulo
2- Como vocecircs se conheceram
Noacuteis vinhemu di Satildeo Paulo neacute aqui pro Mato Grosso do sul ai noacuteis se
conheceu aqui mesmo
3- Como vieram para o Assentamento Satildeo Manoel
Noacuteis foi convidado pelo povo da CPT com aquele grupo di povo que
veide dois irmatildeo ( municiacutepio proacuteximo do Assentamento)
4- A senhora esteve desde inicio do Assentamento
Do Assentamento simsoacute natildeo no acampamento vim nada soacute era dificio
di mais bichinha soacute dipois qui eu vim pra ca aia jaacute logo saiu as terras
5- A senhora gosta do local onde mora
Gosto gosto sim bichina aqui num eacute ruim natildeo soacute qui depois que eu cunheci o
japao eu quiria mora la vixi la eacute bom la eacute bom japoa e o paraiso bom di mora
la
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
53
6 A senhora conheceu a famiacutelia japonesa de seu esposo
Conheciconheci as primass dele que veio pacia aquie conheci
tamem quando eu fui laacute no Japao
7 Quais os costumes alimentiacutecios e culturais da famiacutelia japonesa que
a senhora conhece
Tem o tipo de comidaqui eu cunheci e gostei eacute gostoso bichinha eu
gosto essas comidas que eis traz de la tem muita cebola cozinha o
arroiz com camadas de cujo coisa boa comi isso no restoranteagenti
Tem di come sim pra conhece num eacute mesmo bichina eu gosto do arroiz
muti[] ( tipo de comida japonesa)
8 Gosta do lugar onde mora
Gosta muito Ele natildeo gosta dela ( esposo) gosta muito de mora aqui jaacute
eu eu gosto muito do japatildeo laacute o um lugar bom e o paraiso soacute que
tem que trabaia
Fique soacute um ano e poco tinha seu dinheiro tranquilo
9 Consegue identificar alguma variaccedilatildeo entre as famiacutelias
acho que natildeo tem diferenccedila natildeo bichinha eles fala do jeito di noacuteis
mesmo soacute parece qui eacute mais ligeirinho um poco uas prosa besta
10 Existe algum costume tradiccedilatildeo alimento
Vem qui vo ti mostra as coisas qui eu tenho aqui Umas cumida boa
tem sim gosta do tipo de alimentos que conheci Ateacute eu tenho ai
vem proce sunta
11 Qual o grau de escolaridade
Segunda seacuterie soacute Natildeo estudei mais porque era burra memu burra de mais
ai desisti num adiantava natildeo
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
54
12 Consegue identificar algumas variedades linguiacutesticas entre as
pessoas
Identifica sim eles falam do jeito e noacuteis di outrus qui nem Nois fala si cubri
Eles falam ribusa ( ato de se cobri a noite) bem capaz que noacuteis vai falaacute essas
bobagemO bichinha que coisa mais besta o jeito desce povo fala num eacute
mesmo bichinha
O que a entrevistada se refere a ldquobobagemrdquo satildeo as variantes dos
falantes de origem japonesa em que ela tem um pouco de contato por fazer
parte da famiacutelia e o sotaque nordestinos de algumas pessoas que ela conhece
que puxa o R e o S em suas pronuncias
Esta entrevista foi realizada em uma conversa amigaacutevel durante
uma roda de terereacute (tradiccedilatildeo regionalista do Mato Grosso do Sul) com
um jovem morador de vinte e trecircs ano com o grau de escolaridade seacutetimo
ano completo filho de pais com escolaridade de ensino fundamental
incompleto moradores nesta comunidade desde o inicio do
assentamento
Jovem - R
1- Qual sua origem familiar
Eu nasci aqui no Mato Grosso do Sulsoacute qui minha matildee eacute minera e
meu pai tamem
2- Vocecirc gosta do lugar onde mora
Soacute gosto da qui du povu mais aqui nun eacute lugar bom di mora naum
num tem nada nesse lugar se vocecirc que trabaia num tem serviccedilo
num tem onde si divertinum tem nada soacute continuo moranu aqui
purque minha matildee taacute aqui si natildeo eu ia embora mais eu vocirc ainda []
3- Por que vocecirc parou de estudar
Parei purque num tinha tempo de fazer as tarefas da escola sotinha que
trabaia trabaia ajudanu meu paium dia eu falei pa professora que eu ia para
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
55
de estuda por cas dico e ainda meu paia mi dismintiu e falo qui era mintira
ai qui eu fiquei cum raiva mesmo e num vocirc estuda mesmu []
4- O que vocecirc acha do ensina da liacutengua portuguesa na escola
Bom eu num gostou di portugueis eu era bom ni matemaacutetica nossa ai
gostava eu era inteligenti na matemaacutetica mais eu num aprendi muita
coisa di portugueis natildeo i nem gosto tamem
5- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
falantes
Vixi o povu fala errado di mais soacute qui tamem num daacute nada naum
entendenu eacute qui ta bom Noacuteis num tem o sutaqui di gauacutecho igual me vo
naum
6- Quais os costumes familiares que vocecircs preservam
Num tem nada natildeo eacute tudo normal mesmo igual di todu mundo Noacuteis
gosta mesmo eacute di churrasco que aprendemu com a raccedila do meu avocirc qui
eacute gauacutecho e gosta di chimarratildeo e carne assada
O entrevistado tem seu vocabulaacuterio com variedades independente do
ambiente que esteja pois em uma outra oportunidade perguntei ao mesmo o
que ele tinha feito no final de semana e ele relatou espontaneamente mesmo
sabendo que estava sendo observando suas variaccedilotildees linguiacutesticas na
pronuncia Vejamos
onti nois foi pra cidade fui na casa do meu cunhado e quando noacuteis
cheguemu la tomemu em terere depois mechemu na minha moto que
tava ruime a noite noacuteis fumu laacute na avenidatomenu uma cerveja
quando cheguemu im casa [ ]
As variedades utilizadas nas palavras pelo entrevistado satildeo claras e de
acordo com o que percebemos estas variantes satildeo em funccedilatildeo de natildeo ter o
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
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3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
56
conhecimento das outras formas monitoradas para que possa formular uma
frase monitorada ou de acordo com o ambiente de conversaccedilatildeo
Durante o diaacutelogo podemos perceber que suas origens familiares satildeo
de pessoas que natildeo frequentaram a escola por muito tempo por falta de
oportunidade desde seus pais e avocircs Sendo assim toda a famiacutelia traz em seu
vocabulaacuterio com variedades e a norma culta da liacutengua portuguesa fica sendo
algo desconhecido desses falantes
O entrevistado aqui eacute um pedagogo que atuou na escola do
assentamento desde sua origem e que hoje natildeo tem mais viacutenculo direto com a
escola portanto vejo a necessidade de uma reflexatildeo sobre seu ponto de vista
em relaccedilatildeo o ensino e em especial agrave linguagem De acordo com os niacuteveis
linguiacutesticos podemos observar que o mesmo utiliza da variaccedilatildeo estiliacutestica ou
seja uso um vocabulaacuterio monitorado com conhecimento de niacutevel superior que
utiliza a variaccedilatildeo de acordo com cada circunstacircncia Vajamos
1- Como vocecirc vecirc o ensino de liacutengua portuguesa na escola
Acredito que o ensino de liacutengua portuguesa vem atendendo os
alunosna medida do possiacutevel e estatildeo aprendendo Podemos ver isso
quando um aluno nossosai daqui para fazer um vestibular na
universidade e passa nas melhores colocaccedilotildees
2- Vocecirc consegue identificar alguma variaccedilatildeo linguiacutestica entre os
alunos
Existem simvariedades na forma de falar mas natildeo interfere muito na
relaccedilatildeo uns com os outros natildeo porque quase todos alunos aqui da
escola satildeo nascidos e criados aqui mesmoe natildeo tem muita diferenccedila
na fala delesmesmo que os pais dos alunos vieram de regiatildeo
diferentes tem os mesmos costumes da regiatildeo entatildeo acaba que todos
se acostumam com o jeito uns dos outrose os filhos vatildeo perdendo o
sotaque que agraves vezes os pais tecircm A cultura os costumes das famiacutelias
satildeo parecidos
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
57
3- Qual seu ponto de vista em relaccedilatildeo ao meacutetodo de ensino dos
professores de liacutengua
Olha esse eacute um dos problemas Porque os professores satildeo formados
nas determinadas aacutereas mas estatildeo soacute pelo dinheiro e natildeo preocupados
com o aprendizado dos alunos ai vocecirc acha que eles vatildeo querer
trabalhar as variaccedilotildees do aluno Vatildeo nada soacute usa o livro e pronto natildeo
discuti nada disso natildeo eles aprendendo as regras da gramaacutetica taacute bom
[] mas eacute importante que os alunos conhecer as normas corretas pra
usa na escritaisso eacute importante
4- O que vocecirc acha das variedades linguiacutesticas e a norma padratildeo
Essa norma padratildeo toda formal na verdade soacute existe nos livros mesmo
e nas gramaticas porque todo mundo fala variado ateacute mesmo noacuteis
professor natildeo fica o tempo todo falando certinho Eu mesmo natildeo vocirc ficaacute
falando errado na escola como o prefeito com as minhas filhas mas
tem certas pessoas que a genti convivecirc que natildeo precisa falar perfeito
porque eles natildeo falam assim e a gente se comunica normal sem muita
frescura
43 - Variedade linguiacutestica na Escola polo Municipal Rural Satildeo Manoel
Para analisar o ensino da liacutengua na escola e comunidade houve um
planejamento de como seria feito as observaccedilotildees e anotaccedilotildees do ponto de
vista do professor de liacutengua portuguesa atuante em sala de alunos das seacuteries
finais do ensino fundamental E a partir das observaccedilotildees e diaacutelogos com
profissionais da unidade escolar fica subentendido que natildeo haacute diversidade
linguiacutestica
Diante disso apresenta ndash se a fala de uma professora de liacutengua
portuguesa em que a mesma afirma equivocadamente que natildeo vecirc muitas
variedades entre os alunos na linguagem oral e escrita Mas o que existe satildeo
deficiecircncias de aprendizagem da liacutengua entre alguns alunos por
inevitavelmente alguns terem facilidades e outros natildeo
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha
58
No entanto percebe ndash se que as variedades estatildeo presentes nos
sujeitos Para isso seguem os dados recolhidos na escola durante observaccedilotildees
que mostra a existecircncia dessas variedades
Aluno 1 ndash eu nun tem histoacuteria prossora o que eu conta natildeo vai
convenha a voceis
Professora- todo mundo tem histoacuteria conte algo
Aluno 1- tava tudo errado no meu acontecimento eu aprontei muito na
escola queu estudava eu aprontava eu era o capeta
Professora ndashV- fala um pouco de sua historia que marcou
Aluna 2- iii professora si eu conta soacute tem coisa cabulosa dexa
queto( tosuano meu peacute tateacute melado di tanto calor vamu laacute pra fora
professora dibaxo do peacute de manga
Professora ndash V- fala entatildeo vocecirc ( aluno 3)
Aluno ndash 3 - num tem nada de importante um dia na escola noacuteis tava
tudo atentado nois combinemu di dexa a prossora doida nois foi la
pra fora e quebramu tudo o vidru da escola
Professora- Por que fizeram isso
Aluno- 3- purque us minino me itanazavam
Professora- o que eacute itanazavam
Aluno 3 ndash itanazavam eacute mi dexava doido di raivai i purque aquela
gazela saltitante era muito chata e noacuteis num gostava da aula dela
Professora- o que eacute gasela saltitante
Aluno 3- acho que eacute aqueles viadinhos do mato que fica pulano
ALUNO -4 nunca vi ningueacutem falaacute isso agora vocirc chamaacute a de gazela
saltitante porque ela eacute muito doidinha