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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
NEUROCIÊNCIA E PRÁTICA DOCENTE – UM DIÁLOGO POSSÍVEL.
UTOPIA OU REALIDADE?
Por: Adelina de Jesus Ribeiro Osawa de Sousa
Orientador
Profª. Marta Relvas
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
NEUROCIÊNCIA E PRÁTICA DOCENTE – UM DIÁLOGO POSSÍVEL.
UTOPIA OU REALIDADE?
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Neurociência
Pedagógica.
Por: Adelina de Jesus Ribeiro Osawa de Sousa
3
AGRADECIMENTOS
....aos companheiros de jornada, aos
meus Professores do curso de
Neurociência Pedagógica; por me
apresentarem um novo mundo e a
minha família que sempre me apoiou,
me incentivou e nos momentos difíceis
sempre esteve ao meu lado.
4
DEDICATÓRIA
.....dedico aos meus pais por me tornarem
a pessoa que sou; aos meus filhos,
sobrinhos e alunos minha eterna fonte de
inspiração; as minhas irmãs Jo, Janaina e
Rosimar por nunca duvidarem dos meus
sonhos e ao Puca meu marido, meu
companheiro e acima de tudo meu grande
amor e eterna fonte de inspiração.
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RESUMO
O presente estudo tem por objetivo discutir a importância das
Neurociências para prática docente e o processo de aprendizagem Refletir
sobre a práxis estabelecendo um elo entre a saúde (física, mental, emocional e
social) e a escola. Compreender que o conhecimento da neurogênese, da
ontogênese e da própria filogênese interfere nos aspectos do desenvolvimento
cognitivo do educando. O aprendizado é um processo complexo, dinâmico e
desencadeado por um ato perceptivo e motor, que, elaborado corticalmente
dará início a cognição. Através da conexão entre corpo e mente, escola e
saúde podem-se resignificar a prática pedagógica. E este trabalho espera
contribuir para tal reflexão.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho se baseia no estudo teórico, e nas observações in
loco. Podem-se destacar pesquisadores com Marta Relvas, Antonio Damásio,
Gazzaniga e outros que forneceram aporte teórico para realização desse
trabalho. Assim como os alunos da Escola Municipal Eraldo Mussi onde a
fundamentação teórica pode ser comparada com a prática cotidiana do corpo
docente e discente, e aplicada essa nova perspectiva de educação.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Lobo frontal e o cérebro social 09
CAPÍTULO II - Sistema Límbico 15
CAPÍTULO III 20
CAPÍTULO IV – Diálogo entre educação e neurociência 29
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA E VÍDEOS 36
WEBGRAFIA 37
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INTRODUÇÃO
“Educa-se hoje a razão sem educar o coração, originando
pessoas intelectualmente adultas e sentimentalmente
infantis, falsas e até agressivas” (Frei Betto)
A sociedade contemporânea apresenta-se fragilizada e vulnerável,
diante do comportamento de crianças e adolescentes cada vez mais violentos
e desumanizados. Pequenos tiranos centrados no seu próprio “Eu”’descartam
a essência humana e centralizam sua existência no desapego ao ser e ao
apego no ter. O que esperar de seres cada vez mais inertes diante de suas
funções executivas? Como domesticar esse cérebro primitivo?
Sabe-se que os primeiros anos de vida são primordiais para o
desenvolvimento cerebral. Nos primeiros meses é que surgem as conexões
nervosas nas regiões primárias, responsáveis pela percepção. Sem elas não
seria formado as sinapses nas áreas secundárias, gerando a capacidade de
interpretação. A formação das sinapses na área associativa faz com que essas
informações sejam cruzadas e direcionadas para as diversas áreas do cérebro.
Recentes pesquisas demonstram que humor e alimentos estão
interligados. Os neurotransmissores serotonina, dopamina, entre outros agem
no encéfalo estimulando nosso sistema de recompensa. Assim como estímulos
externos influenciam na formação desse sujeito biopsicossocial. Então, como
justificar o comportamento cada vez mais primitivo desses seres que possuem
um um neocórtex altamente evoluído? Como estimular a utilização holística
desse cérebro repleto de sinapses e circunevoluções?
Para Fonseca (2009), em termos evolutivos, antes de atingir o sistema
de comunicação verbal, o ser humano se apropria de funções de comunicação
que independe de palavras. Resgatar essa comunicação pautada na emoção
talvez seja a chave para o nosso verdadeiro desenvolvimento.
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CAPÍTULO I
LOBO FRONTAL E O CÉREBRO SOCIAL
“A liberdade é necessidade reconhecida”. (Frederich Engels)
1.1 - Aspectos anatômicos do lobo frontal
O lobo frontal tem um importante papel no planejamento e
execução de nossas ações. Está subdividido em córtex motor e córtex pré-
frontal. O córtex motor inclui o giro pré-central, que representa o córtex motor
primário. Anteriores a esta área, estão o córtex pré-motor e o córtex motor
suplementar. Nessa área cortical motora estão presentes neurônios motores
em que os axônios se estendem para medula espinhal e tronco encefálico
fazendo sinapses com neurônios motores da medula espinhal (Gazzaniga
2006).
Na região anterior do lobo frontal está situado o córtex pré-frontal que é
responsável pelos aspectos motores do controle motor, do planejamento e da
execução do comportamento. O lobo pré-frontal ou córtex pré-frontal não é
uma estrutura homogênea; ele responde por múltiplas funções e se relaciona
com outras estruturas, corticais e subcorticais. Esta especialização das
diferentes áreas do córtex pré-frontal permite descrevê-lo basicamente em três
divisões funcionais, identificadas por: córtex dorsolateral; córtex orbitofrontal;
córtex medial. O córtex dorsolateral está situado na superfície lateral do lobo
frontal anterior nas regiões pré-motoras e está relacionado à memória de
trabalho. O córtex orbitofrontal se estende para as estruturas do lobo límbico,
com as quais mantém interconexões. A porção dorsolateral recebe informação
externa, oriunda dos sistemas sensoriais, e internos, do córtex orbitofrontal e
do sistema límbico. Estes dados permitem o lobo pré-frontal monitorar
o input sensorial e avaliar o significado emocional de eventos externos para
iniciar uma resposta apropriada. Danos nesta área resultam em falta de
resposta e comprometimento da programação motora, além de um prejuízo no
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automonitoramento. A região orbitofrontal está mais relacionada ao sistema
límbico do que à região dorsolateral. Trata-se do representante cortical do
sistema límbico. Uma síndrome orbitofrontal implica condutas anti-sociais,
desinibição e inconstância emocional.
1. 2 - Cérebro executivo
“Os lobos frontais desempenham as funções mais
avançadas e complexas de todo o cérebro, as assim
chamadas funções executivas. Elas estão vinculadas à
intencionalidade, propósito e tomada de decisões
complexas. Elas alcançam desenvolvimentos
significativos apenas em humanos; pode-se dizer que
eles nos tornam humanos.” (GOLDBERG, 2002, p.22).
De acordo com Goldberg, os lobos frontais podem ser comparados a
uma grande orquestra, ou um grande exército com componentes distintos que
desempenham diferentes funções. Assim, como essas instituições o cérebro
tem seus diretores executivos, seu maestro, seu general: os lobos frontais. O
papel de líder nessa estrutura corporativa é conferido a apenas uma parte dos
lobos frontais, o córtex pré-frontal. São eles que coordenam e orientam outras
estruturas neurais em ação combinada. “Os lobos frontais são o posto de
comando do cérebro”.
Para o neuropsicológico, Julian Jaynes os comandos executivos
gerados internamente eram erroneamente tomados pelo homem primitivo
como vozes de deuses originadas externamente. Com isso se pode perceber
que as funções executivas nos primeiros estágios da civilização humana
podem ter influenciado a formação ou o desenvolvimento de crenças que
permeiam nosso desenvolvimento psicossocial.
Historiadores perceberam um detalhe curioso em “A criação de Adão”,
de Michelangelo no teto da capela Sistina. O manto de Deus tem a forma do
contorno do cérebro, seus pés descansam no tronco cerebral e sua cabeça
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está emoldurada pelo lobo frontal. Não se pode afirmar que a alegoria foi
planejada ou mera coincidência, porém não se pode descartar o profundo
efeito humanizador dos lobos frontais. Sendo essa a razão por serem
conhecidos como “o órgão da civilização” (Luria).
1. 3 - Funções executivas
O homem desenvolveu ao longo de sua filogênese um grande
processador de informações. Este processador coordena de maneira
automática ou de maneira controlada as atividades exercidas. Aquilo que se
aprende, por ter sido repetido diversas vezes, é entendido pelo nosso cérebro
como um processo automático Enquanto as atividades mais complexas exigem
um processamento controlado. Nestes casos, é necessário planejar os
próximos passos e monitorar a sua execução até que se chegue ao resultado
final.
As funções executivas são comandadas pelo Executivo Central. Este
componente da memória de trabalho é responsável pelo planejamento,
monitorização e execução de atividades complexas ou novas para o indivíduo.
O executivo central se localiza nas regiões pré-frontais dos lobos frontais.
“Lesões ou disfunções nesta região resultam em perturbação das funções
executivas e afetam indiretamente todos os processos cognitivos (Oliveira R.,
2006, p.235)”.
As Funções Executivas compreendem análise, planejamento e
monitorização, com o objetivo de organizar comportamentos complexos, a
partir das intenções do indivíduo (Shallice, 1988). Este aparato neurobiológico,
cuja organização de competências é adquirida progressivamente na vida, a
começar pelas atividades elementares, prosseguindo para as mais complexas,
caracteriza o que conceituamos por autonomia. As funções executivas
constituem uma característica exclusivamente humana, sua estruturação
acontece progressivamente e sua organização está relacionada às vivências
precoces interpessoais e também com o meio ambiente. As funções
executivas estão intimamente ligadas à capacidade em avaliar alternativas,
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fazer escolhas e analisar as hipóteses previstas para realização dos objetivos
traçados.
Os substratos neurais das funções executivas se localizam nas regiões
pré-frontais dos lobos frontais do cérebro. A parte do cérebro que faz com que
o homem torne-se um ser humanizado e define sua identidade; que abriga
seus impulsos, ambições, personalidade e sua essência são chamadas de
lobos frontais.
1. 4 - Funcionamento cerebral e desenvolvimento humano
“Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos.”
Provérbio japonês
O funcionamento cerebral depende de algumas condições básicas tais
como: a estrutura, ou seja, a integridade das áreas e/ou partes; a maturação,
ao nascermos, nosso cérebro pesa cerca de ½ Kg, e ao final do processo de
maturação, por volta dos sete anos, chega a 2,5 Kg , que é o peso que se
manterá por toda a vida, salvo alterações de demência ou perdas por
traumatismos; alimentação, como todo e qualquer organismo, o cérebro
necessita de alimentação adequada, tanto para desenvolver-se como para
manter seu funcionamento e as Influências genéticas e ambientais.
Para MacLean a caixa craniana humana contém não um, mas três
cérebros, sendo cada um deles o registro de um estágio diferente de nossa
evolução, denominado “Cérebro Triuno”. Segundo ele, os três cérebros
operam como computadores biológicos interconectados, cada um com sua
própria inteligência, sua própria subjetividade, seu próprio senso de espaço e
tempo e sua própria memória. Cada um deles é conectado aos outros dois,
mas opera como um cérebro individual com capacidade própria.
O mais antigo dos três cérebros é o reptiliano, primitivo ou arquipálio,
que MacLean também chama de “Complexo-R”. Corresponde ao cerebelo e ao
tronco encefálico (mesencéfalo, ponte de Varólio e bulbo raquidiano). É
responsável pelos processos de auto-sustentação do corpo, como a
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respiração, o batimento cardíaco e o sono, assim como pelos rituais imutáveis
de aproximação, ataque, vôo e acasalamento, processos que não requerem
controle consciente, mas que são essenciais à vida do animal, tanto que o
encéfalo reptiliano jamais pára de funcionar, nem durante o sono profundo. O
encéfalo reptiliano não muda, não aprende com a experiência. A ele se limita
quase à totalidade do encéfalo dos répteis atuais, tendo estado presente nos
répteis que precederam aos mamíferos, há cerca de 240 milhões de anos. O
cérebro reptiliano corresponde ao comportamento mecânico, puramente
instintivo presente no comportamento humano.
O cérebro reptiliano é um remanescente do passado pré-histórico
existente no homem. É útil para decisões rápidas, que não exigem
pensamento, focaliza-se na sobrevivência e entra em ação quando estamos
em perigo e não temos tempo para pensar. Num mundo em que sobrevivem os
mais capazes, o cérebro reptiliano preocupa-se com a obtenção de alimento e
em não se tornar alimento. Ele é orientado pelo medo, e entra em ação
quando risco eminente. Mantêm o homem em estado de alerta.
A maioria dos mamíferos compartilha com o homem o cérebro
paleomamífero (mamífero antigo), que corresponde ao sistema límbico, à parte
média do encéfalo. MacLean acredita ter ele surgido após o encéfalo reptiliano,
há cerca de 60 milhões de anos, tendo sido acrescentado a este último. Os
mamíferos primitivos tinham um encéfalo constituído basicamente do encéfalo
reptiliano somado ao sistema límbico. O encéfalo paleomamífero contém o
hipotálamo, o tálamo, o hipocampo e a amígdala, que são considerados
responsáveis pelas emoções e instintos emocionais como comportamentos
relacionados à alimentação, competição e sexo. Essas emoções são
importantes tanto para o indivíduo quanto para a espécie. O cérebro
paleomamífero é capaz de aprender, pois retêm memórias de emoções que
resultam das experiências de prazer ou dor em maior ou menor grau. O
cérebro paleomamífero responde pelo comportamento emocional.
O neocórtex, córtex ou neopálio é o cérebro principal dos primatas, que
foram dos últimos mamíferos a aparecerem. Ele constitui cerca de cinco sextos
da massa total do encéfalo humano, tendo evoluído no último milhão de anos.
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MacLean o chama de encéfalo neomamífero, o que significa mamífero recente.
Todos os mamíferos possuem neocórtex, mas somente nos primatas e
cetáceos ele é particularmente importante. Esse cérebro neomamífero é
responsável pelas funções cognitivas mais nobres, como a linguagem e o
raciocínio. O neocórtex é responsável pelo comportamento racional.
Pode-se afirma que os três cérebros colaboram para produzir o
comportamento essencialmente humano, que conforme as necessidades e
circunstâncias, ora mostra-se predominantemente mecânico, ora emocional e
ora racional.
Como peça principal dessa fantástica máquina de desenvolvimento
humano pode-se afirmar que o lobo frontal desempenha papel fundamental na
formação de metas e objetivos, no planejamento de estratégias de ação
necessárias para a execução de objetivos. Ele seleciona as habilidades
cognitivas necessárias para a implementação dos planos, coordena essas
habilidades e as aplica em uma ordem correta. Finalmente o lobo frontal é
responsável pela avaliação do sucesso ou do fracasso de nossas ações em
relação aos nossos objetivos. É o que nos torna tipicamente humano.
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CAPÍTULO II
SISTEMA LÍMBICO
“Uma mente tranqüila significa não mais que uma mente bem ordenada” Marco Aurélio (ano 121-180 a.C.)
O homem constrói idéias e é capaz de se comunicar através da
simbologia da fala e da escrita. Esta capacidade de pensar está ligada
diretamente à emoção. A palavra emoção deriva do latim movere, mover, por
em movimento. É importante compreender que a emoção é produzida por um
movimento intrínseco que representa o modo de comunicação entre os
estados e as necessidades internas do homem.
Ao estudar a anatomia comparada dos sulcos e giros dos cérebros de
mamíferos, Broca (1877) descreveu o ”grande lobo límbico” como sendo
constituído pelos giros do cíngulo e parahipocampal, e a ”fissura límbica” como
sendo constituída pelos sulcos atualmente denominados: sulco do cíngulo,
sulco subparietal e sulco colateral. Adotou-se também o termo límbico em
função do seu significado (do latim ”Limbus”: orla, anel, em torno de), ratificado
por Sarnat e Netsky (1981), uma vez que essas estruturas, presentes em todos
os mamíferos, situam-se em torno do topo do tronco encefálico.
Papez propôs que o circuito constituído pelo giro do cíngulo, giro
parahipocampal, hipocampo, fórnix, corpo mamilar, núcleos anteriores do
tálamo se constituísse no circuito básico das emoções. Esta hipótese veio a
ser ampliada por MacLean (1949), ao propor o conceito de cérebro visceral
que defendia a idéia de que era constituído pelo rinencéfalo (estruturas e áreas
olfatórias e paraolfatórias), giro do cíngulo, giro parahipocampal e hipocampo.
Estas hipóteses foram corroboradas por Lockard (1977) afirmando que estas
áreas anatômicas eram comuns a todos os mamíferos, e responsáveis pelas
funções básicas de comer, beber e de se reproduzir. No início, MacLean,
assim como Papez não reconheceu a contribuição prévia de Broca, contudo,
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em suas publicações subsequentes, adotou o termo proposto pelo autor
francês e criou o conceito de Sistema Límbico.
Há um consenso entre os diversos autores de que o Sistema límbico
tenha como estruturas principais: os giros corticais, os núcleos de substância
cinzenta e tratos de substância branca dispostos nas superfícies mediais de
ambos os hemisférios e em torno do terceiro ventrículo. Estas estruturas,
funcionalmente, se relacionam com os instintos, emoções e memória e,
através do hipotálamo, com a manutenção da homeostase. Apesar deste
consenso, há ainda divergências quanto à própria conceituação do Sistema
límbico e quanto à inclusão de certas estruturas na sua composição, como o
lobo olfatório e o próprio hipotálamo.
Os lobos olfatórios são constituídos pelos bulbos olfatórios, que
recebem informações dos receptores olfativos pelas suas fibras aferentes e
pelas áreas cerebrais diretamente atingidas por estas terminações. Os bulbos
olfatórios são estruturas pares que filogenética e embriologicamente são
extensões rostrais de ambas as massas telencefálicas, e já possuem uma
estrutura laminar do tipo cortical. As projeções aferentes dos bulbos olfatórios
formam os tratos olfatórios medial e lateral que se dirigem ao tubérculo
olfatório que, nos seres humanos, corresponde à substância perfurada
anterior. Apenas a sua porção anterior possui conexões olfativas, uma vez que
a sua porção posterior já se relaciona com os núcleos hipotalâmicos. A área
olfatória lateral que recebe estas terminações é denominada córtex piriforme e
corresponde ao único centro cortical com função olfatória específica;
posteriormente a ela, se situa o chamado córtex entorinal, não relacionado
com a olfação, porém muito desenvolvido no homem. Da área olfatória lateral
emergem aferências que se dirigem a centros diencefálicos e para o complexo
amigdalóide.
2.1 - A amígdala
O corpo amigdalóide ou amígdala se localiza no interior da metade
anterior do unco do giro parahipocampal, imediatamente anterior à cabeça do
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hipocampo que ocupa a sua metade posterior e, portanto, constitui a parede
anterior do corno temporal.
O corpo amigdalóide é composto pelas suas diferentes partes
basolateral, olfatória e centromedial. A parte basolateral é muito semelhante ao
córtex, recebe as suas aferências do córtex cerebral e de núcleos talâmicos
polimodais e, como o córtex, se projeta para o striatum ventral e para o tálamo.
A pequena parte olfatória, adjacente ao córtex olfatório temporal, recebe as
suas aferências e se projeta, principalmente, para a parte centromedial da
própria amígdala e para o hipotálamo. A parte centromedial, por sua vez,
recebe aferências da formação hipocampal, da ínsula, do córtex órbito-frontal e
de núcleos talâmicos da linha média (mais particularmente relacionados com
informação interoceptiva), e se projeta sobre o hipotálamo e tronco encefálico.
Desde os experimentos de Kluver e Bucy (1939), em que a extirpação
bilateral da amígdala nos macacos produziu mudanças emocionais (como
hipersexualidade, cegueira psíquica, falta de reatividade frente a estímulos
naturalmente perigosos ou rechaço social por parte dos macacos sãos), a
amígdala despertou o interesse por sua intervenção na cognição social. Ela
intervém elaborando uma avaliação cognitiva do conteúdo emocional de
estímulos perceptivos complexos. Segundo Emery e Amaral (2000), o núcleo
basal, por ser o de maior interconexão com o córtex pré-frontal ventromedial,
atua no pareamento de sinais sociais com o contexto social apropriado.
A percepção do estado emocional de uma face é uma das funções
perceptivas complexas mais estudadas. Haxby e colaboradores (2000)
propõem que a percepção dos aspectos que se alteram na face (os quais
seriam os sinais mais importantes para uma correta interpretação dos signos
sociais, como a expressão emocional do pânico) é processada no sulco
temporal superior e na amígdala, sobretudo na direita. A amígdala, por suas
eferências que saem do núcleo central atingindo o hipotálamo e o tronco
cerebral, é capaz de desencadear a resposta hormonal e neurovegetativa de
estresse. Por outro lado, devido à sua conexão com o núcleo basal de
Meynert, consegue modular a direção da atenção para o estímulo perigoso
(LeDoux, 2000). A amígdala recebe aferências sensoriais talâmicas e de áreas
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sensoriais de associação (Rojas, Outes & Goldar, 1998). Por outro lado,
manda eferências para áreas sensoriais primárias antes de ocorrer à
representação cortical do estímulo. Deste modo, ela deve regular de uma
forma dirigida, o que o córtex sensorial processa. Além do que, também
mediante esta via, modula a direção da atenção para o estímulo perigoso. A
produção, na amígdala, do efeito de potenciação em longo prazo pode explicar
sua participação nos processos de ansiedade e estresse pós-traumático, nos
quais as associações entre sinais perigosos e a resposta de estresse são
aprendidos e reforçados, ocasionando os sintomas somáticos de ansiedade.
O processo de direção do olhar tem um peso preponderante na
cognição social, não apenas em humanos (Emery, 2000). Discute-se o
predomínio do hemisfério direito no processamento emocional de expressões
faciais (percepção e produção da expressão emocional). Isto porque, ao
atribuir maior expressividade emocional ao hemirrosto esquerdo do que ao
hemirrosto direito, com o paradigma de figuras quiméricas. (Sackheim, Gur &
Saucy 1978), Ross (1998) propôs que existe uma maior capacidade de
percepção do estado emocional através do processamento da metade superior
da face (olhos, olhar) do que da metade inferior (boca), atribuindo méritos à
máxima popular que diz: “os olhos são o espelho da alma”.
Tais achados vão de encontro com a teoria da mente, ou seja, a
capacidade de atribuir uma mente a outro indivíduo; ter habilidade de entender
o papel de outros indivíduos, assim como de entender outros pontos de vista
ou atribuir uma intenção a outra pessoa. Essa capacidade é fundamental na
cognição social (Voeller, 1998). Os pacientes com autismo, que possuiriam
anormalidades estruturais ou funcionais na amígdala, não têm capacidade de
atribuir um estado mental ou inferir uma emoção em outra pessoa através do
olhar. Isso foi demonstrado através de estudos funcionais e deu lugar à teoria
do transtorno amigdalino no autismo (BaronCohen e cols, 1994, 2000).
Também foi observado esse transtorno em pacientes com lesão amigdalina
(sobretudo para o reconhecimento da expressão emocional do medo) e em
esquizofrenia (Adolphs e cols., 1994; Adolphs, Tranel, Damasio & Damasio,
1992; Broks e cols., 1998)
19
Quanto ao papel relevante da amígdala em relação às emoções e ao
comportamento, é importante ressaltar que a sua parte centromedial não se
projeta para o striatum, e sim, para o hipotálamo e tronco encefálico. Através
dessas aferências, toda a amígdala estendida exerce as suas influências sobre
as áreas neurais que geram os componentes autonômicos, endócrinos e
somatomotores das experiências emocionais, que regulam as atividades
básicas de beber, comer e pertinentes ao comportamento sexual.
A íntima relação topográfica e funcional do corpo amigdalóide com o
hipocampo vincula o processo de armazenamento de memórias com os seus
respectivos coloridos emocionais, e as suas relações com o córtex cerebral
permitem a atuação, em particular, do córtex pré-frontal sobre o complexo
amigdalóide.
Ao coordenar as diferentes informações sensitivas e sensoriais
projetadas pelos tálamos sobre as diferentes áreas neocorticais, o córtex pré-
frontal constitui o principal centro de organização e de planejamento de ações,
inclusive emocionais. As áreas corticais pré-frontais, portanto, orquestram as
reações emocionais, exercendo uma intensa atividade modulatória sobre a
amígdala.
Paralelamente às conhecidas projeções das aferências sensitivas e
sensoriais do tálamo sobre o córtex, que então viabilizam a identificação do
estímulo em questão e que orquestram uma reação elaborada, ”pensada”,
como resposta, descreveu-se que o tálamo também projeta as aferências
sensoriais sobre a amígdala que, então, atua diretamente sobre o tronco
encefálico. Esta via mais direta acarreta, portanto, respostas inespecíficas e
mais rápidas (com intensos componentes autonômicos), prévias às respostas
processadas pelo córtex cerebral, o que explica, por exemplo, reações
abruptas de medo frente a determinadas situações.
20
CAPÍTULO III
AS EMOÇÕES
“É com o coração que se vê corretamente; o essencial é invisível aos olhos.”
Antoine de Saint-Exupéry
Embora não se tenha uma definição precisa dos circuitos neuronais
envolvidos no complexo ”sistema das emoções”, estas podem ser
representadas através de diferentes manifestações da emoção.
3.1 - O que é emoção?
Expressões como feliz, triste, alegre, aborrecido, furioso, excitado; são
comumente usadas para descrever a emoção. Mas, como explicar o quê é de
fato à emoção e qual a sua importância no processo de aprendizagem e de
ensinagem?
Diversas linhas de pesquisas têm buscado respostas para essas e
outras indagações que envolvem a emoção. Dentre os pesquisadores existe
um esforço em criar certa uniformidade nessas definições; para tal uma linha
principal de pesquisas tem sido adotada.
3.1.1 - As emoções básicas
Darwin determinou que os humanos evoluíram de um conjunto finito de
estados emocionais, cada um deles único em sua significância adaptativa e
expressões fisiológicas.
Uma das mais recentes tentativas de caracterizar as emoções básicas foi
realizada por Ekman e Friesen, que estudaram as expressões faciais em
diversas culturas ao redor do mundo e descobriram que a maneira pela qual
essas emoções são demonstradas através da expressão facial não varia,
independente de localização geográfica ou cultural. Com isso Ekman e outros
sugeriram que raiva, medo, aborrecimento, felicidade, tristeza e surpresa são
as seis expressões faciais básicas que representam os estados emocionais
humanos. Sendo essa uma condição inata.
21
Embora ainda haja divergência entre os cientistas quanto à lista das
emoções básicas, a maioria dos cientistas aceitam a ideia de que essas
emoções são universais. Partindo dessa premissa os cientistas têm
investigado diferentes sistemas neurais subjacentes à descrição de estados
emocionais ou do humor, assim como as bases neurais e de desenvolvimento
da expressão e avaliação faciais.
Um fator que diferencia a emoção de outros comportamentos humano é
sua capacidade em alterar estados mentais, neurais e corporais. Respostas
emocionais podem causar várias reações corporais
Para Gazzaniga as respostas emocionais interagem com o processo
cognitivo. Um estado de fúria pode afetar nossa habilidade racional.
"Mas existe uma clara linha de divisão entre emoção e
cognição? Filósofos e cientistas têm debatido
amplamente a natureza da relação entre cognição e
emoção desde a época de Aristóteles, que sugeria
que a emoção (alma sensível) e cognição (alma racional)
são níveis ou componentes separados da alma, e
somente a alma racional é exclusiva dos seres humanos."
Hoje se sabe que algumas estruturas cerebrais, como a amígdala, são
especializadas no processamento do estímulo emocional e podem responder
de forma rápida e precoce no processamento desse estímulo. Os sistemas
neurais da emoção e da cognição são independentes e interdependentes. Não
se pode falar em cognição sem emoção e vice-versa.
3.1.2 - Prazer e recompensa
As emoções mais ”primitivas” que tem a finalidade de estabelecer suas
relações com o funcionamento cerebral, são as sensações de recompensa
(prazer, satisfação) e de punição (desgosto, aversão), tendo sido
caracterizado, para cada uma delas, um circuito encefálico específico.
22
O ”centro de recompensa” está relacionado, principalmente, ao feixe
prosencefálico medial, nos núcleos lateral e ventromedial do hipotálamo,
havendo conexões com o septo, a amígdala, algumas áreas do tálamo e os
gânglios da base. Já o ”centro de punição” é descrito com localização na área
cinzenta central que rodeia o aqueduto cerebral de Sylvius, no mesencéfalo,
estendendo-se às zonas periventriculares do hipotálamo e tálamo, estando
relacionado à amígdala e ao hipocampo e, também, às porções mediais do
hipotálamo e às porções laterais da área tegmental do mesencéfalo.
.
3.1.3 – Alegria
A indução de alegria, resposta à identificação de expressões faciais de
felicidade, à visualização de imagens agradáveis e/ou à indução de
recordações de felicidade, prazer sexual e estimulação competitiva bem-
sucedida, provocou a ativação dos gânglios basais, incluindo o estriado ventral
e o putâmen. Além disso, vale relembrar que os gânglios basais recebem uma
rica inervação de neurônios dopaminérgicos do sistema mesolímbico,
intimamente relacionados à geração do prazer, e do sistema dopaminérgico do
núcleo estriado ventral. A dopamina age de modo independente, utilizando
receptores opióides e gabaérgicos no estriado ventral, na amígdala e no córtex
órbito-frontal, algo relacionado a estados afetivos (como prazer sensorial),
enquanto outros neuropeptídeos estão envolvidos na geração da sensação de
satisfação por meio de mecanismos homeostáticos.
3.1.4 – Medo
As relações entre a amígdala e o hipotálamo estão intimamente ligadas
às sensações de medo e raiva. A amígdala é responsável pela detecção,
geração e manutenção das emoções relacionadas ao medo, bem como pelo
reconhecimento de expressões faciais de medo e coordenação de respostas
apropriadas à ameaça e ao perigo. A lesão da amígdala em humanos produz
redução da emotividade e da capacidade de reconhecer o medo. Por outro
23
lado, a estimulação da amígdala pode levar a um estado de vigilância ou aten-
ção aumentada, ansiedade e medo.
Desde as descrições iniciais do Sistema límbico, realizadas por Papez,
acreditava-se que o hipotálamo exercia papel crucial entre as estruturas
subcorticais envolvidas no processamento das emoções. Atualmente, se
reconhece que projeções da amígdala para o córtex contribuem para o
reconhecimento da vivência do medo e outros aspectos cognitivos do processo
emocional.
A amígdala é uma estrutura que exerce ligação essencial entre as áreas
do córtex cerebral, recebendo informações de todos os sistemas sensoriais.
Estas, por sua vez, projetam-se de forma específica aos núcleos amigdalianos,
permitindo a integração da informação proveniente das diversas áreas
cerebrais, através de conexões excitatórias e inibitórias a partir de vias corticais
e subcorticais.
Para o aprendizado do condicionamento do medo, as vias que
transmitem a informação do estímulo convergem no núcleo lateral da
amígdala, de onde parte a informação para o núcleo central. Este, por sua vez,
estabelece conexão com o hipotálamo e substância cinzenta periaquedutal no
tronco cefálico, evocando, por fim, respostas motoras somáticas.
3.1.5 – Raiva
Uma das primeiras estruturas associadas à raiva foi o hipotálamo, em
decorrência de estudos realizados na década de 1920, ela é manifestada
basicamente por comportamentos agressivos, os quais dependem do envolvi-
mento de diversas estruturas e sistemas orgânicos para serem expressos.
Além disso, esse comportamento também admite variações de acordo com o
estímulo que o evoca. No século XX, Flynn (1960) identificou que esses
comportamentos agressivos eram provocados pela estimulação de áreas
específicas do hipotálamo. A raiva, assim como o medo, é uma emoção re-
lacionada às funções da amígdala, em decorrência de conexões com o
hipotálamo e outras estruturas.
24
3.1.6 - Reações de luta-fuga
A conexão direta entre o hipotálamo e o SNA se dá, possivelmente,
mediante projeções hipotalâmicas para regiões do tronco encefálico,
destacando-se o núcleo do trato solitário. O SNA está diretamente envolvido
nas denominadas “situações de luta e/ou fuga” e imobilização. Tais
ocorrências estão intrinsecamente relacionadas a um mecanismo de
neurocepção, que se caracteriza pela capacidade de o indivíduo agir conforme
sua percepção de segurança ou ameaça a respeito do meio onde ele se
encontra. Essa percepção pode ser dada, por exemplo, pelo tom da voz ou
pelos movimentos e expressões faciais da pessoa com quem ele interage.
Toda vez que a pessoa percebe o meio ambiente como “seguro”, ela
dispõe de mecanismos inibitórios que atuam sobre as estruturas límbicas que
controlam comportamentos de luta-fuga, como as regiões lateral e dorsomedial
da substância cinzenta periaquedutal. Dessa forma, a amígdala não exerce
seu papel normal.
Concomitantemente, após o processamento de todas as informações, o
córtex motor (onde se destacam as áreas frontais) comanda a ativação de vias
corticobulbares na medula (núcleos primário dos pares cranianos V, VII, IX, X e
XI), que ativam os componentes somatomotor (músculos da face e da cabeça)
e visceromotor (coração, árvore brônquica) dos mecanismos fisiológicos para o
contato social.
Ao contrário, toda vez que a pessoa percebe o meio ambiente como
“ameaçador”, a amígdala estará livre para desencadear estímulos excitatórios
sobre a região lateral e dorsolateral da substância cinzenta periaquedutal, que
então estimula as vias do trato piramidal, produzindo respostas de luta e/ou
fuga.
Além disso, há casos em que a pessoa responde a tais situações como
se estivesse paralisada; essa resposta decorre da estimulação da região
ventrolateral ao aqueduto cerebral de Sylvius, que também estimula as vias
neurais do trato corticoespinal lateral (piramidal). É interessante ressaltar que
essas reações ocorrem paralelamente a uma resposta autonômica simpática.
25
Em situações de luta-fuga, ocorre elevação da frequência cardíaca e da
pressão arterial; de outro modo, nas situações de imobilização ocorre intensa
bradicardia e queda da pressão arterial.
3.1.7 - Tristeza
A depressão e a tristeza podem ser resultantes de um mesmo processo.
A primeira é considerada “fisiológica”, e a segunda, “patológica”, estando,
portanto, relacionadas em termos neurofisiológicos. Frequentemente há
descrição da correlação entre disfunções emocionais e prejuízos das funções
neurocognitivas. De fato, a depressão associa-se a déficits em áreas
estratégicas do cérebro, incluindo regiões límbicas. Não é incomum os fatores
emocionais estarem relacionados há vários determinantes biológicos
implicados no seu desenvolvimento; observando-se alterações ocorridas no
sistema imunológico.
3.2 - Emoção e razão
As informações que chegam ao cérebro percorrem um determinado
trajeto ao longo do qual são processadas. Em seguida, direcionam-se para as
estruturas límbicas e paralímbicas, pelo circuito de Papez, ou por outras vias,
para adquirirem significado emocional, dirigindo-se, continuadamente, para
regiões específicas do córtex cerebral, permitindo que sejam tomadas decisões
e desencadeadas ações, processos relacionados à autonomia, função,
geralmente dependente do córtex frontal ou pré-frontal.
As imagens certamente provocam, em sua maioria, ativação do córtex
visual occipital (giro occipital e giro fusiforme), porém a amígdala também
recebe quantidade substancial de estímulos provenientes das áreas temporais
associadas à visão, participando na formação de memórias através dos
circuitos hipocampais ou dos circuitos estriatais. Tal fato decorre do papel
especializado da amígdala no processamento de insinuações emocionais
visualmente relevantes, sinalização do medo e aversão ou outras evidências. A
26
ativação da amígdala pode estar primariamente envolvida na emissão de um
alerta para ameaças provenientes da percepção obtida pelo córtex occipital.
A integração de conteúdo afetivo aos processos cognitivos ocorre,
provavelmente, no complexo Córtex Órbito-Frontal (COF) / Córtex Pré-Frontal
(CPF) Ventromedial. As impressões sensoriais (como visão, audição e outras
informações somatossensoriais) convergem, através do COF, para o CPF
Ventromedial, de onde a informação sintetizada é levada às regiões do CPF
dorsomedial e CPF pré-frontal ínfero-lateral para a tomada das decisões.
Lesões no CPF Ventromedial causam prejuízo na capacidade de tomar
decisões, geralmente caracterizado por inabilidade de adotar estratégias de
comportamento adequadas às consequências de atitudes tomadas, levando à
impulsividade. O CPF Ventromedial e o COF mantêm importante relação com
a amígdala e ambos contribuem para a tomada de decisões, embora os
mecanismos pelos quais isto ocorra sejam distintos. Acredita-se que essas
regiões corticais recebam aferências da amígdala, as quais representem o
valor motivacional dos estímulos, integrando-os e promovendo uma avaliação
do comportamento futuro que será adotado.
Embora a amígdala não estabeleça conexão direta com o CPF lateral,
ela se comunica com o córtex cingulado anterior e o córtex orbital, os quais
estão envolvidos nos circuitos da memória, tornando possível a justificativa de
alguns autores de que a amígdala participa na modulação da memória e na
integração de informações emocionais e cognitivas, possivelmente atribuindo-
lhes carga emocional, possibilitando a transformação de experiências
subjetivas em experiências emocionais.
A ínsula é outra estrutura importante na integração razão/emoção. Ela é
ativada durante a indução de recordações de momentos vividos por um
indivíduo, as quais provocam uma sensação específica, seja de felicidade,
tristeza, prazer, raiva ou qualquer outra.
Pode-se considerar que a tomada de decisões torna-se diretamente de-
pendente da associação emocional realizada pelo indivíduo ao vivenciar
determinadas situações cotidianas e que vai depender de respostas motoras e
autonômicas. Tais respostas autonômicas são diretamente influenciadas pelo
27
hipotálamo e este, por sua vez, age mediante o processamento de todas as
informações que chegam ao cérebro.
Charles Darwin propôs que certas emoções têm uma base neural inata,
já que são expressas de maneira universal através das distintas culturas. Elas
corresponderiam às emoções primárias: nojo, medo, pânico, tristeza, surpresa,
interesse, felicidade e desgosto. Todas essas emoções têm sua base neural
nas estruturas do sistema límbico. À medida que a criança cresce, de maneira
normal aprende a manipular estas emoções conforme as normas e
expectativas sociais (Ross, 1998), desenvolvendo uma correta cognição social.
Assim, o córtex pré-frontal ventromedial permite uma integração entre a
percepção de uma emoção e a resposta que desencadeia, seja uma conduta
complexa elaborada pelo neocórtex orbitário, seja uma resposta autonômica
ou motora (incluída a atenção) através das eferências amigdalinas. Por outro
lado, o córtex somatosensorial direito e a ínsula permite uma correta
manipulação da informação necessária para a interpretação e expressão
emocional da face e, sobretudo, do olhar (tarefa que realiza juntamente com a
amígdala).
Para Damásio as emoções nos fazem únicos, é o nosso comportamento
emocional que nos diferencia uns dos outros. A natureza e a extensão do
nosso repertório de respostas emocionais não dependem exclusivamente do
nosso cérebro, mas da sua interação com o corpo, e das nossas próprias
percepções do corpo. Como diz, o corpo representado no cérebro constitui-se
num quadro de referência indispensável para os processos neurais que nós
experienciamos como sendo a mente.
O que se passa no cérebro são operações mentais; isto influencia o
corpo e vice-versa. Entende-se, portanto, que a mente é fruto do cérebro
contrapondo o dualismo cartesiano no qual a alma (razão pura) é
independente do corpo e das emoções, e não ocupa lugar no espaço.
Segundo Damásio, existem emoções primárias e secundárias e
sentimentos associados às emoções. As emoções primárias envolveriam
disposições inatas para responder a certas classes de estímulo, controladas
pelo sistema límbico. As emoções secundárias seriam aprendidas e
28
envolveriam categorizações de representações de estímulos, associadas a
respostas passadas, avaliadas como boas ou ruins. As estruturas do córtex
cerebral são o substrato neural das emoções secundárias, mas a expressão
dessas emoções também envolve as estruturas do sistema límbico. Apesar
desta interrelação, essas duas formas de emoção são distintas. Isto é
evidenciado, por exemplo, pelo fato de um sorriso espontâneo ser diferente
daquele intencional.
Os sentimentos podem ser considerados a experiência de tais
mudanças associadas às imagens mentais da situação. Desta forma, a
emoção esta intimamente associada à memória; ou seja, ao contexto em que é
adquirida na experiência individual.
Assim, ao contrário do que propõe Descartes e mesmo Kant, que o
raciocínio deve ser feito de uma forma pura dissociada das emoções, na
verdade são as emoções que permitem o equilíbrio das nossas decisões.
Apesar de não serem atos racionais, são elas que através dos sentimentos,
desencadeiam o processo cognitivo. (Damásio, 1994).
29
CAPÍTULO IV
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E NEUROCIÊNCIA
“A aprendizagem é uma modificação biológica na
comunicação entre neurônios, formando uma rede de
interligações que podem ser evocadas e retomadas com
relativa rapidez. Todas as áreas cerebrais estão
envolvidas no processo de aprendizagem, inclusive a
emoção.”
(RELVAS, 2009, p. 35)
Para Pierre Weil, ensinar é a arte de viver em paz consigo mesmo, com
os outros na sociedade e com a natureza. Viver em paz consigo mesmo, no
nível mental, através da sabedoria; no nível emocional, através do amor,
alegria, compaixão e equilíbrio; no nível corporal, cuidando de sua saúde.
Viver em paz com os outros na sociedade, na cultura e com a natureza,
procurando conhecer suas leis para viver em harmonia com elas.
Deve atender às funções do hemisfério cerebral esquerdo, que abriga o
raciocínio concreto, lógico, formal e analítico, baseado na razão e fatos, e às
funções do hemisfério cerebral direito: os raciocínios abstratos, conceituais,
informais e intuitivos, e a atividade emocional. Uma das preocupações da
educação deve ser a de promover o autoconhecimento do educando, para que
ele descubra-se como um ser em formação. Sendo constituído de uma
herança genética, em que aparatos neurais e sinapses contribuem para sua
formação.
Para Magill o cérebro apresenta um modelo do processamento de
informação: estímulo + percepção + processamento central + decisão +
efetivação. Esse modelo é caracterizado pelos estágios neurofisiológicos da
aprendizagem:
• Meio ambiente envia estímulo de natureza físico-química;
• Sistema sensorial transforma o estímulo em impulsos nervosos;
30
• Impulsos nervosos chegam ao tronco cerebral, e são
distribuídos até o córtex cerebral correspondente (ex.: a visão
estimula o lobo occipital; a audição estimula o lobo temporal; o
tato estimula o lobo parietal).
Nas áreas primárias (de projeção) os estímulos chegam e são
projetados. Esses estímulos são chamados de sensações (que podem ser
visuais, táteis ou auditivas)
Nas áreas secundárias (de associação) os neurônios associativos
passam à informação da área primária para a secundária. A decodificação da
informação na área secundária proporciona a percepção. Na percepção, as
imagens (visuais, auditivas ou táteis) recebem significados.
Nas áreas terciárias (de integração) ocorre a adição e a combinação de
todos os aspectos do estímulo e faz associação entre os sentidos.
Na região frontal, o movimento ocorre de seguinte forma:
• Há uma intenção de movimento (planejamento no córtex pré-frontal);
• A informação passa para a área pré-motora (entre o lobo pré-frontal e a
área motora);
• Neurônios da área pré-motora se projetam para a área motora primária,
que envia impulsos (via medula) para a musculatura a fim de executar o
movimento.
A investigação das estruturas cerebrais revela a relação entre sistema
sensorial e motor, entre a maturação do córtex de associação e as etapas do
desenvolvimento. Com isso o professor deve ter a compreensão do grau de
maturação e a motivação das crianças para a aprendizagem.
