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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O ASSEDIADO Por: Flávio Pereira dos Santos Orientador Profª. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

PARA O ASSEDIADO

Por: Flávio Pereira dos Santos

Orientador

Profª. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

PARA O ASSEDIADO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para a

conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Gestão de Recursos Humanos.

Por: Flávio Pereira dos Santos

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela constante presença em

todos os momentos de nossas vidas,

refletida pela força do amor, da paz, da

esperança e da coragem, que nos

fizeram vencer mais um desafio em

nossa vida. Agradeço ao Servidor que

me proporcionou tal relato mesmo

correndo risco de retaliações em seu

serviço, e que também me motivou a

estudar o tema apresentado.

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DEDICATÓRIA

Dedico à minha família pela força, aos

meus amigos e colegas de trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho expõe os estudos realizados acerca do tema

“Assédio Moral no Trabalho”, apontando as suas origens, seus conceitos, perfil

dos envolvidos e conseqüências para as suas vidas.

A pesquisa objetiva contribuir para ampliar a visibilidade social do

fenômeno denominado Assédio Moral no Trabalho. O assédio moral no

trabalho é um mal que existe desde os primórdios das relações humanas.

Tornando-se, nos últimos anos, forte preocupação social em razão de ser

considerado uma violência que causa impactos extremamente negativos à

saúde e ao bem estar da vítima e devido aos desgastes que a mesma provoca.

No entanto, nas relações de trabalho, é considerado um fenômeno novo, sob o

ponto de vista de sua visibilidade.

Diante dos fatos, foi possível conceituar o assédio moral no trabalho,

assim como identificar as principais decorrências para a saúde do trabalhador,

dentre as quais se destacam a depressão e o estresse, estes com mais

destaques, podendo inclusive levar o sujeito assediado ao suicídio, fato que se

caracteriza como uma violência Psicológica.

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METODOLOGIA

Este trabalho de pesquisa teve como metodologia a leitura de livros,

revistas e de artigos em sites na internet sobre assédio moral no trabalho e

suas conseqüências para o trabalhador. Terá também o relato de um servidor

público federal que sofre constantemente com assédio moral no âmbito do

trabalho, fato que me motivou a estudar tal fenômeno. Essa Monografia tem como principais referenciais teóricos - Marie

France Herigoyen; Márcia Novaes Guedes e Maria Aparecida Alkimin.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Assédio Moral no Trabalho: Histórico, Conceitos, Tipos de

Assédio Moral, O Perfil do Assediador e O Assediado alvo dos ataques 10

CAPÍTULO II - Conseqüências do Assédio Moral no Trabalho: Efeitos Sobre o

Ambiente de Trabalho, Danos Psicofísicos causados na Vítima 26

CAPÍTULO III - Convivendo com o Assédio Moral: Relatos de um Servidor

Público Federal 33

CONCLUSÃO 41

ANEXOS 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47

BIBLIOGRAFIA CITADA 49

ÍNDICE 51

FOLHA DE AVALIAÇÃO 52

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INTRODUÇÃO

O tema Assédio Moral, por si só, já revela o seu grau de

complexidade, envolvendo diferentes áreas do conhecimento, mas

sobremaneira, e inicialmente, a Psicologia e a Ética, de modo a esclarecer,

conceituar e contextualizar esse fenômeno existente nas relações humanas.

A questão é história, pois há muito se conhece o assédio moral, mas a

sua notoriedade e reconhecimento estão intimamente ligados à evolução das

sociedades, mas naquelas onde se passou a dimensionar as conseqüências

do assédio moral a partir dos danos causados. Logo, o dano passou a ser o

divisor de águas no reconhecimento do assédio moral. Num segundo

momento, o grau do dano determinará até valores indenizatórios em

reparação.

Com a mudança do contexto social, onde o dano é que passou a dar

visibilidade ao assédio moral, além da Psicologia e da Ética, o Direito passa a

ter papel fundamental, de modo a permitir e amparar a elaboração de leis

protetoras e punitivas para os paciente e agentes, respectivamente, na relação

de assédio moral.

Quando o tema passa a ser o Assédio Moral no Trabalho tem-se,

aparentemente, apenas a delimitação do universo sob exame, que passa a ser

o das relações de trabalho. Isso é fato, mas não é a única verdade, pois a

complexidade aumenta em razão da inserção do Direito, mais especialmente

do Direto do Trabalho, que agrega o aspecto do Dano ao Assédio Moral no

Trabalho.

Reconhecidamente, é no campo do Direito do Trabalho onde mais se

observa o dano moral. O dano moral é gênero, enquanto o assédio moral é a

espécie.

A Administração de Empresas, também reserva espaços para

abordagem do tema, trazendo e apontando as conseqüências de tal prática

nas suas áreas, inclusive. Entretanto, a questão ficará polarizada entre a

Psicologia e o Direito, tendo como substrato a Ética.

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Assim, tem-se que qualquer proposta de abordagem do tema deverá

conter, minimamente, uma visão histórica, conceitos de assédio moral e seus

tipos, com as respectivas conseqüências e, se possível, com a apresentação

de relato de caso.

Para efeito de organização, este estudo esta dividido em quatro

capítulos:

O Capítulo 1 - Apresenta uma visão histórica do surgimento do Assédio Moral -

seus conceitos - Os Tipos de Assédio Moral: vertical descendente, vertical

ascendente e horizontal - O Perfil do Assediador e o Assediado alvo dos

ataques, segundo estudiosos do tema e de autores que refletem sobre o tema

em questão.

O capítulo 2 – Traz um estudo sobre as conseqüências do Assédio Moral no

Trabalho - Os efeitos sobre o ambiente de trabalho e os Danos Psicofísicos

causados na Vítima.

O capítulo 3 – Convivendo com Assédio Moral: Relatos de um Servidor Público

Federal, onde traz um relato de como acontece o Assédio Moral no Trabalho e

suas conseqüências para vida do assediado.

O Capítulo 4 – Conclusão do Trabalho.

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CAPÍTULO I

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

A violência Moral no trabalho, apesar de velho socialmente, começou a

ganhar a visibilidade no mundo a partir dos idos de 1980, com a publicação de

uma pesquisa realizada pelo cientista Alemão Heinz Leymann, a qual

demonstra as conseqüências do mobbing. Destacam-se, também, agora em

1990, o trabalho produzido por Marie France Herigoyen, na França, e, mais

recente no Brasil, em 2000, a obra notável da Dra. Margarida Barreto,

intitulada “Uma Jornada de Humilhações”. Seguramente, as lutas dos

trabalhadores nos séculos XIX e XX por melhores condições de trabalho (pela

saúde do corpo) e pela participação na organização de trabalho (contra o

sofrimento mental) foram fatores de relevância para esses estudos, Silva

(2006, p.19).

Assédio moral ou violência moral no trabalho, como já afirmado, não é

um fenômeno novo. Pode-se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho, diz

Barreto (2000).

A novidade reside na intensificação, gravidade, amplitude e

banalização do fenômeno e na abordagem que tenta estabelecer o nexo-

casual com a organização do trabalho e tratá-lo como não inerente ao trabalho.

A reflexão e o debate sobre o tema são recentes no Brasil, tendo ganhado

força após a divulgação da pesquisa brasileira feita pela Dra. Margarida

Barreto (2000).

Barreto (2000) diz em seu livro (Uma Jornada de Humilhações) que

Assédio Moral no trabalho é a exposição de trabalhadores e trabalhadoras a

situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a

jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comum em

relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam

condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um

ou mais chefes, dirigidas a um ou mais subordinados, destabilizando a relação

da vítima com ambiente de trabalho e a organização, degradando

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deliberadamente as condições de trabalho, com objetivo fundamental de forçar

a demissão, atingir a dignidade e a identidade do trabalhador.

Caracteriza-se pela atitude desumana, violenta e sem ética nas

relações de trabalho, visando desqualificar e destabilizar economicamente a

relação da vítima com a organização e o ambiente de trabalho, o que põe em

risco a saúde e a própria vida da vítima.

Ainda Barreto (2000) é de fundamental importância esclarecer que o

assédio moral viola de forma cruel à dignidade do ser humano e os valores

sociais do trabalho, imputando a pessoa o peso da humilhação, da cobrança

exagerada por resultados e da exposição a situações vexatórias, que denigrem

a sua imagem moral no meio em que está inserido.

O assédio moral na vida de uma pessoa mexe com toda sua estrutura,

independente do nível hierárquica em que se encontra essa pessoa no

trabalho. A pessoa fica envolvida com tantos problemas que tanto o seu

quadro de saúde mental, quanto a física, ficam frágeis. Guedes (2004) afirma

que os danos atingem, ainda, a esfera familiar e social da vítima,

desencadeando crises existenciais, de relacionamento e econômicas.

As agressões podem ocorrer de diversas maneiras com relação ao

assédio moral. Cabe considerar, de acordo com Hirigoyen (2005), que para tais

agressões, quando emanadas do grupo para o indivíduo, o dano é mais forte.

