universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato …verdade que seu formato vem se amoldando com...

63
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A LEI N. 11.689/2008 E A NOVA SISTEMÁTICA DO TRIBUNAL DO JÚRI: UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS Por: Valmir Fernandes dos Santos Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2012

Upload: others

Post on 19-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A LEI N. 11.689/2008 E A NOVA SISTEMÁTICA DO TRIBUNAL

DO JÚRI: UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS POSITIVOS E

NEGATIVOS

Por: Valmir Fernandes dos Santos

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A LEI N. 11.689/2008 E A NOVA SISTEMÁTICA DO TRIBUNAL

DO JÚRI: UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS POSITIVOS E

NEGATIVOS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito e Processo Penal.

Por: Valmir Fernandes dos Santos

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus em primeiro lugar,

por ser Ele a razão da minha

existência, aos professores e

funcionários da AVM Faculdade

Integrada pelo carinho, dedicação e

incentivo, e aos amigos e parentes pela

compreensão e apoio.

4

DEDICATÓRIA

Dedico ao meu saudoso pai, às duas

mulheres que mais amo nesta vida:

Marinete, minha mãe e Elizia, minha

esposa, e aos meus dois preciosos filhos

Eliseu e Matheus.

5

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo analisar os aspectos positivos e negativos da nova sistemática do Tribunal do Júri, a partir da entrada em vigor da Lei n. 11.689/2008, buscando analisar ainda, os princípios constitucionais pertinentes ao tema á luz da compreensão doutrinária e jurisprudencial. Estudou-se também a formação do Júri, o voto dos jurados, o sigilo, a sala secreta e principalmente a soberania dos veredictos, questionando a possibilidade de a nova lei ameaçar tal soberania. Defendeu-se a hipótese da importância do Tribunal do Júri para o nosso Estado Democrático de Direito, principalmente em razão de sua estruturação histórica no Brasil, todavia, buscou-se comprovar que o Tribunal do Júri tem perdido sua identificação no decorrer dos tempos e que a nova lei ameaça a soberania do Júri.

6

METODOLOGIA

A metodologia foi constituída mediante levantamento bibliográfico e

pesquisa na internet onde se tomou-se por base a consulta a vários títulos de

diferentes autores, buscando assim o conhecimento teórico necessário para a

pesquisa. Buscou-se ainda, diferentes idéias e correntes doutrinarias, para

enriquecer e melhor embasar a pesquisa.

Palavra-chave: Tribunal do Júri, Principio da soberania dos veredictos.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8

CAPÍTULO I - ABORDAGEM HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI ............ 11

CAPÍTULO II - OS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ...... 32

CAPÍTULO III – O ASPECTO NORMATIVO-PROCESSUAL DO TRIBUNAL

DO JÚRI NO BRASIL ..................................................................................... 39

CONCLUSÃO ................................................................................................ 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................................................... 59

ÍNDICE .......................................................................................................... 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO ............................................................................... 63

8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem o objetivo de realizar estudo sobre a Lei n.

11.689/2008 e a nova sistemática do Tribunal do Júri, analisando a alteração

doutrinária que atinge o princípio da soberania dos veredictos, após a edição

desta lei.

Na nova legislação, Lei n. 11.689/2008, há inúmeras discussões sobre a

violação do Princípio da Soberania ao Júri, pois “a soberania dos veredictos é

a força do Júri, sendo a quesitação a peça chave do exercício dessa

soberania, pois é a forma de ser conhecida a decisão”1, e da forma como a

mesma vem sendo proposta pela lei em tela, torna-se impossível aferir com a

total e límpida clareza qual a decisão dos jurados no julgamento dos crimes

dolosos contra a vida.

O problema de pesquisa que se pretende investigar é: após a edição da

Lei n. 11.689/2008, que modifica o procedimento e a competência do Tribunal

do Júri no Brasil, como se configura a legitimação do princípio da soberania

dos veredictos?

A hipótese básica defendida é a de que o Tribunal do Júri é importante

para o Estado Democrático de Direito, devido especialmente a sua

estruturação histórica no Brasil, entretanto, buscar-se-á comprovar que o

Tribunal do Júri tem perdido sua identificação no decorrer dos tempos, devido

a problemas político-sociais e também por despreparo dos Magistrados.

Assim, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXVIII,

reconhece a instituição do júri e a soberania de seus veredictos, in verbis:

1 GOMES, Márcio Schlee. A inconstitucionalidade da quesitação na reforma do júri. Arts. 482 e 483 da Lei nº 11.689/08. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1874, 18 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11616>.

9

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Para Moura2:

Muito mais que um princípio, vale ressaltar que, de índole constitucional, na sua essência, a soberania dos veredictos é uma garantia institucional. Assim como a família, o Júri é uma instituição social, de caráter objetivo e constitucionalmente protegida (art. 5.º, XXXVIII, CF), e tem, na soberania dos veredictos, uma garantia direta de sua própria existência. E, indiretamente, tutela a liberdade de quem está sendo julgado por um crime doloso contra a vida. A supremacia e a independência (soberania) das decisões do Júri só restarão garantidas se, no mérito, não puderem ser substituídas pelos Tribunais, caso contrário, a instituição perde toda a razão de ser tornando-se um vazio em meio ao nada, um corpo sem alma ...

Tem-se assim, o debate que será desenvolvido neste trabalho.

Pode-se descrever o tipo de pesquisa a ser realizada a partir do trabalho

aqui proposto como de cunho exploratório, descritivo e explicativo. Exploratório

devido ao seu caráter de expor e explicitar o problema central da pesquisa, ao

mesmo tempo em que aprofunda as diversas idéias concernentes ao tema.

Descritivo, pois agirá também no sentido de descrever as características do

tema a ser abordado. Explicativo quando, a partir dos dois enfoques anteriores,

buscar-se-á estabelecer pontes de conhecimento que visem à compreensão

máxima permitida em relação ao tema central do trabalho proposto.

A natureza da pesquisa constante no trabalho proposto será de cunho

qualitativo-quantitativo, pois unem características de ambas as formas.

2 MOURA, Genney Randro Barros de. Em defesa da soberania dos veredictos do júri. Busca Legis. 07/07/2009. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/ viewFile /31638/30926>.

10

A pesquisa qualitativa parte do princípio em que se busca captar a

situação ou fenômeno em toda a sua extensão, ao mesmo tempo em que visa

o levantamento de possíveis variáveis existentes e na sua interação, enquanto

ocorre o recolhimento de informações examinadas separadamente quanto a

todos os vieses presentes na pesquisa, ao mesmo tempo em que se busca a

construção de um quadro teórico geral a partir do método indutivo.

Já a pesquisa quantitativa visa o estabelecimento de relações entre

causa e efeito a partir das variáveis de maneira que seja possível a resposta

relacional.

Segundo Gil:

"quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar a dificuldades expressas no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se conseqüências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as conseqüências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipótetico-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la"3.

3 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2001, p. 30

11

CAPÍTULO I

ABORDAGEM HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Conforme dispõe Costa Júnior4 “a origem do Júri é incerta, tanto é

verdade que seu formato vem se amoldando com o tempo, desde os povos

primitivos: hindus, hebreus e chineses”. Ele destaca que esta

Remonta ao período áureo do direito romano, que conhecia os judices juratis. Não se olvide, também, os diskatas, do povo grego, nem, muito menos, os centeni comites, dos germanos. O Júri de origem hebraica continha intensa conotação mística e religiosa, pois que era composto por doze Jurados, o mesmo número dos apóstolos de Cristo, sobre quem recaiu, no dia de Pentecostes, o Espírito Santo. Segundo se dizia, a verdade era encontrada entre os apóstolos.5

Assim, divergem os estudos no que tange ao exato momento de

surgimento do Tribunal do Júri no contexto mundial, sendo notada sua

prefiguração remota nas civilizações grega, romana e hebraica. Por outro lado,

parece incontestável a noção de que essa instituição, com os contornos que

tem hodiernamente, surgiu no seio da Carta Magna de 1215, na Inglaterra.

Pesquisas voltadas a épocas mais recuadas na história apontam para a

existência de procedimentos assemelhados ao do júri antes mesmo do século

VI. É o que se descortina no contexto de uma compilação de leis romanas

conhecida como o Breviário de ALARICO, promulgada em 506 d.C.6

É imperioso destacar que os julgamentos populares pautados nas

4 COSTA JÚNIOR, José Armando da. O tribunal do júri e a efetivação de seus princípios constitucionais. 107p. Mestrado em Direito Constitucional [dissertação]. Centro De Ciências Jurídicas. Fundação Edson Queiroz. Universidade De Fortaleza - UNIFOR, 2007, p. 13. 5 Ibid., p. 13. 6 Ibid., p. 13.

12

deliberações dos indivíduos presentes ao ato podem ser considerados como a

forma embrionária do júri somente se for possível vislumbrar nesses atos

decisórios um comando legítimo e representativo da sociedade, tendo em vista

o julgamento de um de seus membros por um ato de transgressão às normas

dessa comunidade com aplicação de uma reprimenda.7

Até a Idade Média, percebe-se uma grande influência religiosa incidente

no procedimento do júri, destacadamente quando os cidadãos reunidos para

um julgamento invocavam Deus como testemunha desse ato e pediam que

lhes orientasse na escolha de um veredicto justo ao caso. Postos os ideais da

Revolução Francesa, ocorrida em 1789, o Tribunal do Júri tornou-se uma

instituição com procedimento mais técnico e isso proporcionou sua maior

acolhida em boa parte dos ordenamentos europeus.

Em terras brasileiras, o Tribunal Popular foi inserido no ordenamento

jurídico por intermédio do Decreto de 18 de junho de 1822 e ratificado como

um órgão do Poder Judiciário pela Carta Política imperial em 25 de março de

1824. A segunda Constituição brasileira e primeira republicana, promulgada

em 24 de fevereiro de 1891, erigiu o júri ao status de direito dos cidadãos

brasileiros. Com a Constituição da República de 16 de julho de 1934, retornou

o júri ao patamar de órgão do Poder Judiciário.

No Estado Novo foi promulgada uma nova Carta Política em 10 de

novembro de 1937, retirando a instituição do júri do seu texto normativo. O júri

foi guindado novamente ao ordenamento jurídico nacional pelo Decreto-lei n.

167, de 05 de janeiro de 1938, todavia, suprimindo-lhe o fundamento

relacionado à soberania dos veredictos. A Constituição da República, de 18 de

setembro de 1946, acomodou o júri no seio dos direitos e das garantias

individuais, fato esse que foi seguido pelo texto da Carta Política promulgada

em 24 de janeiro de 1967. A revisão desta Carta ocorreu pela Emenda

7 SIQUEIRA FILHO, Mariano. Curso básico de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1980, p. 147

13

Constitucional n. 1, outorgada em 17 de outubro de 1969, mantendo a

instituição do júri, mas alijando-a de seus principais fundamentos, como a

soberania dos veredictos e a plenitude de defesa.

O Tribunal Popular encontra abrigo no texto da Constituição da

República de 1988. Está consagrado na redação do inciso XXXVIII, do artigo

5.º, parte integrante do Capítulo I (Dos Direitos e Deveres Individuais e

Coletivos), inserto do Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais). Nesta

Carta Cidadã assegura-se o júri com os seguintes fundamentos: a plenitude de

defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência para

o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. No referido texto constitucional,

o júri foi preservado na condição de garantia fundamental de todos brasileiros

e estrangeiros residentes no país.

Uma garantia de que será competente para o julgamento das infrações

penais dolosas contra a vida, assegurando-se os preceitos relativos ao devido

processo legal. Daí a sua condição de tribunal natural para o processamento

desses crimes.

A par de ser o júri uma garantia fundamental, também é considerado um

direito humano fundamental, uma vez que permite a participação do indivíduo

na atividade judicial levada a cabo pelo Poder Judiciário. Esse viés proporciona

a integração do cidadão aos temas inerentes ao poder estatal, desenvolvendo

nele o senso de compartilhar a responsabilidade da distribuição da justiça.

O dispositivo constitucional que assegura a instituição do júri possui a

natureza de cláusula pétrea sendo, portanto, intocável pelo legislador ordinário

que deve respeitar essa condição. Ao instituir um complexo sistema de direitos

e garantias fundamentais, o legislador constituinte disponibilizou ao operador

jurídico uma sistemática apta a garantir a harmonia do ordenamento jurídico

pátrio, impedindo interpretações que levassem à subversão dos propósitos

maiores do texto constitucional.

