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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PS-GRADUA˙ˆO MESTRADO EM ENSINO DE CI˚NCIAS E MATEM`TICA A produªo de raios X e a radioproteªo contextualizada por meio do enfoque ciŒncias tecnologia e sociedade (CTS): um caminho para a inserªo de tpicos de fsica moderna e contempornea (FMC) no ensino mØdio. ADˆO JOS DE SOUZA Orientador: Prof. Dr. Mauro SØrgio Teixeira de Araœjo Dissertaªo apresentada ao Mestrado em Ensino de CiŒncias e MatemÆtica, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenªo do ttulo de Mestre em Ensino de CiŒncias e MatemÆtica. Sªo Paulo 2009

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

A produção de raios X e a radioproteção contextualizada

por meio do enfoque ciências tecnologia e sociedade

(CTS): um caminho para a inserção de tópicos de física

moderna e contemporânea (FMC) no ensino médio.

ADÃO JOSÉ DE SOUZA

Orientador: Prof. Dr. Mauro Sérgio Teixeira de Araújo

Dissertação apresentada ao Mestrado em

Ensino de Ciências e Matemática, da

Universidade Cruzeiro do Sul, como parte

dos requisitos para a obtenção do título

de Mestre em Ensino de Ciências e

Matemática.

São Paulo

2009

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICSUL

S713p

Souza, Adão José de. A produção de raios X e a radioproteção contextualizadas por

meio do enfoque ciências, tecnologia e sociedade (CTS): um caminho para a inserção de tópicos de física moderna e

contemporânea (FMC) no ensino médio / Adão José de Souza. -- São Paulo; SP: [s.n], 2009.

171 p. : il. ; 30 cm. Orientador: Mauro Sérgio Teixeira de Araújo. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em

Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Física - Métodos de ensino 2. Aprendizagem significativa

3. Raios X - Ensino de física 4. Física - Ensino médio. I. Araújo, Mauro Sérgio Teixeira de. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 53(043.3)

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

A produção de raios X e a radioproteção contextualizada

por meio do enfoque ciências tecnologia e sociedade

(CTS): um caminho para a inserção de tópicos de física

moderna e contemporânea (FMC) no ensino médio.

Adão José de Souza

Dissertação de mestrado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 04/02/2009.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Mauro Sérgio Teixeira de Araújo

Universidade de Cruzeiro do Sul

Presidente

Prof. Dr. Jaime Sandro da Veiga

Universidade Cruzeiro do Sul

Profª. Drª. Emico Okuno

Universidade de São Paulo

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a todos os Professores em que no seu ofício de

mestres semeiam desejos, estimulam projetos, e se entregam à arte de ensinar

buscando formas em sua pedagogia que suscite nos alunos a vontade de

aprender a aprender.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por todas as bênçãos concedidas.

A CENP (Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicos) pela bolsa

parcial de estudo.

À Universidade Cruzeiro do Sul, UNICSUL, pelas condições de acesso às

mais diversas ordens do saber e, ao mesmo tempo acolhedora, em especial

aos professores e colegas, criando assim, laços de amizades e o sentimento

gratificante de pertencer a um grupo.

Ao meu orientador Professor Mauro Sérgio Teixeira de Araújo, pela

autonomia sem reservas na forma de orientar e pela sapiência manifestada até

nos momentos mais simples.

À diretora Mara D` Ambrósio e à coordenadora Elaine Cruppi e

particularmente a todos os alunos do segundo ano do Ensino Médio do ano de

2007, do colégio particular Instituto Educacional D`Ambrosio (I . E. D) Reino

de Ensino, São Paulo, que participaram efetivamente na elaboração dessa

pesquisa e também à escola pública estadual Professor Licínio Carpinelli.

À minha querida esposa Valdinéia pelo companheirismo, compreensão e

torcida incondicional.

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O Pensamento vivo de Einstein.

Deus é a lei e o legislador do Universo, Deus não joga dados com o mundo, o homem erudito é um descobridor de fatos que já existem, mas o homem sábio é um criador de valores que não existem e que ele faz existir. A maioria de nós prefere olhar para fora e não para dentro de si mesmo. Na verdade você nunca entendeu uma nova teoria, você simplesmente utiliza teoria; O homem como qualquer outro animal é por natureza indolente. Se nada o estimula, mal se dedica a pensar e se comporta guiado apenas pelo hábito, como um autômato; A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o misterioso, é esta emoção fundamental que está na raiz de toda ciência e arte; Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do Universo, o único caminho é o da intuição; Penso noventa e nove vezes e nada descubro, deixo de pensar e mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela; A imaginação é mais importante que o conhecimento; O tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda parte.

Albert Einstein.(CLARET, 1990).

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SOUZA, A. J. A produção de raios X e a radioproteção contextualizadas por meio do enfoque ciências tecnologia e sociedade (CTS): um caminho para a inserção de tópicos de física moderna e contemporânea (FMC) no ensino médio. 2009. 171 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática)- Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2009.

RESUMO

Investigamos a utilização de recursos didáticos e pedagógicos visando inserir

tópicos de Física Moderna para alunos do Ensino Médio, abordando radiações

eletromagnéticas e a produção de raios X, e alguns possíveis procedimentos de

proteção radiológica, contribuindo para a atualização curricular do Ensino de Física

por meio de uma abordagem interdisciplinar com as áreas de Matemática e Biologia.

A metodologia utilizada na intervenção fundamenta-se na Aprendizagem

Significativa, no Educar pela Pesquisa, sendo empregado ainda o enfoque Ciência

Tecnologia e Sociedade (CTS), contemplando aspectos da Aprendizagem Centrada

em Eventos (ACE). Para isto, foram considerados elementos essenciais como o

levantamento de conhecimentos prévios adquiridos pelos alunos, a realização de

seminários e a exposição de cartazes confeccionados no Laboratório de Informática

utilizando ferramentas das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação

(NTIC). Esse conjunto de elementos didático-metodológicos constitui uma alternativa

para se organizar e promover a aprendizagem, e uma concepção cidadã de

Educação, capazes de contribuir para que os estudantes compreendam conceitos

científicos relacionados à fenômenos naturais relevantes e que afetam as suas

vidas. Estes objetivos foram promovidos desenvolvendo-se uma adequada

contextualização dos conceitos físicos abordados. Analisando as respostas dos

alunos obtidas no final da pesquisa por meio de questionários, constatamos que

ocorreu alguma aprendizagem conceitual, baseada no aprender a aprender,

norteado pelo Parâmetro Curricular Nacional (PCN). Os resultados indicam que o

método empregado mostrou-se adequado e poderá ser utilizado para a abordagem

de outros temas, pois promoveu uma grande interação entre os alunos e o professor,

possibilitou intensos e ricos momentos de debates e reflexões, permitindo introduzir

alguns tópicos de Física Moderna.

Palavras-chave: Ensino de ciências, Física moderna, CTS, Raios X.

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SOUZA, A. J. The production of X ray and radioprotection contexted by means of sts approach: a way to insert topics of fmc in the middle education. 2009. 171 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2009.

ABSTRACT

We investigated the use of didactic and pedagogical resources with the purpose to

insert topics of Modern Physics to the students of High School level, approaching

electromagnetic radiations and the production of X rays, its application in diagnostic

and some possible procedures of radiological protection, contributing for the

curricular updating of physics teaching by means of interdisciplinary approach with

the areas of Mathematics and Biology. The methodology used in the intervention is

based on the Meaningful Learning and Education by Research, with the approach

Science, Technology and Society (STS), contemplating aspects of the Learning

Centered in Events (LCE). For this, we considered essential elements as the survey

of previous knowledge of the students and the development of research and

consultations in magazines, preparation of reports and seminaries and the exposition

of posters confectioned in the Laboratory of Computer Science using tools of New

Technologies of Information and Communication (NTIC), as well as the use of texts

distributed to the students. This didactic-methodologic set of elements constitutes an

alternative to organize and to promote the learning, having as focus a STS

perspective and a citizen conception of Education, able to contribute so that the

students understand useful scientific concepts related on natural phenomena that

present relevant implications for theirs lives. These objectives had been promoted

developing a suitable contextualization of the physical concepts. Analyzing the

answers of the students obtained at the end of the research by means of

questionnaires, we verify that some conceptual learning occurred, based on learning

to learn, guided by the National Curricular Parameters. The results indicate that the

employed method revealed adequate and could be used to insert other subjects,

therefore promoted a great interaction between the students and the teacher, made

possible intense and rich moments of debates and reflections, allowing the insertion

of some topics of Modern Physics.

Keywords: Science teaching, Modern physics, STS, x Rays.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Máquina de raios X em desuso em unidade hospitalar .................. 43

Figura 2 - Denúncia de abandono do aparelho de raios X............................... 44

Figura 3 - Acidente com radiação ultravioleta .................................................. 45

Figura 4 - Primeira radiografia, mão de Bertha, esposa de Röentgen ............ 52

Figura 5 - Apresentação do tema Espectro eletromagnético .......................... 88

Figura 6 - Apresentação do tema Descoberta dos raios X .............................. 89

Figura 6a - Apresentação do tema Descoberta dos raios X .............................. 89

Figura 7 - Apresentação do tema Radioterapia ................................................ 90

Figura 8 - Apresentação do tema Radiação ultravioleta .................................. 91

Figura 9 - Apresentação do tema Fontes naturais de radiações .................... 92

Figura 10 - Anotações dos alunos: Método Científico ..................................... 100

Figura 11 - Anotações dos alunos: explanação produção de raios X ............ 101

Figura 12 - Mapa conceitual elaborado com orientações do professor ......... 108

Figura 13 - Mapa conceitual da aluna C ............................................................ 109

Figura 14 - Mapa conceitual da aluna L ............................................................. 110

Figura 14a - Mapa conceitual da aluna L ............................................................. 111

Figura 14b - Mapa conceitual da aluna L ............................................................. 112

Figura 14c - Mapa conceitual da aluna L ............................................................. 113

Figura 15 - Material didático em pôster ............................................................. 119

Figura 16 - Trifólio ............................................................................................... 120

Figura 16a - Sinalização em locais com radiações ionizantes .......................... 120

Figura 17 - Emissão de fótons de luz ................................................................ 121

Figura 18 - Barras metálicas aquecidas emitindo luz ...................................... 122

Figura 19 - Espectro eletromagnético e algumas aplicações ......................... 123

Figura 20 - Painel de controle do aparelho de raios X ..................................... 124

Figura 21 - Ampola de produção de raios X...................................................... 126

Figura 22 - Colisão de elétron com átomo do anodo ....................................... 127

Figura 23 - Feixe útil de raios X para diagnóstico e radiação de fuga ............ 128

Figura 24 - Artefato tecnológico: cabeçote do aparelho de raios X ............... 129

Figura 25 - Geração de imagem por raios X...................................................... 130

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Figura 26 - Filmes utilizados na radiografia ...................................................... 131

Figura 27 - Radiografia das mãos ...................................................................... 132

Figura 28 - Unidade hospitalar no momento da radiografia ............................ 133

Figura 29 - Radiografia da coluna vertebral ...................................................... 134

Figura 30 - Representação da estrutura do DNA submetido aos raios X ....... 135

Figura 31 - Equipamentos de proteção radiológica ......................................... 136

Figura 32 - Dosímetro ......................................................................................... 137

Figura 33 - Aparelho Geiger-Müller .................................................................... 137

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1 - Nível de compreensão do que é tecnologia ....................................... 75

Tabela 2 - Definições do conceito de radiações ................................................. 76

Tabela 3 - Fontes de radiações domésticas ........................................................ 77

Tabela 4 - Percepção de diagnósticos nocivo a saúde ...................................... 78

Tabela 5 - Conhecimentos sobre radioterapia .................................................... 79

Tabela 6 - Opinião sobre canetas com dispositivo laser ................................... 80

Tabela 7 - Conhecimentos prévios sobre radiografia ......................................... 80

Tabela 8 - Conceitos de Física Clássica e Física Moderna ................................ 81

Tabela 9 - Conhecimento da notícia e explicação do fenômeno ....................... 82

Tabela 10 - Questão de maior interesse ................................................................ 83

Tabela 11 - Compreensão e utilização do mapa conceitual ............................... 146

Quadro 1 - Grau de envolvimento com a aprendizagem ................................... 142

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

1.1 Questão da pesquisa ........................................................................................ 15

1.2 Motivação dos adolescentes ao receberem o ensino de Física ................... 20

1.3 O comportamento do adolescente e a atuação do professor em aula ......... 27

1.4 O enfoque CTS e suas contribuições para os processos de ensino ........... 33

1.5 Objetivos geral e específico do trabalho ........................................................ 39

2 INSERÇÃO DA FÍSICA MODERNA NO ENSINO MÉDIO ................................. 47

2.1 Aspectos históricos da FMC e a produção de raios X ................................... 47

2.2 Aspectos históricos sobre raios X e a radiação eletromagnética ................ 51

2.3 Reflexões sobre os parâmetros curriculares em Física no Ensino Médio .. 54

2.4 Reflexões sobre as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio ................ 60

2.5 Pesquisas que respaldam a inserção da FMC no Ensino Médio .................. 67

3 ETAPAS DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO ................................................. 73

3.1 Organizadores prévios para abordagem de produção de raios X ................ 74

3.2 A aprendizagem pela pesquisa e a realização de seminários ...................... 84

3.3 Discutindo Ciência e Método Científico: ampliando a informação............... 95

3.4 Material didático da escola utilizado durante o processo de intervenção . 102

4 UTILIZAÇÃO DO PÔSTER SOBRE PRODUÇÃO DE RAIOS X .................... 115

4.1 Detalhamento das informações contidas no pôster .................................... 120

4.2 Análise da exposição do pôster em sala de aula ......................................... 137

4.3 Verificação da aprendizagem conceitual ...................................................... 140

4.4 O enfoque CTS por meio da Aprendizagem Centrada em Eventos ........... 153

CONCLUSÕES ....................................................................................................... 155

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 165

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1 INTRODUÇÃO

Notamos a importância da aplicação dos raios X nas nossas vidas, sendo

comum a sua utilização em diagnóstico médico. Sua origem remonta estudos de

descargas elétricas mediante tubo de raios catódicos, que são feixes de elétrons,

conforme foi comprovado posteriormente por J. J. Thomson (OKUNO, 1998).

Investigando um mundo que a nossa visão não consegue enxergar,

Röentgen descobriu uma forma de energia a qual denominou raios X. Com seus

notáveis benefícios e também com seus malefícios, a radiação X, que é ionizante, e

retira elétrons dos átomos, causando nas células sérias mutações. Para atenuar tais

efeitos nocivos foram feitos estudos direcionados para o desenvolvimento de

técnicas de radioproteção, com materiais que pudessem bloquear esta radiação

ionizante, um tema que abordaremos ao longo dessa pesquisa (OKUNO, 1998).

As radiações fazem parte do conjunto de temas que os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) indicam para serem abordados junto aos alunos do

Ensino Médio (BRASIL, 1999), indicando que não apenas os raios X devam ser

abordados como também as outras radiações.

A implantação das novas diretrizes curriculares para o Ensino Médio tem

por objetivo estimular práticas escolares concretas, ainda que isto dependa de

professores preparados para atuar em suas salas de aulas de modo a propiciarem

aos seus alunos esses novos conhecimentos. Tal fato assume relevância na medida

em que se acredita que um país que quer se desenvolver precisa de pessoas

capacitadas para contribuir com o desenvolvimento científico, o que começa por uma

educação básica de qualidade (KAWAMURA; HOSOUME, 2003).

O Ensino Médio hoje, não visa apenas que o aluno passe em um

vestibular, pois se destina a uma formação de jovens competentes e que adquiram

conhecimentos e competências como instrumentos para a vida, que saibam

raciocinar, compreender as causas e as razões do ensino e, assim, de forma

autônoma, consigam exercer seus direitos, cuidar da sua saúde, participar das

discussões em que estão envolvidos seus destinos e atuar decisivamente para

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transformar a sua realidade, enfim, para realizar-se, para viver (KAMAMURA;

HOSOUME, 2003).

Mudanças na estrutura curricular são necessárias, pois é fácil perceber

que nos livros didáticos tradicionais estão ausentes conhecimentos relevantes e

necessários para a compreensão do mundo contemporâneo, incluindo aí as

contribuições da Física aos desenvolvimentos atuais na área de diagnóstico médico

(BRASIL, 2002).

Segundo Kawamura e Hosoume (2003) nós professores podemos mudar

as seleções de conteúdos, as escolhas de temas, as ênfases, as formas de trabalhar

a disciplina Física no Ensino Médio. Devemos nos preocupar menos com a lista de

tópicos a serem ensinados, para concentrar nossa atenção nas competências em

Física que queremos promover e sempre que possível, fazer uso de exemplos

concretos, estabelecendo mediante a prática uma linguagem comum capaz de fazer

os estudantes perceberem a importância desses conhecimentos, bem como o seu

significado em abordagens contextualizadas.

Kawamura e Hosoume (2003) afirmam ainda que é indispensável aos

jovens adquirir uma compreensão mais abrangente sobre como se constitui a

matéria, saber como funciona o laser, além de identificar, lidar e reconhecer as

radiações e seus diferentes usos. Com isso, o estudo da matéria e da radiação

indica que este tema é capaz de organizar algumas competências relacionadas à

compreensão do mundo material microscópico.

O desconhecimento das radiações por parte dos alunos do Ensino Médio

(EM) já foi evidenciado em outros trabalhos como, por exemplo, Costa e Costa

(2002), pesquisando alunos de um curso de Auxiliar de Enfermagem e utilizando um

questionário de averiguação de conhecimentos básicos sobre radiações. Foi

constatado que há um total desconhecimento por parte desses alunos, embora já

tenham concluído o Ensino Médio e estavam ingressando em um curso

profissionalizante voltado à área da saúde.

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1.1 Questão da pesquisa

Considerando os fatos anteriores entendemos que emerge, naturalmente,

a seguinte questão que norteou o desenvolvimento da pesquisa:

Como abordar sob o enfoque Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) o

tema produção e aplicações dos raios X, mobilizando saberes na área de Física,

Química e Matemática, para classes de alunos do Ensino Médio?

Para a efetivação dessa proposta acreditamos que será preciso superar

muitos obstáculos, de diferentes naturezas, alguns destacados por Perrenoud (2000)

ao explicitar o desinteresse dos estudantes em aprender novos conhecimentos

envoltos em uma sociedade conflitante e violenta, em que o papel da educação

escolar freqüentemente é questionado. Neste contexto adverso os alunos acabam

rotulando a Física apenas como um conjunto de fórmulas, de modo que não

enxergam utilidade dessa disciplina na sua vida profissional futura e nem a

reconhece no seu dia-a-dia.

Assim, essa área de conhecimento ampla e de grande relevância para a

sociedade tem de chegar na sala de aula empregando-se uma didática diferente a

que estamos acostumados a presenciar atualmente, em que prevalecem aulas

somente expositivas exigindo uma postura servil e obediente do aluno.

Acreditamos que as abordagens tenham de fazer chegar aos estudantes

uma Física que conquiste o aluno de uma forma sutil e envolvente, com tema

próximo de sua realidade e valorizando sua bagagem de conhecimentos.

Procurando contribuir para melhorar este cenário, desenvolvemos uma

pesquisa visando inserir alguns conceitos de Física Moderna, estruturada no

referencial teórico Aprendizagem Significativa, que considera aquilo que o aluno já

sabe, denominado de subsunçores, que se relaciona de forma não arbitrária com a

nova informação, dotando assim a aprendizagem de sentido e tornando-a

significativa (MOREIRA, 2006).

Desse modo, o levantamento de concepções prévias, base de uma

proposta apoiada neste referencial, foi feito por meio de um questionário que os

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alunos responderam. Tal questionário, com dez perguntas, abordava temas atuais e

instigava o aluno a responder sobre questões que retratam as radiações no seu

cotidiano, contendo ainda perguntas formuladas para os alunos opinarem sobre o

ensino de Física e sobre o processo de construção de conhecimentos por parte dos

alunos.

O objetivo do questionário era, além de verificar os subsunçores dos

alunos, abrir caminho para que os tópicos de radiação X pudessem ser inseridos

gradativamente nas aulas, por meio de pesquisas e ações efetuadas pelos alunos

sob a orientação do professorpesquisador.

O material didático utilizado pelos alunos quando se reportava ao tema

Óptica Geométrica possibilitou que falássemos sobre radiações. Assim, inserimos

expositivamente temas relacionados com radiações que estavam em concordância

com as pesquisas efetuadas pelos alunos, promovendo um encontro de idéias

necessárias para prosseguirmos com a inserção do tópico raios X.

Buscamos, ainda, ensinar e incentivar o educando a aprender a aprender

mediante pesquisa sem interferir demasiadamente no conteúdo programático

estabelecido pela escola, que previa, inicialmente, apenas tópicos de Física

Clássica.

Com uma abordagem de ensino diferenciada e que contempla alguns

elementos da Aprendizagem Significativa de Ausubel (MOREIRA; MASINI, 1982),

aliada ao Educar pela Pesquisa de Pedro Demo (2003), unimos os ensinos de Física

Clássica com Física Moderna e Contemporânea.

Esta proposta foi implementada para trinta alunos do segundo ano do

Ensino Médio, pertencentes à rede particular de ensino da escola Instituto de

Ensino DAmbrósio (IED)Reino do Ensino, situada no bairro da Vila Matilde, Zona

leste de São Paulo Capital.

Abordamos também o aspecto humano do aluno e do professor referente

à sua psique nos tópicos em que refletimos como os adolescentes e professores

percebem o ensino e, particularmente, o ensino da Física.

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A pedagogia do professor e a postura do aluno foram avalizadas nesta

pesquisa sob a ótica de uma proposta que sinaliza para a necessidade de uma nova

realidade de ensino, em que contribuições teóricas de Ausubel (1980), Vigotsky

(1998) e Pedro Demo (2003) constituem elementos significativos que dão suporte

para as atividades propostas.

Além dos referenciais citados, foram utilizadas propostas de ensino

baseadas no enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), que tem como

princípio a identificação de problemas sociais relevantes e de impacto local ou

mundial e que devem ser levados à sala de aula de maneira devidamente

contextualizada (CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005).

Buscamos ainda empregar recursos locais (humanos e materiais) para

localizar, adequar e disponibilizar informações relevantes para os alunos,

orientando-os a utilizarem técnicas de resolução de problemas ou discussão coletiva

do tema, exigindo, assim, participação ativa dos estudantes, estendendo a

aprendizagem para além do período de aula, da classe e da escola.

Desse modo, procuramos propiciar ao aluno uma visão adequada acerca

do conhecimento científico, além do conjunto de conceitos que os estudantes devem

dominar para resolver questões de exames ou provas exigidos pela escola.

Como parte da abordagem de ensino realizada nesta pesquisa de

intervenção sobre a produção e aplicação de raios X, procuramos contemplar a

Aprendizagem Centrada em Eventos (ACE), na qual a base de aprendizagem é

desenvolvida a partir de um evento, por exemplo, uma notícia veiculada na mídia,

jornal ou que, de alguma maneira, esteja próxima ao aluno, fazendo com que desse

assunto se originem idéias que darão direcionamento para a realização de

pesquisas por parte dos alunos, contribuindo para que possam buscar respostas e

solução de problemas que afetem a sua vida (CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005).

A riqueza de caminhos abertos pela proposta pedagógica tende a

proporcionar oportunidades para que os alunos não se limitem apenas ao domínio e

manejo de conteúdos científicos em uma aula meramente copiada (DEMO, 2003),

sem ter uma idéia dos pressupostos e dos limites de validade revelados pelo

contexto histórico.

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Assim, a Ciência deixa de ser ensinada como um dogma inquestionável,

como algo pronto e acabado, e os alunos podem perceber as inquietações dos

cientistas, bem como seus conflitos na época em que conceberam suas teorias,

estimulando-os a compreenderem que o desejo de aprender e o gosto pela pesquisa

é o que move as grandes realizações cientificas, além de outros motivos como o

prestígio e melhores condições financeiras.

Silva e Pacca (2004) em sua pesquisa sobre a motivação dos alunos em

aulas de Física, faz um mapeamento em que constata que na sala de aula

encontram-se grupos de alunos unidos em torno de um assunto. Estes alunos

discutem assuntos como futebol, novela e namorados, obrigando o professor em

meio à balbúrdia a falar para um ou dois interessados nas primeiras carteiras,

passando a matéria na lousa e no final rubrica o caderno para apresentar como

avaliação. O professor não consegue penetrar o mundo de interesses desses grupos

fechados, infelizmente aparentando serem habitantes de mundos diferentes.

Entendendo que os problemas e dificuldades que afetam a Educação em

geral são muitos, então nos perguntamos: como inserir tópicos de Física Moderna e

Contemporânea para alunos que normalmente apresentam forte resistência à

aprendizagem em Física? Este quadro é agravado quando consideramos que:

a) As disciplinas de exatas demandam grande atenção e concentração;

b) Segundo Perrenoud (2000), cada aluno vivencia a aula conforme seu humor e

a disponibilidade do que ouve e compreende, de acordo com seus próprios

recursos intelectuais;

c) Nenhum professor trabalha apenas com alunos motivados.

Como conseqüência desses problemas, verifica-se um bloqueio dos

alunos frente a essas disciplinas, sendo comum ouvirmos frases dizendo que não

gostam de Física por se tratar de uma matéria difícil e sem utilidade prática.

Apesar desta concepção dos estudantes, é inegável que os avanços

tecnológicos advindos da ciência Física estão presentes no dia-a-dia do aluno, seja

em um chip de computador com seus circuitos integrados, seja ao tirar uma

radiografia, ambas as situações propiciadas pelos avanços decorrentes da Física

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Moderna e Contemporânea, que abriram caminho para o uso de diversos

dispositivos tecnológicos, como o laser, a leitura óptica de códigos de barra de

produtos comprados em supermercados, os celulares, entre outros aparatos

tecnológicos frutos desse desenvolvimento (CANATO JÚNIOR; MENEZES, 2003).

Os assuntos citados acima demonstram o quanto a Física Moderna e

Contemporânea (FMC) é atual e presente na vida do estudante, devendo, portanto,

constituir um fator motivante e estimulante para a aprendizagem de Física.

Entretanto, a abordagem destes produtos da FMC continua distante da realidade

vivida pelo aluno, contribuindo para uma maior rejeição do modelo de ensino

vigente. Estes problemas se refletem em diversas situações, como, por exemplo, na

pesquisa feita pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento da

Economia) em 2007.

Esta pesquisa apresenta o Brasil entre os quatro últimos lugares em um

universo de 57 países (BBC BRASIL, 2007), em que pese a pesquisa de Curi e

Menezes Filho (2006) apontar que o desempenho em disciplinas exatas no Ensino

Médio tende a refletir em bons salários após seis anos de formação, quando tais

alunos estiverem atuando no mercado de trabalho.

Em contrapartida, acreditamos que devemos recorrer às teorias de ensino

e aprendizagem para buscar elementos que subsidiem uma proposta capaz de

sinalizar caminhos diferentes. Neste sentido, a Teoria da Aprendizagem Significativa

(TAS) de Ausubel e Novak (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980; MOREIRA,

2006) aponta para um ensino que parta daquilo que o aluno já sabe, conforme se

depreende da afirmação relacionada ao processo de aprendizagem dos estudantes:

O fator mais importante que influi na aprendizagem é aquilo que o aluno

já sabe. Isto deve ser averiguado e o ensino deve depender desses dados.

Além disso, a TAS defende que sejam empregados materiais

potencialmente significativos para o aprendiz e introdutórios, como organizadores

prévios, para a aquisição de novos conhecimentos, com a intenção de estimular a

aprendizagem.

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Assim, para que a aprendizagem seja significativa, o aluno deve perceber

significado naquilo que está aprendendo, apropriando-se do mesmo em sua

estrutura cognitiva.

Para que o aluno se aproprie significativamente de novos conhecimentos

é importante, segundo Pedro Demo (2003), que o professor seja um pesquisador na

sua disciplina, sendo capaz de dar originalidade, um toque pessoal, fugindo de

práticas desestimulantes.

Essa nova postura do professor, baseada nos preceitos de Demo, tende a

proporcionar mais facilmente a aprendizagem pelos alunos e, neste sentido,

encontramos respaldo na proposta de ensino de Bagnato e Barreiro (1992), que

aponta a postura original e irrequieta do professor ao lecionar Física e a excelente

receptividade dos alunos, conforme constatado no final da sua pesquisa.

Portanto, tendo em mente os diversos aspectos apontados acima,

desenvolvemos uma pesquisa com trinta alunos do 2º ano do EM, da rede particular

de ensino, na qual investigamos algumas estratégias didáticas visando introduzir o

tema produção de raios X, integrante da Física Moderna e Contemporânea (FMC),

entendendo que o mesmo faz parte do contexto de vida do aluno. Para isto,

empregamos uma abordagem contextualizada baseada no uso de materiais

potencialmente significativos, incluindo textos científicos, buscando inclusive abordar

alguns dos aspectos formais relacionados ao tema.

1.2 Motivação dos adolescentes ao receberem o ensino de física

Já foi observado por Ostermann e Moreira (2000) a existência de uma

grande concentração de publicações relacionadas ao tema Física Moderna e

Contemporânea (FMC), voltadas para a divulgação científica e possibilitando a

consulta para professores do Ensino Médio (EM), embora haja pouca quantidade de

pesquisas realizadas em sala de aula com apresentação de resultados práticos.

Devemos então questionar: O que falta para que esse assunto motivador chegue às

salas de aulas?

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A percepção dos adolescentes em relação ao ensino de Física, segundo

Moreira (2004) é que esta disciplina é difícil de ser aprendida, pouco motivadora e

abordada apenas como mera aplicação de fórmulas destituídas de sentido.

Nesse contexto, fica evidenciado o desinteresse do adolescente com essa

componente curricular que, pelo contrário, contém elementos que a tornam

interessante e motivadora, fruto de uma construção humana espetacular, presente

em toda parte. Trata-se de um produto da mente humana voltada a estudar a

natureza, percebendo suas regularidades e propondo suas leis, cujas aplicações a

transformam em tecnologia que serve à humanidade.

Entendemos que o que faz a Física ser uma matéria de difícil

compreensão é a maneira como ela é abordada, com muitas ilustrações e cálculos

que acabam tolhendo a imaginação dos alunos e dificultando a aprendizagem de

certos conceitos. (MOREIRA, 2004).

Segundo Perrenoud (2000), o adolescente já passou daquela fase em

que tudo é novidade, possuidor daquela curiosidade natural, insaciável e vontade

simples de aprender e compreender.

Os adolescentes já conseguem distinguir a aula copiada e repetitiva em

apenas um olhar, pois têm experiência escolar adquirida em anos anteriores, sabem

que certas tarefas com supostos teores lúdicos levarão ao tédio da repetição.

Os adolescentes vêem os adultos ao seu redor manusearem aparelhos

eletrônicos sem, entretanto, compreenderem como esta manipulação é possível,

sem conhecimentos científicos acerca de como as coisas funcionam e, em seu

íntimo, perguntam: quais os significados da Física, para quê aprendê-la?

Segundo o PCN para o ensino Fundamental (BRASIL, 1998) o

adolescente educa-se na mídia observando as atitudes dos políticos, a violência,

greve de professores por um salário melhor, os exemplos de adultos familiares

envolvidos com alcoolismo, um mundo confuso com valores confusos e se pergunta:

Qual a utilidade de um estudo tão descontextualizado da sua realidade,

normalmente marcada por índices enormes de desemprego?

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As transformações biológicas e psicológicas que sofrem o adolescente

nesse período de transição, que segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente

(BRASIL, 1990), iniciam-se aos doze anos e termina aos dezoito anos, é um período

marcado por oscilações, pois os adolescentes querem ser independentes e ao

mesmo tempo temem, querem namorar e brincar, querem ser adultos e crianças.

Trata-se de um período de ambivalência que faz surgir saltos repentinos de humor,

personalidades marcadas pela oposição e comportamento questionador (BRASIL,

1998).

É nesse terreno de inseguranças que o professor do Ensino Médio vai

inserir a sua disciplina, dentre as quais se situa a Física. O caminho comum é a

maioria dos adolescentes não cursarem, no nível superior, a carreira universitária

voltada para esse ramo de ensino científico, o que significa dizer que terão contato

apenas nesses anos do Ensino Médio com estes temas (MOREIRA; COSTA, 2001).

Esse é um dos motivos que impõe a Educação no nível secundário o

papel de ser instrumento formador de cidadãos, devendo ser ampla e capaz de

atingir uma variedade de assuntos pertinentes à formação do adolescente.

Segundo Ostermann e Moreira (2000) o momento é de testar e inserir

novos temas na sala de aula, pois o número de publicações supera em muito a

quantidade de pesquisas práticas.

Para analisarmos algumas dessas poucas pesquisas aplicadas em sala

de aula envolvendo conhecimentos de FMC no EM, selecionamos inicialmente uma

experiência efetuada por Alice Assis Benjamin e Odete Pacubi Teixeira (2001), na

qual analisam o uso de um livro paradidático sobre energia e meio ambiente, em

uma classe do Ensino Médio em uma escola particular da cidade de Bauru, interior

de São Paulo.

A pesquisa inicia-se perguntando se os alunos achavam importante

estudar energia. Surpreendentemente, as respostas obtidas indicaram que para os

alunos este tema não era importante, pois nada tinha a ver com suas vidas, segundo

revelou a maioria dos vinte e sete alunos. Apenas uma minoria considerou o tema

importante, pois tais conteúdos poderiam ser cobrados no vestibular (BENJAMIN;

TEIXEIRA, 2001).

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Notamos na fala dos adolescentes uma total falta de interesse e

motivação, havendo apenas interesse voltado para passar no vestibular.

Segundo Perrenoud (2000), cada aluno apresenta uma certa

disponibilidade e compreende os temas abordados conforme os seus recursos

intelectuais, sua capacidade de se concentrar no que realmente interessa, ou seja, o

que para o sujeito verdadeiramente faça sentido. O adolescente não é mais o

aprendiz do ensino fundamental possuidor daquela curiosidade e vontade

espontânea, não sendo mais atraídos por um enigma qualquer.

No final da pesquisa, Benjamim e Teixeira (2001) revelam que houve

maior interesse dos alunos e uma evolução no ambiente educacional, pelo fato

inovador de inserir o livro paradidático sem a obrigatoriedade de participação do

aluno, que se inseriu no processo por adesão espontânea.

Kawamura e Silva (2001) também propuseram o estudo de FMC inserindo

material de divulgação científica em sala de aula para o segundo ano do EM. O tema

escolhido foi a dualidade da luz, inserido no capítulo ótica. Vários livros foram

distribuídos e a maioria dos alunos manifestou interesse por um livro escrito por

Einstein, devido certamente à notoriedade desse físico.

Nas conclusões, os alunos mostraram-se favoráveis a essa modalidade

de ensino e apresentaram opiniões contrárias à proposta. Segundo os autores, este

fato deveu-se ao bom relacionamento mantido com os alunos e segundo a fala dos

alunos, o professor era bem visto por não dar broncas e em ajudar quando

precisavam (KAWAMURA; SILVA, 2001).

O relato anterior corrobora o que Ostermann e Moreira (2000) diz sobre o

fato de ser mais interessante e divertido para o professor ensinar tópicos novos, pois

o entusiasmo pelo ensino está diretamente relacionado com o material didático

utilizado.

Zanetic e Pinto (1999) inseriram tópicos de Física Quântica para alunos

do EM na escola estadual abordando o assunto dualidade da luz. Nessa experiência

realizada em sala de aula, os alunos questionaram a falta da Matemática. Segundo

os autores, não se conseguiu estabelecer um diálogo profícuo com boa parte dos

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alunos, que aprenderam pouco sobre Física Quântica, sendo o grande avanço ter

sido apresentada a FMC aos alunos. Os autores ressaltaram a dificuldade dos

alunos com a leitura de textos e com o pouco domínio acerca das leis de Newton

após terem passado por um curso de mecânica clássica (ZANETIC; PINTO, 1999).

As aulas foram elaboradas em um mini-curso, mas ficou evidente que os

adolescentes não aderiram à idéia do estudo em si.

Laburú, Silva e Carvalho (2000) realizaram uma experiência em sala de

aula abordando o tema Termologia, da área de Física Clássica, para alunos do o EM

gravando a aula para posteriormente analisar aspectos dos processos de ensino e

da aprendizagem, incluindo a condução do tema pelo professor, feita com objetivos

claros e visando uma reflexão sobre possibilidades de melhoria do ensino. O tema

calor e temperatura geram confusão cognitiva do aluno, pois o mesmo já tem

concepções desenvolvidas empiricamente, segundo os autores da pesquisa. Ao

iniciar a aula, o professor citou como exemplo a sala de aula para explicar o conceito

de equilíbrio térmico, sendo este caminho tido como um fator complicador para o

entendimento do aluno (LABURÚ; SILVA; CARVALHO, 2000).

Uma forma que poderia facilitar a compreensão dos adolescentes seria o

de iniciar o estudo ilustrando o tema com uma garrafa térmica para, assim, reduzir o

nível de dificuldade do problema e conseqüentemente facilitar a sua compreensão.

Sugere ainda que a discussão seja realizada após um estudo pormenorizado dos

problemas escolares tradicionais e terminam orientando que os professores tenham

um maior cuidado com conceitos que envolvam um nível de dificuldade maior de

entendimento de seus alunos, sendo destacado que no final a filmagem deveria ser

partilhada com os alunos (LABURÚ; SILVA; CARVALHO, 2000).

Segundo Moreira e Costa (2001) nessas duas últimas experiências o

motivo da dificuldade de aprendizagem dos alunos está relacionado com a

compreensão do enunciado e a existência de diversas variáveis. O enunciado

constitui um fator preponderante para o entendimento e deve ser acompanhado por

representação pictórica de uma situação física modelada. Desse modo, o

adolescente pode ser capaz de dar significado à representação externa do

problema, representando primeiramente internamente em sua estrutura mental,

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empregando recursos como a criação de imagens ou modelos mentais baseados na

similaridade, ou seja, utilizando um enunciado de problema que lembrava outro.

Ostermann e Cavalcanti (2001) também fornecem contribuições quando

dizem que o ensino de Física para o Ensino Médio deve propiciar a aprendizagem

facilitada, visando à formação de um cidadão pleno e com acesso ao conhecimento,

de modo a ser participativo e consciente na sociedade, tendo na Física uma visão de

mundo e cultura.

Assim, analisando diferentes trabalhos apresentamos um pouco de como

o ensino da Física é percebido pelos adolescentes, constatando que cabe ao

professor encontrar a metodologia apropriada para entrar nesse universo juvenil.

O pensamento do adolescente quanto à formação de um conceito é

apresentado por Vigotsky (1998). Esse conceito se torna totalmente eficaz no final

da puberdade, no término dos doze anos, sendo essa formação de conceitos um

processo criativo que surge a partir de uma configuração complexa voltada para a

solução de um problema real. Exemplificando, Vigotsky relata o fato do adolescente

ao aprender uma palavra nova que o conceito adjacente só se formará se surgir um

problema novo em que o adolescente encontra estas mesmas palavras, em outros

contextos. Se o meio ambiente não trouxer uma série de novos objetos, não fizer

novas exigências e estimular o intelecto do adolescente, o raciocínio não conseguirá

atingir estágios mais elevados, a não ser com muito esforço e com atraso. Neste

sentido, em suas pesquisas, Vigotsky (1998) observou que mesmo adolescentes

que resolviam problemas matemáticos corretamente, ao defini los verbalmente, ou

seja, utilizando as palavras, baseavam suas falas em mera enumeração de tópicos,

sinalizando que estavam em estágio primitivo de pensamento, que segundo o

pesquisador é caracterizado por uma oscilação entre o simples e o complexo, que é

normal nessa faixa etária. Uma melhor fundamentação no processo de resolução

dos problemas tende a ser alcançada no final da adolescência, quando os jovens

estarão atingindo uma certa maturidade, fato que comprova a diferença de pensar

de um adulto e de um adolescente.

O caminho mental traçado pelo adolescente para chegar à formação de

um conceito não é baseado na repetição e sim por um movimento intenso do

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pensamento dentro de um escalonamento de conceitos oscilando entre dois

sentidos, do particular para o geral e do geral para o particular. Neste processo, o

conceito nasce a partir de uma operação intelectual em que todas as funções

mentais participam de uma combinação específica (VIGOTSKY, 1998).

O ensino direto de um conceito é infrutífero e o professor que trilhar por

este caminho não obterá resultado, a não ser um verbalismo inócuo, uma repetição

de palavras por parte do adolescente ou criança, semelhante a um papagaio que

simula conhecimento. O conceito jamais será transmitido pelo professor ao aluno por

meio de memorização compulsiva e repetição, pois o importante é ativar várias

áreas da consciência do adolescente (VIGOTSKY, 1998).

A aprendizagem tem sua forma de acomodar em cada mente, com suas

próprias seqüências e organização, com seu horário e suas regras. Muitas vezes um

conteúdo apresentado três ou quatro vezes pouco acrescenta à compreensão de um

tópico de uma determinada disciplina, porém, depois em uma quinta abordagem

algo surge repentinamente e o aprendiz capta um princípio geral e o aprendizado de

uma matéria influencia o desenvolvimento das funções para além da matéria

específica facilitando a aprendizagem de outras disciplinas (VIGOTSKY, 1998).

Qualquer pessoa pode imitar quase tudo e como auxílio de uma outra

pessoa todos podem fazer mais do que fariam sozinhos. Isso torna a imitação

indispensável na aprendizagem, de modo que a cooperação pode levar o aprendiz a

fazer sozinho o que faz por imitação hoje (VIGOTSKY, 1998).

As reflexões de Vigotsky sinalizam para uma variedade de estratégias

capazes de promover a compreensão e aprendizagem do aprendiz. Cabe ainda

ressaltar que algumas posturas adotadas por professores fornecem contribuições

mais significativas para a evolução do conhecimento do adolescente, enquanto

outras posturas dificultam esse processo de aprendizagem. Assim, acreditamos que

certas posturas transformadoras adotadas em sala de aula por parte dos educadores

possibilitam alcançar o campo mental de aprendizagem dos adolescentes e, desse

modo, fazê-los apropriar-se do saber, e no nosso caso a apropriação do saber por

parte do aluno são alguns tópicos de FMC e ênfase sobre produção de raios X numa

unidade hospitalar e a Radioproteção.

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No próximo tópico analisaremos a percepção do professor ao lecionar

Física.

1.3 O comportamento do adolescente e a atuação do professor em aula

No tópico anterior apresentamos algumas considerações que julgamos

essenciais para o bom andamento dos processos de ensino e de aprendizagem em

sala de aula.

A primeira percepção relevante pode ser destacada da pesquisa de

Kawamura e Silva (2001), descrevendo uma atividade de divulgação científica em

sala de aula, em que os alunos apresentaram apenas pareceres favoráveis,

destacando o prazer que o professor ensinava e que ele não dava broncas. Fica

evidenciado aqui o fator afetividade e a importância de se construir um ambiente

confortável onde o aprendiz se sinta à vontade.

Demo (2002) enfatiza a importância de se abandonar uma postura

envelhecida, caminhando em direção a um ensino em que se fala com os alunos

com ênfase, prendendolhes a atenção, obrigando-os a respeitar a autoridade do

professor. Neste novo ensino, o bom professor transmite sabor de originalidade nas

sínteses, nas reconstruções próprias, apresenta habilidade de motivar processos

emancipatórios, utilizando menos explicações copiadas e sim desenvolvendo

conhecimentos atualizados, atendendo os interesses dos estudantes que

demandam uma determinada competência produtiva.

Segundo Morín (2004), essa percepção por parte dos alunos são frutos

de reconstruções cerebrais baseadas em estímulos ou sinais captados e codificados

pelos sentidos e que o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da

afetividade. A parte interna do indivíduo, onde fermentam as necessidades, sonhos,

desejos, idéias, imagens e fantasias podem ser estimulados com o entusiasmo dos

professores, pois o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social,

afetivo e racional. O homem racional e pragmático também é afetivo, imaginário,

poético. Assim, podemos concluir que compreender é necessariamente um processo

de empatia de identificação e projeção. (MORÍN, 2004).

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Tiba (2005) afirma que o cérebro do adolescente é diferente do cérebro

de um sujeito adulto e, portanto, nem sempre o adolescente está pronto para

processar todas as informações que precisa para tomar decisões. Isto leva à

imaturidade e, portanto, o grau de exigência deve ser medido ao nível de um ser que

ainda não amadureceu. O processo emocional ainda não maduro leva o adolescente

a ter um humor instável e cabe àquele que é maduro, no caso o professor, ter um

leque de opções para agir com paciência para ouvílos, procurando realmente

entendêlos. O professor não deve qualificálos pejorativamente, para não afetar

sua autoestima, considerando que todo ser humano quer ser equilibrado e feliz.

Se o adolescente observa na televisão as novidades tecnológicas e o

avanço das ciências, também observam tipos de personagens em que o bandido

debocha da sociedade, pessoas que matam sua namorada e saem impunes,

programas religiosos e novelas com seus preconceitos e mensagens subliminares,

excitantes partidas esportivas, uma guerra ao vivo, conflitos policiais (CURY, 2003).

Segundo Cury (2003), a televisão por hora mostra as mais diversas

personalidades, indo do bandido destemido a pessoas divertidas e policiais

irreverentes. São essas personalidades que competirão diretamente com a

personalidade do professor, em um ambiente complexo onde esses estímulos não

são inofensivos, pois tendem a aumentar o limiar do prazer na vida real, de modo

que com o tempo, os adolescentes perdem o prazer pelos pequenos estímulos da

rotina diária.

O prazer do adolescente contemporâneo vem após ele fazer muitas

coisas e ser possuidor de muitos bens, o que gera personalidades volúveis e

instáveis e seres insatisfeitos. Deveria ser uma geração de adolescentes felizes, pois

as famílias, quando podem, cercam seus filhos com mimos, boas escolas,

brinquedos caros. Entretanto, o que vemos são adolescentes insatisfeitos e essa

insatisfação vem do fato de que os jovens não estão tendo exemplos de adultos que

os estimulem nas funções mais importantes da inteligência, que é contemplar o belo,

pensar antes de reagir, gerenciar pensamentos, ter espírito empreendedor (CURY,

2003).

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Segundo a análise de Cury (2003, p. 15), os adolescentes estão

desenvolvendo obsessão, fobias, transtorno ansioso, os adolescentes estão se

drogando em busca de um bem-estar e, com isso, queimando etapas da vida,

envelhecendo rapidamente a emoção. Com isso, a sala de aula se torna palco de

uma agressividade exacerbada. Assim, os fatores que desencadeiam

personalidades inadequadas dos adolescentes com falta de concentração e de

prazer em aprender, deixando-os ansiosos, são frutos do sistema social que

estimulou sobremaneira os elementos que envolvem os pensamentos e que estão

na base da construção da personalidade.

O modo de pensar dos adolescentes de hoje é diferente dos adolescentes

do passado, o excesso de estímulos provoca, no seu inconsciente, perdas graves,

gerando dificuldade para o professor influenciar o mundo psíquico do adolescente.

Seus gestos e palavras não têm impactos emocionais e a conseqüência desses

fatores em sala de aula é o professor gritar para obter o mínimo de atenção (CURY,

2003, p.59).

Segundo Cury (2003, p. 58), esse excesso de estímulo leva à Síndrome

do Pensamento Acelerado e esse estado requer do adolescente a procura de mais

estímulos, fazendo com que em sala de aula esse adolescente se agite na cadeira,

tenha conversas paralelas, não se concentre e mexam com os colegas.

Professores que lecionam há dez ou mais anos têm percebido essa

diferença de comportamentos dos adolescentes de outrora com os atuais. A mídia

discrimina o adolescente com seus modelos exageradamente magros ou com

padrões de beleza inatingíveis e o seu jeito de viver. Muitas vezes, o problema não

está naquilo que o adolescente vê na televisão e em capas de revistas e sim o que

ele vê ao se olhar no espelho, com uma percepção alterada. Todos esses estímulos

levam à agressividade na sala de aula e a alienação (CURY, 2003, p. 67).

No dia vinte e cinco de setembro de 2007, o jornal Agora, bastante

popular na cidade de São Paulo, noticiou um caso extremo de agressividade na sala

de aula entre os alunos e depois do aluno contra o professor. A situação começou,

segundo o jornal, com dois alunos brigando no momento da prova e o professor

tentou separar e enviá-los à direção, quando um deles foi até a mesa do professor e

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jogou seu material no chão. O professor, irado, jogou uma cadeira sobre o aluno.

Posteriormente, os parentes desse aluno foram até à sala de aula e esmurraram o

professor (ZANCHETTA, 2007).

Assim, percebemos como a Síndrome do Pensamento Acelerado

influencia a sala de aula. Neste contexto de dificuldades devemos perguntar: Como

lidar com tais situações e ao mesmo tempo buscar introduzir tópicos de FMC nas

salas de aula, se o nível de agressividade contamina tanto professores quanto os

alunos?

Cury (2003, p. 62) aponta um estudo em que o fator agressividade em

sala de aula tem afugentado e adoecido os professores, sendo este um fenômeno

mundial, pois na Espanha estudos realizados demonstraram que 80% dos

professores estão estressados, na Inglaterra o governo tem grandes dificuldades de

formar professores para atuar no equivalente em nosso País ao Ensino Fundamental

e Médio. No Brasil, segundo Cury (2003, p. 62), 92% dos professores apresentam

dois ou três sintomas de estresse e 41% com dez ou mais sintomas de estresse.

Certamente o fato noticiado no jornal corrobora para esse quadro.

Então, retomando a pergunta, como transpor tudo isso e inserir a FMC no

ensino médio? Ostermann e Moreira (2000) já alertavam para o fato de termos

materiais de divulgação científica em grande número e carência de experiências em

sala de aula, salas de aula com 30 ou mais alunos vivendo em um mundo com

tantos estímulos e em busca de uma aula também estimulante.

Cury (2003, p. 75) aponta possíveis soluções quando afirma que o

professor deve proteger a sua emoção nos focos de tensão, que as atitudes

impensadas e agressividades dos seus alunos não devem roubar a sua

tranqüilidade. O professor deve utilizar palavras que encantem seus alunos e no

calor de um atrito a melhor resposta é não dar resposta nenhuma, pois a lição de

moral no calor da discussão só agravaria ainda mais a situação, conforme o fato

relatado na notícia do jornal.

O professor deve empregar gestos inesperados e atitudes que

surpreendam seus alunos, levando-os a confrontar consigo mesmos e os façam

perceber a sua injustiça. Não é adequado que o professor exponha publicamente o

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defeito de um aluno e mesmo que o aluno o decepcione, ele não deve humilhá-lo.

Essas são atitudes que amenizam os confrontos em sala de aula (Cury, 2003, p. 85).

Mas afinal, existe professor com essas qualidades e que não caia na

armadilha de ser o tio da turma, sendo capaz de trazer os conhecimentos

pertinentes a sua disciplina em sala de aula?

Uma observação feita em sala de aula, por Silva e Pacca (2004), mostra

que a atitude do professor pode motivar e desmotivar o aluno. Algumas

características que motivam, apontadas por alunos em uma aula de Física, são:

Aulas associadas com coisas do cotidiano;

Aplicações tecnológicas;

Empenho dos professores ao lecionar;

Descontração;

Simpatia;

Experimentos;

Aulas diversificadas;

Disciplina em sala de aula;

Os fatores que desmotivam, apontados pelos alunos, nas aulas de Física

foram:

Falta de utilidade da matéria ensinada;

Excesso do poder por parte do professor;

Evidenciar negativamente o aluno;

Desrespeitar a capacidade do aluno;

Falta de empenho do professor;

Descontrole emocional;

Poucas estratégias de ensino;

Falta de compromisso com os alunos;

Excesso de liberdade;

Professor despreparado;

Falta de autoridade;

Formalismo exagerado de Matemática no ensino de Física.

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As impressões que Silva e Pacca (2004) tiveram ao concluir sua pesquisa

é que a sala de aula é mais um espaço de convívio social e não propriamente um

lugar de aprendizagem e aquisição de habilidades, onde os alunos reunidos em

pequenos grupos se movimentavam pela sala de aula e discutiam, cada um no seu

grupo (panela), temas como futebol, namorados, novelas e os mais diversos

assuntos, enquanto o professor copiava na lousa trechos de livros e falava para um

pequeno grupo que prestava atenção.

Arruda e Villani (2001) em sua pesquisa observaram professores de

Física que buscam aperfeiçoamento para lecionar FMC. Nas suas observações

percebeu que a autoridade do professor é adquirida pela vivência, não é ensinada e

que para ter sucesso com os alunos devem criar situações em que cada estudante

se sinta confortável e possa se abrir e expressar autenticamente o que está

sentindo, sendo este o minério precioso para direcionar a aula. Alunos

desinteressados e sem nenhuma motivação para se envolver é uma questão que o

professor pode resolver mediante a surpresa e a inovação, citando, como exemplo,

aulas experimentais ou a adoção de atitudes diferentes que sejam interessantes e

motivadoras aos olhos dos alunos. O professor deve ajudar o aluno a passar da

indolência a uma atitude em que ele possa acreditar em si mesmo.

A segunda percepção relevante observada nas experiências em sala de

aula citada no tópico anterior está relacionada com a aula de Termologia abordada

pelo professor e que ocasionou dúvidas, analisadas posteriormente em um vídeo

(LABURÚ; SILVA; CARVALHO, 2000). Os autores da pesquisa sugerem uma

abordagem diversificada com grau de dificuldade menor, buscando facilitar a

compreensão dos alunos.

Neste sentido, uma mudança de estratégia em um curso de engenharia

apresentado na proposta de ensino de Bagnato e Barreiro (1992) mudou o aspecto

de uma aula maçante para uma aula interessante. Características importantes

elencadas, entre outras, estava centrada na forma irrequieta do professor lecionar,

envolvendo a turma com perguntas, experimentos e exercícios. A versatilidade na

sala de aula e o professor motivado foi o ponto forte da boa aprendizagem dos

alunos, pois a aula bem preparada serviu como fator motivante e permitiu mostrar

respeito para com o aluno.

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Assim, Bagnato e Barreiro (1992), concluem que outros recursos

didáticos, juntamente com apostila, livros didáticos, lousa e giz são de fundamental

importância na maioria das áreas dos conhecimentos, indicando ainda que a

exposição dialogada e aulas demonstrativas se mostram satisfatórias para os

alunos.

1.4 O enfoque CTS e suas contribuições para os processos de ensino

Por meio de nossa proposta, procuramos fazer com que o aluno possa

apropriar-se de conhecimentos novos capazes de modificar a sua estrutura

cognitiva, incluindo tópicos de tecnologia e seus impactos sobre a sociedade,

abrindo, assim, caminhos para que eles possam atuar socialmente com opiniões

fundamentadas, na medida em que se desenvolvem emocionalmente adquirindo

maturidade cientifica e social, além da consciência cidadã que todos devem adquirir

ao longo da sua existência.

Segundo Auler e Bazzo (2001), a abordagem de temas específicos sobre

Ciências e Tecnologia é um tanto recente no Brasil, pois a tecnologia em nosso país

teve seus primeiros passos com a criação da Universidade de Brasília em 1961. O

autor elenca a história de formação do Estado brasileiro, que se iniciou como uma

colônia que buscava recursos para atender a Europa e que a burguesia local não

tinha em seu cerne o espírito empreendedor apresentado pela burguesia européia e

americana, que por passar por várias transformações como o Renascimento, entre

outros, detinha a preocupação com a evolução saudável da sociedade,

principalmente pelo fato de presenciarem os horrores da segunda guerra mundial e

os embates no Vietnam.

Além de a elite brasileira buscar atender as necessidades européias sem

se preocupar com as condições locais, a sociedade brasileira tem em sua história o

regime escravocrata e a maioria de seus índios massacrados, formando assim uma

população de alienados quanto à educação cientifica. Essa população cresce sem

ter opinião adequadamente formada e condições para exigir dos governantes

condições melhores de vida para a sociedade, embasadas na tecnologia, decisão

que fica a cargo de uma minoria oligárquica, atrasando, desse modo, o campo

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educacional voltado para a tecnologia, pois tais elites se preocupavam apenas com

o bem estar dessa minoria (AULER; BAZZO, 2001).

Trilhando por este caminho natural da evolução científica do Brasil-colônia

Auler e Bazzo (2001) chegam aos tempos atuais e se reporta ao tratado do

MERCOSUL, com a situação dos países Latino-Americanos, na dualidade em querer

se emancipar tecnologicamente ou simplesmente ser meros consumidores de

Tecnologia nesta guerra tecnológica e consumismo que assola o mundo globalizado.

Por falta de incentivos, pesquisadores brasileiros buscam

reconhecimentos em nações estrangeiras, contribuindo para o avanço tecnológico

desses países que comumente são os países de primeiro mundo.

Por outro lado, o Brasil coopera ainda mais para o seu atraso tecnológico

quando seus governantes com incentivos fiscais beneficiam empresas

multinacionais, como a GM e a Ford, atitude que jamais seriam vistas em um país

como os EUA, pois este prioriza as empresas nacionais, com intuito de gerar

benefícios para sua população.

Assim, Auler e Bazzo (2001) indagam qual rumo o Brasil deve tomar e

respondem que o Brasil deve coincidir o progresso da tecnologia com o progresso

social, considerando a carência social do povo brasileiro em suas moradias

precárias e em lugares de riscos, e que uma boa intervenção tecnológica permitiria

produzir materiais de baixo custo, sempre visando o bem estar da população local e,

conseqüentemente, por meio da educação seria possível retirar da ignorância

tecnológica a população brasileira, para que episódios tristes como os incidentes

graves com radiação ocorrido em Goiânia e as devastações inúteis e sem critério

nas florestas brasileiras não acontecessem.

Notamos que o pensamento de Auler e Bazzo (2001) enfatiza que a

educação tecnológica deva ser capaz de produzir em sala de aula pensamentos

recorrentes observados na sociedade, sem interferir no conteúdo programático das

disciplinas lecionadas e, com isso, contribua para formar cidadãos empreendedores

e capazes de enfrentar os problemas que se apresentam em sua vida.

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Angotti e Auth (2001) retratam CTS como uma necessidade para

equilibrar e nortear os avanços tecnológicos que estão desarranjando o ecossistema

e dizimando populações por fome ou doença nos continentes empobrecidos e

também nos grandes centros, com pessoas sem empregos vivendo abaixo da linha

de miséria traçada pelos estudiosos em Antropologia. Diante dessa situação, os

autores propõem atividades pedagógicas estruturadas na história dos avanços

tecnológicos e para a escala de valores humanos, com intuito de despertar,

alfabetizar e humanizar quanto ao tema Ciência e Tecnologia.

A preocupação maior relacionada com Ciência e Tecnologia abordada por

Angotti e Auth (2001) é a poluição como fator de desequilíbrio do ecossistema e a

pouca preocupação de alguns países quanto a esta problemática, além de salientar

grupos dominantes que têm acesso às benfeitorias em detrimento de outros grupos

que vivem à margem dessas benfeitorias, excluídos socialmente.

Por tais motivos Angotti e Auth (2001, p. 19) pleiteiam uma educação

ambiental e vêem uma passividade dos professores e resistências dos pais quanto a

este assunto ser discutido em sala de aula, privando assim os adolescentes de

serem criativos e capazes de formar uma opinião sobre esta problemática.

Outro tópico relevante abordado por Angotti e Auth (2001, p. 21) é a

problemática do lixo, e alerta que só reciclar não é mais solução, indicando este

tema para discussão em sala de aula, pois engloba relações CTS, com ênfase para

o impacto ambiental, pois o lixo atualmente requer grandes lotes de terras para o

seu aterro. Assim, salienta-se a importância do enfoque CTS como norteador das

atividades desenvolvidas em sala de aula.

Finalmente, Ricardo, Custódio e Rezende Júnior (2007) descrevem que:

[...] Ampliam-se os objetivos educacionais e se espera que os conhecimentos adquiridos na escola tenham sua pertinência para além dos

seus muros. De modo geral, podese dizer que tal perspectiva é o que se

vem chamando de um ensino por competências [...] Paralelamente, a escola

parece estar sendo questionada quanto a sua capacidade de atender às

expectativas dos alunos, incluindo as escolhas dos conteúdos a ensinar.

Tornam-se cada vez mais comuns por parte desses alunos perguntas do tipo: porque eu tenho que aprender isso? Essa atitude não apenas coloca

em questão o que está sendo ensinado como pode refletir uma certa

ansiedade dos educandos ao não terem claro que o projeto escolar poderá

preparálos para o que esperam encontrar quando concluírem a formação

básica. (RICARDO; CUSTÓDIO; REZENDE JÚNIOR, 2007, p. 135).

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A insatisfação do aluno quanto ao ensino de Física, Química e

Matemática no Ensino Médio, da maneira que é ensinado, impele os educadores a

refletirem sobre suas práticas, pois a pergunta para quê eu aprendo isso, ou onde

vou aplicar tal conhecimento, denota uma angústia dos jovens, que se sentem

excluídos das grandes decisões que cercam suas vidas.

Desse modo, o enfoque CTS abordado em sala de aula fornece uma

satisfação na medida em que ao serem habilitados em cálculos e fórmulas, serão

capazes também de melhor gerir suas vidas e decidir sobre os rumos que a

sociedade está tomando e como atuar nesta sociedade ao chegar na sua fase

adulta.

Para isso, a educação em CTS não deve se restringir a mero manuseio

de tecnologia como retroprojetores, datashows, calculadoras e computadores em

sala de aula, mas deve promover uma distinção entre ciências e tecnologia, em que

as ciências se situariam no campo da intencionalidade e a tecnologia se situaria no

campo da funcionalidade. Portanto, entendemos que a educação básica não busca

formar alunos técnicos, mas pessoas que saibam entender a tecnologia como aliada

ao seu bem-estar produtivo enquanto subsistir como pessoa neste planeta, sendo

ainda capaz de contribuir para o bem-estar daqueles que ainda virão a morar e a

desfrutar da beleza desse mundo (RICARDO; CUSTÓDIO; REZENDE JÚNIOR,

2007, p. 146).

Luz e Araújo (2008) ao se reportarem sobre o tema CTS afirmam que:

O enfoque CTS sustenta uma filosofia de ensino que deixa de ensinar conceitos pelos conceitos, não que estes não tenham valores, mas porque a

sua importância será melhor percebida se os alunos forem estimulados a

dar sentido aos problemas propostos.[..] Esta proposta pode auxiliar o aluno na construção individual de sua aprendizagem, permitindo atribuir

significados a um determinado objeto de estudo que possa ser potencialmente significativo, ou seja, facilitador de uma aprendizagem significativa, na medida que incentiva a confrontação de pontos de vista,

possibilita uma análise crítica do objeto de estudo, incentiva a formulação de questões e fomenta a realização de pesquisa ( LUZ; ARAÚJO, 2008, p. 20).

Assim, a atividade em sala de aula desenvolvida com recursos inovadores

e enfocando o tema raios X e radioproteção, tema presente na sociedade pela sua

importância em diagnóstico médico e também pela veiculação na mídia do acidente

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com radiações, ocorrido na cidade de Goiânia, abre caminho para que possamos

inserir tópicos de FMC no Ensino Médio.

Esse conteúdo por si só tende a despertar o interesse do aluno pelo

vínculo que tem com sua vida. Desse modo, o aluno pode se apropriar de

conhecimentos próximos à sua realidade, sendo essa aquisição facilitada pelo uso

de uma abordagem envolvendo algumas relações entre Sociedade, Tecnologia e

Ciência.

Pesquisadores que se reportam ao tema CTS (ANGOTTI; AUTH, 2001;

AULER; BAZZO, 2001; CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005) concordam que a Ciência

divulgada na mídia busca uma verdade absoluta. Em geral, a mídia não revela os

sentimentos não muitos nobres que estão por trás de uma determinada pesquisa ou

ao menos levantam o sentimento de dúvida ou questionamento acerca do porquê de

tal tecnologia ou pesquisa cientifica estar sendo desenvolvida. Como exemplo,

podemos citar a modificação no DNA das plantas, que permitiria a pergunta: Seria

apenas para combater fungos?

Com isso, a tecnologia como é difundida na mídia visa apenas satisfazer

as necessidades sociais. Entretanto, o enfoque CTS em sala de aula revela

condições para que o aluno reflita sobre tais temas e elabore em sua estrutura

cognitiva muitos dos aspectos relacionados a uma pesquisa científica e sua

tecnologia, com capacidade para opinar sobre o impacto que elas podem causar no

ambiente em que ele vive, sendo exemplo dessa situação a construção de

hidrelétricas e seu impacto ambiental.

As atividades embasadas no enfoque CTS aplicadas em sala de aula

também encontram respaldo favorável na pesquisa de Luz e Araújo (2008) como

um meio capaz de:

Promover a identificação nos estudantes de temática / problemas de estudo;

organizar material de instrução em torno de tópicos de relevância; fomentar a perspectiva de construção de perguntas pelos alunos; motivar os alunos a utilizarem uma ampla variedade de recursos, como texto científicos,

pesquisas sobre o conteúdo estudado, experimentos com utilização do

método investigativo [...] em suas perguntas e respostas; proporcionar oportunidades para que os alunos apliquem conceitos e habilidades em situações novas; estender o estudo da Ciência e de outras áreas do

currículo escolar e sua relação com a comunidade (LUZ; ARAÚJO, 2008, p.40).

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Com esse enfoque devidamente desenvolvido buscando fazer com que

os alunos apropriemse do conhecimento, o resultado deve refletir naturalmente na

conduta do aluno, permitindo que, segundo Luz e Araújo (2008), que o aluno possa:

Ter maior responsabilidade na programação das atividades; dirigir sua atenção para fora da classe, a fim de obter respostas aos questionamentos; aplicar a informação apreendida em sala de aula e no seu cotidiano; converter se em agente de mudança; compreender o impacto da Ciência e

da Tecnologia na comunidade (AULER; BAZZO, 2001); atuar de um modo responsável sobre a base de sua compreensão; compreender a importância de ser cientificamente culto; dar continuidade a sua educação após o

período de escolarização (LUZ; ARAÚJO 2008, p. 41).

Portanto, o enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) é uma

proposta de ensino que traz para a sala de aula eventos que ilustram as diversas

conexões entre a Ciência, Tecnologia e Sociedade, com a intenção de habilitar o

aluno na educação formal a compreender a sua realidade social. Desse modo, o

aluno pode participar de forma crítica e consciente, envolvendo-se e posicionando-

se perante situações que envolvam temas científicos e tecnológicos (CRUZ;

ZYLBERSZTAJN, 2005).

O enfoque CTS envolve um conjunto de estratégias que inclui jogos de

simulação, fóruns, debates, projetos individuais e de grupo, pesquisa de campo no

campo de trabalho, palestrantes convidados e ação comunitária, apontando,

portanto, um campo amplo de atuação envolvendo os alunos (CRUZ;

ZYLBERSZTAJN, 2005).

Em uma sala de aula, para que uma disciplina seja trabalhada segundo o

enfoque CTS, devemos desenvolver diferentes ações, por exemplo: (CRUZ;

ZYLBERSZTAJN, 2005):

a) Abordar problemas sociais relevantes para os estudantes, que

causem grande interesse e que apresentem conotação local e

mundial;

b) Empregar recursos humanos e materiais para ser utilizado nas

resoluções de problemas que envolvam a vida real, estendendo a

aprendizagem para além do período de aula, da classe e da escola;

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c) Avaliar impactos da Ciência e da Tecnologia sobre os estudantes,

de forma individual;

d) Dar ênfase no processo de aquisição das habilidades que os

estudantes necessitam para resolver seus próprios problemas;

e) Despertar a vontade e vocação para seguir carreiras científicas;

f) Fornecer oportunidades para os alunos atuarem em suas próprias

comunidades, colaborando na solução dos problemas ali

observados;

g) Estimular a autonomia dos estudantes durante o processo de

aprendizagem.

Buscando atender alguns desses preceitos, pretendemos nesta pesquisa

auxiliar o aluno na construção dos conhecimentos, habilidades e valores necessários

para tomar decisões responsáveis sobre as questões que envolvem a Ciência, a

Tecnologia e a Sociedade, propiciando condições mínimas para atuarem na solução

de tais questões. Com isso, esta proposta de trabalho vinculase a objetivos gerais,

visando atender aos domínios conceituais, de procedimento e atitude, estruturados

na aquisição de conhecimentos sobre a produção de raios X e sua radioproteção,

bem como o modo de operação das máquinas de raios X e o entendimento das

siglas que aparecem nestes ambientes. Também desejamos desenvolver

habilidades mediante a busca e consultas em periódicos, Internet e bibliotecas.

Finalmente, visamos o desenvolvimento de valores ao potencializar o

estabelecimento de consciência sobre as exposições às radiações ionizantes em

uma unidade hospitalar.

1.5 Objetivos geral e específico do trabalho

O objetivo geral deste trabalho é enfocar por meio de um conjunto de

atividades didático-pedagógicas o tema raios X e a questão da radioproteção,

analisando o elemento químico chumbo e materiais densos que atuam como

materiais protetores, além da rotina hospitalar quanto ao exame diagnóstico com

seus filmes e a simbologia das radiações. Desse modo, vislumbra-se a possibilidade

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de se inserir um importante tópico de Física Moderna e Contemporânea no Ensino

Médio.

Neste sentido, para analisar o desenvolvimento de uma proposta

metodológica baseada em diversas ações interventoras na sala de aula e que não

descarta o material didático utilizado pelo aluno, realizamos uma metodologia

estruturada na pesquisa-ação, em que os alunos atuam como cooperadores da

construção e apropriação dos conhecimentos científicos.

Por outro lado, como objetivo específico do trabalho, pode-se elencar:

a) Desenvolver a capacidade do aluno em ter conhecimentos claros acerca

do espectro eletromagnético e sua relação com o comprimento de onda ou

freqüência. Conseqüentemente, busca-se promover conhecimentos sobre

a produção de energia relacionada a diferentes tipos de radiações,

incluindo os sinais de rádio ou TV e, principalmente, a produção de raios

X, objeto central de nosso estudo;

b) Permitir que o aluno seja competente para interpretar gráficos e a

simbologia universal das radiações;

c) Possibilitar ao aluno ser consciente e capaz de se proteger contra as

radiações e utilização de equipamentos pertinentes à proteção radiológica;

d) Possibilitar que em uma unidade hospitalar o aluno saiba como funciona o

equipamento de raios X, juntamente com sua simbologia de operação e

proteção;

e) Permitir que o aluno compreenda que os conhecimentos e produtos

oriundos da Ciência e da Tecnologia apresentam tanto aspectos positivos

quanto negativos.

O enfoque CTS utilizado neste trabalho, envolvendo conceitos científicos

e tecnológicos, juntamente com processos de investigação e pesquisa pelos alunos,

abre um leque de possibilidades de estratégias de ensino em que o aluno é capaz

de perceber aspectos relacionados aos seus interesses pessoais, vinculados ao seu

cotidiano. Esse processo tende a ser eficaz para promover melhorias na qualidade

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de ensino, facilitando as condições necessárias para que os alunos adotem uma

postura cívica baseada também em fatos científicos e, particularmente, na utilização

da radiação ionizante de uma forma racional e consciente.

Uma possibilidade ao trabalharmos na vertente CTS é a Aprendizagem

Centrada em Evento (ACE), que tem como princípio o ensino de assuntos científicos

e tecnológicos em sala de aula, tomando por base circunstâncias e situações

retiradas da vida real. O evento tem como característica principal ser evocativo, ou

seja, apresentar a possibilidade de conexão com um grande número de assuntos

que possam ser trabalhados; deve ser motivador e rico o suficiente para despertar o

interesse humano, sendo capaz de estimular a discussão e o debate e com potencial

para capturar a atenção do aluno. Seu objetivo é o de integrar a tecnologia com

conceitos sociais e científicos, em atividades que não se limitem a aulas expositivas

(CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005).

Neste contexto, o tema produção de raios X envolve a natureza física do

fenômeno e todo um aparato tecnológico necessário para produzir e controlar a

intensidade dos raios X, devendo os alunos pesquisar os diversos aspectos

relacionados a esses tópicos.

O gancho para envolver os alunos na pesquisa de um assunto de

relevância social foi oportunizado quando o jornal Agora, de 24/09/2007, publicou

uma reportagem de Flávio Ferreira, abordando esta temática com a manchete:

Centros de raio-X de SP têm série de problemas

Esta reportagem foi xerocopiada e apresentada aos alunos, que a leram

juntamente com o texto sobre o acidente com raios ultravioleta ocorrido em uma

clínica em São Paulo, noticiada no jornal Agora de 30/03/07, sendo abordada no

início da pesquisa de modo a funcionar como um organizador prévio, cujo título era:

Estudante entra em coma após fazer bronzeamento

Assim, conhecimentos científicos que impactam na sociedade podem

chegar à sala de aula, sendo uma alternativa para abordagens que apenas primam

pela resolução técnica de exercícios descontextualizados e que servem para

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preparar os alunos para o vestibular ou apresentar conceitos científicos de uma

forma pontual.

Algumas vezes essas abordagens até fazem alusão ao cotidiano, mas o

enfoque é feito de uma forma tão técnica que tudo parece distante aos olhos do

estudante.

Entretanto, utilizando jornais com notícias importantes, mostrando fotos

que apresentam a figura humana e a máquina de raios X disposta em uma clínica

fotografada por um repórter, passamos a contar com um material de apoio capaz de

inserir elementos da sociedade em sala de aula. Este procedimento facilita o

estabelecimento de uma ligação direta de conceitos técnicos estudados em sala de

aula e fatos sociais ocorridos paralelamente, muitas vezes na mesma cidade do

estudante. O fator humano e emocional relacionado ao fato da jovem ter entrado em

estado de coma após passar por bronzeamento artificial, em uma situação na qual

ela procurava o padrão de beleza proposto pela mídia, fez os estudantes refletirem

que a situação poderia ter ocorrido com um parente deles ou até mesmo com eles

próprios.

Assim, é fácil se questionar até que ponto valeria o sacrifício por tal busca

de padrão de beleza.

Os recortes de jornais utilizados nas atividades de intervenção são

apresentados a seguir.

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Figura 1: Máquina de raios X em desuso em unidade hospitalar.

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Figura 2: Denúncia de abandono do aparelho de raios X.

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Figura 3: Acidente com radiação ultravioleta.

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2 INSERÇÃO DA FISICA MODERNA NO ENSINO MÉDIO

Visando inserir o tópico, raios X. no Ensino Médio, tema integrante da

FMC, buscamos inicialmente analisar aspectos históricos de como os estudos

acerca desse fenômeno se originaram. Neste contexto histórico avaliamos quais as

correntes de pensamento da época e o motivo que levou à descoberta dos raios X.

Assim, procuramos demonstrar que a construção de conhecimentos científicos

requer contribuições de diversos cientistas, o que corrobora a afirmação de que a

Física é fruto da construção humana. Devido a isso, a Ciência pode ser reformulada,

paradigmas atuais podem ser mudados, fatores que ao serem expostos aos alunos

do EM abrem um precedente para que eles passem a entender que futuramente

alguns deles possam vir a contribuir para o avanço das Ciências (ARAÚJO; ABIB,

2003).

Na seqüência deste capítulo refletimos sobre as propostas dos

Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares, que indicam a

importância de tratar desses assuntos no EM. Finalizando, discutimos sobre alguns

trabalhos bibliográficos atuais que tratam de temas da FMC e sua inserção no EM.

2.1 Aspectos históricos da FMC e a produção de raios X

No final do século XIX, os cientistas acreditavam que os principais

conceitos da Física estavam quase todos descobertos e entendidos e que bastavam

apenas investir na tecnologia.

Lord Kelvin afirmou que os cientistas estavam próximos de desvendar

todos os enigmas do universo por meio da Física. O que faltava era apenas explicar

a propagação da luz por um meio material, pois, até então, acreditava - se que a luz

se propagava pelo éter, substância que envolvia todo o universo, e a outra pergunta

sem resposta estava relacionada com à radiação do corpo negro (SILVA; PINTO;

LEITE, 2000).

As respostas para essas duas perguntas tornaram-se muito mais

simbólicas que os cientistas poderiam imaginar, pois a busca de respostas

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possibilitou que fossem trilhados caminhos que desembocaram em novas

concepções e conceitos que revolucionaram o mundo. Explicações surgiram, com

Albert Einstein e conseqüentemente a Teoria da Relatividade Restrita, que considera

a velocidade da luz constante para qualquer referencial. A outra dúvida que na

época era a radiação do corpo negro, foi explicada por Max Planck (SILVA; PINTO;

LEITE, 2000; GUERRA; BRAGA; REIS, 2000), que postulou a quantização da

energia e lançou as bases para a Mecânica Quântica.

As experiências comprovaram que as leis da Física Clássica não se

aplicavam para esses fenômenos, pois segundo a Teoria da Relatividade Restrita a

altíssimas velocidades o tempo passaria mais devagar para um móvel em

deslocamento. Por outro lado, a radiação de um corpo negro aquecido apresentava

um espectro e a energia não crescia indefinidamente com o inverso do comprimento

de onda da radiação como sugeria a Física Clássica, fenômeno conhecido como

catástrofe do ultravioleta (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Esses dois ramos da Física deram origem ao nome Física Moderna , que

segundo Ostermann e Moreira (2000) teve início no final do século XIX e a partir de

1940, Física Moderna e Contemporânea (FMC), que perdura até os dias atuais.

Apesar dessa divisão cronológica, alguns pesquisadores preservam este período

como sendo único e denominam simplesmente de Física Moderna e

Contemporânea. (CANATO JÚNIOR; MENEZES, 2003).

Assim, com as contribuições de Einstein e Planck, surgem dois ramos da

Física que são a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica, ambas constituindo

pilares revolucionários da Física no início do século XX e que trouxeram explicações

e conhecimentos sobre o mundo microscópico, o minúsculo mundo das partículas,

posteriormente incorporando os quarks, partículas elementares que agrupadas

formam os constituintes do núcleo atômico. (FREIRE JÚNIOR; CARVALHO NETO,

1997).

Estruturados nessas teorias e comprovações experimentais as novas

idéias abriram espaço para a formulação de novas hipóteses sobre a origem e

evolução do Universo, na área conhecida como Cosmologia.

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Os conhecimentos e fatos marcantes que levaram a formação do

compêndio histórico da Física Moderna em seus anos iniciais de evolução são:

a) 1895 o físico alemão Wilhelm Conrad Röentgen descobriu os raios X

(NÓBREGA, 2006);

b) 1896 o cientista francês Henri Becquerel detectou a radiação natural

emanada pelo urânio (OKUNO, 1998);

c) 1897 o físico inglês J. J. Thomson descobriu os elétrons (OKUNO, 1998);

d) 1899 o físico inglês Ernest Rutherford descobriu as radiações alfa e beta;

(FELTRE, 1997);

e) 1900 o físico alemão Max Planck introduziu a idéia dos pacotes de

energia (SAMPAIO; CALÇADA, 2003);

f)1905 Albert Einstein utiliza pacote de quantum, e posteriormente cada

quantum foi chamado de fóton, por sugestão de G.N. Lewis. Assim, o efeito

fotoelétrico observado pelo físico alemão Heinrich Rudolf Hertz em 1887 é

explicado (SAMPAIO; CALÇADA, 2003; PARKER, 1996);

g) 1913 o físico dinamarquês Niels Bohr propõe que quando os átomos

recebem ou perdem energia, seus elétrons mudam de nível de energia,

saltando de uma órbita para outra (SAMPAIO; CALÇADA, 2003);

h) 1916 Sommerfeld apresenta a trajetória diferente dos elétrons em um

mesmo nível.Para essas trajetórias diferentes denominou de subníveis, que

podem ser de quatro tipos: s , p , d , f . (VIRTUAL QUÍMICA, 2008);

i) 1924 o físico francês Louis de Broglie observa por intermédio de

equipamentos que o elétron não colide com o núcleo do átomo, pois a trajetória

do elétron é igual a um número inteiro do comprimento de onda, assim o

elétron se deslocaria ao redor do núcleo formando uma onda estacionária

(HALLIDAY; RESNICK; CRANE, 1996);

j) 1927 o físico alemão Werner Heisenberg formulou o principio que não era

possível medir a posição e a velocidade simultaneamente para o movimento de

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um elétron, com incerteza zero, aspecto que ficou denominado o Princípio da

Incerteza (GASPAR, 2000);

k) 1931 Postulados de Wolfgang Pauli são determinantes para que

acreditassem que os componentes básicos da matéria eram os prótons ,

nêutrons, neutrinos e elétrons (MOREIRA, 2007);

l) 1932 Os nêutrons são detectados em laboratórios (MOREIRA, 2007);

m) 1935 Hideki Yukama propôs a existência do mésons ð ou píons,

partículas responsáveis pela coesão entre prótons e nêutrons (MOREIRA,

2007);

n) 1936 C.D Anderson e S.H. Neddermeyer detectam o múon, partícula 200

vezes mais pesada que o elétron (MOREIRA, 2007);

o) 1947 O brasileiro César Lattes trabalhando no laboratório do inglês C.F

Powel prova a existência do méson ð ou píon proposto teoricamente por

Yukama (MOREIRA, 2007);

p) 1948 Eram conhecidas as seguintes partículas: elétrons, prótons, nêutrons,

neutrinos, pósitrons, múons, e píons (MOREIRA, 2007);

q) 1960 61 Classificam as partículas conforme suas similaridades quanto a

massa, spin, etc, que ficou denominada de classificação Octeto, proposto por

Murray Gell-Mann e Yuval Ne`eman (MOREIRA, 2007);

s) 1975 No acelerador linear descobrem o lépton Tau (MOREIRA, 2007);

t) 1977 Descobrimento do quinto quark (MOREIRA, 2007);

u) 2007 - Prosseguem os estudos e pesquisas em Física. Atualmente, temos

pesquisas e estudos em tópicos como a Teoria Quântica de Campos que se

preocupa em unificar a teoria da relatividade com o mundo das partículas e a

Física de Partículas Elementares que procura desvendar a origem do universo,

fatores que denotam que a Física continua em construção.

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Os benefícios que a humanidade obteve por intermédio dessas

descobertas são notórios, resultando em conforto, segurança, saúde e prevenção,

inclusive os diagnósticos por imagem com aplicação de raios X, que é o foco dessa

pesquisa.

Salientamos que a utilização de raios X, de forma desordenada, ou seja,

não observando os critérios de radioproteção vigentes, pode trazer sérios malefícios

para aqueles que a utilizam. Um exemplo típico dessa situação ocorre em uma

unidade hospitalar se uma pessoa receber radiação, mesmo que a dose for baixa,

nas gônadas, o que pode produzir danos aos espermatozóides ou óvulos. Caso

esse material seja utilizado para a fertilização, todas as células do organismo vivo

conterão defeitos, passando para a geração futura que nascerão com deficiências

(OKUNO, 1998, p. 47).

Para evitar esses malefícios, medidas de radioproteção devem ser

observadas em uma unidade hospitalar como, por exemplo, utilizar aventais e

blindagens plumbíferos para atenuar ao máximo as radiações. Em laboratórios com

nuclídeos radioativos, além da radioproteção citada, é necessário utilizar máscaras,

lavar as mãos com água abundante, não colocar as mãos na boca e não fumar nos

locais de trabalho (OKUNO, 1998, p. 40).

Para chegar nesse alto grau de esclarecimento quanto aos raios X numa

unidade hospitalar, fatos históricos e contribuições de cientistas favoreceram o seu

desenvolvimento, fatores que acompanharemos no tópico a seguir.

2.2 Aspectos históricos sobre raios X e a radiação eletromagnética

Os raios X foram descobertos em 1895 com os trabalhos do professor

Wilhelm Conrad Röentgen, que com 50 anos fez experiências com raios catódicos

em um tubo semelhante ao dos nossos televisores. Esses raios catódicos são feixes

de elétrons, cuja natureza corpuscular foi comprovada por Thomson, que ao colidir

com o anteparo produz a radiação X, e na TV os raios X produzidos são de baixa

energia, sendo, portanto, absorvidos, pelo vidro do tubo (OKUNO, 1998; OKUNO;

CALDAS; CHOW, 1982).

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Röentgen percebeu uma luminosidade em uma placa coberta com platino

cianeto de bário. Cobrindo o tubo com uma capa preta, a placa continuava reluzindo

quando o tubo funcionava. Röentgen colocou entre o tubo e a placa um livro, mas

ela continuou reluzindo. Substituiu o livro por madeira, depois folha de alumínio, sua

mão e os raios atravessavam todo tipo de material. Um estudo cuidadoso mostrou

que não eram os raios catódicos que atravessam tudo. Então, o que seria?

(OKUNO, 1998).

Röentgen concluiu que o tubo emitia raios muito mais potentes que

atravessavam sua mão e se perguntou que raios ainda desconhecidos seriam estes

que podiam atravessar corpos humanos e sensibilizar filmes fotográficos? Quarenta

e cinco dias após as descobertas dos raios X Röentgen tirou a primeira radiografia,

utilizando a mão da sua esposa (OKUNO, 1998).

Figura 4: Primeira radiografia: mão de Bertha, esposa de Röentgen

Fonte: Nóbrega, 2006.

Essa forma de energia foi tão importante para a humanidade que logo

após seu surgimento passou a ser utilizada em todos os continentes, em uma época

em que a globalização não existia.

Desde então a Medicina passou a contar com uma utilíssima ferramenta

de diagnóstico por imagem e, assim, o corpo humano se tornou transparente e, por

conseguinte, menos misterioso (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Outras aplicações de radiações foram desenvolvidas, como a

radioterapia, aplicação na indústria para esterilização de alimentos por raios X,

processos de polimerização de produtos, nos aeroportos para verificar as bagagens

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sem precisar abri-las entre outras.Entretanto, é a área de saúde a que mais utiliza

essa radiação, uma vez que a mesma é bastante útil para a realização de

diagnósticos médicos, odontológicos e medicina veterinária (CARRON;

GUIMARÃES, 1999).

Notamos a importância da aplicação dos raios X nas nossas vidas

atualmente e é interessante destacar que tudo se originou a partir de estudos dos

átomos. Ou seja, os raios X têm origem em um mundo que a nossa visão não

consegue captar e a definição desse mundo quantificado matematicamente, trouxe a

descoberta dessa radiação com seus notáveis benefícios e também seus malefícios

que conduziram a estudos e aplicações de técnicas de radioproteção (OKUNO,

1998).

Assim, desde o final do século xéx os estudos das radiações têm

proporcionado acentuada compreensão da estrutura da matéria, fornecendo

contribuições tecnológicas, pois dos tubos que aceleravam elétrons na experiência

de Röentgen hoje temos monitores de TV e de computadores. Prosseguindo nos

estudos em 1898, Curie e Becquerel descobriram o elemento químico polônio e o

rádio. Entretanto, a morte de Curie 35 anos após iniciar seus estudos com radiações,

com leucemia desencadeou estudos mais aprofundados sobre a necessidade de

radioproteção (CANATO JÚNIOR; MENEZES, 2003).

Nessa efervescência que tomou conta do mundo científico no rastro da

descoberta dos raios X, Rutherford descobriu os raios alfa, beta e gama. Planck, por

sua vez, elucidou o espectro das radiações do corpo negro e introduziu no mundo

científico uma nova constante, denominada constante de Planck (h). Na seqüência,

em 1905, Albert Einstein contribui com seu trabalho sobre efeito fotoelétrico para o

fortalecimento do conceito de quanta de luz e em 1913 Bohr contribui com seu

modelo atômico, propondo os níveis de energia e as órbitas estáveis dos elétrons.

Em 1924 de Broglie propõe o comportamento ondulatório do elétron e Heisenberg

contribui para o avanço da ciência com o Princípio da Incerteza (CANATO JÚNIOR;

MENEZES, 2003).

No ano de 1932, Chadwick descobre o nêutron, enquanto Carl Anderson

descobre experimentalmente o pósitron, o anti - elétron e no mesmo ano Irene

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Curie, filha de Marie Curie, prova que pares de elétronspósitrons podem ser

produzidos a partir da materialização dos raios gama, descobrindo a radioatividade

produzida artificialmente, que permitiu a técnica de bombardeamento da matéria.

Assim, a fissão nuclear é propiciada com a produção de nêutrons e na

seqüência as novas pesquisas permitem o desenvolvimento das bombas atômicas

(CANATO JÚNIOR; MENEZES, 2003).

Outras formas de energias são observadas, paralelamente aos raios X

que se propagam como ondas eletromagnéticas.

Existem outras ondas eletromagnéticas com outra freqüência ou

comprimento de onda. Elas são as ondas de rádio, TV, microondas, infravermelho,

luz visível, ultravioleta, raios X e raios gama (NOBREGA, 2006, p. 80).

2.3 Reflexões sobre os parâmetros curriculares em física no ensino médio

Os Parâmetros Curriculares Nacionais e diversos pesquisadores da área

de Educação são uníssonos em defender a introdução de tópicos de Física Moderna

e Contemporânea (FMC) nos currículos do Ensino Médio (EM).

Entre vários trabalhos, destacamos apenas alguns em que os

pesquisadores defendem ser importante a inserção de FMC, como:

a) Tópicos de Física Contemporânea no Ensino Médio: um texto para

professores sobre Supercondutividade (OSTERMANN; FERREIRA;

CAVALCANTI, 1998);

b) Inserção de Física Moderna no Ensino Médio: Difração de um feixe de laser

(CAVALCANTE; BENEDETTO, 1999);

c) Ensinando Física Moderna no Segundo Grau: Efeito Fotoelétrico, laser e

emissão de corpo negro (VALADARES; MOREIRA, 1998);

d) A natureza da luz: uma atividade com textos de divulgação científica em sala

de aula (KAWAMURA; SILVA, 2001).

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O monopólio da Física Clássica e a predominância da Cinemática são

elementos que afastam qualquer prenúncio de FMC nas aulas de Física para o EM,

além do despreparo dos professores para lidar com estes assuntos de grande

relevância atualmente.

Com o objetivo de trazer essa parte atraente e necessária da Física para

sala de aula, os PCN buscam divulgar orientações para que o professor sinta-se

seguro para lecionar os fatos que trouxeram uma mudança na forma de pensar da

Física. Evidente que a Física Clássica não será desprezada ou cairá em desuso,

mas é notório que os conhecimentos desenvolvidos pela FMC têm mudado modos

de vida e empregos em todo mundo, sendo necessário que os indivíduos adquiram

conhecimentos e saibam operar com a modernidade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1999) receberam

um complemento para melhor orientar aqueles que buscam adequar seu ensino às

novas normas e orientações, que ficou identificado como PCN+ (BRASIL, 2002).

Analisando estes documentos orientadores percebemos que o Ensino

Médio mudou e não visa apenas uma preparação para o ensino universitário, pois o

próprio mundo que nos cerca apresenta inúmeras mudanças, como empregos que

hoje não existem mais graças ao avanço tecnológico, com grande contribuição da

Física.

Muitas vezes a incorporação de conhecimentos e tecnologias à realidade

que cerca os indivíduos é bastante perceptível, sendo um exemplo evidente desse

fato o uso de código de barra nos produtos vendidos em supermercados. Ao passar

no caixa o computador dá baixa automática da mercadoria no estoque e ao mesmo

tempo calcula o total da compra. Nesse processo simples percebemos a utilização

do efeito fotoelétrico e o laser presente na FMC, bem como o transistor no

computador.

Com esses avanços tecnológicos, o emprego de estoquista caminha para

a extinção e novos empregos como técnicos de manutenção de equipamentos com

leituras óticas têm surgido no cenário atual (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

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Apesar disso, o ensino da Física que é apresentado no Ensino Médio,

excetuando algumas raras instituições, ainda é baseado exclusivamente na teoria da

Mecânica de Isaac Newton, com ênfase no ensino da Cinemática (ARRUDA;

VILLANI, 2001).

Pequenas mudanças e avanços estão sendo percebidos no que se refere

à presença de tópicos de FMC em livros didáticos para o EM, embora sejam

geralmente colocados nos finais do livro, como se estivesse apenas apresentando

uma satisfação aos órgãos oficiais que reiteram a necessidade da presença de tais

tópicos. Entretanto, é evidente que tais tópicos não são normalmente apresentados

aos alunos, devido às poucas aulas de Física.

Segundo Kawamura e Hosoume (2003), a escolaridade média vem sendo

ampliada, assim como o espaço de atuação social dos egressos da escola média

que não necessariamente buscam o ensino superior. O objetivo da escola média

deve, assim, estar voltado para a formação de jovens, independente de sua

escolaridade futura. Essa é, portanto, nossa compreensão do que seja uma

Educação para a cidadania e sobre o objetivo do ensino, conforme também salienta:

[...] Ensinar Física significava fazer compreender aos alunos uma série de

conhecimentos, ainda de forma resumida, que seriam mais tarde retomados de forma mais completa na continuação de seus estudos. . O conjunto

desses conhecimentos estava prédeterminado nos livros didáticos e no

coletivo das pessoas, de uma forma tão completa que parecia não haver

espaço para outras escolhas: cinemática, dinâmica, estática, eletrostática

etc. A educação vem ainda que muito vagarosamente, voltando a ocupar seu espaço, pois educar é mais do que ensinar conhecimentos: é promover

o desenvolvimento dos jovens, é possibilitar a construção de uma ética, é

expor os valores em que acreditamos e discuti-los (KAWAMURA; HOSOUME, 2003, p. 23)

As autoras defendem ainda que o professor estimule a participação dos

estudantes na busca de soluções para a sua comunidade

A função de educador é fazer o jovem expor sua idéia de uma forma

coerente e construtiva intervindo no seu meio de convivência, na sua

comunidade, na sua sociedade promovendo bem estar para a sociedade e o mundo em que vivemos (KAWAMURA; HOSOUME, 2003, p. 24).

Percebemos que as orientações dos PCN+ (BRASIL, 2002) sinalizam a

necessidade de se formar um jovem com competência para atuar no mundo,

fazendo-o perceber a aplicação prática da Física e sua utilidade, bem como a

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importância da Física Moderna, que deveria influir na sua formação para que adquira

maior entendimento da realidade que o cerca.

Entretanto, observamos facilmente que não estão presentes nas escolas

temas relevantes, por exemplo, conhecimentos de Física que permitam

compreender as telecomunicações, Internet, telefonia, celular, funcionamento de TV,

rádio, cosmologia, diagnóstico médico, robótica, computadores, etc. Os PCN+

(BRASIL, 2002) recomendam que a formação dos jovens seja mais completa, capaz

de prepará-los para a cidadania e que os temas atuais do mundo contemporâneo

deverão necessariamente passar a estar presentes nas aulas de Física. A Educação

deve deixar de ser fragmentada e as disciplinas devem ser convergentes com

relação às suas características comuns. Assim o professor passa a ter mais

autonomia para selecionar os tópicos a ser ministrados, sem ficar preso a listas de

tópicos inertes, buscando privilegiar em todo momento as competências e

habilidades.

Quais as competências que a Física deve promover? Quais são as

características que reconhecemos como específicas do saber Física e que

podem ser consideradas essenciais para uma formação nessa área? De

novo, não há listas confiáveis e completas, não há elencos oficiais de

competências. E certamente não haveria um acordo dentro da própria

comunidade dos físicos quanto a isso. Nenhuma proposta pode ser única e

universal, substituindo a percepção e a experiência profissional do professor a partir da realidade que vivencia (KAWAMURA; HOSOUME, 2003, p. 24).

Portanto, as competências que a Física deve promover dependem da

percepção e experiência profissionais obtidas a partir da realidade vivenciada pelo

professor, sendo indicado que as aulas deixem de ser apenas de quadro negro e

giz.

Nesta nova proposta, os conhecimentos devem ser apresentados como

desafios cujas resoluções, por parte do aluno, envolva a mobilização de recursos

cognitivos, investimento pessoal e perseverança para uma tomada de decisão.

Devemos, assim, buscar por meio de nossas ações pedagógicas

promover diferentes habilidades nos alunos, possibilitando o estabelecimento de

ligações entre conceitos e conhecimentos científicos e tecnológicos com a realidade

por eles vivida, valorizando ainda os aspectos humano e afetivo, bem como a

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cidadania apoiada em valores como a solidariedade, o espírito de cooperação e a

responsabilidade sócio-ambiental.

No que se refere à atuação docente, Kawamura e Hosoume (2003)

enfatizam ainda que:

A ação das atividades escolares com os alunos exige o reconhecimento do

contexto escolar específico, as características dos alunos, prioridades nos

projetos pedagógicos e como essas variantes podem dificultar a inserção da

Física Moderna no ensino médio. Entretanto, os PCN estimulam, amparam

e encorajam os professores a partirem para uma ação concreta, tentativas,

erros e sucessos e assim surjam novas alternativas ao ensino de Física

atual (KAWAMURA; HOSOUME, 2003, p. 27).

A questão central dos PCN+ remete à pergunta para quê ensinar Física?

Esta pergunta é uma constante entre alunos do Ensino Médio, que indagam para

quê ou onde vou usar isso, demonstrando uma angústia sobre a validade e

aplicabilidade dos conhecimentos apresentados na escola.

Assim, o ensino de Física deve ser contextualizado, possibilitando ao

aluno lidar com situações reais, crises de energia e avaliar qual a melhor maneira

para produção de energia considerando o impacto ambiental gerado em cada

modalidade de geração de energia. O estudante deve saber lidar com manuais de

aparelhos e entender sua simbologia, sabendo o procedimento técnico, por exemplo,

na produção de radiografias numa unidade hospitalar, além de criticamente com

embasamento ler e interpretar notícias em jornais e assim por diante (BRASIL,

1999).

Fica evidenciado que o conhecimento a ser apreendido em Física não

deve se limitar apenas a uma dimensão pragmática de um saber imediato, mas sim

dentro de um âmbito humanista abrangente, tão abrangente quanto o perfil do

cidadão que desejamos ajudar a construir.

Para que a Educação tenha este alcance, acredita-se que compete

sempre ao professor selecionar, priorizar, definir, redefinir e organizar os objetivos

em torno dos quais faz mais sentido trabalhar, considerando o perfil pedagógico da

escola e tomando por base a experiência e o bom senso.

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A abordagem da produção e da utilização de raios X é o tema central

deste trabalho e condiz com as recomendações dos PCN, que indicam a sua

adequação para as aulas de Ciência e Tecnologia, Ética e Cidadania.

Nesta abordagem, devemos orientar o jovem a reconhecer a Tecnologia

como uma possibilidade de melhoria da qualidade de vida do homem, o que, por

outro lado, requer um uso responsável da mesma, uma vez que as radiações

ionizantes apresentam tanto benefícios como riscos para a saúde e a vida humana.

Nos temas estruturadores, recomenda o ensino de alguns aspectos da

chamada Física Moderna no quesito microscópio para que o jovem adquira uma

compreensão mais abrangente sobre como se constitui a matéria e que assim

compreenda, sobre os temas tais como: cristais líquidos, lasers, circuitos integrados

e saiba identificar e reconhecer as radiações e seus diferentes usos. O estudo da

matéria e radiação indica um tema capaz de organizar as competências

relacionadas à compreensão do mundo microscópico (BRASIL, 1999).

Observamos o aval que os Parâmetros Curriculares fornecem aos

educadores para implementação de novos paradigmas educacionais capazes de

propiciar uma evolução cognitiva dos jovens.

Assim, no mundo globalizado em que vivemos urge a necessidade de

uma formação que vise a competência e a autonomia, dentro de um ambiente

atraente e estimulante, em que os educandos consigam perceber conexões entre o

que é abordado nas salas de aula e o que estão acostumados a vivenciar no seu

cotidiano.

Acreditamos em que o formalismo matemático também é importante, pois

a Matemática auxilia na elucidação e resolução de problemas. Mas é notório que um

ensino em que a Ciência contemple produtos tecnológicos de grande apelo para os

jovens é mais atraente e tende a ser mais eficiente, por induzir um maior

comprometimento com o ensino e a educação.

Fica evidenciado que os PCN sinalizam para uma abordagem que

contemple Ciência associada à Tecnologia e orienta nas suas páginas um caminho

a ser traçado.

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A seguir analisaremos a proposta das Diretrizes Curriculares para o

ensino médio.

2.4 Reflexões sobre as diretrizes curriculares para o ensino médio

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM)

formam os pilares-mestres dos Parâmetros Curriculares Nacionais e traz artigos da

Lei das Diretrizes e Bases e outras vertentes para compor suas diretrizes (BRASIL,

1999).

As DCNEM (2002) consistem em um parecer do CNE (Conselho Nacional

de Educação) e CEB (Câmara da Educação Básica) sob o número 15/98 e a

resolução de número 03/98 e se destina a instituir as diretrizes curriculares nacionais

para o Ensino Médio.

No Brasil, o ensino Médio foi o que mais se expandiu, considerando como

ponto de partida a década de 80. De 1988 a 1997, o crescimento da

demanda superou 90% das matrículas até então existentes. Em apenas um

ano, de 1996 a 1997, as matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%. É

importante destacar, entretanto, que o índice de escolarização líquida neste

nível de ensino considerada a população de 15 a 17 anos, não ultrapassa

25%, o que coloca o Brasil em situação de desigualdade em relação a

muitos países, inclusive da América Latina (BRASIL, 2002, p.16).

Comparando o número de alunos entre 15 e 17 anos matriculados no

Ensino Médio, constatamos que o Brasil tem a menor percentagem quando

comparado com Argentina, Chile e Uruguai. Esta situação decorre da política

educacional excludente em uma sociedade que tem a pior distribuição de renda do

mundo, além das altíssimas taxas de repetências e evasão escolar (BRASIL, 1999,

p. 66).

No meio desses fatores, encontramos uma falta de especificidade para o

Ensino Médio, ou seja, se este nível de formação escolar básica destina-se a

atender as orientações profissionalizantes ou se reportar às questões acadêmicas.

Desse modo, a origem social é o fator mais forte na determinação de quais

indivíduos têm acesso à educação média e qual modelo se destina.

A demanda pelo Ensino Médio está relacionada à possibilidade de uma

melhor empregabilidade. Este fato traz novamente às salas de aulas indivíduos que

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haviam parado seus estudos e neste retorno se juntam aos adolescentes tornando

as salas heterogêneas.

Com esses fatores, agrava-se a cobrança sobre o Ensino Médio, que tem

de definir o destino social dos alunos. Mas, como pensar na escola média a ser

oferecida a essa população sem que exclua a maioria? O momento é propicio para

oferecer a esses jovens uma educação que não vise apenas o vestibular ou a

profissionalização, mas que seja uma educação com qualidade para atender

destinos sociais e aspirações muito diferenciadas.

Com o crescimento da violência, do desemprego e do avanço tecnológico,

todos os meios de comunicação apontam a Educação, representada especialmente

pela escola, como uma possível solução, no entanto, apontam que a família é

fundamental para o bom desempenho do estudante. Nesse cenário, o Ensino Médio,

por ter características mais gerais, é apontado como uma possível solução, pois tem

melhores condições para desenvolver pessoas aptas para assimilar mudanças,

serem mais autônomas, solidárias e que acolham e respeitem as diferenças,

superando a segmentação social.

Para alcançar esse objetivo, não basta o Ensino Médio traçar grades

curriculares, mesclando disciplinas de humanidades com pitadas tecnológicas ou

dissimular com disciplinas profissionalizantes, mas deve enfrentar o desafio de

oportunizar a criatividade e a implantação de currículos renovados, organizados sob

três pilares: sensibilidade, igualdade e identidade (BRASIL, 1999, p. 73).

Como sensibilidade, as DCNEM (2002) classificam como:

[...] expressão do tempo contemporâneo, a estética da padronização,

hegemônica na era da revolução industrial. Ela estimula a criatividade, o

espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, a afetividade, para facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação, conviver

com o incerto, o imprevisível e o diferente (BRASIL, 2002, p. 75).

Espírito inventivo, criatividade, curiosidade pelo inusitado, conviver com o

incerto, o imprevisível, valorizar a leveza, a delicadeza e assim substituir o clima

austero dos deveres e rotinas escolares. A escola inspirada na ética da sensibilidade

oferece a oportunidade para o aluno trocar significados e saber conviver com a

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diversidade de alunos e professores, afastando-se da intolerância, intransigência e

exclusão tão marcantes em nossa atual sociedade (BRASIL, 1999, p. 75).

A igualdade é definida como reconhecimento dos direitos humanos e

deveres da cidadania no que tange a assuntos como discriminação, preconceito,

saber lidar com o público e privado, respeito ao bem comum. Com isso busca-se

criar hábitos que favoreçam a todos, professores, alunos, escola e sociedade

(BRASIL, 1999, p. 76).

A ética da identidade argumenta que o aluno tem de aprender a ser

autônomo, criar sua própria identidade por meio da sensibilidade e pelo

reconhecimento do direito da igualdade. O educando, sendo protagonista do seu

querer, deve ser capaz de realizar um projeto próprio de vida, no contexto realista

que o educando está inserido (BRASIL, 1999, p. 7879).

Contrastando com a ética da identidade, as DCNEM identificam situações

de aprendizagem programadas para produzir o fracasso, como acontece nas

escolas brasileiras. Estas escolas tornam-se antiéticas e abalam a auto-estima de

seres que estão buscando construir as suas identidades, o que contribui para que

esses jovens incorporem o fracasso. Por essa razão a ética da identidade é

importante na educação escolar (BRASIL, 1999, p. 79).

Observando os aspectos emocionais dos jovens as DCNEM orientam que

nos estabelecimentos do Ensino Médio deve haver uma organização curricular

ampla e diversificada dos tipos de estudos disponíveis, que estimulem professores a

propor alternativas que ofereçam opções de acordo com as características dos

alunos e as demandas do seu meio social. Naturalmente que compete aos

estudantes valorizarem as iniciativas de diferenciação do ensino promovidas pelos

professores, envolvendo-se adequadamente com as atividades propostas, dando

assim sua parcela de contribuição em um processo em que ele é efetivamente a

parte que mais se beneficia.

Voltada para suas características locais, esperamos que o ensino público

médio no Brasil seja capaz de formar a sua identidade e, para isto, as DCNEM

abrem um leque para o aparecimento de muitas formas de organização do Ensino

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Médio, sob o domínio da flexibilidade e da autonomia consagrado na Lei de

Diretrizes e Base LDB. (BRASIL, 1996).

A partir de um núcleo pedagógico comum, as alternativas de educação

voltadas para as características locais estimulam identidades escolares mais libertas

da padronização burocrática, incluindo propostas pedagógicas próprias e a

Educação Profissional (BRASIL, 1996).

Neste sentido, buscamos por meio de nossa investigação trilhar caminhos

alternativos, visando ampliar as possibilidades formativas da escola e aprimorar os

processos de ensino e de aprendizagem neste espaço social.

No centro de toda essa organização, encontramos os professores e

alunos nas salas de aula, que sentirão o reflexo dessa autonomia de conteúdos de

disciplinas que, segundo a LDB, tem de se basear nos princípios inspirados na

estética da sensibilidade. Assim, a aprendizagem dos alunos deverá estar firmada

na política da igualdade de oportunidades e tratamento adequado às suas

características pessoais (BRASIL, 1996).

Na qualidade do professor, este profissional terá de se aperfeiçoar no

aprendendo a aprender, em que conseqüentemente resultará no sucesso dessa alta

autonomia, característica imprescindível do professor-pesquisador.

Considerando que esta característica não é um fator no oficio do

professor, o risco dessa educação autônoma ficar ritualística e sem rumo é enorme e

a melhor forma de evitar esse risco é instituir mecanismos de prestação de contas

que facilitem a responsabilidade de cada indivíduo envolvido no processo (DEMO,

2002).

Para atender essas expectativas, as DCNEM orientam a diminuir o

currículo enciclopédico, congestionado de informações, passando-se a priorizar

conhecimentos e competências gerais, que são demandadas pela vida profissional e

pela continuidade de estudos. Devemos assim, buscar estratégias de ensino

diversificadas, que exijam mais raciocínio e menos memorização, potencializando a

relação professoraluno no que tange a significação dos conteúdos e

conhecimentos construídos coletivamente. (BRASIL, 1999, p. 82).

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Devemos, portanto, estimular o aluno a reconstruir o conhecimento,

dando-lhe oportunidade para interagir e opinar nessa construção conforme a sua

percepção de mundo, considerando que o mesmo possui conhecimentos empíricos

adquiridos nos seus convívios sociais.

Com esta postura em sala de aula, o educando passa a ser protagonista

pronto para interferir positivamente na sua vida social gerando impactos para além

dos muros e paredes da sala de aula (MORIN, 2004).

Acreditase que, com essa desenvoltura, o aluno passe a considerar sua

posição no mundo e a se posicionar com atitudes de um cidadão ciente dos seus

direitos e deveres. Nesse cenário, a interdisciplinaridade tornase uma ferramenta

essencial, pois possibilita interagir com outra disciplina, mostrando ao educando que

as disciplinas não são fragmentos isolados, permitindo ao aluno desenvolver a idéia

que o conhecimento científico deve ser considerado por inteiro.

Ao verificar que a interdisciplinaridade não é a justaposição de disciplinas

e sim um diálogo constante com outros conhecimentos, o educando estará atingindo

um nível de maturidade científica e envolvimento com a disciplina que transcenderá

a sala de aula. Essa conquista se dará em sala com aulas potencializadas com

projetos de pesquisa ou experimentos, a partir de um plano de ação que intervenha

na realidade e no cotidiano do educando. Assim, a interdisciplinaridade não dilui as

disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade, permitindo que seja

identificado cada conceito nas suas respectivas disciplinas (PIAGET, 1996).

O domínio de uma área permite superar o conhecimento descritivo e

assim captar conexões importantes nas outras áreas ou disciplinas na busca de

explicações.

Disciplinas apareceram e desapareceram ou foram absorvidas por outras

disciplinas a partir dos anos 80 na educação brasileira. Se olharmos a definição de

Ensino Médio hoje, outrora denominado Segundo Grau e as DCNEM citam como

exemplo a Redação, mas podemos citar outras como OSPB (Organização Social e

Política do Brasil), ou a Educação Moral e Cívica que desapareceram e foram

incorporadas em Filosofia e outras disciplinas. Esse fato demonstra como as

disciplinas podem ser de transição e apresentar uma frágil demarcação. Por tal

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motivo os PCN e as DCNEM sinalizam a favor de uma postura mais flexível e

integradora dos conteúdos de cada disciplina, colocando em um mesmo plano, pela

facilidade de interação, as disciplinas; Física, Química e Biologia, que utilizam

equações e gráficos matemáticos como parte de sua linguagem (BRASIL, 1999).

Outra forma de assegurar o sucesso das propostas autônomas das

DCNEM é a contextualização, que significa assumir que todo conhecimento envolve

uma relação entre sujeito e objeto, diferente, portanto, do que tem feito as escolas

médias, que apenas faz uma transposição didática de conhecimentos, obrigando o

aprendiz a se comportar como um mero espectador passivo.

O conhecimento contextualizado tem em seu cerne a possibilidade de

provocar aprendizagens significativas, pois trata da realidade do aluno e mobiliza

competências cognitivas já adquiridas, já vivenciadas pelo aprendiz. O telefone

celular, o walkman, a televisão entre outros equipamentos tecnológicos, fazem parte

do cotidiano do aluno e envolvem inúmeros conceitos de Física que estão inseridos

nessas tecnologias.

O professor pode explicar as ondas eletromagnéticas, tópico de Física

Clássica, codificadas por circuitos integrados, tópicos da Física Moderna e

Contemporânea, ao falar da telefonia celular (CANATO JÚNIOR; MENEZES, 2003,

p. 10).

Essa proximidade entre o que o aluno manuseia no seu dia-a-dia com o

contexto da Física, juntamente com o ensino voltado para essas tecnologias,

potencializam o significado da aprendizagem. Conseqüentemente, as fórmulas

matemáticas terão outro sentido e valor no momento em que forem requisitadas em

sala de aula, pois representam instrumento de aferição de uma aprendizagem

significativa voltada para a tecnologia.

A escola é o meio que organiza o conhecimento e o apresenta ao aluno

por meio de uma linguagem que considera adequada para que seja aprendido. Na

escola, cabe ao professor, estimular seus alunos a alcançarem patamares

superiores de conhecimento, preferencialmente com significados claros e em

contextos típicos da aprendizagem escolar.

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A implementação das DCNEM, desde sua publicação em 1998, trouxe,

em um primeiro momento, reflexões nos meios educacionais e, na seqüência, fez

com que livros didáticos e projetos pedagógicos procurassem atender a esse

compêndio de normas que procura mudar a forma autoritária de ensinar, remetendo

a um modelo de ensino que prioriza a criatividade e a autonomia do aprendiz. Essa

transição provoca desequilíbrios seguidos, com componentes imprevisíveis que não

permitem afirmar com precisão como ficará o Ensino Médio brasileiro quando

terminar esta implementação (BRASIL, 1999).

Assim, as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio sinalizam para a

necessidade de se buscar uma formatação de currículo que esteja sempre se

renovando, sem perder sua característica básica de tornar o aluno competente para

buscar a informação e hábil nos cálculos e interpretações de texto. Desse modo, as

escolas e professores são convidados a refletirem sobre suas práticas e, segundo a

LDB, a comunidade também deve participar dessa reflexão. Esse processo deve

contribuir para que a educação se aproxime da realidade do aluno e seja norteada

pelos parâmetros da lei federal, que funciona como juiz, evitando, assim, excessos

ou rumos que deixem de contemplar os conteúdos comuns disciplinares previstos

para a totalidade das escolas brasileiras (BRASIL, 1999).

Abertas as condições para a introdução em sala de aula de conceitos de

Física Moderna e Contemporânea sob formas de ensino inovadoras, cabe agora ao

professor propiciar aos seus alunos uma aprendizagem significativa.

Estratégias têm sido apresentadas por professorespesquisadores

visando fugir de aulas simplesmente copiadas. A experimentação é apresentada e

discutida em sala de aula, o que mostra uma preocupação dos educadores em

ciências em despertar o aluno do Ensino Médio para o saber científico, fornecendo

condições para que possam surgir jovens engajados com as ciências e a pesquisa

(DEMO, 2003).

Esse engajamento das novas gerações é bastante desejável, na medida

em que a presença de especialistas de alto nível contribui significativamente para o

desenvolvimento do próprio país, que necessita cada vez mais dessa mão de obra

altamente qualificada.

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A aprendizagem estruturada na pesquisa deve sobrepor à aprendizagem

estruturada na memorização e, assim, salientar a importância do raciocínio e do

pensamento do aluno, aguçando a sua criatividade e curiosidade, sendo estas

algumas propostas apresentadas por pesquisadores que iremos abordar no tópico

seguinte.

2.5 Pesquisas que respaldam a inserção da FMC no ensino médio

Na Revista Brasileira de Ensino de Física, volume 28, número 1, de março

de 2006, na carta ao editor encontra-se uma pergunta bastante emblemática (PENA,

2006, p. 1): Por que nós, professores de Física do Ensino Médio, devemos inserir

tópicos e idéias de Física Moderna e Contemporânea na sala de aula?

Os órgãos federais já deram seu aval para que haja essa implementação,

conforme verificamos em diferentes documentos com orientações curriculares

publicadas pelo MEC. Então, qual seria uma resposta adequada para a questão. Por

que os professores devem lecionar a Física Moderna?

A resposta poderia simplesmente apontar para os diversos aparelhos

tecnológicos que os alunos utilizam no diaa-dia como telefone celular, jogos

eletrônicos, walkman, computadores, elevadores ao abrir e fechar a porta,

calculadoras, laptop, TV com LCD, diagnósticos como, por exemplo, o aparelho de

raios X, parentes ou amigos que se submeteram à radioterapia, laser etc.

Entretanto, nesta análise outros fatores devem ser levados em

consideração. Segundo Ostermann e Cavalcanti (2001), o entusiasmo que os alunos

demonstram ao aprender na escola assuntos de caráter científico que vêem no

noticiário, em revistas, jornais e Internet, mostra o quanto é propício inserir tópicos

de Física Moderna e Contemporânea no Ensino Médio. Essa inserção, nesta

perspectiva, atende a interesses desses indivíduos por compreender elementos que

compõem a sua realidade.

O volume de notícias relacionadas de alguma maneira a conceitos de

FMC praticamente são diários, como bloqueio de celulares em presídios, ataque de

hacker, votação eletrônica, clonagem de cartões eletrônicos, grampeamento de

conversas telefônicas, pirataria digital, acidente com radiação, em particular, o da

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cidade de Goiânia, queimaduras com laser, descoberta de um novo planeta entre

outras, são exemplos de notícias que povoam o cotidiano do aluno (CANATO

JÚNIOR; MENEZES, 2003).

A tecnologia faz bom uso da FMC, mas e a escola média? A pergunta

feita no início do tópico pode ser respondida da seguinte maneira: nós professores

do EM devemos inserir tópicos da FMC, pois ela está totalmente inserida e utilizada

no cotidiano da sociedade atual. Assim, cabe uma questão complementar: Onde

deve o professor da escola média buscar o conhecimento necessário sobre FMC

para abordá-la com os seus alunos?

Segundo Canato Júnior e Menezes (2003), existem diversos trabalhos de

divulgação científica e bibliografia para consultas, embora sejam em geral muito

densos e demandem um conhecimento prévio que professores de Ensino Médio

muitas vezes não dominam, por não serem especialistas na área de licenciatura ou

bacharelado em Física.

Trabalho como o de Ostermann, Ferreira e Cavalcanti (1998), que trata do

fenômeno da supercondutividade, assunto que resultou tecnologicamente em chips

para computador, apresenta uma evolução através dos anos sobre a descoberta

desse fenômeno, fornecendo aspectos históricos, abordando a resistividade e o

efeito Meissner (presença de um campo magnético nulo quando o material

supercondutor é inserido em um campo magnético, sendo essa ausência

denominada diamagnetismo perfeito). Esses avanços resultaram na levitação de um

magneto acima de um material supercondutor e, tecnologicamente o trem MAGLEV

supercondutor. O artigo aborda ainda a Teoria BCS (iniciais dos nomes dos

cientistas Bardeen, Cooper e Shriefler), matematicamente complexa e que explica os

fatos observados na supercondutividade. Esse tema, supercondutividade, teve sua

origem histórica no ano de 1911 e atualmente ainda há questões em aberto, como a

existência da supercondutividade em altas temperaturas.

Laburú, Simões e Urbano (1998), tratam do assunto cristais líquidos

(LCD), que respondem opticamente a pequenas tensões elétricas e resultou

tecnologicamente nos televisores de LCD, caracterizados pela pequena espessura

da tela, além de outros aparelhos tecnológicos, como calculadoras, joguinhos de

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bolso (mini game), laptops, rádios e outros. Em uma linguagem acessível os autores

apresentam o desmonte de calculadoras e abordam a utilização de fenômenos

ópticos, polarização da luz e eletromagnetismo, de modo que o professor secundário

utilizando abordagem semelhante, terá mais argumentos para responder a pergunta

dos alunos de o porquê estar estudando determinado assunto.

Valadares e Moreira (1998) apresentam o tema efeito fotoelétrico, laser e

a emissão de radiação de um corpo negro. Por meio de ilustração pictórica, o autor

representa a incidência da luz sobre um dispositivo presente em um poste da rede

elétrica e, utilizando o efeito fotoelétrico, vemos um circuito elétrico fechado durante

a noite e um circuito elétrico aberto durante o dia, sendo que em cada situação a luz

apaga e acende, conforme o dia e a noite. Por esse viés fala também das portas dos

elevadores e da esteira de um supermercado, enfatizando em ambos os casos o

efeito fotoelétrico. O laser é apresentado com a associação de espelhos côncavos e

plano semitransparente que emite luzes coerentes, cuja aplicação tecnológica fica

evidenciada no código de barra dos produtos em supermercado.

Cavalcante e Benedetto (1999), por sua vez, constroem um

espectroscópio caseiro utilizando uma lâmpada, uma lupa, uma régua, um CD,

pedaços de papelão, cartolina, transferidor, cola e prendedor. Com estes objetos

propõem a apresentação em sala de aula da difração da luz em um CD, tendo como

objetivos estimular a curiosidade e a motivação do aluno do EM, tornando o estudo

de Física prazeroso, facilitando a incorporação pelo mesmo de uma cultura

científica.

O mundo microscópico da FMC é apresentado por Cavalcante, Tavolaro e

Haag (2005) com artefatos como CD, lupa e com a difração da luz, apresentando o

cálculo que resulta na constante de Planck.

As partículas elementares (quarks e léptons) são apresentadas por

Moreira (2004, p. 10, 2007) como os constituintes de todos os átomos e,

conseqüentemente, de quase toda a matéria.

Os quarks nunca foram detectados livres, estão sempre confinados em

partículas chamadas hádrons. O nome muda quando apenas três quarks estão

confinados no hádron e recebe o nome de Bárion. Se estiver confinado no hádron

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um quark e um antiquark recebe o nome de Mésons. Lépton (leve) é representado

pelo elétron, havendo ainda o Múon e o Tau e os neutrinos de cada família: o do

elétron, o do múon e o do tau. Há ainda, os glúons e, talvez (ainda não foi detectado

experimentalmente), o bóson de Higgs.

Essas partículas e antipartículas interagindo e desintegrando-se formam a

matéria, que apresenta quatro tipos de interações fundamentais, a saber:

eletromagnetismo, gravitacional, forte e fraca. Assim, Moreira (2007) apresenta o

tema de uma forma acessível para uma boa compreensão e propiciando um

estímulo à imaginação do aluno secundarista.

Ostermann e Cavalcanti (2001) abordam o tema partículas elementares e

elaboram um pôster colorido com todos os temas pertinentes ao assunto, útil para os

professores de Licenciatura em Física divulgar esses temas nas escolas do Ensino

Médio.

A coleção de revistas PEC (Projeto Escola e Cidadania), organizadas

separadamente em módulos independentes, elaborada por Silva, Pinto e Leite

(2000), adquirida pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e entregue

às escolas estaduais públicas, traz por módulos e em linguagem acessível e

ricamente ilustrada com figuras temas relacionados à FMC, além de outros temas da

Física Clássica, procurando associar ao contexto do aluno, constituindo mais um

subsídio ao professor do EM na sua tarefa de motivar, estimular, instigar a

curiosidade dos seus alunos e, assim, tornar o ensino de Física mais prazeroso.

O curso de Física de Máximo e Alvarenga (2000) também traz o tema

FMC no tópico A nova Física. E assim, Insere, de uma forma panorâmica,

possíveis aplicações dos conceitos de FMC nas áreas de pesquisa.

Além desses trabalhos há inúmeros outros, sendo alguns voltados

inclusive para a intervenção em sala de aula, como o trabalho de Oliveira e Araújo

(2007) que tratam especificamente de uma abordagem metodológica de FMC, sob o

tema radiação ultravioleta e suas implicações maléficas na pele de cidadãos que

trabalham na zona rural expostos rotineiramente aos raios solares. Enfocando o

tema CTS, este trabalho proporcionou aos alunos do EM abordagem de ensino

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envolvente, atual e principalmente inserido no seu cotidiano como fator de risco à

saúde.

Outra pesquisa que traz o tema FMC para a sala de aula é de Lozada e

Araújo (2007), sobre as partículas que formam o universo, invisíveis a olho nu. Na

proposta, os alunos são envolvidos em uma perspectiva interessante de como se

formou o universo, quais as possibilidades de sobrevivência futura para o ser

humano, salientando a importância de preparar o professor do EM para tratar deste

assunto com propriedade na sala de aula.

Portanto, acreditamos que já existam alguns materiais de apoio

adequados para a formação continuada do professor que deseja se atualizar e

transformar a sua prática pedagógica. Considerando o tempo que o professor tenha

para preparar as suas aulas, acreditamos que o diferencial para que resulte em

aulas com qualidade e capazes de inserir tópicos de FMC no EM seja que o

professor assuma sempre a postura de pesquisador, permanentemente investindo

no seu aperfeiçoamento, sejam em cursos, seja em leituras de temas relacionados à

FMC.

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3 ETAPAS DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Ao longo do primeiro semestre de 2007 procuramos abordar em uma

classe composta por trinta alunos do 2º ano do EM diversos temas previstos na

programação da disciplina de Física, entre os quais: Notação Científica, Hidrostática,

Vasos Comunicantes, Prensa Hidráulica, Teorema de Arquimedes, Termologia e

Calorimetria, Fases da Matéria e suas Mudanças e Processos de Transmissão de

Calor, buscando adotar uma postura docente baseada nos conceitos de Pedro

Demo (2003), que enfatiza estar a razão educativa na habilidade de motivar os

alunos, tornando as aulas interessantes e capazes de propiciar nos alunos a

capacidade de reconstrução do seu próprio saber.

Paralelamente à abordagem destes temas que é conteúdo programático

pré-estabelecido pela escola, no início de abril iniciamos o processo de intervenção

aplicando um questionário composto por dez questões com a intenção de mapear os

conhecimentos prévios (subsunçores) dos estudantes. As questões propostas

estavam relacionadas ao tema de raios X e às radiações do espectro

eletromagnético buscando, assim, estabelecer algumas bases do trabalho a partir

daquilo que o aluno já sabe (MOREIRA, 2006).

As questões versavam sobre o que é Tecnologia, solicitava explicações

sobre o que são radiações, qual exame entre radiografia, tomografia

computadorizada ou ultrasom deveria ser utilizado por uma mulher grávida para

diagnóstico e pedimos para explicar o porquê da indicação. Os alunos também

foram questionados se já manusearam canetas com dispositivo a laser e se este

equipamento poderia causar algum tipo de dano à saúde, citando o dano.

Tendo em mente a estratégia de Aprendizagem Centrada em Eventos

(ACE), propusemos ainda questões relacionadas ao acidente com bronzeamento

artificial relatado na mídia em 2007 (Jornal Agora, SP, Março de 2007) e pedimos

para o aluno explicar o processo de bronzeamento e quais os conceitos de Física

que reconheciam no seu cotidiano. Naturalmente, além dessas questões, o

questionário contemplava uma pergunta central que solicitava ao aluno responder se

conhece algum parente ou colega, ou até ele próprio, se em algum momento de sua

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vida quebrou um dos seus membros (braço, perna ou outro) e como foi o

procedimento para verificar a fratura.

3.1 Organizadores prévios para abordagem de produção de raios X

Tendo em mente que muitos alunos desconhecem aspectos relevantes

relacionados ao tema de raios X, procuramos desenvolver organizadores prévios

que consistem em questões elaboradas e propostas com a intenção de realçar, na

estrutura cognitiva do aluno, conceitos envolvidos com as radiações. Essas questões

são capazes de organizar em suas mentes conceitos que servirão de ancoradouro

para a continuidade da implementação da proposta de ensino, facilitando que

aprendam e apropriemse dos conhecimentos abordados.

Embora não fosse imposta a obrigatoriedade, todos os alunos se

prontificaram a responder o questionário. O fator surpresa foi preponderante, pois os

alunos esperavam por uma aula de hidrostática, de modo que as respostas foram

espontâneas, sendo perceptível o comportamento interessado dos alunos nesta

atividade. Naturalmente não visávamos obter respostas decoradas, nem certas ou

erradas, pois a intenção era apenas verificar suas concepções iniciais a respeito do

tema proposto.

Na análise dos organizadores prévios buscamos criar categorias para

enquadrar as respostas dos alunos. Além da categorização, verificamos a freqüência

e o percentual de ocorrência de cada categoria, a fim de facilitar a análise dos

dados.

A interpretação das informações que foram coletadas espontaneamente

dos alunos no início da pesquisa também teve como intuito verificar o que a

educação extracurricular (a educação proveniente da mídia, dos familiares) ou até a

bagagem que eles trouxeram de anos anteriores, poderia fornecer como subsídios

capazes de ancorar tópicos de FMC, particularmente no quesito raios X, que é o

tema dessa pesquisa. Desse modo, objetivamos tornar os alunos minimamente

alfabetizados cientificamente no assunto radiações e radioproteção, considerando

alunos do 2º ano do EM, em que se pese a Teoria da Aprendizagem Significativa

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que considera a evolução natural dos conceitos e a maturidade dos alunos nos anos

subseqüentes.

A novidade de fazerem parte de um processo de ensino e aprendizagem

diferenciado serviu como estímulo para que os alunos se empenhassem em

responder as questões apresentadas a eles, denotando assim que estão abertos e

prontos para o estabelecimento de uma interação mais dialógica em sala de aula.

A Teoria da Aprendizagem Significativa parte do pressuposto que se deve

ensinar a partir daquilo que os alunos já sabem e compreendem. Assim, acreditamos

que o desenvolvimento de organizadores prévios permite ao aluno construir

conceitos preliminares que são considerados relevantes, sendo expressos com suas

próprias palavras. Esse processo participativo torna os alunos co-autores da

construção do conhecimento. Como participantes ativos do conhecimento, deixam

de ser meros receptáculos de conhecimentos e passam a ser protagonistas.

As questões por nós formuladas são apresentadas e analisadas a seguir.

1ª questão: O que é tecnologia?

Tabela 1: Nível de compreensão do que é tecnologia.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Compreende 5 18

Compreende parcialmente 19 68

Não compreende 4 14

Tecnologia, segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004), é o conjunto

de conhecimentos ou princípios científicos que se aplicam a um determinado ramo

de atividade. Para exemplificar o termo tecnologia, podemos citar a lei de atração

das massas, elaborada por Isaac Newton. Esse conhecimento científico foi

aproveitado ao colocar satélites em órbitas (SILVA, PINTO e LEITE. 2000), sendo

para isso desenvolvidos novos processos e conhecimentos pelo desenvolvimento

tecnológico demandado pela necessidade de construção de aparatos específicos

relacionados com a área de Astronáutica.

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Ao analisar a tabela, verificamos que 68% dos alunos compreende

parcialmente o que vem a ser tecnologia, pois atribui a tecnologia à evolução ou à

modernidade, segundo algumas respostas que descrevemos abaixo;

CB: São recursos novos, são mais eficientes.

LAR: É o avanço de produtos que oferecem cada vez mais conforto

e agilidade e praticidade aos consumidores.

TM: São recursos novos, robóticos mais eficientes.

As respostas que elencaram o conhecimento científico aplicado a uma

atividade ou a um fim, portanto, constituindo respostas mais próximas das definições

de Tecnologia, destacamos abaixo:

LPS: Utilização de conhecimentos científicos em geral a uma

diversidade de produção.

CRS: Aplicações dos conhecimentos científicos.

Entre os alunos que desconheciam o assunto destacamos aqueles que

não responderam ou que deram respostas vagas do tipo:

FCM: É a evolução.

De um modo geral, a idéia de coisas novas permeia a mente dos alunos,

indicando uma noção razoável do que vem a ser Tecnologia, ainda que não seja

completamente adequada, na medida em que a sua complexidade exige a

concepção e consideração de outros elementos.

2ª questão: O que são radiações? Cite exemplos.

Tabela 2: Definições do conceito de Radiações.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Ondas e Energia 7 25

Ondas 19 68

Não compreende 2 7

As informações tendem a ficar organizada arbitrariamente na estrutura

cognitiva do aluno (MOREIRA, 2006), de modo que ao responder ao questionário

procuram ser o mais sucinto possível. Assim, pudemos observar que o conceito

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radiação está presente na estrutura cognitiva do aluno, precisando esses

subsunçores ser ligados a outros mais elaborados.

Acreditamos que ao abordarmos o espectro eletromagnético que

relaciona o comprimento de onda às diferentes bandas de energia, estaremos

fornecendo condições para que os estudantes, possam estruturar melhor os

conceitos de radiação, pois a uma dada faixa (intervalo) de comprimento de onda

podemos relacionar uma banda de radiação, como a luz visível, onda de TV, de

Rádio, as microondas, o infravermelho, até chegar aos raios X, tema da pesquisa

(SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Algumas respostas fornecidas pelos alunos são reproduzidas abaixo:

AFR: Radiações são ondas eletromagnéticas, raios-x.

GMF: São ondas que transmitem energia.

KCS: É um tipo de fonte de energia que transmite ondas

magnéticas.

BNS: Energia.

CML: São ondas magnéticas usadas no funcionamento de

aparelhos e são prejudiciais a saúde.

3ª questão: Na sua residência existe alguma fonte de radiação? Qual?

Tabela 3: Fontes de radiações domésticas.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Celular e Microondas 19 68

Microondas 7 25

Celular 1 4

TV 0 0

Não sabe 1 3

A integração, Sociedade e Ciências, em sala de aula, justifica essa

pergunta, pois remete o aluno a vasculhar na sua estrutura cognitiva aparelhos

tecnológicos utilizados em suas residências, abrindo caminho para os temas CTS, a

serem aplicados em sala de aula.

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A resposta imediata predominante sobre fonte de radiações nas

residências foi microondas e celular. Considerando o espectro eletromagnético,

microondas se encontram na faixa de freqüência de 300 MHz a 300 GHz, que está

relacionada com a fonte de produção dessa radiação. O funcionamento em si do

telefone celular e do aparelho doméstico que emite microondas para aquecer os

alimentos não foi bem explicado pelos alunos, abrindo caminho para explorarmos e

orientálos em sala de aula.

O aparelho de TV que emite radiação x de baixa freqüência também não

foi mencionado pelos alunos, apresentando mais uma opção para ser explorada no

encaminhamento da pesquisa em sala de aula. Algumas respostas dadas pelos

alunos são fornecidas a seguir:

TM: Sim, celular, microondas.

BM: Microondas.

CM: Multifuncional.

4ª questão: Sabendo que a mulher está grávida e precisa fazer um exame

diagnóstico, que tipo de exame você indicaria entre Ultrasom, Radiografia, ou

Tomografia Computadorizada?

Tabela 4: Percepção de diagnóstico nocivo à saúde.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Ultra-som 28 100

Radiografia 0 0

Tomografia Computadorizada 0 0

Explicação: saúde do bebê 28 100

Muito difundido na mídia, temas como gravidez precoce, doenças

sexualmente transmissíveis, e pouco difundido temas como, cuidados ao bebê e

possíveis riscos que possam ser submetidos às radiações, assim, concluímos

oportuno uma pergunta que expusesse a fragilidade de um recém-nascido, com

intuito de mexer com o emocional e a estrutura cognitiva do aluno.

Nas respostas dos alunos observamos claramente a presença de um

conhecimento correto acerca do diagnóstico indicado para mulheres grávidas,

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consistindo em outro subsunçor que pode ser aprimorado por meio do

aprofundamento das atividades previstas.

Todos os alunos acertaram quanto à indicação do exame, mas a

explicação que os outros exames contêm radiações ionizantes, que causa mutação

na célula, ficou para ser abordada com o andamento do trabalho sobre raios X.

5ª questão: Você já ouviu falar em radioterapia? Para que serve e como funciona?

Tabela 5: Conhecimentos sobre Radioterapia.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Radiação 4 14

Tratamento do câncer 18 65

Não sabe 6 21

Nesta categoria buscamos identificar o conhecimento prévio do aluno

quanto ao uso da radiação diretamente contra o tumor maligno caracterizado como

câncer, que define a Radioterapia. Outras respostas indicariam uma compreensão

insuficiente sobre o tema.

Constatamos que o uso do tratamento contra o câncer apresentou um

percentual de 65 %, demonstrando que a aprendizagem via mídia ou extra-escola

pode ser efetivada neste caso, produzindo conhecimentos na estrutura cognitiva do

aluno. Entretanto, entendemos que um maior aprofundamento deva ser almejado,

visando uma educação científica mais efetiva e capaz de tornar os conhecimentos

mais elaborados, fazendo com que o educando seja mais seguro e respaldado ao

falar do tema em qualquer situação cidadã. Por outro lado, os alunos associaram a

Radioterapia sem especificar como seria esse tratamento, resposta com percentual

de apenas 14 %, enquanto que 21 % dos alunos responderam que nada sabiam.

Esses dados servem como base para que possamos intervir buscando

construir os pilares dos conceitos de radiação e radioproteção, sendo relevantes por

apresentarem contornos emocionais nos alunos.

Felizmente, o percentual de alunos que nada sabem sobre radioterapia

demonstrando total desconhecimento sobre o tema foi baixo, sinalizando que para

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esses alunos há um campo aberto para inserirmos e explorarmos o fenômeno da

radiação.

6ª questão: As canetas com o dispositivo laser oferecem algum risco à saúde?

Qual?

Tabela 6: Opinião sobre canetas com dispositivo laser.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Danifica a retina 0 0

Danifica o olho 14 50

Não sabe 14 50

O principal problema contra a saúde gerado pela caneta com o dispositivo

laser é afetar a retina, por se tratar de um feixe concentrado de energia (SILVA et. al,

2000). Houve empate nas respostas que atribuíram danos aos olhos, sem citar

explicitamente a retina, com os alunos que afirmam não saber a respeito deste

assunto. Tema recorrente da FMC, o laser certamente consiste em um dos assuntos

da Física bastante atraente em sala de aula.

7ª questão: Você sabe de alguém próximo que quebrou um braço, perna ou dedo e

como foi o procedimento médico para verificar a fratura?

Tabela 7: Conhecimentos prévios sobre Radiografia.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Raios X 25 88

Radiografia 2 6

Não sabe 2 6

Verificamos nas respostas de 25 alunos que o termo raios X está bastante

difundido na sociedade em geral, quanto ao diagnóstico para situações de fratura,

embora os raios X sejam apenas um dos elementos da radiografia, pois além deles

temos os filmes écran que revelam a imagem. Portanto, a resposta mais completa

seria Radiografia, mencionada por apenas 2 alunos.

Uma vez que desejamos expandir os subsunçores, cremos ser oportuno

deixar vivo em suas mentes termos como raios X. Desse modo, o grande percentual

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de alunos que relatou raios X mostra um caminho que podemos trilhar para elaborar

o conhecimento completo do diagnóstico por radiação ionizante.

Para os alunos que responderam Radiografia (6 %), entendemos que

devemos trabalhar todos os componentes presentes na produção da radiografia em

uma unidade hospitalar, pois além dos raios X temos ainda os filmes, a voltagem

utilizada e a própria interação dos raios X com o corpo humano, demandando

cuidados com a radioproteção.

8ª questão: Que conceitos ou conhecimentos das Ciências Física você identifica no

seu cotidiano?

Tabela 8: Conceitos de Física Clássica e Física Moderna.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Física Clássica 20 75

Física Moderna 5 18

Não respondeu 2 7

Embora façam parte do currículo escolar apenas temas da Física

Clássica, o percentual de 18 % de alunos revelou que eles possuem algum

conhecimento sobre tópicos de FMC, citando o laser como fonte para cirurgia nos

olhos e para cortar objetos, conforme ilustram as respostas abaixo.

PMR: Muitos, o avanço tecnológico nos permite fazer operações a

laser, por exemplo.

CB: Vários tratamentos que hoje em dia nem se precisa mais de

operações, podem muito bem ser feito a laser.

As respostas de Física Clássica versaram sobre a gravidade, força,

roldana, gelo em água, atrito, densidade, energia elétrica e outros tópicos

freqüentemente abordados nos currículos escolares.

9ª questão: Recentemente foi noticiado em um jornal de grande circulação que uma

jovem senhora teve 90% do seu corpo queimado após uma sessão de

bronzeamento artificial. A Ciência que você estuda no colégio poderia explicar tal

fato? Justifique sua resposta.

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Esta questão é bastante importante, pois abre caminho para que

possamos fazer uso da Abordagem Centrada em Eventos (ACE), em que fatos

curiosos e de interesse geral podem ser explorados como forma de despertar o

interesse e a curiosidade dos alunos, servindo de ponto de partida para a

abordagem de temas científicos e tecnológicos.

Tabela 9: Conhecimento da notícia e explicação para o fenômeno.

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Viu a notícia e respondeu cientificamente 8 29

Viu a noticia e respondeu empiricamente 2 7

Não viu a notícia, mas respondeu cientificamente 1 4

Não viu a notícia, mas respondeu empiricamente 2 7

Só respondeu a questão empiricamente 11 39

Não respondeu 4 14

O objetivo principal dessa questão era abrir caminho no contexto escolar

para abordar os conceitos de radiação sob o enfoque CTS, que tem entre seus

principais fundamentos a possibilidade de estabelecer conexões entre os conceitos

científicos com eventos e situações encontradas na sociedade e que podem ser

trazidas para o ambiente escolar.

Fatos que despertem comoção social podem ser debatidos em sala de

aula, com argumentos e evidências científicas. Procuramos analisar as respostas

categorizando entre aquelas que continham teor científico e teor empírico. Como

teor ou resquício de evidências científicas nas respostas, salientamos o termo UV,

ou radiação ultravioleta, que será abordado oportunamente, quando elencarmos

cada radiação do espectro eletromagnético. Por sua vez, as respostas classificadas

como sem teor cientifico são aquelas em que há total ausência do termo UV, como

aquelas que afirmam que a pessoa ficou muito tempo exposto e outras desse tipo.

Essa abordagem consistiu em um ponto de partida e forneceu um tema

motivador para que pudéssemos inserir tópicos de Física Moderna, principalmente,

relacionados com as radiações em geral e a radiação ultravioleta em particular.

Observamos que as respostas classificadas como empíricas tiveram os

maiores percentuais, seguidos da resposta cientifica, em que o aluno expressa

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explicitamente o tema UV (ultravioleta), denotando possuir algum nível de

alfabetização científica quanto ao tema. Alguns exemplos são reproduzidos abaixo:

TM: Não, porque são recursos médicos.

CR: Sim. Ela ficou exposta a uma grande quantidade de radiação

uv, em curto período.

LO: Todo bronzeamento tem o seu limite, pois é Sol artificial que pode causar câncer na pele e outros danos a saúde.

10ª questão: Das questões feitas, quais (ou qual) te despertaram maior

curiosidade?

Tabela 10: Questão de maior interesse.

Questão Nº de Alunos Percentual ( %)

1 Três 8

2 Três 8

3 Dois 5

4 Nenhum 0

5 Sete 18

6 Nove 23

7 Nenhum 0

8 Dois 5

9 Sete 18

10 Nenhum 0

Não Respondeu Seis 15

A questão preferida e que despertou maior curiosidade entre os alunos foi

a questão seis, que abordava a caneta com dispositivo laser e seu efeito biológico. A

curiosidade pode ser motivada pelo fato desse tipo de caneta estar bem próxima da

realidade do aluno, inclusive sendo manuseada por vários deles. Com isso, um

indicativo para melhorar o entendimento dos conceitos de Física em sala de aula

configura-se pela abordagem de temas e objetos que os alunos vivenciam no seu

diaa-dia, como celular, walkman e outros objetos que tenham no seu

funcionamento conceitos da FMC.

A segunda questão mais votada foi a questão nove, que tem em seu

cerne aspectos emocionais quando retrata o drama vivido pela jovem senhora ao ser

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submetida a radiação UV Essa questão empatou em votos com a questão cinco que

traz outro assunto de interesse e que desperta sentimentos mais profundos, que é a

Radioterapia, que conforme relato da maioria absoluta dos alunos refere-se ao tema

tratamento de câncer.

Observamos nesta análise dois temas que nortearam o desenvolvimento

da pesquisa e que são capazes de despertar a curiosidade do aluno, ou seja,

aparatos tecnológicos que ele manuseia e assuntos que provoquem comoção.

Desse modo, o questionário constituiu em um importante instrumento de

análise, funcionando como um organizador prévio, ou seja, um material introdutório

empregado para colhermos informações contidas na estrutura cognitiva do aluno.

Sua importância se deve ao fato de permitir verificar os subsunçores dos alunos,

tendo em vista fazermos um posterior elo com o que pretendemos ensinar acerca da

produção de raios-x e de radioproteção.

As respostas dos alunos nos situaram acerca de quanto estão atentos às

coisas que o cercam e como abrevia suas respostas escritas, o que é natural para

estudantes nesta faixa etária, não acostumada a elaborar textos longos.

3.2 A aprendizagem pela pesquisa e a realização de seminários

Após termos feito o mapeamento dos subsunçores presentes nos alunos

utilizando o primeiro questionário, buscamos desenvolver ações que permitissem

aos alunos aprimorar a elaboração desses subsunçores. Moreira e Masini (1982, p.

2) caracterizam a Aprendizagem Significativa por meio de uma frase que é

representativa da teoria de Ausubel, relacionada ao aspecto motivacional e

intencional que direciona nossas ações:

Se vou ver uma casa para comprar, perceboa de modo diferente do que fosse lá

para visitar amigos. O significado de ver só existe quando há algo para ser visto

Para Ausubel, a aprendizagem se torna significativa na medida em que há

organização e interação daquilo que o aluno já sabe com a nova informação. Nesse

processo, os conceitos mais relevantes interagem com o material novo, que funciona

como uma ancoragem para que novas idéias sejam incorporadas na estrutura

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cognitiva do aprendiz. Para iniciar este processo de interação entre aquilo que o

aluno já sabe com o material que foi elaborado e apresentado dialogicamente,

orientamos inicialmente os alunos a pesquisarem alguns temas que deveriam,

posteriormente, ser apresentados oralmente para a classe.

O envolvimento dos alunos com atividades de pesquisas contribuíram

para que, no final, eles fornecessem respostas abrangentes sobre a produção de

raios X e radioproteção, bem como estabelecer o desenvolvimento de competências

e a autonomia para a aprendizagem (LUZ; ARAÚJO, 2007).

As apresentações dos seminários proporcionaram aos grupos de alunos

um momento de grande interação, sendo realizadas com intervalos de dez a quinze

minutos, seguidas de cinco minutos para perguntas. Esta etapa da intervenção

demandou três aulas de cinqüenta minutos, em que foram mostrados cartazes,

radiografias e fotos ilustrativas. Acreditamos ser relevante ao professor manter

sempre como elemento norteador de suas ações o conceito de Educar pela

Pesquisa de Pedro Demo (2003), pois auxilia o desenvolvimento da autonomia e da

criticidade.

Na medida em que cada grupo de aluno buscou elaborar argumentos

relacionados com os dados levantados em sua pesquisa, constatamos que o

processo em curso estava instigando o aprendiz a aprender por meio da descoberta

do conteúdo pesquisado, sendo que a obrigação de apresentar os resultados para

os demais colegas de turma tornou essa busca e descoberta potencialmente

significante (MOREIRA, 2006). Cabe destacar que a aprendizagem por descoberta é

um dos elementos que caracterizam a TAS.

Conforme destaca Veiga (2003, p. 31), o seminário é uma técnica de

pesquisa que, em seu desenrolar, pode se utilizar à exposição oral, da discussão e

do debate, pois sua finalidade é pesquisar e ensinar a pesquisar. Assim atuando

podemos tirar os alunos da passividade e da condição de serem meros receptáculos

de informações para, então, em um ambiente marcado pelo diálogo, passem a ser

coautores de uma aula dinâmica.

Neste momento, quando há envolvimento e participação coletiva dos

estudantes, a sala de aula transforma-se em um local de trabalho em que cada um

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tem o seu papel criativo a desempenhar. Nesse contexto, o seminário exige do aluno

cooperação entre os sujeitos do grupo e, caso haja alguma dúvida sobre os temas

abordados, cabe ao professor coordenador atuar como facilitador das ações que

ocorrem dentro de um planejamento metódico (LUZ; ARAÚJO, 2007).

O seminário, que na sua etimologia significa semear conhecimentos, tem

sua construção e desenvolvimento sob a responsabilidade dos sujeitos que formam

o grupo, partindo deles a forma de apresentar aquilo que pesquisaram e elaboraram

em conjunto, cabendo a cada um realizar bem a sua parte na apresentação de modo

a formar um todo coerente.

Esse ambiente de intensas interações e trocas de conhecimentos, que

marca a busca de construção coletiva e individual de novos saberes por meio da

pesquisa, compõem um elemento que se insere na pesquisaação, sendo um

processo defendido por Pedro Demo (2003, p. 28) ao asseverar acerca da

pesquisaprática: Pesquisa prática quer dizer olhos abertos para a realidade,

tomandoa como mestra de nossas concepções. Quem é inteligente sempre

aprende, porque está em atitude de pesquisa.

Para possibilitar que o aluno alcance esse patamar de atuar em estado de

pesquisa, a postura do professor frente a estes grupos que apresentarão seus temas

deve ser pautado primeiramente pelo diálogo, tendo o bom senso para não permitir

liberdades comuns entre os jovens, proporcionando que o trabalho não perca seu

caráter profissional. A proposição das temáticas a serem abordadas pelos grupos de

alunos geralmente fica sob a responsabilidade do professor. A partir de então, as

responsabilidades de semear conhecimentos passam para os alunos, momento em

que sai de cena o professor e assumem papel de destaque os dicentes. Desse

modo, interagindo em um ambiente propício à aprendizagem, os alunos podem mais

facilmente apropriar-se dos conhecimentos pertinentes aos tópicos investigados e

apresentados (VEIGA, 1991).

No final do seminário, após um amplo debate mediado pelo professor,

cabe ao mesmo uma exposição que preencha possíveis lacunas deixadas pelos

alunos. Com isso, a postura do professor em sala de aula não pode estar

impregnada de conceitos arcaicos, sobre o que Demo (1999), destaca:

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Professor é quem, tendo conquistado espaço acadêmico próprio através da

produção, tem condições e bagagem para transmitir via ensino. Não se

atribui a função de professor a alguém que não é basicamente pesquisador. [...] Desmistificar a pesquisa há de significar, então, a superação de

condições atuais da reprodução do discípulo comandadas por um professor

que nunca ultrapassou a condição de aluno. [...] degradante ainda é o

professor que nunca foi além da posição de discípulo, porque não sabe

elaborar ciência com as próprias mãos. Como caricatura parasitária que é,

reproduz isso no aluno [...] que domesticado para ouvir, copiar, fazer provas, e, sobretudo colar (DEMO, 1999, p. 15, p. 17).

Atento àquilo que compete ao professorpesquisador e procurando fugir

de posturas arcaicas, iniciamos a prática do seminário em sala de aula dividindo os

alunos em grupos, respeitando as afinidades já estabelecidas em sala, delegando a

cada grupo a incumbência de pesquisar um tema relacionado com as radiações. As

pesquisas deveriam ser apresentadas na forma de seminários, visando socializar o

conhecimento produzido para toda sala. Assim, os alunos passariam a ser

cooperadores ativos da pesquisa sobre produção de raios X e disseminadores das

informações obtidas. Os temas propostos aos grupos foram:

1) Espectro eletromagnético;

2) Descoberta dos raios X;

3) Radioterapia;

4) Radiação ultravioleta e sua interação com o corpo humano;

5) Fontes naturais de radiação.

A apresentação de seminário realizada por cada grupo foi registrada por

fotos como podemos constatar a seguir:

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Figura 5 - Apresentação do tema espectro eletromagnético.

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Figura 6 Apresentação do tema descoberta dos raios X.

Figura 6a Apresentação do tema descoberta dos raios X.

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Figura 7 Apresentação do tema radioterapia.

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Figura 8 Apresentação do tema radiação ultravioleta.

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Figura 9 - Apresentação do tema fontes naturais de radiações.

Na realização da pesquisa e elaboração do texto escrito, os alunos

utilizaram as duas primeiras semanas do mês de maio de 2007, sendo que a

apresentação dos seminários ocorreu ao longo de duas semanas, quando utilizamos

um total de três aulas semanais para abordar os conteúdos de Física propostos.

Paralelamente, procuramos dar continuidade no estudo da dilatação dos corpos e

calorimetria, sem prejuízo para o cronograma estabelecido pela escola, que cobra

dos professores o cumprimento do programa pré-estabelecido.

As pesquisas realizadas pelos alunos mostraram que todos os grupos

utilizaram os recursos da Internet, evidenciando que este é um recurso natural para

eles. As referências indicadas pelos alunos foram:

http://www.google.com.br

http://www.boasaude.uol.com.br

http://www.inca.gov.br

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http://www.xpnet.com.br

http://www.raiox.com

http://www.coladaweb.com

http://www.saudebrasilnet.com.br

http://www.wikipédia.com.br

Com respostas rápidas e disponíveis, a Internet revela-se como uma

fonte acessível para qualquer assunto e pode substituir a biblioteca tradicional,

muitas vezes ausente ou insuficiente nas escolas. Um aspecto a se destacar no

conjunto de respostas dos alunos é a quantidade de informação recebida por essa

geração por intermédio das NTIC (Novas Tecnologias de Informação e

Comunicação), constituindo fontes paralelas de educação, faltando para esta

geração orientações adequadas de como selecionar as informações relevantes que

propiciem uma formação pertinente.

Antes que os seminários fossem iniciados, o professorpesquisador

explanou sobre a importância da colaboração entre os integrantes de cada grupo e

que o momento a seguir seria de semearmos, compartilharmos e adquirirmos

conhecimentos novos uns com os outros. Portanto, a atenção e o comprometimento

em ouvirmos o que cada um tem a dizer eram elementos desejados e fundamentais

para o êxito de nossa proposta visando o aprimoramento de todos.

O primeiro grupo de alunos a se apresentar abordou o tema O

ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO. Um aluno do grupo iniciou mostrando uma foto

e dizendo que cada faixa do espectro correspondia a uma determinada faixa de

radiação. Coube a cada elemento do grupo falar sobre cada faixa, como onda de

rádio e TV, luz visível, Raios X, Ultravioleta, Micro-ondas, Infravermelho, raios gama

etc. Assim, o grupo apenas apresentou o espectro eletromagnético, subdividindo-o

em faixas.

Os alunos propiciaram uma oportunidade de aprender que, no espectro,

não há tipos de radiações; trata-se da mesma radiação, a Eletromagnética, com

bandas diferentes de freqüências.

Entre os alunos ouvintes, uma constatação aflorou quando foi associada a

radiação ultravioleta com o acidente ocorrido em uma clinica e que fora abordado no

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primeiro questionário. A dúvida neste instante dizia respeito como mudava de faixa,

ou seja, o que modificava ou havia de diferente de uma faixa para outra. Essa

dúvida era pertinente, pois o conteúdo programático da escola abordaria o tema

comprimento de ondas e freqüência no ano seguinte. O momento foi propício para

que o professor pudesse antecipadamente esclarecer os alunos acerca desses

conceitos e apresentar cada radiação como pertencente a uma mesma família, cujo

componente sangüíneo, por assim dizer, é a freqüência em hertz.

O segundo grupo envolveu-se com pesquisas sobre o tema A

DESCOBERTA DOS RAIOS X e apresentou o tema descrevendo a descoberta dos

raios X no tubo catódico por Röentgen. Em alguns momentos, foram feitas leituras

de trechos dos textos pesquisados com algumas dificuldades nas pronúncias dos

nomes estrangeiros, sendo preciso recorrer ao professor. Os integrantes do grupo

trouxeram radiografias de suas casas e apresentaram assuntos pitorescos

relacionados com raios X, apresentando ainda a foto da primeira imagem

diagnóstica, feita na mão da esposa de Röentgen.

O terceiro grupo apresentou o tema RADIOTERAPIA e trouxe como

novidade um cartaz confeccionado pelos alunos simulando o exame. Cada aluno leu

sobre como a radioterapia destrói tumores e discorreu sobre os efeitos colaterais e

reações adversas, como mal estar, vômitos. Na seqüência os alunos relataram sobre

as fontes de radiações, enfocando a utilização de urânio e sua aplicação, uma

bomba de cobalto e a produção de raios x.

Esse tema proporcionou complementação por parte de alunos ouvintes

quanto às reações adversas mencionadas, uma vez que o problema de vômitos

pode ser presenciado por um dos alunos com um de seus familiares.

O quarto grupo apresentou o tema RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E SUA

INTERAÇÃO COM O CORPO HUMANO, trazendo um cartaz onde apresentava a

Terra recebendo a radiação solar, além de fornecer informações sobre a radiação

UV. O grupo finalizou abordando a produção de UV artificial e sua característica de

deixar a pele morena, bem como o perigo de envelhecer e estimular o câncer de

pele. Assim, novamente, o tema sobre o acidente com radiação em uma clínica

médica retornou juntamente com a participação dos alunos ouvintes, ora indagando

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ora concluindo o porquê das queimaduras sofridas pela jovem senhora no

bronzeamento artificial.

O quinto e último tema focou as FONTES NATURAIS DE RADIAÇÕES e

nesse trabalho o texto foi escrito em cartazes que apresentaram esquemas

representativos de átomos emitindo radiação. Os membros do grupo relataram

sobre radioisótopos, salientando que os átomos com número atômico acima de 82

apresentam essa característica de emitir radiação naturalmente. Outra fonte de

radiação citada foi o urânio, sendo ainda apresentadas as radiações cósmicas

provenientes das estrelas.

Aproveitando a interdisciplinaridade proporcionada por este tema, como

os átomos e seus números atômicos, abordados normalmente na disciplina de

Química, a título de curiosidade, o professor-pesquisador falou a respeito de

alimentos que contém o potássio com número de massa 40, que por ser instável

emite radiação, que é o caso da banana e da castanha-do-Pará, espinafre, batata,

cenoura e leite. No organismo humano, o potássio desloca-se para os músculos

contribuindo na formação dos impulsos nervosos (OKUNO, 1998, p.28).

Após todos os grupos terem se apresentado o professorpesquisador fez

uma síntese de todos os temas explanados e agradeceu a cooperação e

comportamento de todos, informando que posteriormente esses temas seriam

novamente abordados. Esse retorno aos temas se daria por ocasião do desfecho da

pesquisa, quando então seria realizada a apresentação do pôster especificamente

elaborado para este fim, embora naquele momento esse fato tenha sido omitido,

pois o pôster entraria como um elemento didático de surpresa no momento oportuno.

3.3 Discutindo Ciência e método científico: ampliando a informação

Após as apresentações dos seminários conversamos e analisamos

conjuntamente essa etapa do trabalho e enveredamos pela discussão acerca do

tema Ciências e Método Científico. Uma vez que a seqüência de atividades didáticas

estava sendo produzida conjuntamente com os alunos em um processo de

construção coletiva, considerando e valorizando os materiais que eles traziam para

sala de aula, julgamos oportuno dar continuidade às atividades de pesquisa,

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incluindo elementos complementares. Para isto, buscamos orientar os alunos a

pesquisarem e trazerem textos escritos no início de junho, abordando temas como

Método Científico e Ciências.

Neste momento, procuramos destacar que a Ciência ainda tem muito a

descobrir, o que temos como verdade hoje pode mudar, pois paradigmas foram

mudados ao longo dos tempos e a Ciência continua em constante evolução, ora

validando conceitos ora mudando de paradigmas. Um exemplo típico ocorreu com a

Física no final do século XIX e início do século XX, quando surgiu a Física Moderna.

Cientistas de outras áreas contribuíram para o avanço da Física e físicos

contribuíram para o avanço de outras ciências, podendo ser citado o binômio de

Newton que contribuiu para o avanço da Matemática. Como elemento motivacional,

salientamos ainda que em qualquer carreira que os alunos seguirem eles poderão

contribuir para o avanço das ciências e citamos William Gilbert, médico de formação

que contribuiu para o avanço da Física (GUERRA; BRAGA; REIS, 2004).

Destacamos que o Método Científico também envolve a observação

sistemática do fenômeno, o que demanda uma certa dose de curiosidade sobre

este. Em relação ao envolvimento dos estudantes, esta curiosidade pode ser

despertada por meio de uma notícia veiculada na mídia ou mesmo trabalhada em

uma disciplina escolar.

As buscas por explicações podem durar anos e nesses anos os cientistas

lêem artigos, fazem experimentos, relacionam os resultados de suas pesquisas com

os resultados produzidos por outros cientistas que trabalham em áreas semelhantes,

além de fazerem inúmeras observações e anotações.

Como o próprio nome diz, Ciência significa conhecimento, novas

descobertas e essas novas descobertas, que podem ser no campo teórico ou

experimental, terão de ser submetidas à apreciação de outros cientistas, pois em

princípio qualquer pessoa pode formular uma explicação para um fenômeno físico

(SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Por passar por esses critérios e processos rigorosos que os resultados

científicos possuem grande credibilidade, pois se tal fenômeno ou resultado não for

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comprovado, no sentido de ser consistente com as previsões dos modelos que lhe

dão suporte, não passará de mera especulação (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Assim, o Método Científico segue uma metodologia que envolve muitas

vezes uma observação de um fenômeno natural e tenta detectar suas regularidades,

expressas por meio de gráficos ou simbologia matemática ou verbalmente,

geralmente tendo-se por base um arcabouço teórico que dá suporte para as

investigações. Buscase, neste processo, elaborar propostas de explicação,

formulamse hipóteses, comprovamse por meio de experiências que podem fazer

uso de artefatos tecnológicos disponíveis úteis para ajudar na comprovação de tais

hipóteses. Enquanto a tecnologia tem como etimologia arte ou habilidade a Ciência

procura as regularidades da natureza para formular as suas leis. Por outro lado, a

tecnologia utiliza esses conhecimentos para criar ou construir novos aparelhos

capazes de servir ao mundo, constituindo um processo com características

intrínsecas, podendo empregar procedimentos próprios de desenvolvimento, não

constituindo mera aplicação de conhecimentos científicos (SILVA; PINTO; LEITE,

2000).

Assim, orientamos os alunos a realizarem novas pesquisas objetivando a

elaboração de uma síntese sobre o que é o Método Científico, sendo que o material

produzido pelos estudantes foi recolhido e analisado para, em uma aula posterior,

iniciarmos um diálogo em que salientamos a importância do cientista, de seus

métodos e hipóteses de trabalho para analisar um fenômeno. Nesta etapa,

explanamos pela primeira vez sobre a produção de raios X em uma unidade

hospitalar, abordando ainda a radioproteção e a radiografia, abrindo caminho para

as etapas seguintes da intervenção.

Neste momento da pesquisa, constatamos dois aspectos previstos na

TAS, ou seja, a aprendizagem por descoberta, quando o aluno buscou por meio de

pesquisas obter as informações necessárias, e a aprendizagem por recepção,

quando então coube ao professor discorrer sobre alguns conceitos e informações

importantes. Nas escolas normalmente predomina a aprendizagem por recepção,

processo criticado pelos defensores da aprendizagem por descoberta. Segundo

Ausubel, a aprendizagem por descoberta pode ser adequada a certas finalidades,

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como aprendizagem de procedimentos científicos para aquisição de grandes corpos

de conhecimentos, como estimulado nesta pesquisa (MOREIRA, 2006).

Por não ser uma atividade obrigatória, pois também queríamos avaliar o

interesse espontâneo dos estudantes, verificamos que dezoito alunos trouxeram

suas pesquisas, dentre os trinta alunos da classe, entre eles três trabalhos em

manuscritos em folha de papel almaço, evidenciando que nem todos dispunham ou

puderam acessar a um computador ou preferiram escrever.

A Ciência na sua heurística não se resume em apenas catalogar os fatos,

pois antes de catalogar, ela trilha por um caminho que a conduz ao desenvolvimento

satisfatório de uma teoria, cujas implicações podem inclusive beneficiar a

humanidade, ou contrariamente, serem mal empregadas, ocasionando malefícios à

humanidade. O percurso da Ciência na busca de produzir e consolidar novos

conhecimentos, não é linear, envolve tentativas e erros, avanços e retrocessos,

empregando ferramentas e procedimentos que funcionam bem em alguns

momentos, mas que se mostram inadequados ou insuficientes em outros.

As experiências vividas e os conhecimentos gerados pelos cientistas são

posteriormente publicados em veículos próprios de disseminação, servindo de base

para outros cientistas darem prosseguimento ou mesmo proporem reformulações da

nova teoria. Este aspecto caracteriza a Ciência e seu método de trabalho como uma

construção humana que não se apóia em um conjunto de métodos pré-determinados

a serem seguidos, como uma receita que garanta resultados (SILVA; PINTO; LEITE,

2000).

O que é crucial na verdadeira ciência é o fato de envolver a descoberta de

princípios que subjazem e conectam os fenômenos naturais. A visão do mundo de

povos indígenas não europeus, como a astronomia maia, e a acupuntura chinesa

não alcançaram tal precisão, como foi possível, por exemplo, no sistema ptolemaico

de epiciclos, que atingiu uma precisão razoável ao descrever o movimento dos

corpos celestes, embora não houvesse qualquer teoria propriamente dita subjacente

ao sistema (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

A mecânica newtoniana, pelo contrário, não apenas descrevia os

movimentos dos planetas de modo mais simples, como também conectava o

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movimento da Lua com a queda dos objetos nas proximidades da superfície da

Terra. Este aspecto faz parte da verdadeira ciência, pois revela novos aspectos e

elementos da realidade, ampliando nosso conhecimento. Muitas pessoas

tropeçaram no fato de que certas coisas funcionam, mas a verdadeira ciência

consiste em saber porque razão as coisas funcionam (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Por ocasião desta discussão, buscamos direcionar a atenção para o tema

central desta pesquisa, que é a produção e utilização de raios X. Inicialmente

empregamos aula expositiva para apresentar tópicos do funcionamento dos raios X,

embora invisível a olho nu é extremamente eficaz, pois, a sua interação, com o

corpo humano, resulta em partes claras e escuras na radiografia. Assim,

propiciamos um momento de reflexão e direcionamento proposital de tudo que

fizemos até o momento para o foco da pesquisa, ou seja, a produção de raios X e a

radioproteção em uma unidade hospitalar. Naturalmente, o processo de ensinar

também deve ser marcado pela intencionalidade na busca de concretizar alguns

objetivos educacionais.

Alguns alunos efetuaram anotações sobre o que estava sendo explanado

envolvendo o tema Método Científico em seus cadernos, momento registrado nas

figuras 10 e 11.

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Figura 10 Anotações dos alunos: método científico.

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Figura 11 Anotações dos alunos: explanação produção de raios X.

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No término da explanação uma aluna que não realizou anotações e

percebeu que seus colegas as estavam fazendo e demonstravam interesse por meio

de perguntas, questionou se tal tema iria cair na prova. Na fala da aluna

observamos que alguns alunos mantiveram-se presos a posturas antigas, tendo

como preocupação apenas as avaliações e seus resultados numéricos, sem se

preocuparem com a aprendizagem que estávamos buscando promover.

Por outro lado, constatamos um satisfatório grau de empatia e interação

entre os alunos e o professor, pelo fato das orientações sobre pesquisa e os

esclarecimentos de dúvidas gerarem maior proximidade no relacionamento, que foi

sempre respeitoso e profissional, permitindo maior liberdade para os alunos

opinarem. A descontração em diferentes momentos também fez parte dessa

interação, pois entendemos que o caráter afetivo do processo de interação deve ser

estimulado, como forma de aproximar os alunos e estabelecer uma ponte de contato

mais eficiente com o educador.

3.4 Material didático da escola utilizado durante o processo de intervenção

Além de novos recursos, materiais e fontes de informação, procuramos

estabelecer uma conexão do que estava sendo abordado com o material didático

apostilado utilizado pelos alunos, o qual incluía o tema Óptica Geométrica,

fornecendo uma abordagem histórica sobre a busca dos cientistas para definir o que

é a luz. Esta abordagem teve início na Grécia Antiga, passando pela contribuição

dos Árabes e a explicação de partículas, a formação do arcoíris por Descartes. Na

medida em que muitos fenômenos envolvendo a luz não podiam ser explicados

adequadamente, cientistas como Huyghens, Young e Maxwell, lançaram novas

idéias sobre a natureza da luz (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Como a luz visível e os raios X fazem parte do espectro eletromagnético,

procuramos a partir das discussões realizadas em sala de aula e apoiadas nos

resultados de pesquisas efetuadas pelos alunos nas etapas anteriores, elaborar um

diagrama temporal no quadro negro. Neste diagrama, colocamos, desde a Grécia

Antiga até a atual concepção da dualidade onda-partícula, os nomes de cada

cientista e sua contribuição para a explicação da luz. Assim, resumidamente os

alunos buscaram informações sobre cada nome disposto no diagrama temporal.

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Desse modo, fez parte deste diagrama os pitagóricos e atomistas, os árabes, Isaac

Newton, Rutherford e Albert Einsten, Christian Huyghens, James C. Maxwell, Hertz e

Röentgen. No último balão deixamos propositalmente uma frase que deveria ser

completada após a entrega da pesquisa, que dizia: Definição de luz hoje é ....

O objetivo do diagrama temporal era deixar os alunos envolvidos com o

tema luz, pois queríamos chamar a atenção para o tema dualidade da luz, por tal

motivo o diagrama temporal não contempla todos os cientistas que contribuíram para

explicar a luz, por exemplo Planck, e contém Rutherford- Bohr que trata

especificamente de sua contribuição sobre átomos.

Em setembro, o material didático dos alunos tratava do tema Óptica

Geométrica, o que permitiu estabelecer uma conexão com o tema da pesquisa, de

modo que iniciamos a abordagem do Espectro Eletromagnético, discutindo

amplamente sobre a natureza dual da luz. Salientando novamente que a Física é

uma construção humana e que ao longo dos anos a tecnologia trouxe melhorias e

comodidade para o ser humano. Enfatizamos também que em algumas situações

ocorrem prejuízos sociais e ambientais, de modo que é importante que cada cidadão

saiba se posicionar sobre as questões tecnológicas e científicas, possibilitando

perceberem a importância da aprendizagem de conceitos científicos para a sua

formação e atuação cidadã (KRASILCHIK, 2007).

O material didático utilizado diariamente pelos alunos é baseado no

sistema apostilado Positivo, que, por decisão da mantenedora da escola e

consentimentos dos professores, é utilizado como material de apoio didático.

Geralmente, fica a cargo da Instituição elaborar o Currículo de cada disciplina,

voltado para as questões sociais e humanas, que contemple a formação do aluno

para a vida e também para o vestibular.

As apostilas apresentam o conteúdo programático definido e cabe a cada

professor seguir e acrescentar alguns tópicos quando julgar necessário, o que

naturalmente foi feito por nós, na medida em que tínhamos a intenção de

desenvolver a pesquisa de intervenção introduzindo a temática da radiação e seus

efeitos biológicos. Por ser um material que acarreta um significativo valor monetário

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aos alunos, é imprescindível ao professor utilizar a apostila, atendendo assim aos

interesses da escola ao mesmo tempo em que a pesquisa pôde ser realizada.

Na disciplina de Física, consideramos que o material apostilado apresenta

características satisfatórias, sendo capaz de atender a algumas orientações dos

PCN, pois além de atender a questões presentes nos vestibulares, também traz

abordagens históricas e curiosidades sobre temas da Física e seus criadores,

mostrando o lado humano inerente à construção do conhecimento. A habilidade do

professor em abordar os conteúdos da apostila com ensinamentos claros é um fator

que agrada os estudantes, sendo esse parâmetro avaliado por eles em relação à

atuação dos professores.

As apostilas vêm com o conteúdo programático anual e para o segundo

ano do Ensino Médio de Física é contemplado o tópico Óptica Geométrica.

Assim, para o terceiro bimestre o material didático previa o tema Óptica

Geométrica e na introdução do texto da apostila foram apresentadas as primeiras

preocupações dos cientistas em definir o que é luz, desde a Grécia Antiga até

Newton, conforme trecho que transcrevemos a seguir:

Estamos iniciando, neste momento, o estudo da óptica, isto é, o estudo da

luz e dos fenômenos luminosos em geral. Este assunto tem fascinado as

pessoas desde a Antiguidade por que, dos nossos sentidos, a visão é o que mais colabora para conhecermos o mundo que nos rodeia. Talvez seja por esse motivo que os antigos filósofos gregos já se preocupavam em

responder a várias perguntas, tais como: Por que vemos um objeto? O que

é luz? Em primeiro lugar, você sabe o que é luz? Dependendo do contexto essa pergunta pode ser respondida de muitas formas diferentes. Então utilize um

dicionário e pesquise os significados da palavra luz. Anote-os em seu caderno e discutaos com o seu professor. Como é possível observar através dos diversos significados da luz, quase todos os acontecimentos que nos cercam estão, de certa forma,

relacionados à luz. Por esse motivo, ela se tornou um dos principais objetos

da investigação científica ao longo dos tempos. Uma das explicações mais antigas para o que seja luz é a da escola

atomista da Grécia Antiga. Os atomistas gregos eram filósofos que

tentavam explicar todos os fenômenos do mundo por meio de pequenas

partículas que não podiam ser divididas, chamadas de átomos. Dentro dessa concepção dos atomistas, a luz seria formada de partículas

muito pequenas (idênticas ao objeto, mas com tamanho reduzido), que se

desprendiam da superfície dos objetos em todas as direções, penetrando

nos olhos e possibilitando a visão. Uma outra maneira de explicar o que seja a luz foi proposta pelos pitagóricos. Eles também eram filósofos gregos e tentavam explicar todos

os fenômenos por meio de investigações matemáticas. Eles afirmavam que

todas as coisas são números.

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Segundo os pitagóricos, existiria em cada pessoa um fogo interior que emitiria, através dos olhos, raios luminosos chamados quid, indo em linha

reta até o objeto e retornando novamente aos olhos causando o efeito

visão. A idéia que a ciência tem hoje de o que seja luz nasceu provavelmente no

mundo islâmico, com o estudo feito por alguns filósofos árabes, entre eles

Al-Kindi e Ibn-al-Haitiam, que também é conhecido como Al-hazen. Eles perceberam que os olhos enxergam os objetos de forma diferente dependendo da luz que ilumina, contrariando a idéia dos atomistas gregos. Notaram também que o olho é ofuscado pela luz do Sol, o que era

incompatível com a idéia de quid dos pitagóricos. Concluíram que a luz tinha

uma existência própria e que sua origem não se dava nem no objeto nem

no olho humano. A luz seria formada por raios que viriam de uma fonte luminosa, atingiriam os objetos e seriam desviados em todas as direções,

sendo então percebidos pelos olhos de um observador. Retomando essa idéia dos filósofos árabes, Isaac Newton (16421727), ao estudar alguns fenômenos relacionados à luz e, principalmente, ao tentar

explicar as cores, desenvolveu a teoria de que a luz seria composta por partículas muito pequenas, tão sutis que não poderiam ser observadas

individualmente, batizando-as de corpúsculos de luz. Newton realizou experiências com um prisma óptico e ele observou que a

luz, ao passar pelo prisma, era decomposta em diversas cores. Utilizando a idéia de corpúsculo de luz, Newton supôs que a luz branca do

Sol seria composta de diferentes corpúsculos das diferentes cores e, ao passar pelo prisma, os diferentes corpúsculos sentiriam a ação de forças

diferenciadas, sendo desviados de sua trajetória retilínea. Esse conjunto de cores é o que chamamos de espectro da luz visível. Ele é

capaz de impressionar nossa retina. A teoria de Newton de que a luz seria uma substância constituída de corpúsculos de diferentes formas e

tamanhos, correspondendo às diferentes cores, explicava também como

ocorriam as cores emitidas pelos objetos e por que essas cores mudavam dependendo da luz incidente. Entretanto, toda essa evolução sobre o conceito de luz não explicava ainda

um grande número de fenômenos que ocorrem na natureza. Assim, outros

físicos notáveis, como Huyghens, Young e Maxwell, procuravam modificar o

conceito de luz lançando novas idéias sobre a sua natureza. Nesse momento, interessa-nos estudar os fenômenos associados à luz e à

visão, que podem ser analisados com base nos princípios tirados

diretamente da observação desses fenômenos, sem a necessidade de que

se conheça a real natureza da luz, o que faremos em outro momento dos nossos estudos. A parte da óptica que vamos estudar neste momento é

conhecida como Óptica Geométrica 1

Uma vez que os alunos só retornarão a este tópico nas últimas páginas

do material didático no terceiro ano, sob o tema Dualidade PartículaOnda, de Física

Moderna, consideramos este momento propício para introduzir discussões acerca da

natureza da luz. Para isto, utilizamos uma estratégia de ensino baseada no mapa

conceitual, preceituada por Novak, coautor de Ausubel na teoria da aprendizagem

significativa (MOREIRA, 1982, 2006). O mapa conceitual permite organizar

1 Material didático do aluno: apostila Positivo 2007, p. 20, 2º ano EM.

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hierarquicamente as relações entre conceitos que estão sendo ensinados mediante

a explicação do professor, que guia o aluno pelo mapa didaticamente.

Em suma, mapas conceituais nas considerações de Moreira (2006) são:

[...]diagramas que indicam relações entre conceitos. Mais especificamente,

podem ser interpretados como diagramas hierárquicos que procuram refletir

a organização conceitual de uma disciplina ou parte dela. Ou seja, sua existência deriva da estrutura disciplinar ou de um corpo de conhecimentos (MOREIRA, 2006, p. 45).

Os nomes dos cientistas que contribuíram para a explicação do fenômeno

da luz e que foram apontados pelo material didático dos alunos foram acrescidos de

outros, permitindo chegar à concepção de luz dos dias atuais. Todos os nomes e

conceitos propostos foram dispostos no mapa conceitual representado no quadro

negro. Os alunos tiveram como incumbência pesquisar a contribuição de cada

cientista, para que em uma aula posterior pudéssemos complementar a definição

atual do que é luz.

O objetivo de insistir neste tópico é que a luz faz parte do espectro

eletromagnético, que compreende a radiação ionizante X, que é o objeto do nosso

estudo. Cabe ressaltar que o tema luz é algo muito difundido na mídia, no cotidiano

do aluno e até mesmo em meios religiosos, onde a luz apresenta conotações

diferentes da utilizada na Física, como em frases como eu sou a luz do mundo

(SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Mesmo no campo da Física, ouvimos algumas inadequações relacionadas

com o conceito de luz, como na expressão acabou a luz quando o correto seria

dizer acabou a energia elétrica. No cotidiano temos a luz do Sol, das lâmpadas e, na

Biologia, observamos o fenômeno da fotossíntese, em que a luz é o principal

elemento que contribui para que os vegetais verdes possam produzir seus

alimentos. Analisando uma seqüência, seguindo a cadeia alimentar, os demais

animais se alimentam desses vegetais e outros animais desses animais, permitindo

concluir que todo alimento e energia que consumimos, de alguma maneira, é

proveniente da luz do Sol (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

O mapa conceitual elaborado pelo professorpesquisador ficou disposto

no quadro negro conforme ilustra a figura 12. Nas figuras 13 e 14 são mostrados

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mapas conceituais entregues por alunos, que retratam a contribuição dos diferentes

cientistas para a explicação da natureza da luz, até chegar na concepção dos dias

atuais, em que a luz é considerada como tendo natureza corpuscular e ondulatória,

comportando-se, dependendo do experimento, como partícula ou como onda,

conforme prevê o Princípio de Complementaridade de Niels Bohr (SILVA; PINTO;

LEITE, 2000).

A seguir, apresentamos os mapas conceituais elaborados em sala de aula

pelo professor e em consultas por alunos fora do ambiente escolar, pois o objetivo

era apresentar, numa aula expositiva, os avanços e conclusões ao buscar e produzir

conhecimentos sobre a natureza da luz.

Considerando ainda, que o diagrama temporal, novidade até então para

os alunos secundarista, poderia ser utilizado como ferramenta de estudo em outras

matérias pelo seu alto grau de síntese.

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Figura 12 Mapa conceitual elaborado com a orientação do professor.

LUZ

Grécia Antiga

Atomista

Árabes

Christian Huygens

Newton

Átomo de Bohr

James Maxwell

Albert Einsten

Hertz

Pitagóricos

Wilhelm Roentgen

Hoje, (2007) a definição de luz é...(aula expositiva)

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Figura 13 Mapa conceitual da aluna C.

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Figura 14 Mapa conceitual da aluna L.

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Figura 14a Mapa conceitual da aluna L.

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Figura 14b Mapa conceitual da aluna L.

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Figura 14c Mapa conceitual da aluna L.

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4 UTILIZAÇÃO DO PÔSTER SOBRE PRODUÇÃO DE RAIOS X

Ao analisar o trabalho de Ostermann e Cavalcanti (2001, p. 14), com o

título Um pôster para ensinar Física de Partículas na escola, avaliamos quão

oportuno é construir um material didático semelhante abordando aspectos da

produção de raios X, pois este recurso didático seria útil e adequado para o

desenvolvimento deste projeto voltado para a inserção de tópicos de Física Moderna

no EM.

O objetivo da elaboração deste material didático é que o mesmo

trouxesse inovações para a sala de aula, pois a idéia do pôster como organizador de

conhecimentos seria inovador e surpreendente para os alunos, sendo naturalmente

impactante, fato comprovado posteriormente pela reação favorável da classe no

momento da apresentação do pôster.

Assim, após os alunos terem efetuado pesquisas nos seus respectivos

grupos de estudo, tendo apresentado os seminários na sala e acompanhado as

explanações e debates sobre os raios X, sobre o Método Científico e a produção da

luz, os mesmos poderiam contar com mais um recurso relevante. O pôster apresenta

de maneira objetiva, novas informações que podem ser relacionadas com os demais

conteúdos já abordados durante o ano, além de contemplar uma atrativa resposta

visual. Além disso, cremos que com os conhecimentos previamente adquiridos, as

novas informações seriam potencialmente significativas para ampliar a

aprendizagem (MOREIRA, 2006).

Desse modo, na continuidade do processo de intervenção, expomos para

os alunos um recurso didático especificamente elaborado para este trabalho, ou

seja, um pôster de 90 cm de largura e 150 cm de comprimento, mostrado na figura

1, que permitiu abordar diferentes conceitos relacionados com a produção de raios

X, complementando nossa abordagem.

Destacamos, por meio do material, que o elétron, ao receber energia,

salta para um nível energético maior, absorvendo um fóton de luz e ao retornar para

um nível de menor energia, ocorre emissão de um fóton de luz, capaz de estimular

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nosso órgão visual. Sob certas circunstâncias e com o uso de equipamentos

adequados, salientamos que é possível produzirmos uma amplificação da luz,

conhecida como laser (FELTRE, 1997).

Para ilustrar a produção da luz visível discutimos sobre as barras

metálicas aquecidas, relacionando com o filamento da lâmpada de tungstênio, e

discutimos novamente sobre o espectro eletromagnético (SILVA; PINTO; LEITE,

2000).

Com relação à formação dos raios X, procuramos salientar que os

elétrons, ao sofrerem desvio em sua trajetória em uma colisão com um alvo, sofrem

uma desaceleração que ocasiona a produção desse tipo de radiação. Deste modo,

procuramos abordar aspectos relacionados com a ampola de raios X e a liberação

dos elétrons do catodo, a viagem dos elétrons até o alvo e a produção de raios X,

bem como o esboço de uma pessoa sendo radiografada, a dose de radiação

permitida para os trabalhadores em unidades hospitalares e o público em geral.

Finalmente, destacamos os filmes utilizados para radiografia e detalhes do painel de

controle onde o Técnico de raios X ajusta as grandezas mAs (miliampere vezes

segundo), relacionada com a concentração dos elétrons no catodo e kV

(quilovoltagem), responsável pela diferença de potencial que faz os elétrons serem

acelerados até o anodo e produzir os raios X (NÓBREGA, 2006).

Buscamos destacar a radiografia das mãos e uma figura representativa

do DNA, que pode sofrer mutações ao ser atravessado por raios X, bem como uma

foto de uma pessoa radiografando a coluna vertebral (SILVA; PINTO; LEITE, 2000).

Na parte de proteção radiológica, destacamos os equipamentos

revestidos de chumbo (NÓBREGA, 2006), substância capaz de absorver esse tipo

de radiação, além dos equipamentos de medição dos raios X.

Durante o processo de interação com os alunos explicamos passo a

passo a produção de raios X em uma unidade hospitalar, o trabalho do técnico de

raios X, os meios de proteção e os danos que a radiação pode causar nas células.

As perguntas feitas pelos alunos, entre as quais, se alguém com aparelho

metálico poderia submeter-se à radiação X, foram prontamente esclarecidas, pois é

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no exame de ressonância magnética que não pode ser feito por pessoas portando

objetos metálicos devido o magnetismo,no caso dos raios X, os objetos metálicos

implicariam em interação com o metal e resultando em partes claras no filme. Cabe

destacar que, neste momento, um aluno se lembrou da mão da esposa de Röentgen

ao deixarse radiografar e no filme apareceu a aliança, nas partes claras.

Neste sentido, ao empregar o pôster, alguns conceitos complementares

envolvendo raios X e radioproteção afloravam naturalmente ao serem apresentadas

em sala de aula fotos nele contida, dispostas segundo um encadeamento lógico que

tornou o material potencialmente significativo para a aprendizagem.

Desse modo, o pôster com as suas fotos e imagens explicavam

claramente por meio de um encadeamento lógico, os conceitos relacionados com a

produção de raios X, potencializando naturalmente a aprendizagem e tornando a

aula mais prazerosa e envolvente.

Alguns livros e revistas que tratavam do assunto radiações ionizantes

foram previamente pesquisados e separados, sendo selecionadas algumas fotos

cuja distribuição permitiu formar uma construção visual adequada do tema no pôster.

As imagens foram dispostas no pôster de forma a causar um impacto imediato

interessante, chamando a atenção dos jovens do EM envolvidos nesta pesquisa.

Assim, as fotos cumpriram seu papel de serem o chamariz, favorecendo a interação

com os estudantes, indicando que esse material didático foi bastante adequado para

nossos propósitos educativos.

Para confeccionar o pôster, uma empresa especializada foi contatada,

juntamente com técnicos em computação. Discutimos a melhor maneira de dispor as

imagens. O técnico em computação deu seu parecer técnico. Por sua vez, o

professorpesquisador apresentou outro ponto de vista, considerando a apropriação

de conhecimentos que o material deveria proporcionar, elencando o lado didático da

distribuição das fotos.

Ostermann e Cavalcanti (2001, p. 13) afirmam que há grande escassez

de material didático sobre temas de Física Moderna e Contemporânea,

principalmente escrito em língua portuguesa, embora o tema radiação x esteja

presente em livros didáticos, como de Máximo e Alvarenga (1997, p. 625), Carron e

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Guimarães (1999, p. 246), Sampaio e Calçada (2003, p. 387), entre outros que

retratam sua produção de maneira sucinta, sendo que algumas obras abordam

esses temas em apenas metade de uma página. Existem ainda alguns livros

especializados, tendo em vista que temos vários cursos técnicos em radiologia por

todo o Brasil.

O pôster de tamanho 90 cm de largura por 150 cm de comprimento ficou

disposto graficamente conforme a figura 16 a seguir.

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Figura 15 Material didático em pôster.

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4.1 Detalhamento das informações contidas no pôster

O primeiro símbolo que aparece no pôster, ao lado do título, é o trifólio,

que sinaliza um local onde pode haver radiações ou material radioativo.

A seguir, o Trifólio atualizado com as novas cores recomendado pela

Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e sinalização em locais com

radiações.

Figura 16 Trifólio

Fonte: Feltre, 1997.

Figura 16a - Sinalização em locais com radiações ionizantes.

Fonte: CNEN, 2007.

Na parte superior à esquerda temos a representação de um átomo onde

um elétron, ao receber energia salta, de uma camada energética para outra mais

energética e quando retorna para a camada energética de origem o átomo emite

fótons de luz.

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Figura 17 Emissão de fótons de luz

Fonte: Feltre, 1997.

Sob condições bastante adequadas é possível estimular a emissão de

fótons em um processo de amplificação da luz denominado LASER (Amplificação da

Luz por Emissão Estimulada de Radiação). (CAVALCANTE; BENEDETTO, 1999;

VALADARES; MOREIRA, 1998).

A seguir, são mostradas barras de ferro a altas temperaturas emitindo luz

por meio do fenômeno atômico que envolve a transição de elétrons entre diferentes

níveis quânticos propiciada pela energia térmica.

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Figura 18 Barras metálicas aquecidas emitindo luz.

Fonte: Silva; Pinto; Leite, 2000.

Ao lado esquerdo das barras metálicas, temos o Espectro

Eletromagnético ilustrando que, para cada freqüência, associa-se um tipo diferente

de radiação, com seu respectivo comprimento de onda, que no caso da porção

visível do espectro corresponde a uma determinada cor.

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Figura 19 Espectro eletromagnético e algumas aplicações.

Fonte: Silva; Pinto; Leite, 2000.

A figura abaixo mostra uma ampola de raios X, onde é gerada a radiação,

mostrando ainda algumas ligações elétricas compondo um aparato tecnológico que

propicia a produção de raios X e sua utilização para diagnóstico médico .

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Figura 20 Painel de controle do aparelho de raios X.

Fonte: Nóbrega, 2006.

Na ampola de raios X, quando o técnico de radiologia médica ajusta o

medidor na escala mAs (Miliamperes vezes segundo) os elétrons concentram-se no

filamento, pois ocorre um aquecimento decorrente da passagem da corrente elétrica.

Ao ajustar o kV (quilovoltagem), estabelece-se uma diferença de potencial que

obriga os elétrons a se deslocarem do filamento, que é o catodo ao anodo, que é o

alvo,em alta velocidade.

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No alvo, objeto constituído por tungstênio, esses elétrons desaceleram

bruscamente (freamento ou bremsstrahlung) sem atingir o núcleo do átomo do alvo,

pelo fato de se desviarem. A diferença entre a energia cinética do elétron antes e

depois da desaceleração é emitida na forma de raios X e calor (NÓBREGA, 2006).

Quando o elétron é pouco desacelerado a energia do raios X e baixa,

nesse caso os ajustes de kV e mAs efetuado pelo técnico de radiologia está voltado

para radiografia de tecidos moles do corpo humano como músculos, gorduras,

etc.Para radiografias em partes do corpo humano que contenha tecidos com ossos,

necessita ajustar o kV e mAs, para que a desaceleração seja alta resultando em

raios X com maiores energias (NÓBREGA, 2006).

Há situações em que o elétron proveniente do catodo ao atingir o anodo

que é o alvo interage com os elétrons orbitais dos átomos do alvo e ocorrer a

excitação desse átomo ou ionização. Na excitação há transferência de energia entre

os elétrons e o elétron orbital salta para um nível energético mais externo sem se

desprender do átomo-alvo, ocorre, então, um rearranjo com a emissão de um fóton

de raios X.

A seguir há a ilustração das partes componentes de uma ampola de raios

X .

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Figura 21 Ampola de produção de raios X.

Fonte: Nóbrega, 2006.

Quando os elétrons colidem com o disco do anodo, ocorre um freamento

brusco (bremsstrahlung) que origina a produção dos raios X. A figura abaixo ilustra

no mundo microscópico dos átomos a formação dos raios X.

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Figura 22 Colisão de elétron com os átomos do anodo e a produção dos

raios X. Fonte: Nóbrega, 2006.

A figura a seguir apresenta a radiação X em pleno uso, caracterizando

que o feixe útil da radiação é o que permite radiografar o tecido humano.

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Figura 23 Feixe útil de raios X para diagnóstico e radiação de fuga.

Fonte: Nóbrega, 2006.

Na foto a seguir, temos o cabeçote do aparelho de raios X, onde a

ampola está inserida. Assim, apresentamos o aparato tecnológico completo capaz

de propiciar o diagnóstico médico baseado nos raios X, amplamente empregado em

clínicas e hospitais, devendo os parâmetros físicos envolvidos serem ajustados

adequadamente pelo técnico que opera os equipamentos.

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Figura 24 Artefato tecnológico: cabeçote do aparelho de raios X.

Fonte: Nóbrega, 2006.

A figura 25 mostra o momento em que a pessoa está sendo radiografada,

bem como seu posicionamento sobre a maca e a gaveta onde ficam os filmes que

posteriormente serão revelados e mostrarão a imagem dos órgãos internos do

paciente.

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Figura 25 Geração de imagem por raios X.

Fonte: Nóbrega, 2006.

A seguir apresentamos os filmes que propiciam a formação da imagem,

para fim diagnóstico. A associação da dosagem dos raios X, por meio do

acionamento mAs e Kv, proporciona uma imagem nítida no filme.

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Figura 26 Filmes utilizados na radiografia.

Fonte: Nóbrega, 2006.

A foto da figura 27 mostra a radiografia pronta, onde as partes claras são

representadas e produzidas pela interação dos raios X com os ossos, que contém

grande quantidade do elemento químico Cálcio, que por apresentar seção de

choque alta para a interação com os raios X atenua-se a passagem, resultando no

contraste observado na figura abaixo.

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Figura 27 Radiografia das mãos.

Fonte: Silva; Pinto; Leite, 2000.

A foto a seguir mostra o ambiente de uma unidade hospitalar no

momento da radiografia .

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Figura 28 Unidade hospitalar no momento de uma radiografia.

Fonte: Silva; Pinto; Leite, 2000.

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Figura 29 Radiografia da coluna vertebral.

Fonte: Silva; Pinto; Leite, 2000.

Quando a radiação X incide sobre uma célula envolvida no processo de

reprodução humana pode ocasionar mutações capazes de prejudicar gerações

futuras do indivíduo. Por isso, é muito importante obedecer aos critérios de

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segurança envolvidos na utilização de radiações ionizantes em diagnósticos

médicos, incluindo os raios X.

A figura a seguir é uma representação do DNA submetido à radiações.

Figura 30 Representação da estrutura do DNA submetido aos raios X.

Fonte: Silva; Pinto; Leite, 2000.

Para proteger as células contra a incidência da radiação ionizante,

equipamentos de segurança revestidos com a substância química chumbo são

utilizados para atenuar a passagem dos raios X, constituindo em proteção

radiológica. A foto a seguir mostra estes equipamentos de segurança, que são

compostos por aventais, óculos, e protetores de tireóides.

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Figura 31 - Equipamentos de proteção radiológica.

Fonte: Nóbrega, 2006.

Aparelhos construídos para medirem a dose de radiação em ambientes

onde estão presentes materiais ou equipamentos radioativos são conhecidos por

dosímetro, sendo mostrado abaixo um que possui formato de uma caneta, colocado

no avental plumbífero do técnico de radiação e o aparelho Geiger-Muller, medindo

possível radiação proveniente do rapaz que sofreu contaminação, são apresentados,

respectivamente, nas figuras 32 e 33, a seguir.

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Figura 32 Dosímetro.

Fonte: Feltre, 1997.

Figura 33 - Aparelho GeigerMüller.

Fonte: Feltre, 1997.

4.2 Análise da exposição do pôster em sala de aula

O pôster foi fixado em frente ao quadro negro e cada uma de suas figuras

foi devidamente explicada, estabelecendo-se a sua relação com a produção de raios

X ou aspectos de sua aplicação, bem como da radioproteção. Na explanação

relembramos a natureza da luz e a produção do laser, enfatizamos o espectro

eletromagnético, orientando que o aumento da freqüência nos conduz a

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determinados tipos de radiação, sendo as mais energéticas e ionizantes os raios X e

gama.

Abordamos ainda as microondas, o funcionamento do rádio, televisão,

telefone celular, destacando que a radiação infravermelha corresponde às ondas de

calor, enquanto que a radiação ultravioleta é capaz de produzir o bronzeamento da

pele e estimular a produção de vitamina D no organismo, finalizando a estreita faixa

de luz que estimula os órgãos visuais.

Vale ressaltar que a radiação ultravioleta (UV), utilizado em clínicas para

bronzeamento artificial, é comumente proveniente de lâmpadas fluorescentes de

mercúrio com vidro de quartzo revestido internamente por fósforo que emite radiação

UV na faixa RUVB( Radiação Ultravioleta B) e RUBA ( Radiação Ultravioleta A).

A radiação UVB é a que causa o câncer de pele, Por tais motivos as

recomendações internacionais são contra o bronzeamento artificial, mas por

questões estéticas as pessoas se submetem às radiações UV. Cabe regular e dar

ciência a essas pessoas que a radiação UV causam envelhecimento precoce e

câncer de pele (OKUNO; VILELA, 2005).

Detivemo-nos por mais tempo abordando a produção dos raios X, desde o

momento em que o técnico aciona o mAs (miliamperes vezes segundo) e induz a

concentração dos elétrons no filamento de tungstênio. Na seqüência o técnico

aciona o medidor de kV (quilovoltagem) que estabelece uma d.d.p (diferença de

potencial) que faz com que os elétrons que partem do catodo, com altíssima

velocidade e energia cinética, atinjam o alvo anodo e nesta colisão ocorre a

produção de raios X.

Os átomos do anodo e a interação com os elétrons são apresentados nas

suas respectivas figuras, que formam a ampola de raios X que fica dentro do

cabeçote.

A interação dos raios X com o corpo humano foi discutidos amplamente,

com destaque para as interações dessa radiação com elementos do corpo humano.

No caso dos ossos, eles sofrem maior interação com os raios X, que impedindo que

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estes cheguem aos filmes, fator responsável pelas partes claras das radiografias,

permitindo a análise de possíveis fraturas.

A radiação ionizante pode causar defeitos celulares que podem

aparecem anos depois. Por tais motivos, é necessária a proteção radiológica com o

uso de aventais plumbíferos, óculos e luvas plumbíferas.

Pelo fato dos alunos terem participado ativamente ao longo de toda a

pesquisa, poucas foram as dúvidas manifestadas no final da apresentação. Na

verdade, uma dúvida interessante dizia respeito se uma pessoa com marca-passo,

ou objetos metálicos, poderia ser submetida à radiação X, confundindo com o exame

para diagnóstico de ressonância magnética, sendo a dúvida prontamente dirimida.

Outra pergunta foi o que ocorreria se a pessoa for radiografada portando um objeto

metálico. Explicamos que tal objeto apareceria no filme e o exemplo, um anel na

mão de uma pessoa apareceria devido ao alto número atômico dos metais. Neste

momento os alunos se lembraram da primeira radiografia, ou seja, a mão da esposa

de Röentgen que estava com uma aliança em um dos dedos.

Sanadas as dúvidas, um aluno, empregando uma voz solene, relatou que

hoje descobriram o porquê que o professorpesquisador analisava o quadro negro

no dia anterior e todos riram. Este episódio foi surpreendente, pois uma semana

antes do pôster ser exposto, o professorpesquisador entrou na sala e enquanto os

alunos conversavam entre si na troca de professores, discretamente observou

rapidamente o quadro negro verificando o local onde poderia ser fixado o pôster,

para que os alunos não percebessem, pois estavam entretidos em suas conversas e

troca de material.

Segundo Silva e Pacca (2004), a prática inconsciente dos professores

motiva ou desmotivam seus alunos, embora não se dêem conta disso. Neste caso a

prática inconsciente criou uma curiosidade e expectativa por parte dos alunos e

demonstrou que eles estavam atentos ao professor, devido também às novidades

que foram inseridas anteriormente nas diversas aulas de Física, ao longo de sete

meses de intervenção planejada, envolvendo o educar pela pesquisa que estimulou

a participação ativa dos estudantes.

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Esta descontração demonstrou a boa sintonia existente entre professor e

aluno, capaz de auxiliar a tornar as aulas mais prazerosas e a Física, segundo

relatos dos alunos, uma matéria interessante e agradável para se aprender. Um dos

alunos relatou ao professor seu interesse em estudar Física no Ensino Superior, que

prontamente foi orientado a pesquisar a Universidade de São Paulo (USP) ou outra

mais próxima da sua residência que oferecesse este curso e que procurasse

também as áreas que a Física engloba. Em uma aula posterior este mesmo aluno

trouxe notícias de uma Universidade, comprovando verdadeiramente seu interesse

em estudar Física.

Fazer um estudo acerca de como a aprendizagem foi proporcionada e se

constituiu significativa para todos os alunos foi o nosso próximo passo. Este

mapeamento foi realizado por intermédio de uma avaliação em que os alunos foram

solicitados a expor e avaliar todos os momentos envolvidos nas pesquisas, bem

como suas dificuldades e facilidades, gerando informações úteis para verificamos

em que medida os alunos estavam sendo alfabetizados cientificamente acerca do

tema raios X e proteção radiológica.

4.3 Verificação da aprendizagem conceitual

Na segunda quinzena de setembro procuramos averiguar se em alguma

medida havia ocorrido a aprendizagem dos conceitos abordados, relacionados com

a produção de raios X. Procuramos averiguar se o aluno estabelece um

encadeamento de idéias, tendo por base uma idéia precedente (MOREIRA, 2006).

O método aplicado na averiguação da aprendizagem consistiu no uso de

um segundo questionário, denominado questionáriofinal, composto por dez

questões, sendo seis dissertativas, em que o aluno é instigado a responder como

vivenciou cada etapa da pesquisa e a opinar sobre a metodologia de ensino de

Física que empregamos. Outras questões buscaram ressaltar como foi a

participação do aluno ao trabalhar no grupo de pesquisa, como ele compreendeu os

conceitos físicos abordados e como ele situa o ensino de Ciências oferecido na

escola com o seu cotidiano.

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141

As quatro perguntas restantes versaram sobre os temas abordados

durante a pesquisa e demandavam uma resposta conclusiva e direta. As perguntas

exigiam explicações abrangentes de como funciona o rádio e a telefonia celular, o

funcionamento do laser e a explicação atual da natureza da luz, além da pergunta

central para os objetivos desta pesquisa e que exigia uma explicação detalhada da

produção de raios X, da formação de imagem e da radioproteção em uma unidade

hospitalar. Em virtude da complexidade do questionário, os alunos precisaram de

sessenta e cinco minutos, quinze minutos além do horário da aula.

A avaliação, aplicada na segunda quinzena de setembro, buscava

perceber o grau de alfabetização em produção de raios X, seus benefícios e

malefícios e o melhor método para que o aprendiz pudesse se proteger contra as

radiações ionizantes. Portanto, não nos prendemos ao formalismo matemático, que

foi utilizado como material potencializador e significativo nas aulas de Física

Clássica.

Para cada pergunta apresentamos algumas respostas fornecidas pelos

alunos considerando uma análise qualitativa das respostas.

QUESTIONÁRIO FINAL

Questão 1: No início da pesquisa sobre produção de raios X, você e seu grupo

pesquisaram sobre um tema e apresentaram em sala de aula. Qual foi o seu tema e

como você contribuiu para a elaboração da apresentação?

Todos os alunos se lembraram do tema pesquisado em seu grupo, sendo

80% com exatidão e os outros embora se expressassem com outras palavras,

lembravam-se de um fato relacionado com a apresentação, conforme respostas

reproduzidas a seguir:

O uso da radiação ultravioleta;

Radiologia foi o tema usado, onde a pesquisa foi feita em sites de

busca. Contribui na elaboração e apresentação do seminário;

Eu falei sobre o raio de luz;

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Nós falamos do uso do laser;

Radiologia, eu procurei entender para que serve, como funciona

para melhor explicar para sala;

Radioterapia.

Questão 2: A forma de ensino e aprendizagem exigidos na pesquisa, onde você e

seus colegas consultaram fontes além das utilizadas na escola e fora do horário

escolar, contribuiu para compreender o tema? Cite aspectos positivos e negativos

que você percebeu durante este estilo de pesquisa.

Esta pergunta buscava verificar o que o aluno pensa e avalia no momento

da aprendizagem e o que poderia ser feito para melhorar o ensino.

Aspectos positivos Aspectos negativos

Foi melhor para o meu aprendizado. Nenhum.

Aprendi mais sobre o assunto, como é o

processo do raio-x.

Nenhum, pois achei muito interessante

Ajuda na evolução da medicina O uso em excesso prejudica.

Aprendemos de um modo mais dinâmico

como funciona a luz, os raios x;

Muita conversa paralela

Através da pesquisa e elaboração do mapa

conceitual, junto com o seminário, pude

esclarecer dúvidas e adquirir mais

conhecimentos, com a complexidade que

atua a radiação em nosso dia-a-dia, ou

quando vamos ao médico.

Não respondeu

Aprendi os riscos da radiação. Isso

contribuiu muito, pois hoje eu sei que tenho

que evitar radiações para não prejudicar

me.

Não respondeu

Seminário e no mapa conceitual você tem

uma melhor compreensão do conteúdo,

facilita o estudo

Não há pontos negativos

Aprendemos coisas novas. Nenhum.

Com esta forma de ensino tive um melhor Não respondeu

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143

aprendizado, pois pude compreender com

bastante clareza e pude ensinar aos meus

colegas.

Para explicar o determinado tema, você tem

que estudar para explicar, ai você acaba

sempre lembrando do assunto para explicar.

Comportamento da sala.

É a obrigação que o aluno tem que ler a

pesquisa, assim ajuda no raciocínio nas

aulas

Não há pontos negativos

Que há uma explicação com palavras

diferentes, porém com a mesma conclusão

nas várias fontes de pesquisa.

Caso de dúvida, não há pessoa para

auxiliar

Adquirimos um maior conhecimento e

adicionamos cultura ao nosso aprendizado

Não há ponto negativo

São as explicações com imagens e

informações trazidas que não estão contidas

nos livros, que torna a aula dinâmica e que

prende a atenção e facilita a aprendizagem.

O único aspecto negativo é a contínua

cópia de texto

Pois ao nos colocarem diante dessas

questões, nos faz mostrar que mesmo sem

os estudos dos temas tínhamos noção do

assunto o que fez com que conseguíssemos

aprender mais fácil.

Nenhum

Quadro 1: Grau de envolvimento com a aprendizagem.

Com relação à questão 2, analisando os pontos positivos destacados

pelos alunos, podemos sintetizar afirmando que:

a) A qualidade das respostas fornecidas pelos alunos indicou que a sala de

aula foi conquistada, no sentido que a grande maioria aprovou a metodologia

empregada;

b) Os argumentos apresentados sinalizaram que a aula foi mais dinâmica, o

seminário e o mapa conceitual ajudou os alunos a compreender o tema,

contribuindo para que pudessem ensinar os seus pares. Esses aspectos

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144

foram determinantes para a aceitação da proposta que permitiu ao professor

adquirir a simpatia, respeito e confiança da classe;

c) Sair da passividade e tornar-se cooperador na construção do

conhecimento são elementos enfatizados quando os alunos retratam a

obrigação natural de ler a sua própria pesquisa para poder explicar;

d) A pesquisa realizada paralelamente ao conteúdo programático

estabelecido pela escola para as aulas de Física também foi considerada

como algo inovador apontado pelos alunos, os quais afirmam que

adicionaram cultura e que vão tomar as devidas preocupações com as

radiações, pois agora sabem com propriedade seus riscos e a necessidade

de radioproteção;

e) A elaboração dos subsunçores e o fato de buscarmos ancorar novos

conhecimentos a partir daquilo que o aluno já sabe, em que o aspecto

fundamental é a Aprendizagem Significativa, também foi abordado pelos

alunos, quando afirmam que fica mais fácil aprender um assunto em que

eles já tinham uma noção;

f) O pôster com a produção de raios x e radioproteção também foi bem

recebido, uma vez que os alunos argumentaram favoravelmente acerca da

facilidade de aprender ao ver as imagens apresentadas.

Por sua vez, a análise dos aspectos negativos informados pelos alunos

nos permite afirmar que:

a) Apenas 2 alunos no universo de 30 afirmaram que conversas paralelas e

o comportamento da sala comprometeu a aprendizagem, sendo que em

alguns momentos da pesquisa esses mesmos alunos também conversavam.

Assim, concluímos que no geral o comportamento da sala não comprometeu

o bom andamento das atividades de intervenção;

b) Copiar texto como fator negativo nos remete às considerações de

Perrenoud (2000) quando afirma o desejo dos adolescentes de pouco

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produzirem. Entretanto, a maneira de ensino aqui apresentada obrigou

espontaneamente esse aluno a sair da passividade ou do cômodo estado de

estudar apenas em vésperas de prova, ou seja, chamouos à

responsabilidade de produzir algo para poder compartilhar com seus

colegas;

c) Um aluno afirmou que raios X em excesso prejudicam a saúde, de modo

que os raios X podem ser bons, por um lado, como diagnóstico, embora

possam prejudicar ao ser mal empregado, sem os devidos cuidados com

proteção e com a dosagem adequada. Desse modo, salienta-se a

importância dos indivíduos serem bem alfabetizados para poderem assumir

posições pessoais respaldadas em conhecimentos científicos, incluindo aí a

consciência acerca da necessidade de como se proteger das radiações

ionizantes;

d) Corroborando o bom desempenho da pesquisa, a maioria dos alunos não

viram pontos negativos.

Questão 3: Quais fontes você consultou para a elaboração da apresentação do

seminário? Por quê?

Todos os alunos responderam que utilizaram a Internet como fonte de

pesquisa. Isto indica que as NTIC (Novas Tecnologias de Informação e

Comunicação) estão amplamente presentes no cotidiano e vida do aluno, que

apresenta um caminho complementar que pode ser explorado em uma nova

perspectiva educacional. Algumas respostas são reproduzidas a seguir:

Internet. Pois hoje em dia é a fonte mais rica de informação;

Internet, porque possui milhares de informações com fácil acesso;

Sites de busca como o Google e wikipédia;

Google.Porque na Internet dá uma ampla visão sobre qualquer

assunto;

Google, livros, apostilas;

Wikipédia. Porque é um site completo que nos ajuda na

compreensão de muitos temas.

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Questão 4: O que é mapa conceitual e como ele pode colaborar nos seus estudos?

Buscávamos com esta pergunta verificar se o mapa conceitual contribuiu

para consolidar conhecimentos na estrutura cognitiva do aluno, pois era uma

novidade para todos e acreditamos que deveria ser útil para seus estudos.

Tabela 11: Compreensão e utilização do mapa conceitual

Categorias Nº de Alunos Percentual ( %)

Diagrama conceitual 25 90

Outras respostas 3 10

Algumas respostas fornecidas pelos alunos auxiliam a compreender a

maneira como assimilaram o papel dos mapas conceituais utilizados em uma das

etapas do trabalho:

É um mapa que é constituído pelas teorias em suas devidas fases

em forma resumida de balão. Facilitam muito no estudo, pois

possui as principais coisas;

É uma forma de árvore genealógica de toda a criação e

surgimento da luz;

Forma resumida em balões que facilita os estudos;

Quadros elaborados onde em seu interior relaciona se tópicos

de um assunto específico que facilita o entendimento.

Questão 5: A Física é uma Ciência fruto da construção humana, onde cientistas

buscam explicações para os fenômenos que regem a natureza. Baseado neste tema

explique o que é luz.

A busca por explicações dos fenômenos físicos pode atravessar séculos e

nesta pergunta pretendíamos reforçar este fato peculiar da Ciência, além de verificar

a sua compreensão quanto à dualidade da luz. 73% dos alunos responderam sobre

a dualidade da luz. 10% responderam sobre a dualidade da luz e fizeram referência

sobre as contribuições dos cientistas, evidenciando a construção humana da ciência.

17% não responderam sobre a dualidade da luz ou fizeram referências sobre os

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cientistas, relatando apenas que a luz é proveniente de fontes primárias como vela

acesa ou Sol. As porcentagens foram calculadas tendo por base os 30 alunos

envolvidos na pesquisa, sendo algumas respostas reproduzidas abaixo:

São ondas eletromagnéticas que incidem num objeto e tornamse

partículas e estimula nossos órgãos visuais;

A Física explica fenômenos que regem a natureza é uma construção

humana. Cientistas como os gregos, Einsten, Maxwell, Hertz, Isaac

Newton e outros explicaram a luz. A luz são ondas eletromagnéticas

quando se propagam no ar e quando incide num objeto é partícula

provada por Einsten no efeito fotoelétrico e estimula nossos órgãos

visuais.

Luz é o que sai das lâmpadas, velas e Sol;

Luz quando passa pelo ar são ondas eletromagnéticas e nos objetos é

uma partícula;

Luz é uma onda magnética que quando se propaga no ar e incide num

objeto estimulando nossa visão, se torna partículas.

Questão 6: Você já teve caneta com dispositivo que emitia o laser? Esta simples

caneta pode oferecer danos à saúde? Quais danos? O que você recomendaria para

proteção?

O laser foi abordado na pesquisa e a pergunta acima com quatro tópicos

induzia o aluno a responder como percebeu e recebeu o aprendizado quanto ao

tema laser. A ordem das respostas ou omissão de um ou outro tópico da pergunta

não era o foco do que buscávamos, pois o nosso interesse era observar

conhecimentos presentes na estrutura cognitiva dos alunos e o nível de elaboração

desse conhecimento. Assim, verificamos que 10% responderam que este não causa

danos à saúde, sendo que nenhum aluno já teve em suas mãos uma caneta com

este dispositivo. Este fato denota que há um nível satisfatório de conhecimento

sobre o laser. A seguir reproduzimos algumas respostas fornecidas pelos

estudantes:

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Ampliação da luz basta impedir que o fóton de luz retorne a um

nível menos energético. Oferece danos aos olhos, na retina eu

recomendaria não utilizar o laser;

Laser é a extensão da luz direcionada à um único ponto Ela pode

danificar a visão e a recomendação é de que não use no olho.

Prejudica a retina;

Laser é uma ampliação da luz. Pode cegar. Não colocar

diretamente nos olhos;

Ampliação da luz. Basta impedir que o foco de luz retorne a um

nível menos energético e assim temos a luz amplificada;

Laser é a ampliação da luz, um dispositivo que impede o elétron

de voltar uma carga a menos. O laser danifica a visão;

Laser é a amplificação da luz, basta impedir que o fóton de luz

retorne a um nível menos energético e assim temos a luz

amplificada.Essa caneta pode causar problemas quando colocada

diretamente no olho. Pode ocorrer uma perca da visão. Logo,

recomenda se que não seja apontada diretamente nos olhos;

Laser é uma ampliação da luz. Sim pode causar sérios danos aos

olhos das pessoas. Recomendo para proteção evitar a caneta a

laser.

Questão 7: Você tem boa compreensão de Física? Por quê? Cite fatores que

influenciam na sua boa compreensão ou dificultam a compreensão.

Buscamos, nesta pergunta, verificar possíveis dificuldades enfrentadas

pelos alunos relacionadas com a aprendizagem em Física e que até então não era

externada pelos mesmos ou não recebia a devida atenção por parte do docente para

o problema. Analisando as respostas constatamos que:

a) 77% dos alunos afirmaram ter boa compreensão e atribuíram parte do

sucesso ao desempenho do professor ao desenvolver o conjunto de

atividades realizadas;

b) 23% afirmaram não ter boa compreensão e os fatos apontados para não

compreensão foram:

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1) 10% - não ter habilidade com cálculos e a quantidade de detalhes da

matéria;

2) 10% - conversa demasiada na sala de aula;

3) 3% por ansiedade o aluno se dispersa na explicação.

A seguir, fornecemos uma amostra das respostas fornecidas pelos alunos

ilustrando o que foi dito acima:

Tenho uma boa compreensão sim, pois o professor nos ajuda no

aprendizado;

Tenho, pois me dou bem com os números, e me interesso pelo

assunto, esses fatores contribuem muito para minha

compreensão;

Sim, porque as coisas na Física se encaixam com clareza, para

tudo há uma explicação plausível e estritamente comprovada;

Sim, pois na área de exatas como o próprio nome já diz tudo, tudo

é exato, não tem exceções;

Sim, pois me identifico com a matéria e ela é bem elaborada pelo

professor.

Questão 8: Explique como funciona uma estação de rádio e telefone celular.

No momento que foi exposto o pôster, mostramos o espectro

eletromagnético e falamos do funcionamento das estações de rádio e celular. A

pergunta busca verificar se os alunos se apropriaram destas informações,

incorporando-as em sua estrutura cognitiva:

Sua transmissão é por via de ondas eletromagnéticas;

Ondas eletromagnéticas são lançadas em alta freqüência pelas

torres, e no rádio, em casa, por exemplo, transmite na mesma

freqüência;

Funciona em base de transmissão de freqüência de ondas

eletromagnéticas que se propagam no ar, são transmitidas por

torres;

Ambas emitem ondas eletromagnéticas a uma determinada

freqüência que é captada por um aparelho receptor;

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Ondas eletromagnéticas são lançadas no ar através de alta

freqüência das torres. Os rádios, celulares com suas antenas

captam ondas na mesma freqüência;

O microfone captura o som que é transformado em energia que

são transmitidas em alta freqüência pelas torres.

Com base nas respostas, verificamos que os alunos se apropriaram

desses conhecimentos, pois o tema onda eletromagnética esteve presente em todas

as respostas, indicando a presença do subsunçor que facilitará a abordagem do

assunto Ondas, tema da apostila dos alunos prevista para o próximo ano.

Questão 9: Descreva com riqueza de detalhes como são produzidos raios X em

uma unidade hospitalar, como é feita a proteção radiológica, os aparelhos que

medem os raios x no momento da aplicação, e o porquê nas radiografias os médicos

observam partes claras e escuras.

Esta pergunta também continha vários tópicos e buscava avaliar a

interpretação dos alunos acerca da produção de raios X e sobre o elemento principal

na radioproteção que é o revestimento com chumbo nos equipamentos de proteção.

Desse modo o aluno teria liberdade para dissertar sobre o tema e buscávamos

verificar a apropriação do conhecimento ao aparecer nas respostas a produção dos

raios x a partir dos elétrons e a colisão com o anteparo, formando assim os raios X.

Não buscávamos respostas longas e elaboradas e sim resumos e

indicação da produção e proteção contra a radiação ionizante, considerando que a

Aprendizagem Significativa afirma que respostas sucintas evidenciam que a

aprendizagem teve significado (MOREIRA, 2006, p. 26).

Assim, esta pergunta que se faz parte do cerne dessa pesquisa permitiu

verificar se os alunos foram adequadamente alfabetizados cientificamente quanto à

radiação x. Algumas respostas são reproduzidas a seguir e ilustram que boa parte

dos alunos foi capaz de compreender os aspectos principais envolvidos na produção

dos raios X.

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Os raios-x são produzidos numa unidade hospitalar, os elétrons

são acelerados por alta voltagem, colide com um alvo e produz os

raiosx. A forma de proteção dos raios-x nos hospitais é através

de aventais impregnado com chumbo, pois o chumbo retira a

energia dos raios-x. O aparelho que mede a radiação é o

dosímetro. Temos partes claras e escuras porque os raios-x

interagem com substâncias com maior densidade, nesse, caso o

osso impede de chegar na chapa, nos outros órgãos os raios-x

passa direto e fica escuro na radiografia (chapa);

Os raios-x contêm uma alta energia que se tivermos muito contato

pode prejudicar as células, a saúde, para proteção é usado um

colete de chumbo ou então uma caneta que fica pendurada que

também é de chumbo. Porque temos partes claras e escuras, os

raios-x interagem com substâncias com maior densidade, nesse

caso, o osso impede de chegar na chapa nos órgãos o raio-x

passa direto e fica escuro;

Os raios-x funcionam através da aceleração de elétrons em alta

voltagem que atinge um alvo, numa radiografia o raio-x interage

com as substâncias mais densas como os ossos que se tornam

mais claras, favorecendo a visualização de fraturas, por exemplo;

Numa unidade hospitalar, os elétrons são acelerados por alta

voltagem, colidem com o alvo e forma os raios-x. Proteção:

avental chumbado. Aparelho: Dosímetro. Claras e escuras: raios-x

interagem com substância de maior densidade, no caso os ossos,

que impede de chegar na chapa, nos outros órgãos passam

direto.

As respostas sinalizam a percepção de cada aluno e, segundo a Teoria

da Aprendizagem Significativa mostraram que os alunos conseguem se posicionar

quanto ao tema radiação, principalmente com relação à produção dos raios-x em

uma unidade hospitalar a partir dos elétrons, invisíveis aos olhos, sua colisão com o

alvo e a produção dos raios x. Isso demonstra que o processo de intervenção teve

sucesso, propiciando uma expressiva aprendizagem acerca desse tema.

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Questão 10: Houve um acidente em uma clínica com radiação ultravioleta. Explique

este acidente e fale deste tipo de radiação.

Abordando o espectro eletromagnético salientamos os benefícios e

malefícios da radiação ultravioleta e comentamos sobre o acidente divulgado na

mídia no início da pesquisa, buscando empregar a Aprendizagem Centrada em

Eventos, objetivando proporcionar uma boa compreensão deste tema e também

trazer para a sala de aula o enfoque CTS (Ciência Tecnologia e Sociedade).

Algumas respostas dos alunos são destacadas a seguir:

Radiação responsável pela tonalidade morena da pele e estimula

a produção de vitamina D. O acidente pode ter ocasionado pelo

uso exagerado por clínicas de bronzeamento artificial;

Pode ter sido um acidente na máquina de bronzeamento artificial.

O raio ultravioleta é responsável pela cor morena da pele e ajuda

na produção da vitamina D;

Radiação ultravioleta faz o tom da pele ficar moreno e estimula a

vitamina D. Nesse acidente a pessoa pode ter recebido muita

radiação, ficado exposta muito tempo, danificando a pele;

A paciente provavelmente teve queimaduras na pele. A radiação

uv é responsável pela cor morena.

Ficou claro nas respostas que os alunos interiorizaram conhecimentos

importantes, como o fato da radiação ultravioleta ser responsável pelo

bronzeamento, o que é bastante divulgado na mídia e abordado nessa pesquisa.

Juntamente com essa constatação verificamos também a importância da radiação

ultravioleta como estimulante para a produção de vitamina D no organismo humano,

fato que permite afirmar que a aprendizagem foi significativa na medida em que

aponta para a existência de um subsunçor mais elaborado, evidenciando uma

ampliação do conhecimento ao se comparar com o questionário inicial, onde

nenhum aluno abordou a vitamina D quando foi abordada a radiação ultravioleta.

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4.4 O enfoque CTS por meio da aprendizagem centrada em eventos

Contemplando o enfoque CTS (CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005),

trouxemos para a sala de aula dois recortes do jornal Agora de São Paulo, um de 30

de março de 2007 que traz a reportagem de uma jovem que entrou em coma após

uma sessão de bronzeamento artificial, tema levantado nos dois questionários, e o

outro jornal datado de 24 de setembro de 2007, que trouxe como manchete Centros

de raio-X de SP têm série de problemas, mostrando um aparelho de raios X em

desuso, salas sem avisos que o local tem radiação e contrato da prefeitura mal

elaborado com uma determinada empresa, além de cifras milionárias cobradas da

prefeitura por diagnósticos por imagens não efetuados.

Este material de apoio serviu de base para que pudéssemos empregar a

Aprendizagem Centrada em Eventos (ACE), método também utilizado por Cruz e

Zylberstajn (2005), entre outros pesquisadores, e que permite conectar a abordagem

dos temas desejados com eventos relevantes ocorridos na sociedade, aproximando

a abordagem de temas científicos da realidade social dos estudantes.

Após a leitura dos textos dos jornais efetuada pelos alunos iniciamos um

extenso debate, abrindo caminho para importantes reflexões sobre os dois artigos,

discutindo sobre a cidadania e o direito de ressarcimento por parte da jovem senhora

após a sessão de bronzeamento artificial.

No artigo que apresentou o desuso do aparelho de raios X, notamos a

satisfação dos alunos em debater um tema sobre o qual detinham conhecimentos,

sendo o fator preocupante apontado a falta de sinalização no local, afirmando

prontamente a falta do trifólio (sinalizador de local com radiações) apresentada e

discutida ao longo do processo de intervenção. Sobre as cifras exorbitantes

cobradas da prefeitura pela empresa, os alunos citaram que o dinheiro era

proveniente do povo e que, portanto, deveria ser mais bem empregado.

Mantivemos sempre espaço para o diálogo, observando que os alunos se

detiveram por mais tempo na parte tecnológica do que na parte social. Neste

sentido, os alunos salientaram que a falta de aviso nos locais com radiação,

apresentados na reportagem, deveria ser corrigida com a fixação do trifólio. Além

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disso, foram destacados que os equipamentos necessários para segurança

deveriam ser os aventais e protetores revestidos de chumbo que eles observaram no

pôster, além do valor do contrato da prefeitura com a empresa, também levantado

no debate.

Quanto ao acidente com a radiação ultravioleta, o drama vivido pela

jovem apresentada na foto foi o que mais chamou a atenção. O professor-

pesquisador deixou em aberto para os alunos pesquisaram sobre o que aconteceu

com a jovem.

Entendemos que a leitura dos textos dos jornais em sala de aula e o

debate que se seguiu solidificaram ainda mais alguns aspectos do conhecimento

que os alunos adquiriram durante as etapas de desenvolvimento da pesquisa.

Assim, concluímos ser relevante formar alunos que possam compreender

e utilizar a tecnologia e saber analisar o quanto a tecnologia tem influenciado o

comportamento humano, quantos diagnósticos que salvaram vidas foram possíveis

após o advento da descoberta dos raios X.

Com essa metodologia de ensino podemos ir além do que simplesmente

municiar o aluno com conhecimentos científicos, com explicações técnicas de

funcionamento de determinado produto tecnológico. Assim, não visamos apenas

preparar o aluno para lidar com essa ou aquela ferramenta tecnológica ou

simplesmente desenvolver no aluno representações que o instrumentalize a

absorver novas tecnologias, em um frenesi de consumismo exacerbado. Buscamos,

outrossim, enfatizar o estudo por meios de temas que permitam a introdução de

problemas sociais a serem amplamente discutidos, propiciando o desenvolvimento

da capacidade de reflexão e de tomada de decisões (ANGOTTI; DELIZOICOV;

PERNAMBUCO, 2002; BRASIL, 2002).

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CONCLUSÕES

Ao concluir essa pesquisa, baseada em um extenso processo de

intervenção com alunos do ensino médio na sala de aula, podemos constatar que é

possível avançar bastante em termos do aprimoramento dos processos de ensino e

de aprendizagem, modificando significativamente o ambiente escolar e reforçando

intensamente a interação entre o professor e os alunos e também entre os próprios

alunos.

O tema abordado envolvendo a produção de raios X em uma tentativa de

incorporar tópicos de Física Moderna no Ensino Médio, na forma que foi

desenvolvido em meio a processo de intervenção devidamente planejado e

executado constitui em um meio que pode orientar a inserção de outros temas de

Física Moderna e Contemporânea, proporcionando uma forma prazerosa de se

ensinar e de se aprender. O caminho trilhado foi capaz de despertar o interesse do

aluno para a pesquisa de assuntos científicos, além de melhorar sua percepção

acerca da importância da própria Física Clássica.

A utilização de recursos diferenciados em diferentes momentos do

processo contribuiu para a aprendizagem significativa dos conceitos abordados, que

foram contextualizados e relacionados com situações cotidianas algumas vezes

exploradas pela mídia. Neste processo, recursos como o pôster e a elaboração de

mapas conceituais permitiram organizar os conhecimentos que estão sendo

abordados, facilitando a sua incorporação na estrutura cognitiva dos estudantes.

Por sua vez, o desenvolvimento de ações amparadas no educar pela

pesquisa defendido por Demo (2003) e Galiazzi, Moraes e Maurivan (2003)

permitem tornar o aluno um participante ativo na busca da aprendizagem e como

construtor de seu próprio conhecimento, estruturando conceitos de Física por meio

do uso de materiais potencializadores da aprendizagem, seja no âmbito matemático

seja no conceitual e procedimental. Este fato, juntamente com a disposição do

professor em atuar como articulador e orientador permite mudar as concepções

gerais do aluno quanto ao ensino e à importância da Física para suas vidas.

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Com um material didático formado por um pôster, sintetizando e

organizando todos os conceitos e elementos relevantes do trabalho, buscamos

desencadear uma série de ações devidamente planejadas, tendo em vista fazer com

que o aluno compreenda e se aproprie de conceitos de Física Moderna e Física

Contemporânea, caracterizada nesta pesquisa por meio da produção e

radioproteção de raios X em uma unidade hospitalar.

Abordamos também o aspecto humano do aluno e do professor referente

à sua psique, refletindo sobre como os adolescentes e professores percebem o

ensino em geral e particularmente o ensino da Física. A pedagogia do professor e a

postura do aluno são estruturadas em pesquisadores que propuseram uma nova

realidade de ensino, modificando os papeis dos atores envolvidos no cenário

educacional.

Tendo por base os referenciais adotados para o desenvolvimento desta

pesquisa, foram efetivadas propostas de ensino baseadas no enfoque CTS (Ciência

Tecnologia e Sociedade), que tem como princípio a identificação de problemas

sociais relevantes de impacto local ou mundial e levado a sala de aula de uma

maneira devidamente contextualizada (CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005). Além disso,

empregamos recursos locais (humanos e materiais) para localizar a informação e

disponibilizá-la ao aluno, que utilizou técnicas de resolução de problemas, como:

compreender o problema buscando a sua incógnita desenhando uma figura,

estabelecendo um plano de ação analisando se já resolveu problema semelhante ou

teorema que lhe possa ser útil, verificando a possibilidade de reformular o problema

e se é possível variar a incógnita ou os dados, buscar na seqüência executar o plano

verificando e testando cada passo, para isso comprovando matematicamente ou por

um teorema os resultados obtidos e, finalmente, fazendo uma retrospectiva

analisando o resultado e o raciocínio utilizados (POLYA, 1995).

Procuramos discutir amplamente o tema abordado promovendo uma

participação bastante ativa dos estudantes. Assim, a aprendizagem foi estendida

para além do período de aula, do espaço da classe e da escola, fornecendo ao

aluno uma visão abrangente sobre conteúdos científicos, que também permitem ao

estudante utilizar para resolver exames ou provas, embora não fosse este o objetivo

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principal de nossa intervenção, dada a formação mais ampla e humanista que

almejávamos (KAWAMURA; HOSOUME, 2003; KRASILCHIK, 2007).

Outra abordagem de ensino nesta pesquisa sobre a produção de raios X

foi a A.C.E. (Aprendizagem Centrada em eventos) em que a base de aprendizagem

é desenvolvida a partir de um evento socialmente relevante, por exemplo, uma

notícia veiculada na mídia abordando um assunto que esteja próximo ao aluno.

Enfocando o tema divulgado é possível estabelecer conexões com várias idéias

envolvidas na pesquisa, capazes de contribuir para a resolução de problemas

(CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2005) e amparar o posicionamento dos estudantes diante

de temas que envolvam aspectos científicos e tecnológicos.

A riqueza dos eventos abordados proporcionou oportunidade ao aluno

para não ficar apenas no domínio e manejo de conteúdos científicos em uma aula

meramente copiada (DEMO, 2003), sem ter uma idéia dos pressupostos e dos

limites de validade revelados pelo contexto histórico. Assim, a Ciência não foi

ensinada como um dogma inquestionável e os alunos puderam perceber as

inquietações dos cientistas, bem como seus conflitos na época em que conceberam

suas teorias, verificando que o desejo de aprender e a realização de pesquisas é o

que move o ser humano em direção às grandes realizações (GALIAZZI; MORAES;

MAURIVAN, 2003).

Nesta pesquisa também nos apoiamos em diversos pesquisadores que

defendem a inserção de tópicos de Física Moderna no Ensino Médio (LABURÚ,

1998; OSTERMANN; FERREIRA; CAVALCANTI, 1998, 2000; TERRAZZAN, 1992;

CAVALCANTE; BENEDETTO, 1999), seja pela pesquisa ou pelo uso da

experimentação, seja pelas Novas Tecnologias da Informação ou mesmo por meio

da utilização de um livro paradidático. Entendemos que muitos são os caminhos

adequados para promover a aprendizagem dos estudantes e ampliar seu nível de

entendimento e sua capacidade de atuar criticamente em meio a uma sociedade em

constante transformação, devendo ser empregado recursos didático-pedagógicos

amparados em um processo permeado pelo diálogo, permitindo aproximar

professores e alunos em busca de objetivos comuns, tornando-os cúmplices nesse

caminhar (DEMO, 2003).

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Com a metodologia empregada em sala de aula, ampliamos a

compreensão dos conhecimentos científicos e tecnológicos e estimulamos a

motivação dos alunos para a aprendizagem de conteúdos relacionados com a

Ciência e Tecnologia, juntamente com valores humanos e sociais, fatores que

caracterizam a base da educação moderna norteados atualmente pelos PCN (2002),

que afirmam:

A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de

conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação [...] Propõe-se, no nível

do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o

desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações,

analisálas e selecionálas; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização (BRASIL, 2002, p. 15-16).

Educados de uma forma envolvente, contextualizada e participativa, os

alunos puderam compreender os impactos sociais decorrentes dos conhecimentos

científicos e tecnológicos, aspectos que contribuem para a sua inclusão efetiva como

cidadãos na sociedade civil, base democrática de qualquer país.

Evidentemente, entendemos que a perspectiva CTS não nos leva a uma

panacéia metodológica para a educação em sala de aula e nem deve ser entendida

como mais uma parte de conteúdo curricular. A perspectiva CTS, em sua essência,

dita que os conteúdos deixem de ter a importância em si e passem a ser

contextualizado em meio a problemas com relevância social (AULER, 2003).

Assim, a viabilidade de se utilizar estratégias de ensino que contemplem a

investigação através de problemas sociais mais abertos, enfatizando aspectos que

potencializem a participação dos alunos, mostrou-se adequada e foi capaz de

estimular a interação, a negociação de significados e a busca de consenso para

resolver problemas analisados em grupo.

Nesta construção em grupo, os alunos se sentiram na obrigação natural

de tomar decisões frente a situações específicas, envolvendo o conjunto de alunos

de uma forma democrática, em que todos puderam participar ativamente, baseados

em conhecimentos de Física e Tecnologia. Essa nova postura dos estudantes abre

caminho para que possam refletir e tomar decisões que envolvam a sua escola e a

comunidade, sendo ingrediente básico para que possamos alimentar possibilidades

de ocorrência de mudanças de paradigmas sociais e culturais.

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A avaliação apresentada por meio do questionário-final incentivou o aluno

a opinar de maneira crítica, avaliando o seu próprio comportamento e de seus pares

na sala de aula. Amparados na abordagem metodológica do professor, a

intervenção resultou em respostas que mostram posições firmes e seguras dos

alunos, denotando confiança em si mesmo e nas questões teóricas envolvendo

conceitos de raios X.

Com isso, contribuímos para elaborar na estrutura cognitiva do aluno os

temas raios X e Radioproteção e temas da FMC, sinalizando para que esses temas

continuem a receber informações e instruções pela escola ou mídia, consolidando

esses conhecimentos e tornando alfabetizados cientificamente esses alunos do EM,

que estão em pleno desenvolvimento físico e intelectual, com elementos

educacionais que seguramente contribuem para sua formação cidadã, ajudando-os

a ter opinião própria.

Acreditamos que um dos fatores essenciais que contribuiu para a

obtenção de resultados significativos desta pesquisa foi a disposição do aluno em

aprender, despertada pelo entusiasmo e disposição do professorpesquisador em

colaborar em todos os momentos do processo vivenciado. Os diálogos entre os

alunos, e entre os grupos unidos em busca de investigar o tema da sua pesquisa,

juntamente com diálogos esclarecedores com a classe e com o professor, ora

orientando, ora sanando dúvidas, facilitou o alcance de muitos objetivos

educacionais traçados inicialmente.

O envolvimento dos estudantes em torno de um tema fascinante e atual, a

produção de raios X, que é um material por si só potencialmente significativo, por

estar presente no cotidiano dos alunos e na mídia, permitiu extrapolar com facilidade

os limites da sala de aula, contribuindo para mudar algumas idéias préconcebidas,

pois atribuíam inicialmente alto grau de complexidade ao estudo dos raios X. Ao

final, por conclusões próprias, perceberam aspectos relacionados com a produção

de raios X e tecnológica que é elaborada e utilizada na radioproteção.

A pesquisa envolvendo a produção de raios X mostrou-se bastante rica

em suas vertentes e, por este tipo de radiação pertencer à família do espectro-

eletromagnético permitiu estabelecer conexões com o celular, rádio, tv, radiação

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ultravioleta, o que aumentou significativamente o interesse dos alunos, facilitando

inclusive o seu entendimento e atuação nas resoluções de exercícios relacionados

com os temas de Física Clássica, fato apontado naturalmente pelos alunos nas

respostas do questionário final.

Acreditamos que a aprendizagem proporcionada foi significativa, na

medida em que novas informações adquiriram significado por interação com os

aspectos relevantes pré-existentes na estrutura cognitiva dos estudantes. Indícios

disso foram observados, por exemplo, em respostas ao questionário final, em que na

questão 2 o aluno relata com propriedade e maturidade que ficou mais fácil a

aprendizagem por ter sido apoiada em conceitos que ele já tinha anteriormente,

compondo seus subsunçores.

Durante a pesquisa, alguns subsunçores foram manipulados com os

organizadores prévios trabalhados no primeiro questionário, por meio dos grupos de

pesquisa, pela apresentação dos seminários e por meio do pôster apresentado e

explorado pelo professor-pesquisador, permitindo, segundo Ausubel (apud

MOREIRA, 2006), ensinamos a partir daquilo que o aluno já sabe.

As respostas da questão 7, em que os alunos foram convidados a

externarem as suas convicções sobre a vivência do processo, permitiu identificarmos

que todos reconheceram o trabalho profícuo do professorpesquisador, exaltando

seu profissionalismo e a afetividade demonstrada no desenvolvimento das etapas de

intervenção, aspecto que também é relatado na Teoria de Ausubel (apud MOREIRA,

2006).

As fotos contidas no pôster que mostra a formação dos feixes de elétrons

e sua viagem no ar, colidindo com o alvo e produzindo os raios X, proporcionou

expressiva aprendizagem conceitual, conforme ficou patente nas respostas

fornecidas à questão 9.

Segundo Silva e Pacca (2004), a motivação do aluno é resultado de uma

abordagem de conteúdos bem realizada pelo professor. O aluno entende como aula

dinâmica a possibilidade de trabalhar em grupos temas relacionados ao cotidiano e

que tenham utilidade, além de aulas colaborativas e o respeito à capacidade do

aluno. Nesta pesquisa, todos estes ingredientes estiveram presentes e as respostas

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dos alunos em citações elogiosas sinalizam que caminhos semelhantes devem ser

buscados no tratamento de outros temas científicos.

Segundo Terrazzan (1992) os alunos do Ensino Médio em sua maior

parte não estudarão Física na Universidade e o contato direto que têm com esta

ciência se resume basicamente a este nível de escolaridade. Por tal motivo, os

tópicos dessa área de conhecimento devem ser ministrados com abrangência de

conteúdos e significados, como elemento estruturador da sua formação cidadã.

Arruda e Villani (2001) enfatizam que a situação confortável do aluno no

momento da aprendizagem, e se além deste conforto, as aulas forem permeadas por

fatores-surpresas, juntamente com situações interessantes e motivadores, elevam a

autoestima do aluno conduzindoo a um patamar de aprendizagem pleno. Este fato

foi verificado na pesquisa pela introdução de diferentes elementos e situações de

aprendizagem. Esses autores afirmam ainda que a confiança que o aluno deposita

no professor o leva a descobrir que o essencial em aprender é esperar e confiar em

si mesmo.

Diversas constatações nesta pesquisa mostram que os procedimentos

adotados constituem importantes instrumentos capazes de fomentar a interação

entre o professor e os alunos, permeados por um processo dialógico essencial para

o ensino e a aprendizagem. Este processo dinâmico aponta horizontes para a

realidade escolar nos quais se busque abrir portas para inventarmos e aprimorarmos

novas práticas e formas de ensinar.

Práticas inovadoras de ensino, futuramente, vão requerer escolas

inovadoras e Demo (2002) mostra um modelo de escola e ensino, o ISEP (Instituto

Superior de Educação do Pará) em que a diferença encontra-se na existência de

menos aulas presenciais e mais tempo para a pesquisa. Professores e alunos se

reuniam para orientação e caberia a cada indivíduo envolvido neste modelo de

ensino a responsabilidade e liberdade contidas no cerne de cada um.

Outro modelo de escola inovadora é a de Tião Rocha (MACHADO, 2007)

caracterizada por aulas ao ar livre, em que o laboratório é a própria natureza. Estas

propostas criteriosamente elaboradas podem atender e apontar soluções para

melhoria de ensino, pois os alunos reclamam do modelo de ensino vigente e

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silenciosamente pedem um novo modelo de ensino. Esta urgência por

transformações na estrutura educacional pode ser constatada nas pesquisas de

ensino onde o Brasil apresenta os piores índices nas avaliações feitas pela OCDE -

Organização para cooperação e Desenvolvimento da economia (BBC BRASIL,

2007). Acreditamos, portanto, que modelos inovadores adaptados á nossa realidade

podem mudar estes índices.

Segundo Curi e Menezes Filho (2006), as relações entre o desempenho

escolar e os salários estão ligadas e sua pesquisa analisa as notas de alunos no

Ensino Médio e sua vida profissional seis anos depois, apontando que os melhores

resultados em termos de sucesso na vida estão relacionados com aqueles que

tiveram melhor desempenho em Matemática e Português.

Pela facilidade e habilidade que os alunos demonstraram ter com a NTIC,

provavelmente o uso de um software com animação e simulação de produção de

raios X poderia colocá-los em um patamar ainda mais elevado de aprendizagem,

mas infelizmente este dispositivo não foi observado na prática sendo comercializado.

Esta pesquisa de caráter humanista apresentou uma proposta de ensino

de Física Moderna para o Ensino Médio, baseada em uma profunda intervenção em

uma sala de aula. Entendemos que a metodologia e as estratégias de ensino

empregadas aqui podem ser utilizadas para abordar outros temas da FMC,

possibilitando ainda contemplar abordagens interdisciplinares, pois não obstrui o

conteúdo programático da disciplina ampliando o leque de possibilidades na

abordagem desses temas.

Acreditamos que o uso de softwares de produção de raios X com

simulação e animação de uma unidade hospitalar poderia ser desenvolvido por

empresas especializadas e utilizado facilmente neste nível de escolaridade, tendo

grande recepção por parte dos alunos, facilitando a integração e a aprendizagem

desse tema.

Ressaltamos também que, por meio de abordagens contextualizadas e

interdisciplinares, sob o enfoque CTS, acreditamos que a maioria dos alunos do

Ensino Médio poderá valorizar cada vez mais os conteúdos de Física. Portanto, na

medida em que a Física seja apresentada de maneira acessível à compreensão de

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todos, é possível que alguns estudantes inclusive considerem a possibilidade de

seguir carreiras profissionais que empreguem os conceitos físicos.

Esperemos que as contribuições educacionais decorrentes das

intervenções realizadas em sala de aula como as aqui descritas abram novos focos

de discussão e sinalizem outros caminhos de investigação que permitam oferecer

aos professores oportunidades para utilizarem metodologias alternativas de ensino

de Física. Com isto, esperamos que os alunos vivenciem um processo enriquecedor

de aprendizagem que contribua para a sua formação cidadã (KRASILCHIK, 2007).

Para finalizar, vale destacar que após a abordagem temática que

efetuamos, um aluno participante desta pesquisa relatou seu interesse em se tornar

um físico, atraído pelo clima envolvente das aulas e que mostrou a importância dos

conceitos científicos para a compreensão dos fenômenos naturais e também para o

entendimento dos aparatos tecnológicos que afetam nossa vida cotidiana.

Não menos importante é o fato de outros alunos que têm em mente seguir

outras profissões ao menos puderam mostrar que passaram a se identificar mais

com a Física, o que na atual conjuntura pode ser considerado como um resultado

expressivo.

Portanto, é possível afirmar que alguns caminhos afirmativos foram

encontrados como resposta à nossa questão de pesquisa, uma vez que a sala de

aula com as várias intervenções realizadas proporcionaram ao aluno desenvolver

atividades em grupo e apresentar seminário, muitas vezes buscando informações

nas NTIC e adotando uma postura de pesquisa, acrescentando tópicos de FMC para

complementar o seu material didático apostilado.

Além desses aspectos, corrobora a afirmativa anterior o uso de mapa

conceitual para sistematizar e consolidar a aprendizagem, bem como a realização de

avaliações que demandavam a capacidade de dissertar sobre o novo conhecimento

adquirido.

Merece ainda, destaque a capacidade de o aluno analisar fotos e

compreender as explanações fornecidas pelo professorpesquisador quando da

apresentação do pôster, o que permitiu enriquecer a sua estrutura cognitiva,

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colocando-o como co-participante na construção do seu conhecimento, de uma

forma intencional, planejada e capaz de modificar substancialmente o ambiente

educacional que abriga alunos e professores, compartilhando de maneira mais

adequada o palco do cenário educacional.

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Caderno Catarinense de Ensino de Física, Santa Catarina, v. 116, n. 1, p. 7-34, 1999.

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