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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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O ABUSO DO PODER DE POLÍCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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POR: VALÉRIA MENDONÇA DOS SANTOS <>
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Orientador
Prof. Francis Rajzman
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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O ABUSO DO PODER DE POLÍCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA <>
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Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Direito Penal
Por: Valeria Mendonça dos Santos
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus por ser a luz da
minha vida e sempre estar ao meu
lado.
Em especial aos professores e
professoras da Universidade Candido
Mendes que através da dedicação
profissional, contribuíram para a
realização deste trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico está monografia à Deus, à
minha família, e aos meus amigos onde
sempre encontro abrigo nas
dificuldades, pelo incentivo e presenças
constantes em minha vida
5
RESUMO
A escolha deste tema para o projeto se refere a analisar o abuso do
Poder de Polícia na Administração Pública. No primeiro capítulo, buscar-se-á
enfocar uma breve notícia histórica, a respeito do surgimento do poder de
polícia, sua atuação diante das civilizações antigas, passando desde a Idade
Média até os dias atuais. Já no segundo capítulo, buscar-se-á enfocar a
atuação da Administração Pública, desde sua característica, natureza e fins,
princípios, poderes e deveres, visando ao bem estar da coletividade. Enquanto
que no terceiro capítulo, buscar-se-á enfocar o que seria este poder dever de
polícia, passando desde o seu conceito, competência, espécies, finalidades e
sua legitimidade na Administração Pública. Por fim buscar-se-á relatar o abuso
do poder de polícia na Administração Pública, com enfoque da jurisprudência e
o direito comparado, como meios de verificar o modo e a maneira como é
cometido este abuso de poder.
6
METODOLOGIA
A monografia foi desenvolvida através uma pesquisa bibliográfica em
livros de doutrinadores pessoas relacionadas com o tema para esclarecer os
conceitos de poder de policia e Administração Pública Estes dados
bibliográficos depois de coletados e organizados serão analisados e
distribuídos na introdução, capítulos e conclusão para a estruturação e
montagem do Trabalho de Conclusão de Curso. Esta análise será feita por
meio de fichamento dos textos, avaliação de estatísticas e resumos de artigos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPITULO I – ENTENDIMENTO SOBRE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10
CAPITULO II – PODER DE POLÍCIA: CONCEITO, COMPETÊNCIA,
ESPÉCIES, FINALIDADES
32
CAPITULO III – O ABUSO DO PODER DE POLICIA NA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
43
CONCLUSÃO 54
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 56
BIBLIOGRAFIA CITADA 57
ÍNDICE 59
FOLHA DE AVALIAÇÃO 60
8
INTRODUÇÃO
A matéria objeto da presente monografia reporta-se ao abuso do poder
de polícia na Administração Pública, considerando como um tema debatido
dentro da doutrina jurídica administrativa, e indiscutivelmente de conteúdo e
exercício pela Administração Pública, do que se convenciona chamar de poder
de polícia. Com a abordagem do presente tema, busca-se esclarecer a análise
do poder de polícia e seus limites dentro da área de sua atividade, a qual a
Administração Pública, não pode divorciar-se dos fins propostos, e limitar de
modo direto, as liberdades fundamentais em prol do bem comum, ou seja, o
interesse da coletividade, a fim de evitar que ela descambe para o arbítrio, ao
abuso do poder.
Vale ressaltar que o tema é bastante polêmico, onde o mesmo é
revestido de algumas ponderações a ser delineada no decorrer dessa pesquisa
monográfica, ou seja, abordar-se-á, como o regime jurídico administrativo, a
que se submete a Administração Pública, são analisados sob dois aspectos
fundamentais que o caracterizam, ou seja, prerrogativas concedidas à
Administração Pública, para assegurar o exercício de suas atividades, e
sujeições, como limites opostos à atuação administrativa em benefício dos
direitos dos cidadãos, colocam em confronto dois aspectos: a autoridade da
Administração Pública e a liberdade individual?
No entanto, o poder de polícia coloca em confronto dois aspectos
primordiais: tendo como primeiro, o indivíduo que quer exerce com plenitude os
seus direitos e o segundo, a Administração Pública que tem como incumbência
condicionar o exercício ao bem-estar coletivo, e a ela fazer uso de seu poder
de polícia. Portanto, até que ponto poderá a Administração Pública, atuar com
adequação e legalidade, sem abusar de seu poder para que constitua a
validade do ato de polícia? De contrapartida, o poder de polícia constitui um
meio eficaz de assegurar os direitos individuais porventura ameaçados?
9Enfim, a Administração Pública exerce o poder decorrente de um
dever, o qual deve colocar em prática, sem que ultrapasse os limites de sua
atribuição ou desvie de suas finalidades, já que o exercício de qualquer direito
pressupõe limitações. Esse enfoque está interligado na busca da atuação do
Estado de direito, a submeter-se às regras editadas pela Administração Pública
através de seus poderes, e com base neles, exercitar o seu poder de polícia,
pacificar conflitos eventualmente surgidos entre os mais variados integrantes
da sociedade, enfocando principalmente o abuso do poder, sua condições de
validade e atuação.
Entretanto, é preciso ressaltar que, sendo o poder de polícia um meio
indispensável de ação dos governantes na prática o dever de boa
administração e, um poder discricionário, tal característica o coloca em maior
destaque quanto à necessidade do controle de legalidade na sua atuação, de
modo a conter-se, oportunamente, os excessos ou os desvios da administração
pública, como noção que encontra abrigo no ordenamento pátrio, tanto na
doutrina como na legislação e jurisprudência. Contudo, procura-se, fazer
considerações a respeito do tema, para que possa formular uma opinião sobre
a aplicação do uso do poder de polícia, na Administração Pública, como meio
de condicionar e restringir o uso, gozo de bens, atividades e direitos individuais
em benefício da coletividade ou do próprio Estado.
Enfim, a metodologia utilizada para a exposição do tema abuso do
poder de polícia na administração pública, abordará uma pesquisa exploratória,
com uma abordagem teórica de embasamentos doutrinários, jurisprudenciais,
legislativos, através de uma bibliografia básica, como livros de Direito
Administrativo, Revistas dos Tribunais e Forense, bem como dicionários
especializados e meios complementares para enriquecer o trabalho, como a
Internet, instrumento valioso de levantamento de informações, quando utilizado
com critério e correção, que se destinam a elucidar dúvidas, formular
problemas e construir hipóteses que se associam ao tema formulado a ser
investigado mais detidamente.
10
CAPÍTULO I
ENTENDIMENTO SOBRE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Este capítulo abordará o conceito, as características, finalidades,
princípios, poderes e deveres da Administração Pública, através de sua
atuação, visando ao bem estar da coletividade.
Em todo os países, qualquer que seja sua forma de governo ou
organização política existe uma administração pública. O aparelho
administrativo executa diferentes funções, tais como a ingerência nas relações
entre particulares, garantindo-lhes maior segurança jurídica, a publicidade aos
atos em que são interessados e realiza sua fiscalização.
A etimologia da palavra Administração significa “gerir, zelar”, enfim uma
ação dinâmica de supervisão, e o adjetivo pública, algo ligado ao Poder
Público, como também à coletividade ou ao público em geral.
Contudo, a administração pública não oferece contornos bem definidos,
quer pela diversidade de sentidos da própria extensão, quer pelos diferentes
campos em que se desenvolve a atividade administrativa, e pelo próprio
número de órgãos e agentes públicos incumbidos de sua execução, que
exatamente para melhor precisar o sentido da expressão, sob a ótica dos
executores da atividade pública, de um lado, e da própria atividade de outro.
Em sentido objetivo, administrar é gerir, zelar interesses, segundo a lei, a moral
e a finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheias. Se os bens
e interesses geridos são individuais, realiza-se administração particular, mas
se são da coletividade realiza-se administração pública.
No entanto, o sentido subjetivo, pode também significar o conjunto de
agentes, órgãos e pessoas jurídicas que tenham a incumbência de executar as
atividades administrativas, tomando-se, em consideração o sujeito da função
administrativa, ou seja, quem exerce de fato. Portanto, não deve ser
confundida com qualquer dos poderes estruturais do Estado, sobretudo o poder
Executivo, ao qual se atribui usualmente a função administrativa.
11Entretanto José dos Santos Carvalho Filho, argumenta que:
É importante destacar a função administrativa em si, e não o poder em que ela é exercida, embora, seja o poder Executivo o administrador por excelência, nos poderes Legislativo e Judiciário há numerosas tarefas que constituem atividade administrativa, como exemplo, das que se referem à organização interna dos seus serviços e dos seus servidores. Desse modo, todos os órgãos e agentes, que integram as entidades estatais (União, Estados. Distrito Federal e Municípios) que, em qualquer desses poderes, estejam exercendo função administrativa, serão integrantes da Administração Pública. Todavia, existem algumas pessoas jurídicas incumbidas pela Administração Pública, da execução da função administrativa, que são as autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações públicas, que no primeiro caso, temos Administrações Diretas, responsáveis pelo desempenho das atividades administrativas de forma centralizada; no segundo, se forma a Administração Indireta, exercendo as entidades integrantes a função administrativa descentralizadamente (2009, p. 7).
A ação administrativa manifesta-se no condicionamento da liberdade e
da propriedade dos particulares, no exercício do poder de polícia, de modo a
harmonizar o direito de liberdade e propriedade de seus semelhantes. Cabe,
também à Administração Pública as repartições administrativas que atuam na
realização de obras e na prestação de serviços públicos, tais como, a extinção
de incêndios, assistência médico-hospitalar, saneamento básico, difusão do
ensino em escolas públicas, serviços de transporte, criação de parques e
jardins, abertura de praças e avenidas e construções de viadutos e de obras de
arte em geral, para a utilização dos particulares. Sendo assim, a organização
da Administração Pública, ou seja, a estrutura legal das entidades e órgãos que
irão desempenhar as funções, através de agentes públicos (pessoas físicas),
faz-se normalmente por lei, e excepcionalmente por decreto e normas
inferiores, quando não exige a criação de cargos e nem aumento a despesa
pública.
Nessa mesma linha de pensamento, Hely Lopes Meirelles
argumentava que:
A respeito do modo de atuação da organização da Administração Pública, e as designações no cumprimento dos atos atribuídos aos agentes com base legal: Neste campo atua o moderno Direito Administrativo organizatório, auxiliado pelas contemporâneas técnicas de administração, aquele estabelecendo o ordenamento jurídico dos órgãos das funções e dos agentes que irão desempenhá-las, e estas informando sobre o modo mais eficiente e econômico de realizá-las em benefício da coletividade (2003, p. 62).
12
Logo, o termo administração e administrador importam sempre a idéia
de zelo e conservação de bens e interesses, ao passo que as expressões
propriedade e proprietário trazem a idéia de disponibilidade e alienação.
Percebe-se em alguns textos pesquisados, que os poderes normais do
administrador são simplesmente de conservação e utilização dos bens
confiados à sua gestão, necessitando sempre de consentimento especial do
titular de tais bens e interesses para os atos de alienação, oneração, destruição
e renúncia. Esse consentimento na Administração Pública deve vir expresso
em lei (CARVALHO FILHO, 2009, p. 83).
Observa-se, também na Administração Pública, os atos de império, que
são aqueles que contém uma ordem ou decisão coativa da Administração para
o administrador, como o caso de um decreto expropriatório, um despacho de
interdição de atividades ou uma requisição de bens, como também, o ato de
gestão, que é aquele que ordena a conduta interna da Administração e de seus
servidores, ou cria direitos e obrigações entre ele e os administrados, tais como
os despachos que determinam a execução de serviços públicos, os atos de
provimento de cargo e movimentação de funcionários, autorizações e
permissões, bem como os contratos em geral.
Finalmente os atos de expediente, que realiza o preparo e
movimentação de processos, recebimento e expedição de papéis e despachos
rotineiros, sem decisão do mérito administrativo. Pois, para prática desses atos,
principalmente de império e de gestão, o agente deve ter investidura e
competência legais, em razão, de ser ilegal quando o agente é simplesmente
designado, para responder pelo expediente na vaga ou ausência do titular
(CARVALHO FILHO, 2009, p. 84).
Portanto, estas designações constituem, muitas vezes, uma burla as
exigências constitucionais e legais de concurso e de aprovação pelo poder
Legislativo para o provimento do cargo ou da função pelo poder Executivo, ao
contrário, dos cargos de Vice-Presidente da República, Vice-Governador, Vice-
Prefeito, Vice-Diretor, que têm competência plena quando na substituição,
quando designado para responder, que só pode movimentar os processos e
13papéis de rotina, sem praticar atos decisórios ou contratuais (CARVALHO
FILHO, 2009, p. 84).