Pressupõem uma maior exposição, maior insegurança, e aumentam o

sentimento de medo em relação ao grupo e não somente a uma única pessoa.

Porém, o assédio é mais grave na relação entre dois níveis hierárquicos

diferentes, em que o nível Superior trata com agressões o de nível inferior.

Depois de acontecido o ato de agressão, a vítima do assédio pode ficar

tão fragilizada que as pessoas, tanto do trabalho, como a família, podem se

afastar da vítima. Neste momento, a vítima do assédio começa a mudar o seu

comportamento, ficando insatisfeita, sem animo e desmotivada no ambiente de

trabalho.

Ainda segundo Hirigoyen (2005), as conseqüências do assédio moral

não afetam só o lado psicológico da vítima, mas também o convívio familiar, o

lado financeiro, pois a vítima do assédio pode se desfazer de bens materiais.

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Os problemas causados pelo assédio moral mexem de forma negativa

na motivação para o trabalho, em alguns casos acarretando problemas sérios

para vida do assediado. Fato esse que atinge a produtividade do trabalhador,

pois suas condições de trabalho estão afetadas, seja moralmente ou

fisicamente, podendo acontecer problemas futuros ao assediado, levando a

vítima ao suicídio. Como afirma Navarro (2000), a desmoralização pretende

forçar o empregado a cometer faltas profissionais que possam justificar o seu

desligamento da organização. Já em outros casos esse mesmo processo leva

pessoas visadas ao suicídio.

1.1 - Conceitos de Assédio Moral

O assédio moral é espécie da qual o dano moral é gênero e por este

pode-se entender como o “prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e

intelectual da vítima sendo sua atuação na esfera dos direitos da

personalidade”, Venosa (2008, p. 41). Ocorre, que o assédio moral, devido a

sua forma de expressão, temporalidade e freqüência, apresenta

peculiaridades.

Muitos estudos foram feitos a respeito desse fenômeno chamado

assédio moral, os conceitos abaixo têm características que foram direcionados

com base na ciência.

Para Leymann (2008) o mobbing (psicoterror) no trabalho envolve um

estilo de comunicação hostil e não ética que é direcionada de maneira

sistemática a um ou mais indivíduos, normalmente a um indivíduo, que, em

razão do psicoterror, é conduzida a uma posição de indefesa. Para o psicólogo

alemão, a alta freqüência e a longa duração das condutas hostis acabam

resultando em consideráveis sofrimentos mentais, psicossomáticos e miséria

social.

Hirigoyen (2006, P.65), ao definir o assédio moral, aduz que:

Por assédio moral em um local de trabalho temos que

entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-

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se, sobretudo por comportamentos, palavras, atos,

gestos, escritos que possam trazer dano à

personalidade, à dignidade, ou à integridade física ou

psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou

degradar o ambiente de trabalho.

Barreto (2000), conceitua o assédio moral como:

O assédio moral pode ser definido como a exposição

de trabalhadores a situações vexatórias,

constrangedoras e humilhantes durante o exercício de

sua função, de forma repetitiva e prolongada ao longo

da jornada de trabalho. É uma atitude desumana,

violenta e sem ética nas relações de trabalho, que

afeta a dignidade, a identidade e viola os direitos

fundamentais dos indivíduos. No Brasil, o termo

’assédio moral’ veio na esteira do ’assédio sexual’, até

porque o verbo assediar tem, segundo o dicionário

Aurélio, o significado bem específico de "colocar o

outro num cerco, não dar trégua e humilhar até

quebrar a sua força, quebrar sua vontade".

Hirigoyen (2002) ao justificar o emprego do termo “moral” em seu

conceito, afirma que:

A escolha do termo moral implicou uma tomada de

posição. Trata-se efetivamente de bem e de mal, do que

se faz e do que não se faz, e do que é considerável

aceitável ou não em nossa sociedade. Não é possível

estudar esse fenômeno sem levar em conta a

perspectiva ética ou moral, portanto, o que sobra para as

vítimas do assédio moral é o sentimento de terem sido

maltratadas, desprezadas, humilhadas, rejeitadas (...).

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Paulo Peli e Paulo Teixeira (2006, p. 27) conceituaram o assédio

moral como uma “responsabilidade corporativa e que se caracteriza pela

atitude insistente e pela ação reiterada, por período prolongado, com ataques

repetidos, que submetem a vítima a situações de humilhação, de rejeição,

vexatórias, discriminatórias e constrangedoras com o objetivo de desestabilizá-

la emocional e psiquicamente, quase sempre com severos reflexos na saúde

física e mental”.

Segundo Ferreira (2004, p. 126/127), o assédio moral não deve ser

analisado sob o enfoque subjetivo, ou seja, não podemos nos prender aos

danos perpetrados ao psicológico do indivíduo, pois o que importa é o meio

empregado e não o fim colimado:

É verdade que o assédio moral é um fenômeno

subjetivo por natureza, mas isso não lhe retira os

aspectos objetivos. Aferir o assédio moral tendo-se em

mente somente os danos causados, isto é, as

conseqüências geradas no trabalhador que dele foi

vítima, seria demasiado injusto, visto que nem todas

as pessoas reagem da mesma forma diante das

situações hostis, humilhantes e degradantes. Por um

lado, existem pessoas que, depois de certo tempo de

luta, acabam sucumbindo física e psicologicamente às

agressões, o que desencadeia o desenvolvimento de

diversos tipos de doenças. Por outro lado existem

pessoas mais resistentes sem sofrer de qualquer

doença física ou psicológica, mas que nem por isso

deixam de ser afetadas por ele. Assim, julgar a

questão somente pela ótica dos danos físicos e

psicológicos gerados significaria condenar aqueles

que são psicologicamente mais fortes a serem

submissos às condições degradantes de trabalho só

porque não adoecem diante do tratamento hostil que

lhes é direcionado Ferreira (2004).

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No mesmo sentido o doutor Silvio de Salvo Venosa:

O dano moral, em sentido lato, abrange não somente

os danos psicológicos; não se traduz unicamente por

uma variação psíquica, mas também pela dor ou

padecimento moral, que não aflora perceptivelmente em

outro sintoma. A dor moral insere-se no campo da

teoria dos valores. Desse modo, o dano moral é

indenizável, ainda que não resulte em alterações

psíquicas. Como enfatizamos, o desconforto anormal

decorrente de conduta do ofensor é indenizável,

Venosa (2008, p. 43/44).

2 - Classificação dos tipos de assédio moral

Os tipos de assédio moral são verificados em razão da procedência

dos ataques. Distingue-se aquele tipo proveniente de um empregador, daquele

que vem de um colega com relação a outro de igual hierarquia, daqueles

ataques que partem de um ou vários subordinados contra o superior

hierárquico.

2.1 Ato praticado por superiores hierárquicos: vertical descendente

São atos perversos perpetrados por superiores hierárquicos contra

seus subordinados. Trata-se de um comportamento no qual a pessoa que

detém o poder de comando busca delimitar o espaço desse poder. Por meio

de atos de depreciação, falsas acusações, insultos e ofensas, atingem a

dignidade, a identidade e a saúde do trabalhador, degradando as condições de

trabalho e as relações interpessoais (Guimarães, 2006).

Guedes (2003, p. 36) ensina que há duas motivações do assédio

descendente: o mobbing estratégico, e o mobbing por abuso de poder. O

mobbing estratégico é aquele em que a empresa organiza sua estratégia para

levar o empregado considerado incomodado a demitir-se. Trata-se de

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estratégia para reduzir pessoal, conter custos, substituir o quadro pessoal por

pessoas mais jovens e conseqüentemente pagar salários mais baixos. O

mobbing por abuso de poder, conhecido também com bullyng ou harassment,

é aquele em que o superior hierárquico, diante da ameaça real e potencial que

o subordinado representa, usa arbitrariamente de seu poder de mando, seja

motivado por razões políticas, seja por questões de diferença de idade,

antipatia pessoal, inveja ou proteção superior de que goza dentro da empresa.

O terror psicológico no trabalho continua a referida autora, não precisa

ser necessariamente deflagrado e realizado pelo superior, pode também contar

com a cumplicidade dos colegas de trabalho da vítima, através dos quais a

violência psicológica pode ser desencadeada.

Alkimin (2005, p. 63) salienta que o assédio moral cometido pelo

empregador ou superior hierárquico implica descumprimento da obrigação

contratual e geral do respeito à dignidade da pessoa do trabalhador. Assim,

deve se abster dessa prática, sob pena de o empregado buscar como proteção

jurídica à despedida indireta1, nos termos do Art. 483, da CLT.

2.1.1 Atos praticados contra um superior hierárquico: vertical ascendente

Trata-se do típico caso de violência psicológica perpetrada por um ou

vários subordinados contra um superior hierárquico. É uma espécie bem mais

rara, porém, embora sua insignificância estatística, sua crueldade não é

menor, (Guedes, 2003, p.38).

