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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM - FACULDADE INTEGRADA
A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ATRAVÉS DO LÚDICO PARA O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
Por: Amanda Leite Furtado
Orientador
Profa. Me. Fátima Alves
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM - FACULDADE INTEGRADA
A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ATRAVÉS DO LÚDICO PARA O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia ao Conjunto
Universitário Candido Mendes como condição
prévia para a conclusão do Curso de Pós-
Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade.
Por: Amanda Leite Furtado
Rio de Janeiro
2015
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por conceber condições físicas e
mentais para ingressar nesta tão renomada Instituição e no curso de Pós-Graduação
em Psicomotricidade que sempre foi tão almejado.
À Coordenação e a todos os mestres pelo comprometimento,
responsabilidade e conhecimento compartilhados, pois foram eles que me
ensinaram e me fizeram uma pessoa melhor.
Não poderia deixar de citar a minha querida orientadora professora
Fátima Alves, que me ensinou e direcionou-me com técnicas brilhantes sobre o
assunto em questão.
À minha mãe, Lia Thereza Leite Furtado, que sempre esteve presente
ao meu lado em todos os momentos da minha vida, os tristes como os felizes, me
apoiando, incentivando e participando nesta trajetória.
Ao meu saudoso pai, Roberto Sodré Furtado, que sempre fez tudo por
mim, me incentivou no futuro acadêmico.
À minha saudosa irmã, Aline Leite Furtado, a qual eu tenho muito
orgulho por me proporcionar uma convivência traduzida por uma linda forma de
amor.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a todos os estimados
mestres, que de maneira incessante,
empenham com muito amor parte de suas
preciosas vidas na busca do equilíbrio do corpo
e da mente formando assim indivíduos
saudáveis e felizes.
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RESUMO
Este estudo busca contextualizar a psicomotricidade na educação
infantil através do lúdico para o processo de aprendizagem. A psicomotricidade é o
controle sobre a expressão motora, a qual auxilia o entendimento do
desenvolvimento motor da criança. Este trabalho tem como objetivo principal
compreender a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento e
aprendizagem na educação infantil. Buscou-se, através de um levantamento
bibliográfico, autores que pesquisaram a importância que a psicomotricidade para o
pleno desenvolvimento infantil, bem como a relação estabelecida entre a
desenvolvimento motor e o processo de ensino aprendizagem. Para tanto, estudam-
se as origens da educação infantil, as definições de psicomotricidade e a
importância da psicomotricidade na pré-escola e a utilização de atividades lúdicas
como prática pedagógica psicomotora.
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METODOLOGIA
A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica, utilizando-se como
fonte de consulta livros, monografias, artigos e publicações eletrônicas que abordam
o assunto analisado, através de sites de busca na internet e na biblioteca da
Universidade Cândido Mendes e na internet. Foram consultados autores com títulos
que correspondem às ideias e conceitos propostos na fundamentação teórica da
pesquisa. As informações foram coletadas nas obras de Jean Claude Coste, “A
psicomotricidade”; Vítor da Fonseca, “Psicomotricidade”; Suzana Veloso Cabral,
“Psicomotricidade relacional: prática clínica e escolar”, entre outros autores, assim
como um estudo exploratório através de sites de internet, artigos e publicações
eletrônica, que guardem relação com o assunto investigado.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 08
CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO INFANTIL................................................................................ 10
CAPÍTULO II
A PSICOMOTRICIDADE....................................................................................... 20
CAPÍTULO III
A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ATRAVÉS DO LÚDICO. 35
CONCLUSÃO ................................................................................................. 44
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 46
ÍNDICE ............................................................................................................ 53
8
INTRODUÇÃO
A educação infantil tem por finalidade o desenvolvimento integral da
criança de zero a seis anos de idade. Consiste na primeira etapa da educação
básica, compreendendo o atendimento em creches ou entidades equivalentes
destinadas a crianças de até três anos de idade, e pré-escolas para as crianças de
quatro a seis anos de idade.
É na educação infantil, que a criança busca experiências em seu
próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal, sendo
necessário um trabalho com qualidade na área motora, para que a criança vivencie
todas as etapas de seu desenvolvimento.
A psicomotricidade contribui na formação corporal e no
desenvolvimento intelectual, motor, psicológico e afetivo das crianças, além de
ajuda-las a descobrirem seu corpo e como se expressar através dele, contribuindo
na aquisição da autonomia para a aprendizagem, facilitando assim o processo de
alfabetização.
Por meio de atividades lúdicas as crianças, além de se divertir, criam,
interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. A criança ao brincar e
jogar se envolve tanto com a brincadeira, que coloca na ação seu sentimento e
emoção. Pode-se dizer que a atividade lúdica funciona como um elo integrador entre
os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais, portanto a partir do brincar,
desenvolve-se a facilidade para à aprendizagem. Portanto, partindo de tal
pressuposto fundamenta-se a necessidade de evidenciar como a psicomotricidade,
por meio de atividades lúdicas, pode contribuir para o desenvolvimento global da
criança na educação infantil.
A hipótese construída é de que a educação psicomotora, por meio de
jogos e exercícios corporais, contribui para que a criança adquira coordenação
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motora, conscientização e domínio do corpo, ajustamento dos gestos e movimentos,
ampliando suas possibilidades de entendimento e compreensão do processo de
aprender.
Com base nessas considerações, esta monografia tem como objetivo
geral compreender a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento e
aprendizagem na educação infantil. No campo dos objetivos específicos, procura-se
apresentar os principais aspectos da educação infantil; conceituar o que é a
psicomotricidade e verificar e analisar as contribuições da psicomotricidade nas
classes de educação infantil.
Inicialmente aborda-se o surgimento e a evolução da educação infantil
e as perspectivas dessa etapa educativa na legislação brasileira. Após trata-se dos
conceitos da psicomotricidade, sua finalidade, as estruturas psicomotoras, a
educação psicomotora e sua importância na educação infantil. Em seguida trata-se
do lúdico enquanto prática pedagógica psicomotora nas classes de educação
infantil. Na sequência são apresentadas as considerações finais do trabalho.
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CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO INFANTIL
A Educação Infantil tem por finalidade o desenvolvimento integral da
criança de zero a seis anos de idade. Consiste na primeira etapa da educação
básica.
Para compreendermos melhor o estudo, iniciaremos com a história da Educação
Infantil.
1.1 Aspectos históricos
De acordo com Craidy e Kaercher (2001) as instituições de educação
infantil tem seu surgimento relacionado ao aparecimento da escola e do pensamento
pedagógico moderno, entre os séculos XVI e XVII, contudo, pode-se dizer que a
preocupação com a educação infantil
sempre esteve presente em todos os sistemas e períodos
educacionais, a partir dos gregos, quando ainda era uma educação
informal dada no seio da família pela mãe ou por pessoa
responsável. Era indispensável que a criança se iniciasse nas
primeiras “noções de coisas” e também nos afazeres domésticos,
tanto no lar como no campo (MENDES, 1999, p. 41).
Assim, inicialmente a educação infantil era responsabilidade da família,
no próprio lar. Com a revolução industrial e a inserção da mulher no mercado de
trabalho, em decorrência da necessidade crescente de mão de obra para as
indústrias, houve a necessidade de locais próprios para o cuidado das crianças
durante o horário de trabalho das mães. Iniciativas diferenciadas surgiram para
suprir essa necessidade, destinadas ao cuidado de crianças pequenas:
11
As primeiras instituições na Europa e Estados Unidos tinham como
objetivos cuidar e proteger as crianças enquanto às mães saíam para
o trabalho. Desta maneira, sua origem e expansão como instituição
de cuidados à criança estão associadas à transformação da família,
de extensa para nuclear. Sua origem, na sociedade ocidental,
baseia-se no trinômio: mulher - trabalho - criança (BRANDOLI, 2012,
p. 43).
Ao longo do tempo, essas instituições foram denominadas de creche, escola
maternal, sala de asilo, escola de tricotar, jardim de infância, pré-primário e pré-
escola, apresentando características próprias e particulares. “As creches, escolas
maternais e jardins de infância tiveram, no seu início, o objetivo assistencialista, cujo
enfoque era a guarda, higiene, alimentação e os cuidados físicos das crianças”
(BRANDOLI, 2012, p. 43).