A natureza da administração pública é de um múnus público, para
quem a exerce, isto é, de um encargo de defesa, conservação e
aprimoramento dos bens e interesses da coletividade. Como tal impõe-se ao
administrador público, a obrigação de cumprir fielmente os preceitos do direito
e da moral administrativa, que regem a sua função.
O agente do poder, ao ser investido em função ou cargo público,
assume o compromisso perante a coletividade, de bem servi-la, porque não há
outro, senão o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e
interesses administrados pelo Estado.
Ressalta-se, que na administração pública essas ordens e instruções
estão concretizadas nas leis, regulamentos e atos especiais, dentro da moral
da instituição, diferente na administração particular, o administrador recebe do
proprietário as ordens e instruções de como administrar as coisas que lhe são
confiadas.
Nesse entendimento busca-se, através do desempenho do agente do
Poder Público, dar fim almejado prescrito em lei para a atividade, não podendo
de deixar de cumprir os deveres, nem renunciar a qualquer parcela dos
poderes e prerrogativas que lhe são conferidos. Isto porque, os deveres,
poderes e prerrogativas não lhe são outorgados em consideração pessoal, mas
sim para serem utilizados em benefício da comunidade administrativa.
No caso dos princípios administrativos, estes são os postulados
fundamentais que inspiram todo o modo de agir da Administração Pública, que
norteiam a conduta do Estado quando no exercício de atividades
administrativas, pois, representam papel relevante no ramo do Direito,
permitindo à Administração e também ao poder Judiciário, estabelecer o
necessário equilíbrio entre os direitos administrados e as prerrogativas da
Administração Pública.
Sabe-se, que os princípios fundamentais e que decorrem da assinalada
bipolaridade do Direito Administrativo, liberdade do indivíduo e autoridade da
Administração, são os princípios da legalidade e da supremacia do interesse
14público sobre o particular, que não são específicos do Direito Administrativo
porque informam todos os ramos do Direito Público. No entanto, são
essenciais, porque a partir deles, constroem-se todos os demais. Dando
seguimento ao raciocínio, Maria Sylvia Di Pietro, faz colocação a respeito dos
princípios fundamentais e alguns reconhecidos pela Constituição Estadual
mencionados a seguir:
Observa-se, na Constituição Federal de 1988, ao inovar ao fazer expressa menção a alguns princípios a que se submete a Administração Pública Direta e Indireta, a saber, os princípios da legalidade, da impessoalidade ou finalidade, da moralidade administrativa, da publicidade e eficiência, com base no artigo 37, caput, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98, e aqueles reconhecidos, os quais a Constituição Estadual acrescentou que são, os princípios da supremacia do interesse público, autotutela, indisponibilidade, continuidade do serviço público, razoabilidade e proporcionalidade (2003, p. 67).
Dentre os princípios fundamentais da Administração Pública pode-se
citar:
I) Princípio da Legalidade
Este princípio, juntamente com o controle da Administração pelo Poder
Judiciário, nasceu com o Estado de Direito e constitui uma das principais
garantias de respeito aos direitos individuais. Isto porque a lei, ao mesmo
tempo em que define, estabelece também os limites da atuação administrativa
que tenha por objeto a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da
coletividade.
Hely Lopes Meirelles, argumenta sobre a necessidade de se
estabelecer limites frente à atuação administrativas, abaixo mencionadas:
Sendo assim, à vontade da Administração Pública, é a que decorre da lei e as exigências do bem comum, segundo os artigos 5º, inciso II, 37 e 84, inciso IV da Constituição Federal de 1988, e dele não podendo se afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal (2003, p. 86).
Com efetivo seguimento ao pensamento, Elias Rosa argumenta que: Contudo, a sua integral vigência pode sofrer, transitória constrição perante circunstâncias excepcionais mencionadas na Lei Maior, nas hipóteses nas quais a Constituição Federal de 1988 faculta ao Presidente da República que adote providências incomuns e proceda na conformidade delas para enfrentar contingências anormais, excepcionais ou eventos graves que requerem atuação
15particularmente enérgica, como no caso, das medidas provisórias previstas no artigo 62 e parágrafo único da Constituição Federal de 1988, da decretação do estado de defesa regulado no artigo 136 e do estado de sítio disciplinado nos artigos 137 a 139 da Constituição Federal de 1988 (2003, p. 11).
II) Princípio da Supremacia do Interesse Público
Este princípio, também chamado de princípio da finalidade pública,
está presente tanto na elaboração da lei como no momento de sua execução
em concreto pela Administração Pública. Ele inspira o legislador e vincula a
autoridade administrativa em toda a sua atuação (DI PIETRO, 2003, p. 68).
Entretanto, segundo o entendimento de Maria Sylvia Di Pietro é
imprescindível a utilização da finalidade pública, para a elaboração das leis, e a
interferência do Estado visando à segurança pública, a ordem econômica e
social e o direito de propriedade, abaixo mencionado:
Nota-se, no que diz respeito à sua influência na elaboração da lei, é oportuno lembrar que uma das distinções que se costuma fazer entre o direito privado e o direito público, leva em conta o interesse que se tem em vista proteger, pois o direito privado contém normas de interesse individual e, o direito público, normas de interesse público (2003, p. 68).
Dessa forma, percebe-se que os poderes conferidos à Administração
Pública têm caráter de poder-dever, já que são poderes que não podem deixar
de exercer, sob pena de responder por omissão, na medida, que ela se
omitindo no exercício destes poderes, é o interesse público, expressamente
previsto na Lei nº 9.784/99, no artigo 2º, caput, estará sendo prejudicado (DI
PIETRO, 2003, p. 70).
III) Princípio da Impessoalidade ou Finalidade
Segundo, o entendimento de Hely Lopes Meirelles: Este princípio, referido no artigo 37, caput da Constituição Federal de 1988, impõe ao administrador público, que somente pratique o ato para os seus fins legais, que deve nortear toda atividade administrativa, nunca visando atuar com vista a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, uma vez que, é sempre o interesse público que tem que nortear o seu comportamento (2003, p. 89).
Encontra-se, por exemplo, no artigo 100 da Constituição Federal de
1988, referente aos precatórios judiciais, que proíbe a designação de pessoas
ou de casos nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para
16esse fim, e exclui a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos
sobre suas realizações administrativas, com fulcro no artigo 37, parágrafo 1º da
Constituição Federal de 1988 (MEIRELLES, 2003, p. 89).
Sendo assim, que a finalidade terá sempre um objetivo certo e
inafastável de qualquer ato administrativo: o interesse público, que ao se
apartar desse objetivo, sujeitar-se-á a invalidação por desvio de finalidade, na
medida que exige que o ato seja praticado sempre com a finalidade pública, o
administrador fica impedido de buscar outro objetivo ou de praticá-lo no
interesse próprio ou de terceiros.
IV) Princípio da Presunção de Legalidade ou de Veracidade.
Segundo, o entendimento de Maria Sylvia Di Pietro: O Principio da Presunção de Legalidade ou de Veracidade é também chamado de presunção de legalidade, que abrange dois aspectos: de um lado, a presunção de verdade, que diz respeito à certeza dos fatos, e de outro lado, a presunção da legalidade, pois se a Administração Pública se submete à lei, presume-se, até prova em contrário, que todos os seus atos sejam verdadeiros e praticados com observância das normas legais pertinentes. Logo, trata-se de presunção relativa juris tantum que, como tal, admite prova em contrário, com o efeito de inverter o ônus da prova (2003, p. 72).
Portanto, as decisões administrativas são de execução imediata e têm
a possibilidade de criar obrigações para o particular, independentemente de
sua concordância e, em determinadas hipóteses, podem ser executadas pela
própria Administração, mediante meios diretos ou indiretos de coação.
V) Princípio da Especialidade
Dos princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público
decorre, o da especialidade, concernente à idéia de descentralização
administrativa.
No entanto, precisamente pelo fato de não terem a livre disponibilidade
dos interesses públicos.Todavia, esse princípio seja normalmente referido às
autarquias, não há razão para negar a sua aplicação quanto ás demais
pessoas jurídicas, instituídas por lei, para integrarem a Administração Pública
Indireta. Contudo, sendo necessariamente criadas ou autorizadas por lei, tais
entidades não podem desvirtuar-se dos objetivos legalmente definidos (Ibid.,p.
72).
VI) Princípio do Controle ou Tutela
17Observa-se, neste princípio que a Administração Pública direta,
fiscaliza as atividades dos referidos entes, com o objetivo de garantir a
observância de suas finalidades institucionais. Coloca-se em confronto, de um
lado, a independência da entidade que goza de parcela de autonomia
administrativa e financeira, já que dispõe de fins próprios, definidos em lei, e
patrimônio também próprio destinado a atingir aqueles fins, e, de outro lado, a
necessidade de controle para que a pessoa jurídica política (União, Estado ou
Município), que instituiu a entidade da Administração Indireta se assegure de
que ela está agindo de conformidade com os fins que justificaram a sua
criação. Logo, a regra é a autonomia, e a exceção é o controle, sendo este não
se presume, só pode ser exercido nos limites definidos na lei (DI PIETRO,
2003, p. 73).
VII) Princípio da Autotutela
Nota-se, que pela tutela a Administração Pública exerce controle sobre
outra pessoa jurídica por ela mesma instituída, pela autotutela o controle se
exerce sobre os próprios atos, com a possibilidade de anular os atos ilegais, e
revogar os atos inconvenientes ou inoportunos, independentemente de recurso
ao Poder Judiciário.
Para Maria Sylvia Di Pietro, o princípio da autotutela, serve: Para designar o poder que tem a Administração Pública de zelar pelos bens que integram o seu patrimônio, sem necessitar de título fornecido pelo Poder Judiciário. Logo, pode por meio de medidas de polícia administrativa, impedir quaisquer atos que ponham em risco a conservação desses bens (2003, p. 73).
VIII) Princípio da Hierarquia
No princípio da hierarquia busca-se, de tal forma, os órgãos da
Administração Pública uma coordenação e subordinação entre uns e outros,
cada qual com atribuições definidas em lei.
Seguindo o mesmo raciocínio, Maria Sylvia Di Pietro ainda acrescenta
que:
Prerrogativas da Administração Pública podem existir, todavia, que desse princípio, só existe relativamente às funções administrativas, não em relação às legislativas e judiciais, decorre uma série de prerrogativas para a Administração Pública, como rever os atos dos subordinados, de delegar e evocar atribuições e punir. Entretanto, para o subordinado surge o dever de obediência (2003, p. 74).
18
IX) Princípio da Continuidade do Serviço Público
Atendem-se, os serviços públicos, os reclamos dos indivíduos em
determinados setores sociais. Portanto, desse fato é que não pode os serviços
públicos serem interrompidos, devendo, ao contrário, ter normal continuidade.
Sendo assim, Maria Sylvia Di Pietro, argumenta que:
Encontra-se, em mais de um momento a aplicação do princípio, que em primeiro lugar dispôs o artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, que proibia a greve nos serviços públicos, tendo esta vedação, que antes se entendia absoluta, está consideravelmente abrandada, conciliando o direito de greve com a necessidade do serviço público, como também, a necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preencher as funções públicas temporariamente vagas, e a impossibilidade, para quem contrata com a Administração, de invocar a exceptio non adimpleti contractus nos contratos que tenham por objeto a execução de serviço público (2003, p. 74).
X) da Publicidade
Exige-se, ampla divulgação, os atos praticados pela Administração
Pública, que vem inserido no artigo 37 da Constituição Federal de 1988,
ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei.
Contudo, constitui fundamento do princípio da publicidade, a
possibilidade de controlar a legitimidade da conduta dos agentes
administrativos, pois, somente com a transparência dessa conduta, é que
poderão os indivíduos aquilatar a legalidade ou não dos atos e o grau de
eficiência de que se revestem.
Nessa mesma linha de raciocínio, José dos Santos Carvalho Filho,
argumenta que:
Observa-se, nesse princípio que os atos administrativos são publicados em órgãos de imprensa ou afixados em determinado local das repartições públicas administrativas. Sendo assim, o que importa é dar maior publicidade, porque, somente em raríssimas hipóteses se admite o sigilo na Administração (2009, p. 17).
Entretanto, pode ser reclamado através de dois instrumentos, que são
o direito de petição e as certidões.
Negando-se, o exercício de tais direitos, ou ainda não veiculada a informação, ou veiculada incorretamente, terá o prejudicado os instrumentos constitucionais para garantir a restauração da legalidade, que é o mandado de segurança, com fulcro no artigo 5º,
19inciso LXIX, da Constituição Federal de 1988, e o habeas data, inserido no artigo 5º, inciso LXXII, da mesma Carta Magna (CARVALHO FILHO, 2009, p. 18).
Neste caso, que não se deixe de fora o registro de que ao princípio da
publicidade devem submeter-se todas as pessoas administrativas, quer as que
constituem as próprias pessoas estatais, quer aquelas outras que, mesmo
sendo privadas, integram o quadro da Administração Pública, como o caso, das
empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas.