Geralmente, inicia-se quando alguém de fora é introduzido na

empresa em um cargo superior, seja porque seus métodos não são aceitos

pelos trabalhados que se encontram sobre seu comando, seja porque o cargo

é desejado por algum deles (Guimarães; Rimoli, 2006).

Também pode ser desencadeado o terror psicológico contra superior

hierárquico que excede nos poderes de mando, mostra-se autoritário e

arrogante, no contato interpessoal, no intuito de estimular a competitividade e

rivalidade, (Alkimin, 2005, p. 64).

1 Anexo 1

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A violência pode ser ainda deflagrada quando um colega é promovido

sem que previamente os demais trabalhadores tenham sido consultados e não

estão de acordo com a promoção, ou quando a nova função de chefia implica

méritos que os subordinados supõem que o promovido não possui para

desempenhá-la, (Guedes, 2003, p. 37).

O empregado, como obrigação de não-fazer, deve evitar práticas que

tornem o ambiente degradante, que violem a dignidade da pessoa humana,

configuradoras de assédio moral em qualquer nível Alkimin (2005, p. 65). Do

contrário, estará sujeito às prescrições do art. 482 2 da CLT, sem prejuízo da

reparação por dano moral, de incumbência do empregador.

2.1.2 Entre colegas de mesmo nível hierárquico: horizontal

Este tipo de assédio moral é verificado nas relações entre colegas

com o mesmo nível hierárquico.

A hostilidade entre colegas decorre de conflitos provocados por

motivos pessoais como atributos pessoais, profissionais, capacidade,

dificuldade de relacionamento, falta de cooperação, destaque junto á chefia,

descriminação sexual. Também é desencadeado esse tipo de perversão moral

pela competitividade. A empresa, no intuito de estimular a produtividade,

consciente ou inconsciente, estimula a competitividade perversa entre colegas,

propulsora de práticas individualistas que interferem na organização do

trabalho, prejudicando o bom relacionamento e o coleguismo, (Alkimin, 2005,

p. 64).

Guedes (2003, p. 36) aduz que a vítima pode ser atacada de modo

individual ou coletivo e destaca os freqüentes casos de humilhação e assédio

moral por motivos de racismo e xenofobia sofridos pela população nortista e

nordestina que emigra para as regiões Sul e Sudeste em busca de emprego.

Sem dúvida, o assédio moral cometido nessas condições agride os

direitos de personalidade e a dignidade do empregado assediado. Nesse norte,

o empregado assediador deve responder por perdas e danos por sua conduta

2 Anexo 2

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anti-social e ilícita, além de se sujeitar ao poder de disciplina do empregador

que poderá aplicar a despedida por justa causa, do art. 482, “b” e “j” da CLT.

Além disso, a empresa poderá responder por perdas e danos morais em face

da teoria da responsabilidade objetiva adotada pelo Código Civil brasileiro para

responsabilização do empregador.

3. O Perfil do Assediador

O perfil do assediador é classificado como um sujeito perverso e sem

limites. Hirigoyen (2006, p. 139) explica que toda pessoa que esta em crise

pode ser levada a utilizar mecanismos não éticos, perversos para se defender.

Muitas vezes, quando nos sentimos lesados, somos tomados por sentimentos

de ódio, vingança. Mas o que nos diferencia de um indivíduo perverso é que

esses sentimentos e comportamentos não são mais do que meras reações

ocasionais, seguidos de remorso ou arrependimento. A perversidade, ao

contrário, implica uma estratégia de utilização e destruição do outro, sem a

menor culpa.

O perfil do Assediador é bem delineado por Hirigoyen (2006, p. 140-

152). Em seus estudos e experiências, conclui a autora que existe em todo

Assediador perverso uma personalidade narcisista. Perversos narcisistas são

indivíduos que fazem o mal por não encontrarem outro modo de existência.

São considerados psicóticos sem sintomas, que buscam seu bem-estar,

equilíbrio descarregando em outro a dor e as contradições internas que o

mesmo tenta mascarar.

E continuando, a referida autora informa que o perverso narcisista é

um sujeito egocêntrico e que possui um sentimento de grandeza exacerbado.

Tem fantasias de que será bem sucedido e tem poder ilimitado. Acredita ser

especial e melhor que os outros. Necessita ser bajulado e admirado pelos

outros para viver. Tudo lhe é devido. Nas relações interpessoais, explora o

outro. Embora tenha necessidade de ser bajulado, admirado e aprovado pelos

outros, não tem a menor consideração pelos demais. É movido muito das

vezes pela inveja que sente pelos outros, pois os outros muitas das vezes

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possuem coisas que o perverso não tem, as vezes pelo simples fato dos outros

saberem extrair prazer de suas próprias vidas. Não se envolve

emocionalmente e afetivamente, é incapaz de experimentar emoções

depressivas, como luto e tristeza. Quando é abandonado ou decepcionado,

aparenta estar deprimido, mas em verdade senti raiva, ressentimento, ódio e

desejo de vingança, (Hirigoyen, 2006, p. 142)

A bem de ilustrar qual é o sentido atribuído a um perverso narcisista é

interessante transcrever-se a definição dada por Narciso de Ovídio (apud

Hirigoyen, 2006, p. 143):

Narciso é alguém que crê encontra-se olhando-

se no espelho. Sua vida consiste em procurar seu

reflexo, apenas enquanto espelho. Um Narciso é uma

casca vazia, que não tem existência própria, é um

“pseudo” que busca ilustrar para mascarar seu vazio. Seu

destino é uma tentativa de evitar a morte. É alguém que

jamais foi reconhecido como ser humano e que foi

obrigado a construir para si um jogo de espelhos para

dar-se a ilusão de existir. Como num caleidoscópio,

nesse jogo de espelhos, por mais que repita e se

multiplique, o indivíduo permanece construído sobre o

vazio.

Eis algumas características que revelam o perverso narcisista, por

Hirigoyen:

O perverso narcisista é um sanguessuga emocional que, para camuflar

seu vazio por dentro, alimenta-se da energia dos que se vêem seduzidos por

seu charme. Por ser vazio, não ter nada por dentro, ou seja, no seu interior, um

narciso passa a parasitar o outro, e, como um vampiro, tenta alimentar-se da

substância do outro, apropria-se da vida do outro, e, se isso não for possível,

tenta destruí-lo para que não haja vida em parte alguma. Para esconder o

vazio que senti por dentro (e não combatê-lo, pois o combate implicaria a cura

do perverso), ele desvia-se de seu vazio apoderando-se da carne e da

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substância do outro, para preencher-se, mas jamais irá sentir a sensação de

preenchimento do vazio que tanto busca, pois a mesma substância do outro é

insuficiente para alimentar um ser tão vazio, que é incapaz de acolher, captar e

tornar sua substância do outro. Pelo contrário, essa substância revela-se seu

pior inimigo, porque desmascara seu próprio vazio, (Hirigoyen, 2006, p. 143).

O perverso inveja principalmente a vida que o outro leva. A inveja e o

sucesso alheio o põe face a face com o seu próprio fracasso. O desejo e a

vitalidade do outro descortinam suas próprias falhas. E com intuito de levar o

outro a um caminho depressivo, para depois censurá-lo, impõe sua visão

pejorativa do mundo, sua insatisfação com ralação à vida. Nada está bem,

tudo é ruim e complicado. E com seu pessimismo, anula o entusiasmo em

torno de si. Por isso, procura vítimas cheias de energia, motivação e que

tenham prazer em viver, (Hirigoyen, 2006, p. 148).

O perverso absorve a energia positiva daqueles que o cerca, dela se

alimenta e com ela se regenera, pois despeja no outro toda sua carga de

energia negativa, (Hirigoyen, 2006, p. 149).

O perverso narcisista é megalomaníaco, senti-se acima de tudo e de

todos, do bem e do mal, com seu ar de superioridade exibe irrepreensível

valores morais que enganam, mascara tudo o que tem de ruim dentro dele, e

com isso passa uma boa imagem de si. É um crítico ferino, mas não admite ser

questionado ou censurado. Marcara suas falhas, mas tem o prazer de

demonstrar as falhas dos outros. Ao ingressar num relacionamento com o

outro, seu objetivo é deixá-lo próximo de si e mantê-lo preso enquanto for útil,

(Hirigoyen, 2006, p. 145).

Nessa lógica de aproximação perversa, não há qualquer afeto, não há

a menor noção de respeito pelo outro, o perverso nega a total identidade do

outro. A força do perverso está em sua insensibilidade e inescrúpulo de ordem

moral; quando se apaixona por uma pessoa, uma atitude ou uma idéia, esses

encantamentos permanecem superficiais, pois procura manter uma distância

afetiva suficiente para não se comprometer realmente, (Hirigoyen, 2006, p.

147).

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O perverso narcisista é um ser ausente de si mesmo, não se sente

responsável por nada, procura no outro a responsabilidade pelo que acontece

com ele. Projeta no outro seus erros e insucessos. Jogar seu erro no outro

permite inocentar-se. Tudo o que acontece de ruim é sempre culpa dos outros,

(Hirigoyen, 2006, p. 149).

Por não ser verdadeiro é incapaz de ter um bom relacionamento,

utiliza-se de malignidade destrutiva para consegui-lo; por ser desprovido de

compaixão, sente prazer enorme em humilhar o outro, tem o prazer em ver o

sofrimento de sua vítima; por ser insensível não sofre, por não ser presente

não tem história; por ser uma pessoa vazia, o outro não é um indivíduo, é tão-

somente um reflexo do perverso. Daí a sensação da vítima de ter sido

subtraída sua individualidade, (Hirigoyen, 2006, p. 151).

Silva (2005 a, p. 193) ressalta que o manipulador do assédio moral é

movido por diversos fatores, variando desde a simples inveja até a busca pelo

poder, sendo que a motivação mais constante é a discriminação. O fato é que,

qualquer que seja sua motivação, revela um desvirtuamento de caráter, “deixa

de praticar certas ações que contemplam a ética e a moral, para realizar

propósitos mesquinhos e sem nenhum conteúdo de nobreza, afastando-se

assim da busca e da conquista do bem”. Assim, o assediador é um indivíduo

destituído de ética, que age sem nenhuma nobreza de caráter, que compraz

em ver sua vítima sucumbir diante de seus ataques perversos, (Silva, 2005 a,

p. 192).

4. O Assediado alvo dos ataques

Complicado apontar uma pessoa que pode se tornar uma vítima do

assédio moral, pode-se afirmar que a vítima pode ser qualquer pessoa e que

não existe uma categoria de pessoas predestinadas a se tornar uma vítima de

assédio moral, (Ege, 2000).

Todavia, de acordo com estudiosos, a vítima escolhida pelo assediador

tem sido, as pessoas com qualidades profissionais acima do normal,

profissionais bem preparados, que o assediador buscar roubar essas

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qualidades do assediado, (Guedes, 2003, p. 65). Como o assediador é

invejoso e busca qualidades que ele mesmo não as possuem, tenta apropriar-

se das qualidades que lhe faltam, e que o outro demonstra possuir em

abundância.

O assediado normalmente tem responsabilidade acima da média,

possui elevada auto-estima, sente prazer pela vida, acredita nas pessoas em

sua volta. Por reunir essas qualidades próprias, acarreta inveja, torna-se

incômodo para o assediador, representa uma ameaça a seu cargo ou a sua

posição perante o grupo. Sua força vital a transforma em presa, (Hirigoyen,

2006, p. 220).

Na lógica perversa, aquela pessoa que tem capacidade de autonomia

e independência, capacitação por sua inteligência e atitudes, iniciativa,

popularidade, carisma, liderança inata, alto sentido cooperativo e de trabalho

em equipe, representam grande perigo ao agressor. Por inveja ou medo de ser

suplantado, o assediador impõe um sistema de poder para anular o assediado,

(Silva, 2005a, p. 191).

Ege (2000) exemplifica situações em que é mais provável que a

pessoa venha a ser assediada:

Pensemos em uma pessoa de alguma forma

diferente dos outros: uma mulher em um escritório de

homens ou vice-versa, uma pessoa mais qualificada,

mais jovem, mais competente, ou caso clássico do

recém-contratado, talvez mais qualificado e mais jovem,

mesmo que colocado imediatamente em posto de

comando na empresa: as chances de sofrer assédio

moral para eles serão certamente maiores.

No entanto, não se trata de um perfil exclusivo. Silva (2005a, p. 192)

adverte que pessoas com características opostas (humildes, com problemas

existenciais ou com determinadas limitações) podem se tornar alvos fáceis da

arrogância e da perversidade do assediador.

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Para Hirigoyen (2006, p. 155), o assediador detecta vulnerabilidade

para atingir a identidade ou a auto-estima de sua vítima. Ao contrário do que

se possa imaginar, a vítima não é em si mesma depressiva. O assediador vai

usar a parte depressiva que nela existe. Nos ataques perversos, o assediador

procura identificar o ponto fraco da vítima, a parte vulnerável em que há

debilidades ou patologia, o que de resto existe em todos os seres humanos.

Agarra-se a essa parte vulnerável do outro, para destruí-lo. Faz vir à tona as

falhas e traumas da vítima esquecidos de sua infância.

Hirigoyen (2005, p. 219) afirma que, embora não exista um perfil

psicológico específico para as pessoas assediadas, existem contextos

profissionais e situações em que as pessoas correm mais riscos de se

tornarem visadas, a exemplo daquelas pessoas cujas personalidades

perturbam por serem diferentes, por resistirem à padronização, tais como as

pessoas extremamente honestas, excessivamente éticas ou dinâmicas

demais. Essas pessoas, ensina a autora, teriam maiores dificuldades em se

adaptar ao grupo, por resistirem em perder sua personalidade e se tornarem

iguais aos outros. Em semelhante posição de risco, ensina a autora, estão

aquelas que passam a ser alvo de discriminações em função do sexo, cor da

pele, aparência física ou competência. Também aquelas pessoas menos

produtivas, aquelas que estão temporariamente fragilizadas, os empregados

estáveis e aqueles empregados isolados.

Em um plano coletivo, muitas situações fazem recair a culpa de tudo

sobre uma pessoa ou sobre um grupo que nada tem a ver com o fato. É a

chamada prática do bode expiatório, na qual dentre muitas pessoas se escolhe

uma vítima, atribui-se a ela toda a culpa, e com isso livra-se de todos os tipos

de tensão coletiva, pacifica-se a situação levando todo o grupo contra uma

pessoa, canaliza-se a violência a uma pessoa sobre a qual o grupo consente

em não se importar com o que acontecerá a ela. Assim, o grupo, devidamente

descarregando, pode passar a funcionar melhor. O assédio moral em

processos como esse, somente se consolidam quando uma mesma pessoa é

constantemente colocada na posição de bode expiatório, (Hirigoyen, 2005, p.

228).

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Guedes (2003, p. 65) elenca uma classificação do tipo ideal de vítima,

alertando que essa classificação meramente informa uma probabilidade, que

deve ser examinada com reserva.

Percebe-se, portanto, que as vítimas não são pessoas portadoras de

patologias específicas, mas, sim, são pessoas com determinadas

características que podem torná-la potenciais vítimas.

Guedes (2003, p. 65) assevera que essa classificação, de tipos ideais

de vítimas, tem valor meramente formal e descritivo, que indicam

probabilidades e que, portanto, deve ser examinada com reserva. Está

suficiente provado, continua a autora, que a ação perversa desencadeia-se

com sucesso quando se encontram conjugados fatores ligados diretamente á

atual organização do trabalho.

A ação do perverso objetiva destruir a vítima, incutindo nela culpa,

como se tudo o que de mau acontece fosse culpa dela. E nesses mecanismos

de desvalorização e de culpa, a vítima é destruída porque acaba acreditando

que realmente é culpada por tudo, sua auto-estima é reduzida ou anulada, é

levada a desacreditar de si mesma. E fragilizada é levada pelo agressor a ter

comportamentos repreensíveis, a cometer erros, de sorte que perde toda

credibilidade. Mesmo sendo inocentes, as testemunhas desconfiam dela,

acreditam serem cúmplices da própria agressão, (Guedes, 2003, p. 63).

Aguiar (2003) aduz que o trabalhador assediado, em princípio, não é

passivo e nem dócil. Torna-se vítima porque não aceita e reage às ações

perversas e por não concordar com a postura adotada pelo assediador

enquanto detentor do poder. É, pois, a sua recusa a se submeter à autoridade,

apesar das pressões, que a designa como alvo.

Feitas essas observações, é preciso atentar que existem pessoas que

se acomodam no papel de vítimas. Hirigoyen (2005, p. 68) denomina essas

situações como posições vitimárias. Argúi a autora que a posição de vítima dá

sentido á crise existencial de certas pessoas, que passam a perseguir

continuamente o assediador uma reparação, está nunca será suficiente. Relata

a autora que essas pessoas procuram seu consultório não para diminuir seus

males e encontrar uma luz no fim do túnel, mas ao contrário, querem obter um

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atestado médico para se vingar de uma situação que as consideram injusta. É

preciso atentar para essas situações, pois guardam pequena distância das

falsas alegações de assédio moral.

Dentre as falsas alegações de assédio moral, continua a referida

autora, estão paranóicos e as deturpações da perversidade. Em ambos os

casos, as falsas alegações são identificáveis, pois não hesitam em procurar a

mídia e não têm a mínima intenção de firmar um acordo, pois se interessam

antes de tudo pelas vantagens pecuniárias que possa resultar da situação.

Assim, os paranóicos são aqueles que encontram nas falsas alegações de

assédio moral o argumento ideal de base para seu sentimento de perseguição.

A pessoa se queixa de outra pessoa, de forma espalhafatosa, depois o

sentimento de perseguição se estende para todo o grupo a que pertence o

suposto agressor, (Hirigoyen, 2005, p. 73).

Diferente da vítima verdadeira, o paranóico não procura fazer com que

a situação se resolva amigavelmente, ao contrário, envidará esforços para

manter a queixa contra o agressor (vítima) escolhido. O diagnóstico entre um

paranóico e a verdadeira vítima se dá pelo tom geral da queixa: o paranóico

afirma e acusa; a vítima verdadeira quer antes de tudo encontrar uma saída

que restabeleça sua dignidade, (Hirigoyen, 2005, p. 71).

Mas como já referido anteriormente, é preciso evitar qualquer

generalização. “A paranóia pertence ao domínio da medicina e da psiquiatria.

Compete aos médicos do trabalho fazer diagnóstico e, em caso de dúvida,

pedir a opinião de um especialista em psiquiatria, a fim de demarcar a

estrutura caracterológica da pessoa” (Hirigoyen, 2005, p. 73).

As deturpações da perversidade ocorrem quando o indivíduo perverso

disfarçadamente tenta desmoralizar o outro, procurando atrair a simpatia do

grupo e fazendo o outro chorar por sua má sorte. São pessoas afeitas à intriga

e que têm um único objetivo: vingar-se e destruir o outro, (Hirigoyen, 2005, p.

74).

É preciso identificar as situações de falsas alegações de assédio

moral, para que a vitimação excessiva não prejudique a caracterização e o

sucesso na responsabilização do verdadeiro agressor.

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CAPÍTULO II

AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

Apesar de não existir uma forma específica para identificação do

assédio moral no trabalho, suas conseqüências recairão sobre os envolvidos,

sobre o ambiente de trabalho e também sobre a empresa.

4. Efeitos Sobre o Ambiente de Trabalho

O poder do assediador sobre o assediado, que tem pleno domínio

sobre sua vítima, e o comportamento perverso nas relações de trabalho,

causam dano, um dano irreparável ao ambiente de trabalho. O ambiente de

trabalho da vítima assediada se torna insuportável e desgastante, sem que a

vítima possa fazer um julgamento, em que momento suas condições de

trabalho se tornaram deterioradas. Quase sempre o assediado não tem outra

escolha senão afastar-se do trabalho, enquanto o agressor continua no mesmo

no local como se nada estivesse acontecendo, (Fonseca, 2007, p. 38).

O ambiente de trabalho é, pois, habitat laboral no qual o trabalhador

deve encontrar meios com os quais há de prover a sua existência digna, não

podendo o trabalhador ficar restrito à relação obrigacional, nem no limite físico

da fábrica, uma vez que a saúde é tópico de direito de massa e o ambiente

equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, e direito constitucionalmente

garantido, (Melo, 2001, p.30).

O respeito ao ambiente equilibrado caracteriza-se como um direito

fundamental, na medida em que implica, necessariamente, a defesa do direito

à vida, que é o mais básico dos direitos fundamentais:

Cada vez mais, no mundo contemporâneo –

industrializado e globalizado – o direito à vida vem

recebendo tratamento amplo e detalhado, advindo daí a

concepção do direito ao meio ambiente como extensão

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do direito à vida, pois este, no seu sentido mais preciso,

não se restringe à idéia de sobrevivência – não morrer –

mas sim viver com qualidade e com dignidade, aspectos

inerentes ao direito ao meio ambiente saudável Mello,

(2001, p. 67).

Machado (2001) afirma que as questões que envolvem o direito

ambiental do trabalho passaram a integrar a contextualização da saúde do

trabalhador. Para o mundo do trabalho, a aproximação do meio ambiente com

a saúde do trabalhador, numa perspectiva antropocêntrica, coloca a ecologia

dentro da política:

O produtivismo é a lógica do modo de produção

capitalista, cuja irracionalidade dilapida a natureza para

sua reprodução. Essa é a verdadeira fonte da crise

ecológica que também gera a exploração desenfreada

da força de trabalho que coloca em perigo a vida, a

saúde ou o equilíbrio psíquico dos trabalhadores

Machado (2001, p. 67).

Como conseqüência desse quadro desrespeitoso e de exploração

desenfreada, a opressão no ambiente do trabalho passa a ser uma constante,

gerando problemas de toda ordem, que levam a desajustes sociais e

transtornos psicológicos, fazendo com que os trabalhadores tenham

conseqüências graves em sua saúde. Nesse contexto, práticas de assédio

moral são deflagradas através de condutas abusivas que, “por sua reiteração,

ocasionam problemas à dignidade, integridade física e psicológica da pessoa,

e conseqüentemente a degradação do ambiente de trabalho”. (Cavalcante;

Jorge Neto, 2005, p. 2).

Mancuso (1996, p. 59) reconhece que o ambiente de trabalho que se

revele desfavorável a assegurar as condições mínimas para a qualidade de

vida do trabalhador estará violando o ambiente do trabalho. Por isso, a

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preocupação com a saúde do trabalhador, nos últimos anos, passou a estar

relacionada diretamente com a proteção do ambiente de trabalho.

Com os diversos estudos e a constatação de que o trabalho pode ter

conseqüências sobre a saúde mental dos indivíduos levou pesquisadores

como Dejours (1992) a estudar o sofrimento mental, com a utilização do

conceito de Psicodinâmica do Trabalho para definir o sofrimento, seu

conteúdo, suas formas, e sua significação, aplicando intervenções voltadas

não ao indivíduo isoladamente, mas à organização do trabalho á qual o

indivíduo está submetido.

Para o referido autor, o clima de trabalho, em especial no setor

terciário, onde o trabalho não é organizado de maneira taylorizada, no qual são

aplicadas técnicas de comando, mas especificamente de discriminação,

através de manipulação psicológica, cujo efeito principal é envenenar as

relações entre os empregados, criar suspeitas, rivalidades e perversidade de

uns para com os outros, deslocando assim, o conflito do poder. Nessa

atmosfera, “a falta de interesse pelo trabalho soma-se à ansiedade, resultante

das relações humanas profundamente impregnadas pela organização do

trabalho” (Dejours,1992, p. 76).

Além das conseqüências geradas para a saúde do trabalhador, o

desrespeito ao direito fundamental do ambiente de trabalho saudável e seguro

provoca repercussões a toda a sociedade. Melo (2001, p. 29) preconiza que o

ambiente do trabalho adequadamente seguro constitui um dos mais

importantes e fundamentais direitos do cidadão brasileiro, o que, se

desrespeitado, provoca agressão a toda a sociedade.

Alkimin (2005, p. 48) ensina que a conduta assediante representa uma

prática inaceitável, antiética e anti-social e é capaz de romper com o equilíbrio

no ambiente de trabalho, afetando diretamente a qualidade de vida no trabalho

e a satisfação do empregado, sendo contrária aos costumes e a boa-fé.

Sendo assim, o assédio moral, essa chaga social cujas conseqüências

destrutivas provocam graves danos psicológicos à vítima, viola não só o direito

fundamental da dignidade da pessoa humana, como também o preceito

constitucional que assegura o ambiente de trabalho saudável.

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A propósito, Menezes (2004, p. 10) apregoa que o assédio moral,

além de agredir a dignidade da pessoa humana, afronta o preceito

constitucional que assegura o meio ambiente sadio, inclusive do trabalho.

Pelo que até aqui foi dito, depreende-se que o empregador tem o

dever de assegurar aos trabalhadores o desenvolvimento de suas atividades

em ambiente moral e rodeado de segurança higiene, tendo a obrigação de

prover aos seus trabalhadores um ambiente de trabalho sadio, com condições

físicas e psicológicas ideais para o desenvolvimento das atividades laborais,

(Nascimento, 2005, p. 491).

5. Danos Psicofísicos causados na Vítima

Segundo Hirigoyen (2000), normalmente a vítima escolhida pelo

assediador é isolada do grupo de trabalho, deixando-a inferiorizada e

desprezada. O abuso de poder e os ataques de palavras geralmente

acontecem na frente dos colegas de trabalho, com o intuito de enfraquecer a

vítima. Acarretando uma desestabilidade profissional e moral, afetando auto-

estima da vítima. Na somatização dessas perdas temos a falta de interesse

pelo trabalho e a desestabilização da vida afetiva e familiar, (Hirigoyen, 2002).

Características e comportamentos comuns de um assediador moral

são os abusos do poder, o aumento da entonação vocal, sobrecarga das

tarefas, desmoralização do assediado, ameaça de desemprego e não permitir

atividades que são de direito dos trabalhadores, (Estaliam, 2005).

Os danos causados pelo assédio moral no trabalho causam efeitos

devastadores sobre a saúde da vítima. A humilhação repetida e continuada no

ambiente de trabalho provoca um risco inevitável, porém concreto nas relações

de trabalho e na saúde dos trabalhadores. É que se tornou prática costumeira

nas empresas onde há menosprezo e indiferença pelo sofrimento dos

trabalhadores que, mesmo adoecidos, continuam a trabalhar com medo de

perder seu emprego. Isso revela uma das mais poderosas formas de violência

sutil nas relações organizacionais, (Barreto, 2001).