Dita o texto da Carta de 1988 que a organização do júri seja realizada

14

por meio de lei ordinária. Nesse compasso, o Código de Processo Penal –

Decreto-lei n. 3.689, de 03 de outubro de 1941 –, regulando a matéria do júri,

foi recepcionado pela referida Carta. Nesse ordenamento processual,

atualmente, os dispositivos inerentes ao procedimento do Tribunal Popular

estão arrolados ao longo dos artigos 406 a 497 do Capítulo II (Do

Procedimento Relativo aos Processos da Competência do Tribunal do Júri) do

Título I (Do Processo Comum) do Livro II (Dos Processos em Espécie).

Atendendo aos antigos reclames de uma profunda reforma no júri, foi

sancionada em 09 de junho de 2008, a Lei n. 11.689, alterando os dispositivos

do Código de Processo Penal relativos ao procedimento do Tribunal Popular.

Essa lei reformadora manteve a estrutura principal desse rito, dividido em

fases, e introduziu mudanças pontuais na sistemática de alguns atos judiciais.

Desta forma, fundado na soberania popular, o júri sempre representou a

contribuição do indivíduo para a administração da justiça na sociedade em que

se integra como cidadão.8

1.1 - A origem do Tribunal do Júri no Brasil

O ordenamento jurídico vigente numa nação é fruto do pensamento

dominante em determinado lapso de tempo, oriundo das experiências

ultrapassadas pelas gerações anteriores motivadas pelos desígnios e

propósitos que pretenderam alcançar em seus domínios territoriais, entre eles,

a paz e harmonia de seus integrantes no convívio diário entre si e com os

povos de outras nações.

As determinações sociais são estabelecidas através de um sistema

jurídico concebido pelo Estado. No entanto, as distintas etapas que devem ser

percorridas para a concepção e formação de um arcabouço de previsões

8 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 42.

15

jurídicas permeiam um complexo feixe de ações que tentam se harmonizar

num misto de interação e afastamento, no qual os ideais dominantes, a todo

instante, buscam se sobressair sobre interesses de grupos com menor

representatividade, resultando num sistema jurídico fruto do pensamento

dominador.

A reflexão referente à formação de um sistema jurídico de garantias

processuais e o consequente acesso à justiça, resultam na tônica que deve

servir como pauta para a análise dos diversos sistemas jurídicos mundiais. Tal

constatação também é observada na formação do ordenamento jurídico

brasileiro, no qual se encontram imersos os diversos institutos do direito

processual penal.9

A formação do direito processual penal brasileiro ocorreu com debates e

grande influência da legislação absolutista portuguesa, no então Brasil Colônia,

até que sobrevieram as primeiras legislações genuinamente nacionais.

Nota-se, inicialmente, que as experiências do domínio da Corte

portuguesa no Brasil implicaram a aplicação de uma legislação penal severa e

a ausência de direitos e garantias fundamentais.10

Na codificação trazida pelo Império português para o Brasil, sob o

codinome de Ordenações do Reino, vislumbrou-se o instituto da pronúncia.

O controle da admissibilidade da acusação era previsto no processo

criminal da época, com o fito específico de analisar a formação da culpa do

acusado e a viabilidade do seu julgamento.

A fonte direta e remota do Direito Processual Penal brasileiro, quase que

na totalidade, foi à legislação portuguesa, de cunho estritamente inquisitorial à

época, reflexo de um sistema jurídico europeu pavimentado em bases sólidas,

decorrentes notadamente do século XVI.11

As Ordenações Afonsinas, promulgadas em 1446, não chegaram a

9 SILVA, Marco Antonio Marques da. Acesso à justiça penal e estado democrático de direito. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001, p. 95. 10 PIMENTA, José da Costa. Introdução ao processo penal. Coimbra: Almedina, 1989, p. 51-55. 11 FEU ROSA, Antônio José Miguel. Processo Penal. Brasília: Consulex, 1999, p. 29.

16

vigorar no Brasil-Colônia, uma vez que no reinado de D. Manoel I houve a

edição das Ordenações Manuelinas, estas que formalmente tiveram aplicação,

juntamente com o Código Sebastiânico, à época das Capitanias Hereditárias e

dos primeiros governos gerais. No mais, as Ordenações Filipinas tiveram maior

aplicação no Brasil, principalmente com a criação do Tribunal de Relação da

Bahia12.

Já o sistema abrigado no bojo das Ordenações Filipinas, como primeiro

encarte de um pensamento processual vigente em terras brasileiras,

preconizava, em sua essência, o modelo inquisitório, observando-se traços dos

padrões acusatórios, quando era permitido a qualquer do povo, ao próprio

ofendido ou, ainda, ao Ministério Público, apresentar a acusação em juízo.

Outro ponto decorrente do sistema fixado nas referendadas Ordenações

Filipinas era o que dizia a respeito dos meios de obtenção de prova. Em seu

âmago, permitia-se a utilização da tortura como meio de prova, sendo

registradas várias modalidades para a aplicação daquela, além, é claro, de

algumas penas degradantes.

Esse meio de prova foi extirpado da legislação em solo brasileiro

somente no período da independência nacional, a partir das destacadas

influências proporcionadas pelos movimentos revolucionários europeus.

Com a aplicação dos procedimentos estabelecidos pelas Ordenações

Filipinas, em terras brasileiras, para o processo criminal, abrangendo qualquer

tipo de delito, após a investigação de suas circunstâncias e agrupados os

pressupostos de autoria e materialidade, seguia-se a pronúncia como uma

decisão que, acatando a acusação formulada, sujeitava o acusado a

julgamento.

Estabelecia-se, no âmbito das Ordenações, um controle na

admissibilidade acusatória.

O livre arbítrio de vários juízes criminais e, principalmente, o abuso de

autoridade de alguns governantes, levaram D. Pedro I, em 23 de maio de

1821, a expedir, em terras brasileiras, decreto regulamentador da matéria de

12 PIMENTA, José da Costa. Introdução ao processo penal. Coimbra: Almedina, 1989, p. 31.

17

processo criminal, admitindo o direito de a defesa intervir em determinados

atos instrutórios e de tomar ciência quanto ao interrogatório do acusado,

exceto em casos de urgência, assegurando, ainda, a liberdade como regra e a

prisão como medida excepcional, devendo ser precisamente fundamentada

pelo magistrado e, também, legitimando a prisão em flagrante por qualquer um

do povo.13

A partir daí se desencadeou um grande movimento reformador

legislativo, sob as luzes do poder centralizador monárquico. Ao mesmo tempo,

as manifestações públicas de oposicionistas tornaram-se um grande

contratempo para o Império, principalmente as veiculadas através da

imprensa.

Quanto à instituição do júri, cumpre destacar em sua historicidade a

existência de três modelos, quais sejam: o júri romano, o júri medieval e o júri

inglês. Grande parte dos países ocidentais adotou o modelo do júri inglês, a

partir de uma experiência bem sucedida na França. Essa foi a vertente pela

qual o Brasil também se orientou, mesmo sob intensas críticas quanto à

adoção dessa instituição secular no ordenamento pátrio.14

Com a Proclamação da Independência do Brasil e sob os conflitos

emergentes entre radicais e conservadores, deu-se em 03 de maio de 1823 a

abertura definitiva da Assembléia Constituinte, a qual tinha como móvel

principal ditar os parâmetros de uma nova ordem político-institucional ao

Estado brasileiro. Finalmente, em 25 de março de 1824, foi outorgada a

Constituição Política do Império do Brasil.

Com a Constituição do Império, o Poder Legislativo havia organizado a

justiça estabelecendo novas regras para o processo, em estrita concordância

13 ARMITAGE, John. História do Brasil: desde o período da chegada da família de Bragança, em 1808, ate a abdicação de D. PEDRO I, em 1831, compilada à vista dos documentos públicos e outras fontes originais formando uma continuação da história do Brasil. São Paulo: USP, 1981, p. 25-52. 14 ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

18

com os princípios constitucionais então estabelecidos, alçando o júri a um

ramo do Poder Judicial, este previsto no Título 6.º da citada Carta Magna.

Ainda nesse Título, se preconizava acerca dos juízes e tribunais de justiça.15

Ademais, ao elevar o Tribunal do Júri à condição de órgão do Poder

Judiciário, a Constituição Imperial conferiu-lhe a competência não só para o

julgamento das causas criminais como também das causas cíveis.

O advento do Código do Processo Criminal em si representou uma

substancial alteração no pensamento jurídico, o qual na época das

Ordenações era conservador, rude, e reservava menor atenção aos direitos do

acusado.16

Assim, com a edição da Lei n. 261, de 03 de dezembro de 1841, a qual

alterava o Código do Processo Criminal e, em especial, a organização

judiciária e o júri, pontos considerados frágeis em sua disciplina, dar-se início a

sistemática, almejando a redução da ampla competência ofertada ao júri.

Com a proclamação da República no Brasil, em 1889, o Tribunal do Júri,

o movimento reformador, proporcionado pela Lei n. 261/1841, pelo

Regulamento n. 120/1842 e pela Lei n. 2.033/1871, deram o alicerce e a forma

procedimental a essa instituição secular no final da fase do Brasil imperial.

Nesse contexto, inseria-se o júri, definitivamente, no ordenamento

jurídico brasileiro, quando do advento da primeira Constituição da República,

em 1891, e as demais sempre o trouxeram em seu bojo.

Desta forma, num plano conceitual, entende-se que o Tribunal do Júri,

no contexto do ordenamento jurídico nacional, resume-se numa garantia

constitucional do indivíduo ser julgado por seus pares, quando acusado da

15 ARMITAGE, John. História do Brasil: desde o período da chegada da família de Bragança, em 1808, ate a abdicação de D. PEDRO I, em 1831, compilada à vista dos documentos públicos e outras fontes originais formando uma continuação da história do Brasil. São Paulo: USP, 1981, p. 53. 16 Ibid., p. 55.

19

prática de infração penal, definida pela Carta Política ou pela legislação

infraconstitucional, tendo a intervenção do Poder Judiciário para a realização

dos atos jurisdicionais privativos, respeitados, sempre, os seus atributos

constitucionais.

1.2 - Princípios Constitucionais Básicos

A Constituição também descreveu os princípios norteadores do Tribunal

do Júri:

a) Plenitude de defesa;

b) Sigilo das votações;

c) Soberania dos veredictos; e

d) Competência mínima para julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

1.2.1 - Plenitude de Defesa

Como em todos os procedimentos criminais, o réu tem assegurado o

exercício de sua defesa, tanto à defesa técnica quanto a auto defesa.

A defesa técnica deve ser exercida por parte do profissional habilitado, o

qual não precisará restringir-se a uma atuação exclusivamente técnica,

podendo também se servir de argumentação extrajurídica, invocando razões

de ordem social, emocional, de política criminal entre outras.

Já o exercício da auto defesa, segundo Capez, “por parte do próprio réu,

consiste no direito de apresentação de sua tese pessoal no momento do

interrogatório, relatando ao juiz a versão que entender a mais conveniente e

benéfica para sua defesa”17.

17 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 528.

20

Ao juiz, a quem incumbe zelar pelo efetivo exercício da defesa técnica, é

conferido o poder dever de declarar o réu indefeso e dissolver o Conselho de

Sentença, quando entender ineficiente a atuação do defensor.

Conforme podemos observar o artigo 497, inciso V, do Código de

Processo Penal:

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente referidas neste Código:

I - regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;

II - requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade;

III - dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante requerimento de uma das partes;

IV - resolver as questões incidentes que não dependam de pronunciamento do júri;

V - nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;

VI - mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença;

VII - suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;

VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repouso ou refeição dos jurados;)

IX - decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a requerimento de qualquer destes, a argüição de extinção de punibilidade;

X - resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;

XI - determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade;

XII - regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.

O artigo 5.º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988, garante

expressamente o direito de defesa. Ao lado do contraditório, o exercício da

21

defesa são decorrências imediatas do princípio do devido processo legal,

permitindo-se ao acusado a ampla possibilidade de valer-se dos meios e

recursos previstos em lei para apresentar sua argumentação, expor suas

teses, ter acesso às informações pertinentes à demanda e produzir a prova

que julgue necessário para provar a sua inocência.

Dessa forma, somente poderá se cogitar a ampla defesa quando o

acusado tiver o atributo de contrapor a imputação de modo efetivo, assegurado

por todos os meios lícitos que deve o Estado disponibilizar para que atinja esse

objetivo. Cabe, portanto, ao magistrado observar a existência de todos os

meios e instrumentos necessários para que seja efetivada ao acusado a

possibilidade de defender-se, adequadamente, à luz dos preceitos

constitucionais.

