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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Recurso no Processo Civil: Recurso de Apelação Autor Bruno do Amaral Gama Orientador Prof. Dr. Jean Alves Pereira de Almeida Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Recurso no Processo Civil: Recurso de Apelação

Autor

Bruno do Amaral Gama

Orientador

Prof. Dr. Jean Alves Pereira de Almeida

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Recurso no Processo Civil: Recurso de Apelação

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Pós-

Graduação “Lato Senso” em Direito Processual Civil

Por: Bruno do Amaral Gama

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ser meu

sustento, me fortalecendo por toda a

jornada.

À minha mãe que é um exemplo de

mulher e que sempre investiu e

incentivou a minha vida para que hoje

mais essa etapa pudesse ser

concluída.

Aos amigos, que sempre tornaram os

momentos difíceis mais toleráveis.

A todos vocês meu sincero

agradecimento.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho monográfico a minha

mulher, Aline Pereira Silva Gama, mulher

da minha vida, que sempre esteve ao

meu lado nos momentos de incerteza e

dificuldade, me apoiando e ajudando com

todas as forças.

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RESUMO

O presente Trabalho busca entender a sistemática processual

dos Recursos Cíveis, refletindo sobre o seu nascimento e contexto histórico,

analisando o sistema Recursal brasileiro com finalidade de, sucintamente,

conceituar os tipos de Recursos existentes e interposição para cada tipo de

decisão judicial. Em seguida, trataremos de forma mais ampla sobre o recurso

de Apelação, analisando sua interposição e efeitos, discorrendo sobre a forma

e poder deste recurso de modificar o julgado.

METODOLOGIA

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O presente trabalho teve como base de desenvolvimento a

pesquisa bibliográfica. Foram consultados periódicos acadêmicos, livros,

monografias, artigos e publicações eletrônicas relacionados ao tema em

estudo.

SUMÁRIO

Introdução 9

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7

Capítulo I

1. Histórico dos Recursos 10

1.1. Conceito de Recurso 12

Capítulo II

2. Pressupostos Recursais 14

2.1.Subjetivos 15

2.2.Objetivos 15

2.2.1. Recorribilidade da Decisão 15

2.2.2.1. Sentença 15

2.2.3.2. Decisão Interlocutória 17

2.2.4.3. Despachos 18

2.2.2. Tempestividade 19

2.2.3. Singularidade 19

2.2.4. Adequação 20

2.2.5. Preparo 21

2.2.6. Motivação e Forma 22

Capítulo III

3. Sistema Recursal Brasileiro 24

3.1. Recursos Existentes 26

Capítulo IV

4.1. O Recurso de Apelação 30

Conclusão 40

Bibliografia 41

INTRODUÇÃO

O Processo como a via judicial adequada para que haja uma

prestação jurisdicional, dirimindo o conflito de interesses apresentados pelos

litigantes, devolvendo a paz social à sociedade, engloba uma série de atos

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jurídicos nele produzidos a fim de alcançar sua efetividade. Dentre os atos nele

produzidos, estão os atos do juiz, que nos termos da Lei Processual consistem

em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Cada um desses atos

praticados pelo magistrado gera um efeito imediato no processo e podem gerar

inclusive efeitos imediatos na esfera social.

A necessidade de se estudar e realizar uma análise mais concisa

sobre a função do Recurso no Processo Civil, em especial o Recurso de

Apelação, é de suma importância, pois conseguiremos identificar que há um

sistema próprio para revisão dos atos judiciais, em exclusivo àqueles

praticados pelo juiz. Tal revisão nasce da necessidade de uma prestação

jurisdicional justa, assim sendo, que se adeque ao melhor entendimento

jurídico sobre a matéria levada ao judiciário para dirimir, e da busca pela

obtenção de justiça.

Os atos do juiz, do ponto de vista mais humanizado, podem ser

visto como sujeitos a falhas, ou até mesmo, que possam ser produzidos ou

exarados baseados em algum entendimento diverso do Legal, sendo, portanto

sujeitos à uma revisão e posterior modificação por uma instância

hierarquicamente superior. Portanto, o estudo do Recurso no processo Civil,

nos levará a entender melhor tal instituto, e sua importância para o meio

jurídico.

Neste trabalho, veremos a origem dos Recursos e analisaremos o

Sistema Brasileiro em geral, percebendo a particularidade de cada recurso

existente, buscando entender de forma ampla a necessidade de tal instituto.

Por fim, analisaremos o Recurso de Apelação, sendo este um

recurso específico por atacar as decisões injustas e/ou ilegais proferidas pelo

juiz singular, conseguindo com isso um melhor entendimento sobre mecanismo

em favor dos que se sentem prejudicados pelo julgado.

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Capítulo I

1. Histórico dos Recursos

Quando falamos em Recurso, inicialmente vislumbramos um

mecanismo pelo qual uma decisão considerada contrária aos interesses

pudesse ser modificada, aproximando-se daquilo que se deseja. Entender

quando esse mecanismo surgiu pode nos dar uma compreensão mais clara

sobre o assunto.

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O professor Leonardo Greco, ao discorrer sobre a Origem História

dos Recursos, citando Alcides de Mendonça Lima, esclarece que os Recursos

principiaram muito antes do império Romano, que veio a contribuir para sua

solidificação no processo. Continua destacando ainda com base nos

ensinamentos daquele ilustre mestre que, a irresignação em acatar de plano

uma decisão faz parte da natureza humana. Destacamos trecho amplamente

elucidativo do trabalho do professor Leonardo Greco:

“A noção de recurso, ou seja, de um remédio que possibilite o reexame de decisões judiciais desfavoráveis, nasceu junto com a racionalidade humana, pois, quando alguém considerava uma decisão injusta, procurava revê-la. Muito antes do surgimento de institutos, como a appellatio romana, que moldaram os recursos que atualmente conhecemos, a Antiguidade Clássica conheceu inúmeros outros remédios que, ainda que não reformassem ou anulassem as decisões judiciais, possibilitavam ao vencido subtrair-se dos seus efeitos. Entre os estudiosos do Processo Civil, prepondera a opinião daqueles que consideram o recurso um direito fundamental inerente à natureza humana. Alcides de Mendonça Lima, por exemplo, assevera que a idéia de recurso deve ter nascido com o próprio homem, quando alguém, pela primeira vez, se sentiu vítima de uma injustiça perpetrada pelo julgador ao qual submeteu a sua causa. Sua origem se perde nas épocas mais remotas, no Antigo Testamento, na Grécia e no Egito. As fontes históricas serviriam para demonstrar que a idéia de recurso se acha arraigada no espírito humano, "como uma tendência inata e irresistível, como uma decorrência lógica do próprio sentimento de salvaguarda a um direito já ameaçado ou violado em uma decisão". A circunstância de ter sido acolhido em todas as épocas e por todos os povos permite considerá-lo "como inerente à própria personalidade humana". (...) No Direito romano primitivo, não existiam propriamente recursos, porque as decisões judiciais eram proferidas por juízes privados. Era a chamada ordo judiciorum privatorum. O caráter tipicamente privado do processo em instância única na sociedade romana primitiva rejeitava a idéia de recurso. Havia remédios ou ações autônomas contra a sentença ou contra decretos dos magistrados, de caráter eminentemente inibitório (infitiatio iudicati, revocatio in duplum, restitutio in

