universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato … · agradeço a deus, potência de vida em...

57
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A DINÂMICA DE GRUPO COMO ESTRATÉGIA PARA UM RELACIONAMENTO INTERPESSOAL SATISFATÓRIO NA ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR Por: Leila Regina Torres Leal de Oliveira Orientador Prof. Maria Esther Rio de Janeiro 2010

Upload: others

Post on 24-Mar-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A DINÂMICA DE GRUPO COMO ESTRATÉGIA PARA

UM RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

SATISFATÓRIO NA ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO

ESCOLAR

Por: Leila Regina Torres Leal de Oliveira

Orientador

Prof. Maria Esther

Rio de Janeiro

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A DINÂMICA DE GRUPO COMO ESTRATÉGIA PARA

UM RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

SATISFATÓRIO NA ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO

ESCOLAR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Administração

e Supervisão Escolar.

Por: Leila Regina Torres Leal de Oliveira

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

Ao meu filho Caio, realização do meu sonho maior.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece

para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre novos

caminhos a serem percorridos.

Aos meus pais, que deixaram como herança, acesa a chama do

meu desejo em prosseguir, todas as vezes que me rondou a insegurança, por

esse meu atrevimento.

Ao meu marido Fernando por ter possibilitado mais esse

recomeço na minha existência, com quem dividi tantas angústias e alegrias, e

que me apoiou desde o início deste trabalho.

A minha orientadora Profª. Maria Esther, que com sua

competência profissional, segurança, me ajudou, na elaboração deste trabalho.

A todos os mestres, que compartilharam comigo, ao longo desse

ano, momentos que estão inscritos na minha alma. Mas, quero deixar

registrado um agradecimento especial aos professores Flávia Cavalcanti,

Vilson e Nilson Guedes, que me mostraram outras formas de olhar o mundo.

A querida prima-amiga Vânia, que com sua capacidade de

superação, me ensinou que vale a pena acreditar nos nossos sonhos. E,

especialmente, a minha analista Laura, que ao acolher meu pedido de ajuda,

incentivou-me nas horas difíceis, possibilitando que eu chegasse até aqui,

minha eterna gratidão.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

RESUMO

O objetivo deste estudo é demonstrar que a Dinâmica de Grupo é uma importante estratégia para um relacionamento interpessoal satisfatório na Administração e Supervisão Escolar. Remetendo esta reflexão ao ambiente escolar, gestores e professores, igualmente, deparam-se diariamente com situações que precisam ser resolvidas, muitas vezes, colocando em jogo conhecimentos pré-estabelecidos, valores arraigados. Nesse sentido, os professores se constituem em um grupo social, onde inúmeros conflitos muitas vezes são originados pelas dificuldades que os mesmos têm de se comunicar e de se relacionar de forma transparente e autêntica entre si. Para melhor elucidação da temática aborda-se a dinâmica dos grupos e seus respectivos teóricos encontrados na elaboração da revisão de literatura, seguidamente de um breve histórico sobre supervisão escolar e dinâmica de grupo como estratégia sobre o mesmo. E, por fim faz-se uma abordagem acerca da dinâmica de grupo e o papel do supervisor escolar. Conclui-se que a formação do supervisor escolar não se dá exclusivamente em momentos estanques de estudo e discussões, mas perpassa a prática cotidiana, o trabalho desenvolvido diretamente com os docentes. Neste sentido, a fim de contribuir efetivamente com a qualificação do trabalho docente, colocam-se novas técnicas à disposição do Supervisor Escolar, sendo uma delas a dinâmica de grupo. Palavras-chave: Supervisor escolar. Liderança. Dinâmica de grupo.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

METODOLOGIA

No que se refere aos aspectos metodológicos, o presente estudo

será de caráter descritivo e bibliográfico. O método de abordagem será

dedutivo, partindo-se da premissa de que estratégias desenvolvidas pela

Administração e Supervisão Escolar, tais como, as dinâmicas de grupo podem

influenciar diretamente no relacionamento interpessoal dos professores.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

CAPÍTULO I

A DINÂMICA DOS GRUPOS E SEUS RESPECTIVOS TEÓRICOS ................. 8

CAPÍTULO II

DINÂMICA DE GRUPO COMO ESTRATÉGIA PARA LIDERANÇA NA

SUPERVISÃO ESCOLAR ................................................................................ 24

CAPÍTULO III

A DINÂMICA DE GRUPO E O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR ............ 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 50

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 51

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

7

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa possui como objetivo demonstrar que a Dinâmica

de Grupo é uma importante estratégia para um relacionamento interpessoal

satisfatório na Administração e Supervisão Escolar. Deste modo, o tema

escolhido se justificativa, uma vez que se vive em um mundo que se transforma

constantemente. A evolução tecnológica, científica, social, a quantidade de

informações e inovações que se apresentam revelam situações inusitadas,

surpreendentes, que exigem preparo e sabedoria para que se lide com elas.

Remetendo esta reflexão ao ambiente escolar, gestores e

professores, igualmente, deparam-se diariamente com situações que precisam

ser resolvidas, muitas vezes, colocando em jogo conhecimentos pré-

estabelecidos, valores arraigados. Nesse sentido, os professores se constituem

em um grupo social, onde inúmeros conflitos muitas vezes são originados pelas

dificuldades que os mesmos têm de se comunicar e de se relacionar de forma

transparente e autêntica entre si.

Diretores, supervisores e orientadores educacionais, professores,

e todos os envolvidos nas relações escolares são profissionais que lidam com

o inusitado, sendo assim, a dinâmica de grupo se constitui em uma importante

estratégia para solucionar determinadas situações que acabam por mobilizar e

desestabilizar, colocando em questão determinados saberes.

O presente estudo possui o seguinte problema de pesquisa: De

que forma a Dinâmica de Grupo pode contribuir como estratégia para um

relacionamento interpessoal satisfatório na Administração e Supervisão

Escolar?

A dinâmica de grupo contribui para o estreitamento de laços numa

equipe de trabalho, e quando esta se transforma num grupo, repercutem

positivamente em toda a Administração e Supervisão Escolar. As dinâmicas de

grupo oferecem aos profissionais de educação a possibilidade de integrar o

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

8

grupo, facilitando o feedback, e dessa forma promovendo a mudança de

comportamento, pois quanto maior forem os dados cognitivos que o indivíduo

recebe, tanto maior será a possibilidade de organizar os dados e agir

criativamente. A dinâmica de grupo possibilita ao individuo 'viver o grupo', ou

seja, lidar com a diversidade, com a falta de algo pronto e acabado, com a

possibilidade do conflito e do confronto, mas também, com a união e a criação.

A presente pesquisa terá como objeto de estudo a Dinâmica de

Grupo e suas possibilidades para favorecer a criação de um relacionamento

interpessoal satisfatório na Administração e Supervisão Escolar.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

9

CAPÍTULO I

A DINÂMICA DOS GRUPOS E SEUS RESPECTIVOS

TEÓRICOS

Inicialmente, o termo dinâmica de grupo surgiu a partir de Lewin.

Era uma ciência experimental, praticada no início em laboratório e em grupos

artificiais. Porém, em um segundo momento, o mesmo termo se referiu ao

trabalho do técnico em dinâmica de grupo, que saiu do seu laboratório e foi

tentar solucionar conflitos sociais (LAPASSADE, 2008, p. 66).

1.1 – Kurt Lewin e a teoria do campo social

A ênfase ao estudo do grupo e aos fenômenos grupais e de

dinâmica de grupo, aconteceu quando Lewin, um psicólogo nascido na Prússia

por volta de 1890, resolveu estudar mais profundamente os fenômenos que

aconteciam dentro do grupo. Por ser judeu, foi obrigado pelos nazistas a

emigrar da Alemanha, passando a residir, então, nos Estados Unidos.

Em 1940, tornou-se professor na Universidade de Harvard e, em

1945, continuando seu magistério nessa mesma instituição, a pedido do

Massachusetts Institute of Technology (MIT) funda um centro de pesquisa em

dinâmica de grupos. Para ele, foi a ocasião de criar e de introduzir no

vocabulário dos psicólogos o termo “dinâmica dos grupos”. Ele continuou por

algum tempo a se interessar por problemas de psicologia individual, tais como

a frustração, a regressão, os níveis de aspiração e a aprendizagem (LEWIN,

1965 apud MINICUCCI, 2006).

Mesmo estudando problemas individuais, Lewin se preocupou e

priorizou a psicologia dos grupos, sendo esta ao mesmo tempo dinâmica e

gestáltica, ou seja, articulada e definida por referência constante ao meio social

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

10

no qual se formam, integram-se, gravitam ou se desintegram os grupos. Ele

conduziu a psicologia social a um plano mais realista. A partir de suas idéias,

renunciou à utopia de edificar um saber coerente, exaustivo e definitivo do

social. O estudo dos pequenos grupos constituiu uma opção estratégica que

permitiu eventualmente, em um futuro ainda imprevisível, esclarecer e tornar

inteligível a psicologia dos macro-fenômenos de grupo (LEWIN, 1951 apud

MINICUCCI, 2006).

O entendimento da realidade macro-social se dá a partir das

experiências vividas em pequenos grupos de trabalho, proporcionando

segurança e compreensão ao estudo das relações sociais.

Os motivos que levaram aos estudos dos pequenos grupos se

devem a quatro razões. A primeira é pragmática, pois é necessário

compreender o que acontece nesses grupos, seja porque as decisões têm um

efeito decisivo na história das comunidades, seja porque a dinâmica interfere

na forma de viver dos indivíduos (MILLS, 1970 apud MOSCOVICI, 2005).

A segunda, sócio-psicológica, é a visualização de como as

pressões sociais e as individuais se encontram no pequeno grupo. Contexto

este imprescindível à observação e experimentação acerca da interação

dessas pressões (MILLS, 1970 apud MOSCOVICI, 2005).

A terceira razão é sociológica, cujas tarefas imediatas são a

compreensão dos pequenos grupos em si mesmos e a criação de teorias,

fundamentadas em conhecimento empírico.

Por último, a quarta razão é a mais ambiciosa, nela os pequenos

grupos constituem um caso especial do tipo mais geral de sistema, ou seja, são

o sistema social. É importante afirmar que estes não são apenas

microssistemas, mas são, também, microcosmos de sociedades mais amplas

(MILLS, 1970 apud MOSCOVICI, 2005).

Pressupõe-se, entretanto, a complexidade dos fenômenos

existentes na sociedade no que se refere aos comportamentos, hábitos e

culturas de cada região. No ser humano existem as particularidades como

aspectos hereditários, características do ambiente e da personalidade

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

11

constituindo o ser individualizado. Já na sociedade, cada ser particular se

encontra com a diversidade dos outros seres constitutivos, formando o macro-

sistema.

Um grupo sobrevive quando possui três elementos fundamentais:

existência, interdependência e contemporaneidade. A existência corresponde

ao meio atual em que a pessoa se encontra. A interdependência valoriza a

reunião de vários elementos como família, esposa, filhos, netos e trabalho. A

contemporaneidade consiste na valorização dos eventos no momento (tempo).

Um grupo não é uma realidade estática, pois um grupo de

trabalho não foi ontem o que é hoje e amanhã será diferente. O grupo é um

processo em desenvolvimento ou um processo quase-estacionário, que para

sobreviver, nunca pára de mudar e estas mudanças dependerão do clima e da

atmosfera vivida no mesmo (LEWIN, 1951 apud MINICUCCI, 2006).

Em grupos em que se estimula o desenvolvimento constante da

criatividade e da resolução de problemas entre os membros constitutivos,

tende-se a haver um maior crescimento e a manutenção destes no mercado

competitivo. Tais percepções têm se evidenciado com o aumento de micros,

pequenos e médios empresários interessados em ingressarem em estruturas

organizacionais, que valorizam e acreditam no coletivo.

Para Lewin, a terminologia campo seria o espaço de vida de uma

pessoa; sendo este constituído por ela mesma e pelo seu meio psicológico. O

comportamento do indivíduo dependerá das mudanças que ocorrem em seu

campo, em seu espaço de vida e em determinado momento (LEWIN, 1965

apud MINICUCCI, 2006).

O comportamento é função do espaço de vida, e depende da

pessoa e do meio em que a mesma está inserida. Se este se instabiliza por

causa de um problema, isto também produz incertezas e altera seu

interrelacionamento, já que o meio psicológico é considerado como parte de

um campo interdependente, do qual faz parte.

Sendo assim, como o campo psicológico, o campo social é uma

totalidade dinâmica, estruturada em função da posição relativa das entidades

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

12

que o compõem. O comportamento social resulta da interrelação dessas

entidades, tais como grupos, subgrupos, membros, barreiras, canais de

comunicação e outros, ou seja, da distribuição de forças em todo o campo.

Compreende-se, assim, a tamanha dificuldade de se obter a totalidade grupal

em sistemas organizacionais.

Para Lewin (1941) apud MINICUCCI (2006), as atitudes coletivas

se encontram no início e no fim do encadeamento dos fenômenos dinâmicos

que produzem os comportamentos de grupo. São segmentos de uma situação

social, na qual se fundem em uma mesma realidade dinâmica, elementos

objetivos e elementos conscientes ou subjetivos.

Desta forma, um grupo para sobreviver, necessita de

entrosamento, forte coesão grupal e dinamismo entre seus membros. A partir

do entendimento de campo social, Lewin (1948) apud MINICUCCI (2006)

enfatizou quatro hipóteses sobre a dinâmica dos pequenos grupos.

A primeira afirma que o grupo constitui o terreno sobre o qual o

indivíduo se mantém. Este pode ser firme, frágil, móvel, fluido ou elástico.

Quando uma pessoa não define com nitidez sua participação social ou não

consegue se integrar em seu grupo, seu espaço ou sua liberdade de

movimento no interior do grupo será caracterizado pela instabilidade e pela

ambigüidade.

A segunda hipótese evidencia que o grupo, para o indivíduo, é um

instrumento. Ele utiliza o grupo e as relações sociais que estabelece em seu

grupo como instrumento para satisfazer suas necessidades psíquicas ou suas

aspirações sociais.

Para a terceira, o grupo é uma realidade da qual o indivíduo faz

parte, mesmo aqueles que se sentem ignorados, isolados ou rejeitados. Os

valores, as necessidades, as aspirações, as expectativas encontram

gratificações ou frustrações no grupo. A dinâmica de um grupo tem um impacto

social sobre os indivíduos que o constituem. Já na quarta hipótese, o grupo é,

para o indivíduo, um dos elementos ou um dos determinantes de seu espaço

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

13

vital. É no interior desse espaço que se desenvolve a existência de um

indivíduo.

Com a investigação e o estudo das hipóteses, Lewin enumerou

três prováveis problemas-chave na dinâmica dos agrupamentos humanos: a

comunicação humana, o aprendizado da autenticidade e o exercício da

autoridade em grupo de trabalho.

A comunicação humana tornou-se evidente em uma experiência

vivenciada por Lewin (1965) apud MINICUCCI (2006) e sua equipe de trabalho

no Centro de Pesquisas em Dinâmica dos Grupos, no M I T. Os projetos de

pesquisas em curso eram enormes em termos de quantidade, os recursos

financeiros abundantes, o ardor e o fervor ao trabalho evidentes e havia uma

aparente motivação. Verificou-se, em momentos de autoavaliação de seu

trabalho, realizado periodicamente, a falta de integração real da equipe, o ritmo

lento e artificial do encaminhamento de seus trabalhos, os parcos recursos

inventivos e a fraca engenhosidade manifestada na exploração dos problemas

estudados (LEWIN, 1965 apud MINICUCCI, 2006).

A título de sugestão, Lewin enunciou a hipótese: “se a integração

entre nós não se realiza e se, paralelamente, nossas pesquisas progridem tão

pouco, tal fato pode ocorrer em razão de bloqueios que existiriam entre nós em

nível de nossas comunicações” (LEWIN, 1965 apud MINICUCCI, 2006).

A partir dessa constatação, Lewin e seus colaboradores tiveram

consciência de que suas relações interpessoais, aparentemente confiantes e

positivas, eram inautênticas pelo fato de não terem como base comunicações

abertas. Não existiam somente neles e entre eles, fontes insuspeitáveis de

bloqueios, mas estes criavam zonas de silêncio que comprometiam as próprias

comunicações que chegavam a estabelecer.

Corria-se constantemente o risco das comunicações serem

filtradas, em virtude de não serem preparadas num clima de confiança. Tal

evidência levou Lewin a convidar seus companheiros de trabalho para

participar de um momento de reencontro fora do ambiente de trabalho, a fim de

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

14

estreitar os laços existentes naquele contexto vivido (LEWIN, 1965 apud

MINICUCCI, 2006).

No momento em que o grupo de trabalho conseguiu assinalar as

fontes de bloqueios e de filtragem em suas comunicações, suas relações

interpessoais desenvolveram-se, tornando-se mais autênticas, havendo a

integração entre seus membros no plano de trabalho. A coesão e a

solidariedade resultantes desse trabalho em grupo mudaram profundamente a

atmosfera das sessões de trabalho. Nestas conseguiram-se ritmos crescentes

de produtividade e de criatividade. Então, a experiência vivida por Lewin e seus

colaboradores mostrou-se concludente.

Descobriu-se que a produtividade de um grupo e sua eficiência

estão estreitamente relacionadas não somente à competência intelectual de

seus membros, mas, sobretudo, à solidariedade de suas relações interpessoais

(LIPPIT, 1947 apud MOSCOVICI, 2005).

Na realidade vigente, os sistemas organizacionais, em sua

maioria, não valorizam nem estão atentos aos aspectos subjetivos e de

relacionamento de sua equipe de trabalho; cabendo aos profissionais que

trabalham com recursos humanos e na área de comportamento mostrar os

benefícios no retorno financeiro, para a saúde do funcionário e manutenção

deste em um ambiente de trabalho que está atento ao capital humano da sua

empresa. A Dinâmica de Grupo estimula a solidariedade das relações

interpessoais, possivelmente passará confiança e credibilidade para seus

membros e, conseqüentemente, para parceiros e clientes.

Após essas descobertas modificadoras de toda a realidade

vigente e que trouxeram uma nova forma de se encarar os fenômenos grupais,

outros estudiosos, como Schutz (1965), Bavelas (1948) e Moreno (1984), após

a morte de Lewin, deram continuidade aos estudos e enfocaram outros pontos

cruciais para um funcionamento ideal do grupo.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

15

1.2.2 – Schutz e a teoria das necessidades interpessoais

Schutz, professor de Harvard, elaborou a Teoria das

Necessidades Interpessoais, dando um progresso de continuidade notável ao

trabalho de Lewin. Schutz acreditava que existe uma interdependência e uma

estreita correlação em grupos de trabalho no que se refere ao grau de

integração e ao nível de criatividade dos mesmos. Os membros de um grupo

não consentem em integrar-se senão a partir do momento em que certas

necessidades fundamentais são satisfeitas pelo grupo (SCHUTZ, 1965 apud

OSÓRIO, 2003).

O campo social de cada ser humano é composto também pelas

necessidades interpessoais. A existência e o cumprimento das necessidades

básicas estimulam a motivação e o sentido de permanecer no grupo. São

necessidades interpessoais no sentido de que somente em grupo e pelo grupo

elas podem ser satisfeitas adequadamente. As necessidades interpessoais

são: a necessidade de inclusão, de controle e de atenção. Essas necessidades

poderão ser encontradas entre os membros de um grupo, dificultando o

estabelecimento de comunicações e de relacionamento autêntico. A ausência

na satisfação dessas necessidades poderá causar os comportamentos mais

adversos possíveis.

A necessidade de inclusão é experimentada por todo membro

novo de um grupo ao se perceber e ao se sentir aceito, integrado e valorizado

totalmente por aqueles aos quais se junta. Todo ser humano deseja possuir um

status positivo e permanente no interior do grupo (SCHUTZ, 1989 apud

OSÓRIO, 2003).

A partir do grau de maturidade social de cada indivíduo e seu

nível de socialização é que se condicionará e determinará atitudes em grupo

mais ou menos adultas e evoluídas.

Os indivíduos menos socializados procuram integrar-se ao grupo

adotando atitudes de dependência, sobretudo, em relação àqueles membros

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

16

que possuem um status privilegiado, são os chamados membros socialmente

infantis. Já aqueles que não superaram a fase da revolta típica da

adolescência, tentam impor-se ao grupo através de atitudes de contra-

dependência; forçando, assim, sua inclusão no grupo.

Os indivíduos melhor socializados são os únicos que encontram

em suas relações interpessoais positivas uma satisfação adequada à sua

necessidade de inclusão, adotando para com os outros membros do grupo

atitudes ao mesmo tempo de autonomia e de interdependência (SCHUTZ,

1989 apud OSÓRIO, 2003).

A necessidade de controle consiste em cada membro poder

definir para si mesmo suas responsabilidades e também as de cada um que

com ele forma o grupo. É a necessidade que experimenta cada novo membro

de se sentir totalmente responsável com suas estruturas, atividades, objetivos,

seu crescimento e seus progressos.

É interessante destacar que é inerente ao ser humano o desejo e

a necessidade de que a existência da dinâmica do grupo não lhe escape

totalmente a seu controle. Os indivíduos menos socializados, aqueles que no

plano da inclusão mostravam-se dependentes, adotarão atitudes infantis ao

exprimir sua necessidade de controle. Eles tenderão a demitir-se de toda

responsabilidade e a delegá-la a outros, àqueles que percebem como dotados

de poder carismático. Em conseqüência, adotam atitudes abdicadoras

(SCHUTZ, 1989 apud OSÓRIO, 2003).

Aqueles que se sentem rejeitados e mantidos à margem das

responsabilidades no grupo, tenderão a cobiçar o poder e a querer, se preciso,

assumir sozinhos o controle. Estes adotam em grupo, cada vez que lhes são

confiadas responsabilidades, atitudes de autocratas. Inclusive, alguns chegam

mesmo a ambicionar a responsabilidade primeira e absoluta do grupo. Os mais

socializados ou os possuidores de maior maturidade social têm tendência a se

mostrar democratas, isto é, a pensar e a querer o controle do grupo em termos

de responsabilidade partilhada (SCHUTZ, 1989 apud OSÓRIO, 2003).

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

17

A necessidade de afeição em alguns momentos é entendida de

forma ambígua e equivocada. Ela pode ser sentida em graus diversos e

segundo modalidades diferentes, por vezes opostas, pelos indivíduos que

devem ou querem viver ou trabalhar em grupo, o que consiste em querer obter

provas de serem totalmente valorizados pelo grupo.

É o secreto desejo de todo indivíduo em grupo de ser percebido

como insubstituível, pois cada um procura recolher sinais concludentes ou

convergentes de que os outros membros não poderiam imaginar o grupo sem

ele. Aquele que se junta não aspira somente ser respeitado ou estimado por

sua competência ou por seus recursos, mas também a ser aceito como

pessoa, não apenas pelo que tem, mas pelo que é (SCHUTZ, 1989 apud

OSÓRIO, 2003).

A expressão dessa necessidade de afeição é fortemente

condicionada e determinada pelo grau de maturidade social do indivíduo. Os

mesmos que há pouco se mostravam dependentes no plano de inclusão e

abdicadores em relação ao controle, tentam satisfazer suas necessidades de

afeto através de relações privilegiadas, exclusivas e geralmente possessivas.

Adotam atitudes infantis, esperando ser percebidos e aceitos no papel de

criança mimada do grupo, não desejando senão apenas receber. Mas, desejam

interiormente estabelecer em grupo relações hiperpessoais (SCHUTZ, 1989

apud OSÓRIO, 2003).

Já aqueles que se sentem rejeitados ou ignorados pelo grupo

cedem a mecanismos que os psicanalistas chamariam de bom grado, que são

mecanismos de formação reacional. Estes indivíduos adotam como uma

reação de defesa contra as necessidades de afeição que experimentam,

atitudes adolescentes de aparente indiferença ou frieza calculada. Eles

preconizam, quando não ficam reclamando, relações unicamente formais e

estritamente funcionais entre os membros. Geralmente, evitam a tentativa de

estabelecimento da solidariedade interpessoal sobre uma fase mais profunda

de amizade, ocultando sua necessidade de afeição e se mostrando como

hipopessoais (SCHUTZ, 1965 apud OSÓRIO, 2003).

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

18

Os indivíduos mais altruístas, os mais socializados, não

obedecem nem aos mecanismos de defesa, nem aos mecanismos de

compensação. Eles desejam ser aceitos totalmente e afeiçoados ao grupo pelo

que são. Essa necessidade de afeição encontra plena satisfação nos laços de

solidariedade e de fraternidade que se estabelecem entre eles e os outros

membros do grupo, estabelecendo suas relações em nível autenticamente

interpessoal (SCHUTZ, 1965 apud OSÓRIO, 2003).

Verifica-se, ao longo do comportamento nas fases de

cumprimento da satisfação das necessidades, que os indivíduos menos

socializados e os rejeitados apresentam dificuldade de relacionamento nas três

necessidades interpessoais. Dessa forma, esses indivíduos são considerados

entraves e bloqueios para o crescimento e para o bom funcionamento do

grupo. É importante destacar que os problemas pessoais de cada indivíduo são

manifestos de forma acentuada na convivência em grupo, confirmando, assim,

o quanto o ser humano necessita do outro para se ver.

A Teoria das Necessidades Interpessoais elaborada por Schutz

serviu para explicar experimentalmente o que Lewin havia percebido de modo

intuitivo, querendo saber o como e o porquê de um grupo quando não conclui

sua integração, ser incapaz de criatividade duradoura. Porém, essa teoria não

conseguiu ir além da relação interpessoal.

A partir de instrumentos validados por Schutz, conseguiu-se

diagnosticar com muito acerto e não sem mérito, que existe uma equação entre

a integração de um grupo, a solidariedade interpessoal de seus membros e a

satisfação em grupo e pelo grupo das necessidades de inclusão, de controle e

de afeição de seus membros.

As relações interpessoais não podem tornar-se mais positivas,

mais socializadas e o grupo integrar-se de modo definitivo, enquanto

subsistirem entre os membros fontes de bloqueios e de filtragens em suas

comunicações (SCHUTZ, 1965 apud OSÓRIO, 2003).

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

19

Com o intuito de entender resumidamente o comportamento

apresentado pelos indivíduos no que se refere às necessidades interpessoais,

foi elaborado o quadro 1.

A gênese de um grupo e sua dinâmica são determinadas pelo

grau de autenticidade das comunicações que se iniciam e se estabelecem

entre seus membros. Já é um dado de realidade que somente em um clima de

grupo em que as comunicações são abertas e autênticas, as necessidades

interpessoais podem encontrar satisfações adequadas.

Quadro 1 – Grau de maturidade social/comportamento Indivíduos Necessidade de

inclusão Necessidade de controle

Necessidade de afeição

Indivíduos menos socializados

Atitudes de dependência dos membros com status privilegiado (socialmente infantis)

Demitem-se das responsabilidades delegando-as a outros (Abdicadores de responsabilidade)

Busca de relações exclusivas e possessivas (criança mimada do grupo)

Indivíduos rejeitados

Atitudes de contra-dependência

Cobiça o poder e quês o controle (autocratas)

Posturas de aparente indiferença ou frieza calculada (relações hipopessoais)

Indivíduos mais socializados

Atitudes de autonomia e interdependência

São democratas Relações de solidariedade e de fraternidade (relações hiperpessoais)

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa

A partir deste quadro, pode-se concluir que as necessidades

interpessoais estão presentes em todo ser humano e é na convivência em

grupo que o ser humano se vê e se percebe no outro. Tais posturas, quando

exacerbadas, atrapalham e impedem o crescimento do grupo.

1.2.3 – Bavelas e a importância da comunicação humana

Bavelas (1950 apud PENTEADO, 2007) foi um discípulo de Lewin

que estudou detalhadamente a comunicação humana. De acordo com este, ela

só acontece quando se estabelece entre duas ou mais pessoas um contato

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

20

psicológico. Não é suficiente que as pessoas com desejo de comunicação se

falem, se escutem ou mesmo se compreendam. É preciso mais, pois a

comunicação humana existirá quando e todo o tempo em que conseguirem se

reencontrar. A comunicação humana é constituída por dois elementos básicos:

o transmissor e o receptor. Estes são elementos básicos e essenciais para o

estabelecimento de uma comunicação interpessoal. Caso não estejam

presentes, a comunicação já se inicia defeituosa e sem possibilidade de

amadurecimento futuro.

De acordo com Mailhiot (1985 apud PENTEADO, 2007), a

comunicação varia segundo os instrumentos utilizados para estabelecer o

contato com o outro, as pessoas envolvidas e os objetivos a serem atingidos no

processo de comunicação. No que se refere aos instrumentos, a comunicação

poderá ser verbal ou não-verbal. A verbal se caracteriza pela utilização da

linguagem oral ou escrita para iniciar e estabelecer o contato com o outro. Ela é

a mais freqüente e habitual, pelo menos no Ocidente (BAVELAS, 1948 apud

PENTEADO, 2007).

Na América Latina, sobretudo, tem tendência a tornar-se o

instrumento preferencial, senão exclusivo, de comunicação. Já a comunicação

não-verbal enfatiza os gestos, as expressões faciais, as posturas. Até mesmo o

silêncio e as ausências no interior de certos contextos podem tornar-se

significativos e carregados de mensagens para o outro e, segundo as

situações, ora podem ser percebidos pelo receptor como expressões de

coragem, ora como omissões ou covardias (BAVELAS, 1948 apud

PENTEADO, 2007).

A comunicação verbal e a não-verbal nem sempre estão

sincronizadas e sintonizadas no mesmo indivíduo. Algumas vezes o não-verbal

está em dissonância com o verbal, traindo o eu íntimo que o verbal tenta

camuflar. Gestos bruscos, cortantes, acompanham muitas vezes palavras

melosas, doces, que dissimulam mal um estado de irritação interior.

A partir dos estudos de Lewin no Ocidente, a dinâmica dos grupos

tem contribuído muito para revalorizar a comunicação não-verbal e a expressão

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

21

corporal do indivíduo. Uma comunicação só poderá ser adequada quando for

verbal e não-verbal simultaneamente (BAVELAS, 1948 apud PENTEADO,

2007).

A dinâmica de grupo veio justamente trazer a consciência para o

indivíduo de que o que é sentido nem sempre é o mesmo do que está sendo

comunicado. Costumeiramente as pessoas, grupos de trabalho e organizações

pregam bonitos discursos intelectualizados que não existem na prática,

havendo uma distorção no instrumento da linguagem.

No que diz respeito às pessoas, é necessário distinguir entre a

comunicação a dois e a comunicação em grupo. A comunicação a dois pode

ser pessoal, quando constitui um encontro entre dois seres que se percebem

em relação de reciprocidade ou de complementaridade, como na amizade, no

amor ou na fraternidade.

Esta comunicação, se autêntica, tende a durar e aspira à

permanência. A comunicação a dois chamada profissional acontece quando a

pessoa consultada e a consultante estabelecem comunicações verticais: o

profissional dá e o consultante recebe.

A comunicação em grupo pode ser distinguida entre a

comunicação intragrupo, quando se estabelecem entre os membros de um

mesmo grupo, e a comunicação intergrupo, quando se constitui em contatos e

trocas entre dois ou vários grupos (BAVELAS, 1948 apud PENTEADO, 2007).

Quanto aos objetivos da comunicação, pode-se distingui-los entre

a consumatória e a instrumental. A primeira tem por finalidade exclusiva a troca

com o outro, podendo se apresentar de forma prosaica: “o falar por falar”; ou

pode adotar formas evoluídas, como o caso do espírito criativo que, habitado

por um sonho constante, sente a imperiosa necessidade de comunicar ao outro

seu universo pessoal. Portanto, sejam quais forem as modalidades pelas quais

se manifesta, a comunicação consumatória é sempre acompanhada de

gratuidade e de espontaneidade. Já a comunicação instrumental é utilitária e

sempre comporta segundas intenções. A troca com o outro é procurada,

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

22

preparada e estabelecida para fins de manipulação, mais ou menos

confessáveis (BAVELAS, 1950 apud PENTEADO, 2007).

Na comunicação humana, quanto maiores o contato psicológico e

o grau de profundidade, mais possibilidade terá de ser autêntica. Uma

comunicação que se estabelece de pessoa para pessoa, indo além dos

personagens, das máscaras, do status e das funções mais facilmente será

autêntica. Por isso, um dos fatores para o declínio nos sistemas

organizacionais são as inúmeras comunicações não entendidas entre seus

membros, impossibilitando, assim, uma comunhão na forma de pensar e de

agir. Ainda objetivando entender o funcionamento da estrutura grupal, Moreno

(1984, p. 12) evidenciou-o a partir do estudo do psicodrama.

A comunicação entre as pessoas em uma organização precisa ser

autêntica, clara e objetiva para que haja entendimento e se possa chegar a

decisões que propiciem crescimento de todos. A maioria dos seres humanos

não consegue se comunicar de forma clara e precisa, desencadeando maiores

problemas como silêncio nas reuniões, indiferença e estranheza diante das

dificuldades do outro.

1.2.4 – Jacob Moreno e o sociodrama

Moreno foi um dos iniciadores do trabalho em grupo, associando-

o ao teatro através do psicodrama e do sociodrama. Sua experiência inicial

aconteceu em um teatro sem atores, sem texto, sem peça, com um tema livre,

denominado “O romance do rei”, em que trabalhou com mil espectadores e,

durante três horas, levou este enorme público a participar dessa busca de

espontaneidade. Iniciou, assim, o chamado psicodrama, através da ação

terapêutica da representação (MORENO, 1984, p. 9).

Para Moreno, a estrutura latente dos grupos não consiste

somente em uma distribuição de afetos dentro do espaço grupal. É no vivenciar

de uma realidade afetiva e cognoscitiva que se torna evidente no grupo a forma

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

23

como ele vive, suas relações com seus membros, a maneira como percebe os

outros e a “distância social” que experimenta entre os membros e a forma

como cada elemento grupal é percebido pelo grupo (MORENO, 1984, p. 10).

Tal experiência vivida traz engrandecimento pessoal para a dinâmica grupal.

Muitas vezes nos comportamentos de forma espontânea dentro

do grupo, nunca se escapa à interpretação de papéis diferentes do que

realmente se é. Assumindo um papel de intervenção no grupo, logo se é

chamado de agitador, adversário do grupo e subversivo. Para Moreno, ser

capaz de mudar de papel para fazer frente às exigências de dada situação é

sinônimo de ajustamento da personalidade social, de abertura e de afirmação

da própria personalidade (MORENO, 1984, p. 72).

Sendo assim, um indivíduo que assume um papel social, diferente

de sua personalidade, demonstra desenvoltura e facilidade para as habilidades

sociais. Não consiste em fraqueza ou perda de caráter, mas em flexibilização

de humor, abertura para novas tendências e personalidade amadurecida.

A sociometria consiste em relatar o feixe de interações e de

comunicações de todas as pessoas com as quais o indivíduo se relaciona,

podendo mostrar objetivamente a dinâmica do grupo no qual ele está inserido.

O teste sociométrico é um meio para assinalar a estrutura latente do grupo e, a

partir de sua aplicação, pode-se construir um perfil para cada indivíduo. Porém,

para entendê-lo, é necessário que se coloquem as características reveladas

dentro do contexto social. Assinala-se, então, não só a posição do indivíduo

dentro do grupo como o sistema complexo de atitudes sociais para com os

membros da comunidade em que ele está inserido (MORENO, 1984, p. 75).

O psicodrama consiste em uma experiência vivida em grupo, pelo

grupo e para o grupo. O indivíduo, ao participar dessa experiência, sente que

não está só, que compartilha seus problemas com os outros e percebe que

esses problemas não são apenas seus. Toda vez que o grupo vive um

momento de aprofundamento privilegiado, verifica-se uma tolerância, uma

compreensão recíproca, uma comunicação total, completa, entre os seres

(tele), uma espécie de comunhão entre os membros do grupo. Para que haja

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

24

esse encontro verdadeiro, os canais de comunicação entre os componentes

precisam estar abertos e acessíveis para esse tipo de vivência.

Em muitos grupos de trabalho, esses canais de comunicação

inexistem, pois os membros estão inacessíveis e fechados em suas questões

particulares. Muitos não têm consciência nem percebem seus movimentos,

dificultando ainda mais o crescimento e a ascensão enquanto grupo. Tem-se

visto cada vez mais a importância das empresas, qualquer que seja seu porte,

investir na qualificação de seu pessoal e no trabalho de desenvolvimento de

habilidades subjetivas.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

25

CAPÍTULO II

DINÂMICA DE GRUPO COMO ESTRATÉGIA PARA

LIDERANÇA NA SUPERVISÃO ESCOLAR

O objetivo deste capítulo é discutir a dinâmica de grupo como

estratégia para liderança na supervisão escolar. Dessa forma, se encontra

dividido em três subitens, sendo o primeiro, o conceito de Supervisão Escolar,

o segundo subitem dispõe sobre a função gerencial e a liderança e o último

aborda a dinâmica de grupo na liderança educacional.

2.1 – Conceituando Supervisão Escolar

As pesquisas e estudos voltados para a Supervisão Escolar

fizeram com que esta função fosse conceituada sob vários enfoques. Trazendo

a origem etimológica da palavra ‘supervisionar’, tem-se: ’supervisionar =

supervisar’ e ‘supervisar = dirigir ou orientar em plano superior; superintender,

supervisionar’ (FERREIRA, 1993, p. 520).

Dentro desta perspectiva, Nérici (1974, p. 29), afirma que

Supervisão Escolar é a “visão sobre todo o processo educativo, para que a

escola possa alcançar os objetivos da educação e os objetivos específicos da

própria escola”.

Este olhar exclui os sujeitos envolvidos no processo educativo, ou

seja, a ‘escola’ e os ‘objetivos da educação’ são o foco do trabalho, sem que

sejam considerados os professores, alunos, especialistas, demandas sociais

ou qualquer outra variável dentro desse processo.

Alguns anos depois, já se percebe um avanço em termos de

conceituação de Supervisão Escolar, quando Rangel (2004, p. 13), reconhece

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

26

a necessidade de relação deste com os outros profissionais da escola: “um

trabalho de assistência ao professor, em forma de planejamento,

acompanhamento, coordenação, controle, avaliação e atualização do

desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem”.

Esta conceituação propõe que a Supervisão seja percebida

levando-se em conta duas outras dimensões: a relação entre os sujeitos,

Supervisor – Professor, e o ensino-aprendizagem, objeto de trabalho desses

profissionais, ultrapassando a simples execução de tarefas e a ‘fiscalização’ do

trabalho realizado. Seguindo nesta linha, Alonso (2003, p. 175) afirma que a

Supervisão, nesta perspectiva relacional e construída no cotidiano da escola:

(...) vai muito além de um trabalho meramente técnico-

pedagógico, como é entendido com freqüência, uma vez

que implica uma ação planejada e organizada a partir de

objetivos muito claros, assumidos por todo o pessoal

escolar, com vistas ao fortalecimento do grupo e ao seu

posicionamento responsável frente ao trabalho educativo.

Desvela-se, assim, a função do Supervisor como referência frente

ao grupo, frente ao todo da escola. Este profissional enquanto responsável pela

‘coordenação’ do trabalho pedagógico assume uma liderança, um papel de

responsável pela articulação dos saberes dos professores e sua relação com a

proposta de trabalho da escola.

Alarcão (2004, p. 35), refere-se a este profissional como líder,

definindo como objeto de seu trabalho “o desenvolvimento qualitativo da

organização escolar e dos que nela realizam seu trabalho de estudar, ensinar

ou apoiar a função educativa por meio de aprendizagens individuais e

coletivas”.

Estas definições revelam um enriquecimento nas atribuições do

Supervisor Escolar, e para melhor contextualizar esta evolução, será realizada

uma retomada histórica desde o surgimento deste profissional até sua atuação

nos dias de hoje.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

27

2.2 – A Função Gerencial e a Liderança

As funções gerenciais e de liderança nos aspectos tradicionais e

contemporâneos devem ser considerados. No primeiro, a função gerencial

decorre de uma visão ordenada e tradicional na qual o dirigente é um decisor

racional, um planejador sistemático e um coordenador e supervisor eficiente

das atividades organizacionais (MOTTA, 1991). Hoje essa visão é contrária.

“Sua atenção é constantemente desviada por chamados diversos, o que

fragmenta sua ação e torna intermitente o seu envolvimento no processo

decisório organizacional” (MOTTA, 1991, p. 20).

Já na arte de liderar, o vício excessivamente técnico, restrito a

uma área ou profissão, pode trazer prejuízo à função gerencial. O autor usa a

metáfora de um túnel para explicar a visão essencialmente técnica: “vê-se a luz

ou ambiente ao final, porém restrita à dimensão do diâmetro desse túnel. Na

profissão, vê-se somente um caminho obscurecido pela impenetrabilidade dos

raios de outros conhecimentos” (MOTTA, 1991, p. 27).

O mesmo autor comenta que o mundo moderno exige dos

dirigentes capacidade de negociação entre os interesses e as demandas

múltiplas e de integração de fatores organizacionais cada vez mais ambíguos e

diversos. Essa capacidade gerencial só se consegue pelo aprendizado, “o mais

importante que ocorre é que não somente podem se esclarecer e corrigir

problemas e situações, mas sim que gradualmente tem lugar uma meta-

aprendizagem que consiste em que os implicados na tarefa apreendem a

observar e refletir sobre os acontecimentos e a encontrar seu sentido, seus

efeitos e integrações”, não se trata de um processo educacional para formar

um profissional, mas para abrir novos caminhos e valores (BLEGER, 1984, p.

47).

Para observar os efeitos da função gerencial e de liderança no

comportamento das equipes, as quais possuem valores e traçam caminhos,

será utilizado o modelo de gestão que enfatiza “duas formas alternativas de

caracterizar discursivamente as atividades organizacionais e gerenciais: uma

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

28

forma sistêmico-controladora e outra processual-relacional” (WATSON, 2005,

p. 14).

Os padrões de relacionamento decorrem dos estilos de gestão e

da estrutura de poder existentes nas instituições. O foco do modelo gerencial

no discurso de boa parte dos administradores públicos é voltado, além destas

duas lógicas, para a gestão de resultados, o que não acontece com fluidez

porque a “máquina” emperra, isto é, o sistema burocrático se atravessa

(MORGAN, 1996).

O discurso da gestão de resultados, que por ora será chamado de

dominante, está em evidência frente às mudanças em curso para adaptar a

organização a uma dinâmica mais flexível, o que é paradoxal, porque a linha de

pensamento é inovadora, mas a ação continua conservadora. Para ilustrar,

reporta-se ao pensamento de Hegel

Hegel (1941) tratou em profundidade das contradições

lógicas e perspectivas. Para o filósofo, a lógica baseia-se

na dialética tese-antítese e síntese, que é a única maneira

pela qual podemos alcançar a realidade e a verdade

como movimento interno da contradição. Hegel afirma que

a realidade é o fluxo eterno dos contraditórios. Assim,

termos paradoxais não são dois positivos excludentes,

mas dois predicados contraditórios do mesmo sujeito e só

existem negando-se um ao outro (Sabelis, 1996). Dessa

forma, o paradoxo se expressa pela proposição “A e não-

A”, em uma impossibilidade lógica de se atribuir ao

mesmo objeto, ao mesmo tempo, duas qualidades

opostas e mutuamente excludentes (POOLE; VAN DE

VEM, 1989 apud VASCONCELOS; VASCONCELOS,

2004, p. 4).

A exemplo disso, “o modelo de gestão por e para resultados

fundamenta-se no programa para a excelência que focaliza quatro variáveis

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

29

básicas de todas as instituições: filosofia, resultado desejado, pessoas e

processo” (WATSON, 2005, p. 74). A excelência nos resultados está

relacionada com o investimento nas pessoas, mais um paradoxo entre o

discurso e a prática, haja vista os fracos investimentos em qualificação no setor

público.

Para que aconteça um processo de mudança em uma

organização, a instituição precisa contar com um grupo dirigente estratégico,

que deseje levar a efeito as mudanças, uma vez que a cúpula é a responsável

pelo processo de sustentabilidade da instituição e a garantia do

desenvolvimento da ação proposta (LAPASSADE, 2008). Para isto, um projeto

de mudança precisa ter claros seus objetivos, conhecimento destes e atores

socializados (dirigentes, equipe, usuários) com a nova filosofia e o novo estilo

de gestão.

Assim, neste momento, pensar no líder e sua função para o

suporte do grupo é pertinente para o propósito do estudo. Le Bon (apud

FREUD, 1969) traz considerações sobre o líder de grupos, dizendo que,

quando seres vivos se reúnem em um número, sejam eles um rebanho de

animais ou um conjunto de seres humanos, se colocam instintivamente sob

influência de um chefe. Um grupo é um “rebanho obediente, que nunca poderia

viver sem um senhor. Possui tal anseio de obediência, que se submete

instintivamente a qualquer um que se indique a si próprio como chefe”

(FREUD, 1969, p. 105). Assim, as necessidades de um grupo o conduzem ao

encontro de um líder. Este deve ajustar-se às características e qualidades

pessoais daquele.

O líder deve ser fascinado por uma intensa fé (numa idéia) a fim

de despertá-la no grupo, que não tem vontade própria e que possa ser

contagiado pela idéia dele (líder). Em geral, acredita-se que os líderes se

fazem notados pelas idéias em que eles acreditam fanaticamente. Além disso,

por atribuírem às idéias e aos líderes um poder misterioso e irresistível, a que

chamam de “prestígio”. O prestígio é uma espécie de domínio exercido sobre o

ser humano por outro, um trabalho ou uma idéia. Tem a força de paralisar

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

30

inteiramente a faculdade crítica. Enche o indivíduo de admiração, desperta um

sentimento com “fascinação” na hipnose.

Importante distinguir prestígio adquirido ou artificial de prestígio

pessoal. O primeiro vincula-se ao nome, fortuna e reputação; o segundo liga-se

a pessoas que se tornaram líderes, e com esse prestígio fazem com que todos

sejam guiados como por uma força de alguma magia. Nesse caso, o prestígio

se conquista pelo sucesso e se perde no fracasso.

Dessa forma, o importante é visualizar dois tipos de liderança: o

transacional e o transformacional. A liderança transformacional, segundo

Vasconcelos e Vasconcelos (2004, p. 14), “por ser mais um conjunto de

premissas, teorias e idéias dispersas e inter-relacionadas por meio de temas

específicos do que um modelo prescritivo, estruturado em torno de regras

específicas.”

Já a liderança transacional, ainda segundo os autores citados,

caracteriza-se pela troca não duradoura entre o líder e o liderado, que pode ser

política, psicológica ou econômica. O indivíduo aceita seguir um líder, o

seguidor aceita as ordens do líder por uma questão de poder formal, o que

implica benefícios de caráter extrínseco. Por outro lado, na liderança do tipo

transformacional ou administração dos sentidos, o líder caracteriza-se pela

articulação da experiência e dos sentidos compartilhados pelo grupo para

viabilizar determinadas ações.

Sabe-se que nas instituições todo processo de mudança produz

resistências, e para pensar o medo do novo a ser instituído, toma-se

emprestado de Lapassade (2008) o esquema do cone invertido, para permitir a

circulação da palavra.

Nesse esquema, o que aparece primeiro é:

o explícito; o implícito, em contrapartida é o que

corresponderia à zona do inconsciente. Mas é partindo do

explícito e por uma espiral constante que se pode chegar

ao implícito, analisando-se que elementos atuam e como

podem romper a estrutura rígida da situação para poder

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

31

chegar à situação de progresso e uma nova formulação

(LAPASSADE, 2008, p. 279).

Em um órgão público, mais precisamente nos serviços de saúde,

é preciso investir na mudança de estrutura assistencial e gerencial;

é preciso criar novas formas de organização, capazes de

produzir outra cultura e de lidar com a singularidade dos

sujeitos. Nessa esteira, considerar a competência humana

do chefe, baliza a concepção de gestão que por um lado

mostra o poder baseado na personalidade do chefe.

Determinadas qualidades excepcionais, determinados

atributos, que somente poucas pessoas têm, conferem-

lhe a capacidade de obrigar o outro a realizar certos atos

ou a abster-se deles (BRASIL, 2004).

Assim, a relação entre as aptidões do chefe, as características de

sua personalidade, seu comportamento e as “dimensões” da pessoa e do

grupo por ela dirigido devem ser levados em consideração. Por outro lado, o

poder é vivido como uma relação. Essa relação ocorre numa situação que se

encaixa em determinada estrutura que tem a predisposição de co-gestão entre

o gestor e a equipe. Assim a relação do chefe passa pela identificação.

O poder, na experiência primitiva, é apreendido, ao mesmo

tempo, “como recusa e como referência” (ENRIQUEZ, 2007, p. 27): a

identificação com a pessoa do mesmo sexo, no final do complexo de Édipo, é a

marca da referência a essa pessoa. O filho internaliza os valores parentais, o

que lhe possibilita se definir como homem ou como mulher. O caminho da

socialização passa necessariamente pela identificação.

Na experiência do dia-a-dia, a identificação se faz constante.

Identificação do aluno com o mestre, de um membro da empresa com a própria

empresa, por exemplo, são sinais de forte fascinação. A esse respeito, é

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

32

preciso observar que, nos textos de psicologia social e de sociologia, a

identificação, que se dá baseada no amor ou no medo, se embaraçam

(ENRIQUEZ, 2007, p. 27).

O termo identificação, no sentido que a ele é conferido pela

psicanálise, equivale a estabelecer um laço de referência com o pai, fato que

atribui ao sujeito, por sua vez, a capacidade de ser pai. A referência supõe um

ato livre. Por outro lado, a identificação por medo ou por conformismo parece

marcar uma identificação falha: com efeito, o ser não encontrou sua própria

identidade. Ele permanece dependente do outro e se asfixia num

comportamento estandarizado. Não se trata, então, de uma identificação, mas

de uma fusão, de um rebaixamento na relação.

O processo de fusão pode ser provocado pelo medo das punições

ou pelo desejo de recompensa, e opera na pulsão amorosa. Quando um

“indivíduo sente-se possuído por outro, quando suas ações são totalmente

moldadas nas do outro, é por que ele sente por esta pessoa um amor total (que

pode se transformar em ódio total) e se abandona completamente a ela.

Nesse caso não de pode mais falar em identificação. Trata-se de

um decaimento, de uma perda da individualidade” (ENRIQUEZ, 2007, p. 28).

Dessa forma, o poder é reconhecido como sagrado, provoca

respeito, e o amor é apreendido como sagrado. Tal espécie de amor-fusão só é

possível no caso de um poder carismático, tal como foi definido por Weber: “A

legitimidade do poder carismático baseia-se, assim, na crença em poderes

mágicos, na crença na revelação, na crença nos heróis; sua fonte é a

‘confirmação’ da qualidade carismática através dos milagres, vitórias e outros

sucessos tais como a prosperidade dos governados” (ENRIQUEZ, 2007, p. 29).

Se por outro lado, não se confirmar a crença, ela se extinguirá,

deixando seu lugar ao ódio. Com efeito, o que caracteriza esse amor é que ele

é profundamente repressivo. As tendências à autonomia, à realização de si

desaparecem. O que aparece são sujeitos dependentes do mestre e tentam se

tornar semelhantes a ele, com “medo da liberdade”, este indivíduo precisa de

um suporte mágico, de um poder exterior a si. Esse poder é coercitivo: ele

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

33

impõe determinados atos, determinados pensamentos, proíbe outras ações.

Afinal ele “sabe tudo, ele pensa por nós todos. Em troca, ele permite que

sejamos fortes contra os outros.

Mas, quando a submissão ao chefe deixa levar à submissão dos

outros, à crença na superioridade dos discípulos, o movimento se inverte e

queima-se o que era adorado. É o assassinato do pai; é a transgressão, é a

negação do poder enquanto castrador. A negação do poder traz ao chefe uma

questão: a legitimidade” (ENRIQUEZ, 2007).

Pode-se inferir dessa análise que todo poder busca ser legítimo,

uma vez que não nascer com tal prerrogativa e pretende adquirir adesão

unânime, a qual o legitima e confere a ele duração. Um poder fundado na força

só pode ser banido por outra força; um poder constituído no amor pode ser

fulminado pelo surgimento de outro objeto de amor. Revela-se assim outro

caráter da legitimidade: a recusa histórica das relações humanas da

possibilidade de se criar um mundo sem conflitos.

A legitimidade é sempre pontual, reflexo do poder de um grupo

sobre outros. Os critérios de legitimidade demonstram isso claramente

(ENRIQUEZ, 2007). Conforme os casos, invocar-se-ão a idade, a casta ou a

categoria social, a raça, a graça divina, o nível de inteligência, o sexo, os laços

de sangue, a competência, a estrutura social, a vontade coletiva, os valores, a

adesão do grupo, a eficácia, cada um no lugar de poder.

A partir do momento em que os valores parecem estar

internalizados pelas equipes, eles se tornam legítimos e passam a ter em mãos

um poder racionalmente constituído. O poder que busca ser legitimado quase

sempre tem por base o consentimento: por internalização, por medo ou por

amor: Quando o poder é fundado na internalização, na aceitação das regras

estabelecidas, ele então se torna legítimo e como tal é reconhecido. Ele define

os direitos e as obrigações, cria um mundo ordenado que tende a durar. E essa

criação é possível à medida que atende a uma dupla necessidade:

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

34

• necessidade que os indivíduos têm de viver em estruturas

estáveis, a fim de prever os comportamentos dos outros atores

e de orientar sua própria conduta, em relação a eles;

• necessidade de tornar as ações eficazes, conhecendo as

fronteiras da ação e suas modalidades de realização

(ENRIQUEZ, 2007, p. 31).

2.3 – A Dinâmica de Grupo na Liderança Educacional

As mudanças que ocorrem na sociedade refletem-se dentro da

escola, e as tendências administrativas, na mesma medida, influenciam as

relações escolares, pois mesmo que muitos não aceitem a idéia de comparar a

escola à empresa, é inegável que ela precisa ser administrada, gerida, seja ela

pública ou privada.

Freitas et al. (2003, p. 16), em artigo sobre ‘Liderança

Educacional’ afirma que “liderar instituições educativas, num mundo com rápido

desenvolvimento científico e tecnológico, grandes dificuldades econômicas,

políticas e sociais, é uma atividade complexa”.

A vida na escola é dinâmica, ativa, leva a ações e transformações

de acordo com as dificuldades e dilemas que se apresentam cotidianamente.

“O líder em educação lidera líderes em potencial” (FREITAS et al.,

2003, p. 16). Remetendo esta idéia à função do Supervisor Escolar, conclui-se

que ele lidera líderes, pois professores, frente a seus alunos, são uma

referência, ocupam este lugar.

Alarcão (2004, p. 47) traz o pensamento de Senge, Mintzberg e

Bronfenbrenner, que aponta para o desenvolvimento da escola enquanto

organização aprendente, repercutindo no trabalho do Supervisor Escolar:

• A instituição é constituída por pessoas, profissionais, também

elas em desenvolvimento pessoal e profissional;

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

35

• O desenvolvimento humano, individual e coletivo, é a pedra de

toque para o desenvolvimento organizacional;

• A liderança estratégica, baseada numa visão partilhada da

escola, num pensamento sistêmico e no diálogo, é de

importância capital;

• A resolução cooperativa dos problemas é fator de

aprendizagem e de coesão organizacional;

• A linguagem como expressão do pensamento crítico e fator de

conscientização, aumenta o nível de empenho.

Os itens citados acima revelam o caráter de constante mudança

inerente ao ambiente escolar. As transformações são inevitáveis, mesmo que

nem sempre sejam desejadas. Nesse sentido, a técnica da Dinâmica de Grupo

torna-se uma importante ferramenta para adaptar-se, avaliar e reavaliar

atitudes constantemente, fazendo com que os integrantes do grupo busquem

soluções para problemas inesperados, que costumam ser rotina no ambiente

escolar, e a figura do Supervisor como líder é fator determinante para que se

obtenha sucesso nessa técnica.

Dentro desta perspectiva de ‘reinvenção profissional’, Freitas et al.

(2003, p. 19) afirma que:

O líder educacional do século XXI é aquele que transpõe

não só suas próprias amarras, mas também os muros de

sua instituição, rompe as barreiras das diferenças,

estabelece parcerias, contribuindo para a construção de

um ambiente que eduque todos os seus liderados, seus

parceiros e a comunidade em geral.

Configura-se uma realidade desafiadora, e, conseqüentemente, a

necessidade de uma revisão de papéis, de uma ressignificação da ação

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

36

Supervisora no sentido de conquistar autoridade através do conhecimento e da

contribuição com a aprendizagem dos professores.

Como ‘líder’ dos professores, ‘líderes em potencial’, o Supervisor

Escolar, segundo Freitas et al. (2003, p. 16), precisa se empenhar “em

desenvolver habilidades da equipe, identificar e comunicar valores e o potencial

de cada um, possibilitando, desta forma, uma motivação permanente”, e nesse

sentido, pode valer-se da dinâmica de grupo como ferramenta para fazer

concretizar-se seus objetivos.

Rangel (2004, p. 60) resgatando o pensamento arendtiano, faz

um paralelo entre autoridade e autoritarismo. “A autoridade baseia-se na

confiança, adquirida por meio do desempenho de quem a exerce, de modo que

se torne legítima e legitimada pelo grupo no qual, e pelo qual, essa ‘autoridade’

se exerce”.

E na continuidade desta definição, afirma que o profissional que

não possuir competência para exercer a autoridade que lhe foi conferida,

poderá, indubitavelmente, gerar o autoritarismo, agindo arbitrariamente e

gerando insegurança em seus liderados (RANGEL, 2004).

A habilidade, os valores e o desempenho de líder, para Freitas et

al. (2003), podem ser desenvolvidos, desde que sejam oportunizados desafios

que levem à ação-reflexão-ação, e nesse caso pode-se contar com inúmeras

técnicas de dinâmica de grupo que permitem que se trabalhe a liderança entre

lideres e liderados. E, complementando, caracterizam o líder de pessoas como

alguém:

Criativo, carismático, comprometido. Ele é um

comunicador, competente, corajoso. Ele avalia, apresenta

e discute processos e resultados. Ele faz com que as

informações fluam, dá oportunidades para as pessoas

desenvolverem sua auto-estima e confiarem em si

próprios e no que fazem, desenvolvendo espírito de

equipe e colaboração. Para tanto o líder em educação

precisa superar a si próprio. (FREITAS et al, 2003, p. 16)

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

37

O desafio da ressignificação da ação, neste sentido, passa a ser

pessoal. Ao Supervisor Escolar é importante auto-analisar-se, conhecer-se,

para que possa contribuir igualmente com o crescimento individual e coletivo

dos professores que lidera.

As dinâmicas de Grupo utilizadas devem focar-se nesta prática,

além de preocupar-se com as questões relativas à aprendizagem dos

professores, deve observar, também, a subjetividade envolvida no fazer

profissional.

Embora se considere que aprender requer disciplina, organização,

atenção, concentração, trabalho, é preciso pensar o ser humano em seu

propósito e seu direito fundamentais: o de ser feliz. Assim, a ‘disciplina’ do

‘trabalho’ de ensinar e aprender não exclui a finalidade e o direito da vida

humana prazerosa (RANGEL, 2004, p. 59).

Em ‘Pedagogia da Conscientização: um legado de Paulo Freire à

formação de professores’ Freitas (2003, p. 71), analisa a ação supervisora

relacionando-a à educação que “compreende os atos de ensinar e aprender,

que caracterizam a natureza da prática educativa, enquanto dimensões do

processo maior – o de conhecer”. Com relação ao conceito de conscientização

a autora traz que esta é:

Compreendida como processo que integra organicamente

a criticidade, a curiosidade e a criatividade, orienta-se no

sentido do desenvolvimento da consciência democrática,

do conhecimento libertador e da sensibilidade

emancipatória, problematizando a identidade profissional

do educador de tal modo que este possa perceber

criticamente as situações-limite a que se encontra limitado

e, para além delas, perceber-se como sujeito da criação

do inédito-viável, no desenvolvimento da autoria de sua

consciência crítica. (FREITAS, 2003, 221)

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

38

Relacionando a ação Supervisora proposta por Freire com os

conceitos de liderança anteriormente abordados, é possível identificar

semelhanças, ou seja, ao Supervisor que pretenda ‘conscientizar’, o

conhecimento teórico, a leitura da realidade e a criação de espaços para ação-

reflexão-ação, através dos exercícios de Dinâmica de Grupo, são formas de

viabilizar esta ressignificação.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

39

CAPÍTULO III

A DINÂMICA DE GRUPO E O PAPEL DO SUPERVISOR

ESCOLAR

O objetivo deste capítulo é discutir a dinâmica de grupo e o papel

do supervisor escolar.

Alarcão (2004) define a função do supervisor escolar, atentando

para sua natureza genérica, como a função de integração, coordenação,

manutenção e de atualização e revitalização da escola, considerando-a um

instrumento indispensável à estrutura escolar, pelo fato dela permitir que os

objetivos propostos sejam realizados. Com relação à supervisão escolar, a

autora a compreende como “[...] a função que atende aos objetivos da ação

administrativa, como instrumento de realização dos objetivos educacionais

propostos para a escola em geral e, para determinada escola em particular”

(ALARCÃO, 2004, p. 130).

Critica o fato do campo de atuação do supervisor escolar ficar

restrito, muitas vezes, a alguns aspectos julgados mais significativos em

determinada concepção teórica. Destaca a tendência de se adotar concepções

desenvolvidas pela Teoria Geral da Administração, provenientes de

contribuições de diversos campos de conhecimento e que são utilizadas

principalmente em empresas, e aplicá-las na Administração Escolar. Desta

maneira, reforça a sua posição a favor dessa tendência.

Afirma que as funções da supervisão escolar podem variar de um

sistema para outro e que de acordo com o modo como é percebida a função

administrativa haverá uma definição do papel do diretor.

A forma pela qual é percebida a função do supervisor

escolar varia de acordo com as concepções educacionais

vigentes, as expectativas individuais e sociais

relativamente à ação da escola, o papel do professor e

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

40

ainda conforme a tradição, isto é, os modos comuns pelos

quais aquela ação é exercida (ALARCÃO, 2006, p. 130).

Alarcão (2006) esclarece que, mesmo não sendo possível a

separação entre teoria e prática, o problema que constitui objeto de

investigação em seu trabalho é o relativo à atuação do supervisor escolar.

“Trata-se, pois, de uma tentativa de explicar o comportamento administrativo do

ponto de vista do prático, muito embora se admita a necessidade de que se

fundamente na formulação teórica [...]” (ALARCÃO, 2006, p. 132).

A autora destaca um primeiro aspecto do trabalho administrativo

que é o referente aos objetivos gerais da organização. No caso da supervisão

escolar, os objetivos a serem desenvolvidos pela escola dependem dos

objetivos educacionais que, por sua vez, são pré-definidos através de uma

legislação básica coerente com as diretrizes nacionais. Afirma, ainda, que a

proposição de fins gerais para a educação deve ser encarada como um ponto

de referência inicial que sirva para orientar a ação do supervisor. A partir daí, o

supervisor deve explicitar rever e adequar os objetivos educacionais a uma

situação particular.

[...] na medida em que se tenta encarar o supervisor como

responsável pela implementação e desenvolvimento de

um processo educacional em determinada escola, ele

somente poderá assumir tal função na medida em que

seja capaz de perceber a importância dos objetivos

propostos, sua adequação ou inadequação às reais

necessidades de uma realidade próxima e, portanto,

capaz de imprimir uma nova diretriz a esse programa no

momento em que se mostre inadequado (ALONSO, 2003,

p. 134-135).

Alonso (2003) trata sobre a introdução de novos recursos no

ensino, decorrentes do desenvolvimento da tecnologia, e o uso de

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

41

computadores na realização de certas tarefas administrativas. Nesse momento,

utiliza o termo “análise de sistemas” como “o ponto essencial” nas “teorias dos

sistemas”. Parece que a autora diferencia “sistemas abertos” de “teoria dos

sistemas”, pois, após referir-se à utilização de conceitos advindos de diversas

ciências que são aproveitados para a Administração e particularizados para a

Supervisão Escolar, Alonso (2003) afirma:

Dentro desta concepção desenvolve-se uma tendência a

encarar a estrutura e a operação da organização escolar

como um complexo sistema de relações, de modo a

compor um conjunto integrado numa relação homem-

máquina. Nesse sentido têm-se desenvolvido as

chamadas “teorias dos sistemas”, e o ponto essencial

nessas teorias é exatamente a análise dos sistemas.

(ALONSO, 2003, p.137)

Alonso (2003) propõe que um determinado modelo de supervisão

seja, por meio da análise de sistemas, formulado teoricamente, fazendo-se

simulações de seu desempenho através da introdução de algumas técnicas,

como a dinâmica de grupo para, então, poder avaliá-lo antes de sua

implantação. Aponta as vantagens e dificuldades na utilização da “abordagem

sistêmica” na supervisão escolar:

[...] a maior vantagem da abordagem sistêmica é permitir

o estabelecimento de relações entre todos os elementos e

fases do processo desde a proposição dos objetivos até a

verificação final dos resultados, possibilitando ainda

correções necessárias, dada a existência de um

dispositivo especial de informação, que é o “feedback”.

Entretanto, a maior dificuldade em explicar os problemas

da supervisão escolar através da teoria dos sistemas é a

impossibilidade de se conseguir apenas variáveis

objetivas e mensuráveis; e ainda, o fato de a escola reagir

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

42

como um sistema em relação a outro sistema maior do

qual recebe “inputs” e para o qual devolve produtos ou

“outputs” que por sua vez influenciam as condições

exteriores. Além disso, a organização escolar mantém-se

como um sistema aberto ao meio externo [...] Esta forma

de encarar a organização leva a considerar a função

administrativa como algo dinâmico antes que estático [...]

(ALONSO, 2003, p. 139).

Dessa forma, observa-se melhor a diferenciação que é feita entre

os termos “teoria dos sistemas” e “sistemas abertos”. Quando, Alonso (2003),

trata sobre as vantagens do uso da teoria dos sistemas na supervisão escolar,

a autora parece descrever características atribuídas aos sistemas abertos,

como o feedback.

Igualmente, a autora utiliza os dois termos, atribuindo a eles

sentidos diferentes. Primeiramente, mostra que a teoria dos sistemas utiliza

apenas “variáveis objetivas e mensuráveis” para explicar os problemas e

funções da supervisão escolar. Em seguida, após registrar algumas de suas

características principais, afirma que a escola mantém-se como um sistema

aberto ao meio externo, o que leva a considerar a função administrativa como

algo dinâmico.

A intenção aqui não é criticar ou procurar dualidades no trabalho

de Alonso (2003), mas esclarecer quais os benefícios advindos da utilização da

técnica de dinâmica de grupo para a supervisão escolar.

O aspecto mais importante da dinâmica de grupo é a concepção

de uma idéia de um conjunto de elementos interligados para formar um todo.

Portanto, a dinâmica de grupo pode ser muito benéfica para se trabalhar em

ambientes escolares, pois estes podem ser sistemas fechados, semi-abertos

ou abertos.

A dinâmica de grupo quando utilizada em um ambiente escolar

cujo sistema é aberto, como o próprio nome diz, mantém relações de

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

43

intercâmbio com o meio ambiente no qual se insere. Com relação à análise de

sistemas, pode-se dizer que a mesma se encaixa nos sistemas semi-abertos,

porque, mesmo desconsiderando as variáveis externas que intervém na

organização, consegue estabelecer relações entre todos os elementos da

organização.

Nesse caso a dinâmica de grupo pode ser utilizada pelo

supervisor escolar como uma técnica própria para um sistema aberto para

analisar e obter informações sobre o funcionamento interno da escola enquanto

organização.

Depreende-se, ainda que a utilização da dinâmica de grupo é uma

importante, estratégia para o bom desempenho do supervisor escolar porque,

proporciona o conhecimento de variáveis observáveis e objetivas, que a

organização escolar, por si só, nem sempre pode oferecer para desenvolver

sua função, “analisando” o funcionamento interno da organização,

considerando também as variantes externas, que muito influenciam em tal

funcionamento.

Torna-se [...] imprescindível ao supervisor escolar,

compreender o conjunto organizacional, isto é, a escola,

como uma realidade global; ser capaz de adaptá-la às

novas exigências; decidir de modo racional (na medida do

possível) a partir de um conjunto de informações

provindas das mais variadas fontes e ordenadas

convenientemente; em suma, compete-lhe a organização

e direção do trabalho educativo de modo a permitir a

definição de um arcabouço racional-legal adequado à

realidade escolar (ALONSO, 2003, p. 140).

Observa-se, que Alonso (2003) atribui algumas funções ao

supervisor escolar baseada nas diferentes correntes administrativas. Quando a

autora afirma que o supervisor escolar precisa compreender a escola “como

uma realidade global” e “ser capaz de adaptá-la às novas exigências”, utiliza

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

44

basicamente o que é defendido no enfoque sistêmico. Ao afirmar que ele deve

“decidir de modo racional”, considera o supervisor escolar como um “tomador

de decisões”, recorrendo ao comportamentalismo, mais precisamente à teoria

defendida por Simon (1971) sobre os processos decisórios nas organizações

administrativas, e assim utilizando-se muitas vezes de técnicas, como no caso

da dinâmica de grupo.

Afinal, a dinâmica de grupo ao permitir o interrelacionamento dos

"recursos humanos" distancia o ambiente escolar daquilo que Alonso se refere

como “arcabouço racional-legal” remetendo-se à teoria da burocracia, de

Weber. No entanto, esta mesma autora defende que “[...] aquela concepção

burocrática estrita não pode ser aplicada à organização escolar, nem deve

orientar de modo total ou exclusivo a atividade administrativa na escola”

(ALONSO, 2003, p. 142).

Alonso (2003, p. 142), de acordo com a abordagem dos sistemas

abertos, considera o supervisor escolar como um mediador entre a escola e o

sistema social maior e afirma que a função administrativa possibilita “[...] a

conciliação entre os dados da realidade e a rigidez estrutural da organização

resultante da aplicação da autoridade legal [...]”.

Após apresentar as várias funções da supervisão escolar, a

autora afirma:

Reunidas todas essas formas de perceber o problema,

vê-se claramente a dificuldade que surge se o

administrador escolar se filiar a uma única “escola” ou

“corrente administrativa”. Com efeito a administração

moderna reflete evoluções das diversas posições nas

quais perdem todo o significado as contribuições

anteriores consideradas isoladamente (ALONSO, 2003, p.

142).

Em seguida, resume as principais funções da supervisão escolar:

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

45

[...] estas se agrupam num conjunto de funções

específicas relativas à organização e direção do trabalho

escolar, ao desenvolvimento de atividades de liderança

ou estimulação e manutenção do comportamento humano

produtivo, ao controle dos resultados e apreensão do seu

valor social (ALONSO, 2003, p. 142)

Considerando a organização escolar como um sistema social, que

é formado por um conjunto de subsistemas, Alonso (2003) distingue três

sistemas diferenciados na escola: o sistema operativo, o sistema administrativo

e o sistema institucional. A autora destaca a existência de interligações entre

eles, as quais permitem o fluxo de informações em todos os sentidos, e a

convergência de todas as atividades destes sistemas para a realização do

objetivo final. Classifica a função administrativa como pertencente aos níveis

gerencial e institucional que refletem, respectivamente, a preocupação

administrativa com as atividades internas e as atividades externas da

organização. Do ponto de vista interno:

Preocupa-se em assegurar o pleno aproveitamento dos

recursos existentes e em definir os sistemas que tornem

disponíveis esses recursos, a fim de garantir a

consecução dos objetivos propostos para o ensino e a

aprendizagem. Do ponto de vista externo, as funções

administrativas poderiam ser vistas em relação à

legitimação dos objetivos educacionais a serem

realizados pela escola, ao confronto dos resultados

apresentados com as necessidades formuladas

socialmente, e ainda com relação ao desenvolvimento de

um novo conceito de educação e ensino necessários

numa sociedade em mudança (ALONSO, 2003, p. 146).

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

46

Alonso (2003), ao tratar sobre a função de direção, afirma que

esta corresponde ao comando dentro do conjunto dos cinco elementos

propostos por Fayol. Define direção, baseada no referido autor, como um dos

principais componentes do processo administrativo, o qual consiste em fazer

com que os subordinados executem suas tarefas atendendo a determinações

da hierarquia. Afirma que a função de direção envolve um conjunto de relações

em todos os níveis da organização e tem como finalidade velar pela execução

dos objetivos previstos.

Tratando especificamente do supervisor escolar do atual ensino

fundamental, por exemplo, Alonso (2003, p. 169) o considera como “[...] o

“executivo” principal do sistema escolar, aquele de quem depende o êxito das

decisões e, por isso mesmo, só ele pode ser considerado como co-participante

essencial do “processo de tomada de decisões””. Afirma, ainda, que o

supervisor escolar ocupa uma posição estratégica em relação aos diversos

grupos componentes do sistema escolar, como os alunos, professores, pais e

outras agências da comunidade, servindo de mediador entre a organização

escolar e os elementos do sistema social em que está envolvida. Segundo a

autora, é desta maneira que a posição ocupada pelo supervisor escolar que

favorece a sua condição de liderança e seus atos tornam-se importantes na

determinação do trabalho escolar.

Alonso (2003) afirma que a percepção global da escola em seu

funcionamento e em sua relação com o meio social deve orientar a ação do

supervisor escolar quando define critérios de utilização de recursos ou quando

propõe novas sistemáticas de trabalho, como a dinâmica de grupo, por

exemplo, levando-se sempre em conta a instabilidade do meio externo e suas

alterações. Do supervisor escolar depende, então, o processo de renovação do

trabalho escolar.

A autora considera como elementos constituintes da direção a

autoridade, a responsabilidade e o conhecimento.

O cargo de supervisor escolar representa a configuração

da autoridade administrativa ao nível do microssistema.

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

47

Ele se apresenta como o responsável geral pelo

desenvolvimento das atividades escolares e,

consequentemente, pelo adequado desempenho de um

grupo de profissionais com relação o alcance de um

objetivo estabelecido (ALONSO, 2003, p. 164).

Segundo a autora, mais do que a experiência, o conhecimento

sistemático, organizado e atualizado é fundamental para que o supervisor

escolar possa orientar as ações do grupo por ele coordenado.

Alonso (2003) ressalta que o desempenho do papel do supervisor

escolar resulta de uma proposição legal, por um lado, e de um conjunto de

expectativas de papel, de outro lado. Enquanto a tendência da legislação é

formular as concepções mais atuais sobre a função de direção, estabelecendo

normas que devem ser cumpridas necessariamente, as expectativas do grupo

de trabalho do supervisor escolar, dos pais, da comunidade e da sociedade em

geral traduzem os conceitos tradicionais da função de supervisão escolar,

definindo o comportamento do supervisor de acordo com seus próprios

interesses.

Desta maneira, o supervisor escolar sofre inúmeras formas de

pressões e, de acordo com a autora, ele, frequentemente, cede às exigências

das expectativas de papel, ao invés de se firmar nas proposições legais. “Em

suma, o supervisor escolar deve responder às mais diversas expectativas e

formas de pressão exercidas sobre ele e a instituição, procurando

compatibilizar todas as divergências ao definir os propósitos da escola, seu

programa de trabalho, seus recursos e necessidades” (ALONSO, 2003, p. 168-

169).

Portanto, a dinâmica de grupo, como técnica de interação grupal,

contribui para liderança e motivação, proporcionando ao supervisor escolar

feedbacks que nunca antes teria tomado conhecimento.

A autora afirma que “o que define e caracteriza o trabalho do

supervisor escolar são as funções intrínsecas da administração, quais sejam, o

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

48

planejamento, a organização e a própria direção e controle” (ALONSO, 2003, p.

170). Nota-se, neste parágrafo, que a autora atribui à função de direção quatro

dos cinco elementos do processo administrativo definidos por Fayol, não

citando apenas a “coordenação”. No entanto, em alguns momentos, a autora

deixa claro que o supervisor escolar coordena o grupo escolar. Sendo assim,

atribui à função do supervisor escolar os mesmos cinco elementos definidos

por Fayol.

Portanto, a dinâmica de grupo poderá auxiliar o supervisor escolar

no sentido de assegurar a unidade de propósitos e a integração de todas as

funções existentes na escola, bem como a implementação de todo o programa

institucional.

Como líder do corpo docente, deve estabelecer a tônica

predominante no processo educacional global,

transmitindo o seu entusiasmo e o interesse pelo

progresso do ensino, estimulando o trabalho de equipes e

assegurando as condições básicas para um desempenho

efetivo das funções essenciais (ALONSO, 2003, p. 151).

Alonso (2003, p. 160) interpreta o processo decisório dentro da

organização como “[...] um duplo movimento de ida e volta, ou seja, “de baixo

para cima” e “de cima para baixo” [...]”, no qual há um fluxo de informações que

permitem ao diretor obter informações de possíveis problemas, assim como

sugestões que possam ajudar na tomada de decisões. “Ao supervisor escolar

ficariam reservadas as decisões finais de modo a permitirem a compatibilização

de todas as forças existentes e o controle das variáveis intervenientes na

situação global” (ALONSO, 2003, p. 160).

De acordo com a autora, o supervisor escolar influi tanto dentro

da organização escolar quanto nos órgãos mais altos da administração do

ensino, para os quais leva a posição da sua escola, justifica as suas

proposições e influenciam na tomada de decisões mais gerais, e dos quais traz

as informações e decisões necessárias para a vida escolar, para interpretá-las

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

49

dentro da realidade da sua escola e, então, tentar aplicá-las. E, nesse sentido,

a dinâmica de grupo poderá auxiliá-lo na implementação de novas ideias e no

alcance de seus objetivos.

Segundo Alonso (2003), a eficiência do supervisor escolar pode

ser definida de acordo com sua capacidade de realizar objetivos definidos e

aceitos para a organização escolar. De acordo com a autora:

Isto implica em novas capacidades por parte do

supervisor escolar relativas ao conhecimento da situação

em que irá atuar e na adequação dos conhecimentos

científicos a essas realidades, o que requer percepção

clara dos problemas a partir de critérios mais racionais de

decisão (ALONSO, 2003, p. 157).

Alonso (2003) apresenta quatro tipos de comportamento que são

esperados do supervisor escolar para que ele consiga resultados satisfatórios

na organização escolar: comunicar-se com os membros do seu grupo; tomar

decisões racionais; manter o “moral alto” do grupo; e liderar o grupo. Afirma

que esses comportamentos requerem do supervisor de escola conhecimentos

diferenciados de Ciências Sociais e Administração, indo desde elementos de

Psicologia Social, Sociologia, Dinâmica de Grupos até às Ciências Políticas e à

Educação em geral.

Trata-se, portanto, de formação complexa e variada, de

orientação interdisciplinar por excelência, em que nem o

conhecimento especializado em si nem a formação na

administração isoladamente poderão fornecer a

compreensão adequada do problema a ser considerado

(ALONSO, 2003, p. 158).

Percebe-se que Alonso (2003), ao tratar das principais funções

atribuídas ao supervisor de escola, retoma as idéias centrais das teorias

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

50

administrativas por ela analisadas e que foram expostas neste capítulo: a teoria

da tomada de decisões racionais; a teoria da burocracia (especialmente as

críticas a essa teoria); e, principalmente, a abordagem dos sistemas abertos,

ao considerar a escola como um sistema social que mantém constante relação

de intercâmbio com o sistema social maior no qual ela se insere, ou seja, com

a sociedade.

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

51

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo no qual se vive apresenta avanços e transformações em

todas as áreas, e em termos educacionais, mesmo que ainda existam práticas

enraizadas em paradigmas mais tradicionais, não é diferente. As escolas estão

enfrentando dificuldades de ordem social e econômica, sejam elas públicas ou

privadas, o que se reflete diretamente no desenvolvimento do trabalho

pedagógico desenvolvido.

Ao analisar a figura do Supervisor Escolar dentro da escola como

responsável pelo planejamento, organização, operacionalização do trabalho

pedagógico desenvolvido pelos professores, acaba-se por adentrar nos

meandros dos sistemas educacionais, pois estes sujeitos são os responsáveis

pela execução, de fato, destas propostas.

Estrategicamente, o Supervisor Escolar ocupa uma posição

hierárquica superior com relação aos professores, porém, nem sempre, a

executa com segurança e de forma a contribuir efetivamente com a

qualificação do trabalho docente.

É inegável que a história do Supervisor Escolar inicia-se em um

momento que o desejo é controlar, fiscalizar, garantir a execução das normas

educacionais ditadas pelo Estado. Porém, os avanços em todas as áreas do

conhecimento impulsionam, mesmo que vagarosamente, para um repensar da

atuação deste profissional.

A legislação atual atribui a este profissional a responsabilidade

sobre a formação continuada dos professores em serviço. Esta formação não

se dá exclusivamente em momentos estanques de estudo e discussões, mas

perpassa a prática cotidiana, o trabalho desenvolvido diretamente com os

docentes. Neste sentido, a fim de contribuir efetivamente com a qualificação do

trabalho docente, colocam-se novas técnicas à disposição do Supervisor

Escolar, sendo uma delas a dinâmica de grupo.

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

52

Fica claro que a liderança educacional e dinâmica de grupo são

um grande desafio, pois além de todos os atributos necessários a um líder, as

questões de conhecimento teórico e da vida dinâmica da escola são demandas

que precisam ser observadas. Em contrapartida, professores são profissionais

críticos, posicionados, e seu grau de exigência com relação a quem os

‘coordena’ naturalmente será maior.

Além de todos os desafios naturais à função do Supervisor

Escolar, surge mais este: construir sua liderança com base nas relações

saudáveis, nos princípios e na ética. As escolas, de uma forma geral, precisam

adaptar-se às novas realidades que se apresentam, precisam adequar-se à

lógica do mercado que dita as regras de sobrevivência no mundo capitalista.

E como fazer isso de uma forma criativa, entusiástica,

fundamentada, consciente de sua função social? Preparando seus professores,

motivando-os e fazendo com que se percebam parte do todo, responsáveis

pela sua prática e pelo conjunto do trabalho desenvolvido, e essa

ressignificação passa, indubitavelmente, pela ação do Supervisor.

Está posto ao Supervisor, assim, este grande desafio. Formar-se

para poder formar, servir para poder liderar, agir para poder transformar.

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

53

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel. Do olhar supervisivo ao olhar sobre supervisão. In:

Supervisão pedagógica: princípios e práticas. 4. ed. Campinas: 2004.

ALONSO, Myrtes. A Supervisão e o desenvolvimento profissional do professor.

In: FERREIRA, Naura Carapeto (org). Supervisão Educacional para uma

escola de qualidade. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

BLEGER, José. Psico-higiene e psicologia institucional. São Paulo: Artes

Médicas, 1984.

BRASIL. Ministério Da Saúde. Núcleo Técnico Da Política Nacional De

Humanização. Brasília, 2004.

ENRIQUEZ, Eugène. As figuras do poder. São Paulo: Via Lettera, 2007.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua

portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

FREITAS, Kátia Siqueira de et al. Liderança educacional. Gerir. Salvador:

UFBA, v. 9 n. 33, set./out. 2003.

FREUD, Sigmund. A descrição de Le Bon da mente grupal. In: FREUD,

Sigmund. Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos.

Rio de Janeiro: Imago, 1969.

LAPASSADE, Georges. Grupos, organizações e instituições. 3. ed. Rio de

Janeiro: F. Alves, 2008.

MINICUCCI, A. Dinâmica de grupo: teorias e sistemas. 4. ed. São Paulo: Atlas,

2006.

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

54

MORENO, J. L. A arte do Psicodrama. São Paulo: Pioneira, 1984.

MORGAN, Greth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.

MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal. Rio de Janeiro: LTC, 2005.

MOTTA, Paulo Roberto. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser

dirigente. Rio de Janeiro: Record, 1991.

NERICI, Imídeo G. Introdução à Supervisão Escolar. 3. ed. São Paulo: Atlas,

1974.

OSÓRIO, L. C. Psicologia grupal: uma nova disciplina para o advento de uma

era. Porto Alegre: Artmed, 2003.

PENTEADO, G. Comunicação humana. São Paulo: Pioneira, 2007.

RANGEL, Mary. O estudo como prática de supervisão. In: Supervisão

pedagógica: princípios e práticas. 4. ed. Campinas: 2004.

SIMON, H. A. Comportamento administrativo: estudo dos processos decisórios

nas organizações administrativas. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio

Vargas, 1971.

VASCONCELOS, Flavio Carvalho; VASCONCELOS, Isabella Freitas Gouveia

(Orgs.) Paradoxos organizacionais: uma visão transformacional. São Paulo:

Pioneira Thomson Learning, 2004.

WATSON, Tony J. Organização e trabalho em transição: da lógica “sistêmico-

controladora” à lógica “processual-relacional”. São Paulo: RAE, jan./mar. 2005.

Disponível em: <http://www.rae.com.br/artigos/2348.pdf>. Acesso em: 02 jul.

2008.

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

55

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 1

DEDICATÓRIA ................................................................................................... 2

AGRADECIMENTO ........................................................................................... 3

RESUMO ........................................................................................................... 4

METODOLOGIA ................................................................................................ 5

SUMÁRIO .......................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

CAPÍTULO I

A DINÂMICA DOS GRUPOS E SEUS RESPECTIVOS TEÓRICOS ................. 9

1.1 – Kurt Lewin e a teoria do campo social ...................................................... 9

1.2.2 – Schutz e a teoria das necessidades interpessoais ............................... 15

1.2.3 – Bavelas e a importância da comunicação humana .............................. 19

1.2.4 – Jacob Moreno e o sociodrama ............................................................. 22

CAPÍTULO II

DINÂMICA DE GRUPO COMO ESTRATÉGIA PARA LIDERANÇA NA

SUPERVISÃO ESCOLAR ................................................................................ 25

2.1 – Conceituando Supervisão Escolar .......................................................... 25

2.2 – A Função Gerencial e a Liderança .......................................................... 27

2.3 – A Dinâmica de Grupo na Liderança Educacional .................................... 34

CAPÍTULO III

A DINÂMICA DE GRUPO E O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR ............ 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 51

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 53

ÍNDICE ............................................................................................................. 55

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Agradeço a Deus, potência de vida em mim, que me fortalece para os embates de cada dia, e me faz acreditar que há sempre

56

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: