universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo ...para o estudo da didática e as tendências...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DISPERTANDO APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS DAS GRADUAÇÕES. Por: Alzira Maria Cremonez Simas Orientador Prof. Mônica Ferreira de Melo Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    FACULDADE INTEGRADA AVM

    A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DISPERTANDO

    APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS DAS GRADUAÇÕES.

    Por: Alzira Maria Cremonez Simas

    Orientador

    Prof. Mônica Ferreira de Melo

    Rio de Janeiro

    2013

    DOCU

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  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    FACULDADE INTEGRADA AVM

    A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DISPERTANDO

    APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS DAS GRADUAÇÕES.

    Apresentação de monografia à Universidade Candido

    Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

    especialista em Docência do Ensino Superior.

    Por: Alzira Maria Cremonez Simas

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus por ter me capacitado

    e dado força física e espiritual para conquistar

    esse objetivo importantíssimo na minha vida.

    Ao Rodolfo, meu marido, por ter me

    incentivado a começar esta Pós-Graduação e

    por não ter deixado de me apoiar o tempo

    todo, fazendo-me buscar forças e,

    principalmente, não permitir que eu

    fraquejasse.

    Aos meus três filhos Letícia, Patrícia e

    Pedro, por existirem, pois sem eles minha

    vida não teria sentido.

    Aos meus professores, com destaque

    especial para querida orientadora Mônica

    Ferreira de Melo, cujos ensinamentos e

    disponibilidade em tempo integral, permitiram

    que eu alcançasse este tão desejado final

    feliz.

  • 4

    DEDICATÓRIA

    Aos meus pais, Inácio Francisco

    Cremonez e Dolores Martins Cremonez (in

    memoriam), que tiveram existências

    simples, porém viveram com muito amor, o

    suficiente para transmitirem tanto carinho

    aos filhos.

    Ao meu netinho Marco Antônio Simas

    Paim.

    Aos meus filhos, Letícia, Patrícia e

    Pedro, que são a alegria da minha vida.

    Ao Rodolfo, meu marido há 41 anos,

    pelo amor, carinho e parceria, sempre

    incentivando e acreditando no meu trabalho.

    A Maria de Fátima Refinetti, querida

    amiga de todas as horas, por quem tenho

    muito carinho.

    À querida professora Marta Pires

    Relvas, do curso de graduação em Estética,

    Beleza e Imagem Pessoal, que com sua

    sabedoria e dedicação mostrou-me os

    novos caminhos da profissão.

    À Professora Maria Rita Lemos de

    Resende com quem, em 1981, em São

    Paulo, aprendi “as primeiras letras” na área

    da Estética e Cosmetologia.

  • 5

    RESUMO

    Este trabalho de pesquisa aborda as relações entre a Didática, a

    Afetividade, as Emoções e a Aprendizagem no Ensino Superior. No primeiro

    capítulo, será citado as Tendências Pedagógicas, um histórico sobre a Didática

    na educação e as tarefas do docente. No segundo capítulo, será abordada a

    importância da emoção e da afetividade no processo de ensino-aprendizagem.

    No terceiro e último capítulo, será estudada a ação docente no ensino superior,

    a responsabilidade do aluno, fazendo relações com a Didática e os assuntos

    trabalhados nos capítulos anteriores.

    Palavras-chave: Didática, Ensino Superior, Aprendizagem, Emoção,

    Afetividade.

  • 6

    METODOLOGIA

    Este estudo refere-se a uma pesquisa teórica, envolvendo um estudo

    bibliográfico, onde serão consultadas as principais publicações que tratam do

    tema.

    Para o estudo da Didática e as Tendências Pedagógicas na Educação,

    foram pesquisados os seguintes autores: CANDAU (2000), FREIRE (1996 e

    2005), LIBÂNEO (1994).

    Para o estudo sobre a Aprendizagem, as Emoções, Afetividade,

    Memória e Atenção, foram pesquisados os seguintes autores: BARBOSA

    (1989), CUNHA e FERLA, (2002), FREIRE (1979, 1993 e 2005), FREITAS

    (2006), GARDNER (1994), JOURDAIN (1998), LENT (2008), RELVAS (2005),

    (2009) e (2009), RICHTER (2004), SCHWARTZMAN (2008), VYGOTSKY

    (1991), WALLON (1979)

    Para a pesquisa sobre o Papel da Didática no Ensino Superior, foram

    consultados os seguintes autores: LIBÂNEO (1994), LDB 9394/96 (art. 43 ao

    57), MASSETO (2003), PORTILHO (2009), TEIXEIRA (2002), SEVERINO

    (2008)

  • 7

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 08

    CAPÍTULO I -

    AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E A DIDÁTICA 10

    CAPÍTULO II -

    A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM 23

    CAPÍTULO III–

    O PAPEL DA DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR 32

    CONCLUSÃO 39

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

    ÍNDICE 42

  • 8

    INTRODUÇÃO

    Dentro de um ambiente educacional, o professor atua como facilitador

    da aprendizagem de seus alunos. Para tanto, precisa refletir sobre sua prática,

    observando se está realmente estimulando os estudantes. Há casos em que o

    professor, ao invés de incentivar, acaba desmotivando os alunos por não

    proporcionar-lhes uma aula interessante. Nesses casos, os aprendentes

    acabam perdendo o interesse pelo assunto. Consequentemente, não assimilam

    o conteúdo proposto.

    Sabe-se que sem emoção não há aprendizagem, logo, para que seja

    possível promover o conhecimento, é preciso observar e respeitar a emoção do

    aluno. Proporcionar um ambiente acolhedor, em que o estudante se sinta

    seguro. Aprendemos quando atribuímos significado ao conteúdo trabalhado,

    por isso, faz-se necessário despertar o interesse pelas novas aprendizagens

    através de conexões afetivas emocionais.

    É impossível realizar um trabalho de qualidade na educação,

    independentemente de qual disciplina esteja sendo ministrada, se o educador

    não conseguir se fazer entender. A aula prazerosa libera substancias naturais

    conhecidas como serotonina e dopamina que estão relacionadas à satisfação,

    ao prazer e ao humor. Por outro lado, uma aula desagradável, provoca a

    liberação de substancias como adrenalina e cortisol que bloqueiam a

    aprendizagem e alteram a fisiologia do neurônio, interrompendo as

    transmissões das informações das sinapses nervosas (RELVAS, 2005).

    A aprendizagem pode ser explicada como a maneira como indivíduos

    retém novos conhecimentos, desenvolvem habilidades e mudam o

    comportamento, através da experiência construída por fatores emocionais,

    neurológicos, relacionais e ambientais (BARBOSA,1989).

  • 9

    Segundo o art. 43 da LDB, uma das finalidades da Educação Superior é

    “suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e

    possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que

    vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do

    conhecimento de cada geração.” (Lei 9.394/1996 art. 43- V).

    Desta forma, fica claro que o docente precisa aprimorar a cada dia seus

    conhecimentos específicos e pedagógicos, além de pensar em maneiras

    inovadoras de transmissão do conhecimento, de modo que possa contribuir

    para o desenvolvimento dos alunos.

  • 10

    CAPÍTULO I –

    AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E A DIDÁTICA

    1.1 Desenvolvimento histórico da Didática e tendências pedagógicas.

    A história da Didática está relacionada ao surgimento do ensino como

    uma prática planejada e intencional, direcionada à instrução ao longo do

    crescimento da sociedade das ciências e da população.

    Didática: disciplina da Pedagogia que estuda o

    processo de ensino através dos seus componentes –

    os conteúdos escolares, o ensino e a aprendizagem

    – para, com o embasamento numa teoria da

    educação, formular diretrizes orientadoras da

    atividade profissional dos professores. É, ao mesmo

    tempo, uma matéria de estudo fundamental na

    formação profissional dos professores e um meio de

    trabalho do qual os professores se servem para

    dirigir a atividade de ensino, cujo resultado é a

    aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos

    (LIBÂNEO 1994 – pg. 52).

    Há vestígios de que desde a antiguidade já existia, de uma manos

    professores e eira simples, instrução e aprendizagem. Nas sociedades

    primitivas havia um sinal de iniciação para a ação pedagógica em que os

    jovens eram submetidos, porém a Didática ainda não existia como forma de

    ensino.