XI) Princípio da Moralidade Administrativa
Impõe-se, que o administrador não dispense os preceitos éticos que
devem estar presentes em sua conduta. Sendo assim, deve não só averiguar
os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas
também, distinguir o que é honesto do que é desonesto.
José dos Santos Carvalho Filho, entende que: O artigo 37 da Constituição Federal de 1988 se referiu expressamente, e que foi bem aceito no meio da coletividade, já sufocada pela obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, freqüentemente na busca de seus próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para último plano os preceitos morais de que não deveriam se afastar (2009, p. 15).
Contudo, a falta de moralidade administrativa pode afetar vários
aspectos da atividade da Administração, quando consiste em atos de
improbidade, que, como regra, causam prejuízos ao erário público, com
diploma legal na Lei nº 8.429, de 02/06/92, que prevê as hipóteses
configuradoras da falta de probidade na Administração Pública, bem como
estabelece as sanções aplicáveis a agentes públicos e a terceiros, quando
responsáveis por esse tipo ilegítimo de conduta.
Enfim, o que pretendeu o constituinte, foi exatamente coibir essa
imoralidade no âmbito da Administração Pública, e que, todavia, somente
quando os administradores estiverem realmente imbuídos de espírito público, é
que o princípio será efetivamente observado.
XII) Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade
Implícito na Constituição Federal, o princípio da razoabilidade ganha,
dia a dia, força e relevância no estudo do Direito Administrativo e no exame da
20atividade administrativa. Logo, pode ser chamado de princípio da proibição de
excesso, que, em última análise, objetiva aferir a compatibilidade entre os
meios e os fins, de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por
parte da Administração Pública, com lesão aos direitos fundamentais.
Sendo assim, segundo o entendimento de Hely Lopes Meirelles a
respeito da interligação entre o princípio da razoabilidade e proporcionalidade,
abaixo comenta: Percebe-se, que a razoabilidade envolve a proporcionalidade,
e vice-versa, e que não pode ser lançada como instrumento de substituição da
vontade da lei pela vontade do julgador ou do intérprete, mesmo porque cada
norma tem sua razão de ser (MEIRELLES, 2003, p. 90).
Partindo do mesmo entendimento, Maria Sylvia Di Pietro, argumenta: O princípio da razoabilidade está também, sob feição de proporcionalidade entre meios e fins, contido no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 9.784/99, que impõe a Administração Pública, adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público (inciso VI); observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados (inciso VIII); adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados (inciso IX); e também previsto no artigo 29, parágrafo 2º, segundo o qual os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados devem realizar-se do modo menos oneroso para estes (2003, p. 81).
Portanto, a razoabilidade deve ser aferida segundo os valores do
homem médio, em congruência com as posturas normais ou já adotadas pela
Administração Pública.
XIII) Princípio da Motivação
O princípio da motivação exige que a Administração Pública indique os
fundamentos de fato e de direito de suas decisões, tendo sua obrigatoriedade
em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade necessária para
permitir o controle de legalidade dos atos administrativos.
Maria Sylvia Di Pietro argumenta que: Todavia, a exigência de motivação consta expressamente no artigo 93, inciso X, da Constituição Federal de 1988, das decisões administrativas dos Tribunais e o artigo 2º, caput, da Lei nº 9.784/99, havendo no parágrafo único, inciso VII, exigência de indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinem a decisão, além disso, o artigo 50 estabelece a obrigatoriedade de motivação, com indicação dos fatos e fundamentos jurídicos. Em regra, não exige
21formas específicas, podendo ser ou não concomitante com o ato, além de ser feita, muitas vezes, por órgão diverso daquele que proferiu a decisão, constando de pareceres, informações, laudos, relatórios, feitos por outros órgãos, sendo apenas indicados como fundamento da decisão (2003, p. 83).
Sendo assim, verifica-se pelos dispositivos, as hipóteses em que a
motivação é obrigatória, em regra, dizem respeito a atos que, de alguma forma,
afetam direitos ou interesses individuais.
XIV) Princípio da Eficiência
Segundo, o entendimento de Hely Lopes Meirelles: Exige-se, que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, não se contentando apenas em ser desempenhada com legalidade, obtendo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros (2003, p. 94).
Logo, é o mais moderno princípio da função administrativa, que se
soma aos demais princípios impostos à Administração Pública, não podendo
sobrepor-se a nenhum deles, com particularidade ao da legalidade, sob pena
de sérios riscos que comprometem à segurança jurídica e ao próprio Estado de
direito.
XIV) Princípio da Segurança Jurídica
O principio da segurança jurídica é considerado como uma das vigas
mestras da ordem jurídica, sendo entendido como princípio da boa-fé dos
administrados ou da proteção da confiança. Assim, está visceralmente ligada a
exigência de maior estabilidade das situações jurídicas, mesmo daquelas que
na origem apresentam vícios de ilegalidade.
Considera-se, a segurança jurídica, juntamente ao lado da legalidade,
um dos subprincípios integradores do próprio conceito de Estado de Direito,
segundo o artigo 1º da Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo
no âmbito da Administração Pública Federal (MEIRELLES, 2003, p. 94).
Contudo, o princípio tem que ser aplicado com cautela, para não levar ao
absurdo de impedir a Administração de anular atos praticados com
inobservância da lei. Nesses casos, não se trata de mudança de interpretação,
mas de ilegalidade, esta sim a ser declarada retroativamente, já que atos
ilegais não geram direitos.
22Logo, como a lei deve respeitar o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada, por respeito ao princípio da segurança jurídica, não é
admissível que o administrado tenha seus direitos flutuando ao sabor de
interpretações jurídicas variáveis no tempo. Entretanto, não significa que a
interpretação da lei não possa mudar, ela freqüentemente muda como
decorrência e imposição da própria evolução do direito.
No entanto, o que não é possível é fazê-la retroagir a casos já
decididos com base em interpretação anterior, considerada válida diante das
circunstâncias do momento em que foi adotada (DI PIETRO, 2003, p. 85).
1.1 Poderes e Deveres da Administração Pública
Embora o poder dê a impressão de que se trata de faculdade da
Administração Pública, na realidade trata-se de poder-dever, já que
reconhecido ao poder público para que o exerça em benefício da coletividade,
sendo por isso irrenunciáveis (DI PIETRO, 2003, p. 86).
Deste modo, estes gestores da coisa pública, investidos de
competência decisória, passam a ser autor idades, com poderes e deveres
específicos do cargo ou da função e, conseqüentemente, com
responsabilidades próprias de suas atribuições (MEIRELLES, 2003, p. 100).
Por conseguinte, o ordenamento jurídico há de conferir a tais agentes
certas prerrogativas peculiares à sua qualificação de prepostos do Estado,
indispensáveis à consecução dos fins públicos.
Constituem as prerrogativas, os poderes administrativos que nascem com a Administração Pública, e se apresentam diversificados segundo exigências do serviço público, o interesse da coletividade e os objetivos a que se dirigem. No entanto, ao mesmo tempo em que confere poderes, o ordenamento jurídico, impõe, de outro lado, deveres específicos para aqueles que, atuando em nome do Poder Público, executam as atividades administrativas que são os deveres administrativos (CARVALHO FILHO, 2009, p. 25).
Os meios de uso do poder, devem ser legítimos, humanos e
compatíveis com a urgência e a necessidade da medida adotada.
Exemplificando têm-se, as demolições de obras, a destruição de bens
23particulares, o emprego de força física, que só se justificam como expedientes
extremos do poder público.
Sendo assim, José dos Santos Carvalho Filho comenta: O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de direito público outorgado aos agentes do Estado. Cada um deles terá a seu cargo a execução de certas funções. Logo, se tais funções foram por lei atribuídas aos agentes, devem eles exercê-las, pois, seu exercício é voltado para beneficiar a coletividade, e ao fazê-lo, dentro dos limites que a lei traçou, pode-se dizer, que usaram normalmente os seus poderes (2009, p. 30).
Por conseguinte, a legalidade dos meios empregados pela
Administração Pública, na escolha do modo de efetivar as medidas de polícia,
não se compreende o poder de utilizar, meios ilegais para sua consumação,
embora lícito e legal o fim pretendido.
Seguindo o mesmo raciocínio, Hely Lopes Meirelles comenta: Enquanto houver outros modos de realizar a medida de polícia e outras sanções menos violentas, não se autorizam aos atos destrutivos da propriedade, nem as interdições sumárias de atividades, nem a coação física para impedir o exercício de profissões regulamentadas, na medida que a utilização desproporcional do poder, constituem formas abusivas do uso do poder estatal, não toleradas pelo Direito e nulificadoras dos atos que as encerram (2003, p. 106).
Ressalte-se que um poder jurídico quando é conferido a alguém, pode
ser exercitado ou não, já que se trata de mera obrigação de agir, por exemplo,
uma autoridade pública, um Governador, abrisse mão de seus poderes
administrativos, deixando de praticar atos de seu dever funcional, sendo
insuscetível de renúncia pelo seu titular, em que tal atitude importaria fazer
liberalidades com o direito alheio, já que o poder público não é, nem pode ser,
instrumento de cortesias administrativas.
Em contrapartida, o poder administrativo, é atribuído à autoridade para
remover os interesses particulares que se opõem ao interesse público.
Portanto, nessas condições, o poder de agir se converte no dever de agir.
Sendo assim, se no direito privado o poder de agir é uma faculdade, no direito
público é uma imposição, um dever para o agente que o detém, pois não se
admite a omissão da autoridade diante de situações que exigem sua atuação,
24caso contrário, responde a Administração Pública pelas omissões lesivas de
seus agentes (MEIRELLES, 2003, p. 101).
Após ter sido salientado o poder como de agir, agora enfocar-se-à,
deveres administrativos de suma importância, tais como, probidade, prestação
de contas e eficiência, para os agentes em nome do poder público, executem
as atividades administrativas.
I) Dever de probidade
No caso do dever de probidade, este é o mais importante dos deveres
do administrador público, em razão, de sua atuação pautar-se pelos princípios
da honestidade e moralidade, quer em face dos administrados, quer em face
da própria administração, como elemento necessário à legitimidade de seus
atos. Nesse caso, pode-se destacar que as sanções estão previstas no artigo
12 e a lei determina que o poder Judiciário deve aplicá-la levando em conta a
extensão do dano e o proveito patrimonial obtido pelo agente.
Paralelamente, a esses preceitos, a lei reguladora da ação popular Lei
nº 4.717/65, em conformidade com a instrução constitucional no artigo 5º,
LXXIII, explicitou os atos passíveis de anulação por esta via judicial, desde
que ilegais e lesivos ao patrimônio público.
Portanto, o ato administrativo praticado com lesão aos bens e
interesses públicos também fica sujeito à invalidação pela própria
Administração Pública ou pelo poder Judiciário, por vício de improbidade, que é
uma ilegitimidade que nulifica a conduta do administrador público. Assim
sendo, ao lado do dever de probidade e com seu complemento natural, está
sempre o dever de prestar contas (MEIRELLES, 2003, p. 105).
II) Dever de Prestar Contas
Como encargo dos administradores públicos, a gestão de bens e
interesses da coletividade, decorre daí o natural dever, a eles cometidos, de
prestar contas de sua atividade. Todavia, se no âmbito privado o administrador
presta contas normalmente ao titular dos direitos, contudo, com maior razão há
de prestá-las aquele que têm a gestão dos interesses de toda a coletividade.
Pois, se sabe que a prestação de contas não se refere apenas aos
dinheiros públicos, à gestão financeira, mas a todos os atos do governo e de
25administração, abrangendo desde entes paraestatais e até os particulares que
recebem subvenções estatais para aplicação determinada no artigo 70,
parágrafo único da Constituição Federal de 1988.
Nesse sentido, segundo a decisão do Supremo Tribunal Federal em
julgamento abaixo mencionado: “O Tribunal de Contas da União entende que
compete ao agente comprovar a boa e regular aplicação dos recursos públicos,
cabendo-lhe o ônus da prova que não deu causa ao prejuízo ocorrido”. (STF,
RF 99/969; TJSP, RT 237/253. Processo. Tribunal de Conta nº 006.450/1997-
7.DJU 14.8.2002), (MEIRELLES, 2003, p. 105).
III) Dever de Eficiência
Sabe-se, que não é desconhecido que o Estado de direito atua
subjacentemente à lei e visa a alcançar determinados fins, que de uma forma
ou de outra, trazem benefício à coletividade. Desse modo, não é cabível supor
que tais fins sejam conquistados sem que a atividade administrativa se
qualifique como eficiente.
José dos Santos Carvalho Filho comenta que: O dever de eficiência dos administradores públicos reside na necessidade de tornar cada vez mais qualitativa a atividade administrativa, seja utilizando fatores tais como, perfeição, celeridade, coordenação e técnica, que produzem maior eficiência no seu desempenho (2009, p. 48).
Observa-se, como exemplo a seguir, a seleção de candidatos a
determinado cargo de concurso público, dentro das exigências das
qualificações, propostas para a função a ser exercida.
Observa-se, e convém assinalar, que a técnica, é inseparável da
Administração Pública e se impõe como fator vinculante em todos os serviços
públicos especializados, sem admitir discricionarismos ou opções burocráticas
nos setores em que a segurança, a funcionalidade e o rendimento dependam
de normas e métodos científicos de comprovada eficiência, decidindo por
critérios técnicos em solucionar um problema.
Assim, o princípio da eficiência, de alto significado para o serviço
público em geral, deve ser aplicado em todos os níveis da Administração
Pública (MEIRELLES, 2003, p. 103).
26Nesse caso, a Administração Pública, ao fazer uso do poder e aplicar
os deveres, indispensáveis ao bom ordenamento jurídico, necessário é,
sintetizar as modalidades de poderes, com a finalidade de usá-los com
proporção e limites para a fiel integridade de sua ocupação nos mais variados
setores administrativos.
Observa-se, que para atender ao interesse público, a Administração
Pública, é dotada de poderes administrativos, verdadeiros instrumentos de
trabalho, adequados à realização das tarefas administrativas, diferentes dos
poderes políticos, que são estruturais e orgânicos, porque compõem a
estrutura do Estado e integram a organização constitucional. Portanto, estes
poderes nascem com a Administração e se apresentam diversificados segundo
as exigências do serviço público, o interesse da coletividade e os objetivos a
que se dirigem.
Partindo do mesmo raciocínio, Hely Lopes Meirelles entendia que: São classificados em conformidade para a prática de seus atos, em poder vinculado e discricionário, poder hierárquico e disciplinar, conforme visem ao ordenamento da Administração Pública ou à punição dos que a ela se vinculam, como também, poder regulamentar, diante da finalidade de sua norma, e finalmente, visando seus objetivos de contenção dos direitos individuais, em poder de polícia (2003, p. 112).
Contudo, os poderes concedidos à autoridade pública, têm limites
certos e forma legal de utilização, não sendo carta branca para arbítrios,
violência, perseguições ou favoritismo, devendo qualquer ato de autoridade,
para ser irrepreensível, deve conformar-se com a lei, com a moral da instituição
e com o interesse público, porém, o uso incorreto desses poderes pode
acarretar em punição, a nulidade dos atos praticados, com correção nas vias
administrativa ou judicial, dependendo do grau de punibilidade.
Dentre os tipos de poderes administrativos pode-se descrever:
I) Poder Vinculado
A lei confere à Administração Pública para prática de sua competência,
determinados elementos e requisitos necessários á sua formalização. Nesses
atos, a norma legal condiciona sua expedição aos dados constantes de seu
texto, por isso, tais atos são vinculados ou regrados, significando que, na sua
27prática, o agente público fica inteiramente preso ao enunciado da lei, em todas
as suas especificações.
Sendo assim, a liberdade de ação do administrador é mínima, por ter
que se ater à enumeração minuciosa do Direito Positivo para realizá-lo
eficazmente, caso, deixe de atender a qualquer dado expresso na lei, o ato é
nulo, por desvinculado de seu tipo padrão.
Nota-se, que o princípio da legalidade impõe ao agente público que
observe, fielmente todos os requisitos expressos na lei como decorrência do
ato vinculado.
Na mesma linha de raciocínio, o Tribunal Regional Federal, ao julgar o
mandado de segurança nº 103.576, abaixo a seguir: Autorização – Ato
Vinculado – Sociedade Seguradora. O ato de autorização para funcionamento
das sociedades seguradoras é vinculado, não podendo o administrador fugir
aos limites traçados na legislação que rege o assunto, sob pena de constituir
em ato inválido (MS nº 103.576 – Pleno do TRF – Rel. Min. Pedro Acioli – 1984
– in RDA 159/226) (CARVALHO FILHO, 2009, p. 130).
Entretanto, não há inteiramente um ato administrativo vinculado,
porque haverá sempre aspectos sobre os quais a Administração Pública terá
opções na sua realização, mas, sobretudo, na elaboração do ato, os elementos
vinculados serão sempre a competência, a finalidade e a forma, que a norma
legal indicar (MEIRELLES, 2003, p. 114).
II) Poder Discricionário
A lei não é capaz de traçar rigidamente todas as condutas de um
agente administrativo, ainda que, procure definir alguns elementos que lhe
restringem a atuação, o certo é que em várias situações a própria lei lhes
confere a possibilidade de valoração da conduta, podendo o agente avaliar a
conveniência e oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de
administrador dos interesses coletivos.
De acordo com o entendimento de Carvalho Filho: Na prerrogativa de valoração se situa o poder discricionário, por exemplo, a autorização para funcionamento de um circo em praça pública; que pode o ato fixar o limite máximo de horário em certas circunstâncias, ainda que o interessado tenha formulado pedido de funcionamento em horário além do que o ato veio a permitir, pois uma
28outra orientação para o mesmo fim. Por outro lado, pode tornar o horário mais elástico, se as circunstâncias forem diversas e não impeditivas concedendo aos agentes administrativos de elegerem, entre várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público. Contudo, são os elementos de oportunidade e conveniência que fazem parte do poder discricionário, pois a primeira diz o momento em que a atividade deve ser produzida, e a segunda, indica em que condições vai se conduzir o agente. Registre-se, porém, que essa liberdade de escolha tem que se conformar com o fim colimado na lei, pena de não ser atendido o objetivo público da ação administrativa (2009, p. 33).
Seguindo este raciocínio, está a orientação adotada na 1ª Turma do
Superior Tribunal de Justiça, que decidiu: Ato Administrativo – Revogação –
Poder Discricionário: Admissibilidade. À Administração é conferido o direito de,
a qualquer tempo, rever os seus atos podendo revogá-los, alterá-los ou
suprimi-los, posto que o interesse coletivo ocupa importância superior às
conveniências de associação civil (RMS nº 211, 1ª Turma, Rel. Min. Pedro
Acioli, 1990, in BDA Mar/2001, p. 218) (CARVALHO FILHO, 2009, p.35).
III) Poder Hierárquico
Este poder tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e corrigir as
atividades administrativas no âmbito interno da Administração Pública, na
medida que, ordena, repartindo e escalonando as funções entre os agentes do
poder, de modo que cada um possa exercer eficientemente seu encargo,
coordena, entrosando as funções no sentido de obter o funcionamento
harmônico de todos os serviços a cargo do mesmo órgão, controla, velando
pelo cumprimento da lei e das instruções e acompanhando a conduta e o
rendimento de cada servidor, corrige os erros administrativos, pela ação
revisora dos superiores sobre os atos dos inferiores.
Desse modo, a hierarquia atua como instrumento de organização e
aperfeiçoamento do serviço e age como meio de responsabilização dos
agentes administrativos, impondo-lhes o dever de obediência. Pois se impõe ao
subalterno à estrita obediência das ordens e instruções legais superiores e se
define a responsabilidade de cada um. Sendo, as determinações superiores
serem cumpridas fielmente, sem ampliação ou restrição, a menos que sejam
manifestamente ilegais.
IV) Poder Disciplinar
29Sabe-se, que o poder disciplinar é correlato com o poder hierárquico,
mas com ele não se confunde, na medida, que no poder hierárquico em
relação ao seu uso, a Administração Pública, distribui e escalona as suas
funções executivas, em contrapartida, no poder disciplinar controla o
desempenho dessas funções e a conduta interna de seus servidores,
responsabilizando-os, pelas faltas cometidas.
Nessa mesma linha de pensamento, Hely Lopes Meirelles comenta a
faculdade que o poder disciplinar tem de punir os servidores públicos e demais
pessoas sujeitas à subordinação dos órgãos da Administração Pública, abaixo
comenta:
Observa-se, neste poder a faculdade de punir internamente as infrações funcionais dos servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da Administração Pública, sendo uma supremacia especial que o Estado exerce sobre todos aqueles que se vinculam à Administração por relações de qualquer natureza, subordinando-se às normas de funcionamento do serviço ou do estabelecimento que passam a integrar definitiva ou transitoriamente (2003, p. 120).
V) Poder Regulamentar
Observa-se, neste poder a faculdade de que dispõem os chefes do
poder executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos), de
explicar a lei para sua correta execução, ou de expedir decretos autônomos
sobre matéria de sua competência ainda não disciplinada por lei.
Neste entendimento, Hely Lopes Meirelles argumentava: Logo, é um poder inerente e privativo do chefe do poder Executivo, com base no artigo 84, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, e por isso mesmo, indelegável a qualquer subordinado. Contudo, no poder de chefiar a Administração Pública, está implícito o de regulamentar a lei e suprir, com normas próprias, as omissões do poder Legislativo que estiverem na alçada do poder Executivo (2003, p. 123).
Os vazios da lei e a imprevisibilidade de certos fatos e circunstâncias
que surgem, a reclamar providências imediatas da Administração Pública,
coloca-se, ao chefe do poder Executivo o poder de regulamentar, através de
decreto, as normas legislativas incompletas, ou de prover situações não
previstas pelo legislador, mas ocorrentes na prática administrativa.
30O essencial é que o poder Executivo, ao expedir regulamento
autônomo ou de execução da lei, não invada as chamadas reservas da lei, ou
seja, aquelas matérias só disciplináveis por lei, e tais são, em princípio, as que
afetam as garantias e os direitos individuais assegurados pelo artigo 5º da
Constituição Federal de 1988.
Segundo o entendimento de Hely Lopes Meirelles: Sendo assim, estas normas estão contidas na Lei nº 8.080 de 19/09/90, que dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, revogando expressamente a Lei nº 2.312/54, que traçava a política sanitária nacional, e a Lei nº 6.229/75, que instituía o antigo Sistema Nacional de Saúde (2003, p. 139).
Enfim, as principais normas de Defesa e Proteção à Saúde, são os
Códigos sanitários estaduais, que visam estabelecer normas sanitárias para o
território estadual e impor medidas de atuação para os particulares e para as
autoridades e agentes sanitários, incumbidos da fiscalização e punição dos
infratores, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que tem como
finalidade básica, a proteção à saúde da população, por intermédio do controle
sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos
à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e
das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos,
aeroportos e de fronteiras com base no artigo 6º, da Lei nº 9.782 de 26 /01/99,
alterada pela Medida Provisória nº 2.190-34, de 23.08.2001 (MEIRELLES,
2003, p. 140).
Desta forma, a Agência Nacional de Saúde Suplementar, criada pela
Lei nº 9.961, de 28.01.2000, como autarquia de regime especial,
regulamentação, normatização, controle e fiscalização das atividades que
garantam a assistência suplementar à saúde, tendo entre outras atribuições, a
de fiscalizar o cumprimento da legislação referente aos aspectos sanitários e
epidemiológicos relativos à prestação de serviços médicos e hospitalares no
âmbito da saúde complementar (MEIRELLES, 2003, p. 140).
E finalmente, os regulamentos sanitários municipais de higiene e
segurança, com objetivo do controle técnico-funcional das edificações
particulares, que deverão ser impostas minuciosamente as condições em que o
31proprietário pode construir, visando à segurança e à higiene das edificações,
dentre elas, as que se relacionam com a solidez da construção, com a aeração,
isolação, cubagem, altura máxima e mínima, e dos recintos públicos, e dos
gêneros alimentícios destinados ao consumo local (MEIRELLES, 2003, p. 141).
VI) Poder de Polícia
Nota-se, que convém dizer, que o Estado é dotado de poderes políticos
exercidos pelo poder Legislativo, Judiciário e Executivo, no desempenho de
suas funções constitucionais e, poderes administrativos que surgem
secundariamente com a Administração Pública e se efetivam de acordo com as
exigências do serviço público e com os interesses da comunidade.
Portanto, o exercício de direitos individuais deve atender ao interesse
público, ao bem-estar social, sujeitando-se a imposição vinda da Administração
Pública, que ocorre para o exercício de profissões, instalação e funcionamento
de lojas comerciais, e mesmo para as construções residenciais ou comerciais,
cujas hipóteses, necessariamente, o interessado deverá postular a obtenção de
ato administrativo que retrate a possibilidade, à vista do interesse público, de
exercer seu direito.
Observa-se, ainda, que o ato de polícia é um simples ato
administrativo, que como todo ato administrativo, o ato de polícia subordina-se,
ao ordenamento jurídico que rege as demais atividades da Administração
Pública, sujeitando-se, inclusive, ao controle de legalidade pelo poder
Judiciário. Nesse sentido, que feitas essas considerações de ordem geral, será
analisado o poder de polícia em alguns dos seus aspectos, atividade que
reclama uma série de enfoques, no capítulo seguinte, a começar pelo seu
conceito.
