universidade católica de brasília virtual · 2011-11-19 · 3 trabalho de autoria de iraídes...

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Universidade Católica de Brasília Virtual PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITOS HUMANOS: PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA A VÍTIMAS E A COLABORADORES DA JUSTIÇA Especialização TÍTULO DA MONOGRAFIATITULO DA MONOGRAFIATÍTULO DA MONOGRAFIATÍTULO DA MONOGRAFIA Autor: Nome Completo do Estudante Orientador: Prof. Msc. Nome completo do Orientador(a) BRASÍLIA 2009

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Universidade

Católica de

Brasília

Virtual

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

LATO SENSU EM DIREITOS HUMANOS: PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA

A VÍTIMAS E A COLABORADORES DA JUSTIÇA

Especialização

TÍTULO DA MONOGRAFIATITULO DA MONOGRAFIATÍTULO DA

MONOGRAFIATÍTULO DA MONOGRAFIA

Autor: Nome Completo do Estudante

Orientador: Prof. Msc. Nome completo do Orientador(a)

BRASÍLIA 2009

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Iraídes Campos da Luz

CONTRIBUIÇÕES DO PROVITA NA ARTICULAÇÃO DA

REDE DE SERVIÇOS PÚBLICOS: UMA ANÁLISE A

PARTIR DE INTERVENÇÃO INTERDISCIPLINAR

Trabalho apresentado ao curso de especialização em Direitos Humanos da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para a obtenção do certificado de especialista em direitos humanos.

Brasília, 2009

3

Trabalho de autoria de Iraídes Campos da Luz, intitulado “Contribuições

do Provita na Articulação da Rede de Serviços Públicos: Uma análise a partir

de Intervenção Interdisciplinar”, requisito parcial do certificado de especialista

em Direitos humanos” definida e aprovada em 01/10/2009 pela banca

examinadora constituída por:

__________________________________

Thiago Bazi Brandão– Titulação

____________________________________

Componente 1 – Titulação

___________________________________

Componente 2 – Titulação

Brasília, 2009

4

Resumo

A monografia apresenta as contribuições do PROVITA – Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas do estado de Goiás na articulação das redes de serviços públicos, através de um estudo de caso sob orientação da metodologia de redes sociais e do pensamento sistêmico na perspectiva da interdisciplinaridade. O caso apresentado traz a vivência da equipe interdisciplinar do PROVITA – GO na articulação da rede de serviços públicos. Percebe-se que a intervenção social ainda exige uma postura interdisciplinar dos profissionais, com um trabalho prático fundamentado em uma concepção articulada, da interdisciplinaridade. Embora, na articulação da rede, esbarra-se em profissionais que realizam o trabalho voltado para os aspectos e situações específicas e não conseguem em seu todo visualizar os beneficiários como sujeitos sociais protagonistas de sua própria história, tendo em vista que a academia, bem como as experiências fragmentadas destes profissionais no contexto das políticas públicas os limitam para tal superação.

Palavras chave: Interdisciplinaridade. Rede Sociais. serviços públicos.

Violência. Provita.

5

Abstract

This monograph presents the contributions of PROVITA---Program of Protection to the Victims and witnesses of Crimes in the State of Goiás- Brasil_ that feel threatened by the criminals _in the articulation of public service networks, through the study of a real case, ,under social networking methodology and the systems thinking in the perspective of the interdiciplinary team of PROVITA in the articulation of public service networks.It`s noticed that one social intervention requires a professional interdisciplinary stance with a practical work based on an idea interdisciplinarily articulated , but the network articulation faces professionals that develop their work focused on specific aspects and situations , so they can't see the social actors in a whole context , like ones that have built their own history . That happens because the academy and the pieces of experience of those professionals in the context of public politics limit them to overpass that.

Key words: interdisciplinarity, network of public services, violence and PROVITA

6

Sumário

Introdução ------------------------------------------------------------------------------------- 07

1. Capítulo I - UM OLHAR INTERDISCIPLINAR NA ARTICULAÇÃO DA

REDE DE SERVIÇOS PÚBLICOS ------------------------------------------------------- 10

1.1. Disciplinaridade, Interdisciplinaridade, Multidisciplinaridade,

Transdicisplinaridade: Propondo uma Diferenciação --------------------- 11

1.2. PROVITA: O Palco Para a Interdisciplinaridade ----------------------- 14

1.2.1 - Contribuições do direito --------------------------------------- 14

1.2.2 - Contribuições do Serviço Social ---------------------------- 16

1.2.3 - Contribuições da Psicologia -----------------------------------

19

1.2.4 - Os desafios da intervenção em equipes

interdisciplinares. ----------------------------------------------------------22

2. Capítulo II A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NOS PROVITAS -24

2.1. Trajetória --------------------------------------------------------------------------- 24

2.2. Tecendo as Redes do PROVITA no Estado de Goiás --------------- 27

3. Capítulo III - A ANÁLISE DAS PRÁTICAS EFETIVAS NOS PROGRAMAS:

o Caso do PROVITA-GO na Articulação das Redes.----------------------------- 31

3.1. O Caso PROVITA ---------------------------------------------------------------- 32

3.2. Participantes ---------------------------------------------------------------------- 32

3.3. Resultados e Discussão --.--------------------------------------------------- 33

3.4. Considerações Finais --------------------------------------------------------- 38

Referências Bibliográficas --------------------------------------------------------------- 40

7

Introdução

São vários os acontecimentos históricos que propiciaram a emergência

crescente das massas e as dimensões globais e instantâneas que atualmente

fazem parte das complexas relações humanas. Deste modo, na atualidade,

nada acontece que não envolva amplas camadas da população, que à medida

que convive com a sofisticação dos instrumentos de manipulação do outro,

resgatam a criatividade popular, manifestando cada vez mais a sua vontade de

escrever suas próprias histórias.

É com essa criatividade que a sociedade civil, segundo Scherer-Warren

(2006), deve se posicionar, sendo representante de interesses e valores da

cidadania em uma sociedade, de maneira que suas ações estejam voltadas

para as políticas sociais e políticas públicas. Assim, sociedade civil e sociedade

política são distintas e autônomas, porém na prática são inseparáveis.

Segundo Diani (2000), apud Scherer-Warren (2007), há evidências de que

a participação nos movimentos sociais, hoje, não se desenvolve de maneira

isolada, mas ao contrário, é um processo conjunto, caracterizado por múltiplos

envolvimentos, na articulação das lutas por direitos humanos em suas várias

dimensões sociais, articulando a formação das redes sociais.

Assim, ao atuar em uma perspectiva de redes sociais resgata-se a

capacidade dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil de

mostrar a sua articulação intersubjetiva, organizacional e política, no

compromisso de uma atuação coletiva.

Frente a isso, o presente trabalho pretende enfocar as contribuições do

PROVITA – Programa de Proteção a vítimas e testemunha ameaçadas, na

construção de práticas interdisciplinares junto a rede de serviços públicos,

considerando a parceria existente entre sociedade civil e estado na garantia da

inclusão e reinserção social dos casos PROVITA-GO juntos as políticas

Públicas.

A Constituição Federal/88 inova a relação do Estado com a sociedade

civil, tendo por base a participação de organizações da sociedade na

formulação e co-gestão das políticas sociais, pois sabemos da sua contribuição

significativa na propositura e aperfeiçoamento desses serviços.

8

Ao trabalhar as questões mencionadas acima, acredita-se que o

PROVITA pode construir caminhos de atuações dentro da rede de serviços

públicos, objetivando abrir caminhos para a discussão interdisciplinar, e isso

deve ser pensado para um trabalho mais efetivo que envolva o avanço e a

melhoria dos serviços prestados aos usuários.

O trabalho está orientado pelo pensamento sistêmico, que acredita no

pressuposto da complexidade ampliando o foco e contextualizando os

fenômenos, que devem ser vistos em uma teia de relações. Nessa perspectiva

acredita-se que o mundo é percebido em constante mudança e evolução num

processo de “tornar-se”, que possibilita a aceitação da instabilidade, da

imprevisibilidade e do não controle do sistema. Acredita-se na

intersubjetividade sendo observador, partícipe ativo na constituição da

realidade com que trabalha. Deste modo pensa-se nos contextos, nos

processos e nas relações (VASCONCELOS, 2002).

Assim, acredita-se que a atuação profissional no PROVITA coloca a

necessidade de conhecer os mais variados elementos que envolvem a prática

interdisciplinar do Programa para a construção da rede de serviços públicos e a

necessidade de compreendê-la da forma mais completa possível.

Deste modo, pretende-se estudar nessa monografia as contribuições do

PROVITA na articulação da rede de serviços públicos, em uma atuação

interdisciplinar que atuem na elaboração, execução e monitoramento das

políticas públicas de direitos humanos, tentando fortalecer no seu papel na

articulação da rede de serviços públicos. Para isso utilizaremos como

procedimento metodológico a revisão de literatura e pesquisa documental

apresentando um estudo de caso.

