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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
“TEACHER BURNOUT”
QUANDO SER PROFESSOR DEIXA DE TER SENTIDO
Por: Márcia Regina de Souza Teixeira
Orientador
Prof. Carlos Cereja de Barros
Rio de Janeiro
2004
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Projeto a vez do Mestre
“TEACHER BURNOUT”: QUANDO SER
PROFESSOR DEIXA DE TER SENTIDO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Docência do Ensino Superior.
Por. Márcia Regina de Souza
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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DEDICATÓRIA
...Dedico este trabalho a todos que
abraçaram e haverão de abraçar em algum
tempo o sacerdócio que é a arte de ensinar
e que a despeito de todos os desafios que a
docência oferece, são incansáveis na luta e
trabalham para a promoção de uma
sociedade mais justa e humana.
Ao mestre, com carinho,
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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RESUMO
Este trabalho objetiva analisar e caracterizar o papel atual do professor;
refletir sobre as pressões impostas a este profissional, que além de ser em
geral, mal remunerado, ainda e por isso mesmo necessita acumular várias
funções inseridas no próprio ofício de educador, lecionando em diversas
instituições muitas vezes distantes entre si a fim de garantir sua sobrevivência;
ressaltar a qualidade de vida no trabalho como fator essência para o bom
desenvolvimento profissional do docente; Refletir sobre a necessidade da
reestruturação cognitivo-comportamental do docente diante da tendência
educacional atual que deixa de investir em capacitação específica, mas que
exige deste profissional constante atualização apesar da rotina pesada a que
são submetidos diuturnamente: relacionar o estresse à baixa (e deficiente,
muitas vezes) produtividade do educador, chegando muitas vezes a incapacita-
lo: definir a Síndrome de Burnout e sua relação com o trabalho dos
educadores, concluindo-se pela exaustão emocional como o principal fator
desencadeador da síndrome.
METODOLOGIA
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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A pesquisa será realizada através de livros, revistas e Internet e
pretende analisar a questão do Burnout como sendo uma ameaça ao seu
desenvolvimento cognitivo do professor e sua produtividade laboral.
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Síndrome de Teacher Burnout: 11
Definição, Características e sua relação com o estresse
CAPÍTULO II - Sintomas característico da síndrome 14
de teacher burnout E transtornos a ela relacionados
1° ) TAG-(trasntornos da ansiedade generalizada)
2°) Depressão
CAPÍTULO III - qualidade de vida e saúde mental do professor 17
Burnout: um desafio ao desenvolvimento cognitivo deste profissional
CAPÍTULO IV -Conceito de trabalho e produtividade 20
Qualidade de vida no trabalho e Saúde mental do trabalhador
CAPÍTULO V –Tratamento: abordagem cognitivo-comportamental 29
Qualidade de vida no trabalho e Saúde mental do trabalhador
CONCLUSÃO 32
ANEXO (ÍNDICE) 35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
INTRODUÇÃO
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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O conceito de “Burnout” surgiu nos Estados Unidos na década de 70
para definir uma síndrome que se manifesta pela resposta do individuo ao
estresse laboral. O sentido literal da expressão é estar “esgotado” ou
“queimado”. De acordo com Vidal (1993), esta síndrome é característica de
profissões que consistem principalmente em oferecer serviços humanitários
diretos e de grande relevância para o usuário, tais como: Policiais, enfermeiros,
terapeutas ocupacionais e professores.
Cabe salientar que o Burnout é formado por diversos estados
sucessivos, como um processo, que não se estabelecem de forma clara e
distinta entre uma etapa de outra, ou de um momento ao outro. Até mesmo
Delgado et. Al.(1993) citam alguns autores como Belcastros Gold e Hays
(1983), para os quais não é possível determinar , com exatidão , nem
seqüência,nem os correlatos das diferentes fases implicadas no
desenvolvimento desta síndrome , apenas pode se dizer que representam uma
forma de adaptação às fontes de estresse.
O modelo conceitual para Gercia Montalvo e Garcés De Los Fayos
(1996) resume o aparecimento do Burnout nas três dimensões: esgotamento
emocional, despersonalização e baixa auto-estima. A instalação da síndrome
ocorre de maneiro lenta e gradual, acometendo o individuo progressivamente.
Essa seria uma abordagem focada numa perspectiva psicossocial. Estes
sintomas podem desenvolver-se naqueles sujeitos cujo objeto de trabalho são
pessoas em qualquer tipo de atividade; No entanto deve ser entendido como
uma resposta ao estresse laboral que aparece quando falham as estratégias
funcionais de enfrentamento que o sujeito pode empregar e se comportar como
variável mediadora entre o estresse percebido e suas e suas conseqüências.
Esse enfrentamento é definido por França e Rodrigues (1997), como sendo o
“conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para manejar ou lidar com
as solicitações externas ou internas que são avaliadas por ela como excessivas
ou acima de suas possibilidades”. Assim, esta síndrome é considerada um
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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passo intermediário na relação estresse-consequências do estresse, de forma
que, se percebem durante um longo tempo, o estresse laboral terá
conseqüências nocivas para o individuo, sob a forma de enfermidade, falta de
saúde com alterações psicossomáticas (problemas cardiorrespiratórios,
insônia, náuseas, gastrite e úlcera).
Distinguem-se três momentos para a manifestação da síndrome:
1°) Estresse Laboral: O individuo se dá conta que as demandas de
trabalho são maiores que os recursos matérias e humanos e que há uma
sobrecarga de trabalho tanto qualitativa quanto quantitativa.
2°)Tentativas de adaptação do individuo, que se esforça para produzir
uma resposta emocional as desajuste percebido. Aparecem então, sinais de
fadiga, tensão, irritabilidade e até mesma ansiedade. Assim essa etapa exige
uma adaptação psicológica do sujeito, a qual refletem no seu trabalho, reduzido
o seu interesse e a responsabilidade pela sua função.
3°) Enfrentamento defensivo, ou seja, o sujeito produz uma troca de
atitudes e condutas com a finalidade de defender-se das tensões
experimentadas, ocasionando comportamentos de distanciamento emocional,
cinismo e rigidez.
A definição da referida síndrome, a associação desta com o fator
estresse, bem como o levantamento de suas principais características, faremos
no segundo capítulo deste trabalho.
No terceiro capitulo serão apresentados os principais sintomas que
caracterizam os profissionais da área da educação como sendo portadores da
síndrome então designada Teacher Bournout, bem como alguns transtornos e
patologias associadas a ela.
No capitulo 4, falaremos sobre a saúde mental do professor bem como
a importância da qualidade de vida no trabalho.
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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O objetivo dessa monografia será levar o educador à identificação de
experiências relacionados a pratica docente e refletir sobre a possibilidade de
sobreviver à perda de energia no exercício de suas funções.
Por fim, caberia fazer uma referência ao tratamento psico-terapêutico
indicado neste caso tendo como base à abordagem cognitivo-comportamental,
que tem em sua práxis a proposta não somente profilática, mas também e
principalmente, a prevenção das patologias laborativas causadas por estresse.
CAPÍTULO I
SÍNDROME DE TEACHER BURNOUT:
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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Definição, Características e sua relação com o estresse
Poderíamos sintetiza-la através de uma expressão popular: “tanto faz
como tanto fez...” quando ser professor, deixa de ter sentido.
Considerando que a carreira docente, independente do nível de ensino,
tem como característica básica à dispersão de energia vital dos profissionais
que nela atuam, através do desempenho de atividades como: preparo de aulas,
dar aulas, estudos, atualização, etc., mostra-se sem importância, ou seja,
qualquer esforço do professor parece-lhe inútil de tal forma que este processo
se transforma em doença psicossomáticas. Causa: estresse laboral.
Sintomas como despersonalização, fadiga, alteração de peso afecções
dermatológicas , depressão , TAG(Transtorno de Ansiedade Generalizada) ,
distúrbios sexuais e relacionais , nos remetem ao séc. XIX , quando Freud os
designava “neurose de angústia”. Para ele tratava-se de um mal que teria uma
passível natureza biológica por conta de uma falha nos neurotransmissores (
substancias responsáveis pela emissão de impulsos nervosos, de uma célula
para outra , das qual as mais conhecidas são a serotonina e a noradrenalina (
Keller, G.1999, pág 39.) No entanto , outros autores já discordam desta visão ,
dando como possível causa a influência de fatores psicossociais . Assim ,
diversos estudiosos vêm tentando elaborar definição para um quadro que está
internamente ligado a ansiedade e ao estresse generalizados que atinge
,atualmente cerca de três milhões de brasileiros.
Um bom referencial que nos ajuda a compreender melhor este
processo psicossomático , está nos estudos desenvolvidos pro Hans Seyle,
endocrinologista radicado no Canadá , que utilizou em 1926, pela primeira vez
o termo estresse , como sendo um conjunto de reações que um organismo
desenvolve ao ser submetido a uma situação que exigem um esforço para a
ela se adaptar . Fisiologicamente , o estresse é o resultado de uma reação que
o organismo tem quando estimulado por fatores externos desfavoráveis . O
referido autor demonstrou , com trabalhos publicados a partir de 1936 , que o
organismo exposto a um esforço desencadeado por um estímulo percebido
como ameaçador à homeostase , seja ele físico , químico , biológico ou
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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mesmo psicossocial , apresenta a tendência de responder de forma uniforme e
inespecífica , anatômica e fisiologicamente , respostas estas que constituem
uma síndrome .
As reações de estresse resultam, pois, dos esforços de adaptação . No
entanto, se a reação ao agressor for muito intensa de se o agente do estresse
for muito potente e ou prolongado , poderá haver como conseqüência , doença
ou maior predisposição ao desenvolvimento da doença . É oportuno lembramos
que “o ser humano é capaz de adaptar-se ao meio ambiente desfavorável, mas
esta adaptação são conseqüências do excesso de hostilidade ou de excesso
de reações de submissão .
No aparelho circulatório, a adrenalina promove a aceleração dos
batimentos cardíacos, taquicardia e uma diminuição do tamanho dos vasos
sanguíneos periféricos . Neste sentido , o sangue circula mais rapidamente
para uma melhor oxigenação, principalmente , dos músculos e do cérebro , já
que ficou pouco sangue na periferia , o que também diminui sangramentos em
caso de ferimentos superficiais .
No aparelho respiratório, a adrenalina promove a dilatação dos
brônquios, broncodilatação , e induz o aumento dos movimentos respiratórios ,
taquipnéia , para que haja maior captação de oxigênio , que vai er mais
rapidamente transportado pelo sistema circulatório , também devidamente
preparado pela adrenalina.
O estresse ocupacional é decorrente das tensões associadas ao
trabalho e à vida profissional . Os agentes estressantes ligados ao trabalho têm
origens diversas: condições externas (economia política) e exigência culturais
(cobrança social e familiar). No entanto, Silva e Marchi (1997) salientam que a
mais importante fonte de tensão é a condição interior . Nos últimos 15 anos , o
estresse tem sido objeto de estudo de muito pesquisadores , uma vez que
evidencia-se sua relação com a saúde (santed-B,Sandim. P, Choret , 1996)
Peiró(1986), explicita como estressores do ambiente físico : ruído ,
iluminação , temperatura , higiene , intoxicação , clima e disposição do espaço
físico para o trabalho (ergonomia), e como principais demandas estressantes :
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trabalho por turnos , trabalho noturno , sobrecarga de trabalho , exposição e
riscos e perigos.
Nem sempre o estresse é prejudicial, no entanto , o estresse
prolongado é uma das causas do esgotamento , que pode levar ao Burnout
(França e Rodrigues 1997) . Ou seja, o estresse pode ou não levar a um
desgaste geral do organismo dependendo da sua intensidade, duração,
vulnerabilidade do indivíduo e habilidade em administra-lo (Lipp e malagris ,
1995)
Para Codo, Sampaio e Hitomi (1993), saúde e doença não são
fenômenos isolados que possam ser definidos em si mesmos , mas estão
vinculados ao contexto sócio-economico-cultural , tanto em suas produções
com na percepção do saber que investiga e propõe soluções .