32
CAPÍTULO II
PODER DE POLICIA: CONCEITO, COMPETÊNCIA, ESPÉCIES, FINALIDADES
A matéria objeto do presente capítulo tem como importância, trazer em
sua estrutura a análise do conceito, da competência, das espécies, das
finalidades e da legitimidade do poder de polícia na Administração Pública.
Conceituar poder de polícia nos seus exatos contornos é uma árdua
tarefa, na medida que, a constante renovação de seu conteúdo acompanha as
mutações históricas do Estado. Observa-se, que não é desconhecido o fato de
que o Estado deve atuar á sombra do princípio da supremacia do interesse
público, em que o interesse particular há de curvar-se, diante do interesse
coletivo, que não fora assim, se implantaria o caos na sociedade.
Contudo, de tal postulado que o Direito não pode deixar de regular uma
relação jurídica própria do direito público, a relação jurídico-administrativa. Nela
se abrigam, de um lado, a Administração Pública e, de outro o administrado,
considerado este como indivíduo que, de alguma forma esteja vinculado
àquela, por outro lado, neste caso o Estado precisa ter mecanismos próprios
que lhe permitam atingir os fins que colima, mecanismos esses inseridos no
direito positivo e qualificados como verdadeiros poderes ou prerrogativas
especiais de direito público.
Um desses poderes resulta exatamente do inafastável confronto entre
os interesses público e privado, e nele há a necessidade de impor, às vezes,
restrições aos direitos dos indivíduos. É preciso ressaltar, contudo, que tais
benefícios não são despropositados, mas imprescindíveis, a fim de assegurar
conveniente proteção aos interesses públicos, fazendo com que os órgãos que
os representam, possam fazer um bom, fácil e resguardado desempenho de
sua missão.
Seguindo o mesmo raciocínio, José dos Santos Carvalho Filho abaixo
comenta:
33 Sendo assim, quando o poder público interfere na órbita do interesse privado para salvaguardar o interesse público, restringindo direitos individuais, o mesmo atua utilizando o exercício do poder de polícia (2009, p. 59).
Exemplificando, têm-se a mencionada decisão da 3ª Turma do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, abaixo descrito: Administrativo. Transporte
turístico. Proibição de utilização de ônibus com mais de dez anos de uso.
Legitimidade do ato emanado do exercício do poder de polícia em relação a
transporte rodoviário. Sentença mantida [Ac. un da 3ª T do TRF da 4ª R – MAS.
N 93.04.42006 – 7/RS. Rel. juiz Teori Albino Zavascki. DJU 2 08.11.95., p.
76.756]1
Comporta-se, o poder de polícia em dois sentidos, sendo o amplo, toda
e qualquer ação do Estado em relação aos direitos individuais, que sobreleva,
nesse enfoque a função do poder Legislativo, incumbido da criação do ius
novum, e isso porque apenas as leis, organicamente consideradas, podem
delinear o perfil dos direitos, elastecendo ou reduzindo o seu conteúdo.
Sendo princípio constitucional o de que “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” com fulcro no artigo
5º, inciso II, da Constituição Federal 1988, e o sentido estrito, que se figura
como atividade administrativa, conferida aos agentes públicos, da
Administração Pública, consistente no poder de restringir e condicionar a
liberdade e a propriedade, cujo sentido restringiu-se, a denominação de polícia
administrativa (CARVALHO FILHO, 2009, p. 60).
Portanto, da concepção originária do poder de polícia, como atividade
negativa, ou seja, atividade que impõe ao particular limitações ao exercício dos
direitos individuais, consistentes em obrigações de não fazer, houve uma
ampliação, não apenas de conteúdo, mas também de extensão, passou com o
tempo o poder de polícia, a impor obrigações de fazer, ou seja, a impor o dever
de utilização do bem (CARVALHO FILHO, 2009, p. 60).
Assim, o poder de polícia atualmente, que encontra sua razão no
interesse social e seu fundamento na supremacia geral que exerce o Estado
1Disponível em: <http://www.fesac.org.br/art_02.html>. Acesso em: 10.jan. 2012.
34sobre todas as pessoas, é conforme o entendimento de Meirelles (2003, p.
127), a “faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício
da coletividade ou do próprio Estado”.
Conceitua-se, segundo Carvalho Filho (2009, p. 61), como “a
prerrogativa de direito público que, calçada na lei, autoriza a Administração
Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do
interesse da coletividade”.
Como também, argumenta Bandeira de Mello (1996, p. 494), onde o
mesmo refere-se, pois, ao “complexo de medidas do Estado que delineia a
esfera jurídica tutelada da liberdade e da propriedade dos cidadãos”. Já
segundo Cretella Júnior (2000, p. 542), é “A faculdade discricionária da
Administração de limitar, dentro da lei, as liberdades individuais em prol do
interesse coletivo”.
Bem como, a interpretação de Maria Sylvia Di Pietro (2003, p. 94), que
seria “a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos
individuais em benefício do interesse público”.
Por fim, o conceito legal em conjunto com o artigo do Código Tributário
Nacional Brasileiro:
Artigo 78 - Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos (MEIRELLES, 2003, p. 128).
Na verdade, o poder de polícia está voltado sempre para atos do
Estado praticado em função das suas competências extraídas na fonte
constitucional, esteio e alicerce de todo o seu agir.
Não poderá nunca deixar de ser uma manifestação jurídica do Estado,
enquadrada dentro da tradicional tripartição das suas funções, função jurídica
essa que, no entanto, se individualiza pela finalidade própria que persegue.
A abrangência dos atos de polícia é voltado ao atingimento de objetivos
próprios, basicamente a imposição de limites ao livre desfrute dos direitos,
35liberdade e à propriedade. Exemplificando têm-se, a seguir a decisão da 4ª
câmara cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, abaixo comentada: A
competência para exercer o poder de polícia é, em princípio, das pessoas
federativas a União, Estados e Municípios, as quais a Constituição Federal
confere o poder de regular a matéria, pois na verdade, os assuntos de
interesse nacional ficam sujeitos à regulamentação e policiamento da União; as
matérias de interesse regional sujeitam-se às normas e à polícia estadual, e os
assuntos de interesse local subordinam-se aos regulamentos dos editais e ao
policiamento administrativo municipal.
Pois, o ato de polícia praticado por pessoa federativa que não tenha
competência para regular a matéria e, portanto, impor a restrição, será inválido.
Logo, de fato o sistema de competências constitucionais fixa as linhas
básicas do poder de regulamentação das pessoas federativas com fulcro nos
artigos 21, 22, 25 e 30 da Constituição Federal de 1988.
Entretanto, existem as hipóteses de poder concorrente que vão
ensejar, o exercício conjunto do poder de polícia por pessoas de nível
federativo diverso, que emana do disposto nos artigo 22, parágrafo único, 23 e
24 da Constituição Federal de 1988.
Com seqüência ao mesmo raciocínio, José dos Santos Carvalho Filho
argumenta que:
Logo, da mesma forma só pode ser por legítimo o exercício da atividade administrativa, configuradora do poder de polícia, se a lei em que se fundar a conduta da Administração Pública tiver base na Constituição Federal, porém, se for inconstitucional, ilegítimos serão ao atos administrativos que, com fundamento nela, se voltarem a uma pretensão tutela do interesse público, materializada no exercício do poder de polícia. Conseqüentemente, só há, portanto, poder de polícia legítimo na medida em que legítima é a lei que lhe dá suporte (2009, p. 62)
Em contrapartida, o Estado do Rio de Janeiro fez editar a Lei nº 2.895,
de 20/03/1998, considerando absurda e insensível, prévia autorização e
disciplina relativas a competições entre “galos combatentes”, bem como o
poder de polícia sobre tal atividade.
Assim, nesse sentido, têm-se a decisão do Supremo Tribunal Federal
pelo Ministro Carlos Velloso, abaixo mencionada: Entende-se ofensa ao meio
36ambiente com fulcro no artigo 225, parágrafo, inciso VII da Constituição Federal
por tratamento cruel a animais, suspendeu cautelarmente a eficácia da lei,
considerando-a a priori, inconstitucional (ADIN nº 1.856-RJ, Rel. Min. Carlos
Velloso; vide informativo STF nº 203, de set/2000) (CARVALHO FILHO, 2009,
p. 62).
Nota-se, que não é difícil atribuir às pessoas políticas da federação o
exercício do poder de polícia, que afinal, se lhes incumbe editar as próprias leis
limitativas, de todo coerente que lhes confia, em decorrência, o poder de
minudenciar as restrições, pois se trata do poder de polícia originário, que
alcança, em sentido amplo, as leis e os atos administrativos provenientes de
tais pessoas.
Nessa mesma linha de pensamento, José dos Santos Carvalho Filho
menciona:
Porém, o Estado não age somente por seus agentes e órgãos internos, já que várias atividades administrativas e serviços públicos são executados por pessoas administrativas vinculadas ao Estado Procura-se, saber se tais pessoas têm idoneidade para exercer o poder de polícia, que, com efeito, são o prolongamento do Estado e recebem deste suporte jurídico para o desempenho, por delegação, de funções públicas a ele cometidas, indispensável que a delegação seja feita por lei formal, para a validade dessa atuação, originária da função regular do poder Legislativo (2009, p. 62).
A 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, julgou e concedeu: “Falta de previsão em lei formal, considerou ilegal,
multa aplicada por entidade paraestatal, ressaltando o acórdão: Só a lei pode
fixar os condicionantes do exercício da liberdade e da propriedade”. (STJ – RJ,
Resp nº 3.745-RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Ilmar Galvão.) (CARVALHO FILHO,
2009, p. 63).
Observa-se, que a existência da lei é o pressuposto de validade da
polícia administrativa exercida pela própria administração direta e, desse modo,
nada obstaria que servisse também como respaldo da atuação de entidades
paraestatais, mesmo que sejam elas dotadas de personalidade jurídica de
direito privado, posto o que importa, que haja expressa delegação na lei
pertinente e que o delegatário seja entidade integrante da administração
pública (CARVALHO FILHO, 2009, p. 63).
37Por decisão acertada, a 7ª câmara do Tribunal de Alçada Cível do Rio
de Janeiro, a julgar a apelação cível em relação a COMLURB, entidade
paraestatal privada vinculada ao Município do Rio de Janeiro, decidiu: Se for a
COMLURB que realiza as autuações em decorrência de um poder de polícia
delegado em legislação, é sua a legitimidade ad causam no pólo passivo
(ApCív nº 3.012, 7ª CCív, unân., Rel. Juiz Maurício Gonçalves de Oliveira, reg.
em 13/09/1994, apud ADCOAS 146604) (CARVALHO FILHO, 2009, p. 63).
Por outro lado, a delegação não pode ser outorgada a pessoas da
iniciativa privada, desprovidas de vinculação oficial com os entes públicos, visto
que, por maior que seja a parceria que tenham com estes, jamais serão
dotadas de autoridade necessária ao desempenho da atividade de polícia.
Sendo assim, quando a lei confere a uma entidade administrativa o poder de
autoridade referido, diz-se que há poder de polícia delegado (CARVALHO
FILHO, 2009, p. 63).
Dentre as finalidades do Poder de Polícia percebe-se que no Estado
liberal, ao mesmo tempo em que se passava a dedicar ao indivíduo maior
proteção em face do próprio Estado, que essa proteção não se tornaria eficaz
sem que se permitisse ao poder público intervir nas relações privadas, que
desse modo, outra não poderia ser a finalidade dessa intervenção através do
poder de polícia senão a de proteção dos interesses coletivos.
Com seqüência a mesma linha de pensamento, José dos Santos
Carvalho Filho e Hely Lopes Meirelles argumentam que:
Sendo assim, ao interesse público, no seu sentido mais amplo, o que denota estreita conotação com o próprio fundamento do poder, quer dizer, se o interesse público é o fundamento inspirador dessa atuação restritiva do Estado, há de constituir alvo dela a proteção do mesmo interesse, que entram não só os valores materiais, como também o patrimônio moral e espiritual do povo, expresso na tradição, nas instituições e nas aspirações nacionais da maioria que sustenta o regime político adotado e consagrado na Constituição Federal e na ordem jurídica vigente (2009, p. 65).
Portanto, desde que ocorra um interesse público relevante, justifica-se
o exercício do poder de policia da Administração Pública para a contenção de
atividades particulares anti-sociais (MEIRELLES,2003, p. 130).
Moreira Neto argumenta que:
38A ordem de polícia é o preceito legal, a satisfação da reserva constitucional apresentada de duas formas: negativo absoluto, quando são vedadas certas formas de exercício de atividades e de uso da propriedade privada, impondo-se restrições, e o negativo com reserva de consentimento, quando são vedadas determinadas formas de exercício de atividades e de uso da propriedade privada, sem o consentimento e expresso da administração, impondo-se condicionamentos. Neste dois casos, o instrumento de atuação administrativa do poder de polícia é a limitação (2001, p. 351).