Para isso, será abordada a interdisciplinaridade na articulação da rede de

serviços públicos, propondo uma discussão e diferenciação entre

disciplinaridade, interdisciplinaridade, multidisciplinaridade,

transdicisplinaridade, assim como as contribuições entre as diversas áreas do

saber no PROVITA.

Em seguida será discutida a participação da sociedade civil nos

PROVITA, seu surgimento em nível nacional e no Estado de Goiás e a forma

com que a rede foi sendo construída para a realização dos trabalhos. E por

9

último, será apresentado um estudo de caso vivenciado pela equipe PROVITA,

assim como seus desdobramentos e resultados.

10

1. CAPÍTULO I - UM OLHAR INTERDISCIPLINAR NA ARTICULAÇÃO DA REDE DE SERVIÇOS PÚBLICOS

As preocupações que têm embasado as ações do PROVITA indicam um

movimento que busca cada vez mais a compreensão deste fenômeno a partir

de uma visão sistêmica.

Assim, busca-se vinculá-lo crescentemente a questões mais amplas, que

envolvem a temática da violência e sua complexidade, o trabalho tende a

enriquecer significativamente relacionando-o a outras esferas de análise, que

se abrem para além do atendimento puro e simples.

Porém, para que isso seja possível, faz-se necessário o trabalho

interdisciplinar que supera o momento atual pelo qual atravessamos o da

fragmentação e especialização das ciências.

Uma das tendências mais características que se tem manifestado no desenvolvimento das ciências modernas é a sua progressiva fragmentação e especialização. No decurso deste processo, foram-se constituindo constantemente novas disciplinas que se emanciparam das anteriores, reclamando cada uma delas a dignidade de ciência independente e proclamando a sua completa autonomia face a todas as outras. (...) A reivindicada autonomia de cada uma das disciplinas teve como resultado a fragmentação do universo teórico do saber numa multiplicidade crescente de especialidades desligadas entre si, que não se fundam já em princípios comuns, nem se podem integrar numa unidade sistemática. Esta dispersão das ciências trouxe também a sua incomunicação e isolamento, devido à diversidade de métodos que cada uma foi desenvolvendo e à especialização da linguagem própria cujos termos não têm equivalência na linguagem das outras e resultam, na maior parte das vezes, intraduzíveis, visto que a sua significação apenas adquire sentido no contexto das suas próprias teorias. (...) Com o correr do tempo, a progressiva especialização que separava as ciências umas das outras foi igualmente desmembrando os diversos ramos de cada ciência, desintegrando a sua própria unidade interna até a pulverizar em secções super-especializadas, fechadas sobre si, que muitas vezes se ignoram mutuamente (ZAN, 1983, p. 43-44)

11

A partir da especialização das ciências passou-se à fragmentação do

sujeito e de sua compreensão, impedindo os profissionais de olhar para o ser

humano como um ser que é biopsicossocial e que precisa ser compreendido

inserido nos contextos que o circundam.

1.1. Disciplinaridade, Interdisciplinaridade, Multidisciplinaridade,

Transdicisplinaridade: Propondo uma Diferenciação

Propomos aqui uma reflexão sobre a disciplinaridade,

interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, transdicisplinaridade estabelecendo

para tanto uma diferenciação desses eixos.

Entendemos como disciplinaridade o estudo da disciplina pela disciplina.

É a partir de nossos olhares específicos que buscamos conhecer toda a

história complexa das testemunhas que chegam aos Programas de Proteção,

sabemos que nós técnicos estamos sujeitos a apropriar de tais informações

também agregando valores nesse processo que são nossos.

Desta forma, como diz Fourez (2002) toda a disciplina constrói os seus

objetos, onde ele entende por objeto, os domínios e as situações que o

paradigma de uma disciplina identificou, construiu e definiu como derivado do

seu campo de investigação.

Na perspectiva disciplinar, a nossa formação nos induz a abordagem da

realidade de acordo com nossos objetos construídos, ou seja, restringimos em

cada especialidade toda complexidade do sujeito, de forma a perder o sentido

do todo, tendo em vista que para a interdisciplinaridade, a compartimentação

do conhecimento é o caminho estabelecido para a construção do objeto.

Na perspectiva da Interdisciplinaridade, podemos dizer que é a mediação

entre a unidade e multiplicidade, na perspectiva de superação das disciplinas,

consiste na articulação entre os diversos conhecimentos. A perspectiva da

interdisciplinaridade, bem como da multi e transdicisplinaridade, perpassa pela

superação da disciplinaridade, que se fundam na ideia da complexidade de

Morin.

12

“a simplificação traz consigo algo ainda mais grave do que o fracionamento da realidade: o reducionismo mutilante. Nesse processo de simplificação, ocorre uma verdadeira mutilação da realidade e esse é um dos motivos pelos quais reunir os caquinhos jamais possibilita que possamos ver o todo ou o complexo” (MORIN, 2007, p. 29).

Já a Multidisciplinaridade é um primeiro passo de aproximação entre as

disciplinas, embora apenas reúne os diversos olhares e saberes, mas as

mesmas não dialogam entre si. Como diz Miranda (2008) a

multidisciplinaridade não inaugura qualquer relação dialógica entre saberes

nem tampouco uma articulação que busque a consolidação de um projeto

específico.

A transdicisplinaridade ultrapassa os domínios da disciplinaridade e vai

para além do que propõe a interdisciplinaridade, onde a perspectiva do humano

funda-se não mais no conhecimento fragmentado e fragmentador, mas na

complexidade, busca-se a construção de uma nova realidade. O desafio é a

reintegração entre o sujeito e o objeto, o humano e o natural o subjetivo e o

objetivo, abrindo caminhos para a reflexão e transformação tanto no nível do

pensar como das relações humanas.

Desta forma, o PROVITA- GO, com sua experiência interdisciplinar, pode

contribuir muito com a articulação da rede de serviços públicos do estado de

Goiás, mesmo ainda com muitas fragilidades a serem superadas, carecendo de

estudo, superação e consolidação da sua intervenção enquanto equipe, para

melhor contribuir com a intersetorialidade dos serviços da rede, que se

apresenta também com muitos nós para serem desatados.

Assim, buscamos compreender e trabalhar no sentido de superar a

disjunção e a fragmentação dos saberes que tem sido causado pela

especialização dos saberes.

De acordo com Morin (2000, p. 13-15 apud Matos, 2006) “existem

inadequações cada vez mais amplas e profundas entre os saberes separados,

fragmentados, compartimentalizados, de forma que a hiperespecialização

impede de ver o global bem como do essencial”.

A fragmentação dos saberes incapacita os profissionais de entender

todos os fatores que envolvem um fenômeno, dificultando assim, uma atuação

que realmente cumpra o seu papel.

13

A multidisciplinaridade constitui ainda num primeiro passo da aproximação

entre as disciplinas. Trata-se de um processo de justaposição entre as diversas

áreas, buscando a reunião de resultados de cada uma delas relativamente a

um dado objeto. A proposta da interdisciplinaridade consiste na busca de

articulações entre os conhecimentos rumo à superação da disciplinaridade e

multidisciplinaridade.

Toda nossa formação acadêmica tende a ser disciplinar, é fundamental

que saibamos que a visão do objeto construído, não está isenta de conteúdos

ideológicos, políticos e culturais e que esses conteúdos estão ainda

condicionados pela carga existencial de cada pessoa. Essa compreensão é um

primeiro posicionamento crítico em relação ao olhar disciplinar para a

construção de relações dialógicas entre diversos saberes.

É importante perceber que a disciplinarização do conhecimento e a

proposta da multidisciplinaridade e mesmo a pluridisciplinaridade trata o

conhecimento e a compreensão do mundo de maneira reducionista e

fragmentada. Especialmente quando a produção do conhecimento abandona a

reflexão sobre si mesma e funda-se da fragmentação e na separação radical

entre sujeito e objeto, subjetivo e objetivo, humanidade e natureza.

Desta forma, o nosso caminho em direção à inter/transdicisplinaridade

passa pela superação do dualismo epistemológico entre as ciências naturais e

as ciências sociais e humanas. Além disso, ao invés do olhar que reduz e

mutila, verificamos a necessidade de um olhar para a complexidade.

Os diversos momentos de atuações nos programas de proteção podem

ter como fundamento o compromisso: Desde a concepção inicial dessa política

com a perspectiva de transformação, tendo em vista que ela toma o usuário em

sua totalidade e coloca todo um universo de pessoas para a busca de

soluções, o diálogo entre os saberes na organização de estruturas à

articulação das diversas políticas para o processo da reinserção social dos

sujeitos.

