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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO "A VEZ DO MESTRE" ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL AO DESENVOLVIMENTO DO DEFICIENTE VISUAL CÉLIA REGINA DE OLIVEIRA PERALTA ORIENTADOR: ROBSON MATERKO RIO DE JANEIRO AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO "A VEZ DO MESTRE"

ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL AO DESENVOLVIMENTO DO

DEFICIENTE VISUAL

CÉLIA REGINA DE OLIVEIRA PERALTA

ORIENTADOR: ROBSON MATERKO

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO "A VEZ DO MESTRE"

ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL AO DESENVOLVIMENTO

DO DEFICIENTE VISUAL

CÉLIA REGINA DE OLIVEIRA PERALTA

Trabalho monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção

do Grau de Especialista em

Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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Agradeço a todos que colaboraram na

elaboração deste trabalho.

Fica aqui registrado o meu profundo

reconhecimento a: DEUS, pela sua proteção.

Meus pais, que me deram o alicerce para

que eu chegasse até aqui.

Marcela e Ricardo, pelo incentivo e

compreensão.

Aos professores Robson Materko, Carly,

Maria Cristina e J.J., do Curso de Pós-

Graduação da UCAM, pela dedicação e

valiosa contribuição.

Às colegas Dora, Lucilia e Mariuza, pela

acolhida e força na realização dos trabalhos

de equipe.

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Dedico este trabalho a todos os professores

que atuam na Educação do DEFICIENTE

VISUAL, que com seus valorosos esforços e

competência procuram derrubar as barreiras

do preconceito e discriminações,

promovendo a aceitação e o reconhecimento

desses alunos como cidadãos capazes e

produtivos, com os mesmos direitos de

todos.

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"Às vésperas do fim do milênio num período

onde imperam, de um lado a velocidade, a

ganância e a abstinência moral, e de outro a

profecia e um misticismo compensatórios, o

escritor vem nos lembrar a

"responsabilidade" de ter olhos quando os

outros perderam.

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara".

Arthur Nestrovski

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SUMÁRIO

RESUMO 07

INTRODUÇÃO 08

1 – A EDUCAÇÃO DOS CEGOS – RAÍZES 12

HISTÓRICAS

2 – CAUSAS DA CEGUEIRA 13

3 – QUANTOS BRASILEIROS TÊM DEFICIÊNCIA 14

VISUAL?

4 – DESENVOLVIMENTO 15

5 – DESVIOS COMUMENTE APRESENTADOS. 27

NÃO NERENTES À DEFICIÊNCIA VISUAL,

MAS CONSEQÜÊNCIA DE SITUAÇÕES NÃO

ESTIMULADORAS

6 – A EDUCAÇÃO PARA OS PORTADORES 28

DE NECESSIDADES ESPECIAIS

E A LEGISLAÇÃO

7 – DOSDIREITOS DAS PESSOAS PORTADORAS 31

DE DEFICIÊNCIAS

CONCLUSÃO 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33

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RESUMO

Este trabalho analisa e reflete sobre a importância da estimulação

para as crianças que nascem cegas.

Nasceu da observação da grande dificuldade por que passam

muitas crianças no momento em que se defrontam com a aprendizagem da

leitura através do sistema Braille.

Busca suas raízes históricas, como os cegos eram vistos pelo

Estado, família e sociedade.

Relaciona algumas causas mais frequentes da cegueira e os

dados do Censo Escolar de 1998.

Traz também a legislação que assegura seus direitos e

conotações sobre o que é a cegueira e suas implicações sociais e

pedagógicas para a inserção dos alunos no sistema escolar, tendo por base os

princípios de Integração e Inclusão.

A metodologia utilizada foi a do método dedutivo, através de uma

pesquisa qualitativa, com uma abordagem descritiva.

O levantamento de dados se deu através do levantamento

bibliográfico.

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INTRODUÇÃO

O papel da Educação Especial assume a cada ano, importância

maior dentro da perspectiva de atender às crescentes exigências de uma

sociedade em processo de renovação e de busca incessante da democracia,

que só será alcançada quando todas as pessoas, indiscriminadamente,

tiverem acesso à informação, ao conhecimento e aos meios necessários para a

formação plena de sua cidadania.

Para que isso ocorra, a criança cega precisa ser trabalhada,

estimulada em todos os níveis: seu corpo e sua mente precisam integrar-se,

formando um conjunto harmonioso de duas partes que têm de compatibilizar

pensamento e ação. É um ser como outro qualquer, que possui estruturas

mentais e potencialidades. Porém, as suas descobertas e construções mentais

irão depender da forma pela qual ele será estimulado, levado a conhecer a si

próprio e o mundo que o rodeia.

Sabe-se, que desde o nascimento, uma criança privada da visão

pode sofrer prejuízos incalculáveis no seu desenvolvimento.

Algumas pessoas consideram que a palavra "deficiente"

contrapõe-se a "eficiente". Levaria a supor que a pessoa deficiente não é

capaz; e, sendo assim, é preguiçosa, incompetente e sem inteligência . A

ênfase recai no que falta, na limitação, no "defeito", gerando sentimentos como

desprezo, indiferença, chacota, piedade ou pena, maximizando o preconceito.