O consentimento de polícia é o ato administrativo de anuência, que
possibilita a utilização da propriedade pelo particular ou o exercício da atividade
privada, quando o legislador tenha exigido controle prévio da compatibilidade
do uso do bem ou do exercício da atividade com o interesse público. Tal ato de
consentimento é, formalmente um alvará podendo conter, materialmente, uma
licença ou uma autorização.
Como também, a fiscalização de polícia se fará para a verificação do
cumprimento das ordens de polícia, e para se observar os abusos que possam
existir na utilização de bens e nas atividades que foram consentidas pela
administração pública, podendo ser a fiscalização preventiva ou repressiva e
podendo ser iniciada ex offício, ou ser provocada. Portanto, o último modo de
atuação, a sanção de polícia, é a submissão coercitiva do infrator a medidas
inibidoras impostas pela Administração Pública, sempre que falhar a
fiscalização preventiva e for verificada a ocorrência de infrações às ordens de
polícia. Daí, o Estado atua em quatro áreas de interesse público: a segurança,
a salubridade, o decoro e a estética (MOREIRA NETO, 2001, p. 351).
Contudo, Maria Sylvia Di Pietro argumenta: Como todo ato administrativo, a medida de polícia, ainda que seja discricionária, sempre esbarra em algumas limitações impostas pela lei, quanto à competência e à forma, aos fins e mesmo com relação aos motivos ou ao objeto, que em relação aos dois últimos, ainda que a Administração Pública disponha de certa dose de discricionariedade, esta deve ser exercida nos limites traçados pela lei (2003, p. 117).
Demonstra-se, através de decisão da 5ª Turma do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, que comprova estas limitações, abaixo: Poder de polícia.
Limites. Acesso a prédio público. O poder de polícia, inerente à administração,
deve ser exercido em consonância com os direitos individuais garantidos na
Constituição Federal. Intolerável, nessa perspectiva, a proibição de acesso às
39dependências comuns de órgão público, notadamente quando dirigido à
pessoa determinada [Ac. un da 5ª T do TRF DA 4ª R – REO 95.04.50641 –
0/RS Rel. Juiz Amir José Finocchiaro Sarti. DJU 2 20.11.96, p. 89.253.]2
Segundo, Cretella Júnior (2000, p. 68), a “faculdade repressiva não é,
entretanto, ilimitada, estando sujeita a limites jurídicos: direitos do cidadão,
prerrogativas individuais e liberdades públicas asseguradas na Constituição e
nas leis”.
Contudo, em relação aos fins, o poder de polícia só deve ser exercido
para atender ao interesse público, pois, precisamente seu fundamento é o
princípio da predominância do interesse público sobre o particular, o exercício
desse poder perderá a sua justificativa quando utilizado para beneficiar ou
prejudicar pessoas determinadas, ou a autoridade caso se afaste da finalidade
pública, incidirá em desvio de poder e acarretará a nulidade do ato com todas
as conseqüências nas esferas civil, penal e administrativa.
Deve-se, em relação à competência e o procedimento, observar
também as normas legais pertinentes, e quanto ao objeto, ou seja, quanto ao
meio de ação, a autoridade sofre limitações, mesmo quando a lei lhe dê várias
alternativas possíveis, aplicando-se, o princípio de direito administrativo da
proporcionalidade dos meios aos fins.
Equivalendo-se a dizer, que o poder de polícia não deve ir além do
necessário para a satisfação do interesse público quer visa proteger, já que a
sua finalidade não é destruir os direitos individuais, mas, ao contrário,
assegurar o seu exercício, condicionando-o ao bem-estar social, caso
contrário, somente poderá reduzi-los quando em conflito com interesses
maiores da coletividade e na medida estritamente necessária à consecução
dos fins estatais (DI PIETRO, 2003, p. 117).
Infere-se, que o poder de polícia como os demais poderes da
Administração Pública, é exercido por meio de atos administrativos, que para
serem perfeitamente válidos, deverá observar os pressupostos de
competência, finalidade, forma, motivo, e objeto, que são requisitos genéricos
dos atos administrativos.
2Disponível em: < http://www.fesac.org.br/art_02.html>. Acesso em: 10.jan.2012.
40Contudo, acrescidos aos supracitados requisitos de caráter geral, está
o requisito específico do ato de polícia: incidir sobre o uso, gozo e disposição
da propriedade ou sobre o exercício da liberdade. Todavia, a ausência deste
elemento individualiador desnatura o ato como de polícia, pois, ter-se-á
certamente, ato de natureza administrativa, porém não se poderá tomá-lo por
ato de polícia, apesar de sua validade não se encontrar comprometida, apenas
não será ato de polícia.
Costuma-se, apontar como atributos do poder de polícia, a
discricionariedade, que no exercício do poder de polícia significa que a
Administração Pública, quanto aos atos a ele relacionados, regra geral, dispõe
de uma razoável liberdade de atuação, podendo valorar a oportunidade e
conveniência de sua prática, estabelecer o motivo e escolher dentro dos limites
legais, seu conteúdo.
A finalidade de todo ato de polícia, como a de qualquer ato
administrativo, é requisito sempre vinculado e traduz-se na proteção do
interesse da coletividade (MEIRELLES, 2003, p.132).
No entanto, a Administração Pública pode, em princípio, dentro dos
critérios de oportunidade e conveniência escolher quais atividades irá fiscalizar
num determinado momento, e, dentro dos limites estabelecidos na lei, quais as
sanções deverão ser aplicadas e como deverá esta prevista em lei, e também
terá que guardar correspondência e proporcionalidade com a infração
verificada.
Logo, ao exercer o poder de coerção de que dispõe a Administração
Pública, na prática de atos de polícia, não se pode conceber que seja utilizado
indevidamente pelos agentes administrativos, o que ocorreria, por exemplo,
se usada onde não houvesse necessidade.
Nessa mesma linha de raciocínio, José dos Santos Carvalho Filho
argumenta que:
Existe a necessidade da utilização da cautela entre os meios e os fins da atividade administrativa. Em virtude disso, à categoria de princípio necessário à legitimidade do ato de polícia a existência de uma linha proporcional entre os meios e os fins da atividade administrativa, tendo cautela na sua atuação, nunca se servindo de meios mais energéticos que os necessários à obtenção do resultado pretendido pela lei. Como ato administrativo que é, o ato de polícia será legal ou
41ilegal, conforme compatível ou não com os requisitos para sua validade (2009, p. 72)
Em contrapartida, não havendo proporcionalidade entre a medida
adotada e o fim a que se destina, incorrerá a autoridade administrativa em
abuso de poder e ensejará a invalidação da medida na via judicial, inclusive
através de mandado de segurança.
Na verdade, a principal razão, para esse entendimento, seria pelo qual
a Administração Pública são conferidas prerrogativas que têm o único escopo
de atender aos interesses coletivos, não lhe sendo lícito atuar em detrimento
deste ou daquele indivíduo, a pretexto de buscar interesses.
Sendo a conduta administrativa desproporcional, a conclusão é a de
que um ou alguns indivíduos estão sendo prejudicados por excesso de poder,
revelando-se ausente o verdadeiro interesse coletivo a ser perseguido e
configurando-se, ilegalidade que merece correção (CARVALHO FILHO, 2009,
p. 73). Exemplificando têm-se, como ofensa ao princípio da proporcionalidade,
o uso exagerado de violência por agentes policiais encarregados de manter a
ordem em casos de protestos ou movimentos populares e de diligências em
locais de maior incidência de delitos, como favelas, morros e outras
comunidades.
Resguardado nesse sentido, com a decisão da 1ª câmara cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro ao julgar a apelação cível nº
3.594/97, abaixo decidiu: Ato Administrativo – Interdição de Estabelecimento
Comercial – Ilegalidade – Hipótese. É ilegal o ato da autoridade pública que
interdita estabelecimento comercial na mesma data em que concede prazo
para a impetrante tomar as necessárias providências no sentido de garantir a
segurança contra incêndio e pânico e providenciar o isolamento acústico do
estabelecimento. Direito líquido e certo a ser tutelado pela via do mandamus
(ApCív nº 3.594/97, Capital, 1ªCCív, unãn, Rel. Des. Martinho Campos, publ.
em 10-06-1999) (CARVALHO FILHO, 2009, p. 73).
Percebe-se, que a violência excessiva é conduta desproporcional a
regular diligência de preservação da ordem pública, de modo que merece
repressão e responsabilização dos agentes causadores da violação
(CARVALHO FILHO, 2009 p. 75).
42Por fim, a desproporcionalidade do ato de polícia ou seu excesso
equivale ao abuso de poder, que pela natureza própria do fato em si, se
configura como ilegalidade, não podendo conceber a conduta de um agente
fora dos limites de sua competência ou despida da finalidade da lei, possa
compatibilizar-se com a legalidade, leque a ser abordado no próximo capítulo.
43
CAPÍTULO III
O ABUSO DO PODER DE POLÍCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Neste capítulo, busca-se enfocar as questões pertinentes ao abuso do
poder de polícia na Administração Pública, embora competente para praticar o
ato, ultrapassa os limites de suas atribuições, ou se desvia das finalidades
administrativas.
Segundo o entendimento de José dos Santos Carvalho Filho: No exercício da atividade de polícia, a Administração Pública, pode atuar de duas maneiras: Em primeiro lugar, pode editar atos normativos, que têm como característica o seu conteúdo genérico, abstrato e impessoal, qualificando-se, como atos dotados de amplo círculo de abrangência. Neste caso, as restrições são perpetradas por meio de decretos, regulamentos, portarias, resoluções, instruções. Em segundo lugar, além desses, pode-se criar também atos concretos, que são preordenados a determinados indivíduos plenamente identificados, como por exemplo, os veiculados por atos sancionatórios, como a multa, e por atos de consentimentos, como as licenças e autorizações (2009, p. 66).
Exemplificando têm-se, os casos do poder público ter por objetivo
pretender regular o desempenho de profissão, ou edificações, editando atos
normativos. Mas, quando interdita um estabelecimento ou concede autorização
para porte de arma, pratica atos concretos.
Ainda acrescenta José dos Santos Carvalho Filho que: No entanto, os atos de polícia, possuem, dupla qualificação: ou constituem determinações de ordem pública ou consubstanciam consentimentos dispensados aos indivíduos. Logo, o poder público estabelece determinações quando a vontade administrativa e apresenta impositiva, de modo a gerar deveres e obrigações aos indivíduos, não podendo estes se eximir de cumpri-los. Assim, os consentimentos representam a resposta positiva da Administração Pública aos pedidos formulados por indivíduos interessados em exercer determinada atividade, que dependa do referido consentimento, para ser considerada legítima. Nesse caso, a polícia administrativa resulta da verificação que fazem os órgãos competentes sobre a existência ou inexistência de normas restritivas e condicionadoras, relativas à atividade pretendida pelo administrado (2009, p. 67).
44Tais atos de consentimento são as licenças, que são atos vinculados e,
como regra, definitivos, ao passo que as autorizações espelham atos
discricionários e precários. Como exemplo das primeiras, é a licença para
construção. Ao passo, que constitui autorização o consentimento dado a
determinados moradores para fechamento temporário de uma rua com vistas à
realização de festa popular.
Contudo, nem sempre o poder do ato de polícia, é utilizado de forma
adequada pelos administradores públicos, já que a atuação destes deve
sujeitar-se aos parâmetros legais, ou seja, deve guardar conformidade com o
que a lei dispuser. Logo, a conduta abusiva não pode merecer aceitação no
mundo jurídico, devendo ser corrigida na via administrativa ou judicial.
Ainda assim, José dos Santos Carvalho Filho, conceitua o abuso de
poder de polícia, abaixo mencionado:
Pode-se, dizer que o abuso de poder é a conduta ilegítima do administrador, quando atua fora dos objetivos expressa ou implicitamente traçados na lei, ou seja, na medida em que são utilizados sem a base e a conjuntura imposta pela lei ao administrador, como meio de garantir a ordem suprema do interesse público (2009, p. 31).
Entretanto, segundo, Hely Lopes Meirelles, “O abuso de poder, como
todo ato ilícito, reveste as formas mais diversas, que ora se apresenta
ostensivo como a truculência, às vezes dissimulado como o estelionato, e não
raro encoberto na aparência ilusória dos atos legais” (2003, p. 106).
Em qualquer desses aspectos, flagrante ou disfarçado, o abuso de
poder é sempre uma ilegalidade invalidadora do ato que a contém, podendo
revestir-se da forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes
de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do administrado.
Com base nesse raciocínio, o Conselho de Estado da França passou a
anular os atos abusivos das autoridades administrativas, praticados com
excesso de poder ou desvio de finalidade. Exemplificando têm-se, o famoso
caso Lesbats, ocorrido na França no ano de 1864: Prefeito de Fontainebleau, a
pretexto de executar a lei que lhe autorizava regular o estacionamento de
ônibus, defronte à estação ferroviária, proibiu a recorrente de entrar e
estacionar seus carros no pátio daquela estação. Conhecendo do recurso, o
45Conselho de Estado anulou a decisão do Prefeito, afirmando que houve
détournement de pouvoir (ilegalidade pelo mau uso do poder), porque seu ato
visava a dar privilégio à outra empresa, quando a lei não lhe concedia esse
poder, nem permitia discriminações entre as transportadoras de passageiros
naquele local. (Sirey, Refonte, t. 9, III, p. 46, decisão de 25.2.1864 apud
MEIRELLES, 2003, p. 111).
Portanto, se o poder foi conferido ao administrador público para realizar
determinado fim, por determinados motivos e por determinados meios, toda
ação que se apartar dessa conduta, contrariando ou ladeando o desejo da lei,
padece do vício de excesso de poder, e desvio de poder ou finalidade, e como
todo ato abusivo ou arbitrário, é ilegítima (MEIRELLES, 2003, p. 107).
No primeiro caso, quando a autoridade, embora competente para
praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de suas faculdades
administrativas. Excede, portanto, sua competência legal, e, com isso, invalida
o ato, porque ninguém pode agir em nome da Administração fora do que a lei
lhe permite, tornando o ato arbitrário, ilícito e nulo.
Nesse caso, é uma forma de abuso de poder que retira a legitimidade
da conduta do administrador público, colocando-o na ilegalidade e até mesmo
no crime de abuso de autoridade, quando incide nas previsões penais da Lei nº
4.898, de 9.12.65, que visa a melhor preservar as liberdades individuais,
asseguradas no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.
Essa conduta abusiva, através do excesso de poder, tanto se
caracteriza pelo descumprimento frontal da lei, quando a autoridade age
claramente além de sua competência, como também, quando ela contorna
dissimuladamente as limitações da lei, para arrogar-se poderes que não lhe
são atribuídos legalmente.
Em qualquer dos casos, há excesso de poder, exercido com culpa ou
dolo, mas sempre com violação da regra de competência, o que é bastante
para invalidar o ato assim praticado (MEIRELLES, 2003, p. 108). Já o segundo
caso, é a modalidade de abuso em que a autoridade busca alcançar fim
diverso daquele que a lei lhe permitiu, pois a finalidade da lei está sempre
voltada para o interesse público.
46Sendo assim, se a autoridade atua em descompasso com esse fim,
desvia-se, de seu poder e pratica, assim, conduta ilegítima. Por isso, é que tal
vício é também chamado de desvio de finalidade, nulificador do ato
administrativo lesivo do patrimônio público, com base no artigo 2º, parágrafo
único, “e” da Lei nº 4.717, de 29.06.65, regulamentar da ação popular.
Exemplificando têm-se, quando uma autoridade decreta uma desapropriação,
alegando utilidade pública, mas, na realidade, visa a satisfazer interesse
pessoal próprio ou favorecer interesse particular com a subseqüente
transferência do bem expropriado, ou quando outorga uma permissão sem
interesse coletivo, ou, ainda, quando classifica um concorrente por favoritismo,
sem atender aos fins objetivados pela licitação (MEIRELLES, 2003, p. 109).
Contudo, o desvio de poder é a conduta mais visível nos atos
discricionários, em decorrência da dificuldade na obtenção da prova efetiva do
desvio, sobretudo porque a ilegitimidade vem dissimulada sob a aparência da
perfeita legalidade (CARVALHO FILHO, 2009, p. 31).
Observa-se, de acordo com Bandeira de Mello, que: “trata-se, pois, de
um vício particularmente censurável, já que se traduz em comportamento soez,
insidioso. A autoridade atua embuçada em pretenso interesse público,
ocultando dessarte seu malicioso desígnio” (apud CARVALHO FILHO, 2009, p.
28).
Não obstante, ainda que sem prova ostensiva, é possível extrair da
conduta do agente público os dados indicadores do desvio de finalidade,
sobretudo à luz do objetivo que a inspirou. Como também, reconhecendo a
dificuldade da prova, Cretella Junior, oferece a noção dos sintomas
denunciadores do desvio de poder, como “qualquer traço, interno ou externo,
direto, indireto ou circunstancial que revele a distorção da vontade do agente
público ao editar o ato, praticando-o não por motivo de interesse público, mas
por motivo privado” (apud CARVALHO FILHO, 2009, p. 32).
Logo, o ato praticado com desvio de finalidade, como todo ato ilícito ou
imoral, ou é consumado às escondidas ou se apresenta disfarçado sob o capuz
da legalidade e do interesse público. Diante disto, há que ser surpreendido e
identificado por indícios e circunstâncias que revelem a distorção do fim legal,
47substituindo habilidosamente por um fim ilegal, ou imoral não desejado pelo
legislador. Baseado com a decisão do Supremo Tribunal Federal: “Indícios
vários e concordantes são prova” (STF, RTJ 52/140) (MEIRELLES, 2003, p.
109).
Dentre os elementos indiciários do desvio de finalidade está a falta de
motivo ou a discordância dos motivos com o ato praticado, segundo decisão do
Tribunal de Justiça de São Paulo: “Constitui abuso de poder a remoção de
servidor público sem justificativa das razões de ordem pública para a
providência” (TJSP, RT 664/63) (MEIRELLES, 2003, p. 109).
Portanto, tudo isso dificulta a prova do desvio de poder ou de
finalidade, mas não a torna impossível se recorrer aos antecedentes do ato e à
sua destinação presente e futura por quem o praticou (MEIRELLES, 2003, p.
109).
Nessa mesma linha de raciocínio, Álvaro Lazzarini argumenta que: Logo, a autoridade convertendo o ato de polícia em arbitrariedade, abuso de poder, por qualquer de suas formas, há de ser controlado pelos mecanismos que o ordenamento jurídico prevê, sob pena de cometer outro arbítrio, abuso de poder, ou abuso de autoridade, ser praticado por quem deva apurar o fato constitutivo do abuso. Exemplificando têm-se, o artigo 5º, inciso XXXIV; letra “a”, da Constituição Federal de 1988, que assegura, “independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição ao Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder” (1996, p. 110).
Como também o hábeas corpus, inciso LXVIII; “sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. Certo que ainda, “conceder-
se-á, mandado de segurança, inciso LXIX; para proteger direito líquido e certo,
não amparado por “hábeas corpus”ou “hábeas data”, “quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público” (LAZZARINI, 1996, p.
35).
Bem como, assegura nos termos do artigo 5º, incisos XX-XIV; “a”, a
toda pessoa o direito de representação contra abusos de autoridade, e
completando esse sistema de proteção de autoridade contra os excessos de
poder, com a Lei nº 4.898, de 9.12.65, denominada “Lei do Abuso de
48Autoridade”, que regula o direito de representação e o processo de
responsabilidade administrativa, civil, e penal, nos casos de abuso de
autoridade (LAZZARINI, 1996, p. 35).
Dentro dos direitos e garantias fundamentais que reconhece o país,
inseriu no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, que “a lei
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, e
também, o artigo 5º, inciso LV; “assegurando, no entanto, aos acusados em
geral, no processo judicial ou administrativo, o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes” (LAZZARINI, 1996, p. 36).
Por isso, qualquer dos modos de abuso de poder, seja, por excesso de
poder ou desvio de poder, não necessitará, porém, de controle jurisdicional por
parte do poder judiciário se a própria administração pública, em um
autocontrole, exercitar outros dois poderes administrativos que lhe são
inerentes, ou seja, o poder hierárquico e o poder disciplinar (LAZZARINI, 1996,
p. 36).
Contudo, os órgãos superiores ao que praticou o ato de polícia, com
efeito, ao invés de um corporativismo que os desacredita perante a
comunidade, devem considerar o quanto está examinado na fiscalização do ato
de polícia. Porém, falhando o controle administrativo, porque o superior, por
ação ou omissão, referendou o abuso de poder de seu subordinado, restará ao
administrado que se sinta prejudicado a busca do controle jurisdicional do ato
de polícia, através do órgão judiciário competente em razão da matéria.
Entretanto, pode ocorrer que a administração pública atue com inércia
em relação a seus atos praticados, ou seja, haja com omissão, que pode
representar aprovação ou rejeição da pretensão do administrado, tudo
dependendo do que dispuser a norma pertinente.
Sendo assim, quando a norma estabelece que, ultrapassado tal prazo,
o silêncio importa aprovação ou denegação do pedido do postulante, assim se
deve entender, menos pela omissão administrativa do que pela determinação
legal do efeito do silêncio. Quando a norma limita-se em fixar prazo para a
prática do ato, sem indicar as conseqüências da omissão administrativa, há
que se perguntar, em cada caso, os efeitos do silêncio.
49Logo, o certo é que o administrado jamais perderá seu direito subjetivo
enquanto perdurar a omissão da Administração Pública no pronunciamento que
lhe compete. Quando não houver prazo legal, regulamentar ou regimental para
a decisão, deve-se aguardar por um tempo razoável a manifestação da
autoridade ou do órgão competente, ultrapassando o qual o silêncio da
administração pública converte-se em abuso de poder, corrigível pela via
judiciais adequadas, que tanto pode ser ação ordinária, medida cautelar,
mandado de injunção ou mandado de segurança, como também sua inércia
retardando ato ou fato que deva praticar, ensejando indenização ao
prejudicado.
Nessa mesma linha de raciocínio, Hely Lopes Meirelles argumentava
que:
Em tal hipótese, não cabe ao poder Judiciário praticar o ato omitido pela Administração Pública, mas, sim impor sua prática, ou desde logo suprir seus efeitos, para restaurar ou amparar o direito do postulante, violado pelo silêncio administrativo. Neste caso, o silêncio não é ato administrativo, mas conduta omissiva da administração pública que, quando ofende direito individual ou coletivo dos administradores ou de seus servidores, se sujeita à correção judicial e a reparação decorrente de sua inércia. No direito privado o silêncio é normalmente interpretado como concordância da parte silente em relação à pretensão da outra parte, e no direito público, nem sempre, pois pode valer como aceitação ou rejeição do pedido (2003, p. 110).
Entretanto, é preciso ressaltar que, em sendo o poder de polícia um
meio indispensável de ação dos governantes na prática do dever de boa
administração e, um poder discricionário, tal característica o coloca em maior
destaque quanto à necessidade do controle de legalidade na sua atuação, de
modo a conterem-se, oportunamente, os excessos ou desvios da
administração pública.
Logo, se a administração pública, em defesa do interesse geral, policia
os abusos dos particulares, é preciso que ela própria também seja policiada
quanto aos excessos e desvios de poder. Tal incumbência cabe ao poder
judiciário, como guardião da legalidade e protetor dos direitos e liberdades,
declarando a nulidade dos atos administrativos ilegais, através dos remédios
especiais para tanto, que se consolidaram através dos tempos, que são o
50hábeas corpus, mandado de segurança, ação popular, ações de
responsabilidade e civis públicas.
Para o Desembargador Asclepíades Rodrigues do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro, expediu o acórdão supracitado, entendendo ser
perfeitamente cabível a interdição de atividade que vinha sendo praticada há
muitos anos, mediante alvará de funcionamento, mas sem estar dentro das
exigências do devido processo legal, ocasionando ofensa as condições de
validade de prática dos atos em geral, levando a atuação do poder de polícia
por parte da Administração Pública. Sendo assim, na prerrogativa de
valorização que se situa o poder discricionário, entre as várias condutas
possíveis, a que se traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse
público, não pode ser dispensados os requisitos de validade dos atos em geral,
como a competência, finalidade e forma a que estão dispostos.
Como também, a jurisprudência é pacífica em admitir mandado de
segurança contra conduta omissiva, através da Súmula nº 429 do Supremo
Tribunal Federal; “A existência de recurso administrativo, com efeito,
suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da
autoridade” (MEIRELLES, 2003, p. 110).
3.1 Poder de policia no Direito comparado
No caso do abuso do poder de polícia na Administração Pública,
utilizando-se o método comparativo do sistema administrativo, pode-se analisar
em alguns países como: Argentina, Itália, França, Alemanha e Portugal.
Sendo assim, no país da Argentina, existia o abuso do poder, na
medida que o agente público, atuava com finalidades que não sejam legais.
Mesmo, que o objeto do ato não seja contrário ao ordenamento jurídico, o ato
será viciado pelo desvio de poder3.
Exemplificando têm-se, através de três exemplos, a saber: o primeiro,
quando o agente público atua com uma finalidade pessoal, ou seja, com fim de
3Disponível em: <http://file://A:/JURID%20Publicações%20Eletrônicas.html>. Acesso em: 12.jan.2012.
51lograr partidarismo, maldade ou lucro. Nestes casos, ainda que o ato responda
objetivamente às condições expressas exigidas legalmente, está viciado ao
contrariar a finalidade da mesma. Portanto, está caracterizado a utilização do
princípio da legalidade, que permite a concretização do estado de direito, na
medida que governa a lei e não os homens. No segundo, o agente público,
atua com a finalidade de beneficiar uma pessoa ou um grupo de pessoas.
Logo, ocorre quando visa violar objetivamente a lei, em que se usa do poder
administrativo com a finalidade de beneficiar a terceiros, por exemplo, caso um
agente público está autorizado a realizar contratação direta, prescindindo, ou
seja, desviando da licitação pública, e contrata com uma determinada empresa,
em razão de serem amigos seus e deseja ajudá-los com o contrato. Por último,
o terceiro em que o agente público atua com a finalidade de beneficiar à
administração ou ao bem comum.
Entretanto, no país da Itália, fala-se em desvio ou excesso de poder,
quando a autoridade administrativa faz uso do poder de que é detentora, em
casos e para fins diversos do pretendido por lei, têm-se os abusos do poder.
Nesta hipótese, o ato emana do órgão administrativo nos limites de sua
competência, nas formas prescritas em lei, mas não segundo o escopo da lei,
ou seja, a autoridade administrativa ocupante de determinado cargo pelo qual
fora eleito, ao dar cumprimento a determinada ato de que dispõe, para
determinado fim, se desvia com outro objetivo, que não seja o interesse
público, tornando ilegítimo o seu uso4
De acordo com os italianos, a expressão excesso de poder é acolhida
em duas leis, com significados distintos. Na lei a respeito de conflitos de
atribuições de 31 de março de 1877, nº 2761, o excesso de poder, é tido como
excesso de poderes jurisdicionais, sendo apelidada de “direito di giurisdizione”,
de acordo com os artigos 37, 41, 360 e 362 do Código de Processo Civil
italiano. Já o excesso de poder administrativo, é acolhido pelas leis que tratam
do Conselho de Estado Italiano e sobre a Junta Provincial Administrativa de
1888.
4Disponível em: <http://file://A:/JURID%20Publicações%20Eletrônicas.html>. Acesso em: 12.jan.2012.
52Portanto, de fato reconhece-se, que os atos praticados constituem
abuso de poder, na medida que dada à natureza humana e o egoísmo dos
indivíduos, as autoridades e os agentes públicos, ao exercerem sua
competência, com o intuito de obter vantagens particulares para si ou terceiros,
fogem ao fim público destinado. Logo, a jurisprudência francesa criou para
combater essas práticas abusivas, a teoria do desvio de poder, o qual todos
atos jurídicos, regulares na aparência, praticados por agente público com
finalidade distinta daquele a qual devia, está viciado de excesso de poder, é,
portanto nulo.
Por outro lado, na Alemanha a teoria do desvio de poder, fora
introduzida pelos legisladores Rudolf Von Laun e Walter Jellinek, e reconhecida
pela doutrina e jurisprudência. Observa-se, que o desvio de poder era
entendido, quando ultrapassado os limites ou permitia evidenciar o fim situado
além do poder discricionário, não havendo dúvida, então quanto ao caráter
defeituoso do ato. Portanto, o abuso de poder ser ia empregado em sentido
mais genérico, e o desvio e excesso de poder, em sentido mais específico.
Destaca-se, ao seguir no mesmo raciocínio, a dificuldade em se ter à
noção e o conceito do desvio de poder, abaixo descrito: Conclui-se, que existia
uma grande dificuldade de se fixar à noção e o conteúdo preciso do desvio de
poder. Embora muitos sejam os conceitos de desvio de poder, na doutrina e na
jurisprudência de diferentes países, na da Alemanha está presente o elemento
fim, já que a natureza do desvio de poder é realçada e caracterizada pelo
afastamento da finalidade. Pois o desvio de poder se envolve com a noção
teleológica, isto é, o fim perseguido pela autoridade administrativa é básico
para julgar a intenção de seu autor5
E por fim, em Portugal, segundo legislador Marcelo Caetano, já
conceituava o desvio de poder como: “que afeta o ato administrativo praticado
no exercício de poderes discricionários quando estes hajam sido usados com o
fim diverso daquele para que a lei os conferiu”6
Logo, o elemento do ato afetado por este vício é o fim, que em razão
deste, só ser autônomo na medida em que seja produto de poderes 5Disponível em:<http://file://A:/JURID%20Publicações%20Eletrônicas.html>. Acesso em: 12.jan.2012. 6Disponível em: <http://file://A:/JURID%20Publicações%20Eletrônicas.html>. Acesso em: 12.jan.2012.
53discricionários, ou seja, sendo o desvio de poder exclusivo dos atos praticados
no exercício de poder discricionários. Sendo o posicionamento do legislador, ao
consagrar, pela primeira vez este vício no direito positivo.
Demonstra, que o fim do poder discricionário é o mesmo que a lei
conferiu ao órgão, que dessa forma, a interdição da norma atributiva de
competência é que esclarecerá sobre o fim de que o poder deve destinar-se a
predeterminar se a determinação do fim do poder discricionário é vinculação
legal. Portanto, o desvio de poder é uma espécie de ilegalidade, e não mera
imoralidade administrativa, na medida que a busca da legalidade exige, de
outra forma, que não seja aceito qualquer interesse público, indeterminado.
Logo, é certo que a pretensão do interesse público genericamente considera
casos em que o órgão administrativo abusa do poder discricionário, para
colocar fins de mero interesse para quem constitui a modalidade extrema do
desvio, este existirá também sempre que designando a lei, ou deduzindo-se
aos termos, um fim específico a atingir, este fim seja postergado e substituído
por outro, embora de interesse seu também.
Pelo que foi observado, as abordagens realizadas pelos legisladores e
autoridades administrativas de diferentes países, com respeito a uma das
formas de abuso de poder, que é o desvio de poder, foram de valioso conteúdo
para melhor entendimento do ponto de vista do Direito Administrativo.
54
CONCLUSÃO
Após ter sido salientado um estudo acerca do tema: o abuso do poder
de polícia na Administração Pública, conclui-se que o poder público é uma
locução que encera o conjunto de prerrogativas que possibilitam a
administração pública remover eventuais resistências que o administrado,
oponha ao interesse social.
Sendo assim, o uso do poder é legítimo, por parte da autoridade
pública competente, só no interesse social, pois a autoridade, porém, é a do
órgão com atribuições para a prática do ato, não sendo privilégio da pessoa
física que o integra, ou seja, do agente público que exerce a atividade do
Estado.
Notou-se, que o abuso do poder ocorre quando o poder é usado
anormalmente, ou seja, não sendo devidamente utilizado dentro das normas
legais, da moral da instituição ou de sua finalidade, por órgão público sem
competência para o ato ou, se competente, para satisfazer interesse particular
em detrimento do interesse social.
Destacou-se ainda, que a Administração Pública, para não abusar de
seu poder, deva através de seus atos, visando sempre à função pública, utilizá-
los com proporcionalidade e razoabilidade no estrito cumprimento do dever,
mas sempre embasado nos limites impostos pela lei.
Observou-se também, que o poder de polícia constitui um meio eficaz,
de assegurar os direitos individuais do cidadão, porventura ameaçados, na
medida que se utiliza desta prerrogativa de fiscalizar e orientar no cumprimento
de suas obrigações.
Acrescentou-se, outro ponto importante, em relação ao cumprimento
da atividade de polícia, que ao exercer este poder, sempre com fundamento do
interesse público sobre o particular, não passe a beneficiar ou prejudicar
determinadas pessoas, na medida que a lei traça claras limitações, como por
exemplo, a liberdade pessoal com base no artigo 5º, incisos VI e VIII, ao direito
55de propriedade no artigo 5º, incisos XXIII e XXIV, bem como ao exercício das
profissões, com fulcro no artigo 5º, inciso XIII. Portanto, a cada restrição do
direito individual, expresso em norma legal, corresponde atuação do poder de
polícia administrativo à administração pública, possibilitando torná-la efetiva e
ser obedecida, pois esse poder, se embasa, no interesse superior da
coletividade em relação ao direito do indivíduo que a compõe.
Por fim, abordou-se, que tecnicamente quando o agente público,
embora atuando dentro de sua competência, afasta-se do interesse público a
qual deva ter total zelo e dedicação, buscando interesse próprio, sua conduta
passa a ser ilegítima e seus atos nulos de pleno direito, o que faz ocasionar
uma quebra no ciclo de desenvoltura dos trabalhos realizados pela
administração pública.
Todavia, sujeita-se o mesmo, às sanções que o ordenamento jurídico
brasileiro possa indicar, como por exemplo, afastamento do car go público,
sujeito a responder processo administrativo, mesmo em face o princípio da
impessoalidade, a sua individualização pode ser recomendável quando atue,
não como expressão da vontade do Estado, mas de veleidade, capricho ou
arbitrariedade pessoal.
Portanto, a personalização vale assim para imputar ao agente público,
uma falha e responsabilizá-lo perante a Administração Pública, a fim de que
esta lhe imponha a punição cabível.
56
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRASIL. Código Tributário Nacional. Organização dos textos, legislação complementar, súmulas e índices. (coord.) Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 9. ed., São Paulo: Saraiva, p. 65, 2003. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 429. A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade. In:_____ Súmulas. São Paulo: Coleção Revista dos Tribunais - Mini Códigos (Constituição Federal, Código Civil, Código Processual Civil), 2010. p. 2619.
57
BIBLIOGRAFIA CITADA
AMÊNDOLA, Paulo César. Segurança pública: a proposta de como aumentar a capacidade preventiva da polícia. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2002. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 9. ed., Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2009. __________. Manual de Direito Administrativo. 6. ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. CRETELLA JUNIOR, José. Curso de Direito Administrativo. 17. ed., atual, ampl., São Paulo: Forense, 2000. DI PIETRO, Zanella, Maria Sylvia. Direito Administrativo. 15. ed., São Paulo: Atlas, 2003. __________. Direito Administrativo. 9. ed., São Paulo: Atlas, 1997. FLÁVIA. Administração Pública. 2009. Disponível em: <http: //web.eep.br/~flavia/intro.html>. Acesso em: 02 de abril de 2009, 09:15:20. LAZZARINI, Álvaro. Abuso do poder x Poder de polícia. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, n. 203, p. 25-39, jan/fev. 1996. LIMA, SILVA, Rogério. Sumário. 1997. 54 f. Monografia (Poder de Polícia). Rio de Janeiro, RJ, 1997. Disponível em: <http://www.fesac.org.br/art_02.html>. Acesso em: 10 de abril de 2010, 09:15: 12. MAFRA FILHO, A.F.S. O desvio de poder no Direito Comparado. Doutrina Geral – Jurídica. Publicações Eletrônicas, p. 1-7. Disponível em: <http://file://A:/JURID%20Publicações%20Eletrônicas.html>. Acesso em: 12 de abril de 2010, 09:25: 10. MEDAUAR, Odete. Poder de Polícia. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, n. 199, p. 89-96, jan/mar. 1995. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 28. ed., São Paulo: Malheiros, 2003. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Malheiros, 1996.
58MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 11. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2001. PADILHA, N. S. Reflexões sobre o poder, a ordem, o Estado e a liberdade. Dataveni@. Presidente Prudente, set. 2003. Disponível em: <http://www.unitoledo.br/intertemas/vol_2/22%%20%PADILHA,%20Sueli.html>. Acesso em: 23 de abril de 2010, 10:25: 15. ROSA, Márcio Fernando Elias. Sinopses jurídicas. Direito Administrativo. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2003. SILVA, Jorge da. Segurança pública e polícia: criminologia crítica aplicada. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
59
INDICE
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 3
DEDICATÓRIA .................................................................................................. 4
RESUMO ........................................................................................................... 5
METODOLOGIA ................................................................................................ 6
SUMÁRIO .......................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
CAPÍTULO I ..................................................................................................... 10
ENTENDIMENTO SOBRE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................... 10
1.1 Poderes e Deveres da Administração Pública ........................................... 22
CAPÍTULO II .................................................................................................... 32
PODER DE POLICIA: CONCEITO, COMPETÊNCIA, ESPÉCIES,
FINALIDADES ................................................................................................. 32
CAPÍTULO III ................................................................................................... 43
O ABUSO DO PODER DE POLÍCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........ 43
3.1 Poder de policia no Direito comparado ...................................................... 50
CONCLUSÃO .................................................................................................. 54
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................... 56
BIBLIOGRAFIA CITADA ................................................................................. 57
INDICE ............................................................................................................. 59
60
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: O abuso do poder de polícia na Administração Pública
Autora: Valéria Mendonça dos Santos
Data da entrega:
Avaliado por: Prof Francis Rajzman Conceito: