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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DA EFICIÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA Por: Marcelo Sena de Sousa Orientador Prof. Luiz Eduardo Chauvet Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA EFICIÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA

Por: Marcelo Sena de Sousa

Orientador

Prof. Luiz Eduardo Chauvet

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA EFICIÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Pública

Por: Marcelo Sena de Sousa

3

DEDICATÓRIA

À minha esposa Cida e minha filha Annie,

pela compreensão pelo meu tempo

dedicado às atividades acadêmicas e pela

compainha e amor.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre guiou os meus

passos, aos meus pais que sempre me

ajudaram nos estudos desde minha

infância, aos meus colegas de pós-

graduação, ao meu orientador Prof.

Luiz Eduardo Chauvet pela

contribuição na orientação pela

elaboração deste trabalho e a todos os

meus professores pelos conhecimentos

e experiências adquiridos durante as

disciplinas ministradas.

5

RESUMO

Este trabalho apresenta a importância do princípio da eficiência na

Gestão Pública, previsto no caput do artigo 37 da Constituição Federal, bem

como, seu papel em meio à sociedade.

A Carta Magna de 1988 listou os seguintes princípios orientadores

da Administração Pública: o da legalidade, impessoalidade, da moralidade e o

da publicidade. No que diz respeito ao princípio da eficiência, procedente da

Emenda Constitucional nº 19/98, que acrescentou este termo ao artigo 37

alterando a redação anterior, é que impõe à Administração Pública direta e

indireta e a seus agentes a busca pelo bem comum, através do exercício de

suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa,

eficaz, eficiente e sempre em busca da qualidade, priorizando pela adoção dos

critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos

recursos públicos, de forma a evitar os desperdícios e garantir uma maior

rentabilidade social.

6

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica de

diferentes autores, leitura de legislação específica e consulta a sites de

internet, com ênfase na importância do princípio da eficiência na gestão

pública.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Princípio da Eficiência e Gestão Pública: Aspectos Conceituais 10

1.1 – Eficiência: Conceitos Básicos 10

1.2 – Eficiência, Eficácia e Efetividade 11

1.3 – Gestão Pública: Conceitos Básicos 14

CAPÍTULO II – Princípio da Eficiência: Implementação na Gestão Pública 17

2.1 – Formas de Administração Pública no Brasil 17

2.2 – Reformas Administrativas no Brasil 20

2.3 – A Constitucionalização do Princípio da Eficiência 27

CAPÍTULO III – Princípio da Eficiência: Benefícios para Gestão Pública 30

3.1– A Eficiência nos Processos de Aquisição de Bens e Serviços 30

3.2 – A Eficiência na Atividade dos Servidores Públicos 33

3.3 – Eficiência e a Lei de Responsabilidade Fiscal 36

CONCLUSÃO 39

REFERÊNCIAS 40

8

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 consagrou, no artigo 37, quatro

princípios que deveriam nortear a administração pública: legalidade,

impessoalidade, moralidade e publicidade. Na busca da otimização de todo

serviço público, foi inserida, por meio da Emenda Constitucional nº 19/98, nova

redação ao caput do artigo 37 da Carta Magna, destacando o princípio da

eficiência.

A monografia está estruturada da seguinte forma: o primeiro capítulo

dedica-se a apresentar conceitos, contextualizações e aspectos da eficiência e

da gestão pública.

A pesquisa sobre o princípio da eficiência revelou sua importância

na administração pública, tendo em vista seu propósito de melhorar o exercício

executado pelo servidor público.

O segundo capítulo destina-se a demonstrar a implementação do

princípio da eficiência na gestão pública, dividindo-se em 3 subtítulos: os três

modelos de formas de administração na evolução do Brasil, a administração

patrimonialista o qual o patrimônio do Estado confundia-se com o patrimônio

do soberano, o Estado como propriedade do Rei, a administração burocrática

que baseava-se nas idéias do modelo racional-legal do sociólogo Max Weber,

e a administração gerencial pautava-se no deslocamento da ação

governamental, centralizada em torno do controle da gestão conduzida por

órgãos técnicos, para a descentralização e a transferência de

responsabilidades; as reformas administrativas, a primeira na Era Vargas com

a sistematização e a organização dos papéis do Estado em termos

econômicos, políticos e sociais, a segunda ocorreu durante a Ditadura Militar

que teve como característica o aumento da tutela do Estado nas questões civis

e a terceira reforma durante o governo do Presidente Fernando Henrique

Cardoso período em que foi criado o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do

Estado (PDRAE), o qual principal objetivo seria a retomada da capacidade de

governança pública, fundamentada na revisão do sistema jurídico/legal e das

formas de propriedade do Estado; e a constitucionalização do princípio da

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eficiência assinala a representação máxima da incorporação de orientações

típicas da gestão privada no âmbito da Administração Pública.

O terceiro e último capítulo mostra os benefícios do princípio da

eficiência para gestão pública nos processos de aquisição de bens e serviços,

na qual foi criada uma nova modalidade de licitação denominada pregão,

procedimento que seleciona um fornecedor ou prestador de serviço, com vista

à execução de objeto comum no mercado, permitindo aos licitantes, em

sessão pública presencial ou virtual, reduzir o valor da proposta por meio de

lances verbais e sucessivos; a eficiência na atividade dos servidores públicos

de maneira que os serviços públicos sejam prestados de maneira eficiente, era

necessária a regulação de suas atividades, o maior intuito dessa regulação foi

mudar o pensamento do servidor, inserindo uma atuação igual ao do setor

privado, de maximização dos resultados, redução dos custos e satisfação do

cliente (que nessa situação é a sociedade), tudo isso com os recursos de que

se dispõe; e a eficiência e a Lei de Responsabilidade Fiscal onde está claro o

objetivo de corrigir rumos da Administração, limitando os gastos às receitas,

mediante adoção das técnicas de planejamento governamental, organização,

controle interno e externo e transparência das ações de governo em relação à

população, ainda nos termos dessa lei, ficam os administradores públicos

expressamente responsáveis por ações implementadas no exercício de suas

funções e sujeitos a penalidades.

10

CAPÍTULO I

PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA E GESTÃO PÚBLICA:

ASPECTOS CONCEITUAIS

1.1 – Eficiência: Conceitos Básicos

Na procura de uma definição para a palavra “eficiência” constata-se

conforme o Dicionário Aurélio (1986, p. 620) sua origem vem do latim

efficientia que quer dizer “ação, força, virtude de produzir um efeito”.

Pesquisando alguns autores que falam sobre o assunto, verifica-se

que existem várias definições para “eficiência”.

Para Motta (1990, p. 230) eficiência refere-se ao cumprimento de

normas e à redução de custos.

Para Coelho (1979, p. 3) eficiência está relacionado ao emprego de

recursos de forma a obter a melhor relação custo-benefício entre os objetos

estabelecidos e os recursos utilizados.