1.2.2 - Sigilo nas Votações

O sigilo nas votações é princípio informador específico do Júri. Sendo

assim, os jurados devem votar em segredo. Como esse tribunal tem em sua

composição um órgão colegiado e transitório, formado por jurados leigos, a

quem compete à análise do mérito da causa, é justificável o acolhimento do

procedimento secreto no que toca ao juízo de valor emitido por cada qual,

preservando-os de qualquer tipo de pressão, influência ou represália em

qualquer fase do julgamento, inclusive antes e depois deste, mantendo-se com

isso o valor insofismável da votação. O interesse social reclama a isenção e

liberdade do jurado para proferir o seu voto.

Dessa forma, o próprio rito especial do Tribunal do Júri, inteligência do

art. 485 do Código de Processo Penal, preconiza a necessidade de que a

votação dos jurados ocorra em uma sala especial ou, na impossibilidade desta,

que o juiz presidente do júri determine que o público se retire do Plenário do

Júri para o momento em que se procederá a votação dos jurados,

proporcionando condições para que faça valer o princípio em tela.18

18 NASSIF, Aramis. O novo Júri brasileiro: conforme a Lei 11.689/08, atualizado com as Leis 11.690/08 e 11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 25.

22

Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os

jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do

acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a

fim de ser procedida a votação.

§ 1º Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o

público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas

no caput deste artigo.

§ 2º O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida

qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do

Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente.

No mais, a acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer

momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a

folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se,

ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por

ele alegado. (art. 480, CPP)

Note-se que se houver a verificação de qualquer fato, reconhecida como

essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente,

o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização das diligências

entendidas necessárias. (art. 481, CPP)

Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer

momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que

indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou

citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo

meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.

§ 1º Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se

estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros

esclarecimentos.

§ 2º Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará

esclarecimentos à vista dos autos.

§ 3º Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos

23

e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente.

Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como

essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada

imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a

realização das diligências entendidas necessárias.

Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção de prova

pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará

quesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar

assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias.

1.2.3 - Soberania dos Veredictos

No procedimento do júri a competência para julgamento do mérito

encontra-se dividida em dois estágios distintos. Enquanto o Conselho de

Sentença decide a respeito da existência do fato e da autoria ou participação

do réu e se deve ser absolvido, o juiz presidente do tribunal estabelece a pena

infligida ao acusado em caso de condenação ou declara sua absolvição,

sempre respeitando o teor da decisão dos jurados.

Os veredictos são as decisões que são emanadas do Conselho de

Sentença, a primazia da vontade popular.

Nesse contexto assenta-se a soberania dos veredictos do Tribunal do

Júri na impossibilidade de ser a decisão dos jurados substituída pela de um

magistrado togado, na decisão de uma causa de sua competência.

Em suma, o preceito constitucional indica o impedimento de que as

decisões do Conselho de Sentença sejam modificadas em grau recursal. Se

está pacífico que não pode haver a substituição de uma decisão soberana do

júri pela decisão de um magistrado ou colegiado togado, por outro lado

desperta a atenção o fato de que possa haver erro na decisão do Conselho de

Sentença.19

19 PORTO, Hermínio Alberto Marques. Júri: procedimentos e aspectos do julgamento: questionários. 11. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 31-32.

24

“Somente os jurados, juízes constitucionalmente investidos, podem dizer

se é procedente ou não a pretensão punitiva e essa decisão, é, em regra,

insuscetível de modificação pelos tribunais”.20

Admiti-se, entretanto, a anulação da decisão do Tribunal do Júri, quando

a decisão for manifestamente contrária às provas nos autos. Em tal caso, se

houver recurso, a superior instância, analisando o mérito da causa, ordenará a

realização do novo julgamento, por outro conselho de sentença.

Por outro lado, quando a anulação e a realização de novo julgamento

redundar em veredicto que ainda se julgar derrubado de alguma base nas

provas lançadas, não se poderá demandar, ao mesmo tempo, sua invalidade,

já que é inadmissível segunda apelação por um motivo igual.

Como podemos observar a redação do artigo 593, § 3°, do Código de

Processo Penal:

Art. 593 - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;

II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;

III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:

a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

§ 1º - Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.

§ 2º - Interposta a apelação com fundamento no nº III, c, deste artigo,

20 D'ALESSANDRO, Araína Cesárea Ferreira dos Santos. Os princípios do Júri Popular e a Lei nº. 11.698-2008. Disponível em: <http://www.jurid.com.br/new/jengine.exe/cpag?p=jornaldetalhe doutrina&ID=55833>..

25

o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.

§ 3º - Se a apelação se fundar no nº III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.

§ 4º - Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.

É também possível que a propositura da invalidação desta decisão

ocorra em sede de revisão criminal, quando for em favor do réu, depois do

trânsito em julgado da sentença condenatória ou absolutória imprópria, já que

o princípio da soberania dos veredictos, por causa de sua relatividade, não tem

como causar a perturbação de decisões parciais.

1.2.4 - Competência Mínima para Julgamento dos Crimes Dolosos

Contra a Vida

Diz-se competência mínima, pois a Constituição Federal somente

assegurou a competência do Tribunal do Júri para o julgamento das infrações

cometidas dolosamente contra a vida. Entretanto, não há proibição da

ampliação do rol dos crimes que serão apreciados pelo Tribunal do Júri por via

de norma infraconstitucional.

São da competência do Tribunal do Júri, pois, o homicídio doloso, o

infanticídio, o auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio e o aborto,

previstos na Parte Especial do Código Penal, Título I “Dos Crimes Contra

Pessoa”, Capítulo “Dos Crimes Contra a Vida”, artigo 121 ao artigo 128, em

suas formas consumadas ou tentadas. Conforme o artigo 74, § 1°, do Código

de Processo Penal, “Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes

previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e

127 do Código Penal, consumados ou tentados”.

26

Entretanto, existem infrações que, apesar de alcançarem o resultado

morte na sua forma dolosa, não são consideradas como crimes dolosos contra

a vida, e neste caso são julgados pelo juiz singular.

A Súmula n.° 603, do Supremo Tribunal Federal, estabelece que: “a

competência para processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não

do Tribunal do Júri”.

Quanto à competência, Greco Filho postula:

a Constituição assegurou ao júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, entendendo como tais os do capítulo próprio do Código Penal, quais sejam o homicídio, o infanticídio, o auxílio ou instigação ao suicídio e o aborto. Outras infrações, ainda que contenham a título doloso, como o latrocínio ou a extorsão mediante sequestro seguido de morte não são crimes dolosos contra a vida para os fins da competência do júri. [...].21

Cabe, também, ao Tribunal do Júri, além de apreciar os crimes dolosos

contra a vida, julgar os crimes que lhes são conexos. Como está

expressamente descrito no artigo 78, inciso I, do Código de Processo Penal:

Art. 78 - Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:

I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;

II - no concurso de jurisdições da mesma categoria:

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade;

c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;

21 GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 418.

27

IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

1.3 - Teoria Garantista No Brasil

Segundo Raul Rojo22:

No final do século XX e começo do século XXI um dos fatos políticos

de maior visibilidade tem sido a crescente intervenção da Justiça na

vida coletiva. A quantidade de ações propostas, em todas as áreas do

Direito, tem se multiplicado, manifestando-se o juiz em um número

cada vez mais extenso de questões da vida comunitária.

Este poder crescente da Justiça oculta dois fenômenos

aparentemente muito diferentes – senão contraditórios – cujos efeitos

convergem e se reforçam mutuamente: o enfraquecimento do Estado

sob a pressão do mercado, de uma parte, e o abalo simbólico do

homem e da sociedade democráticos, por outra. O autor ainda

salienta que é verdade que o enfraquecimento do Estado é a

conseqüência da globalização da economia: o mercado, ao mesmo

tempo que burla o poder tutelar do Estado, multiplica os recursos à

Justiça. Mas a constatação deste duplo movimento – fluxo do direito e

refluxo do Estado – não esgota a explicação da ascensão do juiz. Há

outra razão, menos perceptível, mais antropológica e radicalmente

inédita na história: o abalo simbólico do homem democrático.

Ou seja, o indivíduo se torna um cidadão do mundo sendo privado de

algumas referências identitárias essenciais à estrutura da sua

personalidade devido à complexidade e diversidade da sociedade

democrática, em vista disso, esse indivíduo busca na Justiça uma

solução plausível para sua crise interna. Assim, se tornam os juizes

os últimos titulares de uma função de autoridade.

22 ROJO, R. E. A nova cena da “democracia jurídica”. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, maio/2005. Disponível em: http://www.direito.ufrgs.br/processoeconstituicao/cursos/ arquivosdocurso/2005.05.30%20%20Raul%20Rojo%20-%20A%20NOVA%20CENA%20DA%20 DEMOCRACIA%20JUDICIAL.doc. >.

28

Este intervencionismo judicial se dá na vida política, bem como na vida

econômica, na vida internacional, na vida moral, na vida social e, até, na vida

privada.

Assim, houve uma mudança no pensamento jurídico. Dussel também

propõe esta mudança e pondera:

Os homens de ciência, que em sua origem foram quase exclusivamente homens da igreja, sacerdotes, viram-se obrigados a cometer um dos erros inevitáveis: ou cair no concordismo (isto é, forçar a Bíblia ou a tradição para fazê-las “concordar” com suas conclusões científicas), ou desviar-se claramente da secularização para o secularismo, opondo-se à igreja ou pelo menos a muitos de seus teólogos. Por esta incompreensão foi-se dando origem a todo um mundo, o da ciência moderna, que crescerá primeiro junto com a igreja, mas que, pouco a pouco, irá buscando em si mesmo uma autonomia de que necessitava para seu desenvolvimento e era-lhe negada. A ciência moderna só se opunha a um antigo esquema da cultura latina. A cristandade a inclinará para o secularismo. Todavia, a própria ciência tinha um peso que a fez formular uma nova idéia da natureza e correlativamente de Deus. Considerando as linhas gerais desta evolução, encontraremos o fundamento metafísico do secularismo moderno. 23

Bobbio24 assevera que “o positivismo jurídico deu cientificidade ao

Direito, pois afastou de sua estrutura elementos meta-jurídicos, como o divino,

o natural e o moral”, ou seja, o “esforço de transformar o estudo do direito

numa verdadeira e adequada ciência que tivesse as mesmas características

das ciências físico-matemáticas, naturais e sociais”.

Assim, para o positivismo jurídico inexiste conexão necessária entre o

direito e a moral, por outro lado, conforme Ferrajoli25 “tem-se que essa mesma

teoria, porém vista sob ângulo diverso, também indica o apartamento da moral

em relação ao direito positivo, expressando que os juízos morais se prendem,

tão somente, à autonomia da consciência individual”.

23 DUSSEL, Enrico. Caminhos para a libertação latino-americana. São Paulo: Paulinas, 1984. v.II, p. 212. 24 BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. Traduzido por: Márcio Pugliesi, Edson Bini e Carlos Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1995, p. 135. 25 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Madrid: Editorial Trotta, 2000, p. 218.

29

No mais,

Justiça é uma palavra que não comporta um único significado, é vaga, todavia transmite uma noção, um sentido que não se reduz às opiniões pessoais, à percepção de cada um; ela representa expectativas de comportamentos, maneiras socialmente esperadas de agir, ou ainda, o mínimo de ética que se espera no convívio social. Daí que, mesmo em situações de processo social dissociativo – como a competição, o conflito, a oposição –, uma das partes divergentes concorda que determinada solução seja a mais justa, mesmo não sendo a melhor para ela. Assim, cabe trabalhar os mecanismos, de que se dispõe atualmente, capazes de produzir esse estado de justiça.26

Nos mais remotos tempos, a justiça provinha apenas do plano espiritual,

das divindades a quem o homem devia total respeito.

É possível se afirmar destarte que a filosofia iluminista se apresenta

como a gênese da luta pelo reconhecimento e tutela dos direitos da

humanidade, motivo pelo qual aparece, em grande medida, no interior do

saber penal.27

E, segundo Cademartori e Xavier28 o fundamento disso é a teoria do

garantismo penal que se desenvolveu a partir da matriz iluminista da ilustração,

a qual implementou garantias penais e processuais no Estado constitucional

de direito.