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integrum, intercessio), mas não propriamente recursos como os conhecemos hoje, que substituem uma decisão judicial por outra.”1

Ainda nas lições do professor Leonardo Greco, podemos

perceber que os Recursos sugiram como uma tentativa do Império Romano

em assegurar o cumprimento de suas leis, bem como proporcionar às nações

subjugadas um tratamento diferenciado, que levava a crer serem as leis

romanas superiores as outras. Destacamos:

“Quando Roma se tornou um Império, pouco antes da Era Cristã, nasceram os primeiros recursos de que a literatura processual tem conhecimento. Isso porque o Imperador precisava ter instrumentos para assegurar o primado de suas leis e de seu poder político sobre toda a extensão territorial que compunha seu Império. Era através dos recursos que se podia controlar a aplicação das leis em todos os recantos do Império; assim, a violação àquelas deveria ser remediada pelo provimento dos recursos dirigidos aos prepostos do Imperador ou, em última instância, a ele próprio. O sistema recursal, além de ter nascido para assegurar o poder político do Império Romano, possuía outra função: fixar nos povos conquistados a idéia de que a dominação romana era positiva, na medida em que, descontentes com o julgamento proferido pelas justiças locais, eles poderiam dirigir-se ao juiz romano por meio dos recursos. Procurava-se, noutras palavras, vender a idéia de que a autoridade romana fazia justiça melhor do que a dos povos conquistados.”2

__________________________ 1. GRECO, Leonardo. REDP. V edição. 2010.UERJ, p. 6-7, apud, LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1965, p.1, 1-4 e 127-129. 2. GRECO, Leonardo. REDP. V edição. 2010.UERJ, p. 6-7

Podemos com isso entender que a origem dos Recursos Cíveis

remonta os primórdios, fazendo parte da essência do homem, sendo agregado

às leis romanas, evoluindo ao sistema Recursal que hoje conhecemos.

1.1. Conceito de Recurso

O Conceito de Recurso, segundo o professor Ovídio Baptista, é:

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“Recurso, em direito processual, é o procedimento através do qual a parte, ou quem esteja legitimado a intervir na causa, provoca o reexa-me das decisões judiciais, a fim de que elas sejam invalidadas ou reformadas pelo próprio magistrado que as proferiu ou por algum órgão de jurisdição superior. Daí, desta ideia de reexame, é que se explica o vocábulo recurso, originário do verbo recursarey que em latim significa correr para trás ou correr para o lugar de onde se veio (re + cursus). Sendo o processo um progredir ordenado no sentido de obter-se com a sentença a prestação da tutela jurisdicional que se busca, o recurso corresponderá sempre a um retorno (um recursus) no sentido de refluxo sobre o próprio percurso do processo, a partir daquilo que se decidiu para trás, a fim de que se reexamine a legitimidade e os próprios fundamentos da decisão impugnada.” 3

Já o professor Humberto Theodoro Junior, é mais abrangente

quanto à etimologia da palavra recurso, fazendo análise mais detalhista sobre

o tema, inclusive citando o professor Amaral Santos, vejamos:

“Em linguagem jurídica a palavra recurso é usualmente empregada num sentido lato para denominar "todo meio empregado pela parte litigante a fim de defender o seu direito", como, por . exemplo, a ação, a contestação, a exceção, a reconvenção, as medidas preventivas .1 Nesse sentido diz-se que a parte deve recorrer às vias ordinárias, ou deve recorrer ao processo cautelar, ou deve recorrer à ação reivindicatória etc. Mas, além do sentido lato, recurso em direito processual tem uma acepção técnica e restrita, podendo ser definido como o meio ou remédio impugnativo apto para provocar, dentro da

__________________________ 3. Silva, OVÍDIO A. BAPTISTA DA. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1, 6ª Ed. RT,2000. p. 405

relação processual ainda em curso, o reexame de decisão judicial, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior, visando a obter-lhe a reforma, invalidação, esclarecimento ou integração.2”4

O Desembargador Alexandre Freitas Câmara, defende o

posicionamento de que “...o recurso é, antes de mais nada, um remédio

voluntário. Significa isto dizer que a interposição do recurso é um ato de

vontade. O Recurso é uma manifestação de insatisfação. Recorre contra uma

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decisão judicial aquele que vê seus interesses contrariados pelo provimento.”

(CÂMARA, 2008, p.49)

Tendo em vista os pontos de vistas expressados pelos citados

doutrinadores, podemos concluir que o Recurso é a via processual adequada

para que uma decisão contraria aos interesses do recorrente ou que lhe

acarrete algum prejuízo, proferida por autoridade competente, seja revista e

modificada por esta, ou por uma hierarquicamente superior.

__________________________

4. JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Volume I. Editora Forense, 2005. p.

600

Capítulo II

2. Pressupostos Recursais

Os recursos, como a própria ação, estão sujeitos a um duplo

Juízo, ou seja, um Juízo de admissibilidade e um Juízo de mérito.

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No Juízo de admissibilidade estão situados os pressupostos

recursais, que são análogos às condições da ação e aos pressupostos

processuais. O Juízo de admissibilidade positivo conduz ao conhecimento do

recurso, ou seja, estão presentes os pressupostos processuais. O Juízo de

admissibilidade negativo não conduz ao conhecimento do recurso, por falta de

um ou mais pressupostos processuais.

No Juízo de mérito, haverá a apreciação da pretensão recursal,

podendo ocorrer o provimento ou o improvimento do recurso.

Neste sentido, assevera o Des. Alexandre Freitas Câmara:

“Assim como as “condições dos recursos”, meras projeções

das “condições da ação”, os pressupostos recursais nada mais

são do que a aplicação nesta sede dos pressupostos

processuais. Busca-se, pois, nesta sede, a análise do órgão ad

quem investido de jurisdição, das partes com capacidade

processual nos recursos e da regularidade formal do recurso,

projeções em grau de recurso do juízo investido de jurisdição,

das partes capazes e da demanda regularmente formulada.” 5

__________________________

5. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 16ª Edição. Volume II. Ed. Lumen Iuris, 2008. p. 66

2.1.Subjetivos

Nos ensinamentos de Humberto Theodoro Júnior, os

pressupostos Subjetivos são requisitos que dizem respeito às pessoas

legitimadas para recorrer (JUNIOR, 2005. p.609).

Assim, oportuno seria dizer que os pressupostos subjetivos são:

interesse processual e legitimidade.

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2.2.Objetivos

Ainda com base nos Ensinamentos de Humberto Theodoro

Junior, temos que os pressupostos objetivos do recurso são: a) a

recorribilidade da decisão; b) a tempestividade do recurso; c) a singularidade

do recurso; d) a adequação do recurso; e) o preparo; f) a motivação; g) a

forma. (JUNIOR, 2005. p.609)

2.2.1. Recorribilidade da Decisão

Nosso Código de Processo Civil descreve no art. 162 os atos do

juiz, quais seja: sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Tais atos

poderão ser oponíveis através da interposição de recurso, salvo os despachos,

por força do que estabelece o art. 504 do Código de Processo Civil.

2.2.2.1. Sentença

Com base o conceito legal de sentença, expresso no art. 162, §

1º do Código de Processo Civil, criou-se o conceito de que a sentença era o

ato pelo qual o juiz poria fim ao processo. Tal conceito foi aderido por alguns

doutrinadores, dentre eles Ovídio Baptista:

“Sentença é o ato jurisdicional por excelência e consiste no provimento por meio do qual o juiz põe termo ao processo decidindo ou não o mérito da causa. Tendo em vista esta circunstância, subdividem-se as sentenças em terminativas - quando extinguem a relação processual sem decidir a respeito do mérito da causa - e definitivas - quando encerram a relação processual decidindo o mérito da causa.”6

O Desembargador Alexandre Freitas Câmara, por entender que a

redação legal era falha, uma vez que a sentença, nunca pôs termo ao

processo, o qual só se extingue quando da formação da coisa julgada formal,

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conceituou da seguinte forma: “Sentença é o ato pelo qual o juiz põe fim ao

seu ofício de julgar, resolvendo ou não o mérito da causa.” (CÂMARA, 2008,

p.233)

Os ensinamentos de Humberto Theodoro Júnior, também são de

grande valia, pois trazem um melhor conceito do que é a sentença, vejamos:

“Por outro lado, embora o Código considere a força de extinguir o processo como o traço caracterizador da sentença, na verdade a relação processual nunca se encerra com a simples prolação de uma sentença (basta lembrar a possibilidade de recurso e a devolução do conhecimento da causa a outro órgão jurisdicional, e, às vezes, com reabertura de oportunidade ao próprio juiz autor da sentença de proferir novo julgamento, como se dá nos embargos declaratórios). A extinção do processo, embora ligada à sentença, só ocorre, na realidade, quando se opera a coisa julgada formal, ou seja, quando o pronunciamento judicial se torna irrecorrível. O que, de ordinário, a sentença encerra é a atividade jurisdicional do órgão judicante perante o qual pendia a causa.”7

Comungando dos ensinamentos do professor Humberto

Theodoro Junior e Alexandre Freitas Câmara, conseguimos entender que a

sentença é o ato pelo qual o juiz põe fim a sua atividade de julgar.

__________________________

6. Silva, OVÍDIO A. BAPTISTA DA. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1, 6ª Ed. RT,2000. p. 405 7. JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Volume I. Editora Forense, 2005. p.

258

2.2.3.2. Decisão Interlocutória

As decisões interlocutórias são decisões que tomadas pelo juiz no

curso do processo que resolve uma questão incidente. No ensinamento do

professor Ovídio Baptista, fica claro a definição unânime quanto ao tema:

“Decisão interlocutória, ou simplesmente decisão, é todo ato realizado pelo juiz, no curso do processo, por meio do qual ele resolve alguma questão incidente. A ideia de decisões tomadas

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pelo juiz no curso do processo é uma consequência da própria concepção do processo como uma série temporal de atos entre si conjugados, visando a um resultado comum. Como a ideia de processo repele a possibilidade da instantaneidade, é natural que surjam nesse evoluir da relação processual, desde o ajuizamento da ação até a prolação da sentença final, inúmeras e variadas questões a exigir decisões a serem tomadas pelo magistrado. São exemplos de decisões interlocutórias: o provimento com que o juiz defere ou indefere a produção de determinada prova proposta por uma das partes; o que ordena a exibição de coisas ou documentos (art. 355); o que declara intempestiva a apresentação da resposta do réu (art. 297); o que declara inadmissível a reconvenção (art. 315); aquele por meio do qual o juiz se declara ou não competente para a causa (art. 311); assim como a mais importante decisão interlocutória, que é o denominado "despacho saneador"(art. 331).”8

O professor Humberto Theodoro também corrobora o

entendimento dispensado pelo professor Ovídio Baptista, de que as decisões

interlocutórias são as deliberações que solucionam questões incidentes no

curso do processo, distinguindo-as dos simples "despachos", dos quais o juiz

se serve quando apenas tem que dar andamento ao processo, em sua

trajetória normal rumo à sentença. (JUNIOR, 2005. p.256)

__________________________

8. Silva, OVÍDIO A. BAPTISTA DA. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1, 6ª Ed. RT,2000. p. 201

2.2.4.3. Despachos

Ainda, segundo o professor Ovídio Baptista, os despachos são

provimentos judiciais de simples impulso processual, por meio dos quais o juiz

provê a respeito do andamento do feito. (SILVA, 2000. p.201)

Destacamos alguns julgados do Tribunal de Justiça do Rio de

Janeiro, onde os despachos, que não são objeto de Recurso, foram atacados

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por Agravo de Instrumento, cujo provimento fora negado por afrontar ao art.

504 do Código de Processo Civil.

Seguem as Ementas dos julgados, verbis:

“AGRAVO LEGAL - DECISÃO IRRECORRÍVEL - Ausência de

requisito de admissibilidade que impede o exercício do juízo

de mérito recursal. A determinação de juntada do contrato de

alienação fiduciária registrado não tem conteúdo decisório.

Caracteriza-se como despacho de mero expediente, o que não

legitima a interposição de qualquer impugnação recursal.

Negado provimento ao recurso.”

(Disponível através de consulta em www.tjrj.jus.br, 030468-93.2010.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 2ª Ementa. DES. EDSON VASCONCELOS - Julgamento: 04/08/2010 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL) “AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERPOSIÇÃO CONTRA DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. INADMISSIBILIDADE MANIFESTA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. ARTIGO 557, CAPUT, DO CPC.O despacho que invoca o pronunciamento da parte sobre tema específico é irrecorrível, eis que o ato não possui conteúdo decisório e caracteriza iniciativa de mero expediente, a teor do que dispõe o artigo 504 da lei de ritos.” (Disponível através de consulta em www.tjrj.jus.br, 0024413-29.2010.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa. DES. ISMENIO PEREIRA DE CASTRO - Julgamento: 28/05/2010 - DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL)

2.2.2. Tempestividade

A tempestividade é a limitação processual de que cada recurso

deverá ser interposto junto ao órgão competente dentro do prazo previsto em

lei, sob pena de não recebimento.

O Desembargador Alexandre Freitas Câmara esclarece o

seguinte: O terceiro aspecto a ser considerado na análise de regularidade

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formal é o da tempestividade do recurso. A lei processual impõe prazos a

serem observados para a interposição de recursos. O decurso do prazo sem

que o recurso seja interposto implica preclusão temporal, com o conseqüente

transito em julgado do provimento judicial irrecorrido. (CÂMARA, 2008, p.67-

68)

2.2.3. Singularidade

O princípio da Singularidade dispõe sobre a interposição de um

único recurso por vez contra a decisão atacada. Oportunamente, destacamos

os ensinamentos do professor Humberto Theodoro Junior:

“Pelo princípio da unirrecorribilidade dá-se a impossibilidade da interposição simultânea de mais de um recurso. O Código anterior era expresso quanto a essa vedação (art. 809). O atual não o consagra explicitamente, mas "o princípio subsiste, implícito". (...) Na previsão de interposição simultânea de recurso extraordinário e de recurso especial contra o mesmo acórdão (art. 541), há apenas uma aparente quebra do princípio da unirrecorribilidade, haja vista que cada um deles ataca partes distintas do decisório impugnado. Primeiro será julgado o especial e, somente quando o acórdão do STJ não se tornar prejudicial para o extraordinário, é que o Último recurso subirá ao STF (art. 543, §1º).”9

__________________________

9. JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Volume I. Editora Forense, 2005. p.

613

A este princípio encontramos posicionamento do ilustre professor

Leonardo Greco, que de forma muito concisa delimita às exceções existentes,

vejamos:

“A primeira delas é a possibilidade de interposição simultânea ou sucessiva, contra a mesma decisão, de embargos de declaração e de algum outro recurso cabível. A segunda exceção é a possibilidade de interposição simultânea de recurso especial e de recurso extraordinário contra o mesmo

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acórdão, se este contiver, ao mesmo tempo, matéria relativa à vigência, aplicação ou interpretação de lei federal e matéria constitucional (CPC, art. 541). A terceira exceção é a interposição de embargos de divergência no Superior Tribunal de Justiça contra decisão de uma das turmas no julgamento do recurso especial (arts. 266 e 267 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça) e simultaneamente de recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal. Uma quarta exceção é a interposição de embargos infringentes e recurso especial ou extraordinário, conforme o caso, quando a decisão em grau de apelação ou de ação rescisória apresentar, ao mesmo tempo, uma parte unânime e outra não unânime. Até o advento da Lei 10.352/2001, que deu nova redação ao art. 498 do Código, os dois recursos eram interpostos simultaneamente. Desde então, primeiro devem ser interpostos os embargos infringentes contra a parte não unânime para o mesmo tribunal. Publicada a decisão destes, poderá o recorrente, em recurso especial para o STJ ou extraordinário para o STF, impugnar simultaneamente a parte unânime do primeiro acórdão e o acórdão nos embargos infringentes. De qualquer modo, a primeira decisão terá sido objeto de dois recursos, cada um deles atacando uma parte do julgado.”10

2.2.4. Adequação

O princípio da adequação estabelece em linhas gerais que há um

recurso próprio para cada espécie de decisão. Diz-se, por isso, que o recurso é

cabível, próprio ou adequado quando corresponda à previsão legal para a

espécie de decisão impugnada. (JUNIOR, 2005. p.613) __________________________ 10. GRECO, Leonardo. REDP. V edição. 2010.UERJ, p. 41

No mesmo sentido é o posicionamento do O Desembargador

Alexandre Freitas Câmara esclarece o seguinte:

“A presença do interesse–necessidade, porém, não exclui a exigência de verificação do interesse-adequação. Em outros termos, não basta, para que se caracterize o interessem em recorrer, que a interposição do recurso seja o único meio a disposição do legitimado a recorrer para que este possa alcançar situação mais favorável. É preciso ainda, para que o recurso possa ser admitido, que se tenha interposto o recurso

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adequado, ou seja, que se tenha interposto o recurso cabível contra o tipo de provimento impugnado.” 11

2.2.5. Preparo

O preparo consiste no recolhimento de custas ou taxa judiciária

exigida em determinado momento do processo. A exigência do preparo não

está disciplinada no Código de Processo Civil. As regras do preparo no âmbito

estadual estão reguladas nos chamados Regimentos de Custas. No âmbito

federal, na respectiva Lei da Organização Judiciária. Também estão reguladas

nos regimentos dos Tribunais.

O art. 511 do Código de Processo Civil exige que a prova do

preparo seja feita no ato da interposição do Recurso. Neste sentido,

destacamos os ensinamentos de Humberto Theodoro Junior:

“Consiste o preparo no pagamento, na época certa, das despesas processuais correspondentes ao processamento do recurso interposto, que compreenderão, além das custas (quando exigíveis), os gastos do porte de remessa e de retorno se se fizer necessário o deslocamento dos autos (art. 511, caput). A falta de preparo gera a deserção, que importa trancamento do recurso, presumindo a lei que o recorrel1te tenha desistido do respectivo julgamento (arts. 511, caput, 519, 527, I, e 545).”12

__________________________

11. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 16ª Edição. Volume II. Ed. Lumen Iuris, 2008. p.

63

12. JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Vl. I. Editora Forense, 2005. p. 613

O preparo é dispensado para o MP, a Fazenda Pública e para

outras pessoas que gozem de isenção legal.

Não sendo efetuado o preparo de maneira tempestiva e regular, o

recurso é denominado deserto. A deserção, em princípio, pode ser declarada

pelo Juízo a quo, quando esse é competente para receber o recurso.

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2.2.6. Motivação e Forma

Os últimos pressupostos objetivos dos Recursos, são tão

importantes quantos os outros. O Código de Processo Civil determina que

cada Recurso seja apresentado com sua devida fundamentação, ou seja, com

as razões que o motivam. Em tais razões o Recorrente deverá demonstrar os

pontos falhos, omissos ou ilegais da decisão recorrida.

A forma como o recurso é apresentado também é condição

elementar para que o mesmo seja recebido e apreciado pelo órgão. A exemplo

da Apelação, no art. 514 estabelece que a mesma deve ser apresentada por

petição. Assim, não cabe, a interposição do citado recurso por cota nos Autos

do processo, devendo ser o recurso apresentado na forma descrita na Lei.

Para corroborar o pensamento, transcrevemos os ensinamentos

de Humberto Theodoro Junior sobre o tema:

“Constitui, ainda, pressuposto do recurso a motivação, pois "recurso interposto sem motivação constitui pedido inepto". Daí estar expressa essa exigência no tocante à apelação (art. 514, lI), ao agravo de instrumento (art. 524, nos I e II), aos embargos de declaração (art. 536), recurso extraordinário e ao especial (art. 541, nº I1I), e implícita no que tange aos embargos infringentes (art. 531). Disse muito bem Seabra Fagundes que, se o recorrente não dá "as razões do pedido de novo julgamento, não se conhece do recurso por formulado sem um dos requisitos essenciais". É que sem explicitar os motivos da impugnação, o Tribunal não tem sobre o que decidir e a parte contrária não terá de que se defender. Por isso é que todo pedido, seja inicial seja recursal, é sempre apreciado, discutido e solucionado a partir da causa de pedir (isto é, de sua motivação). Finalmente, para ser admitido e conhecido, o recurso há de ser proposto sob a forma preconizada em lei. Se, por exemplo, se exige que o recurso seja formulado por petição, não é admissível sua interposição por termo nos autos, ou mediante simples cota no processo.”13

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23

__________________________

13. JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Vl. I. Editora Forense, 2005. p. 615

Capítulo III

3. Sistema Recursal Brasileiro

O instituto do Recurso, como podemos verificar, relaciona-se ao

princípio do duplo grau de jurisdição, ou seja, na possibilidade de submeter o

processo a exames por órgãos hierarquicamente superiores ao do prolatador

da decisão atacada, visando uma solução justa ao conflito de interesses.

Nosso Sistema Recursal discrimina de forma taxativa os

Recursos Cabíveis no art. 496 do Código de Processo Civil, sendo eles:

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“Art. 496. São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação; II - agravo; III - embargos infringentes; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; Vl - recurso especial; Vll - recurso extraordinário; VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.”

É necessário classificarmos os Recursos para termos uma noção

geral de aplicabilidade de cada medida e seus efeitos. Assim, separamos

ensinamentos do jurista Humberto Theodoro Junior, que assim classifica:

“Quanto ao fim colimado pelo recorrente, os recursos podem ser classificados como: a) de reforma, quando se busca uma modificação na solução dada à lide, visando a obter um pronunciamento mais favorável ao recorrente; b) de invalidação, quando se pretende apenas anular ou cassar a decisão, para que outra seja proferida em seu lugar; ocorre geralmente em casos de vícios processuais; c) de esclarecimento ou integração, são os embargos declaratórios onde o objeto do recurso é apenas afastar a falta de clareza ou imprecisão do julgado, ou suprir alguma omissão do julgador. Quanto ao juiz que os decide os recursos podem ser: a) devolutivos ou reiterativos quando a questão é devolvida pelo juiz da causa a outro juiz ou tribunal (juiz do recurso). Exemplos: apelação e recurso extraordinário; b) não-devolutivos ou iterativos, quando a impugnação é julgada pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida. Exemplos: embargos declaratórios e embargos infringentes; c) mistos, quando tanto permitem o reexame pelo órgão prolator como a devolução a outro órgão superior. Exemplo: agravo de instrumento e apelação contra indeferimento de petição inicial. No que se refere à marcha do processo a caminho da execução, os recursos podem ser: a) suspensivos: os que impedem o início da execução; b) não-suspensivos: os que permitem a execução

provisória.”14

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Já o professor Ovídio Baptista, ensina:

“Há, todavia, um outro critério, este sim de grande importância para a classificação dos recursos, que leva em conta não a circunstância de ter ou não ocorrido a coisa julgada, e sim a natureza ou os pressupostos que se exijam para sua fundamentação. Segundo este critério, os recursos dizem-se de fundamentação livre, ou ilimitada, e de fundamentação vinculada, ou limitada (J. C BARBOSA MOREIRA, Comentários..., p. 247; ALCIDES DE MENDONÇA LIMA, introdução..., n. 132), ou, como prefere chamá-los J. FREDERICO MARQUES, recursos normais e recursos especiais, segundo pressuponham apenas a sucumbência ou exijam, além dela, outros pressupostos {Instituições..., v. 4, n. 872). De acordo com este critério, temos, no direito brasileiro, na apelação o exemplo típico de recurso de fundamentação livre, à medida que ela pressupõe apenas a sucumbência do recorrente, ao passo que os embargos infringentes (art. 530 do CPC), o recurso especial (art. 105, III, da CF) e o recurso extraordinário (art. 102, III, da CF) serão recursos de fundamentação vinculada, ou especial, uma vez que cada um deles, além da sucumbência, pressupõe outros requisitos de admissibilidade.”15

__________________________

14. JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Vl. I. Editora Forense, 2005. p. 615

15. Silva, OVÍDIO A. BAPTISTA DA. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1, 6ª Ed. RT,2000. p. 201

Classificados os Recursos por seus efeitos e funções é de suma

importância destacar a forma como cada um deverá ser interposto, e contra

quais atos são cabíveis. O Recurso de Apelação trataremos em capítulo

apartado.

3.1. RECURSOS EXISTENTES

II – AGRAVO:

O Agravo é o Recurso cabível contra as decisões interlocutórias.

Pode ser manejado durante a tramitação do processo em primeiro grau de

jurisdição, pode ser: a) agravo retido (art. 523); ou b) agravo de instrumento

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(art. 524). Não é, porém, somente a decisão interlocutória do juiz de primeira

instância que desafia esse tipo de recurso. Também nos tribunais superiores

há situações em que se verificam decisões interlocutórias com, previsão, no

Código, do cabimento de agravo. O prazo para interposição do Recurso é de

10 (dez) dias, nos termos do art. 522 do CPC.

Eis alguns exemplos de decisões interlocutórias em nível de

tribunal que desafiam agravo:

a) decisão do relatar que nega seguimento a recurso

manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou contrário à súmula

do respectivo tribunal ou tribunal superior (art. 557, § 1o);

b) decisão do relatar que indefere embargos infringentes (art.

532);

c) decisão do presidente ou vice-presidente do tribunal que não

admite recurso especial ou extraordinário (art. 544);

d) decisão do relatar que, no Supremo Tribunal Federal e no

Superior Tribunal de Justiça, não admite o agravo relativo ao cabimento do

recurso extraordinário ou especial, ou lhe nega provimento (art. 545);

e) decisão do relatar que nega seguimento a recurso, no

Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, seja por perda de

objeto, ou por manifestamente intempestivo, descabido ou improcedente, ou

ainda por contrariar súmula do respectivo tribunal (Lei no 8.038, de 25.05.90,

art. 38);

f) qualquer decisão, no âmbito do Supremo Tribunal Federal e

Superior Tribunal de Justiça, proferida por Presidente do Tribunal, de Seção,

de Turma, ou de Relatar, que cause gravame à parte (Lei no 8.038, de

25.05.90, art. 39).

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III - EMBARGOS INFRINGENTES:

Embargos infringentes são o recurso cabível contra acórdão não-

unânime proferido cm apelação ou ação rescisória, dirigido ao próprio tribunal

que pronunciou a decisão impugnada (art. 530), devendo ser interposto no

prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 508 do CPC.

Trata-se de recurso não-devolutivo, porque provoca o reexame do

caso decidido, pelo próprio tribunal que proferiu o acórdão impugnado,

inclusive com participação dos juízes que integraram o órgão fracionário

responsável pelo primeiro julgamento.

IV - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO;

É o recurso cabível nos casos em que a decisão judicial está

carregada de obscuridade, omissão ou contradição, sendo disciplinado pelos

art. 535 a 538 do CPC, cujo prazo para interposição é de 5 (cinco) dias,

conforme dito no art. 535 do mesmo Diploma.

V - RECURSO ORDINÁRIO;

O Recurso está previsto nos art. 539 e 540 do CPC, e é cabível

contra as decisões denegatórias proferidas em mandado de segurança

decidido em única instancia pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos

Tribunais de Justiça, e ainda contra as sentenças proferidas nos processos em

que são partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional, e,

de, outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no país.

VL - RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO;

Recurso Especial (cabível para o Superior Tribunal de Justiça) e o

Recurso Extraordinário (cabível para o Supremo Tribunal Federal) estão

regulados em conjunto no CPC, nos arts. 541 a 545 O Código de Processo

Civil não se preocupou em estabelecer quais os casos de cabimento desses

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recursos, já que tais hipóteses estão enumeradas na Constituição da

República (arts. 102, III, e 105, III).

Assim é que cabe recurso extraordinário nas causas decididas

em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

• contrariar dispositivo da Constituição da República;

• declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

• julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face

da Constituição da República.

• julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

O Recurso Especial, por sua vez, é de competência do Superior

Tribunal de Justiça e cabível contra causas decididas em única ou última

instância pelos Tribunais Regionais Federais e pelos Tribunais dos Estados e

do Distrito Federal e Territórios (Tribunais de Justiça e de Alçada), quando a

decisão recorrida:

• contrariar tratado ou lei federal, ou negar-Ihes vigência;

• julgar válido ato de governo local contestado em face de lei

federal

• der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja

atribuído outro tribunal.

VIII - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL E EM

RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

Os embargos de divergência, cabíveis no Supremo Tribunal

Federal e no Superior Tribunal de Justiça, têm uma nítida função

uniformizadora da jurisprudência interna dessas cortes. Previsto nos arts. 546

do CPC.

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CAPÍTULO IV

4. O RECURSO DE APELAÇÃO

Após identificarmos de forma breve o nascimento do Recurso,

seus pressupostos processuais, passando por o sistema recursal vigente,

conseguimos vislumbrar que há um mecanismo processual claro para o

combate das irregularidades e ilegalidades praticadas no curso do processo.

DEFINIÇÃO:

Quando tratamos sobre o Recurso de Apelação é relevante

vislumbrar o pensamento de alguns doutrinadores.

Na ótica do Professor Ovídio Baptista, o Recurso de Apelação é:

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“sem dúvida, o recurso por excelência, não só por ser o mais

antigo, já existente no direito romano, como por sua

universalidade, comum a todos os ordenamentos modernos

que descendam do direito romano-canônico, e também por

ser o recurso de efeito devolutivo mais amplo, ensejando ao

juízo ad quem, quando ele seja interposto contra uma

sentença de mérito, o reexame integral das questões

suscitadas no primeiro grau de jurisdição, com exceção

daquelas sobre as quais se tenha verificado preclusão”.

(SILVA, Ovídio A. Baptista da. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1,

6ª Ed. RT,2000. p.419)

Segundo o professor Humberto Theodoro, Apelação, portanto, é o

recurso que se interpõe das sentenças dos juízes de primeiro grau de

jurisdição para levar a causa ao reexame dos tribunais do segundo grau,

visando a obter uma reforma total ou parcial da decisão impugnada, ou mesmo

sua invalidação. (JUNIOR, 2005. p.624)

Nos ensinamentos do Desembargador Alexandre Câmara,

tiramos o seguinte:

“A Apelação é o recurso cabível contra as sentenças (art. 513

do CPC). Não se distingue aqui quanto à espécie de sentença,

pouco importando, pois, se a mesma é definitiva ou

terminativa.

O prazo para interposição da apelação é de quinze dias, nos

termos do art. 508 do CPC, devendo tal prazo ser contado a

partir da intimação da sentença (a qual poderá ser feita em

audiência de instrução e julgamento, ou através do Diário

Oficial), na forma do disposto no art. 184 do Código de

Processo Civil.”

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(CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil.

Rio de Janeiro. 16ª Edição. Volume II. Editora Lumen Iuris,

2008. p.78)

FORMA E INTERPOSIÇÃO DA APELAÇÃO:

Sempre que falamos no Processo, podemos claramente verificar

um conjunto de atos diretamente organizados, quanto sua elaboração e

efetivação, inclusive com o respaldo de comando legais que ditam como cada

ato e a forma como serão produzidos. A forma para a prática do ato é de suma

importância, visto que os atos processuais são disciplinados por Lei, e a

inobservância quanto à forma poderá inclusive levar à nulidade do ato.

Neste sentido destacamos os ensinamentos de Antônio Carlos de

Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco (Teoria

Geral do Processo – 2009), verbis:

“A falta absoluta de exigências legais quanto às formas

procedimentais levaria à desordem, à confusão, à incerteza.

Na medida do necessário para estabelecer no processo um

clima de segurança para as partes, a regulamentação legal

representa a garantia destas em suas relações .recíprocas e

com o juiz; por isso, as formas procedimentais essenciais

devem ser certas e determinadas, a fim de assegurar que o

resultado do processo espelhe na medida do possível a

realidade histórica e axiológica (sistema da legalidade).

Por outro lado, as formas não devem sufocar a naturalidade e

rapidez do processo. Trata-se de um problema técnico-

político: a aversão às formas é motivada, em geral, pelo

excesso de formalismo, mas não é aconselhável evitar esse

inconveniente abolindo por completo as exigências formais ou

deixando ao juiz a tarefa de determinar as formas - pois essa

solução abriria caminho ao arbítrio.

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(...)

As formas dos atos processuais são determinadas por

circunstâncias de três ordens: a) de lugar; b) de tempo; c) de

modo.”

Ainda quanto à forma, os Recurso também seguem a mesma

regra, devendo atender ao lugar aonde será interposto (se no juízo de 1ª, 2ª ou

instâncias superiores), o tempo em que será interposto (prazos processuais) e

o modo como deverá ser elaborado (se por petição escrita, se oralmente etc).

Destacamos as palavras do professor Ovídio Baptista:

“Os recursos em geral estão sujeitos, quanto à forma para sua

interposição, à disciplina legal prescrita para os demais atos

processuais. O recurso, salvo raras exceções que serão

oportunamente indicadas, deve ser interposto mediante

petição escrita, dirigida à autoridade judiciária prolatora da

decisão recorrida, devidamente fundamentada com as razões

de fato e de direito em que o recorrente se baseia para pedir a

modificação do julgado.”

(SILVA, Ovídio A. Baptista da. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1,

6ª Ed. RT,2000. p.418)

No que diz respeito ao lugar, tempo e modo como a Apelação

será interposta, temos que o prazo para interposição da Apelação é de quinze

dias, nos termos do art. 508 do Código de Processo Civil, devendo tal prazo

ser contado a partir da intimação da sentença, que poderá ser feita em

Audiência de Instrução e Julgamento, ou por publicação no Diário Oficial.

O Apelo deverá ser escrito, endereçado ao juiz, contendo os

elementos do art. 514 do Código de Processo Civil, in verbis:

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“Art. 514. A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz,

conterá:

I - os nomes e a qualificação das partes;

II - os fundamentos de fato e de direito;

III - o pedido de nova decisão.”

Além da observância da Forma para interposição do Recurso,

deverão ser observados se os Requisitos Objetivos e Subjetivos do Recurso

estão presentes, para verificação do cabimento e recebimento do Apelo.

EFEITOS DA APELAÇÃO:

Conforme previsão legal, conseguimos verificar que a apelação

tem duplo efeito: o devolutivo e o suspensivo. A apelação normalmente

suspende os efeitos da sentença, seja esta condenatória, declaratória ou

constitutiva.

Efeito suspensivo, assim, consiste na suspensão da eficácia

natural da sentença, isto é, dos seus efeitos normais. Para melhor

compreensão deste fenômeno que é inerente aos Recursos, e no caso em

tela, ao Recurso de Apelação, tomamos por base os ensinamentos do

professor Ovídio Baptista, que muito bem nos esclarece quanto a dois pontos

primordiais a serem analisados, destacamos, verbis:

“Para entender-se o sentido do efeito suspensivo outorgado

aos recursos, é necessário ter em conta duas situações criadas

pelas decisões judiciais passíveis de reexame por algum órgão

de jurisdição superior. A primeira consequência é a própria

existência da sentença que, como os demais atos estatais,

deveria ser capaz de produzir seus efeitos naturais a partir do

momento em que passasse a ter existência legal. Impedir que

eles se produzam desde logo, em virtude da interposição do

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recurso, poderia resultar num penoso e injustificado

retardamento na realização do direito que a sentença

reconhecesse ao vencedor, sempre que o tribunal superior a

confirmasse. Todavia, a segunda consequência, tão importante

e grave quanto a primeira, surgiria no caso de - outorgando-se

ao vencido o direito de provocar o reexame da sentença que

lhe fora desfavorável, permitir-se que a mesma, ainda sujeita

ao reexame pelo tribunal superior, fosse imediatamente

observada e cumprida, como se fosse uma decisão definitiva e

irrevogável. Neste caso, quando o tribunal superior [ad quem]

ao apreciar o recurso, o julgasse procedente e modificasse

aquilo que a sentença recorrida dispusera, poderia suceder

que a decisão superior encontrasse já um fato consumado

decorrente do cumprimento integral da sentença precedente,

sempre que seus efeitos produzissem ma situação de fato

irreversível.”

(SILVA, Ovídio A. Baptista da. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1,

6ª Ed. RT,2000. p.411)

No efeito devolutivo: "a apelação devolverá ao tribunal o

conhecimento da matéria impugnada" (art. 515). Visa esse recurso a obter um

novo pronunciamento sobre a causa, com reforma total ou parcial da sentença

do juiz de primeiro grau. As questões de fato e de direito tratadas no processo,

sejam de natureza substancial ou processual, voltam a ser conhecidas e

examinadas pelo tribunal.

Dentro do âmbito da devolução, o tribunal apreciará todas as

questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença recorrida

não as tenha julgado por inteiro (art. 515, § 1 e 2). Em matéria de efeito

devolutivo, portanto, urge fazer uma distinção entre a extensão e a

profundidade da devolução:

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a) A extensão é limitada pelo pedido do recorrente, visto que

nenhum juiz ou órgão judicial pode prestar a tutela

jurisdicional senão quando requerida pela parte (art. 22); por

isso, o art. 515 diz que a apelação devolverá ao tribunal a

"matéria impugnada", o que quer dizer que, em seu

julgamento, o acórdão deverá se limitar a acolher ou rejeitar o

que lhe for requerido pelo apelante (por exemplo: se se

requereu a reforma parcial, não poderá haver a reforma total;

se pedir a improcedência da demanda, não se poderá decretar

a prescrição; se pediu apenas a prescrição, não caberá a

improcedência da causa; se se pediu para excluir juros, não se

poderá cancelar correção monetária ou multa, e assim por

diante.

b) A profundidade abrange os antecedentes lógico-jurídicos da

decisão impugnada, de maneira que, fixada a extensão do

objeto do recurso pelo requerimento formulado pela parte

alcance, todas as questões suscitadas no processo que podem

interferir assim em seu acolhimento como em sua rejeição

terão de ser levadas em conta pelo tribunal (art. 515, § 19).

(JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual

Civil. Rio de Janeiro. 43ª Edição. Vl. I. Editora Forense, 2005. p.

626)

Nessa ordem de idéias, qualquer que seja o pedido do recorrente,

terá sempre o tribunal possibilidade de examinar as questões pertinentes aos

pressupostos processuais e às condições da ação, visto que são matérias de

ordem pública condicionadoras da formação e desenvolvimento válidos do

processo, bem como de qualquer provimento jurisdicional de mérito (motivo

pelo qual são conhecíveis e solucionáveis a qualquer tempo e grau de

jurisdição, a requerimento de parte ou de ofício) (art. 267, § 39).

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Ainda, em matéria de profundidade do efeito devolutivo, o § 2º do

art. 515 cuida do caso de multiplicidade de fundamentos para o pedido. O juiz

acolheu apenas um e deu pela procedência da ação. Impugnada a sentença

em apelação, o tribunal pode reconhecer a procedência do apelo quanto ao

fundamento da sentença, mas deixar de dar-lhe provimento, porque a matéria

não acolhida pelo juiz de primeiro grau se apresenta suficiente para assegurar

a procedência da ação. O mesmo pode acontecer, também, com a defesa,

quando se fundamente em razões múltiplas e seja acolhida em face de apenas

uma delas.

Via de regra a apelação tem o duplo efeito suspensivo e

devolutivo. Há exceções, no entanto que são claramente vistas no art. 520 do

Código de Processo Civil.

O art. 520 enumera sete casos em que o efeito de apelação é

apenas devolutivo, de maneira que é possível a execução provisória enquanto

estiver pendente o recurso. O art. 1.184 inclui mais uma hipótese semelhante

(a interdição). Assim, será recebida só no efeito devolutivo a sentença que:

I - homologar a divisão ou demarcação;

II - condenar à prestação de alimentos;

III - julgar a liquidação da sentença;

IV - decidir o processo cautelar;

V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-Ios

improcedentes;

VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem;

VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela;

VIII - decretar a interdição.

Mesmo nas hipóteses expressamente previstas, para que a

apelação tenha efeito apenas devolutivo, pode o relator diante das

particularidades da causa, determinar a suspensão do cumprimento da

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sentença, até que o Tribunal julgue o recurso (art. 558, parágrafo. único, com a

redação da Lei nº 9.139, de 30.11.95).

Conforme vimos anteriormente, no posicionamento do professor

Humberto Theodoro, a apelação, pode ser parcial ou total, conforme a

impugnação alcance toda a sentença ou apenas parte dela.

Se o juiz extingue o processo sem julgamento de mérito,

naturalmente o objeto da sentença ficou restrito a questão preliminar.

Recorrendo a parte para impugnar tão-somente o conteúdo do decisório de

primeiro grau, não poderá o tribunal, depois de cassada a sentença, passar a

julgar o mérito da causa, sem que a parte o tenha requerido. Aí, já não se

trataria de se aprofundar no julgamento das questões que lhe foram devolvidas

pelo recurso, mas de ampliar o seu objeto, dando-lhe extensão maior do que

lhe emprestara o requerimento da parte.

Quanto às questões de fato, a regra é que a apelação fica restrita

às alegadas e provadas no processo antes da sentença. O recurso devolve o

conhecimento da causa tal qual foi apreciada pelo juiz de primeiro grau. Pode,

todavia, ter ocorrido impossibilidade de suscitação do fato pelo interessado

antes da sentença. Assim provada a ocorrência de força maior, poderá o

apelante apresentar fato novo perante o tribunal (art. 517). Caberá, todavia ao

apelante provar não só o fato como o motivo de força maior que o impediu de

arguí-lo no momento processual adequado.

Não cabe ao juiz a quo interferir na questão do fato novo, nem

impedir a subida do recurso que nele se baseie. A questão será inteiramente

apreciada e decidida pelo tribunal ad quem.

RECURSO DE APELAÇÃO NOS TRIBUNAIS

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Além das prescrições que constem dos respectivos regimentos

internos de cada tribunal que houver de julgar a apelação, o procedimento

deste recurso em segunda instância deve observar as disposições do art. 547

e ss. do CPC. Tanto que recebidos os autos pelo serviço de protocolo do

tribunal, serão eles registrados de modo que possam desde logo ser

distribuídos a um dos órgãos fracionários do tribunal competente para

julgamento. Determinada, pelo sistema de distribuição, a câmara ou turma a

que caberá o julgamento, far-se-á dentre os magistrados que a integram o

sorteio do relator do recurso, que é o magistrado a quem se conferem as

funções de instrutor da causa em segunda instância.

Tratando-se de Apelação, assim como nos embargos infringentes

e na ação rescisória, o recurso terá, além do relator, também um revisor, que

deve ser um outro magistrado integrante da mesma turma ou câmara

julgadora, a quem cabe examinar o processo depois que o relator o tenha feito

(art. 551).

Aposto pelo revisor o seu visto nos autos, cabe-lhe pedir a

designação de dia para julgamento. Designada a data para o julgamento, o

presidente mandará publicar a pauta dos feitos que haverão de ser decididos,

no órgão oficial encarregado de publicar o expediente forense, com uma

antecedência mínima de quarenta e oito horas (art. 552).

Na sessão de julgamento, tanto o apelante quanto o apelado

poderão produzir sustentação oral pelo prazo improrrogável de quinze minutos,

a ser feita depois que o relator proferir o seu relatório e antes de iniciar-se a

votação.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo discorrer sobre o sistema

recursal brasileiro, analisando sua historicidade, considerando alguns dos

principais recursos existentes no processo civil contemporâneo.

Neste sentido verificamos que os Recursos nasceram nos

primórdios sendo inclusive considerados como inerente à natureza humana,

posto que o sentimento de irresignação é pertinente ao ser. Os recursos se

desenvolveram com a sociedade romana, com fito de demonstrar sua

supremacia antes aos povos subjugados.

Conseguimos entender que os Recursos devem obedecer

pressupostos objetivos e subjetivos, sob pena de não serem conhecidos ou

providos.

Quanto ao Recurso de Apelação, conseguimos verificar que é

considerado um Recurso por excelência onde o Recorrente consegue devolver

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toda a matéria ao Tribunal ad quem, e que os efeitos do Recurso são tanto

devolutivo como suspensivo, buscando por fim a mudança do julgado, quer por

error in iudicando ou error in procedendo.

BIBLIOGRAFIA

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16ª Edição. Volume II. Editora Lumen Iuris, 2008.

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini e

DINAMARCO, Cândido Rangel. TEORIA GERAL DO PROCESSO. 25ª Edição.

Editora Malheiros.01.2009.

Código de Processo Civil. 16ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

Código de Processo Civil Anotado/ por Humberto Theodoro Júnior. 12ª Edição.

Rio de Janeiro: Forense, 2008.

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GRECO, Leonardo. REDP. V edição. 2010.UERJ

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Janeiro. 43ª Edição. Volume II. Editora Forense, 2005.

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SILVA, Ovídio A. Baptista da. CURSO DE PROCESSO CIVIL, V.1, 6ª Ed. RT,2000.

Consulta de Jurisprudência realizada no sitio www.tjrj.jus.br, em 01/10/2010, às

20:00h.