Idalberto Chiavenato define o seguinte:

A eficiência significa a correta utilização dos recursos (meios de produção) disponíveis [...]. Assim, a eficiência está voltada para a melhor maneira pela qual as coisas devem ser feitas ou executadas (métodos de trabalho), a fim de que os recursos (pessoal, máquinas, matéria-prima, etc) sejam ampliados de forma mais racional possível. A eficiência preocupa-se com os meios, com os métodos mais indicados, que precisam ser planejados a fim de assegurar a otimização dos recursos disponíveis. (CHIAVENATO, 2003, p. 58)

A eficiência é a relação entre insumos e os resultados, a utilização

do mínimo de insumos para produzir um determinado resultado. (CAIDEN &

CAIDEN, 2001, p. 82).

Na seara do Direito, eficiência tem recebido diferentes conceitos.

De acordo com Gabardo (2002, p. 146) eficiência mostra-se de

diversos sentidos, com semelhanças e afinidades, mantendo-se, contudo, suas

diferenças, que variam conforme os autores e as teorias a serem

considerados.

11

Procurando-se a origem do princípio da eficiência, mais adequado

seria ligá-lo ao princípio do bom administrador, em concordância com a idéia

de Hely Lopes Meirelles, pois é um dos autores mais conceituados de sua

época. Moreira Neto entende da mesma forma:

[...] resultado de um aplicado trabalho de vanguarda da doutrina jurídica, desenvolvida desde meados do século XX, ostentando nomes como Raffaele Resta e Guido Falzonem no sentido de transcender o conceito de poder-dever de administrar, afirmando pela administração burocrática, empenhada em lograr apenas a eficácia jurídica, para estabelecer como um passo adiante, o dever de bem administrar, que é hoje respaldado pelos novos conceitos gerenciais, voltado à eficiência da ação administrativa pública. (MOREIRA NETO, 2000, p. 84)

Conforme Vetoratto (2003), eficiência teve sua origem junto ao

nascimento das teorias das ciências administrativas. Entre os seus

idealizadores estão TAYLOR, FAYOL e WEBER, pois foram eles que definiram

inicialmente o seu conteúdo.

Ainda explica que FAYOL o primeiro a definir as características do

bom administrador. TAYLOR teve sua preocupação nos seus estudos nos

melhores meios como forma de obtenção do fim buscado pela organização. E

WEBER caracterizou as organizações sociais, analisando a sua juridicidade e

a eficiência como princípio para a obtenção de seus fins.

Logo, tentando definir eficiência com base nos conceitos dos

autores citados anteriormente, conclui-se o seguinte: eficiência é a ação

administrativa direcionada para produzir o melhor resultado possível, com a

aplicação dos recursos disponíveis, observando-se a racionalização e

otimização dos meios.

1.2 – Eficiência, Eficácia e Efetividade

Buscando-se o significado de tais termos, encontra-se no Dicionário

Aurélio (1986, p. 620) que eficiência vem do latim efficientia que quer dizer

“ação, força, virtude de produzir um efeito”, eficácia, do latim efficacia, quer

dizer “qualidade ou propriedade de eficaz” e efetividade significa “qualidade de

12

efetivo, atividade real; resultado verdadeiro: a efetividade de um serviço, de um

tratamento”.

Idalberto Chiavenato explica que toda organização deve ser vista

sob o escopo da eficácia e da eficiência, ao mesmo tempo:

Eficácia é uma medida do alcance de resultados, enquanto a eficiência é uma medida da utilização dos recursos nesse processo. [...] Contudo, nem sempre a eficácia e a eficiência andam de mãos dadas. Uma empresa pode ser eficiente em suas operações e pode não ser eficaz, ou vice-versa. Pode ser ineficiente em suas operações e, apesar disso, ser eficaz, muito embora a eficácia seja bem melhor quando acompanhada da eficiência. Pode também não ser nem eficiente nem eficaz. O ideal seria uma empresa igualmente eficiente e eficaz, a qual se poderia dar o nome de excelência. (CHIAVENATO, 2003, p. 155)

Buscando mencionar alguns elementos que possam diferenciar

eficiência e eficácia, Chiavenato apresenta a seguinte sugestão:

EFICIÊNCIA EFICÁCIA

Ênfase nos meios. Ênfase nos resultados.

Fazer corretamente as coisas. Fazer as coisas certas.

Resolver problemas. Atingir objetivos.

Salvaguardar os recursos. Otimizar a utilização dos recursos.

Cumprir tarefas e obrigações. Obter resultados.

Treinar os subordinados. Dar eficácia aos subordinados.

Manter as máquinas. Máquinas em bom funcionamento.

Presença nos templos. Prática de valores religiosos.

Rezar. Ganhar o céu.

Jogar futebol com arte. Ganhar a partida.

Quadro 1 – Diferenças entre eficiência e eficácia (CHIAVENATO, 2003, p. 156)

13

A eficiência não se preocupa com os fins, mas somente com os

meios, com foco nos aspectos internos da organização. Assim, quem se

preocupa com os fins, em atingir os objetivos é a eficácia, que busca o alcance

dos objetivos, com foco nos aspectos externos da organização.

Leon C. Megginson, Donald C. Mosley e Paul H. Pietri Jr. falam que

uma das maneiras de se medir o desempenho organizacional refere-se à

eficiência e à eficácia, conceitos que, segundo eles, são bem diferentes:

Eficiência é a capacidade de ‘fazer as coisas direito’, é um conceito matemático: é a relação entre insumo e produto (input e output). Um administrador eficiente é o que consegue produtos mais elevados (resultados, produtividade, desempenho) em relação aos insumos (mão-de-obra, material, dinheiro, máquinas e tempo) necessários à sua consecução. Em outras palavras, um administrador é considerado eficiente quando minimiza o custo dos recursos usados para atingir determinado fim. Da mesma forma, se o administrador consegue maximizar os resultados com determinada quantidade de insumos, será considerado eficiente. (MEGGINSON et al, 1998, p. 11)

Segundo Dalf a eficácia é difícil de ser medida nas organizações:

Às vezes a eficiência conduz à eficácia. Em outras organizações, eficiência e eficácia não são relacionadas. Uma organização pode ser altamente eficiente e não conseguir seus objetivos porque fabrica um produto para o qual não existe demanda. De maneira análoga, uma organização pode alcançar suas metas de lucros, mas ser ineficiente. (DALF, 1999, p. 39)

Torres traz os dois conceitos para a área pública:

Eficácia: basicamente, a preocupação maior que o conceito revela se relaciona simplesmente com o atingimento dos objetivos desejados por determinada ação estatal, pouco se importando com os meios e mecanismos utilizados para atingir tais objetivos. Eficiência: aqui, mais importante que o simples alcance dos objetivos estabelecidos é deixar explícito como esses foram conseguidos. Existe claramente a preocupação com os mecanismos utilizados para obtenção do êxito da ação estatal, ou seja, é preciso buscar os meios mais econômicos e viáveis, utilizando a racionalidade econômica que busca maximizar os resultados e minimizar os custos, ou seja, fazer o melhor com menores custos, gastando com inteligência os recursos pagos pelo contribuinte (TORRES, 2004, p. 175).

14

Atualmente foi incorporado um terceiro conceito, trata-se da

efetividade que na área pública, afere em que medida os resultados de uma

ação trazem benefício à população. Ou seja, ela é mais ampla que a eficácia,

na medida em que esta indica se o objetivo foi atingido, enquanto a efetividade

mostra se aquele objetivo trouxe melhorias para a população proposta.

Vale a pena recorrer novamente a Torres:

Efetividade: é o mais complexo dos três conceitos, em que a preocupação central é averiguar a real necessidade e oportunidade de determinadas ações estatais, deixando claro que setores são beneficiados e em detrimento de que outros atores sociais. Essa averiguação da necessidade e oportunidade deve ser a mais democrática, transparente e responsável possível, buscando sintonizar e sensibilizar a população para a implementação das políticas públicas. Este conceito não se relaciona estritamente com a idéia de eficiência, que tem uma conotação econômica muito forte, haja vista que nada mais impróprio para a administração pública do que fazer com eficiência o que simplesmente não precisa ser feito. (TORRES, 2004, p. 175)

1.3 – Gestão Pública: Conceitos Básicos

Quando se fala de gestão, tende-se a associar à empresa privada,

mas a gestão também está presente no setor público como ferramenta para a

administração, com vista a melhorar a condição do trabalhador, dos serviços e

dos produtos ofertados. No Brasil a administração do setor público recebe

influência em função das mudanças ocorridas nas práticas de gerenciamento.

O uso da palavra gestão tem se intensificado nos últimos anos de

forma notória. Mas as palavras gestão e administração são muito comuns no

cotidiano, não apenas para as pessoas com curso superior em Administração,

mas também no vocabulário de várias pessoas, muitos compreendem estes

termos como sinônimos.

Então seriam termos semelhantes?

15

No Dicionário Aurélio mostra que suas origens vêm do latim, têm

estruturas diferentes, mas são traduzidas de forma equivalente:

Administração [Do lat. Administratione] S. f. 1. Ação de administrar. 2. Gestão de negócios públicos ou particulares. 3. Governo, regência. 4. Conjunto de princípios, normas e funções que têm por fim ordenar os fatores de produção e controlar a sua produtividade e eficiência, para se obter determinado resultado. 5. Prática desses princípios, normas e funções: administração de uma empresa. 6. Função de administrador; gestão, gerência. [...] Gestão [Do lat. Gestione] S. f. Ato de gerir; gerência, administração. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 47 e p. 849)

Na busca de um conceito de administração pública, Hely Lopes

Meirelles cita:

Em sentido lato, administrar é gerir interesses, segundo a lei, a moral e a finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheia. Se os bens e interesses geridos são individuais, realiza-se administração particular; se forem da coletividade realiza-se administração pública. Administração pública, portanto, é a gestão de bens e interesses qualificados da comunidade no âmbito federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos do Direito e da Moral, visando o bem comum. (MEIRELLES, 1990, p. 78-79)

Segundo Tenório e Saraiva (2006, p. 114) “a gestão pública,

independentemente da organização que a pratique , deve estar orientada para

o público e não para o privado, para o coletivo e não para os indivíduos, para o

benefício da comunidade e não dos compadres”.

No que diz respeito à administração pública no sentido formal,

conforme Meirelles (1990, p. 59) “é o conjunto de órgãos instituídos para

consecução dos objetivos do Governo”, no sentido material, “é o conjunto das

funções necessárias aos serviços públicos em geral”.

De acordo com a Revista Negócios Públicos (2009), a estrutura

organizacional da administração brasileira, de acordo o Decreto-Lei 200/67,

está dividida em duas ordens de gestão: a da administração direta e a da

administração indireta.

A primeira, integrada pelos órgãos subordinados, sem

personificação jurídica própria, que operam os departamentos, diretorias,

serviços e seções em que se decompõem os Ministérios, na esfera da União;

as Secretarias de Estado, no âmbito dos Governos de cada Estado membro ou

16

do Distrito Federal; e as Secretarias municipais, na esfera das Prefeituras de

cada Município. A segunda, integrada por entidades, cada qual com

personalidade jurídica própria e autonomia patrimonial e financeira, vinculadas

aos Ministérios ou Secretarias, quais sejam as autarquias, fundações públicas,

empresas públicas e sociedades de economia mista, nas três esferas do

Governo. Essas duas ordens foram constitucionalizadas nos arts. 37 e 173 do

Texto Fundamental de 1988, que lhes deram unidade principiológica e as

submeteram a diretrizes gerais.

Uma expressão que deve ser detalhada é “órgão público”, segundo

Bandeira de Mello (2005, p. 128) “são unidades abstratas que sintetizam os

vários círculos de atribuições do Estado”. A Lei 9.784/99, que regula o

Processo Administrativo, define órgão como sendo “a unidade de atuação

integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da

Administração indireta”.

Agente público são todas as pessoas físicas, incumbidas, definitiva

ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal, desempenham

funções do órgão, distribuídas entre os cargos de que são titulares.

Recorrendo-se ao dicionário jurídico:

Serviço público é o universo de ações do Estado, por ele diretamente empreendidas ou desempenhadas por particular, mediante autorização, permissão, concessão ou delegação. [...] Servidor público é a pessoa que, aprovada previamente em concurso público de provas ou de provas e títulos, é investida em cargo ou emprego da administração direta, das autarquias e das fundações públicas. (DICIONÁRIO JURÍDICO, 1991, p. 519-520)

Depois de apresentar o significado de algumas expressões e termos

da administração pública, registra-se um comentário de Cármem Lúcia

Antunes Rocha:

[...] o Estado é estruturado em órgãos, compostos por cargos que são titularizados pelos agentes públicos. E a pessoa jurídica estatal atua exatamente por meios desses agentes. São eles que constituem os nervos e veias que fazem com que a criação humana, que é a pessoa de direito, aja, adote comportamentos e seja responsabilizada nos limites da lei; enfim, é o agente público que dá vida à pessoa jurídica pública. (ROCHA, 1999, p. 57)

17

CAPÍTULO II

Princípio da Eficiência:

Implementação na Gestão Pública

2.1 – Formas de Administração Pública no Brasil

A administração pública em nosso país vem passando por um

processo de evolução marcado por três modelos diferentes:

Administração Pública Patrimonialista (Estado Absolutista) – nesta

forma de administrar, o Estado e seus agentes possuem um status de nobreza.

O patrimônio do Estado confunde-se com o patrimônio do soberano, Estado

como propriedade do Rei. O resultado era insatisfação popular, corrupção e

nepotismo. O modelo de gestão causava confusão entre os cargos públicos e

o grau de parentesco e afinidades entre os nobres e outros agentes do

governo, uma herança típica do injusto modelo administrativo das antigas

monarquias.

Foi marcante durante o período imperial e continou forte na

República Velha, como compensação, proporcionada pela elite dominante, à

classe média nacional. Ainda assim, seus traços são visíveis em diversas

instâncias da administração pública até os dias de hoje.

Sob a ótica de Martins (1995), a herança cultural patrimonialista é

profundamente enraizada na cultura político-social do povo brasileiro, fazendo

com que, mesmo num cenário de mudanças econômicas e sociais observadas

no País, ainda assim o nepotismo, o favoritismo e o clientelismo, sob as suas

mais diferentes formas, sejam características culturais presentes na sociedade,

sendo, inclusive, reforçadas por meio do populismo.

Foi através do combate a estas injustiças e à corrupção que nasceu

o modelo de administração pautado pela burocracia.

18

Fazendo uso do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado

(PDRAE):

No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo momento histórico, a administração patrimonialista torna-se uma excrescência inaceitável. (BRASIL, 1995, p. 15)

Administração Pública Burocrática – aparece na segunda metade do

século XIX para combater a corrupção e o nepotismo da administração citada

anteriormente. Baseia-se nas idéias do modelo racional-legal do sociólogo Max

Weber, que apresenta forte presença das características como: a hierarquia da

autoridade; o caráter legal das normas e regulamentos; o caráter formal das

comunicações; a impessoalidade das relações; a meritocracia; a

especialização da administração; e ainda rotinas e procedimentos

padronizados.

Os controles administrativos funcionavam previamente, para evitar a

corrupção, por esta razão, são necessários controles rígidos em todos os

processos, como na admissão de pessoal, nas contratações do Poder Público

e no atendimento às necessidades da população.

Para Ferreira (1996, p. 8) “o modelo de administração pública

burocrática surge com a preocupação de combater os excessos do modelo

patrimonialista”.

Embora possua mérito de ser efetiva no controle dos abusos, corre

o risco de transformar o controle em um verdadeiro fim do Estado, e não um

simples meio de atingir seus objetivos. Com isso a administração volta-se para

si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir à sociedade.

O seu grande problema é a possibilidade de se tornar ineficiente e incapaz de

atender adequadamente os desejos dos cidadãos.

Conformemente o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado

(1995, p. 15) “O Estado limitava-se a manter a ordem e administrar a justiça, a

garantir os contratos e a propriedade”.

19

Administração Pública Gerencial – surge na segunda metade do

século XX mostrando-se como solução para os problemas da administração

pública burocrática. A eficiência da administração é priorizada, o aumento da

qualidade dos serviços e a redução dos custos. Procura-se desenvolver uma

cultura gerencial nas organizações, com ênfase nos resultados, e aumentar a

governança do Estado, isto é, a sua capacidade de gerenciar com efetividade

e eficiência. O cidadão é peça importante para o correto desempenho da

atividade pública, por ser considerado seu principal beneficiário, o cliente dos

serviços prestados pelo Estado.

De acordo com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado

(PDRAE):

Na administração pública gerencial a estratégia volta-se (1) para a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade, (2) para a garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição para que possa atingir os objetivos contratados, e (3) para o controle ou cobrança a posteriori dos resultados. Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer concorrência entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins). (BRASIL, 1995, p. 16)

A administração pública gerencial constitui um avanço, todavia sem

romper definitivamente com administração pública burocrática, tendo em vista

não negar seus métodos e seus fundamentos. Na verdade, a administração

gerencial apóia-se na burocracia, conservando suas regras, como por

exemplo, a admissão de pessoal conforme regras rígidas, a meritocracia na

carreira pública, as avaliações de desempenho, o aperfeiçoamento profissional

e um sistema de remuneração estruturado.

A diferença consiste na forma como é feito o controle, que passa a

convergir-se nos resultados, não mais nos próprios processos, buscando-se a

garantia da autonomia do servidor para alcançar tais resultados, que serão

examinados futuramente.

20

Admite-se uma maior participação da sociedade civil na prestação

de serviços públicos. São as paraestatais, que faz parte do terceiro setor,

formado por entidades da sociedade civil de fins públicos e não lucrativos,

como as organizações sociais e as organizações da sociedade civil de

interesse público (OSCIPs). Este setor passa a existir simultaneamente com o

primeiro setor, que é o Estado, e com o segundo setor, que é o mercado.

No gerencialismo, a idéia de interesse público é diferente do modelo

burocrático, este modelo enxerga o interesse público como interesse do próprio

Estado, quanto que na administração gerencial vê este interesse com o dos

cidadãos, passando os integrantes da sociedade a serem visto como clientes

dos serviços públicos.

No momento atual, o modelo gerencial na administração pública

vem cada vez mais se tornando sólido, com a mudança de estruturas

organizacionais, o desenvolvimento de metas a alcançar, a redução da

máquina estatal, a descentralização dos serviços públicos, a criação de

agências reguladoras para zelar pela adequada prestação dos serviços, etc.

Este modelo propõe-se a promover o aumento da qualidade e da

eficiência dos serviços prestados pela administração pública aos seus clientes:

os cidadãos.

2.2 – Reformas Administrativas no Brasil

A estruturação da máquina administrativa no Brasil começa no

governo de Getúlio Vargas, com a sistematização e a organização dos papéis

do Estado em termos econômicos, políticos e sociais.

A era Vargas foi formada por duas fases, sendo a primeira entre

1930 e 1937. Neste período foram promulgadas duas Constituições, nos anos

1934 e 1937. A segunda estabeleceu no Brasil o fascismo do Estado Novo. As

referências ao desejo de construção do Estado de bem-estar social são

características comuns a ambas as Constituições, providente das

necessidades básicas do povo brasileiro.

21

Com a Constituição de 1934 o Estado brasileiro assume o seu

caráter político social, e passa a se aproximar dos cidadãos. Foram incluídos

no documento três títulos então não existentes, tratando sobre a ordem

econômica e social, da família, educação e cultura e da segurança nacional.

O conceito de serviço público amplia-se tendo em vista a absorção

do regime publicístico, por parte do Estado, que começa a fazer atividades

outrora feitas pelos particulares. O Estado assume o papel de promotor do

desenvolvimento econômico e do bem-estar geral, quando da construção de

uma máquina administrativa eficiente.

Com o Estado Novo começa a desaparecer a representação popular

através do Congresso Nacional. Para substituir a competência do parlamento

na produção das normas, o governo investe na criação de órgãos técnicos. O

artigo 67, alínea "a", da Constituição Polaca, colocado na parte destinada à

elaboração orçamentária, estabelece a criação do Departamento

Administrativo do Serviço Público (DASP). A criação desse Departamento foi

regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 579, publicado no dia 30 de julho de 1938,

foi o principal órgão na implantação da administração burocrática no país,

tendo sido responsável pela normatização e organização do chamado “tripé da

administração burocrática”, as áreas de: material, pessoal e orçamento.

O relato de Briggs enumera as iniciativas preparatórias à

estruturação do DASP:

Muito já se fez, desde outubro de 1936 [criação do CFSPC]: a fixação de normas para selecionamento de candidatos ao funcionalismo, a padronização do material, a lei orgânica do pessoal extranumerário, o regulamento de promoções, a lei sobre consignações em folha, a criação do serviço do pessoal nos Ministérios, a criação do IPASE, a criação do INEP. (BRIGGS, 1938, p. 18)

O Governo Vargas foi um tempo de grande centralização,

principalmente na política, porque o Estado Novo era uma ditadura. Havia

também centralização administrativa, uma vez que se tratava de um modelo

burocrático rígido sem autonomia para os funcionários. De acordo com Pereira

e Spink (1998), a criação do DASP não apenas representou a primeira reforma

administrativa do país, com a implantação da administração pública

22

burocrática, como também a afirmação dos princípios centralizadores e

hierárquicos da burocracia clássica.

Frederico Lustosa também fala em centralização:

[...] A ditadura fechou o Congresso Nacional e as assembléias legislativas, suspendeu as garantias constitucionais, destituiu os governadores eleitos, centralizou recursos, aboliu as bandeiras e os hinos estaduais, prendeu e perseguiu adversários e oposicionistas e outorgou uma nova constituição, a dita polaca. A centralização passa a constituir um princípio de organização do Estado brasileiro que se aplica de forma sistemática em todos os setores e níveis de estruturação territorial. (COSTA, 2008, p. 843-844)

Assim, se de um lado existia a centralização hierárquica e política,

de outro existia a descentralização funcional, aquela realizada para as

entidades da administração indireta.

Conforme Sônia Draibe:

A acelerada montagem entre 1930 e 1945 do aparelho econômico estatal centralizado obedeceu, na prática, ao princípio de centralização dos comandos e de descentralização funcional ou administrativa. (DRAIBE, 1985, p. 276)

Todavia, se por um lado houve centralização política e hierárquica,

por outro lado o Governo Vargas já era marcado pela descentralização

funcional, com a criação de entidades da administração indireta.

Principais marcas da 1ª reforma administrativa:

- Ingresso no serviço público por concurso;

- Critérios gerais e uniformes da classificação de cargos;

- Organização dos serviços de pessoal e de seu aperfeiçoamento

sistemático;

- Administração orçamentária;

- Padronização de compras do estado;

- Racionalização geral de métodos; e

- Órgãos reguladores - Conselhos, comissões e institutos.

23

A segunda reforma acontece no período da Ditadura Militar.

Este período começou com o Golpe de Estado em março de 1964 e

permaneceu até 1985. Politicamente teve como característica o aumento da

tutela do Estado nas questões civis.

Através do regime militar, as estruturas administrativas tornaram-se

fortemente hierarquizadas e centralizadas.

Assim, sob o manto legal do Decreto-lei nº 200, de 25/02/1967,

surge a Segunda Reforma Administrativa brasileira, tentando superar a rigidez

burocrática então vigente e conduzi-la à Administração Pública Gerencial.

Para Pereira (1998) a Reforma Administrativa de 1967 se resume

nos seguintes itens: transferência da produção de bens e serviços da

administração centralizada para autarquias, fundações, empresas públicas e

sociedades de economia mista; princípios administrativos do planejamento,

racionalidade administrativa, orçamento, descentralização e controle por

resultados; contratação de empregados celetistas nas unidades

descentralizadas; expansão das empresas estatais; alianças entre os

tecnoburocratas governamentais e a classe empresarial (“anéis burocráticos”);

reorganização do DASP.

Segundo José de Nazaré, nesta reforma o foco era:

“por fim a uma situação de inexistência de controle real, efetivo, da Administração Federal, problema que, por si, equivalia a romper com uma tradição de 60 anos, enraizada em concepções jurídicas que relegavam a segundo plano as lições da arte de administrar.” (DIAS, 1968, p. 17)

Nova etapa do aperfeiçoamento estatal brasileiro surge em julho de

1979, com a criação do Programa Nacional de Desburocratização, sob o

comando do ministro extraordinário Helio Beltrão, demonstrando a vontade

política do então Presidente João Figueiredo em intensificar o esforço iniciado

em 1967. Foi proposta a simplificação de estruturas e de procedimentos

administrativos e judiciais, a “despapelização”, o enxugamento de atos e

normas e as excessivas exigências de documentos.

24

Para o próprio ex-ministro Helio Beltrão, os resultados do Programa

de Desburocratização:

[e] Foram alcançados significativos progressos no sentido de

facilitar a vida do cidadão e do empresário. Centenas de

inovações simplificadoras foram expedidas, através de leis,

decretos-leis, portarias e outros atos. Conseqüentemente

foram abolidos mais de 600 milhões de documentos e

formalidades por ano. Mais de 3 mil atos de delegação de

competência foram assinados nos vários níveis da

Administração federal, com o objetivo de desconcentrar e

abreviar a resolução dos assuntos. [e] Mais importante que

todos esses números é, entretanto, o grau de conscientização

que vem o Programa rapidamente alcançado. A

palavra desburocratizar está na ordem do dia, presente na

boca do povo, no noticiário, e, sobretudo, nos protestos contra

os excessos burocráticos, que já se observam nas filas e nos

guichês. Esta é a vitória mais importante registrada pelo

Programa. [e] É tarefa para, pelo menos, uma geração.

(BELTRÃO, 1984, p. 39)

Principais marcas da 2ª reforma administrativa:

- Espécie de Lei Orgânica da Administração Pública;

- Princípios do planejamento, da coordenação, da descentralização, da

delegação de competência e do controle;

- Distinção entre a administração direta e a indireta;

- Sistemas de atividades - pessoal, orçamento, estatística, administração

financeira, contabilidade e auditoria e serviços gerais;

- Bases do controle externo e interno;

- Normas de aquisição e contratação de bens e serviços; e

- Plano de classificação de cargos.

25

Durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi

criado o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE),

considerado a terceira grande reforma da administração pública brasileira.

O PDRAE por tratar-se de um documento institucional elaborado

pela Câmara da Reforma do Estado vinculada à Presidência da República, não

possui um autor individual, sendo produto do trabalho deste organismo.

Entretanto o grande coordenador deste processo (pela posição de Ministro da

Administração e Reforma do Estado e pelo fato de ser um dos maiores teóricos

na área no Brasil e próximo ao Presidente) foi Luiz Carlos Bresser Pereira.

O principal objetivo deste Plano seria a retomada da capacidade de

governança pública, fundamentada na revisão do sistema jurídico/legal e das

formas de propriedade do Estado.

O PDRAE buscou inovar no modelo de Administração Pública, com

o argumento de que a velha burocracia é, em essência, um dos maiores

problemas do Estado brasileiro. Desta forma a necessidade de um novo

modelo de gestão para o setor público, bem como a mudança na forma de

tratamento da crise do Estado, da maneira como é justificada no Plano Diretor,

pressupunham a insuficiência ou inadaptação das posturas político-ideológicas

anteriores, que, em grande medida, abriram espaço para agravá-la ainda mais.

Define-se a mudança da cultura burocrática para a cultura gerencial,

com a promoção de um novo modelo de Estado, que motiva a participação da

sociedade civil na gestão pública, que reconhece o potencial do servidor e de

sua importância no processo produtivo e que busca efetivar a construção de

um ambiente de igualdade e de oportunidades entre os cidadãos.

Segundo Bresser:

A reforma do Estado e particularmente, a reforma gerencial é antes uma reforma institucional do que uma reforma de gestão. Está baseada na criação de instituições normativas e de instituições organizacionais que viabilizem a gestão. (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 23)

Para atingir o aumento da eficiência, a forma administrativa

projetada pelo modelo gerencial se baseia no deslocamento da ação

governamental, centralizada em torno do controle da gestão conduzida por

órgãos técnicos, para a descentralização e a transferência de

26

responsabilidades, inclusive pela condução da gestão financeira e

orçamentária, para novas instituições legais e organizacionais, assumindo o

ente público e sua burocracia profissional a postura de promotores do

desenvolvimento social.

É, pois, no envolvimento da sociedade civil que se encontra

justamente uma das propostas mais audaciosas quanto à reestruturação do

Estado. Como consequência deste movimento, destacam-se a

institucionalização do Programa Nacional de Publicização os processos de

criação das Organizações Sociais (OS), conforme a Lei nº 9.637/98, e as

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), conforme a Lei

nº 9.790/99, como entes da sociedade organizada sem fins lucrativos, e que se

prontificam a receberem estas qualificações jurídicas.

(...) permitir a descentralização de atividades no setor de prestação de serviços não-exclusivos, nos quais não existe o exercício do poder de Estado, a partir do pressuposto que esses serviços serão mais eficientemente realizados se, mantendo o financiamento do Estado, forem realizados pelo setor público não-estatal. (BRASIL, 1995, p. 74)

Quadro 2 – Modelo Esquemático do PDRAE (BRASIL, 1995, p. 48)

27

Principais marcas da 3ª reforma administrativa:

- Ajustamento fiscal duradouro;

- Reformas econômicas orientadas para o mercado que, acompanhadas de

uma política industrial e tecnológica, garantissem a concorrência interna e

criassem condições para o enfrentamento da competição internacional;

- A reforma da previdência social;

- A inovação dos instrumentos de política social, proporcionando maior

abrangência e promovendo melhor qualidade para os serviços sociais; e

- A reforma do aparelho de Estado, com vistas a aumentar sua “governança”,

ou seja, sua capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas.

2.3 – A Constitucionalização do Princípio da Eficiência

A Emenda Constitucional nº 19/98, adicionou ao caput do artigo 37

da Constituição Federal, a obrigatoriedade pela administração pública de

obedecer, além dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade, o da eficiência.

O artigo 37, caput passou a vigorar com a seguinte redação:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] (BRASIL, 1988, grifo nosso)

A constitucionalização da eficiência assinala a representação

máxima da incorporação de orientações típicas da gestão privada no âmbito da

Administração Pública. No âmbito privado, a finalidade que é a obtenção do

lucro, deve ser perseguida por meio da redução dos custos. No setor público,

contudo, as metas são abstratas, como “o interesse público”, e os meios a

serem considerados para sua consecução, os mais variados, como recursos

financeiros, humanos, burocráticos, fatores políticos, dentre outros.

Todavia, a eficiência, antes mesmo da Emenda Constitucional

nº 19/98, já estava prevista no ordenamento jurídico brasileiro. O inciso II do

artigo 74 dispõe, desde 1988, um sistema de controle interno, que os Poderes

28

Legislativo e Executivo devem manter, de maneira integrada, com a finalidade

de comprovar a legalidade e comprovar os resultados, quanto à eficácia e

eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e

entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos

públicos por entidades de direito privado. (BRASIL, 1988).

A inserção do princípio da eficiência veio acompanhada de uma

grande reforma estatal, destinada à reforma do modo de intervenção estatal,

voltando-o para o modelo gerencial.

Segundo Moraes, os objetivos perseguidos pela reforma

administrativa podem ser retirados da Mensagem Presidencial 886/95,

convertida na Proposta de Emenda Constitucional nº 173/95, a qual deu

origem à Emenda Constitucional nº 19/98:

Incorporar a dimensão de eficiência na administração pública; o aparelho do Estado deverá se revelar apto a gerar mais benefícios, na forma de prestação de serviços à sociedade, com recursos disponíveis, em respeito ao cidadão contribuinte, e enfatizar a qualidade e o desempenho nos serviços públicos: a assimilação, pelo serviço público, da centralidade no cidadão e da importância da contínua superação de metas desempenhadas, conjugadas com a retirada de controles e obstruções legais desnecessários, repercutirá na melhoria dos serviços públicos. (MORAES, 2009, p. 331)

O dever da eficiência representa a principal característica da

administração pública vivenciada a partir da vigência da EC 19/98, conforme

Dalton Santos Morais:

A fixação da eficiência como princípio constitucional modificou o paradigma de interpretação de nosso Direito Administrativo, propiciando cabedal jurídico para impor à Administração Pública uma atuação mais ágil, menos burocrática e, por isso mesmo, mais consentânea à atual sociedade moderna. (MORAIS, 2004, p. 229)

As consequências da primazia constitucional (MORAIS, 2004)

podem ser assim resumidas:

a) Implementação da avaliação de desempenho dos servidores públicos e

relativização da estabilidade dos mesmos, em casos específicos;

29

b) A atuação conjunta entre o Poder Público e a sociedade civil organizada,

através das Organizações Sociais de Interesse Público (OSCIPs) e

Organizações Sociais (OS);

c) A instituição de nova modalidade de licitação: o Pregão e o Pregão

Eletrônico; e

d) Promoção do equilíbrio das finanças públicas governamentais, através da

edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/2000).

Primeiramente mencionado como "qualidade dos serviços

prestados" o princípio da eficiência passou a ser de observância obrigatória na

atividade administrativa e na prestação de serviços públicos dos entes da

administração direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

30

CAPÍTULO III

PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA:

Benefícios para Gestão Pública

3.1 – A Eficiência nos Processos de Aquisição de Bens e

Serviços

Sabemos que o instituto da licitação é regido pela Lei Nº 8.666, de

21 de Junho de 1993, que regulamenta o art. 37, XXI da Constituição Federal.

Nessa lei de normas sobre licitações e contratos, prevê cinco

modalidades de licitação: concorrência, tomada de preços, convite, concurso e

leilão, elas possuem características próprias que diferenciam umas das outras,

sendo cada qual apropriada a determinados tipos de contratação.

A licitação aparece como modo de implementar os princípios da

administração pública na contratação de bens e serviços, podendo ser

conceituada como um procedimento administrativo que tem como objetivo à

escolha da melhor proposta dentre as apresentadas por aqueles interessados

em contratar com o Governo.

Licitações nas palavras de Celso Bandeira de Mello:

[...] o procedimento administrativo pelo qual uma pessoa governamental, pretendendo alienar, adquirir ou locar bens, realizar obras ou serviços, outorgar concessões, permissões de obra, serviço ou de uso exclusivo de bem público, segundo condições por ela estipuladas previamente, convoca interessados na apresentação de propostas, a fim de selecionar a que se revele mais conveniente em função de parâmetros antecipadamente estabelecidos e divulgados. (MELLO, 2004, p. 485).

A Lei Nº 8.666/93 recebeu diversas críticas desde a sua instituição,

especialmente porque ela “engessa sobremodo a Administração” que promove

a licitação. Esta lei fez com que a Administração viesse a licitar, através, de

editais, do tipo menor preço, em detrimento da qualidade. Nela estão previstos

os tipos “técnica e preço” e até melhor técnica, mas são tipos que exigem uma

elaboração mais complexa do edital, e só se aplicam em exceções.

31

A licitação visa a que a Administração Pública empregue moralidade

e probidade na sua relação com fornecedores, prestadores, compradores,

locatários, parceiros, dentre outros, e também para que seja selecionada a

melhor proposta para firmar-se futuro contrato.

Observar a isonomia e a segurança jurídica nas relações entre o

Estado e o particular, são critérios indispensáveis no desenvolvimento do

procedimento licitatório.