Segundo Streck e Copetti29 resulta daí a dificuldade quanto ao

enfrentamento da criminalidade contemporânea, cuja matriz genealógica é

26 STAMFORD, Artur. O magistrado e as audiências judiciais. Para uma aplicabilidade judicial da Teoria da Justiça de Rawls e da Legitimação pelo Procedimento de Luhmann. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, dez. 1998. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id= 810>.. 27 FERRAJOLI, op. cit., p. 226. 28 CADEMARTORI, Sérgio; XAVIER, Marcelo Coral. Apontamentos iniciais acerca do garantismo. Revista de Estudos Criminais. n.1. Porto Alegre: Notadez, 2001, p. 20. 29 STRECK, Lenio Luiz; COPETTI, André. O direito penal e os influxos legislativos pós-constituição de 1988: um modelo normativo eclético consolidado ou em fase de transição? In: FAYET JÚNIOR, Ney (org.). Ensaios Penais em Homenagem ao Professor Alberto Rufino Rodrigues de Souza. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2003, p. 452-453.

30

desconhecida pelo Direito penal clássico, podendo-se, inclusive, depreender

um problema de sucessão de paradigmas em terra brasileira, nestes termos:

frente à inadequação do Direito Penal clássico em responder aos desafios lançados pela sociedade pós-industrial, coloca-se, aqui, de forma bastante acentuada, a discussão — a qual, sob todos os títulos, bem faz evidenciar a crise de identidade do Direito Penal contemporâneo — sobre a possível alteração de sua postura em face da criminalidade atual, traduzida na (alternativa de) criação de um direito de exceção, de cunho intervencionista, com a exacerbação de medidas coercitivas e de intervenção vertical, violando, se preciso, direitos fundamentais.

Em verdade, “as novas formas de violações aos bens jurídico-penais

tonificaram um processo de inflação legislativa, com a conseqüente ampliação

das possibilidades de incriminação dos comportamentos humanos”30.

Assim, segundo Carvalho31 o discurso garantista, atualmente,

“apresenta-se, pois, como saber crítico e questionador, como instrumento de

defesa radical e intransigente dos direitos humanos e da democracia contra

todas as deformações genocidas do direito e do Estado contemporâneo”. E

mais, o autor ainda completa asseverando que “esta é uma ideia contrária à

presença e à solidificação de um Estado penal, ou seja, mínimo na área social

e máximo na criminal”.

1.4 - Cláusula Pétrea

Uma vez que se trata de garantia fundamental da pessoa humana a

quem se imputa a prática de crime doloso contra a vida, não se pode suprimir

a jurisdição do Tribunal do Júri sequer por via de emenda constitucional, pois

se trata de núcleo constitucional intangível, ou seja, de cláusula pétrea.

30 CARVALHO, Salo de. Pena e Garantias. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 15. 31 CARVALHO, Salo de; CARVALHO, Amilton Bueno de. Aplicação da pena e garantismo. 3. ed. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 82-84.

31

Conforme prevê a Constituição da Republica Federal do Brasil em seu

artigo 60, § 4°, inciso IV: “não será objeto de deliberação a proposta de

emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais”.

O doutrinador, Fernando Capez, acerca da intangibilidade do Tribunal

do Júri, afirma que:

Como direito e garantia individual, não pode ser suprido nem por emenda constitucional, constituindo verdadeira cláusula pétrea (núcleo constitucional intangível). Tudo por força da limitação material explícita contida no art. 60, § 4°, IV, da Constituição Federal.32

32 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 585.

32

CAPÍTULO II

OS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

2.1 - Princípio da legalidade

Encontramos a base constitucional para este princípio no artigo 5°,

inciso XXXIX, da Constituição Federal: “Não há crime sem lei anterior que o

defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

Tal disposição repete-se no artigo 1° do Código Penal: “Não há crime

sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.

Para a maioria dos autores, os conceitos do princípio da legalidade e da

reserva legal se confundem, para outros, mais especificamente Fernando

Capez33, o Princípio da Legalidade é gênero do qual são espécies o Princípio

da Reserva Legal e o Princípio da Anterioridade da Lei Penal.

Segundo o autor, encontram-se embutidos no Princípio da Legalidade

dois princípios diferentes: o da Reserva Legal, que reserva estritamente à lei a

existência do crime e sua penalização (não há crime sem lei que o defina e

nem pena sem cominação legal), e o da Anterioridade, exigindo que a lei

esteja em vigor no momento da prática da infração penal (lei anterior e prévia

cominação).34

Dessa forma, sem querer ser repetitivo, apenas a lei, em seu sentido

mais estrito pode definir crimes e cominar penalidades. O que significa apenas

dizer, para tornar ainda mais claro tal princípio, que medidas provisórias não

são leis. Logo, não pode dispor sobre matéria penal, criar crimes, nem cominar

penas.

O mesmo se dá com a lei delegada.

33 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 152. 34 Ibid., p. 152.

33

A lei deve descrever a conduta delituosa em todos os seus elementos e

circunstâncias, a fim de que, somente no caso de integral correspondência,

possa o agente ser punido. A descrição da conduta deve ser detalhada e

específica, não se coadunando com tipos genéricos.

Cabe ressaltar que a proibição de cláusulas gerais não alcança,

evidentemente, os crimes culposos, também denominados “tipos abertos”. Os

tipos culposos, por seu turno, excepcionam a regra da descrição

pormenorizada.

Podemos ressaltar ainda os aspectos político, histórico e jurídico do

Princípio da Legalidade.

Com relação ao seu aspecto político, trata-se de uma garantia

fundamental do homem, que garante a liberdade deste, protegendo-o contra as

possíveis arbitrariedades cometidas pelo Estado, ou seja, em razão de tal

princípio, o indivíduo encontra-se protegido contra arbitrariedades, livre de

perseguições e tirania dos detentores do Poder. Proteção essa que se

coaduna perfeitamente com a concepção própria do Estado de Direito.

Enfim, o indivíduo passa a não temer que sua liberdade possa ser

cerceada pelo Estado, a não ser nas hipóteses previamente estabelecidas em

regras gerais, abstratas e impessoais.

Tratando-se do aspecto histórico do Princípio da Legalidade, podemos

dizer constou expressamente da Carta Magna de João Sem Terra, no ano de

1215, e previa que nenhum homem livre poderia ser submetido à pena não

prevista na lei local.

Já no Direito Moderno, ganhou força objetivando o combate a

insegurança causada pelo arbítrio e prepotência dos julgadores. Sendo assim,

a tripartição dos poderes foi absolutamente relevante no sentido de que a

função de definir quais as atitudes seriam tidas como especialmente maléficas

para a vida em sociedade, ficou a cargo do legislador, e cabendo ao juiz a

tarefa de aplicar a lei aos casos concretos.

Com relação ao aspecto jurídico, pode-se dizer que só haverá crime

quando ocorrer à subsunção da norma ao caso concreto, ou seja, quando

34

houver a perfeita correspondência entre a conduta praticada e a previsão legal.

Isso se deve ao fato de as leis penais serem descritivas e não proibitivas.

Assim, quem pratica um crime não age contra a lei, mas de acordo com ela,

haja vista que a lei define o que é crime.

Por tudo o que foi exposto, conclui-se que só há crime nas hipóteses

taxativamente previstas em lei.

2.2 - Princípio da reserva legal

Por esse Princípio, apenas a lei em seu sentido formal e estrito,

emanada e aprovada pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento

adequado, poderá criar tipos de crimes e impor penas.

Oportuna a lição do mestre Fernando Capez ao dizer que:

Somente a lei, em seu sentido mais estrito, pode definir crimes e cominar penalidades, pois, a matéria penal deve ser expressamente disciplinada por uma manifestação de vontade daquele poder estatal a que, por força da Constituição, compete a faculdade de legislar, isto é, o Poder Legislativo.35

Dessa afirmativa subentende-se que Medida Provisória não pode criar

tipos de crimes e muito menos impor penas, pois, embora tenham “força de

lei”, como, aliás, a própria Constituição reconhece, não são leis.

Deve-se ressaltar uma vez mais que um fato só será considerado crime

se houver uma perfeita correspondência entre a conduta e a lei que a

descreve. Daí aferir-se a proibição do uso da analogia, uma vez que o crime

deve ser descrito em seus pormenores e a conduta deve adequar-se fielmente

ao que dispõe a lei.

Deve-se dizer que, para que possa ser incriminada, a conduta deve ser

apta a, pelo menos, ameaçar bens ou valores que a sociedade considera

35 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 159.

35

essenciais à convivência, que afrontem a dignidade da pessoa humana.

2.3 - Princípio da anterioridade

Em consonância a este princípio, há a necessidade de que a lei já esteja

em vigor quando da efetivação da conduta. Será aplicada à relação jurídica a

lei vigente à data do fato.

A lei penal é editada para o futuro e não para o passado. Eis aí um dos

efeitos do Princípio da Anterioridade: a irretroatividade da lei.

A retroatividade é proibida não somente em relação às penas, mas a

qualquer norma de natureza penal.36

Diz-se que a norma tem natureza penal quando cria, extingue, aumenta

ou reduz a satisfação do direito de punir do Estado.

Note-se que a regra é a irretroatividade da lei penal, ou seja, a de se

atingir fatos pretéritos. No entanto, há exceções, pois a norma penal poderá

retroagir, quando para beneficiar o réu.

2.4 - Princípio da proporcionalidade da pena

A pena deve ser aplicada na medida da culpabilidade do autor, ou seja,

o autor deve ser punido segundo sua participação na execução do fato

delituoso. Daí dizer-se que “a culpabilidade é a medida da pena”, como

assevera Damásio E. de Jesus37.

Significa que a resposta penal deve ter, no máximo, a mesma

intensidade do mal provocado pelo crime, ou seja, a gravidade da pena deve

ser proporcional a gravidade do fato antijurídico.

36 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 149. 37 JESUS, Damásio Evangelista de. Código de Processo Penal anotado. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 354.

36

2.5 - Princípio do estado de inocência

Por este princípio, nenhuma pena poderá ser executada sem que haja o

trânsito em julgado da sentença condenatória, pois assim prevê a própria

Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5°, inciso LVII:

Art. 5° [...]

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Há a necessidade, como pondera o mestre supra citado, que a decisão

se torne irrecorrível para que “possam ser impostas medidas próprias da fase

de execução”.38

Em resumo, o princípio é bem definido pelo brocardo “todos são

inocentes, até prova em contrário”.39

2.6 - Princípio da igualdade

Sem muitos comentários, o princípio traduz-se no tratamento isonômico

que é dado a todos perante a lei penal. Não poderia ser diferente, tratando-se,

pois, de premissa básica quando se fala em direitos e garantias fundamentais,

bem elucidada no artigo 5°, caput, da Carta Magna que dispõe:

Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

Vale dizer que todos terão o mesmo tratamento, independente de raça,

cor, religião, sexo, ou quaisquer outras diferenças.

38 JESUS, Damásio Evangelista de. Código de Processo Penal anotado. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 348. 39 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 148.

37

2.7 - Princípio do “no bis in idem”

Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Este princípio

pode ser encarado sob dois aspectos: penal material e penal processual.

Materialmente falando, ninguém pode sofrer duas penas em razão do mesmo

crime. Analisando-se o aspecto processual, ninguém pode ser processado e

julgado duas vezes pelo mesmo fato.

2.8 - Princípio da adequação social

Para que uma conduta seja considerada crime, deve esta causar danos

de relevância social. Sendo assim, caso ocorra situação inversa, o fato não

será punido em razão da sua escassa lesividade.

Significa dizer, segundo Luis Régis Prado40, que “apesar de uma

conduta se subsumir ao modelo legal, não será considerada típica se for

socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a

ordem social da vida historicamente condicionada”.

2.9 - Princípio da ofensividade

Pelo Princípio da ofensividade, não basta que a conduta seja

moralmente inaceitável. É necessário que a ofensa atinja bem jurídico

penalmente protegido para que o Direito Penal possa ser aplicado.

2.10 - Princípio da culpabilidade

A responsabilização do agente só é possível quando este atuou com

dolo ou culpa, cometendo um fato típico e antijurídico.

O juiz irá analisar se o sujeito poderia ter agido de forma diversa, e se

tinha condições de conhecer o caráter ilícito da sua conduta. Ou seja, verifica-

40 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal – Parte Geral. 2. ed. ref., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 4 v., p. 148.

38

se se o sujeito é ou não imputável.

O princípio em tela repudia a responsabilidade penal objetiva, que seria

a aplicação da pena sem dolo, culpa e culpabilidade.

39

CAPÍTULO III

O ASPECTO NORMATIVO-PROCESSUAL DO TRIBUNAL

DO JÚRI NO BRASIL

O crescimento desse debate se relaciona com a necessidade de

transformação e reformulação da instituição popular, a fim de ajustá-la cada

vez mais à sua natureza democrática.

Assim, conforme Pereira coloca:

Não se quer dizer, com isso, que o Júri moderno encontra-se divorciado dos seus fundamentos democráticos, mas sim alertar quanto à necessidade de avançar, tendo por meta tornar o Júri cada vez mais próximo dos fins perseguidos e, sobretudo, da sociedade que o legitima.

Para tanto, é preciso revisitar seus fundamentos constitucionais, seu procedimento, as formas de seleção dos jurados, os recursos de suas decisões, os mecanismos de proteção dos jurados e de seus veredictos, é preciso, enfim, colocar o Júri no centro das discussões estatais, de maneira a fazê-lo atuar cada vez mais forte e eficiente, justificando a sua função de maior expoente da democracia participativa.

O Tribunal do Júri, independentemente do país em que é adotado, necessita de alterações estruturais para que possa cumprir integralmente a sua função primordial, que é a efetivação de uma justiça democrática e popular.

No entanto, tal tarefa se mostra bastante difícil de ser atingida, pois inúmeras situações ocorridas antes e durante o julgamento trazem prejuízos à soberania do Júri e, desse modo, à própria democracia. Procurando modificar essa situação é que várias propostas encontram-se hoje em tramitação perante o Congresso Nacional, além de outras tantas sugestões que são apresentadas constantemente pela doutrina especializada.

Essa postura não é uma exclusividade brasileira, pois na doutrina americana muitos são os autores que apresentam ideias novas destinadas a reduzir os problemas detectados no Júri daquele país.

40

Percebe-se, assim, a importância de se traçar o perfil do Júri brasileiro, a fim de detectar suas falhas e fortalecer suas virtudes, consolidando, desse modo, a natureza democrática da instituição popular.

Atualmente no Brasil muito se discute sobre os rumos do tribunal popular.41

3.1 - A lei n. 11.689/2008 e o princípio da soberania dos

veredictos

No Brasil, vários são os pontos definidos como críticos pela doutrina

especializada e muitos deles foram analisados pelo Poder Legislativo brasileiro

e culminaram na Lei n. 11.689/2008.

Em razão da necessidade de aprimoramento do atual modelo de Júri

adotado no Brasil, surgiu a nova lei.

A expressa estruturação do Tribunal do Júri no modelo adaptado aos

seus fundamentos é, sem sombra de dúvidas, a maior evolução presente na

Lei 11.689/2008.

O art. 483, do Código de Processo Penal, após a Lei 11.689/2008,

passa a ter a seguinte redação:

Art. 483 - Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:

I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação;

III – se o acusado deve ser absolvido;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

41 PEREIRA, José. Tribunal do Juri. no Brasil. Monografias. com. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/tribunal-juri-brasil/tribunal-juri-brasil.shtml

41

§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.

§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:

§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:

I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (segundo) ou 3o (terceiro) quesito, conforme o caso.

§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.

§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas. (NR)

Uma leitura rasa do dispositivo mencionado pode produzir a afirmação

de que houve mera alteração no modelo de quesitação existente no Brasil,

quando na verdade o que houve, ademais de alteração na quesitação, foi

expressa afirmação da lei como limite máximo no Tribunal do Júri,

estabelecendo que este pode absolver com fundamentos de íntima convicção,

com fundamentos que não guardem respaldo com teses técnico-jurídicas já

existentes e previstas no Código.

Senão veja-se:

a) os quesitos I e II estabelecem os limites para que o júri possa punir

alguém, quais sejam, deve haver materialidade do fato (incidência em tipo

penal) e certeza plena de autoria ou participação, ou seja, a norma penal deve

ter sido transgredida justamente pelo acusado, quer na condição de autor, quer

na condição de partícipe;

42

b) o quesito III ao estabelecer a pergunta ampla sobre se o acusado

deve ser absolvido ou condenado, sem qualquer exigência quanto à presença

de teses jurídicas pela defesa em prol da absolvição, aproximou o modelo

brasileiro da estrutura originária inglesa e influente nos processos

revolucionários iluministas.

Em outras palavras, o jurado passou a ser fiscal do poder, podendo

limitá-lo no caso concreto, quando entender, por sua íntima convicção, viável

absolver, não se submetendo aos aspectos positivados da lei punitiva.

Dessa forma, o julgamento é claramente de reprovabilidade social,

limitado, no que tange à condenação, ao estabelecido em lei, exatamente

como imaginaram os pensadores da ilustração.

Assim, o princípio da legalidade é imposto pela sociedade ao detentor

do poder, não por este para a sociedade, exatamente dentro do modelo

estrutural surgido com a Magna Carta de 1215.

Em outras palavras: caso o Estado puna alguém, não pode passar dos

limites da lei e somente pode fazê-lo por transgressão à lei, porém, a

sociedade, consubstanciada no tribunal do júri, pode impor ao Estado a

absolvição do transgressor da lei, por entender que a lei representa um ato de

abuso ou que é exagerada para a situação concretamente apresentada ou, até

mesmo, por visualizar que os interesses sociais, no caso concreto, serão

melhores atendidos mantendo livre o cidadão acusado que encarcerado.

Neste caso, portanto, o princípio da soberania dos veredictos do Júri

poderia ser afetado, pois não produziria os resultados concretos almejados,

tendo em vista que o julgamento seria renovado, sendo realizado, nessa

hipótese, por novos jurados.

Assim, entendemos que a maior crítica atribuída ao Tribunal do Júri é,

sem sombra de dúvidas, em relação ao corpo de jurados, o qual se constitui de

pessoas leigas, isto porque, o Júri, ao longo dos anos, perdeu sua verdadeira

43

identidade, seja por causa dos problemas político-sociais, seja por despreparo

dos membros da magistratura.

A discussão sobre a soberania dos veredictos insere-se nesta questão,

pois se acredita que estes jurados, leigos que são, devem ser respeitados

como verdadeiros juízes de fato e que a garantia do processo está destinada à

livre convicção dos jurados.

Quanto à questão creio que realmente deve ser respeitado o princípio

da soberania dos veredictos tendo em vista que é um princípio constitucional,

como já explicitado neste trabalho, e também, porque desta forma se protege o

princípio do devido processo legal.

A quesitação é o principal argumento no exercício da soberania dos

veredictos, pois “é a forma de ser conhecida a decisão, e da forma como a

mesma vem sendo proposta pela lei em tela, torna-se impossível aferir com a

total e límpida clareza qual a decisão dos jurados no julgamento dos crimes

dolosos contra a vida”42

No mais, Luiz Flávio Gomes43 coloca que

a reforma do Júri tem por escopo dar maior agilidade ao processo eliminando atos repetitivos ou pouco producentes. Não bastassem estas razões, há ainda aqueles que, indo mais além, defenda a inconstitucionalidade do protesto por novo júri, por não ter sido ele recepcionado pela constituição brasileira.

Desta forma, o protesto por novo júri violaria o art. 93, inc. IX, CF/88:

Art. 93 - Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

42 PEREIRA, José. Tribunal do Júri no Brasil. Monografias.com. Disponível em: <http://br. monografias.com/trabalhos3/tribunal-juri-brasil/tribunal-juri-brasil.shtml>. 43 GOMES, Luiz Flávio. In: LFG - rede de ensino Luiz Flávio Gomes. 19 abr. 2006. Disponível em: <http://www.lfg.com.br/public_html/article.>..

44

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (grifos nossos)

Note-se que as decisões devem ser FUNDAMENTADAS. Entretanto, o

Júri se exime deste requisito.

Acredita-se que a maior evolução e que causa grandes discussões na

doutrina foi a simplificação do questionário do Júri, já que foram suprimidos os

complicados quesitos sobre as assuntos jurídicos da defesa e acusação,

podendo ser trazido o julgamento mais ao senso comum dos jurados.

Quanto ao questionário do Júri ainda temos como modificação:

- a maior clareza e precisão dos quesitos apresentados aos jurados;

- a inclusão do quesito-chave;

Com isso, tende-se a reduzir as nulidades dos processos do Júri

referentes a problemas ou contradições nos quesitos e nas respostas

oferecidas pelos jurados.

A Lei n. 11.689/2008 trata, também, da reforma do Tribunal do Júri

brasileiro, procurando aprimorar o processo de julgamento dos crimes dolosos

contra a vida, e, com isso, o aperfeiçoamento da própria instituição popular.

Segundo Pereira:

Os pontos de maior destaque da nova legislação são a supressão do libelo, a fundamentação da pronúncia, a permissão de perguntas diretas no interrogatório e no depoimento das testemunhas, e, finalmente, a eliminação do protesto por novo júri. A permanência do libelo em nada acrescenta ao processo, eis que se trata de uma peça processual inócua, consistindo numa mera repetição da classificação jurídica indicada na pronúncia. A contrariedade ao libelo, por seu turno, também não traz nenhuma vantagem ao réu e ao processo, já que a defesa em plenário tem

45

ampla liberdade para alterar a sua tese, independentemente daquela apresentada na contrariedade ao libelo.44

Ao Tribunal do Júri é assegurada a competência para o julgamento das

infrações penais dolosas contra a vida. O legislador constituinte nesse contexto

fixou a competência mínima para o júri, sendo perfeitamente plausível que haja

ampliação desse catálogo para abarcar o julgamento de outras modalidades

delitivas quando em regime de conexão ou continência com aquelas.45

A estabilização constitucional, desde a edição da Carta de 1967, acerca

da competência mínima do júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a

vida, na forma tentada ou consumada, implicou no fato de que a pronúncia

ficasse circunscrita ao âmbito do julgamento dessas modalidades delitivas.46

Todavia merece ponderação acerca do caráter relativo ao qual está

inscrito o dispositivo constitucional que estabelece a matéria da competência

do júri.47

Sob esse prisma, as exceções ao referido dispositivo constitucional

estão disciplinadas no próprio texto da Carta Magna de 1988 e em legislação

infraconstitucional. Mantendo a lógica e a sistematização das regras

processuais, nos casos em que a competência para o julgamento dos crimes

dolosos contra a vida se desloca do júri para outros tribunais, fica afastada a

pronúncia.

É o que se opera quando da ocorrência dos crimes dolosos contra a

vida praticados por pessoas detentoras de foro privilegiado por prerrogativa de

44 PEREIRA, José. Tribunal do Júri no Brasil. Monografias.com. Disponível em: <http://br. monografias.com/trabalhos3/tribunal-juri-brasil/tribunal-juri-brasil.shtml>.. 45 NASSIF, Aramis. O novo Júri brasileiro: conforme a Lei 11.689/08, atualizado com as Leis 11.690/08 e 11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 27-30. 46 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 175. 47 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 6. ed. rev. atual. ampl. 2. tiragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 223.

46

função, quando o julgamento destes é realizando perante: o Supremo Tribunal

Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais ou

perante o Tribunal de Justiça, considerando-se, ainda, os casos de crimes no

âmbito militar.

Por via oblíqua, a pronúncia deve ser considerada na conjuntura em que

afluem os casos dos crimes que, embora não sejam originariamente da

competência do júri, isto é, não sejam crimes dolosos contra a vida, são

praticados em conexão ou continência com alguma modalidade delitiva dolosa

contra a vida, essa última da competência do Tribunal Popular.48

Dessa forma são apreciadas no mesmo juízo as infrações penais que

mantém entre si uma unidade incindível. Nesse caso alterada a competência

por conexão ou continência, impõe-se uma junção dos autos processuais,

sendo necessário o acolhimento dos delitos conexos ou contidos aos dolosos

contra a vida no âmbito da pronúncia, para que todos sejam julgados perante o

júri, com previsão expressa pelo Código de Processo Penal.49

Neste sentido, postulam aqueles que criticam a Lei 11.689/2008:

Não há dúvida que o sistema “simplificado” é deficiente, gerando, assim, uma afronta geral à Constituição, principalmente, atingindo o Ministério Público (contraditório) e também à defesa, como visto acima.

Porém, há mais uma importante questão: o sistema é tão absurdo que impossibilita o Júri de apreciar a causa integralmente, sonegando-lhe a liberdade de votar de acordo com seu livre entendimento sobre o processo.

Resta ferida a SOBERANIA DO JÚRI, princípio constitucional que caracteriza o pilar mais vivo da instituição. Júri sem soberania não é júri, pois tem “poder pela metade”, o que é antidemocrático e vem a contrariar texto expresso da Constituição. A soberania dos veredictos é a força do Júri, sendo a quesitação a peça chave do exercício dessa soberania, pois é a forma de ser conhecida a decisão.

O júri é exclusivamente competente para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, por imposição da Constituição. Julga os fatos,

48 Ibid., p. 224. 49 FEITOZA, Denilson. Direito Processual Penal – teoria, crítica e práxis. 6. ed. ver., ampl. e atual. com a “Reforma Processual Penal” (Leis 11.689/2008, 11.690/2008 e 11.719/2008) e a Videoconferência (Lei 11.900/2009). Niterói: Impetus, 2009, p. 45.

47

nada podendo sobrar ao juiz togado, a não ser questões relativas à pena, nada mais. O poder é do Júri e sua soberania é que afirma a sua decisão no Estado de Direito Democrático perante a sociedade.

Assim, no momento em que, pela nova forma de quesitação, torna-se impossível aferir com a total e límpida clareza qual a decisão dos jurados, há flagrante violação ao princípio do juiz natural e, em face disso, à soberania dos veredictos. Dupla violação, pois constituem dois importantes princípios constitucionais.

Ao longo de séculos manteve-se a forma de quesitação, pois é a ÚNICA COMPATÍVEL COM O SISTEMA CONSTITUCIONAL no que tange à possibilidade ser aferida a convicção e decisão do júri.50

E ainda Angelo Ansanelli Júnior dispõe:

...ainda que a defesa apenas sustente a tese de legítima defesa própria e o Ministério Público (ou o assistente) sustente a pronúncia, os jurados são livres para não acatar nenhuma das duas teses e reconhecer o excesso culposo na legítima defesa. Desta forma, o sistema de quesitação proposto não confere opção aos jurados, e, mais, violenta o princípio da plenitude de defesa, bem como subtrai da apreciação do Conselho de Sentença – juiz natural – a possibilidade de apreciação de todas as hipóteses pertinentes aos casos submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri51

No mais, no que tange a sentença de pronúncia, as críticas da doutrina

recaem sobre os requisitos legais e os limites da fundamentação empregada

pelo juiz ao proferi-la, isto porque segundo o art. 408 do CPP:

Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos. (Alterado pela L-011.689-2008) § 1º - Na sentença de pronúncia o juiz declarará o dispositivo legal em cuja sanção julgar incurso o réu, recomendá-lo-á na prisão em que se achar, ou expedirá as ordens necessárias para sua captura. § 2º - Se o réu for primário e de bons antecedentes, poderá o juiz deixar de decretar-lhe a prisão ou revogá-la, caso já se encontre preso. § 3º - Se o crime for afiançável, será, desde logo, arbitrado o valor da fiança, que constará do mandado de prisão.

50 GOMES, Márcio Schlee. A inconstitucionalidade da quesitação na reforma do júri. Arts. 482 e 483 da Lei nº 11.689/08. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1874, 18 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11616>.. 51 ANSANELLI JÚNIOR, Ângelo. O Tribunal do Júri e a Soberania dos Veredictos. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005, p. 86.

48

§ 4º - O juiz não ficará adstrito à classificação do crime, feita na queixa ou denúncia, embora fique o réu sujeito à pena mais grave, atendido, se for o caso, o disposto no Art. 410 e seu parágrafo. § 5º - Se dos autos constarem elementos de culpabilidade de outros indivíduos não compreendidos na queixa ou na denúncia, o juiz, ao proferir a decisão de pronúncia ou impronúncia, ordenará que os autos voltem ao Ministério Público, para aditamento da peça inicial do processo e demais diligências do sumário.

Num esforço da síntese poderíamos dizer que o intuito é minimizar a

influência da decisão do Júri Popular na sentença, por isso, esta deverá ser

sucinta e proferida sempre que o juiz se convencer da materialidade do fato e

da existência de indícios suficientes de autoria, como visto acima nas críticas

doutrinárias trazidas sobre as alterações da Lei 11.689/2008.

Entendemos, portanto, da seguinte forma, fazendo coro à doutrina

referida que requer-se na pronúncia a existência de crime e de indícios de que

seja o réu o seu autor.

Resta-se claro que o juiz é impedido, a partir da modificação da lei em

vigor, de se pronunciar sobre matéria de mérito, que se tornou matéria de

competência exclusiva do Júri.

Outra modificação interessante determina a desnecessidade de todo o

incremento da instrução até que o juiz se satisfaça por submeter o réu ao

julgamento pelo Júri.

No mais, atualmente a lei permite que sejam realizadas perguntas

diretas pelo promotor e defensor ao réu e às testemunhas, sem que haja o

intermédio do juiz que preside o Júri.

3.2 - Decisões dos Tribunais de Justiça sobre o procedimento

do Tribunal do Júri após as alterações legislativas

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. PACIENTE PRONUNCIADO POR HOMICÍDIO QUALIFICADO MEDIANTE PAGA E RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA, SUA EX-ESPOSA, QUE

49

FOI ESTRANGULADA E TEVE O CORPO QUEIMADO (ART. 121, § 2o., I E IV DO CPB). DELITO OCORRIDO EM 13.06.07. PRISÃO CAUTELAR MANTIDA NA SENTENÇA DE PRONÚNCIA. SEGREGAÇÃO PROVISÓRIA DEVIDAMENTE JUSTIFICADA (GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL). DESNECESSIDADE DE NOVA FUNDAMENTAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. ORDEM DENEGADA. 1. É fora de dúvida que o decreto de prisão cautelar há de explicitar a necessidade dessa medida vexatória, indicando os motivos que a tornam indispensável, dentre os elencados no art. 312 do CPP, como, aliás, impõe o art. 315 do mesmo Código. 2. In casu, além da materialidade do delito e de indícios suficientes de autoria, o decreto de prisão cautelar fundou-se, primordialmente, na necessidade de preservação da ordem pública e por conveniência da instrução criminal, em razão da periculosidade do paciente, evidenciada pelo modus operandi da conduta criminosa, que ocorreu de forma premeditada e foi executada com extrema crueldade (a vítima foi surpreendida quando chegava em casa, estrangulada e teve seu corpo carbonizado para dificultar a identificação, além de ter objetos pessoais furtados).. 3. Já decidiu esta Corte que em alguns crimes, como foi afirmado no HC 67.750/SP, Primeira Turma,. Rel. Min. Celso de Mello, DJU de 09.02.90, a periculosidade do agente encontra-se ínsita na própria ação criminosa praticada em face da grande repercussão social de que se reveste o seu comportamento. Não se trata, frise-se, de presumir a periculosidade do agente a partir de meras ilações, conjecturas desprovidas de base empírica concreta, que conforme antes destacado não se admite; pelo contrário, no caso, a periculosidade decorre da forma como o crime foi praticado (modus operandi) (HC 94.436/BA, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 14.04.08). 4. A prisão preventiva inicialmente decretada foi considerada legal por esta 5a. Turma, por ocasião do julgamento do HC 91.001/GO; nesses casos, consoante entendimento pacificado nesta Corte Superior, caso persistam os motivos que ensejaram a decretação da prisão preventiva, desnecessário se torna proceder à nova fundamentação quando da prolação da sentença de pronúncia, mormente quando inexistem fatos novos capazes de promover a soltura do acusado. 5. Em razão do procedimento bifásico dos feitos submetidos ao Tribunal do Júri, em que os atos se repetem, agora, perante o Conselho de Sentença, não se esvazia a necessidade de prisão preventiva fundada na conveniência da instrução criminal, pela simples superveniência da sentença de pronúncia, porquanto esta encerra, tão-só e apenas a fase de formação da culpa e as testemunhas ainda serão ouvidas em plenário. 6. Ordem denegada, em consonância com o parecer ministerial.52

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. PACIENTE PRONUNCIADO POR HOMICÍDIO E TENTATIVA DE HOMICÍDIO CONTRA SUA EX-MULHER E FILHA, RESPECTIVAMENTE. PRISÃO PREVENTIVA. JUSTIFICAÇÃO IDÔNEA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. MODUS OPERANDI DA CONDUTA QUE DENOTA A PERICULOSIDADE DO PACIENTE. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. TEMOR DA VÍTIMA

52 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 100051 / GO, DJe 06/10/2008. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre =separa%E7%E3o+e+culpa &&b= JUR2&p=true&t=&l=20&i=3>..

50

SOBREVIVENTE E DAS TESTEMUNHAS. JÚRI. PROCEDIMENTO BIFÁSICO. INEXISTÊNCIA DE NULIDADES PROCESSUAIS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. ORDEM DENEGADA. 1. É fora de dúvida que o decreto de prisão cautelar há de explicitar a necessidade dessa medida vexatória, indicando os motivos que a tornam indispensável, dentre os elencados no art. 312 do CPP, como, aliás, impõe o art. 315 do mesmo Código. 2. In casu, além da materialidade do delito e de indícios suficientes de autoria, o decreto de prisão cautelar fundou-se, primordialmente, na necessidade de preservação da ordem pública, em razão da periculosidade do paciente, evidenciada pelo modus operandi da conduta criminosa (dois tiros desferidos no rosto da ex-esposa, um deles na testa), bem como da instrução criminal, ante a notícia de que a vítima da tentativa de homicídio (filha do acusado) ainda teme por sua vida e as testemunhas têm receio de depor em sua presença. 3. Nos crimes da competência do Tribunal do Júri, o procedimento é bifásico e a fase instrutória não se exaure com o proferimento da sentença de pronúncia contra o réu, pois a oitiva de testemunhas perante o plenário do Tribunal Popular é faculdade assegurada tanto à acusação quanto à defesa (arts. 467 e 468 do CPP), daí porque a custódia preventiva sob o fundamento de constranger testemunha deve ser mantida até aquela oitiva. 4. Nada impede que a vítima ingresse no feito como Assistente da Acusação (art. 268 do CPP). Já decidiu esta Corte que não há impedimento legal na referida participação do filho da vítima na qualidade de assistente de acusação, ainda que ele tenha sido ouvido como testemunha na fase inquisitorial (RMS 15.338/SP, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJU 16.12.02). 5. Tanto a defesa quanto a acusação e os Assistentes arrolaram tempestivamente suas testemunhas, sendo de conhecimento das partes aquelas que seriam ouvidas antes da data marcada para a audiência de instrução. 6. O art. 217 do CPP faculta ao juiz, uma vez verificado que a presença do réu poderá influir no ânimo da testemunha, de modo que prejudique a verdade do depoimento, retirá-lo, prosseguindo a inquirição com a presença de seu defensor, consignando em ata os motivos que determinaram o ato. Na hipótese, a Magistrada de primeiro grau fez constar no termo de audiência que as testemunhas da acusação foram todas ouvidas sem a presença do acusado em audiência em razão de pedido por elas formulado, inexistindo, por isso, qualquer constrangimento ilegal. 7. Consoante entendimento jurisprudencial desta Corte Superior e do col. STF, o limite de 8 testemunhas a serem arroladas pela acusação e pela defesa deve levar em consideração cada fato delituoso imputado ao acusado (HC 63.712/GO, Rel. Min. CARLOS FERNANDO MATHIAS, DJU 15.10.07 e REsp. 94.709/MG, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU de 09.11.98). 8. O Processo Penal rege-se pelo princípio pas de nullité sans grief, não devendo ser declarada nulidade sem a indicação ou a visualização mínima de prejuízo à defesa do acusado, sequer apontado no caso concreto. 9. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 10. Ordem denegada.53

PROCESSO PENAL - JÚRI - TENTATIVA DE HOMICÍDIO - PRELIMINAR - NULIDADE POR EQUÍVOCO NA QUESITAÇÃO - CONFIGURAÇÃO - OMISSÃO DE QUESITAÇÃO ACERCA DE FATO CONSTANTE DOS AUTOS E INVERSÃO NA ORDEM DOS

53 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 89382 / RS, DJe 22/09/2008. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=89382&&b =ACOR&p=true&t=&l=10&i=1>..

