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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSUPSICOPEDAGOGIA AUTO-ESTIMA E APRENDIZAGEM N0 S e 2º CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DENISE SARAIVA SOARES BAPTISTA ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ Rio de Janeiro Abril de 2005

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PSICOPEDAGOGIA

AUTO-ESTIMA E APRENDIZAGEM

N0S 1º e 2º CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

DENISE SARAIVA SOARES BAPTISTA

ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ

Rio de Janeiro

Abril de 2005

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DENISE SARAIVA SOARES BAPTISTA

AUTO-ESTIMA E APRENDIZAGEM

NOS 1º e 2º CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada à

Universidade Cândido Mendes,

como requisito para a

aprovação no curso de

Psicopedagogia, sob

orientação da Professora

Fabiane Muniz.

Rio de Janeiro

Abril de 2005

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado a oportunidade de estar realizando mais um grande

passo na minha carreira profissional.

À minha mãe pela prestimosa e inegável dedicação e carinho durante os

momentos de minha ausência em casa.

Ao meu marido Carlos e aos meus filhos Juliana e Luís Felipe pelo apoio e

estímulo contínuo durante minha caminhada.

Aos meus irmãos Gilson e Christiani pela imensurável contribuição durante

este momento.

À Cláudia Rosas Fernandes por se revelar amiga fiel, somando descobertas

e conquistas.

À amiga Ângela Souza pela preciosa colaboração na revisão dos textos,

pelo exemplo, carinho e paciência, sempre presentes.

Aos meus colegas de turma que, através das discussões e debates,

ampliaram a minha visão sobre a imensa responsabilidade do ser e fazer

psicopedagógico.

A todos que fazem a UCAM. Em especial aos meus professores que, com

todo o seu profissionalismo, transmitiram os seus conhecimentos e me

enriqueceram com sua sabedoria. Em particular, à Professora Fabiane

Muniz, que se disponibilizou a me orientar, indicando sempre a melhor

trajetória para a elaboração e conclusão deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Ao meu marido Carlos, aos meus filhos, Juliana e

Luís Felipe, e à minha mãe que, a cada dia, tornam

meus sonhos mais reais.

À Querida Professora Ana Amélia Caldas que,

ainda na infância, me fez acreditar ser possível ir

sempre mais além do que eu imaginava.

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RESUMO

Vive-se um momento em que instituições como as famílias parecem

estar se deteriorando com muita rapidez, em que o egoísmo, a violência e a

mesquinhez estão banindo a bondade nas relações sociais. Os efeitos disso

podem ser devastadores na vida de crianças e adolescentes em idade

escolar. Neste trabalho, busca-se conseguir maior compreensão sobre a

relação entre auto-estima e a dificuldade de aprendizagem; fatores estes

que devem estar ligados e sintonizados para se obter um resultado

satisfatório. Neste sentido, a presente pesquisa bibliográfica busca refletir

sobre a importância da auto-estima na vida da criança para o

desenvolvimento de seu aprendizado.

No primeiro capítulo, procura-se conceituar e diferenciar alguns

termos relativos à auto-estima. Em seguida, propõe-se ampliar algumas

reflexões sobre como as reações emocionais medeiam alterações na auto-

estima e expectativas de desempenho do aluno. Essas atribuições também

influenciam nas expectativas dos professores e os ajudarão a determinar

suas ações futuras em relação aos alunos.

Dando seqüência a esta pesquisa, busca-se compreender como a

estabilidade emocional, psicológica e social influenciam as expectativas de

sucesso do aluno, assim como as reações afetivas agem sobre a auto-

estima.

Estudos recentes vêm demonstrando que os professores transferem

a responsabilidade do fracasso escolar, deslocando-o do âmbito da escola

para o aluno e a família. Cabe ao psicopedagogo descartar este

remanejamento de responsabilidades e desenvolver o espírito de equipe em

prol da criança, devolvendo a cada um, família e escola, as atribuições que

lhes cabem.

Quando o aluno experimenta o fracasso numa prova, tende a

experimentar sentimentos de desespero, frustração e desesperança.

Fracassos repetidos sob esse enfoque conduzem ao abandono da escola ou

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perda de entusiasmo por assuntos acadêmicos. Portanto, não se pode

ensinar ao aluno que seus fracassos são apenas fruto de falta de esforço e

suas dificuldades. Ensinar-lhe que seu fracasso é devido à falta de esforço,

pode ser prejudicial, se ele não tiver as habilidades apropriadas para a

execução das tarefas. Um aluno que se esforça muito e fracassa, pode

concluir que o fracasso resulta de sua baixa capacidade, resultando na baixa

auto-estima.

O objetivo do segundo capítulo é o de tentar desvendar o papel da

motivação no contexto escolar; revisitando o aprender infantil e destacando

o lúdico e as relações da criança com o brinquedo e a música. O papel de

ajudar os alunos a terem desempenhos mais favoráveis à aprendizagem

cabe, em grande parte, aos professores. Mas, eles, em muitos casos,

necessitariam ter seus padrões alterados, a fim de criarem expectativas mais

adequadas em relação ao desempenho futuro de seus alunos. Há ainda

outras causas presentes, como professor mal capacitado, materiais e

métodos inadequados. Neste momento, a atuação psicopedagógica é

imprescindível para favorecer tanto no trabalho professor, quanto no

desempenho do aluno.

No terceiro capítulo, busca-se dar subsídios para as reflexões sobre a

aprendizagem e desenvolvimento da auto-estima, ou seja, como ensinar a

criança a se conhecer e a se gostar. Fazendo uma descoberta de seus

pontos fortes e fracos, a criança se sentirá mais segura de suas capacidades

e estará pronta para iniciar uma nova maneira de lidar com tudo à sua volta.

Será o começo de uma auto-estima verdadeira e de uma conquista eterna

da pessoa única que ela é.

Portanto, se cada um de nós, pais e profissionais da educação,

adotarmos atitudes concretas de respeito e de resgate da auto-estima será

possível à criança explorar todas as suas inteligências, gerando aumento na

motivação e sucesso, não só no âmbito escolar; mas, principalmente, nas

suas relações com o mundo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

A AUTO-ESTIMA

1.1 - Auto-estima, Autoconfiança e Orgulho

1.2 - Auto-estima e Problemas Emocionais

1.2.1 - Auto-estima e outros Fatores Psicológicos

1.2.2 - Auto-estima e Doenças Sociais

1.3 - Auto-estima e Família

1.4 - Auto-estima e o Fracasso Escolar

CAPÍTULO II

A MOTIVAÇÃO HUMANA

2.1 - Como as Crianças Aprendem

2.2 - A Importância do Lúdico

2.2.1 - A Relação: Criança / Brinquedo

2.2.2 - A Música

2.3 - O Papel do Professor

CAPÍTULO III

A APRENDIZAGEM

3.1 - A Aprendizagem da Auto-estima desde a Educação Infantil

3.2 - O Desenvolvimento da Auto-estima

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

Conforme verificamos, o desenvolvimento da criança ocorre

eficazmente se prestarmos a devida atenção nas relações que faz com as

pessoas a sua volta. Os princípios psicopedagógicos que norteiam um

ambiente estimulante e principalmente feliz para as crianças estão inter-

relacionados e são interdependentes: auto-estima, motivação, aprendizagem

e disciplina.

Os objetivos desta monografia são o de definir a auto-estima e discutir

sua finalidade na Educação; buscar uma investigação da relação da auto-

estima com a aprendizagem; levar à reflexão sobre a forma que esta

influencia no êxito ou desacerto pelo qual o educando passa; e, por fim,

almeja-se verificar a relevância da figura do professor nesse processo de

construção da auto-estima do aluno.

No campo afetivo, pretende-se refletir em como ajudar as crianças a

criar sentimentos positivos em relação a si mesmas. Sentindo-se valiosas e

seguras, o êxito escolar estará menos ameaçado. No campo cognitivo,

recomenda-se enriquecer e ampliar o vocabulário da criança, através de

jogos e música. A ênfase no aprendizado de novas palavras tem como

objetivo possibilitar a obtenção de melhores resultados na escola e também

ajudar a criança a ordenar o pensamento em função do mundo em que vive

e fazê-la sentir-se capaz, aceita e produtiva.

Além da expressão oral e da ordenação do pensamento infantil há o

desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, da psicomotricidade, e do

aspecto sócio-emocional que contribuem adequadamente para que esse

"sujeito" - a criança - seja compreendido em sua totalidade, cujas partes do

desenvolvimento sejam atendidas adequadamente.

Acreditando nesta inter-relação, não podemos tratar isoladamente

cada parte deste processo do crescimento infantil, pois o cognitivo depende

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do afetivo, que influi no psicológico, que está relacionado ao psicomotor, ao

físico e ao emocional. Portanto, é fundamental que se preocupe com todos

os aspectos do desenvolvimento infantil. Todos são igualmente importantes

e se processam simultaneamente.

Buscou-se a ciência como guia para esta investigação pelos

caminhos da mente humana, com base nos estudos de grandes

pesquisadores os quais apresentam aspectos das crianças com dificuldade

de aprendizagem. Pois é este, sem dúvida, um dos problemas mais difíceis

com que o professor se depara na sua práxis pedagógica.

Procuramos interpretar o papel da família como fator primordial na

formação da auto-estima e aprendizagem da criança, cujo crescimento como

sujeito será capaz de auxiliar na construção de uma sociedade mais livre e

democrática.

Procuramos tratar a questão da criança que apresenta dificuldades de

aprendizagem e auto-estima rebaixada e que, devido a isso, é considerada,

como “aluno problema” seja pela repetência ou pelas atitudes pessoais.

Enfim, não se tem a pretensão de solucionar todos os problemas

acadêmicos, porém discutir como a criança pode ser identificada de forma

errônea. E, além disso, busca-se compreender a importância das relações

pessoais desse educando com dificuldade de aprendizagem, para que a

escola possa se tornar um local de esperança para quem se sente frustrada

com sua incapacidade de aprender normalmente.

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CAPÍTULO I

A AUTO-ESTIMA

A Teoria de Maslow (Serrano, 2003) e sua relação com a Educação

demonstram que todo ser humano possui uma hierarquia de necessidades.

Sejam elas fisiológicas ou de auto-realização, primitivas ou mais refinadas,

todas implicam no processo de aprendizagem e no nível de motivação do

indivíduo. Necessidade de auto-estima, segundo Maslow, é a necessidade

relacionada com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia. Envolve a

auto-apreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social, de

respeito, de status, prestígio, consideração, de confiança perante o mundo,

independência e autonomia. A satisfação dessas necessidades conduz a

sentimentos de autoconfiança, de valor, força, prestígio, poder, capacidade e

utilidade. Ainda, segundo Maslow (Serrano, 2003), a frustração pode

produzir sentimentos de inferioridade, fraqueza, dependência e desamparo

que, por sua vez, podem levar ao desânimo ou atividades compensatórias e,

em casos extremos, podem provocar até sua destruição.

De acordo com Antunes (2005), auto-estima é o querer bem a si

mesmo, é o autoconhecimento de suas próprias potencialidades. A criança

precisa conhecer a si mesma, sua família, sua escola, sua cidade, seu país,

enfim, só se gosta do que se conhece. Segundo Antunes, é possível

perceber o nível de auto-estima em cada gesto, em cada detalhe da criança.

E é esse auto-conceito que ela tem de si mesma que interfere em sua

capacidade de aprender. Pais e professores são os maiores responsáveis

pela criança se descobrir como “bom” ou “mau” indivíduo, pois nosso

cérebro é muito sensível para perceber as expectativas que as outras

pessoas têm a nosso respeito.

Para Quilici (2003) , definir auto-estima é algo muito difícil. É possível

tentar definir em linhas gerais, mas ainda assim a solução do enigma ficará

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incompleta, justamente porque a auto-estima se relaciona a aspectos

pessoais e não gerais.

Segundo Quilici (2003) uma das perguntas mais comuns das pessoas

é sobre como melhorar a auto-estima. Muitas delas queixam-se que suas

dificuldades com a auto-estima arruínam sua vida pessoal, social e

profissional e, principalmente, os relacionamentos amorosos. Muitas vezes

as pessoas acreditam que o profissional da área psicológica tem técnicas

eficientes e determinadas para conseguir chegar à auto-estima ideal. Não

tem. A auto-estima é um aspecto fundamental para o sucesso em todas as

áreas de nossa vida, que se adquire na infância ou então, constrói-se

paciente e demoradamente ao longo da vida. Algumas pessoas conseguem

viver com a auto-estima reduzida e outras, nem tanto. Mas em qualquer dos

casos, o desgaste é grande demais.

O dicionário Aurélio (2004) define auto-estima como “valorização de si

mesmo, amor próprio”. Isso quer dizer que o indivíduo reconhece suas

qualidades, sua significação social e a magnitude dessa significação, bem

como pode sentir-se feliz quando é admirado.

A definição do dicionário Aurélio é bem adequada, mas seria

importante ressaltar que a valorização de si mesmo e o amor próprio são

condições que não implicam em parecer melhor, superior ou acima dos

demais. É apenas um estado interno que permite ao sujeito estar bem

consigo próprio.

1.1-Auto-estima, Autoconfiança e Orgulho

A fim de se evitar certas confusões entre autoconfiança, orgulho e

amor próprio, pretende-se mostrar de acordo com Quilici (2003) o significado

desses termos.

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Autoconfiança: trata-se aqui de estar seguro, ter confiança em si

mesmo. Este termo pode ser utilizado de forma a explicitar uma área onde o

indivíduo tem mais habilidades e conhecimentos. Por exemplo, um

matemático terá maior autoconfiança em discutir sua especialidade do que

uma pessoa de outra área. Mesmo não sendo uma definição para a auto-

estima, é de certa forma necessário que a auto-estima esteja presente para

que o indivíduo tenha uma autoconfiança maior. Nesse sentido, pode-se

dizer que autoconfiança é fortemente determinada e estimulada pela auto-

estima.

Orgulho é um sentimento de prazer e satisfação por algo que se fez e

que é creditável como valoroso. O indivíduo, em geral, orgulha-se de realizar

alguma ação que de fato tenha valor moral, pessoal ou social. Por exemplo,

um cientista, que descobre um remédio que vai beneficiar pessoas, deve

sentir orgulho de seu feito. Uma pessoa, que faz alguma obra de ajuda a

seus semelhantes, pode sentir orgulho de suas conquistas nessa área.

Por outro lado, há pessoas que possuem uma atitude psíquica de

auto-admiração e arrogância e acreditam ser orgulho. Entretanto, observa-se

que não há méritos que façam jus à valorização exagerada que esse

indivíduo dá a si mesmo. A isso, damos o nome de soberba ou narcisismo e

não de orgulho. Nesse caso, o indivíduo é prepotente e sente desprezo em

relação aos demais. Geralmente o que se define popularmente como

orgulho é, na verdade, um comportamento defensivo que visa ocultar os

sentimentos de inferioridade do sujeito.

Amor-Próprio ou Auto-estima é um sentimento raro no homem

moderno. Poucas pessoas desfrutam de um amor próprio razoável.

Geralmente as pessoas dizem que gostam delas mesmas. Mas, ao observar

atentamente, verifica-se que tratam a si mesmas com muito pouco respeito.

Geralmente, em momentos de maior honestidade, essas pessoas sempre

acabam por admitir a falta de amor-próprio e o tormento que isso significa

em suas vidas.

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A auto-estima é um sentimento difícil de se descrever com mais

detalhes. Poderíamos definir auto-estima como um estado mental de

potência. O termo potência tem o sentido aristotélico, ou seja, é uma

possibilidade ou tendência apresentada pela mente humana, no sentido de

modificar-se ou modificar o ambiente, através do despertar de habilidades e

determinações que ainda são virtuais no indivíduo.

Dessa forma, ter potência é sentir que sempre podemos contar com

nossas próprias habilidades para solucionar problemas de maneira

satisfatória, mesmo que essas habilidades não tenham sido ainda

conhecidas. É uma espécie de intuição, um conhecido que ainda não foi

pensado. Por exemplo, a noção de potência não permite que venhamos a

desistir de situações difíceis sem antes tentar todos os recursos disponíveis

para solucioná-las. É uma condição interna que nos permite examinar com

cuidado todo nosso repertório de experiências, para que possamos buscar

soluções criativas para as dificuldades.

A noção de potência nos dá assim, a condição de viver com maior

tranqüilidade, sem grandes ansiedades, justamente por sabermos que há

em nós a capacidade de angariar forças e recursos sempre que alguma

ameaça se faz presente. Por exemplo, se alguém estudou tudo o que tinha

que estudar e ainda assim fica ansioso diante de uma prova, sua auto-

estima está rebaixada porque tem a sensação que está impotente diante da

realidade e nenhum de seus esforços é capaz de modificá-la. Em geral, as

pessoas com auto-estima rebaixada sempre têm uma enorme sensação de

impotência diante das dificuldades.

As pessoas que têm uma boa auto-estima não se sentem melhores

ou piores que ninguém, até mesmo porque pessoas são únicas e assim, não

podem ser melhores ou piores. Podem ser diferentes. Se uma pessoa sente

necessidade de parecer melhor ou pior que outra tem um problema sério nas

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mãos. Sabemos que existem diferenças entre pessoas, mas tais diferenças

são apenas contextuais.

Para que um indivíduo crie a noção de potência, é importante que

saiba lidar e reconhecer os limites (realidade) para assim, não esperar da

vida mais do que ela pode dar naquele momento (criar expectativas

irrealistas) e também não exigir coisas irreais de si mesmo. Saber dos limites

nos permite ampliá-los. Outra questão é ter a capacidade de adiar

gratificação, ou seja, saber esperar. Isso é sinônimo de esperança, de fé e

de tolerância.

A auto-estima é na realidade um longo trabalho de vida. Se a pessoa

tiver uma infância saudável e conviver com pais equilibrados, provavelmente

terá uma auto-estima razoável e poderá tirar o melhor da vida. Caso não

tenha essa sorte, nem tudo está perdido. Há formas de recuperar a auto-

estima e ser feliz. O que não deve acontecer é desejar forjar a auto-estima e

nem transformá-la numa obsessão, como já vem acontecendo na última

década. Auto-estima não é encontrada em “caixinhas” dentro das farmácias

e nem pode ser aprendida através de manuais. A auto-estima é uma

condição interna e que implica no uso das características pessoais do

indivíduo. Sua recuperação é possível, desde que se empenhe fortemente

nessa conquista.

1.2 - Auto-estima e Problemas Emocionais

De acordo com Cury (2004), o registro na memória humana é

involuntário, portanto, deve-se cuidar do que se pensa e também da

qualidade de vida que se leva. A emoção determina a qualidade do registro

que as pessoas fazem das situações das quais participam. A qualidade das

informações e experiências registradas poderão transformar a memória em

um solo fértil ou num deserto árido, sem criatividade.