Esses sentimentos por sua vez, provocam atitudes carregadas

de paternalismo e de assistencialismo , voltadas para uma pessoa

considerada incapaz de estudar, de se relacionar com os demais, de trabalhar

e de construir família.

A pessoa cega tem dificuldades para realizar algumas tarefas, e

outras, são mesmo impossíveis, tais como: dirigir, pilotar aviões, por exemplo,

mas por outro lado tem em geral, extrema habilidade em outras. Temos

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habilidades e talentos característicos; nas pessoas com deficiência, essas

manifestações são apenas mais visíveis e mais acentuadas.

Diante disso, hoje se recomenda o uso do termo "pessoa

portadora de deficiência" ou, "pessoa portadora de necessidades especiais",

referindo-se em primeiro lugar, a uma pessoa, um ser humano, que possui

entre suas características (magra, gorda, morena, negra, loura, etc.), uma

deficiência mental, física, auditiva ou visual.

Os graus de visão abrangem um amplo espectro de

possibilidades: desde a cegueira total, até a visão perfeita, também total. A

expressão "deficiência visual" se refere ao espectro que vai da cegueira até a

visão subnormal.

A visão é o canal mais importante de relacionamento do indivíduo

com o mundo exterior. Tal como a audição, ela capta registros próximos ou

distantes e permite organizar, no nível cerebral, as informações trazidas pelos

outros órgãos dos sentidos.

Estudos recentes revelam que enxergar não é uma habilidade

inata, ou seja, ao nascer ainda não sabemos enxergar: é preciso aprender a

ver. Não é um processo consciente. Embora nem pensemos nisso, estamos

ensinando um bebê a enxergar, ao carregá-lo no colo e ir mostrando: olha o

gatinho; onde está seu irmão?

O desenvolvimento das funções visuais ocorre nos primeiros

anos de vida. Graças a testes de acuidade visual recentemente desenvolvidos,

hoje é possível fazer a avaliação funcional da visão de um recém-nascido,

ainda no berçário.

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Todos nós temos diversos "sistemas-guia", formas muito pessoais

que usamos para nos orientar no espaço, em geral sem tomar consciência

disso. Por exemplo: para aprender um caminho, há quem se oriente por uma

casa diferente, um prédio, uma loja comercial, ou outro marco qualquer. Outros

têm uma boa noção dos pontos cardeais (norte, sul,...), usando-a como

orientação.

A visão constitui um desses sistemas-guia, provavelmente o mais

poderoso deles. Assim, os cegos precisam recorrer a outros tipos de sistemas-

guia. Alguns por exemplo, usam como referência o tipo de calçamento das ruas

(asfalto, paralelepípedos, terra, etc.) ou as curvas e esquinas das ruas de seu

trajeto. Outros recorrem a pistas olfativas (uma fábrica de bolachas, por

exemplo, uma drogaria, uma padaria, etc.), ou pistas auditivas (ruídos de uma

praça movimentada, uma loja comercial com o mensageiro do vento, etc.)

A cegueira pode ser adquirida ou congênita (desde o nascimento).

O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-a mais tarde, guarda

memórias visuais, consegue se lembrar de imagens, luzes e cores que

conheceu, e isso é muito útil para sua readaptação. Quem nasce sem a

capacidade da visão, por outro lado, jamais possui essas lembranças visuais.

Daí, a importância da estimulação para que a criança tenha o

maior número possível de pistas, para que ela possa formar seus próprios

conceitos e chegar o mais próximo possível da realidade do mundo que a

cerca. Deve-se levar a criança a experimentar várias situações, à fim de que

ela possa aprender a explorar, a manipular, a perceber e a reconhecer.

O que não se pode desconhecer, é que o deficiente visual tem

uma dialética diferente devido ao conteúdo - que não é visual, e à sua

organização, cuja especificidade, é a de referir-se ao tátil, auditivo, olfativo e

cinestésico. É dessa dialética entre o específico e o geral que se define a

estrutura psíquica, integrada ou não.

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A criança vidente, desde que começa a ter percepção do mundo

que a rodeia, conta com modelo, a imitação, o que não é possível com a

criança cega.

Por isso, entre outras coisas aqui descritas, é importante e

necessário estimulá-la desde seus primeiros anos de vida, à fim de dar-lhe

oportunidade de desenvolvimento dos sentidos remanescentes, tornando-a um

ser mais próximo possível daqueles ditos "normais".

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1 - A EDUCAÇÃO DOS CEGOS - RAÍZES HISTÓRICAS

Uma análise retrospectiva da história da educação especial no

Brasil evidencia que sua trajetória acompanha a evolução da conquista dos

direitos humanos. Houve uma época em que as pessoas com deficiências

eram sacrificadas porque nada de útil apresentavam para a sociedade. A

filosofia humanística ainda não tinha seus contornos delineados, o que explica

os choques de idéias quanto ao posicionamento do homem na vida social,

econômica, política e religiosa.

Durante séculos, os deficientes foram considerados seres

distintos e à margem dos grupos sociais. Mas, à medida que o direito do

homem à igualdade e à cidadania tornavam-se motivo de preocupação dos

pensadores, a história da educação especial começou a mudar.

A histórica rejeição aos deficientes cedeu lugar à compaixão e às

atitudes de proteção e filantropia, que até hoje perduram e muitas vezes

prevalecem, apesar de todos os esforços que têm sido realizados para que

essa postura seja substituída pelo reconhecimento da igualdade de direitos de

todo cidadão, serem discriminações.

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2 - CAUSAS DA CEGUEIRA

As causas mais freqüentes da cegueira e visão subnormal são:

Retinopatia da prematuridade: causada pela imaturidade da

retina, em decorrência de parto prematuro ou de excesso de

oxigênio na inoculadora.

Catarata congênita: em conseqüência de rubéola ou de outras

infecções na gestação.

Glaucoma congênito: que pode ser hereditário ou causada por

infecções. Atrofia ótica.

Degenerações retinianas e alterações visuais corticais: a

cegueira e a visão subnormal podem resultar também, de

doenças como diabetes, descolamento de retina ou

traumatismos oculares.

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3 - QUANTOS BRASILEIROS TÊM DEFICIÊNCIA VISUAL?

A Organização Mundial de Saúde estima que, nos países em

desenvolvimento, como o Brasil, de 1 à 1,5 por cento da população é portadora

de deficiência visual. Assim, no Brasil haveria cerca de 1,6 milhão de pessoas

com algum tipo de deficiência visual, sendo a maioria delas com baixa visão.

Calcula-se que, a cada 3 mil crianças, uma é cega, e que a cada

quinhentas crianças, uma tem visão subnormal.

Pelos dados do Censo Escolar, em 1998 havia 337.326 alunos

com necessidades especiais matriculados em escolas de todo país. Destes,

15.473 (ou 4,6 por cento) apresentavam deficiência visual; a maioria deles

(9.907) cursava o ensino fundamenta em escolas da rede pública estadual,

com o suporte do professor itinerante.

Os especialistas estimam que os casos de deficiência visual

poderiam ser reduzidos em até 50 por cento, se fossem adotadas medidas

preventivas eficientes nas áreas de saúde e educação e se houvesse mais

informação disponível.

Cabe à sociedade oferecer oportunidades para que as pessoas

com limitações em seu relacionamento visual com o mundo, possam

desenvolver toda sua capacidade física e mental e usufruir dela, Há ainda

muito a ser feito, mas é preciso reconhecer que já ocorreram muitas conquistas

e avanços. (Cadernos da TV ESCOLA - ISSN 1518 - 4692 - pág. 19 e 20).

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4 - DESENVOLVIMENTO

Tudo começa no primeiro dia, no primeiro instante do nascimento,

esse momento que hoje se distingue nitidamente do parto. O parto é do

domínio da medicina e de uma técnica. O nascimento, por sua vez, é a

acolhida a um ser novo no limiar de sua aventura.

A saída da maternidade entregaram um "embrulho" nos braços da

mamãe, na maioria das vezes sem lhe dar o modo de usá-lo.

O bebê, nesses primeiros momentos de separação e frustrações

precisa de aconchego do corpo da mamãe ou do papai, necessita ser tocado

calorosamente e reencontrar o já conhecido através da voz delicada da mamãe

ou do papai, necessita ser tocado calorosamente e reencontrar o já conhecido

através da voz delicada da mamãe que é capaz de lhe dar consolo e de

tranqüilizá-lo.

"As necessidades básicas do recém-nascido são movimento, proteção, toque, afeto, cuidados de alimentação e higiene. O bebê precisa de tudo isso para o seu crescimento físico e emocional. Necessita sentir-se protegido para melhor se organizar, e, principalmente, sentir-se aceito e bem-vindo ao mundo ao seu redor." (Bruno, 1993, p.9)

Quando ganhamos um bebê diferente daquele que esperávamos,

podemos viver ou manifestar uma grande frustração, muito compreensível,

porque não é o que sonhávamos ou desejávamos.

Esse fato novo, um bebê com deficiência visual, poderá acarretar

uma relação delicada, fragilizada pela dor, ansiedade, medo ou angústia em

relação aos sentimentos ainda não elaborados.

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O choque, a frustração, o sentimento de pena ou culpa

influenciam profundamente a maternidade e a influenciam profundamente a

maternidade e a interação mãe - filho, e podem ser por si sós, responsáveis

pela não construção de um vínculo saudável e pela desestruturação da

dinâmica e relação familiar.

"Essa criança não é o bebê maravilhosos que ela havia imaginado, sonhado, em suas fantasias. Claro que não é justo. Se ela se revolta, bem que tem esse direito. E, no entanto, ela também irá conhecer muitas alegrias através desse. Filho. Cabe a ela porém descobri-las. Dizer-lhe isso seria inoportuno. O que se pode dizer a esse pai e essa mãe que agora sabem que seu filho não será como os outros? Sabemos que essa situação parece totalmente inaceitável. Existem profissionais que poderão ajudá-los, ampará-los na longa caminhada que vai da revelação ao conhecimento e aceitação "daquela criança"." (Lévy, 1993, p. 115).

Nesta tão difícil fase inicial, quando se tem que aprender a

interagir, conviver e aceitar o bebê com deficiência, é muito importante poder

contar com o apoio de profissionais especializados na área do desenvolvimento

infantil. Uma equipe de Intervenção Precoce, composta por assistente social,

oftalmologista especializado em bebês, psicólogos, professor especializado e

terapeutas do desenvolvimento infantil ajudará muito, apoiando o vínculo,

fortalecendo a relação mãe-bebê, esclarecendo as dúvidas, orientando quanto

ao desenvolvimento do bebê e realizando os encaminhamentos necessários.

Os pais de bebês com necessidades especiais precisam de

atenção e cuidado na fase de adaptação ao filho. Necessitam de apoio moral

dos membros da família, pessoas que saibam ouvir e estar juntas.

Precisam também ser ajudados por outros pais que já

vivenciaram a mesma problemática, com os quais possam se identificar,

compartilhar as frustrações, ansiedades, experiências e também conquistas.

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"Se a cegueira se apresenta como uma deficiência isolada, a criança cega deve ser criada normalmente. Mas para ela é necessário verbalizar tudo, antecipar os gestos por palavras, avisá-la do que se vai fazer: Vou te pôr no colo, estou te trazendo a mamadeira, vou te lavar tuas mãos, te pescoço...Você está ouvindo a porta? É o papai? e assim por diante." (Ibid., p. 118).

Vários autores identificam como sensório-motor o período que vai

do nascimento até os 3 anos de idade, pois é a fase da construção do sistema

de significação, do desenvolvimento cognitivo e da interação com o meio

ambiente.

Nessa fase, tenham ou não deficiência visual, os recém-nascidos

desenvolvem todos os seus sentidos (olhando, cheirando, pegando e

experimentando tudo), e também seu sistema motor; aprendem a sustentar a

cabeça, rolar, engatinhar, andar, correr, pular, em um processo intenso e

dinâmico. Nos primeiros meses de vida eles captam fundamentalmente as

sensações de calor, frio, dor, contato, pressão - formas simples de percepção

tátil.

É assim que a criança vai construindo seu conhecimento,

interagindo com o meio, com as pessoas ao seu redor, comunicando-se e

recebendo em troca informações de todo tipo.

A criança cega, desde o início sofre limitações em suas

possibilidades de apreensão do mundo externo e de adaptação ao meio. Ela

precisa contar com pessoas disponíveis para ajudá-la a explorar o mundo e a

elaborar suas próprias informações, usando os demais órgãos dos sentidos -

audição, olfato, tato e paladar - para ganhar autoconfiança e senso de

equilíbrio.

Todos nós utilizamos uma variedade de recursos para nos

orientar no espaço; a visão é um deles. O bebê que enxerga é dotado de um

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potencial biológico para compreender gradualmente o ambiente e se adaptar a

ele, usando todos os sentidos.

Já o bebê sem o sentido da visão precisa integrar e sintetizar os

dados e as informações captados no ambiente usando os outros canais de

percepção sensorial.

É imprescindível que o bebê deficiente visual aprenda a usar seus

outros sentidos o mais cedo possível, para se localizar e reconhecer seu

espaço, evitando atrasos em atividades como engatinhar e andar. Trata-se de

uma questão de aprendizado, pois ele possui o mesmo potencial dos bebês

dotados da visão.

Sem poder reagir a estímulos visuais, como um brinquedo com

cores fortes, o vestido da mamãe, a lâmpada que se acende, o bebê não tem

motivações para erguer a cabeça, rolar de lado, tentar alcançar alguma coisa.

Como se mexe pouco, seus músculos não se desenvolvem e ele não se

prepara para sentar, engatinhar e, depois, andar.

Freqüentemente, os bebês cegos preferem ficar em um ambiente

familiar e constante, temendo as mudanças, mesmo que seja apenas uma

mudança de posição. Alguns por exemplo, querem permanecer de costas,

escolhendo a estabilidade e a imobilidade para se proteger do desconhecido

mundo ameaçador. Mas, eles precisam aceitar as mudanças.

"A posição de bruços além de permitir o conhecimento e vivência do espaço com o corpo, é responsável pela aquisição de força muscular nos braços pela abertura das mãos, para o desenvolvimento da sensibilidade tátil e uso das mãos. Essas ações integradas possibilitarão os deslocamentos no espaço, o rastejar e o engatinhar. As crianças que não passam por essas experiências, vão Ter dificuldades para interagir com os objetos, para sentar-se porque não utilizam a mão como apoio e, principalmente, para assumir a posição de gato ou deslocar-se sentado". (Bruno, 1993, p.16).

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Assim sendo, os adultos devem se preocupar em desenvolver

atividades variadas de estimulação, de forma gostosa, como brincadeiras,

várias vezes por dia.

É importante observar o bebê, para perceber o momento em que

está pronto para experimentar novos movimentos e posições, sem jamais

forçar uma situação.

"Essas crianças necessitam de uma pessoa que sirva de ponte, ajudando-as a participar das situações do começo ao fim, dando pistas e dicas para a compreensão da origem dos objetos e de suas relações de causa e efeito. Para a criança deficiente visual é muito difícil compreender as transformações". (Ibid., p.23).

Quanto mais cedo forem iniciadas as atividades e quanto mais

interessantes elas forem, mais satisfeito ficará o bebê e mais motivado para

tentar novas posições. Se desde cedo for mudado de posição freqüentemente

(com a barriguinha para baixo, de lado e de costas), ele poderá se sentir

confortável em qualquer uma, gostando das mudanças.

Um caso que merece atenção especial é o dos bebês cuja

deficiência visual resulta de retinopatia da prematuridade, situação em que a

retina não atinge o amadurecimento completo devido ao parto prematuro, ou a

um excesso de oxigênio na incubadora. Essa mesma prematuridade provoca

também o desenvolvimento insuficiente da musculatura, que não amadurece

completamente no útero, prejudicando a motricidade.

Se não forem estimulados, os bebês com deficiência visual

tendem a ficar "grudados" no colchão, mantendo a maior parte do corpo em

contato com a superfície. Com isso, acabam fortalecendo os músculos errados,

dificultando, enfim, o futuro desenvolvimento motor.

As mãos, além de ser um meio de expressão e de comunicação,

é também um órgão de percepção.

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Se as mãos tem tamanha importância para o ser humano,

imagine na vida das pessoas com deficiência visual. As informações chegam a

ela por dois canais principais: a linguagem - pois ouvem e falam - e a

exploração tátil, que depende especialmente das mãos.

As mãos são os olhos das pessoas com deficiência visual. O uso

das mãos como instrumento de percepção deve ser intensamente estimulado,

incentivado e aprimorado.

Desde o nascimento, é preciso despertar nas crianças cegas o

desejo de conhecer e aprender. Os pais devem conversar muito com um

recém-nascido portador de deficiência visual.

É importante transformar a mão em um órgão também de

percepção, sem perdera sua função ( tirar, colocar, abrir, fechar, tampar,

empilhar, atarraxar, pegar, soltar, etc.)

Com as mãos, o bebê compreende que um objeto existe e pode

entender para que serve. É a mão que lhe dá as informações necessárias para

localizar, analisar e conhecer brinquedos e outros objetos. Com as mãos, ele

descobre a forma e percebe o calor do rosto da mãe, adquire conceitos

espaciais, entende a relação entre os objetos, integra seu esquema corporal,

etc.

Durante toda vida da pessoa com deficiência visual, a mão é um

recurso privilegiado de conhecimento. Mas nos primeiros anos de vida,

enquanto a linguagem está num estágio incipiente, ela desempenha um papel

ainda mais relevante.

Em um processo trabalhoso, mas também muito interessante e

gratificante, os adultos que acompanham a criança com deficiência visual têm

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a função de ajudá-la a utilizar as mãos, bem como o resto do corpo, para

descobrir o mundo e se interessar por ele. Esse trabalho recebe o nome de

ESTIMULAÇÃO PRECOCE.

A estimulação precoce é uma ação facilitadora para a construção

do conhecimento, formação de conceitos, por meio da interação e da

comunicação com o outro. Trata-se de um processo que procura despertar a

curiosidade e o interesse pela descoberta do mundo, estimulando a iniciativa e

autonomia da criança com deficiência visual.

Cada atividade de estimulação pode envolver várias funções ao

mesmo tempo. Por exemplo: se jogarmos uma bola com guizos para a criança,

estamos trabalhando a coordenação ouvido/mão, a exploração da forma e da

textura da bola, seu uso, sua função, a permanência do objeto e a

compreensão da organização espacial.

O deficiente visual vivencia o mundo através do tato. Essa

percepção permite à criança compreender que existe algo fora de si mesma,

um mundo exterior do qual ela faz parte, povoado de objetos e pessoas, cada

um com seu nome, sua forma e suas funções próprias.

A coordenação bimanual (das duas mãos) e a coordenação

ouvido/mão precisam substituir a coordenação olho/mão estabelecida pelas

crianças que enxergam.

É nossa tarefa ajudar a criança cega a encontrar caminhos

eficazes e alegres para alcançar essas adaptações. Brincar é a forma mais

simples e mais efetiva de interação com a criança.

Exercícios como bater palmas, segurar a mamadeira com as duas

mãos, bater dois objetos entre si horizontalmente, ou bater num pandeiro são

ótimos para desenvolver a coordenação bimanual.

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Inicialmente, o bebê cego não está interessado em tatear os

objetos; seu interesse se concentra em sensações de calor, na maciez do rosto

das pessoas, em sua chupeta, no lençol do berço, no ato de ser balançado.

Brincar com essas sensações é um bom começo.

Cabe aos pais, ou outras pessoas que convivem com o bebê,

aproximar os estímulos que estão fora de seu campo de percepção, facilitando

a exploração e procurando desenvolver seu interesse.

Uma intervenção invasiva ou excessiva pode trazer riscos.

Importante é: estimular sem saturar, ajudar sem invadir. Encontrar esse

equilíbrio entre esses dois extremos depende da relação e da sintonia que

estabelecemos com o bebê.

Se retirarmos um objeto das mãos de um bebê cego, ele não vai

tentar resgatá-lo. Para ele, as coisas aparecem e desaparecem de seu campo

tátil, sem entenda a razão, pois não vê o movimento do objeto, ao cair ou ser

retirado.

O único meio de o bebê compreender a existência de realidades

exteriores fora de seu campo perceptível tátil é a experimentação. Para tanto, o

adulto deve dirigir as mãos da criança para os objetos, levando-a a deduzir que

as coisas permanecem por perto e poderão ser alcançadas, se ela quiser.

Diversas atividades colaboram nesse sentido:

• Brincar com o rosto e com a mão dos pais. Encostamos na criança e

afastamo-nos um pouquinho, de modo que o menor movimento dela

permita o encontro.

• Movimentar objetos, com a mão da criança apoiada sobre a nossa ou sobre

algum de seus objetos favoritos.

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• Colocar objetos sobre o peito da criança, para que ele possa senti-los e

procurá-los com as mãos.

• Colocar objetos junto ao corpo do bebê, em posições variadas.

• Colocar objetos, de preferência sonoros, bem perto de seus braços, para

que sejam percebidos ao menor movimento.

• Colocar a criança sentada, com objetos entre suas pernas, ou bem perto

dela, na sua frente ou a seu lado.

• Em um espaço aberto, incentivar a criança a engatinhar, atraindo-a com

objetos sonoros.

O desenvolvimento psicológico do bebê deficiente visual é

especialmente vulnerável. Os recursos fundamentais de que dispõe para ajudar

a integrar as informações recolhidas no ambiente são a percepção tátil e

sonora, além da afetividade.

O tato permite analisar um objeto de forma parcelada e gradual. A

visão, ao contrário, é sintética e globalizadora. Assim, as informações parciais

fornecidas pelo tato precisam ser integradas, para chegar a uma conclusão

global.

Quando se interessa por alguma coisa, o bebê deficiente visual

pode permanecer pesquisando durante longo tempo. Os adultos muitas vezes

ficam impacientes, sem entender que a demora eqüivale ao tempo necessário

para conhecer o objeto, pois a criança está iniciando seu processo de

abstração.

A tarefa de conhecer um objeto requer grande esforço da criança

portadora de deficiência visual. Por isso, ela precisa contar com situações

adequadas de aprendizagem, sem precipitação nem impaciência.

A percepção auditiva ajuda a criança portadora de deficiência

visual a compreender que existe uma realidade exterior, separada dela. No

entanto, ela ainda precisa aprender o significado dos sons. Por exemplo: ao

ouvir a batida de uma porta, ela se assusta. Não sabe como é a porta, para que

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serve, e nem que é feita de madeira. A aquisição do significado do mundo dos

sons é um processo lento.

Objetos sonoros em geral são bem aceitos por bebês com

deficiência visual. Já a preferência por texturas varia muito: alguns não gostam

do contato com a pelúcia, a lixa; outros rejeitam objetos de borracha e plástico.

A mãe logo aprende as preferências de seu filho.

O desenvolvimento afetivo é fundamental para garantir à criança

cega o desenvolvimento normal de seus conhecimentos e a formação de uma

personalidade harmônica.

Desde cedo, a criança com deficiência visual manifesta uma forte

preferência por pessoas, enquanto seu interesse por objetos demora mais a se

manifestar, em comparação com as crianças que enxergam. As pessoas de

quem ela gosta são muito significativas e determinantes. Essa relação de

vínculo deve ir evoluindo, abrindo lugar para o interesse por objetos, por outras

pessoas e pelo mundo exterior em geral.

Na relação com a criança portadora de deficiência visual, é bom

não esquecer estas palavras: conversar e acariciar.

A voz e o toque são as melhores formas de tranqüilizar e confortar

a criança. É importante desenvolver quaisquer atividades de forma lenta e

suave, por pouco tempo de cada vez. Dedicar alguns minutos, várias vezes ao

dia, é a melhor forma de estimulá-la, sem deixá-la cansada ou irritá-la.

Muitas vezes, a criança deficiente visual demora muito tempo

para se sentir confiante e segura o suficiente para andar sozinha. Afinal de

contas, é assustador andar sem conseguir dominar a situação, sem ver o

ambiente em que se desloca.

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Mas os adultos não devem desanimar; vale a pena ser paciente e

insistir. Se ela for aprendendo a andar com apoio, vai chegara hora em que

possa andar sozinha. A prática aumenta sua competência e também a

confiança nela e nos adultos.

O trabalho feito para estimular o desenvolvimento deve promover

experiências multisensoriais, combinando movimentos com panos, bolas e

bambolês e estímulos sonoros, como músicas e instrumentos musicais

incentivando com brincadeiras o uso do corpo.

Na escola de educação infantil ocorre um movimento de interação

entre a criança e o ambiente que a rodeia, um trabalho conjunto envolvendo a

família e a comunidade escolar, para auxiliar a criança com deficiência visual a

interpretar e assimilar o mundo.

O papel da comunidade escolar consiste em apoiar, orientar e dar

suporte à família, para que esta aprenda a lidar adequadamente com sua

criança, pois é com ela que se dá o maior tempo de convivência.

Os programas de Intervenção Precoce, Educação Infantil e

Escolar, adotados em escolas públicas, particulares e instituições

especializadas, cuidam das necessidades da criança, ouvem os pais e escutam

suas prioridades e desejos, considerando o contexto social em que vivem.

O programa de Educação Precoce deve possibilitar a integração

da criança deficiente visual na família, na escola e na comunidade, pela

interação com crianças e adultos.

O ideal é realizar um trabalho conjunto, no qual profissionais e

família possam se reunir e trocar informações. Na prática, infelizmente, nem

sempre é possível: em algumas localidades não há esse tipo de serviço; outras

vezes, a família não tem recursos para matricular o filho em escolas

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especializadas, ou mesmo ignora a existência desses recursos, achando que

nada há a fazer.

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5 - DESVIOS COMUMENTE APRESENTADOS. NÃO

NERENTES À DEFICIÊNCIA VISUAL, MAS

ONSEQÜÊNCIA DE SITUAÇÕES NÃO

ESTIMULADORAS

• Maneirismo - movimentos repetitivos por necessidade de movimento,

ociosidade.

• Hipotonia / apatia - estado de contração muscular.

• Orientação espacial e mobilidade deficiente - dificuldade da criança cega

em romper espaço. Não tem como se orientar.

• Atraso motor - falta de motivação.

• Atraso no desenvolvimento da linguagem.

• Verbalismo - não tem a experiência própria.

• Dificuldade de socialização - família superprotege, nega ou rejeita. A

criança fica isolada. Não participa de festas, aniversários, etc.

• Auto - desvalorização - a criança não confia nela mesma, devido à

superproteção da família.

• Dependência - com a auto - desvalorização, a criança se achará incapaz e

extremamente dependente.

• Desconhecimento de conceitos básicos.

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6 - A EDUCAÇÃO PARA OS PORTADORES DE

NECESSIDADES ESPECIAIS E A LEGISLAÇÃO

Vários documentos contendo

declarações, recomendações e normas

jurídicas produzidas por organizações

internacionais e nacionais, envolvidas

com a temática da deficiência, contém

recomendações na área da atenção às

pessoas portadoras de deficiência nas

diversas políticas públicas.

Entre a legislação pertinente ao estudo,

destacamos: Leis e documentos

mundiais, nacionais, estaduais e

municipais.

- Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em

10 de dezembro de 1948, na Assembléia das Nações Unidas em Paris, França.

Alguns princípios se

destacam pela influência que

exercem na Constituição

Brasileira, entre eles "O respeito à

dignidade humana, à igualdade de

direitos, à liberdade de

pensamentos e de escolhas de

todos os homens".

- Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência,

Assembléia Geral das Nações Unidas em dezembro de 1982,com a finalidade

de servir de fonte permanente de consulta a todos os países interessados na

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luta pela defesa dos direitos de cidadania das pessoas portadoras de

deficiência.

- Declaração Mundial sobre Educação para Todos, aprovada

na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, ocorrida em Jomtiem ,

Tailândia em março de 1990.

Basicamente esta declaração

constatou inúmeras dificuldades

relacionadas à garantia do direito à

Educação.

Destaca que a educação é um direito fundamental de TODOS,

homens e mulheres de todas as idades do mundo inteiro, adotando como

objetivo o oferecimento de educação para todos até o ano 2000.

Entre os pontos principais de discussão nessa conferência,

destacou-se a necessidade de se prover maiores oportunidades de uma

educação duradoura, que por sua vez implica em três objetivos diretamente

relacionados entre si, e que trarão conseqüências à educação especial:

"O estabelecimento de metas claras que aumentam o número de

crianças freqüentando a escola".

"A tomada de providências que assegurem a permanência da

criança na escola por um tempo longo o suficiente que lhe possibilite obter um

real benefício da escolarização".

"O início de reformas educacionais significativas, que assegurem

que a escola inclua em suas atividades, seus currículos, por intermédio de seus

professores, serviços que correspondam às necessidades de seus alunos, das

famílias e das comunidades locais, e que correspondam às necessidades das

nações de formarem cidadãos responsáveis e instruídos”.

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- Declaração de Salamanca, conferência realizada em

Salamanca, Espanha, no período de 7 a 10 de junho de 1994, com mais de

300 representantes de 92 governos e de 25 organizações, com o objetivo de

promover a Educação para Todos, atender a todas as crianças, sobretudo as

que têm necessidades especiais.

Conferência aprovou documentos que refletem consenso mundial

sobre os futuros rumos dos serviços educativos especiais.

A declaração expressa o princípio de

Integração e a preocupação com a

garantia de escola para todos,

conforme estabelecido na Conferência

Mundial de educação para todos, em

Jamtien, 1990 e no reconhecimento da

necessidade de ação para conseguir

"escola para todos", isto é , instituições

que incluam todo mundo, reconheçam

as diferenças, promovam a

aprendizagem e atendam as

necessidades de cada um. Como tais,

constituem uma importante

contribuição para o programa com

vistas à Educação para Todos e para

dar às escolas maior eficácia

educativa.

No Brasil os direitos dos portadores de

deficiência, são assegurados pela:

- Constituição Federal de 1988, assegura aos portadores de

deficiência seus direitos de cidadãos através dos artigos:

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Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados do Distrito

Federal e dos municípios: cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e

garantia das pessoas portadoras de deficiência.

Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado

mediante a garantia de : atendimento educacional especializado aos

portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

- Constituição Estadual de 1989, a atual Constituição do Estado

do Rio de Janeiro, assegura e fixa direitos aos portadores de deficiência e altas

habilidades:

Art. 305 - O dever do Estado e dos Municípios com a educação

será efetivado mediante a garantia de:

IV - atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência e ensino profissionalizante na rede regular de ensino, quando

necessário, por professores de educação especial.

V - atendimento especializado, aos alunos superdotados, a ser

implantado por legislação específica.

4º - Ao educando portador de deficiência física, mental ou

sensorial assegura-se o direito de matrícula na escola pública mais próxima de

sua residência.

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7 - DOS DIREITOS DAS PESSOAS PORTADORAS DE

DEFICIÊCIAS

Art. 335 - É dever do Estado assegurar às pessoas portadoras de

qualquer deficiência, a plena inserção na vida econômica e social e o total

desenvolvimento de suas potencialidades.

Art. 337 - O Estado implantará sistemas de aprendizagem e

comunicação para o deficiente visual e auditivo, de forma a atender suas

necessidades educacionais.

- Estatuto da Criança e do Adolescente - 1990

Art. 54 - Atendimento educacional especializado aos portadores

de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

- Lei de Diretrizes e Bases - 9394/96, dedica o capítulo V à

Educação Especial.

O artigo 58 e seus 3 parágrafos, não só identificam o que vem a

ser Educação Especial, como também priorizar o atendimento a essa clientela

nas escolas regulares, reservando o encaminhamento do aluno para classes

especiais, escolas ou serviços especializados, somente em casos classificados

como "condições especiais dos educandos". Somente como exceção e não

como regra.

O artigo 59 trata da organização específica da Educação

Especial, ressaltando que para atender a esses alunos, devem também ser

concebidos currículos, métodos, técnicas e recursos educativos diferenciados.

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CONCLUSÃO

Costuma-se observar que o deficiente visual, quando não recebe

os estímulos necessários, apresenta uma rigidez muscular que o impede de

relacionar-se por inteiro com o espaço e com as outras pessoas a seu redor.

É comum encontrar pessoas cegas bastante desembaraçadas

verbalmente, mas com grande dificuldade corporal, maneirismos e até

problemas em orientar-se pelo espaço. Assim sendo, a educação de

deficientes visuais, cada vez mais, procura trabalhar com este aluno de forma

global, isto é, dando-lhe recursos para se desenvolver por inteiro, aliando o

corpo com a mente.

Sabe-se que para que o processo da aquisição da leitura seja

facilitado e, por conseqüência, venha a constituir-se numa conquista real, é

preciso que alfabetizando cego tenha tido oportunidade de trabalhar inúmeras

"capacidades" e "habilidades", à fim de preparar-se para essa complexa

empreitada.

Há uma total falta de informação tem relação à capacidade

intelectual do deficiente visual.

É um ser pensante, criativo e produtivo

como qualquer outro, só precisa tempo

e oportunidade para demonstrar seu

valor.

"O fato de ser cego não o priva dos outros sentidos, tão necessários ao seu crescimento e desenvolvimento. Ele cresce da mesma maneira que as outras crianças, tem os mesmos sentimentos e responde como qualquer criança ao amor, afeição e atenção que os pais naturalmente dão a seus filhos." ("American Foudation for the Blind" pág. 2).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SP: Moraes Ltda., 1991.

FERREIRA, Izabel Neves. Caminhos do Aprender. RJ: ABT, 1998.

LÉVY, Janine. O Despertar do Bebê. SP: Martins Fontes, 1996.

MANTOAN, Maria Teresa Égler. A Integração de Pessoas com Deficiência.

SP: SENAC, 1997.

SARAMAGO, José. Ensaio Sobre a Cegueira. SP: Companhia das Letras,

1995.