51

QUESITOS - AFRONTA AO ART. 483, DO CPP - RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. - Quando a quesitação sobre a desclassificação do fato é omitida pelo juiz, que, ademais, inverte a ordem dos quesitos subsistentes, tudo em desconformidade com o art. 483, do CPP, com a nova redação dada pela Lei nº 11.689/08, a anulação do julgamento é medida que se impõe. - Recurso provido. Julgamento cassado 54

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 121, § 2º, INCISOS I E IV C/C O ART. 14, INCISO II, AMBOS DO CP. JÚRI. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. APURAÇÃO DOS VOTOS. DISPENSA. QUORUM ALCANÇADO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. ART. 483 DO CPP, COM NOVA REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.698/2008. PREVISÃO EXPRESSA ACERCA DA INTERRUPÇÃO DO ESCRUTÍNIO QUANDO ALCANÇADO RESULTADO PELA MAIORIA DOS VOTOS. I - O procedimento adotado pelo Presidente do Tribunal do Júri, de interrupção na apuração dos votos de determinado quesito, quando já atingido quorum necessário para se alcançar o resultado final, não macula o feito, eis que dessa prática não decorre prejuízo ao acusado, não caracterizando, desse modo, nulidade sequer relativa (Precedentes). II - Outrossim, além de tal procedimento há muito ser chancelado por esta Corte, a Lei nº 11.689/2008, ao alterar o art. 483 do CPP, previu, expressamente, nos §§ 1º e 2º, que se adote esta orientação. Recurso especial provido para determinar a remessa dos autos ao e. Tribunal a quo, a fim de que julgue o apelo interposto pelo recorrido contra a r. sentença condenatória.55

RECURSO EX OFFICIO Nº 2009.007558-5 / NATAL RECORRENTE: JUÍZO DE DIREITO DA TERCEIRA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NATAL ENTRE PARTES: MINISTÉRIO PÚBLICO ENTRE PARTES: GILVAN FERREIRA DA SILVA ADVOGADO: BEL. BENEVALDO SILVA LOURENÇO (OAB/RN 2527) RELATOR: LUIZ ALBERTO DANTAS FILHO (JUIZ CONVOCADO) EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO SIMPLES. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA COM FULCRO NO ARTIGO 415, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.689/2008. LEGÍTIMA DEFESA RECONHECIDA PELO JUÍZO A QUO. RECURSO EX OFFICIO. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO SUSCITADA PELO PROCURADOR DE JUSTIÇA. ACOLHIMENTO. A Lei nº 11.689/2008 deu nova redação ao 411 do Código de

54 BRASIL. Tribunal de Justiça-MG: TJMG: 103320300804250021 MG 1.0332.03.008042 -5/002(1). Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6014638 /103320300804250021-mg-1033203008042-5-002-1-tjmg>.. 55 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial: REsp 957993 / RN, DJe 22/06/2009. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=957993&&b=ACOR&p= true&t=&l=10&i=1>..

52

Processo Penal, extinguindo a previsibilidade do recurso de ofício da decisão que absolve sumariamente o agente. Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Desembargadores da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, em Turma, por unanimidade, acolher a preliminar de não conhecimento do recurso ex officio suscitada pela 1ª Procuradoria de Justiça, nos termos do voto do Relator. RELATÓRIO GILVAN FERREIRA DA SILVA, qualificado, foi denunciado como incurso no artigo 121, caput, do Código Penal, pelo fato de no dia 30.05.1999, por volta de 08h, utilizando um facão, desferiu um golpe fatal na vítima Carlos Alfredo da Silva. Ainda de acordo com a peça acusatória, o crime foi motivado porque a vítima, sem autorização, montou na bicicleta do denunciado, tendo este reclamado sua bicicleta de volta, oportunidade em que o ofendido deixou-a cair e “esfregou” o dedo no nariz do denunciado, proferindo palavras impublicáveis contra o mesmo. Após discussão os ânimos foram apaziguados e os envolvidos se dirigiram às suas respectivas residências, se armaram e em novo encontro a vítima, sorrateiramente, encostou uma faca no pescoço do réu dizendo-lhe que se quisesse matá-lo o faria naquele momento. Entretanto, guardou a faca na cintura e, em seguida, foi ferida com um golpe de facão desferido pelo seu algoz (fls. 01/02). Concluída a instrução o MM. Juiz a quo, entendendo que a conduta de Gilvan Ferreira da Silva preencheu todos os requisitos da legítima defesa, reconheceu em favor do mesmo a excludente de ilicitude, absolvendo-o com esteio no artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal (fls. 52/54). Em seguida, determinou a remessa dos autos ao juízo ad quem nos termos do artigo 574, inciso II, do Código de Processo Penal (despacho de fls. 55). Em parecer de fls. 60/66, o 1º Procurador de Justiça suscitou preliminar de não conhecimento do recurso ex officio e no mérito, opinou pelo improvimento do recurso (fls. 108/111). É o relatório. VOTO O 1º Procurador de Justiça, Dr. Anísio Marinho Neto, instado a emissão de parecer suscitou preliminar de não conhecimento do recurso ex officio sob o fundamento de que tal previsão recursal “sequer existe mais, pois conforme já vem decidindo a Jurisprudência, '(...) A nova Lei que rege o procedimento do Tribunal do Júri, Lei nº 11.689/2008, suprimiu o Recurso de Ofício na hipótese de decretação da absolvição sumária (art. 415 em substituição ao art. 411), bem como revogou tacitamente o inciso II, do art. 574, do Código de Processo Penal (...)' 56 ”. Dou consistência à preliminar arguida pelo Parquet uma vez que de acordo com os autos, a decisão absolutória foi prolatada em

56 TJGO, 1ª Câmara Criminal, Recurso Ex Officio nº 200805939860/São Luiz de Montes Belos, Rel. Des. Jamil Pereira de Macedo, j. 17.03.2009.

53

16.06.2009, ou seja, em data posterior à edição da Lei nº 11.689, de 9 de junho de 2008, que deu nova redação ao artigo 411 do Código de Processo Penal, suprimindo a previsibilidade de recurso ex officio da decisão que absolve o réu caso reconhecida alguma excludente de ilicitude. Ressalte-se que muito embora o recurso tenha sido interposto com esteio no artigo 574, inciso II, do Código de Processo Penal, a novel lei revogou, tacitamente, este dispositivo.

Sobre a matéria, Guilherme de Souza Nucci leciona com bastante propriedade:

“Buscando resguardar a soberania dos veredictos e a competência do Tribunal Popular, impunha a lei que a decisão do juiz, absolvendo sumariamente o réu, nos processos do júri, fosse revista pelo órgão jurisdicional superior. Realmente, se o foro competente para deliberar sobre os crimes dolosos contra a vida é o Tribunal do Júri, somente em casos excepcionais poderia o juiz afastar o conhecimento do caso dos jurados. Por isso, havia duplo controle da admissibilidade da acusação. Entretanto, com a reforma introduzida pela Lei 11.689/2008, não há mais sentido em se utilizar o duplo grau obrigatório no caso da absolvição sumária. Há duas principais razões para tanto: a) o inciso II do artigo 574 faz expressa referência ao recurso de ofício. Ora, o art. 415, que agora cuida da absolvição sumária, nenhuma alusão faz a essa modalidade de recurso. Ao contrário, no art. 416, especificou-se ser a apelação, recurso tipicamente voluntário, o adequado para impugnar a sentença de absolvição sumária; b) a previsão feita, anteriormente, para o processamento do recurso de ofício, dizia respeito às absolvições calcadas em excludentes de ilicitude ou de culpabilidade (eram as únicas possibilidades previstas pela antiga redação do art. 411). O atual art. 415 aumentou as hipóteses para a absolvição sumária do réu, sem falar em recurso de ofício. Portanto, seria ilógico e descompassado que o juiz absolvesse sumariamente o réu, com base no art. 415, I, por exemplo, mas não recorresse de ofício, embora se o fizesse com base no art. 415, IV, tivesse que determinar a subida do processo obrigatoriamente. Parece-nos, pois, finda a possibilidade de recurso de ofício em casos de absolvição sumária no procedimento do júri.”57

Dessa forma, ausente previsão legal, não há como conhecer o recurso ex officio. A propósito, esta Câmara decidiu recentemente: “EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. RÉU INIMPUTÁVEL À ÉPOCA DO FATO. RECURSO EX OFFICIO. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO, SUSCITADA PELO PROCURADOR DE JUSTIÇA. ACOLHIMENTO.

57 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 8ª edição rev., atual. e ampl. 3ª tir. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 921.

54

Diante da nova redação do art. 411 do Código de Processo Penal, advinda da Lei nº 11.689/08, não há mais previsibilidade do recurso ex officio da decisão que absolve sumariamente o réu.” (Recurso ex officio nº 2009.003043-3, Relator: Desembargador Caio Alencar, julgado em 26.05.2009)

Na mesma vertente, outros Tribunais vem se posicionando:

TJ/RS. “EMENTA: RECURSO DE OFÍCIO INTERPOSTO POR JUÍZA QUE ABSOLVEU SUMARIAMENTE RÉU DENUNCIADO PELA PRÁTICA DE HOMICÍDIO SIMPLES CONSUMADO. NÃO CONHECIMENTO. REVOGAÇÃO DE TAL MEDIDA PELA LEI N.º 11.689/2008. (...) É que a Lei n.º 11.689/2008 alterou a redação do ancestral art. 411 do Código de Processo Penal, que agora trata, na verdade, da audiência de instrução. Já a nova escrita do art. 415 do Diploma Penal Adjetivo, que cuida da absolvição sumária hodiernamente, não fez qualquer referência à antiga determinação de o juiz recorrer ex officio de sua decisão. Além disso, a nova redação do art. 416 do Diploma Processual Penal preceitua que: "Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação”. Logo, sendo a apelação um recurso voluntário das partes, concluo que o antigo reexame necessário foi abolido do ordenamento jurídico pátrio. Buscando ampla doutrina sobre o assunto encontrei respeitável posicionamento no sentido de que a decisão de absolvição sumária ainda seria recorrível de ofício em razão do disposto no art. 574, II, da Lei Processual Penal, de modo que mesmo inexistindo apelação voluntária, o magistrado de primeiro grau teria que submeter sua decisão a reexame sob o crivo do segundo grau, como condição para o seu trânsito em julgado. No entanto, ouso discordar de tal visão. É que o art. 574, II, da Lei Processual Penal refere-se explicitamente ao art. 411 do mesmo Diploma, que teve seu conteúdo alterado pela Lei n.º 11.689/2008, como já referido, não abarcando mais o tema alusivo à absolvição sumária, agora regrada pela nova composição do art. 415 do Código de Processo Penal. Este, por sua vez, não fez qualquer alusão ao recurso interposto ex officio. Dessa maneira, diante da análise lógico-sistêmica da Lei Processual Penal, entendo que o inciso II do art. 574 deveria ter sido expressamente revogado pelo legislador, o que não ocorreu por motivo que não resta claro, mas que a meu ver, não foi o de manter o recurso de ofício nos casos de absolvição sumária declarada pelo juiz de primeira instância. Ademais, tal medida era incompatível com o sistema acusatório adotado pela Constituição Federal de 1988, já que conforme o inciso I de seu art. 129, é função institucional privativa do Ministério Público promover a ação penal pública. Em outra mão, com relação à aplicação intertemporal da regra, levando-se em conta que a supressão do recurso de ofício beneficia garantia constitucional do acusado, “direito à liberdade”, pacífico que tem imediata aplicação a Lei n.º 11.689/2008, devendo retroagir aos fatos antecedentes à data de sua vigência, inclusive aos eventuais recursos interpostos de ofício que ainda não tenham sido julgados, como o presente. Recurso não conhecido.” (destaque parcial) (TJ/RS, Recurso de Ofício Nº 70028617363, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Julgado em 20/05/2009)

55

CONCLUSÃO

Após todo narrado verifica-se que a lei é, para o juiz togado, um

mecanismo de controle da sociedade sobre o poder que esta lhe atribuiu. Já

no Júri, onde a sociedade atua diretamente, não se pode pretender exercitar o

controle nos mesmos níveis que os realizados pelo Magistrado. Por tal razão, a

lei estabelece um campo máximo punitivo, o qual, porém, pode não ser

atingido se os cidadãos jurados se convencerem, livres de qualquer pretensão

(pois não tem carreira a seguir na estrutura do Estado), que o mais importante

para os interesses da própria sociedade é não punir determinada pessoa, ou

realizar uma punição aquém do que o tecnicismo positivo pregaria.

O Tribunal do Júri, como elemento estrutural da democracia, julga,

portanto, buscando aferir a reprovabilidade social com relação à determinada

conduta, analisando todos os seus aspectos e implicações, sempre em busca

de atingir o supremo interesse do corpo social, tendo na lei um limite máximo

punitivo, não uma regra de obrigatória incidência.

Desta forma, o Tribunal do Júri tem por finalidade ampliar o direito de

defesa dos réus, funcionando como uma garantia individual dos acusados pela

prática de crimes dolosos contra a vida e permitir que no lugar do juiz togado,

preso a normas jurídicas, sejam julgados pelos seus iguais.

Não se aplica ao Tribunal do Júri, em relação à votação, o princípio da

publicidade dos atos jurídicos, disposto expressamente no artigo 93, inciso IX,

da Carta Magna de 1988.

O aludido PL 4.203/01 foi sancionado pela Presidência da República

sem nenhum veto e, através da MSC 349/2008, operou-se a comunicação à

Câmara dos Deputados da aludida sanção do texto, ora convertido na Lei n.

11.689, de 09 de junho de 2008, com vacatio legis de sessenta dias. Pelo

Ofício n. 339/08/PS-GSE, a Câmara dos Deputados comunicou ao Senado

Federal a conversão em lei da matéria em apreço.

56

Inspirado na racionalização e simplificação, o texto reformador da Lei n.

11.689/2008, em primeiro lugar, procurou adequar o procedimento do júri a

uma estrutura permeada pelos princípios e garantias fundamentais, albergados

na Constituição da República de 1988. Para tanto, a referida legislação

redesenhou e deu nova aparência a alguns institutos processuais e excluiu

outros por não mais representarem os ideais aos quais foram inicialmente

concebidos ou ratificados pelo Código de Processo Penal de 1941.

Uma expressiva alteração diz respeito à simplificação do procedimento

na etapa inicial do procedimento – iudicium accusationis – referente ao exame

da admissibilidade acusatória, seguindo uma tendência a ser adotada para

todos os demais procedimentos criminais, constantes no sistema pátrio.

Cumpre ressaltar algumas das principais alterações referentes ao novo

procedimento do júri.

A competência do Tribunal do Júri restringe-se ao julgamento pelos

crimes dolosos contra a vida, sendo os crimes previstos nos artigos 121, §§ 1°

e 2°, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, sejam

na forma consumada ou tentada. Competência prevista no artigo 74, § 1° do

Código de Processo Penal.

O procedimento do Tribunal do Júri é bifásico. A primeira fase

denomina-se doutrinariamente de sumário de culpa, já a segunda fase é

denominada de sessão plenária.

Não estando demonstrada de forma suficiente a autoria da prática do

crime, o magistrado deverá impronunciar o acusado com fundamento no in

dubio pro reo, e não remetê-lo ao Tribunal de Júri.

Com a função garantidora da pronúncia e os direitos e garantias

constitucionais, não se justifica a utilização do princípio do in dubio pro

societate, por ser incerto e ambíguo.

De forma incontestável, assevera o texto constitucional de 1988 que os

veredictos do júri são soberanos. No procedimento do júri, a competência para

julgamento do mérito encontra-se dividida em dois estágios distintos. Enquanto

57

o Conselho de Sentença decide a respeito da existência do fato e da autoria ou

participação do réu e se deve ser absolvido, o juiz presidente do tribunal, por

sua vez, estabelece a pena infligida ao acusado em caso de condenação ou

declara sua absolvição, sempre respeitando o teor da decisão dos jurados.

Os veredictos são as decisões que são emanadas do Conselho de

Sentença, a primazia da vontade popular. Nesse contexto, assenta-se a

soberania dos veredictos do Tribunal do Júri na impossibilidade de ser a

decisão dos jurados substituída pela de um magistrado togado na decisão de

uma causa de sua competência.

Em suma, o preceito constitucional indica o impedimento de que as

decisões do Conselho de Sentença sejam modificadas em grau recursal. Se

está pacífico que não pode haver a substituição de uma decisão soberana do

júri pela decisão de um magistrado ou colegiado togado, por outro lado

desperta a atenção o fato de que possa haver erro na decisão do Conselho de

Sentença.

Para tanto, nos casos de erro na referida decisão, dois caminhos são

apontados pelo próprio ordenamento jurídico nacional. Se as provas que foram

apresentadas no plenário do tribunal pelas partes foram equivocadamente

avaliadas pelos jurados e daí resultou erro quando da votação dos quesitos, a

parte prejudicada pode manejar o recurso de apelação, em atenção ao

princípio do duplo grau de jurisdição.

Nesse caso, o juízo ad quem, convencendo-se que houve decisão

adversa ao conteúdo probatório, deve dar provimento ao recurso para

encaminhar o réu a novo julgamento pelo júri, logicamente com a análise da

causa a cargo de outros jurados.

Em segundo lugar, uma vez transitada em julgado a sentença

condenatória, se despontar uma nova prova da inocência do condenado que

torne essencial a realização de um novo julgamento pelo júri, o caminho a ser

tomado é o da ação de revisão criminal.

Também no caso de ser acolhida a revisão criminal, deve cessar a

eficácia da primeira decisão e o condenado naquele júri deve ser encaminhado

58

a novo julgamento perante um distinto Conselho de Sentença, o qual emitirá

um veredicto.

A revisão criminal dos veredictos do júri pode perfeitamente

proporcionar esse efeito, tendo em vista que se trata de uma norma que foi

instituída com o fito de proporcionar o amplo direito à defesa.

A nova lei, suscita inúmeras discussões sobre a violação do Princípio da

Soberania ao Júri, pois a soberania dos veredictos é a força do Júri, sendo a

quesitação a peça chave do exercício dessa soberania, pois é a forma de ser

conhecida a decisão, e da forma como a mesma vem sendo proposta pela lei

em tela torna-se impossível aferir com a total e límpida clareza qual a decisão

dos jurados no julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

Restando que a doutrina se divide e vem criticando no seguinte sentido

quanto ao princípio da soberania dos veredictos, pois parte confere aos

jurados o status de juiz, podendo julgar a causa e outros assim não

consideram.

É imperativo que se defenda a soberania dos veredictos, pois tal

princípio vem incrustado na Constituição Federal de 1988, denominada

Constituição Cidadã, e portanto deve ser respeitado.

Assim, as novas alterações ferem o princípio da soberania dos

veredictos, pois minimizam o poder dos jurados, mais que isso não levam em

conta a essência deste veredicto.

59

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANSANELLI JÚNIOR, Ângelo. O Tribunal do Júri e a Soberania dos Veredictos. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005 ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007 ARMITAGE, John. História do Brasil: desde o período da chegada da família de Bragança, em 1808, ate a abdicação de D. PEDRO I, em 1831, compilada à vista dos documentos públicos e outras fontes originais formando uma continuação da história do Brasil. São Paulo: USP, 1981 BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. Traduzido por: Márcio Pugliesi, Edson Bini e Carlos Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1995 CADEMARTORI, Sérgio; XAVIER, Marcelo Coral. Apontamentos iniciais acerca do garantismo. Revista de Estudos Criminais. n.1. Porto Alegre: Notadez, 2001 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2007 CARVALHO, Salo de. Pena e Garantias. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003 CARVALHO, Salo de; CARVALHO, Amilton Bueno de. Aplicação da pena e garantismo. 3. ed. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2004 COSTA JÚNIOR, José Armando da. O tribunal do júri e a efetivação de seus princípios constitucionais. 107p. Mestrado em Direito Constitucional [dissertação]. Centro De Ciências Jurídicas. Fundação Edson Queiroz. Universidade De Fortaleza - UNIFOR, 2007 D'ALESSANDRO, Araína Cesárea Ferreira dos Santos. Os princípios do Júri Popular e a Lei nº. 11.698-2008. Disponível em: <http://www.jurid.com.br/new/jengine.exe/cpag?p=jornaldetalhe doutrina&ID=55833>.. DUSSEL, Enrico. Caminhos para a libertação latino-americana. São Paulo: Paulinas, 1984. v.II FEITOZA, Denilson. Direito Processual Penal – teoria, crítica e práxis. 6. ed. ver., ampl. e atual. com a “Reforma Processual Penal” (Leis 11.689/2008, 11.690/2008 e 11.719/2008) e a Videoconferência (Lei 11.900/2009). Niterói: Impetus, 2009

60

FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Madrid: Editorial Trotta, 2000 FEU ROSA, Antônio José Miguel. Processo Penal. Brasília: Consulex, 1999 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2001 GOMES, Luiz Flávio. In: LFG - rede de ensino Luiz Flávio Gomes. 19 abr. 2006. Disponível em: <http://www.lfg.com.br/public_html/article.>.. GOMES, Márcio Schlee. A inconstitucionalidade da quesitação na reforma do júri. Arts. 482 e 483 da Lei nº 11.689/08. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1874, 18 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11616>. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2003 JESUS, Damásio Evangelista de. Código de Processo Penal anotado. São Paulo: Saraiva, 2008 MOURA, Genney Randro Barros de. Em defesa da soberania dos veredictos do júri. Busca Legis. 07/07/2009. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/ viewFile /31638/30926>. NASSIF, Aramis. O novo Júri brasileiro: conforme a Lei 11.689/08, atualizado com as Leis 11.690/08 e 11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 6. ed. rev. atual. ampl. 2. tiragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 8ª edição rev., atual. e ampl. 3ª tir. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008 PIMENTA, José da Costa. Introdução ao processo penal. Coimbra: Almedina, 1989 PEREIRA, José. Tribunal do Juri. no Brasil. Monografias. com. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/tribunal-juri-brasil/tribunal-juri-brasil.shtml PORTO, Hermínio Alberto Marques. Júri: procedimentos e aspectos do julgamento: questionários. 11. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005

61

PRADO, Luiz Regis. Direito Penal – Parte Geral. 2. ed. ref., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 4 v. SILVA, Marco Antonio Marques da. Acesso à justiça penal e estado democrático de direito. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001 SIQUEIRA FILHO, Mariano. Curso básico de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1980 STAMFORD, Artur. O magistrado e as audiências judiciais. Para uma aplicabilidade judicial da Teoria da Justiça de Rawls e da Legitimação pelo Procedimento de Luhmann. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, dez. 1998. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id= 810>.. STRECK, Lenio Luiz; COPETTI, André. O direito penal e os influxos legislativos pós-constituição de 1988: um modelo normativo eclético consolidado ou em fase de transição? In: FAYET JÚNIOR, Ney (org.). Ensaios Penais em Homenagem ao Professor Alberto Rufino Rodrigues de Souza. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2003 ROJO, R. E. A nova cena da “democracia jurídica”. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, maio/2005. Disponível em: http://www.direito.ufrgs.br/processoeconstituicao/cursos/ arquivosdocurso/2005.05.30%20%20Raul%20Rojo%20-%20A%20NOVA%20CENA%20DA%20 DEMOCRACIA%20JUDICIAL.doc. >.

62

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8

1 ABORDAGEM HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI ............................... 11

1.1 A origem do Tribunal do Júri no Brasil ................................................. 14

1.2 Princípios Constitucionais Básicos ....................................................... 19

1.2.1 Plenitude de Defesa ..................................................................... 19

1.2.2 Sigilo na Votações ...................................................................... 21

1.2.3 Soberania dos Veredictos ............................................................ 23

1.2.4 Competência Mínima para Julgamento dos Crimes Dolosos Contra

a Vida .................................................................................................... 25

1.3 Teoria Garantista no Brasil ................................................................ 27

1.4 Cláusula Pétrea .................................................................................. 30

2 OS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ........................ 32

2.1 Princípio da legalidade ...................................................................... 32

2.2 Princípio da reserva legal .................................................................. 34

2.3 Princípio da anterioridade .................................................................. 35

2.4 Princípio da proporcionalidade da pena.............................................. 35

2.5 Princípio do estado de inocência........................................................ 36

2.6 Princípio da igualdade ....................................................................... 36

2.7 Princípio do “no bis in idem” ............................................................... 37

2.8 Princípio da adequação social ........................................................... 37

2.9 Princípio da ofensividade ................................................................... 37

2.10 Princípio da culpabilidade .................................................................. 37

3 O ASPECTO NORMATIVO-PROCESSUAL DO TRIBUNAL DO JÚRI NO

BRASIL .......................................................................................................... 39

3.1 A lei n. 11.689/2008 e o princípio da soberania dos veredictos .......... 40

3.2 Decisões dos Tribunais de Justiça sobre o procedimento do Tribunal

do Júri após as alterações legislativas ...................................................... 48

CONCLUSÃO ............................................................................................... 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................... 59

ÍNDICE .......................................................................................................... 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO .............................................................................. 63

63

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: AVM FACULDADE INTEGRADA

Título da Monografia:

A LEI N. 11.689/2008 E A NOVA SISTEMÁTICA DO TRIBUNAL DO JÚRI:

UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

Autor: Valmir Fernandes dos Santos

Data da entrega: 00 Jul 2012

Avaliado por: Francis Rajzman Conceito: