universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · vulneráveis aos maus tratos, na família e...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA:
Desconstruindo antigos conceitos e vivenciando novas
perspectivas
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Por: Ednalva da Silva Maia Paiva<>
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Orientador
Prof. Eduardo Brandão
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Psicologia
Jurídica.
Por: Ednalva da Silva Maia Paiva
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AGRADECIMENTOS
A Deus toda glória, honra e louvor, reconheço a tua graça em meu favor! As minhas filhas, que sempre me incentivaram e me proporcionaram condições favoráveis durante os períodos de estudos, me compreenderam, demonstraram em todo tempo o seu amor e me alegraram mesmo nos momentos conturbados. Amo Vocês!!!!!! Marido, você me impulsionou a chegar aqui. Te amooooo!!!!!! Irmãs queridas, Edilene, Evani, Etiene e Denise muito Obrigada! Amigas, infelizmente não posso citar nomes, mas o carinho e as orações me fizeram superar os obstáculos e chegar aqui! Rosana Mello você é uma pessoa muito especial na minha vida, está sempre disponível, me acalma e contribui para o meu êxito! Aos professores, obrigada pela dedicação, apoio e compreensão. Amo Vocês!!!
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DEDICATÓRIA
.....dedico este título a minha mãe Maria
Helena da Silva (In Memorian), pelo seu
incentivo, dedicação e que eu tive a honra
lutar pelos seus direitos como idosa e de
oferecer meu carinho e cuidados de filha até o
seu último suspiro.
O seu olhar não foi um Adeus e sim um
incentivo a prosseguir na minha carreira.
Você vive prá sempre dentro de mim!!! Te
amo mãezinha!!!!!
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo abordar a questão da violência contra a pessoa
idosa.. A complexidade da questão do envelhecimento e suas implicações são analisadas
com base em levantamento bibliográfico de trabalhos nacionais e internacionais.A
seguir, são discutidas as formas de Violência contra a Pessoa Idosa, características de
cada uma delas, perfil dos agressores e com enfoque multi e interprofissional.
Analisaremos as dificuldades enfrentadas pelos profissionais que trabalham com a
violência contra o idoso, os documentos legais que sustentam sua ação profissional com
a interlocução da Psicologia Jurídica integradas as outras áreas do conhecimento.
Visamos à promoção da pessoa idosa, bem como as formas de erradicação dos estigmas
existentes e as formas de violência, através da conscientização social e efetivação dos
direitos sociais.
Palavras-chave: Violência contra a pessoa idosa, direitos sociais, psicologia jurídica,
qualidade de vida.
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METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho foram utilizados métodos de pesquisa
bibliográfica, selecionadas minuciosamente e revisadas através da leitura de autores
referenciados no tema: “Violência contra a Pessoa Idosa” e como se trata de um tema
complexo e de ampla relevância, estendemos esta temática em diversas áreas de
conhecimento, porém enfatizamos o contexto psicológico, social e da psicologia
jurídica, bem como a legislação pertinente a este segmento populacional.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O Processo do Envelhecimento e seus aspectos 10
CAPÍTULO II - Violência contra a Pessoa Idosa 20
CAPÍTULO III – Direitos da Pessoa Idosa 28
CAPÍTULO IV - Construção da Nova Imagem do Idoso 48 CONCLUSÃO 55
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 57
BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 59
ÍNDICE 63
FOLHA DE AVALIAÇÃO 64
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INTRODUÇÃO
Em todo o mundo o contingente de idosos tem crescido consideravelmente e o
Brasil já pode ser considerado um país estruturalmente envelhecido, em decorrência
deste quadro as expressões da questão social tem se manifestado de diversas formas e
neste trabalho queremos salientar a violência contra a pessoa idosa como eixo central,
porém para isto faz-se necessário discorrer todo contexto sobre o qual este segmento da
população está inserido.
Primeiramente precisamos compreender o processo do envelhecimento, que em
ritmo acelerado no Brasil cria novos desafios para a sociedade brasileira
contemporânea. O envelhecimento populacional ocorre num cenário de profundas
transformações sociais, urbanas, industriais e familiares e precisa ser compreendido sob
os aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
O fenômeno do envelhecimento tem ganhado visibilidade em âmbito nacional e
internacional e a problemática a cerca da violência contra este segmento tem se
repercutido e sido tema de destaque nas agendas das políticas sociais, cuja vitimização
dos idosos passa a ser discutida como um problema cultural. A violência está presente
em todo contexto social e político. Contudo a fragilidade dos idosos os torna
vulneráveis aos maus tratos, na família e até mesmo na sociedade.
Faremos também uma ampla reflexão sobre os direitos da pessoa idosa com
diversos autores, tais quais cito Maria Cecília Minayo, Vicente de Paula Faleiros e
Maria Adelaide de Freitas Caires, a ação profissional dos agentes que trabalham
juntamente com o fenômeno da violência, medidas de prevenção e ferramentas que
subsidiem sua prática, no sentido de erradicar a violência, desconstruir os estigmas
outrora adquiridos e promover a dignidade da pessoa idosa. E para o último capítulo
reservamos a nossa proposta, que tão importante quanto à erradicação da violência
contra a pessoa idosa é a promoção da pessoa idosa na atual sociedade, pois ao sabemos
que a probabilidade da expectativa de vida dos brasileiros cresce a cada dia e desde já
temos que nos preparar para o grande aumento da população idosa no Brasil e como cita
Mascaro (2004): “essa experiência leva-nos à consciência de que a expectativa de vida
vai além do estar vivo, é o viver com qualidade, isto é: querer viver, gostar de viver e
poder viver com dignidade.”
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Onde uma boa qualidade de vida na velhice não é um atributo do indivíduo
biológico, psicológico ou social, nem uma responsabilidade individual, mas sim, um
produto da interação entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em mudança.
Portanto este trabalho tem como objetivo desconstruir os preconceitos
construídos socialmente sobre a pessoa idosa, promover este público alvo e construir
sua nova imagem, potencializando-a, valorizo-a, buscando resgatar sua cultura,
atividades, sentimentos e sua auto- estima, concluindo com algumas reflexões a cerca
do presente e futuro da pessoa idosa.
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CAPÍTULO I
O processo de envelhecimento e seus aspectos
1. O Processo de envelhecimento
Envelhecer é um processo, inerente a todos os seres humanos, se inicia durante a
concepção e segue o curso natural, dia após dia, onde a cada instante envelhecemos. Ao
seu tempo, todos envelhecerão, os mais jovens um dia se tornarão idosos. Esse processo
independe de nós.
O envelhecimento como um processo fisiológico não está necessariamente ligado
à idade cronológica (NERI,1999) e sim com a capacidade do organismo de responder às
necessidades da vida cotidiana, a estrutura física e a motivação psicológica para
continuar na busca de objetivos e novas conquistas pessoais e familiares.
Os autores MASCARO E DEBERT acrescentam ainda, que o envelhecimento é
uma fase natural da vida humana. E, neste sentido, para esses autores, o envelhecimento
pode ser entendido como: um processo comum a todos os seres que depende e será
influenciado por múltiplos fatores (biológicos, econômicos, sociais. psicológicos,
culturais, entre outros) conferindo a cada um que envelhece características
particulares. É um processo dinâmico e progressivo, em que as modificações tanto
morfológicas, como as funcionais e as bioquímicas podem interferir na capacidade de
adaptação do indivíduo ao meio social em que vive, tornando- o mais vulnerável aos
agravos e doenças, comprometendo sua qualidade de saúde. Assim sendo podemos
considerar que o envelhecimento é uma fase natural da vida humana e está associado a
um processo biológico de declínio das capacidades físicas, relacionado a novas
fragilidades psicólogas e comportamentais.
RODRIGUES (2003) vê o envelhecimento “como um período de perdas propício
a novas conquistas”, pois com o envelhecer mudanças biológicas, psicológicas e sociais
ocorrem no ser humano, afetando seus hábitos de vida e rotinas. É neste período que a
pessoa geralmente passa a ocupar-se de atividades menos ativas e reduz seu
desempenho físico, suas habilidades motoras, sua capacidade de concentração, de
reação e de coordenação.
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É de suma importância que os idosos possam usufruir de melhores condições,
vivam bem e com saúde, para que os impactos que são decorrentes da velhice,
juntamente com as alterações fisiológicas, psicológicas e cognitivas, próprias do
processo de envelhecimento, e as modificações e intensificações sociais, físicas,
políticas e morais que ocorrem simultaneamente no ambiente não sejam traduzidas
como sofrimento.
Contudo, torna-se necessário definir quem é o idoso ou a terceira idade (nova
terminologia do idoso) na sociedade contemporânea.
É a constatação de uma nova etapa de vida compreendida entre a idade adulta e a
velhice. Categoria de idade, como as demais, opera em recorte no todo social, com
direitos e deveres diferenciais característicos dessa população. As categorias de idade
são constitutivas de realidades sociais específicas (BRANDÃO, 2009) e segundo
DEBERT (1999), “(...) a terceira idade é um termo inventado para reincorporar os mais
velhos na sociedade, criando um mercado e padrões de consumo específicos aos idosos,
além de programas que visam transformar o envelhecimento em um momento propício
para o prazer e a realização pessoal”.
Para tal, reconhece-se a existência de diferentes critérios para a demarcação do
que venha a ser um “idoso”. Assim sendo, para definir a população idosa são utilizadas
algumas terminologias. A terminologia mais comum baseia-se numa abordagem
cronológica pelo limite da idade, como é o caso, por exemplo, da definição da Política
Nacional do Idoso – PNI (Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994) que, no seu artigo 2º,
relata: “Considera-se idoso, para os efeitos desta Lei, a pessoa maior de sessenta anos de
idade”, ou seja, a idade de 60 anos marca o início do período convencionado como
terceira idade. O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003), no seu
artigo 1º, diz “É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos” e, dessa
forma, apóia a definição da PNI. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera
como pessoa idosa aquele habitante de país em desenvolvimento com 60 anos ou mais
e, no caso do habitante de um país desenvolvido, com 65 anos ou mais.
A terceira idade vem acompanhada de um conjunto de práticas, instituições e
agentes especializados encarregados de definir e atender às necessidades dessa
população. Novas definições da velhice e do envelhecimento ganharam visibilidade
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com a expressão “terceira idade”. O significado do envelhecimento vem incorporando
novas designações, tais como, “nova juventude”, “idade do lazer”. A aposentadoria
deixou de ser sinônimo de descanso e recolhimento e passou a ser atividade, lazer,
realização pessoal. O importante não é só resolver problemas econômicos dos idosos,
mas proporcionar cuidados culturais e psicológicos, objetivando integrar socialmente
uma população vista como marginalizada (DEBERT, 1999).
Geralmente, a velhice está ligada às modificações do corpo, com o aparecimento
das rugas e dos cabelos brancos, com o andar mais lento, diminuição das capacidades
auditiva e visual, é o corpo frágil. Essa é a velhice biologicamente normal, que evolui
progressivamente e prevalece idade cronológica (idade numérica) da idade biológica
(idade vivida). Para eles, tanto o homem quanto à mulher se encontra na terceira idade
por parâmetros físicos, orgânicos e biológicos.
A pesquisa antropológica tem demonstrado que as fases da vida, como a infância,
a adolescência e a velhice, não são propriedades substanciais que o indivíduo adquire
com o avanço da idade cronológica. As categorias de idade são construções históricas e
sociais. Há trabalhos de diferentes autores que são unânimes em afirmar que os
comportamentos em diferentes idades correspondem aos estímulos da natureza social,
histórica e cultural que caracterizam diferentes épocas (DEBERT, 2007).
Uma boa qualidade de vida na velhice não é um atributo do indivíduo biológico,
psicológico ou social, nem uma responsabilidade individual, mas sim, um produto da
interação entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em mudança. Para
avaliar a qualidade de vida na velhice, a autora referencia indicadores pertencentes a
quatro áreas (NERI, 1999): a competência comportamental, que se refere ao
funcionamento pessoal quanto à saúde, à funcionalidade física, à cognição, ao
comportamento social e à utilização do tempo pelo idoso; a qualidade de vida percebida,
que está relacionada ao auto julgamento do idoso sobre a sua funcionalidade física,
social e psicológica, bem como sobre sua competência comportamental nessas áreas;
condições contextuais, que compreendem as situações relativas à experiência de
velhice; o bem-estar psicológico, que está relacionado ao domínio das percepções, das
expectativas, dos sentimentos e dos valores.
As representações sobre a velhice, a posição social dos idosos e o tratamento que
ele recebe da sociedade ganham significados diversos conforme os contextos da sua
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época. O idoso caracterizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os países
em desenvolvimento, que é o caso do Brasil é o indivíduo com idade igual ou superior a
60 anos.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde- OPAS, envelhecer é:
Um processo seqüencial, individual, acumulativo, irreversível, não
patológico, de deteriorização de um organismo maduro, próprio a
todos os membros de uma espécie, de maneira que os torne menos
capaz frente ao estresse do meio ambiente, aumente sua possibilidade
de morte. (OPAS, 1993, p.6)
Para MASCARO (2004), o envelhecer deve ser observado dentro de um
contexto amplo, que se deve analisar a natureza biológica, psicológica, social,
econômica, ambiental e cultural de cada um e relacionando-as entre si, pois, envelhecer
é um processo natural do homem, queiramos ou não estamos envelhecemos dia após
dia, visto que “Envelhecer é um processo fisiológico e natural pelo qual todos os seres
vivos passam, e em especial o ser humano”.
RODRIGUES (2003) vê o envelhecimento “como um período de perdas,
propício a novas conquistas”, pois com o envelhecer mudanças biológicas, psicológicas
e sociais ocorrem no ser humano, afetando seus hábitos de vida e rotinas. É neste
período que a pessoa geralmente passa a ocupar-se de atividades menos ativas e reduz
seu desempenho físico, suas habilidades motoras, sua capacidade de concentração, de
reação e de coordenação.
A longevidade tem implicações importantes para a qualidade de vida, podendo
trazer problemas com conseqüências sérias nas diferentes dimensões da vida humana:
física, psíquica e social. Viver mais pode resultar numa sobrevida marcada por
incapacidades e dependência. Sobrevida aumentada não garante, por si, uma vida com
boa qualidade. Os resultados possíveis da transição epidemiológica, que resultou da
transição demográfica, são o aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas,
com suas seqüelas e complicações, levando a incapacidades, dependência e necessidade
de cuidados de longa duração e de instituições de longa permanência. Os anos a mais
podem ser de sofrimento, angústia e desesperança. Para os indivíduos e suas famílias,
esta fase é demarcada por doenças, declínio funcional, aumento da dependência, perda
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da autonomia, isolamento social e depressão. Fatores estes que relacionados à idade
afetam a saúde, dimensão importantíssima para a qualidade de vida na velhice. É nessa
fase da vida que ocorrem diversas situações social tais como: a aposentadoria, viuvez,
perda de papéis sociais, diminuição da rede social de apoio e do suporte social,
isolamento, solidão, depressão, perda do senso de controle pessoal (autonomia) e do
senso de significado pessoal e falta de um sentido para a própria vida, colocando
obstáculos a uma vida de melhor qualidade.
Assim sendo, um dos grandes desafios que a longevidade aumentada nos coloca
é o de conseguir com que os anos vividos a mais, quantos forem não importam, sejam
plenos de significado, levando a uma vida digna e respeitosa, que valha a pena ser
vivida.
Segundo Marisa Accioly Domingues e Alice Moreira Dernt1, o aumento da
longevidade pode ser atribuído à diversos fatores que incluem os avanços da ciência
médica, a melhoria dos aspectos relacionados ao saneamento ambiental, acompanhados
de novas formas de organização familiar, social, cultural, econômica e política,
presentes na contemporaneidade.
Análises demográficas têm apontado a tendência de envelhecimento da
população mundial, e as projeções para o Brasil indicam que em 2050, o percentual de
pessoas com sessenta anos ou mais atingirá 23% da população total, representando
significativo acréscimo em relação aos 9% atuais (ONU, 1999).
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro (IBGE), o Brasil vem apresentando,
em seu contexto populacional, uma quantidade nunca vista de idosos, sendo que o grupo
etário de 60 anos ou mais é o que apresenta maior crescimento.
Os dados apontados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -PNAD
(2006) apontam essa tendência de crescimento da população idosa no Brasil, este
segmento etário alcançou no referido ano o total de 19 milhões de pessoas com 60 anos
ou mais e superou 13 milhões no grupo etário de 65 anos ou mais, correspondendo a
10,2% e 7,1% do total da população, respectivamente. Podemos apontar que o aumento
da expectativa de vida é uma das conquistas sociais do século XX.
1 Marisa Accioly Domingues, Profª Drª da Faculdade de Saúde Pública da USP, Profª Drª do Curso de Gerontologia, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e Alice Moreira Derntl Profª Drª da Faculdade de Saúde Pública da USP
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Como aponta CAMARANO (2004), nas seis últimas décadas do século passado, a
população de idosos cresceu de 1,7 milhões em 1940 a 14,5 milhões em 2000. Estima-
se que, em 2025, haverá mais de 30 milhões de idosos no Brasil (IBGE, 2008). Esse
crescimento expressivo no segmento populacional de 75 anos ou mais de idade é
atribuído aos avanços da medicina moderna, terapêutica medicamentosa e ao acesso a
serviços sociais e de saúde, dentre outros fatores.
A partir destas informações é importante salientar que o Brasil é um país demarcado
pelas desigualdades sociais, culturais, políticas e econômicas, a velhice poderá vir
acompanhada pelo déficit na habitação, nutrição, saneamento, condições de educação e
trabalho, sendo apoiado pela citação de MASCARO (2004,), “o idoso brasileiro, é em
geral pobre, vivendo uma situação econômica e social de muita dificuldade”. Assim
sendo o idoso é visto como um fardo, um improdutivo. Mas cabe ressaltar que o idoso,
assim como o jovem necessita de amor, segurança, respeito, adquirir novos
conhecimentos e
experiências, ser útil, enfim, de valorização de si mesmo. É evidente a desvalorização
do idoso, pois o preconceito, tabus e mitos sobre o envelhecimento estão
vivos na sociedade. Mas à medida que se propõe uma educação ou re-educação da
sociedade este processo será invertido e então o idoso será valorizado. E esta re-
educação, que é para todos e com certeza proporcionará uma melhor qualidade de vida
aos mesmos.
Para FALEIROS (2007), em estudo apresentado durante o Seminário Projeto
Pessoas Idosas, Dependência e Serviços Sociais - “O envelhecimento da população gera
um impacto na família e na sociedade. É preciso preparar a sociedade para este quadro”,
enfatizou o sociólogo. A mudança no perfil sócio-demográfico dará mais visibilidade ao
envelhecimento e aos idosos, contribuindo para a conquista de uma identidade social
positiva a fim de atingir o envelhecimento ativo.
1.1. - Aspectos biológicos.
Envelhecer é um processo geralmente considerado de maneira extremamente
desagradável, pois o indivíduo começa a sentir que, em muitas habilidades biológicas,
sociais não conseguem se desenvolver como costumava ser, devido a isso, chega-se
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pensar a velhice como sinônimo de doença, fraqueza e improdutividade, invalidez.
Neste contexto, as doenças crônico-degenerativas assumem papel fundamental como
principais responsáveis pela morbi-mortalidade em nosso país, com sérias
conseqüências econômicas e sociais, resultando em implicações na qualidade de vida da
população e causando grande impacto no custeio da saúde.
Hoje, as doenças crônico-degenerativas são o grande desafio para a organização
dos sistemas de saúde, no que toca à eficiência, eficácia, efetividade e capacidade de
responder a novas demandas. As condições crônicas, segundo a Organização Mundial
de Saúde – OMS (2002), englobam as doenças e agravos não-transmissíveis (como
Hipertensão Arterial Sistêmica, doenças cardiovasculares, Diabetes Mellitus, neoplasias
e asma), as doenças transmissíveis com evolução prolongada (como HIV-AIDS,
tuberculose, hepatite, hanseníase), os transtornos mentais (depressão, esquizofrenia,
demência) e deficiências físicas e estruturais permanentes (cegueira, amputações,
seqüelas). Essas condições trazem repercussões similares aos pacientes e famílias e
exigências comuns para o gerenciamento aos serviços de saúde, o que justifica sua
abordagem conjunta (OMS, 2002). Esta abordagem das condições crônicas exige
mudanças nos sistemas de saúde, cuja perspectiva se dá em razão dos grandes períodos
de tempo dos serviços de saúde, dos vários níveis de complexidade, a necessidade de
incorporação, pelo paciente, de novos hábitos de vida, a possibilidade de prevenção e a
previsibilidade dos eventos relacionados às condições crônicas exigem modificações
nos sistemas de saúde para maior eficácia no gerenciamento do cuidado das pessoas
portadoras dessas condições crônicas.
No entanto o envelhecimento deve ser tratado como um processo natural do
desenvolvimento humano, numa perspectiva de que cada fase da vida implica
transformações, adaptações, aceitação e construção. Transformação, uma vez que os
tecidos e os órgãos já não correspondem a atividade validada na etapa anterior, pois
ocorre aqui um desgaste e sobrecarga; adaptação, porque as mudanças não permitem
que as ações sejam desenvolvidas segundo normas e costumes estabelecidos em fases
anteriores, há que se habituar às condições agora presentes.
Quanto à aceitação, dificilmente o ser humano será feliz, construirá um projeto
de vida e o desenvolverá se não aceitar sua condição e aprender a trabalhar suas
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limitações. Havendo aceitação, conseqüentemente, haverá construção, produtividade e
bem-estar.
1.2 - Aspectos psicológicos.
Segundo estudos internacionais, 15% dos velhos necessitam de atendimento em
saúde mental, e dentro desses 15%, 2% das pessoas com mais de 65 anos apresentam
quadro de depressão, que muitas vezes não são percebidos pelos familiares e
cuidadores, sendo encarados como características naturais do envelhecimento (NERI,
2004).
O bem estar psicológico na velhice está relacionado à auto-estima, auto-conceito
e auto-imagem, conceitos estes que desenvolvem parte de nossa personalidade, eles são
essenciais para envelhecermos com saúde mental, pois na velhice é exigido uma auto-
aceitação das próprias limitações em varias situações da vida, e nesta aceitação e o
gostar de si próprio surge a paciência com as limitações que aparecem no decorrer do
envelhecimento, mas para que tudo isso seja possível é necessário saber de quem gostar
e a quem compreender. Não se trata de um excesso de valorização da nossa própria
pessoa, de arrogância ou egocentrismo, e sim gostar daquilo que somos, reconhecendo e
valorizando nossas habilidades e também aceitando nossas limitações.
Os idosos se nutrem do passado, isto é, sua trajetória origina sua própria
identidade, constituída pela representação de papéis sociais, papéis esses que vão
dimensionar essa identidade. E há uma relação entre memória e construção de
identidade social, que deve ser compreendida no processo de envelhecimento. A
memória, para o processo de envelhecimento tem lugar privilegiado na construção de
sua identidade e suas estratégias de afirmação nos espaços sociais (FERREIRA, 2003).
Este fator é muitíssimo importante, pois o estágio da velhice vem geralmente
acompanhado de associações, sentimentos destrutivos de inutilidade e perda, situação
essa que pode agravar ainda mais a condição existencial do idoso, pois além acirrar
conflitos internos, os idosos ficam sujeitos à depressão e uma série de transtornos.
De acordo com MASCARO (2004), as mudanças psicológicas mais visíveis com
o avanço da idade são: dificuldade de adaptação a novos papéis; desmotivação,
dificuldade de planejar o futuro; necessidade de trabalhar perdas e adaptar-se a
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mudanças, alterações psíquicas, depressão, hipocondria, somatização, paranóia,
suicídios e, por fim baixa auto-estima e auto-imagem.
Dentro dessa sua insegurança, geralmente o idoso quer afirmar para si e para os
outros que pode ser aceito, que é útil, que ele existe, e que sua existência está carregada
de desejos, aspirações em relação ao futuro. Esta auto-afirmação gera extrema
ansiedade. Decorrendo problemas afetivos de ordem mais complexa, que vai da perda
de ideais da juventude, a falta de sintonização com a mentalidade do seu tempo ao
desinteresse pelo cotidiano.
1.3 - Aspectos sociais.
Durante o envelhecimento o processo em que perdas e rejeições são sempre
iminentes. A pessoa idosa tende a buscar o isolamento, quer por vontade própria quer
por indução social, o fato de ter poucas ocupações sociais, ser menos solicitado pela
família e comunidade faz com este se sinta como um sujeito improdutivo, sem poder de
decisão.
MASCARO (2004) afirma que, as principais conseqüências do envelhecimento
são crise de identidade, mudanças de papéis, aposentadoria, perdas diversas e
diminuição dos contatos sociais.
A família, que deveria edificar bases emocionais e físicas para o estabelecimento
da qualidade da vida do idoso, acaba por desencadear grande conflito no que tange ao
espaço que destina ao seu membro idoso.
Quanto ao governo, percebe-se certa falta de prioridade e ausência de políticas
públicas. A proposição de políticas demanda conhecimento de causa e há pouquíssima
preocupação com questões pertinentes a este segmento. Há, sim, políticas públicas
emergenciais, assistenciais, localizadas, porém nada de caráter preventivo.
A inatividade profissional dos indivíduos considerados idosos é o fator que
acarreta maiores mudanças em relação a um estilo e ritmo de vida, exigindo grandes
esforços de adaptação, onde parar de trabalhar significa a perda do papel profissional, a
disfunção de papéis junto à família e à sociedade. O distanciamento do aposentado da
convivência com diversos grupos faz com que a sociedade também se distancie do
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aposentado, deixando de convidá-lo a participar e não reconhecendo a sua existência
social.
Segundo BRUNO (2005), “A fragilidade dos velhos é muitas vezes suficiente
para separar os que envelhecem dos vivos. Sua decadência os isola”. Podem tornar-se
menos sociáveis e seus sentimentos menos calorosos, sem que se extinga sua
necessidade dos outros. Isso é o mais difícil: o isolamento tácito dos idosos, o gradual
esfriamento de suas relações com outras pessoas a quem eram afeiçoados, a separação
em relação aos seres humanos em geral, tudo que lhes dava sentido e segurança.
É importante ressaltar que há diversas formas de violência e maus tratos
relativos à pessoa idosa e acontece em diversos setores da sociedade. Para ressaltarmos
esta afirmativa veremos como exemplo a aposentadoria, que embora tenha como
proposição a garantia de direitos e de inclusão social numa sociedade democrática
brasileira, seus valores, do ponto de vista econômico, não permitem o atendimento
satisfatório de suas necessidades de sobrevivência, especialmente dos mais pobres,
requerendo maior demanda de recursos tanto do seu sistema de apoio formal
(Estado/Sociedade Civil) como do informal (família).
Apesar do envelhecimento da população ser um problema ainda recente nos
países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, podemos prever seus efeitos
econômicos e sociais, que só tenderão a crescer com o passar dos anos.
Em face de este panorama, buscaremos refletir como a sociedade civil e o
governo tem se mobilizado no sentido de construir políticas públicas e institucionalizar
direitos no sentido de reduzir as desigualdades sociais experimentadas por esse
segmento.
Enquanto o idoso não deixar de ser considerado um problema social e não parte
de uma solução política cultural, não haverá reconhecimento e a velhice será tida apenas
como fim da existência.
Outro aspecto que merece destaque é a violência contra a pessoa idosa, problema este
que abordaremos no próximo tópico
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CAPÍTULO II
2. VIOLENCIA CONTRA A PESSOA IDOSA NO BRASIL
O tema violência contra o idoso tornou-se evidente nos estudos científicos a partir
da década de 70, quando se iniciaram os estudos sobre a violência intrafamiliar. No final
desta década e no início da década de 80, surgem alguns estudos, mesmo que
incipientes, conforme FALEIROS (2007): “apesar dos avanços, não se chegaram a
precisar os critérios com exatidão quando uma situação deve ser considerada abusiva”.
A partir disso, foram aprofundados os conceitos de abuso físico, emocional, sexual e
econômico contra idosos. Ainda na década de 80, foram construídas conceituações
sobre maus-tratos e negligência contra as pessoas idosas.
No Brasil, Faleiros (2007) relata que MINAYO et al. (2005), adotando o enfoque da
saúde, realizou trabalhos de estudo da violência contra idosos nos quais causas externas
da morbidade e da mortalidade entre idosos são evidenciadas e’ contribuem na reflexão
teórica e no levantamento de dados através da articulação com a International Network
for the Prevention on Elder Abuse – INPEA.
Nos séculos XX e XXI, ocorre o fenômeno do envelhecimento populacional. Este
crescimento da população idosa repercute na publicização das informações produzidas
sobre ela, tornando-a um tema em destaque nas agendas das políticas sociais, trazendo à
tona a questão da violência contra o idoso. A vitimização dos velhos passa a ser
entendida como um fenômeno cultural, de raízes seculares. Durante muito tempo os
diversos atos de violência contra o idoso foram tidos como problemas particulares de
cada família, não tendo relevância social e pouca ou nenhuma intervenção por parte do
Estado.
A violência contra o idoso está disseminada na sociedade e se expressa, com
diferenças regionais, nas relações entre as gerações, na família e nas instituições
públicas ou privadas. Com o fenômeno do envelhecimento populacional, a violência
contra os idosos tornou-se um tema de debates entre os estudiosos e as pessoas
interessadas nesta questão, pois tem aparecido de uma forma cada vez mais significativa
nas relações familiares, devido ao empobrecimento das famílias e ao aumento da
importância destas no cuidado e na proteção de seus membros.
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A questão da violência contra o idoso está em todo contexto social e político em
que se produzem e reproduzem as relações de violência entre os indivíduos e entre as
gerações. Para tanto, esta temática tem sido amplamente discutida mundialmente, do
contexto histórico de construção, abordando as definições para este fenômeno, as
diferentes dimensões desta questão e de como ela se manifesta nas relações cotidianas.
Segundo os dados estatísticos da OMS (2008), já podemos considerar o Brasil
um país estruturalmente idoso e a partir da literatura internacional e nacional, sabemos
que a violência contra a população idosa é problema universal. Estudos de diferentes
culturas vistas de forma comparativa têm demonstrado que pessoas de todos os status
sócio-econômicos, etnias e religiões são vulneráveis aos maus tratos na velhice, e que o
fato de que em 2025, teremos mais de 22 milhões idosos exige que haja
reconhecimento social da violência contra o idoso, que são de natureza física, sexual,
emocional, financeira ou fruto de negligências.
Com esse aumento da população de idosos na sociedade brasileira, é evidente
que haja mudanças na dinâmica e no perfil deste segmento e é relevante repensarmos a
questão da violência em todos os âmbitos. Neste caso a família possui um papel
importantíssimo, pois muitos idosos encontram-se em situação de abandono e são
vítimas de diversas formas de violência e maus tratos dentro do âmbito familiar.
A violência é o tipo de crime mais trágico praticado contra o idoso. É
considerado trágico pelo fato de quem o comete ser, quase sempre, alguém que tem uma
relação muito próxima com a vítima. De acordo com a Rede Internacional Para a
Prevenção de Maus-Tratos contra o Idoso (INPEA2, 2007), adotou-se a definição
elaborada em 1995 na Inglaterra. “O maltrato ao idoso é um ato (único ou repetido) ou
omissão que lhe cause dano ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual
exista expectativa de confiança”. O maltrato é considerado sinônimo de abuso, que
também se reflete em violência contra o idoso. Quando, porém, se menciona o tema do
abuso e maltrato ao idoso, as pessoas pensam apenas nos abusos que ocorrem nas
instituições ou em crimes nas ruas, onde estes estão vulneráveis e incapazes de se 2 The Internation Network for the Prevention Elder Abuse (Rede Internacional de Prevenção de Maus-Tratos a Idosos) foi fundado em 1997 e se dedica à disseminação global de informações como parte do seu compromisso com a prevenção de violência a idosos em todo o mundo. Reconhecendo as diferenças culturais, educacionais e de estilo de vida das diferentes populações no mundo, o INPEA busca capacitar a sociedade, por meio da colaboração internacional, a reconhecer e responder aos maus-tratos a idosos em qualquer situação que ocorram, para que os últimos anos de vida das pessoas sejam livres de maus-tratos, negligência e exploração. Maiores informações no site www.inpea.net
22
defenderem. No entanto também são abusados por aqueles em quem mais confiam, ou
seja, aqueles com quem convivem.
2.1 - TIPOS DE VIOLÊNCIA
A violência contra a pessoa Idosa manifesta-se de três formas principais: Estrutural – desigualdade social provocada pela pobreza e a discriminação expressada
de múltiplas formas (Só 25% dos idosos no Brasil vivem com três salários mínimos ou
mais).
Institucional – é aquela levada a efeito pelas instituições assistenciais de longa
permanência (Em vários asilos e clínicas os idosos são maltratados, despersonalizados,
destituídos de qualquer poder e vontade, faltando-lhes alimentação, higiene e cuidados
médicos adequados). Também refere-se a aplicação ou omissão na gestão das políticas
sociais (serviços de saúde, assistência, previdência social).
Interpessoal – ou familiar, refere-se às interações e relações do cotidiano. Abusos e
negligências, problemas de espaço físico nas residências.
Além destas, outras categorias foram estabelecidas internacionalmente para designar as
diversas formas de violência mais praticadas contra a pessoa idosa.
Na cartilha produzida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, "Violência
contra Idosos (VCPI) – o Avesso de Respeito à Experiência e à Sabedoria", escrita pela
professora Maria Cecília Minayo3 é definida a tipologia das diversas formas de
violência contra a pessoa idosa. São elas:
2.1.1 - Violência Física: é o uso da força física para compelir os idosos a fazerem o
que não desejam, para feri-los, provocar dor, incapacidade ou morte.
2.1.2 - Violência Psicológica: corresponde a agressões verbais ou gestuais com o
objetivo de terrorizar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar do convívio
social.
3 Maria Cecília de Souza Minayo, Professora, Doutora, Pesquisadora de carreira do CNPQ e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz.
23
2.1.3 - Violência Sexual: refere-se ao ato ou jogo sexual de caráter homo ou
hetero-relacional, utilizando pessoas idosas. Esses abusos visam a obter
excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência
física ou ameaças.
2.1.4 - Abandono: é uma de violência que se manifesta pela ausência ou deserção
dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de prestarem
socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção e assistência.
2.1.5 - Negligência: refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos e
necessários aos idosos por parte dos responsáveis familiares ou institucionais. A
negligência é uma das formas de violência mais presente no país. Ela se
manifesta, freqüentemente, associada a outros abusos que geram lesões e
traumas físicos, emocionais e sociais, em particular, para as que se encontram
em situação de múltipla dependência ou incapacidade.
2.1.6 - Violência Financeira ou econômica: consiste na exploração imprópria
ou ilegal ou ao uso não consentido pela pessoa idosa de seus recursos
financeiros e patrimoniais.
2.1.7 - Auto-negligência: diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua
própria a saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si
mesma.
2.1.8 - Violência Medicamentosa: é administração por familiares, cuidadores e
profissionais dos medicamentos prescritos, de forma indevida, aumentando,
diminuindo ou excluindo os medicamentos.
2.1.9 - Violência Emocional e Social: refere-se à agressão verbal crônica,
incluindo palavras depreciativas que possam desrespeitar a identidade, dignidade
e auto-estima. Caracteriza-se pela falta de respeito à intimidade; falta de respeito
24
aos desejos, negação do acesso a amizades, desatenção a necessidades sociais e
de saúde.
Podemos observar no conceito que existem três fatores determinantes:
• Um vínculo significativo e pessoal que gera expectativa e confiança;
• O resulto de uma ação: dano ou o risco significativo de dano;
• A intencionalidade ou não intencionalidade.
Além destes fatores acrescentaremos algumas características do agressor e alguns
indicadores de maus-tratos identificados contra a pessoa idosa, de acordo com
MINAYO (2004)
CARACTERÍSTICAS DO AGRESSOR:
• Vive, na maioria das vezes, na casa da própria vítima;
• Filhos dependentes financeiramente;
• Familiar que responde pela manutenção do idoso sem renda;
• Usuário de álcool e/ou drogas;
• Alguém que se vinga do idoso com quem mantinha vínculos afetivos frouxos.
INDICADORES DE MAUS-TRATOS:
• Perda de peso;
• Desnutrição/desidratação sem uma patologia de base;
• Marcas na pele, hematoma, queimaduras e feridas;
• Higiene deficiente;
• Vestimenta suja e inapropriada para o clima.
2. 2 - Alguns dados sobre violência contra a pessoa idosa no Brasil:
Segundo dados do SUS há duas causas principais de morte violenta de idosos: os
acidentes de trânsito com um peso de cerca de 30%; as quedas que recobrem cerca de
20%. A seguir vêm os homicídios com 10% das mortes violentas e os suicídios com
7,5%. Para todas as causas, sobretudo as que são conhecidas como acidentais, os riscos
aumentam com o passar da idade, merecendo atenção especial das famílias, cuidadores
e autoridades.
25
No trânsito, os idosos no Brasil passam por uma combinação de desvantagens:
dificuldades de movimentos próprias da idade se somam a muita falta de respeito e
mesmo a violências impingidas por motoristas e a negligências do poder público. Uma
das grandes queixas dos idosos se refere às longas esperas nos pontos de ônibus e aos
arranques desferidos por motoristas que não os esperam se acomodar em assentos.
As quedas podem ser atribuídas a vários fatores: fragilidade física, uso de
medicamentos que costumam provocar algum tipo de alteração no equilíbrio, na visão,
ou estão associadas à presença de enfermidades como osteoporose. E tanto elas como os
acidentes de trânsito são fruto de omissão e de negligências dos familiares, das
comunidades e das instituições que deveriam acomodar as habitações e lugares onde
eles transitam a suas necessidades específicas.
As quedas podem ser atribuídas a vários fatores: fragilidade física, uso de
medicamentos que costumam provocar algum tipo de alteração no equilíbrio, na visão,
ou estão associadas à presença de enfermidades como osteoporose. E tanto elas como os
acidentes de trânsito são fruto de omissão e de negligências dos familiares, das
comunidades e das instituições que deveriam acomodar as habitações e lugares onde
eles transitam a suas necessidades específicas.
No Brasil, as informações sobre doenças, lesões e traumas provocadas por
causas violentas em idosos ainda são pouco consistentes o que também é observado na
literatura internacional. No entanto, alguns dados nos mostram a grandeza dos
problemas de violência que não chegam a matar os idosos, mas exigem internações. O
Sistema de Informações Hospitalares do SUS mostra que em média, são realizadas
110.000 internações por violências e acidentes por ano, sendo que 56% se devem a
quedas; 10% a acidentes de trânsito, sobretudo a atropelamentos; 3%, a agressões e 1%
a tentativas de suicídio. Estudos internacionais mostram que em todo o mundo as
quedas constituem a principal causa de internação entre os eventos violentos.
Freqüentemente, a violência estrutural (marcada pela desigualdade, pobreza e
miséria), a violência institucional e a violência familiar ocorrem simultaneamente.
Dentre os problemas mais freqüentes ressaltamos os abusos financeiros que constituem
a maior queixa às delegacias, às defensorias, ao ministério público e ao disque-idoso;
maus tratos e negligências provocados pelos serviços públicos de saúde, de assistência
26
social e de segurança; maus tratos e negligências em clínicas e instituições de longa
permanência e nos ambientes familiares.
É importante ressaltar a violência familiar porque cerca de 98 % da população
idosa ou vive sozinha ou com suas famílias. Pesquisas feitas em várias partes do mundo
revelam que cerca de 2/3 dos agressores dos mais velhos são filhos e cônjuges. São
particularmente relevantes os abusos e negligências que se perpetuam por choque de
gerações, por problemas de espaço físico e por dificuldades financeiras que costumam
se somar a um imaginário social que considera a velhice como ‘decadência’ e os idosos
como “descartáveis” (CNDI, 2006).
FALEIROS em entrevista em 03/08/10 á Editora Universa da Universidade
Católica de Brasília reitera todas as afirmações acima:
“De acordo com estudos, os idosos são freqüentemente vítimas de insultos e espancamentos. O que leva alguém a agredir um idoso? A questão da violência precisa ser vista na sociedade e na família. Existe o "idadismo", o preconceito em relação à idade na consideração do velho como descartável, incapaz ou atrasado. Por exemplo, na família, não é muitas vezes escutado para dar opiniões, escolher o lugar de estar, ou mesmo o programa de televisão. A violência é potencializada pelo desemprego, pelo alcoolismo ou uso de outras drogas, a baixa escolaridade e dependência do agressor em relação ao idoso e também pela história familiar de violência.”
2.3 - MEDIDAS DE PREVENÇÃO (VCPI)
Segundo os organizadores do Caderno de Violência Contra a Pessoa Idosa, é
imprescindível que adotemos medidas preventivas, cujo principal objetivo evitar as
diversas manifestações da violência contra a pessoa idosa, detectar situações e fatores
de risco e efetivar a intervenção nas suas conseqüências. A prevenção é a principal
ferramenta para subsidiar a prática assistencial cotidiana em busca da melhoria integral
da qualidade de vida das pessoas idosas, incluindo a valorização dos riscos e sobretudo
27
a intervenção dos profissionais, preferencialmente quando feita por uma equipe
interdisciplinar e para isto precisamos conhecer algumas situações e fatores que nos
ajudarão a detectar a VCPI.
• Situações e Fatores de Risco
Entre as diversas circunstâncias que podem favorecer a VCPI podemos destacar:
• A dependência em todas as suas formas (física, mental, afetiva,
socioeconômica);
• Desestruturação das relações familiares;
• Existência de antecedentes de violência familiar;
• Isolamento social;
• Psicopatologia ou uso de dependências químicas (drogas e álcool);
• Relação desigual de poder entre a vítima e o agressor.
Além das situações anteriores, podemos destacar ainda:
• Comportamento difícil da pessoa idosa;
• Alteração de sono ou incontinência fecal ou urinária que podem causar um
estresse muito grande no cuidador.
Estas características podem nos ajudar a ter uma idéia do perfil das pessoas idosas e dos
cuidadores com maior risco de situações de violência, tendo-se o cuidado de que eles
não sejam fatores de acusações. Precisamos usar com muita cautela e cuidado. O
propósito é para servir de alerta sobre a necessidade de prestar um apoio aos
profissionais que lidam com a questão e não promover uma "caça às bruxas". (Caderno
de Violência Contra a Pessoa Idosa - 2007).
28
CAPÍTULO III
3. DIREITOS DA PESSOA IDOSA
Tal qual a Infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice são fases
construídas socialmente e são reguladas por normas e critérios específicos a cada
segmento etário. Não existe um conceito legal de idoso, a legislação optou pelo critério
cronológico, de acordo com o Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/03), consideram-se
idosos as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos;
e atualmente podemos constatar um significativo aumento do número de idosos numa
perspectiva mundial.
Diante dessa realidade, é presente a preocupação da sociedade em preparar uma
velhice digna e evitar uma desestruturação social, o que conseqüentemente pode gerar o
aumento de demandas, principalmente na área da saúde e assistência social.
A preocupação com o idoso ganhou status constitucional e, atualmente, seus
direitos estão regulamentados no Estatuto do Idoso, sendo que a garantia de um
envelhecimento digno deve ser assegurada, de forma solidária, pela família, sociedade e
Estado.
A necessária observância ao princípio da dignidade humana
Ao se estudar a Constituição Federal Brasileira, identifica-se, logo em seu artigo 1º,
inciso III, um dos fundamentos da República Federativa – a dignidade da pessoa
humana. Para efetivação deste princípio, a Carta Magna elenca vários direitos
fundamentais, e entre eles, os direitos sociais, expressos no artigo 6º.
A Constituição Federal consagrou a dignidade da pessoa humana como um dos
princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito. E ao proclamar a dignidade
da pessoa humana, a Constituição consagrou um "imperativo de justiça social", um
valor constitucional supremo (PIOVESAN, 2007).
Como vértice do sistema jurídico, o princípio da dignidade humana agrega, em
torno de si, a unidade dos direitos e garantias fundamentais, expressos na Carta
Constitucional. De conteúdo amplo, abrangendo valores espirituais, como liberdade de
ser, pensar, criar, etc., e valores materiais, como saúde, alimentação, educação, moradia,
29
etc., sua observância é obrigatória e seu acatamento representa o respeito e cuidado que
o homem tem pelo homem.
Dentre os princípios fundamentais, é considerado um supra princípio que se
erradia sobre todo o texto fundamental, sendo que nenhum princípio é mais valioso para
compendiar a unidade material da Constituição que o princípio da dignidade da pessoa
humana.
Considerando que todos os seres humanos são iguais em dignidade, ninguém
pode ser tratado como mero objeto, razão pela qual SARLET (2006) reconhece ser
esse princípio o valor-guia constitucional, conforme menciona: [...] na condição de
principio fundamental, a dignidade da pessoa humana constitui valor-guia não apenas
dos direitos fundamentais, mas de toda a ordem constitucional, razão pela qual se
justifica plenamente sua caracterização como princípio constitucional de maior
hierarquia axiológico-valorativa.
O conceito de dignidade humana não é acabado. O reconhecimento e proteção
da dignidade da pessoa pelo Direito é fruto de toda uma evolução do pensamento
humano a respeito do que significa ser humano e da compreensão do que é ser pessoa.
Segundo PÉRES LUNO (2008), o princípio constitucional da dignidade humana
apresenta-se em três dimensões:
3.1- Dimensão fundamentadora – núcleo basilar e informativo de todo o sistema
jurídico-positivo;
3.2- Dimensão orientadora – estabelecem metas ou finalidades predeterminadas, que
fazem ilegítima qualquer disposição normativa que persiga fins distintos, ou que
obstaculize a consecução daqueles fins enunciados pelo sistema axiológico-
constitucional;
3.3 - Dimensão crítica – servem de critério para aferir a legitimidade das diversas
manifestações legislativas.
A dignidade é a razão de pensar e repensar o ser humano, pois para o autor: "pode-se
ter dignidade sem ser feliz, mas não é possível ser feliz sem dignidade". A dignidade,
como qualidade intrínseca da pessoa humana, é algo que simplesmente existe. É
irrenunciável e inalienável, na medida em que constitui elemento que qualifica o ser
humano. Ela é inerente ao ser humano e sua construção é histórica e concreta.
30
Cada ser humano é pessoa por ser um indivíduo único e insubstituível. A
dignidade não admite privilégios em sua significação primária. Não é um atributo
outorgado, mas uma qualidade inerente, enquanto ser humano; possui valores éticos
comuns a todos os seres humanos. A dignidade é uma qualidade axiológica que não
admite mais ou menos, e ela serve para incluir todo ser humano e não para excluir
alguns que não interessam; não pode ser usado como critério de exclusão, pois seu
significado é justamente inclusão.
O princípio da dignidade humana apresenta-se em uma dupla concepção, como
um Direito individual protetivo e como um dever fundamental dirigido a todos,
(MORAES, 2003). Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em
relação ao próprio Estado, ou em relação aos demais indivíduos. Em segundo,
estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios
semelhantes. Esse dever configura-se pela exigência de o indivíduo respeitar a
dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição exige que lhe respeite a própria.
Na efetivação dos direitos sociais há uma parcela mínima necessária à garantia
da dignidade do idoso que jamais poderá ser esquivada - o mínimo para poder viver,
compreendido como o núcleo do princípio da dignidade da pessoa humana, "o chamado
mínimo existencial, formado pelas condições materiais básicas para a existência, uma
fração nuclear da dignidade da pessoa humana à qual se deve reconhecer a eficácia
jurídica positiva ou simétrica". Este mínimo se relaciona à dimensão essencial e
inalienável da dignidade de todo ser humano, pois, segundo TORRES (2009, p. 127):
[...]” sem o mínimo necessário à existência cessa a possibilidade de sobrevivência do
homem e desaparecem as condições iniciais de liberdade”.
A dignidade humana e as condições materiais da existência não podem
retroceder além de um mínimo, do qual nem os prisioneiros, os doentes mentais e os
indigentes podem ser privados. O princípio da dignidade da pessoa humana assume a
importante função demarcatória, podendo servir de parâmetro para avaliar qual o padrão
mínimo em direitos sociais (mesmo como direitos subjetivos individuais) a ser
reconhecido.
Segundo se percebe, o referido "padrão mínimo social" para sobrevivência
incluirá sempre um atendimento básico e eficiente de saúde, o acesso à uma alimentação
básica e vestimentas, à educação de primeiro grau e a garantia de uma moradia.
31
Não há dúvida que as ponderações sobre o princípio da dignidade da pessoa
humana e o direito ao mínimo existencial possuem ampla aplicação as pessoas idosas,
pois o Estado tem o dever de protegê-las como qualquer outro cidadão, não importando
sexo, raça, cor, idade ou religião, sem omitir-se do dever constitucional de proporcionar
condições mínimas para que o idoso possa viver dignamente em sociedade.
A Constituição Federal Brasileira de 1988 consagrou os princípios da cidadania
e da dignidade da pessoa humana como princípios fundamentais do Estado Democrático
de Direito e quando o constituinte colocou estes princípios como diretriz fundamental
da República Federativa do Brasil teve a intenção de orientar "toda a atuação do Estado
e da sociedade civil em direção à efetivação desses fundamentos, diminuindo, com isso,
o espaço de abrangência da concepção de que as pessoas na medida em que
envelhecem, perdem seus direitos" (RAMOS, 2002).
Nesse sentido: A qualificação da dignidade da pessoa humana como princípio
fundamental traduz a certeza de que o artigo 1º, inc. III, de nossa Lei Fundamental não
contém apenas uma declaração de conteúdo ético e moral (que ela, em última análise,
não deixa de ter), mas que constitui norma jurídico-positiva com status constitucional e,
como tal, dotada de eficácia, transformando-se de tal sorte, para além da dimensão ética
já apontada, em valor jurídico fundamental da comunidade.
O princípio da dignidade da pessoa humana é dirigido a todos, não tolerando
qualquer tipo de discriminação e identifica um espaço de integridade a ser assegurado a
todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um respeito à criação,
independentemente da crença que se professe quanto à sua origem. A dignidade
relaciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito quanto com as condições
materiais de subsistência.
Em relação às pessoas em geral, a Constituição de 1988 inseriu, como
fundamentos, a dignidade da pessoa humana e como um dos objetivos promoverem o
bem de todos, sem nenhum preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade ou qualquer
outra forma de discriminação, conforme artigo 3º, inciso IV.
No que se refere ao idoso, ficou instituído na Constituição Federal, no Capítulo
VII, art. 229, o princípio da solidariedade familiar, segundo o qual "os pais tem o dever
de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidades", no entanto hoje, muitas dessas
32
necessidades, referentes aos idosos, não têm sido cumpridas pelos filhos e vêm sendo
atendidas por organizações alheias à família, como as instituições asilares.
O idoso também passou a integrar o rol das constantes preocupações do Estado.
Nesse aspecto, preceitua a Constituição, no art. 230, como desdobramento natural do
princípio da solidariedade, que "a família, a sociedade e o Estado têm o dever de
amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida". E mais, que "os programas
de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares" (art. 230, §1º).
A preocupação e o interesse público com a velhice foram elevados a nível
constitucional, pois é justamente nesse extremo da vida que o corpo humano se
apresenta mais frágil e a pessoa idosa já não dispõe de mecanismos necessários para
enfrentar os dissabores da vida. Devido à pessoa passar por um processo de diminuição
da capacidade adaptativa, paralelamente, há um aumento de sua dependência familiar e,
muitas vezes, da sociedade e do Estado.
E no que diz respeito do dever da família, da sociedade e do Estado, BULOS
(2008) escreve que: O amparo constitucional aos idosos é um dever da família, da
sociedade e do Estado, os quais devem assegurar sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito à vida, (CF, art. 230).
Essa previsão constitucional é conectária: do bem estar da sociedade (CF, preâmbulo);
da cidadania (CF, art. 1°, II); da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1°, III); e do
direito à saúde (CF, art. 196).
A garantia da gratuidade no sistema de transportes urbanos (art. 230, §2º, CF) se
harmoniza com a inclusão do direito ao lazer no rol dos direitos fundamentais. Como
observa Ramos (2003), "o direito ao lazer exige do Estado um conjunto de ações com
vistas a torná-lo possível". A Constituição também reconhece aos idosos o direito à
educação, visto que, muitos deles, em épocas passadas, não puderam ou não tiveram
acesso a ela.
No art. 205, a Constituição assegura que a educação é direito de todos e dever do
Estado e da família, e em complemento a este artigo, o art. 208, inciso I, preceitua que o
ensino fundamental figura como obrigatório e gratuito, assegurado inclusive sua oferta
gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.
33
O Estado, portanto, tem o dever de promover a integração social dos idosos
analfabetos mediante o desenvolvimento de "um conjunto de ações voltado a inserir os
idosos no contexto social a partir de sua integração ao sistema educacional, não se
justificando iniciativa contrária, com base no argumento de que, em razão de essas
pessoas já terem atingido idade elevada, dispensarem educação, sob pena de omissão
inconstitucional" (RAMOS, 2003).
No âmbito da seguridade social, representada pelo tripé previdência social,
saúde e assistência, a velhice recebeu atenção especial. Embora a questão da saúde e da
assistência social seja tratada em tópico específico no presente estudo, oportuno referir
o que dispõe o texto constitucional.
No que tange à saúde, o art. 196 da CF proclama que a saúde é direito de todos e
dever do Estado, sendo imperativo o atendimento integral e prioritário da parcela idosa
da população.
Já a previdência social, consoante dispositivo constitucional, deve atender, nos
termos da Lei, a idade avançada (art. 201, caput e inciso I, CF). Por sua vez, a
assistência social, prevista no art. 203 da CF, tem por objetivo, entre outros, dar
proteção à velhice.
Diante disso, claro está que a Constituição Federal reconhece vários direitos às
pessoas idosas e estabelece as diretrizes nas quais o Poder Público deve pautar suas
ações, de modo a garantir a esta parcela da população um mínimo para viver bem em
sociedade. Da mesma forma, pode-se destacar o importante papel do Estatuto do Idoso,
que veio reafirmar o que o texto constitucional preconiza, bem como relacionar outros
direitos inerentes a essa parcela da sociedade, o que veremos a seguir.
34
3.4 - Estatuto do Idoso
A promulgação do Estatuto do Idoso, Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003,
veio consagrar a proteção jurídica da terceira idade no Estado Democrático de Direito,
ampliando os direitos dos cidadãos com idade acima de 60 anos.
O Estatuto do Idoso representou uma grande conquista social e um marco na
garantia de direitos. Nele foi destacada a atenção integral à saúde do idoso pelo Sistema
Único de Saúde, assim como a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.
A Lei n° 10.741/2003, entretanto, é mais abrangente do que aquela referente à
Política Nacional do Idoso (Lei n° 8.842, de 04 de janeiro de 1994), que tinha como
prioridade as garantias da terceira idade. Na verdade, o Estatuto do Idoso manteve o que
disciplinava a Lei n° 8.842/94 e instituiu penas mais severas e abrangentes para quem
não respeitar ou abandonar o cidadão da terceira idade, bem como outras atribuições.
Com o advento do Estatuto do Idoso, foi concretizado o programa constitucional
de amparo à terceira idade, consoante previsão na Constituição Federal de 1988 e na Lei
Federal n° 8.842/94 (Política Nacional do Idoso), bem como reafirmou a obrigação da
família e sociedade como também do Poder Público para com os idosos.
Esse estatuto é lei ordinária, assumindo característica de lei complementar à
Carta Magna, com elaboração de código específico. Como necessitava de algumas
regulamentações, entrou em vigor em 03 de outubro de 2003, adquirindo eficácia em 02
de janeiro de 2004 (art. 118). Seu núcleo é eminentemente declaratório, mas em alguns
momentos possui, vários comandos constitutivos de direitos.
Como se destaca, "esse diploma normativo, como qualquer outro produto
humano, não é perfeito, mas teve a virtude de reconhecer a importância daqueles que,
ao longo de suas vidas, prestaram o seu contributo às novas gerações" (BULOS, 2008,)
O reconhecimento àqueles que construíram com amor, trabalho e esperança a
história de nosso país tem efeito multiplicador de cidadania, ensinando as novas
gerações, a importância de respeito permanente aos direitos fundamentais, desde o
nascimento até a terceira idade. O Estatuto traz a determinação de que o idoso, pessoa
com idade igual ou superior a sessenta anos, goza de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana.
35
O Estatuto, assim como a Constituição Federal, traz artigos que falam sobre a
saúde e assistência social, como o artigo 3º, que trata sobre a obrigação da família, da
sociedade e do Poder Público em assegurar direitos aos idosos, à vida, saúde à
dignidade à convivência familiar e comunitária.
A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando a estes sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-
estar e garantindo-lhes o direito à vida, inclusive por meio de programas de amparo aos
idosos que, preferencialmente, serão executados em seus lares.
Como se pode perceber, o Estatuto em seu art. 3° começa por repetir os
princípios constitucionais, garantindo ao idoso a cidadania, com plena integração social,
também trata da defesa de sua dignidade e de seu bem-estar, do direito a vida, fazendo
repúdio a qualquer espécie de discriminação, bem como referente sobre os deveres da
família.
Semelhantemente, à legislação de proteção à infância e juventude, também o
Estatuto do Idoso prevê medidas de proteção, que serão aplicáveis quando houver
ameaça ou lesão aos direitos previstos no estatuto por:
3.4.1 - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
3.4.2 - por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;
3.4.3 - em razão de sua condição pessoal.
São elas:
• Encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
orientação, apoio e acompanhamento temporários;
• Requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou
domiciliar;
• Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de
sua convivência que lhe cause perturbação;
• Abrigo em entidade; abrigo temporário.
O rol não é exaustivo e comporta outras medidas, desde que adequadas ao caso
concreto, estando a aplicação de qualquer das medidas, expressas ou não, condicionada,
porém, aos "os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares
e comunitários".
36
Em relação à saúde, dispõe do artigo 15 até o artigo 19, que o idoso tem
atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde, inclusive com o fornecimento de
medicamentos aos idosos, principalmente aqueles de uso contínuo (hipertensão, diabete,
etc.), também de próteses e órteses.
Na terminologia médica atual considera-se prótese a peça ou dispositivo artificial
utilizado para substituir um membro, um órgão, ou parte dele, como, por exemplo,
prótese dentária, ocular, articular, cardíaca, vascular etc. Mais recentemente, além do
conceito anatômico, nota-se a tendência de considerar como prótese também os
aparelhos ou dispositivos destinados a corrigir a função deficiente de um órgão, como
no caso da audição. Também a definição de órtese tem um significado mais restrito e se
refere, unicamente, aos aparelhos ou dispositivos ortopédicos de uso externo, destinados
a alinhar, prevenir ou corrigir deformidades ou melhorar a função das partes móveis do
corpo.
Outra proibição se refere ao reajuste das mensalidades de planos de saúde levando
como critério a idade. O idoso internado ou em observação, em qualquer unidade de
saúde, tem direito a um acompanhante, por tempo a ser determinado pelo profissional
de saúde que o está atendendo. O mesmo diploma confere aos maiores de 65 anos de
idade, transporte coletivo público gratuito.
Antes do estatuto, somente algumas cidades garantiam esse beneficio aos idosos,
sendo que a carteira de identidade é o comprovante (art. 39 até 42). Há também uma
garantia de reserva de 10% dos assentos aos idosos destes coletivos, sendo que o aviso
deve ser visível e legível destes lugares. Já os transportes interestaduais, o estatuto
garantiu a reserva de dois lugares em cada veículo para idosos com renda igual ou
inferior a dois salários mínimos. Caso o número de idosos seja superior, á empresa deve
fornecer a passagem com 50% de desconto o valor.
Outro ponto muito importante é sobre a violência e abandono.
Neste sentido, nenhum idoso poderá ser objeto de discriminação, negligência,
violência, crueldade ou opressão. Assim quem descriminar o idoso, ou impedir ou
dificultar seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte ou a qualquer outro
meio, vindo a impedir seu exercício de cidadania, pode ser condenado à pena variável
de seis meses a um ano de reclusão e multa.
37
Da mesma forma, a família que abandonar o idoso em hospitais e casa de saúde sem
assistência para suas necessidades básicas, pode ser condenada a pena de três meses de
detenção e multa. E caso um idoso seja submetido a condições desumanas, privado de
alimentação e de cuidados indispensáveis a sua saúde, a pena será de seis meses a três
anos de prisão, além de multa. Caso venha ocorrer a morte o idoso, a punição será de 4
a 12 anos de reclusão. E o quanto as Entidades de Atendimento ao Idoso, o Estatuto
estabelece que os dirigentes respondem civilmente e criminalmente pelos atos
praticados contra o idoso.
A fiscalização dessas instituições fica a cargo do Conselho Municipal do Idoso de
cada cidade, da Vigilância Sanitária e do Ministério Público.
O Estatuto do Idoso, seguindo o entendimento de proteção e vigilância sanitária,
determinou, em seu art. 48, parágrafo único, que as entidades governamentais e não
governamentais de assistência ao idoso ficarão sujeitas à inscrição de seus programas,
junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa
Idosa, e em sua falta junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa,
especificando as mesmas os regimes de atendimento. A punição, em caso de mau
atendimento aos idosos, pode variar de advertência e multa até a interdição da unidade e
a proibição do atendimento aos idosos.
Também se destaca a prioridade no julgamento de ações judiciais.O estatuto se
preocupou com o lazer, a cultura e o esporte ao idoso, dispondo nos artigos 20 ao 25,
que todo idoso tem direito a 50% de desconto quando usufruir dessas atividades.
Seguindo o fixado na Constituição, o estatuto proibiu a discriminação por idade e a
fixação de limite máximo de idade para a contratação de empregados, sendo passível de
punição quem o fizer. Estabeleceu que o primeiro critério de desempate é a idade mais
avançada dos candidatos aprovados em concurso público (art. 26 até 28).
Outro ponto que merece destaque é a obrigatoriedade de destinação de 3% das
unidades residenciais para os idosos nos programas habitacionais públicos ou
subsidiados por recursos públicos. Também, os artigos 33 e 34 são importantes, pois
tratam da assistência social aos idosos, que será prestada e observada na forma prevista
na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional do Idoso e no Sistema
Único de Saúde.
38
Outro aspecto relevante é a priorização na justiça, o estatuto reduziu para sessenta
anos a idade necessária para a priorização na tramitação de procedimentos judiciais (art.
71). Constatando que o Estatuto do Idoso manteve revisão que já existia sobre o idoso
do texto constitucional, melhorando a sua aplicabilidade e punição, bem como do
descumprimento da lei, vindo à regular as políticas públicas do Poder Públi voltadas ao
idoso, bem como da sociedade, que vinha esquecendo o quanto foram estes importantes
ao longo da história para a construção de um país digno e próspero.
O Estatuto do Idoso chega a estipular penalidades para violações dos direitos deste
segmento, porém, além da perspectiva heterônoma baseada na punição, espera-se que a
nova lei se afirme, sobretudo, como mecanismo de promoção de um comportamento
eticamente mais avançado, baseado na compreensão consciente da necessidade de se
respeitar e promover os direitos da população idosa. Para tanto, é de fundamental
importância a realização de um amplo esforço pedagógico de informação e discussão do
Estatuto junto aos vários segmentos da sociedade.
Dentre os pontos acima mencionados que merece enfoque especial é a (re)
valorização do idoso e o melhor aproveitamento do imenso potencial de conhecimento,
memória e competência no mundo do trabalho e em iniciativas voltadas ao
desenvolvimento social.
Um avanço nesse sentido depende, no entanto, de uma revisão mais profunda das
relações de trabalho na economia de mercado e da formulação de um novo
entendimento dos vínculos existentes entre conceitos como produtividade, competência,
maturidade e humanização do trabalho.
Mas ainda que a responsabilidade imediata pelo trato dos idosos seja delegada
prioritariamente à família, o Estado não está desobrigado de um conjunto de atribuições
que lhe são destinadas tanto pela Política quanto pelo Estatuto do Idoso. Nos termos
desses dispositivos legais, são de competência do Estado:
1. A prestação de assistência complementar de modo a garantir o atendimento das
necessidades básicas do idoso. Compete ao Estado estimular programas
alternativos de atendimento tais como centros de convivência, centros de
cuidados diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho ou mesmo formas
de atendimento domiciliar. As casas-lares ficam obrigadas, pelo Estatuto do
Idoso, a identificarem-se externamente e a firmar contrato de prestação de
39
serviços com os abrigados, sendo facultada a cobrança de participação no
custeio desde que ela não exceda a 70% dos benefícios percebidos pelo idoso.4
O benefício da prestação continuada, assegurado na Constituição, foi regulado pela Lei
Orgânica de Assistência Social e recentemente reafirmado pelo Estatuto do Idoso, que
prevê a concessão de 1 salário mínimo mensal, a partir dos 65 anos, a todo brasileiro
que não puder prover a própria subsistência, nem dispuser de família capaz de fazê-lo.
Estatuto inova quando afirma que esse benefício pode somar-se a outros,
eventualmente concedidos a membros da mesma família.
2. A garantia de assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do Sistema
Único de Saúde (Lei 8.080/90); a prevenção, a promoção, a proteção e a
recuperação da saúde, mediante programas e medidas profiláticas; a adoção e a
aplicação de normas de funcionamento às instituições geriátricas e similares; a
elaboração de normas de serviços geriátricos hospitalares, que devem operar
tanto em regime de internação quanto ambulatorial; quando internado, o idoso
tem direito a um acompanhante; o desenvolvimento de formas de cooperação
entre União, Estados, Municípios e a criação de Centros de Referência em
Geriatria e Gerontologia para treinamento de equipes interprofissionais; a
criação de serviços alternativos de saúde para o idoso; e o acesso gratuito a
medicamentos, próteses, órteses e outros porventura necessários, fornecidos pelo
Estado.
O Estatuto veda a cobrança, por planos de saúde, de valores diferenciados em razão
da idade. Para viabilizar esse conjunto de ações, o Estatuto prevê o cadastramento da
população alvo de tais benefícios5.
3. A adequação de currículos, metodologias e material didático aos programas
educacionais destinados ao idoso, incluídas aí as formas de acesso a técnicas de
comunicação, computação e outros avanços tecnológicos; a inserção de
conteúdos voltados para o processo de envelhecimento nos currículos mínimos
dos diversos níveis do ensino formal, de forma a eliminar preconceitos e a
produzir conhecimentos sobre o assunto; a inclusão da Gerontologia e da
4 A conceituação de assistência asilar e não-asilar pode ser encontrada no Decreto Federal 1.948/96. A assistência asilar é aceita nos casos de inexistência factual ou virtual dos cuidados familiares ou impossibilidade de prover o próprio sustento (art. 3º); o art. 4º do mesmo Decreto estipula que as formas nomeadas na Política Nacional do Idoso são assistência não-asilar.
40
Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores; o
desenvolvimento de programas educativos destinados a disseminar informação
sobre o processo de envelhecimento; o desenvolvimento de programas de ensino
à distância, adequados às condições do idoso; e o apoio à criação de
universidade aberta para a terceira idade. O Estatuto, além de reafirmar esses
mesmos direitos, prevê a inclusão de horários especiais nos meios de
comunicação voltados para a terceira idade.
4. A garantia de mecanismos que impeçam qualquer forma de discriminação do
idoso no mercado de trabalho; a priorização do atendimento nos benefícios
previdenciários; e a criação e o estímulo a programas de preparação para
aposentadoria.
O Estatuto do Idoso assegura a preservação dos rendimentos provenientes da
aposentadoria e fixa data de reajuste anual em 01 de Maio. Estimula ainda a
participação do idoso no mercado de trabalho com duas medidas: veda a discriminação
por idade na contratação e nos concursos públicos, e cria estímulos às empresas
privadas para a contratação de idosos4.
5. A criação de mecanismos que priorizem o idoso em programas de moradia e
habitação. Dentre esses mecanismos, a legislação nomeia a inclusão de
melhorias nas condições de habitabilidade e adaptação de moradia; a diminuição
de barreiras arquitetônicas urbanas; e a elaboração de critérios que garantam o
acesso da pessoa idosa à habitação popular.
6. A promoção e a defesa dos direitos da pessoa idosa; o zelo pela aplicação das
normas sobre o idoso determinando ações para evitar abusos e lesões a seus
direitos.
7. A garantia de participação no processo de produção, reelaboração e fruição dos
bens culturais; o acesso aos locais e aos eventos culturais, mediante preços
reduzidos em 50% em todo o território nacional; o incentivo a movimentos que
visem atividades culturais; a valorização do registro da memória e a transmissão
de informações e habilidades do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a
continuidade e a identidade cultural; o incentivo a programas de lazer, esporte e
atividades físicas que proporcione a melhoria da qualidade de vida.
41
Ao idoso, a Política Nacional garante ainda o direito de dispor de seus
bens,proventos, pensões e benefícios, salvo nos casos de incapacidade judicialmente
comprovada. Nestes casos, ser-lhe-á nomeado Curador especial em juízo.
O idoso tem direitos penais especiais: se condenado, cumpre pena em
estabelecimento penal especial; se maior de 70 anos, sua idade é atenuante no
tratamento criminal e a execução da sentença pode ser suspensa, com direito a sursis, se
a pena aplicada for igual ou inferior a quatro anos. O crime cometido contra idosos é
agravante da pena nos delitos previstos nos arts. 61, 121 133, 141, 148, 159 e 183 do
Código Penal. Segundo a Lei de Execuções Penais, o condenado maior de setenta anos
pode ser beneficiário da prisão domiciliar (art. 117).
42
3.2 INTERLOCUÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA NOS CASOS DE VIOLÊNCIA
CONTRA A PESSOA IDOSA
A relação entre os saberes construídos pela Psicologia, o Direito e as práticas
judiciárias é muito antiga, mas ainda pouco conhecida no Brasil.
A partir da complexidade com que foram se constituindo as regras de
convivência humana, as bases da lei se tornaram complexas e absorveram cada vez mais
contribuições dos diversos campos do saber.
CAIRES (2003) nos fala que a idéia de que todo o Direito, ou grande parte dele,
está impregnado de componentes psicológicos justifica a colaboração da Psicologia com
o propósito de obtenção de eficácia jurídica.
Em se tratando de violência perpetrada no lar estamos adentrando na Psicologia Jurídica aplicada à área Civil. Dessa forma podemos pensar que: A função do profissional psi consiste em interpretar a comunicação inconsciente que ocorre na dinâmica familiar e pessoal [...] Seu objetivo é destacar e analisar os aspectos psicológicos das pessoas envolvidas, que digam respeito a questões afetivo-comportamentais da dinâmica familiar, ocultas por trás das relações processuais, e que garantam os direitos e o bem-estar da criança /adolescente e/ou idoso , a fim de auxiliar o juiz na tomada de uma decisão que melhor atenda às necessidades dessas pessoas. (SILVA, 2007, p.39)
Como afirma MIRANDA (1998), constituiu-se a partir de então uma nova área
de prática dos psicólogos: a psicologia jurídica. O lugar ocupado por esta ainda é pouco
definido. A relação entre a psicologia e as práticas jurídicas ainda se dá de forma
estremecida e o lugar do psicólogo nesta área ainda está por se configurar. Desta forma,
destacaremos os estudos que enfocam a violência contra a pessoa idosa e a posição
tomada pelos profissionais que atuam diretamente nos casos de violência, uma vez que
os mesmos aplicam seus conhecimentos psicológicos a serviço do direito, à proteção da
sociedade e a defesa dos direitos do cidadão.
Iniciamos a partir da visão pejorativa da velhice como um acúmulo de perdas e
doenças, surge com freqüência em torno dos idosos uma interpretação de vitimização
por parte dos programas de atendimento aos chamados grupos especiais, criando-se,
neste aspecto, uma lógica confusa. Da qual o psicólogo jurídico que atua na Vitimologia
43
deve estar atento no processo de vitimização (Atendimento as vítimas de Violência
Doméstica).
No plano legal (Estatuto do Idoso - Lei n.10741/2003), o idoso é um sujeito de
direitos e possui obrigações na esfera jurídica, portanto o mesmo é dotado de
personalidade e autonomia. Todavia, diante de seu agressor, a tendência é vê-lo apenas
como vítima, encontrando-se, por tal condição, em estado de incapacidade, de sujeição
absoluta, isto é, sem nenhuma capacidade de desejar. Assim, o mesmo necessitaria de
um representante, normalmente um membro da família, que assumiria o papel de um
curador, para prover os seus interesses.
O idoso na condição de vítima e inserido no eixo imaginário vítima-agressor,
isto pode reforçar a operação de alienação do idoso e também cristalizar o conflito, no
sentido de que alimentar e reforçar as estratégias do agressor. Contudo cabe aos
profissionais:
“A perspectiva de uma melhor qualidade de vida é o incentivo oferecido aos profissionais envolvidos no atendimento, para que as vítimas possam exercitar um viver autônomo e condizente com o direito ao respeito preconizado pela lei.” (BRUNO, 2005, p.233)
Acrescentamos aqui uma crítica à observação acima, a qual se pontua na técnica
do reforço do ego, ou melhor, na corrente da ego psychology; pois, se o que está em
primeiro plano é o eixo vítima-agressor, o discurso se situa na esfera da culpa: cuja a
investigação psicológica através de questionários objetiva e consiste em avaliar os sinais
que indicariam a existência de violência física e psicológica. Desta forma, este eixo
imaginário fixa o idoso no lugar de vítima, além de impossibilitar o surgimento do
sujeito do desejo.
Podemos também mencionar que o aspecto transferencial, assim trabalhado não
alcança a dimensão do conceito de transferência introduzido por Freud. Podemos
adiantar que o referido conceito, tal qual foi trabalhado por Lacan ao longo de seu
ensino, fornece ao sujeito a dimensão da suposição de saber, o que facilita o surgimento
do sujeito do desejo. Portanto, nosso olhar sobre os atendimentos na instituição não se
situa apenas dentro da abordagem psicológica, pois ela encobre a responsabilidade do
idoso e seu posicionamento frente aos familiares, que têm muita influência nos casos
onde surge violência. Retificação subjetiva foi o nome dado por Lacan ao momento em
44
que o sujeito se implica em sua própria queixa e percebe que tem responsabilidade sobre
aquilo que o faz sofrer.
Lacan chamou de retificação subjetiva à passagem do fato de queixar-se dos outros para queixar-se de si mesmo. Há sempre razões para nos queixarmos dos outros. É um ponto efetivamente muito refinado a entrada daquele que diz “não é minha culpa”. Inversamente, o ato analítico consiste em implicar o sujeito em seu queixume, em seu próprio motivo de queixar-se. (França, 2004 P. 54)
Quando o profissional tem como referencial esta abordagem, ele prioriza
detectar os marcadores que indicam se de fato os maus-tratos ocorreram, como por
exemplo, as marcas no corpo, se há boletim de ocorrência em delegacias, a apropriação
indébita de dinheiro e bens etc., para depois indicar ao idoso como ele deve se portar
para sair da situação de violência.
Porém, em nossa prática, e algumas pesquisas também apontam isso, a maioria
dos casos não chega a configurar o abuso; e mesmo que tenham de fato a violência
caracterizada, encontramos quase sempre o conflito familiar como pano de fundo do
problema, como cita BRUNO (2005): “O que a princípio figurou-se como apropriação
de bens, surgiu posteriormente como parte de um conflito intrafamiliar, no qual os
direitos dos idosos foram postos num plano menor”.
Este discurso de vitimização embasa as políticas públicas de proteção ao idoso,
onde a profusão de enunciados pedagógicos, visando a uma melhor adaptação às perdas
da velhice, acaba por ressaltá-las. Aprisionando o sujeito em ideais, também supõe um
caminho generalizável no qual a singularidade do desejo não comparece. Aos velhos em
sofrimento, envolvidos em conflitos familiares e situações de violência, resta a resposta,
“é da velhice...”, que faz calar a diferença e dilui a responsabilidade do idoso frente aos
conflitos, promovendo uma visão universalizante e normativa.
Observamos que os profissionais de Psicologia que trabalham na área jurídica e
que atuam em casos de violência – quer seja ao idoso, à mulher ou ao portador de
doença psiquiátrica, conduzem o tratamento objetivando possibilitar a reconstrução da
subjetividade e da autonomia perdida, investindo no resgate da cidadania à vítima, com
a intenção de lhe oferecer mais qualidade de vida.
O psicólogo jurídico encontra espaço no campo do Direito, realizando o seu
trabalho em conjunto com assistentes sociais, médicos; tanto realizando uma perícia
45
psicológica e social, com a finalidade de apurar a dinâmica familiar e a motivação
psicológica para a ação ( inerentes nas queixas e nexo causal). Segundo FRANÇA:
“A Psicologia Jurídica é uma área de especialidade da Psicologia e, por essa razão, o estudo desenvolvido nessa área deve possuir uma perspectiva psicológica que resultará num conhecimento específico. No entanto, pode-se valer de todo conhecimento produzido pela ciência psicológica. Para ele, o objetivo de estudo da psicologia jurídica são os comportamentos complexos (condutas complejas) que ocorrem ou podem vir a ocorrer.” (França, 2004, p.74)
O psicólogo no campo do judiciário utiliza-se da observação, de testes
psicológicos, da avaliação, do diagnóstico, metodologias próprias e de instrumentos
formais ou informais. Segundo CAIRES (2003):
“Recorremos à técnica e aos testes psicológicos, que são as nossas ferramentas de trabalho [...]. Além disso, pautaremos nosso raciocínio em um método de investigação precisa, com sustentação teórica e metodológica de estudo, para apurarmos os sinais depictados no transcorrer da entrevista e durante a testagem. Que vão nos remeter a compreensões sobre o estilo e funcionamento do examinando e hipóteses diagnósticas a explorar.” (Caires, 2003, p.121-122)
O mesmo pode atuar como perito, tendo a função de realizar exames com a
finalidade de subsidiar os julgadores e emitir um relatório técnico, “contudo não é de
competência do perito fornecer provas, no sentido de estabelecer relação de nexo entre o
agente e o delito” (Ibden).
A perícia se constitui apenas como peça importante no encaminhamento
jurídico. Esclarecemos que o exame pericial hoje é desenvolvido por uma equipe
pluriprofissional, com diferentes abordagens e conceituais diversos opinando sobre o
estudo de caso. Sob a ótica da interdisciplinaridade os problemas são levantados e
questionados (Teoria Geral do Direito e ou/ dogmática jurídica), em seguida deve ser
investigada. A mesma só será requisitada pelo juiz se houver necessidade do Direito de
obter uma visão psicológica de tal caso. Vale à pena ressaltar que a psicologia jurídica
deve ir além do estudo das manifestações das subjetividades, ou seja, o estudo do
comportamento. A psicologia jurídica deve objetivar também o estudo das
conseqüências das ações jurídicas sobre o indivíduo. Devendo estudar as cópias do
46
processo, enfocando as determinações das práticas jurídicas sobre a subjetividade, não
apenas o comportamento do indivíduo, mas explicá-lo de acordo com a necessidade.
A psicologia jurídica sob uma visão holística diante do fenômeno judicial, faz
com que o papel do psicólogo jurídico estabeleça uma relação estreita com a
diversidade e interaja com outras vertentes ( biológicas, sócio-culturais, emocionais,
funcionais, espirituais, etc). (CAIRES, 2003)
Atualmente a psicologia jurídica está se iniciando seu trabalho como mediador,
que segundo CAIRES (2003), “atende com o objetivo principal a prevenção da
demanda judiciária, ou seja, os conflitos e queixas, que primeiramente são
encaminhados aos mediadores que procuram, com técnicas próprias, promover a
conciliação entre as partes ou sensibilizar os envolvidos, por meio da reflexão e
elaboração dos conflitos, aos tratamentos que julgarem pertinentes.”
A mediação é uma prática que difere da perícia e da assistência técnica, pois visa
uma intervenção e mudança, onde as partes são responsáveis pela solução dos conflitos.
Independendo do caso o psicólogo jurídico em casos de imputabilidade também
pode apurar as condições de reinserção gradual ao convívio familiar, verificando se
persistem ou não as condições criminógenas ou as condições de periculosidade, numa
perspectiva de mudança.O mesmo pode se apropriar dos conteúdos não verbais, mas
sempre atento ao pára-verbal, sempre atento nas entrevistas ao que não é dito com
palavras, e durante as aplicação dos testes aos conteúdos não verbais.
Mesmo ciente de que a psicologia jurídica se difere da prática clínica em muitos
aspectos, é importante que o psicólogo jurídico tenha a visão clínica e esteja disposto a
interagir com outras disciplinas, promovendo o intercâmbio de conhecimentos e
atuando numa orientação intersubjetiva para a efetivação do seu fazer profissional.
Diante das constantes transformações já obtidas pela psicologia jurídica, cabe ao
profissional refletir sobre a forma que realiza o seu trabalho e o poder judiciário adote
para si uma política de prevenção, sensibilizando e capacitando, todos os atores que
tenham contato com pessoas vítimas de violência nas diferentes etapas do processo. Isto
inclui os profissionais de saúde, os agentes policiais, membros do Poder Judiciário,
psicólogos e assistentes sociais.
A abordagem deve ser multidisciplinar, sendo que a assistência ambulatorial ou
hospitalar precisa ser criteriosamente decidida pela equipe, particularizando cada caso.
47
Cujo trabalho junto às famílias seja imprescindível e não de apenas pontual. Essa
família enquadrada nos casos de violência dever ser acompanhada durante um período
que permita avaliar suas demandas, propondo-se a partir de então intervenções
adequadas. Este processo pelo qual a população brasileira vem passando demanda um
olhar atento as suas peculiaridades por parte do poder público, da família e da
sociedade, com proposições e estratégias que respondam as necessidades de atenção,
proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa. Promover a participação ativa do idoso
no processo de planejamento, monitoramento e acompanhamento das Políticas Públicas,
parcerias com profissionais da área de Gerontologia e Geriatria.
48
CAPÍTULO V
4. A CONSTRUÇÃO DA NOVA IMAGEM DO IDOSO
O processo de envelhecimento vem passando por transformações significativas
em diversos de seus aspectos, desde meados do século XIX. Hoje, acreditamos que para
haver uma vida saudável na velhice é necessário que ocorra uma série de fatores
biológicos e sociais que confluam para este objetivo. Estamos seguros de que há novos
caminhos e novas possibilidades que se abrem para as pessoas que iniciam sua velhice,
onde o desprezo e a marginalização cedam espaço na sociedade a um clima mais
acolhedor e respeitoso dedicado àqueles que têm idade acima dos 60 anos.
Velhice bem sucedida é uma condição na qual os idosos, sozinhos ou
coletivamente, vivem com qualidade de vida, em relação aos ideais individuais e aos
valores existentes na sociedade onde vivem. Faz parte de um envelhecimento bem
sucedida a história pessoal do idoso e a manutenção da plasticidade comportamental,
dentro dos limites impostos pelo processo normal de envelhecimento. O envelhecimento
bem sucedido é definido por CAMARANO (2004), como a habilidade que os
indivíduos têm para manter as três seguintes características: baixo risco para doença
relacionada a incapacidade, elevado funcionamento físico e mental e engajamento ativo
com a vida. Para estes autores, é preciso que haja uma interação entre estes três
componentes para que o conceito de envelhecimento bem sucedido seja melhor
representado.
Os recursos sensório-motores, cognitivos, de personalidade e sociais têm grande
importância para o envelhecimento bem sucedido porque eles facilitam a interação entre
três processos adaptativos: seleção, compensação, e otimização de recursos para
enfrentar e adaptar-se às perdas do envelhecimento.
A continuidade, a quantidade e a qualidade de atividades de amplo alcance físico
e cognitivo têm sidos associados com bem-estar geral. NERI (2004) supõe que a
competência para realizar tarefas, a saúde psicológica e o bem estar estão associados à
continuidade na realização de atividades que exigem habilidades individuais.
Envelhecer bem irá depender do equilíbrio entre as potencialidades e limitações do
indivíduo, o que permitirá, com formas diversas de eficácia, o desenvolvimento de
49
mecanismos para enfrentar as perdas do processo de envelhecimento e a adaptação a
vários elementos são indicadores de bem-estar na velhice: longevidade, saúde biológica,
saúde mental, satisfação, controle cognitivo, competência social, atividade, eficácia
cognitiva, renda, continuidade de papéis familiares e ocupacionais e continuidade de
relações informais (NERI, 1993). A esses elementos soma-se o senso de auto-eficácia
de idosos, tão importante nesta fase da vida, num mundo em que as pessoas só
enxergam as perdas e o declínio da velhice.
O senso de bem-estar subjetivo resulta da avaliação que o indivíduo realiza das
suas capacidades, as condições ambientais e a sua qualidade de vida, a partir de critérios
pessoais combinados com os valores e as expectativas que vigoram na sociedade. Seu
indicador mais conhecido é a satisfação com a vida. Avaliações desta natureza,
dependem do self que atua sempre numa perspectiva temporal e comparativa (NERI,
2001).
De acordo com (NERI, 2004), o self é um sistema multifacetado e dinâmico de
estruturas interpretativas que regulam e medeiam o comportamento. O self abrange os
níveis cognitivos e afetivos, as representações somáticas e as rotinas. O self é aquilo que
alguém acha que é. É a pessoa inteira, vista a partir de certos pontos de vista. As idéias e
imagens que as pessoas têm de si e as histórias que contam sobre si refletem a
construção do self, um processo contínuo de organizar e dar forma, significado e
continuidade às próprias ações e reações, em interação com imperativos culturais, os
próprios insights e a compreensão emocional das habilidades, do temperamento, das
preferências e dos comportamentos. A ligação entre o sistema do self e comportamentos
e atividades é de grande importância para a teorização em Gerontologia sobre a
manutenção das atividades na velhice. Quanto mais estruturado o sistema de
competência do self, composto por senso de controle pessoal, crença de auto-eficácia e
senso de domínio, maior a chance de adaptação e bem-estar do idoso.
O bem-estar subjetivo é um componente importante da boa qualidade de vida na
velhice, e tem relação com o que o indivíduo acredita ser relevante para si. Vários
aspectos da vida influenciam os sentimentos de bem-estar subjetivo, entre eles o
econômico (renda), a educação, o status conjugal, os transportes, a rede de relações
sociais, o local de residência e a saúde física e mental.
50
O bem-estar psicológico refere- se ao estado da mente, incluindo sentimentos de
felicidade, contentamento e satisfação com as condições da própria vida.
PRADO (2002), afirmam que o bem-estar subjetivo é um aspecto da qualidade de vida e
refere-se a uma avaliação da própria pessoa sobre sua vida. Assim sendo, estudar essa
dimensão poderá ser uma contribuição às iniciativas aplicadas à melhoria da qualidade
de vida de idosos.
Estudos sobre o bem-estar subjetivo devem considerar pelo menos três
componentes tidos como essenciais pela literatura da área: satisfação com a vida, afeto
agradável e ausência de afeto agradável. Um aspecto importante de bem-estar tem a ver
com a percepção do indivíduo a respeito do funcionamento do seu corpo. Nesse sentido,
o bem-estar subjetivo reflete a harmonia entre funções fisiológicas e manutenção da
capacidade de ajustar- se (auto-regulação) aos estímulos e agressões do ambiente. E
ainda facilita a convivência com situações de perdas de saúde decorrentes do
envelhecimento como, por exemplo, doenças crônicas, como diabetes, hipertensão ou
glaucoma.
MASCARO (2004), confirma essas relações e pergunta em que medida o
sentimento de bem-estar subjetivo e a satisfação com a vida aumentam com a prática de
exercícios. Segundo a autora, não é fácil estabelecer a direção da causação entre essas
variáveis, isto é, a relação entre os objetivos físicos, condições dos indivíduos, sua
saúde subjetiva e satisfação com a vida ou bem-estar subjetivo. Entretanto, considera
ela, a saúde e a aptidão física contribuem de várias formas para o bem-estar subjetivo,
mantendo a independência do indivíduo, e permitindo seu engajamento e interação com
outras pessoas. A atividade física e o lazer não só mantém a saúde, como também pode
promover sentimentos de auto-eficácia, afetos positivos e equilíbrio entre afetos
positivos e negativos, que são grande parte do significado de ser humano e importantes
componentes para o bem-estar subjetivo.
Se por um lado, o envelhecimento é um processo inevitável para todos os seres
humanos, por outro, temos a certeza de que a evolução contínua e permanente da
Medicina, por meio de uma ação profilática no campo de saúde preventiva tem
contribuído grandemente para o aumento gradativo da sobrevida da população,
conduzindo-a a um envelhecimento com mais qualidade. Onde grandes laboratórios
multinacionais têm investido muito na descoberta de novos medicamentos, é o fator
51
social que envolve a pessoa idosa. Parece-nos que os avanços sociais de aceitação desta
nova realidade (a ascendência dos vetores gráficos que mostram uma futura superação
dos idosos sobre os jovens) ainda são tímidos e precisam de um grande investimento de
toda a sociedade em direção a superar os problemas ainda remanescentes.
A Educação e a mídia tem auxiliado grandemente este processo de valorização da
pessoa idosa , ao levantar questionamentos e reflexões para que o idoso seja aceito e
respeitado na sociedade, que mais atenção seja dada a este segmento e
intencionalmente promover atividades que estimulem a integração social, a criatividade
e o aspecto afetivo-emocional. E ainda, trabalhando para um resgate cultural, da
oralidade, da linguagem, do compartilhar experiências e do construir caminhos para a
valorização de si mesmo para se ter uma vida melhor.
Outro aspecto relevante é que com o avanço tecnológico e melhores condições de
vida, os idosos têm procurado atividades que possam aumentar sua longevidade e
qualidade de vida. Como exemplifica MASCARO (2004), é comum hoje um idoso
“iniciar uma carreira , encontrar um amor e casar-se depois dos 80 anos, voltar a estudar
e matricular-se na Universidade da Terceira Idade, cultivar novos hobbies e despertar
para novos projetos”. Tais comportamentos são amplamente divulgados pela imprensa e
confirmam os novos interesses e comportamentos dos idosos.
Inclusive, a sociedade precisa voltar sua atenção para algumas representações
culturais sobre a pessoa idosa, suas formas de ser e viver em sociedade, pois são
práticas que, não apenas reproduzem, mas ensinam, instituem identidades, e os
classifica em grupos sociais distintos.
A pessoa idosa e os conceitos construídos socialmente a respeito deste
segmento, que ganharam visibilidade nos discursos e as formas como são apresentados
e representados, e atualmente a sociedade visa desconstruir estilos de vida anteriores
considerando-os inadequados, a fim de produzir novos significados e ensinar novos
estilos para os integrantes desta faixa etária, para estimular uma velhice bem-sucedida,
vigorosa e sem sofrimentos. Alvo que passa desde o consumo de diversos produtos, a
busca de técnicas de rejuvenescimento, pelo cuidado com o corpo e a saúde, e, ainda,
pela reinvenção do corpo: plásticas, silicones, botox, e ingestão de produtos que curam
e emagrecem. Enfim, o idoso passa a ser uma nova categoria cultural, o único
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responsabilizado pelos cuidados de si mesmo, pela sua participação social,
representações culturais e algumas formas de ser e viver.
São transformações que colaboram para produzirem novas identidades e
subjetividades que são inventadas à medida que a velhice se torna alvo do mercado de
consumo. Contrária a época anterior, onde a velhice estava restrita ao ambiente familiar
e privado, vivendo sob dependência e sem desempenho importante de qualquer papel
social. Hoje, “No cenário atual, passou a ser vista como uma questão pública, já que o
Estado e outras organizações privadas assumiram a gerência da velhice, tentando
homogeneizar suas representações.
O idoso, hoje, está inserido nas discussões de políticas públicas, na organização
de novos mercados de consumo, nas novas formas de lazer, não apenas para ser bem
atendido, mas, muito mais para ser produzido e ensinado a ser e viver sua vida de idoso.
(DEBERT, 1999)
Interessa ao Estado e empresas que o idoso seja consumidor e produtor de renda,
para que este possa buscar os cuidados com sua saúde e, minimizar as despesas para os
cofres públicos. Pois, quanto mais investir em seu corpo e com cuidados com a saúde,
mais benefícios ele proporcionará a si mesmo, às empresas, às entidades e ao Estado.
Precisamos investir, produzir novos significados e ensinar novos estilos de vida para
este público alvo, Cujo estilo de vida anterior deve ser desconstruído e transformado
para os dias de hoje.
A velhice deve ser bem-sucedida, vigorosa e sem sofrimentos. Atingir esse alvo
passa-se pelo consumo de diversos produtos, pela busca de técnicas de rejuvenescer,
pelos cuidados com o corpo e a saúde, e, ainda, pela reinvenção do corpo: plásticas,
silicones, botox, e ingestão de produtos que curam e emagrecem.
Enfim, o idoso passa a ser uma nova categoria cultural, o único responsabilizado pelos
cuidados de si mesmo, pela sua participação social.
Coloca-se à disposição dos idosos e terceira idade, hoje, espaços e programas de
ensinos voltados para suas faixas etárias, onde ficam classificados e aprendem como
devem ser. Podemos citar os CCIs – Centros de Convivência dos Idosos, grupos de
terceira idade, as escolas abertas, as universidades para terceira idade, programas
turísticos, clubes que oferecem atividades físicas e diversões, lojas de produtos de
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embelezamento para uma velhice saudável, tratamentos médicos, complementos
alimentares e outros tantos.
A Política Nacional do Idoso, orientada pelo Estatuto do Idoso, assegura os
direitos, a autonomia, a integração e a participação desta categoria com sua cultura e
educação para a cidadania. Proporciona-se todo um comportamento moderno que
desafia as pessoas deste segmento a se envolverem, sob pena de ficar relegado ao
abandono e dependência, se envolverem nas atividades e não adotarem as novas formas
de consumo e estilos de vida.
Ensina-se que só é velho quem quer, pois, a juventude é mostrada como um bem
que pode ser conquistado por qualquer faixa etária, desde que “adotem estilos de vida
modernos e formas de consumo adequado”. A ciência descobriu formas de viver e
envelhecer, e a mídia as mostram para ensinar “que se pode mudar a aparência
indesejada através de vitaminas, alimentação saudável, cosméticos, ginástica, enfim, de
todo um aparato industrial do corpo e do prazer” (BRANDÃO, 2009).
Ressaltamos que a sociedade contemporânea enaltece a juventude e estigmatiza
a velhice, pois, privilegia e ensina-se a ser jovem, mas, ao mesmo tempo, a sociedade
cria espaços de convivência ou atendimento público que classificam e separam os
idosos e terceira idade, preparando-lhes todo um espaço de convivência e consumo. E
ainda, se os idosos se tornaram mais uma fatia de mercado, eles passaram a ser uma
classe que precisa ser conquistada. Essa busca pelo rejuvenescimento, que disfarça as
marcas do corpo, está resgatando a auto-estima dessa classe, porque redescobrem a
vaidade de serem admiradas, de serem maduras, sensuais, transformadas e invejáveis.
Investe-se na aparência do corpo – um corpo cenário - porque é o maior capital social
que se possui para conquistar é a aceitação.
Estudos atuais mostram que a pessoa idosa possui uma imensa capacidade de se
adaptar a novas situações e de pensar estratégias que lhes sirvam como fatores de
proteção. O conceito de resiliência, que pode ser definido como a capacidade de
recuperação e manutenção do comportamento adaptativo mesmo quando ameaçado por
um evento estressante, e o de plasticidade, caracterizado pelo potencial de mudança, são
vividos pelos idosos e constituem fatores indispensáveis para um envelhecimento bem
sucedido (NERI, 2001).
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Podemos dizer que não existem ocupações específicas para o “idoso’ na
contemporaneidade. Não há limites neste aspecto, a não ser àquilo que, por orientação
médica, em função de suas condições físicas e psicológicas. Contudo faz-se necessário,
portanto, refletir a questão da violência e dos maus- tratos contra a pessoa idosa,
criando-se condições para promover uma nova cultura, uma mentalidade positiva em
relação à velhice e ao envelhecimento, propiciando a valorização da pessoa idosa e a
conquista do seu espaço social, resgatando o valor que lhe é de direito e reconhecendo
sua experiência acumulada, sua sabedoria, sua memória e potencialidades.
Sabe-se que o maior legado que se pode deixar para as gerações futuras é a
educação voltada para o respeito e a dignidade do ser humano.
É possível uma sociedade sem violência, sem maus-tratos na velhice, mediante a
implementação de políticas sociais que propiciem a inclusão social das pessoas em
todas as etapas dos ciclos da vida, sem sofrimento e abandono social, com o respeito e a
valorização do outro, da natureza e da humanidade.
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CONCLUSÃO
O envelhecimento, um processo natural de todo ser humano e deve ser analisado
em todo seu contexto, sendo considerado um período de mudanças significativas que
vão do físico ao social, incluídos perdas e estigmas. Embora medicina e os avanços
tecnológicos fizeram com que as expectativas e a qualidade de vida dos idoso tenham
avançado, a sociedade continua retrograda. Os idosos em sua maioria são considerados
como um peso para a família e para o sistema econômico, inclusive por quem deveria
proporcionar-lhes segurança: A família. Pois muitos encontram-se em situação de
vulnerabilidade e abandono e são vitimas de diversas formas de violência e maus tratos.
A fragilidade na qual se encontram favorece o isolamento social e os emudecem ao que
serem acometidos da violência.
A violência contra os idosos tem se alastrado, é o tipo de crime mais trágico
contra os idosos, ocorrendo em diversos setores da sociedade e já é um desafio para o
poder público contê-la, pois esta se manifesta nas diferentes classes sociais, dos grandes
centros as áreas rurais. É importante salientar que grande parte dos agressores faz parte
do vínculo afetivo do idoso, chegando até mesmo a depender financeiramente deste.
Temos que nos conscientizar que o Brasil já é um país estruturalmente
envelhecido e por isso essa temática é de suma relevância, pois juntamente com este
fenômeno social os reflexos políticos, econômicos e sociais deste segmento se
evidenciam, nesse caso é preciso intervir imediatamente a fim de erradicar todas as
formas de violência contra a pessoa idosa, bem como a naturalização desta.
A violência contra a pessoa idosa se dá também no que tange ao acesso aos
serviços públicos, onde os mesmos deveriam ser dignificados e de que forma temos nos
mobilizado em favor deste segmento, se a política publica e institucional não funcionam
no sentido de reduzir as desigualdades causadas pelo poder econômico, onde os menos
favorecidos também são os menos assistidos?
Há legislações específicas a este segmento, a Constituição Federal de 1988, a
LOAS, PNI e o Estatuto do Idoso já são uma realidade, mas a efetivação destas depende
da conscientização coletiva, de medidas de enfrentamento a violência. O Conselho
Estadual do Idoso, o Conselho Municipal do Idoso, o Ministério Público Federal, a
Defensoria Pública, o Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos e a Secretaria dos
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Direitos Humanos são instituições que promovem a efetivação dos direitos dos idosos,
sabemos que o desrespeito a esse segmento e o não cumprimento das leis ainda existe.
Neste caso a denuncia se faz necessária, assim como a promoção e a reinclusão
da população idosa na sociedade. O psicólogo jurídico, bem como os outros
profissionais que compõe a equipe técnica no sistema judiciário e que assistem a este
segmento devem realizar seu trabalho sob a ótica da interdisciplinaridade, com
sustentação teórica metodológica e se utilizar de instrumentos formais e informais para
subsidiar seu diagnóstico. Sua visão holística proporcionará a este a interação com
outras vertentes, ampliará sua compreensão acerca do fenômeno e atuará
intersubjetivamente no sentido de efetivar sua ação profissional. A capacitação dos
mesmos e a reflexão dos profissionais que atendem a pessoa idosa vítima de violência
se faz necessária em todas as etapas do processo, cuja abordagem multidisciplinar e
decidida pela equipe deve ser no sentido de resgatar a autonomia perdida da pessoa
idosa , sua cidadania e dignidade. Sem deixar de incluir que toda a ação deve estar
integradas a todas as áreas, programas de saúde, sociais, culturais e educacionais devem
ser implementados no sentido de melhorar a qualidade de vida dos idosos, hoje e no
futuro bem próximo.
Neste caso a prevenção deve ser a primeira medida a ser adotada, “um não à
Violência contra a pessoa Idosa”, deve ser propagada e divulgada em rede nacional;
criar consciência social, política e universal a cerca da violência; incentivar debates e
fortalecer as formas de prevenir e erradicar a violência, vão apoiar a Campanha do
CNDI e vai promover mudanças de atitudes, Tal qual o manifesto do Conselho Federal
de Serviço Social (CFESS) no dia 15/06/10, no dia Mundial de Conscientização da
Violência contra a pessoa Idosa, vamos nos engajar nesta luta. Afinal somos os idosos
de amanhã! Investir no fenômeno de envelhecimento significa investir no nosso próprio
futuro e na nossa qualidade de vida.
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