    Apesar da ação pedagógica já acontecer em universidades, igrejas,

    escolas e mosteiros, na época Medieval e na Antiguidade Clássica (gregos e

    romanos), ainda existia a Didática como teoria de ensino, que organizava o

    pensamento didático e o saber científico das formas de ensino, até meados do

    século XVII.

  • 11

    Segundo Libâneo, a palavra didática surge quando os adultos começam

    a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e jovens através da

    direção deliberada e planejada do ensino, ao contrário das formas de

    intervenção mais ou menos espontâneas de antes (LIBÂNEO, 1994).

    João Amós Comênio foi o primeiro a escrever uma obra sobre Didática.

    Ele era um pastor protestante que viveu no século XVII, entre 1592 e 1670.

    Seu livro chamou-se “A Didática Magna”, onde ele estudou as ligações entre

    ensino e aprendizado.

    Em sua “A Didática”, Comênio afirma que todos têm direito à educação,

    que é um caminho para Deus, e não agride sua natureza. Segundo ainda ele, o

    conhecimento não se dá instantaneamente; é adquirido aos poucos. Deduz-se

    dessa afirmativa que a sensibilidade tem um papel decisivo no entendimento

    das coisas. Para conhecê-las, deve-se observá-las com atenção e utilizar os

    órgãos dos sentidos. O método intuitivo dá-se com a observação direta das

    coisas pelos órgãos dos sentidos que os registra na mente. (LIBÂNEO, 1994).

    O planejamento de ensino deve deixar fluir o curso natural infantil; não

    se deve ensinar o que a criança não tenha condições de entender. Em primeiro

    lugar, as coisas; as palavras virão depois. Por esse motivo, primeiro vem a

    parte mais fácil, isto é, o que já é do conhecimento das pessoas; somente

    depois é trabalhado o que não se conhece (o mais difícil).

    Comênio teve um papel importantíssimo na educação, não

    simplesmente porque dedicou sua vida à criação de métodos mais eficazes de

    ensino, mas também pelo fato de desejar os seres humanos tivessem a

    oportunidade de desfrutar das vantagens que o conhecimento traz para as

    pessoas.

    Suas ideias não foram colocadas em prática rapidamente, pois eram

    muito avançadas para uma época em que predominavam as práticas de ensino

    da idade média: intelectualista, verbalista e dogmático, repetição mecânica dos

    ensinos do professor e memorização. O aprendizado na escola era limitado aos

  • 12

    ensinos do professor; o aluno não podia impor suas ideias e pensamentos,

    especialmente porque o ensino era dissociado da vida real e ainda havia uma

    forte influência da religião na vida social (LIBÂNIO, 1994).

    Fundamentado nos reais interesses e necessidades infantis, o Iluminista

    e enciclopedista Jean Jacques Rousseau (1712-1778) sugeriu um novo

    conceito de ensinar. E propôs:

    a) preparo da vida futura de uma criança deve apoiar-se nos estudos que

    representam as necessidades e interesses atuais. É necessário que elas sejam

    despertadas para o gosto dos estudos antes de serem despertadas para as

    ciências, pois o grande professor é aquele que tem o conhecimento, possui a

    experiência e, principalmente, o sentimento. O interesse e o potencial da

    criança são despertados pelo contato com o mundo onde ela vive. Em outras

    palavras, as necessidades e os interesses atuais do estudante estabelecem a

    organização dos estudos;

    b) as crianças são boas por natureza (“O homem nasce bom; a sociedade o

    corrompe”). A educação fundamenta-se no desenvolvimento interno do aluno,

    cujo processo acontece com naturalidade.

    As ideias de Rousseau não foram colocadas em prática; assim como

    também não foram elaboradas teorias de ensino. O pedagogo suíço Henrique

    Pestalozzi (1746-1827), foi quem realizou essas ideias, e dedicou sua vida a

    educar crianças necessitadas, em escolas por ele próprio dirigidas. Pestalozzi

    concedeu muito destaque ao aprendizado como cultivo do caráter, da mente e

    do sentimento.

    Muitos outros pedagogos foram influenciados pelas ideias de Comênio,

    Rousseau e Pestalozzi. Johann Friedrich Herbart (1766-1841) foi o principal.

    Importante pedagogo alemão que teve muitos seguidores, e teve na prática

    docente importante influencia.

    Herbart até hoje é inspirador da pedagogia conservadora, e continua

    constante nas escolas do Brasil. Criou uma análise do processo psicológico-

    didático de conquista do aprendizado, sob a direção do professor. Segundo

  • 13

    Herbart, o fim da educação é a moralidade, atingida através da instrução

    educativa.

    Os denominados de herbartianos (sistema pedagógico de Herbart),

    trouxeram entendimentos valiosos para a prática docente. Exemplo: “a

    necessidade de estruturação e ordenação do processo de ensino, a exigência

    de compreensão dos assuntos estudados e não simplesmente memorização, o

    significado educativo da disciplina na formação de caráter.” (LIBÂNEO, 1994, p.

    61).

    Contudo, as ideias do professor é repassada para o estudante, que

    devem entender o que o professor explica, simplesmente com o objetivo de

    imitar o que lhe foi ensinado. Dessa forma a aprendizagem torna-se

    automática, mecânica, a atividade mental não estimula o pensamento do aluno

    e a criatividade.

    As bases do pensamento pedagógicos europeus, preconizadas pelos

    pedagogos Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Herbart, entre outros, espalhou-se

    por todo o mundo hoje em dia são reconhecidas como Pedagogia Tradicional e

    Pedagogia Renovada.

    A Pedagogia Tradicional é uma proposta de educação centrada no

    professor que repassa a seus alunos todo o conhecimento e saber adquirido

    pela humanidade, o que é considerado importante é o conhecimento já

    existente acumulado pelas gerações anteriores e repassado aos estudantes

    como verdades incontestáveis. É dado ênfase ao valor intelectual dos

    conteúdos. São baseados nos valores da sociedade vigente, que são os dos

    pais dos alunos. (FREIRE, 1996)

    A Pedagogia Renovada reúne correntes que defendem a renovação

    escolar, contrária à Pedagogia Tradicional. As ideias de Rousseau ganharam

    vários nomes como, por exemplo: Educação Nova, Escola Nova, Pedagogia

    Ativa e Escola do Trabalho.

  • 14

    Foi desenvolvida como tendência pedagógica no início do século XX,

    porém nos séculos anteriores vários pedagogos e filósofos, tais como Erasmo,

    Rabelais, Montaigne, à época do Renascimento, e os já citados Comênio

    (séc.XVII), Rousseau e Pestalozzi, defendiam a renovação da educação.

    Algumas correntes do movimento escolanovista tiverem maior destaque,

    como a Pedagogia Pragmática ou Progressivista, criada nos Estados Unidos,

    por John Dewey (1859-1952). Esse educador brilhante teve importante

    influencia na Escola Nova na América Latina, e principalmente no Brasil. No

    inicio da década de 1930, alguns educadores formaram o Movimento dos

    Pioneiros da Escola Nova, liderados por Anísio Teixeira. Tal ação foi importante

    na formação da política educacional, na legislação, na investigação acadêmica

    e na prática escolar.

    Além da corrente Progressivista, evidenciaram-se as ideias de Jean

    Piaget com a Teoria Interacionista, que se baseia na Psicologia Genética, e de

    Montessori, com a corrente Vitalista.

    A Pedagogia Cultural, corrente da Pedagogia Renovada pouco

    conhecida entre nós, embora não possua vínculo com o movimento Escola

    Nova, teve repercussões no Brasil. Tal corrente é caracterizada por focar a

    educação como cultura, concedendo ao professor a importante função de dirigir

    e guiar os rumos da formação do estudante apropriando valores culturais.

    (LIBÂNEO, 1994).

    1.2 As tendências pedagógicas no Brasil e a Didática

    Segundo Libâneo (1994), a história da Didática no Brasil nos últimos

    anos, as relações entre investigação do seu campo de conhecimento e as

    tendências pedagógicas podem ser classificada em dois grupos: o das

    tendências de cunho liberal à Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e

    Tecnicismo Educacional; o das tendências de cunho progressista à Pedagogia

    Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. As mais conhecidas

  • 15

    são essas, mas, provavelmente, há outras correntes ligadas a uma ou a outra

    dessas tendências.

    Ao conjunto de regras e princípios que regulamentam o ensino na

    Pedagogia Tradicional dá-se o nome de Didática. É no professor que está o

    exercício de ensinar de expor e interpretar a matéria.

    O discurso oral e a palavra são os principais meios utilizados para

    ensinar. Às vezes, porém, são usados outros artifícios, como a apresentação

    de objetos para ilustrar a aula. Porém acredita-se que fazendo repetidas vezes

    o mesmo exercício os estudantes melhor absorvem as matérias. Assim,

    também respondem melhor aos questionamentos do professor. É fundamental

    que o aluno preste muita atenção ao que o professor fala, pois com isso facilita-

    se a memorização do que foi transmitido. A função do aluno é decorar a

    matéria que recebeu, tendo em vista que ele é simplesmente um receptor.

    Mesmo nos dias de hoje, no ensino tradicional, a presença dos métodos

    intuitivos é muito forte. Esses métodos (intuitivos) são baseados na

    demonstração de dados sensíveis, fazendo com que os alunos os reproduzam

    com fidelidade em suas mentes.

    “Partir do concreto”. Para vários professores, essa é a chave do ensino

    atualizado. Esse pensamento pertencia à Pedagogia Tradicional, pois o

    “concreto” só ajuda a registrar na memória o que é absorvido pelos sentidos. O

    material concreto é demonstrado, porém o estudante não trabalha na sua

    mente com ele, não o repensa; seu raciocínio não o reelabora. O crescimento

    das suas habilitações intelectuais e a aprendizagem permanecem automáticos

    e o desempenho mental do estudante não é estimulado.

    Na prática escolar, a Didática Tradicional segue predominando. É

    normal, na grande maioria das escolas brasileiras, o professor aumentar a

    quantidade de exercícios repetitivos, conceder ao ensino a função de transmitir

    os conhecimentos, que são decorados e sem questionamento; empregar

  • 16

    castigos, impondo externamente a disciplina. A finalidade de crescimento do

    raciocínio e a constituição da mente se reduziram a práticas de memorização.

    As várias correntes da Pedagogia Renovada, segundo LIBANEO (1994) são:

    a) progressivista (baseada em John Dewey);

    b) não diretiva (Carl Rogers);

    c) ativista-espiritualista (católica);

    d) culturalista;

    e) Piagetiana;

    f) a montessoriana;

    g) outras.

    Contrapondo a Pedagogia Tradicional, essas correntes estão ligadas ao

    movimento da Pedagogia Ativa, que surgiu no final do século XIX. Porém, em

    1984, Castro disse que a experiência e os conhecimentos da Didática no Brasil

    são pautados, em grande parte, em um movimento chamado Escola Nova,

    inspirado na Corrente Progressivista. Importante destacar a Didática Ativa

    inspirada nessa corrente, bem como a Didática Moderna de Luis Alves de

    Mattos, incluída na Corrente Culturalista.

    A Didática da Escola Nova considera o aluno como o principal

    personagem: o sujeito da aprendizagem. O professor deve estimular os

    interesses do estudante, colocando-o em situações apropriadas que favoreçam

    e estimulem os seus interesses e as suas necessidades, fazendo com que o

    estudante busque por ele mesmo o conhecimento e adquira experiências. O

    professor não é o centro da atividade escolar, assim como a matéria também

    não o é, o investigador é o estudante ativo. Cabe ao professor, tão somente,

    mostrar o caminho, orientando, incentivando, etc., de acordo com as

    características e a capacidade individuais de cada estudante.

    Atividades cooperativas trabalhos de grupo, estudos individuais,

    pesquisas, projetos, experimentações etc., assim como os métodos científicos

    e método de reflexão são de grande importância na Didática ativa.

  • 17

    Método que funciona é aquele que atende às principais necessidades do

    processo de aprendizagem. Resumindo, a Didática Ativa se importa mais com

    os processos de aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento

    das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos do que com a

    sistematização do conhecimento.

    Pelas razões expostas acima, os seguidores da Escola Nova afirmam

    que o professor não ensina nada aos alunos; tão somente, ajuda-os a

    aprender. O conhecimento está dentro do estudante e surge quando é

    estimulado através da pesquisa e da investigação.

    Infelizmente, muitos docentes, por não possuírem conhecimento

    científico da pedagogia ativa, normalmente realizam técnicas como, por

    exemplo: estudo dirigido; debates; trabalho de grupo; estudo de casos, etc.

    Ignorando, que a finalidade mais importante, é fazer com que o estudante

    pense cientificamente, ampliando suas habilidades de raciocinar. Por essa

    razão, da mesma forma como é feito no ensino tradicional, os docentes quando

    vão fazer a avaliação, exigem conteúdo decorado.

    A Didática Moderna aparece a partir de 1950, por sugestão de Luís

    Alves de Mattos, fazendo um paralelo à Didática da Escola Nova. Vários

    manuais sobre Didática, que mais tarde foram publicados, usavam como

    referência o livro Sumário de Didática Geral, de sua autoria, onde autor

    comparava sua Didática da seguinte forma: o aluno é o principal ator; as

    atividades escolares existem em razão dele, e são dirigidas para ele, visando

    pura e simplesmente suas educação e aprendizagem, com o objetivo de

    desenvolver sua a inteligência e formar seus caráter e personalidade. É o

    professor quem vai exercer as atividades de incentivar, orientar e controlar a

    aprendizagem e, dessa forma, direcionando o aluno em razão de seu potencial

    de aprendizagem e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão.

    O autor propõe o método didático em ação, que ele chamou de Teoria do Ciclo

    Docente. A referida teoria compreende os períodos de planejamento,

    orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é definida como o

    conjunto de atividades exercidas, em sucessão ou ciclicamente, pelo professor,

  • 18

    para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos, chegando

    ao final da melhor forma possível.

    No Brasil, na década de 1950, foi desenvolvido o Tecnicismo

    Educacional. Porém somente em 1960 recebeu autonomia, estabelecendo-se

    como tendência pedagógica, incluída, de certa forma, na Pedagogia Renovada.

    Foi inspirado na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem

    sistêmica do ensino.

    O começo da década de 1960 trouxe a educação de adultos, formando a

    tendência que foi chamada de Pedagogia Libertadora.

    A partir de meados de 1970, devido às lutas sociais dirigidas para a

    tentativa de democratização do país, foi viabilizada a discussão sobre as

    questões que diziam respeito à educação e aos processos estabelecidos nas

    escolas, com um tom critico à política das instituições sociais do sistema

    vigente: o capitalismo. Na ocasião, aproveitando o abrandamento do aparelho

    repressor do estado, houve um grito muito forte de alguns militantes políticos

    contra o papel ideológico e discriminador da escola na sociedade capitalista.

    Na mesma ocasião, houve outro grupo mais preocupado em articular a escola

    com os reais interesses da população. Destacaram-se a Pedagogia Crítico-

    Social dos Conteúdos e a Pedagogia Libertadora, de Paulo Freire, que afirma

    que: “se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por

    aliená-los ou mantê-los alienados.” (FREIRE, 2005, P.77)

    Em torno de 1980, as tendências progressistas, empenhadas em

    propostas pedagógicas direcionadas para os interesses da grande população

    adquiriram mais solidez e sistematização.

    Vários adeptos da Pedagogia Libertadora se recusam a aceitar essa

    disciplina na formação dos professores, por entenderem que a didática

    embutida nela limita-se ao tecnicismo. Porém, não é possível negar a

    existência de uma didática implícita na execução do trabalho do professor

  • 19

    diante de sua classe, pois na prática, ao se apresentar perante os alunos o

    professor o faz orientado para o aprendizado deles.

    Os sindicatos, associações de bairro, comunidades religiosas e outros,

    são os mais importantes receptores da Pedagogia Libertadora, que tem atuado

    nesses setores com muito sucesso, por apresentar-se perante públicos adultos,

    em que, por conta da presença de intelectuais de certa forma comprometidos

    com as questões populares, o debate social e político sempre estão presentes

    e visam atender aos interesses da população (LIBÂNEO, 1994).

    O principal requisito para a participação da população nas lutas de

    classes é a divulgação de conhecimentos sistematizados a todos. É dessa

    forma que a escola pública cumpre sua função social e política, de acordo com

    a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. Grande importância é dada à

    Didática, pela Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. Isso se deve às

    ligações existentes entre a aprendizagem e as formas de ensino. Embora

    tenham caminhos opostos, o ensino e a aprendizagem, na realidade, se

    completam.

    A Pedagogia Crítico-Social tende a somar-se com Pedagogia Tradicional

    e a Escola Nova. Colocando-se do lado da maior parte da população, a

    Pedagogia Crítico-Social, atribui à instrução e ao ensino o dever de transmitir

    ao estudante o conhecimento de conteúdos científicos, os métodos de estudo e

    habilidades e hábitos de raciocínio, para que adquiram consciência crítica da

    realidade que o cerca e de que ele é agente ativo de transformações, e não

    simplesmente um espectador.

    Segundo Libâneo (1994), a capacidade metodológica e teórica, bem

    como a competência demonstrada pelo professor na execução de seu trabalho

    em sala de aula, asseguram uma direção para o docente e maior segurança no

    trabalho profissional.

  • 20

    1.3 As tarefas do Docente e a Didática

    Luckesi compreende o educador como “o ser humano que constrói,

    pedra sobre pedra, o projeto histórico de desenvolvimento do povo. Um ser

    junto com os outros, conscientemente, engajado no “fazer” a história.” Esse

    “fazer” se concretiza em um projeto pedagógico.

    O autor entende que a ação pedagógica não pode ser praticada de uma

    forma neutra, mas deve ser um “fazer ideológico”. Também afirma que é

    necessário que o educador deve estar pautado em um pensamento teórico,

    optando pela linha filosófico-política da libertação ou da opressão. Sendo

    assim, a ação pedagógica deve ser “comprometida, ideológica e efetivamente”

    e jamais uma prática burocrática ou profissional burocrata. (in CANDAU, 2000,

    p. 27 e 28).

    Conforme Libâneo, os principais objetivos do trabalho do professor são

    compreendidos como atividade Pedagógica, São eles:

    • Garantir aos estudantes que os conhecimentos ali adquiridos

    perdurem para sempre.

    • Procurar trazer para a sala de aula todos os meios que facilitem aos

    estudantes o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades

    intelectuais, afim de que obtenham autonomia no processo de

    aprendizagem e liberdade.

    • Trabalhar a personalidade dos alunos, isto é, ajudá-los a escolher um

    direcionamento e norteamento diante de suas realidades.

    A educação engloba dois processos: de aprendizagem e de ensino.

    Esses conceitos estão ligados um ao outro. Caráter, sentimentos, vontade;

    estão envolvidos nos traços da educação e relacionam-se com habilidades e

    conhecimentos; faz com que os estudantes tenham força de vontade para

    estudar e, como consequência, adquirir conhecimento e desenvolver suas

    capacidades.

  • 21

    A avaliação, a direção do ensino e da aprendizagem, bem como o

    planejamento, são tarefas necessárias que devem ser executadas pelo docente

    para que ele possa alcançar seus objetivos.

    Segundo Libâneo (1994), o docente necessita possuir alguns requisitos

    para realizar o suas tarefas e que formam o campo de estudo da Didática:

    Adequar as reais necessidades da escola e da classe de alunos, através do

    total domínio dos programas oficiais.

    a) Conhecer o nível dos estudantes, bem como as características

    individuais, sociais e culturais.

    b) Total conhecimento e segurança com relação à matéria que ensina,

    para poder realizar a seleção do conteúdo que será ministrado.

    c) Fazer com que os alunos se interessem pelos estudos e

    compreendam a real importância da escola, com relação ao futuro de

    suas próprias vidas.

    d) Total influencia em relação a métodos de ensino, técnicas,

    procedimentos e recursos.

    e) Conhecer perfeitamente as etapas do processo de ensino ou as

    funções didáticas.

    f) Facilidade de explicar de forma clara e fluente, de maneira a

    favorecer o entendimento dos estudantes.

    g) Realizar perguntas de forma que os estudantes possam pensar e

    concluir por si próprios.

    h) Comportar-se de uma forma tal que transmita confiança, segurança,

    coerência, respeito, dedicação. Demonstrar claramente o seu sincero

    desejo de que eles consigam superar suas ansiedades e

    dificuldades.

    i) Domínio dos vários tipos e formas de elaborar as provas, e como

    realizar avaliações qualitativas.

    j) Estar continuamente atento ao cumprimento dos objetivos e do

    rendimento das atividades dos alunos e dele próprio.

    k) Conhecer muito bem os processos de avaliação diagnóstica, obtendo

    os dados necessários, e estar sempre atento às dificuldade de cada

    aluno.

  • 22

    A partir dos estudos feitos no primeiro capítulo, concluo que a didática

    no professor, é fundamental para o desenvolvimento dos alunos. Contudo, a

    afetividade deve fazer parte do cotidiano da sala de aula.

    No próximo capítulo, será feito um estudo sobre a influência da emoção

    na aprendizagem.

  • 23

    CAPÍTULO II

    A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM

    Ensinar é aprender. Aprender a enfrentar o desafio da

    vinculação da emoção com a razão no processo de conhecer

    e, além disso, enfrentar o desafio de criar recursos,

    instrumentos, estratégias táticas e operacionais que mobilizem,

    no educando, sua emoção em paralelo com a sua razão.

    (RELVAS, 2005, p. 101)

    2.1. O Amor: a Questão Central

    “Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita” (FREIRE, 1979,

    p.29)

    A transformação do sujeito é um conceito implícito na educação. Para

    tanto, é preciso que haja um relacionamento de trocas de saberes e

    experiências dos sujeitos, num contexto histórico e crítico-social, envolvido com

    a práxis – ação que articula a teoria com prática. Dessa forma, haverá uma

    compreensão mútua, que possibilitará ao educador, contribuir para o

    desenvolvimento do aluno. Pois, “como ajudar alguém a aprender, se não o

    compreendemos?” Infelizmente, quando o homem não consegue ajudar o outro

    a aprender, rotula-o como sendo uma pessoa de difícil aprendizagem.

    (FREITAS, 2006, p.24)

    Para que aconteça a aprendizagem, e não o contrário, o correto teria

    que ser feita a seguinte pergunta: o outro está sendo compreendido na sua

    plenitude? Somente compreendendo o outro e escolhendo dinâmicas próprias

    o processo se completará.

    Quando a forma de educar não é para a liberdade o respeito e o amor,

    não se consegue melhorar a confiança, a autonomia a autoestima do aluno;

    nada mais se faz do que, além de aumentar a insegurança, gerar conflitos,

    solidão, depressão, racismo e tantas outras coisas tristes. Só é possível

  • 24

    realizar a educação para a sociedade através do respeito mútuo o carinho e o

    amor (FREITAS 2006).

    Segundo Freitas, Pedagogia é definida como os objetivos de um sistema

    educacional. O ambiente educacional em que os estudantes serão submetidos

    refletirá no tipo de indivíduos que teremos no final do processo educativo, se

    serão pessoas independentes ou inertes em suas atitudes, egoístas ou

    indivíduos que participam da construção do conhecimento e cooperam no

    trabalho. Se nos processos de aprendizagem reconhecem a grande

    importância da afetividade. A escolha da tendência do paradigma pedagógico

    mostrará como o processo da construção do conhecimento. A instituição de

    ensino é o local mais adequado para quebra de tabus, leis, mitos, reflexão etc.

    Uma vez que a escola é um dos sistemas sociais mais importantes da

    sociedade.

    Infelizmente, na educação atual há uma carência muito grande de afeto.

    Falta a preocupação em conhecer as reais necessidades do estudante, pois

    quem se acostumou a proceder de forma autoritária só vai angariar

    insatisfação. Em um lugar desses, todos adoecem. Como podemos observar

    ninguém sai ganhando; muito pelo contrário, todos são perdedores. A cada

    momento a instituição de ensino deixa de ser o sentido e a razão, conforme

    suas finalidades iniciais e acaba formando pessoas fracassadas, perdidas,

    infelizes, inseguras e completamente despreparadas para o mercado de

    trabalho e para a vida. (FREITAS, 2006)

    2.2. Emoção e Aprendizagem

    “Tudo é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras

    vitórias, na sucessão interminável da vida.” (CECÍLIA MEIRELES, APUD

    RELVAS, 2005, p. 100)

  • 25

    A aprendizagem pode ser explicada como a maneira como indivíduos

    retem novos conhecimentos, desenvolvem habilidades e mudam o

    comportamento, através da experiência construída por fatores emocionais,

    neurológicos, relacionais e ambientais. O Aprendizado resulta da interação

    entre estruturas mentais e o ambiente. Não se limita às aquisições feitas na

    escola, mas se aplica a todos os conhecimentos que o indivíduo adquire

    durante a vida, no âmbito familiar, social e institucional. (BARBOSA, 1989). A

    neurociência explica que todas as áreas cerebrais estão relacionadas com o

    processo de aprendizagem, que pode ser definido como uma alteração

    biológica que ocorre a partir da comunicação entre os neurônios, criando uma

    rede de interligações que podem ser acionadas com facilidade e rapidez.

    (RELVAS, 2009).

    O que nos distingue como ser humano é a nossa capacidade

    de entrelaçar o intelectual com o emocional para constituir

    significações através de diferentes linguagens. ”É nessa rede

    afetiva e lógica que nos tornamos singulares e sociais em

    determinada cultura.” (RICHTER, 2004, p. 56)

    Na sala de aula, o professor deve trabalhar a autoestima dos alunos,

    porque “a emoção está para o prazer, assim como o prazer está para o

    aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para

    gerar bons resultados.” (RELVAS, 2005, p. 52). Se o estudante somente

    observa de forma neutra o que acontece na sala de aula, provavelmente não

    irá armazenar as informações em sua memória, pois “apenas os sentimentos

    são capazes de transformar uma aula numa experiência pessoal, porque nesse

    caso os conteúdos a aprender passarão a significar alguma coisa para o

    aluno.” (MENTE E CÉREBRO, especial “Como o cérebro aprende”, p. 12)

    Gardner propõe uma reflexão sobre o conceito de inteligência,

    analisando as sociedades ao longo dos séculos até o tempo presente,

    observando a diversidade de atividades e profissões existentes. Para ele, a

    inteligência assume um caráter múltiplo e as pessoas possuem estilos

    cognitivos contrastantes. Segundo a teoria das Inteligências Múltiplas, temos

  • 26

    tipos variados de mente, cada indivíduo pensa e age de forma diferenciada. O

    autor ressalta que os educadores devem preocupar-se em compreender as

    individualidades de cada estudante, pois eles tem suas mentes diferentes umas

    das outras. Desta forma, critica os tradicionais testes de QI, pois apenas as

    habilidades lingüísticas e as lógico-matemáticas são considerados, e afirma

    que para analisar de forma adequada a cognição humana, é preciso considerar

    um conjunto de competências muito maior do que se imaginou. A maioria

    destas competências não podem ser medidas através de testes padronizados.

    Ele nomeou tais competências intelectuais de “inteligências” e considerou oito,

    que são: Lógico-matemática, lingüística, musical, espacial, corporal-

    cinestésica, interpessoal, intrapessoal.

    Todas as pessoas são capazes de aprender. Cada indivíduo possui

    habilidades diferentes. Segundo Gardner, indicadores de inteligência como o

    QI não mostram totalmente a capacidade cognitiva. Introduziu em sua teoria

    das inteligências múltiplas, a ideia de incluir os conceitos de inteligência

    intrapessoal como de entender a si mesmo e de compreender os próprios

    sentimentos (medos e motivações) quanto de inteligência interpessoal

    capacidade de compreender as intenções, motivações e desejos dos outros.

    Sendo assim, embora os nomes dados ao conceito tenham variado, há um

    consenso de que as definições tradicionais de inteligência não mostram

    totalmente suas reais suas características (GARDNER 1994).

    Respeitando os sonhos, as frustrações, as dúvidas, os medos,

    os desejos dos educandos, crianças, jovens ou adultos,

    educadores e educadoras populares têm neles um ponto de

    partida para a sua ação. Insista-se, um ponto de partida e não

    de chegada. (FREIRE, 1993, p. 16).

    Segundo Lent, podemos dividir as emoções humanas em três tipos:

    emoções primárias; emoções secundárias; e emoções de fundo, propostas

    recentemente pelo neurologista português António Damásio. Existem pelo

    menos seis emoções primárias: alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa.

    As emoções secundárias são mais complexas e dependem de fatores

    http://pt.wikipedia.org/wiki/QI

  • 27

    socioculturais. Ex.: culpa e vergonha. Já as emoções de fundo estão

    relacionadas com o bem estar ou com o mal estar, com a calma ou com a

    tensão. Estímulos internos, vísceras. Expressam-se em alterações complexas

    musculoesqueléticas, tais como variações sutis na postura do corpo e na

    configuração global dos movimentos. Essas emoções não são consideradas

    nas discussões tradicionais sobre emoção, embora em geral sobrevivam a

    várias doenças neurológicas. (LENT, 2008).

    A aprendizagem e o ato de aprender estão, dentre outras coisas,

    relacionadas a um ambiente emocional. Por esse motivo, a temperatura

    emocional e qualidade da relação onde acontecem as mediações da

    aprendizagem são importantíssimas. Entretanto é necessário destacar que no

    campo afetivo de um indivíduo, as emoções são as principais manifestações.

    Quando um aluno em seu percurso de aprendizagem se emociona ou mostra

    como estão as suas emoções, são formas diferenciadas de manifestações cujo

    termo utilizado para identificá-los, segundo Henri Wallon, é a afetividade. O

    docente pode compreender o que está acontecendo com seu aluno através do

    seu olhar, da sua respiração, agitação, etc. Emoções que são formas de

    expressar os sentimentos. (WALLON, 1979)

    Como prática estritamente humana jamais pude entender a

    educação como experiência fria, sem alma, em que os

    sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem

    ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem

    tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma

    experiência a que faltasse rigor em que se gera a necessária

    disciplina intelectual. Tenho esperança de contribuir e me

    interesso profundamente, para o destravado aprendiz, para que

    ele possa ser livre para bem aprender. (FREIRE, 2005, p. 146)

    Para diversos autores, o ato de aprender é entendido como a meta final

    da assimilação de algo intimamente relacionado ao sujeito que aprende. Trata-

    se de uma modificação do comportamento individual, em que o estudante

  • 28

    amplia seu potencial. Cada indivíduo tem a sua maneira de aprender, para

    tanto, é preciso fazer associações entre o objeto de estudo e a vida particular.

    (CUNHA e FERLA, 2002)

    É preciso estar motivado para aprender, porque a motivação estimula o

    pensamento, desejos, interesses e emoções pelo assunto estudado. Para que

    haja uma compreensão plena do pensamento de outra pessoa, é necessário

    um entendimento de sua base afetivo-evolutiva (VYGOTSKY, 1991).

    Na perspectiva da Neurociência,

    A aprendizagem é uma modificação biológica na comunicação

    entre os neurônios, formando uma rede de interligações que

    podem ser evocadas e retomadas com relativa facilidade e

    rapidez. Todas as áreas cerebrais estão envolvidas no

    processo de aprendizagem, inclusive a emoção. (RELVAS,

    2009, p. 35).

    Relvas afirma que a plasticidade cerebral assume um importante papel

    na aprendizagem, uma vez as áreas do cérebro destinadas a determinadas

    funções, podem assumir outras quanto se fizer necessário. Ressalta a

    capacidade do cérebro em transferir conhecimentos de uma área para outra,

    chamando a tal fenômeno de “interdisciplinaridade do cérebro”. Ela citou como

    exemplo, a utilização do ritmo de uma música ser aproveitado na leitura, na

    escrita e nos conceitos matemáticos. Segundo a autora, a plasticidade cerebral

    “é propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de

    alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a

    condições mutantes e a estímulos repetidos.” (RELVAS, 2005, p. 43). Afirma

    que todos os nossos processos de aprendizagem e de reabilitação das

    atividades motoras e sensoriais dependem da plasticidade cerebral cujo

    desenvolvimento acontece ao longo da vida (RELVAS, 2009).

    A memória também tem importante função na aprendizagem, uma vez

    que, segundo Relvas, “sem memória não há aprendizagem.” A partir da

    experiência e aquisição de conhecimentos novos, acontece a transformação do

    comportamento, que é a aprendizagem. Através da memória, estes

  • 29

    conhecimentos ficam armazenados, podendo ser resgatados quando

    necessário. (RELVAS, 2005)

    Izquierdo afirma que “formamos novas memórias sobre outras mais

    antigas, eventualmente modificando-as e inventando mentiras verídicas”

    (IZQUIERDO, 2002, apud RELVAS, 2005). As informações recuperadas podem

    sofrer modificações conforme o contexto do momento, em meio a um complexo

    trânsito de sinapses (espaço entre neurônios onde acontece a transferência de

    informações em forma de impulsos elétricos).

    A memória não localiza-se em uma única parte do cérebro, é um

    fenômeno biológico e psicológico que abrange sistemas cerebrais que

    trabalham juntos. (RELVAS, 2009). Quando as informações chegam aos

    sentidos (visão, tato, paladar, audição e olfato), inicia-se a formação das

    memórias, fase conhecida como aquisição. Ao chegarem ao cérebro, acontece

    um processamento em diversas regiões que resultam em memórias que podem

    ser de três tipos, conforme a duração: Memória de Trabalho ou Operacional,

    Memória Recente ou Memória de Curta Duração (Mcd) e Memória Remota,

    Permanente ou de Longa Duração (Mld). A Memória de Trabalho guarda

    informação consciente no cérebro por um pequeno período de tempo, apenas

    por alguns segundos ou minutos, somente enquanto é processada. A Memória

    Recente retém a informação por minutos ou horas e pode ter

    comprometimentos em alguns processos patológicos, já a Memória de Longa

    Duração é aquela em que a informação fica armazenada por anos. Mesmo que

    o sujeito sofra sérios danos cerebrais, permanece inalterada. (RELVAS, 2005).

    Ainda segundo Relvas, sem memória não há aprendizagem, pois a partir

    da experiência e aquisição de conhecimentos novos, acontece a transformação

    do comportamento, que é a aprendizagem. Através da memória, estes

    conhecimentos ficam armazenados, podendo ser resgatados quando

    necessário. Izquierdo afirma que “formamos novas memórias sobre outras mais

    antigas, eventualmente modificando-as e inventando mentiras verídicas”

    (IZQUIERDO, 2002, apud RELVAS, 2005). As informações recuperadas podem

    sofrer modificações conforme o contexto do momento, em meio a um complexo

    transito de sinapses (espaço entre neurônios onde acontece a transferência de

  • 30

    informações em forma de impulsos elétricos). A memória não localiza-se em

    uma única parte do cérebro, é um fenômeno biológico e psicológico que

    abrange sistemas cerebrais que trabalham juntos. (RELVAS, 2009). Quando as

    informações chegam aos sentidos (visão, tato, paladar, audição e olfato), inicia-

    se a formação das memórias, fase conhecida como aquisição. Ao chegarem ao

    cérebro, acontece um processamento em diversas regiões que resultam em

    memórias que podem ser de três tipos, conforme a duração: Memória de

    Trabalho ou Operacional, Memória Recente ou Memória de Curta Duração

    (Mcd) e Memória Remota, Permanente ou de Longa Duração (Mld). A Memória

    de Trabalho guarda informação consciente no cérebro por um pequeno período

    de tempo, apenas por alguns segundos ou minutos, somente enquanto é

    processada. A Memória Recente retém a informação por minutos ou horas e

    pode ter comprometimentos em alguns processos patológicos, já a Memória de

    Longa Duração é aquela em que a informação fica armazenada por anos.

    Mesmo que o sujeito sofra sérios danos cerebrais, permanece inalterada.

    (RELVAS, 2005).

    Segundo Jourdain, a memória de curto prazo possibilita que

    cantarolemos a melodia de uma música logo após ouvi-la pela primeira vez.

    Porém, a melodia só será sabida após uma semana se passada para a

    memória de longo prazo. O autor explica que através de pesquisas, os

    cientistas observaram que os lobos frontais “fazem malabarismo” para

    organizar as informações na memória de curto prazo. Segundo ele, somente

    sete conteúdos podem ser examinados ao mesmo tempo, caso o cérebro

    receba mais informações, os lobos frontais se atrapalham. Já na memória de

    longo prazo o processo acontece nos lobos temporal médio e inferior (abaixo

    do córtex auditivo) e no hipocampo (exatamente abaixo), elemento fundamental

    para essa memória. (JOURDAIN, 1998).

    A atenção também é fundamental para aprendizagem, segundo Relvas,

    “função desempenhada por uma estrutura complexa, encontrada no tronco

    encefálico, denominado Formação Reticular (FR)” (RELVAS, 2009, P. 90). A

    formação reticular é composta por uma rede de neurônios de tamanhos e tipos

    variados interligados entre si. É responsável pelo controle da atividade elétrica

  • 31

    cortical (sono e vigília), está ligada ao estado de alerta, um dos estados mais

    importantes da atenção. Também atua como um filtro dos muitos estímulos

    externos recebidos pelo sistema nervoso central. Na formação reticular,

    existem sistemas que trabalham através dos neurotransmissores:

    noradrenalina, serotonina, dopamina e acetilcolina. (SCHWARTZMAN, 2008).

    Segundo SCHWARTZMAN (2008), a atenção pode ser compreendida

    em dois tipos: voluntária e automática: atenção automática diz respeito às

    atividades nas quais não estamos conscientemente envolvidos, ao contrário da

    atenção voluntária, em que é preciso um “esforço consciente”

    (SCHWARTZMAN, 2008, p. 38). Quando alguém está aprendendo uma

    atividade nova, como andar de bicicleta, nadar ou dirigir, precisa usar a

    atenção voluntária, pois se faz necessário esforçar-se para aprender. Com o

    tempo, conforme as habilidades vão se desenvolvendo, passa a realizar as

    atividades de forma automática, ou seja, não precisa mais concentrar-se para

    executar a tarefa, a menos que algum imprevisto aconteça. O autor explica,

    que dentro da atenção voluntária, ainda existem aspectos variados que devem

    ser considerados: quando o indivíduo recebe dois estímulos simultâneos e

    precisa dedicar-se a ambos, usa a atenção dividia. Se estiver em alguma

    situação em que diversos estímulos se apresentem, para conseguir concentrar-

    se em apenas um assunto, utilizará a atenção focada ou seletiva. Na realização

    de atividades cansativas, monótonas e prolongadas, será utilizada a atenção

    sustentada para manter-se concentrado por um longo período de tempo.

    Nota-se que muitas competências estão diretamente relacionadas à

    atenção, como a concentração, o grau de alerta, a seleção e a exploração. É

    preciso que muitas estruturas, posicionadas em diferentes pontos do sistema

    nervoso central, como a formação reticular, o tálamo, o sistema límbico, assim

    como estruturas corticais e subcorticais, que tem relação com as funções

    sensitivo-sensoriais e motoras (córtex frontal e pariental posterior), estejam em

    harmonia para que tudo funcione perfeitamente (SCHWARTZMAN, 2008).

    A partir das pesquisas feitas ao longo deste capítulo, fica claro que sem

    emoção não há aprendizagem. No terceiro e último capítulo, será estudado a

    importância da didática e a atuação do professor em sala de aula.

  • 32

    CAPÍTULO III

    O PAPEL DA DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

    As pesquisas cognitivas mostram que, ainda que os sujeitos

    tenham capacidades ou inteligências para aprender, é

    necessário que o ambiente brinde oportunidades ao

    desenvolvimento de tais capacidades e inteligências,

    chamando da atenção principalmente a relação pedagógica

    entre aluno e professor. (PORTILHO, 2009, p. 17).

    3.1 Histórico do Ensino Superior no Brasil

    O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

    Antônio Joaquim Severino apresenta um panorama do ensino superior no

    Brasil desde a década de 1930, levando–nos a algumas reflexões sobre a

    situação em que se encontram nossas universidades.

    O que se deduz, partindo das afirmações do autor, é que dentre outras

    premissas a universidade brasileira sempre esteve voltada para atender aos

    interesses das elites, desde sua criação, ainda na época do império, até os

    dias de hoje.

    Pelas observações de Severino, percebemos muito claramente que o

    ensino superior no Brasil sempre significou “status” e que, por ter se colocado a

    serviço das classes mais altas, acabou constituindo-se em uma forma de

    demonstrar a superioridade gozada por essas classes, assim como, de certa

    forma, de dificultar às classes menos favorecidas a ascensão social e

    profissional.

    3.1.1 Ensino Fundamental e Médio

    A visão apresentada pelo professor Severino era muito clara, pois a

    maioria esmagadora das vagas dos antigos ginasial e médio (científico e

    clássico) era ofertada na rede pública, isto é, gratuitamente, porém a

  • 33

    concorrência era muito grande. O motivo era quantidade de pretendentes, o

    que ensejava a necessidade de seleção, o que era feito por prova.

    Nesse sistema, por muito tempo, as classes menos favorecidas foram

    alijadas do Ensino Superior, pois seus filhos não conseguiam notas suficientes

    na prova de vestibular. As razões dessa dificuldade se originavam no ensino

    médio. Duas eram as principais razões que as classes menos favorecidas

    encontravam para ascenderem ao ensino superior:

    a-) Até mais ou menos o ano de 1964, o bom ensino fundamental e médio

    somente era encontrado nas escolas públicas. O acesso a essas escolas,

    porém, era feito mediante provas muito rigorosas, para as quais só os filhos

    das classes médias altas conseguiam se preparar, pois eram os únicos que

    possuíam educação e meios financeiros suficientes para contratar professores

    particulares, etc., enquanto os oriundos das classes menos favorecidas, na sua

    maioria, não possuíam recursos para gastar com a preparação de seus filhos.

    Além disso, muitas daquelas crianças não tinham tempo para estudar, pois

    precisavam trabalhar para ajudar nas despesas de casa.

    O filtro aplicado naquela época era uma prova de acesso ao ginásio, que

    se chamava “Exame de Admissão”, a que eram submetidos todos os que

    saiam do primário e queriam ingressar no ginasial. Se a criança não estivesse

    preparada, não passaria na prova e não poderia ir adiante nos estudos. Havia

    cursos, semelhantes ao pré-vestibular de hoje, porém os pobres não tinham

    condições de pagar os valores cobrados. Por isso, muito poucos conseguiam

    ensino gratuito.

    Como “o rio corre para o mar” tínhamos uma situação em que, por não

    ter acesso à boa escola, a pública, as crianças da classe média baixa eram

    matriculadas na escola privada, que era o que lhes restava e cujo ensino não

    apresentava a qualidade daquele encontrado na escola pública. Isso esvaía os

    já precários recursos da família enquanto os filhos da classe média alta

    economizavam aquelas despesas para seus pais. Convenhamos, uma situação

    “tremendamente” injusta. Quando chegava a hora do vestibular, eram

  • 34

    justamente os que menos precisavam que conseguiam as melhores notas, e,

    com isso, as vagas nas cadeiras que pretendiam estudar enquanto os outros

    ficavam de fora;

    b-) Após 1964, a situação de inverteu. Já não eram as escolas públicas que

    ofereciam a melhor qualidade de ensino, pois sofreram enorme esvaziamento,

    com seus melhores professores se bandeando para as escolas privadas, que

    pagavam melhores salários. Dessa forma, a educação pública não mais podia

    manter a qualidade de ensino que oferecia antes, sendo, por esse motivo,

    abandonada pelos filhos das classes mais favorecidas. Naquele momento,

    começou sobrar vagas na escola pública para os menos favorecidos na escala

    social/econômica. Porém a qualidade de ensino deixava muito a desejar.

    A consequência disso, como era de se esperar, foi que o bom ensino

    passou a ser oferecido pela educação privada, à qual somente tinham acesso

    os filhos das classes mais privilegiadas e, consequentemente, somente esses

    conseguiam acesso à educação Superior gratuita. Como se pode ver,

    permanecia “tudo como dantes no quartel de Abrantes”

    3.1.2 Ensino Superior

    Em seu trabalho, o professor Severino fala da opção neoliberal escolhida

    lá atrás, após a ditadura militar, na década de 1980, pelo governo brasileiro,

    quando o ensino superior foi incentivado a desenvolver-se através da iniciativa

    privada.

    Segundo ele, isso aconteceu em virtude de ter havido um enorme

    retrocesso no perfil das atividades do país e na forma de sua inserção no

    comércio internacional, quando passamos a produzir quase somente

    commodities, que são produtos que não apresentam valor agregado ao produto

    exportado, sendo muito baixo seu preço unitário, além de permitirem grande

    simplificação tecnológica e rotinização das tarefas.

  • 35

    Essa opção do Brasil como produtor de bens básicos, de pouca

    elaboração industrial, colocou-o em situação de subalternidade em relação à

    ciência e à tecnologia, o que significava preços baixos para seus produtos de

    exportação.

    Em outras palavras, nossa balança comercial, se não ficou deficitária,

    passou a apresentar saldos positivos (diferença entre a exportação e a

    importação) cada vez menores.

    Outro ponto importante abordado pelo autor é o fato de o

    desenvolvimento do ensino superior brasileiro ter ocorrido sob a orientação

    neoliberal, que se caracteriza pela privatização e pela adoção do modelo que

    ele chamou de instituição isolada.

    A privatização decorreu da dificuldade de acesso das classes menos

    favorecidas que, considerando o ensino superior como sua melhor

    possibilidade de ascensão social, bem como econômica, decidiram fazer todos

    os sacrifícios que fossem necessários para que pudessem obter um título de

    bacharel. Isso foi observado pelos empresários, que passaram a investir no

    ensino superior, que se transformou em excelente “negócio”.

    Esse investimento, porém, não se deu dentro das premissas de um país

    que busca uma educação de primeira linha para seus filhos, isto é, obedecendo

    ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, como

    preconizado no artigo 207 da Constituição de 1988. Ao invés disso, foram

    criadas muito mais “instituições isoladas” do que Universidades. Em

    decorrência desse processo, houve quase que o abandono da pesquisa e da

    extensão, permanecendo o foco somente do ensino.

    Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB 9394/96, o

    capítulo IV é todo dedicado à Educação Superior, indo do artigo 43 ao 57, em

    que são estabelecidas suas finalidades. Conforme Severino,

    (art. 43), definidos seus cursos e programas;

  • 36

    (art. 44) – estabelecendo-se que ela será ministrada em

    instituições de ensino superior públicas ou privadas, com

    variados graus de abrangência ou especialização;

    (art. 45) – regulamentados os processos de autorização e

    reconhecimento dos cursos;

    (art. 46), definido o ano letivo regular;

    (art. 47); trata da emissão dos diplomas;

    (art. 48), das regras de transferências de alunos;

    (art. 49), da disponibilidade das vagas não preenchidas para

    alunos não regulares;

    (art 50), das normas de seleção e admissão dos alunos;

    (art. 51), das características que as instituições devem ter em

    função de seu perfil formativo pluridisciplinar;

    (art. 52), do regime jurídico e de carreira docente do pessoal

    das universidades públicas e do compromisso da União em

    assegurar recursos orçamentários suficientes para a

    manutenção das instituições federais;

    (art. 55).

    No art. 56, determina-se que as instituições públicas de ensino

    superior “obedecerão ao princípio da gestão democrática,

    assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de

    que participarão os segmentos da comunidade institucional,

    local e regional”.

    E o artigo 57 estabelece que “o professor ficará obrigado ao

    mínimo de oito horas semanais de aulas”. (SEVERINO, 2008,

    P. 78)

    3.2. Didática do Ensino Superior

    A Didática é, pois, uma das disciplinas da Pedagogia que

    estuda o processo de ensino através dos seus componentes –

    os conteúdos escolares, o ensino e a aprendizagem – para,

  • 37

    com o embasamento numa teoria da educação, formular

    diretrizes orientadoras da atividade profissional dos

    professores. É, ao mesmo tempo, uma matéria de estudo

    fundamental na formação profissional dos professores e um

    meio de trabalho do qual os professores se servem para dirigir

    a atividade de ensino, cujo resultado é a aprendizagem dos

    conteúdos escolares pelos alunos. (LIBÂNIO, 1994, 58)

    Para Masetto, é preciso haver uma troca de paradigmas nas

    universidades no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem.

    Sugere “a substituição da ênfase no ensino pela ênfase na aprendizagem.”

    (MASSETO, 2003, p.82-83). O autor afirma que não basta substituir palavras,

    mas que na ação pedagógica universitária, é necessário que o aluno atue

    como agente da sua aprendizagem, exercendo as ações necessárias para que

    possa adquirir conhecimentos e habilidades. Por outro lado, o professor atua

    como facilitador e agente de transmissão pedagógico do estudante. Aponta que

    é necessário que o estudante desenvolva uma crescente autonomia para

    adquirir novos conhecimentos, assunto que, segundo ele, vem sendo

    amplamente discutido. (MASSETO, 2003)

    Paulo Freire afirma que “saber que ensinar não é transferir

    conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a

    sua construção”. (FREIRE, 2008). A formação do docente da educação

    superior compreende a formação teórico-científica, considerando a formação e

    a formação acadêmica e específica nas matérias em que o professor vai

    especializar-se e a formação pedagógica, trata-se dos saberes da Filosofia,

    Sociologia, História da Educação e da própria Pedagogia que colaboram para o

    enriquecimento do fenômeno da educação dentro de um contexto histórico-

    social; a formação técnico prática tendo em vista a elaboração profissional

    específica para o magistério, inclusive a Didática, as metodologias específicas

    das disciplinas, a Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outros. “A

    formação profissional é um processo pedagógico, intencional e organizado, de

    preparação teórico-científica e técnica do professor para dirigir

    competentemente o processo de ensino”. (LIBÂNEO, 1994, p.27).

  • 38

    Pimenta também sugere o aluno como responsável pela construção de

    sua autonomia e na produção do seu conhecimento durante todo o seu

    percurso acadêmico. É nesse aspecto que a Didática torna-se forte para

    expandir o ensino, ou seja, a docência do ensino superior. Para o professor,

    este segmento da educação é muito desafiado, pois é necessária uma grande

    articulação de saberes complementares, já que exige-se que o educador

    desenvolva também outros conhecimentos: pedagógico e político. “A própria

    Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não concebe a docência

    universitária como um processo de formação, mas sim de preparação para o

    exercício do magistério superior.” (PIMENTA, 2002).

    Os estudos feitos durante este capítulo demonstram que a excelência do

    processo de ensino aprendizagem no nível superior, depende da formação do

    completa do professor, tanto no conhecimento específico das disciplinas

    ministradas, como os saberes pedagógicos. O sucesso, porém, só acontece

    com a dedicação do aluno em produzir o seu próprio conhecimento.

  • 39

    CONCLUSÃO

    Afinal, como questiona Marta Relvas, “O que se deseja do sujeito

    aprendente? Que decore conteúdos ou que memorize a partir de reflexões e

    associações para serem aplicadas no cotidiano?” (RELVAS, 2005, p.15).

    Deseja-se muito mais do que simplesmente reflexões (evidentemente, a

    chamada “decoreba” está definitivamente afastada). Na Educação Superior,

    para que a aprendizagem efetivamente aconteça, o docente deve envolver os

    alunos através da afetividade, de modo a motivá-los a desenvolver o seu

    próprio conhecimento. A Didática na Educação Superior é uma troca constante,

    conforme as palavras do mestre Paulo Freire: “Quem ensina aprende ao

    ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. (FREIRE, 2008, p.23). Para

    ensinar, é preciso que o professor tenha uma percepção ampla de todo o

    processo educacional e não apenas o domínio do conteúdo ou da disciplina

    que ministra.

    A partir das informações obtidas através deste trabalho de pesquisa,

    ficou claro que a emoção é peça fundamental no processo e desenvolvimento e

    na aprendizagem, em qualquer nível de escolaridade. O estado emocional de

    uma pessoa influencia a maneira pela qual ela pensa, orienta suas ações e

    toma decisões. Falando com outras palavras, todas as relações que são

    estabelecidas com o mundo são amplamente influenciadas pela emoção. No

    processo de aprendizagem não seria diferente.

    Não deve ser esquecido também que o processo de ensino

    aprendizagem é uma rua de mão dupla, isto é, ambos os atores, professor e

    aluno, ensinam e aprendem.

    O principal papel do professor é estimular o aluno a buscar o

    conhecimento, isto é, estimulá-lo a pesquisar. Como dizia Paulo Freire, Isso

    deve ser feito com muita tolerância e humildade, respeitando a timidez e a

    curiosidade do aluno (FREIRE, 1995).

  • 40

    Continuando na mesma direção citada por Paulo Freire, deve-se

    também somar um pouco de carinho e amor ao processo de ensino e

    aprendizagem, que é como se deve executar qualquer trabalho, principalmente

    quando estamos tratando com pessoas.

    Assim, devem ser evitadas atitudes como as do “professor policial”, que

    só serve para criticar o estudante, não acrescentando nada ao processo, ao

    contrário, só serve para criar situações desagradáveis, que são repudiadas por

    quem se propõe a ter uma boa presença em sala de aula.

    Outro aspecto que deve ser considerado é que o docente, mesmo sem

    ter intenção, é, e sempre será, um exemplo que seu aluno vai seguir. Portanto,

    deve preocupar-se com suas atitudes, pois é muito difícil consertar

    comportamentos inadequados.

    Assim, e para finalizar, o docente precisa estar atento ao que acontece

    no mundo, principalmente no que diz respeito aos assuntos pertinentes à

    educação, e aos avanços da tecnologia, notadamente a informática, trazendo

    para a sala de aula tudo o que estiver sendo apresentado lá fora, dando sua

    interpretação e solicitando a reflexão da turma.

  • 41

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    CANDAU V. A Didática em questão. Ed. Vozes: Petrópolis, 2000

    CUNHA, Ciristiano J. C. de Almeida e FERLA, Luiz Alberto. Manual do

    moderador – Facilitando a Aprendizagem de Adultos. Florianópolis: IEA-

    Instituto de Estudos Avançados, 2002.

    FREIRE P. Educação e Mudança; Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979

    FREIRE P. Pedagogia da Autonomia; Ed. Paz e Terra, São Paulo, 2008

    FREIRE P. Pedagogia do Oprimido: Ed. Paz e Terra, 47ª Ed., Rio de Janeiro:

    2005

    FREITAS, N. Pedagogia do Amor; Wak Ed., 3 ª Ed.: Rio de Janeiro, 2006

    GARDNER, Howard. Estruturas da mente – A Teoria das Inteligências

    Múltiplas. Trad. Sandra Costa, Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

    LENT, R. (coord.) Neurociência da Mente e do Comportamento – Rio de

    Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2008

    JOURDAIN, Robert. Música, Cérebro e Êxtase – Como a música captura

    nossa imaginação Trad. Sonia Coutinho, Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.

    LIBÂNEO, J. Didática, cortez Ed.: São Paulo, 1994

    MASETTO, M. Docência na Universidade. Ed. Papirus, Campinas:1998.

    MENTE E CÉREBRO – Como o cérebro aprende

    PORTILHO, Evelise. Como se aprende? Estratégias, Estilos e

    Metacognição. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009

  • 42

    RELVAS, Marta P. Fundamentos Biológicos da Educação – Despertando

    Inteligências e Afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro:

    WAK Ed., 2005.

    RELVAS, Marta P. Neurociência e Educação – potencialidades dos

    gêneros humanos em sala de aula. Rio de Janeiro: WAK Ed.,2009

    RELVAS, Marta P. Neurociência e Transtornos de Aprendizagem – As

    Múltiplas Eficiências para uma Educação Inclusiva. Rio de Janeiro: WAK

    Ed. 3 ed. 2009.

    RICHTER, S. Criança e pintura: ação e paixão do conhecer. Porto Alegre:

    Mediação, 2004

    SCHWARTZMAN (2008)

    SEVERINO, A. J. O ensino superior brasileiro: novas configurações e

    velhos desafios. Educar, Curitiba, n. 31, p. 73–89, 2008. Editora UFPR 75

    TEIXEIRA, M. Prática docente e autonomia do aluno: uma relação a ser

    construída em cursos de graduação. Tese de Doutorado. São Paulo: 2002.

    VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes,

    1991.

    WALLON, Henri. Psicologia e Educação da criança. Lisboa: Veja, 1979.

  • 43

    ÍNDICE

    FOLHA DE ROSTO 2

    AGRADECIMENTO 3

    DEDICATÓRIA 4

    RESUMO 5

    METODOLOGIA 6

    SUMÁRIO 7

    INTRODUÇÃO 8

    CAPÍTULO I

    AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E A DIDÁTICA 10

    1.1 Desenvolvimento histórico da Didática e tendências pedagógicas 10

    1.2 As tendências pedagógicas no Brasil e a Didática 14

    1.3 As tarefas do Docente e a Didática 20

    CAPÍTULO II

    A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM 23

    2.1. O Amor: a Questão Central 23

    2.2. Emoção e Aprendizagem 24

    CAPÍTULO III

    O PAPEL DA DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR 32

    3.1 Histórico do Ensino Superior no Brasil 32

    3.1.1 Ensino Fundamental e Médio 32

    3.1.2 Ensino Superior 34

    3.2 Didática do Ensino Superior 36

    CONCLUSÃO 39

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

    ÍNDICE 43

    AGRADECIMENTOSSUMÁRIOCAPÍTULO II - A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM 23CONCLUSÃO 39BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40ÍNDICE 42FOLHA DE ROSTO2AGRADECIMENTO3