avaliar as funções executivas

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  • 8/13/2019 Avaliar as funes executivas

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    AMANDA MENEZES ANDRADE

    EVIDNCIAS DE VALIDADE DE INSTRUMENTOS PARAAVALIAR FUNES EXECUTIVAS EM ALUNOS DE 5 A 8 SRIE

    ITATIBA2008

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    AMANDA MENEZES ANDRADE

    EVIDNCIAS DE VALIDADE DE INSTRUMENTOS PARA AVALIARFUNES EXECUTIVAS EM ALUNOS DE 5 A 8 SRIE

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao Stricto Sensu em Psicologia da

    Universidade So Francisco para obteno do

    ttulo de Mestre.

    ORIENTADORA:PROF.DR.ALESSANDRA GOTUZO SEABRA CAPOVILLA

    ITATIBA

    2008

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    Ficha catalogrfica elaborada pelas Bibliotecrias do Setor deProcessamento Tcnico da Universidade So F

    Ficha catalogrfica elaborada pelas bibliotecrias do Setor deProcessamento Tcnico da Universidade So Francisco.

    157.99 Menezes, Amanda Andrade.M51e Evidncias de validade de instrumentos para avaliar

    funes executivas em alunos de 5 a 8 srie / AmandaAndrade Menezes. -- Itatiba, 2008.103 p.

    Dissertao (mestrado) Programa de Ps-GraduaoStricto Sensuem Psicologia da Universidade So Francisco.

    Orientao de: Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla

    1. Avaliao neuropsicolgica. 2. Funes executivas.3.Validade de instrumentos. I. Capovilla, Alessandra GotuzoSeabra Capovilla. II. Ttulo.

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    UNIVERSIDADE SO FRANCISCO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM PSICOLOGIAMESTRADO

    EVIDNCIAS DE VALIDADE DE INSTRUMENTOS PARAAVALIAR FUNES EXECUTIVAS EM ALUNOS DE 5 A 8 SRIE

    Autora: Amanda Menezes AndradeOrientadora: PROF.DR.ALESSANDRA GOTUZO SEABRA CAPOVILLA

    Este exemplar corresponde redao final da dissertao de mestrado

    defendida por Amanda Menezes Andrade e aprovada pela comisso

    examinadora.

    Data: ____ / _____ / _____

    COMISSOEXAMINADORA

    ___________________________________________________________Prof. Dr. Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla (orientadora)___________________________________________________________Prof. Dr. Patrcia Waltz Schelini____________________________________________________________Prof. Dr. Claudio Garcia Capito

    Itatiba2008

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    Dedicatria

    quela que para mim melhor representa o amor, a dedicao, a coragem,

    a sabedoria, a determinao, mestra maior da minha vida, minha me

    Constancia Menezes.

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    Agradecimentos

    minha me, MUITO OBRIGADA por TUDO. Impraticvel prolongar o meu

    agradecimento a voc, pois no h palavras que tornem possvel expressar a sua

    significncia na minha vida. Amo voc infinito... Voc me entende. Eu sei!

    minha orientadora, Prof. Dr. Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla, por toda a sua

    dedicao e pacincia, caractersticas facilmente percebidas por aqueles que tm o prazer em

    conviver com voc. Definitivamente, no tenho palavras para descrever e agradecer a sua

    contribuio no meu aprendizado, como tambm nos meus momentos de angstia e de

    deliciosas gargalhadas! Sem a possibilidade de receber a sua energia sempre positiva, sua

    tranqilidade e segurana, eu jamais concluiria esta etapa da minha vida. Tudo o que eu vier

    a lhe desejar de bom e a agradecer ser insuficiente para o que uma pessoa iluminada

    como voc merece. Muitssimo obrigada!

    Aos professores do Programa de Ps-Graduao da Universidade So Francisco, porserem sempre to solcitos quando por alguma razo precisei. Especialmente agradeo aos

    professores Dr. Claudio Garcia Capito, Dr. Fermino Fernandes Sisto, Dr. Carlos Henrique

    Nunes e s professoras Dr. Cristina Joly, Dr. Claudete Vendramini e Dr Anna Elisa de

    Villemor Amaral, pela excelente oportunidade que tive de expandir os meus conhecimentos

    nas disciplinas em que estivemos juntos.

    Ao professor. Dr. Claudio Garcia Capito e s professoras Dr. Caroline Tozzi

    Reppold e Dr. Patrcia Waltz Schelini por aceitarem com tanta satisfao serem meus

    avaliadores, pelas excelentes contribuies que me trouxeram no exame de qualificao e na

    argio final, como tambm pela maneira saudvel e tranqila com que as conduziram.

    Sou muito grata.

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    Aos meus amigos do LAPSAM, s tenho a agradecer pelas tantas contribuies

    durante esse um ano e meio. Agradeo pela maneira to amistosa com que me receberam

    desde o meu primeiro dia no laboratrio, por terem me feito acreditar e aprender que um

    grupo pode sim funcionar muito melhor do que pessoas isoladas, pelas tantas vezes que pedi

    ajuda com a maior cara de desespero e vocs foram sempre to agradveis e prestativos,

    inclusive com os meus problemas pessoais, e pela colaborao na coleta de dados e na

    tabulao dos testes. De corao, espero poder retribuir tamanha gentileza, pois vocs foram

    essenciais nesta minha caminhada. Vocs so hoje mais do que colegas de trabalho, mas

    amigos pelos quais sinto muito carinho. Sem exceo, obrigada!

    Aos meus colegas e amigos de turma pelas contribuies que fizeram ao

    melhoramento do meu projeto. Agradeo ainda, de modo especial a Nelimar que esteve

    sempre por perto, mesmo nas minhas ausncias, alm da sua participao fundamental na

    concluso da minha dissertao; a Ivan; e a Silvia, amiga de todas as horas, que me deu

    muita fora e proporcionou excessivas risadas.

    A Alexandre Raad e Fabian Marin por terem sido peas-chave na minha vida, desde

    o comeo do sonho em me tornar mestranda at a concretizao deste; obrigada por tudo!

    minha tia, av e segunda me Mariza e minha irm Fernanda por terem me

    dado sempre tanto apoio, em todos os sentidos, tanto amor, me fazendo acreditar que a base

    da nossa famlia atpica mais forte do que qualquer adversidade. Sou extremamente feliz

    por ter vocs comigo e segura do amor que sentimos umas pelas outras. Eu amo vocs.

    De modo muito carinhoso e especial, aos meus tios Jean Robert e Din Menezes, os

    quais me incentivaram e serviram de exemplo na passagem marcante e determinante que

    fizeram pela minha vida, o bastante para que me ensinassem a sabedoria no viver e o

    enorme valor do conhecimento cientfico. Por diversas razes, jamais os esquecerei. Amor e

    saudade eternos...

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    s minhas grandes amigas Carol, Jac, Sofia, Diene, Nanda e Aninha e aos amigos

    Serginho e Samu. Eu amo vocs e agradecerei sempre o apoio incondicional em todos os

    momentos que pedi fora a algum de vocs, embora muitas vezes ter sido dispensvel o meu

    chamado, pois vocs chegavam antes. A compreenso de vocs e o apoio para que eu

    buscasse o meu sonho so inesquecveis. Mil vezes obrigada!! Sinto muita saudade.

    Ao meu namorado Ronny, por me proporcionar tantos momentos felizes nos quais eu

    me recuperava para mais uma semana de excessivas leituras, escritas e tabulaes, por

    demonstrar sempre o seu apoio, carinho e compreenso, inclusive nos meus momentos

    assumidamente mais tensos e chatos. Amo voc!

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pelo

    apoio financeiro desta pesquisa.

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    Resumo

    Menezes, A. (2008). Evidncias de validade de instrumentos para avaliar funes

    executivas em alunos de 5 a 8 srie. Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-GraduaoStricto Sensu em Psicologia, Universidade So Francisco, Itatiba.

    As funes executivas esto relacionadas capacidade de engajamento em comportamentosvoluntrios orientados a algum objetivo e esto relacionadas a diferentes habilidades, taiscomo memria de trabalho, controle inibitrio, ateno seletiva, planejamento eflexibilidade cognitiva. As funes executivas so um tema de estudo da neuropsicologiacognitiva, a qual se dedica ao estudo do processamento das informaes no crebro. Taisfunes desenvolvem-se ao longo da infncia e da adolescncia, perodo em que ocorre amaturao do crtex pr-frontal. Comprometimentos nas funes executivas durante essafaixa etria podem estar relacionados a problemas de aprendizagem ou a distrbios como oTranstorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade. Apesar da importncia do

    desenvolvimento das funes executivas na infncia, ainda so poucos os instrumentosbrasileiros desenvolvidos para permitir a sua avaliao e, para os escassos testes existentes,poucas so as pesquisas realizadas buscando verificar suas qualidades psicomtricas, comopreciso e validade. Diante desta informao, esta pesquisa teve o objetivo de buscarevidncias de validade para instrumentos que propem avaliar funes executivas em alunosda 5 8 sries do ensino fundamental. Participaram 193 estudantes de uma escola pblicado interior de So Paulo, os quais foram avaliados em nove instrumentos: Teste de Memriade Trabalho Auditiva, Teste de Memria de Trabalho Visual, Teste de StroopComputadorizado, Teste de Gerao Semntica, Testes de Trilhas Parte A e Parte B, Torrede Londres e Teste de Fluncia Verbal FAS. Foram conduzidas anlises estatsticasdescritivas, anlises de varincia e anlises de correlao de Pearson. Os resultadosconfirmaram a hiptese de que existem habilidades distintas relacionadas s funesexecutivas e que as funes executivas desenvolvem-se de acordo com a progresso escolar.Foram encontradas evidncias de validade por srie para todos os instrumentos utilizados,com exceo do Teste de Gerao Semntica e da Torre de Londres, alm de seremencontradas tambm evidncias de validade pela correlao entre os testes utilizados paratodos os instrumentos.

    Palavras-chave: avaliao neuropsicolgica; funes executivas; desenvolvimento;evidncias de validade.

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    Abstract

    Menezes, A. (2008). Validity evidences for executive functions tests in students from 5 to 8grade. Masters dissertation, Stricto Sensu Psychology Post-Graduation Program,Universidade So Francisco, Itatiba.Executive functions are related to the capacity of involvent in guided voluntary behaviors toa goal, and they are related to different abilities, such as working memory, inhibitorycontrol, selective attention, planning and flexibility. The executive functions are theme ofthe neurocognitive psychology, which dedicates to the study of the information processingin the brain. Executive functions are developed throughout childhood and continue untiladolescence, period that occurs prefrontal cortex development. Damages in the executivefunctions during childhood can be related to learning problems or disorders like Attention-Deficit Hyperactivity Disorder. Although the importance of executive functions

    development of childhood, Brazilian instruments are few to allow its evaluation and, for thescarce existing tests, few are the carried through research searching to verify itspsychometrics qualities, as precision and validity. Ahead of this information, this project hasthe main to search validity evidences for instruments that evaluate executive functions insubjects from 5th to 8thgrade of elementary education. The sample was composed by 193students of a school placed in Saint Pauls country, evaluated in nine instruments: AuditoryWorking Memory Test, Visual Working Memory Test, Computerized Stroop Test, SemanticGeneration Test, Trial Making Test Form A and Form B, Tower of London and FAS VerbalFluency Task. Analyses were conducted, including descriptive statistical analyses, varianceanalyses and analyses of correlation for relation with other variable. The results had

    confirmed the hypothesis that there are related distinct abilities to the executive functionsand that the executive functions develop in accordance to school progression. Evidences ofvalidity for grades had been found for all used instruments, with exception of the SemanticGeneration Task and Tower of London, beyond being found also evidences of validity forthe correlation enter the tests used for all the instruments.

    Keywords: neuropsychological assessment; executive functions; development; validityevidences.

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    Sumrio

    APRESENTAO ............................................................................................................. 01CAPTULO 1. AVALIAO NEUROPSICOLGICA ............................................... 03

    CAPTULO 2. FUNES EXECUTIVAS ...................................................................... 10

    CAPTULO 3. HABILIDADES RELACIONADAS S FUNES EXECUTIVAS..21

    3.1.MEMRIA DE TRABALHO ............................................................................................ 21

    3.2.SELEO DE INFORMAO RELEVANTE TAREFA:CONTROLE INIBITRIO E ATENO

    SELETIVA ........................................................................................................................... 23

    3.3.PLANEJAMENTO .......................................................................................................... 30

    3.4.FLEXIBILIDADE COGNITIVA ........................................................................................ 31

    CAPTULO 4. DESENVOLVIMENTO DAS FUNES EXECUTIVAS .................. 34

    CAPTULO 5. OBJETIVOS ........................................................................................... 40

    CAPTULO 6. MTODO .................................................................................................. 41

    6.1.PARTICIPANTES ..................................................................................................... 41

    6.2.INSTRUMENTOS .................................................................................................... 42

    6.2.1. Testes de Memria de Trabalho Auditiva e Visual........................................42

    6.2.2. Teste de Stroop Computadorizado.................................................................45

    6.2.3. Teste de Gerao Semntica...........................................................................48

    6.2.4. Testes de Trilhas Parte A e Parte B................................................................49

    6.2.5. Teste da Torre de Londres..............................................................................51

    6.2.6. Teste de Fluncia Verbal FAS........................................................................52

    6.3.PROCEDIMENTO .......................................................................................................... 53

    CAPTULO 7. RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................. 55

    7.1.ANLISES DOS DESEMPENHOS NO TESTE DE MEMRIA DE TRABALHO AUDITIVA...... 55

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    Lista de Figuras

    Figura 1- Tela do Teste de Memria de Trabalho Auditiva .......................................................... 42Figura 2- Telas do Teste de Memria de Trabalho Visual ............................................................ 44

    Figura 3- Layout da tela para a parte 1 do Teste de Stroop Computadorizado ... ....................... 45

    Figura 4- Layout de uma tela da parte 2 do Teste de Stroop Computadorizado ... ..................... 46

    Figura 5- Layout da tela para a parte 3 do Teste de Stroop Computadorizado ... ....................... 47

    Figura 6- Layout da tela para a figura de cadeira do Teste de Gerao Semntica ... ............. 48

    Figura 7- Ilustrao do exemplo fornecido na instruo do Teste de Trilhas Parte B ... ............ 50

    Figura 8- Ilustrao do Teste da Torre de Londres com a posio inicial e trs posies

    finais que requerem dois, quatro e cinco movimentos ... ............................................................ 52

    Figura 9- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho

    Auditiva_dicotmico em cada srie... ......................................................................................... 58

    Figura 10- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho Auditiva_dgitos

    lembrados em cada srie ... .......................................................................................................... 58

    Figura 11- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho Visual_dicotmico

    em cada srie ... ........................................................................................................................... 61

    Figura 12- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho Visual _Likert em

    cada srie ... ................................................................................................................................. 61

    Figura 13- Mdias para o desempenho no escore de interferncia do teste de Stroop ... .............. 64

    Figura 14- Mdias para o desempenho do escore de conexo no Teste de Trilhas B ... .............. 73

    Figura 15- Mdias para o desempenho do escore de sequncia no Teste de Trilhas B ... ............ 73

    Figura 16- Mdias para o desempenho do escore total no Teste de Trilhas B ... ........................ 74

    Figura 17- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal para a letra F ... ................ 80

    Figura 18- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal para a letra A ... ............... 81

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    Figura 19- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal para a letra S ... ................ 81

    Figura 20- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal total ... .............................. 82

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    Lista de Tabelas

    Tabela 1- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Memria de Trabalho Auditiva ............ 55Tabela 2- Estatsticas inferenciais relacionadas ao Teste de Memria de Trabalho Auditiva ...... 56

    Tabela 3- Anlises de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de Memria de

    Trabalho Auditiva .......................................................................................................................... 56

    Tabela 4- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de memria de Trabalho Visual ................ 59

    Tabela 5- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de memria de Trabalho Visual .............. 59

    Tabela 6- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de memria de

    Trabalho Visual ............................................................................................................................. 60

    Tabela 7- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Stroop ................................................... 62

    Tabela 8- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de Stroop .................................................. 62

    Tabela 9- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o escore de interferncia no

    tempo de reao do Teste de Stroop .............................................................................................. 63

    Tabela 10- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Gerao Semntica ............................. 65

    Tabela 11- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de Gerao Semntica ........................... 66

    Tabela 12- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de Gerao

    Semntica ...................................................................................................................................... 67

    Tabela 13- Anlises descritivas relacionadas aos Testes de Trilhas ............................................. 70

    Tabela 14- Estatsticas inferenciais referentes aos Testes de Trilhas ............................................ 71

    Tabela 15- Anlise de Comparao de Pares de Bonferroni para os escores de sequncia,

    conexo e total no Teste de Trilhas B............................................................................................ 72

    Tabela 16- Anlises descritivas relacionadas Torre de Londres................................................. 74

    Tabela 17- Estatsticas inferenciais referentes Torre de Londres ............................................... 75

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    Tabela 18- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o escore total na Torre de

    Londres .......................................................................................................................................... 75

    Tabela 19- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Fluncia Verbal FAS .......................... 77

    Tabela 20- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de Fluncia Verbal FAS ........................ 77

    Tabela 21- Anlises de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de Fluncia Verbal

    FAS ................................................................................................................................................ 79

    Tabela 22- Anlise de correlao de Pearson entre os testes que avaliam funes executivas ..... 83

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    APRESENTAO

    Este estudo teve o objetivo de buscar evidncias de validade por relao com outrasvariveis para instrumentos que avaliam funes executivas em alunos de 5 a 8 srie do

    ensino fundamental. Estas funes so responsveis pelo engajamento em comportamentos

    orientados para a realizao de aes voluntrias, independentes, autnomas, auto-

    organizadas e direcionadas a metas especficas (Damsio, 2004). De acordo com Gil (2002),

    as funes executivas esto entre as mais complexas de todo o encfalo e so vinculadas

    intencionalidade, ao propsito e tomada de decises.

    Pesquisas tm sugerido que o desenvolvimento das funes executivas tem incio na

    primeira infncia e perdura at o final da adolescncia (Huizinga, Dolan & Molen, 2006). A

    regio enceflica relacionada ao desenvolvimento das funes executivas o crtex pr-

    frontal, o qual alcana desenvolvimento significativo apenas em humanos (Arajo, 2004;

    Gil, 2002). Logo, um processo que pode vir a afetar o desenvolvimento das funes

    executivas o comprometimento no decorrer da maturao do crtex pr-frontal (Huizinga

    & cols., 2006).

    Para avaliar o curso do desenvolvimento das funes executivas podem ser usados

    instrumentos de medida neuropsicolgicos. A avaliao neuropsicolgica uma das reas

    que vem se desenvolvendo mais rapidamente na avaliao psicolgica. Porm, h carncia

    de estudos que demonstrem as qualidades psicomtricas de tais testes, especialmente no

    Brasil (Hogan, 2006). Guerreiro (2003) enfatiza que a normatizao dos testes uma

    carncia em todas as cincias que utilizam instrumentos de medida, principalmente em

    funo do sexo e da idade. Ao mesmo tempo, Andrade, Santos e Bueno (2004) informam

    que tal carncia ainda maior quando se trata da avaliao neuropsicolgica de crianas e

    adolescentes.

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    Assim, este trabalho se props a buscar evidncias de validade para instrumentos

    que possam mensurar as funes executivas e averiguar o seu desenvolvimento em uma

    amostra de alunos de 5 a 8 srie. Os instrumentos utilizados foram os Testes de Memria

    de Trabalho Auditiva e Visual, Teste de Stroop Computadorizado, Teste de Gerao

    Semntica, Testes de Trilhas Partes A e Parte B, Teste da Torre de Londres e Teste de

    Fluncia Verbal FAS.

    A quantidade significativa de instrumentos aplicados na avaliao neuropsicolgica

    pautada na necessidade de ser feita uma avaliao mais ampla dos sujeitos, mensurando-se

    todas as funes cognitivas. Isso ocorre pelo fato de que o comprometimento cognitivo pode

    gerar dficits em funes mentais diversificadas, resultando na necessidade de se identificar

    as regies e funes lesadas, de gerar um diagnstico, verificar se h estabelecimento de

    algum distrbio, como tambm propor o tipo de tratamento adequado ao diagnstico

    realizado. Alm disso, essa avaliao mais globalizada dos sujeitos colabora com as

    pesquisas cientficas, na medida em que evita resultados e diagnsticos enviesados e

    possibilita o mapeamento do desenvolvimento dos diversos sistemas e funes cerebrais em

    sujeitos saudveis (Camargo, Bolognani & Zuccolo, 2008; Costa, Azambuja, Portuguez &

    Costa, 2004).

    Nos captulos a seguir sero apresentados alguns aspectos referentes avaliao

    neuropsicolgica, s funes executivas, como conceituao, localizao, funes,

    habilidades relacionadas e desenvolvimento. Em seguida sero abordados o mtodo,

    composto por participantes, instrumentos e procedimento; os resultados, obtidos por meio de

    anlises Descritivas, anlises de Varincia e de Correlao de Pearson, procedimentos feitos

    no pacote estatstico SPSS for Windows; e a discusso. Por fim, sero apresentadas as

    referncias usadas neste projeto.

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    1. AVALIAO NEUROPSICOLGICA

    Para a avaliao psicolgica podem ser usados testes psicolgicos, que constituem

    uma medida objetiva e padronizada da amostra de um comportamento e tm como funo

    medir diferenas entre indivduos ou entre as reaes de um mesmo indivduo em diferentes

    contextos. Tais instrumentos podem ser teis em diferentes situaes, tais como em uso

    clnico, para fins de diagnstico, deteco de habilidades especficas, orientao vocacional,

    entre outros (Anastasi & Urbina, 2000). Conforme Noronha e Vendramini (2003), os testes

    psicolgicos so instrumentos que auxiliam a prtica do psiclogo e podem fornecer

    informaes essenciais em um processo de avaliao.

    Para Hogan (2006), o foco em estudos voltados para a testagem psicolgica foi

    resultante de trabalhos como os realizados por pesquisadores como Galton, Thorndike,

    Cattel e Binet, os quais evidenciavam a necessidade de mensurao cientfica para o

    comportamento humano. Essa preocupao com a cientificidade das avaliaes levou ao

    desenvolvimento dos primeiros testes psicolgicos.

    Para que os testes sejam reconhecidos cientificamente, eles devem passar por estudos

    que comprovem suas qualidades psicomtricas, como tambm devem atender a

    determinadas especificaes que garantam reconhecimento e credibilidade por parte da

    comunidade cientfica e de leigos (Noronha & Vendramini, 2003). Dessa forma, os

    instrumentos psicolgicos devem ser padronizados, o que significa que seguem

    determinadas regras para que sejam administrados e interpretados da mesma maneira por

    diferentes aplicadores; ter fidedignidade ou preciso, ou seja, os seus resultados devem ser

    confiveis e consistentes; e devem ser validados, medindo o construto que de fato prope

    medir (Straub, 2005).

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    Dentre as facetas da avaliao psicolgica, uma rea que vem ganhando cada vez

    mais destaque a avaliao neuropsicolgica, a qual tem focado tanto a construo de novos

    instrumentos quanto a anlise de suas qualidades psicomtricas (Hogan, 2006). De acordo

    com Cruz, Alchieri e Sard Jr. (2002), a avaliao neuropsicolgica o meio utilizado pela

    neuropsicologia para compreender as funes cognitivas e a expresso de comportamentos,

    em casos de disfuno cerebral ou no, desde a infncia at o envelhecimento.

    A primeira organizao profissional da neuropsicologia surgiu em 1967 e foi

    denominadaInternational Neuropsychological Society (INS). J em 1979 foi fundada uma

    diviso de neuropsicologia clnica da American Psychological Association (APA) e

    posteriormente, em 1996, a neuropsicologia clnica foi finalmente reconhecida pela APA

    como a quinta rea de atuao profissional da psicologia (Hogan, 2006). No Brasil, a

    neuropsicologia foi regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como

    especialidade da Psicologia a partir de maro de 2004 pela resoluo 002/2004, segundo a

    qual o objetivo terico da neuropsicologia ampliar os modelos j conhecidos e criar novas

    hipteses sobre as interaes crebro-comportamentais (Conselho Federal de Psicologia,

    2004, p.2).

    Para Vendrell (1998), o nascimento da neuropsicologia moderna foi consolidado em

    Paris no ano 1861 por meio dos estudos de Paul Broca dedicados perda da linguagem

    devido a leso cerebral. Em 1865, Broca concluiu, por meio dos estudos que realizava, que

    h uma predominncia do hemisfrio cerebral esquerdo na produo da linguagem. No final

    do sculo XIX outras habilidades tambm passaram a ser investigadas, tais como memria,

    dislexia, agnosia, entre outras, e as pesquisas na rea ampliaram-se.

    Considerado um dos principais precursores da neuropsicologia, Alexander

    Romanovich Luria (1973) definiu neuropsicologia como sendo o estudo dos processos

    mentais e suas relaes com o encfalo, por meio das quais as informaes sensoriais so

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    transformadas, elaboradas, armazenadas, recuperadas e utilizadas. Luria definiu ainda que as

    funes cognitivas superiores organizam-se em sistemas funcionais, em que cada regio,

    apesar de possuir uma funo especfica, trabalha em associao com as demais reas na

    execuo de um problema.

    Conforme Lezak, Howieson e Loring (2004), a neuropsicologia uma cincia

    voltada para a expresso do comportamento por meio do funcionamento cerebral e suas

    disfunes. Os distrbios cognitivos, emocionais e de personalidade so os principais focos

    de ateno dos estudos neuropsicolgicos (Gil, 2002).

    De acordo com Vendrell (1998), a neuropsicologia clssica (NCl) tinha como foco

    compreender a estrutura neural, tanto anatmica, quanto funcional. J segundo Fernandes

    (2003), a NCl tem sua base no modelo mdico, buscando a localizao da funo cerebral,

    a identificao de sintomas e a caracterizao de transtornos (p. 268), ou seja, investiga

    onde ocorre um processamento cognitivo. De acordo com a mesma autora, a

    neuropsicologia clssica exerce um papel limitado por se dedicar apenas ao mapeamento

    funcional e, principalmente, pela incapacidade de detectar caractersticas relevantes

    identificao de dficits cognitivos.

    Assim, a partir do interesse em se fazer associaes entre as funes do crebro e as

    funes mentais surgiu a neuropsicologia cognitiva, a qual resulta da influncia da

    psicologia cognitiva sobre a NCl (Miyake, Friedman, Emerson, Witzki & Howerter, 2000;

    Simes & Caldas, 2003). No mesmo sentido, para Fernandes (2003), a neuropsicologia

    cognitiva surgiu como uma derivao da neuropsicologia clssica a partir de 1960 e est

    focada na compreenso de como se processam as informaes no crebro. Segundo

    Miyake e cols., a neuropsicologia cognitiva busca compreender como processos cognitivos

    so controlados e coordenados durante a realizao de tarefas cognitivas complexas,

    objetivo que no era contemplado pela NCl.

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    Embora possuam interesses distintos, a neuropsicologia clssica e a cognitiva so

    duas reas de pesquisa que tm sofrido influncias mtuas. Desta maneira, a compreenso

    do funcionamento das reas cerebrais, objetivo da neuropsicologia clssica, pode ser

    importante tambm para a neuropsicologia cognitiva no pela identificao da regio e das

    suas funes por si s, mas pelo conhecimento sobre as conexes estabelecidas entre elas

    (Capovilla, 2005). Segundo Shallice (1990), as informaes antomo-funcionais do crebro

    podem ser relevantes, pois fornecem dados teis s demais pesquisas.

    Assim, a associao entre a psicologia cognitiva e a neuropsicologia clssica levou

    ao surgimento da neuropsicologia cognitiva, a qual se dedica ao estudo do processamento da

    informao, ou seja, das operaes mentais necessrias na realizao de tarefas e seus

    correlatos neurolgicos (Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2006). Segundo Fernandes (2003), esta

    rea de estudo tem como uma das principais caractersticas identificar como habilidades

    especficas so comprometidas aps alguma leso cerebral.

    Em outras palavras, a neuropsicologia cognitiva busca compreender como ocorre o

    processamento da informao, tendo como interesse secundrio mapear a relao crebro-

    comportamento e a descrio de seqelas (Fernandes, 2003). Alm disso, uma vantagem

    advinda aps o reconhecimento da neuropsicologia cognitiva enquanto rea cientfica foi o

    melhoramento explcito das tcnicas e modelos neuropsicolgicos, como afirmou Rao

    (1996, citado por Kristensen, Almeida & Gomes, 2001).

    Segundo Vendrell (1998), a neuropsicologia pode ser considerada de grande

    relevncia na cooperao com as neurocincias em geral, pois se dedica ao estudo do

    crebro e de diversos transtornos, ao mesmo tempo em que desenvolve tcnicas adequadas

    de diagnstico, tratamento e reabilitao. Conforme citado anteriormente, Cruz e cols.

    (2002) enfatizam que uma das tcnicas utilizadas pela neuropsicologia a avaliao

    neuropsicolgica.

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    A avaliao neuropsicolgica, segundo Lezak, Howieson e Loring (2004), constitui

    um mtodo para examinar a regio enceflica a partir de suas manifestaes

    comportamentais. Os autores enfatizam que esta uma rea que muito tem a contribuir, por

    meio de avaliaes realizadas com instrumentos psicolgicos, para a expanso do

    conhecimento clnico e cientfico das relaes entre o funcionamento cerebral, a cognio,

    as emoes e o comportamento.

    A avaliao neuropsicolgica, de acordo com Andrade, Santos e Bueno (2004),

    abrange detectar quais as funes cognitivas, emocionais e comportamentais foram

    comprometidas e identificar quais delas podem ser restabelecidas por meio de tratamento e

    reabilitao, a fim de reduzir a expresso psicopatolgica. Alm disso, de acordo com os

    mesmos autores, no apenas comportamentos inadequados podem ser avaliados, mas

    tambm resultados da adaptao em diversos contextos da vida. Neste direcionamento,

    Fernandes (2003) refere haver dois grandes objetivos, a saber, propor intervenes

    adequadas a pacientes lesados ou com disfunes cerebrais e investigar o funcionamento

    cognitivo normal.

    Ardila e Ostrosky-Slis (1996) definem a avaliao neuropsicolgica como um

    mtodo para examinar a regio enceflica por meio do estudo de seu produto

    comportamental. Tal avaliao essencial no apenas para tomada de decises diagnsticas,

    mas tambm para o desenvolvimento de programas de reabilitao. Andrade e cols. (2004)

    destacam que os mtodos de avaliao na neuropsicologia consistem principalmente em

    entrevistas, questionrios, exames psicofisiolgicos, inventrios e testes.

    Esse tipo de avaliao requer uma investigao intensiva do comportamento. Como

    parte desse processo, testes estandardizados podem ser usados, possibilitando a obteno de

    resultados condizentes realidade do sujeito. Alm de serem aplicados instrumentos

    estandardizados, um estudo mais detalhado do paciente deve ser realizado observando-se os

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    seus comportamentos diante da avaliao e da realizao das tarefas (Ardila & Ostrosky-

    Slis, 1996). O processo de avaliao neuropsicolgica requer certa complexidade pelo

    grande nmero de procedimentos e testes utilizados, pois se faz necessrio coletar o mximo

    de informaes a respeito dos processos cognitivos do sujeito e, em caso de avaliao das

    funes executivas, das diversas habilidades relacionadas (Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo,

    Cosenza & cols., 2008).

    Na avaliao dos sujeitos a anlise deve ser feita com precauo e os fatores

    ambientais e desenvolvimentais devem ter alta relevncia (Golden, 1991). Entretanto,

    ademais avaliao psicomtrica, em alguns casos sugerido o uso de outros mtodos,

    como obteno do tempo de reao, medidas eletrofisiolgicas, a exemplo dos potenciais

    evocados, medidas psicofsicas como a condutncia da pele e tcnicas de neuroimagem

    funcional, como por exemplo a tomografia computadorizada e a ressonncia magntica

    funcional (Kristensen & cols., 2001).

    A avaliao neuropsicolgica pode ser feita tanto com indivduos em que h

    comprometimento neurolgico de alguma rea enceflica, quanto com indivduos sem

    alteraes evidentes, mas em que a definio de perfis cognitivos e emocionais pode ter

    valor prognstico para o desenvolvimento (Simes & Caldas, 2003). Segundo Costa e cols.

    (2004), na populao infantil, a avaliao neuropsicolgica pode ser essencial para o

    acompanhamento do desenvolvimento cognitivo da criana e tem como objetivo detectar de

    maneira precoce qualquer alterao cognitiva ou comportamental decorrida de leso, doena

    ou distrbio do desenvolvimento.

    Embora os instrumentos de avaliao neuropsicolgica sejam to importantes, ainda

    so poucos os estudos realizados buscando investigar preciso, validade e normatizao

    (Andrade & cols., 2004). Tal carncia pode ser observada principalmente com populaes

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    de crianas e adolescentes, etapa esta em que muitos aspectos neuropsicolgicos esto em

    desenvolvimento (Huizinga & Crone, 2006).

    Em conseqncia disso, os testes utilizados no Brasil revelam, de forma geral,

    poucas evidncias de preciso e de validade e, quando as apresentam, geralmente so para

    populaes adultas. Isso dificulta a possibilidade de uso de medidas precisas e que meam

    de fato aquilo que elas sugerem medir em crianas. Assim, nem sempre os instrumentos

    utilizados so escolhidos em funo das suas qualidades psicomtricas, tal como a validade

    (Andrade & cols., 2004).

    Alm da extrema importncia a respeito das qualidades psicomtricas dos

    instrumentos utilizados, estes podem tambm ser selecionados levando-se em considerao

    dois critrios que classificam os testes: bateria fixa, a qual composta por instrumentos

    previamente definidos, a exemplo daBehavioral Assessment of the Dysexecutive Syndrome

    (BADS), bateria para avaliao das funes executivas; ou bateria flexvel, composta por

    testes diversos selecionados pelo examinador de acordo com o que ele deseja avaliar no

    sujeito (Andrade, 2002). Este estudo far uso de uma bateria flexvel, na tentativa de buscar

    evidncias de validade para instrumentos que avaliam as funes executivas, as quais sero

    abordadas no captulo a seguir.

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    2. FUNES EXECUTIVAS

    O crtex, camada de substncia cinzenta que reveste os hemisfrios cerebrais, uma

    regio sobre a qual diversas pesquisas tm se direcionado. Esta rea dividida nos lobos

    frontal, parietal, occipital e temporal, e a nsula. No lobo frontal situa-se o crtex pr-frontal

    (CPF), considerado uma zona de confluncia de dois eixos funcionais: um relacionado

    memria operacional, s funes executivas e ateno; e outro relacionado ao

    comportamento e aos processos emocionais (Andrade & cols., 2004). Informaes sobre o

    CPF, principal responsvel pelo planejamento e anlise das conseqncias de aes futuras,

    tm sido obtidas por meio de diversas fontes, tais como pesquisas feitas com animais,

    estudos de casos clnicos nos quais houve alguma leso na regio, ou pesquisas realizadas

    com grupos, nas quais so feitas avaliaes neuropsicolgicas de sujeitos com e sem leso

    (Machado, 2002).

    O CPF teve o seu desenvolvimento ao longo da evoluo dos mamferos, mas atinge

    desenvolvimento significativo apenas em seres humanos, em que ocupa um tero da

    superfcie do crtex cerebral e desempenha as funes mais avanadas e complexas de todo

    o crebro, ou seja, as capacidades cognitivas. Essa regio recebe informaes das demais

    reas corticais, conectando-se, inclusive com o sistema lmbico. Assim, quase todas as reas

    corticais e subcorticais influenciam o CPF, sendo possvel sugerir que a sua localizao

    adequada para coordenar o processamento de amplas regies do sistema nervoso central

    (Gazzaniga & cols., 2006; Goldberg, 2002; Machado, 2002).

    Diante da complexidade das atividades relacionadas ao crtex pr-frontal, ele no

    pode ser diretamente ligado a uma nica funo, e as diversas tarefas que executa no so

    facilmente definidas. Por este motivo, as primeiras teorias da organizao cerebral negavam-

    lhe a devida importncia. Entretanto, nas ltimas dcadas esta rea tornou-se foco de

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    investigaes e as suas habilidades foram enfatizadas. Goldberg (2002) sugere que, por meio

    de uma anlise dos efeitos de leses no CPF, provvel perceber que no h sistemas ou

    reas isoladas, apesar de ser possvel identificar diversas funes relacionadas ao CPF. H,

    em vez disso, uma transio de uma funo cognitiva para outra, o que corresponde a uma

    trajetria contnua ao longo da superfcie cortical, o que Luria (1973) denominou de sistema

    funcional.

    Conforme Luria (1973), os sistemas funcionais do crebro humano podem ser

    prejudicados por uma leso nica em uma mesma regio ou por leses distintas em

    diferentes reas. Esta ltima possibilidade associada ao fato de que cada regio envolvida

    no sistema funcional responsvel por uma determinada tarefa, fundamental para a

    realizao das atividades, e um dano ocorrido pode interferir todo o desempenho do sistema

    em questo, a exemplo de prejuzos em reas do crtex frontal.

    Assim, atualmente h evidncias de que o CPF desempenha um papel fundamental

    na formao de metas e objetivos, no planejamento de estratgias de ao necessrias para a

    realizao da tarefa, seleo de habilidades cognitivas requeridas para a implementao dos

    planos, coordenao das habilidades e na aplicao em uma ordem correta. Alm disso, o

    CPF responsvel pela avaliao do sucesso ou do fracasso das aes em relao aos

    objetivos. Todo esse processo tem sido agrupado sob a nomenclatura de funes executivas

    (Goldberg, 2002).

    Um exemplo de comprometimento das funes executivas foi explicitado num

    experimento realizado por Shallice no ano de 1991, em Londres. Foram solicitadas a trs

    pacientes com leso pr-frontal tarefas semelhantes quelas feitas por algumas pessoas nos

    dias de sbado pela manh, como ir a um shopping centercomprar algumas mercadorias,

    encontrar uma pessoa num horrio predeterminado e obter algumas informaes. Em

    algumas tarefas os sujeitos demonstraram habilidades cognitivas intactas, como inteligncia

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    e bom desempenho em testes neuropsicolgicos de baixa complexidade que avaliam funes

    pr-frontais (Gazzaniga & cols., 2006).

    Entretanto, na execuo das tarefas no shopping center, as quais exigiam

    capacidades cognitivas mais complexas como planejamento e seleo de informao, o

    desempenho foi muito baixo. Um dos pacientes no conseguiu comprar sabo porque a loja

    no tinha sua marca favorita; outro ficou do lado de fora do shoppingprocurando um item

    que podia ser encontrado dentro do shopping. Todos ficaram enredados em complicaes

    sociais. Um obteve sucesso em conseguir um jornal, mas, por no ter pago, o vendedor saiu

    atrs dele! (Gazzaniga & cols, 2006, p. 543).

    Desta forma, as funes executivas referem-se capacidade do sujeito de engajar-se

    em comportamento orientado a objetivos, realizando aes voluntrias, independentes, auto-

    organizadas e direcionadas a metas especficas (Ardila & Ostrosky-Sols, 1996). Segundo

    Gil (2002), estas aes necessitam ser monitoradas em suas vrias etapas de execuo e

    visam ao controle e regulao do processamento da informao no crebro. Diante de

    caractersticas to complexas, as funes executivas so desenvolvidas completamente

    apenas em seres humanos.

    De acordo com Gazzaniga e cols. (2006), as funes executivas esto diretamente

    relacionadas ao CPF. Goldberg (2002) enfatiza que nenhuma outra perda cognitiva pode ser

    to comprometedora do comportamento humano quanto a perda dessas funes, as quais

    podem ser afetadas frequentemente por demncias, esquizofrenia, transtorno de dficit de

    ateno, leso traumtica, entre outros distrbios. Fuentes e cols. (2008) referem que o

    comprometimento das funes executivas tem sido citado pela literatura especializada como

    sndrome disexecutiva.

    As funes executivas so especialmente importantes diante de situaes novas para

    o sujeito ou em situaes que exigem, com rapidez, o ajustamento ou flexibilidade do

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    comportamento para as demandas do ambiente (Huizinga, Dolan & Molen, 2006). No

    mesmo sentido, Lezak (1993) e Lezak e cols. (2004) citam que as funes executivas

    direcionam e regulam vrias habilidades intelectuais, emocionais e sociais e permitem

    deliberar os diversos desafios necessrios para a resoluo com sucesso de aes

    direcionadas.

    Para investigar as perdas resultantes de leses pr-frontais, no incio do sculo XX o

    psiquiatra Leonardo Bianchi (1922, citado por Gazzaniga & cols., 2006) realizou

    experimentos com macacos. Os animais costumavam pular no peitoril da janela com o

    intuito de chamar os companheiros. Entretanto, aps a realizao de uma cirurgia para lesar

    os lobos pr-frontais, apesar deles permaneceram pulando, parecia no haver nenhum

    objetivo, pois eles no mais chamavam os outros macacos. Nesta situao, ao pular na janela

    o macaco parece ter um ato reflexo determinado pelo estmulo (a janela); no entanto, o

    propsito da ao parece estar ausente, ou seja, h uma falta de comportamento (chamar os

    companheiros) orientado para um objetivo, sendo que o conhecimento de como a ao foi

    til ao animal no passado parece no ser mais recordado, conforme explicado por Gazzaniga

    e cols. (2006).

    Ou seja, a ao complexa de chamar os companheiros, que envolve uma srie de

    passos intermedirios para sua execuo, no pode ser mais completada, sendo realizada

    apenas a primeira etapa da ao complexa. Desta forma, o macaco pula na janela, porm no

    d prosseguimento s aes subseqentes necessrias para alcanar o objetivo de longo

    alcance. Pode-se hipotetizar que o fracasso na realizao da ao est relacionado ao

    comprometimento das funes executivas, envolvendo, possivelmente, dficits de memria

    de trabalho, planejamento, seleo de informaes, dentre outros aspectos executivos

    (Capovilla, 2008).

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    Pesquisas sobre funes executivas em humanos tm bases histricas em estudos

    neuropsicolgicos de pacientes com leses nos lobos frontais, os quais apresentavam

    problemas severos no controle e na regulao dos seus comportamentos e no eram capazes

    de ter um funcionamento normal nas tarefas do dia-a-dia. Tais pacientes, apesar de

    executarem adequadamente algumas tarefas cognitivas em baterias de testes

    neuropsicolgicos e de inteligncia, apresentavam desempenho rebaixado em inmeras

    tarefas executivas (Miyake & cols., 2000).

    possvel encontrar na literatura diversos casos de pacientes com prejuzos

    executivos tpicos no controle e direcionamento de elementos que compem as habilidades

    sociais, decorrentes de distrbios frontais (Damsio, 2004; Pliszka, 2004), como o caso do

    paciente Phineas Gage, famoso na literatura neuropsicolgica. Conforme a descrio de

    Damsio (2004), Gage trabalhava para a construo de uma estrada de ferro na Nova

    Inglaterra, em 1848, ento com 25 anos, e era um funcionrio eficaz, de mente

    equilibrada, inteligente, enrgico e persistente na execuo dos seus planos. Gage calcava

    plvora com uma barra de ferro, atividade que realizava diariamente, com o objetivo de

    explodir rochas para abrir caminho para a construo. No entanto, em um dia de trabalho,

    um momento de distrao de Gage provocou no ferro uma fasca, o que resultou na exploso

    antes do tempo previsto. A barra entrou atravs da sua face esquerda, trespassou a base do

    crnio, atravessou a parte anterior do crebro e saiu pelo topo da cabea.

    De imediato, nenhuma mudana comportamental ou cognitiva foi percebida em

    Phineas Gage, o qual era capaz de descrever todo o acidente ocorrido e mantinha a

    linguagem e a motricidade intactas. Entretanto, aos poucos os danos provocados pela leso

    tornaram explcitas as mudanas comportamentais e o paciente ficou impulsivo,

    apresentando linguagem e gestos obscenos, com pouca considerao aos colegas, no

    cumprindo mais ordens e regras quando iam de encontro aos seus desejos. Alm disso, no

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    mais ia adiante com os objetivos que determinava, trabalhava em qualquer lugar, bem como

    no era capaz de manter-se nos trabalhos por muito tempo, entre outras caractersticas. Gage

    veio a falecer em 1861, aos 38 anos, aps sucessivas crises epilpticas (Damsio, 2004).

    Pacientes como Phineas Gage parecem estar inaptos para desempenhar

    comportamentos adequados em circunstncias que demandam aes propositais como, por

    exemplo, formular um plano de ao. Algumas vezes, pacientes com estes danos percebem

    que suas atividades no esto adequadas s situaes, embora no consigam integrar e

    considerar todos os fatores necessrios para que o desempenho seja adaptativo (Gazzaniga

    & cols., 2006).

    H, ainda, casos de pacientes com leses frontais em que dificilmente se detecta a

    existncia de um distrbio neurolgico a partir dos seus comportamentos dirios. Nenhuma

    alterao bvia pode ser percebida em suas habilidades perceptuais, o seu discurso fluente

    e exposto de modo coerente. Em razo disso, testes de inteligncia convencionais, tais como

    as escalas Wechsler, sugerem desempenho normal. Entretanto, com testes mais especficos e

    sensveis possvel se perceber que as leses e dficits no desenvolvimento frontal rompem

    com o processamento cognitivo normal (Gazzaniga & cols., 2006).

    Alguns testes tm sido tradicionalmente usados para avaliar funes executivas, por

    abordarem habilidades mais relacionadas ao CPF. De acordo com Duncan (1997), alguns

    desses testes so o Teste de Wisconsin (Berg & Grant, 1948) e o Teste de Fluncia Verbal

    (Thurstone, 1938). No primeiro teste, j traduzido e publicado no Brasil (Cunha & cols.,

    2005), so apresentadas cartas que variam em trs aspectos, a saber, cor, forma e nmero de

    elementos. O indivduo deve agrupar as cartas de acordo com uma regra estabelecida pelo

    aplicador, por meio de tentativa e erro (Hogan, 2006). No Teste de Fluncia Verbal a tarefa

    falar durante 1 minuto o mximo de palavras que o sujeito consiga lembrar, palavras estas

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    encaixadas em alguma categoria determinada pelo aplicador, como por exemplo, palavras

    que comecem com as letras F, A e S.

    Segundo Duncan (1997) e Alvarez e Emory (2006), tais testes tm sido

    tradicionalmente usados como medidas gerais para dficits executivos. Tais testes

    parecerem mais sensveis para deteco de dficits executivos do que alguns testes clssicos,

    como os de inteligncia convencionais. Porm, necessrio pesquisar o quanto testes to

    distintos tm em comum, pois o nico fator conhecido em comum entre eles que algumas

    dessas medidas mostram diferenas entre os grupos de pacientes com leses frontais e o

    grupo controle. Assim, so necessrios novos estudos a fim de pesquisar as diversas funes

    do lobo frontal, o desenvolvimento, as habilidades relacionadas s funes executivas e os

    testes adequados para cada uma destas, o que poder colaborar com a realizao de

    avaliaes neuropsicolgicas mais adequadas (Duncan, 1997).

    Nesse sentido, h uma discusso sobre se as funes executivas constituem um

    construto unitrio, geral, ou se devem ser divididas em componentes mais especficos.

    Conforme descrito por Huizinga e cols. (2006), de um lado h a suposio de que as funes

    executivas so atividades de uma regio unitria, sem subdiviso de reas e funes e, em

    contraposio, h a hiptese de que estas funes envolvem processos distintos, em focos

    neurais ligeiramente separados.

    A viso multifacetada sugerida por pesquisas realizadas por meio do uso de testes

    de avaliao neuropsicolgica, alm de estudos de neuroimagem, os quais tm demonstrado

    evidncias da existncia de diferentes aspectos em regies distintas do crtex pr-frontal

    (Huizinga & cols., 2006). Segundo Arajo (2004), por exemplo, leses em diferentes partes

    dos lobos frontais produzem sndromes clinicamente diferentes, o que corrobora com a idia

    de diversidade funcional e complexidade da regio.

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    Souza, Igncio, Cunha, Oliveira e Moll (2001) realizaram um estudo com os

    objetivos de verificar se o desempenho executivo realizado por regies diversas do CPF,

    ou seja, se h diferentes habilidades relacionadas s distintas regies, e investigar uma

    possvel correlao entre o desempenho executivo e o nvel dos sujeitos na realizao das

    suas tarefas no trabalho. A amostra da pesquisa foi composta por sessenta e um sujeitos com

    idades entre 19 e 70 anos, com tempo de escolaridade mnimo de sete anos e com o

    funcionamento cotidiano normal.

    Foram utilizados como instrumentos de mensurao do desempenho executivo o

    Teste da Torre de Londres (Shallice, 1982) e o Teste de Wisconsin. Na Torre de Londres h

    trs hastes e trs esferas de cores diferentes. As esferas so colocadas numa posio inicial

    e, a partir desta, os sujeitos devem movimentar as esferas at a posio determinada pelo

    aplicador, realizando o mnimo de movimentos possveis, os quais podem variar de dois at

    cinco movimentos nos itens mais complexos. Alm desses, foram aplicados tambm o Mini-

    Exame do Estado Mental (MM) para avaliar o estado cognitivo global, o Inventrio de

    Depresso de Beck e as Escalas de Epworth e de Funcionamento Global para medirem a

    sonolncia diurna e o funcionamento global, respectivamente.

    Os resultados mostraram que o desempenho executivo correlacionou-se

    negativamente com a idade e positivamente com a escolaridade dos sujeitos. O Teste da

    Torre de Londres apresentou correlao positiva com o nvel ocupacional, embora isso tenha

    ocorrido apenas nas tarefas mais complexas do teste, ou seja, aquelas que necessitavam de

    cinco movimentos. Um dado muito relevante nesse resultado foi a baixa correlao entre o

    Teste da Torre de Londres e o Teste de Wisconsin, o que corrobora a hiptese de que os

    instrumentos utilizados medem constructos distintos e as funes executivas incluem

    habilidades relativamente distintas entre si.

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    A fim de observar a ativao de diferentes reas no CPF, alguns pesquisadores

    realizaram estudos de neuroimagem e constataram que a habilidade de manter a informao

    na memria de trabalho ocorre na regio mais lateral do CPF (Narayanan & cols., 2005;

    Smith & Jonides, 1999, citados por Huizinga & cols., 2006) e a capacidade de inibir

    respostas ocorre no crtex orbitofrontal (Aron, Robbins & Poldrack, 2004; Roberts &

    Wallis, 2000, citados por Huizinga & cols., 2006). Alm desses, estudos com leses em

    animais revelaram que leses pr-frontais unilaterais podem produzir dficits relativamente

    leves, enquanto leses bilaterais tendem a produzir grandes alteraes (Gazzaniga & cols.,

    2006).

    A hiptese da diviso das funes executivas em aspectos distintos tem sido

    fortalecida, em parte, pela crescente utilizao de instrumentos psicolgicos padrozinados na

    avaliao das funes cognitivas, advinda com o desenvolvimento da neuropsicologia

    (Arajo, 2004). Um exemplo o estudo de Miyake e cols. (2000), o qual props a utilizao

    de diversos testes para avaliar algumas habilidades especficas relacionadas s funes

    executivas, a saber, memria de trabalho, flexibilidade e controle inibitrio, bem como

    testes para avaliar tarefas complexas do lobo frontal. Foram utilizados treze instrumentos,

    sendo trs para mensurar a flexibilidade cognitiva, trs para memria de trabalho, trs para

    controle inibitrio e cinco que avaliavam tarefas executivas complexas. Participaram em 137

    alunos de graduao, que responderam a todos os testes.

    Os resultados da pesquisa mostraram que os trs construtos avaliados possuem

    correlao moderada entre si e podem ser conceituados como trs construtos separados.

    Alm disso, os resultados sugeriram que os aspectos avaliados contribuem distintamente

    para o desempenho das tarefas complexas. O desempenho no Teste de Wisconsin, por

    exemplo, correlacionou-se mais fortemente com o construto flexibilidade, e o desempenho

    na Torre de Hani, com a inibio de comportamento. importante ressaltar que tal estudo

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    destacou a natureza abrangente dos testes de tarefas complexas na avaliao das funes

    executivas, sugerindo que eles no avaliam habilidades especficas de tais funes, mas sim

    interaes entre elas. A pesquisa ressaltou, ainda, a necessidade de se reconhecer as funes

    executivas tanto enquanto unidade, pela correlao observada entre os construtos, como

    enquanto uma diversidade de habilidades, pela relativa independncia entre elas (Miyake &

    cols., 2000).

    Sumariando, pode-se considerar que existem diferentes habilidades relacionadas s

    funes executivas. Os processamentos cognitivos envolvidos nas mesmas podem ser

    compreendidos como seleo de informaes relevantes, inibio de elementos irrelevantes,

    integrao e manipulao das mesmas, planejamento, inteno, efetivao das aes,

    flexibilidade cognitiva e comportamental e monitoramento das atitudes (Duncan, Johnson,

    Swales & Frees, 1997; Fuster, 1997; Gazzaniga e cols., 2006; Lezak, 1993; Pliszka, 2004).

    Apesar das evidncias da relao entre funes executivas e crtex pr-frontal,

    importante considerar, conforme descrito por Alvarez e Emory (2006), que alguns

    resultados so controversos a respeito de tal relao. Segundo os autores, h divergncias

    entre pesquisas realizadas, tanto pelo fato de sujeitos com leso pr-frontal apresentarem

    desempenho normal em tarefas que demandam habilidades executivas (e.g., Damsio,

    2004), como por sujeitos com leso em outras regies apresentarem desempenho mais

    rebaixado do que aqueles sujeitos com leses pr-frontais (e.g., Axelrod & cols., 1996). Tais

    evidncias, segundo Alvarez e Emory (2006), tornam a validao de testes que mensurem as

    funes executivas uma questo complicada, sendo um procedimento complexo realizar um

    exame neuropsicolgico adequado em se tratando de funes executivas.

    O presente trabalho visa contribuir exatamente nesse contexto, abordando algumas

    habilidades que so destinadas s funes executivas e buscando evidncias de validade para

    instrumentos que as avaliem. Dentre tais habilidades sero focalizadas a memria de

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    trabalho, depositrio transitrio de informaes que podem ser acessadas, permitindo a

    representao de informaes relevantes para uma dada tarefa; o controle inibitrio,

    capacidade de responder apropriadamente a estmulos, ou seja, inibir as respostas no

    adaptadas, minimizando o impacto no processamento de informaes perceptuais

    irrelevantes; a ateno seletiva, responsvel pela orientao e ateno direcionada para um

    estmulo, ignorando ou reduzindo a nfase sobre os demais estmulos concorrentes; o

    planejamento, capacidade de traar mentalmente um trajeto a fim de atingir um objetivo,

    traando as etapas de acordo com a ordem de realizao de cada uma; e a flexibilidade

    cognitiva, capacidade de alternncia de respostas que visam adaptar as escolhas s

    contingncias (Gazzaniga & cols., 2006; Gil, 2002; Souza, Igncio, Cunha, Oliveira & Moll,

    2001; Sternberg, 2000). Cada uma das subdivises referidas ser descrita mais

    detalhadamente a seguir.

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    3. HABILIDADES RELACIONADAS S FUNES EXECUTIVAS

    Conforme apresentado no captulo anterior, as funes executivas so os processos

    mentais relacionados principalmente ao crtex pr-frontal, por meio dos quais se consegue

    solucionar problemas complexos de modo eficaz, sejam eles emocionais, cognitivos ou

    comportamentais. As operaes mentais ativadas no funcionamento executivo esto

    descritas abaixo (Papazian & cols., 2006; Tirapu-Ustrroz & Muoz-Cspedes, 2005).

    3.1. Memria de Trabalho

    A fim de evocar uma representao mental do futuro, o crebro humano precisa ter a

    capacidade de tomar elementos de experincias anteriores e configur-los de modo que no

    corresponda a uma experincia passada real. Para isto, o organismo deve adquirir a

    capacidade de manipular e transformar esses modelos, ou seja, trabalhar com representaes

    mentais (Goldberg, 2002).

    Conforme Oliveira (2007), a concepo clssica de memria enfatiza que esta

    composta por sistemas, os quais seriam a memria sensorial, a qual armazenaria a

    informao por centenas de milsimos de segundos; a memria de curto prazo, responsvel

    pela manuteno durante segundos; e a memria de longo prazo, que pode durar de horas at

    a vida inteira. Como revisado por Gazzaniga e cols. (2006), as memrias de curta e de longa

    durao dependem de sistemas dissociados. Alm desses trs sistemas de memria,

    Baddeley (2004) sugeriu que a memria de curto prazo seria no apenas um local de

    armazenamento rpido de informaes, mas teria tambm a capacidade de manter e operar a

    informao durante a realizao de tarefas cognitivas. Esta ltima responsabilidade seria de

    um subcomponente da memria de curto prazo, denominado memria de trabalho.

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    Assim, durante a realizao de uma tarefa cognitiva, a memria de trabalho seria

    responsvel por manter os contedos durante o processamento da informao, sejam eles

    decorrentes do ambiente ou da memria do indivduo (Baddeley, 2004; Gazzaniga & cols.,

    2006). Como conseqncia dessa caracterizao da memria, os mesmos autores

    propuseram a existncia de um subsistema que colaboraria com o entendimento do conceito

    de memria de trabalho: o executivo central, o qual atuaria recrutando e administrando

    outros sistemas funcionais do nosso crebro durante a realizao de tarefas cognitivas

    (Baddeley). Neste sentido, a memria de trabalho no ativaria apenas o CPF lateral, mas

    tambm outras regies corticais, o que pode ser percebido por meio de estudos de

    neuroimagem. Entretanto, a ativao da regio pr-frontal destacada, visto que perdura por

    mais tempo durante a realizao de uma tarefa (Gazzaniga & cols., 2006).

    A memria de trabalho, segundo Gazzaniga e cols. (2006), refere-se s

    representaes transitrias de informaes relevantes a uma tarefa, em que um

    conhecimento adquirido no passado influencia, limita ou molda o comportamento presente.

    Neste sentido, duas condies so suficientes para o sistema da memria de trabalho, a

    saber, haver um mecanismo para acessar a informao armazenada e uma maneira de manter

    a informao ativa, ambas as tarefas realizadas pelo CPF.

    Entretanto, a informao recebida na memria de trabalho no permanece

    armazenada no CPF. Ela mantida de maneira temporria enquanto for relevante para a

    tarefa que est sendo executada. No momento em que um estmulo percebido, uma

    representao temporria instalada no CPF por meio de conexes com regies cerebrais

    mais posteriores, e para a ativao sustentada das clulas pr-frontais requerida uma

    reverberao contnua (Gazzaniga & cols., 2006).

    Experimentos realizados recentemente com pacientes com leso cerebral sugerem

    evidncias de que, de fato, o CPF est envolvido na memria de trabalho para a resoluo de

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    problemas e planejamento de comportamento. No estudo realizado por Bear e cols. (2002),

    por exemplo, foi solicitado a pessoas com leso pr-frontal que traassem o caminho em um

    labirinto desenhado num papel. Os pacientes compreendiam a tarefa, porm cometiam os

    mesmos erros sucessivamente. Ou seja, esses indivduos pareciam incapazes de aprender

    com a experincia recente devido ao comprometimento da memria de trabalho, sendo a

    perseverao uma caracterstica de pacientes com leses pr-frontais (Bear & cols., 2002;

    Gazzaniga & cols., 2006).

    Dificuldades em tarefas de memria de trabalho tambm podem ser observadas em

    crianas pequenas. Diamond (1990) avaliou crianas no Teste de Permanncia do Objeto de

    Piaget, em que escondia um estmulo visual das crianas em um dentre dois possveis

    esconderijos. Era permitido que a criana visualizasse o momento em que o objeto era

    armazenado, e alguns instantes depois ela deveria identificar a localizao do estmulo. A

    pesquisa mostrou que as crianas menores de um ano de idade eram incapazes de realizar a

    tarefa corretamente. A possvel explicao apresentada foi que a tarefa no podia ser

    realizada visto que a regio do CPF responsvel pela manuteno da informao na

    memria de trabalho ainda no estava completamente desenvolvida.

    Na presente pesquisa, este construto ser avaliado pelos Testes de Memria de

    Trabalho Auditiva e o Visual (Primi, 2002). Tais testes sero descritos detalhadamente no

    Mtodo.

    3.2. Seleo de informao relevante tarefa: Controle inibitrio e ateno

    seletiva

    O comportamento orientado para um objetivo requer, alm da sustentao e

    manipulao de informaes, a seleo de informaes relevantes tarefa, habilidade esta

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    que tambm caracterstica de tarefas associadas ao CPF lateral. Neste sentido, o papel da

    funo pr-frontal desloca-se da memria para o envolvimento na alocao de recursos

    atencionais (Gazzaniga & cols., 2006).

    Shiffrin e Schneider (1977) e Norman e Shallice (1980, 1986) (citados por Oliveira,

    2007) detectaram a existncia de duas maneiras de selecionar estmulos por meio de

    processos atencionais, as maneiras automtica e controlada. No primeiro processo a ateno

    focada sem que haja manifestao voluntria do sujeito, podendo tambm resultar de uma

    aprendizagem ocorrida, como acontece aps indivduos aprenderem a dirigir. J nos

    processos controlados o sujeito seleciona o foco da sua ateno a partir da sua vontade.

    Dando continuidade aos estudos citados acima, Norman e Shallice (1980, 1986)

    propuseram a existncia de dois sistemas: um organizador pr-programado, o qual seleciona

    as respostas a um estmulo de maneira automtica, e um Sistema Atencional Supervisor

    (SAS), o qual ativado diante de novas situaes s quais o sujeito exposto e necessita

    aprender uma nova resposta, consciente e voluntariamente. Uma caracterstica desses

    sistemas a competio, entre ambos, pela seleo de uma informao. Um exemplo disso

    ocorre em diversos contextos em que se faz necessria a inibio de uma resposta

    automtica em detrimento de outra controlada voluntariamente. Essa capacidade de

    selecionar e/ou inibir respostas proporcionada pelo SAS. Pacientes com leso pr-frontal

    tendem a manter intacta a capacidade de selecionar estmulos automaticamente, embora haja

    dificuldade quando requerido um processo voluntrio (Oliveira, 2007).

    O CPF um local de armazenamento de representaes e cumpre a tarefa de

    selecionar as informaes mais relevantes para atingir as demandas. Para isso faz-se

    necessrio o componente atencional, que determina o que deve ser foco do processamento.

    Essa filtragem da informao pode ocorrer por meio de dois mecanismos complementares:

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    facilitatrio, acentuando a informao em evidncia, ou inibitrio, excluindo informaes

    irrelevantes (Gazzaniga & cols., 2006).

    O processo facilitatrio est relacionado ateno seletiva, que envolve focalizar a

    conscincia, concentrando os processos mentais em uma nica tarefa principal, enquanto o

    processo inibitrio, ou controle inibitrio, est relacionado ao processo de colocar as demais

    atividades em segundo plano. Ambos os processos esto envolvidos, por exemplo, em focar

    seletivamente uma conversa a ser ouvida dentre vrios outros estmulos concorrentes em um

    mesmo ambiente, os quais devero ser desprezados (Bear & cols., 2002; Lent, 2001).

    Dalgalarrondo (2000) cita que a ateno seletiva a capacidade de seleo de

    estmulos e objetos especficos, determinando uma orientao atencional focal, um estado de

    concentrao das funes mentais, assim como o estabelecimento de prioridades da

    atividade consciente do indivduo diante de um conjunto amplo de estmulos ambientais (p.

    72). Conforme Bear e cols. (2002), a ateno seletiva relaciona-se com a escolha do sujeito

    em selecionar um estmulo-alvo a ser enfatizado pelo seu processo atencional, de modo que

    o sistema sensorial referente quele alvo seja ativado. Em outras palavras, esse tipo de

    ateno responsvel pelo direcionamento a uma determinada informao que ser

    enfatizada pelo processamento cerebral, visto que este incapaz de atentar a todas as

    informaes advindas do ambiente e da cognio, de modo a no provocar uma sobrecarga

    no sistema funcional.

    A fim de verificar, por meio do Exame de Ressonncia Magntica Funcional (RMf),

    a regio cerebral que ativada pelo processo de ateno seletiva na realizao de um teste

    de ateno, Leung, Skudlarski, Gatenby, Peterson e Gore (2000) realizaram um estudo

    usando o Teste de Stroop (Stroop, 1935). Esse teste tem sido tradicionalmente usado para

    avaliar ateno seletiva e possui vrias verses. Na verso de Victria, h trs etapas, sendo

    na primeira apresentados nomes de cores escritos em cor preta, na segunda os estmulos so

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    manchas coloridas e na ltima etapa so apresentados nomes de cores escritas em um tom

    diferente daquele que a palavra representa, por exemplo, a palavra vermelho escrita em

    cor azul. A tarefa determinada o sujeito ler as palavras escritas na primeira etapa, em

    seguida falar a cor de cada uma das manchas e por fim falar a cor com que a palavra est

    escrita, e no ler a palavra escrita (Alvarez & Emory, 2006).

    Na pesquisa de Leung e cols. (2000) o Teste de Stroop foi aplicado em dezenove

    sujeitos com idades entre 20 e 45 anos, os quais no apresentavam histrico de doenas

    neurolgicas ou de leso cerebral. Foram feitos dois experimentos que se distinguiam na

    forma como era apresentado o teste. No primeiro experimento a maioria dos estmulos eram

    correspondentes (cores congruentes), ou seja, a cor com que a palavra estava escrita

    correspondia palavra; por exemplo, a palavra azul escrita na cor azul. J no segundo

    experimento havia maior freqncia de estmulos em que a palavra escrita divergia da cor

    com que ela estava escrita (cores incongruentes); por exemplo, a palavra azul em cor

    vermelha.

    Na verificao do tempo de reao das tarefas percebeu-se que ocorria um intervalo

    de 224 milsimos de segundos entre a nomeao das cores incongruentes e a das

    congruentes. Foi observado, por meio da RMf, uma ativao muito maior nas regies

    cerebrais na execuo das tarefas em que eram mostradas cores incongruentes. Alm disso,

    nos resultados dessa pesquisa enfatizou-se a mudana nos potenciais de evocao diante dos

    estmulos incongruentes no cingulado anterior, nsula, crtices pr-frontal mdio e inferior,

    parietal e regio temporal mdia. Entretanto, as regies mais fortemente ativadas foram o

    crtex pr-frontal mdio e a rea parietal inferior.

    Alm dos estudos sobre ateno seletiva, pesquisas tm sido desenvolvidas

    abordando o processo de controle inibitrio, que a capacidade de suprimir

    comportamentos ou estmulos inapropriados ou indesejados. O comprometimento dessa

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    funo pode ocasionar grandes prejuzos aos indivduos, a exemplo dos portadores de

    TDAH, os quais no possuem habilidade para inibir aes e pensamentos, resultando num

    comportamento impulsivo e desprovido de ateno (Simmonds, Pekar & Mostofsky, 2008).

    Alguns estudos tm buscado investigar a dinmica do controle inibitrio. Um estudo

    eletrofisiolgico foi realizado por Knight e Grabowecky (1995, citado por Gazzaniga &

    cols., 2006). Nele foram gravados os potenciais evocados em dois grupos de participantes,

    um grupo de pacientes com leses cerebrais localizadas e um grupo controle. Na primeira

    tarefa os participantes ouviam cliques apresentados a ambos os ouvidos e era solicitado

    apenas que os sujeitos escutassem os sons, mas no emitissem nenhuma resposta. Pacientes

    com leso frontal apresentaram um aumento da resposta evocada no lobo temporal em

    relao ao grupo controle, sugerindo que a capacidade geral de inibio de resposta estava

    comprometida.

    Em uma segunda tarefa os participantes ouviam diferentes mensagens em cada

    ouvido e deviam focar estmulos auditivos em um ouvido e ignorar estmulos no ouvido

    oposto. Participantes saudveis apresentaram grande diferena na ativao entre estmulos

    que deviam ser atentados e estmulos que deviam ser ignorados. Porm, os sujeitos com

    leso frontal apresentaram menos diferenas entre os tipos de estmulos, ou seja, eles

    pareciam no conseguir inibir um estmulo e enfatizar o outro. Tal estudo revelou que

    indivduos com leso frontal podem ter dificuldade em selecionar o estmulo-alvo e inibir o

    estmulo no-alvo.

    Por meio de tarefas em que a demanda de memria mnima possvel verificar a

    hiptese da filtragem de informao, ou seja, a idia de que preciso selecionar informaes

    relevantes realizao da tarefa em detrimento daquelas menos importantes. Danos nesse

    filtro dinmico no afetariam habilidades cognitivas mais diretivas e estruturadas, fazendo

    com que os sujeitos tenham desempenho adequado em algumas avaliaes, como por

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    exemplo nas escalas de inteligncia Wechsler, como anteriormente mencionado. Entretanto,

    quando esses indivduos esto em ambientes em que diversos estmulos demandam ateno,

    sua capacidade de realizao de tarefa fica comprometida, visto que eles so incapazes de

    manter um nico foco, desprezando os demais (Gazzaniga & cols., 2006).

    Tarefas de gerao semntica vm sendo utilizadas para avaliar o controle inibitrio

    (e.g., Capovilla, Capovilla & Macedo, 2005; Thompson-Schill, DExposito, Aguirre &

    Farah, 1997; Thompson-Schill, Swick, DExposito, Kan & Kinght, 1998). Em tais tarefas,

    so exibidas figuras e a tarefa do sujeito citar um verbo associado quele objeto. A figura

    de uma fruta pode evocar o verbo comer; a figura de um porco pode remeter a vrias

    palavras, como comer, brincar, sujar, limpar, andar, entre outros. Dentre as figuras do teste,

    como nestes dois exemplos, h diferenas entre as categorias em que as duas figuras se

    encaixam. A primeira categoria denominada de baixa seleo, pois ao observ-la h uma

    tendncia ao sujeito evocar uma pequena quantidade de verbos, o que torna a tarefa mais

    simples. J a segunda considerada de alta seleo pelo fato de no haver um ou dois verbos

    que sejam mais bvios para ser feita a associao; vrios verbos so lembrados e adequados

    ao desenho (Thompson-Schill & cols, 1997; Thompson-Schill & cols., 1998).

    Indivduos com leso no crtex pr-frontal exibem dificuldade em selecionar apenas

    um verbo, dentre os vrios que surgem mente, para associar figura. Esta tarefa se torna

    ainda mais complicada diante de uma figura de alta seleo, em que h muito mais opes a

    serem verbalizadas do que naquelas de baixa seleo (Gazzaniga & cols., 2006).

    Um estudo publicado em 1998 na revista Psychologypelos autores Thompson-Schill,

    Swich, Farah, DEspodito, Kan & Knight teve como objetivo verificar se a regio inferior

    esquerda do crtex frontal era ativada na realizao da tarefa de gerao semntica e se essa

    possvel ativao era necessria apenas em tarefas que requeriam a seleo de uma nica

    resposta em detrimento de outras, ou seja, diante da ativao do controle inibitrio. Foram

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    sujeitos da pesquisa quatorze pacientes com leso focal no crtex frontal e dezesseis sujeitos

    controle sem histria prvia de problemas neurolgicos, abuso de substncias psicoativas ou

    transtornos psiquitricos. Na aplicao eram mostradas figuras para as quais o sujeito

    deveria relacionar um verbo, havendo figuras tanto de baixa quanto de alta seleo.

    O resultado da pesquisa demonstrou que o grupo de pacientes apresentou mais erros

    nas respostas do que o grupo controle. Entretanto, esses erros no ocorreram em relao aos

    verbos de baixa seleo, mas apenas no desempenho daqueles de alta seleo. No exame de

    neuroimagem foi observado que nos sujeitos controle, durante a execuo da tarefa nos

    verbos de alta seleo, havia o aumento do fluxo sanguneo na rea inferior esquerda do

    crtex frontal, enquanto que isso no ocorria nos pacientes lesados e nas tarefas de baixa

    seleo dos dois grupos (Thompson-Schill, Swich, Farah, DEspodito, Kan & Knight,

    1998).

    Com esses dados os autores concluram que a ativao dessa regio cerebral ocorre

    na realizao de tarefas em que requerida a habilidade do controle inibitrio, ou seja,

    quando muitas respostas so possveis a um determinado estmulo. Ao contrrio, a ativao

    da regio no ocorre quando os verbos so de baixa seleo e a resposta ao item

    praticamente exclusiva.

    No presente estudo os instrumentos utilizados para a avaliao do controle inibitrio

    e ateno seletiva foram, respectivamente, o Teste de Gerao Semntica e o Teste de

    Stroop Computadorizado. Tal distino refere-se aos aspectos primordialmente avaliados

    pelos testes citados, devendo ser ressaltado que ambos os instrumentos incluem, em certo

    grau, habilidades de ateno seletiva (Thompson-Schill & cols., 1998), controle inibitrio

    (Leung & cols., 2000), alm de outras, como memria (Thompson-Schill, DEsposito &

    Kan, 1999).

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    3.3. Planejamento

    O planejamento de uma ao requer trs etapas a serem cumpridas: identificar o

    objetivo e estabelecer subobjetivos, pensar quais as conseqncias da tarefa e traar os

    meios de chegar aos subobjetivos (Gazzaniga & cols., 2006). O indivduo deve ser capaz de

    abstrair capacidades e dificuldades relacionadas a si mesmo e ao meio. Assim, planejamento

    envolve a habilidade de identificao e organizao de elementos, tais como habilidades

    prprias e de terceiros, materiais, recursos, entre outros. Um plano eficiente confere uma

    deciso realizada adequadamente e o desenvolvimento de estratgias para estabelecer

    prioridades (Lezak & cols., 2004).

    Sendo assim, a ocorrncia de problemas na capacidade de planejamento decorre da

    dificuldade em escolher a melhor maneira de atingir um objetivo, o que requer a anlise de

    todos os sub-objetivos e avaliao destes para que sejam realizados sucessivamente. Um

    exemplo de tal dificuldade foi percebido em um estudo feito no laboratrio de Jordan

    Grafman, em 1997, em que os pacientes com o crtex pr-frontal lesado deveriam colaborar

    com casais que desejavam planejar seu oramento familiar, sendo que as despesas estavam

    maiores do que a renda mensal. Enquanto a sugesto dos sujeitos-controle foi a reduo com

    gastos de roupas, um paciente enfatizou o corte no gasto com o aluguel, j que este era o

    maior gasto anual da famlia. O paciente sugeriu ainda que a famlia adquirisse uma barraca

    onde poderiam morar, j que custava muito barato. Assim, os pacientes compreendiam a

    tarefa, o que deveria ser feito, embora os meios de alcance do objetivo final fossem

    enviesados (Goel & Grafman, 2000)

    A habilidade de planejamento est relacionada a outras habilidades como memria

    de trabalho, ateno seletiva, flexibilidade, experincia temporal, entre outras (Lezak &

    cols., 2004). Estando todas essas habilidades preservadas, o indivduo pode ser capaz de

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    julgar, fazer escolhas e integrar idias seqenciais e hierrquicas que so necessrias para o

    desenvolvimento do plano de ao. Assim, a habilidade de planejamento tende a ser

    considerada uma habilidade executiva complexa (Miyake, Friedman, Emerson, Witzki &

    Howerter, 2000).

    Assim, para se desenvolver um plano de ao deve-se considerar todas as etapas que

    sero realizadas at o alcance do objetivo e, caso haja problemas na seleo destas, falhas no

    comportamento sero observadas, podendo caracterizar um paciente com leso pr-frontal

    (Gazzaniga & cols, 2006). Alm disso, pacientes incapazes de pensar de modo abstrato no

    so bem sucedidos no planejamento (Lezak & cols., 2004).

    A habilidade de planejamento pode ser avaliada por meio dos Testes das Torres,

    como a Torre de Londres (Shallice, 1982) e a Torre de Hani (Lezak, 1995). No presente

    estudo, esse componente foi avaliado pelo Teste da Torre de Londres, o qual envolve a

    capacidade de pensar antes da execuo de algum movimento, alm de que para a realizao

    completa da tarefa necessrio o aprendizado para que os mesmos erros no sejam repetidos

    (Arajo, 2004). Foi selecionada para este estudo a Torre de Londres, em vez da Torre de

    Hani, devido menor complexidade deste instrumento, em que h a manipulao de trs

    esferas ao invs de cinco, tendo em vista que a amostra de participantes composta por

    crianas e adolescentes (Batista, Adda, Miotto, Lcia & Scaff, 2007; Krikorian, Bartok, &

    Gay, 1994).

    3.4. Flexibilidade Cognitiva

    Aes complexas requerem mudana de um subobjetivo para outro de uma maneira

    coordenada (Gazzaniga & cols., 2006). Flexibilidade cognitiva consiste na capacidade de

    alternncia de respostas, o que objetiva adaptar as escolhas s contingncias (Gil, 2002).

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    Atitudes que em certo momento so adequadas para uma dada tarefa, em outro momento

    podem no ser. Nessas situaes h a atuao do Sistema Atencional Supervisor, o qual

    garante que o comportamento seja flexvel adaptando-se s novas circunstncias. Se o

    comportamento for novo ou estiver sendo realizado em um contexto no usual, diferentes

    aes devem ser avaliadas para determinar se o progresso da ao est de fato em direo ao

    objetivo (Gazzaniga & cols., 2006).

    A rea responsvel por essa atividade o CPF e leses podem provocar o

    comprometimento de funes executivas, resultando numa constante manuteno dos

    comportamentos inadequados (Gil, 2002). Assim, a inflexibilidade evidenciada em formas

    rgidas de realizar tarefas e resolver problemas, ou seja, incapacidade de flexibilizar suas

    respostas (Arajo, 2004).

    Um teste usado para avaliar a flexibilidade o Teste de Trilhas B (Gil, 2002).

    Pesquisas tm sido conduzidas para verificar se diferentes verses do Teste de Trilhas B

    avaliam o mesmo construto. Por exemplo, Souza, Moll, Passman, Cunha e cols. (2000)

    verificaram a correlao entre o Teste de Trilhas B (TMTB) e uma adaptao deste para

    uma tarefa verbal, o Trilhas Verbal (TMTv). A hiptese partiu do princpio de que a retirada

    dos fatores visuoespacial e visiomotor poderia alterar o resultado do TMTv fazendo com

    que no fosse ativada a flexibilidade. Em outras palavras, caso fosse estabelecida uma

    correlao significativa entre os testes isso poderia ser uma evidncia da importncia da

    flexibilidade cognitiva nas tarefas de TMT, independentemente do formato especfico da

    tarefa.

    Foram avaliados vinte e cinco sujeitos com desempenho cognitivo normal. Eles

    deviam responder o TMT nas duas formas apresentadas. Na forma tradicional, h duas

    partes. Na parte A, deve-se ligar os nmeros de 1 a 25 em ordem crescente e, na forma B,

    ligar nmeros de 1 a 13 e letras de A a M, alternando entre um nmero e uma letra, seguindo

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    as ordens crescente e alfabtica, respectivamente, por exemplo, 1-A-2-B. Na forma

    adaptada, a execuo da tarefa era testada verbalmente, ou seja, o sujeito deveria contar os

    nmeros de 1 a 25 em voz alta, para que o aplicador pudesse ouvir, e, em seguida, verbalizar

    a conexo entre os nmeros e letras.

    Nos resultados foi mostrado que em ambas as formas do teste a resoluo da forma B

    demandou mais tempo do que a forma A. Entre o TMT- forma B verbal e escrita foi

    encontrada uma correlao significativa de 0,59. Diante dos dados obtidos, acredita-se que o

    TMT- forma B em ambos os formatos requer a ativao de operaes mentais

    compartilhadas, que o caso da flexibilidade cognitiva.

    Assim, o Teste de Trilhas B foi usado no presente estudo para a avaliao da

    flexibilidade cognitiva, que acredita-se que a capacidade de alternncia de respostas ser

    evocada na conexo entre uma letra e um nmero. O Teste de Trilhas A foi utilizado como

    uma medida-controle, o que ser mais detalhado na sesso instrumentos.

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    4. DESENVOLVIMENTO DAS FUNES EXECUTIVAS

    Esta pesquisa abordou as funes executivas, mais especificamente as habilidades

    anteriormente citadas, em alunos de 5 a 8 srie do ensino fundamental. Embora a maior

    parte dos estudos neuropsicolgicos seja realizada com adultos, recentemente o interesse

    pelos aspectos cognitivos na infncia vem ganhando destaque. Tais estudos esto

    relacionados Neuropsicologia do Desenvolvimento, a qual um campo de pesquisa clnica

    e terica que tem por objetivo compreender as relaes entre o encfalo e o

    desenvolvimento infantil (Andrade & cols., 2004).

    Ao longo do seu desenvolvimento as crianas tornam-se gradativamente capazes de

    controlar suas aes e pensamentos. Essa caracterstica tem sido associada ao

    desenvolvimento das funes executivas, termo este utilizado para os vrios processos

    cognitivos que so teis aos comportamentos direcionados a um objetivo (Huizinga & cols.,

    2006), conforme anteriormente exposto.

    Para Davidson, Amso, Anderson e Dim