Acontece que esse procedimento encontra-se ultrapassado para a

nova realidade frente às necessidades do Estado, o modelo tradicional não

reflete o rendimento, celeridade e perfeição que atualmente dele se espera e

também que dele se necessita.

Com a finalidade de implementar a tão esperada eficiência em seu

procedimento licitatório, principalmente naqueles em que se buscam serviços

ou bens classificados como simples, foi criada uma nova modalidade de

licitação denominada pregão.

O pregão foi expressamente pela Lei Nº 10.520, de 17 de julho de

2002, que a estendeu a sua aplicação a todos os entes políticos.

Conforme as palavras de Jorge Ulisses Jacoby Fernandes o pregão pode ser conceituado como:

O procedimento administrativo por meio do qual a Administração Pública, garantindo a isonomia, seleciona fornecedor ou prestador de serviço, visando à execução de objeto comum no mercado, permitindo aos licitantes, em sessão pública presencial ou virtual, reduzir o valor da proposta por meio de lances verbais e sucessivos (FERNANDES, 2006, p. 455).

Diante das exigências de rapidez e eficiência características da

Administração Gerencial, a disciplina legal do pregão evoluiu, se adequando à

nova realidade tecnológica e introduzindo no Brasil as compras virtuais por

meio do Pregão Eletrônico. O Decreto Nº 5.450, de 31 de maio de 2005,

fortaleceu ainda mais o instituto do pregão, não somente instituindo a

modalidade eletrônica, mas, principalmente, tornando obrigatória a utilização

da modalidade pregão, preferencialmente eletrônico, para a aquisição de bens

e serviços comuns pela União.

32

Principais características da licitação por pregão:

a) Critério de julgamento

Sempre o menor preço. Já que o pregão só vale para produtos e

serviços comuns, nada mais óbvio que privilegiar, na escolha da empresa

fornecedora, o menor preço, afinal a licitação tipo melhor técnica é para

produtos mais complexos e projetos singulares.

b) Inversão da ordem das fases

Uma das principais novidades do pregão é que a ordem das fases

de habilitação e julgamento de propostas é invertida em relação às demais

modalidades de licitação. Primeiro vem a etapa de preços e, em segundo, a

fase de habilitação.

c) Limite de preço

O governo tem, por lei, a obrigação de fazer uma pesquisa de

mercado, para ter um parâmetro de preços nas licitações. Se as propostas

forem mais caras do que a pesquisa, ele dificilmente poderá realizar a compra.

No pregão, caso o pregoeiro não consiga atingir pelo menos o preço de

referência, mesmo após a negociação, ele tem a possibilidade de

desclassificar este competidor e convidar a empresa que obteve a segunda

colocação para negociar. Se tal procedimento não vingar, o pregão pode

acabar anulado.

d) Lei dos 10%

No dia do pregão, a primeira coisa a ser feita é a abertura das

propostas comerciais dos participantes e, logo em seguida, inicia-se o leilão

reverso. Porém, só passam para esta fase, as empresas que apresentaram

propostas com o preço no máximo 10% superior que a menor proposta. Quem

não estiver dentro deste limite cai fora da competição.

e) Leilão reverso

O pregão funciona como um leilão, só que reverso (ao invés de

quem dá mais, vale o quem dá menos). As empresas apresentam suas

33

propostas de preços e, em seguida, começam a diminuir seus preços, sem

limite para queda dos valores.

f) Fase de negociação

Após a fase de lances, o pregoeiro, que exerce a função de

coordenador dos pregões, tem a possibilidade de negociar uma redução de

preços ainda maior com a empresa vencedora.

g) Habilitação rápida

No pregão, a fase de habilitação é realizada somente após a fase de

preços. Portanto, o governo só irá avaliar a documentação da empresa

vencedora da etapa de lances. Isso agiliza o processo de contratação,

diminuindo a burocracia. Caso a documentação da empresa vencedora não

esteja de acordo com o estabelecido no edital, o pregoeiro pode oferecer um

prazo de alguns dias para que a empresa entregue toda a documentação.

Diante do exposto, mostra-se a importância do pregão como instituto

pioneiro da implementação da “Nova Administração Pública” na seara das

licitações públicas no Brasil, que conforme Marçal Justen Filho:

Em suma, pode-se esperar que, ao longo do tempo, a Lei 8.666 torne-se um diploma cuja única utilidade normativa será a veiculação de princípios gerais. A disciplina concreta das licitações será efetivada por meio de diplomas específicos. E um papel fundamental caberá à figura do pregão. (JUSTEN FILHO, 2005, p. 09).

3.2 – A Eficiência na Atividade dos Servidores Públicos

Para que os serviços públicos sejam prestados de maneira eficiente,

é necessária a regulação de suas atividades, o maior intuito dessa regulação

foi mudar o pensamento do servidor, inserindo uma atuação igual ao do setor

privado, de maximização dos resultados, redução dos custos e satisfação do

cliente (que nessa situação é a sociedade), tudo isso com os recursos de que

se dispõe.

34

O princípio da eficiência confere o dever jurídico imposto ao servidor

público. Logo, mencionam-se as palavras de Hely Lopes Meirelles:

Dever de eficiência é o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros. (MEIRELLES, 1990, p. 60)

E para Larissa Solek Teixeira:

O princípio traduz o dever jurídico sobre o agente público de produzir de modo eficiente em situações reais e concretas, de tal forma que a conduta administrativa dele deve ser moderada pelo dever de boa administração, o que implica não só obediência à lei, mas produtividade, profissionalismo e adequação técnica do exercício funcional em favor da satisfação do interesse público. (TEIXEIRA, 2001, p. 29)

O servidor público é escolhido através de concurso público, salvo

nos casos de livre nomeação e exoneração.

Para que os servidores continuem no serviço público é preciso que

desenvolva seu trabalho com qualidade e eficiência, o que ocasionará com os

demais requisitos, sua aprovação no estágio probatório, ou ainda perder sua

estabilidade mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho,

no qual é garantida a ampla defesa e o contraditório.

Neste contexto, pronuncia Cereijido:

A existência do concurso, pressuposto prévio da admissão e conquista futura da estabilidade pelo servidor efetivo, era vista, aprovado o candidato, como suficiente para garantir contínua habilitação do candidato para o desempenho do cargo ou função. Essa mentalidade foi exatamente o que a nova redação do artigo 41 da Carta Magna procurou atacar. Buscar-se-ia o contínuo aperfeiçoamento e atualização dos servidores, de modo a adaptá-los e motivá-los a se prepararem às contínuas mudanças tecnológicas e operacionais. Isso supostamente acabaria por fazer com que o servidor atuasse de maneira necessariamente mais eficiente, na busca do aprimoramento funcional e profissional. (CEREIJIDO, 2001, p. 238)

35

Ou seja, o dispositivo deixou claro que periodicamente a

Administração realizará avaliações de desempenho, a fim de aferir o grau de

comprometimento do servidor com o dever de eficiência.

Os servidores que conseguirem um rendimento funcional estarão

ajudando para um resultado positivo para o serviço público e prestando

satisfatório atendimento das necessidades da sociedade.

Para Meirelles:

A eficiência funcional é, pois, considerada em sentido amplo, abrangendo não só a produtividade do exercente do cargo ou função como a perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administração, para o quê se avaliam os resultados, confrontam-se os desempenhos e se aperfeiçoa o pessoal através de seleção e treinamento. Assim, a verificação da eficiência atinge os aspectos quantitativo e qualitativo do serviço, para aquilatar do seu rendimento efetivo, do seu custo operacional e da sua real utilidade para os administrados e para a Administração. (MEIRELLES, 2003, p. 103)

Com esses resultados, pode-se aperfeiçoar o servidor por meio de

treinamento, por isso cabe à Administração, nos termos do artigo 39, § 2º da

Constituição, manter escolas de governo para sua formação e

aperfeiçoamento, constituindo-se a participação dos cursos um dos requisitos

para a promoção na carreira.

Um bom servidor público é aquele que segue a moral administrativa,

eficiência, justiça e racionalidade, incluindo não somente o Princípio da

Eficiência, como outros princípios.

O intuito maior da realização de uma atividade pública é oferecer à

sociedade um serviço rápido, eficiente e com bons resultados, que tragam

retorno para os desejos sociais.

Por fim, a Emenda Constitucional nº 19/98 também teve a

preocupação de assegurar à sociedade o direito de fiscalizar o cumprimento do

dever de eficiência da Administração. Um exemplo dessa fiscalização está no

art. 37, § 3º da Constituição Federal, que determina que a lei deva disciplinar

as formas de participação do cidadão na administração direta e indireta.

36

Em decorrência desse dispositivo, ninguém mais pode impedir que o

cidadão exerça pessoalmente o controle externo da Administração Pública,

dispondo o cidadão de diversos mecanismos de controle regulados por

legislação infraconstitucional.

3.3 – Eficiência e a Lei de Responsabilidade Fiscal

Inicialmente, cumpre assinalar que o projeto que deu origem à Lei

Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, também conhecida como Lei de

Responsabilidade Fiscal (LRF) foi elaborado pelo poder executivo e encontra

respaldo no artigo 165, § 9º da Constituição Federal.

Nesta Lei está explícito o propósito de corrigir rumos da

Administração, limitando os gastos às receitas, mediante adoção das técnicas

de planejamento governamental, organização, controle interno e externo e

transparência das ações de governo em relação à população. Ainda nos

termos desse texto legal, ficam os administradores públicos expressamente

responsáveis por ações implementadas no exercício de suas funções e

sujeitos a penalidades.

Conforme o § 1º, do art. 1º, da LRF:

A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento das metas de resultados de receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia da receita, geração de despesas com pessoal [...]. (BRASIL, 2000)

O fundamento da LRF está nos artigos 163 a 169 da Constituição

Federal, mas especificamente no artigo 165, § 9º, os quais expressam a

intenção do legislador de promover uma administração financeira eficiente,

atendendo ao critério de maior controle da sociedade sobre o Estado.

O administrador público precisa ser eficiente, ou seja, deve ser

aquele que planeja o orçamento pautado pela obediência à objetividade e à

imparcialidade. Igualmente, é aquele que produz o efeito desejado da

execução orçamentária, que dá bom resultado, exercendo suas atividades sob

o manto da igualdade de todos perante a lei.

37

A gestão pública deve apresentar-se com transparência, fornecendo

relatórios objetivos que demonstrem a veracidade da situação financeiro-

econômica dos seus órgãos, para que haja eficiência concernente às suas

funções, ou seja, obtenção de resultados satisfatórios referentes às ações

planejadas, a partir da capacidade de aplicação dos recursos de forma

otimizada, em face da atuação dos gestores (BEZERRA FILHO, 2008), uma

vez que esse aspecto é observado com o resultado obtido junto ao retorno

auferido pela população.

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê o seguinte:

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. (BRASIL, 2000)

A LRF trouxe uma nova normatização da lei de crimes contra a

administração pública. Dentre tais destaca-se o que prevê o artigo 73 da LRF,

que refere-se a responsabilização pessoal dos Agentes Públicos.

De acordo com a LRF “Art. 73. As infrações dos dispositivos desta

Lei Complementar serão punidas segundo o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 (Código Penal) [...].” (BRASIL, 2000)

Algumas normas e princípios da LRF merecem destaque. Podemos

citar:

a) Limites de gastos com pessoal: a lei fixa limites para essa

despesa em relação à receita corrente líquida para os três Poderes e para

cada nível de governo (União, Estados, Distrito Federal e Municípios);

b) Limites para o endividamento público: serão estabelecidos pelo

Senado Federal por proposta do Presidente da República;

38

c) Definição de metas fiscais anuais: necessário para os três

exercícios seguintes;

d) Estruturas de compensação para despesas de caráter

permanente: o governante não poderá criar uma despesa continuada (por

prazo superior a dois anos) sem indicar uma fonte de receita ou uma redução

de outra despesa; e

e) Estrutura para controle das finanças públicas em anos de eleição:

a lei impede a contratação de operações de crédito por antecipação de receita

orçamentária no último ano de mandato e proíbe o aumento das despesas

com pessoal nos 180 dias que antecedem o final do mandato.

A Lei de Responsabilidade Fiscal veio zelar pela eficiência na

gestão pública brasileira e pelo equilíbrio fiscal nas contas públicas, trazendo

avanços importantes em termos econômicos e sociais, exigindo assim, uma

concentração de esforços de todos os seguimentos envolvidos na gestão da

coisa pública. Afinal é um instrumento transparente e democrático do

processo de controle das finanças públicas, significa mais uma conquista da

sociedade brasileira (MOTTA, 2002).

39

CONCLUSÃO

Portanto, resta esclarecido que o princípio da eficiência deve ser

interpretado de maneira que seja adquirida notável competência em toda a

Administração Pública, e como consequência a obtenção de excelentes

resultados nas atividades dos servidores públicos.

A importância constitucional que o princípio da eficiência recebeu

por meio da Emenda Constitucional nº 19/98 o fez o principal elemento

caracterizador das reformas implementadas à época. Desde então, com o

status de princípio fundamental aplicável à Administração Pública, a eficiência

passou a ser elemento de observância obrigatória pelos gestores públicos.

Neste sentido, é essencial que os administradores públicos

busquem pautar suas condutas com vistas a maior eficiência, abrangidas

também no conceito de economicidade, de maneira a atender melhor a

finalidade do interesse público.

40

REFERÊNCIAS

BELTRÃO, H. Descentralização e Liberdade. Rio de Janeiro: Editora Record, 1984.

BEZERRA FILHO, João Eudes. Contabilidade pública: teoria, técnica de elaboração de balanços e 500 questões. 3. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao Compilado.htm>. Acesso em: 13 jun. 2012.

_______. Presidência da República. Câmara de Reforma do Estado. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE). Brasília, 1995. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/ PlanoDiretor/planodiretor.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2012.

_______. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000: Lei de Responsabilidade Fiscal. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 22 jun. 2012.

BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma do Estado Para a Cidadania: A Reforma Gerencial Brasileira na Perspectiva Internacional. Brasília: ENAP, 1998.

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