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Os estudos realizados por Hirigoyen (2005, p. 159-182) mostram que,

inicialmente, os efeitos sentidos pela vítima são a ansiedade e o estresse,

distúrbios psicossomáticos, depressão, podendo chegar, nos casos extremos

ao estresse pós-traumático. Além desses sintomas, predominam nos quadros

de assédio moral sentimentos de vergonha, humilhação, perda de sentido,

podendo chegar a modificações psíquicas, como neurose traumática, paranóia

e psicose.

Os efeitos destrutivos que a humilhação no trabalho provoca não se

limitam ao aspecto psíquico. Os resultados do levantamento feito por Hirigoyen

(2005, p. 159) revelam que distúrbios psicossomáticos dos mais variados

foram encontrados em 52% dos casos.

Segundo a autora, durante a evolução dos procedimentos de assédio

moral, os distúrbios psicossomáticos aparecem em primeiro plano. “O corpo

registra a agressão antes do cérebro, que se recusa a enxergar o que não

entendeu”. Mais tarde, o corpo denunciará o traumatismo, e os efeitos

correrão, podendo chegar ao estresse pós-traumático, (Hirigoyen, 2005, p.

160).

Segundo Fonseca (2003, p. 675), o local de trabalho, o ritmo das

tarefas e o relacionamento interpessoal, podem tornar-se fatores que,

diariamente, renovam as emoções, que ensejam o estresse ocupacional,

caracterizado por um estado crônico, permanente e diário de desgaste físico e

mental para e pelo trabalho. Diante de situações de ameaça, as pessoas

entram em um estado de prontidão, que as induz a manifestações

psicossomáticos as mais diversas ou profundos estados de depressão,

drogadição3 e, até mesmo, ao suicídio.

3 Drogadição ou Toxicodependência é termo genérico criado para conter toda e qualquer modalidade de vício bioquímico por parte de um ser humano ou a alguma droga (substância química) ou à superveniente interação entre drogas (substâncias químicas), causada ou precipitada por complexo de fatores genéticos, bio-farmacológicos e sociais, incluídos os econômico-políticos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Drogadi%C3%A7%C3%A3o

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Os danos emocionais atingem em cheio a vida familiar e social da

vítima, ensina Guedes (2003, p. 94). O trabalho lembra a autora, é a principal

fonte de reconhecimento social e realização pessoal do trabalhador. O homem

se identifica pelo trabalho. Na medida em que percebe que está perdendo sua

identidade social, sua capacidade de projetar-se no futuro, verifica-se uma

queda da auto-estima e surge o sentimento de culpa. A vítima se torna

amarga, lamurienta e desagradável.

Ademais, a segurança econômica e a possibilidade de sempre

melhorar a renda é fator de grande importância na estabilidade emocional e na

saúde do homem. Na medida em que essa segurança faltar, o sujeito se

desespera. A relação familiar se arruína quando se torna válvula de escape da

vítima que passa a descarregar sua frustração, tristeza, angústia,

desmotivação nos membros da família. Por essas razões, a exposição

duradoura de uma pessoa ao terror psicológico, pode não apenas conduzi-la

ao uso de drogas, especialmente álcool, a pensar em suicídio, como também

induzi-la ao homicídio (Guedes, 2003, p. 94).

Vêm a calhar os dados coletados por Barreto (2006, p. 153) em suas

investigações: ao perderem a identidade de trabalhador, as vítimas de

humilhações perdem ao mesmo tempo a dignidade ante o olhar do outro. No

abandono, 100% dos homens pensam em suicídio sendo que 18,3% chega à

situação limite de tentativa de suicídio. Alguns relataram o início de consumo

de drogas, como álcool, para esquecer a humilhação sofrida, outros revelaram

a reprodução, no lar, da violência vivida no trabalho.

À vista disso, o convívio familiar se torna insuportável. A violência

vivida no trabalho ocasiona desanimo, mal-estar no trabalhador, que se reflete

nas relações familiares. Não são raros os casos em que a impossibilidade de

exteriorizar os sentimentos no local da humilhação, pelo receio da perda do

emprego, faz com que a pessoa descarregue suas angústias, tristezas sobre

pessoas mais próximas, seus familiares (Rufino, 2006, p. 87).

Devido ás repercussões psicofísicas provocadas na vítima, Guedes

(2003, p. 93), dentre outros estudiosos do assunto, defende que o assédio

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moral deve ser encarado como uma doença profissional ou de infortúnio do

trabalho.

Barreto (2006, p. 217) em sua pesquisa apresenta os principais

sintomas identificados em mulheres e homens assediados moralmente4:

Percebe-se pela pesquisa de Barreto, que as repercussões da

humilhação na saúde do trabalhador vão desde queixas de irritação, medo e

mágoa, até manifestações depressivas e tentativas de suicídio.

Hirigoyen (2002b) explica que no início da perseguição acontece muita

confusão e dúvida, pois a vítima não entende o porquê do que está

acontecendo. A vítima procura resolver a situação, não consegue, e é então

que os primeiros sintomas de ansiedade e estresse surgem. Como as

agressões continuam, a resistência do organismo se esgota e aparecem os

distúrbios psicossomáticos, como enxaquecas, alterações do sono, crises de

hipertensão arterial, nervosismo, depressão, etc. Assim, o assédio moral traz

conseqüências para as organizações. Aumenta o absenteísmo causado por

licenças médicas, eleva o índice de rotatividade e favorece a diminuição da

produtividade no trabalho.

4 Anexo 3

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CAPÍTULO III

CONVIVENDO COM O ASSÉDIO MORAL: RELATOS DE UM SERVIDOR PÚBLICO FEDERRAL

Diante do exposto no capítulo I que relata sobre o - Histórico do

Assédio Moral, seus Conceitos, Tipos de Assédio Moral: vertical descendente,

vertical ascendente e horizontal, O Perfil do Assediador e O Assediado alvo

dos ataques. E no capitulo II – que relata: As conseqüências do Assédio Moral

no Trabalho, Os efeitos sobre o ambiente de trabalho e os Danos Psicofísicos

causados na Vítima. Segue abaixo relatos de um Servidor Público federal. O

nome do servidor foi preservado a fim de evitar retaliações.

Há quase 34 anos trabalhando em um Órgão Público Federal, nunca

pensou em viver o que vive hoje. Desde quando entrou na Instituição, nunca

passou pela sua cabeça que um dia sofreria um fenômeno decorrente das

relações de trabalho, o que hoje é chamado de Assédio Moral.

No início de sua carreira tudo era perfeito por conta do bom salário, da

estabilidade, ou seja, tudo que a maioria das pessoas buscam. Problemas

normais fizeram e fazem parte dessa trajetória, quando trabalhou em muitos

setores, uns foram relatados como bons, outros, nem tanto.

Depois de trabalhar em alguns setores, foi transferido, a pedido seu,

para um setor onde fazia serviços dos quais gostava e se sentia útil ajudando

as pessoas, passando informações de extrema importância a quem as

procurava. Todavia, não por ironia do destino, nos idos de 1999, o servidor foi

transferido para São Paulo, pois a diretoria solicitou que todos os

departamentos colocassem a disposição servidores para serem redistribuídos

entre os estados. O servidor foi escolhido entre os diversos colegas, inclusive

entre aqueles que haviam chegado de outros estados recentemente. O

servidor transferido, mesmo sendo coordenador substituto, e, sobretudo por

sê-lo, viu-se atingido não somente pela oportunidade, mas também e

principalmente por não compactuar indiscriminadamente com as atitudes da

sua chefia, para as quais sempre apresentou as suas considerações. Houve,

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claramente, uma decisão tendenciosa e pessoal por parte da chefia, que por

outros meios vinha demonstrando não gostar do servidor.

Muitos servidores passíveis de serem remanejados ficaram no Rio de

Janeiro porque eram apadrinhados ou amigos dos chefes, e o que conta

nessas horas é quem você conhece e não o profissionalismo.

Depois de toda essa distribuição de servidores entre os Estados, a

Instituição viu que foi um erro cometido pela diretoria no ano de 1999. Diretoria

aquela totalmente criticada pelos servidores envolvidos, pois não houve

nenhum planejamento estratégico ou acordo com os mesmos, tendo como

resultado final apenas dispêndios para o erário, ou seja, custo para o tesouro

nacional. O servidor assediado permaneceu por oito meses em São Paulo,

quando conseguiu vaga para retornar ao Rio de Janeiro com ajuda dos chefes

da gerência atual.

Em sua volta, foi trabalhar em outro departamento, na parte

administrativa, o que se verificou entre os anos de 2000 e 2008. Houve

diversos chefes nomeados para a gerência daquele departamento. Em 2009

foi nomeado um novo gerente para o departamento, que em poucas semanas,

tendo em vista o seu comportamento agressivo, sem a menor tolerância, sem

preparo para chefiar uma equipe, conseguiu por unanimidade a insatisfação

interna de todos os funcionários da gerência. À época, houve um acontecido

inédito na Instituição, o chefe do Departamento, em Brasília, compareceu ao

Rio de Janeiro e ouviu em particular todos os servidores do setor. O que ao

final não resultou em nada, em que pese as reclamações recolhidas nas

entrevistas individuais, além do que, sequer houve informações de retorno para

os entrevistados.

Em dezembro de 2010, uma nova chefa foi nomeada para o cargo,

tendo em vista a aposentadoria do chefe anterior. Verdadeiramente, é o

período inaugural do assédio moral, é aí onde a sua insatisfação,

desmotivação se acentuaram como conseqüência dos danos.

O Servidor relata que realizava até então os serviços administrativos

com extremo gosto. Com a mudança de chefia, foi chamado a participar de

uma comissão de inquéritos. O que foi recusado pelo servidor, primeiro, porque

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o mesmo não era qualificado para realização de tal tarefa, segundo, a

participação naquele serviço é opcional. Houve uma determinada época em

que esse serviço era remunerado, havia comissão, porque era difícil encontrar

funcionários interessados. O assediado nunca foi convidado, pois somente

eram convidados e nomeados para tal cargo os amigos dos chefes. Hoje,

como não há mais remuneração extra, ninguém mais quer participar, até

porque essa atividade pode ser recusada por todos, sem punição.

A partir da recusa para realização da tarefa, o Servidor foi chamado

diversas vezes à sala da chefia, para explicar porque não queria participar.

Oportunidades em que ouviu o que segue: “você é obrigado a participar, é uma

tarefa do nosso departamento, você não pode se negar”. Ao mesmo tempo, o

funcionário explicava que não tinha interesse, nem afinidade com o serviço.

Acabou ligando para o departamento em Brasília, que informou ser de livre

escolha do servidor. Mas nada adiantava, a chefe ficava todos os dias com a

mesma conversa, chamando o assediado à sala quando repetia que o servidor

tinha que realizar tal tarefa, até que um dia o servidor resolveu justificar com

suas próprias razões, o que levou a discórdia entre ele e a sua chefa.

Meses mais tarde, foi feita uma mudança de Layout na sala. Primeiro,

a chefe pediu o espaço físico que o funcionário utilizava há mais de 10 anos,

para que o seu amigo, nomeado coordenador, pudesse se sentar mais próximo

à janela. Segundo, o Servidor foi deslocado para um canto da sala, isolado do

restante do grupo. Logo após a colocação de novas mesas, novamente o

servidor foi deslocado para outro lugar dentro da sala. Não satisfeita, a chefe

tirou as tarefas administrativas em que o servidor é apto a realizar e que mais

gostava.

Em um certo dia, a chefe pediu que o coordenador mandasse o

servidor assediado colocar falta, no sistema da instituição, para outro colega,

que por ter problemas mentais, era agressivo e amedrontava todos os

servidores do setor, bem como a chefe e o coordenador. Ocorreu que era uma

tarefa administrativa já retirada da responsabilidade do assediado há meses

atrás, conforme relatado no parágrafo anterior. O lançamento de falta não foi

realizado pelo assediado, porque ele reconhecia os problemas psicológicos

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pesados do outro servidor, os quais eram bem visíveis, e, com facilidade, o

funcionário com problemas saberia quem foi que lançou a falta injustificada no

sistema, levando o servidor assediado a correr risco de morte dentro da própria

instituição. Diante da realidade, o servidor se negou, justificadamente, a

cumprir a tarefa. Naquele momento, ele foi humilhado dentro da sala pela sua

chefa na frente dos colegas de trabalho, que dizia estar mandando, o que

gerou imediatamente um bate boca desagradável. Depois de tais

acontecimentos e aborrecimentos, o servidor, com doença mental, foi

internado, e está afastado desde março de 2011.

A partir daí o servidor assediado passou a apresentar problemas de

saúde, os quais o levaram a utilizar licenças saúde. O servidor procurou

inclusive um psiquiatra, devido às insatisfações geradas com a chefe e as

perseguições da mesma.

Mais à frente, a chefia decidiu colocar novos carpetes na sala. Diante

do comunicado, o assediado avisou que não poderia permanecer no local

enquanto a obra acontecesse, pois já havia feito duas cirurgias por problemas

sérios de alergia adquirida na instituição, quando precisou trabalhar num grupo

de trabalho, em 1977, ao tomar posse. O trabalho foi feito em umas caixas

com documentos deteriorados, antigos e mofados, logo, era um serviço

insalubre e que era para ser feito por pessoas preparadas. A chefia, diante dos

problemas relatados e sofridos pelo servidor e do pedido de mudança

provisória para outro lugar, afim de que cumprisse a sua jornada de trabalho,

ofereceu em resposta sorrisos irônicos, além do comentário que era uma

bobagem, frescura. O servidor assediado não teve alternativa, a não ser tirar

fotos e apresentar ao seu médico, nomeado e credenciado pelo órgão federal,

que ao ver e ouvir os fatos afastou-o por 15 dias, com a recomendação de que

caso a obra não acabasse dentro dos 15 dias, ele deveria retornar para ter o

afastamento prorrogado por mais dias, de modo a evitar complicações, evitar

uma nova cirurgia, este acontecimento se deu em agosto de 2011.

Depois dos problemas relatados anteriormente, o Servidor Assediado

começou a ter problemas de depressão, hipertensão, hiperglicemia. Ainda que

medicado, restou ao servidor se licenciar, por diversas vezes, para tratamento

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de saúde. Por conta disso tudo, agora em setembro de 2011, aconteceu nova

discussão entre ele e a chefe, que aumentou a perseguição.

Mais precisamente em 16 de setembro de 2011, o servidor foi

chamado pelo coordenador, que lhe comunicou, tanto pessoalmente, quanto

através de e-mail, as seguintes medidas e retaliações que seguem abaixo:

a) Desta data em diante, você não poderá mais sair cedo para tratamento

médico, pois você já sai cedo a semana inteira, dois dias para Psiquiatra, três

dias para fisioterapia e outros médicos, isto desde fevereiro de 2011.

b) Então fica avisado que deverá cumprir seu horário de 9 às 18 horas. Caso

precise ir ao médico, deverá pedir um atestado de comparecimento,

independente disso, deverá apresentar uma declaração da psiquiatra sobre

seu tratamento e horário, fora tudo isso, deverá prorrogar seu expediente ou

chegar mais cedo para pagar as horas de tratamento.

c) Ainda disse que os tratamentos longos e demorados deveriam ser feitos em

suas férias, ou sob licença saúde.

Não fosse o bastante, através de outro e-mail, enviado ao serviço

médico da instituição, com cópia para o assediado, o coordenador pediu que o

servidor fosse avaliado por junta médica, com intenção de ver se eram

verdadeiras as razões das licenças e das necessidades delas.

Um mês depois, a própria chefe pediu, através de outro e-mail,

igualmente enviado com cópia para o assediado, ao serviço médico o mesmo

procedimento anterior, e pedia ainda que fosse feita na casa do servidor, pois

ele poderia estar mentindo.

O servidor imediatamente tirou novas licenças, apresentando o e-mail

à unidade médica, juntamente com as licenças dadas pelo psiquiatra, além de

declaração de seu cardiologista, sobre seu estado psíquico e a disfunção de

pressão arterial laboral.

Os e-mails enviados ao serviço médico geraram uma profunda

insatisfação junto ao corpo médico, pois foi considerado invasão de tarefa a

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atitude adotada pelos chefes do servidor. Compete aos médicos, e somente a

eles, identificarem e decidirem pela necessidade de junta médica.

Numa postura antagônica, a mesma chefia não ofereceu qualquer

resistência ao fato de que, um mês após um servidor novo ser transferido para

o setor, ou seja, em novembro de 2011, este servidor solicitou afastamento,

em 21 de novembro de 2011, para tratar de assuntos particulares. Sendo

sabido que se tratava de trabalho numa empresa de ensino no Rio de Janeiro,

chamada (?). Ao colega recém chegado não foram feitas quaisquer restrições,

ao contrário, tudo lhe era permitido, como segue relatado:

- Naquela época o novo servidor começou a trabalhar na empresa (?)

concomitantemente ao serviço federal, e no mesmo horário. Tudo com a

conivência dos chefes. Na condição de Servidor Público, ele não pode receber

de duas fontes, trabalhando no mesmo horário, quais sejam, na instituição

federal e na empresa (?);

- Não se apresenta ao trabalho regular na instituição, comparecendo

apenas para assinar o ponto, isso desde novembro, logo, recebe da instituição

mas não labora nela, não cumpre horário;

- Em janeiro de 2012 pediu férias o mês inteiro, depois, conseguiu

mudar e dividir em duas etapas, da seguinte forma: na primeira até 19/01/2012

e na segunda de 30/01/2012 em diante. Tudo com muita facilidade. O mais

interessante é que na semana de 23/01/2012 até 27/01/2012 foi colocada na

folha de freqüência do servidor a informação de falta compensada, o que se

reverte em beneficio para o servidor, que deverá compensar tais faltas saindo

mais tarde do trabalho ou chegando mais cedo. Ocorre, que já existem

diversas faltas da mesma natureza, sem que tenha havido qualquer

compensação.

- Seu pedido formal de afastamento foi indeferido em 16/01/2012,

levando-o imediatamente a entrar com recurso, o qual foi julgado em

27/02/2012, e novamente negado. Com tais negativas, ficou clara a

irregularidade, pois o mesmo não poderia ter ido trabalhar na empresa (?), com

consentimento da chefe, sem que o pedido de afastamento tivesse sido

aprovado.

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As posturas das chefias em relação aos dois servidores revelam a

máxima de que os amigos podem tudo e os não-amigos nada pode, ainda que

amparados legal e moralmente.

Os demais colegas de trabalho não precisam pagar o horário usado

para ir ao médico, além de poderem chegar mais tarde, saírem mais cedo,

desde que não se oponham as chefias. Assim, de tais funcionários não são

cobrados os atrasos diários, como, por exemplo, de um colega que chega

depois da hora do almoço e não perde nada. Diferente do assediado, que

continua obrigado a cumprir o horário e não almoçar para compensar a hora

que sai mais cedo para os tratamentos de saúde, além de chegar mais cedo

para pagar as idas a psiquiatria e outros médicos, bem como tendo que fazer

exames fora do horário de expediente. Aos poucos colega que começaram a

questionar sobre a divisão de tarefas, a falta de treinamento, restou também a

cobrança de um atestado de ida ao médico, a necessidade de compensar nas

férias um dia que pediu para ausentar-se etc.

A relação com uma chefia assim é a pior possível, sendo determinante

no sentido de licenças seguidas. Até o momento, o servidor assediado já conta

com mais de 100 dias de licença, dada a sua suportabilidade as humilhações,

perseguições, desrespeitos, estar no fim.

O servidor assediado relata que até a sua aposentadoria, que

acontecerá no fim deste ano, continuará chegando às 8 horas da manhã, não

almoçando e saindo às 18 horas, para que durante dois dias da semana possa

sair às 15 horas para o seu tratamento com a psiquiatra, e continuará a pagar

o tempo que usar para ir ao cardiologista, ao ortopedista etc. Tanto a

psiquiatra, quanto os médicos do serviço, tem lhe ajudado muito com sua

depressão. De igual modo, os médicos do Ministério da Fazenda, que tomaram

conhecimento dos fatos, tem compreendido seus afastamentos justificados

pela psiquiatra e seu cardiologista, pois existe o perigo do servidor sofrer

danos físicos irreversíveis por aborrecimento, tendo em vista o aumento da sua

pressão arterial por estresse laboral, inclusive quando faz comentários dos

fatos e acontecimentos diários no trabalho.

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O Servidor assediado, agora, em março de 2012, encontra-se com

depressão, tristeza, desânimo, com a saúde debilitada, tomando muitos

remédios, desmotivado e com nojo de fazer parte do Órgão Público Federal,

apesar de ter tido muito orgulho de chegar ao topo da carreira, pois já não

acredita mais na Instituição. Inúmeras vezes tem sido nomeadas pessoas sem

a menor capacidade para gerenciar. O Servidor torce para que os dias passem

rápido vislumbrando a sua aposentadoria.

Os colegas do Servidor Assediado querem que ele denuncie a chefe

por assédio moral, no sindicato e na justiça. No momento, por não acreditar

mais na instituição em que trabalha, e para evitar transtorno na sua

aposentadoria, ele prefere as licenças que a denúncia.

Quanto ao assédio Moral no Trabalho, ficou muito clara a sua

existência, considerando as seguintes práticas, todas observadas no relato

acima, a saber: 1) Afastamento e isolamento do funcionário do restante do

grupo; 2) Retirada de tarefas normalmente realizadas; 3) Humilhação direta e

pessoal na frente dos colegas de trabalho; 4) Atribuições de tarefas sem que

houvesse qualificação para realizá-las; 5) Atitudes discriminatórias somente em

relação ao funcionário alvo; 6) Atentar contra os direitos do funcionário.

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CONCLUSÃO

A presente pesquisa tinha como objetivo demonstrar de que forma

acontece o Assédio Moral no Trabalho e quais as suas conseqüências na vida

do assediado.

O assédio moral no trabalho é uma realidade.

O caso relatado é rico em detalhes, não deixando dúvidas quanto à

prática do dano moral e do assédio moral serem algo mais comum do que se

possa imaginar.

O estudo possibilitou a identificação perfeita, no caso relatado, de

todos os indícios e sinais daquela prática torturante no ambiente de trabalho, e,

sobremaneira, os danos por ela causados. Foi possível, ainda, se identificar

passo-a-passo o avanço da atuação do assediador, o seu perfil, e as

conseqüências na vida do assediado, as quais vão além do ambiente trabalho,

atingindo a vida social e em família.

É alarmante como não se dispõe, em especial no serviço público, de

mecanismos eficientes e eficazes de identificação de tal prática, do seu agente

e do paciente, quando todas as conseqüências são gritantes e geram

transtornos, comprometendo até o resultado da empresa.

Tudo isso leva a crer, mais uma vez com base no caso relatado, que

no serviço público, em razão de ser um emprego conquistado por meio de

processo seletivo, de pagar bons salários e de dar estabilidade no emprego, é

onde se deve observar mais tal prática e com maior duração, e onde as

conseqüências para o assediado chegam até a efetivação do suicídio.

Na iniciativa privada, a prática do assédio moral existe, sim, mas por

menor tempo, em razão dos mecanismos de aferição de desempenho serem

mais utilizados, pois há um foco no resultado.

Infelizmente, somente as conseqüências da prática do assédio moral

para o assediado é que tem permitido e possibilitado a adoção de medidas

administrativas, mas principalmente judiciais, para tentar coibir e diminuir tal

realidade, entretanto, e na maioria das vezes, sem possibilidade de reversão,

sobretudo quando atinge a saúde do trabalhador.

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Há que se registrar, ainda, que a comprovação do assédio moral é o

maior dificultador no sentido de reduzir os danos e as conseqüências para

todos os envolvidos.

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ANEXOS

Índice de anexos

ANEXO 1 – Artigo 483 da CLT 44 ANEXO 2 – Artigo 483 da CLT 45 ANEXO 3 – Sintomas causados pelo Assédio Moral 46

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ANEXO 1 Art. 483 – O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus propostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou os seus propostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. §1° - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. § 2° - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. § 3° - Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo.

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ANEXO 2

Art. 482 – Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador:

a) ato de improbidade;

b) incontinência de conduta ou mau procedimento;

c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço;

d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena;

e) desídia no desempenho das respectivas funções;

f) embriaguez habitual ou em serviço;

g) violação de segredo da empresa;

h) ato de indisciplina ou de insubordinação;

i) abandono de emprego;

j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

l) prática constante de jogos de azar.

Parágrafo único. Constitui igualmente justa causa para dispensa de empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito administrativo, de atos atentatórios contra a segurança nacional.

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ANEXO 3

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BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS

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MELO, Sandro Nahmias. Meio ambiente do trabalho: direito fundamental. São Paulo: LTr, 2001. MENEZES, Cláudio Armando Couce de. Assédio moral e seus efeitos jurídicos. Justiça do Trabalho, Porto Alegre, a. 21, n. 242, p. 7-21, fev. 2004. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivos do trabalho. 20. ed. Ver. a atual. São Paulo: Saraiva, 2005. PELI, PAULO. Assédio moral: uma responsabilidade corporativa, São Paulo: Ícone, 2006, p. 27.

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BIBLIOGRAFIAS CITADAS

REVISTAS

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PIÑUEL Y ZABALA, Iñaki. El mobbing como modelo social: juguemos al rival más débil. 2004. Disponível em: http://acoso-moral.iespana.es/dos.htm. Acesso em 23 out. 2011. http://pt.wikipedia.org/wiki/Drogadi%C3%A7%C3%A3o. Acesso em 15 de mar. 2012

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Assédio Moral no Trabalho: Histórico, Conceitos, Tipos de

Assédio Moral, O Perfil do Assediador e O Assediado alvo dos ataques 10

CAPÍTULO II - Conseqüências do Assédio Moral no Trabalho 26

CAPÍTULO III – Convivendo com o Assédio Moral: Relatos de um Servidor

Público Federal 33

CONCLUSÃO 41

ANEXOS 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47

BIBLIOGRAFIA CITADA 49

ÍNDICE 51

FOLHA DE AVALIAÇÃO 52

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52

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Assédio Moral no Trabalho e Suas Conseqüência Para

o Assediado

Autor: Flávio Pereira dos Santos

Data da entrega: 31 de março de 2012

Avaliado por: Profª. Fabiane Muniz Conceito: