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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A relação professor – aluno como motivadora da aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental por: Sandra Regina Silvestre da Rosa Orientadora: Profª Ana Cristina Guimarães Rio de Janeiro Julho/2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A relação professor – aluno como motivadora da aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental

por: Sandra Regina Silvestre da Rosa

Orientadora: Profª Ana Cristina Guimarães

Rio de Janeiro

Julho/2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A relação professor – aluno como motivadora da aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental

Sandra Regina Silvestre da Rosa

Trabalho monográfico apresentado como requisito

parcial para a obtenção do Grau de Especialista em

Supervisão Escolar.

Rio de Janeiro

Julho/2004

3

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, a Deus por ter me dado a

infinita capacidade, permitindo o meu crescimento e

fazendo com que a cada dia eu consiga subir um novo

degrau em minha vida.

Agradeço a s minhas filhas, principalmente Aline.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 05

CAPÍTULO I 06

OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO 06

CAPÍTULO II 12

A TRAJETÓRIA DA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO 12

CAPÍTULO III 23

EDUCADOR – EDUCANDO: PARCEIROS DE SUCESSO 23

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA 31

ANEXOS 33

ÍNDICE 37

5

INTRODUÇÃO

A relação professor-aluno na sala de aula abrange vários aspectos devido a sua

multidimensionalidade e não se pode reduzi-la a uma fria relação didática nem a uma

relação humana calorosa.

Essa pesquisa tem o objetivo de responder a indagações que no dia - a - dia de um

professor são constantes. Estas no que se refere à educação e à escola, passam a ser do

interesse de muitos e não apenas de alguns especialistas da área.

Como se dá a relação professor-aluno em sala de aula?

Será que o processo de ensino – aprendizagem se torna mais significativa quando o

professor utiliza uma prática transformadora?

E a construção de vínculos afetivos, pode ou não aumentar o aprendizado entre os

alunos?

Sabendo que o termo “educação” está muito ligado aos processos de socialização e

escolarização e principalmente com a evolução social podemos ressaltar como progresso,

pois em determinados momentos educadores e educandos, ainda que de forma não –

sistematizada, pensam, refletem, conversam, e transmitem experiências e conhecimentos.

Assim, se a educação e a escola são realidades que encontramos na mais diversa

forma, é chegado o momento de começar a explanar esse tema para dissuadir inquietações

que tanto afligem um educador.

Por último, cabe ressaltar que este é um texto introdutório, que tem como objetivo

destacar a importância da motivação no processo de aprender do aluno é se essa

motivação varia de acordo com a prática do professor.

O presente estudo é composto por três capítulos:

O Capítulo I, tem como objetivo apresentar os caminhos da educação bem como

conceitos e finalidades registrados ao longo da história.

No Capítulo II, será apresentado a trajetória da relação professor-aluno numa

abordagem histórica, através das diferentes tendências pedagógicas da educação do Brasil,

e ainda, uma reflexão sobre a importância do relacionamento professor-aluno na eterna

busca do educador necessário.

E no Capítulo III, será abordada a questão de uma parceria de excelência entre

educador- educando.

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CAPÍTULO I

OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO

“Despertar no aluno a capacidade de pensar e agir de forma crítica e consciente”

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EDUCAÇÃO: CONCEITOS E FINALIDADES

Nas sociedades primitivas encontramos o termo educação de forma difusa e

integrada no funcionamento da sociedade. Todos educam a todos. Dependendo do tipo de

agrupamento humano, alguns mais complexos, surgem organizações que de maneira

específica são portadoras de transmissão cultural.

A educação formal não substitui a educação informal que se interpõe o tempo todo

nas relações entre os homens e nas sociedades complexas, a educação informal não basta.

Muitos dos conceitos que o termo educação apresenta estão relacionados aos

processos de socialização e escolarização.

Teóricos como John Dewey (1971), estão preocupados com o lado pragmático da

educação e, principalmente, com a evolução social desta, defendiam a adequação do

processo educativo ao mundo, ressaltando a educação como fator de progresso, pois ao

ensinar o indivíduo o professor contribui para a formação da vida social, não distinguiam a

educação da socialização:

Quando os homens viviam em pequenos grupos que tinham pouco que ver com os demais, o dano que a educação intelectualista e memorista causava era realmente pequeno: (...) Os métodos e operações industriais dependem, hoje, do conhecimento dos fatos e leis das ciências naturais e sociais, num grupo muito maior do que foram antes. Nossas ferrovias e barcos, os bondes, telégrafos e telefones, fábricas e granjas de trabalho, e até nossos recursos domésticos dependem para sua existência de intrincados conhecimentos materiais, físicos, químicos e biológicos. Dependem, em sua melhor e última aplicação, de uma compreensão dos fatos e relações da vida social. (Dawey, 1971, p. 56).

Vale mais avaliar o progresso do aluno que o volume quantitativo dos saberes

acumulados.

A educação é responsável por manter a memória de um povo e criar condições para

sua sobrevivência. É fundamental para humanizar e socializar o indivíduo. Processo

permanente, não se restringe a simples continuidade, supõe rupturas através das quais a

cultura - transformação que o homem exerce sobre a natureza, mediante o trabalho, os

instrumentos e as idéias utilizadas nesse processo se renova, permitindo que o homem faça

sua história.

O termo educação é, na maioria das vezes, reservado para o conjunto de influências

que os adultos exercem sobre as crianças. Destacamos assim a idéia de Jean-Jacques

Rosseau ao afirmar que toda a educação deveria seguir o livre desenvolvimento da própria

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natureza da criança, e suas inclinações naturais: “A primeira educação, então seria

puramente negativa. Consistiria não em ensinar os princípios da virtude ou da verdade, mas

em proteger o coração contra o vício e o espírito contra o erro”.(Rosseau, 1968, p.74).

A primeira análise do caráter social da educação que foi realizada, na passagem do

século XIX para o XX, pelo sociólogo francês Émile Durkheim, ao desenvolver uma

abordagem científica que centrava-se no fato concreto de educação.

Durkheim, assume uma atitude descritiva que contrapõe à teoria intelectualista. Sua

abordagem era voltada para o exame dos elementos reais da educação: o aluno, ao

professor e a interação entre ambos, os conteúdos, a inserção no campo da realidade, o

equipamento instrumental, a escola o acervo social (tradições, idéias e técnicas) e incluía o

recurso à história da educação.

Enfatizando a origem social da educação, Durkheim define:

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente se estine. (1978, p.41).

Vale mais avaliar o progresso do aluno que o volume quantitativo dos saberes

acumulados.

A educação é responsável por manter a memória de um povo e criar condições para

sua sobrevivência. É fundamental para humanizar e socializar o indivíduo. Processo

permanente, não se restringe a simples continuidade, supõe rupturas através das quais a

cultura - transformação que o homem exerce sobre a natureza, mediante o trabalho, os

instrumentos e as idéias utilizadas nesse processo se renova, permitindo que o homem faça

sua história.

O termo educação é, na maioria das vezes, reservado para o conjunto de influências

que os adultos exercem sobre as crianças. Destacamos assim a idéia de Jean-Jacques

Rosseau ao afirmar que toda a educação deveria seguir o livre desenvolvimento da própria

natureza da criança, e suas inclinações naturais: “A primeira educação, então seria

puramente negativa. Consistiria não em ensinar os princípios da virtude ou da verdade, mas

em proteger o coração contra o vício e o espírito contra o erro”. (Rosseau, 1968, p.74).

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A primeira análise do caráter social da educação que foi realizada, na passagem do

século XIX para o XX, pelo sociólogo francês Émile Durkheim, ao desenvolver uma

abordagem científica que centrava-se no fato concreto de educação.

Durkheim 1978, assume uma atitude descritiva que contrapõe à teoria

intelectualista. Sua abordagem era voltada para o exame dos elementos reais da educação:

o aluno, ao professor e a interação entre ambos, os conteúdos, a inserção no campo da

realidade, o equipamento instrumental, a escola o acervo social (tradições, idéias e

técnicas) e incluía o recurso à história da educação.

Enfatizando a origem social da educação, Durkheim define:

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente se estine. (1978, p.41).

Destacam-se dois aspectos no conceito de Durkheim: o primeiro da

homogeneidade que fixa na alma da criança conceitos essenciais e o segundo, da

diversidade dos meios sociais (profissões, classes e grupos).

Como conseqüência da definição de Durkheim se propõe a distinção do “ser

individual” que se constitui dos estados mentais que não se relacionam senão com a

própria pessoa, e o “ser social” que diz respeito e engloba as crenças religiosas, as práticas

morais, as tradições nacionais e profissionais e as opiniões coletivas. Sendo assim, a

educação se presta a constituir esse segundo ser em cada um de nós.

Para o sociólogo Durkheim, a educação deve satisfazer, antes de tudo as

necessidades sociais e enfatiza a idéia de que toda a educação consiste num esforço

contínuo de impor à criança a maneira de ver, sentir e de agir às quais as mesmas ainda não

teriam alcançado. Percebeu que a educação é fundamental para a convivência social e que

consiste na socialização metódica das gerações mais novas.

É grande o mérito da abordagem proposta por Durkheim, pois acentua o caráter

social dos fins educacionais, e por encarar a pedagogia uma “teoria prática” da educação.

Mas apresentamos como limite dessa nova abordagem a parcialidade com que analisa o

processo de educação e a educação como um todo.

Não se preocupava com o processo interno de educação e apresentava radicalidade

ao absolutizar o poder da sociedade sobre o homem, retirando do mesmo uma

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possibilidade ou poder de contestação, não considerando o caráter ideológico da educação

declarado por Durkheim: “a educação não existe para mudar e sim para reproduzir”.(1955,

p. 61)

Continuamos pensando no conceito de educação como processo de

desenvolvimento integral do indivíduo, supondo o desenvolvimento das capacidades física,

intelectual e moral que visa a formação de habilidades e, também, do caráter e da

personalidade social. Conceitua Libâneo:

“Educar (em latim é educare) é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação. O ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto ao nível intrapessoal como ao nível da influência do meio, interação que se configura uma ação exercida sob sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos desta própria ação exercida. Presumi-se, aí, a interligação no ato pedagógico de três componentes: Um agente (alguém, um grupo, um meio social etc.), uma mensagem transmitida (conteúdos, métodos, automatismos, habilidades etc.) e um educando (aluno, grupos de alunos, uma geração etc.) ” (Libaneo,1985,p.97)

Ainda como sinal de evolução não podemos deixar de relacionar a educação a

um contexto histórico - social concreto, pois o ponto de partida e de chegada da ação

pedagógica é a prática social. É no início do processo que o educando possui

experiência social ainda confusa e fragmentada que se desenvolverá para ser levada ao

outro estágio de organização.

A educação é um processo inclusivo, compreendido dentro de um contexto social

global, com uma dimensão dos demais processos sociais, sem sentido se for isolado.

Destacando o aspecto social, Saviani (1980) em “Educação: do senso comum à

consciência filosófica”: “ educação é um processo que se caracteriza por uma atividade

mediadora no seio da prática social global”.(1980, p. 120)

Ao pensar numa evolução histórica do conceito e finalidade da educação surge a

educação libertadora. O homem sempre se deparou com as possibilidades de humanizar-se

ou desumanizar-se. É a educação, que quando ocorre de forma autêntica, se torna um

processo de humanização e desse modo uma prática de libertação.

Para Paulo Freire: “a educação é uma resposta da finitude da infinitude”.

O homem é um indivíduo inacabado e tem consciência disso

Segundo Libâneo:

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Um ‘produto’, significando os resultados obtidos da ação educativa conforme propósitos sociais e políticos pretendidos; é ‘processo’ por consistir de transformações sucessivas tanto no sentido histórico quanto no de desenvolvimento da personalidade”. ( 1991, p. 23).

Concluí-se que a educação pode ser encarada como uma instituição social

ordenada no sistema educacional de um país, num determinado momento histórico.

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CAPÍTULO II

A TRAJETÓRIA DA RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO

“...o mestre não é aquele que sempre ensina, mas

aquele que de repente aprende.”

Guimarães Rosa

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A RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO NAS DIFERENTES

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

A relação professor-aluno é fundamental no processo de ensino e está diretamente

vinculada à organização da instituição escolar, aos objetivos que esta deseja alcançar e

principalmente, ao tipo de proposta filosófica dos elementos envolvidos no processo

educativo.

Ilustra Garcia que: “Na relação pedagógica o que se aprende não é tanto o que se

ensina (conteúdo), mas o tipo de vínculo educador – educando que se dá na relação”.

(1983, p.346)

Alunos e professores têm tarefas específicas e diferenciadas, apesar da

circularidade e da reciprocidade do processo educativo.

Ao longo da história da educação no Brasil, destacamos estas tarefas que foram

firmadas nas escolas através da práxis docente influenciada pelas pedagogias liberal e

progressista.

É necessário esclarecer que as pedagogias liberal e progressista que influenciam a

prática e as relações da/na escola, não aparecem de forma estanque em determinadas

épocas, pelo contrário, através dessa influência a escola, representada pelo professor,

realiza sua prática pedagógica marcada por várias tendências, apresentado posturas

diferentes. Saviani confirma:

O professor vive num impasse entre a prática e a teoria. Têm na cabeça o movimento e os princípios da escola nova”. A realidade, porém, não oferece aos professores condições para instaurar a escola nova, porque a realidade em que atuam é tradicional .(1983, p. 75)

Libâneo classifica as pedagogias liberal e progressista em diversas tendências que

caracterizam a educação.

Na concepção liberal, relacionada a doutrina do liberalismo que justifica o sistema

capitalista e preconiza a predominância da liberdade e dos interesses individuais na

sociedade, também denominada de sociedade de classes. As tendências são classificadas em

tradicional, renovada progressivista, renovada não - diretiva e tecnicista. Afirma Libâneo:

“A educação brasileira, pelo menos nos últimos cinqüenta anos, tem sido marcada pelas

tendências liberais...” (1999, p. 21)

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A pedagogia liberal dissemina a idéia de que a escola deve preparar os indivíduos

para desempenhar papéis sociais.

O teórico Althusser confirma: “Um aparelho ideológico do Estado desempenha o

papel dominante, muito embora não escutemos sua música a tal ponto, ela é silenciosa.

Trata-se da escola”! (1985, p. 78)

Ainda como fundamento da pedagogia liberal podemos destacar o enfoque dado à

necessidade de adaptação do indivíduo a valores e normas impostos pela sociedade através

do desenvolvimento da cultura individual. Apesar de idéia da igualdade de oportunidades,

escamoteia as diferenças de classes não levando em conta as diferentes condições. Afirma

Bourdieu: “É provável por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o

sistema escolar como um fator de mobilidade social (...)”.

Além disso, para Bourdieu, a influência do capital cultural e do ethos é grande em

relação a função social, chegando até a implicar em desenvolvimento escolar:

O capital cultural e o ethos, ao se combinarem, concorrem para definir as condutas escolares e as atitudes diante da escola, que constituem o princípio de eliminação diferencial das crianças das diferentes classes sociais.(1998, p. 50)

Na pedagogia liberal tradicional há a idéia do preparo do aluno nos aspectos moral

e intelectual preparando-o para exercer seu papel na sociedade. A relação professor –

aluno é legitimada pela verticalidade. O autoritarismo do professor é a base da

convivência que deve acontecer num clima de disciplina (silenciosa) a fim de que seja

facilitada a transmissão do saber.

Paulo Freire contrapõe a postura do professor na pedagogia liberal tradicional que

denomina de “educação bancária”:

Não pode perceber que somente na comunicação tem sentido a vida humana. Que o pensar do educador somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela realidade, portanto, na intercomunicação. Por isto, o pensar daquele não pode ser um pensar para estes nem a estes imposto. Daí que não deva ser um pensar no isolamento, na torre de marfim, mas na e pela comunicação, em torno, repitamos de uma realidade.( 1987, p.64)

Já na pedagogia liberal renovada progressivista o objetivo é a adequação das

necessidades do indivíduo ao meio social, através de conteúdos que atendam aos interesses

e necessidades dos alunos. Valoriza-se a idéia de “aprender fazendo” através do método de

solução de problemas propostos por Dewey: “O fim da educação não é formar a criança a

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partir de modelos, nem orientá-la para uma ação futura, mas dar condições para que o aluno

resolva por si próprio os problemas decorrentes da experiência”.( 1965, p. 79-80)

A relação professor-aluno frente a situação da proposta de resolução de problemas

é de auxiliar no desenvolvimento livre do aluno, não havendo lugar de destaque para o

professor. Há a preocupação com a vivência democrática e a busca de um relacionamento

positivo.

A pedagogia liberal renovada não - diretiva pontua a necessidade da escola formar

as atitudes dos alunos, preocupando-se com os problemas psicológicos destes. Essa

influência psicológica deve-se ao seu precursor Carl Rogers, com formação em psicologia

clínica.

Como objetivos principais dessa tendência destacam-se o autodesenvolvimento e a

realização pessoal. Comparava-se a educação com terapia. Tem-se de encontrar uma maneira de desenvolver, dentro do sistema educacional como um todo, e em cada componente, um clima conducente ao crescimento pessoal, um clima no qual a inovação não seja assustadora, em que as capacidades criadoras e administradores, professores e estudantes sejam nutridas e expressadas, ao invés de abafadas. Tem-se de encontrar, no sistema, uma maneira na qual a focalização não incida sobre o ensino, mas sobre a facilitação da aprendizagem autodirigida.( 1985, p. 153)

No relacionamento entre professor – aluno a tendência liberal não - diretiva

propunha que o centro fosse o aluno e a formação da personalidade deste através de

vivências baseada em aprendizagens significativas. A relação é baseada num clima pessoal

e autêntico, onde o professor é um “especialista das relações humanas”, que privilegia a

auto – avaliação do aluno.

Para a pedagogia liberal tecnicista a escola deve trabalhar para “moldar” o

comportamento do aluno. O sistema escolar é responsável pelo processo de aquisição das

habilidades, dos conhecimentos e das atitudes que o indivíduo necessita para sua

integração na sociedade. Desta forma, a escola garante a manutenção da ordem social

vigente. O influenciador da pedagogia liberal tecnicista é Skinner que declara:

O comportamento apreendido é uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma... Se a ocorrência de um (comportamento) operante é a segunda pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é aumentada.

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Percebe-se que o eixo pedagógico da pedagogia liberal tecnicista encontra-se na

organização racional dos meios como forma de minimizar o subjetivo interferindo na

eficiência, pois o ensino tecnicista surge para adequar o sistema de educação `a

necessidade do sistema político – econômico durante o regime militar no período após

1960.

A relação professor – aluno, proposta pela pedagogia liberal tecnicista se baseia

numa estrutura bem definida na atuação do professor como “elo” de ligação entre a

verdade científica e o aluno pelo emprego do sistema educacional previsto.

O professor é responsável pela execução de um processo planejado, que é

coordenado e controlado por especialistas que supostamente habilitados, estão a serviço do

processo. A tarefa principal do professor é conseguir um comportamento adequado para o

controle do ensino.

Contrapondo a pedagogia liberal e suas tendências, apresentamos a pedagogia

progressista que segundo Snyders parte da análise crítica da realidade social e apresenta

como tendências: a progressista libertadora, a progressista libertária e a progressista crítico

- social dos conteúdos.

A pedagogia progressista não objetiva a institucionalização do capitalismo, visando

ser segundo Libâneo: “um instrumento na luta dos professores ao lado de outras práticas

sociais”.

A tendência progressista libertadora, conhecida como pedagogia libertadora ou

Pedagogia de Paulo Freire tem o eixo pedagógico no questionamento de realidade das

relações do homem com a natureza e com os outros homens. Pontuando a educação “não –

formal” e problematizadora, procura desenvolver no aluno um nível de consciência da

realidade em que vive a fim de atuar na transformação da mesma.

O resultado da aprendizagem nesse processo é a aproximação crítica da realidade.

Paulo Freire afirma:

(...) esse saber resultante da concepção problematizadora acha-se entrelaçado à necessidade de transformar o mundo, pois os homens se descobrem como seres históricos, como seres que estão sendo, como seres inacabados, inconclusos, em e com uma realidade, que sendo histórica também, é igualmente inacabada.(1987, p.82)

Uma relação dialógica e problematizadora que parte do caráter histórico e da

historicidade do educador e do educando, tem como base uma relação horizontal.

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É o educador que “anima” os grupos de discussão e fornece, se e quando

necessário, informações sistematizadas para o desenvolvimento do grupo.

Justifica Paulo Freire: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os

homens se libertam em comunhão”.(1987, p.48)

Desta forma, educador e educando, que Paulo Freire denominou, respectivamente,

de liderança e massa trabalham co – intencionados à realidade, e se cotizam no objetivo de

criar e recriar o conhecimento, onde ambos são sujeitos do mesmo processo.

Como proposta, a pedagogia progressista libertária apresenta seu eixo num

processo autogestionário, que visa a autonomia do indivíduo no coletivo. Pretende

estimular a autonomia como forma de resistência à ação dominadora burocrática do

Estado.

É fundamental desenvolver o estímulo do sentido libertário na busca às respostas

das necessidades e exigências da vida social. É Freinet quem reafirma o objetivo da

pedagogia progressista libertária:

(...) nenhuma, absolutamente, nenhuma das grandes aquisições vitais se faz por processos aparentemente científicos (...) É a caminhar que a criança aprende a andar, e a falar que aprende a falar, é a desenhar que aprende a desenhar.(...). (Freinet,1997,p.50)

Como instrutor e/ou como conselheiro, o professor irá atuar à disposição do grupo.

Considerado como facilitador e parceiro, convive com o grupo numa relação de não -

diretividade, desconsiderando as tarefas obrigatórias e as ameaças.

O professor mistura-se ao grupo para uma reflexão comum, não deixando que o

papel de professor se posicione como modelo para os alunos, pois a pedagogia

progressista libertária invalida toda e qualquer forma de poder ou autoridade.

Completando as classificações das tendências da pedagogia progressista, a crítico-

social dos conteúdos tem como eixo pedagógico, segundo Libâneo: “a difusão de

conteúdos vivos, concretos e indissociados da realidade”.

Sugere a articulação entre a política e o pedagógico, numa capacidade de

compreensão do vínculo da prática social global.

Para Luckesi a pedagogia progressista crítico – social dos conteúdos propõe a

superação das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica inserida

numa prática social concreta:

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“Entende-se a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a transmissão de conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (...)”.( 1994, p.84)

A mediação é a ação exercida pelo professor na pedagogia crítico – social dos

conteúdos, devendo proporcionar elementos de análise crítica aos alunos que os ajudem a

ultrapassar suas experiências imediatas, os estereótipos e as pressões ideológicas

dominantes.

É fundamental o envolvimento do professor com o estilo de vida dos alunos, tendo

consciência dos contrastes existentes entre sua cultura e a cultura destes.

Baseado nas duas grandes correntes pedagógicas, classificadas por Libâneo de

pedagogia liberal e de pedagogia progressista, a educação evolui ao longo do tempo no

que diz respeito ao relacionamento professor-aluno.

Do eixo da verticalidade, da disciplina e da obediência, historicamente, difundida

na sociedade e na educação brasileira, ao eixo da mediação que considera o aluno como

sujeito do ato de conhecer, a relação entre o aluno e o professor veicula significados

isentos de neutralidade.

Deve-se estudar, aprender, ensinar e aprender por amor à humanidade, com o

anelo de servir-lhe melhor. De nada serve a sabedoria sem o amor.

2.1 – A interação professor- aluno

A busca do professor necessário

A interação professor-aluno, que acontece na sala de aula, ultrapassa a

situação de um simples encontro que objetiva o processo de ensinar e aprender.

Essa relação é estabelecida em contatos interpessoais que têm como base

propostas educacionais, modelos sociais e culturais e, também, motivações, interesses e

expectativas dos sujeitos envolvidos.

Não pode-se desconsiderar que por se tratar de uma relação pedagógica a

interação professor-aluno visa à promoção do homem, ao desenvolvimento da

capacidade de compreensão , de reflexão, de crítica e autocrítica.

A interação, portanto, traz de forma implícita uma relação dialógica entre

professores e alunos, que ao mesmo tempo, se comprometem com o conhecimento e com

a construção de uma sociedade mais humana e igualitária.

19

O significado da docência para o professor, vinculado à competência profissional

e aliado às suas características pessoais estimulam e desencadeiam posicionamentos

diversos em sala de aula. Estes posicionamentos podem ser apresentados nos professores

e nos alunos.

Se o professor concebe o ensino meramente como um processo de transmissão de

informações, provavelmente não estabelecerá em sala de aula o diálogo, optando pela

rotina do silêncio e do monólogo, dogmática e unilateral.

Em contrapartida, se o professor considera o ensino como um processo dinâmico,

considerando a interação professor-aluno baseada no caráter de solidariedade e com

responsabilidade, haverá, por parte do aluno uma aproximação que influirá fortemente

em sua aprendizagem. Podemos afirmar que existe entre os alunos e professores

inúmeras expectativas relacionadas ao desempenho.

A relação professor - aluno é centralizada na escola que como instituição social

determina aos seus componentes, os comportamentos que deles se esperam obter. Mas,

em contra partida a escola é determinada pelo conjunto de expectativas que a sociedade

na qual está inserida faz sobre ela. A este fluxo denominamos de ideologia dominante.

Declara Chauí:

A ideologia resulta da prática social, nasce da atividade social dos homens no momento em que estes representam para si mesmos essa atividade (...) as idéias dominantes em uma sociedade numa época determina não só todas as idéias existentes na sociedade, mas são apenas as idéias da classe dominante dessa sociedade nessa época, ou seja, a maneira como ela representa para si mesma sua relação com a natureza, com os demais homens, com a sobrenatureza (deuses), com o Estado, etc.. (Chauí, 1984, P. 92)

Sendo assim, os papéis que compõe a escola estão definidos ideologicamente

também na sociedade e são identificados com a classe dominante, passando pelas formas

de produção e distribuição do conhecimento.

As expectativas dos alunos, também são determinadas pelas condições da classe

social a que estes pertencem. Muitas das vezes a escola reforça a expectativa de aceitar o

fracasso relacionando-o a sua situação na sociedade.

Ainda há sobre a relação professor-aluno o “peso” das relações institucionais.

segundo Berger e Luckmann:

as instituições controlam a conduta humana estabelecendo padrões previamente definidos de conduta, que a canalizam em uma direção por oposição a muitas outras que seriam teoricamente possíveis (...) As

20

instituições têm sempre uma história, da qual são produtos e isto significa em controle . 1983, p.80

Observa-se que as instituições também interferem na expectativa de professores e

alunos. Numa escola técnica, por exemplo, a obediência, a hierarquia e a disciplina –

aspectos privilegiados e cultivados pela organização escolar – seriam primordiais para o

preparo do aluno no futuro mercado de trabalho.

Em virtude dos papéis que desempenha, o indivíduo é introduzido em áreas

específicas do conhecimento social e objetivado. O professor e o aluno não devem

permanecer alienados à imposição da organização da escola sendo manipulados pelas

idéias que nem sabem para que servem. Necessitam desenvolver consciência crítica.

Na interação professor-aluno encontramos a necessidade de se ressaltar dois

aspectos fundamentais segundo Libâneo o cognoscitivo, que diz respeito às formas de

comunicação dos conteúdos escolares indica aos alunos e o aspecto sócio - emocional

que diz respeito às relações pessoais entre o professor e aluno e às normas de disciplina

que são indispensáveis ao trabalho do professor.

A boa interação professor-aluno no aspecto cognitivo se dará de forma

satisfatória quando forem considerados os fatores: manejo de recursos da linguagem,

conhecimento do nível de cognitivo do aluno, planejamento com clareza de objetivos e

conhecimento pelo aluno sobre o que se espera dele em relação à disciplina ou matéria.

Já o aspecto sócio - emocional está relacionado aos vínculos afetivos entre os

professores e alunos.

A qualidade da interação reflete um desequilíbrio dinâmico, pois professores e

alunos são indivíduos diferentes, com valores e idéias próprias que se expressam através

de ações e escolhas.

Destacamos a liderança do professor e sua responsabilidade como elementos que

desencadeiam o processo, na fala de Paulo Freire: ...o rosto e a fala dos professores podem confirmar a dominação ou refletir possibilidades de realização. Se os estudantes vêem ou ouvem o desprezo, o tédio, a impaciência do professor, aprendem que são pessoas que inspiram desgosto e enfado. Se perceberem o entusiasmo do professor quando este lida com seus próprios momentos de vida, podem descobrir um interesse subjetivo na aprendizagem crítica. (1983, p.35)

21

O professor, na sala de aula, deve exercer uma liderança natural, gerada por suas

qualidades intelectuais, morais e técnicas. Esta liderança contribui na relação educativa e

não deve ter o objetivo de inibir a participação e autonomia dos alunos.

No processo educativo a autoridade exercida pelo professor e a autonomia

idealizada pelos alunos são dois extremos que inicialmente parecem contradizer-se, mas na

prática educativa se complementam.

Devemos dar aos alunos oportunidades de escolha e incumbi-los da

responsabilidade da própria educação.

Existem inúmeras tentativas de democratização para o espaço escolar e,

principalmente para a sala de aula, onde efetivamente se dá a relação professor-aluno.

Mas apesar da evolução dessa relação ainda encontramos sistemas e professores que

estabelecem de fato, a imposição da autoridade, como base para a interação com o aluno.

Os professores que ainda perpetuam a disciplinarização de corpos e mentes e

fundamentam sua relação com o aluno a partir desta, ainda reproduzem o que a

sociedade lhe apresentou durante longos anos quando a sociedade brasileira esteve

marcada pela autoridade e, dessa forma, construiu um imaginário nas pessoas e

particularmente na “escola” e nos professores.

Desta forma, torna-se sempre atual o questionamento da autoridade versus

autoritarismo. É comum, atualmente o questionamento da autoridade do professor em

sala de aula, baseado no modismo denominado laissez - faire ou não diretividade, que

gera um voluntário espontaneísta, confundindo de forma errada os conceitos de

autoridade e autoritarismo.

O professor deve ser um eterno aprendiz. Aquele que mantém acesa a chama de

uma paixão intensa pelo fascinante universo do saber. Uma centelha de energia

proporcionará entre mestres e alunos, entre aprendiz e aprendizes um elo de ligação e de

troca suficientemente forte e bem alimentado para juntos descerrarem as trevas do

ignorar.

2.2 - O professor como agente de transformação

Compreender a dimensão política da educação é fundamental para que o professor

assuma seu papel na sociedade atual, responsabilizando-se por seus compromissos e com

sua competência.

22

O educador, atualmente, considerado um ser do mundo, não pode ser visto isolado

desta perspectiva.

Franco declara: “O educador não é um indivíduo isolado, uma individualidade à

parte que emite pareceres limitados numa relação unívoca com a escola e a sociedade”.

(1984, p. 12)

Sendo assim, não podemos analisar as relações estabelecidas com os alunos sem

considerar as situações concretas de sua história e de sua vida.

Atualmente é compromisso do professor como ser político e contextualizado

recuperar a qualidade da relação com o aluno.

Mais questionadora do que no passado, mais consciente das inovações e criativa a

educação caminha em direção a um novo olhar que exige do professor a atitude de

mediação. Destacamos Vygotsky ao privilegiar a escola como um espaço privilegiado e o

“professor como elemento essencial à aprendizagem, ressaltando sempre o papel mediador

do mestre na interação aluno – conhecimento”.(1995 p.86)

O professor no eixo da transformação social não é elemento neutro, é presença

ativa sem dominação. Na relação professor-aluno deixa de ser o único que sabe, e passa a

ser o que pensa com, e não pelo aluno.

A construção do conhecimento acontece num processo interpessoal e destacamos

como fundamental desse processo de interação a relação educando - educador, que não é

unilateral, pois aluno e professor constróem conhecimento.

O aluno através dessa interação/relação além dos conhecimentos, constrói valores,

crenças, adquire hábitos, formas de se expressar e de ver o mundo, aprende a conceituar e

assim, modifica e amplia suas estruturas mentais. O professor também é “modificado”

nessa relação, aprende com o aluno, na medida que compreende e percebe como este vê o

mundo. Nessa relação interpessoal onde acontece o intercâmbio, o diálogo é fundamental.

Através do diálogo educador e educando irão construir conhecimentos.

23

CAPÍTULO III

EDUCADOR-EDUCANDO: PARCEIROS DE SUCESSO

“ Conhecimento e comprometimento formam a base do sucesso”.

24

A RELAÇÃO EDUCADOR – EDUCANDO COMO MOTIVADORA DA APRENDIZAGEM

O ser humano tem necessidades e desejos. Os desejos que são estados típicos do

comportamento humano, têm suas origens nas necessidades. Ao satisfazer as necessidades,

os desejos continuam porque seu objetivo é manter a satisfação pessoal. As necessidades e

desejos surgem acompanhados de um impulso para a resolução dos problemas e, em

decorrência, há um aumento na tensão global no organismo.

O homem usa seus comportamentos disponíveis, estabelecendo objetivos, fazendo

escolhas e realizações. Cada indivíduo, de acordo com as suas possibilidades procura

solução para a realização das necessidades.

O processo psicológico, de base emocional, que inicia, dirige e mantém a atividade

individual e visa a obtenção de um objetivo é a motivação. Em busca de satisfazer suas

necessidades, o homem estabelece metas as quais direciona sua energia individual. Este

impulso à ação constitui um motivo, que é a causa do comportamento.

Originada no verbo latino movere, a palavra motivo significa pôr em movimento,

mover. Na psicologia, quando um fator determina o comportamento de um indivíduo, diz-

se que foi por este ou aquele motivo, que podem ser primários ou secundários.

Segundo Shaffer motivo “é o fator que desperta, sustenta e dirige a atividade do

organismo”.

Os motivos primários também denominados de orgânicos são os que constituem os

impulsos correspondentes à fome, à sede, ao sexo e a agressividade. Enquanto que os

motivos secundários são os desejos que o homem apresenta ao longo de sua existência.

No estudo da motivação são consideradas as variáveis: o ambiente, as forças

internas ao indivíduo que são as necessidades, os desejos, as vontades, o interesse, o

impulso, o instinto e, o objeto que atrai o indivíduo por ser fonte de satisfação da força

interna que o mobiliza.

Então, podemos afirmar que a motivação é um processo que relaciona necessidade,

ambiente e objeto dispondo o organismo para a ação, buscando satisfazer uma necessidade.

Toda ação humana é motivada, pois o homem age em virtude de um fim a que se

propõe. O homem é o único ser capaz de avaliar as razões que o impulsionam para a ação.

25

As necessidades e os desejos são decorrentes de condições variadas que são

percebidas no funcionamento do organismo, onde aparecem os impulsos para a nutrição, a

eliminação, a atividade, o repouso e a reprodução; nas relações do indivíduo com o meio

ambiente de onde derivam os impulsos que buscam proteção e segurança contra as

variações de clima e os perigos, e que modificam o ambiente para garantir melhor condição

de vida; nas relações do ser humano com as outras pessoas que são os impulsos nas

relações afetivas, da busca do prestígio, da aprovação social e para a organização social;

nas relações da pessoa com o seu próprio eu que ocorrem para a busca da realização

pessoal, da auto - estima, do autoconhecimento e da autoconfiança, desejando o sucesso,

evitando a sensação de fracasso, de medo, de culpa ou de angústia.

Percebemos que a motivação se processa em todas as esferas da vida do homem

(trabalho, escola, lazer).

Uma das grandes preocupações em relação ao ensino é a maneira através da qual

será criada as condições para que o aluno “queira” aprender. A tarefa é complexa, pois

além da “criação” da necessidade, há também, a tarefa da apresentação de um objeto

adequado para a satisfação da necessidade.

Cabe principalmente ao professor considerar que o trabalho educacional se inicie da

necessidade do aluno e, ao longo do processo, introduzir ou associar às necessidades

iniciais, outros motivos e ainda, criar novos interesses.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira o professor poderá utilizar-se de algumas

estratégias a fim de propiciar interesse no aluno:

Oferecer desafio gerando a possibilidade de novas descobertas; desenvolver atitude de investigação tentando garantir um desejo de conhecimento permanente; utilizar linguagem acessível para facilitar a compreensão; graduar a complexidade dos exercícios e tarefas. Atividades muito difíceis geram fracasso enquanto as que não propõem desafios levam ao desinteresse; esclarecer quanto a utilidade do que será aprendido. (1993, p. 107)

O interesse e o sucesso das crianças na escola e na vida adulta depende não apenas

de suas capacidades, mas também de sua motivação, atitudes e reações emocionais à escola

e outras situações onde se pode ser bem – sucedido. Os autores declaram:

Motivação para realização é uma tendência global para avaliar o desempenho de uma criança em comparação a padrões de excelência, lutar para o sucesso no desempenho, e sentir o prazer incontigente ao sucesso que daí pode decorrer. (Ruhland & Gold In Conger e Huston, 1984, p.269)

26

A motivação e o comportamento de realização não são constantes em todas as

tarefas e situações. Ainda que restringíssemos a discutir realização escolar, os níveis de

motivação das crianças podem variar de uma área para outra, ou de um período para o

seguinte.

Uma criança pode ser muito persistente e envolvida ao trabalhar em projetos,

porém mostrar pouco esforço em uma aula exaustiva.

A criança pode ter avidamente, relacionando livros desafiadores, mas procura a

posição mais fácil quando são escolhidas equipe para práticas físicas. Naturalmente, surge

a maior preocupação social quando as crianças mostram motivação menor, no Ensino

Fundamental, nas matérias escolares.

O que determina o nível de motivação de uma criança em uma área particular de

tarefas?

Os teóricos que investigam esta questão tem enfocado quatro fatores: o valor que a

criança atribui ao sucesso nessa área (valor de realização ou valor de incentivo), as

expectativas de sucesso, as interpretações sobre as causas do próprio sucesso ou fracasso

da criança, e seus padrões de desempenho.

Uma razão para as altas expectativas é o sucesso passado. Mas estas podem por sua

vez, prover as crianças com um sentimento de eficácia e um senso de competência que é

satisfatório e as motiva a tentar mais.

As expectativas e autopercepções não são unicamente um resultado de experiências

prévias com sucesso e fracasso. Crianças com o mesmo nível de desempenho passado

muitas vezes avaliam suas capacidades de modo diferente e têm expectativas diversas

quanto ao sucesso futuro. Uma razão pela qual as crianças com o mesmo nível de

desempenho poderiam ter expectativas diferentes de sucesso, talvez fosse que elas

interpretam de modo diferente seus sucessos e fracassos. Interpretações são as inferências

que uma pessoa faz sobre as razões de seu próprio comportamento ou o de alguma outra

pessoa. Quer ou não percebamos, constantemente fazemos interpretações.

O conceito de interpretação foi aplicado ao de motivação para realização por

Bernard Weiner e seus colaboradores. Propuseram que a percepção da criança quanto as

causas de seu próprios sucessos e fracassos são determinantes importantes do

comportamento de realização e expectativas quanto ao desempenho.

27

A motivação pela realização da criança ocorre nos primeiros anos de escola

havendo diversas mudanças. Primeiro, as expectativas se tornam mais realistas, isto é

relacionam-se mais de perto ao seu verdadeiro desempenho. Segundo, cada vez mais as

crianças usam comparação, social para avaliar o seu próprio rendimento. Terceiro,

estabelecem níveis mais elevados de aspiração, isto é escolhem tarefas mais difíceis.

Quarto, sua ansiedade perante o insucesso em teses e outras tarefas escolares aumenta.

Provavelmente o desenvolvimento cognitivo desempenha um papel em capacitar as

crianças para contextualizarem um padrão e se compararem com relação a ele.

Observamos que o interesse e a motivação tem uma influência no sucesso escolar

da criança. Apesar disso outras implicações contam para a obtenção de uma aprendizagem

eficiente.

Segundo Piaget (1988), teórico construtivista, o desenvolvimento cognitivo

relaciona-se a faixas etárias em diferentes níveis , nos quais o indivíduo realiza tarefas de

acordo com a sua capacidade.

Na teoria construtivista piagetiana, as crianças são motivadas a reestruturar seu

conhecimento quando encontram experiência que conflitam com suas previsões e

despertam sua atenção .O aspecto afetivo é um papel central na determinação daquilo que

chama a atenção.

Desta forma Piaget afirma que:

idéias cognitivas, operações estruturas são universais, não porque sejam herdadas, mas porque todas as experiências comuns das crianças no mundo dos objetos e pessoas forçam-nas a chegar à mesma conclusão e adquirir as mesmas estruturas cognitivas.( Piaget In Conger e Hoston, 1988, p. 217)

Às crianças chegam a escola com desejo de conhecer coisas e atribuir sentido a

elas. Esta disposição é chamada de curiosidade, a qual é uma forma de interesse e

desequilíbrio.

O papel do professor é identificar o que provoca o desequilíbrio onde o aluno não

sente curiosidade.

Existem alguns aspectos que denotam essa ação e acarretam na motivação:

interesse, conflito cognitivo, interação social e colaboração e a surpresa.

Como educadores, não investimos seriamente no potencial das crianças a fim de

ensinar de modo a facilitar os objetivos de desenvolvimento e os de habilidade e conteúdos

que desejamos que alcancem. Muito mais fácil é colocar em nossa prática a motivação que

28

parte na verdade de nossos interesses, aquilo que achamos mais viável, sem na verdade

atentarmos para o que nossos alunos estão interessados. É de grande importância fazer uso

desse interesse na Educação.

O conflito cognitivo é criado quando temos uma idéia adquirida e ela não é

confirmada, acarretando o desequilíbrio. Esse processo gera o conhecimento. A exploração

crítica é um método que consiste em questionar o aluno para que haja tal conflito.

O professor utiliza esse método através de experiências, seguidas de

questionamento que levem o aluno a construir ou reconstruir um conceito pré estabelecido,

levando a ser um sujeito crítico e pensante desse processo.

A interação social e colaboração é essencial a integração dos alunos, pois quando

estão trabalhando juntos, estão cooperando e agindo de diferentes formas, apresentando

vários pontos de vista e esta ação é a base para o desequilíbrio do raciocínio do indivíduo,

pois são pontos de vista comuns ou contrários, é nessa fase da criança que o egocentrismo

começa a se desfazer, a partir desse pressuposto a criança avalia os eu ponto de vista,

podendo modificá-lo ou alterá-lo de alguma forma. É nessa troca de pensar que constroem

juntas o conhecimento.

A surpresa nada mais é do que o educador trazer para seus alunos coisas novas,

expectativas que resultem num estado de desequilíbrio, gerando conhecimento.

Quando o aluno está motivado e participa ativamente do processo de ensino –

aprendizagem, ele se concentra mais e aprende melhor, e, em geral, não apresenta

problemas de disciplina. Enquanto participa, ele concentra todas suas energias na situação

de aprendizagem. E assim mantém seu interesse.

A motivação é um fator fundamental para a aprendizagem. Se não estiver motivada,

a criança perde o interesse. Por causa desse desinteresse ela muitas vezes ela fica

indisciplinada. Uma forma importante de motivar a criança é estimular sua iniciativa.

A formação das crianças e dos jovens ocorre por meio de sua participação na rede

de relações que constitui a dinâmica social. É convivendo com pessoas, seja com adultos

ou com seus colegas – grupos de brinquedos ou de estudo --, que a criança e o jovem

assimilam conhecimentos e desenvolvem hábitos e atitudes de convívio social, com a

cooperação e o respeito humano. Daí a importância do grupo como elemento formador.

Quando o professor concebe o aluno como um ser ativo, que formula idéias,

desenvolve conceitos e resolve problemas de vida prática através da sua atividade mental,

29

construindo, assim, seu próprio conhecimento, sua relação pedagógica muda. Não é mais

uma relação unilateral, onde um professor transmite verbalmente conteúdos já prontos a

um aluno passivo que os memoriza.

30

CONCLUSÃO

A tarefa que cabe à educação é de construir valores morais e afetivos, e o professor,

como sujeito importante é que de alguma maneira inicia a relação, que vai influenciar nos

alunos. Estes, por sua vez, influem no professor e reforçam determinado estilo dessa

relação que poderá influenciar de forma positiva na aprendizagem.

A afetividade e a amizade para com os alunos pode ser muito útil na dialética de

ensinar- aprender.

Portanto, o professor deve agir de forma que expresse o seu interesse pelo

“crescimento” dos alunos respeitando suas individualidades. Dessa forma, criará um

ambiente oportuno para o desenvolvimento do processo de ensino – aprendizagem.

Percebe-se que as relações afetivas não podem ser desconsideradas do cotidiano

escolar, pois estão presentes no dia - a - dia do indivíduo influenciando de forma positiva

ou negativa na escola e na vida.

Dentro desta prática educativa está o momento de maior prazer entre os alunos – a

integração. Quando se faz um trabalho de grupo as emoções positivas melhoram a

motivação e o aprendizado se torna mais agradável. A criança só constrói o conhecimento,

quando suas ações exploram sobre o meio ambiente. Essa exploração acontece quando

envolve a observação de um objeto chegando a criação de uma idéia.

Se o objetivo da Educação é dar subsídios para a construção do conhecimento do

educando é preciso que os métodos sejam baseados na exploração ativa, do aprender

fazendo.

Essa pesquisa não deve ter a finalidade de treinar professores a serem mais afetivos

nem influenciá-los a construir um vínculo positivo exagerado. Porém, possibilita uma

reflexão para que escolha a melhor forma de trabalhar com os alunos propiciando

oportunidades de melhorar o rendimento escolar destes.

31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clinica: uma visão diagnostica dos problemas de aprendizagem escolar. 5 ed., Rio de Janeiro: DP&A, 1997,

33

ANEXOS

O professor proporcionando situações de aprendizagem em que seja possível a

expressão oral, a formação de conceitos através da concretibilidade.

34

ANEXOS

A importância da relação aluno-aluno através da compreensão e interpretação da

realidade, estabelecendo uma visão de mundo.

35

ANEXOS

É essencial a integração dos alunos, pois quando estão trabalhando juntos,

cooperando e agindo de diferentes formas, trocam experiências, mostram seus valores, o

egocentrismo começa a se desfazer, passando a reconstruir um conceito pré estabelecido,

tornando-os sujeitos críticos e pensantes deste processo, pois é nessa troca de pensar que

constróem juntos o conhecimento.

36

ANEXOS

37

ÍNDICE

SUMÁRIO 04

INTRODUÇÃO 05

CAPÍTULO I 06

OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO 06

EDUCAÇÃO: CONCEITOS E FINALIDADES 07

CAPÍTULO II 12

A TRAJETÓRIA DA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO 12

A RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO NAS DIFERENTES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 13

2.1– A interação professor- aluno A busca do professor necessário 18

2.2 – O professor como agente de transformação 21

CAPÍTULO III 23

EDUCADOR – EDUCANDO: PARCEIROS DE SUCESSO 23

A RELAÇÃO EDUCADOR – EDUCANDO COMO MOTIVADORA DA APRENDIZAGEM 24

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRÁFIA 31

ANEXOS 33

ÍNDICE 37

38

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

A relação professor – aluno como motivadora da aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental

Por: Sandra Regina Silvestre da Rosa Data de Entrega: 24 de julho de 2004.

Avaliado por: Ana Cristina Guimarães _______________________ Grau _____________

Rio de Janeiro, 24 de julho de 2004.