Neste sentido Silva e Marchi (1997), afirmam que o estresse é um
estado intermediário entre saúde e doença , um estado durante o qual o corpo
luta contra o agente causador da doença . Quando se confronta com um
agressor (estressor) o corpo reagem . Essa reação tem três estágios : alarme ,
resitência e exaustão .
A fase do alarme consiste em uma fase muito rápida de orientação e
identificação do perigo, preparando o corpo para a reação propriamente dita ,
ou seja , a fase de resistência . Lipp (1990) acrescenta que às vezes as
sensações não se identificam como de estresse , é por isso que muitos não se
dão conta de que estão neste estado .
Quando o perigo passa, o organismo pára com a super produção de
adrenalina e tudo volta ao normal . No mundo de hoje , percebe-se que as
situações não são tão simples assim , e o perigo e agressão estão sempre à
volta . É diante disso que a reação do organismo frente ao estresse é de
taquicardia , palidez , sudorese e respiração ofegante . Pode haver também um
descontrole da pressão arterial , provocando um aumento da pressão à níveis
bem altos , não significa que a pessoa seja hipertensa .
Em uma visão biopsicossocial. França e Rodrigues (1997) afirmam que
o estresse constitui-se de uma relação particular entre pessoa, seu ambiente e
as circunstancias as quais está submetida, que é avaliada como uma ameaça
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e que
põe em perigo o seu bem estar . Cabe salientar , no entanto , que o estresse
por si só não é suficiente para desencadear uma enfermidade orgânica ou para
provocar uma disfunção significativa na vida da pessoa . Para que isso ocorra é
necessário que outras condições sejam satisfeitas , tais como a vulnerabilidade
orgânica ou uma forma inadequada de avaliar e enfrentar a situação
estressante .
Ao se tratar de estresse ocupacional , estes mesmo autores ,
consideram-no como aquelas situações em que o indivíduo percebe seu
ambiente de trabalho como ameaçador , quando suas necessidades de
realização pessoal e profissional , e/ou sua saúde física ou mental , prejudicam
a integração desta com o trabalho .
A fase de Resistência é uma fase que pode durar anos . É a maneira
pela qual o corpo se adapta à nova situação. É parte do estresse total do
indivíduo e se processa de dois modos básicos : sintóxico (tolerância e
aceitação ) e catotóxica ( contra , não aceitação). Para Lipp (1990), isto ocorre
quando a pessoa tenta se adaptar à nova situação , restabelecendo o equilíbrio
interno .
A fase de Exaustão consiste em uma extinção da resistência , seja pelo
desaparecimento do estressor, o agressor , seja pelo cansaço dos mecanismos
de resistência . Então , é neste caso que o resultado será o da doença ou
mesmo um colapso .
As desordens psicológicas no trabalho constituem uma das dez
freqüentes categorias de “doença” ocupacional. Diversos trabalhos têm
evidenciado uma diversidade de variáveis organizacionais , que contribuem
para situações provocadoras de reações psicológicas e psicossomáticas .
O interesse atual pelos efeitos e conseqüências do estresse nos
contextos de trabalho responde a varias razões , mas principalmente aos
custos econômicos derivados , tanto para os indivíduos como para as
organizações ( Gracía Izquierdo, 1993).
A relação do homem com a organização do trabalho é origem da
carga psíquica do trabalho . Quando o rearranjo da organização do trabalho
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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não é mais possível , quando a relação do trabalhador com a organização é
bloqueada , o sofrimento começa (Dejours,1994)
Como ficou expressado , Burnout é um desgaste , tanto físico como
mental ,em que o individuo pode tornar-se exausto , em função de um
excessivo esforço que faz para responder às constantes solicitações de
energia , força ou recursos , afetando diretamente a qualidade de vida do
indivíduo e , conseqüentemente , do trabalho .
CAPÍTULO II
SINTOMAS CARACTERÍSTICO DA SÍNDROME
DE TEACHER BURNOUT
E transtornos a ela relacionados
O termo síndrome significa “um conjunto de sinais e sintomas”
(Gaudêncio P., 1998) .
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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A síndrome de Teacher Burnout é entendida por Maslach e Jackson (
1986) como um conceito multidimensional que envolve três componentes :
exaustão emocional despersonalização e auto-estima reduzida , sobre os
quais falaremos mais adiante . Para esses pesquisadores a patologia aparece
como uma reação à tensão emocional crônica , gerada a partir do contato
direto e excessivo com outros seres humanos , já que cuidar exige tensão
emocional constante , atenção , atenção permanente e grandes
responsabilidades profissionais .
Em resumo : o trabalhador se envolve afetivamente com sus clientes ,
desgasta-se , não aguenta mais . desiste , entra em Burnout . As pesquisas
demonstram que esta síndrome ocorre em profissionais altamente motivados ,
que reagem ao estresse laboral , trabalhando além dos seus limites até que
entram em colapso . Burnout é o sentimento de discrepância entre o que
trabalhador dá ( o que ele investe no trabalho ) e aquilo que ele recebe (
reconhecimento de superiores e colegas e, no caso dos Educadores, dos
resultados no comportamento geral do aluno).
Em geral , a queixa inicial dos educadores é uma agitação desmedida (
ansiedade generalizada) insônia , irritação , alteração freqüente de humor ,
sensibilidade aflorada . Segue-se após um período , uma fadiga crônica (
cansaço para executar qualquer tarefa por mais simples que seja), lentidão no
raciocínio, dificuldade para tomar decisões . E finalmente, vem sobre ele um
sentimento de menos valia , a chamada “depressão “ , que é a sensação de
ausência de prazer de viver , de tristeza que afeta os pensamentos , os
sentimento . e o comportamento social , podendo ser breve ,moderado ou
grave .
Portanto , não há como falar do Teacher Burnout sem fazer referência
a estes dois transtornos a ele diretamente relacionados : A ansiedade
generalizada e a depressão . Essas patologias serão apresentadas a seguir .
1°) TAG (Transtorno da Ansiedade Generalizada)
Não há uma só pessoa que nunca tenha experimentado algum grau de
ansiedade , seja por estar entrando em uma sala de aula nos momentos que
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antecendem uma prova , ou por acordar no meio da noite com a certeza de se
ter ouvido algum ruído estranho, etc... No entanto, o que não é tão comum de
sentir são sensações como : tonteiras fortes , sudorese excessiva ,
musculatura enrijecida e quase paralisada , dormência ou formigamento ,
sensação de sufocamento ou asfixia .
Para o DSM IV (Manual de doenças da Associação Psiquiátrica Norte-
Americana,1993) o TAG aparece como :
1) ansiedade e preocupação excessivas ( expectativa apreensiva
com diversos acontecimentos ou atividades , tais como
desempenho escolar ou profissional , ocorrendo na maioria dos
dias , por pelo menos seis meses .
2) A pessoal considera difícil controlar a preocupação .
3) A ansiedade e a preocupação estão associadas com pelo menos
três dos seguintes seis sintomas :
a. inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da
pele ;
b. perturbação do sono ( dificuldades em conciliar ou manter
o sono , ou sono insatisfatório ou inquieto ;
c. fadiga fácil ;
d. dificuldade para concentrar-se ou sensação de “branco”
na mente .;
e. tensão muscular ;
f. irritabilidade
(...) (Barlow, D.M, 1999, p. 163)
2°) Depressão
De acordo com o manual diagnóstico e Estatístico de transtornos
mentais – Quarta edição ( DSM-IV) os sintomas da depressão são : humor
deprimido , interesse ou prazer diminuído nas atividades , distúrbios de apetite
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(ganho ou perda de peso ), distúrbio do sono (insônia ou hipersonia ) , uma
redução geral do nível de atividade , agitação ou ansiedade , fadiga ou perda
de energia , sentimentos de inutilidade ou culpa , confusão cognitiva e ideação
( Associação Psiquiátrica Americana , 1995)
Assim como ressalta Simone Neno Cavalcante (1997) existem
múltiplas influencias culturais que podem contribuir na depressão : alienação ,
estresse e crenças culturais em relação ao modo de se comportar .
Segundo ela , “descrever o comportamento depressivo de um individuo
é atentar para os padrões de interação que ele estabelece com o ambiente
social à sua volta” ( Cavalcante , S.N.,1997, p.10)
De acordo com a organização mundial de saúde , a depressão se
tornou, no ano de 1999, o mal mais comum entre as mulheres , superando o
câncer de mama e doenças cardíacas . Numa projeção alarmante, estima-se
que no ano de 2020 será a segunda moléstia que mais roubará anos de vida
útil da população em geral . Ficará atrás apenas das doenças do coração .
CAPÍTULO III
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE MENTAL DO
PROFESSOR
Burnout : um desafio ao desenvolvimento cognitivo deste
profissional
Pines , Aronson e Kafry (1981) correlacionam a fadiga emocional ,
física e mental , sentimentos de impotência e inutilidade , falta de entusiasmo
pelo trabalho , pela vida em geral e baixa auto estima a estados que combinam
com esta síndrome .
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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Na definição de maslach e Jackson (1981), encontramos o
esgotamento nervoso e despersonalização, onde o primeiro pode ser entendido
pela situação que trabalhadores sentem quando já não podem dar mais de si
mesmo afetivamente , é uma situação de esgotamento da energia dos recursos
emocionais próprios , uma experiência de estar emocionalmente esgotado ,
devido ao contato diário mantido com pessoas que hão de atender como objeto
de trabalho . A despersonalização pode ser definida como o desenvolvimento
de sentimentos e atitudes negativos e cinismo para as pessoas destinatárias
do trabalho . Estas pessoas são vistas por profissionais de forma
desumanizada , rotuladas negativamente , devido a um endurecimento afetivo
e os profissionais ainda os responsabilizam de seus problemas . Maslach e
Jackson (1981) afirmavam que Burnout estava estritamente ligado a
profissionais de saúde , que perdiam então , o interesse , empatia e o próprio
respeito por seus pacientes (alunos) .
A falta de realização pessoal no trabalho constitui-se como a tendência
desses profissionais a avaliar-se negativamente e , de forma especial , essa
avaliação negativa afeta a habilidade na realização do trabalho e a relação com
as pessoas que atendem . Os trabalhadores sentem-se descontentes consigo
mesmos e insatisfeitos com seus resultados no trabalho.
Amorim e Turbay (1998) , afirma que a síndrome de Burnout é uma
experiência subjetiva , que agrupa sentimentos e atitudes implicando
alterações , problemas e disfunções psicofisiologicas com conseqüências
nocivas para a pessoa e a organização , sendo que esta afeta diretamente a
qualidade de vida do indivíduo.Por isso, é necessário um estudo também
filosófico onde se explicita a natureza humana e , principalmente , as dinâmicas
interpessoais que possam interferir no desempenho e produtividade no trabalho
.
CAPÍTULO IV
CONCEITO DE TRABALHO E PRODUTIVIDADE
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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Qualidade de vida no trabalho e Saúde mental do trabalhador
A)Conceito de trabalho e produtividade : Caracteriza-se pelo esforço
planejado sobre a manipulação ou transformação da natureza , atingido-se os
mais diversos objetivos , freqüentemente reduzidos à busca da produtividade
eficaz . È obtido com o investimento de energia sobre atividades ou conjunto de
tarefas , que é a força de trabalho . Em nível pessoal , constitui uma das
condições determinantes para identidade e integração do individuo na
sociedade .
Para Marx (1988,v.I,p.22) trabalho é : “um processo de que participam
o homem e a natureza , processo em que o ser humano com sua própria ação ,
impulsiona , regula e controla seu intercâmbio material com a natureza “.
Entretanto, Marx(ib.) indica que quando o trabalhador , é a imensa a distância
histórica que medeia sua condição e a do homem primitivo com sua forma
ainda instintiva de trabalho. Ele não transforma apenas o material sobre o qual
opera: ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira , o
qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem que
subordinar sua vontade .
A ergonomia , ciência que trata do conjunto de interrelações , sob o
enfoque da adaptação e do desgaste do individuo e da máquina , aponta para
as falsas crenças a respeito do ritmo de trabalho , para a repetitividade de
tarefas para as atividades motoras , para previsões e controle das situações de
trabalho . O trabalho envolve demandas de necessidades individuais e
organizacionais em sintonia . Quando elas não são atendidas ,as vinculações
pessoas-empresa modificam-se e criam-se processos patogênicos de
adaptação , como o desligamento da empresa a perda de promoções ou o
isolamento na carreira profissional . Assim , quando não ocorre a sintonia nas
interrelações em nível grupal ou organizacional surgem conflitos .
Bleger (1984) considera que a ação individual das organizações
depende da estabilidade e da necessidade contínua de crítica e de
melhoramento . Para ele , a instituição é o meio pelo qual os seres humanos
Síndrome de Burnout – o mal laboral
20
podem enriquecer , empobrecer ou se esvaziar como seres humanos , o que
comumente se chama de adaptação .
A desumanização do trabalho , presente na produção em grande
escala que tem como característica marcante a mecanização e burocratização ,
tornam-se agentes estressantes porque atentam contra as necessidades
individuais de satisfação e realização entre outras . Estes aspectos tem sido
destacados por diferentes autores e estão presentes , independentemente do
sistema político dominante , seja ele modo de produção capitalista , socialista ,
ou misto . O filme de Chaplin , “ Tempos Modernos”, ilustra muito bem este
tema . embora freqüentemente se faça a correlação entre o ser humano e a
máquina , a verdade é que ele não é ! O trabalhador que é transformado em
“uma máquina de apertar parafusos” perde a noção do processo de produção
com um todo , tem o ritmo de trabalho fora do seu controle , perde o poder de
decisão sobre o seu trabalho . Assim , tem a sua auto-estima diminuída , seu
trabalho não é percebido como importante ou interessante , não vê que seu
esforço é socialmente significativo e não há reforço na sua identidade através
do trabalho . Não é difícil interpretar tudo isso como uma ameaça à dignidade
humana ,pois são justamente estas necessidades que devem ser satisfeitas no
local de trabalho .
Além destes fatores , outro autores citam os seguintes :liderança do
tipo autoritário , execução de tarefas sob pressão , falta de conhecimento no
processo de avaliação de desempenho e de promoção , carência de autoridade
e de orientação , excesso de trabalho e grau de interferência na vida particular
que este pode ter (Levy, op. Cit.) O que muitas instituições têm de desumano é
o seu próprio modelo de trabalho , um modelo que, diariamente ,
sistematicamente , violenta e restringe as reais capacidades de uma pessoa
dentro de uma sala de aula ( como no caso do professor ) , de um escritório ou
de uma fábrica . Muito provavelmente estas reais capacidades estão ligadas a
potência habilidades intelectuais e emocionais que sofrem constantes
negações e sanções a partir de interesses pessoais que , embora aplicadas em
nome da produtividade , pouco tem a ver com ela .
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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A American Management Association publicou uma pesquisa que
realizou com executivos , portanto de classe social diferente da do “apertador
de parafuso”, em que se mostrava quais eram as necessidades que as
pessoas procuravam satisfazer no trabalho . Surgiu o seguinte : recompensa
material , progresso na carreira , reconhecimento , status na comunidade ,
satisfação no trabalho , perceber o trabalho como algo significativo ,
tranqüilidade doméstica , preservação da saúde e segurança no trabalho
(Bauk,1985) .
O indivíduo tende a reagir, ou ajusta-se, melhor dizendo , basicamente
de duas maneiras quando suas necessidades não estão sendo satisfeitas
frente a estressores psicossociais , de acordo com Levy (1971) .
1-Ajuste Ativo :
-O individuo expressa o seu desejo de mudança na estrutura a que
está submetido;
-Tem participação em movimentos trabalhistas (organizados ou não) ;
-Afasta-se ou solicita transferência do serviço voluntariamente;
-Frustração resultante de um significante conteúdo inadequado às
potencialidades e ás necessidades do indivíduo ;
-Angustia: resultante de um conflito intra-psíquico, isto é , de uma
contradição entre dois impulsos inconciliáveis ( duas pulsões , dois
desejos )
-medo: está presente em todos os tipos de ocupação profissionais ,
principalmente aquelas que estão expostas a riscos relacionados à
integridade física .
-Fadiga: resultante da sobrecarga de trabalho ;
-Insatisfação: resultante do confronto com a esfera das aspirações,
motivação ou desejos.
2-Ajuste passivo :
-É o mais comum e conduz à alienação, sentido sociológico do termo ;
-O trabalho passa a ser sentido como desinteressante e não
envolvente, que passa a ser instrumentalizado de forma que as
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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satisfações só são encontradas fora do local de trabalho ,em diferentes
maneiras de consumo ;
-O individuo passa a depreciar o trabalho e senti-lo como um peso e
não como uma fonte de satisfação . O objetivo torna-se apenas a
remuneração de condições físicas e higiênicas ;
-Absenteísmo ;
-maior predisposição à doenças , pela falta de coerência social do
sistema em que o individuo está inserido e que atua como um agente
estressor psicossocial . Ou seja, a ocorrência de manifestações de
doenças em um meio de trabalho é um índice importante para se
verificar o nível de saúde deste meio , agora não somente em termos
higiênico-sanitários , mas também em termos de saúde social , que
pode comprometer o individuo inclusive biologicamente . A propósito ,
para o Organização Mundial de Saúde (OMS) , saúde representa um
completo bem-estar físico , mental e social , e não apenas ausência de
doença .
Observa-se ainda que a saúde não é um produto espontâneo da
natureza ; assim como a doença , é uma construção humana .
As questões da promoção da saúde não decorrem somente de fatores
meramente individuais , mas também de manifestações em dimensões
coletivas , sobre o que propomos esta reflexão , especialmente sobre a cultura
das relações de trabalho .
B)Qualidade de Vida no Trabalho :
A qualidade de trabalho pode ser considerada como uma forma de se
pensar a respeito de pessoas , trabalho e organização , de modo global e
abrangente .
É possível pensar que existe Qualidade de Vida no trabalho quando os
membros de uma organização são capazes de satisfazer necessidades
pessoais importantes através de sua vivência na mesma , o que engloba ,
portanto, a preocupação com o efeito do trabalho nas pessoa ,com a eficácia
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da organização e com a idéia da participação dos trabalhadores na solução de
problemas e tomadas de decisões .
Fica claro a importância do bem-estar e a saúde do individuo no
trabalho , pois é no trabalho que passa-se a maior parte do tempo . A qualidade
de vida está diretamente relacionada com as necessidade e expectativas
humanas e com a respectiva satisfação desta . corresponde ao bem-estar do
individuo , no ambiente de trabalho , expresso através de relações saudáveis e
harmônicas (Kanaane,1994)
Atualmente o estresse não é visto apenas como prejudicial ao
trabalhador , mas principalmente à organização que despendem altos custos
em absenteísmo , acidentes , doenças , conflitos , abandono e desinteresse ,
verificado em todos os níveis de trabalho (Moreno-Jimenez e Penâcoba
Puente, 1995)
A qualidade de vida no trabalho é uma compreensão abrangente e
comprometida das condições de vida no trabalho, que inclui aspectos de bem-
estar, garantia de saúde e segurança física, mental e social, e capacitação para
realizar tarefas com segurança e bom uso de energia pessoal. Não depende só
de uma parte , ou seja, depende simultaneamente do individuo e da
organização , e é este o desafio que abrange o indivíduo e a organização .
Acrescentando que, ao se tomar medidas, sejam de prevenção ou
tratamento, é preciso conhecer os conceitos de tais estados nas essência ,
para que não ocorram distorções como comumente acontece , referindo-se ao
Burnout como um sinônimo de estresse , quando na verdade é uma resposta
de um estresse crônico . É, no entanto, relevante associar esse termos
relacionando-os com a prática dentro do contexto organizacional.
O trabalho forma a identidade do indivíduo, a profissão do individuo
caracteriza o seu ser , o individuo é a sua profissão (Jacques , 1996) afirma
que o s diferentes espaços de trabalho oferecidos constituem-se em
oportunidades diferenciadas para a aquisição de atributos qualificados da
identidade de trabalhador .
Kanaane (1994) , nos lembra que mesmo o trabalho que motiva e
gratifica , quando realizado com afinco , exige esforço, capacidade de
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concentração , de raciocínio , implica desgaste físico e/ou mental , atuando na
qualidade de vida .
Silva e Marchi (1997) afirmam que a relação entre saúde e Qualidade
de Vida parece óbvia, o próprio senso comum nos diz que ter saúde é a
primeira e essencial condição para que alguém possa considerar sua vida
como de boa qualidade. Mas o que parece óbvio e claro nem sempre o é , na
realidade . Tanto a concepção de saúde , como a de qualidade de vida
comportam discussões e interpretações diversas .
Portanto, qualidade de vida é um conceito amplo e sendo assim ,deve
englobar aspectos subjetivos (sentimentos, percepção,bem-estar e satisfação )
e objetivos (recursos materiais disponíveis , salário e carreira).
Especificamente, tratando do contexto da saúde na organização , é possível
apresentar alguns indicadores como : satisfação , auto-realização, motivação ,
desempenho, ou ainda, analisar a ausência da qualidade de vida, como sugere
a existência de fenômenos, entre eles , Burnout .
As preocupações sobre a saúde do trabalhador vêem desde a época
da revolução industrial , a ponto de Virchow afirmar : “o proletariado, em grau
sempre crescente, tornou-se a vítima de doença e epidemias : Seus filhos ou
morriam prematuramente ou se tornavam incapacitados” . Nessa mesma
época, surgem esforços na tentativa de regulamentar a higiene das condições
de trabalho mas note-se que as preocupações ainda enfatizam um certo
modelo “ecológico”, ou seja, as condições higiênico-sanitárias e nutricionais . O
individuo adoeceria se o organismo ficasse exposto a determinados agentes
físicos , químicos e biológicos na produção das doenças ditas “ocupacionais”.
Bem menos tranqüila é a aceitação , mesmo em países economicamente mais
avançados , do fato de ser o trabalho enquanto forma de organização , e muito
menos em razão de sua própria natureza , fator morbigênico . As enfermidades
– e isso ficará bastante evidentes naquelas que decorrem do processo de
estresse enquanto fenômeno humano – tem componentes sócio-históricos e
psicológicos que não podem ser compreendidos sem ajuda de métodos
adequados , inclusive para monitorar trabalhos e pesquisas com a finalidade de
previnir .
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C)Saúde mental do trabalhador :
... Em relação ao trabalho,
“saúde mental é um processo onde as agressões dirigidas à mente
pela vida laboral são confrontadas pelas fontes de vitalidade e saúde
representadas pelas resistências de natureza múltipla, individuais e coletivas ,
que funcionam como preservadoras da identidade, dos valores e da dignidade
dos trabalhadores “...
( Seligmam Silva,1986)
Analisando o processo saúde –doença “sob uma dimensão psicológica
, percebe-se que o trabalho provoca diferentes graus de motivação e satisfação
, principalmente quanto à forma e ao meio no qual se desempenha a tarefa “.
(Kanaane,1994)
Para Codo, Sampaio e Hitomi (1993) a organização do trabalho exerce,
sobre o homem , uma ação específica , cujo impacto é o aparelho psíquico .
Em certas condições ,emerge, um sofrimento que pode ser atribuído ao choque
entre uma história individual , portadora de projeto , de esperanças e de
desejos , e uma organização do trabalho que os ignora . Esse sofrimento , de
natureza mental ,começa quando o homem , no trabalho , já não pode fazer
nenhuma modificação na sua tarefa no sentido de torna-la mais conforme às
suas necessidades fisiológicas e a seus desejos psicológicos , isto é , quando a
relação homem-trabalho é bloqueada.
Saúde e doenças não são fenômenos isolados que possam ser
definidos em si mesmos , pois estão profundamente vinculados ao contexto
sócio-economico-cultural, tanto em suas produções como na percepção do
saber que investiga e propôe soluções . Todas as concepções de doença
pressupõem uma norma objetiva que permita determinar um modelo referencial
. isto fica superlativamente evidente quando a questão é doença mental .
A satisfação do trabalho ocupa uma posição fundamental na
problemática da relação saúde –trabalho. Muitas vezes , negligenciada ou
desconhecida, está na origem não só de numerosos sofrimentos somáticos de
determinismo direto, mas também de outras doenças do corpo mediatizadas
por algo que atinge o aparelho mental.
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Friedmann (1983,p.168) afirma que quando não há possibilidade de
afirmação da personalidade no trabalho ocorrem processos de depressão e
tensão nervosa permanente . E acrescenta:”...muitas pessoas que se sentem
insatisfeitas hesitam, sob a pressão do meio , em confessa-lo a si próprios e
menos ainda ao seu círculo de relações (...) sentimento de estar insatisfeito no
trabalho , e mesmo infeliz, pode ser profundamente reprimido , como é no
casamento (...)
A vivência depressiva condensa de alguma maneira os sentimentos de
indignidade de inutilidade e de desqualificação, ampliando-os . Esta depressão
é dominada pelo cansaço . Cansaço que se origina não só dos esforços
musculares , mas também dos psicosensoriais . E o sofrimento do individuo
traz conseqüências sobre o seu estado de saúde e igualmente sobre o seu
desempenho ,pois existem alterações e/ou disfunções pessoais e
organizacionais. Esse sofrimento advém de sentimentos gerados por diversos
aspectos e que atingem a organizações em todo o seu contexto . Os
sentimentos como geradores de disfunção são inúmeros , como :
*Sentimento de indignidade: quando o que se experimenta é um
sentimento de vergonha de ser robotizados, de não ser mais que um
apêndice da máquina , de não ter mais capacitação
cognitiva/intelectual.
*Sentimento de desqualificação : quando o indivíduo é investido de um
sentimento de menos-valia e compromete não somente o seu
desempenho pessoal , bem como faz com que essa atitude repercuta
no próprio ambiente de trabalho.
*Sentimento de inutilidade : quando o sujeito se vê desqualificado, não
se vê sentido naquilo que está fazendo e tampouco consegue se situar
no corpo da organização a qual está ligado
A multiplicidade de papéis desempenhado pelo docente aliado a
desafios que a política educacional impõem e a discrepância entre esta e a
realidade que lê vive são considerados fatores estressores .
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Então é possível sobreviver à perda de energia na função docente ?
Poderá a Terapia Cognitivo Comportamental atender de modos eficaz esta
demanda ?
CAPÍTULO V
TRATAMENTO : ABORDAGEM COGNITIVO -
COMPORTAMENTAL
Tendo sido apresentado a síndrome de Teacher Burnout, suas
características, sintomas e outros transtornos a ela associados, bem como
após a exploração de possíveis fatores que expõem o professor à
manifestação desta síndrome, cabe agora mencionar como seria o tratamento
de tal patologia, adotando, para isso, uma abordagem cognitivo-
comportamental.
Em geral, três tipos diferentes de cenários são apropriados para o
tratamento terapêutico do paciente e nele são utilizadas diversas técnicas,
como por exemplo: o psicodrama (inclusive vem indicação de tarefas para o
paciente exercitar em casa); a reestruturação cognitiva, etc. (Barlow, D.H,
1999, p.20)
O segundo cenário é justamente o ambiente natural. A facilitação do
terapeuta é extremamente útil para pacientes que carecem de um grupo social
para apoiar as indicações de exposição auto-dirigida.
O terceiro cenário é a internação hospitalar . Isso é realizado somente
quando a pessoa está gravemente incapacitada .
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Em relação às técnicas e exercício utilizados na clínica , Barlow (1995)
destaca ;
1) Reestruturação Cognitiva
...” o tratamento cognitivo enfoca a correção da má avaliação de
sensações corporais como ameaçadores . As estratégias cognitivas
são conduzidas conjuntamente às técnicas comportamentais , embora
se considere que o mecanismo efetivo de mudança se situe no domínio
do cognitivo.”
(Barlow, D.H,op .cit)
2)Reensinando a respirar
Vários pesquisadores examinaram a eficácia da reeducação da
respiração , dado que 50 a 60% dos indivíduos que apresentam
Burnout, descrevem sintomas hiperventilatórios , considerados como
alterações respiratórias induzidas por estresse , que provocam medo
porque são percebidos como amedrontadores.
3)Relaxamento
...”O relaxamento aplicado envolve um treinamento em relaxamento
muscular progressivo (RPM) até que haja uma perícia no uso de
procedimentos de controle de estímulos, ponto em que a habilidade de
relaxamento é aplicada à prática dos itens de uma hierarquia de
atividades provocadoras de ansiedade”.
(Barlow, D.H.,op , cit.)
4)Exposições Maciça x Espaçada
...”O objetivo da exposição a estimulo fóbicos e estressores é romper
ou enfraquecer as associações entre as informações corporais
específicas e as reações de ansiedade generelizada que ocorrem
específicas e as reações de ansiedade generalizada que ocorrem no
Burnout. Em sua forma mais intensiva , a terapia de exposições pode
ser conduzida em 3 a 4 horas por dia , 5 dias por semana .
Sessões contínuas e longas são geralmente consideradas mais
eficazes do que sessões interrompidas ou mais curtas.”
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(Chaplin E. Levine,1981; Marshall,1985;
stern E. Marks, 1973; M. Barlow, D.H,1999,p.33)
5)Questionários
A administração de uma variedade de questionário de auto-retrato é
uma parte útil do processo terapêutico , tanto em termos de auxílio no processo
diagnóstico inicial como para avaliação periódica durante o curso do tratamento
, para estimar o alcance do progresso do cliente.
O objetivo dos questionários é avaliar a variação dos aspectos-chaves
e associados dos transtornos da ansiedade e do humor de acordo com o DSM
III-R (por exemplo:sensibilidade à ansiedade , ansiedade social , absessões ,
compulsões , níveis atuais de depressão ). ”
(Barlow, D.H,op.cit)
O objetivo da terapia cognitivo comportamental é conscientizar o
individuo sobre o que está acontecendo com ele, ajuda-lo a perceber que as
sensações desagradáveis que está vivenciando não a levarão à morte e que
por algumas vezes , elas podem ser monitorados e controladas. Enfatiza a
importância da participação efetiva do indivíduo, ao realizar as tarefas
propostas pelo terapeuta a fim de obter-se um resultado satisfatório no menor
período de tempo a fim de reestruturar suas habilidade intelectuais , à
aprendizagem e auto-conhecimento através de técnicas corporais como
mostramos anteriormente .
Pesquisas realizadas por Michelson , 1990 e Welko Witz, 1991,
mostram eficácia em torno de 80 % da terapia Cognitivo comportamental em
casos que envolvem o estresse ( como no Burnout), levando em conta que o
tratamento seja feito por terapeuta experiente .
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Assim sendo , consideramos que a Síndrome de Teacher Burnout é
eficazmente tratada pela terapia Cognitivo Comportamental .
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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CONCLUSÃO
A singularidade do Teacher Burnout é uma área que apresenta
numerosos estudos , com variadas pesquisas em andamento. À medida que
essas pesquisas vão crescendo , ocorrem avanços em relação à sua
ocorrência , incidência e tratamento .
O Teacher Burnout tem aparecido com regular freqüência e já é
considerado um problema sério da saúde . As pessoas que sofrem desse mal
costumam ir a vários médicos e receber diferentes diagnóstico antes de ser
detectado o Burnout e após uma quantidade exagerada de exames
complementares , recebem muitas vezes , o patético diagnóstico do “nada”, o
que aumenta ainda mais seu desespero.
Esta síndrome incapacita a pessoa , mas pode ser devidamente tratado
. Ela atinge profissionais da Educação (docentes) e de acordo com pesquisas
realizados , extremamente produtivos , exigentes consigo mesmos , tendem à
preocupação exagerada , são perfeccionistas , controladores , etc...
Dentro desse quadro podemos vislumbrar o professor na atualidade .
Este , por ocupar responsabilidades excessivos , trabalhando muitas vezes em
diversas instituições , se deslocando para longa distância , acabam tendo os
sintomas da vida moderna : estafa, estresse, cansaço exagerado ou outro
nome que resolvam dar. Essa carga de energia excessiva pode contribuir para
a elevação da atividade de determinadas regiões do cérebro , desencadeando
assim , um desequilíbrio bioquímico . Isso por sua vez , pode causar patologias
, dentre elas , a Síndrome de Teacher Burnout.
O tratamento para o Teacher Burnout objetiva o restabelecimento do
equilíbrio geral ( orgânico e psicológico)da pessoa acometida pelo Burnout.
Esta síndrome não é “loucura”, é uma sinal de que algo vai mal e
diante disso a pessoa (o professor) deve buscar descobrir, através de técnicas
terapêuticas, com um profissional experiente a origem do mal para trata-lo .
Propusemos , então , a terapia cognitivo-comportamental como meio eficiente
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de se tratar o Teacher Burnout , ajudando o docente a se reestruturar nos
aspectos social , psicológico e físico .
Portanto, esse trabalho foi de encontro ao objetivo proposto, pois
tentou levantar a hipótese apresentada no capitulo III sobre a possibilidade de
o professor sobreviver à perda de energia na função docente . junto a isso ,
mostrou também uma possível saída para a resolução desse problema ,
apresentando a indicação terapêutica da Terapia Cognitivo-comportamental
como sendo esta eficaz no tratamento do Teacher- Burnout.
Síndrome de Burnout – o mal laboral
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ANEXOS
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Índice de anexos
Anexo I – Condições de Trabalho . NÉRICI, G. Imideo , Psycologist Press,
1986 .
Anexo II- Teacher Burnout : É possivel sobreviver à perda de energia na
função Docente ? Nice da Silva – Revista Vencer . N°42 / março 2003. p 23-24.
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Anexo I
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Anexo II
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BARLOW, D. H.& CENY,J.A. Tratamento Psicológico do pânico. Porto Alegre :
Artes medicas sul,1999.
BARLOW, D. H.,(org). Manual Clínico dos transtornos Psicológicos. Porto
Alegre: Artes medicas sul,1999.
Associação Psiquiátrica americana. Manual Diagnóstico e Estatíco de
transtorno Mentais DSM-IV. Porto Alegre: Artes Medicas sul, 1995. trad: Daipe
Batista .
CHAPLIN,E.W. & Levine, B. A . The effects of total exposure duratin aud
interrupted versus contiued exposure in flooding therapy Behavior Therapy
12,360-368.,1981.
MARSHALL ,W.L. The effects of variable exposure duratin and interrupted in
flooding therapy. Behavior Therapy ,16,117-135. ,1985.
FILHO,J.M. e col. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes médicas sul, 1992.
MATERIAL RETIRADO DA INTERNET :
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Codo, W; Sampaio, J.;Hitomi,A.(1995) Sofrimento psíquico nas organizações :
saúde mental e trabalho. Petrópolis : Vozes.
Peiró, J. M. (1986) Psicologia da la organización . Madrid
Gaudênio.P (1998). Síndrome do Pânico.
KANAANE, R. (1994). Comportamento humano nas organizações : o homem
rumo ao Século XXI. São Paulo : Atlas .
MASLACH, C.; Jackson, S.E. (1981) Maslach Burnout Inventory . Palo Alto:
Consulting Psycologist Press .
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
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Conceito Final:
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Programação Cultural