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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE - UNIVILLE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E MEIO AMBIENTE SONIA DOS SANTOS TORIANI A INFLUÊNCIA DO ORGANOFOSFORADO MALATION 500 EC® NA FUNÇÃO HEPÁTICA, RENAL E TIREOIDIANA DE RATAS. Joinville/SC 2017 SONIA DOS SANTOS TORIANI

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  • UNIVERSIDADE DA REGIO DE JOINVILLE - UNIVILLE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE E MEIO AMBIENTE

    SONIA DOS SANTOS TORIANI

    A INFLUNCIA DO ORGANOFOSFORADO MALATION 500 EC NA FUNO HEPTICA, RENAL E TIREOIDIANA DE RATAS.

    Joinville/SC

    2017

    SONIA DOS SANTOS TORIANI

  • 1

    A INFLUNCIA DO ORGANOFOSFORADO MALATION 500 EC NA FUNO HEPTICA, RENAL E TIREOIDIANA DE RATAS

    Joinville/SC

    2017

    Dissertao de mestrado apresentada como requisito

    para obteno do ttulo de Mestre em Sade e Meio

    Ambiente na Universidade da Regio de Joinville -

    UNIVILLE.

    Orientadora: Profa. Dra. Therezinha Maria Novais de

    Oliveira.

  • 2

  • 3

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, por tudo que tem me proporcionado at hoje.

    A minha querida orientadora Dra. Therezinha Maria Novais de Oliveira, que

    acreditou no meu projeto de estudo e me deu todas as condies para

    desenvolv-lo, me orientando e me nortenado para a relao deste estudo com

    a sade e meio ambiente, quem eu passei a admirar como pessoa e como

    profissional e de quem me orgulho muito de ter sido orientanda.

    Tambm ao professor pesquisador e importante colaborador, MSc. Eduardo

    Manoel Pereira, que participou ativamente no desenvolvimento deste estudo, o

    qual aps esta jornada juntos passei admirar muito, com carinho especial.

    Reforo para estes dois profissionais minha eterna gratido por tudo, graas

    voces dois me sinto uma pessoa privilegiada por poder contar com gigantes do

    conhecimento, que sem reservas compartilharam seu saber, que Deus os

    abene e ilumine sempre seus caminhos.

    Agradeo muito a minha familia, meus filhos razo da minha vida, que

    souberam compreender os momentos de ausnsia da me em virtude da

    dediao aos estudos e ao meu amado e querido marido o maior incentivador e

    parceiro em todos os momentos, por isso sou grata pela famlia que tenho os

    quais AMO MUITO!

    Agradeo o carinho e apoio da minha me, por tudo que ela me ensinou e pela

    pessoa que sou hoje.

    Agradeo a minha banca de defesa, professora Dra Daniela Delwing de Lima e

    Dra Erika Dantas de Medeiros Rocha, pessoas muito especiais neste momento

    importante e mgico para mim.

    E a parceira com o laboratrio da cidade de Jaragua do Sul-SC, na anlise do

    resultado dos exames de sangue das ratas.

    E a todos os professores que atravs dos seus ensinamentos me mostraram

    nova viso sobre a importncia de um meio ambiente equilibrado para garantia

    da sade do ser humano e de todos os seres vivos, entendendo que somos

    parte deste sistema e no meros espectadores.

    AGRADEO DE CORAO A TODOS

  • 5

    RESUMO

    Alteraes tireoidianas, renais e hepticas afetam um nmero significativo da populao e usualmente esto associadas a vrias comorbidades, que alm de aumentar o nmero de medicamentos que o paciente tem de ingerir todos os dias, tambm pode aumentar custos pessoais e governamentais para o tratamento. Vrios fatores podem levar ao desenvolvimento do hipotireoidismo ou hipertireoidismo, dentre eles os genticos e ambientais que esto relacionados ao estilo de vida e exposio aos agrotxicos que podem agir como desrruptores endcrinos, influenciando no funcionamento da tireoide, alm de causar possveis danos ao fgado e rim. Assim destacamos o Malathion (MLT) 500 EC, utilizado em vrias culturas agrcolas, principalmente na cultura do tomate, um dos alimentos mais consumidos e importantes na dieta dos brasileiros. Frente a isso, o objetivo desse estudo foi verificar a influncia do organofosforado MLT 500 EC sobre a funo heptica, renal e tireoidiana de ratas. Para tal, quatro grupos de dez ratas fmeas (espcie Rattus Norvegicus, linhagem Wistar) com idade de 60 dias, foram expostas ao inseticida em doses de 10, 50 e 100 mg/kg via oral por 21 dias. O grupo de animais controle recebeu soluo salina (0,1 mL/100 g por via oral). Posteriormente, foram analisados no sangue dos animais os parmetros de funo tireoidiana, heptica e renal para verificar os possveis efeitos do agrotxico sobre a funo da tireoide e possvel alteraes hepticas e renais. Os resultados mostraram que houve elevao significativa das enzimas transaminases hepticas aps exposio s doses de 50 e 100 mg/kg, porm no houve elevao significativa dos nveis de creatinina e ureia. Embora tenha sido observada ligeira tendncia elevao dos nveis de T3 e T4, essa diferena no atingiu significncia estatstica. Em relao aos nveis de TSH, foi observada alterao estatisticamente significativa para as trs doses de MLT. Este estudo permite concluir que, nas doses e tempo de tratamento empregados, o MLT promoveu toxicidade heptica significativa nas doses de 50 e 100 mg/kg, porm no promoveu alteraes relevantes das funes renal e tireoidiana, embora tenha causado leve elevao dos hormnios tireoidianos. Contudo, a queda significativa dos nveis de TSH em todas as doses utilizadas sugere que houve leso hipofisria significativa, posto que a reduo de TSH no foi acompanhada de reduo dos nveis de T3 e T4. possvel que doses diferentes e perodos de administrao mais longos possam evidenciar influncias mais intensas sobre a secreo de hormnios tireoidianos pelo MLT.

    Palavras-chave: agrotxicos; Malathion; toxicologia; sade ambiental; hipotireoidismo; hipertireiodismo.

  • 6

    ABSTRACT

    Thyroid disease, renal and hepatic changes affect a significant number of the population are usually associated with other comorbidities, which besides increasing the number of medicine that the patient has to ingest every day, can also increase personal and governmental costs for treatment. Several factors can lead to the development of hypo or hyperthyroidism, including genetic and environmental ones, which are related to lifestyle and exposure to pesticides that can act as endocrine disruptors, possibly disturbing thyroid function and, in addition, may cause damage to the liver and kidneys. The organophosphate malathion (MLT) is largely used in the culture of tomatoes, one of the most consumed food in the Brazilian diet. Thus, the objective of this study was to verify the influence of the organophosphate MLT 500 ec on thyroid, liver and kidneys functions in rats. four groups of 10 female rats (rattus norvegicus, wistar) were given MLT (10, 50, 100 mg/kg, p.o.) during 21 days. And control animals were given saline solution (0,1 ml/100g, p.o.). Blood samples were collected and analysed for thyroid, liver and kidney function parameters. Results show that there was significant liver enzymes elevation after 50 and 100 mg/kg treatment, but there was no significant creatinine and urea levels increase. Though a trend to T3 and T4 increase was observed, these data did not reach statistical significance. The results show that in the doses and time of exposure, MLT promoted significant liver toxicity, but did not alter kidney and thyroid functions significantly. However, it was observed intense TSH level decrease after every treatment, which suggests relevant hypophisary damage, once this decrease was not concomitant with T3 and T4 levels reduction. Possibly, different doses and time of exposure might result in different outcomes and evidence more intense influences upon thyroid hormones secretion caused by MLT.

    Keywords: pesticides, Malathion, toxicology, environmental health; hypothyroidism, hyperthyroidism.

  • 7

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Estrutura qumica do malathion 500 EC ........................................... 24

    Figura 2. Esquema do funcionamento do sistema endcrino ......................... 34

    Figura 3. Localizao da glndula tireoide.............................................. 36

    Figura 4. Estrutura qumica dos hormnios T3 e T4 ............................... 38

    Figura 5. Percentual das manifestaes clnicas do hipertireoidismo............. 41

    Figura 6. Sinais e sintomas clnicos do hipotireoidismo e do hipertireoidismo 44

    Figura 7. Concentrao sangunea de transaminase glutmico oxalactica

    (TGO) ou aspartato aminotransferase (AST) dos animais aps

    tratamento com MLT ........................................................................

    53

    Figura 8. Concentrao sangunea de transaminase glutmico-pirvica

    (TGP) ou alanina aminotransferase (ALT) dos animais aps

    tratamento com MLT.........................................................................

    54

    Figura 9 Concentrao sangunea de ureia dos animais aps tratamento

    com MLT .......................................................................................... 60

    Figura 10 Concentrao sangunea de creatinina dos animais aps

    tratamento com MLT ........................................................................ 61

    Figura 11. Concentrao sangunea de T3 dos animais aps tratamento com

    MLT....................................................................................................

    64

    Figura 12. Concentrao sangunea de T4 dos animais aps tratamento com

    MLT....................................................................................................

    65

    Figura 13. Concentrao sangunea de TSH dos animais aps tratamento

    com MLT............................................................................................ 66

  • 8

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Classificao dos agrotxicos em classes por grau de toxicidade . 20

    Quadro 2. Distribuio das doses do organofosforado MLT, por grupos de

    ratas para estudo (grupo controle e grupo tratado) ........................ 51

  • 9

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACTH: Hormnio adrenocorticotrfico

    ANDEF: Associao Nacional de Defensivos Agrcolas

    ANVISA: Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    CCAB: Comit do Codex Alimentarius do Brasil

    CCPR: Comit sobre Resduos de Pesticidas

    DCNT: Doenas crnicas no transmissveis

    ECG: Eletrocardiograma

    FAO: Organizao das Naes Unidas

    FSH: Hormnio folculo estimulante

    GH: Hormnio de crescimento

    IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

    IDA: Ingesto diria aceitavel

    IDMT: Ingesto diria mxima terica

    IDA: Ingesto diria mxima

    IDMT: Ingesto diria mxima terica

    IGF-1: Fator de crescimento semelhante a insulina tipo 1

    INCA: Instituto Nacional do Cncer

    LH: Hormnio luteinizante

    LMR: Limite mximo de resduos

    MLT: Malation

    OF: Organofosforados

    OMS: Organizao Mundial da Sade

    PF: Produtos formulados

    PARA: Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em Alimentos

    QT: Intervalo da frequncia cardaca

    RDC: Resoluo da Diretoria Colegiada

    RX: Raio x

    SNVS: Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria

    TGO: Transaminase glutmico oxalactica

    TGP: Transaminase glutmico pirvica

  • 10

    T3: Triiodotironina

    T4: Tetraiodotironina

    TSH: Tireotrofina (Hormnio Estimulante da Tireoide)

    UED: Unidade de Endocrinologia e Diabetes

    SUMRIO

  • 11

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE QUADROS

    1 INTRODUO ....................................................................................................................... 13

    1.2 CONTEXTO INTERDISCIPLINAR DO ESTUDO ......................................................................... 16

    2 OBJETIVOS .............................................................................................................................17

    2.1 Objetivo geral ..................................................................................................................................... 17

    2.2 Objetivos especficos .......................................................................................................................... 17

    3 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................................ 18

    3.1 Agrotxicos ........................................................................................................................................ 18

    3.1.1 Classificao dos agrotxicos ................................................................................................................. 19

    3.2 Organofosforados (OF) ....................................................................................................................... 21

    3.2.1 Toxicodinmica .................................................................................................................................... 21

    3.2.2 Toxicocintica ...................................................................................................................................... 22

    3.2.3 Diagnostico e tratamento de intoxicaes por organofosforados ...................................................... 22

    3.3 Organofosforado MLT 500 EC ........................................................................................................... 23

    3.3.1 Aplicao .............................................................................................................................................. 24

    3.3.2 Toxicodinmica .................................................................................................................................... 25

    3.3.3 Toxicocintica ...................................................................................................................................... 26

    3.3.4 Manifestaes clnicas de intoxicao por MLT ................................................................................... 26

    3.3.5 Limite mximo de resduos (LMR) para MLT ....................................................................................... 27

    3.4 Contaminao do meio ambiente ...................................................................................................... 27

    3.4.1 Contaminao da gua e ambiente aqutico ...................................................................................... 28

    3.4.2 Contaminao e resduos em alimentos .............................................................................................. 28

    3.5 LMR dos resduos de agrotxicos nos alimentos ................................................................................. 30

    3.6 Forma de avaliao do LMR para seres humanos e animais ............................................................... 31

    3.7 Sistema endcrino .............................................................................................................................. 33

    3.7.1 Funo das glndulas endcrinas ........................................................................................................ 34

    3.7.3 Glndula tireoide ................................................................................................................................. 36

    3.7.3.1 Funo da tireoide ............................................................................................................................... 38

    3.7.3.2 Alteraes da tireoide .......................................................................................................................... 38

    3.7.4 Hipertireoidismo ................................................................................................................................. 39

    3.7.4.1 Fisiopatologia do hipertireoidismo .................................................................................................. 39

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Inte

  • 12

    3.7.4.2 Incidncia do hipertireoidismo ............................................................................................................ 39

    3.7.4.3 Classificao do hipertireoidismo ........................................................................................................ 40

    3.7.4.4 Sinais e sintomas clnicos do hipertireoidismo .................................................................................... 40

    3.7.4.5 Tratamento do hipertireoidismo ......................................................................................................... 41

    3.7.5 Hipotireoidismo ................................................................................................................................... 42

    3.7.5.1 Fisiopatologia do hipotireoidismo ....................................................................................................... 42

    3.7.5.2 Incidncia do hipotireoidismo ............................................................................................................. 42

    3.7.5.3 Hipotireoidismo primrio ..................................................................................................................... 43

    3.7.5.4 Hipotireoidismo secundrio ................................................................................................................. 43

    3.7.5.5 Hipotireoidismo tercirio ..................................................................................................................... 44

    3.7.5.6 Sinais e sintomas clnicos do hipotireoidismo ..................................................................................... 44

    3.7.5.7 Diagnostico e tratamento do hipotireoidismo ..................................................................................... 45

    4 METODOLOGIA .................................................................................................................... 50

    4.1 Desenho do estudo ............................................................................................................................ 50

    4.2 Reagentes .......................................................................................................................................... 50

    4.3 Amostra selecionada .......................................................................................................................... 50

    4.4 Protocolo experimental ...................................................................................................................... 51

    4.4.1 Estudo in vivo ....................................................................................................................................... 51

    4.5 Anlise bioqumica do nvel sanguneo de hormnios ........................................................................ 52

    4.6 Apresentao dos dados e anlise estatstica ..................................................................................... 52

    5 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................. 53

    5.1 Avaliao da funo heptica ............................................................................................................. 53

    5.2 Avaliao da funo renal .................................................................................................................. 59

    5.3 Avaliao da funo tireoidiana ......................................................................................................... 64

    5.3.1 Hormnio T3 ........................................................................................................................................... 64

    6 CONCLUSO .......................................................................................................................... 75

    7 REFERNCIAS ....................................................................................................................... 76

  • 13

    1 INTRODUO

    As patologias relacionadas com o sistema endcrino podem causar

    inmeras alteraes no metabolismo do ser humano, em especial relacionadas

    aos hormnios tireoidianos, conhecidas como hipotireoidismo ou

    hipertireoidismo. Estes distrbios acometem pessoas acima de 75 anos,

    principalmente do gnero feminino, e pode ter relao com a hereditariedade

    (ROBERTES & LADENSON, 2004; BRENTA et al., 2013).

    O hipotireoidismo caracterizado por uma condio metablica alterada,

    resultante de quantidade insuficiente de hormnios circulantes da glndula

    tireoide para suprir uma funo orgnica normal. Pode ser severo ou

    moderado, causando diversas alteraes no organismo humano, sendo mais

    predominante em mulheres e idosos. Atinge entre 8% a 10% da populao

    brasileira e pode ser classificado como: hipotireoidismo primrio, secundrio,

    tercirio, subclnico e congnito (LOPES, 2002; BRENTA et al., 2013).

    Em relao ao hipertireoidismo, a incidncia mdia em mulheres de 8

    casos a cada 1000 pessoas/ano, sendo 2% a 3% em mulheres e 0,2% em

    homens. A caracterstica principal do hipertireoidismo o aumento da produo

    e liberao dos hormnios tireoidianos pela glndula tireoide (LOPES, 2007;

    BRENTA et al., 2013).

    Estas patologias podem ser causadas por diversos mecanismos, e

    possivelmente por ao de agrotxicos, devido sua atividade nociva ao

    organismo ao nvel de vrios sistemas. Mesmo em concentraes muito

    baixas, os agrotxicos podem ser capazes de interferir no funcionamento

    normal da tireoide, agindo como disruptores endcrinos. Alm disso, podem

    causar cncer; afetar negativamente o sistema reprodutivo, principalmente na

    diminuio da produo de espermatozoides, alm de afetar a funo heptica

    e renal (FRCHOU et al., 2002; GUYTON & HALL, 2012). Dentre os

    agrotxicos, destacam-se os organofosforados (OF), que causam inmeros

    efeitos negativos para a sade humana, principalmente neurotxicos,

    possivelmente envolvidos na desregulao do eixo hormonal da tireoide

    (BRASIL, 2012).

  • 14

    Com o intuito de evitar danos sade, determinada a ingesto diria

    aceitvel (IDA) que uma pessoa pode consumir do resduo de cada agrotxico

    contido no alimento sem causar danos sade por tempo prolongado, levando

    em considerao o limite mximo de resduos (LMR) de cada agrotxico

    empregado na lavoura durante o cultivo. No caso especfico do Malathion

    (MLT), a IDA de 0,3 mg/kg/dia para o ser humano (BRASIL(a), 2009).

    Contudo, na prtica difcil monitorar a quantidade que as pessoas esto

    expostas diariamente em seus lares, dada a ampla variao do teor de

    resduos deste OF em diversos alimentos cultivados em nosso pas e tambm

    dos cuidados relativos remoo dos resduos antes do consumo do alimento.

    Assim, a prtica de uso indiscriminado de agrotxicos expe produtores e

    consumidores aos riscos para a sade, alm de contribuir para danos ao meio

    ambiente (ARAUJO et al., 2007). Mesmo com todos os procedimentos

    diferenciados na hora da preparao dos alimentos, que podem minimizar ou

    eliminar a quantidade de resduos de agrotxicos, a populao continua

    exposta aos resduos de agrotxicos nos alimentos, que no so eliminados

    totalmente na hora da preparao (SERRANO et al., 2013).

    Vale salientar que, apesar de seus resduos serem metabolizados e

    eliminados atravs da urina e das fezes, este inseticida distribudo por todos

    os tecidos do organismo aps sua absoro, acumulando-se principalmente no

    fgado, onde metabolizado, e nos rins que os excretam (ADAPAR, 2012). De

    acordo com o estudo de Ferman & Antunes (2009), o ser humano pode ser 10

    vezes mais sensvel a exposio de produtos txicos que os animais, assim, o

    dano causado pelos compostos qumicos testados poder ser at 10 vezes

    maior em comparao a outras espcies.

    Portanto, a exposio diria a produtos qumicos, pesticidas, radiao,

    poluio do ar e da gua, somados predisposio gentica, acarretam riscos

    para a sade e qualidade de vida das pessoas. Os fatores ambientais se

    caracterizam por serem potenciais indutores de doenas mediante a

    degradao do ecossistema e as mudanas climticas (BARATA, 2006). Esses

    fatores, aliados aos agravos dos recursos naturais como contaminao da

    gua, terra, ar e alimentos, juntamente com as atividades do ser humano

  • 15

    determinadas pela industrializao apresentam outras fontes de ameaas para

    a manuteno da sade (OMS, 2010).

    O presente trabalho foi conduzido no sentido de evidenciar a toxicidade

    de um dos OF mais amplamente utilizados no cultivo de vrios alimentos, o

    MLT. Para isso, foi conduzido estudo experimental em ratas que simulou o

    consumo crnico de MLT atravs da administrao oral de doses de 10, 50 e

    100 mg/kg do agrotxico, para observar seus efeitos sobre a funo heptica,

    renal e tireoidiana.

  • 16

    1.2 CONTEXTO INTERDISCIPLINAR DO ESTUDO

    Meio ambiente se configura na relao de todos os seres vivos com o

    ecossitema de forma integrativa como um corpo nico, para garantir a

    manuteno e sobrevivncia de ambos, caracterizado por em conjunto de

    componentes naturais, artificiais e culturais que garantem o desenvolvimento

    equilibrado da vida em todas as maneiras existentes, segundo Silva (2002).

    Para que isso se torne efetivo necessrio que esta interrelao ocorra

    cada vez mais de forma aprimorada, compreendendo este processo na sua

    amplitude, inserido em uma realidade complexa tanto biolgico como socio-

    econmico. Uma das medidas importantes para tal , o uso conciente e

    sustentvel dos recursos naturais se atendo aos limites da explorao destes

    recursos, que so finitos e dos quais o ser humano depende para garantir sua

    sobrevivncia neste planeta, com qualidade ambiental (MILAR, 2005).

    Entretanto todos os seres vivos nescessitam de fonte de energia para

    viver, principalmente o homem que precisa cultivar o prprio alimento, porm

    no intuito de garantir sua subsistencia, utiliza de meios e produtos que podem

    trazer malefcios para si e para o planeta ( MOTA, 1997). OF MLT se destaca

    como mais um destes contaminantes do meio ambiente com reflexos na sade

    de todos os seres vivos, em especial do ser humano, por ser utilizado

    largamente na produo de alimentos, que podem interferir sobremaneira na

    condio de sade pela ingesto destes alimentos contaminados. Sade est

    entendida pelo equilibrio do bem-estar fsico, mental e social e no apenas a

    simples ausncia de doena (OMS, 2010).

    Assim se faz necessrias aes intersetoriais e interdisciplinares no

    sentido de criar condies de vida saudveis para as pessoas, pois a

    existencia do meio ambiente dependente do ser humano assim como o ser

    humano dependente dele (TRAJANO, 2010).

    Portanto este estudo veio colaborar na busca de maior entendimento

    dos possveis efeitos do residuo deste OF nos alimentos consumidos

    diariamente, para a sade do ser humano e demais seres vivos, alm de sua

    ao sobre o meio ambiente. Contando com a interdisciplinariedade das reas

    de qumica, farmcia, engenharia sanitria e nutrio.

  • 17

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo geral

    Avaliar a influncia do organofosforado MLT 500 EC na funo heptica,

    renal e tireoidiana de ratas com idade de 60 dias, sob o prisma da sade

    ambiental.

    2.2 Objetivos especficos

    Adaptar o modelo de intoxicao com MLT;

    Dosar o nvel sanguneo de Transaminase glutmico oxalactica (TGO)

    e Transaminase glutmico pirvica (TGP) de ratas tratadas com MLT

    nas doses de 10, 50 e 100 mg/kg via oral;

    Dosar o nvel sanguneo de creatinina e ureia de ratas tratadas com MLT

    nas doses de 10, 50 e 100 mg/kg via oral;

    Dosar o nvel sanguneo de Tireotrofina (TSH), Triiodotironina (T3) e

    Tetraiodotironina (T4) de ratas tratadas com MLT nas doses de 10, 50 e

    100 mg/kg via oral.

  • 18

    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 Agrotxicos

    Com o intuito de se proteger de insetos que afetavam o equilbrio do

    meio ambiente, e consequentemente a sade e a segurana do homem, os

    sumrios em 2500 a.C. utilizaram o enxofre, enquanto os chineses no sculo

    XIV optaram pelo uso do arsnio. E para tratar sementes e gros

    armazenados, eram utilizados compostos a base de ervas, leos e cinzas; e

    para combater piolhos e outras pragas, eram usados o mercrio e o arsnio

    (BARBOSA, 2004).

    At o perodo das guerras mundiais, os inseticidas eram derivados

    apenas de produtos orgnicos usados com a funo de proteger os soldados

    durante a guerra mundial nas regies tropicais e subtropicais da frica e sia;

    dos insetos transmissores da doena do sono e da malria; e dos piolhos que

    transmitiam a doena chamada tifo exantemtico nas tropas norte-americanas.

    Isso impulsionou pesquisas e estudos sobre a elaborao de novos inseticidas

    e permitiu a expanso do volume expressivo de agrotxicos presentes na

    produo agrcola (BRAIBANTE & ZAPPE, 2012; BARBOSA, 2004).

    As duas grandes guerras ocorridas no sculo XX, principalmente a

    segunda guerra mundial, subsidiaram a produo de compostos com a

    finalidade de serem utilizados como armas qumicas que tiveram suas sobras

    transformadas em agrotxicos (CARNEIRO et al., 2015). Os produtos mais

    usados com a funo de pesticida, neste perodo, tambm no Brasil, foram sais

    de arsnio, cobre, enxofre e cal (BRAIBANTE & ZAPPE, 2012).

    Por cultivar o seu alimento desde a pr-histria, o ser humano teve que

    conviver e enfrentar problemas relacionados com as pragas que danificavam

    ou acabavam com as plantas, prejudicando as colheitas e os alimentos

    armazenados. Dessa forma, os agrotxicos, tambm conhecidos como

    pesticidas, praguicidas ou defensivos agrcolas, passaram a ter importncia

    crucial na agricultura (BOCHNER, 2007).

  • 19

    Conforme o Art. 2 Lei 7.802/89, agrotxicos e afins so produtos e

    agentes de processos fsicos, qumicos ou biolgicos, destinados ao

    uso nos setores de produo, no armazenamento e beneficiamento

    de produtos agrcolas, nas pastagens, na proteo de florestas,

    nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e tambm de

    ambientes urbanos, hdricos e industriais, cuja finalidade seja alterar

    a composio da flora ou da fauna, a fim de preserv-las da ao

    danosa de seres vivos considerados nocivos (BRASIL, 2012).

    Comnforme a Lei N 7802, de 11 de julho de 1989, os agrotxicos so

    utilizados para preservao dos alimentos desde sua produo at o

    armazenamento e o beneficiamento. Possuem como finalidade a proteo de

    pastagens, florestas nativas, flora e fauna. Alm da proteo de ambientes

    urbanos, hdricos e industriais da ao danosa de seres vivos considerados

    nocivos (BRASIL, 1989).

    Contudo, apesar dos riscos que estes produtos podem gerar, o Brasil

    ainda tem sua agricultura dependente de agrotxicos, incluindo substncias

    abolidas em vrios pases, como China, Estados Unidos e a Unio Europeia

    (BRASILa, 2009).

    3.1.1 Classificao dos agrotxicos

    Os agrotxicos nomeados oficialmente pela legislao so conhecidos

    por defensivos, pesticidas ou agroqumicos que podem ser classificados em

    trs grandes categorias, segundo a finalidade, para o controle de pragas ou

    doenas e plantas daninhas ou invasoras (BRASIL, 2012).

    Tambm so classificados em: (1) agrcolas para uso nos setores de

    produo, armazenamento e beneficiamento de produtos agrcolas; nas

    pastagens e nas florestas plantadas. Seus registros so fornecidos pelo

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, quando atendidas as

    diretrizes e exigncias dos Ministrios da Sade e do Meio Ambiente; (2) no

    agrcolas que so direcionados para uso na proteo de florestas nativas,

    outros ecossistemas ou ambientes hdricos. Seus registros so concedidos

    pelo Ministrio do Meio Ambiente/IBAMA, quando atendidas as diretrizes e

    http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas-qa/registro-de-na

  • 20

    exigncias dos Ministrios da Agricultura, Pecuria e Abastecimento e da

    Sade (BRASILb, 2013).

    Dos agrotxicos considerados no agrcolas temos tambm os utilizados

    em ambientes urbanos e industriais, domiciliares, pblicos ou coletivos, ao

    tratamento de gua e ao uso em campanhas de sade pblica, cujos registros

    so concedidos pelo Ministrio da Sade/ANVISA (BRASIL, 2003), atendidas

    as diretrizes e exigncias dos Ministrios da Agricultura e do Meio Ambiente.

    Estes produtos so classificados segundo o Decreto N 98.816/90, e a

    classificao segue de acordo com sua classe toxicolgica conforme o Quadro

    1.

    Quadro 1 - Classificao dos agrotxicos em classes por grau de toxicidade

    (BRASILa, 2010).

    Classe Descrio em funo da dose letal mediana

    (DL50)

    Dose considerada letal para o ser humano

    1 Extremamente txico 5 mg/kg de peso vivo Algumas gotas

    2 Altamente txico 5 a 50 mg/kg de peso

    vivo 1 colher de ch

    3 Moderadamente txico 50 a 500/mg kg de peso

    vivo 1 colher de sopa

    4 Pouco txico 500 a 5.000 mg/kg de

    peso vivo 2 colheres de sopa

    5 Muito pouco txico 5.000 mg/kg de peso

    vivo 1 copo

    No perodo de 2000 a 2012, foram comercializadas 23 classes de

    produtos formulados no pas, sendo que destes produtos destinados para a

    agricultura, existem 366 ingredientes ativos pertencentes a 200 grupos

    qumicos distintos apresentados em 1.458 formulaes comerciais, sendo 48%

    de herbicidas, 25% de inseticidas e 22% de fungicidas. Em 2012, foram

    vendidas 477.792,44 toneladas de agrotxicos no pas. Os dez estados

    brasileiros que mais comercializaram os produtos agrotxicos e afins foram

    So Paulo, Minas Gerais, Paran, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Gois,

    Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranho (BRASIL, 2013).

  • 21

    3.2 Organofosforados (OF)

    Segundo Savoy (2011), os OF so compostos derivados do cido

    fosfrico, tiofosfrico ou ditiofosfrico, cuja composio qumica caracterizada

    por enxofre e fsforo (P=S). Podem sofrer bioativao metablica, tornando-se

    capazes de apresentar uma toxicidade aguda maior que os organoclorados.

    Suas aplicaes incluem os efeitos acaricida, fungicida, inseticida e nematicida.

    A primeira experincia no desenvolvimento dos OF aconteceu na idade

    mdia, sendo preparados por alquimistas. A busca do conhecimento mais

    profundo sobre estes compostos se iniciou no sculo XIX, por Lassaigne em

    1820, com a esterificao do cido fosfrico, estudo que foi intensificado

    atravs de uma investigao mais minuciosa dos compostos de fsforo e

    produo de uma srie de derivados de fosfinas em 1845 (SANTOS et al.,

    2007).

    Tambm foram produzidos a partir de princpios ativos de substncias

    qumicas utilizadas na Segunda Guerra Mundial, que foram aproveitadas pelas

    indstrias qumicas (MARASCHI, 2003).

    A partir de 1940, passaram a ser utilizados como substitutos de

    organoclorados e biocidas. Estes so considerados conservantes que impedem

    o ataque de fungos e bactrias a materiais orgnicos, como papel, madeira e

    tecidos. Sua aplicao vai desde a agricultura at produtos sanitrios, porm o

    seu uso generalizado tem causado poluio ambiental e risco potencial

    sade humana. Portanto, a intoxicao por OF vem crescendo em nmero de

    casos, mesmo a pessoa tendo sido exposta a baixas doses (ARAUJO et al.,

    2007).

    3.2.1 Toxicodinmica

    Os organofosforados podem ser cancergenos, citotxicos, genotxicos,

    imunotxicos, mutagnicos e teratognicos (SSEBUGERE et al.,2010). Os

    efeitos induzidos pela exposio aos OF em animais e humanos tm sido

    clnicamente descritos e dependem basicamente de trs fatores: tipo de OF,

  • 22

    dose utilizada e durao da exposio (ARAUJO et al., 2007; LATORRACA et

    al., 2008).

    Essas substncias qumicas apresentam elevado potencial para destruir

    clulas musculares e comprometer o sistema nervoso, podendo causar

    problemas cardiorrespiratrios e outros sinais de aumento de funo

    colinrgica muscarnica (sndrome parassimpaticomimtica, muscarnica ou

    colinrgica), tais como: vmitos, diarreia, clicas abdominais, broncoespasmo,

    miose puntiforme e paraltica, bradicardia, hipersecreo (sialorria,

    lacrimejamento, broncorria e sudorese), cefaleia, incontinncia urinria e viso

    borrada. Podem causar tambm diaforese severa provocando a desidratao e

    hipovolemia graves, resultando em choque. Tambm causam sintomas

    derivados de ativao de receptores nicotnicos (sndrome nicotnica), como:

    midrase, mialgia, hipertenso arterial sistmica, fasciculaes musculares,

    tremores e fraqueza. Pode haver paralisia de musculatura respiratria com

    potencial para fatalidade. Efeitos sobre sistema nervoso central incluem

    ansiedade, agitao, confuso mental, ataxia, depresso de centros

    cardiorrespiratrios, convulses e coma (BRASIL, 2013; BRASIL, 2012;

    ADAPAR, 2012)

    3.2.2 Toxicocintica

    Os OF podem ser absorvidos pelas vias de absoro inalatria, por

    ingesto ou pela pele. So excretados, principalmente, pela urina e em menor

    quantidade nas fezes ( BRASILa, 2009).

    3.2.3 Diagnstico e tratamento de intoxicaes por organofosforados

    Segundo a Agncia de Defesa Agropecuria do Paran (ADAPAR,

    2012), para diagnosticar uma possvel intoxicao por organofosforados,

    recomenda-se a realizao da dosagem de seus metablitos no sangue. Alm

    disso, o controle de eletrlitos, dosagem de glicemia, creatinina, amilase

    pancretica, enzimas hepticas, gasometria, eletrocardiograma (ECG) e

    observao do prolongamento do intervalo da frequncia cardaca (QT) e RX

  • 23

    de trax (edema pulmonar e aspirao) so medidas importantes para

    monitoramento do paciente e do avano ou regresso da intoxicao.

    Para o tratamento, recomenda-se o processo de descontaminao das

    vestimentas e administrao de carvo ativado, nos casos sintomticos.

    importante a adoo de medidas de assistncia ventilatria, se necessrio, e

    utilizao do antidoto sulfato de atrofina e oximas (reativador das enzimas

    acetilcolinesterases, que so enzimas que catalisam a hidrlise da acetilcolina,

    considerado mediador qumico necessrio para a transmisso do impulso

    nervoso) (GUILOSKI et al., 2010). O tratamento deve ser realizado de forma

    precoce, em um perodo entre 24 e 48 horas, perodo em que ocorre o

    envelhecimento da enzima para obter resultado de desintoxicao mais

    confivel (BRASILa, 2009).

    3.3 Organofosforado MLT 500 EC

    O organofosforado MLT 500 EC um inseticida apresentado sob a

    forma de concentrado emulsionvel. Em concentrao pura, um lquido

    amarelado; e na forma comercial (tcnica) contm de 95% a 98% de

    substncia, tornando-se um lquido marrom-escuro com forte cheiro de alho,

    com baixa solubilidade em gua, sendo mais facilmente solvel na maioria dos

    solventes orgnicos, como o lcool, cetona, ter, ster, hidrocarbonos

    aromticos e leos vegetais.

    Decompe-se facilmente em meio alcalino e em meio cido, e possui

    taxa de hidrlise (meia-vida) em pH 7,4 e em temperatura de 37,5C, em

    aproximadamente 32 horas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003;

    ADAPAR, 2012).

    O MLT pode ser encontrado no mercado na forma de lquidos oleosos,

    viscosos, pouco densos, com cor e cheiro variados. Assim como, na forma de

    slidos ou ps-cristalinos incolores ou coloridos. As formulaes e

    concentraes variam conforme a utilizao a que se destina que pode ser

    inseticidas, fito e zoosanitrios (BRASILb, 2010).

    Este OF tem seu registro no Ministrio da Agricultura, Pecuria e

    Abastecimento (MAPA N 00439004) e no Ministrio da Sade (M.S N

  • 24

    3.2781.0019) para posterior comercializao. A sua composio qumica se

    apresenta como dietil (dimethoxitiofosforiltio) succinate (MALATIONA) 500 g/L

    (50 % m/v). composto por Dimetilbenzeno (XILENO solvente) 431 g/L

    (43,1% m/v), com ingredientes inertes (97 g/L (9,7 % m/v), sua estrutura

    qumica est apresentada na Figura 1.

    Figura 1 - Estrutura qumica do Malathion.

    (ADAPAR, 2012)

    O MLT considerado extremamente txico para o ser humano

    (classificao toxicolgica II) e muito perigoso para o meio ambiente. Seu

    efeito sobre o meio ambiente caracterizado por alta toxicidade para peixes,

    organismos aquticos e abelhas (ADAPAR, 2012).

    3.3.1 Aplicao

    O MLT aplicado em diversas culturas agrcolas, tais como, aplicao

    foliar nas culturas de alface, algodo, berinjela, brcolis, cacau, caf, frutas

    ctricas, couve, couve-flor, feijo, ma, morango, orqudeas, pastagens,

    pepino, pera, pssego, repolho, rosa, soja e tomate. Tambm usado para

    matar insetos em culturas agrcolas e jardins, tratar piolhos em humanos e

    pulgas em animais de estimao, em diferentes concentraes. O MLT 500 EC

    CHEMINOVA, sob a forma de concentrado emulsionvel, indicado para o

  • 25

    controle das seguintes pragas: no citros para a mosca-das-frutas (Anastrefa

    fraterculus), no tomate para o pulgo-verde (Myzus persicae) e para a broca

    pequena-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis) (ADAPAR, 2012).

    Alm dessas aplicaes, o Ministrio da Sade vem utilizando

    atualmente o MLT EA 44%, uma emulso estvel em gua, para o controle do

    mosquito Aedes aegypti em reas onde o vetor resistente a piretrides

    (ANDRIGHETTI et al., 2013).

    Apesar da reconhecida descrio de risco, a comercializao do MLT

    no Brasil e sua utilizao feita de forma descontrolada e sem proteo

    contribuem para que este agrotxico seja um dos mais presentes nas

    intoxicaes notificadas (DELGADO et al., 2006).

    De acordo com a Lei Federal N 7802/89, o MLT pode ser

    comercializado por estabelecimentos devidamente cadastrados em rgos

    competentes do Estado, de acordo com a Lei Estadual N 11069/98, ou

    municpios que possuem atuao mais intensa na rea da sade, do meio

    ambiente e da agricultura. A venda s poder ser realizada mediante a

    apresentao de receiturio agronmico prescrito por profissional legalmente

    habilitado. Por outro lado, este inseticida para uso domissanitrio ou para fins

    de jardinagem amadora, segundo as Portarias MS N 321/97 e N 322/97,

    poder ser realizado atravs de venda direta ao consumidor, sem a

    apresentao de receiturio agronmico, tendo como critrio que os frascos

    devem possuir um volume que no exceda 100 mL a ser diludo e de 1000 mL

    para lquidos prontos para o uso (POSSAMAI et al., 2007).

    3.3.2 Toxicodinmica

    O MLT age como potencial e permanente inibidor da colinesterase,

    impedindo a atuao desta enzima sobre a acetilcolina, causando acmulo de

    acetilcolina e superestimulao das terminaes nervosas que atuam nas

    clulas musculares, glandulares, ganglionares e do sistema nervoso central

    (SNC) (BRASILb, 2009).

    Tambm possui relao com possveis efeitos imunossupressores em

    diversos nveis, podendo causar alteraes fisiopatolgicas e interferir no

  • 26

    estado nutricional, na funo hormonal, no metabolismo heptico e em outros

    mecanismos imunorregulatrios, diretamente ou indiretamente sobre clulas

    linfoides. Alm disso, pode interferir no metabolismo das imunoglobulinas,

    clulas T, macrfagos e na biossntese macromolecular (BANERJEE et al.,

    1999).

    3.3.3 Toxicocintica

    A absoro do MLT ocorre pela via trato gastrointestinal e, em menor

    extenso, pelas vias drmicas e inalatria. Os resduos so metabolizados e

    eliminados rapidamente atravs da urina e fezes. O MLT distribudo por todos

    os tecidos do organismo, aps sua absoro, acumulando altas concentraes

    no fgado, onde metabolizado e rins, que o excretam. Os efeitos podem

    ocorrer minutos ou horas aps a exposio (ADAPAR, 2012).

    A excreo no ser humano ocorre principalmente pela via urinria, em

    menor quantidade pelas fezes. A excreo mxima ocorre em dois dias, aps

    diminui rapidamente. Em ratos, a principal via de excreo tambm ocorre

    atravs da urina (80% a 90%), nas primeiras 24 horas aps a exposio. Os

    ratos convertem cerca de 4% a 6% do MLT em Malaoxon. O tempo de meia-

    vida do MLT, em ratos, 1,4 dias no sangue quando administrado por via oral.

    Em humanos A meia- vida deste organofosforado varia muito, dependendo da

    natureza do composto, pois alguns metablitos so mais txicos que a

    substncia que os originou (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).

    3.3.4 Manifestaes clnicas de intoxicao por MLT

    Os efeitos causados pelo MLT podem ocorrer minutos ou horas aps a

    exposio, de forma leve, moderada ou grave, dependendo da concentrao

    do produto absorvido, do tempo de absoro, da toxicidade do produto e do

    tempo decorrido entre a exposio e o tratamento (ADAPAR, 2012).

    O MLT pode provocar nusea, vmito, diarreia, salivao e sudorese

    excessiva. Em casos mais graves, pode causar bradicardia, miose, secreo

    pulmonar aumentada, incoordenao muscular, fasciculaes, contraes

  • 27

    musculares, depresso do SNC, crises convulsivas generalizadas, coma e

    bito (ANDEF, 2015). De acordo com estudos de Santos (2013), em que ratos

    foram expostos por 15 dias ao MLT, observou-se aumento da expresso de

    protenas pr-apotticas, sugerindo potencial citotxico mesmo em baixas

    doses (30 mg/kg).

    3.3.5 Limite mximo de resduos (LMR) para MLT

    Quando se trata de uso no alimentar, o LMR para farinha de trigo de

    2 mg/kg; para uso alimentar, o LMR do tomate de 3 mg/kg. A IDA de 0,3

    mg/kg para ser humano, sua dose letal oral mediana (DL50) para ratos de

    2000 mg/kg e a drmica acima de 4000 mg/kg (BRASILa, 2009).

    3.4 Contaminao do meio ambiente

    O meio ambiente tem sido influenciado pelo crescente surgimento da

    agricultura qumico-industrial, responsvel principalmente pela contaminao

    de alimentos, seguido da poluio de rios e do solo. As eroses e a

    desertificao, associadas intoxicao e morte de animais, alm da extino

    de espcies, evidenciam o desequilbrio que o uso inadequado de agrotxicos

    causa, no apenas aos seres humanos, mas para todo o meio ambiente

    (ARAUJO et al., 2007).

    O meio ambiente saudvel e ecologicamente equilibrado direito de

    todos, como bem de uso comum, e essencial para a boa qualidade de vida,

    sendo responsabilidade do Poder Pblico e da Comunidade que tm o dever

    de defend-lo, conserv-lo e preserv-lo para as futuras geraes (DUARTE,

    2007).

    A produo de alimentos atravs da agricultura prticada atualmente se

    apresenta como motivadora de insustentabilidade ambiental, devido o uso de

    forma indiscriminada e sem controle dos inseticidas pelos agricultores,

    acarretando danos imediatos e tardios ao meio ambiente e sade humana,

    tornando-se urgente a busca de medidas para minimiz-los (PIGNATI,

    MACHADO & CABRAL, 2007).

  • 28

    A prtica da agricultura estampa atualmente uma realidade preocupante

    no pas, devido dependncia de defensivos e demais produtos afins para

    manuteno da plantao, constituindo poluidores potenciais do meio ambiente

    (CAMPOS, 2008).

    Outro grande prejuzo ao meio ambiente a contaminao do sistema

    hdrico, gerando mudanas significativas no ecossistema que refletem

    diretamente sobre a manuteno da sade dos seres vivos, pois independente

    da forma como so aplicados na lavoura, esses produtos tm como destino

    final o solo, carregados pela ao das chuvas ou da gua de irrigao

    (SCORZA JUNIOR, NVOLA & AYELO, 2010).

    3.4.1 Contaminao da gua e ambiente aqutico

    As principais fontes de poluio hdrica, por sua vez, so os esgotos

    domsticos, efluentes industriais, agrotxicos, detergentes sintticos,

    minerao, poluio trmica e outros focos no especficos. Os agrotxicos so

    classificados como os de maior gravidade que contaminam a gua, o ar e o

    solo. A referida poluio qumica do solo pode ser vista como resultado dos

    processos agrcolas que fazem uso dos agrotxicos, poluindo o ambiente e

    causando srios riscos sade dos seres humanos e demais formas de vida

    (STRACCI, 2014).

    De acordo com o Atlas de Saneamento e Sade do IBGE, lanado em

    2011, com base na declarao dos municpios sobre poluio e contaminao,

    junto com o esgoto sanitrio, os resduos de agrotxicos e a destinao

    inadequada do lixo foram relatados como responsveis por 72% dos

    causadores de poluio na captao da gua de mananciais superficiais, 54%

    em poos profundos e 60% em poos rasos (CARNEIRO et al., 2015).

    3.4.2 Contaminao e resduos em alimentos

    Segundo o Instituto Brasileiro de geografia e Estatistica (IBGE), a

    populao brasileira composta por 204.101.219 habitantes, porm seu

    crescimento ainda ocorre de forma desigual em todo o territrio, sendo a maior

  • 29

    concentrao nas regies norte e centro-oeste. Este fato traz tona uma

    preocupao com o descompasso do saneamento bsico entre os estados

    brasileiros (BRASIL(b), 2010). Segundo a OMS (2010), 24% das doenas no

    mundo esto relacionadas ao ambiente em que a pessoa vive, assim, a

    promoo de um meio pouco contaminado essencial para minimizar a

    incidncia dessas doenas.

    O Ministrio da Sade adverte que os agrotxicos esto em segundo

    lugar como os maiores causadores de intoxicao no Brasil. Existem cerca de

    200 tipos de agrotxicos diferentes e o Brasil um dos principais

    consumidores. Alis, muitos desses compostos so proibidos em outros

    pases, mas no Brasil so utilizados em larga escala sem a preocupao em

    relao aos danos que podem causar (BRASIL, 2012).

    Segundo Carneiro et al. (2015), o consumo mdio de agrotxicos no

    Brasil de 12 litros/hectare e a exposio mdia

    ambiental/ocupacional/alimentar de 7,5 litros de agrotxicos por habitante,

    conforme cita o dossi elaborado pela Associao Brasileira de Sade Coletiva

    (2012).

    Devido ao residual de agrotxicos nos alimentos cultivados na

    lavoura convencional, aplicados durante o plantio, cultivo e colheita, observam-

    se diversos agravos para a sade humana. Apesar de estabelecida a IDA de

    agrotxicos nos alimentos, com o intuito de garantir a segurana alimentar da

    populao, o ser humano ainda est exposto ao uso combinado de vrios

    produtos desta natureza, muitas vezes no indicados para determinado tipo de

    plantao ou que esto em reavaliao para descontinuao programada do

    seu uso, devido sua alta toxicidade (ABRASCO, 2012)

    Ainda, segundo a Unio Europeia, alguns agrotxicos atuam como

    interferentes endcrinos, podendo danificar diretamente um rgo endcrino ou

    alterar a sua funo, interagir com um receptor de hormnios ou alterar o

    metabolismo de um hormnio (SINGH et al., 2010).

  • 30

    3.5 LMR dos resduos de agrotxicos nos alimentos

    Frente ao avano no uso dos agrotxicos, torna-se necessrio monitorar

    e controlar o nvel de resduos de agrotxicos contidos nos alimentos

    consumidos pelo ser humano. Para isso, foi criado em 1963, o rgo

    internacional com o intuito de desenvolver normas no mbito do programa da

    OMS para alimentao e agricultura (FAO/OMS), cuja misso foi estabelecer

    limites mximos de resduos (LMR) com valor expresso em miligramas de

    defensivo ou afins de seus resduos por quilo do alimento analisado (mg/Kg).

    Foi incumbido de gerar as listas prioritrias de pesticidas que deveriam ser

    avaliados/reavaliados pelo JOINTs FAO/WHO Meeting on Pesticide Residues

    (JMPR - grupo FAO/OMS de peritos sobre resduos de pesticidas, que prestam

    aconselhamento cientfico ao Comit sobre Resduos de Pesticidas). Alm de

    priorizar mtodos de amostragem e anlise para a determinao de resduos

    de pesticidas (CODEX ALIMENTARIUS, 2015).

    Para acompanhar este processo, em 1980, no Brasil, foi criado o Comit

    do Codex Alimentarius do Brasil (CCAB), composto por 14 membros, incluindo

    rgos do governo, indstrias e rgos de defesa do consumidor, sob a

    coordenao em parceria com a Secretaria Executiva do Inmetro, cuja funo

    representar o Pas nos Comits do Codex, visando garantir o LMR em

    alimentos e promover a segurana do consumidor e a regulamentao do

    comrcio externo (JARDIM & ANDRADE, 2009; CODEX ALIMENTARIUS,

    2015).

    Seguindo esta linha, em 2001, a ANVISA criou o Programa de Anlise

    de Resduos de Agrotxicos em Alimentos (PARA) com a finalidade de avaliar

    a qualidade dos alimentos consumidos pela populao brasileira em relao ao

    uso de agrotxicos. Esse programa visa prevenir intoxicaes agudas ou

    crnicas resultantes da exposio diettica indevida dos agrotxicos, assim

    como, estimar a exposio da populao aos resduos de agrotxicos em

    alimentos de origem vegetal e, consequentemente, avaliar o risco sade

    dessa exposio (BRASIL, 2012).

    Alm disso, este programa busca contribuir para a segurana alimentar,

    por meio da avaliao do LMR, definido a partir de 2007. Nos alimentos

  • 31

    comercializados no varejo, visa verificar se os agrotxicos utilizados esto

    devidamente registrados no pas e se foram aplicados somente nas culturas

    para as quais esto autorizados (BRASILa, 2013).

    Para a manuteno deste controle, realizada a coleta de amostras de

    alimentos pelas vigilncias sanitrias estaduais e municipais em

    supermercados, que so encaminhados para laboratrios credenciados e

    especializados, para verificar a quantidade de resduos de agrotxicos em cada

    uma das amostras coletadas pelo mtodo analtico de "multirresduos" ou

    metodologias especficas previamente validadas, propondo assim realizar

    analise simultnea de diferentes ingredientes ativos de agrotxicos em uma

    mesma amostra (BRASILa, 2009).

    3.6 Forma de avaliao do LMR para seres humanos e animais

    Para avaliar a exposio da populao s substncias qumicas

    potencialmente txicas, avalia-se individualmente o consumo de um alimento.

    Para verificar a quantidade ingerida de resduos destas substncias, deve ser

    estabelecida a relao consumo/peso corpreo para cada indivduo (FAO,

    2013).

    Com a finalidade de avaliar o impacto da exposio, antes de autorizar o

    uso de um ingrediente ativo para uma cultura agrcola, a ANVISA executa o

    clculo da Ingesto Diria Mxima Terica (IDMT) definida pelo quociente:

    somatrio dos produtos do consumo mdio per capita dirio de cada alimento

    e o respectivo LMR dividido pelo peso corpreo (BRASIL, 2014).

    Soma (LMR X Consumo do alimento)

    IDMT = _________________________________

    Peso corpreo

    Os LMR estabelecidos para um agrotxico nas vrias culturas so

    considerados seguros para a sade do consumidor quando a Ingesto Diria

    Mxima Terica (IDMT) no ultrapassa a IDA (BRASIL, 2014).

  • 32

    A exposio crnica a substncias qumicas na dieta ocorre diariamente,

    por um longo perodo. O clculo da IDA, em mg/kg de peso corpreo/dia, de

    uma determinada substncia dada por:

    Concentrao da substncia X consumo do alimento

    Exposio =

    Peso Corpreo

    Para o clculo, so utilizados valores mdios desses parmetros, pois

    refletem melhor as variaes de exposio que podem ocorrer durante um

    longo perodo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997).

    Testes in vivo so utilizados com o propsito de realizar triagem e

    classificar as substncias presentes nos alimentos, de acordo com sua

    toxicidade. Constituem a principal forma de informao e caracterizao de

    danos sade do ser humano. Estes testes so realizados tendo como base a

    IDA definida para animais, porm o ser humano pode ser 10 vezes mais

    sensvel. Sendo assim, o valor danoso ao ser humano do composto qumico

    testado poder ser 10 vezes maior que para o animal testado (FAO, 2013).

    Entretanto, a contaminao dos alimentos e a quantidade de resduos

    remanescentes at a hora do consumo pode ser alterado atravs da

    preparao caseira ou comercial dos alimentos aps um procedimento de

    preparo, como lavar, descascar ou cozinhar (ARAUJO et al., 2007).

    Apenas o Brasil dispe de legislao especfica no campo da segurana

    alimentar e direito alimentao (FAO, 2013). Trata-se da Lei Orgnica de

    Segurana Alimentar e Nutricional (LOSAN, Lei N 11.346, de 15 de setembro

    de 2006) que versa sobre uma concepo abrangente e intersetorial da

    Segurana Alimentar e Nutricional. Porm, ainda convivemos com uma

    realidade de insegurana alimentar, em que o pas mantm o quinto lugar em

    consumo de inseticidas e o terceiro em produo e consumo de agrotxicos em

    relao ao mundo, de acordo com a Associao Nacional de Defensivos

    Agrcolas, expondo os alimentos contaminao desde a produo,

    processamento, armazenamento e at embalagem (ANDEF, 2015).

  • 33

    3.7 Sistema endcrino

    O sistema endcrino influencia a atividade metablica atravs dos

    hormnios secretados que atuam como mensageiros qumicos em todos os

    rgos, no sentido de promover e regular o crescimento, o funcionamento de

    vrios rgos, manter a homeostase do metabolismo e determinar as

    caractersticas sexuais masculinas e femininas, por exemplo. Os hormnios

    produzidos pelas glndulas endcrinas tm como destino a corrente sangunea

    at atingir os sistemas alvo, alm de interagir harmoniosamente com o sistema

    nervoso na coordenao e regulao das funes metablicas. Os principais

    rgos que secretam hormnios so hipfise, hipotlamo, tireoide,

    paratireoides, suprarrenais e o pncreas (MCANDREWS& WU, 2013).

    A atividade do sistema endcrino regulada por mecanismo de

    feedback ou retrocontrole. Denomina-se feedback negativo quando a

    concentrao do hormnio secretado atinge uma concentrao acima do

    necessrio, mediando sinalizao inibidora da secreo deste hormnio e a

    consequente interrupo deste circuito de ao. considerado feedback

    positivo quando a concentrao do hormnio est baixa e sinaliza a

    necessidade da glndula secret-lo para que a atividade fisiolgica possa ser

    estimulada (GUYTON & HALL, 2012). Sob este controle, o sistema endcrino

    mantm em equilbrio a ao das principais glndulas demonstradas na Figura

    2.

  • 34

    Figura 2 - Esquema do funcionamento do sistema endcrino.

    (adaptado de Guyton & Hall, 2012)

    3.7.1 Funo das glndulas endcrinas

    A funo das glndulas endcrinas secretar os hormnios importantes

    para a homeostase do metabolismo. Destas, a glndula pineal secreta a

    melatonina, hormnio responsvel pela regulao dos ritmos corporais (ciclo

    circadiano), relgio biolgico e o sono (GUYTON & HALL, 2012). A glndula

    suprarrenal realiza a secreo do hormnio cortisol, que tem ao oposta a da

    insulina e semelhante a do glucagon sobre a glicemia, sendo responsvel pela

    gliconeognese heptica, liplise no tecido adiposo e degradao proteica no

    msculo para gerao de energia para atender as necessidades do crebro. Alm

    disso, modula a formao de novas estruturas sseas e possui ampla influncia

  • 35

    sobre o sistema imune, atuando como imunossupressor (WIDMAIER, RAFF &

    STRANG, 2013).

    Tambm controlado pela glndula suprarrenal, o hormnio esteroidal

    aldosterona assegura a manuteno dos nveis de sdio e potssio na urina e no

    sangue, sendo um dos principais hormnios responsveis pelo controle da presso

    arterial. A adrenalina outro hormnio importante da suprarrenal, devido sua ao

    promotora de aporte de sangue para os msculos, a manuteno da frequncia

    cardaca e da presso arterial dentro dos valores adequados, tanto em repouso

    como em condies de estresse. Tambm pode estimular a secreo de

    insulina, glucagon, gastrina, dentre outros (PRADO, RAMOS & RIBEIRO DO

    VALLE, 2007).

    Para controle direto do metabolismo e sntese de protenas, os hormnios T3 e T4

    so secretados pela glndula tireoide sob estmulo do hormnio TSH advindo da hipfise

    anterior. Outra glndula, a paratireoide, produz o paratormnio que controla os nveis de

    clcio no sangue por meio de influncia sobre a absoro intestinal, eliminao renal de

    clcio e sua transferncia dos ossos para o sangue (MCANDREWS & WU, 2013).

    O pncreas uma glndula mista com funes endcrinas e excrinas. As

    clulas pancreticas secretam glucagon e as clulas secretam insulina. Existem

    tambm as gnadas, responsveis pela secreo de hormnios sexuais, que regulam o

    ciclo reprodutivo, o comportamento sexual e a fertilidade. O hormnio testosterona

    secretado pelos testculos, enquanto estrognio e progesterona so secretados pelos

    ovrios (WIDMAIER, RAFF & STRANG, 2013).

    3.7.2 Eixo Endcrino Hipotalmico-Hipofisrio

    O hipotlamo regula a liberao dos hormnios secretados pela hipfise,

    e atua como facilitador da comunicao entre os sistemas nervoso e endcrino,

    promovendo a regulao da temperatura corprea, do apetite, da atividade

    gastrintestinal, do nvel de eletrlitos, da presso arterial, dos hormnios

    sexuais, do funcionamento cardiovascular, do crescimento e desenvolvimento,

    das emoes e do sono. (DAVIES, BLAKLELEY & KIDD, 2002).

    O hipotlamo e a hipfise possuem relao com a integrao estrutural e

    funcional entre os sistemas nervoso e endcrino. O hipotlamo ocupa apenas

  • 36

    2% do volume do encfalo, enquanto a hipfise um pequeno rgo que pesa

    aproximadamente 0,5 g e localiza-se na sela trcica do osso esfenoide. A

    hipfise se liga por um pednculo ao hipotlamo na base do crebro, e guarda

    importantes relaes anatmicas e funcionais. Pode ser dividida em lobo

    anterior e lobo posterior, sendo a hipfise anterior responsvel pela secreo

    de seis hormnios, so eles: hormnio adrenocorticotrfico (ACTH), hormnio

    tireoestimulante (TSH), hormnio de crescimento (GH), hormnio folculo

    estimulante (FSH), hormnio luteinizante (LH) e prolactina. Tambm produz os

    hormnios oxitocina e antidiurtico, que so armazenados e liberados pela

    hipfise posterior (FOX, 2007; GUYTON & HALL 2012).

    3.7.3 Glndula tireoide

    A tireoide a primeira glndula endcrina que surge no embrio.

    Segundo Guyton & Hall (2012), esta glndula um rgo com peso mximo de

    20g que contm dois lobos conectados por um istmo. Est localizada no

    pescoo anterior, ao nvel das vrtebras C5 at T1, em frente traqueia, e

    inferior laringe, entre a cartilagem cricride e a incisura supra esternal.

    altamente vascularizada e de consistncia macia, conforme mostra a Figura 3.

    A glndula tireoide controlada pela atividade do eixo hipotlamo-hipfise-

    tireoide.

    Figura 3 - Localizao da glndula tireoide.

    (Google Imagens, 2015)

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Vrtebrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Traquiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Laringe

  • 37

    A tireoide mantm o equilibro do metabolismo atravs da produo,

    armazenamento e secreo dos hormnios T3 e T4, conforme ilustra a Figura

    4. Para que este processo acontea, o hipotlamo promove a liberao do

    hormnio liberador da tireotrofina (TRH) que, ao penetrar na adeno-hipfise,

    estimula as clulas basfilas a liberar o hormnio TSH, cuja funo estimular

    as clulas que compem os folculos colides dentro da glndula tireoide. O

    TSH secretado pela hipfise anterior e controla a secreo da glndula

    tireoide. Quando a hipfise anterior para de secretar este hormnio, gera

    dificuldade expressiva na tireoide chegando a incapacit-la de secretar

    qualquer hormnio (OLIVEIRA & MALDONADO, 2014; MCANDREWS & WU,

    2013).

    O processo para equilbrio da produo dos hormnios T3 e T4 ocorre

    por feedback negativo, o qual se configura na absoro do iodo, fundamental

    na quantidade de 100 a 150 g/dia, consumido nos alimentos e transportado

    para a tireoide, onde sofre oxidao pela peroxidase e incorporado s

    molculas de tireoglobulina para constituir os hormnios T3 e T4, conforme

    figura 4 (GUYTON & HALL, 2012).

    O hormnio T3 livre metabolicamente mais ativo e possui atividade

    biolgica 4 vezes superior do T4. A tireoide tambm tem importante papel de

    metabolizar a calcitonina, que junto com T3 e T4, essencial para a regulao

    da expresso gnica, diferenciao celular, regulao do metabolismo

    energtico e do metabolismo do clcio. Os hormnios T3 e T4 so estimulados

    pelo TSH que secretado pela adenohipfise (PRADO, RAMOS & RIBEIRO

    DO VALLE, 2007).

  • 38

    Figura 4 - Estrutura qumica dos hormnios T3 e T4.

    (PRADO, RAMOS & RIBEIRO DO VALLE, 2007)

    3.7.3.1 Funo da tireoide

    A tireoide um rgo de suma importncia, pois tem influencia no

    funcionamento de todas as vias metablicas. Seus principais efeitos so:

    proliferao e diferenciao celular, crescimento dos tecidos atravs do

    estmulo da sntese proteica. Alm disso, participa da glicogenlise, processo

    de degradao do glicognio heptico em glicose no fgado, sendo primordial

    para o metabolismo dos carboidratos. Sua atividade tambm favorece maior

    mobilizao e oxidao de lipdios do tecido adiposo, promovendo a reduo

    dos nveis plasmticos de colesterol. Participa tambm do desenvolvimento

    normal das gnadas, regulao da temperatura corporal e da frequncia

    cardaca (OLIVEIRA & MALDONADO, 2014).

    3.7.3.2 Alteraes da tireoide

    Os desequilbrios no funcionamento da tireoide compreendem o hiper e

    o hipotireoidismo. Na primeira condio, a ao da tireoide alterada atravs

    de estimulao excessiva do eixo hipotlamo-hipfise por causas diversas,

    expresso de anticorpos anti-receptores de TSH, e o excesso de funo da

    glndula pode levar a aumento no tamanho da tireoide com o surgimento de

    ndulos, tumores benignos ou no, alm de bcio txico ou exoftalmia. A

    segunda condio (hipotireoidismo) acontece devido a falta de T3 e T4, atrofia

  • 39

    da tireoide ou ablao completa da mesma (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

    ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2016).

    3.7.4 Hipertireoidismo

    3.7.4.1 Fisiopatologia do hipertireoidismo

    O hipertireoidismo ocorre pelo aumento da produo e liberao de

    hormnios tireoidianos pela tireoide. Esta condio caracterizada por

    tireotoxicose ou excesso de hormnios circulantes, ocorrendo o aumento do T3

    com supresso do TSH, demonstrado por quadros de hiperplasia difusa da

    tireoide (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E

    METABOLOGIA, 2016).

    Quando associada doena de Graves, manifesta-se pela infiltrao

    linfocitria da glndula tireoide, ativao do sistema imune com elevao dos

    linfcitos T circulantes e aparecimento de anticorpos que se ligam ao receptor

    do hormnio TSH e estimulam o crescimento e a funo glandular, podendo

    causar bcio multinodular hiperfuncionante e adenoma hiperfuncional da

    tireoide, alm da tireoidite que ocorre pela ingesto excessiva de hormnio

    tireoidiano (GUYTON & HALL, 2012).

    Entre as manifestaes patolgicas, destacam-se alteraes cardacas,

    neuromusculares e oculares, intensificao da taxa metablica basal,

    osteoporose e peristaltismo. Portanto, uma patologia classificada como grave

    por alterar de forma significativa a qualidade de vida, e por seu tratamento

    exigir acompanhamento constante com investimento que pode gerar impacto

    significativo principalmente na vida das pessoas em vulnerabilidade social

    (BAHN et al., 2011; OLIVEIRA & MALDONADO, 2014).

    3.7.4.2 Incidncia do hipertireoidismo

    A incidncia mdia de hipertireoidismo de 8 casos a cada 1000

    pessoas/ano, sendo 2% a 3% em mulheres e 0,2% em homens. Entre 60% e

    80% dos casos, a doena de Graves ou o bcio difuso txico so a principal

  • 40

    causa de hipertireoidismo em mulheres na faixa etria ente 40 e 60 anos de

    idade. Apresenta-se como uma disfuno autoimune causada pela existncia de

    anticorpos IgG estimuladores do receptor de TSH, que mimetizam o efeito da

    tireotrofina produzida pela hipfise, estimulando o aumento de volume e a funo

    da tireoide (LOPES, 2007). O hipertireoidismo subclnico, condio apresentada

    em 0,3% a 1% da populao, geralmente ocorre em 2% dos idosos, e pode ser a

    fase inicial do hipertireoidismo (BAHN et al., 2011).

    3.7.4.3 Classificao do hipertireoidismo

    O hipertireoidismo pode ser classificado como hipertireoidismo

    subclnico primrio que apresenta alteraes dos hormnios tireoidianos com

    aumento dos valores de TSH e manuteno dos valores de T4 em nveis

    normais, sem manifestaes clnicas pelo paciente. No hipertireoidismo

    secundrio, os hormnios tireoidianos e o TSH esto em nveis normais,

    enquanto o T4 est diminudo. A tireotoxicose por T3 decorre do aumento

    isolado dos nveis sricos de T3 e supresso do TSH para valores inferiores a

    0,1 mUI/L. Enquanto no hipertireoidismo franco, os nveis sricos de T3 e T4

    esto aumentados e o TSH est indetectvel (BRENTA et al., 2013;

    SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRONOLOGIA E METABOLOGIA,

    2016).

    3.7.4.4 Sinais e sintomas clnicos do hipertireoidismo

    O paciente portador de hipertireoidismo caracteriza-se por apresentar

    aumento da temperatura corporal, intolerncia ao calor, hiperidrose,

    palpitaes, fraqueza muscular, dificuldade respiratria, taquicardia e fibrilao

    atrial, nervosismo, tireomegalia, perda de peso, taquipnia, rouquido,

    tremores, oniclise, alteraes do ciclo menstrual, alopecia, cabelos finos e

    brilhantes, disfagia, oligomenorria, conforme mostra a Figura 5 que destaca o

    percentual das manifestaes clnicas.

  • 41

    Sintomas % Sinais %

    Nervosismo 99 Taquicardia 100

    Sudorese excessiva 91 Bcio 97

    Intolerncia ao calor 89 Tremor 97

    Palpitao 89 Pele quente e mida 90

    Fadiga 88 Sopro na tireoide 77

    Perda de peso 85 Alteraes oculares 71

    Dispinia 75 Fibrilao atrial 10

    Fraqueza 70 Ginecomastia 10

    Aumento do apetite 65 Eritema palmar 8

    Edema de membors inferiores 35 Disturbios mestruais 20

    Diarria 23 Hiperdefecao 33

    Ganho de peso ponderal 2 Anorexia 9

    Figura 5 - Percentual das manifestaes clnicas do hipertireoidismo.

    (MAIA et. al., 2013).

    A doena de Graves caracterizada principalmente pelo aumento da

    reabsoro ssea, elevao da excreo de clcio e fsforo na urina e nas

    fezes, causando diminuio da densidade mineral ssea e aumento do risco de

    fraturas em mulheres idosas, doenas cerebrovasculares, cardiovasculares e

    fraturas do colo do fmur. Pacientes com hipertireoidismo apresentam maior

    risco de mortalidade (NEVES et al., 2008; MAIA et al., 2013).

    3.7.4.5 Tratamento do hipertireoidismo

    Para o tratamento do hipertireoidismo so utilizadas drogas

    antitireoidianas, cirurgia de remoo da glndula ou destruio desta com

    radioistopo Iodo 131. A escolha do tratamento depender do consenso entre o

    mdico e o paciente, da idade do paciente, do volume da tireoide, da

    severidade da doena e dos recursos disponveis (LOPES, 2007).

    Em relao aos efeitos colaterais das drogas antitireoidianas, devido a

    utilizao em longo prazo, alguns podem ser significativos, como hepatite

    txica e agranulocitose (diminuio ou desaparecimento de leuccitos

    responsveis pelo sistema de defesa). Outro fator importante o abandono do

    tratamento, que gira em torno de 40% a 80%, diminuindo substncialmente o

    resultado do tratamento (ARAUJO et al., 2007).

  • 42

    O maior desafio da rea mdica para tratar a doena de Graves, causa

    principal do hipertireoidismo, considera o risco de complicaes cirrgicas e de

    morte durante procedimento cirrgico, leso nos nervos da laringe ou glndulas

    paratireoides, hipotireoidismo, recorrncia ou persistncia da doena,

    infeces, sangramentos e leses nos vasos cervicais. Entretanto, o mtodo

    mais barato, utilizado h 60 anos, o radiostofo Iodo 131 que pode gerar uma

    tireoidite intensa secundaria por progressiva fibrose intersticial e atrofia

    glandular, culminando na incapacidade definitiva da produo de hormnios

    pela glndula tireoide (ARAUJO et al., 2007; SOCIEDADE BRASILEIRA DE

    ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2016).

    3.7.5 Hipotireoidismo

    3.7.5.1 Fisiopatologia do hipotireoidismo

    O hipotireoidismo uma condio clnica caracterizada pela quantidade

    insuficiente ou ausente dos hormnios T3 e T4, que compromete o

    metabolismo de forma intensa e prejudica a manuteno das funes

    orgnicas (MULLER et al., 2008).

    Os nveis reduzidos dos hormnios tireoidianos podem advir de uma

    doena na prpria glndula (hipotireoidismo primrio), assim como, podem ser

    causados por doenas hipofisrias (hipotireoidismo secundrio) ou

    hipotalmicas (hipotireoidismo tercirio) (REID & WHEELER, 2005).

    3.7.5.2 Incidncia do hipotireoidismo

    As doenas da tireoide afetam um em cada 200 adultos. A incidncia do

    hipotireoidismo de 0,3 a 5 casos por 1000 habitantes/ano. A prevalncia da

    doena atinge de 10% a 15% da populao brasileira, sendo de 9,4% entre 35

    e 44 anos e de 19,1% acima dos 75 anos, e geralmente acomete mulheres

    aps a menopausa e idosos (ROBERTES & LADENSON, 2004; SILVA, 2011).

    Dentre os vrios tipos de hipotireoidismo, a doena de Hashimoto a

    mais prevalente, com maior incidncia na raa branca e acima dos 50 anos de

    idade. Ndulos na tireoide so encontrados em 4% a 8% de todos os

  • 43

    indivduos, e apresenta incidncia crescente com o aumento da idade

    (MCANDREWS & WU, 2013).

    3.7.5.3 Hipotireoidismo primrio

    O hipotireoidismo primrio caracterizado pela diminuio de hormnios

    tireoidianos circulantes no sangue. Nesse caso, a produo de T3 e T4 est

    reduzida e o nvel de TSH se eleva, como adaptao fisiolgica esperada, pois

    a hipfise secreta mais TSH para estimular a tireoide a secretar maior

    quantidade de T3 e T4. Esta condio tem prevalncia de 2% a 3% da

    populao, podendo acarretar em falncia desta glndula por problemas na

    hipfise e no hipotlamo (LOPES, 2002).

    Sintomas como fadiga, cansao, pele seca, ganho de peso, dificuldade

    de concentrao e sonolncia acentuada so relatados no estgio inicial da

    doena, esto relacionados com a falta da estimulao do metabolismo

    atribuda menor secreo dos hormnios tireoidianos (SOCIEDADE

    BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2016).

    O hipotireoidismo primrio est relacionado com a ausncia ou perda do

    tecido tireoidiano, ou distrbio na biossntese hormonal. Quando o motivo da

    queda dos hormnios tireoidianos reside no centro do controle hipofisrio ou

    hipotalmico, tem-se o hipotireoidismo secundrio que est relacionado com a

    diminuio de produo do TSH (hipofisrio) ou TRH (hipotalmico) (OLIVEIRA

    & MALDONADO, 2014).

    3.7.5.4 Hipotireoidismo secundrio

    No hipotireoidismo secundrio, observa-se a diminuio da funo

    hipofisria ao secretar o TSH, que estimula a tireoide a sintetizar os hormnios

    T3 e T4. Os baixos nveis de T3 e T4 so consequncia de nveis reduzidos de

    TSH, o que difere da gnese patolgica da condio anterior, apesar dos

    sintomas apresentados serem semelhantes (LOPES, 2002; BRENTA et al.,

    2013).

  • 44

    3.7.5.5 Hipotireoidismo tercirio

    Havendo disfuno hipotalmica que cause diminuio da oferta de

    TRH hipfise, esta glndula ter estmulo insuficiente para secretar o TSH,

    que, por conseguinte, diminuir a produo de T3 e T4 pela tireoide.

    Geralmente, manifesta-se em conjunto com a doena hipofisria, mas pode

    surgir isoladamente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E

    METABOLOGIA, 2016).

    3.7.5.6 Sinais e sintomas clnicos do hipotireoidismo

    A sintomatologia do hipotireoidismo manifesta-se em mltiplos sistemas,

    incluindo, bradicardia, hipertenso diastlica, edema perifrico, derrame

    pericrdico, dispneia, derrame pleural, obstipao intestinal, baixa da taxa de

    filtrao glomerular renal, aumento da creatinina, infertilidade, menorragia,

    dficit de memria, ataxia, dificuldade de concentrao, fraqueza muscular,

    sndrome de aprisionamento de nervo (tnel do carpo), lentido de reflexos,

    parestesias, diminuio na audio e psicose, pele grossa e seca, alopcia

    difusa e pele amarelada (UNIDADE DE ENDOCRINOLOGIA E DIABETES,

    2015). Os sintomas diferem de acordo com o tipo de patologia ou agravo

    gerado no sistema endcrino, conforme mostra a Figura 6.

    Figura 6 - Sinais e sintomas clnicos de hipotireoidismo e hipertireoidismo.

    (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2016)

  • 45

    3.7.5.7 Diagnostico e tratamento do hipotireoidismo

    O diagnstico do hipotireoidismo pode ser realizado com base na

    dosagem dos nveis dos hormnios TSH, T3 e T4 no sangue. A deteco de

    nveis de T3 e T4 abaixo do normal e de TSH acima indica um quadro de

    hipotireoidismo primrio. Quando os nveis de T3 e T4 se apresentam baixos,

    associados com nveis tambm reduzidos de TSH, suspeita-se de

    hipotireoidismo secundrio. Conforme necessrio, o clnico pode solicitar

    tambm a aferio dos nveis de TRH. Nos casos de suspeita da presena de

    tumor na tireoide, utiliza-se a ultra-sonografia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

    ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2016).

    Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

    (2016), o diagnstico simples e de baixo custo, porm muitas pessoas ainda

    no sabem que so portadoras desta doena. Desde 1950, a

    levoTriiodotironina tem sido a droga de escolha para o tratamento do

    hipotireoidismo e a dose mdia necessria do medicamento para adultos de

    1,0 a 1,7g/kg e, para idosos de 1,0 a 1,5 g/kg. Porm, cuidados especiais

    devem ser observados para idosos e cardiopatas.

    Para monitorar o tratamento, solicita-se o TSH srico e T4 para buscar a

    condio de eutireoidismo, cujo seguimento deve ser feito a cada seis meses

    ou anualmente. Uma complicao do hipotireoidismo no tratado pode gerar o

    coma mixedematoso, e neste estgio o paciente apresenta hipotermia,

    bradicardia e grave hipotenso. Outro agravante que o hipotireoidismo no

    tratado pode tambm ocasionar cardiomegalia (LOPES, 2002; BRENTA et al.,

    2013).

    A utilizao de determinados medicamentos pode induzir disfunes na

    tireoide, como o caso da amiodarona, droga rica em iodo muito utilizada para

    o tratamento de arritmias cardacas, cujo uso crnico deste medicamento est

    associado com efeitos colaterais, destacando-se alteraes na funo

    tireoidiana e no metabolismo dos hormnios tireoidianos, levando a induo de

    hipotireoidismo (GUYTON & HALL, 2012). O custo mdio anual por pessoa do

    tratamento do hipotireoidismo com drogas antitireoidianas de R$ 1.345,81.

  • 46

    3.7.6 Funes heptica e renal e suas relaes com substncias txicas

    O fgado o maior rgo do corpo humano, com peso mdio de 1500g,

    representando de 2,5% a 4,5% da massa corporal total. Recebe,

    aproximadamente, 25% do dbito cardaco total, o que lhe permite realizar

    numerosas funes vitais e essenciais para a manuteno do equilbrio

    metablico. Tambm realiza vrias funes de grande complexidade, dentre as

    quais se destaca o recebimento e a detoxificao de 20% do sangue rico em

    oxignio que enviado atravs da artria heptica. O restante do sangue

    (80%), rico em nutrientes, enviado atravs da veia porta. Este processo

    favorece a seleo de substncias que sero absorvidas pela circulao

    sistmica (MARTINS, 2012).

    De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia (2015), o fgado

    responsvel pelo funcionamento do sistema imunolgico, atravs das clulas

    de Kupffer hepticas que perfazem de 80% a 90% da populao fixa de

    macrfagos do sistema reticuloendotelial. Estes so dotados de um importante

    mecanismo de filtro para a circulao sistmica por realizarem a remoo de

    partculas exgenas estranhas (bactrias, endotoxinas e parasitas) e partculas

    endgenas (eritrcitos senescentes) do sangue.

    Alm de participar do equilbrio humoral, o fgado um rgo de grande

    importncia devido realizao de vrias reaes fisiolgicas, tais como

    sntese de protenas, regulao do metabolismo de nutrientes, armazenamento

    de vitaminas, converso de vitaminas ativas, desiodeinizao de T4 em T3,

    sntese de fator de crescimento semelhante insulina (IGF-1) em resposta ao

    hormnio de crescimento produzido pela hipfise, sntese e secreo da bile

    (NUNES & MOREIRA, 2007).

    Alm das funes j citadas, o fgado desempenha outro importante

    papel que de metabolizar e encaminhar para excreo toxinas e drogas, por

    meio da converso de substncias txicas ativas em formas inativas,

    principalmente no retculo endoplasmtico dos hepatcitos, tornando-as mais

    solveis e passveis de excreo pelos rins ou diretamente pela bile

    (SCHINONI, 2008). Dentre os metablitos txicos, destaca-se a amnia que se

    origina do catabolismo das protenas e da atividade bacteriana, sendo

  • 47

    transportada facilmente pelo plasma, a qual em grande quantidade na corrente

    sangunea se torna txica para o SNC (BERNE, 2004).

    No processo de detoxificao participam as enzimas AST, ALT e

    glutamato desidrogenase (GDH), as quais catalisam reaes reversveis no

    fgado. Essas enzimas atuam na sntese ou no catabolismo de alanina e do

    aspartato, conforme a necessidade da clula heptica (COOPER, 2011). O

    glutamato das clulas extra-hepticas transfere seu grupo -amino para o

    piruvato originando -cetoglutarato e alanina. A alanina formada transportada

    pelo sangue para o fgado, e quando chega aos hepatcitos, a enzima ALT

    heptica transfere o grupo -amino da alanina para o -cetoglutarato, formando

    piruvato e glutamato (ADEVA et al., 2012).

    Aliada funo intrnseca de detoxificao do organismo realizada pelo

    fgado, o sistema renal tambm participa do processo de eliminao de

    resduos ou metablicos txicos que no so reabsorvidos pelo organismo,

    desempenhando a funo de filtrar o sangue e recolher os resduos

    metablicos das clulas para posterior excreo. O produto final a urina,

    formada pelos nfrons que a unidade funcional bsica dos rins. Atravs da

    urina, ocorre o controle de eliminao de gua, sais minerais, resduos

    metablicos e substncias que, em excesso, desequilibrariam o organismo

    (MORAES & COLICIGNO, 2007).

    Considerando a importncia fisiolgica dos sistemas heptico e renal, e

    o tropismo por compostos estranhos inerentes funo de detoxificao, as

    condies que implicam em danos a esses sistemas tm impacto direto sobre o

    organismo. Por isso, a avaliao da funo heptica e renal importante aos

    estudos que investigam toxicidade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

    HEPATOLOGIA, 2015).

    Os rins tambm so fundamentais para a sntese de hormnios

    importantes, como a eritropoetina que imprescindvel para a produo de

    hemcias; para o processo de ativao da vitamina D em calcitriol importante

    para calcificao dos ossos; e para a liberao da angiotensina II, renina,

    aldosterona e ADH que regulam a reabsoro de gua e Cloreto de sdio

    (NaCI) (BERNE, 2004). O processo de filtrao glomerular regulado,

    geralmente, pelo aumento da presso arterial sistmica, pela vasodilatao da

  • 48

    arterola aferente e pela vasoconstrio de arterola eferente que so capazes

    de aumentar a taxa de filtrao renal. Os sistemas reguladores so sistema

    renina-angiotensina-Aldosterona, retroalimentao tbulo glomerular, reflexo

    miognico e fatores extra renais (BERNE, 2004; BARROS, 2006).

    3.7.7 Doenas hepticas e renais

    Em relao s alteraes do sistema heptico, as manifestaes clnicas

    se caracterizam por anorexia, distenso abdominal, dor no hipocndrio direito,

    fadiga, hemorragia intestinal, hepatomegalia, ictercia, nuseas, vmitos,

    prurido, entre outros. Estes achados clnicos no garantem o acometimento do

    fgado, mas representam forte indicadores a serem investigado. Alm destes

    sinais e sintomas clnicos, destaca-se a cirrose que indicativo de doena

    heptica terminal (NUNES & MOREIRA, 2007).

    Para o diagnstico das doenas hepticas, deve-se considerar a

    dosagem sorolgica de importantes transaminases que so indicadores

    sensveis de dano heptico. Destacam-se as enzimas TGO e TGP, que, em

    condies normais, encontra-se em quantidades mnimas no sangue.

    Entretanto, aps a destruio de hepatcitos, elas aumentam

    significativamente. Portanto, so enzimas intracelulares indicadoras de morte

    celular. A TGP e a TGO so citoplasmticas e a TGO tambm tem localizao

    mitocondrial (BARBOSA, 2010).

    A transaminase TGO encontrada em tecidos como crebro, corao,

    msculo esqueltico, pncreas e rins, sendo menos especfica para leso

    heptica quando comparada com a TGP, que encontra-se predominantemente

    no fgado. Quando ocorre uma leso heptica, h elevao dos nveis

    enzimticos sanguneos, sendo que a TGP aumenta ligeiramente quando

    comparada com a TGO. Porm, na leso heptica alcolica ocorre elevao da

    TGO cerca de 2 a 3 vezes maior que a TGP, pois o lcool possui efeito inibidor

    na sntese de TGP (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA, 2015).

    Quando o fgado sofre uma disfuno grave, prticamente todos os

    rgos so atingidos, consequentemente a circulao hiperdinmica. Ocorre

    desequilbrio entre vasoconstrictores, vasodilatadores e outros mediadores

  • 49

    metabolizados ou sintetizados por ele, com consequncia para todos os

    sistemas fisiolgicos (GUYTON & HALL, 2012).

    Em relao ao sistema renal, os parmetros de equilbrio so verificados

    atravs de exames laboratoriais dosando os nveis de creatinina e ureia. A

    creatinina um resduo produzido pela quebra de uma protena chamada

    creatina fosfato, produzida no fgado, rins e pncreas, sendo transportada para

    o msculo e crebro, onde sofre um processo de fosforilao e se transforma

    em creatina fosfato, tambm conhecido como fosfocreatina. A creatina fosfato

    constitui-se num composto de elevada reserva energtica essencial para o

    processo de contrao muscular (DAVIES; BLAKLELEY; KIDD, 2002).

    A e