De acordo com Fiorin (2009) parece haver duas formas básicas de

fazer ciência: uma é regida por um princípio de exclusão e a outra, por um

princípio da participação que criam dois grandes regimes de funcionamento

das atividades de pesquisa. O primeiro é o da exclusão, cujo operador é a

triagem. Nele, quando o processo de relação entre objetos atinge seu termo

14

leva à confrontação do exclusivo e do excluído. De acordo com a autora as

atividades reguladas por esse regime colocam em comparação o puro e o

impuro. O segundo regime é o da participação, cujo operador é a mistura, o

que leva ao cotejo do igual e do desigual de forma que o desigual nunca é visto

como superior ou inferior.

É com o segundo modelo que iremos trabalhar, tendo como operadores

a mistura de saberes e de contribuições, no qual profissionais de diferentes

áreas tecem as redes de um trabalho eficaz, eficiente e interdisciplinar que

nessa perspectiva tecem as redes da cidadania e buscam a articulação das

redes de serviços públicos.

1.2 - PROVITA: O Palco Para a Interdisciplinaridade 1.2.1 - Contribuições do Direito

A partir da visão interdisciplinar apresentada, acredita-se não é

possível atender as demandas sociais e comunitárias por uma só disciplina ou

área de conhecimento. Assim, ao tratar as temáticas relacionadas às

contribuições do PROVITA na articulação da rede de serviços públicos faz-se

necessário envolver o poder judiciário em nossa discussão.

Segundo Sadek (2004) o arcabouço jurídico-legal provoca

consequências na realidade das pessoas, da sociedade, moldando instituições,

definindo direitos e garantias individuais e coletivas, regulando e mediando as

relações entre governados e governantes, incentivando ou inibindo

comportamentos e impondo limites ao exercício do poder. Da mesma forma, o

modelo institucional estabelece parâmetros que produzem efeitos concretos.

Assim, não se trata apenas de criticar e avaliar modelos, de resolver

controvérsias, de arbitrar conflitos, mas, sobretudo o papel do poder judiciário é

o de garantir direitos e promover um debate no que se refere, também, à

avaliação da construção institucional adotada no país por imposição da

Constituição de 1988.

Segundo Cunha (2005) os direitos humanos constituem o principal

instrumento de defesa, garantia e promoção das liberdades públicas e das

condições materiais essenciais para uma vida digna. Os poderes Executivo e

15

Legislativo são sempre solicitados a atuar conforme esses direitos. Contudo, o

Poder Judiciário é o último guardião de tais direitos, e a esperança de proteção

em relação a eles.

O PROVITA nasceu em 1999 no Brasil, através da Lei 9.807, instituindo

uma política pública de proteção aos direitos humanos, de assegurar a vida de

pessoas ameaçadas, ou seja, quem se dispõe a colaborar com a Justiça, terá o

amparo do Estado para preservação da sua vida e de seus familiares,

recebendo apoio para sua mudança, sua reinserção na sociedade, assistência

médica e social e outros tipos de auxílio.

Porém, a rede de serviços públicos não tem dado conta das demandas

da população de um modo geral. Para os usuários do PROVITA as dificuldades

são ainda maiores, pois para ter acesso aos serviços públicos, são expostos às

situações de exposições, uma vez que os processos burocráticos inviabilizam a

manutenção do sigilo necessário para a segurança.

Segundo Neto, 2001 o art. 7º, IV, da Lei 9.807/99 e o art. 1º, III, do

Decreto 3.518/00, a preservação da identidade e dados pessoais do indivíduo é

medida necessária para mantê-lo no anonimato, evitando, desse modo,

represálias por parte de grupos criminosos organizados.

De acordo com a Declaração dos Direitos Humanos (1948):

Artigo VII: Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção,

a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer

discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a

tal discriminação.

Artigo XXI: Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu

país.

Assim, deve o Poder Judiciário assumir uma posição plenamente ativa,

na sociedade, como agente transformador. No controle judicial das políticas

públicas, apresenta-se um rol de instrumentos jurídicos, judiciais e

extrajudiciais para a tutela do direito coletivo de acesso aos serviços públicos

de saúde, permitindo que seja alcançada a efetiva concretização do direito ao

serviço público no seio da sociedade.

Segundo Bucci (1997) as políticas públicas tornaram-se uma categoria de

interesse para o direito há menos de vinte anos, havendo pouco acúmulo

16

teórico sobre sua conceituação, sua situação entre os diversos ramos do direito

e o regime jurídico a que estão submetidas a sua criação e implementação.

Porém segundo a autora, com o fim da Segunda Guerra Mundial e o

advento de políticas sociais de saúde, seguridade social e habitação, muito

expressivo nos países da Europa e nos Estados Unidos, há um

aprofundamento dessa alteração qualitativa das funções do Estado, que do

plano da economia se irradia sobre o conteúdo social da noção de cidadania.

A função estatal de coordenar as ações públicas (serviços públicos) e

privadas para a realização de direitos dos cidadãos legitima-se pelo

convencimento da sociedade quanto à necessidade de realização desses

direitos sociais. Mas esse raciocínio não basta, faz se necessário que o poder

judiciário entre em uma discussão mais ampla, considerando não somente a

área constitucional, mas que abranja também o direito administrativo.

A discussão deve perpassar não somente o campo da fiscalização a

respeito dos direitos do cidadão, mas faz-se necessário que as discussões

abranjam o campo do direito administrativo, influenciando no sistema maior que

atinge diretamente à população.

Assim, o judiciário passa a ter um papel fundamental na construção

dentro da rede de serviços públicos, existente em Goiânia objetivando a

facilidade para abrir caminhos para o acesso dos usuários do PROVITA-GO

nos mesmos, sendo o poder judiciário, o órgão responsável pela cobrança e

execução desses serviços e isso precisa ser pensado para que haja um

trabalho mais efetivo que envolva a melhoria dos serviços prestados aos

usuários.

1.2.2 – Contribuições do Serviço Social

É sabido que a constituição das políticas sociais no Brasil é marcada pela

subordinação a interesses políticos e econômicos, caracterizadas por ações

fragmentadas, focalizadas e seletivas. Com a Constituição Federal de 1988, as

mesmas passam a integrar a Seguridade Social e se inscreve sob o paradigma

do direito social, conquista alcançada a partir da luta de diversos segmentos

sociais em defesa da cidadania. Apesar dos avanços, muitos desafios ainda se

colocam para a implementação da política nos termos propostos.

17

Segundo Melo & Almeida (1999) ao estudar o percurso histórico da

assistência social no Brasil, sua trajetória, dilemas e desafios enquanto Política

Pública observamos que as políticas sociais sempre estiveram subordinadas a

interesses políticos e econômicos. Imbuída da ótica de acumulação capitalista,

caracterizada por ações fragmentadas, no atendimento das demandas sociais.

Porém, o processo histórico de elevação do nível de consciência sócio-

política dos trabalhadores contribuiu para que a ação reguladora estatal

ganhasse novo formato, impondo a implementação de novos mecanismos

político-jurídicos de gestão da questão social. Além disso, houve uma mudança

no papel que a sociedade civil foi imprimindo na formulação, execução,

fiscalização e controle das políticas públicas, mediante o confronto de forças no

cenário nacional brasileiro.

A partir da Constituição de 1988 percebemos que houve um grande

avanço na conquista da democracia neste país, desencadeando desde então,

novas modalidades de relação entre o Estado e a sociedade civil, configurando

aí uma nova concepção de esfera pública, onde a participação da sociedade é

bastante presente na garantia da representação dos interesses populares.

As Organizações Não Governamentais, mesmo diante de grandes

desafios, ganharam visibilidade e tiveram um papel importante na sociedade,

com destaques na mídia e nos espaços políticos, permanecendo, na luta por

novos direitos, novas conquistas e controle social, mesmo ainda sendo

solicitada pelo governo para prestação de serviços sociais. Assim, a partir da

constituição cidadã, assistimos o crescimento de parcerias do Estado com as

Organizações Não – Governamentais, atuando na defesa de interesses

públicos e na formulação, gestão e avaliação de programas e projetos sociais,

nas mais diversas áreas.

Neste contexto, as ações de proteção foram compondo alianças e

alargando o compromisso participativo de diversos segmentos - sociedade civil

e órgãos públicos - o que se coloca como fundamental no processo conflitivo e

antagônico que se complementam. Deste modo, podemos afirmar que a

parceria entre Estado e sociedade civil pode se configurar numa partilha de

poder.

A ação profissional cotidiana do Serviço Social, demanda a leitura crítica

do contexto em que se inserem os usuários dos Programas de Proteção. A

18

intervenção nesta realidade requer que questionemos e revisitemos

constantemente nossas visões de mundo: representações sobre justiça,

direitos humanos, sobre os valores que defendemos e partilhamos ou que nos

dividem e, sobretudo, a respeito dos sujeitos com os quais trabalhamos.

Conforme Lei 8662/93 que regulamenta a profissão, artigo 5, parágrafo

4º, o profissional deve “realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais,

informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social” (Conselho Federal

de Serviço Social, 2003, p.7), é primordial para o Serviço Social definir e

sustentar a discussões teórico-metodológicas frente à realidade social onde ele

está inserido. Assim, a atuação do assistente social nos Programas de

Proteção está pautada na luta por garantias de direitos humanos e sociais dos

usuários, de forma articulada com as demais áreas do saber com as quais o

mesmo compartilha do trabalho em equipe, bem como com os diversos

parceiros da rede de proteção e de serviços públicos.

Temos claro que a Política Pública de Proteção objetiva transformar-se

em instância de mediação fundamental para a garantia dos direitos humanos e

combate à impunidade, tão almejados pelo conjunto das forças sócio-políticas

envolvidas nos programas. A equipe, então, é requisitada a marcar uma

posição ideológica nessa direção, o que se traduz na necessidade do desenho

de uma nova prática, comprometida com a afirmação da justiça e com a

garantia de direitos. Sua ação, certamente, não poderia limitar-se a um

trabalho pontual, mas, ao contrário, demanda uma intervenção construída sob

os pilares da parceria, da socialização do saber e do fazer, ou seja, uma prática

tão diferenciada e inovadora quanto à proposta dos programas.

A formação continuada também é uma prática que assegura a prestação

de um serviço de qualidade para os usuários, uma vez que esta expressa um

compromisso ético-político e pedagógico. Tendo em vista que a constituição de

relações transparentes, de confiança e de cooperação entre os técnicos, além

de tornar a rotina de trabalho mais leve, fortalece as equipes para o

enfrentamento dos diversos desafios, dilemas e dificuldades do dia-a-dia (Melo

& Almeida, 1999).

As alternativas que podem ser construídas com vistas ao fortalecimento

dos sujeitos de direitos, à assunção do protagonismo em suas vidas e

reinserção social com dignidade e autonomia, devem partir de estratégias que

19

potencializem os sujeitos, o fortalecimento dos vínculos existentes, tendo

sempre como objetivo maior a sustentabilidade das relações estabelecidas com

o lugar (Rodrigues, 1998).

Para tanto, isso deve se dar de forma articulada e integrada com as

demais políticas públicas, oportunizando aos indivíduos o acesso aos bens e

serviços existentes, de forma que os mesmo se sintam partícipes no processo

de construção do seu novo projeto de vida. Jamais na perspectiva da

institucionalização do sujeito, pois a dinâmica institucional na vida do ser

humano não substitui a família no papel de construção das relações de afeto e

confiança.

As estruturas do poder não são impermeáveis às pressões sociais, já que

nela se refletem as próprias contradições da sociedade capitalista. Por isso é

que se fazem fundamentais a participação popular e o controle social na

definição das políticas públicas. A elaboração e execução das políticas públicas

se constitui como um processo dinâmico, com negociações, pressões,

mobilizações populares e necessariamente disputas de interesses. Os

diversos movimentos sociais, grupos e entidades são imprescindíveis para

mostrar a “cara do povo” para o Estado, para levar os conflitos de classe, de

raça e de gênero da sociedade para a definição de prioridades

governamentais, garantindo assim, políticas públicas que atendam as reais

necessidades da população (Rodrigues, 1998).

Assim, vale lembrar que a Constituição de 1988 representou um marco

importante na conquista de novos direitos, preconizando a implementação de

políticas sociais universalizantes, com participação e controle da sociedade, o

que garante a apropriação da sociedade sobre essas políticas, tornando os

cidadãos também responsáveis por elas.

1.2.3 – Contribuições da Psicologia

Para atuarmos nos Programas de Proteção, precisamos, antes de mais

nada, compreender o fenômeno da violência como um movimento social e para

compreendermos esse processo é importante perpassarmos a história e a

construção dos processos de subjetivação, considerando a influência do meio

20

social e cultural na formação dos sujeitos, só assim, poderemos atuar no

fenômeno considerando a sua complexidade.

A relação entre o indivíduo e o meio social é algo que perpassa a história

da psicologia desde os experimentos de Wundt, pioneiro na formulação de um

projeto de psicologia como ciência independente (Farr, 1999).

Porém, na atualidade a discussão é mais ampla, não se trata

simplesmente de perceber o social como algo externo e a subjetividade como

algo interno em uma relação de causalidade, precisamos observar a

complexidade que envolve esse tema valendo-se de uma compreensão

dialética desse processo, no qual a interioridade que é constituída através do

meio social influencia o meio social de maneira dialética e recursiva.

Freud apud Alves, 2005, afirmou em Psicologia dos grupos e análise do

ego que não havia uma psicologia que não fosse social, não podendo

desvencilhar o individual do cultural. Esse é um processo complexo, no qual,

Alves (2005), nos diz que a cultura se desenvolve no social e no humano,

sendo que todo fenômeno social é cultural, por isso a cultura tem inúmeros

comportamentos sociais, pois são nos espaços culturais que se produz sentido

e se compartilham normas. A cultura é produção simbólica é criação e

construção singular dos espaços, assim, cada sujeito tem um recurso singular

para viver e modificar a cultura.

Birman (2000) se refere à cultura como uma cooperativa que possui

capacidade cognitiva de sermos autores e agentes na interação contínua de

transformação, e é nesse processo dialético que tudo o que é cultural adquire

sentido.

Essas questões tornam-se ainda mais complexas quando consideramos

que qualquer espaço simbolicamente construído toma forma e vida na relação

com o Outro e o primeiro lugar de construção das relações perpassam o

contexto familiar que sofreu transformações ao longo dos anos, o sentimento

de família foi trocado pelo sentimento de classe, a família saiu para as compras

e “preencheu” o vazio e o abismo sem a presença do Outro.

Freud (1996) diz que o ser humano busca insistentemente aplicar o mal

estar e sofrimento na busca da felicidade e muitas vezes é nesse processo,

como nos diz Enrriquez, (1999 p. 158) que “o vínculo social se apresenta em

princípio como um vínculo trágico” no qual a compreensão do Outro não passa

21

pelo desejo de satisfação e sim sujeito de seus desejos. De acordo com Alves

(2005), o amor próprio, o crime e a violência são o reconhecimento e a

destruição do desejo do outro, são distorções da alteridade moderna. E

complementa Zizek (2003), teríamos a violência como um "mecanismo de

defesa que cobre o vazio da incapacidade de intervir eficazmente na crise

social". (p.38)

Esses conflitos internos acontecem a partir das pressões externas que se

apresentam no meio social, assim quando o psicólogo se propõe a trabalhar

essas temáticas, deve considerar o que não existe a violência, no singular,

existe uma pluralidade imensa e dinâmicas sociais que estão em constante

mudança.

Uma forma de garantir que os fenômenos sejam compreendidos em sua

complexidade é através do trabalho interdisciplinar que é a prática do

Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas – PROVITA, pois

há a necessidade de romper com a tendência fragmentadora e desarticulada

do processo do conhecimento, pautando-se pela compreensão da importância

da interação e transformação recíprocas entre as diferentes áreas do saber.

É nesse contexto de violência que, o profissional da Psicologia integra um

trabalho em direitos humanos para contribuir na temática da violência e

acompanhar, juntamente com os demais membros da equipe técnica, os

usuários do programa.

O trabalho da Psicologia é muito maior que realizar triagens dos casos

encaminhados e elaborar pareceres técnicos que avaliam a personalidade dos

usuários, fazendo garantir a Lei Federal nº 9.807/99 que diz em seu art. 2º § 2º:

“Estão excluídos da proteção os indivíduos cuja personalidade ou conduta seja

incompatível com as restrições de comportamento exigidas pelo programa”.

Mais que isso, cabe a Psicologia acompanhar todo o processo que envolve o

programa garantindo a saúde psíquica dos usuários, e para isso precisa ter

uma compreensão ampla da subjetividade humana e do contexto social da

violência.

Compreender os processos envolvidos auxiliam o profissional no

entendimento dos problemas que envolvem a subjetividade humana, evitando

práticas que naturalizam o sujeito e o contexto histórico-social. Aliado a isto,

faz-se importante compreender o processo de subjetivação que influenciam a

22

forma com a qual as pessoas lidam com as dificuldades vivenciadas e

desenvolvem, na sua interação com o mundo, o potencial resiliente que faz

com que as pessoas, apesar das dificuldades, sejam capazes de reconstruir

suas vidas. Assim, cabe ao profissional, identificar o potencial que há em cada

sujeito, resgatando o seu potencial de superação das dificuldades e de re-

significação dos episódios trágicos de sua vida.

1.2.4. Os desafios da intervenção em equipes interdisciplinares.

A Política de Assistência e Proteção à Vítima e Testemunha vem

constituindo uma proposta de política pública social que agrega traços de uma

política emancipatória. Isso porque traz, necessariamente, a produção

interdisciplinar na construção dos projetos de reinserção social de seus

usuários.

Nesta perspectiva ela aponta as fragilidades, ilumina deficiências de

articulações, problematiza os limites e se coloca no compromisso da reflexão e

transformação da realidade.

De acordo com a experiência do trabalho interdisciplinar na equipe do

PROVITA-GO podemos relatar que nossa vivência foi muito mais de

dificuldades no relacionamento dos saberes e confronto de entendimentos do

que de potencialidades, avanços e superações.

Assim como pudemos perceber essa dificuldade em diversos programas

de proteção no país, a história do PROVITA em Goiás é marcada por inúmeras

tentativas e frustrações de se implementar uma política pública de proteção

como de fato preconiza os direitos humanos. Portanto, um dos entraves

limitador, avalia-se ser também a falta de sustentabilidade do trabalho em

equipe, pois desta forma, quando existe um trabalho bastante articulado entre

as diversas áreas do saber e demais políticas públicas de direitos, todos lutam

niveladamente por um objetivo único, sem corporativismos e vaidades

pessoais e institucionais, as possibilidades de sucessos são muito maiores.

No contexto dos Programas de Proteção, a prática interdisciplinar

mostra-se como recurso que pode permitir a construção da integração em

equipe e a construção da proteção necessária às vítimas. Assim, busca-se

23

apresentar uma reflexão interdisciplinar como recurso para o cuidado com essa

clientela. Tal reflexão envolve também as vivências dos profissionais

envolvidos.

Essa discussão deve considerar a articulação de ações e saberes

diferenciados dos profissionais atuantes no processo e a dinâmica dos

processos grupais envolvidos que comportam também questões de ordem

subjetiva. O trabalho apesar de organizado a partir da prática de distintos

profissionais deve ser marcado pela determinação de ações, que, muitas

vezes, mantém a lógica da fragmentação dos sujeitos. A dimensão humana se

perde em meio à desarticulação das chamadas dimensões biológica,

psicológica e social. Cada uma dessas dimensões acaba sendo considerada

como campo de ação de um único profissional atuando em ações isoladas em

momentos distintos, isso também reflete a compreensão.

24

2. CAPÍTULO II - A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NOS PROVITAS

2.1. A Trajetória

A proposta do PROVITA nasceu em 1995 quando o Grupo de Assessoria

Jurídica às Organizações Populares - Gajop, buscando contribuir com a

redução dos elevados índices de impunidade em Pernambuco e com base em

sua experiência de assessoria jurídica em diversos casos concretos de

envolvimento de grupos de extermínio no Estado, apresentou ao governo

pernambucano uma proposta para a criação do „programa de apoio e proteção

a vítimas, testemunhas e familiares de vítimas da violência‟.

O programa teve início em 1996, contando com o suporte do Ministério

Público estadual, que, percebendo a importância dessa política pública para a

quebra do ciclo da impunidade, firmou um convênio de cooperação técnica com

o Gajop.

A proposta objetivava as transformações do país com o retorno ao Estado

Democrático de Direito e estava em sintonia com o cenário internacional de

fortalecimento da luta pelos Direitos Humanos após a Conferência das Nações

Unidas, ocorrida em Viena, em 1993. Até esse momento as testemunhas eram

tratadas com total descaso pela legislação brasileira. As vítimas só começaram

a ser visíveis para o sistema judicial após o advento da Lei n.º 9.099/95.

O apoio do Movimento Nacional de Direitos Humanos propiciou a

necessária legitimidade para a adesão de outras entidades a ele filiadas na

execução dessa política pública e para a inclusão, no Programa Nacional de

Direitos Humanos (PNDH), - no capítulo dedicado à “luta contra a impunidade”

da meta de implementar serviços de proteção a testemunhas ameaçadas.

Em função do êxito da experiência pernambucana, o Ministério da Justiça,

através da então Secretaria de Estado de Direitos Humanos, firma em 1998 um

convênio de cooperação técnico-financeira com o governo estadual para apoiar

o PROVITA ficando explicitado que o modelo proposto de parceria entre o

Estado e a Sociedade Civil, recebia o reconhecimento oficial do Governo

Federal. Ainda nesse ano, convênios de igual teor foram efetivados com os

Estados do Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro, com vistas à implantação

dos seus respectivos programas de proteção a testemunhas.

25

Um novo convênio foi celebrado com o Gajop para auxiliar a implantação

desses programas, incluindo a seleção da entidade gestora da sociedade civil e

a seleção e capacitação das equipes técnicas multidisciplinar – outra marca do

programa – que atende aos beneficiários inseridos na rede solidária sigilosa.

Com a promulgação da lei N.º 9.807, que contou com o apoio da

Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, em 13 de julho de 1999

essa política passou a ter o marco legal de sua institucionalização,

estabelecendo normas gerais para a organização dos programas estaduais e

criando o Programa Federal de Proteção a Testemunhas, lançando as bases

para o Sistema Nacional de Proteção a Testemunhas.

A Lei criou a figura do réu colaborador, definindo regras para a redução

da pena e o perdão judicial de criminosos arrependidos. Embora não prevista

na Lei, a possibilidade de permutar usuários dentro das redes estaduais,

reduzindo os riscos das testemunhas e seus familiares serem localizados,

consolidou a rede solidária, de responsabilidade da Sociedade Civil e marca

única do modelo brasileiro de proteção.

Atualmente existem 16 Estados do país que contam com o PROVITA:

Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso

do Sul, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina,

Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul, sendo um departamento de

Proteção a Testemunhas na Secretaria de Estado de Direitos Humanos, que

coordena os Programas Estaduais e monitora os casos federais, testemunhas

de estados que ainda não têm Programas próprios.

Os Programas são parcerias entre o Governo Federal (a Secretaria de

Estado de Direitos Humanos do Ministério de Justiça), uma entidade executora

da sociedade civil e os Governos Estaduais (Secretaria de Justiça) em cada

Estado.

O sistema de proteção a testemunhas no Brasil é regulamentado pela Lei

Federal nº 9.807, de 13 de julho de 1999 e do Decreto nº 3.518/2000 que existe

para dar às testemunhas de crimes, a garantia de vida e coragem para

testemunhar, atendendo pessoas que presenciaram qualquer tipo de crime e

que estão dispostas a colaborar com a justiça. Os réus colaboradores, ou seja,

aqueles que são testemunhas porém, com envolvimento criminoso são

26

atendidos pelo Programa Federal de proteção a testemunhas, através da

Polícia Federal.

O PROVITA oferece ao usuário, assistência social, psicológica e jurídica

por parte da equipe interdisciplinar do PROVITA e voluntários, bolsa de

trabalho, cursos profissionalizantes e oportunidades de reinserção social em

seu novo local.

Em casos de extrema necessidade, o usuário pode também mudar sua

identidade (nome) sendo deslocados, quando necessário para garantir sua

maior segurança. Nesses casos, o programa ajuda na mudança e na procura

de moradia, emprego, escola para os filhos, tendo prioridade também no

Ministério Público e no Poder Judiciário. A permanência de um usuário dentro

do programa é, normalmente, de dois anos, podendo ser prorrogado quando

necessário.

O PROVITA é operacionalizado através de uma rede de voluntários, que

nunca ficam em contato direto com as testemunhas protegidas, os prestadores

de serviço que são profissionais liberais, como médicos, dentistas, psicólogos,

advogados, entre outros, que ora prestam serviços gratuitos ao programa.

Também os protetores que possui contato momentâneo, muitas vezes em

situações de urgência, com os beneficiários, são pessoas que mantém as

testemunhas protegidas em lugares seguros.

O Programa Federal foi criado pela Lei n.º 9.807/99 e regulamentado pelo

Decreto n.º 3.518/00, o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a

Testemunhas Ameaçadas, diferentemente dos Programas estaduais – com

exceção do PROTEGE/RS – é um programa cujo órgão executor é o Estado.

Diz o artigo 8º do Decreto em seu parágrafo único que “as atribuições de Órgão

Executor serão exercidas pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos”.

Trata-se não apenas de um programa estatal (todos são), mas executado pelo

Estado diretamente. Mesmo com um convênio operacional com o Gajop, essa

definição não se afasta.

Assim, se o Poder Executivo planeja estatizar por algum motivo essa

política pública, o Programa Federal e o Serviço de Proteção ao Depoente

Especial são as alternativas indicadas para que essa transição se efetue e se

demonstre viável. Inclusive porque todo o atendimento dos casos federais, na

prática é feito pela Sociedade Civil, no seio da Rede Solidária.

27

Durante o II Seminário Nacional de Proteção a Testemunhas, realizado

em março de 1999, já surgia a proposta de formulação de um Sistema

Nacional, que articulasse os diversos programas e como “espaço político-

institucional destinado a dar suporte político ao trabalho de proteção a

testemunhas e combate à criminalidade desenvolvido em parceria por grupos

da sociedade civil e órgãos públicos.

Reunidos em Canela/RS, em setembro de 2002, representantes dos

Conselhos Deliberativos, do Fórum das Instituições Gestoras e do Colégio dos

Presidentes dos Conselhos Deliberativos reafirmaram a necessidade da

“criação de um Conselho Nacional do Sistema de Proteção, instância para

deliberar as grandes linhas políticas do Programa, com a participação paritária

de representantes do Estado e da Sociedade Civil”.

No embrião do que viria, mais tarde, a se tornar o Fórum Permanente do

Sistema Nacional, foi apresentada à Equipe de Transição do Governo Lula a

proposta de aperfeiçoamento da Legislação (lei n.º 9.807/99), com a criação de

um Conselho Nacional do Sistema de Proteção a Vítimas e Testemunhas

Ameaçadas. São Competências do Conselho Nacional:

Elaborar diretrizes gerais para políticas de proteção a vítimas e

testemunhas;

Definir estratégias de aprimoramento do Sistema, inclusive no

encaminhamento de propostas de alteração legislativa;

Promover a integração com outras políticas públicas;

Definir regras gerais de operação entre os programas;

Propor soluções na resolução de conflitos positivos e negativos de

competência entre os programas, sejam eles em grau originário e/ou

recursal.

2.2. Tecendo as Redes do PROVITA no Estado de Goiás

No Estado de Goiás, o PROVITA teve início com a Lei Nº 13.784 de 03

de Janeiro de 2001 dispondo sobre a proteção e auxílio às vítimas de

violência e com a Lei Nº 16.386, de 27 de Novembro de 2008 que institui o

Programa Estadual de Assistência e Proteção a Vítimas e a Testemunhas

28

Ameaçadas - PROVITA-GO e cria o Serviço Estadual de Proteção ao

Depoente Especial – SEPDE.

A Assembleia Legislativa Do Estado De Goiás, nos termos do art. 10

da Constituição Estadual, decreta e sanciona a lei e prevê no Artigo 1º:

“Fica instituído o Programa Estadual de Assistência e Proteção a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas – PROVITA-GO, vinculado à Secretaria da Segurança Pública, destinado a prestar, no âmbito do Estado de Goiás, as medidas de proteção requeridas por vítimas ou por testemunhas de crimes que estejam coagidas ou expostas a grave ameaça, em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal e criado o seu Conselho Deliberativo – CONDEL/PROVITA-GO”. (GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, 2008).

O documento que instituí o PROVITA no Estado de Goiás prevê no artigo

2º, parágrafo 2º que as medidas do Programa, aplicadas isolada ou

cumulativamente, objetivam garantir a integridade física, psicológica e a

reinserção social dos beneficiários, bem como a cooperação com o Sistema de

Segurança Pública e consistem, dentre outras, em:

I – segurança nos deslocamentos;

II – transferência de residência ou acomodação provisória em

local sigiloso, compatível com a proteção;

III – preservação da identidade, das imagens e dos dados

pessoais;

IV – ajuda financeira mensal, no caso de o beneficiário estar

impossibilitado de desenvolver trabalho regular ou de inexistência de qualquer

fonte de renda;

V – suspensão temporária das atividades funcionais;

VI – assistência social, médica e psicológica;

VII – apoio para o cumprimento de obrigações civis e

administrativas que exijam comparecimento pessoal;

VIII – alteração de nome completo, em casos excepcionais.

No estado de Goiás o programa é executado pelo Centro de Valorização

da Mulher – CEVAM, ONG que integra a rede solidária do PROVITA com

recurso público e que atende as exigências do programa quanto a composição

29

de equipe interdisciplinar, contando com uma Assistente Social, uma

Advogada, uma Psicóloga e uma Coordenadora Psicóloga.

A equipe trabalha na perspectiva das redes sociais como mecanismo de

coordenação da política pública. De acordo com Kickert, 1999 citado por,

Nascimento, 2007 o conceito de rede de políticas públicas são as relações

relativamente estáveis entre diferentes atores que podem ser indivíduos,

organizações e ou arranjos interinstitucionais independentes entre si que

participam da formulação ou implementação de uma política pública.

A proposta inovadora da organização em rede onde os atores envolvidos

assumem uma ação combinada e decidem participar, proporciona o

engajamento nessa ação como sujeitos de seus compromissos. Para Solier

(2007), a organização em rede tem como valores fundamentais: “co-

responsabilidade, liberdade, respeito mútuo, democracia e transparência.”

(P.19)

Com relação aos movimentos sociais, nos remetemos à Diani (2000)

citado por Scherer-Warren (2007), que nos lembra que existem evidências de

que a participação nos movimentos sociais, hoje, não se desenvolve de

maneira isolada mas, ao contrário, é um processo conjunto com múltiplos

envolvimentos.

De acordo com Scherer-Warren (2007) as polêmicas entre o caráter dos

novos movimentos sociais e os movimentos sociais tradicionais vem sendo

substituídas pelas análises da natureza e dos significados políticos e culturais

das relações entre atores coletivos diversificados. Portanto, em lugar de

pensar-se o movimento separadamente, é necessário buscar a relação

interorganizacional, as ambigüidades e os desafios que as redes apresentam e,

ainda, o que ser movimento representa para o “empoderamento” da sociedade

civil, contribuindo para a transformação social.

O PROVITA se relaciona com vários atores. Em nível nacional, o

Programa é dirigido politicamente por um conjunto de instâncias: a Secretaria

Especial de Direitos Humanos, por meio de uma coordenação específica para o

sistema; o Colégio Nacional de Presidentes dos Conselhos Deliberativos dos

Programas de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas; o GAJOP; o

30

Fórum Nacional das ONGs ou Executoras das medidas de proteção e o

Movimento Nacional de Direitos Humanos.

Além destes, fazem partes os Conselhos Deliberativos de cada estado e

na perspectiva do trabalho em rede, todos as secretarias estaduais e

municipais de saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança, as

equipes de trabalho que as compõem além da rede solidária envolvida.

No estado de Goiás, as articulações do PROVITA-GO com esses

diversos atores na perspectiva de um consistente trabalho em rede, ainda se

encontra bastante aquém do esperado, pois existe uma clara fragmentação nas

ações, descontinuidade nos processos que se exige uma sequencia de

compromissos e responsabilidades para uma eficácia nos resultados.

Acontecendo desta forma, apenas ações pontuais e isoladas que de certa

forma não configura compromisso político – pedagógico com a sustentabilidade

do trabalho em rede num contexto institucional mais amplo, mas sim

atendimentos emergenciais em demandas específicas.

O PROVITA é um programa novo no Estado de Goiás, portanto, ainda

precisam ser desenvolvidas estratégias de trabalho mais eficientes, eficazes e

que realmente funcionem articuladamente no contexto das demais políticas

públicas estaduais, que se arrastam historicamente com suas limitações

técnico-administrativas e profissionais, mas não se comprometem com a

qualificação e profissionalização de seus serviços prestados a população.

Nesse contexto, podemos citar como uma instituição de serviço público

que muito contribui para a articulação e fortalecimento da rede aqui em

Goiânia, a secretaria municipal de saúde que é um órgão que possui na sua

estrutura organizacional um núcleo de violência e vem provocando essa

discussão em nível de município e órgãos também do estado. Portanto,

citamos também como uma das secretaria que pouco tem contribuído para a

discussão, inclusão e processo de reinserção social dos casos Provita-GO no

estado, a Secretaria Estadual de Cidadania e Trabalho.

31

Assim, devemos considerar para além da atuação dos profissionais de

maneira interdisciplinar e integrada nos Programas de Proteção, também

precisamos pensar em uma atuação em rede com articulações conjuntas

interinstitucionais que considerem todos os sistemas envolvidos em torno de

determinada problemática.

3. CAPÍTULO III – A ANÁLISE DAS PRÁTICAS EFETIVAS NOS

PROGRAMAS: O caso do PROVITA-GO na Articulação das Redes

3.1. O Caso PROVITA

Faremos aqui uma análise e um estudo de uma abordagem de um caso

trazido para ilustrar os desafios da atuação de equipes interdisciplinares e do

trabalho em redes, que se apresentou ao PROVITA em dezembro de 2006

através de uma permuta federal, para pouso em local de proteção,

procedimento que objetiva a segurança na rede do programa federal. O caso

foi acolhido no Ministério Público Estadual – Goiânia, onde já iniciamos o

processo de articulação da rede de serviço público na área da saúde para

atendimento do mesmo.

O beneficiário, Sr. Silvio1 (56 anos) em setembro de 2006 presenciou em

seu estado de origem, juntamente com o seu filho de 15 anos, o homicídio de

um amigo com quem trabalhava com compra e venda de veículos semi novos.

Na ocasião o mesmo estava presente e foi também alvejado pelo assassino na

tentativa de também eliminá-lo, sendo atingido no antebraço direito. Porém,

sobreviveu e prestou queixa na delegacia próxima ao local.

A polícia não conseguiu realizar a prisão do assassino, ficando a família

do Sr. Silvio a mercê de ameaças constantes. Desta forma, buscou auxílio no

Ministério Público de seu estado, que o encaminhou para o Programa de

Proteção as Vítimas e Testemunhas Ameaçadas – PROVITA e foi realizada a

triagem pela equipe multiprofissional (advogados, psicólogos e assistentes

sociais), aprovando sua inclusão pelo Conselho Deliberativo do PROVITA –

CONDEF.

1 Nome fictício.

32

Desta forma, tendo em vista que o Sr. Silvio chegou com um projétil

localizado no antebraço direito, devido seqüelas da tentativa de homicídio

ocorrido no seu estado de origem, a partir daí iniciou-se o trabalho da equipe

GO no acompanhamento psicossocial da família.

De posse dos exames que acompanhavam o senhor Sílvio, a equipe

PROVITA foi até um Hospital Público da cidade de Goiânia discutir

possibilidades de atendimento do caso naquele local, de forma que garantisse

a sua proteção e anonimato no sistema de saúde.

Diante da burocracia encontrada e dificuldades na garantia do

atendimento, a profissional responsável discutiu com a Assistente Social de um

outro Hospital, sendo o Hospital Ortopédico do município, garantindo ali apenas

o atendimento emergencial do beneficiário e nada mais que isso.

Diante das dificuldades encontradas para o acompanhamento integral do

beneficiário e sua família, a advogada do Programa fez uma série de

articulações com a Secretaria de Segurança Pública, que com algumas

intervenções no caso, possibilitou seu atendimento com realização de novos

exames e medicação.

Passado alguns meses de articulações e cuidados com a alimentação

do usuário, a discussão foi levada até a Secretaria Estadual de Saúde, onde

diante da sensibilidade do senhor Secretário, foi assegurado pelo mesmo o

tratamento integral do caso de forma a não expor sua identidade no Sistema

Único de Saúde. Desta forma, retomou-se o tratamento e em seguida o

agendamento da cirurgia.

3.2. Participantes

Participaram do caso a equipe interdisciplinar do PROVITA constituído por

uma Assistente Social, uma Advogada, uma Psicóloga e uma Coordenadora

Psicóloga. O beneficiário Silvio (fictício), 46 anos, acompanhado da esposa (45

anos e um filho de 15 anos, que também tiveram participação no processo, de

forma bastante proativa e colaboradora para o sucesso dos resultados.

Como parceiros da rede de serviços públicos tivemos a participação da

Universidade Federal de Goiás – UFG – Hospital das Clínicas, Secretaria

33

Municipal de Saúde – Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia,

Secretaria de Segurança Pública e Secretaria Estadual de Saúde.

3.3. Resultados e Discussão

O caso apresentado possibilitou estudos, discussões e reflexões na

equipe PROVITA-GO onde, mesmo diante das inúmeras dificuldades de um

trabalho interdisciplinar que existe na equipe, contamos com as contribuições

das diversas áreas do saber, resultando em um trabalho articulado realizado no

acompanhamento do caso.

Como nos diz Souza (2000), o profissional deve estar preparado para

enfrentar novas experiências, identificar novos problemas com um olhar crítico

da realidade onde está inserida, buscando de forma interdisciplinar a solução

dos mesmos. Assim, percebemos que a equipe PROVITA tem consciência da

importância desse trabalho integrado e articulado entre a equipe e entre os

profissionais da rede, embora as vezes ainda esbarram-se no como fazer.

Percebeu-se também que além do trabalho interdisciplinar entre a equipe

PROVITA-GO, existe o trabalho entre as equipes PROVITA dos demais

estados, que formam também uma rede de trabalho interdisciplinar e que

possibilita bastante a troca de experiências e informações entre as equipes.

No caso apresentado por exemplo, observa-se que houve uma grande

integração entre os advogados do PROVITA-GO e o PROVITA do estado de

origem do beneficiário no acompanhamento e análise do risco do caso. Além

disso, a psicóloga e assistente social do programa trabalharam de forma

integrada com o PROVITA do estado de São Paulo e Recife que tem

experiências satisfatórias na articulação das redes de serviços públicos.

Percebe-se que as redes formadas entre os profissionais dos PROVITA

dão segurança à família dos beneficiários, uma vez que estes já não podem

mais contar com as redes mais próximas de apoio que constituíram ao longo

de suas vidas nas suas cidades de origem.

“Deixamos tudo para traz, pai, mãe, irmãos, amigos...e de repente a gente se

vê sozinho nesse mundo de meu Deus. A gente depois que sofre de mais

com tantas ameaças, fica com medo de gente! Aí é com vocês (equipe) que a

34

gente vai aprendendo de novo que a gente precisa viver e conviver”(Sr.

Silvio)

Isso demonstra a necessidade do profissional refletir sobre a sua atuação,

não somente na articulação das redes, mas na garantia dos direitos do cidadão

e dos beneficiários que tem o direito de viver a sua cidadania.

Essa reflexão nos remete ao tema inicial, a interdisciplinaridade, pois os

beneficiários chegam até o Programa vitimizados, as vezes sem perspectivas

de vida. Assim, cabe aos profissionais da equipe proporcionar a estes, o

acompanhamento de forma integral para que assim possam resgatar o

potencial resiliente que possui neles, tendo os profissionais, um papel

fundamental nesse processo.

No caso da família do Sr. Silvio, foi observado durante as avaliações

periódicas, que a família vivenciava conflitos com o filho, que tinha dificuldades

na adaptação com sua nova forma de vida, onde foi articulado aí o

acompanhamento psicológico para a família.

Durante o acompanhamento e monitoramento da família, eram realizadas

atividades de cunho reflexivo sobre a sua passagem pelo programa de direitos

humanos, o significado da vida perante o contexto da violência, bem como

reflexões sobre cidadania, autonomia, protagonismo e superação de conflitos.

Tais intervenções contribuíram significativamente para a manutenção do

caso na rede de proteção, garantindo aí uma proteção da família em local de

pouso enquanto sua situação tramitava na justiça.

O acompanhamento integral à família é extremamente importante para a

permanência da família no programa, pois se não existir um suporte mais

completo, torna-se muito difícil para a família e que aumenta a possibilidade da

mesma desistir da proteção e retornar ao local origem, o que se configura

como um grande dificultador.

“As vezes da vontade de pegar as coisas da gente e ir embora, ficar perto da

família, na terra da gente. Dá vontade até de enfrentar aquele bandido. Foi

assim que me senti no dia que cheguei ao hospital e foi aquela dificuldade

toda pra ser atendido. Mas aí as coisas foram se encaixando, fui levando a

vida e aí a gente vai ficando.” (Sr. Silvio)

Nesse desafio enfrentado na a articulação da rede, observa-se que

alguns profissionais deixam de construir as condições de um trabalho

35

articulado entre os diversos saberes. É importante que os profissionais

envolvidos consigam compreender e desvendar o movimento da realidade

social em sua complexidade na busca de alternativas de ação, ampliação e

universalização dos direitos.

É possível vivenciar na realidade do Programa, o que Zen (1983) nos

apresentou quando se refere à fragmentação dos saberes que não conseguem

se fundir e atuar juntos na articulação das redes. No Programa ainda percebe-

se que os profissionais entendem o seu papel de forma individualizada. Como

se o psicólogo e o assistente social devesse se ocupar somente do

atendimento às famílias na perspectiva da sua reinserção social e não dos

seus direitos e conscientização enquanto sujeitos sociais. Ao mesmo tempo

que as vezes é entendido que o advogado deve se ocupar apenas dos direitos

dos usuários e não estendendo sua atuação para com o atendimento da

família no seu contexto maior de necessidades básicas.

Acredita-se que todos os profissionais envolvidos, desde o pessoal de

apoio técnico, administrativo e gestores, devem se ocupar de todos os

aspectos envolvidos, articulando as instâncias integrais que envolvem os

sujeitos atendidos. Assim, a discussão vai para muito além do trabalho em rede

e interdisciplinar do qual o programa exige e acredita.

Percebe-se que na rede, os profissionais envolvidos também são atores

do processo e ainda não trabalham de maneira articulada. A intervenção exige

uma postura interdisciplinar, um trabalho fundamentado em uma concepção

articulada da interdisciplinaridade. Assim, depara-se ainda com profissionais

que realizam o trabalho voltado para os aspectos e situações de risco

específicos e pontuais, não conseguem em seu todo visualizar os beneficiários

como sujeitos sociais, pois não foram preparados tanto acadêmicos quantos

socialmente para tal atendimento ou procedimento.

A compreensão dos profissionais da rede a respeito dos beneficiários é

também bastante limitada, pois ainda são vistos como indivíduos que carecem

de cuidado e atendimento e não como um sujeito de direitos. Mais que isso,

que essas pessoas, embora vítimas de uma situação de violência, são seres

com possibilidades e que podem apesar das dificuldades enfrentadas no

decorrer da sua história são capazes de superar os medos, dificuldades e

buscarem novas possibilidades de vida.

36

O conceito de rede social aponta para os profissionais os caminhos para

a construção de possibilidades que a própria família possui, colaborando para a

criação de vínculos e atuando na valorização dos relacionamentos

estabelecidos entre a própria família assim como entre os atores que oferecem

a elas o suporte necessário.

O caso apresentado, por exemplo, ainda está em andamento, mas

percebe-se que a família do Sr. Silvio consegue visualizar possibilidades e

refazerem suas vidas em um novo lugar, e apesar das dificuldades enfrentadas

utilizam seu potencial resiliente e ressignificam suas vidas. Percebemos isso na

fala da esposa do Sr. Silvio, quando diz: “Foi muito difícil sair da nossa casa,

deixar os amigos e parentes no seu estado e ir morar em lugar diferente. Mas

sabe o que eu aprendi? Que o amor entre nós é grande e que isso é que fez

com que nós superássemos tudo isso.”

Isso chama a atenção para a importância de se valorizar o potencial que

as próprias famílias possuem e, além disso, nos faz refletir sobre a importância

de profissionais que conseguem valorizar esse potencial nas famílias.

Outra questão importante de ser levantada é a participação da sociedade

civil no contexto da proteção. Hoje no Programa de Proteção do estado

percebe-se que sua atuação se restringe apenas às cadeiras do Conselho

Deliberativo – CONDEL e na articulação de serviços oferecidos por algumas

delas objetivando incluir usuários do programa.

Nesta perspectiva podemos ressaltar que a articulação existente na

experiência de trabalho em rede dentro do PROVITA-GO ainda se encontra

muito primária, está pautada nas relações pessoais e de vínculos de amizades,

onde são garantidas a inclusão dos usuários com mais agilidade nos

atendimentos, seja ele médico, odontológico, psicológico ou social. Ainda não

se consolidou numa rede institucional, onde as articulações perpassassem pelo

âmbito do direito e não dádivas pessoal. Assim vai desde as articulações para

acesso aos serviços públicos de direito aos serviços privados com preços mais

acessíveis para o programa.

No caso apresentado, por exemplo, o atendimento emergencial realizado

foi garantido somente por uma relação pessoal de amizade entre técnicos, o

que facilitou a realização do trabalho e não foi com um compromisso

profissional e institucional como direito.

37

O Programa ainda não consegue alcançar um trabalho interinstitucional

articulado, com a consciência do papel da sociedade civil como foi apresentado

por Scherer-Warren (2006).

Embora a literatura indique que as redes são caracterizadas pela

presença de relações interinstitucionais relativamente estáveis, porém, de

acordo com Nascimento (2007) a fragilidade da rede se manifesta tanto na

incongruência entre o conceito e a prática da rede, quanto na incapacidade das

instituições garantirem a implementação de uma política pública.

O próprio PROVITA ainda tem dificuldades em estabelecer a rede mais

ampla. Como foi dito, é possível articular a rede entre os PROVITAs dos

demais estados, mas ainda não possui habilidades de uma articulação

interinstitucional efetiva que articule as políticas públicas. A articulação se

resume às necessidades pontuais e não às redes sociais.

Desta forma acredita-se que para a superação destes elementos

dificultadores para o sucesso do trabalho em rede, faz-se necessário uma

problematização do mesmo no contexto das políticas públicas de direitos

humanos, onde todos os parceiros envolvidos fossem chamados para uma

reflexão crítica onde se apontasse para o planejamento conjunto,

compromissos coletivos e socialização de resultados.

Como nos dizia Saidón (1995), pensar em rede é pensar em um caminho

teórico, as vezes prático, outros momentos se constitui como uma estratégia e

também uma organização, e ao mesmo tempo que se configura como uma

epistemologia e um instrumental. Assim, segundo o autor não há especialista

em rede, a não ser aquele que consegue fazê-la funcionar. Esse é o grande

desafio dos profissionais envolvidos, contribuir para o funcionamento dessa

rede ainda em construção, porém necessária.

Considerações Finais

Objetivou-se nessa monografia estudar as contribuições do PROVITA na

articulação da rede de serviços públicos, em uma atuação interdisciplinar na

elaboração, execução e monitoramento das políticas públicas de direitos

38

humanos, tentando fortalecer seu papel na articulação da rede de serviços

sociais.

Percebeu-se que, os desafios da interdisciplinaridade perpassam tanto

pela superação da disciplinaridade como também pela possibilidade de

articulação das ações implementadas no contexto das políticas públicas.

Desta forma, para que o PROVITA possa contribuir na articulação da rede

de serviços públicos, faz-se necessário, primeiramente, a superação e

consolidação da sua intervenção interdisciplinar entre seus profissionais, para

melhor contribuir com a intersetorialidade dos serviços da rede, que se

apresenta ainda com muitos nós para serem desatados.

O investimento em capacitação para as equipes são entendidas também

como uma condição para a superação das dificuldades enfrentadas, além disso

criação de grupos de estudo nas equipes, como momentos onde se

aproximam, se reconhecem e entendem juntos os caminhos da

interdisciplinaridade. Assim, a medida que os profissionais vivenciam a

proximidade relacional têm maiores possibilidades de entender a interface das

profissões e a importância do trabalho interdisciplinar.

Deste modo, considerando a capacitação mencionada, propõe-se que tal

investimento seja não só para os técnicos como também para os gestores dos

programas, pois faz-se necessária a sensibilização dos mesmos para além da

proteção pela proteção, mas qualificar os serviços prestados numa perspectiva

interdisciplinar, bem como de forma articulada com as demais políticas

públicas, pois se os gestores não compreenderem tal complexidade, dificulta

muito a ação dos técnicos.

A sociedade civil e profissionais envolvidos também ainda precisam

avançar muito em uma discussão mais ampla sobre o trabalho em rede. É

necessário que as universidades que formam esses profissionais e os gestores

das políticas públicas chamem chamem para a reflexão e responsabilidade de

um trabalho interdisciplinar e articulado perante a realidade social e complexa

que vivemos.

Assim, percebe-se que um primeiro passo para o trabalho que articule as

redes, está em mapear as instituições envolvidas nela, pois falamos de um

trabalho em rede sem saber, de fato, realmente quem a constitui. Para assim,

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tecermos fios resistentes de uma rede que ofereça e garanta de fato aos

beneficiários, segurança e o exercício pleno de seus direitos.

São muitos os temas que envolvem essa problemática, alguns aspectos

são muito mais profundos do que simplesmente o trabalho em rede, mas

envolvem inclusive as relações de gênero, o significado da violência para os

profissionais envolvidos, a formação desses profissionais, etc. Isso abre muitas

possibilidades de estudos para que se possa compreender melhor a articulação

das redes com todos os aspectos envolvidos.

Deste modo, o objetivo dessa monografia não foi o de explorar todos os

aspectos que estão envolvidos nessa problemática, mas foi o de despertar

junto aos profissionais outras possibilidades de estudo. Como foi dito,

precisamos compreender a complexidade dos fenômenos, ou seja todos esses

outros aspectos envolvidos e esse trabalho não abrange toda essa

complexidade envolvida na problemática.

São muitos os temas que ainda merecem ser tratados, dentre eles a

formação dos profissionais, a concepção destes sobre as redes sociais e

formas de articulação das mesmas. Assim, sugere-se que para novos estudos

seja explorado de forma mais profunda a compreensão sobre as políticas

públicas, pois sem entendê-las não é possível conseguir articulá-las.

Deste modo, sugere-se que os profissionais envolvidos nesse contexto,

se percebam como sujeitos protagonistas na construção desse caminho, de um

trabalho na perspectiva interdisciplinar, de forma articulada com as demais

políticas públicas, configurando assim o sistema de rede de serviços públicos

de direito. Assim, as equipes dos Programas de Proteção estarão construindo

de fato uma metodologia para o trabalho de proteção neste País. Propõe-se

ainda momentos de troca de experiências entre as equipes dos vários estados

como fundamental para que esta construção seja coletiva e socializado.

Para isso, precisa-se investir também na publicação das experiências e

socialização dos saberes, para que o conhecimento não seja privativo de um

PROVITA ou de outro, mas que seja socializado e divulgado. Assim, o

conhecimento se propaga, se transforma e passa a estar a serviço dos

usuários que se beneficiarão de um atendimento com muito mais dignidade e

eficiência. E a partir de novos estudos poderemos construir novas

40

possibilidades de ação fundamentadas em estudos e vivências que abarquem

todos fenômenos que envolvem a violência e sua complexidade.

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