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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA PARA O DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE INFANTIL ADRIANI BARBOSA DA SILVA FERREIRA ORIENTADOR: PROF. ROBSON MATERKO RIO DE JANEIRO AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA PARA O DESENVOLVIMENTO

DA SEXUALIDADE INFANTIL

ADRIANI BARBOSA DA SILVA FERREIRA

ORIENTADOR: PROF. ROBSON MATERKO

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA PARA O DESENVOLVIMENTO

DA SEXUALIDADE INFANTIL

ADRIANI BARBOSA DA SILVA FERREIRA

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para a obtenção do Grau

de Especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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Agradeço a DEUS por tudo que ele está

operando na minha vida pessoal e profissional.

Agradeço a amiga ANA LÚCIA pelo nosso

encontro.

Agradeço a minha família, pelos incentivos

constantes.

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Dedico este trabalho de pesquisa ao meu

marido e companheiro Cláudio e a minha filha,

a pequena Bárbarah.

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“A proposta dos Parâmetros Curriculares

Nacionais para Orientação Sexual é que a

escola trate da sexualidade como algo

fundamental na vida das pessoas, questão

ampla e polêmica, marcada pela história, pela

cultura e pela evolução social.

As crianças e adolescentes, trazem noções e

emoções sobre sexo, adquiridos em casa, em

suas vivências e em suas relações pessoais. A

Orientação Sexual deve considerar esse

repertório e possibilitar reflexão e debate, para

que os alunos construam suas opiniões e façam

suas escolhas”.

Parâmetros Curriculares Nacionais – Ministério

da Educação e de Desporto.

Secretaria de Educação Fundamental – Brasília

– 1998.

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SUMÁRIO

RESUMO 06

INTRODUÇÃO 08

1. FASES DO DESENVOLVIMENTO LIBIDINAL 11

1.1 – Fase Pré-genital 12

1.2 Fase Oral 13

1.1.1- Fase Anal 13

1.1.2- Fase Fálica 13

1.2 - Período de Latência 14

2. A ESCOLA 16

2.1 - Curiosidade Sexual x Curiosidade Intelectual 17

2.2 - Orientação e Educação Sexual 21

2.3 - Papel do Educador 23

2.4 – Metodologia do Trabalho com Criança 25

3. IDENTIDADE SEXUAL 27

4. ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO TEMA 29

TRANSVERSAL

CONCLUSÃO 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32

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RESUMO

O conteúdo expresso neste trabalho, aborda a temática sobre a

sexualidade infantil e a importância da escola para o seu desenvolvimento.

Descreve-se as fases do desenvolvimento psicossexual de acordo

com a leitura psicanalítica, onde podemos observar que as manifestações da

sexualidade afloram em todas as faixas etárias.

Faz-se a distinção entre educação e orientação sexual, onde a

primeira é realizada pela família, mesmo aquelas que nunca falam abertamente

sobre o assunto. Já a orientação sexual deve ser um trabalho sistemático dentro

da escola, articula-se portanto com a promoção da saúde dos alunos, visto que a

sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica da

criança, não estando relacionada diretamente com a reprodução, mas

primordialmente com a busca do prazer.

Aponta-se a importância da postura do educador para que os valores

básicos possam ser alcançados, onde cada forma de expressão deverá ser

respeitada, pois espera-se da escola uma visão pluralista, sendo responsável pela

abertura de espaços para que o direito de expressão se concretize.

Entende-se que o lúdico é uma forma gostosa de construção do

conhecimento e, brincar é coisa séria. É a partir da brincadeira que a criança

desde seus primeiros dias de vida começa a construir o conhecimento do mundo

que a cerca, e o brincar possibilita a construção de uma forma de aprender.

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A situação mais conflitante de todo ser humano na infância, seja com

os pais ou com os educadores, é o desejo de saber. A curiosidade que no início

tem como base o sexual vai se transformar mais tarde em curiosidade intelectual,

que é a base para a construção do conhecimento.

A orientação sexual como um tema transversal possibilita que todo

trabalho seja permeado pelo processo educativo.

A metodologia utilizada foi o método dedutivo, através de pesquisa

qualitativa, com uma abordagem descritiva.

A coleta dos dados foi realizada através de levantamento

bibliográfico.

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INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, tratar assuntos relacionados ao sexo ainda é motivo

de medo, insegurança, tabus e muitos preconceitos. Os assuntos ligados a sexo,

tanto na família quanto na escola é encarado com muita resistência, pois não são

poucos os pais e professores que defendem a idéia de que informando a respeito

do sexo estaria colocando em risco a ingenuidade da criança.

A sexualidade sempre foi assunto difícil de ser tratado na escola. O

olhar que a escola dirige para a temática da sexualidade infantil ainda envolve

tabus, medos, angústias, preconceitos e ansiedade. Estes sentimentos por parte

da escola e educadores podem contribuir para que o desenvolvimento da

sexualidade da criança se torne limitado e até mesmo comprometido.

A infância é a fase decisiva na vida de cada ser humano, sendo as

primeiras experiências a base para o desenvolvimento da sua personalidade e

equilíbrio emocional e a escola tem um papel importante nessa fase.

Freud, o pai da psicanálise, a partir dos estudos realizados sobre a

sexualidade na infância propôs um modelo descritivo das fases do

desenvolvimento infantil, onde tal modelo surge de trabalhos clínicos. A teoria

freudiana defende que a criança desde o princípio da sua existência, passa a ter

em seu corpo fontes que lhe proporcionam prazeres.

A teoria psicanalítica designa como sexualidade todas as atividades

realizadas com o objetivo de se obter prazer e que pode ser proporcionado por

várias partes do corpo. Segundo Freud, o desenvolvimento psicossexual da

criança é composto por fases. A sexualidade infantil passa por fases até alcançar

o completo desenvolvimento libidinal. Fases: oral, anal, fálica, período de latência

e fase genital.

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Entre três e quatro anos, a maioria das crianças começam a se

preocuparem com as diferenças anatômicas, com a diferença entre os sexos.

Quando a criança chega à escola pela primeira vez, ela traz consigo

a marca, a propriedade específica e particular do seu meio familiar. Os pais

educam seus filhos a partir do seu ponto de vista. Frente ao comportamento

sexual da criança, os pais têm determinadas atitudes que não são positivas para o

pleno desenvolvimento da criança.

Na escola, encontramos professores completamente tolhidos e

tímidos que perdem grandes oportunidades de fornecerem esclarecimentos sobre

a sexualidade diante de uma demanda do aluno. A carência da informação

fomenta a angústia, acentua a culpa e gera conflitos que a própria criança não

consegue entender.

A criança sente necessidade de fazer perguntas a respeito de sua

própria sexualidade e a sua curiosidade tende a não ser satisfeita, pois raramente

recebe as respostas adequadas e próprias para os seus questionamentos.

Quando educadores, pais e professores impedem a satisfação da

curiosidade infantil, a criança pode ter a sua capacidade de aprendizagem

bloqueada. As devidas respostas a cada pergunta, diminui e até mesmo previne

os possíveis bloqueios intelectuais que a carência de informação a cerca da

sexualidade do próprio corpo poderia gerar.

Diante dessas questões, nos propomos a discutir o assunto tendo

como objetivo principal, contribuir para que o sexo não seja visto com algo

misterioso e proibido, especificamente quando nos referimos as curiosidades

infantis.

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Assim pretendemos com esta pesquisa bibliográfica, baseada

predominantemente em referencial teórico psicanalítico, oferecer aos professores,

educadores e demais pessoas interessadas, algumas reflexões a cerca da

sexualidade infantil, considerando cada fase do desenvolvimento da personalidade

infantil e a importância da escola como facilitadora da desmistificação das

questões relacionadas a orientação sexual, que tem como base a sexualidade

infantil. Não obstante, a sexualidade é um dos pilares formadores da

personalidade.

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1 - FASES DO DESENVOLVIMENTO SEGUNDO FREUD

As fases do desenvolvimento Libidinal da criança é caracterizado por

uma organização. Onde em cada fase há predominância de determinada zona

erógena.

“Ao falarmos da sexualidade infantil, não pretendemos reconhecer apenas a existência de excitações ou de necessidades genitais precoces, mas também as atividades aparentada com as atividades perversas do adulto, na medida em que põe em jogo zonas corporais (zona erógenas) que não são apenas as zonas genitais, e na mediada que buscam um prazer (sucção do polegar) independentemente do exercício de uma função biológica”. (Laplanche e Pontalis, 1992:477)

Foi a partir de Freud que a questão da sexualidade infantil começou a ser investigada.

Freud foi o primeiro a propor um modelo descritivo das fases do

desenvolvimento da sexualidade infantil. A sexualidade infantil no modelo teórico

do autor defende que mesmo antes da maturação das funções reprodutoras a

criança já vive a sua sexualidade, a partir daí a sexualidade humana deixou de

fazer parte das ciências biológicas, pois o seu surgimento não depende da

maturação biológica.

Freud divide em três períodos o desenvolvimento psicossexual.

1.1 – PRÉ-GENITAL

O período pré-genital, foco de interesse desse estudo, está dividido

em três fases:

• Fase Oral: nascimento até aproximadamente um ano;

• Fase Anal: um ano até aproximadamente os três anos;

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• Fase Fálica: três anos até os seis anos aproximadamente.

1.1.1 – FASE ORAL

O primeiro ano de vida está dentro desta fase do desenvolvimento. A

boca é a parte do corpo que nesta fase é erogenizada, é a zona erógena que

predomina nesta fase. Através dela a criança entra em contato com a mãe, com o

alimento e com o mundo.

Em primeiro momento a criança busca o alimento para a sua

sobrevivência e nessa busca pela nutrição, pelo alimento, pela sua sobrevivência

encontrou o seio, o calor, o cheiro, o contato maternal. Todos esses elementos

fará da amamentação um momento prazeroso. A criança mesmo saciando a sua

fome, desejará prolongar o contato com a mãe e com isso obter e manter a sua

satisfação. A criança, ao sentir fome busca o alimento através da mãe, que

representa bem mais que aquela que nutre e mata a sua fome.

O ato de amamentar além de ser uma forma de nutrir deve

primordialmente proporcionar à criança, afeto e segurança.

“A modalidade reflexa inata de busca de alimentos é necessária para a sobrevivência. Freud (e Lindner) percebe que além da necessidade física de alimentação, a criança sente um grande prazer no ato de mamar em si. Mesmo depois de satisfeita, ela continua a sugar a chupeta. Quando dorme, faz movimentos de sucção apresentando grande prazer. O prazer oral é uma modalidade que se estabelece anacliticamente ao prazer alimentar, mas que dele se separa. Este vínculo inicial de prazer em si, independente da sobrevivência física, constituirá a base das futuras ligações afetivas”. (Rappaport, 1981:37)

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1.1.2 – FASE ANAL

Corresponde, de modo geral, ao segundo ano e a partir do terceiro

ano, momento onde o prazer da criança consiste na eliminação e retenção das

fezes e da urina. Nesta fase, a criança descobre os conteúdos internos do seu

corpo e o poder que tem em controlá-los. Nesta fase a predominância erógena

deixa de ser a boca e vai agora localizar-se no ânus. A maior parte do prazer é

obtido através das atividades excretoras. Não se trata aqui do bem-estar que gera

o ato de defecar, mas sim a excitação produzida pela retenção e expulsão das

fezes.

É nesta fase que a criança adquire o controle sobre os seus

esfíncteres. O que será um progresso para a família e um imenso orgulho para a

criança.

“No início do segundo ano de vida, a libido passa da organização oral para a anal. No segundo e terceiro anos de vida, dá-se a maturação do controle muscular na criança, isto é dá-se a organização psicomotora de base. É o período em que se inicia o andar, o falar e em que se estabelece o controle dos esfíncteres (...) O período é denominado fase anal, porque a libido passa a organizar-se sobre a zona erógena anal. A fantasia básica será ligada aos primeiros produtos, notadamente ao valor simbólico das fezes (...) são objetos que vem de dentro do próprio corpo, que são, de certa forma, partes da própria criança”. (Rappaport, 1981:38 e 39)

1.1.3 – FASE FÁLICA

Aproximadamente aos três anos de idade, a libido dá início a mais

uma organização. Agora a erotização encontra-se nos genitais, o seu ponto de

concentração e o interesse infantil se dirige para os órgãos genitais, a

masturbação que sempre foi praticada torna-se agora mais freqüente e as

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diferenças sexuais entre meninos e meninas passam até para os objetos

inanimados. Nesse momento, ainda não prevalecem os dois sexos, mas sim a

presença ou ausência do pênis. As crianças começam a perceber a diferença

anatômica entre os sexos.

A diferença sexual passa a ser a temática predominante nesta fase.

É o momento em que a criança se dá conta de que se tem ou não um pênis. A

curiosidade infantil é o que vai favorecer a descoberta da diferença anatômica.

A fantasia que está presente neste período é a fantasia que tanto

meninos e meninas são possuidores de um pênis. Neste período, o complexo de

Édipo é vivido, onde o objeto da pulsão passa a ser um dos pais. A entrada no

Édipo é vivenciada pelo menino como uma angústia frente a castração e no caso

da menina o desejo de ter um pênis.

“O desenvolvimento do amor pleno, da capacidade de estabelecer relações maduras, duradouras e produtivas, ou seja, o desenvolvimento daquele tipo de relação que em psicanálise chamamos de amor de objeto, segue um longo percurso, através das dimensões parciais da sexualidade oral e anal, até obter o seu primeiro estágio da integração com as vivências da fase fálica e a organização do complexo de Édipo”. (Rappaport, 1981:12)

1.2 – PERÍODO DE LATÊNCIA

É um período caracterizado por impulsos violentos adormecidos.

Tem sua origem no declínio do complexo de Édipo.

Neste período, opera-se uma modificação na vida da criança, onde

surgem os sentimentos de pudor, vergonha, asco e aspirações morais.

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O investimento da libido neste período se dirige para as áreas

culturais e artísticas e isso é a resposta que é dada ao trabalho da sublimação. O

processo de sublimação neste período é de extrema e fundamental importância,

pois além de se desenharem as características sociais das crianças, é neste

período que o seu perfil sexual vai ser delineado.

“A sexualidade, que permanece reprimida durante este período, aguarda a eclosão da puberdade para ressurgir. Enquanto a sexualidade permanece dormente, as grandes conquistas das etapas situar-se-ão nas realizações intelectuais e na socialização. É por isso que este é o período típico do início da escolaridade formal ou da profissionalização, em todas as culturas do mundo”. (id.: 45)

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2 - A ESCOLA

O papel da escola na educação sexual da criança é complementar à

educação dada pela família. Quando a criança chega à escola já traz consigo

algum conhecimento a respeito da sexualidade. O papel da escola é o de informar,

desmistificar, corrigir e eliminar preconceitos. A escola é o espaço propício para

trocas de experiências, sendo essas trocas ricas em atitudes positivas que

contribuem para o desenvolvimento infantil. É importante que a escola esteja

preparada para lidar com as questões que surjam em termos de sexualidade.

São raras as escolas que têm professores preparados para lidar com

a questão da sexualidade infantil, uma realidade que está presente no dia-a-dia,

mas que é tratada com muito despreparo por parte de alguns professores.

“Se o professor ou professora vê uma criança se masturbando, geralmente não tem a mais leve idéia do que fazer. Não sabe distinguir o papel daquele comportamento e se ele merece ou não uma intervenção”. (Suplicy, 1999:35)

A masturbação é um comportamento que ocorre com uma certa

freqüência na escola, em alguns momentos pode representar apenas a função de

se obter prazer, acompanhada da descoberta do corpo, fazendo parte de um

processo de sexualização importante. Em outros momentos, a masturbação

infantil pode ser uma descarga de um conflito, onde a criança busca aliviar a

angústia, a tensão, do momento que está vivendo. A masturbação em forma de

comportamento contínuo e exacerbado não significa busca simplesmente de

prazer e, sim um apelo da própria criança para que a ajudem a resolver o conflito

pelo qual está passando, que pode ser uma desestrutura familiar ou até mesmo

conflito na própria sala de aula. “Com professores despreparados, que só proíbem

ou põem a criança para fora da sala de aula, ela não obterá ajuda”. (IBDEM)

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A escola está sempre transmitindo valores, poucos flexíveis, valores

esses que são definidos de acordo com os profissionais envolvidos naquele

momento com o processo educativo.

A escola deve funcionar como um espaço em que as crianças

possam esclarecer suas dúvidas, e continuar reformulando novos

questionamentos e com isso contribuir efetivamente para o alívio das ansiedades,

que muitas vezes interferem no aprendizado dos conteúdos escolares.

A escola precisa ter uma visão integrada do ser da criança,

considerando suas experiências individuais, buscando fomentar o prazer pelo

conhecimento. É fundamental que se ofereça como facilitadora e reconheça que

desempenha um papel importante na educação, para uma sexualidade pautada

na vida, no prazer e no bem-estar.

O espaço da escola, foi eleito pelo seu caráter pluralista, o local para

exposição de idéias e ideais.

A implantação de um processo de orientação sexual na escola visa o

bem estar da criança, pois contribui para o seu desenvolvimento global.

O trabalho na escola se define pelo seu caráter problematizador,

onde se levanta questionamentos e se alarga as possibilidades e opções para que

a criança, ela própria escolha e siga o seu caminho, tendo o adulto o papel de

acompanhá-la.

2.1 – CURIOSIDADE SEXUAL x CURIOSIDADE INTELECTUAL

Em seus escritos, Freud enfatiza a importância de uma educação

mais leal. Lealdade para ele, seria o respeito do educador pela palavra, pela

liberdade de expressão, sendo esses os meios mais verdadeiros no auxílio às

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crianças na superação de seus conflitos psíquicos. A educação deve apoiar-se na

verdade, tê-la como princípio básico, para sua transmissão.

Freud fala da ética, uma ética pautada na verdade, um convite ao

educador para jamais esconder a verdade sobre a sexualidade, tanto quanto isso

seja possível pela própria: “posição inconsciente”.

Parafraseando Freud:

“É justo conservar pura a imaginação de uma criança, mas não é a ignorância que irá preservar essa pureza. Ao contrário, acho que a ocultação conduz o menino e a menina a suspeitar mais do que nunca da verdade”. (Freud, 1907:138)

As crianças constróem as suas teorias sexuais e elas persistem com

tais teorias mesmo quando recebem esclarecimento adequado. Apesar da

ineficiência em termos do esclarecimento, Freud sustentou que mesmo assim

representa uma forma saudável e significativa para lidar com a curiosidade sexual.

Escreve Freud:

“Estou convicto de que nenhuma criança – pelo menos nenhuma que seja mentalmente normal e menos ainda as bem dotadas intelectualmente – pode evitar o interesse pelos problemas do sexo nos anos anteriores à puberdade”. (Freud, 1908:214)

É a partir da curiosidade sobre a sexualidade que se chagará à

curiosidade intelectual, ao desejo de saber. É certo que o esclarecimento é melhor

ao ocultamento. O ocultamento não só causa a desconfiança, como leva à idéia

de que a sexualidade é algo que pertence ao proibido. Os pais, os educadores

não devem responder de forma evasiva as curiosidades infantis e nem mesmo

repreendê-las, pois isso poderá levar a criança a uma inibição no seu progresso

intelectual.

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O desabrochar da sexualidade induz as inquietações que levam às

crianças a levantarem inúmeras questões que são endereçadas aos pais e

educadores, normalmente são questões que envolvem enigmas, tais como: De

onde vimos? Para onde vamos? Ou ainda: Por que nascemos? Por que

morremos? Por que chove? Porque existe noite e dia? Enfim, é a era do Por que?

Por que?

Para a teoria psicanalítica as interrogações são fundamentais e estão

vinculadas a uma época extremamente importante e decisiva na vida do ser

humano: a descoberta da diferença anatômica dos sexos. Esta descoberta exerce

papel dominante, não apenas por representar a inserção da criança no mundo

como ser desejante, mas primordialmente por se instaurar a compreensão das

relações que se estabelecem a partir deste ponto.

Em um primeiro momento, as crianças crêem que todos os seres

humanos são providos de um pênis, mesmo com a percepção da diferença que

existe entre os sexos, os meninos por exemplo pensam que as meninas têm um

pênis pequenininho e que um dia irá crescer. Essa construção teórica demonstra o

desejo de negar a diferença sexual, pois a descoberta da mesma aponta para a

questão de que alguma coisa falta. A percepção da falta é primordialmente

operada pela castração, a qual, por sua vez é característica da situação edípica. A

descoberta da diferença não depende totalmente da observação operada pela

criança, mas pelo evento do complexo de Édipo.

Com o naufrágio do complexo de Édipo, a investigação sexual passa

pela repressão. Parte dela é sublimada e transformada em pulsão de saber

associada a pulsões de domínio e pulsões de ver. Se estabelece uma vinculação

do desejo de saber com o dominar, o ver e o sublimar. Transforma-se em

curiosidade dirigida, pelo trabalho realizado pelo processo de sublimação que

resulta no gosto pela pesquisa, leitura, escrita etc.

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Dentro de uma concepção psicanalítica, o que alicerça a produção

intelectual é sexual. A busca do conhecimento inclui o interlocutor, figura para

quem a criança dirige suas indagações, perguntas, dúvidas. Este interlocutor

ocupa o lugar, do Outro, campo de todas as significações possíveis. Este Outro

está representado inicialmente pelos pais e depois, com o crescimento e ingresso

na escola, pelo professor.

O ato de aprender está sempre em relação com uma outra pessoa, a

que ensina. A relação que se estabelece entre o professor e aluno, a psicanálise

define como transferência. Conceito freudiano, classicamente compreendido como

um vínculo afetivo intenso, que se instaura de forma automática e atual na relação

estabelecida. A transferência no contexto escolar, na relação que se estabelece

entre educador e educando. Pela via transferencial, o professor revestido de uma

importância especial, pode ser ouvido por seu aluno. A sugestão e a influência

implicadas na transferência serão fundamentais para que a transmissão seja

possível. Este poder de influência deve-se ao fato de que, durante a latência, são

os professores e as pessoas que tem a tarefa de educar que tomarão para a

criança o lugar dos pais.

O que se passa na relação professor-aluno está além de uma

simples transmissão de conhecimento. Na transferência, o desejo de saber do

aluno se liga fortemente a um elemento particular do professor, dando-lhe um

sentido especial. Instalada a transferência, o aluno é depositário de algo que

pertence ao professor, ficando revestido de um caráter especial emanando daí o

seu poder sobre o aluno.

Podemos afirmar que o poder sobre o aluno está vinculado à

suposição de saber que é dirigida ao professor. O professor veste a capa do

saber, transformando a relação professor-aluno, em uma relação de saber-poder.

Onde a transmissão de conteúdos são modelos instituídos que é a peça chave no

ato de transmissão. Parafraseando Freud: “Transferimos para eles o respeito e as

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expectativas ligadas ao pai onisciente de nossa infância e depois começamos a

tratá-los como tratávamos nossos pais em casa”. (Freud: 1913:288)

O interesse de Freud em abordar a relação professor-aluno, onde a

ênfase está pautada primordialmente nas relações afetivas.

Citando o autor:

“É difícil dizer se o que exerceu mais influência sobre nós e teve importância maior foi a nossa preocupação pelas ciências que nos eram ensinadas, ou pela personalidade de nossos mestres. É verdade, no entanto, que esta segunda preocupação constituía uma corrente oculta e constante em todos nós e, para muitos, os caminhos das ciências passavam apenas através de nossos professores”. (Freud, 1913:286)

2.2 – ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SEXUAL

Muitas pessoas acreditam que as crianças não sintam curiosidade a

cerca das coisas referentes à sexualidade humana, não se preocupando em

instruí-las a tal respeito antes da idade adulta, sob o pretexto de que a revelação

destes assuntos as crianças, apenas serve para lhes tirar a inocência.

As respostas dadas as perguntas infantis, a cerca da temática da

sexualidade, além dos aspectos psicológicos e biológicos, a criança necessita,

acima de tudo, sentir naturalidade na resposta, clareza e aceitação do sexo por

parte dos pais e professores. A criança precisa ser educada sexualmente dentro

de uma perspectiva que a faça sentir que o sexo se trata de uma coisa natural,

que faz parte da natureza e da vida, portanto não deve ser passado informações

distorcidas a seu respeito.

Cada um de nós se mostra inserido, mesmo que não tenha

consciência, num processo de educação sexual, que aos poucos vai moldando de

forma particular o entendimento e a forma de lidar com a própria sexualidade. Este

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processo de educação sexual, ocorre na maioria das vezes, na lei do silêncio,

outras vezes, como simples transmissão de costumes e valores, sem

questionamentos mais aprofundados, ou seja, os assuntos relacionados com

sexo, ainda são rodeados de medos, tabus, mistérios e muitos preceitos.

A educação sexual inicia-se desde o nascimento, é feita em casa no

dia-a-dia de maneira assistemática, espontânea e natural. Desse modo, os pais

vão desde a mais tenra infância, construindo os alicerces da educação sexual de

seus filhos; sendo de extrema importância, que respondam a todas as solicitações

das crianças, pois elas vão assimilando as normas, atitudes, pensamentos

relativos ao sexo, principalmente na convivência familiar.

A educação sexual pode ocorrer em outras instâncias sociais. Na

escola a educação sexual, se dá sob a forma de orientação sexual.

Suplicy (1995), faz afirmações acerca das formas de educação

sexual, na família e na escola. A educação sexual é, portanto: “Um processo de

vida, que permite ao indivíduo se moldar, se reciclar ou não, e só termina com a

morte”. (Suplicy, 1995:8)

A orientação sexual é um processo formal e sistematizado, que se

preocupa em preencher lacunas, fornecer informações e erradiar preconceitos. É

pois uma intervenção que visa trabalhar com conflitos e medos que impedem o

bom uso das informações.

Suplicy (1995), acredita que esta orientação sexual escolar, pode ser

ministrada por qualquer professor que se interesse pelo assunto.

Os professores que geralmente eram escalados para falar de

sexualidade era o de ciências, pois acreditava-se que ele era o profissional mais

indicado para o assunto, por ter sólidos conhecimentos a respeito do corpo

humano. Pensava-se que a sexualidade estava relacionada unicamente com a

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questão da funcionalidade dos órgãos reprodutores e sendo assim somente um

professor da área das ciências estaria capacitado para isso.

Quando o assunto é sexualidade não se pode esquecer, é evidente

dos aspectos biológicos, mas também não pode perder de vista os demais

aspectos: afetivos, religiosos e culturais.

Tanto a educação, quanto a orientação sexual, devem ultrapassar as

informações genitais e reprodutoras. A criança deve ser educada em sua

totalidade levando em consideração os aspectos cognitivos, sexuais, culturais e

afetivos. Desse modo, pais e educadores estão contribuindo para que a criança

desenvolva uma atitude positiva em relação ao corpo e sua própria sexualidade.

“As experiências existentes mostram que não há exigência profissional específica para alguém exercer a função de orientador sexual; percebe-se que os laços que já existem entre docentes e estudantes fornecem uma base para um trabalho de orientação sexual na escola”. (Suplicy, 1995:15)

2.3 – PAPEL DO EDUCADOR

Desde a mais tenra infância, o ser humano utiliza o brincar como

uma maneira de aprender determinados conteúdos que serão aplicados em certas

situações ao longo de sua vida. Podemos observar esse fato ao depararmos com

um bebê de poucas semanas e atentarmos para os seus movimentos e reações.

Em comportamentos referenciados por um mecanismo sensório-motor, o bebê

recebe estímulos do meio e responde aos mesmos através das sensações, estas

expressas em movimentos, ora lentos, ora rápidos. Nessa dinâmica brincadeira

com o corpo, o bebê inicia seus primeiros contatos com o meio exterior e trava

suas primeiras vivências significativas. O bebê nessa fase já inicia um simples,

mas significativo aprendizado, onde sensações e movimentos serão a estrutura

para a formação de seu desenvolvimento global (cognitivo, emocional, social,

sexual e biológico).

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Todo o processo de desenvolvimento humano é gradativo e

progressivo, desse modo enquanto educadores, devemos nos preocupar para que

o ser que está diante de nós não ultrapasse etapas sem que realmente as tenha

vivenciado plenamente.

O fator principal que não deve ser esquecido é que o próprio

indivíduo é dotado de criatividade, imaginação e uma série de outras

potencialidades, estas devem ser estimuladas espontaneamente, sendo assim, o

nosso trabalho situa-se numa mera posição de facilitadores do movimento interior

criado pelo próprio indivíduo, onde tentaremos enriquecer suas vivências, porém

as mesmas constituem material de busca de cada um e por este motivo não

devem ser conduzidas ou impostas, mas sim aproveitadas com respeito e carinho.

O nosso papel enquanto educadores será sempre o de tentar

compreender a dinâmica da criança e isso implica em situá-la no contexto atual,

com suas relações sociais (escola, família, amigos etc) enfim, estabelecer uma

visão ampla de seu comportamento, lembrando sempre de que no comportamento

de uma criança está inserido aprendizagem realizada por imitação, daí a

importância de nossas atitudes perante a criança, esta nos vê como modelos

perfeitos e incontestáveis. Tudo que vem do adulto, seja ele mãe, pai ou professor

é absorvido e decodificado pela criança que quer se assemelhar por ter admiração

por eles, desta forma, se o professor por exemplo, age de forma repressora em

relação as questões relacionadas a sexualidade, as crianças captam essa atitude

acerca da sexualidade.

Para que as crianças assimilem a educação sexual, o professor

precisa integrá-la afetiva e cognitivamente, inserindo-a no contexto amplo da

aprendizagem que está ocorrendo. Desse modo, a educação sexual não atuará de

modo isolado, mas irá inscrever-se numa série que se completará aos poucos e se

interiorizará.

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“O trabalho em orientação sexual deve ser iniciado com o profissional que se sentir disponível para tal, requisito necessário mas não suficiente. Não há necessidade de habilitação desse profissional na área de biologia, uma vez que o fundamental é a postura do professor, sua capacidade de reconhecer como legítima as questões dos alunos, acolhendo-as com respeito”. (Aquino, 1922:115)

Ao atuar como um profissional que tem a competência de conduzir o

processo de reflexão, o professor deve ter discernimento para não transmitir os

seus valores, crenças e opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas,

não se quer exigir do professor que ele seja isento totalmente no tratamento as

questões ligadas à sexualidade, mas que ele tenha e exerça a consciência das

transmissões dos seus valores, crenças e sentimentos.

2.4 – METODOLOGIA DO TRABALHO COM CRIANÇA

Aprender sobre qualquer assunto, através da brincadeira, sem

dúvida descontrai e relaxa; desse modo, aprender sobre sexualidade, utilizando

uma metodologia participativa com jogos lúdicos; dinâmica de grupo,

dramatização e atividades de livre-expressão, ajudam a criar um ambiente mais

leve e, com menos receio por parte de quem recebe o conteúdo.

O encontro com o novo, o diferente e o desconhecido faz com que o

ser humano reconheça suas próprias diferenças, limitações e descubra o

significado da verdadeira troca de experiências.

A metodologia com criança tem que ser através de lúdico, alguns

materiais como a argila, massa de modelar, tinta guache, colagem, cartonagem,

etc., são recursos facilitadores para o trabalho com criança e até mesmo

adolescente ou adulto.

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A proposta com o trabalho de criança é criar um ambiente e formar

grupo de encontro, que vivencie experiências enriquecedoras para cada um e, que

as mesmas sirvam de elo para novas vivências com novos grupos, trocas e novos

encontros.

“Brincar também serve como linguagem para a criança – um simbolismo que substitui as palavras. A criança experencia na vida muita coisa que ainda é incapaz de expressar verbalmente, e deste modo utiliza a brincadeira para formular e assimilar aquilo que experencia”. (Aoklander, 1980:184)

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3 - IDENTIDADE SEXUAL

A constituição de ser homem ou mulher, forma o chamado Núcleo de

Base de Identidade Sexual (NBIS):

1) Sexo Anatômico;

2) Relacionamento Familiar;

3) Linguagem;

4) Cognição.

Em nossa sociedade o auto-conhecimento de ser (Identidade Sexual)

não existe sem o sexual. Temos dificuldade em nos relacionar com o ser humano

sem nos prendermos ao sexo masculino ou feminino, por exemplo: nasce uma

criança, a primeira pergunta que se faz é: menino ou menina? A partir desse

momento estabelece-se uma relação, mas sem saber o sexo torna-se difícil, pois

parece que não conseguimos lidar apenas e simplesmente com o ser humano,

mas necessariamente definir SER HUMANO HOMEM e SER HUMANO MULHER.

Existem esquemas que definem em grande parte a sua identidade e

papel sexual, como:

1) Ao nascer – registram com um nome F ou M, de acordo com o

sexo identificado;

2) Cores – azul = menino e rosa = menina;

3) Roupas respectivas.

O ser humano nasce com um equipamento para exercer um papel

sexual e uma identidade, mas não programado para nenhum sexo em particular.

Onde três aspectos integram: predisposição inata, sinais recebidos nos primeiros

anos de vida, identificação com homem ou mulher.

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Poderíamos dizer que a identidade sexual é a vivência da

experiência interna do papel sexual; e o papel sexual nada mais é que forma de

expressar externamente a identidade sexual.

Os pais são os primeiros educadores sexuais e o relacionamento

homem, mulher que a criança presencia é a base da educação sexual – a primeira

coisa que a criança vai assimilar e introjetar em termos de educação sexual – os

papéis desempenhados. Portanto não nascemos homem ou mulher – aprendemos

a ser homem ou mulher.

Os papéis sexuais exercem forte poder sobre o indivíduo, tanto que a

forma de expressão da sexualidade vai depender muito do papel social

desempenhado por homens ou mulheres. O tabu que pesa sobre a iniciativa

sexual das mulheres, por exemplo, tem muito a ver com o papel de subordinação

que a sociedade estabelece para o sexo feminino.

Parece que nascer menino ou menina implica, quase que

automaticamente, uma predisposição do desempenho adulto esperado para

aquela criança.

Podemos concluir que influenciados a nos comportar conforme o

padrão homem ou mulher, desprezamos a riqueza de nosso mundo interior e

somos impostos a viver os modelos instituídos de homem ou mulher.

A construção da identidade sexual se dá em torno dos dois anos e

meio. A forma como a pessoa se identifica sexualmente, é como ela irá se ver.

O papel sexual é como o indivíduo se apresenta para o outro e a

orientação sexual é como se apresenta sexualmente.

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4- ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO TEMA TRANSVERSAL

Todo comportamento precisa ser avaliado dentro de um contexto

social e cultural. O social que dita normas e quem estabelece os padrões de

funcionamento e comportamento de uma dada sociedade. A questão da

sexualidade deve ser pensada de forma contextualizada, dentro do contexto

familiar e escolar. Os valores que se atribui à sexualidade é produto do sistema

sociocultural onde se está inserido.

A escola, como um espaço educacional precisa transmitir a

orientação sexual de forma explícita, para que possa ser tratada de forma simples,

direta, flexível e sistemática pela comunidade escolar.

A proposta do tema transversal tem como meta favorecer a

problematização da questão para que surja desse ponto, a reflexão e a

resignificação das informações, emoções e valores que foram herdados

historicamente, que muitas vezes dificultam o desenvolver das potencialidades

humanas.

Pretende-se abordar a questão da sexualidade não reduzindo-a à

ótica da biologia, mas, principalmente valorizando aspectos que estão diretamente

envolvidos nessa sexualidade, que são aspectos sociais, culturais, políticos,

econômicos e psíquicos.

Sabe-se que o tema está diretamente associado a preceitos, tabus,

crenças ou valores particulares. Para que o trabalho de orientação possa

transcorrer de maneira efetiva, respeitando a visão pluralista que o assunto

demanda, faz-se necessário que as crenças, valores e questionamentos possam

encontrar um ponto de apoio, para que se equacione os intervenientes que

dificultam ou impedem as diversas formas de expressão. O diálogo, a reflexão são

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práticas que favorecem a instalação do respeito pelo outro. Esse alicerce é o que

vai sustentar as diferenças que encontramos nas relações. Tudo isso contribuirá

para que a criança gradativamente vá construindo e significando os seus próprios

valores.

A decisão por incluir a Orientação Sexual nos PCN sob a forma de

tema transversal, nos leva a afirmar que o tema tem um campo amplo que deve

ser explorado pelas diversas áreas do conhecimento. A transversalidade do tema

possibilitará que o tema seja permeado por toda a prática educativa.

A atuação se dará dentro de cada área especificamente,

considerando as característica de cada área, ou seja, um trabalho integrado

dentro das diversas áreas. Cada área abordará a temática através da sua própria

proposta de trabalho.

Quando se deseja a implantação de um trabalho de Orientação

Sexual, tem que se estar disponível para o surgimento do novo, pois surgem

questões que às vezes podem não estar articulada com as diversas áreas – seja

porque se referem a uma dinâmica natural do dia-a-dia escolar. Onde certas

situações se apresentado em caráter emergencial exige do professor, flexibilidade,

disponibilidade e abertura para trabalhar com as questões.

Neste sentido o trabalho de orientação sexual deverá acontecer de

duas formas distintas, embora não excludentes, dentro de um planejamento

através dos conteúdos já transversalisados nas diferentes áreas, e extra-

programação, sempre que houver demanda em relação ao tema.

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CONCLUSÃO

Concluímos com o estudo realizado, que à escola exerce grande

influência no desenvolvimento da sexualidade infantil.

A inclusão da temática sobre sexualidade na escola é importante

pelo assunto representar um eixo fundamental no percurso do desenvolvimento

infantil.

Embora o espaço escolar ainda não esteja totalmente aberto para o

exercício da reflexão e discussão a cerca do tema, ainda assim avançamos

significativamente nas últimas duas décadas.

No momento em que a orientação sexual passou a ser mais uma

competência da escola, ela passou a ser responsável pelo pleno desenvolvimento

da sexualidade infantil, no sentido em que deve ser o veículo da transmissão.

Transmissão essa, baseada na ética, na ética da verdade, não absoluta, pois esta

ninguém tem, mas a verdade singular de cada sujeito. A escola deve entender que

a orientação que lhe cabe oferecer é no sentido de possibilitar a problematização,

fomentar questionamentos e com isso contribuir para a ampliação do leque de

conhecimentos e opções, para que o aluno, ele próprio escolha seu caminho. Não

ditar regras baseadas na moral e sim abrir um espaço para que as crianças

possam esclarecer as suas dúvidas e continuar criando suas formulações,

diminuindo dessa forma as ansiedades que muitas vezes interferem no

aprendizado dos conteúdos escolares.

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Quando a escola reconhecer que desempenha um papel importante

na educação para uma sexualidade ligada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-

estar, estará exercendo o seu papel primordial, pois estará trabalhando para o

desenvolvimento global do ser humano, abarcando as suas necessidades e

curiosidades, não apenas no que tange o corpo biológico, mais indo além,

atingindo as dimensões culturais, afetivas e sociais contidas nesse mesmo corpo.

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