Estabelecer um diálogo cada vez mais freqüente e intenso entre a
educação e a neurociência é o caminho para todos aqueles que lutam por uma
educação transformadora. Cabe ao educador buscar mecanismos que o levem
a entender que o aluno é antes de tudo um ser biopsicossocial. Com
freqüência as diferenças evolutivas dos alunos são desprezadas, tendo como
necessidade emergente o seu nivelamento. Perceber que crianças diferentes
têm potencialidades e dificuldades distintas, bem como diferentes estilos de
31
aprendizagem e que algumas diferenças podem estar ligadas a mecanismos
internos, enquanto outras resultam de suas interações com o ambiente é o
mais novo desafio da educação.
A aprendizagem é um processo de aquisição que se cumpre no
Sistema Nervoso Central, onde se produzem novas conexões mais ou menos
permanentes, que se traduzem em modificações funcionais (áreas da
linguagem, das gnosias, das práxias, da atenção, da memória) ou da conduta,
permitindo que haja uma melhor adaptação do individuo ao seu meio. Para
Kaplan (1990), “aprendizagem é adquirir conhecimento através da experiência
(...) e experiência é perceber diretamente através dos sentidos’.
A neurociência pedagógica representa um grande avanço para
educação e uma ferramenta vital para a prática docente. É primordial que o
docente tenha o entendimento das funções corticais superiores envolvidas no
processo de aprendizagem.
Estudos recentes demonstram que a Neurociência pedagógica traz a
luz da ciência para prática pedagógica, dada a atualidade do tema a prática
dessa especialidade ainda está sendo construída, mas surge para garantir a
interface entre saúde e educação, não sendo mais possível desvincular a
educação da própria evolução e preservação da espécie humana.
Sobre essa base a Neurociência Pedagógica propõe investigar as
condições nas quais a aprendizagem pode ser otimizada e quais fatores
interferem sua realização. Cabe a todos envolvidos no processo de
aprendizagem e ensinagem, não só tentar entender como a cognição e a
consciência humana nascem de atividades cerebrais, assim como
compreender a sequência pela qual ocorrem os eventos neuromaturacionais
da criança enquanto cresce, se desenvolve e aprende.
Atuar pedagogicamente implica um processo dialético de mediação
entre o sujeito que aprende e o objeto do conhecimento. Se faz necessário
uma reflexão acerca da prática pedagógica para oportunizar as experiências
no sentido de favorecer o desenvolvimento da criança, por meio de estímulos
que permitam estabelecer associações significativas com a aprendizagem.
32
Para Levine (2003) o conhecimento das bases neurocientificas que
possibilitem a aquisição das competências cognitivas descritas a seguir
proporcionará ao professor aumento da qualidade e da eficiência de sua
função educadora:
• Controle da atenção: capacitar à concentração de recursos mentais.
• Controle da recepção: capacitar a retardar a recompensa e se tornar
processador ativo da informação.
• Controle da expressão: capacitar a pensar sobre alternativas (cérebro
social)
• Ordenação espacial: capacitar a agir passo a passo.
• Orientação espacial: capacitar a se engajar ao pensamento não verbal
produtivo.
• Memória: capacitar a usar seus arquivos de forma consciente.
• Linguagem: capacitar a se tornar comunicador verbal eficiente.
• Motricidade: capacitar um nível satisfatório de eficiência motora.
• Pensamento social: capacitar compreender as habilidades
interpessoais, se tornar analista conceitual, criativo, sistêmico e crítico.
33
CONCLUSÃO
“Na escola eu aprendi complicadas classificações
botânicas, taxonomias, nomes latinos, mas esqueci. Mas
nenhum professor jamais chamou minha atenção para a
beleza de uma árvore ou para o curioso das simetrias das
folhas.
Parece que naquele tempo as escolas estavam mais
preocupadas em fazer com que os alunos decorassem
palavras que com a realidade para qual eles apontavam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver
mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos.”
RUBENS ALVES
Querer aprender é algo que só se manifesta quando há motivação,
seja por prazer, seja por necessidade. Se o interesse despertado não é
seguido rapidamente por uma aprendizagem bem-sucedida, o interesse é
difícil de ser mantido. Despertar o interesse é o meio para um fim.
Segundo Wallon (1968) o desenvolvimento da inteligência, do
conhecimento e da percepção está diretamente ligado ao mundo da
afetividade, da paixão, da curiosidade, sendo estas verdadeiras alavancas para
redimensionar a educação, tornando-a mais significativa para criança. Neste
sentido, Wallon entende que a afetividade é a fonte do conhecimento.
Outro teórico que enfatizou a estreita relação entre afetividade e
cognição foi Vygotsky, nesse sentido o autor afirma que as conquistas do plano
afetivo são utilizadas no plano cognitivo e vice-versa, destacando a importância
do outro no processo de construção do conhecimento, de constituição do
próprio sujeito e de suas formas de agir.
34
Para Vygotsky, a aprendizagem significativa tem como base a
afetividade, pois ocorre a partir das interações sociais, mediadas e
internalizadas como aspectos fundamentais para a aprendizagem.
Piaget, em sua abordagem, procurou romper com a dicotomia
inteligência / afetividade, mostrando que o desenvolvimento psicológico é um
só, em suas dimensões afetivas e cognitivas. Além disso, o autor defende a
tese da correspondência entre as construções afetivas e cognitivas durante a
vida dos sujeitos, recorrendo às relações entre afetividade, inteligência e vida
social para explicar a gênese da moral. (SOUZA, 2003, p. 54)
Com o desenvolvimento deste trabalho foi possível concluir que o
diálogo entre ciência e educação vem de longa data, mas que hoje não pode
ser mais desprezado. O cérebro é o órgão responsável por nos fazer quem
somos. A neurociência vem comprovar a necessidade do docente em perceber
seu a aluno como um ser biológico, social e psicológico.
É necessário que o professor invista na formação de vínculos afetivos,
acreditando na pessoa e compreendendo seus limites individuais. O educador
precisa recuperar a afetividade como componente do desenvolvimento neural,
e não somente o afeto que consola, mas também o afeto que impulsiona, de
forma intrínseca.
Todo processo de aprendizagem em que o educador e educando se
entregam ao prazer de aprender, respaldados pelo conhecimento
neurocientífico apresenta resultados sempre positivos.
“O professor não ensina; é o aluno que aprende.”
VASCO AMARAL
35
BIBLIOGRAFIA
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Desvendando o Sistema Nervoso. 3ª edição Artmed, 2008.
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