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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A HISTÓRIA DO LUCRO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NAS RELAÇÕES SOCIAIS Luís Cláudio Duarte Orientador Professor Antônio Fernando Vieira Ney Rio de Janeiro Fevereiro de 2003.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A HISTÓRIA DO LUCRO

E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NAS RELAÇÕES SOCIAIS

Luís Cláudio Duarte

Orientador Professor Antônio Fernando Vieira Ney

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2003.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A HISTÓRIA DO LUCRO

E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NAS RELAÇÕES SOCIAIS

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência

do Ensino Superior

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AGRADECIMENTOS

Aos entes queridos e aos estimados amigos, em especial

a Fabiana Pereira, que muito contribuiu para deste

trabalho, pelo apoio e cumplicidade.

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DEDICATÓRIA

Dedica-se a Maria, minha mãe, Leonardo, meu irmão e

Giselle minha noiva e futura esposa, que empenharam

muita paciência e incentivo no projeto em todos os

momentos.

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RESUMO

Este projeto tem o interesse de apresentar relações e fatos históricos do Lucro que

contribuíram para submissão dos trabalhadores ao Capitalismo. Este trabalho também visa

identificar e apresentar quais as causas e suas conseqüências dessa submissão e da

subdivisão do trabalho em proprietários e não-proprietários.

A alienação, cada vez mais intensificada, do trabalhador faz com perca a percepção dos

seus direitos e às formas que ele pode ser utilizado a seu favor. Através do “seqüestro” do

conhecimento, o trabalhador se transforma em “marionete” do Capitalismo e seus

derivados.

Através do esclarecimento político, aliado a mobilização da classe trabalhadora e criação de

condições trabalhistas mais humanas, o trabalhador pode mudar este panorama crítico e

desfavorável.

A partir do momento desta ruptura, a prioridade do trabalhador passa a ser a vida social e a

humanização das relações. A mudança de postura gera no indivíduo, a desvinculação do

sentimento de que alguém precisa estar perdendo quando há lucro.

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METODOLOGIA

A metodologia deste projeto se destina através de seu conteúdo, mostrar as conseqüências

nas Relações Sociais em função da histórica visão Capitalista do Lucro, onde este passou a

ser a mais desejada cobiça da humanidade.

O leitor terá um material claro com as propostas do autor, mostrando através de

informações, citações e um levantamento do tema abordado.

A proposta deste trabalho é fazer com que o leitor perceba que a visão míope do lucro pode

trazer resultados quase que irreversíveis nas Relações Sociais, mas através de atitudes e

mudanças de posturas, o trabalhador pode reverter essa situação.

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SUMÁRIO

Introdução .................................................................. .pg. 06

Capítulo I .................................................................... .pg. 11

I.I A reação dos Trabalhadores ................ pg. 24

Capítulo II ................................................................... pg. 27

Conclusão ...................................................................... pg. 70

Referências Bibliográficas .......................................... pg. 72

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INTRODUÇÃO

" Se o dinheiro ... ´vem ao mundo com uma mancha congênita de sangue numa

das faces´, o capital vem pingando da cabeça aos pés, de todos os poros,

sangue e lama." (Karl Marx, O Capital, Vol. I. "In" Huberman; 1986:161)

Nosso interesse por esta temática foi despertado através da proximidade com o

assunto durante período de trabalho desenvolvido no campo empresarial, em uma empresa

de médio porte, prestadora de serviços de âmbito privado: a Losango Promotora de Vendas.

Empresa atuante nas áreas de empréstimo pessoal, financiamento de veículos e

administração de sistemas de crédito (facilitador da negociação entre clientes e lojistas).

Nesta oportunidade, assim como em outros aspectos da vida social, observamos situações

(objetivas e subjetivas) de submissão dos trabalhadores aos capitalistas mesmo naquelas

situações nas quais os trabalhadores são francamente explorados.

Esta submissão tem sua origem no fato de:

" Em uma sociedade onde as desigualdades sociais são aprofundadas por uma

conjuntura de implementação de políticas neoliberais – que reduzem o fôlego

das políticas sociais públicas voltadas para a proteção social da força de

trabalho – a subordinação operária referida anteriormente se expressa na

maior dependência da reprodução da força de trabalho à corporação

empresarial". (Cardoso, I. C. C. e Francisco, E. M. V. "In" Motta; 1998: 77)

Mas, qual ou quais fatores contribuíram ou determinaram a subdivisão do

mundo do trabalho em proprietários e não-proprietários? Que aspectos, ao longo da

história, fortaleceram o "pacto" cada vez mais desigual e desumano entre essas duas classes

tão diferenciadas? E, qual foi a reação e os mecanismos de defesa adotados por cada uma

delas para sua sobrevivência?

Tais questões têm, em nosso ponto de vista, sua importância acentuada porque,

conforme Iamamoto:

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" O processo capitalista de produção expressa, (...) uma maneira

historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem as

condições materiais da existência humana e as relações sociais através das

quais levam a efeito a produção. Neste processo se reproduzem,

concomitantemente, as idéias e representações que expressam estas relações e

as condições materiais em que se produzem, encobrindo o antagonismo que as

permeia.

Assim, a produção social não trata de produção de objetos materiais, mas de

relação social entre pessoas, entre classes sociais que personificam

determinadas categorias econômicas (...) O capital se expressa através das

mercadorias (meios de produção e de vida) e do dinheiro (...) Ao mesmo tempo

que as expressam, as encobrem, pois as relações aparecem invertidas naquilo

que realmente são: aparecem como relações entre mercadorias, embora não

sejam mais que expressões de relações entre classes sociais antagônicas.

As relações sociais aparecem, pois, mistificadamente, como relações entre

coisas, esvaziadas de sua historicidade. A reificação do capital é, pois, a forma

mistificada em que a relação social do capital aparece na superfície da

sociedade". (Iamamoto. "In" Iamamoto e Carvalho; 1982: 30,31)

Ou, nas palavras de um outro autor:

" A reificação é a realidade imediata necessária para todo homem que viva no

capitalismo." (G. Lukács. "In" Netto; 1981:contracapa)

Reificação esta que, utilizando como fonte de interpretação a perspectiva

marxista, constitui-se na responsável pela manutenção funcional do capitalismo; o que

significa pensá-la em conjunto com a problemática da alienação e do fetichismo.

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Em uma de suas abordagens, o autor José Paulo Netto problematiza e enriquece

a temática da alienação:

“ ... basta analisar três grandes linhas de reflexão. A primeira delas supõe que

a alienação é um fenômeno que se manifesta exclusivamente nas sociedades de

classes conhecidas até hoje e que a ruptura com o padrão societário

capitalista, pela via da transição socialista, assegura a sua supressão. A

hipótese é clara: como a alienação deita raízes na propriedade privada e suas

conseqüências, a liquidação desta instituição garante a ultrapassagem da

alienação. Esta posição vem sendo problematizada cada vez que se levam em

conta os avanços reais que alguns países que romperam com a organização

capitalista da vida social realizaram: há fortes indícios a sugerir que, posta na

história da humanidade por aquela instituição e suas conseqüências, a

alienação encravou-se de tal forma nas modalidades conhecidas de

socialização (e suas agências, como a família) dos indivíduos que não se pode

circunscrever a sua superação às suas fontes genéticas. A experiência atual do

chamado socialismo real leva a crer que a complexidade do fenômeno é de

tamanha ordem que a sua ultrapassagem implica, para além da socialização

dos meios de produção e de uma eventual modificação nos mecanismos de

divisão social do trabalho, a constituição de formas radicalmente novas de

socialidade – que não são dadas automaticamente por aquelas socialização e

modificação.

A Segunda posição se beneficia da evidente fragilidade da anterior:

constatando que não basta suprimir as causas primeiras do fenômeno para

extirpá-lo da vida social, passa a considerar que a polaridade alienação/

desalienação configura uma dialética inerente a toda a vida social. A

alienação seria um componente transistórico da socialidade, posto mesmo por

todas e quaisquer condições de interação humana – e é, portanto, impossível

supor a sua liquidação. A alternativa à alienação é sempre relativa: o

estabelecimento de instâncias na vida social que permitam compensar e

contrabalançar as deformações dela decorrentes. (Nesta ótica, enquanto o

específico do capitalismo seria a hipertrofia dos processos alienantes, a

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peculiaridade de sua superação consistiria no equilíbrio, instituído e

instituinte, entre tais processos e seus contrapesos.) Verifica-se, sem grande

esforço, que esta proposta, imperceptivelmente, atribui à alienação o estatuto

de constitutivo da condição humana, e a sua vulnerabilidade radica justamente

aí: a hipostasia que realiza converte a alienação numa componente

ineliminável da estrutura do ser social.

Enfim, a terceira posição parte de uma rigorosa determinação econômico-

social do fenômeno (debitando-o geneticamente à divisão social do trabalho e

à propriedade privada), mas concentra o seu foco nos desdobramentos da

alienação – mostra a pluridimensionalidade que lhe é própria e enfatiza que a)

os efeitos do fenômeno se autonomizaram, no processo social, da sua estrita

causalidade e tendem a configurar, pela sua reprodução intensiva e extensiva,

na vida social, estruturas de comportamento historicamente muito resistentes e

que, b) por isto mesmo, no decurso da transição socialista, prolongam-se os

seus efeitos que, conjugados às peculiaridades desta via, podem dar origem a

fenômenos novos.

Parece ser esta a alternativa mais fecunda de pesquisa, inclusive porque deixa

em aberto – para a investigação empírica – a questão da funcionalidade e dos

resultantes da alienação, mutáveis em diferentes etapas do processo social”.

(Netto; 1981: 34, 35)

Tomando por base estas preocupações, vislumbramos a possibilidade de

percorrer e analisar, de modo aproximativo, o processo histórico de enlace1 e

representação das relações sociais que sustentam o mais forte grau de dominação: a

produção crescentemente socializada e a apropriação privada. Esta última acontece

gradativamente desde quando o:

1 Entendido como a relação de dependência existente entre as classes antagônicas – capital e trabalho –,

fundamental para a sobrevivência do modo de produção capitalista.

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" (...) declínio nos preços pagos pelo trabalho manual nos conta a triste

história. Não podendo ganhar a vida, o tecelão vendia (se possível) seu tear,

seu meio de produção. O passo seguinte tinha de ser a fila, em frente ao

escritório de uma fábrica, à procura de trabalho. Ali se reuniam trabalhadores

de outros ramos, que haviam sofrido a mesma experiência. (...) ."

(Huberman; 1986: 167)

Dessa forma, objetivo pesquisar a história das relações e contradições de classes

na sociedade capitalista - de onde pretendo destacar os elementos que ressaltam a existência

de dominantes e dominados. Elementos esses que possibilitem uma maior compreensão

deste caótico modo de produção capitalista; tais como na afirmação de Huberman:

" (...) um marciano (...) teria considerado loucos todos os habitantes da Terra.

Pois teria visto de um lado a grande massa do povo trabalhando duramente

(...); de outro lado, algumas pessoas que nunca sujaram as mãos com o

trabalho, mas não obstante faziam as leis que governavam as massas, e viviam

como reis (...) Essa divisão não era nova. Mas com a chegada das máquinas e

do sistema fabril, a linha divisória se tornou mais acentuada ainda. Os ricos

ficaram mais ricos e os pobres, desligados dos meios de produção, mais pobres

(...) ." (Idem: 176 e 177).

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CAPÍTULO I

Analisando as relações sociais do mundo em que vivemos, percebe–se o conflito existente

entre duas classes antagônicas: capital e trabalho. Apesar de expressarem interesses

opostos, a sua convivência é essencial para a sobrevivência do modo de produção

capitalista, uma vez que apresentam uma relação de dependência mútua.

" (...) sem a existência do capital acumulado, o capitalismo industrial, tal como

o conhecemos, não teria sido possível. Nem teria sido possível sem a existência

de uma classe trabalhadora livre e sem propriedades – gente que tinha de

trabalhar para outros a fim de viver (...)" (Huberman;1986: 157).

Necessidade suprida com os estabelecimento das seguintes relações :

" O produtor imediato, o trabalhador, só podia dispor de sua pessoa depois de

libertado do solo e depois que deixasse de ser escravo, ou servo, dependendo

de outrem. Para tornar-se um livre vendedor de sua força de trabalho, que leva

sua mercadoria a qualquer lugar onde encontre mercado, ele precisava livrar-

se antes do regime de corporações (...) Esses novos libertos só se tornaram

vendedores do próprio trabalho quando se viram destituídos de seus meios de

produção e de todas as garantias de vida proporcionadas pela velha

organização feudal. (...) ."(Karl Marx, O Capital, Vol. I. "in" Huberman; 1986:

163)

Uma outra definição de Marx demonstra os dois sentidos que podem ser

atribuídos ao "trabalhador livre":

" (...) livre em duplo sentido, pois de um lado terá que poder dispor livremente

de sua força de trabalho como sua própria mercadoria; e de outro lado não

deve Ter outra mercadoria para vender; deverá encontrar–se, portanto, livre

de todos os objetos para realizar por conta própria sua força de trabalho."

(Karl Marx, O Capital, cap. IV. "In" Iamamoto e Carvalho; 1982:38)

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Como elemento para a elaboração de um estudo aprofundado abordando o

processo histórico do relacionamento entre classes, faz-se necessário um debate inicial

sobre o processo de constituição do modo de produção capitalista.

Existiram momentos na história da humanidade onde a compra tinha

finalidades diferenciadas: o comprar para uso, remete a uma fase pré-capitalista; e, o

comprar para vender com o objetivo de ganhar, nos leva à fase capitalista.

É desta forma que Iamamoto descreve o processo de produção capitalista:

" A transformação do dinheiro em capital decompõe–se em três processos

inter–relacionados, mas independentes, no tempo e no espaço. O primeiro: a

compra e venda dos meios de produção e da força de trabalho que se

desenvolve no mercado. O segundo, que se efetiva no processo de produção

onde, mediante o consumo produtivo da capacidade de trabalho, os meios de

produção transformam–se em produtos, os quais, além de conterem o valor do

capital adiantado, contêm, ainda, a mais–valia criada. Tem se aí a produção e

reprodução de capital. E o terceiro processo, que ocorre novamente na órbita

da circulação, onde se realiza o valor do capital e da mais–valia, mediante a

transformação de mercadoria em dinheiro." (idem: 37)

Através do processo de produção do capitalismo, fica claro perceber que a

função específica do capital é a de produzir um sobrevalor ou de um valor maior que aquele

adiantado no início do ciclo produtivo. Este sobrevalor, mais conhecido por mais–valia, é o

fim e ao mesmo tempo resultado do processo capitalista de produção, significando a

materialização de tempo de trabalho excedente (trabalho não pago apropriado pela classe

capitalista). Para isso, o interesse do capitalista está em aumentar a duração e a intensidade

do trabalho, seja prolongando a sua jornada (entendida como mais–valia absoluta), seja

potenciando o trabalho acima do grau médio (a mais–valia relativa). Nestas formas, será

obtido um tempo de trabalho superior àquele necessário à reposição do salário. Resumindo,

a classe capitalista obtém vantagens não só do que extrai do trabalhador, mas do que

entrega à classe trabalhadora sob a forma de salário; e, seguindo este raciocínio, exerce, o

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capitalista, seu controle, utilizando–se das funções de direção e vigilância sobre a classe

trabalhadora: quer evitando desperdícios, quer garantindo a maior intensidade possível de

exploração da força de trabalho.

O capitalista, dono dos meios de produção, é possuidor de matérias-primas,

edifícios, máquinas, etc. Porém, não será por meio destes empreendimentos ou transações

que ele será capaz de atingir seu grande objetivo: o lucro. É a força de trabalho do operário

que será comprada para que esta, exigida em sua maior intensidade, possa transformar

matérias-primas em produtos acabados com valor comercial (mercadorias). E, ao resultado

desta negociação, poderemos afirmar que parte do dinheiro deste grande empreendedor

constituir-se-á em capital.

" O dinheiro só se torna capital quando é usado para adquirir mercadorias ou

trabalho com a finalidade de vendê-los novamente, com lucro."

" O lucro vem do fato de receber o trabalhador um salário menor do que o

valor da coisa produzida (...) ."(Huberman; 1986: 156 e 157)

Sendo assim, como constatação inicial, não consiste em um exercício

extremamente complexo perceber claramente o objetivo predominante na relação capital–

trabalho; prevalecerá uma busca desenfreada pelo alcance do lucro. Este, estará acima de

tudo e de quase todos (exceto daqueles que o almejam fervorosamente – os capitalistas).

Sendo assim, será o lucro que movimentará a lógica da sociedade capitalista; onde seus

principais atores (capital e trabalho), serão envolvidos, mesmo que de forma "involuntária",

como nos explica Marx:

" ... Não foi róseo o colorido que dei às figuras do capitalista e do proprietário

de terras. Mas, aqui, as pessoas só interessam na medida em que representam

categorias econômicas, em que simbolizam relações de classe e interesses de

classe. Minha concepção do desenvolvimento da formação econômico–social

como um processo histórico–natural exclui, mais do que qualquer outra, a

responsabilidade do indivíduo por relação, das quais ele continua sendo,

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socialmente, criatura, por mais que, subjetivamente, se julgue acima delas."

(Marx; 1988: 06)

Na discussão de Iamamoto, também encontramos uma análise sobre o tema,

apoiada em Marx :

" O capitalista ignora que o preço normal do trabalho envolve também uma

determinada quantidade de trabalho não retribuído e que precisamente este

trabalho não retribuído é a fonte normal de onde provém seu lucro. Para ele, a

categoria tempo de trabalho excedente não existe, pois aparece confundida na

jornada normal de trabalho que crê pagar com salário ". (Karl Marx. "In"

Iamamoto e Carvalho; 1982: 49,50)

Se a questão seguinte paira sobre o meio adotado pelo capitalista para

convencer o trabalhador a cooperar, logo segue a resposta:

" Destituídos dos meios de produção, não têm escolha. Devem vender a única

coisa que lhes resta – sua capacidade de trabalho, sua força de trabalho."

(Huberman; 1986: 162)

Quando destituído de seus meios de produção, o trabalhador também encontra–

se destituído de seus meios de sobrevivência.

" (...) Não lhe resta, portanto, outra alternativa senão a de retornar ao

mercado novamente, vender parte de si mesmo como condição de sua

sobrevivência, já que os seus meios de vida estão monopolizados, também, pela

classe capitalista". (Iamamoto. "In" Iamamoto e Carvalho; 1982: 47)

Desta forma, o trabalhador, para satisfazer suas necessidades básicas e as de sua

família (alimentação, educação, habitação, ... incluindo a reprodução de sua prole –

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renovação da força de trabalho), acaba criando os próprios meios de sua dominação; uma

vez que:

" (...) o próprio trabalhador produz constantemente a riqueza objetiva como

capital, como uma potência estranha a ele que o explora e o domina. E o capitalista

produz, não menos constantemente, a força de trabalho como fonte subjetiva de riqueza,

separada de seus meios de realização e materialização, como fonte abstrata que radica na

mera corporeidade do trabalhador ou, para dizê–lo brevemente, o trabalhador como

trabalhador assalariado. Esta constante reprodução ou eternização do trabalhador é

condição sine qua non da produção capitalista". (Karl Marx. "in" Iamamoto e Carvalho;

1982: 47,48)

Para que esta lógica de cooperação pudesse prosseguir, foram utilizados,

inclusive, recursos religiosos. E, se no período de introdução do capitalismo a Igreja

católica não podia acompanhar a mudança de um artesão que trabalhava para viver para um

sistema onde o industrial trabalhava para Ter lucro, a Igreja Protestante pôde.

Desta forma ocorre, mesmo que para isso tenham que, os trabalhadores, se

submeter às maiores atrocidades:

" (...) Lugares famosos, produzindo artigos famosos. Artigos feitos por

trabalhadores que viviam em moradias escuras, insalubres, superlotadas (...)

porões destinados não ao armazenamento de mercadorias ou de lixo, mas à

residência de seres humanos (...) Que atitude tinham as pessoas ricas em

relação às condições predominantes nas fábricas, aos dias de 16 horas, ao

trabalho infantil? Em sua maioria nem pensavam nisso, absolutamente."

(Huberman; 1986: 181)

Com a possibilidade de lucrar ainda mais, os capitalista persistiam com a

situação, buscando o máximo de força de trabalho pelo mínimo necessário para pagá–las:

estendendo a produção a mulheres e crianças que poderiam executar tarefas recebendo

menos que os homens. Este tipo de relação estabelecida, voltada para um intenso grau de

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exploração, a um custo menos significativo para o capitalista, de uma mão-de-obra mais

fragilizada, foi denominada “trabalho suplementar”.

Existe ainda um outro elemento que não "consegue" permanecer totalmente

oculto, por muito tempo, no entendimento entre as duas classes: a questão da alienação. E,

esta consiste em uma preocupação de grandes filósofos como Karl Marx. Marx, começa a

desenvolver um estudo para entender a constituição do ser social. A partir daí, percebe a

alienação que permeia as relações sociais, elabora algumas teses, até que desenvolve uma

teoria social (posteriormente desencadeando na constituição da teoria da alienação).

Conforme descrição do pensamento de Marx, este:

"(...) indaga-se por que a produção mercantil dominante, instaurando-se sobre

fundamentos puramente sociais, obscurece e escamoteia estes mesmos fundamentos. Numa

palavra: inquire por que o produto do trabalho toma, sob a forma de mercadoria - forma

que na sociedade capitalista, é a 'mais geral e mais elementar da produção' -, uma

aparência misteriosa. A questão é a seguinte: a produção mercantil dominante, no mesmo

processo em que revela o caráter social do trabalho, reveste com um envoltório a-social o

seu produto.

Daí a pergunta de Marx:

'O caráter misterioso que o produto do trabalho humano apresenta ao assumir

a forma de mercadoria, donde provém?'

A sua resposta formula o problema do fetichismo:

'Dessa própria forma, claro. A igualdade dos trabalhos humanos fica

disfarçada sob a forma de igualdade dos produtos do trabalho como valores; a

medida, por meio da duração, do dispêndio da força humana de trabalho toma

a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as

relações entre os produtores, nas quais se afirma o caráter social dos seus

trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produtos do trabalho...

Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma

fantasmagórica de uma relação entre coisas... Chamo a isto fetichismo, que

está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como

mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias." (Netto: 1981:40,41)

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Em outras palavras, esta perversidade resulta do fato de uma mercadoria

(produto da produção capitalista) ser:

" (...) uma coisa estranha, cheia de sutilezas, (...). As análises do mercado, a

psicologia e a propaganda controlam a mercadoria; mas, de súbito, ela escapa

ao controle 'como se livremente começasse a dançar'.

Nessa extravagância da mercadoria, reconhece-se a contradição entre o

caráter social da produção e o produtor aparentemente 'independente'. O

produtor 'independente' é, queira ou não, dependente da totalidade social, dos

preços das matérias-primas e da força de trabalho, da produtividade média do

trabalho, da oferta e da procura, das necessidades e do poder aquisitivo do

consumidor. Assim, a mercadoria se transforma na objetivação da contradição

interna contida na 'economia privada' da produção social geral ."(Fischer;

1970:42)

Mesmo medidas como estas, onde até mesmo mulheres e crianças eram

envolvidas no mais frio "esquema" de exploração, a partir de um determinado período, não

mais serão suficientes. O capital, com o desenvolvimento de grandes oligopólios, estará

cada vez mais ameaçado. A crescente competitividade que se instaura neste cenário, o

obrigará a buscar saídas, nas quais será repensado e reestruturado o processo de trabalho

adotado até então. Como conseqüência deste trabalho reflexivo pela busca de novas

estratégias, o processo de globalização dos mercados, a exigência de novas práticas de

gestão empresarial e de inovações tecnológicas, priorizando a qualidade, são algumas das

exigências que constituem a reciclagem adotada pelas empresas no enfrentamento da

concorrência. Trata-se, portanto, desta buscar meios para sobreviver à crise; mesmo que

isso signifique o agravamento de outros elementos no contexto da sociedade (questão

social).

O capital, face a uma imensa ansiedade em responder a esta crise, fará emergir

mudanças nas esferas da produção (através do aumento das taxas de lucro por meio do

crescimento da produtividade do trabalho), da circulação (através de alterações no mercado

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consumidor e simultaneamente no índice de competitividade e seletividade representado

entre as firmas por estratégias de marketing de seus respectivos produtos) e, sócio-política

institucional (através de novas formas de exercício do controle do capital sobre o trabalho,

que para seu sucesso necessitará de mecanismos capazes de promover a adesão e o

consentimento dos trabalhadores às novas mudanças).

Conforme nos indica Kameyama, estas mudanças, conhecidas por

reestruturações produtivas, implicam em:

" (...) transformações que vêm ocorrendo tanto na base material da sociedade

capitalista quanto no mundo das idéias e suas inflexões no mundo do trabalho

(...) ." ("In" Mota; 1998: 07).

A partir do momento em que o lucro do capital começa a ser ameaçado, como

solução para a crise gerada, surgem a restruturação produtiva e a nova organização dos

mercados, como iniciativas tomadas visando o estabelecimento de um "novo equilíbrio" ao

sistema (no contínuo favorecimento da classe dominante). Sendo assim, aparecem como

estratégias de restauração econômica do capital. Este processo, também conhecido por

recomposição do ciclo de reprodução do capital, provocará alterações tanto na esfera da

produção quanto na das relações sociais, uma vez que reorganizará o processo de produção

de mercadorias (do trabalho da matéria-prima à atribuição de valor comercial ao produto

final) e, conseqüentemente, à realização de lucro.

Sendo assim, como forma de continuar respondendo ao objetivo do sistema

capitalista, novas estratégias de gerenciamento são adotadas, de acordo com afirmação de

Leite:

" No caso brasileiro, é possível periodizar a implementação do modelo

japonês. A primeira fase ocorre na passagem dos anos 70 para os anos 80 e

tem, na prática dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), a forma mais

difundida do modelo. Esta prática surge como resposta a uma situação

econômica recessiva, principalmente no início da década de 80 (...) no final da

década de 80 já se constatava que os CCQs não foram muito adiante (...) Ainda

nos anos 80, mais precisamente em meados da década, após o período

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recessivo, quando há uma rápida retomada do crescimento econômico, novas

práticas japonesas são difundidas, juntamente com uma maior adoção de novas

tecnologias de automação (...) O terceiro e mais recente período de

propagação do modelo japonês inicia-se nos anos 90, inaugurando a década

da qualidade". (Leite. Idem: 46, 47)

Ou, na análise de outros autores:

" É neste contexto que a formação de um novo perfil da força de trabalho -

capaz de aglutinar habilidades técnicas, desenvolvidas ao longo de um

processo de formação profissional, com habilidades sociais, desenvolvidas

através da formatação de determinados comportamentos produtivos - ascende

ao posto de estratégia central dos processos de reestruturação produtiva".

(Cardoso e Francisco. Idem: 79)

Por esta razão, e como forma de reafirmar esta "tendência" ainda atual, tem-se

defrontado com o pensamento de pessoas possuidoras de um certo nível hierárquico

organizacional:

" (...) a Qualidade Total representa a única via possível para garantir uma

'empresa enxuta', 'competitiva' e com relações de trabalho 'harmoniosas' e

'cooperativas', reafirmando a parceria entre capital e trabalho, pondo fim aos

conflitos e insatisfações dos trabalhadores". (Druck. Idem: 61, 62)

Mas, mesmo defendendo estes ideais, os capitalistas, bem como aqueles

designados por este para auxiliar no gerenciamento dos negócios, sabem da necessidade de

serem adotadas medidas sistemáticas que promovam, gradativamente, a colaboração da

classe trabalhadora:

" O empresariado e a gerência não possuem 'falsas ilusões' de que a

participação operária ocorrerá voluntariamente, nem que os conflitos de classe

desaparecerão como em um 'passe de mágica' ao primeiro 'toque' de um

programa de qualidade. A obtenção deste consenso passa, necessariamente,

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por formas de incentivos materiais e simbólicos que possibilitam a

concretização da integração dos trabalhadores aos requisitos da produção,

através do fortalecimento da subordinação da força de trabalho ao capital".

(Cardoso e Francisco. Idem: 76,77)

Aliada à lógica de "convencimento", existe ainda a necessidade de manter o

resultado da produção como algo extremamente atrativo. Para isso, conforme o depoimento

de um gerente de Recursos Humanos, o fator qualidade é essencial:

" (...) no momento em que você está percebendo o aumento absurdo da

competitividade entre as empresas (...) é fundamental que a gente pense em

melhorar os nossos produtos e diminuir os seus custos (...) No fundo (...) isso é

qualidade. (...) Eu diria que, extraído o nosso comportamento cultural, é

exclusivamente para vencer a competição". (Cardoso e Francisco. Idem: 81)

Mas, qual o papel deste, e de tantos outros gerentes, no processo produtivo? O

que eles fazem para conseguir o convencimento dos trabalhadores e uma produção de

qualidade, altamente competitiva?

" (...) cabe à gerência, também, fomentar a adesão dos trabalhadores às

normas e demandas da produção através da obtenção do consentimento, sem

prescindir, contudo, do uso da coerção quando necessário. Se, de um lado, a

adesão dos gerentes a essas normas e demandas é condição do seu próprio

processo de trabalho, por outro, isto não elimina a possibilidade de 'fissuras'

nas formas de adesão, quando consideradas as distâncias hierárquicas".

(Cardoso e Francisco. Idem: 83)

Com uma lógica de combate a essas 'fissuras', entendidas como a não-

colaboração dos trabalhadores, o capital utiliza algumas formas de incentivo ao

desempenho destes (de acordo com a cultura japonesa introduzida: compromisso, qualidade

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total, produtividade e competitividade) através de políticas de recompensa: benefícios e

incentivos (em sua maioria salariais - identificados como prêmios por produtividade).

Sendo assim, mais uma vez a figura do gerente aparece para divulgar a política

salarial (direta ou indireta) e outras políticas promovidas pela área de Recursos Humanos

como formas de incentivo à produção.

É necessário ressaltar ainda que a não-cooperação poderá acarretar a perda da

condição de empregado formal da empresa, impossibilitando ao trabalhador desfrutar do

conjunto das políticas de reprodução social.

" Uma vez fora do circuito do mercado de trabalho da empresa, desfazem-se,

automaticamente, as bases de constituição do direito contratual e, com estas,

as condições de reprodução social". (Cardoso e Francisco. Idem: 91)

Como forma de adicionar historicidade a este debate que focaliza a introdução

destas técnicas japonesas (conhecidas como toyotismo), pode–se resgatar um método

produtivo antecedente, o fordismo.

O fordismo, difundido por Henry Ford no início do século XX, na verdade,

consistiu de um melhor entendimento de conceitos criados por Frederick Taylor.

Taylor, criou "fórmulas" que pretendiam conciliar os interesses dos operários

(obter salário elevado), com os interesses da empresa (obter um custo de produção cada vez

mais reduzido), utilizando o controle dos tempos e movimentos que possibilitavam como

vantagens a racionalização e simplificação dos métodos de trabalho e a fixação de tempos

padrões para a execução das operações. Ford, por sua vez, aproveitando este

desenvolvimento (racionalização do trabalho), foi mais além. Criou um sistema de linha de

montagem, introduzindo nas fábricas a produção através de uma esteira rolante. Esta

novidade significou uma preocupação visando evitar um cansaço desnecessário dos

trabalhadores com movimentos à direita ou à esquerda que não tivessem proveito algum;

porém, também acarretou operações extremamente parceladas dos trabalhadores (que

recebiam "parte" do "produto semi-pronto" e contribuíam em adicionar apenas mais uma

parcela a ele); o que significa um desconhecimento do produto final do emprego de sua

própria força de trabalho.

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Um dos intelectuais a pensar o fordismo foi Gramsci. Para ele, o mecanismo

de uma fábrica (onde o trabalhador é altamente fragmentado) reproduz com grande

fidedignidade a cultura norte-americana. E, conseqüentemente, ao analisar este fordismo,

constatará que, no ato de se produzir mercadorias, será criado (subjetivamente) um homem

individualista, egoísta e competitivo. A este novo jeito de ser do homem, Gramsci intitulará

Americanismo. Sobre esta denominação, podemos acompanhar um pequeno trecho do

raciocínio gramsciano:

" Na América, a racionalização determinou a necessidade de elaborar um

novo tipo humano, conforme ao novo tipo de trabalho e de produção (...)".

(Gramsci; 1968:382)

Retomando a realidade japonesa, um dos objetivos centrais das novas práticas

de gestão e organização do trabalho é a redução do número de trabalhadores (com o

enxugamento das empresas - através de demissões e do processo de terceirização em

curso), o que vêm sendo demonstrado por dados empíricos através dos resultados obtidos

até o momento.

As mudanças ocorridas no processo produtivo, em favor da flexibilização dos

processos e condições de trabalho, promoveram grandes alterações na representação do

mercado de trabalho; por meio do desemprego, da terceirização e da precarização do

trabalho e dos vínculos formais de trabalho. Além disso, determinaram, segundo Motta e

Amaral:

" (...) novas formas de domínio do capital sobre o trabalho, realizando uma

verdadeira reforma intelectual e moral, visando à construção de outra cultura

do trabalho e de uma nova racionalidade política e ética compatível com a

sociabilidade requerida pelo atual projeto do capital". (Motta e Amaral. "In"

Motta;1998:29)

E, segundo Gramsci,

"os novos métodos de trabalho são indissolúveis de um determinado modo de

viver, de pensar e de sentir a vida: não se pode obter sucesso em um campo

sem obter resultados tangíveis no outro". ( Idem:29)

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Sendo assim, a preocupação da classe dominante estava em direcionar, por

meio de processos políticos, a produção do consentimento2 de classe (trabalhadora), para

que as mudanças pudessem ser implementadas com maior facilidade. E, se este movimento

na burguesia causou novas formas de domínio do capital sobre o trabalho, no operariado

significou, além dos impactos objetivos da crise (desemprego, precarização do trabalho, dos

salários e dos sistemas de proteção social), uma iniciativa de enfrentamento, através de

uma primária organização, para a adoção de uma nova consciência política por estes

trabalhadores.

Neste contexto capitalista, onde o mundo objetivo expressa–se no intenso grau

de exploração a que o operariado é submetido, a subjetividade assume diversas formas, com

a finalidade de promover a incorporação, pela classe trabalhadora, de um papel

subserviente.

" (...) fazem ecoar de modo permanente, entre a força de trabalho ativa, o risco

e a ameaça de desemprego (...)".(Idem: 32)

" (...) 'o que se pode perceber no momento é que o setor informal está

articulado ao formal mediante uma relação de subordinação que favorece a

hegemonia capitalista". (Idem: 32, 33)

2 No entendimento de Motta (1998:28), os termos adesão e consentimento referenciam

conceitos gramscianos ( hegemonia, crise orgânica e revolução passiva), de quem também

adotará a interpretação para os mesmos:" (...) Trata-se, segundo Gramsci, de criar 'um

novo tipo humano, correspondente a um novo tipo de trabalho e de processo produtivo' que

permita uma nova 'fase de adaptação psicofísica à nova estrutura industrial'".

Na interpretação de Dias: " a adesão e o consentimento podem ser pensados

como o processo de 'incorporação ativa (convencimento ativo, em especial pela

impregnação da nova racionalidade) ou passiva (...) pela neutralização das práticas das

classes subalternas, isto é, pela destruição ativa de uma personalidade histórica que se

expressa na gestação de uma nova classe trabalhadora e de uma nova cultura" ("In"

Motta; 1998: 28)

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Como afirma Mandel (1968:28),

"as condições objetivas de tal contestação são aquelas que resultam do

funcionamento mesmo do regime (principalmente da regulação dos salários por meio do

exército de reserva industrial; da insegurança de existência que daí resulta; da

insuficiência do salário em relação às necessidades socialmente suscitadas; do caráter

alienante do trabalho etc.) As condições subjetivas são, em última análise, aquelas que

fazem que o trabalhador considere sua condição como inferior e insatisfatória."

Um desses formatos assumidos pela subjetividade constitui-se exatamente no

modelo "pacificador" difundido pelo Protestantismo. Utilizando preceitos religiosos, tais

como é da vontade de Deus, economizar e investir tornaram–se sinônimos para dever e

prazer, conceito que transformou o desejo de lucro em natureza humana. Um discurso que

foi capaz de conter a contestação dos trabalhadores apenas por um determinado período.

I.I – A Reação dos Trabalhadores

Retrocedendo ao período de surgimento da máquina a vapor, berço do sistema fabril, o

trabalho poderia Ter tornado–se mais leve; mas, na realidade, o fizeram pior. Com o

aumento da procura pelas mercadorias (sistema fabril) e da escala de produção, os

trabalhadores tinham que fazer durante o maior tempo possível suas mágicas para

que pudessem ser tão eficientes quanto as máquinas. Para os donos dos meios de

produção estas novas ferramentas representavam tanto capital que a força de trabalho não

poderia parar. Ainda mais marcante era a lógica de privilegiar as máquinas e menosprezar

as mãos dos homens; afinal, o bem–estar das primeiras era mais importante, pois tratam–se

de investimentos.

O que poderiam fazer os trabalhadores para melhorar sua sorte? Olhando ao

redor, inicialmente os trabalhadores ingleses, perceberam uma causa:

" (...) a máquina. Foi a máquina que roubou o trabalho dos homens e reduziu o

preço das mercadorias. A máquina – eis o inimigo.

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Quando homens desesperados chegavam a essa conclusão, o passo seguinte

era inevitável.

Destruir as máquinas (...) todas as máquinas que pareciam a certos

trabalhadores em certos lugares terem provocado a miséria e a fome – foram

destruídas, esmagadas ou queimadas. Os destruidores de máquinas, chamados

ludistas, ao lutarem contra a maquinaria sentiam que lutavam por um padrão

de vida. Todo seu reprimido ódio à máquina libertou–se, ao se lançarem aos

seus motins (...)" (Huberman; 1986: 185)

Por meio de experiências próprias, os trabalhadores descobriram um remédio

amargo. Se conquistassem o direito de voto, teriam mais chances de pressionar a existência

de um governo de e para muitos, ao invés de um governo de e para poucos. Portanto,

lutaram pelo direito de voto, que foi conseguido mediante uma luta imensa.

Como demonstração de incentivo a essas mudanças, um poeta enviou na época

um poema "aos homens da Inglaterra":

Homens da Inglaterra, por que arar

Para o senhores que vos mantêm na miséria?

Por que tecer com esforço e cuidado

As ricas roupas que vossos tiranos vestem?

Por que alimentar, vestir e poupar

Do berço até o túmulo,

Esses parasitas ingratos que

Exploram vosso suor – Ah, que bebem vosso sangue?

Por que, abelhas da Inglaterra, forjar

Muitas armas, cadeias e açoites

Para que esses vagabundos possam desperdiçar

O produto forçado de vosso trabalho?

Tendes acaso ócio, conforto, calma,

Abrigo, alimento, o bálsamo gentil do amor?

Ou o que é que comprais a tal preço

Com vosso sofrimento e com vosso temor?

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A semente que semeais, outro colhe

A riqueza que descobris, fica com outro.

As roupas que teceis, outro veste.

As armas que forjais, outro usa.

Semeai – mas que o tirano não colha.

Produzi riqueza – mas que o impostor não a guarde.

Tecei roupas – mas que o ocioso não as vista.

Forjai armas – que usareis em vossa defesa."

("In" Huberman;1986:193 e 194)

A partir destas iniciativas (conquista do direito ao voto e, posteriormente, da

possibilidade de uma parcela do operariado também candidatar-se), o nível de organização

sofreu grandes reviravoltas, conforme podemos presenciar nos dias de hoje; capacitando ao

trabalhador alguns avanços no campo dos direitos.

Percorrendo o tempo e retornando à lógica da reestruturação produtiva, é

possível caracterizar mais um efeito avassalador desta tecnologia de gerenciamento. Com a

fragmentação do mercado de trabalho, a prática organizativa das classes trabalhadoras

muito sofre, em virtude de estar fragilizada pelas condições do mercado de trabalho e pelo

enfraquecimento do poder sindical. Sendo assim, o principal sentido da reestruturação

produtiva foi evitar uma nova construção das classes trabalhadoras como força autônoma e

revolucionária, provocando a difusão das idéias e dos valores que reconceituam as

reivindicações e conquistas históricas desta classe.

" Trata-se não apenas de destruir os processos de organização dos

trabalhadores, mas também de inflexionar os objetos das suas reivindicações

dotando-as de outros significados que, originários do projeto do capital, devem

ser assumidos como seus". (Motta e Amaral. "In" Motta; 1998: 36)

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CAPÍTULO II

Com o objetivo de conhecer a percepção que as pessoas têm sobre a relação

capital/trabalho, bem como as características e conseqüências desta, foi realizado um

levantamento com a finalidade de extrair elementos essenciais para o aprofundamento desta

análise.

A meta desta parte do trabalho é conhecer o ponto de vista que um grupo

diversificado, composto por indivíduos pertencentes a segmentos variados, tem sobre o tipo

de relação analisada de forma mais teórica até o presente momento: o relacionamento entre

as classes antagônicas, existentes no modo de produção capitalista.

Para isso, foi definido um Universo, composto por 91 pessoas, dentre as quais

26 foram informantes. Isto demonstra uma amostra de quase 30%; onde serão consideradas

todas as informações, mesmo daqueles que não possuem proximidade com o tema.

O Universo, definido como o budista, traduz uma preocupação em retratar com

maior fidelidade como esta questão é realmente "sentida" no dia-a-dia de uma parcela da

população que possui as mais diferenciadas variáveis, tais como: sexo, faixa etária, nível de

instrução, composição e renda familiar, entre outras. Através de minha "proximidade" à

prática religiosa, seria possível, ainda, delimitar o universo trabalhado, relacioná-lo com a

localidade da moradia (com raras exceções, abrangendo os bairros do Méier, Engenho de

Dentro, Água Santa e Piedade - todos pertencentes à Zona Norte da Cidade do Rio de

Janeiro), e, simultaneamente, trabalhar com um grupo misto (não universitários/

universitários de várias instituições e cursos).

Uma compilação dos dados obtidos na pesquisa será apresentada, a seguir,

dividida em: dados pessoais, escolares, dados familiares, dados profissionais, experiências

profissionais, religiosidade, classificação do trabalho de forma específica (pessoal),

classificação do trabalho de forma geral (ampla) e percepção da relação capital/trabalho.

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1. DADOS PESSOAIS 1.1. Sexo: 1 - Masculino ( 04 ) 2 – Feminino ( 22 )

Pelo fato do próprio universo (budista) ser composto em sua maioria por

mulheres, a variável sexo expressa a quantidade de informantes do sexo feminino

aproximadamente cinco vezes maior que a do sexo masculino.

A característica dos praticantes costuma ser a de mulheres presentes em grande

concentração em todas as idades e estados civis: jovens, adultas, idosas, casadas,

descasadas, solteiras, viúvas (com filhos ou sem filhos), etc. E, isto pode influenciar na

percepção a respeito do trabalho, tanto do ponto de vista do gênero, como da faixa etária.

Os homens, por sua vez, encontram–se em maior concentração na fase adulta,

geralmente quando casados.

Sexo

15,38%

84,62%

masculino

feminino

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1.2. Idade: 1 – 14 a 18 anos (1) 2 – 19 a 21 anos (2) 3 – 22 a 25anos ( 1) 4 – 26 a 35anos (5) 5 - mais de 35 anos (17)

A variável faixa etária permite a interpretação que a maioria dos entrevistados

encontram-se na faixa produtiva (a partir dos 26 anos). Este dado possibilitará uma grande

exploração do tema que, acrescido a outros fatores ainda não incorporados no estudo,

poderão auxiliar no alcance de um resultado satisfatório, considerando-se o objetivo

investigativo, mencionado no início da demonstração desta pesquisa.

Isto significa dizer que, mediante estas informações, poder-se-á observar o que

estes trabalhadores "amadurecidos" vêem no mercado de trabalho, isto é: se existem

oportunidades de mudanças e melhorias, se o relacionamento ocorre de forma "justa", de

que forma cada um pode contribuir para o mundo do trabalho e, se existe uma forma de

cooperação entre patrões e empregados na visão dos entrevistados.

Faixa Etária

3,85% 7,69%

3,85%

19,23%

65,38%

14 a 18 anos

19 a 21 anos

22 a 25 anos

26 a 35 anos

mais de 35 anos

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1.3. Estado Civil: 1 - Solteiro (13) 2 - Casado (legalmente ou não) (9) 3 - Outros (Viúvo, divorciado) (4)

A variável Estado Civil demonstra um número significativo de solteiros,

representando exatamente a metade dos demais tipos de "compromissos" mantidos pelos

informantes (casados, viúvos, divorciados).

Utilizando as informações extraídas dos gráficos anteriores, podemos chegar a

um perfil dominante dos entrevistados: mulheres, com mais de 35 anos e solteiras.

Estado Civil

50,00%

34,62%

15,38% solteiro

casado (legalmenteou não)

outros (viúvo,divorciado)

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2. DADOS ESCOLARES 2.1. Grau de escolaridade: 1 – 1º Grau incompleto ( 5) 2 – 2º Grau incompleto (1) 3 – 2º Grau completo (6) 4 - Superior incompleto (4) 5 – Superior completo ( 7) 6 - Outros ( 2) 7 - Em Branco ( 1 ) A variável Escolaridade apresenta as três maiores concentrações nos graus de

escolaridade superior completo, 2º grau completo e 1º grau incompleto, o que demonstra

um equilíbrio entre alfabetizados e qualificados.

Este dado nos possibilitará, na análise dos empregos, definir o grau de

qualificação do grupo entrevistado.

Escolaridade

19,23%

3,85%

23,08%

15,38%

26,92%

7,69% 3,85%

1º grau incompleto

2º grau incompleto

2º grau completo

superiorincompletosuperior completo

outros

em branco

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2.2. Você pretende fazer faculdade? 1 – já fiz (9)

2 - Estou fazendo (2)

3 - Sim, pretendo fazer (4)

4 – Ainda estou decidindo (3)

5 – Não (5)

6 –Nunca pensei nisto (2)

7 - Trancou ( 1 )

A maioria dos entrevistados informam que já fizeram faculdade. Importante

ressaltar ainda que a maior parte daqueles que ainda não possuem graduação em uma

faculdade, pretendem fazê–lo. A soma de todos os que têm interesse em uma faculdade

representa 2/3 da amostra.

Quando retomamos as informações de escolaridade do gráfico anterior (2.1)

percebemos que o número de informantes com grau superior completo foi inferior ao

mencionado na representação 2.2. Isto provavelmente ocorreu porque dois entrevistados,

que responderam a opção outros na variável grau de instrução, possam ter algum curso de

especialização que consideraram além do item curso superior.

Ingresso em Faculdade

34,62%

7,69%15,38%

11,54%

19,23%

7,69% 3,85%já fez

está fazendo

pretende fazer

está decidindo

não pretende fazer

nunca pensou nisto

trancou

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2.3. Em sua opinião, o que uma faculdade mais possibilita a uma pessoa? 1 – Mudar para um emprego melhor ( 5 ) 2 – Dar sugestões de melhoria no atual emprego ( 1 ) 3 – Esclarecimento para reclamar por melhores condições (salário, política, vida social, etc.) ( 1 ) 4 - Capacidade para aceitar melhor o mundo em que vivemos ( ) 5 - Crescer intelectual e culturalmente ( 18 ) 6 - Realização Pessoal ( 2 ) 7 - Nenhuma destas opções ( 2 )

A variável Possibilidades de Faculdade expressa que a maioria dos

entrevistados relacionam a realização de um curso superior à possibilidade de acrescentar a

sua "vida" um crescimento intelectual e cultural. Esta demonstração pode estar intimamente

ligada à característica religiosa do grupo. O que significa que, neste caso, a religião poderia

estar "influenciando" ou "modificando" os valores do grupo, distanciando-os de aspectos

obrigatória e unicamente materiais.

Possibilidades de Faculdade

17,24%3,45%

3,45%

62,07%

6,90%6,90%

mudar paraemprego melhor

dar sugestões demelhoria

reclamar pormelhorescondiçõescrescimentointelecto–cultural

realização pessoal

nenhuma dasopções

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2.4. Qual a disciplina que mais gosta ou gostaria de estudar? 1 – ( 1 ) Geografia 2 – ( 10 ) História 3 - ( 1 ) Matemática ou Física 4 – ( ) Química 5 - ( 4 ) Biologia 6 - ( 8 ) Informática 7 - ( 2 ) Telecomunicações 8 - ( 4 ) Outra: Educação Física/ Psicologia/ Ciências/ Arquitetura 9 - ( ) Nenhuma 10- ( 1 ) Em Branco A variável Disciplina Favorita demonstra uma expressiva preferência pelas

áreas de história e informática, seguidas por biologia.

Tal fato poderia estar demarcando o ecletismo do grupo, praticamente dividido

em afinidades tão contraditórias, tais como: a historicidade, que remete ao passado, e a

informatização, que consiste em uma característica pertencente ao presente e ao futuro.

Disciplina Favorita

3,23%

32,26%

3,23%12,90%

25,81%

6,45%

3,23%

3,23%

3,23%

3,23%

3,23%

geografiahistóriamatemática/ físicabiologiainformáticatelecomunicaçõeseducação físicapsicologiacienciasarquiteturaEm branco

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3. DADOS FAMILIARES 3.1. De quantas pessoas é composta a sua família (contando com você)? 1 – 1 a 2 (4) 2 – 3 a 4 (14) 3 – Acima de 4 (8)

A variável Composição Familiar expressa a maior parte dos informantes

inseridos em famílias compostas por 3 ou 4 membros. Este dado retrata que nossa amostra

captou informantes cujas famílias são pequenas, possivelmente formadas por pais e

irmão(s).

O tamanho reduzido da maioria das famílias será importante para percebermos

se representa um fator que de certa forma alivia, ou não, o sustento dos informantes e seus

familiares. Ou seja, pretendemos explorar se o fato de um menor número de componentes

nas famílias significa necessariamente a redução das despesas e, conseqüentemente, um

aumento do poder aquisitivo familiar.

Composição Familiar

15,38%

53,85%

30,77% 1 a 2 pessoas

3 a 4 pessoas

acima de 4pessoas

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3.2. Qual a renda mensal de sua família? 1 – 0 a 2 salários mínimos (3) 2 – 3 a 4 salários mínimos (7) 3 – Acima de 4 salários mínimos (16) (* salário mínimo = R$ 220,00) A renda mensal familiar expressa que a maioria dos informantes estão inseridos

em famílias de renda superior a 4 salários mínimos.

Retornando ao gráfico anterior (3.1), percebemos que mesmo as famílias sendo

pequenas, o rendimento está aparentemente acima da média das famílias brasileiras.

Provavelmente existem duas possibilidades para este fato: os componentes das famílias

possuem rendimentos favoráveis ou o salário provém de uma intensa jornada de trabalho,

incorporando o adicional de horas extra.

Renda Mensal Familiar

11,54%

26,92%

61,54%

0 a 2 saláriosmínimos

3 a 4 saláriosmínimos

acima de 4salários mínimos

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3.3. Quantas pessoas contribuem para a renda familiar? 1 – 0 a 2 ( 19 ) 2 – 3 a 4 ( 6 ) 3 – Acima de 4 ( 1 ) Na família da maioria dos informantes, no máximo até duas pessoas contribuem

para a renda mensal familiar, conforme nos demonstra a variável Contribuição para Renda

Familiar. E, se no gráfico anterior (3.2) observamos que 61,54% dos informantes possuem

renda mensal familiar superior a quatro salários mínimos, podemos constatar que este

universo constitui–se, em sua maioria, por pessoas com poder aquisitivo das denominadas

"camadas médias urbanas".

Este dado acirra o questionamento sobre como tão poucas pessoas conseguem manter um

rendimento familiar favorável.

Contribuição Renda Familiar

73,08%

23,08%

3,85%

0 a 2 pessoas

3 a 4 pessoas

acima de 4 pessoas

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40

4. DADOS PROFISSIONAIS 4.1. Você exerce atividade remunerada? 1 – Sim, em tempo integral ( 10 ) 2 – Sim, em tempo parcial ( 7 ) 3 – Não ( 9 ) A variável Atividade Remunerada expressa uma quantidade significativa de

pessoas inativas profissionalmente. Porém, a grande maioria dos informantes encontra–se

inserida em trabalhos em tempo integral, ou seja com jornada de 8 horas diárias.

Atividade Remunerada

38,46%

26,92%

34,62% exerce em tempointegral

exerce em tempoparcial

não exerce

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4.2. Com que idade começou a exercer atividade remunerada? 1 – 14 a 18 anos ( 13 ) 2 – 19 a 21anos ( 9 ) 3 – 22 a 25 anos ( 3 ) 4 – 26 a 35 anos ( ) 5 - mais de 35 anos ( 1 ) Este gráfico nos mostra um início precoce no exercício da atividade

remunerada, cuja extensão compreende idades dos 14 aos 21 anos. Estas informações

devem ser retomadas principalmente para conhecermos os principais motivos que

desencadearam esta inserção.

Início Atividade Remunerada

50,00%

34,62%

11,54% 3,85%

14 a 18 anos

19 a 21 anos

22 a 25 anos

mais de 35anos

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4.3. Qual foi o principal motivo que o levou a procurar uma colocação no mercado de

trabalho? Dificuldade Financeira/ Ajudar Família (17) Praticar sua formação ( 3) Independência Financeira ( 6) Crescimento Profissional/ Pessoal ( 2) Em Branco ( 2) A Dificuldade Financeira aliada à ajuda familiar aparecem como o principal

motivo de procura ao mercado de trabalho. Estes fatores reafirmam a necessidade que

muitos tiveram em um início precoce de suas atividades produtivas, como pudemos

perceber no gráfico 4.2.

Motivo de procura do mercado de trabalho

56,67%

10,00%

20,00%

6,67% 6,67% dificuldade financeira/ajuda à família

praticar a formação

independênciafinanceira

crescimentoprofissional/ pessoal

em branco

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43

4.4. Você é a pessoa que mais contribui para a renda familiar? 1 - Sim ( 9 ) 2 - Não ( 17 ) O gráfico nos demonstra que a maioria dos entrevistados não são os que

contribuem com maior percentual para a constituição da renda familiar. O que reafirma a

necessidade do trabalho como apoio na conformação do orçamento da família.

Maior Participação na Renda Familiar

34,62%

65,38%

sim

não

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5. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL 5.1. Quantas experiências profissionais já teve contando estágios e trabalhos com ou

sem carteira assinada (não considerando o trabalho por conta própria)? Uma - 3 Duas - 1 Três - 7 Cinco - 4 Seis - 4 Oito - 2 Dez - 1 Várias/ muitas - 1 Não respondeu - 3 As maiores ocorrências de experiências profissionais aconteceram três, cinco e

seis vezes na vida do maior percentual de informantes. Isto comprova a existência de um

certo grau de rotatividade no trabalho, na vida profissional dos entrevistados; fato este que

poderemos perceber se apresenta alguma correlação com insatisfações vividas nos

ambientes de trabalho.

Quantidade de Experiências Profissionais

11,54%3,85%

26,92%

15,38%15,38%

7,69%

3,85%

3,85% 11,54% umaduastrêscincoseisoitodezvárias/ muitasnão respondeu

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5.2. Como classifica a maioria destas experiências? 1 - Boa ( 20 ) 2 - Regular ( 4 ) 3 - Ruim ( 1 ) 4 - Péssima ( ) 5 - Em Branco ( 1 )

Os entrevistados, de forma quase unânime, classificaram a maioria de suas

experiências profissionais como boas.

Este dado será extremamente importante para verificarmos o que está sendo

considerado e julgado nesta classificação: os salários, a localização do emprego, o

relacionamento com os amigos, ... ou ainda, o nosso real objeto de estudo - a relação entre

empregados e empregadores.

Classificação das Experiências

76,92%

15,38%

3,85% 3,85%

boa

regular

ruim

em branco

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46

Neste gráfico aparecem demonstradas exatamente as razões que cada um dos

entrevistados teve para classificar suas experiências como boas.

As maiores concentrações encontram-se na satisfação com a possibilidade de

aprendizado e no relacionamento com amigos. Em seguida, o conhecimento profissional foi

eleito como mais um responsável pelas boas experiências. E, a terceira justificativa mais

expressiva aparece como sendo a oportunidade de contribuir com mudanças.

Neste gráfico aparece outra informação bastante interessante: a quarta

justificativa revela que algumas pessoas consideraram suas experiências profissionais como

boas pelo simples fato de caracterizarem empregos onde tinham um certo grau de

comodidade e previsibilidade na realização de suas rotinas diárias.

Boa

37,50%

20,83%4,17%

12,50%

4,17%

4,17%

8,33%

4,17%

4,17%

aprendizado/ amigos

conhecimentoprofissional

bom ambiente/relacionamento compatrõescontribuição paramudanças

fazer o que gosta

crescimento pessoal

permanecer emprego/cumprir deveres

salário

em branco

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47

Outros entrevistados, que classificaram suas experiências como regulares,

deram as seguintes justificativas: pouco aprendizado, pouca comunicação com superior,

salário insatisfatório e desinteresse dos patrões pelos empregados. Estes quatro motivos

tiveram um percentual de adesão equivalente.

Outros dois informantes dividiram-se em outras classificações. Um deles

considerou sua experiência como ruim, uma vez que não gostava do que fazia. E, o outro,

omitiu seu parecer, descartando a possibilidade de ser conhecido seu grau de

contentamento, ou não, com relação a suas experiências profissionais.

Regular

25,00%

25,00%25,00%

25,00% aprendeu pouco

pouca comunicaçãocom superior

salário insatisfatório

desinteresse peloempregado

Outras Classificações

50,00%50,00%

ruim: não gostavado que fazia

em branco

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5.3. A que atribui a classificação acima? BOA Aprendizado/ amigos ( 9) Conhecimento profissional ( 5) Relacionamento com patrões/ Bom ambiente ( 3) Contribuir com mudanças ( 1) Fazer o que gosta ( 1) Crescimento pessoal ( 1) Permanência emprego/ Cumprimento dos deveres ( 2) Salário ( 1) Em Branco ( 1) REGULAR Aprendeu pouco ( 1) Pouca comunicação com superior ( 1) Salário insatisfatório ( 1) Desinteresse pelo empregado ( 1) RUIM Não gostava do que fazia ( 1) EM BRANCO ( 1) De um forma geral, é importante perceber que a classificação das experiências

como sendo boas, consiste na opção que possui uma maior variedade de expressões.

Além disso, estas variações demonstraram outros elementos, além do dinheiro, que

fazem do trabalho algo importante. Isto significa dizer que, apesar de ser fundamental,

conforme posto pela necessidade material demonstrada nos gráficos 4.2 (entrada precoce no

mercado de trabalho) e 4.3 (início em atividade remunerada para compor a renda familiar),

o dinheiro não aparece na maioria dos itens como algo impositivo para classificar o grau de

satisfação apresentado pelo trabalho.

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A variável situação profissional atual demonstra que quase a metade dos

entrevistados (46,15%) encontram-se desempregados. Possivelmente este pode ser um dos

motivos pelos quais a maioria deles declarou no gráfico 4.4 não participarem com o maior

percentual na composição da renda familiar.

Porém, existe uma contradição nas informações se compararmos esta situação

profissional atual com o exercício de uma atividade remunerada. O gráfico 4.1 expressa que

65,38% da amostra encontra-se inserida em atividade lucrativa em tempo integral e parcial.

Desta forma, uma das possíveis explicações para o elevado índice de desemprego

visualizado no gráfico acima consiste na realização das tarefas ocasionais que dão um

ganho extra, conhecidos, popularmente, como bicos, biscates ou virações.

Situação Profissional Atual

34,62%

19,23%

46,15%

empregado comcarteira de trabalho

empregado semcarteira de trabalho

desempregado

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5.4. Você encontra-se atualmente empregado? 1 - Sim, com carteira assinada ( 9 ) 2 - Sim, sem carteira assinada ( 5 ) 3 - Não ( 12 ). Desde: 2000 e 1999 ( 6) 1995 ( 1) 1990 e 1991 ( 2)

1986 e 1987 ( 2) Em Branco ( 1)

O gráfico acima demonstra que a maioria dos desempregados perdeu vínculo

com o local de trabalho no período de 1999 e 2000. Possivelmente por este ter sido o

período de intensificação da política neoliberal no Brasil, trazendo à tona novas

modalidades de contratação da mão-de-obra. Isto é, apoiadas na flexibilização, ou seja, a

substituição do empregado efetivo pelo temporário e terceirizado.

Esta precarização das relações de trabalho aparece refletida na figura de

desempregados e empregados sem carteira profissional assinada.

O gráfico nos possibilita ainda interpretar que as maiores concentrações da

amostra encontram-se nas extremidades dentro ou fora do mercado de trabalho.

Período de Desemprego

50,00%

8,33%

16,67%

16,67%

8,33%2000 e 1999

1995

1991 e 1990

1987 e 1986

Em branco

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5.5. Você costuma levar os problemas de casa para o trabalho ou do trabalho para casa? 1 - Sim ( 1 ) 2 - Não ( 17 ) 3 - Às vezes ( 8 ) A variável deslocamento de problemas demonstra que os informantes

conseguem fazer um bom discernimento entre os problemas de casa e os de âmbito

profissional.

Mesmo que não sejam exaustivamente discutidos nos locais opostos (as questões de

casa no trabalho e vice-versa), considero praticamente impossível um sujeito único dividir

suas interpretações de mundo em locais apropriados e desapropriados.

Deslocamento de Problemas

3,85%

65,38%

30,77%sim

não

às vezes

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5.6. Em que proporção? 1 - Levo mais de casa para o trabalho ( ) 2 - Levo mais do trabalho para casa ( 5 ) 3 - Levo em iguais proporções ( 3 ) 4 - Não levo problemas ( 17 ) 5 - Em Branco ( 1 ) A proporcionalidade do deslocamento dos problemas isto é, a intensidade e

freqüência com que o trabalhador compartilha no ambiente doméstico seus sentimentos e

preocupações originadas no trabalho e vice– versa, nesta demonstração aparece em sintonia

com a informação do gráfico anterior (5.5).

Interessante ressaltar que, quando deslocados, os problemas, na maioria dos

casos, são gerados nos ambientes de trabalho e, em seguida, descontados, desabafados ou

discutidos (dependendo da forma como são conduzidos) no ambiente doméstico.

Este gráfico reafirma a tendência da maior parte da amostra promover uma

separação entre a vida e o trabalho.

Proporção do Deslocamento

19,23%

11,54%

65,38%

3,85%mais do trabalhopara casa

em iguaisproporções

não levo problemas

em branco

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5.7. O que sua família e amigos comentam sobre sua relação com o atual ou com o seu último trabalho? 1 - Que nunca me viu tão feliz ( 4 ) 2 - Que passo muito tempo nele ( 4 ) 3 - Que sou muito explorado ( 5 ) 4 - Não comentam nada ( 7 ) 5 - Outros ( 6 )

O gráfico acima ilustra que os familiares da parcela mais significativa dos

entrevistados não fazem quaisquer comentários sobre o relacionamento destes com seus ambientes

de trabalho.

Agrupando duas opções afins, a quantidade daqueles que desaprovam as condições de

trabalho vividas também aparece com bastante expressão. E, se este desencontro entre a opinião dos

informantes e seus respectivos familiares acontece, considero importante explorar qual das

percepções prevalece e como elas são trabalhadas e argumentadas no ambiente familiar.

Comentários sobre Relação com o Trabalho

15,38%

15,38%

19,23%26,92%

23,08% nunca viu tão feliz

passa muitotempo neleé muito explorado

nenhum

outros

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Motivo Concordância: Nunca viu tão Feliz

25,00%

75,00%

trabalha naprofissãoescolhida

em branco

Motivo Concordância: Passa muito tempo nele

25,00%

50,00%

25,00%salário baixo

ausência na família

em branco

Motivo Concordância: É muito explorado

33,33%

16,67%33,33%

16,67%

má remuneração

ficam preocupados

muito trabalho

em branco

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Motivo Concordância: Não comentam nada

25,00%

50,00%

25,00%não gosta deinterferências

não se importacom comentários

em branco

Motivo Concordância: Outros

20,00%

20,00%

20,00%

20,00%

20,00%incentivo a nãodesistência

crescimentoprofissional

faz o que gosta

abertura de novocampo

atuando em área deformação

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5.8. Você concorda com eles? 1- Que nunca me viu tão feliz Sim - 4 Trabalha na profissão escolhida - 1 Em Branco - 3 Não - 0 Em Branco - 0 2- Que passo muito tempo nele Sim - 4 Salário baixo - 1 Ausência na família - 2 Em Branco - 1 Não - 0 Em Branco - 0 3- Que sou muito explorado Sim - 4 Má remuneração - 2 Ficam preocupados - 1 Muito trabalho - 2 Em Branco - 1 Não - 0 Em Branco - 0 4- Não comentam nada Sim - 4 Não gosto de interferências - 1 Não se importa com comentários - 2 Em Branco - 1 Não - 0 Em Branco - 3 5- Outros Sim - 5 Incentivo a não desistência - 1 Crescimento profissional - 1 Faz o que gosta - 1 Abertura de novo campo - 1 Atuando em área de formação - 1 Não - 0 Em Branco - 1

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As maiores concentrações profissionais aparecem, respectivamente, no

magistério (professor - 20%), em atividades domésticas e de atendimento (diarista/

cozinheira/ garçonete - 16%) e em serviços gerais (12%).

Sendo assim, o gráfico das profissões nos demonstra que a maioria das

atividades exercidas não exigem graduação em nível superior. Este dado possivelmente

reafirma que a maioria pretende inserir-se em um curso superior, conforme nos demonstra o

gráfico 2.2, para acrescentar elementos não obrigatoriamente exigidos em sua atual

ocupação (vide gráfico 2.3): crescer intelectual e culturalmente.

Ocupação

16,00%

8,00%

8,00%

12,00%8,00%8,00%

4,00%

20,00%

4,00%

4,00%

4,00%

4,00%

diarista/ cozinheira/garçonete

enfermeiro/cuidadorde idosos

vendedor

recepcionista/serviços gerais

supervisor/ gerenteadministrativo

digitador/ bancário

telefonista

professor

manutenção

analista sistemas

técnico eletrônica

recursos humanos

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Em conformidade com o gráfico 5.4, que demonstra a situação profissional atual, a representação acima revela o número de ocupações presentes maior do que a quantidade de passadas. Estas ocupações presentes provavelmente incorporam indivíduos que possuem carteira assinada e aqueles que exercem atividades informalmente no mercado de trabalho. 5.9. O que você faz no seu trabalho (ou fazia)? Presente - 14 Diarista - 2 Passada - 10 Cuidador de idosos/ enfermeiro - 2 Não Respondeu - 2 Vendedor - 2 Em Branco - 1 Garçonete - 1 Recepcionista - 1 Supervisor/ Gerente Administrativo - 2 Digitador - 1 Telefonista - 1 Cozinheira - 1 Enfermeiro - 1 Professor - 5 Serviços gerais - 2 Manutenção - 1 Bancário - 1 Analista Sistemas - 1 Técnico eletrônica - 1 Recursos Humanos - 1

Situação Atual da Ocupação

51,85%37,04%

7,41% 3,70%presente

passada

não respondeu

em branco

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5.10. Em sua opinião seu trabalho causa sofrimento a você? 1 - Sim ( 1 ) 2 - Não ( 18 ) 3 - Às vezes ( 7 ) O gráfico acima demonstra que a maior parte dos informantes declaram não

sofrer com questões desencadeadas durante o exercício das atividades profissionais.

Este dado será importante quando for avaliada a percepção que cada um tem sobre o

seu ambiente de trabalho.

Trabalho X Sofrimento

3,85%

69,23%

26,92%sim

não

às vezes

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5.11. Em caso afirmativo, que tipo de sofrimento é causado? 1 - Físico (exemplo: carrego muito peso, ando muito, uso cadeira e mesa desconfortáveis, fico muito tempo de pé, etc.) ( ) 2 - Emocional (exemplo: muito aborrecimento, muita pressão, etc.) ( 8 ) 3 - Ambiental (exemplo: temperatura desfavorável, muita poeira, etc.) ( ) 4 - Interpessoal (exemplo: conflito entre as pessoas) ( 4 ) 5 - Nenhum ( 8 ) 6 - Em Branco ( 7 ) O gráfico acima demonstra as maiores concentrações na presença de sofrimento

emocional e na ausência de sofrimento. Isto expressa uma grande contradição quando

retomamos as informações do gráfico anterior (5.10).

Quando questionadas sobre sofrimentos decorrentes do trabalho, a maioria dos

entrevistados revelaram não os possuir. Porém quase 2/3 da amostra definiu um tipo de

sofrimento vivido. Tal fato talvez demonstre uma certa acomodação dos informantes, que

podem estar considerando estes fatores como elementos que naturalmente fazem parte do

cotidiano dos indivíduos.

Tipo de Sofrimento

0,00%29,63%

0,00%

14,81%29,63%

25,93% físico

emocional

ambiental

interpessoal

nenhum

em branco

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Grande maioria dos entrevistados consideram o sindicato como uma instituição

importante.

Mesmo em menor quantidade, o gráfico demonstra que ainda existem

trabalhadores que não possuem uma definição sobre o papel do sindicato.

Na parcela dos informantes que considera o sindicato como uma instituição

importante, é possível perceber que as justificativas abrangem o universo coletivo dos

trabalhadores.

Papel do Sindicato (sim)

26,32%

5,26%

5,26%

10,53%5,26%5,26%

21,05%

21,05%

fazer respeitar direitos

orientação

reunir ostrabalhadoressolucionar problemas

proporcionar diálogo

representante legaldos trabalhadoresnão definiu

em branco

Importância do Sindicato

69,23%

26,92%

3,85%

sim

não

em branco

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62

Aqueles que não consideram a importância do sindicato, tendem a justificar

seus pontos de vista baseados no universo individual. Isto é, considerando questões

distanciadas da coletividade dos trabalhadores.

5.12. Você acha que um Sindicato é uma entidade importante na solução dos problemas existentes no ambiente de trabalho? 1 –Sim ( 18 ) Fazer respeitar os direitos - 5 Orientação - 1 Reúne os trabalhadores - 1 Solucionam problemas - 2 Proporciona diálogo - 1 Representante legal dos trabalhadores - 1 Não definiu - 4 Em Branco - 4 2 –Não ( 7 ) Propaganda ideológica - 1 Cada pessoa deve resolver seus problemas - 1 Não definiu - 1 Em Branco - 3 3 - Em Branco ( 1 )

Papel do Sindicato (não)16,67%

16,67%

16,67%

50,00%

propagandaideológica

cada um deveresolver própriosproblemasnão definiu

em branco

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63

5.13. Existe um Sindicato negociando melhorias em seu trabalho? 1 - Sim ( 9 ) 2 - Não ( 9 ) 3 - Não sei responder ( 7 ) 4 - Em Branco ( 1 )

Os informantes dividem-se em iguais proporções demonstrando uma eqüivalência

sobre a presença e a ausência do sindicato em locais de trabalho.

Este dado expressa o grau de distanciamento que ainda existe entre

trabalhadores e entidades sindicais.

Presença do Sindicato no Trabalho

34,62%

34,62%

26,92%

3,85%sim

não

não seiresponder

em branco

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64

5.14. Você se recorda de alguma melhoria feita por intermédio deste sindicato? 1 - Sim ( 4 ) Em Branco - 1 Regulou documentação - 1 Regularizou pagamento atrasado - 1 Plano de Saúde - 1 2 - Não ( 20 ) 3 - Em Branco - 2 A maior parte dos informantes, aproximadamente 77% da amostra, não se

recorda das melhorias feitas pelo sindicato em seu local de trabalho.

Este dado demonstra uma grande contradição uma vez que a maioria dos

informantes considera a importância do sindicato. Desta forma, a questão representada pelo

gráfico 5.12 perde sua força pela ausência de embasamento exemplificado.

Recordação de Melhorias

15,38%

76,92%

7,69%

sim

não

em branco

Sim

25,00%

25,00%25,00%

25,00%regularizoudocumentação

regularizoupagamento atrasado

introdução plano desaúde

em branco

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65

Os entrevistados que informaram melhorias feitas por seus sindicatos, apresentaram-se em iguais proporções. 5.15. Como você classifica a relação com o seu patrão? 1 - Amigável ( 5 ) 2 - Normal ( 16 ) 3 - Distante ( 2 ) 4 - Insuportável ( 3 ) A variável relação com patrão demonstra um certo grau de indiferença por parte

dos informantes, quando classificam seus relacionamentos como normais.

As outras classificações que surgem expressam um equilíbrio entre situações

amigáveis e distantes a insuportáveis.

Relação com Patrão

19,23%

61,54%

7,69%11,54% amigável

normal

distante

insuportável

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6. RELIGIÃO 6.1. A sua escolha por uma prática religiosa está relacionada a algum problema ou

dificuldade encontrados no seu trabalho? 1 - Sim ( 3 ) 2 - Não ( 23 ) Quando questionados sobre a escolha da prática religiosa, a maioria maciça dos

entrevistados (88,46%) informou não ter relacionamento com as dificuldades encontradas

no ambiente de trabalho.

Escolha Religião X Dificuldade no Trabalho

11,54%

88,46%

sim

não

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6.2. Você recorre à prática e aos ensinamentos budistas para resolver questões no seu

trabalho? 1 - Sempre ( 19 ) 2 - Às Vezes ( 7 ) 3 - Raramente ( ) 4 - Nunca ( ) Apesar da prática religiosa não ter sido escolhida em virtude de dificuldades

encontradas no trabalho (gráfico 6.1), maior parte da amostra recorre sempre aos

ensinamentos budistas para resolver seus impasses, inclusive os trabalhistas.

Recorrência Prática Budista X Questões no Trabalho

73,08%

26,92%

sempre

às vezes

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6.3. O que espera da prática budista relacionada ao trabalho? 1 - Mudar a situação ( 24 ) 2 - Ter paciência para suportar ( 1 ) 3 - Nunca pensei nisto ( ) 4 - Nenhuma dessas ( 1 ) A amostra, de forma quase unânime (92,31%), declarou que, através da prática budista,

espera mudar a situação no trabalho.

Possivelmente esta informação remete a mais uma contradição, uma vez que se a

situação no ambiente de trabalho não causa sofrimento (conforme expresso no gráfico 5.10)

aparentemente não existe situação que necessite de mudanças.

De qualquer forma, esta representação encontra-se bastante fiel à filosofia budista que

prega a possibilidade de cada ser humano promover a sua própria revolução humana. E, a partir daí,

causar reflexos positivos em seu ambiente.

Prática Budista X Trabalho

92,31%

3,85%

3,85%

mudar situação

paciência parasuportar

nenhuma das opções

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7. Resuma em uma única palavra a sua percepção sobre o relacionamento entre empregados e empregadores de uma forma geral?

Em Branco 2 Não respondeu 1 Disciplina/ Entretenimento/ Sinceridade e Segurança interna/ Negociação/ Razoável/ Diálogo

7

Sinergia/ Interesses mútuos/ Bom/ Compreensão/ Respeito/ União/ Cooperação/ Confiança

11

Desigualdade/ Injustiça/ Desgaste/ Exploração/ Ganância 5 A maior parte da amostra percebe a relação entre patrões e empregados de

forma positiva. Este elemento pode reafirmar a ausência de sofrimento mas, ao mesmo

tempo, contradiz sobre a necessidade da prática no ambiente de trabalho.

Esta lógica possivelmente pode ser reforçada pela filosofia budista. Nela, o

indivíduo deve buscar transformações em sua vida porém, de forma pacífica; o que, em um

primeiro momento, poderia assemelhar–se unicamente a uma intensa acomodação/

alienação. Ou ainda, de fato, gerar este comportamento naqueles que tivessem uma visão

distorcida da religião.

Relacionamento Patrões X Empregados

19,23%

42,31%

26,92%

7,69% 3,85%

sentimentos negativos(desigualdade/ injustiça/desgaste/ exploração/ganância)

sentimentos positivos(sinergia/ interesses mútuos/bom/ compreensão/ respeito/união/ cooperação/ confiança)

outros (disciplina/entretenimento/ sinceridade esegurança interna/negociação/ razoável/diálogo)em branco

não respondeu

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8. Cite, em ordem de importância, no máximo três fatores que, em sua opinião, sejam os responsáveis pelo tipo de relação que você consegue perceber:

Em Branco - 2 Não Respondeu - 1

Primeiro Lugar

26,09%

13,04%34,78%

8,70%

8,70% 8,70%

respeito

negativos: doença,ausência de diálogo,serviço extra

positivos: ausência deroubo, interesse, práticabudista, patrão justo,união, honestidade,profissional, pazsalário

neutros: tecnologia,capitalismo

responsabilidade

Segundo Lugar

9,52%9,52%

28,57%9,52%

14,29%

14,29%

14,29%

ambiente/harmonia

neutros: dinheiro,informações

positivos: entendimento,comprometimento,inteligência, tolerância,humano, amizadehorário

negativos: competição,autoritarismo, lucroexcessivo

confiança

cooperação/colaboração

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1º 2º 3º Respeito - 6 Ambiente/ harmonia - 2 Dinheiro Doença Dinheiro Qualidade no trabalho Ausência de roubo Entendimento Benefícios Salário - 2 Horário - 2 Problemas de harmonia Interesse Competição Tolerância Responsabilidade - 2 Confiança - 3 Amizade/ Benevolência - 3 Prática Budista Cooperação/Colaboração - 3 Comprometimento Patrão justo Comprometimento União Informações Tecnologia Autoritarismo Democracia Ausência de diálogo Inteligência Direcionamento

Honestidade Tolerância Companheirismo/ solidariedade - 2 Profissional Humano capitalismo Lucro excessivo Pouca participação política Paz Amizade Consideração Serviço extra De uma forma geral, os informantes demonstraram perceber de forma positiva a convivência entre patrões e empregados. O que não significa que esta relação seja harmônica em seus pontos de vista. Durante a pesquisa pôde-se perceber que nem sempre o discurso falado coincide com o que é pensado. Esta pode ter sido a razão das contradições sinalizadas.

Terceiro Lugar

29,41%

29,41%11,76%

17,65%

11,76%

neutros: dinheiro,benefícios,direcionamento,condições de trabalho,pouca participaçãopolítica positivos: qualidade notrabalho, tolerância,comprometimento,democracia,consideração

negativos: problemas deharmonia, ganância

amizade/ benevolência

companheirismo/solidariedade

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CONCLUSÃO

No cenário brasileiro, as políticas de gestão baseadas na Qualidade Total e na

terceirização procuraram romper com um quadro de mobilizações operárias, em curso

desde o final dos anos 70 (ex.: operações-tartaruga e absenteísmo), melhor organizada com

o avanço do sindicalismo nos anos 80. Desestruturar os coletivos de trabalho, estimular a

concorrência entre os trabalhadores e, ao mesmo tempo buscar o envolvimento e a

cooperação (mesmo forçada) dos empregados. Estas passaram a ser as táticas utilizadas

para o alcance do grande ideal capitalista, conforme constatamos na citação abaixo:

" Foi um combate também definido contra os sindicatos, contra a organização

nos locais de trabalho, contra qualquer foco de oposição à empresa (...) a

flexibilização também é uma resposta às resistências e lutas dos

trabalhadores". (Druck. "In" Motta; 1998: 50, 51)

Em detrimento das condições de trabalho, de salário e de vida dos

trabalhadores, uma das principais formas de atuação e pressão dos sindicatos tem seu

esforço centralizado em demonstrar que a Qualidade Total é falsa à medida que não

favorece os trabalhadores. Pelo contrário, ela se realiza apenas com o objetivo de redução

dos custos, em prejuízo dos trabalhadores e levando à deterioração de suas condições de

reprodução social (trabalho e vida).

" É com esta compreensão que o Sindicato vem se posicionando

contrariamente à Qualidade Total e à terceirização, demonstrando que esta

'nova' cultura da qualidade tem apresentado graves conseqüências para os

trabalhadores: perda do emprego, intensificação do trabalho para os que

permanecem, precarização das condições de trabalho e saúde com a ampliação

dos riscos de segurança, aumento de repressão e desmandos nas fábricas e o

desrespeito a conquistas já acordadas nas Convenções e na própria

Constituição. Daí o questionamento feito pelo Sindicato, que foi tema das

campanhas salariais de 1993 e de 1994, formulando a seguinte pergunta: 'Com

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quantos demitidos, doentes ocupacionais e terceirizados se faz uma indústria

moderna?' ".3 (Idem: 65)

Mediante levantamento realizado e apresentado no segundo capítulo deste

trabalho, pode–se perceber que as empresas estão realmente atingindo seu objetivo de

desmobilizar a classe trabalhadora, provocando a inibição das organizações sindicais.

Enquanto grande parte dos sindicatos tem procurado retomar espaços perdidos, a classe

dominada demonstra um crescente distanciamento político.

Os trabalhadores mostram–se alienados com relação ao conhecimento de seus

direitos e às formas que podem ser utilizadas para a conquista destes. Desarticulados e

vivendo um processo de alienação cada vez mais intensificado, só lhes resta "cooperar", de

maneira forçada, com a classe dominante na obtenção do lucro capitalista.

Cooperação esta que mal acostumou os detentores do poder a provocar os mais

elevados índices de desemprego, principalmente nos dois últimos anos, e de trabalhos

temporários e terceirizados, que por sua vez também contribuem para o enfraquecimento

sindical.

Sendo assim, não é apenas o esclarecimento político que se encontra em

questão. Trata–se também do agravamento dos níveis de exploração aos quais o trabalhador

"deve e precisa" submeter–se; pelos quais nem mesmo sua vida social e familiar estão

isentas de serem lesadas. Afinal, um número bastante significativo de famílias concorda e,

acima de tudo, afirma que seus chefes de família (desvinculado de gênero) passam muito

tempo no trabalho e que são extremamente explorados.

Enfim, este consiste em um pequeno retrato extraído da realidade,

principalmente brasileira, que vem ganhando força desde quando o lucro passou a ser a

mais desejada cobiça da humanidade onde alguém, necessariamente, "deveria sair

perdendo".

3 Esta discussão focaliza a ação do sindicato da região da Bahia da indústria petroquímica, conforme artigo de

Graça Druck: A "cultura da qualidade" nos anos 90: a flexibilização do trabalho na indústria petroquímica

da Bahia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro. Civilização Brasileira, 1970.

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· IAMAMOTO, Marilda Villela e CARVALHO, Raul de. "Relações sociais e serviço

social no Brasil: esboço de uma representação histórico–metodológica". São Paulo.

Cortez, 1982.

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a redação de O Capital." Rio de Janeiro. Zahar, 1968.

· MARX, Karl. "O capital – crítica da economia política. Livro 1: O processo de

produção do capital". Vol. I, 12ª ed.. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil S.A., 1988.

· MOTA, Ana Elizabete (org.). "A nova fábrica de consensos: ensaios sobre a

reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas ao Serviço Social". São Paulo.

Cortez, 1998

· NETTO, José Paulo. "Capitalismo e reificação". São Paulo. Livraria Editora Ciências

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· SACCONI, Luiz Antônio. "Minidicionário Sacconi da Língua Portuguesa". São Paulo.

Atual Editora, 1996.