Referindo-se a evolução dessas instituições, Spodeck e Saracho
(1999) relatam o surgimento da escola Puritana, em1647, nas colônias da Inglaterra,
cuja escola primária foi idealizada para oferecer o ensino de aritmética, leitura e
escrita, concepção essa que aos poucos foi modificada. Inicialmente, crianças muito
pequenas, de três ou quatro anos de idade, ingressavam nessas escolas, no
entanto, essas crianças foram aos poucos excluídas, não apenas devido ao papel da
mãe na educação dos filhos, mas, também, porque se buscava um maior
rendimento escolar e maior frequência às aulas.
Outra instituição apontada no relato histórico de Spodeck e Saracho
(1999) é a Escola de Tricô, que surgiu na França, em 1767, fundada por Friedrich
Oberlin, um pastor protestante, para atender aos filhos de camponeses, e que
aceitava crianças a partir de dois anos de idade. As atividades incluíam trabalhos
manuais, exercícios e jogos. Gravuras e histórias eram utilizadas para complementar
o ensino. De acordo os objetivos dessa escola,
(...) ali a criança deveria: perder os maus hábitos; adquirir hábitos de
obediência, sinceridade, bondade, ordem, etc.; conhecer as letras
minúsculas; soletrar; pronunciar bem as palavras e sílabas difíceis;
conhecer a denominação francesa correta das coisas que lhe
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mostram e adquirir as primeiras noções de moral e religião (LIMA,
2015, p. 01).
Na concepção de Friedrich Oberlin:
Os princípios originais da educação infantil eram que as crianças
pudessem estar ao ar livre tanto quanto possível e aprender, quando
a curiosidade as levasse a fazer perguntas, dançar e cantar e não
serem aborrecidas com livros. Que elas fossem educadas e
treinadas sem punições ou temor que nenhuma restrição
desnecessária lhes fosse imputada e que lhes fosse ensinado
somente o que pudessem entender. Aos professores era
recomendado formar bons hábitos e ajudar as crianças a tratarem-se
gentilmente (SPODEK; SARACHO, 1999, p. 06).
Inspirado pela iniciativa de Oberlin, o industrial Robert Owen que, em
1816, em Lanark na Escócia, criou uma escola para os operários de sua indústria,
seus filhos e a comunidade de New Lanark, com uma classe infantil que recebia
crianças dos dois aos seis anos de idade.
A escola de Robert Owen (...) também é um exemplo de que essas
instituições foram pensadas na perspectiva pedagógica, já que (...)
tinha como objetivo trabalhar lições que abordavam a natureza,
exercícios de dança e de canto coral. Os materiais didáticos tinham
um propósito educativo, porque possibilitavam às crianças o
desenvolvimento do raciocínio e o julgamento correto diante das
situações propostas pelo professor (PASCHOAL; MACHADO, 2009,
p. 81).
Nessa linha evolutiva, têm-se, ainda, as salas de asilo francesas, cujo
movimento desencadeou-se entre 1828 e 1837, concebida sob uma perspectiva de
prover cuidados e educação moral e intelectual às crianças, com a intenção de
retirar das ruas as crianças em situação de risco e dos perigos a que estavam
expostas, e, em seguida, proporcionar-lhes o desenvolvimento da inteligência e dos
bons costumes; e o Kindergarten, primeiro Jardim de Infância, criado em meados de
13
1840 por Froebel, em Blankenburgo, Alemanha, que influenciou escolas no mundo
inteiro (KUHLMANN JÚNIOR, 2001). Froebel privilegia as atividades lúdicas por
perceber o significado funcional do jogo para o desenvolvimento sensório-motor, as
habilidades são aperfeiçoadas por meio de métodos lúdicos por ele inventados. O
canto e a poesia são utilizados para facilitar a educação moral e religiosa. Segundo
Conrad (2000, p. 55):
Froebel considerou o jardim de infância como primeira etapa de um
ensino educacional unificado direcionado a todos. [...] com isso fica
evidente que seu jardim de infância não se reduzia ao atendimento
de crianças, cujas mães trabalhavam, mas como instituição para
todos e longe do modelo vigente de uma infância apenas cuidada
para proteger.
Com a revolução industrial surgem, em paralelo com os jardins de
infância, as creches, visando proporcionar um melhor atendimento às crianças
cuidadas pelas criadeiras, assim chamadas às mulheres que ficavam com as
crianças cujas mães trabalhavam nas fábricas. Isto porque, havia alto índice de
mortalidade infantil, desnutrição generalizada e número significativo de acidentes
domésticos entre as crianças sob os cuidados das criadeiras. Tais fatores fizeram
com que se começasse a pensar em um espaço de cuidados da criança fora do
âmbito familiar. Assim, surge, em 1844, a primeira instituição oficial francesa, criada
por Firmim Marbeau. Em 1854, foram criadas as primeiras creches em Portugal e
nos EUA (SANTANA, 1998).
Na primeira década do século XX surge a Escola Maternal, em 1904,
concebida por Margareth McMillan, como forma de prevenção de doenças infantis;
e, paralelamente a estas, em 1907, Casa dei Bambini (Casa das Crianças), criada
por Maria Montessori, que introduziu o mobiliário adaptado ao tamanho das
crianças, revolucionado o conceito de sala de aula para crianças pequenas
(SPODEK; SARACHO, 1999).
No Brasil, o atendimento às crianças de zero a seis anos surgiu no final
do século XIX, pois até então, praticamente não existia o atendimento de crianças
14
pequenas em instituições como creches. A primeira creche do país surgiu ao lado da
Fábrica de Tecidos Corcovado, em 1899, no Rio de Janeiro.
Segundo Vieira (1999), a trajetória das creches e escolas maternais no
país foi marcada pela tradição assistencial, destinada às crianças das famílias
pobres. Assim como na Europa, também no Brasil, o surgimento das creches,
enquanto modalidade de guarda diária de crianças pequenas ocorreu para atender
às necessidades do trabalho feminino industrial, e em resposta a situações de
abandono, desnutrição, mortalidade infantil, formação de hábitos higiênicos e a
moralização das famílias operárias. A preocupação educacional, quando presente,
era secundária. De acordo com Oliveira (2000, p. 18), esse atendimento
assistencialista sofreu modificações:
Apenas quando segmentos da classe média foram procurar
atendimento em creche para seus filhos é que esta instituição
recebeu força de pressão suficiente para aprofundar a discussão de
uma proposta verdadeiramente pedagógica, compromissada com o
desenvolvimento total e com a construção de conhecimentos pela
criança pequena.
Com isso, consolidaram-se no país dois tipos de atendimento paralelos:
as creches, que atendiam crianças de zero a três anos, de cunho médico-
assistencial, atendendo crianças provenientes de famílias desfavorecidas em tempo
integral, sem preocupações pedagógicas; as pré-escolas, que atendiam crianças
entre quatro e seis anos, em período parcial, com cunho pedagógico, visando
educar as crianças ou prepará-las para serem alfabetizadas, sendo voltada para
famílias de classe média (CAMPOS et al., 1995).
De forma geral, essa maneira de funcionamento da educação infantil
perdurou até a promulgação da Constituição Federal de 1988, que elevou à criança
a categoria de sujeito de direitos, sendo-lhe garantido o direito a educação nos seus
primeiros anos de vida, impondo-se ao Estado o dever de fornecer o atendimento à
infância (art. 208, IV, CF), contemplando esse dever no atendimento em creche
(crianças de até três anos de idade) e pré-escola (crianças de quatro a seis anos de
15
idade). Sendo assim, tanto a creche quanto a pré-escola, são incluídas na política
educacional, segundo uma concepção pedagógica, complementando a ação
familiar. Posteriormente, a Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), reconheceu a educação infantil como primeira etapa da educação
básica no país.
Assim, a educação infantil passa a entendida como curso regular e tida
como primeira etapa da educação básica, representando um período muito
importante para o crescimento integral da criança, que envolve tanto a ampliação
das relações sociais, como o desenvolvimento cognitivo e afetivo, devendo nessa
etapa educativa, serem estimuladas, através de atividades lúdicas e jogos, a
exercitar suas capacidades motoras, fazer descobertas, e iniciar o processo de
letramento.
As leis foram criadas para assegurar e formalizar os direitos das crianças de zero a
seis anos de idade.
1.2 A Educação Infantil na perspectiva da legislação brasileira
Nesta perspectiva vale ressaltar a importância da Constituição Federal
de 1988 que elevou à criança a categoria de sujeito de direitos, sendo-lhe garantido
o direito a educação nos seus primeiros anos de vida.
A Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), reconheceu a educação infantil como primeira etapa da educação básica no
país.
1.2.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
A Constituição Federal de 1988 refere-se a educação em seu capítulo
III, nos seguintes termos:
Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado
mediante a garantia de:
16
IV – atendimento em creches e pré-escola às crianças de zero a seis
anos de idade;
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizarão em regime de colaboração em seus sistemas de ensino.
§ 2.º. Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental
e na educação infantil.
Os artigos 4º, 18,21, 29, 30, 31 da LDB também asseguram a garantia
legal à educação infantil, norteando sua organização no território nacional:
Art. 4°. O dever do Estado com a educação escolar pública será
efetivado mediante a garantia de: (...) IV – atendimento gratuito em
creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade.
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
I – as instituições do ensino fundamental, médio e de educação
infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
II – as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela
iniciativa privada;
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I – educação básica,
formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos
de idade, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três
anos de idade;
II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade;
Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo
de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
A LDB também faz menção ao perfil do profissional que atua na
educação infantil, dispondo no art. 62 que:
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A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidade e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil
e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade normal.
Nos termos da LDB a educação infantil constitui uma etapa da
estrutura formal da educação nacional, compondo a educação básica juntamente
com o ensino fundamental e o ensino médio. Nas escolas públicas, essas etapas
são gratuitas, sendo a educação infantil desejável e recomendável, a fundamental
obrigatória e a média progressivamente, obrigatória. Todavia, a Lei nº 12.796/2013
prevê uma mudança nessa questão, determinando que a partir de 2016 a educação
básica obrigatória atenda crianças com idade de quatro a 17 anos.
Para fortalecer as leis que foram criadas, surgiu então um documento que define o
que se considera educar e cuidar de crianças de zero a seis anos de idade em
creche e pré-escola.
1.2.2 O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
Com o objetivo de estabelecer parâmetros para o currículo para a
Educação Infantil, o Ministério da Educação editou, em 1998, um documento
normatizador – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – que
propõe a indissociabilidade das ações de educar e cuidar crianças de zero a seis
anos. Este documento define o que se considera cuidar em creche e pré-escola:
(...) valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um
ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão
expressiva e implica em procedimentos específicos (...) Para cuidar é
preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua
singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em
suas capacidades. Disso depende a construção de um vínculo entre
quem cuida e quem é cuidado (BRASIL, RCN/EI, 1998, p. 24-25).
O educar, por sua vez, é apontado por este documento como
18
(...) propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens
orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal,
de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação,
respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos
mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a
educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de
apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas,
emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a
formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, RCN/EI, 1998,
23).
Cabem as instituições de educação infantil integrar as funções de
cuidar e educar, sem diferenciar ou hierarquizar os profissionais e instituições que
atuam com crianças menores ou àqueles que trabalham com as de mais idade. A
integração dessas funções deve estar associada a padrões de qualidade. A
qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças
nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas
interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais
diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a
construção da autonomia.
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as
crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da
cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social.
Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da
identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas,
realizadas em situações de interação (BRASIL, RCN/EI, 1998, p. 23).
Podem-se oferecer às crianças, condições para as aprendizagens que
ocorrem nas brincadeiras e àquelas advindas de situações pedagógicas intencionais
ou aprendizagens orientadas pelos adultos. Contudo, é importante ressaltar que
essas aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no
processo de desenvolvimento infantil. Educar significa, portanto, propiciar situações
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de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que
possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação
interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, de
respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da
realidade social e cultural.
Nesse processo, a educação infantil poderá auxiliar o desenvolvimento
das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais,
afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação
de crianças felizes e saudáveis. Segundo Garanhani (2008, p. 128):
A escola da pequena infância, ao proporcionar um meio favorável ao
desenvolvimento infantil nos seus diversos domínios - a afetividade,
a cognição e o movimento, realiza a mediação entre a criança e o
conhecimento culturalmente construído e traduzido em diferentes
linguagens: oral, corporal, musical, gráfico-pictórica e plástica. Ao
mesmo tempo, desenvolve na criança habilidades para a expressão
e comunicação.
Ainda dentro desse contexto, afirma Garanhani (2008, p. 129) que:
Para que o conhecimento e o desenvolvimento de diferentes
linguagens estejam presentes na educação da pequena infância, é
necessário estar atento ao fazer pedagógico da Educação Infantil,
que deverá contemplar ações pedagógicas que privilegiem diversas
formas de interação e comunicação da criança com o meio e com
seu grupo.
Para tanto, faz-se necessário que o educador crie situações
significativas de aprendizagem, se quiser alcançar o desenvolvimento de habilidades
cognitivas, psicomotoras e socioafetivas, mas é, sobretudo, fundamental que a
formação da criança seja vista como um ato inacabado, sempre sujeito a novas
inserções, a novas tentativas.
20
CAPÍTULO II
A PSICOMOTRICIDADE
A Psicomotricidade é a integração entre o psiquismo e a motricidade,
buscando um desenvolvimento global, focando os aspectos afetivos, motores e
cognitivos, levando o indivíduo à tomada de consciência do seu corpo por meio do
movimento. Segundo Oliveira (2009, p.15) deve-se “levar os recursos da
Psicomotricidade para serem desenvolvidos em classe, tanto no âmbito da
educação quanto da reeducação dos alunos”. Busca-se, a seguir, compreender a
educação psicomotora e sua importância na educação infantil.
2.1 Conceito e finalidade
Historicamente o termo “psicomotricidade” surgiu no discurso médico,
inicialmente a partir de estudos de neurologistas, por necessidade de compreensão
das estruturas cerebrais, e posteriormente por psiquiatras, para a classificação de
fatores patológicos. Foi no ano de 1870 que o termo foi utilizado pela primeira vez.
Destaca-se como importante contribuição nas pesquisas sobre o
campo psicomotor, dentre outros autores, os estudos de neuropsicologia de Drupé,
que introduziu os primeiros estudos sobre a debilidade motora nos débeis mentais,
afirmando a independência da debilidade motora (antecedente do sintoma
psicomotor) de um possível correlato neurológico e o termo psicomotricidade
(JOBIM; ASSIS, 2015).
Como coloca Lapierre (2002, p. 13):
Dupré, ao criar o termo e a noção de psicomotricidade, sublinha o
paralelismo do desenvolvimento motor e intelectual. Schilder, a partir
dos seus trabalhos sobre as noções do corpo maternal e do
esquema corporal, estabelece um elo entre percepções corporais e a
21
organização espaço-temporal. Ajuriaguerra, por seus trabalhos sobre
o tônus, enfatiza as estreitas relações entre tônus e afetividade.
Wallon (do ato ao pensamento) situa a atividade motora como base
do desenvolvimento intelectual e psicológico. Piaget, com a
epistemologia genética situa o corpo, a atividade motora, a
exploração sensório - motora e perceptivo - motora como bases
primeiras e fundamentais da inteligência.
Compreende-se por psicomotricidade, como aponta Fonseca,
o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e
influências, recíprocas e sistêmicas, entre o psiquismo e a
motricidade. Constitui-se o psiquismo pelas sensações, percepções,
imagens, emoções, afetos, projeções, aspirações, representações,
simbolizações, ideias, construções mentais, etc., e pelos processos
relacionais e sociais. Por sua vez, a motricidade é o conjunto de
expressões mentais e corporais (verbais ou não verbais), comporta
as funções tônicas, posturais, somatognósicas e práxicas. (2005,
p.15)
Para este autor
A psicomotricidade visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a
mediatização, a disponibilidade tônica, a segurança gravitacional e o
controle postural, à noção do corpo, sua lateralização e
direcionalidade e a planificação práxica, enquanto componentes
essenciais e globais da aprendizagem e do seu ato mental
concomitante. Nela o corpo e a motricidade são abordados como
unidade e totalidade do ser. O seu enfoque é, portanto,
psicossomático, psico-cognitivo, psiquiátrico, somato-analítico, psico-
neurológico e psico-terapêutico (FONSECA, 1999, p. 36).
Vale ressaltar que na Idade Contemporânea, a psicomotricidade é a
união global do ser humano com o seu corpo.
A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) apresenta a
seguinte definição para psicomotricidade:
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ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu
corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo,
bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro,
com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de
maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,
afetivas e orgânicas (SBP, 2015, p. 01).
Nessa mesma linha de pesquisa, Mello (1993, p.19) coloca que “a
psicomotricidade é uma ciência que se ocupa do homem e seu corpo em movimento
nas relações ao nível interno e externo”. Complementando esse conceito, destaca
Chazaud (1976, p.12) que:
A psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades, dos
gestos, das atitudes e das posturas; (...) ela inclui a orientação
temporal e espacial, das orientações, na pratica de seu corpo e dos
objetos que ele manipula, visando a realização de suas intenções.
Na definição apresentada por Bastos Filho e Sá (2001, p. 36), consiste
a psicomotricidade na “relação entre o pensamento e a ação envolvendo a emoção”.
Para esses autores, não haverá raciocínio ou reflexão sem a existência de um
corpo, de um modo de agir ou movimentos, e nem movimentos que não façam parte
ou tenham consequência no domínio mental. Os movimentos expressam os
sentimentos, os pensamentos e as atitudes, muitas vezes arquivadas no
inconsciente do indivíduo. Nessa perspectiva, o movimento humano é construído a
partir de um objetivo, ou seja, todo movimento está relacionado com a consciência
ou o ato de pensar.
A psicomotricidade, portanto, trabalha as qualidades físicas e mentais
do ser humano por meio do movimento consciente, de forma global e lúdica. Seu
principal objetivo é o desenvolvimento da interação e integração humana (mente-
corpo-meio ambiente), tendo por finalidade: a) mobilizar e reorganizar as funções
psíquicas emocionais e relacionais ao indivíduo em toda a sua dimensão
experiencial, desde o bebê até a velhice; b) aperfeiçoar a conduta do ato mental
onde emerge a ela renovação e a execução do ato motor; c) aumentar as
percepções e as sensações para a conscientização, simbolização e conceituação; d)
23
melhorar o potencial motor e harmonizá-lo, afetivo-relacional e cognitivo,
desenvolvendo a personalidade, a adaptação social e o processamento da
informação; e) promover a adaptação a novas situações através da esfera do
psíquico e a esfera do motor, para que a consciência se edifique e se manifeste.
A função da psicomotricidade é proporcionar ao indivíduo noções de
equilíbrio postural, afirmação de lateralidade, dentre outros. É responsável pelo
movimento e ao mesmo tempo põem em jogo as funções intelectivas. Assim, a
psicomotricidade como ciência da educação, procura educar o movimento, ao
mesmo tempo em que desenvolve as funções da inteligência (NASCIMENTO;
MACHADO, 1986). Tem-se, pois, que a psicomotricidade se relaciona com o
processo de aprendizagem.
Os elementos psicomotores auxiliam para um excelente desenvolvimento da
aprendizagem.
2.2 Elementos psicomotores
Os elementos básicos da psicomotricidade compreendem: esquema
corporal; imagem corporal; coordenações (ampla e fina); organização (espacial e
temporal); ritmo; lateralidade; e, equilíbrio.
O esquema corporal é o processo pelo qual o indivíduo adquire
consciência de seu próprio corpo e das possibilidades de se expressar através dele,
aprendendo a controlá-lo, sendo um elemento indispensável para a formação da
personalidade do indivíduo. Segundo Mello (1993, p. 36-37), o esquema corporal é:
Uma intuição de conjunto ou um conhecimento imediato que temos
de nosso corpo em posição estática ou em movimento, na relação
das suas diferentes partes entre si e, sobretudo nas relações com o
espaço e os objetos que nos circundam. Compreende, neste caso, a
imagem e o conceito do corpo e suas partes.
Coloca Wallon (apud De MEUR; STAES, 1991, p. 09) que esquema
corporal “é a representação relativamente global, científica e diferente que criança
24
tem do seu próprio corpo”, e, em consequência, passa a indicar e a nomear as
partes dele. É uma construção mental que a criança realiza gradualmente,
organizada pela experienciação do próprio corpo. Essa noção do corpo estrutura-se
ao longo da infância e projeta-se durante toda a existência do indivíduo, em
permanente evolução.
A imagem corporal é a impressão que o indivíduo possui de si próprio.
Seu desenvolvimento ocorre paralelamente ao desenvolvimento da identidade do
próprio corpo, iniciando-se na infância, transformando-se e modificando-se durante
toda a vida do indivíduo, como aponta Maturana (2004, p. 03):
a imagem corporal é contínua e representativa do esquema postural
e acompanha o indivíduo desde o seu nascimento e até o último
suspiro, sofrendo adaptações e transformações globais de acordo
com o momento vivido.
A imagem corporal, portanto, é um processo contínuo de construção e
desconstrução, formado sobre o esquema corporal. Nesse aspecto, Freitas e Israel
(2008, p. 1.028) destacam que a organização do corpo ocorre a partir de três pontos:
Imagem Corporal: sentimentos e atitudes que uma pessoa tem em
relação ao seu próprio corpo.
Esquema Corporal: imagem esquemática do próprio corpo, que só se
constrói a partir da experiência do espaço, do tempo e do
movimento.
Consciência Corporal: reconhecimento, identificação e diferenciação
da localização do movimento e dos inter-relacionamentos das partes
corporais e do todo.
A coordenação motora está relacionada ao controle temporal, espacial
e muscular dos movimentos. Pode ser dividida em duas capacidades: coordenação
motora global (ou motricidade ampla) e coordenação motora fina (ou motricidade
fina). Mello define
a coordenação motora global, ou motricidade ampla, como sendo
uma ação simultânea em grupos musculares diferentes, com vista de
25
execução dos movimentos amplos e voluntários mais ou menos
complexos, principalmente no trabalho dos membros inferiores,
superiores e tronco. (1993, p.38)
Na conceituação apresentada por Lopes (2010, p. 67), a motricidade
ampla,
(...) diz respeito à atividade dos grandes músculos e depende da
capacidade de equilíbrio postural do indivíduo (...). Através da
movimentação e da experimentação, o indivíduo procura seu eixo
corporal, adaptando-se e buscando um equilíbrio cada vez melhor,
(...) consequentemente, vai coordenando seus movimentos e se
conscientizando de seu corpo e das posturas.
A coordenação motora fina refere-se à capacidade de controlar uma
combinação de determinados movimentos realizados em alguns segmentos do
corpo, utilizando de força mínima, com finalidade de alcançar um resultado bastante
preciso ao trabalho proposto (SILVEIRA apud SCANSETTI, 2005). Significa a
habilidade e destreza manual.
A organização espaço temporal refere-se à capacidade do indivíduo
orientar-se adequadamente no espaço e no tempo. A organização espacial diz
respeito
A tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um
meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em
relação às pessoas e coisas. A tomada de consciência da situação
das coisas entre si, a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se
perante o mundo que o cerca, de organizar entre si, de colocá-las em
um lugar, de movimentá-las (OLIVEIRA, 2009, p. 75).
Por organização temporal tem-se “a sucessão dos acontecimentos
antes, após, durante, da duração dos intervalos, da renovação cíclica de certos
períodos e do caráter irreversível do tempo” (De MEUR; STAES, 1991, p.15).
26
O ritmo é a ordenação constante e periódica de um ato motor. Segundo
Alves (2008, p. 76):
O ritmo é considerado um dos conceitos mais importantes da
orientação temporal. Ele não envolve apenas noções de tempo, mas
está ligado ao espaço também. Toda criança tem um ritmo natural,
espontâneo. As manifestações do bebê são ritmadas. Tem hora de
repouso e horas de impulsos e se manifesta através delas.
A lateralidade é definida como a consciência integralizada e
simbolicamente interiorizada dos lados direito e esquerdo do corpo. A lateralidade,
segundo Lopes (2010, p. 77):
É a manifestação de um lado preferencial na ação, vinculada a um
hemisfério cerebral, ou seja, é a propensão que o ser humano possui
de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo que o outro, em
três níveis: mão, pé, olho (em nível de força e de precisão).
Faria entende que:
Lateralidade é a consciência interna que a criança tem dos lados
direito e esquerdo de seu corpo, não se tratando de um conceito
adquirido, mas de programas de atividades cuja finalidade é o
desenvolvimento de acuidades sensoriais e habilidades motoras, já
que a criança é exposta a uma grande quantidade de estímulos que
aumentam esta consciência. (2001, p. 69)
Já o equilíbrio pode ser descrito como a capacidade de manter-se
sobre uma base reduzida de sustentação do corpo utilizando uma combinação
adequada de ações musculares, parado ou em movimento.
Esses elementos auxiliam para um bom desenvolvimento da
aprendizagem, sendo que, se a criança tiver um déficit em um deles, poderá ter
significativas dificuldades na aquisição da linguagem verbal e escrita, além de
direcionamento errado das grafias, trocas e omissão de letras, ordenação de sílabas
27
e palavras, dificuldades no pensamento abstrato e lógico entre outros (MORA,
2007).
A educação psicomotora visa o desenvolvimento global do indivíduo por meio
dos movimentos.
2.3 A educação psicomotora
A psicomotricidade, como afirma Oliveira (2009, p. 09), “se caracteriza
por uma educação que se utiliza do movimento para atingir outras aquisições mais
elevadas, como as intelectuais”. Assim, surge a educação psicomotora, entendida
como uma metodologia de ensino que instrumentaliza o movimento humano
enquanto meio pedagógico para favorecer o desenvolvimento da criança:
A educação psicomotora é uma técnica, que através de exercícios e
jogos adequados a cada faixa etária leva a criança ao
desenvolvimento global de ser. Devendo estimular, de tal forma, toda
uma atitude relacionada ao corpo, respeitando as diferenças
individuais (o ser é único, diferenciado e especial) e levando a
autonomia do indivíduo como lugar de percepção, expressão e
criação em todo seu potencial (NEGRINE, 1995, p. 15).
Le Boulch (1987, p. 11) destaca que a educação psicomotora deve ser
trabalhada na escola nas séries iniciais:
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação
de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados
pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da
lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir
habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A
educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade
(...).
Ainda de acordo com esse autor, o objetivo central da educação
psicomotora “é contribuir para o desenvolvimento psicomotor da criança, da qual
depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar”
(LE BOULCH, 1987, p. 24).
28
A educação psicomotora nas escolas por meio de projetos onde a
criança possa utilizar-se de seu corpo para explorar, brincar, criar pode funcionar
como um facilitador da aprendizagem.
Complementando, Alves
A psicomotricidade favorece a aprendizagem quando reconhece que
diferentes fatores de ordem física, psíquica e sociocultural atuam em
conjunto para que se dê a aprendizagem. Trabalhando no ser
humano, cada uma das etapas, possibilitando-o alcançar a
consciência corporal, a consciência do mundo que o cerca, o
relacionamento deste com o seu corpo e com o que está ao seu
redor. Proporciona ao indivíduo a capacidade de ser, ter, aprender a
fazer e a fazer, na medida em que se reconhece por inteiro,
alcançando a organização e o equilíbrio das relações com os
diferentes meios e a sua distinção. Relacionando-se com o mundo de
forma equilibrada. (2008, p.87)
Neste contexto, tem-se, como bem colocado por Le Boulch (1982, p.
13), que:
A educação psicomotora concerne uma formação de base
indispensável a toda criança que seja normal ou com problemas.
Responde a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento
funcional tendo em conta possibilidades da criança e ajudar sua
afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio
com o ambiente humano.
Molinari e Sens
acrescentam que a educação psicomotora nas séries iniciais
ajuda a prevenir futuros problemas de dificuldade escolar,
como por exemplo, a falta de concentração, desordem no
reconhecimento de palavras, confusão de letras e sílabas
relacionadas à alfabetização. (2003, p.90)
29
A educação psicomotora, portanto, visa o desenvolvimento global do
indivíduo por meio dos movimentos, exercitando a estimulação precoce,
proporcionando as vivências corporais e auxiliando na prevenção de distúrbios de
aprendizagem. Nessa perspectiva, Fonseca (2004, p. 10) argumenta que outro papel
atribuído à educação psicomotora é o de prevenção:
A educação psicomotora pode ser vista como preventiva, na medida
em que dá condições à criança desenvolver melhor em seu
ambiente. É vista também como reeducativa quando trata de
indivíduos que apresentam desde o mais leve retardo motor até
problemas mais sérios. É um meio de imprevisíveis recursos para
combater a inadaptação escolar.
A educação psicomotora comporta dois eixos de atuação: a
psicomotricidade funcional e a psicomotricidade relacional. O aspecto funcional da
psicomotricidade objetiva sanar problemas motores, melhorando as aprendizagens
cognitivas e o comportamento da criança. A estratégia pedagógica baseia-se em
exercícios funcionais como forma de proporcionar a aquisição de certas
competências ou habilidades motrizes como: equilíbrio, coordenação geral e viso-
manual e as condutas sensório-motrizes ligadas à consciência e à memória, ou seja,
à organização no espaço e no tempo (NEGRINE, 2002).
A educação psicomotora relacional busca promover, através de uma
ação pedagógica, o desenvolvimento de todas as potencialidades da criança. Seu
objetivo principal é promover o desenvolvimento integral das crianças, envolvendo
os aspectos cognitivo, social, psicoafetivo e psicomotor. Constituem ainda objetivos
da psicomotricidade relacional nas escolas:
promover a ação espontânea da criança através do jogo simbólico;
estimular a criação de vínculos afetivos entre as crianças; enriquecer
as experiências psicomotoras; prevenir dificuldades de expressão
motora, verbal e gráfica; desenvolver a espontaneidade e a
criatividade; colaborar no processo de construção dos limites;
desenvolver as potencialidades individuais e do grupo; despertar a
criança para o desejo de aprender contribuindo para o
30
desenvolvimento dos processos de aprendizagem; propiciar à
criança o prazer no brincar espontaneamente; estimular a percepção
corporal; promover a afirmação do eu; descobrir o corpo, através dos
movimentos, como unidade de prazer; promover a autonomia;
estimular o ajuste positivo da agressividade; elevar a qualidade das
relações interpessoais entre as crianças promovendo a socialização
(GUERRA, 2006, p. 12).
A educação psicomotora tem sido enfatizada em várias instituições
escolares, aplicada principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, fase em que as crianças estão descobrindo a si mesmo e o
mundo em que vive (ROSSI, 2012).
2.3.1 A educação psicomotora na educação infantil
A aprendizagem é um processo complexo que depende de uma série
de habilidades e aptidões da criança. Para uma boa aprendizagem, faz-se
necessário desenvolver certas habilidades da criança. Uma dessas habilidades está
calcada no movimento, ou seja, no desenvolvimento motor, uma das primeiras
aprendizagens que a criança passa a ter (OLIVEIRA; SOUZA, 2013).
Como coloca Gallahue (2005, p. 03):
O desenvolvimento motor está relacionado às áreas cognitiva e afetiva do comportamento humano, sendo influenciado por muitos fatores. Dentre eles destacam os aspectos ambientais, biológicos, familiar, entre outros. Esse desenvolvimento é a contínua alteração da motricidade, ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente.
O movimento permite à criança explorar e interagir com o mundo ao
qual está inserida de forma concreta, possibilitando a construção de noções básicas
para o desenvolvimento intelectual e consciência de si mesma e do mundo exterior.
Segundo Le Boulch (1987, p. 221), “75% do desenvolvimento psicomotor ocorrem
31
na fase pré-escolar, e o bom funcionamento dessa área facilitará o processo de
aprendizagem futura”.
Como afirma Alves (2007, p.18), “a educação deve ser pensada em
função da criança, preocupando-se com sua idade, necessidades e interesses.”
Nesse aspecto, a psicomotricidade busca uma educação corporal básica na
formação integral da criança, contribuindo para o seu próprio desenvolvimento.
Como expõe Farinatti (apud VITAL, 2007, p. 1):
A prática de atividades psicomotoras tem como objetivo desenvolver
os aspectos intelectuais, afetivos e motores evidenciando a relação
entre motricidade, mente e afetividade, facilitando o desenvolvimento
global da criança que cresce vivenciando diversas técnicas que a
auxiliarão no seu cotidiano durante todo o seu percurso de
crescimento e desenvolvimento.
Isto porque, como evidenciado no Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil,
O movimento é muito mais do que um ato motor, é uma das formas
que a criança possui para expressar sentimentos, emoções e
pensamentos, uma linguagem que possibilita agir, atuar sobre o meio
físico, mobilizando o outro por meio de seu teor expressivo. O
trabalho com o movimento contempla a multiplicidade de funções e
manifestações do ato motor, proporcionando um amplo
desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das
crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais
implicadas nas atividades cotidianas, bem como as atividades
voltadas para ampliação da cultura corporal de cada criança, de
gestos instrumentais que exigem coordenação de vários segmentos
motores e o ajuste a objetos específicos, como recortar, colar,
encaixar pequenas peças entre outros (BRASIL, RCN/EI, 1998, p.
24-25).
A educação psicomotora, portanto, é a base fundamental para o
processo de aprendizagem da criança, e tem um papel de extrema importância na
32
educação infantil, pois influencia diretamente no desenvolvimento da criança. Nesta
fase, segundo Silva e Borges (2008, p.01), “os principais aspectos a serem
destacados são: esquema corporal, lateralidade, organização espacial e
estruturação temporal. Além desses aspectos citados, é importante trabalhar as
percepções e atividades pré-escritas”.
Essas etapas podem ser percebidas conforme o quadro a seguir.
Quadro 1 - Principais conhecimentos e habilidades psicomotoras
Habilidades Coordenação e Equilíbrio
Esquema corporal
Lateralidade Estruturação espacial
Estruturação temporal
Até 3 anos
A criança sobe e desce escadas,
alternando os pés. Ela é
capaz de parar um gesto rápido. Consegue andar por obstáculos.
Conhecimento das partes do corpo: mãos, pés, nariz, cabelos,
orelhas, olhos, boca, língua, pernas, cabeça, barriga. A criança
representa seu corpo por Le bonhome rudimentar.
Não se pode ainda falar em dominância: a criança se utiliza ora da mão ou pé direito ora do esquerdo. Dominância ocular fixa.
Frente, atrás, sobre, sob, dentro, fora, grande,
pequeno, no alto, embaixo (em relação a si
mesmo).
Agora, depressa, rápido,
lentamente, hoje, amanhã, pára, espera.
Até 4 anos
A criança pode ficar sobre um pé só durante
alguns segundos. Pode
saltar a uma distância de 2m e uma altura de 10cm com o pé dominante.
Dentes, ombros, costas, joelhos, unhas,
umbigo, pescoço. 4 anos e meio começa a aparecer um corpo mais correto.
Continua a experienciação dos dois lados do corpo.
Ao lado, longe, em torno de, perto, em redor de, médio, deitar, de pé, redondo, quadrado, pouco, muito, progressão de tamanho.
Noite, dia, mais velho, antes, depois, maior, manhã, tarde, sua idade,
reprodução de estrutura
rítmicas de 2 ou 3 movimentos.
Até 5 anos
A criança tem condições de executar exercícios simples de
dissociação de movimentos. Os exercícios de coordenação global vão poder ser
realizados por imitação de forma mais ou menos correta.
Lábios, queixos, peito,
bochecha, testa. 5 anos e meio: desenho dinâmico, começam os detalhes das roupas.
Instabilidade no domínio manual.
Em frente, em toda parte, direito, inteiro, retângulo, entrar, sair, voltar.
Estações do ano, sequência lógica do tempo, num nível mais elementar,
noções de 1º e último, noções de ordem e sucessão.
Fonte: Oliveira (2002, p.107)
33
A prática psicomotora e pedagógica visa contribuir para o
desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem, para
formação e estrutura do esquema corporal. As atividades propostas para trabalhar o
esquema corporal da criança precisam fazer o reconhecimento de seu corpo como
um todo e de suas partes (OLIVEIRA; SOUZA, 2013). Uma sugestão nesse sentido
é solicitar à criança que busque figuras de pessoas em revistas, recortá-las em duas
partes e misturá-las, ou ainda, desenhar seu próprio retrato, ou de seus pais.
A lateralidade ocorre quando a criança utiliza mais o lado esquerdo
que o direito do corpo ou vice e versa. A criança só desperta a lateralidade por volta
de 6 a 8 anos de idade, ou seja, aproximadamente nessa idade ela se mostrará
destra ou canhota (OLIVEIRA; SOUZA, 2013). Na lateralidade podem ser utilizados
exercícios com recurso do espelho e do conhecimento de esquerda-direita.
Como abordado anteriormente, a organização espacial consiste na
noção de perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, na frente, atrás, etc., e, a
estruturação temporal, na capacidade de realizar ações em um determinado
intervalo de tempo (ALVES, 2007). Esses elementos psicomotores também são
muito importantes para o aspecto aprendizagem:
Problemas na organização espacial acarretarão dificuldades em
distinguir letras que se definem por pequenos detalhes, como “b”
com “p”, “n” com “u”, “12” com “21” (direita e esquerda, para cima e
para baixo, antes e depois), tromba constantemente nos objetos, não
organiza bem seus materiais de uso pessoal nem seu caderno; não
respeita margens nem escreve adequadamente sobre as linhas
(SILVA; BORGES, 2008, p.02).
A desestruturação temporal, por sua vez, pode refletir no fato da
criança demorar muito para fazer a tarefa por não perceber intervalos de tempo, o
antes e o depois, ou seja, não ter domínio sobre o tempo quando for realizar alguma
atividade (OLIVEIRA; SOUZA, 2013).
34
Para a estruturação espacial pode-se utilizar exercícios de estrutura
espacial, de discriminação visual, de educação da direção gráfica e de topologia. Na
estruturação temporal, exercícios de duração dos intervalos, de ritmos, exercícios
com noção de distância.
Assim, é importante que nessa fase a criança aprenda a fazer alguns
movimentos que a auxiliarão quando tiver de ler e escrever, por isso, as atividades
da pré-escola focam a pintura, o recorte, a colagem, as brincadeiras, o parquinho,
danças, jogos, etc. A educação psicomotora na educação infantil, portanto,
desenvolve uma postura adequada para a aprendizagem da criança com caráter
preventivo em relação ao seu desenvolvimento integral nas várias etapas de
crescimento.
35
CAPÍTULO III
A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ATRAVÉS DO LÚDICO
Lúdico significa brincar. Nesse brincar estão incluídos os jogos,
brinquedos e brincadeiras, que podem ser introduzidos como recursos didáticos
importantes, pois, “brincando a criança aprende”. Considerando que o brincar tem
uma importância característica para a criança analisa-se, a seguir, as atividades
lúdicas como prática pedagógica psicomotora na educação infantil.
3.1 Lúdico: conceituação
Segundo Brasil e Schwartz (2005), o lúdico associa-se a jogo, a
brinquedo, a divertimento, é uma necessidade humana, independentemente da
idade, sendo certo que na infância apresenta maior relevância, pois a criança tem
sua base de desenvolvimento construída na relação realidade e imaginação.
Conforme apontam os autores:
Pode se afirmar, então, que o lúdico, de maneira geral, é tudo que
provoca emoção, alegria, espiritualidade e prazer. Jogos educativos,
dramatizações, festas, celebrações, recreio ou diversão e outras
atividades que proporcionem momentos de mais leveza,
descontração, alegria, diversão, vitalidade, gozo, vitórias e derrotas,
descobertas, criação, novos conhecimentos, novas vivências, novos
movimentos são maneiras de vivenciar o lúdico. Como o ser humano
é um ser único, única também será cada uma das emoções por ele
experimentada, tenha ele vivenciado o lúdico de maneira ativa ou
passiva (BRASIL; SCHWARTZ, 2005, p. 105).
36
De forma semelhante, Silva (2006, p. 18) afirma que “o lúdico é uma
categoria geral de todas as atividades que têm características de jogo, brinquedo e
brincadeira”, e acrescenta que:
jogar também é brincar com o jogo. O jogo pode existir por meio do
brinquedo, se os “brincantes” lhe impuserem regras. Percebe-se,
pois, que o jogo, brinquedo e brincadeira, embora possam se
diferenciar, estão imbricados; sendo que o lúdico abarca todos eles
(SILVA, 2006, p. 19).
Observa-se por este conceito que o lúdico comporta todos os tipos de
brincadeiras, seja o brinquedo em si, o jogo ou a brincadeira, tenham estas regras
ou não previamente determinadas. Significa dizer que pode-se considerar como
lúdico qualquer atividade de entretenimento.
Pedroza (2005, p. 62) também aponta que o termo “lúdico” refere-se a
“jogo” e “brincar”:
(...) há uma concordância presente em diferentes autores de diversas
áreas do conhecimento em relação ao jogo como sendo um
fenômeno cultural, muito antigo, que ocorre tanto na criança como no
adulto, de formas diferentes e com funções diferenciadas. O jogo
pode ser visto como uma forma básica da comunicação infantil a
partir da qual as crianças inventam o mundo e elaboram os impactos
exercidos pelos outros.
Tem-se, pois que os jogos, brinquedos e as brincadeiras fazem parte
do mundo da criança, constituindo uma forma de comunicação, de interação, o que
contribui para o seu processo de socialização.
Pedroza (2005, p. 63) salienta que somente a brincadeira ou o jogo,
por si só, não assumem o caráter lúdico e que é a própria criança que transforma
este momento de brincar em algo lúdico:
37
O jogo, a brincadeira, por mais bem elaborados que possam ser, não
trazem por si só o lúdico, mas são as próprias crianças, durante a
brincadeira, que transformam o momento em um momento lúdico, de
fantasia e realidades criadas por elas. Acredita-se erroneamente que
o conteúdo imaginário do brinquedo determina a brincadeira da
criança, quando, na verdade, acontece o contrário.
Segundo Marcellino e Silva (2006, p. 19): “o primeiro e fundamental
aspecto é que o brinquedo, a brincadeira, o jogo são gostosos, dão prazer, trazem
felicidade. E nenhum outro motivo precisaria ser acrescentado para afirmar sua
necessidade”. No entanto, os autores acrescentam que:
Mas devemos considerar também que, por meio do prazer, o brincar
possibilita às crianças a vivência de sua faixa etária e ainda contribui,
de modo significativo, para sua formação como seres realmente
humanos, participantes da cultura da sociedade em que vivem, e não
apenas como meros indivíduos requeridos pelos padrões de
“produtividade social” (MARCELLINO; SILVA, 2006, p. 19).
Isto porque, o brincar não é uma atividade sem propósito. A brincadeira
interfere diretamente no desenvolvimento da criança, e, quando bem intermediada,
tem também um caráter educacional, sendo seu objetivo em sala de aula fazer com
que a criança, de forma prazerosa, consiga adquirir conhecimentos.
Em complementação, Pedroza (2005, p. 62) destaca que, além de
proporcionar prazer e desprazer, os jogos favorecem o desenvolvimento das
pessoas:
Os jogos e as brincadeiras são uma forma de lazer no qual estão
presentes as vivências de prazer e desprazer. Representam uma
fonte de conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo,
contribuindo para o desenvolvimento de recursos cognitivos e
afetivos que favorecem o raciocínio, tomada de decisões, solução de
problemas e o desenvolvimento do potencial criativo.
38
Assim, por meio do brincar a criança trabalha a junção da ação com o
sentimento, com a emoção e com a integração, e, por meio dessas interações,
conhece melhor o mundo que a rodeia, adquirindo diferentes noções de espaço.
Dessa forma, a aplicação do lúdico nas atividades escolares pode tornar as
crianças, seres com capacidade de assimilar, atuar e mudar, pois, brincar é natural e
satisfatório, além de fazer parte da evolução do ser humano, pois como afirma
Luckesi (1994, p.51), “as brincadeiras não são atividades que se dão apenas na
infância, mas durante o transcurso de toda a vida do ser humano, sendo o lúdico
algo que permeia tanto o universo infantil como o adulto há muito tempo”.
Vale enfatizar que o lúdico é primordial no processo de aprendizagem da
criança.
3.2 O lúdico no processo de aprendizagem
O lúdico pode ser utilizado como promotor da aprendizagem nas
práticas escolares, sendo certo que quando uma criança está brincando, o faz pelo
prazer, diversão, e, por meio desta, emerge a aprendizagem.
O jogo favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral.
Através dele se processa a construção de conhecimento, principalmente no período
sensório-motor (de 0 a 1/2 anos), em que os jogos têm como objetivo o divertimento,
caracterizando-se pela reprodução de movimentos realizados com o próprio corpo,
baseado na formação de ações espontâneas, e no período pré-operatório (dos 2 aos
6/7 anos), em que a criança pode atuar com jogos de imitação ou até mesmo de
ficção, se aproximando da sua realidade e acabando por assimilar situações nela
presentes. (Piaget, 1974)
Segundo Piaget,
Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam
seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade,
chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam
mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem,
esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como
emocionais. (1974, p. 95)
39
Em linhas gerais, Piaget traz a compreensão de que por meio de
atividades lúdicas, a criança explora o ambiente, experimenta-o concretamente,
desencadeando o seu desenvolvimento intelectual, sócio-afetivo e psicomotor.
O jogo é relevante para o desenvolvimento da criança, pois é através
de atividades lúdicas que ela avança facilitando a tomada de consciência e
autonomia, liberando emoção através de sua percepção, desembocando na alegria
e o prazer da aprendizagem. O jogo surge do mundo imaginário, que neste
panorama contribui para o desenvolvimento da criança, sendo este um elemento
básico, onde a atividade lúdica representa ações sob a percepção, pois a criança é
livre para determinar suas próprias ações e usa as interações sociais como formas
privilegiadas para a aprendizagem, fazendo relações com o meio ambiente. Assim,
através do jogo a criança definirá conceitos, criará situações que desenvolvam sua
atuação revelando-se em relação às situações reais. (Vygotsky, 1991)
Nesse contexto o brincar e o desenvolver-se com atividades lúdicas na
escola são fundamentais para o desenvolvimento da criança como aponta Antunes
(2004, p. 34-35):
A atividade lúdica ou a habilidade de brincar é dotada de uma ação
fundamental na estruturação do psíquico da criança. É no brincar que
a criança une elementos de fantasia e realidade e começa a
distinguir o real do imaginário. Brincando, a criança desenvolve não
só a imaginação, mas também fundamenta afetos, elabora conflitos e
ansiedades, explora habilidades e, à medida que assume múltiplos
papéis, fecunda competências cognitivas e interativas.
As atividades lúdicas, portanto, promovem a imaginação da criança,
podendo ser utilizadas para integrar o conhecimento com uma ação prática dos
alunos, facilitando relacionamentos e vivências em sala de aula, bem como o objeto
da aprendizagem.
Várias são as razões apontadas na literatura para a utilização de
recursos lúdicos no processo pedagógico, tais como: a) as atividades lúdicas
40
correspondem naturalmente a uma satisfação interior, pois o homem apresenta uma
tendência lúdica; b) o prazer e o esforço espontâneo são elementos fundamentais
na constituição das atividades lúdicas; c) as atividades lúdicas mobilizam esquemas
mentais, estimulando o pensamento e o senso crítico; d) as atividades lúdicas
integram e acionam as esferas motoras, cognitivas e a afetiva dos seres humanos.
A contribuição do lúdico como prática pedagógica psicomotora na
educação infantil.
3.3 O lúdico como prática pedagógica psicomotora na educação
infantil
O lúdico e o brincar são espaços privilegiados na prática pedagógica,
sendo atividades inerentes ao desenvolvimento infantil, contribuindo para o exercício
da personalidade, autonomia, criatividade, autodomínio, e, como aponta Marinho
(1993, p. 10): “a brincadeira é também essencial para um bom desenvolvimento
psicomotor”. É brincando que a criança exercita de forma global e equilibrada seu
pensamento, suas ações e emoções.
O lúdico no desenvolvimento da aprendizagem inclui o jogo como fator
importante no processo da psicomotricidade e na psicopedagogia escolar. Segundo
Muniz (2010, p. 66), “o jogo é um ponto de partida para a construção e/ou aquisição
de um saber”.
Os jogos e brinquedos possibilitam às crianças a experiência de buscar
coerência e lógica nas suas ações, guiando a si e ao outro. Elas passam a refletir
sobre suas ações nessas brincadeiras, sobre o que falam e sentem, não apenas
para serem compreendidas pelos outros, mas também para continuarem
participando dessas atividades lúdicas. No jogo simbólico as crianças tornam-se
autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática suas
fantasias e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e
solucionar problemas de formas livres das pressões e situações da realidade
imediata.
41
Segundo Kishimoto (2008, p. 37), utilizar o jogo na educação “significa
transportar para o campo do ensino-aprendizagem, condições para maximizar a
construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da
capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora”.
As brincadeiras e jogos evoluem conforme o processo de
desenvolvimento infantil. O tipo de brincadeiras e jogos das crianças aos dois anos
de idade, por exemplo, é diferente e menos elaborado do que aos cinco anos,
passando dos chocalhos, cavalinho de pau, bichos de pelúcia, cubos de pano, peças
de encaixar, brinquedos de atividades na areia ou água, a brinquedos e brincadeiras
como: massa de modelar, quebra-cabeça, bicicleta, cabanas e casinhas, fantoches,
máscaras, lojas em miniatura dentre outros mais (MORAES, 2012).
Os contos, por sua vez, com os seus símbolos, conseguem envolver
emoções, apresentando soluções para problemas existenciais e, assim, colaboram
para o desenvolvimento da personalidade. Histórias aparentemente simples que
conseguem comunicação direta com o ouvinte por conterem a linguagem simbólica
que fala, sobretudo, ao inconsciente (AMARILHA, 1997). Além do mais, seus
personagens apresentam determinadas características que despertam profundas
identificações entre eles e as crianças. Essa identificação ocorre, muitas vezes, pelo
fato desses personagens não possuírem nomes próprios, mas sim nomes que são
ligados às suas características físicas e emocionais.
O conto permite a criança ultrapassar o isolamento e construir um elo
com o outro, permitindo um processo de conquista da autonomia seguindo ritos de
iniciação onde o herói, através de suas conquistas, atinge um nível satisfatório de
realização existencial tornando-se ele mesmo, o herói ou a heroína torna-se digno
de ser amado.
Os contos de fadas têm uma função extremamente importante na
constituição da personalidade do indivíduo, pois além de alimentar a imaginação e
estimular as fantasias, os contos de fadas refletem sobre as questões mais
importantes do infante e contribuem com o processo de socialização (AMARILHA,
1997).
42
Por exemplo, no conto, o sapo transforma-se em príncipe para casar-
se com a princesa; o cavaleiro desperta Bela Adormecida de seu profundo sono; o
Patinho Feio torna-se um lindo e esplendoroso cisne. Ouvir essas histórias assegura
à criança que ela também será capaz de superar suas dificuldades. Essas
identificações com os personagens, esse “faz de conta”, desempenham um
importante papel no seu desenvolvimento.
Pietro (apud COELHO, 1998, p. 61), reforça essa importância ao
afirmar que:
A história contada tem a vantagem de oferecer, num plano de
idealização estética, a oportunidade de um jogo emocional que, ao
lado da aprendizagem condicionadora da conduta, terá sua função
terapêutica. A ocasião está dada e cada um faz sua própria terapia.
Nunca saberemos que cargas emocionais perturbam nossos
pequenos, nem atinaremos em medir as ressonâncias subjetivas que
poderão ser provocadas por esse jogo simbólico que, no fundo, toda
história esconde.
As histórias infantis estimulam, ainda, o desenvolvimento de funções
cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação das imagens
com o texto narrado, o pensamento hipotético, o raciocínio lógico, o pensamento
divergente ou convergente, as relações espaciais e temporais, pois toda história tem
princípio, meio e fim. Por meio delas é possível, ainda, o enriquecimento das
experiências infantis, o desenvolvimento de variadas formas de linguagem, a
ampliação do vocabulário, formação do o caráter, desenvolvendo a confiança na
força do bem, proporcionando a ela viver o imaginário (COELHO, 1998).
Através do uso da imaginação, da estimulação da fantasia, a criança
desenvolve seu potencial criativo e as faculdades anímicas que lhe possibilitam
enxergar o mundo de forma artística. Na prática, ao ouvir um conto de fadas, por
exemplo, ela criaria ativamente imagens em sua alma. Essas imagens surgiriam no
momento em que ela fosse solicitada a desenhar aquilo que lhe foi transmitido
através das palavras. O exercício constante dessas atividades fortaleceriam suas
43
potencialidades de criação. E seria nisso que residiria sua maneira diferenciada de
enxergar o mundo.
Ademais, os elementos psicomotores podem ser trabalhados por meio
de jogos e brincadeiras. Por exemplo, a coordenação e equilíbrio podem ser
trabalhados por atividades como narrar uma história em que as crianças imitem os
animais em variadas situações, pular obstáculos e brincadeiras do morto/vivo. Para
a lateralidade podem ser propostas atividades com bola, como passar a bola por
cima, por baixo, esquerda, direita. Já a estruturação temporal pode ser trabalhada a
partir de atividade de elaborar cartazes com colagem de imagens que representem a
passagem do tempo. Para o esquema corporal, atividade de desenhar o corpo de
cada criança em um papel Kraft e preenchê-lo, massagem entre colegas
conhecendo as partes do corpo.
Assim, por meio de jogos e brincadeiras a criança passa a explorar o
espaço, conseguindo uma organização dos aspectos motor, sensorial e emocional,
possibilitando a ela, uma visão maior de conhecimentos de mundo.
44
CONCLUSÃO
A revisão apresentada nesta monografia possibilitou identificar ser a
psicomotricidade indispensável ao processo educativo, por possibilitar desenvolver
nos alunos um desenvolvimento psicomotor satisfatório e contribuir para uma
evolução psicossocial e o sucesso escolar dos educandos.
O estudo também demonstrou que a psicomotricidade ocupa um lugar
de destaque na educação infantil, trabalhando com as crianças a noção de tempo e
espaço, de lateralidade, de coordenação e estruturação. Por meio de uma ação
pedagógica, a educação psicomotora promove o desenvolvimento de todas as
potencialidades da criança, objetivando seu equilíbrio.
A criança evolui suas habilidades motoras, e, nesse aspecto, verificou-
se a importância do lúdico como ferramenta da educação psicomotora, colaborando
para o bem estar e equilíbrio corporal, emocional e social da criança, oportunizando
as crianças condições de desenvolver capacidades básicas, aumentando seu
potencial motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas,
como as intelectuais. Cabe a educação infantil proporcionar aos seus educandos um
ambiente rico em atividades lúdicas.
O brincar não é apenas um facilitador da aprendizagem, mas também
um fator essencial para o desenvolvimento global criança, pois possibilita melhorar
sua relação com outras pessoas, adaptar-se a situações e ter percepção geral de si
mesmo como sujeito. O jogo, o brincar e a brincadeira são recursos pedagógicos
importantes na educação infantil, pois permite à criança vivenciar o lúdico, interagir,
comunicar e socializar com o outro, expressar pensamentos, sentimentos e
comportamentos e descobrir a si mesma. A criança aprende enquanto brinca.
Os contos de fada constituem outro recurso lúdico que pode ser
utilizado na educação infantil, cuja função vai além de divertir e distrair os alunos,
45
possuindo também a dimensão pedagógica e psicológica de esclarecer e integrar os
sentimentos, podendo ser considerados como instrumento pedagógico para o
desenvolvimento psicossocial da criança. O conteúdo mítico, as ações praticadas
pelos personagens, os valores morais implícitos na narrativa, permitem projeções
que facilitam a elaboração de questões emocionais, muitas vezes expressas como
sintomas que se apresentam na aprendizagem.
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53
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS....................................................................................... 03
DEDICATÓRIA................................................................................................ 04
RESUMO......................................................................................................... 05
METODOLOGIA ............................................................................................. 06
SUMÁRIO........................................................................................................ 07
INTRODUÇÃO................................................................................................. 08
CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO INFANTIL.................................................................................. 10
1.1 Aspectos históricos................................................................................ 10
1.2 A Educação Infantil na perspectiva da legislação brasileira.................. 15
1.2.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação..................................... 15
1.2.2 O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil......... 17
CAPÍTULO II
A PSICOMOTRICIDADE......................................................................................... 20
2.1 Conceito e finalidade.............................................................................. 20
2.2 Elementos psicomotores........................................................................ 23
2.3 A educação psicomotora........................................................................ 26
2.3.1 A educação psicomotora na educação infantil............................. 29
CAPÍTULO III
A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ATRAVÉS DO LÚDICO... 35
3.1 Lúdico: conceituação............................................................................. 35
54
3.2 O lúdico no processo de aprendizagem................................................. 38
3.3 O lúdico como prática pedagógica psicomotora na educação infantil... 39
CONCLUSÃO.................................................................................................... 44
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 46
ÍNDICE.............................................................................................................. 53