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Deve-se, portanto, ensinar às crianças, estimulando as emoções. A

memória não pode ser “deletada”, como num computador. Podemos, no

máximo, “reeditar” o filme do inconsciente ou reescrever a memória,

construindo novas experiências, que serão arquivadas no lugar das antigas.

Visto que o acesso à inteligência humana passa pela emoção, cabe

aos pais e educadores a conquista da emoção da criança para depois

conquistar sua razão e inteligência. Pode-se plantar flores ou acumular lixo

no solo da memória da criança, é uma questão de aprender a lidar com as

escolhas que se pretende oferecer.

Recentemente, alguns psicólogos começaram a estudar a

“procedência” da idéia de que a auto-imagem ruim é responsável pela

maioria dos problemas sociais. Por outro lado, já existem estudos indicando

que é errada a idéia de que uma melhora na auto-estima pode ser a solução

para todos os problemas.

Alguns pesquisadores dizem "Penso que se nós fôssemos mais

otimistas, em vez de ter mais amor próprio, alcançaríamos todos os tipos de

conseqüências positivas”. Mas então fica uma pergunta: como as pessoas

podem ser otimistas se não têm uma auto-estima adequada? O otimismo de

uma pessoa (ou seu sistema de crenças que permite, ou não, a formação do

otimismo), precisa ser sustentado por alguma condição mais concreta, ou

seja, uma noção mínima de potência que garanta alguma possibilidade de

manutenção da auto-estima e, portanto, de boas expectativas. Um bom

sentimento a respeito de si mesmo não é algo inócuo ou que não traga

benefícios, ao contrário, as pessoas com uma auto-estima adequada vivem

mais contentes e têm mais iniciativa do que aquelas com uma auto-estima

rebaixada.

Quilici (2003) ainda comenta que foi observado que a auto-estima

elevada estaria ligada a comportamentos racistas, comportamentos

arriscados na condução de veículos e ao alcoolismo. Creio que o que temos

aqui é um problema conceitual. O que pode estar sendo chamado de auto-

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estima nesses casos pode ser, na verdade, um padrão narcisista de

funcionamento e que, muito comumente, as pessoas confundem com auto-

estima. Na realidade não existe nenhuma semelhança entre os dois

comportamentos, na medida em que a auto-estima é legítima e o narcisismo

é apenas uma pretensão que encobre um complexo de inferioridade difícil de

mexer.

Segundo o estudo da memória e observação de casos, Cury (2004)

afirma que a emoção tem a função catalisadora no processo educativo. Os

papéis exercidos pela memória podem oferecer excelentes ferramentas na

construção do saber e do aprender. O registro da memória é automático,

independente da vontade humana e é a emoção que vai qualificar esse

registro como positivo ou negativo.

Todas as experiências vividas com alta carga emocional ficam

disponíveis e são lidas na memória, gerando milhões de novos pensamentos

e emoções. A memória não pode ser deletada, como num computador, mas

sim reeditada. Quando a memória reedita ou vive uma experiência com alto

grau de emoção positiva, esta experiência ficará armazenada de forma

privilegiada na memória. Qualquer experiência ou ação só terá um

significado real se for portadora de uma carga emocional.

Sendo assim, o educador deve empregar técnicas pedagógicas que

privilegiem as emoções positivas, pois vão garantir maior motivação e

interesse por parte dos alunos, garantindo assim o registro privilegiado na

memória das novas informações.

Estimulando a emoção, a criança consegue desacelerar o

pensamento e aumentar a concentração. Trabalhando com a emoção

podemos desenvolver funções importantes da inteligência e garantir maior

qualidade no aprendizado.

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Goleman (1995) e os estudos atuais da neurociência dizem que

devemos levar a sério as emoções. Se dermos mais atenção sistemática à

inteligência emocional – ao aumento da autoconsciência; a lidar mais

eficientemente com nossos sentimentos aflitivos; a manter o otimismo e a

perseverança, apesar das frustrações; a aumentar a capacidade de empatia

e envolvimento, de cooperação e ligação social -, o futuro pode ser mais

esperançoso. Devemos, portanto, preparar nossas crianças para o

desenvolvimento dessa inteligência, isto é, para a alfabetização das

emoções.

1.2.1 – Auto-estima e outros Fatores Psicológicos

Na realidade, a auto-estima pode ser melhorada desde que alguns

processos psíquicos estruturais possam ser modificados, através da reflexão

e da reavaliação que deve ser feita com ajuda profissional. Livros cheios de

receitas e conselhos simples de serem seguidos não acrescentam nada, a

não ser uma angústia maior ao problema já existente; principalmente quando

as tentativas dos leitores ávidos por ajuda, falham. O processo de

construção da auto-estima exige muito mais que uma leitura ou exercícios,

justamente porque exige muito mais reflexão do que propõem estes livros e

cursos. Além disso, a psicoterapia considera a história do indivíduo como

fonte desse processo, em vez de tentar inseri-lo numa “lata de sardinhas”.

O crescimento de evidências desse tipo, na verdade, fez muito pouco

para diminuir o entusiasmo dos terapeutas, especialistas, escritores e

administradores escolares. Isso ocorre porque aquelas pessoas, cuja auto-

estima é rebaixada, até mesmo por causa da “moda” em torno da obrigação

de se ter uma boa auto-estima, estão desesperadas para mudar seu estado.

Por incoerente que pareça, as pessoas querem ter uma auto-estima

magnífica, num mundo que só faz rebaixá-las. Se a pessoa não tem uma

boa auto-estima que garanta uma estrutura adequada para enfrentar este

mundo, então a situação tende a ficar pior. Muitas vezes o indivíduo nem

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sabe exatamente o que deseja, ele quer ser diferente do que é, talvez

melhor.

Para se ter uma idéia da dimensão que o problema anda tomando,

nos Estados Unidos, muitas escolas secundárias americanas incluem em

seu currículo uma matéria que tem como objetivo “estimular o amor próprio”

dos alunos. Livros de auto-ajuda oferecem estratégias de hipnose até dietas

para aumentar a autoconfiança e o sentimento de auto-valoração. A hipnose

aplicada por alguém que tenha condições de observar "os problemas" do

indivíduo, pode funcionar bem.

1.2.2 - A Auto-estima e as Doenças Sociais

Como sabemos, uma das áreas mais estudadas, nos dias de hoje, é

aquela ligada à auto-estima. Isso nos mostra que o ser humano está com a

auto-estima em baixa. É bem raro encontrar alguém que tenha uma auto-

estima razoável e, dessa forma, é bem raro encontrar alguém realmente

feliz. Talvez você se pergunte: O que é auto-estima? Como ela determina o

movimento do indivíduo na vida diária? Como a auto-estima pode ser a

culpada pelas doenças sociais, pelo mau desempenho escolar e

acadêmico, pelas discórdias matrimoniais, crimes violentos e pelo abuso de

drogas? As respostas virão mais à frente.

As últimas décadas foram pródigas em publicar grandes “evangelhos”

sobre a auto-estima, descrevendo os problemas que surgem na sua

ausência e “dando receitas infalíveis” para construí-la ou melhorá-la. Nos

Estados Unidos existem comissões criadas pelo Estado com o objetivo de

promover a melhora da auto-estima através de cursos, sendo que alguns

deles chegam a durar por até três anos. Os resultados? Bem, não há

estatísticas sobre isto, mas a experiência mostra que a auto-estima não

pode ser melhorada ou construída sem a devida correção nas “estruturas

psíquicas de base”, que são as estruturas responsáveis pela sua formação,

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manutenção e sustentação. Isto, não pode ser aprendido nem em cursos,

nem nos livros, mas sim, pensados e refletidos através do processo de

psicoterapia.

Uma pessoa que tem uma boa auto-estima é aquela que gosta de si

própria e sente assim, que pode ser “naturalmente” aceita e amada pelas

outras pessoas à sua volta. Por exemplo, não teme dizer o que pensa com

medo de ser reprovada. O que ela pensa é bom e representa sua opinião,

que pode ser diferente da opinião dos outros, mas isto não se torna

invalidada por isso. Sempre existem as possibilidades de que duas opiniões

diferentes coexistam. Não há receio de que, ao pensar de forma discordante,

ela vá ser desvalorizada ou rejeitada. Ela é um ser único e por isso,

obrigatoriamente, diferente. Conviver com as diferenças faz parte do existir

e, assim, aceita as pessoas e as opiniões diferentes.

Quilici (2003) costuma dizer que a auto-estima está ligada ao

sentimento de potência, onde o indivíduo sente que não existem “coisas

impossíveis”, mas sim, limites para se fazer “algumas coisas”. O indivíduo

sente que sempre haverá recursos internos (os elementos internos são

valorizados) para serem usados na solução de problemas, de forma que a

ansiedade e a necessidade de controle ficam muito rebaixadas ou nulas. A

inveja também é menor porque, da mesma forma que o indivíduo sente que

tem características únicas, boas e peculiares, ele sabe que o outro as terá

também e assim não precisa invejar, mas associar-se ao outro para receber

colaboração e oferecer colaboração sem com isso, sentir-se humilhado,

envergonhado ou destruído.

Da mesma forma que não tem receio de dar o que tem, o indivíduo

com boa auto-estima, não tem medo de receber. Pode fazê-lo com

naturalidade.

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1.3 – Auto-estima e Família

Segundo Souza (2000), a maior parte de nossas crianças e jovens

são infelizes porque não conheceram o afeto e o carinho de uma família que

existisse por e para eles. Eles nasceram e cresceram vendo os pais

somente à noite e, mesmo assim, os viam preocupados com os enormes

custos que a vida lhes causava.

A maior parte dos pais compensavam seus filhos abandonados com

presentes, objetos materiais e livraram-se assim da culpa de sua

impossibilidade de criar os vínculos que são responsáveis pelo surgimento

da auto-estima. Com isso, a impressão que se tem é que a felicidade pode

ser adquirida sempre que necessário for, através de um diploma e de um

bom emprego com um excelente salário. A felicidade não é mais a alegria de

estar feliz numa vida que se escolheu; de se conviver com o que (e com

quem) nos faz felizes e de partilhar coisas simples que nos deixem com a

sensação de que, ao escolhermos, criamos. A felicidade hoje é, como

dissemos, uma roupa de grife, um automóvel do ano e o exibicionismo

escravizante que drena nosso sangue fazendo desaparecer junto a nossa

vida tão curta. Talvez seja por isso que a medicina moderna consiga vender

a idéia de eternidade com tanta facilidade. Ninguém quer admitir que perdeu

a vida e assim, mantendo-se a ilusão de que a vida pode ser esticada, dá

para suportar melhor.

A felicidade que se imagina comprar é um malogro. Ela insinua-se em

pontos de deslocamento como o sucesso profissional (o qual muitas vezes

submete o indivíduo à escravidão), os grandes salários (pelos quais o sujeito

muitas vezes se corrompe), o consumo de tudo que se lança no mercado da

moda (o qual leva o indivíduo ao vazio interno) e na utilização de drogas (as

quais proporcionam uma imensa solidão).

Felicidade é uma forma pessoal. Naturalmente, isso tem contribuído

de forma marcante para o surgimento das doenças mentais. Nenhuma

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dessas condições fará sentido, se o indivíduo não tiver alguém vivo dentro

dele para aproveitar realmente os benefícios que ele constrói, se é que tais

benefícios serão os objetivos desses indivíduos.

Nem tudo o que existe gira em torno do eu. Às vezes, há coisas mais

importantes e que deveriam interessar a todos nós. Creio que, na verdade, o

amor próprio obtido dessa forma, através de elementos externos, não vale o

esforço, ao contrário, é instável e gera muitas angústias. Aqueles velhos

hábitos de autocontrole, limites e de adiar a gratificação são muito mais

poderosos. Disso não há nenhuma dúvida.

Segundo Souza (2000), a opinião que a criança tem de si mesma está

intimamente relacionada com sua capacidade para a aprendizagem e com

seu rendimento. O autoconceito se desenvolve desde muito cedo na relação

da criança com os outros.

Os pais atuam como espelhos, que devolvem determinadas imagens

ao filho. O afeto é muito parecido com o espelho. Quando uma pessoa

demonstra afetividade por outra, essa pessoa torna-se seu espelho e vice-

versa, e refletindo uma no sentimento de afeto da outra, desenvolve-se forte

vínculo de amor, essência humana, em matéria de sentimentos. É nesta

interação afetiva que desenvolvemos nossos sentimentos positiva ou

negativamente. É nesta interação que cada pessoa constrói sua auto-

imagem.

Se os pais estão sempre opinando a partir de uma perspectiva

negativa para os filhos, e se estão sempre os taxando de inúteis e

incapazes, ou usando de zombarias e ironias, irá se formando neles uma

imagem "pequena" de seu valor. E se com os amigos, na rua e na escola,

repetem-se as mesmas relações, teremos uma pessoa com auto-estima

baixa e baixo sentimento de auto-avaliação.

Como a família pode ajudar a desenvolver a auto-estima?

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Quando a criança tem êxito no que faz - e já falamos sobre a forma de

ajudá-las nesse sentido - começa a confiar em suas capacidades. E quanto

mais acredita que pode fazer, mais consegue.

É importante ensinar à criança que ela pode fazer algumas tarefas, e

que pode ter problemas com outras. E que esperamos que faça o melhor

que puder.

Também é uma boa ajuda admitirmos nossos próprios erros ou

fracassos. Ela precisa saber que também nós não somos perfeitos: "Sinto

muito. Não devia ter gritado. Fiquei o dia todo chateado”.

Para ajudá-la a criar bons sentimentos é importante elogiá-la e

incentivá-la quando procura fazer alguma coisa, fazendo-a perceber que tem

direito de sentir que é importante, que pode aprender, que consegue e que

sua família lhe quer bem e a respeita. O cuidado reside em adequar as

tarefas que cabem a cada idade e permitir que ela tente, como colocar o

suco no copo (ainda que derrame), a roupa (mesmo do avesso), a jogar

objetos no lixo, guardar os brinquedos, as peças do jogo, ajudar na

arrumação dos seus livros, fitas de vídeo, enfim, solicitar a ajuda da criança,

partilhando com ela pequenos afazeres, vale até aplausos às suas

conquistas.

Portanto, é necessário que se estabeleçam metas realistas e

adequadas à idade da criança. Dando-lhe oportunidade de desenvolver-se

sem super protegê-la ou sem pressioná-la, nem compará-la com outras

crianças. Assim, ela formará um conceito positivo de si mesma. E para

desenvolver esse sentimento, estimule-a quando ela sentir que não tem

condições de realizar algo. Talvez tenha de dizer-lhe: "Claro que você pode.

Vamos, vou te ajudar”.

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Certa vez, como professora de educação infantil, trabalhando com

crianças de 8 anos e 9 anos, deparei-me com um menino que possuía

imensa capacidade intelectual, forte interesse pela literatura e na época já

havia lido grandes livros de literatura universal, mas sua coordenação

motora global ficara comprometida, apresentando dificuldade para correr,

pular, jogar bola, subir em árvores; atividades comuns às crianças desta

faixa etária.

Sempre que íamos ao parque da escola, seus olhos brilhavam ao ver

os amigos subindo e brincando na goiabeira. Incentivei-o muitas vezes a

subir e orientei-o para não temer cair, pois a árvore estava rodeada de areia

do parque. Até que, certo dia, subi com ele na árvore: "Vamos, eu subo com

você." E brincamos juntos.

Foi o início de novas experiências para ele. Em outras situações, uma

palmadinha no ombro, um sorriso, uma palavra de elogio ou de incentivo de

vez em quando, ajuda e muito, a desenvolver na criança sentimentos

positivos.

Mas é importante que o elogio seja merecido. Ela sabe quando é

sincero. E se for falso, isso fará com que não tente mais! É melhor elogiar o

que fez, do que elogiá-la diretamente. "Nossa, que quarto arrumadinho!...”

"Gostei de ver como você foi educada com a mãe do Dudu”. A criança

precisa sentir-se satisfeita consigo mesma para aprender a lidar com os

seus sentimentos.

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1.4- Auto-estima e Fracasso Escolar

Como já dissemos anteriormente, a aprendizagem se processa

através da emoção (Cury,2004). A memória não é uma máquina de

repetição de informações, mas sim um centro de criação, por isso, muitas

vezes, nossos alunos tiram péssimas notas. O modelo escolar vigente

privilegia a memória como depósito de conhecimento, não forma

pensadores. As provas não medem a arte de pensar, o gosto de aprender, a

emoção da descoberta, mas sim anulam o raciocínio de alunos brilhantes.

Ainda a respeito do fracasso escolar, Cordié (1996) propõe não

apenas uma reflexão, mas uma revisão profunda a respeito das idéias e

práticas que envolvem o insucesso das crianças na escola e na família.

A autora apresenta as dificuldades que comprometem o desempenho

das crianças e consegue desmistificar o paradigma de que os “atrasados”

são pessoas incapazes. Cordié consegue nos despertar para um olhar mais

atento e indicar a importância de se diferenciar a origem dos problemas que

acometem as crianças: ou possuem problemas adquiridos através de suas

relações pessoais, ou já trazem estes problemas desde que nasceram.

Em ambos os casos, a baixa auto-estima se instala e acompanha

essas crianças durante o processo educacional, sem que os educadores

percebam; quando, ao contrário, deveria ocorrer o respeito pelo “sofrimento”

que estas crianças passam ao serem discriminadas ou oprimidas psiquicamente, durante os seus desacertos.

Essas crianças precisam ser incluídas e não excluídas, é preciso que

haja espaço e apoio profissional para o desenvolvimento de suas

habilidades, através de tratamentos adequados e ajustes educacionais a

cada necessidade. E a reabilitação da auto-estima deve ser o primeiro

passo.

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O período de assimilação mais intensivo de todo o ser humano

corresponde ao espaço de tempo de seu nascimento até a idade de sete

anos; precisamos, portanto, como pais e educadores, reconhecer a

importância de investigar cada vez mais as diversas possibilidades de

crescimento e desenvolvimento da criança.

Nesta faixa etária as crianças no mundo atual, já tiveram muitas

experiências e estão aptas para falarem sobre elas. Buscam conhecimentos.

Possuem admiração pelo mundo que as cerca e nós não podemos chegar

atrasados nessas descobertas.

Como educadores temos oportunidades especiais de afetarmos e

influenciarmos positiva ou negativamente a vida de cada estudante, porém o

papel insubstituível dos pais é preponderante, pois cada criança necessita

sentir que é amada e respeitada no seio familiar, antes de estar em qualquer

outro círculo social. O nível de seu respeito próprio, sua auto-estima, afeta

todos os outros aspectos de sua vida. Quase todas as outras necessidades

passam a ser secundárias.

Os sentimentos positivos para consigo mesma desenvolvem-se em

sua maior parte, a partir de amizades e experiências de relacionamentos

com pessoas importantes em sua vida, tais como seus amigos, familiares,

vizinhos e professores. Devemos nos lembrar de pequenas coisas que

fazem grande diferença para estas crianças.

Toda criança possui três necessidades importantes que devemos

atender: necessita amar e ser amada; necessita sentir-se importante onde

quer que esteja; necessita contribuir de modo bem sucedido para com todos

que os cerca. A criança não pode sentir-se inadequada ou sem valor, diante

dos erros que cometem durante seu aprendizado.

Se elas se sentirem rejeitadas ou acharem que ninguém as ouve,

aprenderão a rejeitar-se e a não gostar de si mesmas. Não escutando

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comentários positivos e não enxergando atitudes positivas em relação a si

mesmas, começarão a chamar à atenção de outra maneira e,

freqüentemente, terão comportamentos inadequados.

Precisamos esperar o melhor dessas crianças, estimulando sua auto-

estima através dos elogios por suas ações positivas e ignorarmos os

problemas de menor importância; procurando sempre edificar seu senso de

respeito próprio, ensinar-lhes a descobrir o quanto à auto-estima pode ajudá-

las a desenvolver todas as suas formas de inteligência. Elas aprenderão a

desenvolver, da maneira mais efetiva a resolverem seus conflitos e a

descobrirem sua real personalidade. Com certeza estarão mais ajustadas e

mais felizes no mundo.

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CAPÍTULO II

A MOTIVAÇÃO HUMANA

A motivação humana é observada desde tenra idade, sob diferentes

formas (Souza,2000). O bebê busca a satisfação de sua fome, somada ao

aconchego de um colo quente e acolhedor. Ao sugar o peito ou uma

mamadeira, demonstra possuir motivação de sobra, através de seu instinto e

da fisiologia que lhe cobra a nutrição e os afetos, expressos pelos

movimentos mais bruscos de braços e pernas e pelo choro, por vezes

intensos e fortes.

Numa outra época, quando o desenvolvimento permite certa

independência de movimentos, de locomoção e manipulação de objetos,

vêem-se outras possibilidades de motivação na criança. No brincar, especial

circunstância do cotidiano infantil, encontra-se rica fonte de informações

acerca de seu mundo interno: suas emoções e pensamentos.

A criança busca entretenimento de diversas formas, valendo-se de

sua ilimitada exploração do meio em que vive. Ao observar uma criança

durante a brincadeira, percebe-se que há momentos em que ela apenas age

sem qualquer finalidade ao brincar. Todavia, há circunstâncias em que a

criança encontra uma finalidade naquilo que está fazendo. Por exemplo, ela

pode encher uma pequena pá de areia e permanecer imóvel, tentando

imaginar o que fazer com aquilo. E, pode, iniciar um movimento bastante

freqüente, de esvaziar a areia em uma caçamba de brinquedo.

Demonstrando, assim, o emprego concentrado de energia naquela atividade,

além de manter-se estável na freqüência de seus comportamentos. Os

objetivos do brincar demonstram ter pouca importância, mas sim, pode

caracterizar tal situação, dividindo-a em duas etapas. A primeira, em que

existe o objeto (pá e areia), porém, não há uma finalidade a ser atingida. A

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segunda, na qual é acrescido um novo elemento: a motivação, percebida na

concentração exercida durante o freqüente movimento de encher a pá com a

areia e esvaziá-la na caçamba, repetidas vezes.

Souza (2000) observa a forte presença de motivação por meio de

determinada atividade, presente em uma criança desde pequena, aos dois

anos, por exemplo. Com o avançar da idade, nota-se novo momento de se

construir a motivação. Uma forma de exemplificar este processo na

psicologia infantil são as competências adquiridas: tornar-se competente em

seu meio social, levar a criança à motivação.

Uma habilidade motora específica nos esportes pode ser

desenvolvida e isto é capaz de acionar o desejo na criança de empreender

determinado empenho naquela atividade. O reforço externo - vindo dos pais

e conhecidos - relativo à performance das habilidades adquiridas, possibilita

o incentivo à motivação. Se a performance for percebida pela criança, ao

adquirir um aperfeiçoamento, então, poderá levá-la a uma boa auto-estima,

e também à motivação intrínseca ou interna.

Por outro lado, a criança que pouco percebe as suas competências,

necessita de maior estímulo externo, possui baixa auto-estima e demonstra-

se ansiosa, e ainda, enxerga pouca perspectiva de melhora em suas

habilidades.

O segredo está em conseguir conciliar o desenvolvimento da

motivação intrínseca da criança pela autopercepção dos avanços obtidos e o

processo necessário, com o apoio da motivação extrínseca ou externa -

como, por exemplo, avaliação dos adultos, informações a respeito, elogios

verdadeiros etc. Este tipo de desenvolvimento requer acompanhamento,

contato e participação. Os afetos devem estar presentes, uma vez que é

fonte fundamental de motivação, além das informações que se fazem

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presentes em cada situação. Boa dose de paciência e vontade

complementam o arsenal de instrumentos necessários ao adulto para que

colabore quanto ao desenvolvimento motivacional da criança.

A motivação deve receber especial atenção e ser mais bem

considerada pelas pessoas que mantêm contato com as crianças, realçando

a importância desta esfera em seu desenvolvimento (Souza, 2000). A

motivação é energia para a aprendizagem, o convívio social, os afetos, o

exercício das capacidades gerais do cérebro, da superação, da participação,

da conquista, da defesa, entre outros. Pais, educadores e especialistas que

lidam com as crianças podem levar em conta a construção motivacional na

infância, antevendo as suas decorrências futuras, tais como a

autopercepção e o hábito de desenvolver a motivação intrínseca, reduzindo

a necessidade de buscar motivação extrínseca para a realização de alguma

tarefa.

Ao compreender aspectos da motivação neste período da vida, facilita

ao adulto o entendimento sobre que tipo de ajuda poderá oferecer à criança,

desde que haja um compromisso nesta relação. A sua presença é

fundamental. A criança se sente motivada a executar muitas tarefas em

virtude do reconhecimento e impressões daqueles com quem convive, na

tentativa de demonstrar a sua evolução e as conquistas que realiza. Os bons

motivos serão sempre a chave para o desenvolvimento natural da criança,

além de gerar harmonia entre os elementos internos e externos, parte de

nossa própria natureza humana.

A motivação infantil tem lugar de destaque no desenvolvimento de

nossa espécie. Não é algo que deva ser fonte de preocupação posterior. É

no aqui e agora que as coisas acontecem. Esta oportunidade pode passar, e

então, criar dificuldades em outro momento. Colaborar já é motivo de boa

qualidade no convívio atual e especial preparação para o futuro.

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2.1 - Como as Crianças Aprendem

Os princípios psicopedagógicos que norteiam um ambiente

estimulante e principalmente feliz para as crianças estão interrelacionados e

são interdependentes: auto-estima, motivação, aprendizagem e disciplina.

O desenvolvimento da criança ocorre eficazmente se prestarmos a

devida atenção na relação pais e filhos. No campo afetivo, pretende-se

refletir em como ajudar as crianças a criar sentimentos positivos em relação

a si mesmas. Sentindo-se valiosas e seguras, o êxito escolar estará

garantido.

No campo cognitivo, recomenda-se enriquecer e ampliar o

vocabulário da criança, através do trabalho com literatura infantil,

desenvolvimento de pequenos projetos, com o exercício constante da

expressão oral, articulação do posicionamento crítico frente às situações do

dia a dia. A ênfase no aprendizado de novas palavras tem como objetivo

possibilitar a obtenção de melhores resultados na escola e também ajudar a

criança a ordenar o pensamento em função do mundo em que vive e fazê-la

sentir-se capaz, aceita e valiosa.

Além da expressão oral e da ordenação do pensamento infantil há o

desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, da psicomotricidade, e do

aspecto sócio-emocional, contribuindo adequadamente para que esse

"sujeito" (a criança), seja auxiliado na sua totalidade, onde todas as partes

do desenvolvimento sejam atendidas adequadamente.

Gardner (1996) e sua equipe demonstraram que os múltiplos circuitos

neurais são diferentes em cada ser, portanto cada um aprende de uma

forma diferente. A Teoria das Inteligências Múltiplas discorre sobre o fato de

existirem oito diferentes modalidades de inteligência e que não há uma

superior à outra. O ideal seria que as escolas dessem à criança a

oportunidade de desenvolver todas elas, de maneira integrada e prazerosa.

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Acreditando nesta inter-relação, não se pode mais tratar isoladamente

cada parte deste processo do crescimento infantil, pois o cognitivo depende

do afetivo, que influi no psicológico, que está relacionado ao psicomotor, ao

físico, ao emocional. Portanto, é fundamental que se preocupe com todos os

aspectos do desenvolvimento infantil. Todos são igualmente importantes e

se processam simultaneamente.

Antunes (2005) reafirma a idéia de que o processo de

desenvolvimento acontece como um todo. A criança aprende em cada

detalhe da aula, sua auto-estima se exercita em cada gesto. O espaço

escolar é o lugar que nunca sai da memória, é onde a criança se reconhece

como um ser humano. O professor faz a criança se descobrir como bom ou

mau aluno. Quanto maior for a habilidade do professor para proporcionar ao

aluno o conhecimento de si mesmo, da sua família, da sua escola, cidade ou

país, mais ele gostará de si mesmo.

2.2 - A Importância do Lúdico

O brinquedo é oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança

experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de

estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o

desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e atenção.

Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da

criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto.

Brincar é um momento de auto-expressão e auto-realização. As atividades

livres com blocos e peças de encaixe, as dramatizações, a música e as

construções desenvolvem a criatividade, pois exigem que a fantasia entre

em jogo. Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta e requer

desempenho, como os jogos (quebra-cabeça, dominó e outros) constituem

um desafio que promove a motivação e facilita escolhas e decisões à

criança.

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De acordo com Souza (2000), o brinquedo traduz o real para a

realidade infantil. Suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força

dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Brincando,

sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvidas. A qualidade

de oportunidades que estão sendo oferecidas à criança através de

brincadeiras e brinquedos garantem que suas potencialidades e sua

afetividade se harmonizem. A ludicidade, tão importante para a saúde

mental do ser humano, é um espaço que merece atenção dos pais e

educadores, pois é o espaço para expressão mais genuína do ser, é o

espaço e o direito de toda criança para o exercício da relação afetiva com o

mundo, com as pessoas e com os objetos.

Um bichinho de pelúcia pode ser um bom companheiro. Uma bola é

um convite ao exercício motor, um quebra-cabeças desafia a inteligência e

um colar faz a menina sentir-se bonita e importante como a mamãe. Enfim,

todos são como amigos, servindo de intermediários para que a criança

consiga integrar-se melhor.

2.2.1 - A Relação Criança/ Brinquedo

A criança trata os brinquedos conforme os recebe. Ela sente quando

está recebendo por razões subjetivas do adulto, que muitas vezes, compra o

brinquedo que gostaria de ter tido, ou que lhe dá status, ou ainda para

comprar afeto e outras vezes para servir como recurso para livrar-se da

criança por um bom espaço de tempo.

É indispensável que a criança sinta-se atraída pelo brinquedo e cabe-

nos mostrar a ela as possibilidades de exploração que ele oferece,

permitindo tempo para observar e motivar-se. A criança deve explorar

livremente o brinquedo, mesmo que a exploração não seja a que

esperávamos.

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Não nos cabe interromper o pensamento da criança ou atrapalhar a

simbolização que está fazendo. Devemos nos limitar a sugerir, a estimular, a

explicar, sem impor nossa forma de agir, para que a criança aprenda,

descobrindo e compreendendo, e não por simples imitação. A participação

do adulto é para ouvir, motivá-la a falar, pensar e inventar.

Brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo.

Jogando com amigos, aprende a conviver, ganhando ou perdendo,

procurando aprender regras e conseguir uma participação satisfatória.

No jogo, ela aprende a aceitar regras, esperar sua vez, aceitar o

resultado, lidar com frustrações e elevar o nível de motivação.

Nas dramatizações, a criança vive personagens diferentes, ampliando

sua compreensão sobre os diferentes papéis e relacionamentos humanos.

As relações cognitivas e afetivas da interação lúdica propiciam

amadurecimento emocional e vão pouco a pouco construindo a sociabilidade

infantil.

O momento em que a criança está absorvida pelo brinquedo é um

momento mágico e precioso, em que está sendo exercitada a capacidade de

observar e manter a atenção concentrada e que irá inferir na sua eficiência e

produtividade quando adulto.

Brincar junto reforça os laços afetivos. É uma manifestação do nosso

amor à criança. Todas as crianças gostam de brincar com os pais, com a

professora, com os avós ou com os irmãos.

A participação do adulto na brincadeira da criança eleva o nível de

interesse, enriquece e contribui para o esclarecimento de dúvidas durante o

jogo. Ao mesmo tempo, a criança sente-se prestigiada e desafiada,

descobrindo e vivendo experiências que tornam o brinquedo o recurso mais

estimulante e mais rico em aprendizado.

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Guardar os brinquedos com cuidado pode ser desenvolvido através

da participação da criança na arrumação feita pelo adulto. O hábito

constante e natural dos pais e da professora ao guardar com zelo o que

utilizou, faz com que a criança adquira automaticamente o mesmo hábito,

ocorrendo inclusive satisfação tanto no guardar como no brincar.

2.2.2 – A Música

A Música representa uma importante fonte de estímulos, equilíbrio e

felicidade. Ela atinge o ser humano em todas as suas dimensões: fisiológica,

sensorial, afetiva, mental, social e espiritual. O processo de sensibilização

musical engloba: o ouvir, o expressar-se, o interagir.

É importante ressaltar que a musicalização já é iniciada intuitivamente

no próprio lar onde pais oferecem às crianças discos, livros de histórias com

CDs, instrumentos sonoros etc.

O potencial criativo da criança é extremamente trabalhado na

musicalização, fazendo com que a criança raciocine melhor, crie meios de

resolver suas próprias dificuldades e desenvolva sua auto-estima.

Na iniciação musical a criança vivencia a música de forma prática e

concreta, trabalhando predominantemente os aspectos fisiológico e afetivo,

vencendo as etapas de forma espontânea onde todos poderão sentir a

passagem de fase "Vivência Inconsciente" para a prática consciente da

música.

Não é de hoje que se sabe da importância do brincar, do lúdico, no

desenvolvimento da criança, sendo responsáveis pela formação da memória

cultural. Sendo o jogo, uma brincadeira com regras, funciona como elemento

motivador, servindo com estímulo no processo de transformação da

expressão musical. Portanto, perceber, imitar, criar, registrar, racionalizar,

fazem parte desse processo, onde o jogo é o elemento fundamental.

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Na musicalização através dessas atividades lúdicas é desenvolvida e

aperfeiçoada a percepção auditiva, a organização, a imaginação, a

coordenação motora, a memorização, a socialização, a expressividade, a

percepção espacial etc.

Os objetivos para os primeiros anos de vida devem ser: a

sociabilização, esquema corporal, som e silêncio, percepção e discriminação

auditiva (ouvir, escutar, sentir e perceber), pulsação, andamento,

desenvolvimento rítmico-melódico, propriedades do som (timbre,

intensidade, altura e duração), jogos, danças, marchas, cirandas, bandinha e

relaxamento no desenvolvimento musical.

A musicalização é um processo de construção do conhecimento

musical, que tem como objetivo despertar e desenvolver o prazer,

estimulando e contribuindo para a formação global da criança. A música

como forma de expressão e linguagem deve interagir com outras formas de

expressão como a pintura, a escultura, o teatro e a dança.

A Educação Musical deve ser inter e multidisciplinar, assim como as

Técnicas Pedagógicas, pois estamos na era da globalização e da multimídia,

sem, contudo, esquecermos do conteúdo Humano e Social da Música.

2.3 - O Papel do Professor

Apesar de o jogo ser uma atividade espontânea nas crianças, isso

não significa que o professor não necessite ter uma atitude ativa sobre ela,

inclusive, uma atitude de observação que lhe permitirá conhecer muito sobre

as crianças com que trabalha.

É importante que o professor providencie um ambiente adequado

para o jogo infantil. A criação de espaços e tempos para os jogos é uma das

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tarefas mais importantes do professor, principalmente nos primeiros anos do

ensino fundamental. Cabe-lhe organizar os espaços de modo a permitir as

diferentes formas de jogos, de forma, por exemplo, que as crianças que

estejam realizando um jogo mais sedentário não sejam atrapalhadas por

aquelas que realizam uma atividade que exige mais mobilidade e expansão

de movimentos.

Convém não forçar a criança a realizar determinado jogo ou participar

de um jogo coletivo, caso não queira.

Os brinquedos aparecem no imaginário dos professores de educação

infantil como objetos culturais, portadores de valores considerados

inadequados. Por exemplo, bonecas Barbies devem ser evitadas por

carregar valores americanos. Bonequinhos guerreiros, tanques, armamentos

e outros brinquedos, com formas bélicas, recebem o mesmo tratamento por

estarem associados à reprodução da violência.

A pobreza não justifica o brincar desprovido de materiais e a

brincadeira supervisionada. Vale a pena lembrar o que Piaget nos deixou:

Os professores podem guiá-las proporcionando-lhes os materiais apropriados, mas o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela.

Souza (2000) aponta que escolas representadas por diversas etnias

começam a introduzir festas folclóricas, com danças, comidas típicas, como

se a multiculturalidade pudesse ser resumida e compreendida como algo

turístico, pelo seu lado exótico, apenas por festas e exposições de objetos

típicos, não contemplando os elementos que caracterizam a identidade de

cada povo.

Enfim, são tais atitudes que demonstram pré-concepções

relacionadas à classe social, ao gênero e à etnia, e tentam justificar

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propostas relacionadas às brincadeiras introduzidas em nossas instituições

de ensino fundamental.

Quanto à pré-concepções podemos refletir sobre outras de grande

incidência, tais como: tanto meninos quanto meninas expressam através de

seus jogos grande parte dos usos e relações sociais que conhecem. O jogo

é, por sinal, um meio extraordinário para a formação da identidade e a

diferenciação pessoal. Entretanto, os professores precisam ser bastante

cuidadosos e sensíveis para não reproduzir através de seus valores, os

papéis tradicionais. Neste sentido, professores devem possibilitar que

meninos e meninas joguem juntos, evitando expressões como "os meninos

não jogam..." ou, "isto não é para uma menina...", estimulando e

favorecendo o crescimento e a identidade tanto de meninos como meninas,

sem reforçar estereótipos sociais, ainda existentes em muitas regiões do

país ou arraigados em certas culturas. Drummond (1964) poetizou sua

opinião sobre o brincar: "Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É triste ter

meninos sem escola, mas mais triste é vê-los enfileirados em salas sem ar,

com exercícios estéreis, sem valor para a formação humana”.

Bettelheim (1980) também defende o pensamento de que, através de

uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê, constrói ou

como ela gostaria que o mundo fosse, quais suas preocupações e que

problemas ela encontra nas suas relações.

Pela brincadeira, a criança expressa o que teria dificuldade de colocar

em palavras. Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha

é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. Desta

forma, o que está acontecendo com a mente da criança determina suas

atividades lúdicas; “brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar

mesmo se não a entendemos".

Também Gardner (1996) aponta o brincar como um componente

importante no desenvolvimento, pois, através do brinquedo (enquanto ação)

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a criança é capaz de tornar manejáveis e compreensíveis os aspectos

esmagadores e desorientadores do mundo. Na verdade, o brincar é um

parceiro insubstituível do desenvolvimento, seu principal motor. Em seu

brincar, a criança pode experimentar comportamentos, ações e percepções

sem medo de represálias ou fracasso, tornando-se assim mais bem

preparada para quando o seu comportamento for levado em conta.

Cury (2004) traça um paralelo entre os hábitos dos bons professores

e dos professores fascinantes: os bons professores são eloqüentes,

enquanto os fascinantes conhecem o funcionamento da mente das crianças;

os bons professores possuem metodologia, enquanto os fascinantes

possuem sensibilidade; os bons professores educam a inteligência lógica,

enquanto os fascinantes educam a emoção; os bons professores usam a

memória como depósito de informações, enquanto os fascinantes usam a

memória como suporte da arte de pensar; os bons professores são mestres

temporários, enquanto os professores fascinantes são mestres

inesquecíveis; os bons professores corrigem comportamentos, enquanto os

fascinantes resolvem os conflitos em sala de aula; os bons professores

educam para uma profissão, enquanto os professores fascinantes educam

para a vida.

Cury (2004) identifica e descreve os pecados capitais dos educadores

que devem ser evitados. São “pecados” que atingirão direta e fortemente a

auto-estima da criança: corrigir a criança publicamente, expressar autoridade

com agressividade, ser excessivamente crítico (obstruir a infância da

criança), punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações,

ser impaciente e desistir de educar, não cumprir com a palavra e destruir a

esperança e os sonhos da criança. A intenção do autor é mostrar que todos

os educadores erram, porém precisam ser sábios para construir novos

hábitos, a partir dos erros.

Não é nenhuma novidade que a criança mereça ser respeitada e

tratada com dignidade. O professor pode se valer de histórias, jogos e

músicas para catalisar a emoção e atenção dos alunos.

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CAPÍTULO III

A APRENDIZAGEM

Antunes (2004) discorre sobre a relação ensino-aprendizagem: nem

sempre é linear e direta, nem tudo que se ensina, se aprende, e às vezes

aprendem-se coisas que não se pretendem ensinar. A criança aprende o

tempo todo, mas não necessariamente aquilo que os pais tentam ensinar-

lhes de forma intencional.

O papel dos pais deve consistir em suscitar problemas adequados às

capacidades da criança, e não tanto oferecer soluções para que ela

memorize e repita. Além disso, a aprendizagem por meio da ação e da

exploração é conquista, é construção do conhecimento pela própria criança.

Uma vez adquirido por ela mesma, a apropriação deste conhecimento é

mais significativa e nela permanecem.

E nada mais enriquecedor do que propor atividades criativas e

desafiadoras que possam acontecer no quintal, na sala, no shopping, no

carro, na rua. A aprendizagem lúdica, através de jogos, brincadeiras,

músicas, e dramatizações são significativas e altamente motivadoras,

devendo acontecer em todos os lugares, em especial na sala de aula, onde

aprender vira "ofício do brincar" e a vida escolar um enorme prazer.

Que princípios de aprendizagem deveriam ser levados em conta para

estimular o pensamento da criança? Aprendemos algumas ações, medos ou

sentimentos por associação, isto é, pela coincidência de vários estímulos

que nos levam a estabelecer nexos entre eles. Ou ainda, por meio das

conseqüências de nossa conduta, sejam efeitos negativos ou positivos das

mesmas (Lei do Efeito, Thorndike,1911).

A afirmação anterior foi desenvolvida posteriormente por Skimner

(1953): “um comportamento tende a repetir-se quando provoca a aparição

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de algo agradável para a pessoa (reforço positivo) ou a eliminação de algo

desagradável (reforço negativo)”.

Uma saturação de reforços não ajuda a criança discriminar o que fez

bem do que fez mal. É preciso saber dosar. A apresentação constante de

reforços de grande valor traz consigo a perda de valor desses reforços. Os

reforços podem ser usados, desde que bem utilizados. Seja o reforço social

(elogios, atenção), simbólico (dinheiro, notas no boletim), material

(presentes) ou de atividade (um jogo, um passeio, uma diversão), é

importante que os adultos utilizem com muito zelo e bom - senso.

Montar um quebra-cabeça pode ser gratificante para uma criança,

mas pode significar um castigo para outra; o que revela o caráter subjetivo

do reforço. É necessário identificar que atividades são relevantes para

modificar o comportamento da criança e despertar o seu interesse. Com

isso, elimina-se um possível mercantilismo nas condutas de pais e filhos ("eu

faço isso, se em troca me deres aquilo").

Aprende-se também por meio da observação, por modelos e ações

dos outros, o que nos faz salientar o valor do exemplo. Isto também nos

permite influir sobre a conduta da criança indiretamente, por meio de elogios

ou críticas que fazem ao comportamento de outras pessoas. Para Vygotski

(1979), a criança aprende e se desenvolve com aquilo que faz sozinha, de

forma independente e aquilo que ela faz com a colaboração de outras

pessoas, especialmente imitando os adultos.

A aprendizagem por observação pode explicar também certas

tendências agressivas das crianças, os impulsos consumistas induzidos pela

publicidade e determinadas condutas consideradas anti-sociais, entre outras

manifestações de comportamento.

Na aprendizagem e no desenvolvimento infantil, a atividade que surge

por iniciativa da própria criança desempenha papel predominante.

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3.1 - A Aprendizagem da Auto-estima desde a Educação

Infantil

A adaptação das crianças ao novo ambiente é a maior preocupação

na primeira etapa do ano: as classes, as professoras, os colegas, um novo

espaço a ser explorado e conhecido! Cada criança requer uma atenção

especial e precisa recebê-la na medida de suas necessidades: algumas

crianças prescindem da presença de um familiar, outras necessitam de um

tempo maior ou menor até sentirem-se totalmente seguras e à vontade.

A auto-estima é meta essencial na Educação Infantil e Fundamental:

desenvolvê-la e preservá-la é uma proposta sempre presente, tanto ao se

pensar na classe como um todo, como em cada aluno em particular. Para o

enriquecimento do trabalho é fundamental o envolvimento e a contribuição

da família. Essa parceria família/escola é de grande valia para a

aprendizagem da criança.

O grande objetivo deste grau é a automia - na verdade, a finalidade

maior da educação. Cada vez que uma professora observa se “sua criança

guardou o próprio material ou arrumou o seu lugar, sua intenção vai muito

além de uma simples ”arrumação“ da sala.

Todas as atividades nessa etapa são planejadas para fornecer às

crianças os apoios de que necessitam na sua grande tarefa de conhecer o

mundo. A proposta é despertar a curiosidade e o interesse diante do

conhecimento, fazer com que o desejo de saber, de crescer se instale de

forma permanente em cada criança, como uma atitude. Por isso todos os

assuntos que surgem, ou são propostos, favorecem a troca de experiências

e levam a diferentes “caminhos”, sempre na intenção de ampliar os

conhecimentos, o vocabulário, a relação com o meio ambiente.

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O grupo social representado pela escola requer um comportamento

adequado: repartir, esperar sua vez, ceder, ouvir... É lento o aprendizado

que conduz a uma convivência solidária, respeitosa, enfim enriquecedora.

Nas tarefas e nos “encontros” do dia-a-dia o reconhecimento de si

mesmo e do outro vai se tornando mais claro. Nesse “reconhecimento” de si

mesmo, o corpo merece uma atenção especial, com tudo o que lhe diz

respeito, desde a alimentação saudável, até as aulas de Educação Física e

as mais diversas possibilidades de expressão.

O próprio corpo é uma grande descoberta! Através de atividades de

relaxamento, de danças, do "silêncio", as crianças desenvolvem uma

consciência corporal. A roda de mãos dadas representa o respeito pelo

outro, a alegria de estar junto.

Os jogos, as brincadeiras e as histórias estão sempre presentes. A

brincadeira é a própria vida da criança, uma das necessidades básicas para

seu desenvolvimento - é através dela que procura entender o que a cerca e

encontrar soluções para alguns de seus problemas.

As brincadeiras não-dirigidas que acontecem na hora do recreio são

momentos especiais e valiosos para a aprendizagem das “regras” do

relacionamento adequado e dos cuidados com o que é “de todos”. A

formação de cidadania começa muito cedo.

A linguagem escrita faz parte de todas as atividades do grau - está na

escrita do título de um painel, no horário das atividades do dia, nos textos

das histórias e, também, e mais importante, no nome de cada um, pois não

há escrita mais próxima e significativa do que as letras do próprio nome.

Nessas práticas não há nenhuma preocupação com os mecanismos do

código alfabético, mas sim com o uso da escrita, de forma significativa e

próxima.

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As “rodas” de conversas do dia-a-dia são fundamentais para o

desenvolvimento da linguagem oral: estabelece-se a comunicação, trocam-

se experiências, relatam-se fatos, sonhos e discutem-se idéias. Aos poucos,

o respeito ao outro que fala, a espera pela vez de cada um se manifestar, a

“paciência” para não interromper, vão-se incorporando às atitudes de todos.

A natureza, os seres vivos e tudo o que nos rodeia formam um amplo

leque de possibilidades e de interesse. Cada professora e sua “turma” vai à

busca do que lhes é mais significativo para o desenvolvimento de projetos

de estudo.

Freqüentemente um trabalho com a participação de todos finaliza os

“temas”: os alunos empenham-se na confecção de painéis, livros,

brinquedos e maquetes. É uma vitória conseguir terminá-los e saber que,

passo a passo, foi uma criação, mais uma forma de expressão. É

principalmente o momento em que começa a formar-se o verdadeiro sentido

do trabalho em grupo; é o momento em que concretamente, a colaboração

de todos é necessária e imprescindível.

O pensamento matemático começa a ser construído por meio das

percepções: o mundo pode ser tão bonito e variado, cheio de cores, de

formas, de tamanhos diversos. Cada situação se transforma em desafios,

com a possibilidade de desenvolver cada vez mais o raciocínio, e como é

bom conseguir enfrentá-los e vencê-los! As noções matemáticas, relativas a

semelhanças e diferenças, agrupamentos, seriações e seqüências são

exploradas em jogos, em situações concretas, e na necessidade de

resolução de “problemas” que surgem no dia-a-dia. Qualquer interesse ou

tema pode levar à formação dessas habilidades, configurando a

oportunidade para que se construam hipóteses e elaborem-se

conhecimentos.

Os exercícios gráficos completam e sistematizam o trabalho da

classe. Ao usá-los, as crianças começam a adquirir as atitudes e habilidades

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que lhes serão necessárias no decorrer da vida escolar: boa postura,

capricho, organização, concentração.

Lições de casa acompanham os assuntos tratados nas aulas e têm

como principal objetivo, além de formar um hábito, proporcionar uma troca

entre a casa e a escola.

A habilidade de utilizar-se das inúmeras opções do computador é uma

estratégia que, cada vez mais, auxilia e enriquece o desenvolvimento de

atividades de todas as áreas, desde a ilustração de um tema em “estudo”,

até uma grande variedade de jogos.

A percepção artística - envolvendo artes plásticas e música - completa

o trabalho de “construção” de uma educação harmoniosa. Conhecer a obra

de um pintor ou a vida de um compositor clássico são atividades que

ampliam e ilustram o conhecimento dessas linguagens, ao lado de desenhar,

pintar e cantar.

Ao longo do ano estabelecem-se rotinas, “hábitos” e atitudes, e as

crianças começam a situar-se como pertencentes a uma sociedade. Noções

de organização, responsabilidade, persistência e autonomia vão sendo

incorporadas. É um grande salto! É uma paciente conquista realizada pela

própria criança, dia após dia, cada vez que guardou suas coisas, soube

partilhar um brinquedo ou esforçou-se para completar uma tarefa.

3.2 - O Desenvolvimento da Auto-estima

É por meio da experiência, da observação e da exploração de seu

ambiente, que a criança constrói seu conhecimento, modifica situações,

reestrutura seus esquemas de pensamento, interpreta e busca soluções

para fatos novos o que favorece e muito, o desenvolvimento intelectual da

criança, principalmente, na fase pré - escolar.

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Esta relação entre a vida escolar e o cotidiano é o que constitui a vida

da criança e que, no mundo atual, necessita de humanização. Por isso,

procuramos resgatar na criança de hoje, os sentimentos da solidariedade, da

cooperação, do compartilhar, do prazer de dividir e de dar. É na interação

com seu dia-a-dia que a criança desenvolverá seus valores, sua crítica, sua

postura de vida, além da aquisição do conhecimento. Ao longo do processo

de desenvolvimento, a criança vai conhecendo suas habilidades e talentos,

colocando-os em prática e identificando o seu valor.

Portanto, cabe ao adulto ajudar a criança a se divertir e aprender,

partilhando suas descobertas, estimulando-a a pensar criativamente. Pais e

educadores devem transformar a agitação cotidiana em lições proveitosas

para ela.

A teoria de Piaget (1949) é ao mesmo tempo compreensiva e útil a

todos. Ela oferece uma forma alternativa de se compreender o

comportamento e o desenvolvimento humano para aqueles interessados em

educação e psicologia. Não há leis ou fórmulas como na Física ou na

Química, mas usar as teorias como recurso pedagógico e educativo nos leva

a descobrir aquelas que são mais úteis à formação da personalidade. Isto é

de grande importância para todos nós, educadores, pois propõe uma

reflexão sobre o nosso cotidiano e nossa relação com a criança. E o apelo

da obra de Piaget vai ao encontro das expectativas de pais e professores

preocupados com o desenvolvimento da criança em todos os aspectos da

sua personalidade.

Uma série de recomendações consistentes com a teoria de Piaget é

apresentada a seguir:

1) Os pais e professores devem assumir relações de respeito mútuo

com as crianças, e não autoritárias, pelo menos alguma parte do

tempo em que permanecem juntos. Os pais podem encorajar as

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crianças a resolverem problemas por si mesmas e a desenvolverem a

autonomia. Pais e professores precisam respeitar as crianças.

2) Quando a punição às crianças se fizer necessária, ela deve estar

baseada na reciprocidade e não na expiação. Por exemplo, o menino

que se recusa a arrumar o seu quarto pode ser privado das coisas

que estão no quarto. À menina que bate em outras crianças, deve ser

negada a interação com outras crianças.

3) Os professores podem promover a interação social nas salas de

aula e encorajar o questionamento e o exame de qualquer problema

que pode ser levantado pela criança. Existe valor intelectual em

trabalhar com os interesses intelectuais espontâneos da criança e,

para o desenvolvimento moral dela; é igualmente valioso lidar com as

questões morais espontâneas. Isso cabe também aos pais.

4) É possível envolver a criança, mesmo a da pré-escola, em

discussões de problemas morais. À medida que ela ouve os

argumentos de seus colegas pode experimentar o desequilíbrio

cognitivo, que pode conduzir à reorganização de seus conceitos. O

conflito cognitivo é necessário para a reestruturação do raciocínio e

para o desenvolvimento mental.

5) Se muitos "educadores" desejassem pensar ao contrário, a

responsabilidade, a cooperação e a autodisciplina não poderiam ser

transmitidas à criança autoritariamente. Tais conceitos deveriam ser

construídos por ela a partir de suas próprias experiências, para o quê

as relações de respeito mútuo são essenciais. Pais e professores são

os que, em geral, organizam o meio social ao qual a criança se

adapta e a partir do qual ela aprende. É discutível a idéia de que a

criança pode desenvolver os conceitos de justiça, baseados na

cooperação, em um ambiente cujo sentido de justiça tenha por base

apenas a autoridade.

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6) A privação ou punição através do afeto é prejudicial para a criança,

pois provoca baixa auto-estima e sentimento de culpa. Por isso não se

deve dizer: "Mamãe/Professor está triste com você...” Ameaças

usando o afeto é doloroso demais para ela.

A criança com auto-estima positiva oferece contribuições significativas

e valiosas para o grupo e para a própria formação. Vale lembrar que

independente das condições que a escola e o sistema educacional

proporcionam, é de responsabilidade de cada um estar sempre atento a

esse educando. É a forma de possibilitar que ele vá se constituindo em um

sujeito crítico em relação a suas próprias idéias e ao meio em que vive.

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CONCLUSÃO

Acreditamos corroborar a idéia de que sem auto-estima, dificilmente,

a criança enfrentará seus aspectos mais desfavoráveis e as eventuais

manifestações externas. A perturbação deste estado emocional após

situações conflituosas vai determinar um nível ainda menor de amor próprio,

envolvendo aspectos deteriorados de sua formação.

A criança com a auto-estima elevada parece mais ativa, tem facilidade

em fazer amigos, tem senso de humor, participa de discussões e projetos,

lida melhor com o erro, sente orgulho por contribuir e é mais feliz, confiante,

alegre e afetiva.

Neste sentido, os sentimentos devem ser tão bem demonstrados

quanto são ensinados. Este é o segredo para um bom começo de vida:

ensinar a criança a enfrentá-la, com seus problemas e dificuldades, mas

com verdade.

Este trabalho se interessa, dentre outros aspectos, em investigar os

conceitos envolvidos com o tema e, como vimos, se o orgulho, dentre outros

sentimentos, não for excessivo, contribuirá para o desenvolvimento da auto-

estima.

Desta forma, lançamo-nos o desafio de investigar as possíveis

relações entre a auto-estima e os vários sentimentos que proporcionam a

aprendizagem à criança nos primeiros ciclos da educação fundamental. E,

convém lembrar que a auto-estima é um processo de construção das

relações que o indivíduo faz, mantendo uma estreita relação com a

motivação e o interesse que possui pela vida.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós- Graduação “Lato Sensu” Título do livro: AUTO-ESTIMA E APRENDIZAGEM N0S 1º e 2º CICLOS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

Data da entrega: _______________________________________ Avaliado por: _____________________________________ Grau _____________

Rio de Janeiro, _________ de ____________________ de 2005

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ANEXOS: