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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A AÇÃO DA LUDICIDADE PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DAS SINAPSES NEURAIS DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Por: Rita de Cassia da Silva Estabill Orientadora Prof.ª Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A AÇÃO DA LUDICIDADE PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DAS

SINAPSES NEURAIS DA APRENDIZAGEM ESCOLAR

Por: Rita de Cassia da Silva Estabill

Orientadora

Prof.ª Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A AÇÃO DA LUDICIDADE PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DAS

SINAPSES NEURAIS DA APRENDIZAGEM ESCOLAR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em neurociência pedagógica

Por: Rita de Cassia da Silva Estabill

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AGRADECIMENTOS

Aos amigos e parentes que acreditam no

meu potencial.

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha mãe, a minha irmã, as minhas

amigas Jurema, Katia, Rosemere, Lidiane,

Adriana, Cinthia, Simone, à psicóloga Ivana

Alves e à professora Marta

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RESUMO

O presente trabalho monográfico apresenta uma abordagem que articula conceitos-

chaves pertinentes à neurociência e à pedagogia. Para isso, o ponto de partida que

inspirou essa produção foi a seguinte problematização: “A ludicidade pedagógica

estimula o potencial de ação do neurônio e a formação das sinapses neurais,

promovendo aprendizagem? Assim, ao longo do texto, há importantes considerações a

respeito das brincadeiras no tocante ao desenvolvimento da criança, e a utilização das

tais como alternativas de intervenção na educação infantil , identificando também, as

estruturas anatômicas corticais potencializadas durante o envolvimento do aluno com

o lúdico, e buscando compreender a fisiologia do sistema límbico de recompensas

relacionado ao prazer proporcionado pelo brincar. Enfim, há o estudo aprofundado das

conexões neuronais formadas, e verificou-se que a ludicidade pedagógica estimula o

potencial de ação do neurônio, contribuindo para a formação das sinapses neurais da

aprendizagem escolar.

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METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica foi realizada através da análise de doze livros, além das

publicações de trabalhos divulgados em duas revistas (Nós da Escola e Psique), da

leitura de um fascículo da Multieducação (SME), e de um artigo disponível em site da

psiquiatria geral, durante um período de quatro meses. Em cada mês, um capítulo da

monografia ia sendo escrito, buscando-se pontos divergentes e/ou convergentes em

relação às abordagens apresentadas por diferentes autores, os quais tratam com

unanimidade a importância da ludicidade para o desenvolvimento infantil. Alguns deles

expõem de forma aprofundada a neurobiologia e a fisiologia das sinapses neurais, sendo

que somente a bióloga Marta Pires Relvas e a pesquisadora do desenvolvimento

humano Elvira Souza Lima, articulam os conhecimentos da pedagogia à neurociêcia,

pois em seus livros, tal proposta é evidente. Decisivamente, o texto monográfico

produzido contou com excelentes contribuições das referências bibliográficas

analisadas. Assim, a questão central elaborada alcançou a resposta requerida, após a

leitura das fontes disponiveis já citadas, e o estudo definiu que a ludicidade pedagógica

ativa o potencial de ação neuronal, bem como a formação das sinapses neurais da

aprendizagem escolar, entendendo-se que as atividades lúdicas servem de estímulo,

proporcionando “o prazer de aprender” e o desenvolvimento das habilidades planejadas

intencionalmente pelo professor.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................9

CAPÍTULO I - A potencialização das estruturas anatômicas do cérebro da criança

durante as atividades lúdicas, e o desenvolvimento das habilidades intencionalmente

planejadas........................................................................................................................11

1.1- A importância do lúdico para o desenvolvimento infantil normal...........................11

1.2- Estruturas e áreas anatômicas do cérebro potencializadas durante as brincadeiras 12

1.2.1- Córtex pré-frontal.................................................................................................14

1.2.2- Cíngulo anterior....................................................................................................15

1.2.3- Cerebelo................................................................................................................15

1.2.4- Lobo Parietal.........................................................................................................15

1.2.5- Córtex auditivo.....................................................................................................16

1.2.6- Córtex visual.........................................................................................................16

1.2.7- Hipocampo............................................................................................................17

1.2.8- Hemisfério direito do cérebro...............................................................................17

1.2.9- A área de Broca e a área de Wernicke..................................................................18

1.2.10- Córtex motor.......................................................................................................18

1.3 - A intencionalidade da ação pedagógica, e as ações executadas com as habilidades

desenvolvidas pela criança durante as brincadeiras........................................................19

CAPÍTULO II

As diversas modalidades lúdicas vivenciadas com prazer durante a infância: estímulos

que acionam o sistema límbico e a relação deste sistema com a aprendizagem e o

rendimento escolar...........................................................................................................21

2.1- A anatomofisiologia do Sistema Límbico................................................................22

2.1.1- Estruturas relacionadas no circuito límbico de recompensas, e as atividades

lúdicas..............................................................................................................................24

2.2- Avaliações dos níveis de aprendizagem e de rendimento escolar decorrentes do

prazer de aprender...........................................................................................................27

CAPÍTULO III – A ação da ludicidade pedagógica na formação das sinapses neurais da

aprendizagem

escolar..............................................................................................................................31

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3.1- As sinapses neurais...................................................................................................33

3.2- Contribuições da neurociência para a pedagogia.....................................................35

3.2.1- Neurociência, atividades lúdicas e aprendizagem.................................................37

3.2.2- Memória e imaginação..........................................................................................37

3.3- Outras considerações sobre o cérebro......................................................................39

CONCLUSÃO.....................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..................................................................43

ÍNDICE.......................................................................................................44

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Introdução

A AÇÃO DA LUDICIDADE PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO

DAS SINAPSES NEURAIS DA APRENDIZAGEM ESCOLAR A ludicidade pedagógica estimula o potencial de ação do neurônio e a formação

das sinapses neurais, promovendo aprendizagem?

Estruturas anatômicas do cérebro são potencializadas durante as atividades

lúdicas, desenvolvendo habilidades intencionalmente planejadas?

As diversas modalidades lúdicas vivenciadas durante a infância proporcionam o

prazer de aprender liberado no cérebro pelo sistema límbico de recompensa, resultando

em aprendizagem com produtividade e altos índices de rendimento escolar?

A proposta de estudo desse trabalho parte da necessidade de fornecer aos

educadores conhecimentos da neurociência articulados aos processos de aprendizagem,

que é concebida com prazer na infância através das atividades lúdicas, sendo o assunto

de extrema relevância para a educação, uma vez que muito já se tem discutido a respeito

da relação entre a brincadeira e o desenvolvimento infantil, considerando-se nessa

relação a “ação dos comandos neurológicos” em vias de estruturação sobre o corpo em

movimento, e a efetiva concretização da aprendizagem como resultado das sinapses

neurais.

Esse trabalho pressupõe que a ludicidade pedagógica ative o potencial de ação

neuronal e a formação das sinapses neurais da aprendizagem escolar, entendendo-se que

as atividades lúdicas sirvam de estímulo que proporciona “o prazer de aprender”,

desenvolvendo habilidades planejadas intencionalmente pelo professor.

O estudo em questão dispõe de fonte de pesquisa bibliográfica que inclui livros

de autores nacionais e internacionais, artigo publicado em site, e revistas de origens

confiáveis.

Os autores citados nesse trabalho inspiram credibilidade, pois uns atuam em

áreas de pesquisa voltadas às neurociências; outros apresentam experência na área

médica. As autoras que se destacam em estudos na área pedagógica como Marta Pires

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Relvas e Elvira Souza Lima, além de serem as mais conhecidas, ousam com muita

propriedade articular a neurociência à pedagogia, apresentando uma abordagem que

muito importa à aprendizagem escolar.

Assim, esse trabalho destina-se aos educadores da infância em atividade, e

requer estudos investigativos e aprofundados sobre a ação da ludicidade pedagógica na

formação das sinapses neurais da aprendizagem escolar, sem ignorar a relevância com a

qual esse assunto tem sido tratado na atualidade, enfatizando as descobertas da

neurociência e a sua contribuição para a educação infantil.

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Capítulo 1- A potencialização das estruturas anatômicas do cérebro da criança durante as atividades lúdicas, e o desenvolvimento das habilidades intencionalmente planejadas

O cérebro é o órgão do sistema nervoso central que executa o comando de todos

os sistemas do organismo. Sem esse comando, nada absolutamente, funcionaria no

corpo humano.

Esse órgão é a sede da aprendizagem pedagógica, concretizada a partir de um

planejamento elaborado com base na seleção de conteúdos, organizados nas aulas dadas

pelo educador; é também, o cérebro, o responsável pela aprendizagem desenvolvida

através das experiências vividas pela criança fora do ambiente sistemático da instituição

escolar. É nele, portanto, que as habilidades são potencializadas por intermédio dos

processos de aprendizagem.

Cada estrutura cerebral organizada funciona especificamente: acolhendo os

estímulos do ambiente captados pelos canais sensoriais, processando as informações

através dos impulsos nervosos, decodificando-as, consolidando-as e armazenando-as na

memória; formando o pensamento abstrato, imagens mentais e idéias, fertilizando a

criatividade em suas diversas expressões; planejando as ações, assim como todas as

atividades cognitivas; liberando emoções, sentimentos, sensações, intuições...

Este capítulo destina-se à relevância das atividades lúdicas como estratégias de

ensino que norteiam as ações pedagógicas, e apresenta essa abordagem em três seções,

destacando-se os aspectos pertinentes ao assunto em estudo, com o intuito de articular a

intrínseca relação entre o cérebro e a aprendizagem das habilidades.

1.1- A importância do lúdico para o desenvolvimento infantil normal

A liberdade de brincar manifesta a liberação do imaginário, uma vez que ao

brincar, “as crianças criam para si (...), o mundo próprio.” (Walter Benjamin, em

Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação, Pg. 85, ano 2009)

No ato de brincar, o “conteúdo imaginário do brinquedo” sofre transformações,

pois a criança pode alterar a representação simbólica do brinquedo, sendo inspirada pelo

livre curso de sua criatividade.

Como ação imprescindível para o desenvolvimento humano específico da

infância, o brincar assume uma função de extrema importância à criatividade e à

fantasia infantil, pois ao encenar uma dramatização, por exemplo, a realidade da vida

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em suas inúmeras possibilidades de representação aparece contextualizada e

emoldurada, com evidências nítidas do ato criador da brincadeira.

Walter Benjamin, em seu livro intitulado Reflexões sobre a criança, o brinquedo

e a brincadeira, página 117, ano2009, assinala que “de maneira lúdica, os conteúdos e

símbolos podem encontrar lugar no espaço escolar, mas sem assumir um domínio

formal sobre as crianças”, pelo que defende a libertação das tais, cuja infância se realiza

através do jogo.

É precisamente nesse mérito que se caracteriza o trabalho do educador infantil:

pela proposta da maneira lúdica de ensinar a prática diária de hábitos relacionados ao

cuidado pessoal com o corpo, e a aprendizagem do comportamento social, fazendo uso

da música e outras modalidades.

As manifestações das modalidades lúdicas podem ser expressas por meio das

dramatizações, dos jogos, da dança, da música, das artes pictóricas e icnográficas, da

construção de brinquedos e artefatos...

E nesse universo de possibilidades de realização da infância, repleto de

significados que se desvendam ao olhar do observador atento, a criança manifesta a sua

identidade em formação, pois “aproveita a oportunidade de ser ela mesma, com suas

atitudes, sua expressão corporal, seus gestos, seus diálogos com os objetos ou com

outras crianças, seu movimento, a história criada e inventada, as frases criadas e outras

imitadas”. ( Fabio Aranha, Em cada época, uma nova concepção do que é brincar -

Revista Nós da Escola, número 36/2006, pg. 32)

Também, nessa ação de olhar atenta e curiosamente a criança que se dá a

conhecer enquanto brinca, o educador assume uma postura ativa, mesmo sem intervir no

espaço criado durante a dinâmica de interação social, na qual as fantasias, a criatividade

e, sobretudo, a autonomia, estão sendo desenvolvidas ao longo da brincadeira livre em

questão.

O desenvolvimento normal da criança ocorre muito rapidamente tanto em

relação ao crescimento do corpo, como em relação ao desenvolvimento das funções

cognitivas de reconhecer as pessoas, interagir com elas e com o mundo que as cerca.

Em decorrência disso, o psiquiatra infantil, Fábio Barbirato, em seu livro A

mente de seu filho, página 26, sinaliza que “durante os três primeiros anos de vida, o

cérebro se desenvolve e cresce bastante, e esse período é crucial na vida da criança, no

sentido de ajudá-la a crescer física, social e cognitivamente”.

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O mesmo autor citado anteriormente afirma a importância das brincadeiras nessa

fase, uma vez que as crianças as utilizam no intuito de “testar a sua capacidade mental”.

Esse período da vida apresenta um ritmo de desenvolvimento acelerado, que

naturalmente deve ser aproveitado, pois se verificam competências inerentes a

determinada faixa etária durante a experiência de vida da criança na pré-escola e em

casa. Essa experiência é adquirida pelas brincadeiras de faz de conta, pela montagem de

quebra-cabeças simples , pela utilização de brinquedos mecânicos, pela separação de

objetos de acordo com critérios menos elaborados.

O desenvolvimento infantil normal inclui um rápido crescimento físico e maior

controle motor.

A criança em desenvolvimento normal expressa seus sentimentos, pensamentos

e emoções através do corpo em movimento, enquanto a linguagem oral evolui

progressivamente.

Os interesses da criança são demonstrados pelo ato de poder brincar com jogos

estruturados e com a bola, conseguindo jogá-la, chutá-la ou agarrá-la; sobe e desce

escadas sem apoio; pula e brinca de esconder-se.

Por meio das brincadeiras, ela desenvolve as habilidades sociais e, favorecida

pelo imaginário, aprende a lidar com as emoções, porquanto que as emoções da criança

são muito intensas.

A possibilidade de aprendizagem da criança é bastante significativa em idade

pré-escolar. Ela testa seus limites relacionados aos movimentos com o corpo, ao

comportamento, à expressividade das emoções e às habilidades cognitivas.

Assim, importa ao educador das infâncias analisar o processo de aprendizagem

sob o ponto de vista do desenvolvimento infantil normal e conceber na sua prática

pedagógica um conceito de aprendizagem mais abrangente visando à identificação das

competências e das habilidades da criança em ação, considerando-se o indivíduo como

um todo: ser social, psicológico, biológico.

Ao educador das infâncias, cumpre conhecer o desenvolvimento humano

integral, avaliar de forma global o desempenho escolar, elaborar instrumentos e planejar

propostas de intervenção pedagógicas com base nas atividades lúdicas, que estimulem o

potencial cerebral das crianças de acordo com a fase de desenvolvimento infantil e a

idade de formação correspondente.

1.2- Estruturas e áreas anatômicas do cérebro potencializadas durante as brincadeiras

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As atividades lúdicas integram o desenvolvimento global da criança e

possibilitam a formação de estruturas internas próprias aos vários aspectos do

desenvolvimento infantil adequado.

Além de ampliarem as capacidades de aprendizagem, as atividades lúdicas

oferecem a base para a aquisição de aprendizagens, as quais servirão como pré-

requisitos para outras aprendizagens no âmbito escolar. Segundo Elvira Souza Lima no

livro “Brincar para quê?”, pg. 10:

“O brincar oferece situações de desenvolvimento para a criança que dão suporte para aprendizagens de conhecimentos sistematizados. O brincar envolve várias capacidades que podemos considerar como suporte ao currículo. As aprendizagens escolares dependem não somente das atividades de ensino dos conteúdos escolares, como também das atividades que promovem o desenvolvimento infantil.”

Em virtude dessas considerações, a proposta de escrita dessa seção se deterá no

estudo das estruturas e áreas anatômicas do cérebro potencializadas ao longo das

atividades lúdicas, pois cada brincadeira ativa áreas específicas encefálicas que

interagem, possibilitando o aprender no cérebro, o qual precisa de organização e

roteirização.

E, qual ambiente é o mais apropriado para que a atividade cerebral da

aprendizagem aconteça de forma contextualizada e sistematizada, senão o espaço

escolar?

1.2.1 – Córtex pré-frontal

De acordo com o psiquiatra infantil Fábio Barbirato, em seu livro “A mente de

seu filho”, pg. 93, “A última área do cérebro a se desenvolver é a pré-frontal, o

neocórtex, relacionada à capacidade de pensar, estabelecer relações e controlar

impulsos”.

O córtex pré-frontal é uma das áreas associativas como também o são o córtex

parietal superior e o córtex temporal inferior.

Quando devidamente estimulado, amadurece e passa a apresentar ampla

capacidade de planejamento, solução de problemas e possibilidade de autoconsciência.

Imagina-se que entre as suas funções, algumas estejam relacionadas à memória de

trabalho e ao aprendizado, utilizadas na resolução de problemas e no planejamento do

comportamento, uma vez que, sem memória não há aprendizagem.

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Cerca de seis áreas do córtex pré-frontal estão envolvidas com a memória de

trabalho, e, quando acionadas, encarregam-se da identidade facial, da localização e

memória espacial.

“A memória de trabalho não é apenas a manutenção ativa das informações relevantes das tarefas; é também a manipulação da informação para que os objetivos comportamentais sejam atingidos.” (Petrides 2000, APUD por Gazzaniga, Ivry, Mangun em Neurociência cognitiva, pg. 536)

O córtex pré-frontal corresponde à área do encéfalo responsável pelas escolhas,

pelas decisões, pelo pensamento, pelo raciocínio, pelo comportamento socialmente

adequado, pela aprendizagem das regras sociais e valores morais, pela definição da

identidade do ser, pelo senso de responsabilidade, pela intencionalidade, pela

capacidade de liderança, pela geração de hipóteses, pela abstração, avaliação crítica das

ações praticadas, pela seleção de respostas etc.

1.2.2 – Cíngulo anterior

O cíngulo anterior é a porção anterior do córtex cingulado. Essa porção

encontrada abaixo do lobo frontal atua em funções executivas bem interessantes, entre

as quais estão o monitoramento de respostas, a identificação de erro e a atenção.

Fonte: Neurociência Cognitiva, pg.548, ano 2006

1.2.3- Cerebelo

O cerebelo é uma estrutura localizada na parte dorsal do tronco encefálico.

Formado por muitas convoluções, estabelece interconecções diretas e indiretas com

áreas corticais, subcorticais, com o tronco encefálico e com a medula espinhal.

Basicamente, o cerebelo desempenha funções específicas relacionadas aos

movimentos voluntários complexos, ao equilíbrio e á locomoção do corpo.

1.2.4- Lobo Parietal

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Essa área do cérebr

variedade de neurônios reali

representação no espaço, in

múltiplas modalidades se

somatossensorial.

As áreas somatossens

sensações de dor, temperatu

membros.

O lobo parietal pode

córtex occipital e na parte su

1.2.5- Córtex auditivo

O córtex auditivo p

resposta neuronal estão esp

duração e a localização do so

1.2.6- Córtex visual

As áreas de processamento

identificando as característi

luminosidade, a freqüência

espaço visual, discriminação

como via de projeção para d

projeções corticais e subcor

visual. No córtex visual enc

córtex visual primário e área

livro Desvendando o Sistema

cérebro apresenta complexidade de funções ent

s realiza para promover a atenção, a localização v

ço, incluindo as demais relacionadas ao córtex a

es sensório-motoras), ao córtex gustativo

ossensoriais do lobo parietal desempenham funçõe

peratura, e tato do corpo, e de representação d

l pode ser identificado após o sulco central, an

rte superior ao lobo temporal posterior.

tivo pertence à área do lobo temporal. Suas pr

especializadas para determinar a frequencia, a

do som.

ento visual do lobo occipital funcionam de form

terísticas visuais no que diz respeito a cor, a

ência espacial, a orientação, a movimento, a

inação e identificação de objetos, e conta com o co

para determinar os movimentos oculares, e també

subcorticais que assumem o papel no desempen

al encontra-se o córtex estriado, termo usado par

e área 17 de Brodmann, como na imagem a segu

istema Nervoso, pg. 210, ano 2008.

16

es entre as quais a

ção visuomotora e a

rtex associativo (das

tivo e ao córtex

unções no tocante às

ação da posição dos

al, anteriormente ao

uas propriedades de

cia, a intensidade, a

e forma organizada,

or, a intensidade da

, a localização do

m o colículo superior

também com outras

empenho da atenção

do para se referir ao

a seguir, extraída do

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1.2.7- Hipocampo

O hipocampo é uma estrutura localizada no lobo temporal medial que pode

exercer importante ação no processo de formação da memória e da conseqüente

aprendizagem garantida por ela. Participa na elaboração da memória episódica.

Essa estrutura recebe as aferências ou estímulos sensoriais do tato, do paladar,

do olfato, da gustação e da visão, e assume relevante papel na seleção ou na exclusão

das informações processadas nas vias neurais, indicando pelo valor afetivo contido

nelas, qual será armazenada em forma de memória, e qual será descartada.

Sobre a importância da afetividade, da emoção e do prazer no processo de

aprendizagem por meio da ludicidade pedagógica, o presente estudo se detém também

na compreensão da anatomofisiologia do sistema límbico de recompensa, e do circuito

que nele perpassa denominado Circuito de Papez, constante no capítulo 2 desse

trabalho.

1.2.8- Hemisfério direito do cérebro

Nesse trecho, o estudo da especialidade do hemisfério direito do cérebro adquiri

maior curiosidade em comparação às outras áreas já estudadas, devido ao trabalho de

produção artística e de ação da criatividade exercidas nesse lado do cérebro, tendo em

vista que a criatividade mencionada no início e ao longo do texto monográfico assinala

o fazer pedagógico na educação infantil, bem como as artes plásticas, as artes visuais e

as artes cênicas que compõem o rol das várias modalidades lúdicas citadas.

Fonte: Desvendando o Sistema Nervoso, pg. 207, ano 2008

Entretanto, é necessário entender que especialidade da lateralização cerebral não

significa funcionalidade isolada do hemisfério direito em relação ao hemisfério

esquerdo, pois segundo Marta Relvas em Fundamentos Biológicos da Educação, pg. 35,

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ano 2009, “Não existe nada que seja unicamente regulado por um dos hemisférios”,

sendo a comunicação inter-hemisférica realizada pelo corpo caloso.

O que acontece é uma ativação hemisférica maior para certas funções. Por

exemplo, o lado direito do cérebro parece mais hábil à percepção para faces,

semelhanças, e imagens.

Enquanto o lado esquerdo destaca-se pela produção e compreensão da fala, entre

outras funções, e o hemisfério direito faz as modulações referentes à entonação e à

prosódia. Tais modulações são imprescindíveis ao trabalho de encenação com narrativas

e de interpretação expressiva dos personagens criados para dramatização com crianças

na escola e de criação de desenhos, pinturas etc

1.2.9- A área de Broca e a área de Wernicke

A área de Broca no lobo frontal esquerdo produz a fala e ativa músculos faciais

para a produção das sentenças orais.

A área de Wernicke situada no lobo temporal esquerdo possibilita a

compreensão da fala articulada pela área de Broca, haja visto que:

“O modelo neurolinguístico de Wernicke considera que a área de Broca conteria os programas motores da fala, ou seja, as memórias dos movimentos necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a compreensão”. (Roberto Lent em “Cem bilhões de Neurônios, pg. 637, ano 2002, Apud Marta Pires Relvas em Fundamentos Biológicos da Educação, pg 86, ano 2009 )

1.2.10- Córtex motor

Engloba as áreas 4 e 6 de Brodmann ( córtex motor primário e área motora

suplementar) que controlam os movimentos voluntários.

A área motora suplementar produz movimentos seqüenciados desenvolvidos

através de aprendizagem bem-sucedida.

Fonte: Desvendando o Sistema Nervoso, pg. 210, ano 2008

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1.3- A intencionalidade da ação pedagógica, e as ações executadas com as habilidades desenvolvidas pela criança durante as brincadeiras

O brincar possibilita a formação de estruturas internas que estão relacionadas a

vários aspectos do desenvolvimento infantil; amplia as possibilidades de aprendizagem

das crianças; exercita a imaginação e a memória; e funciona como processo de

desenvolvimento da função simbólica, que estrutura acervos disponíveis na memória a

serem evocados ao longo da vida.

Quando se apropria de roteiros da seqüência de uma brincadeira, a criança

desenvolve a memória operacional, e aprende a organizar o comportamento segundo as

regras.

As brincadeiras acompanhadas de cantigas têm, por exemplo, a função de

desenvolver a rima, a sintaxe, a cadência de movimentos de acordo com ritmos

estabelecidos e de conformidade com as melodias.

Como a música atua diretamente no cérebro, desenvolvendo áreas para ritmo e

melodia, funcionais e necessárias à aprendizagem da leitura e da escrita, assim

também as atividades lúdicas desenvolvem certas faculdades mentais, a saber: a

faculdade de concentração, pois o jogo e a brincadeira levam ao desenvolvimento da

atenção voluntária estabelecida pela motivação, sendo a atenção fator indispensável

para que a criança prossiga pela vida escolar.

Da atenção depende a concentração e a formação das memórias de longa

duração relacionadas ao conhecimento do qual a criança precisa se apropriar. Aqui,

já se observa a ação do hipocampo, uma estrutura que participa nos processos de

armazenamento da informação, na memória de longa duração.

Há também nesse processo o desenvolvimento de formação do pensamento, do

desenvolvimento geral das relações causais, das capacidades de discriminação, de

julgamento, de análise, de síntese, de imaginação e de expressão, e o desenvolvimento

das faculdades criativas, sendo especificamente potencializadas no hemisfério direito

do cérebro, como já foram citadas na seção anterior.

A brincadeira com narrativa, cantiga e dramatização, como “A linda Rosa

Juvenil”, sugerida pela professora Elvira Souza Lima em seu livro “Brincar para quê?”,

fornece muitos elementos para o exercício da função simbólica, que segundo a autora,

corresponde “o eixo fundamental do desenvolvimento da infância”.

A brincadeira em questão utiliza a imitação (estratégia principal de

aprendizagem nesse período), desenvolve a memória operacional (pela seqüência de

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quadros por ser uma brincadeira com coreografia), a memória auditiva, e contribui

para o desenvolvimento da fala.

Além dessas habilidades, outras também são desenvolvidas como o movimento

de circularidade, a percepção de si mesmo e do outro no espaço, bem como da

lateralidade.

Essa atividade lúdica possibilita a formação das sinapses neuronais que dão

suporte à apropriação dos sistemas simbólicos, como a escrita, a linguagem

matemática, e a escrita musical. A ação da ludicidade pedagógica na formação das

sinapses neurais da aprendizagem escolar apresenta-se mais detalhadamente examinada

no capítulo 3 desse presente estudo.

Assim sendo, é necessário entender que as atividades lúdicas não servem apenas

como entretenimento, ou como atividade ocupacional sem propósito na educação

infantil, e tampouco essa deve ser a intenção pedagógica, uma vez que as teorias

defendidas por autores reconhecidos citados nesse trabalho, eliminam qualquer

confusão ou distorção a respeito disso, especialmente quando o profissional da educação

das infâncias elabora objetivos, com vistas ao desenvolvimento das habilidades

cognitivas e psicomotoras e ao desenvolvimento global da criança.

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Capítulo 2 – As diversas modalidades lúdicas vivenciadas com prazer

durante a infância: estímulos que acionam o sistema límbico e a relação

deste sistema com a aprendizagem e o rendimento escolar

O brinquedo usado pela criança oferece-lhe a oportunidade de conhecer-se e de

constituir-se. É devido a isso, que, além de proporcionar prazer, o lúdico atende às

necessidades próprias da infância. Então, fica clara a idéia de que a criança necessita

satisfazer os seus desejos, e quando isso não ocorre, ela busca realizá-los através da

imaginação, com o faz-de-conta.

Sendo assim, a criação de situações imaginárias no contexto escolar desenvolve

potencialidades, considerando-se que o brincar envolve a criança nos aspectos

psicomotores e emocionais, até ao ponto de ampliar as possibilidades de aprendizagens

mais avançadas nas áreas do conhecimento, como linguagem oral e escrita, ciências

sociais e naturais, e matemática. Nessas situações, o manuseio de objetos e brinquedos

permite que a criança reproduza os papéis sociais:

“As salas de atividades da creche e da pré-escola podem e devem ter cantinhos para a brincadeira de faz-de-conta, com bonecos, roupas e acessórios, fantasias, utensílios domésticos, objetos do mundo do trabalho, miniaturas e tudo aquilo que educadores e crianças acharem importante. Kits temáticos (...) contendo objetos relacionados a um tema específico, como escritório, consultório médico, feira, escola, circo, contribuindo para o desenvolvimento de situações imaginárias.” (Multieducação – Educação Infantil – pg. 10)

Por intermédio das situações imaginárias, da criatividade, e das descobertas, a

criança satisfaz os seus desejos. Interagindo com os colegas na hora de brincar, ela

adquire a noção básica de convivência social afetiva, internalizando regras e

respeitando o espaço do outro. Enfim, trabalha o cérebro social e o comportamento

emocional.

Durante esse processo de desenvolvimento, a criança levanta dúvidas, projeta

sonhos e elabora o pensamento abstrato.

Ao observar esse ou outro nível de desenvolvimento, o educador o aproveita

como suporte para definir a sua proposta de trabalho pedagógico, lançando desafios

através de atividades, questões e sugestões, com o objetivo de favorecer o avanço do

desenvolvimento infantil integral. Isso é estimular o potencial de ação do neurônio

analisado no capítulo 3 desse estudo.

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É imprescindível também para o educador refletir sobre a natureza de sua

intervenção durante o processo das brincadeiras interativas, avaliando se essa

intervenção é instigante ou invasiva. Ao agir com ética, e ao assumir uma postura de

sujeito mediador que valoriza a conversa e a troca coletiva, o professor direciona a sua

ação em busca de alternativas efetivas que solucionem ou minimizem os inevitáveis

conflitos nas relações sociais das crianças.

Sob esse aspecto, importa ao educador “repensar a sua ação no uso de

recompensas e castigos” (Multieducação – Educação Infantil – pg. 13). Aqui já se nota

a necessidade de se compreender a anatomia e a fisiologia do sistema límbico e as

estruturas relacionadas de recompensa.

Como educador das infâncias, o mediador atua propondo e participando do jogo

como integrante dessa atividade lúdica, aproximando-se mais dos pequenos, quebrando

resistências, rompendo paradigmas de uma educação rígida e engessada, permitindo a si

mesmo o jogar, uma vez que “saber jogar... é sentir prazer”. (Multieducação –

Educação Infantil – pg. 14)

Portanto, esse texto introduz um preparo para a compreensão da

anatomofisiologia do sistema límbico, das estruturas relacionadas no circuito das

recompensas e das sensações de prazer, apresentadas no texto que se segue.

2.1- A anatomofisiologia do Sistema Límbico

O Sistema Límbico é a área do cérebro encarregada das emoções.

Localizado no diencéfalo, parte média do cérebro, o lobo límbico regula o

comportamento emocional, assinalando que a emoção, orgânica e involuntária, é o

impulso primitivo da sobrevivência.

Além disso, o Sistema Límbico participa da regulação do sistema endócrino e do

SNA (sistema nervoso autônomo). Sendo considerado o nosso cérebro emocional, um

centro sensível, o Sistema Límbico é a sede responsável pelas sensações de prazer e

desprazer, afetos e desafetos, bom e mau humor, também chamado de sistema

límbico de recompensa, pois libera satisfação de desejos e de interesses.

Nele, também, são guardados os traumas emocionais e os medos adquiridos e

construídos que paralisam o indivíduo, bem como o medo responsável que serve como

mecanismo de defesa.

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O Sistema Límbico age no mecanismo da memória e aprendizagem, pois a

assimilação e acomodação do conteúdo acontecem por memorização e passam pelo

Circuito de Papez, em que o aprender ocorre com prazer e motivação, quando a

curiosidade e o interesse são despertados no educando, sendo a memória um arquivo

no qual os conteúdos de significado emocional são guardados.

Considerar o sistema límbico bem como as estruturas relacionadas de

recompensa que o integram, permite o entendimento do processo de ensino e

aprendizagem dos “conteúdos emoldurados pela emoção”, e o ressignificado do papel

do professor atuante na ação de incentivar o aprender, possibilitado pelos variados

percursos sinápticos estimulados pelo prazer, pelo interesse e, sobretudo, pela

afetividade, oferecendo caminhos alternativos para uma efetiva intervenção

pedagógica que acompanhe o ritmo de aprendizagem de cada um. Assim, segundo

Marta Relvas em Revista Psique, número 64, pg. 45, a abordagem neuropedagógica

apresentada até agora é sustentada pela seguinte citação: “Quando se fala que

aprendizagem é o ritmo de cada um, isto tem a ver com as sinapses neurais que

perpassam pelo interesse do cérebro de recompensa e o desejo do sistema límbico e

cognitivo.”

Entendendo-se que há caminhos alternativos para a aprendizagem de cada

estudante, importa que no planejamento da ação pedagógica haja objetivos

específicos a alcançar, através das estratégias de ensino que excitem os canais

sensoriais dos sentidos biológicos, uma vez que “os objetivos educacionais e as

práticas pedagógicas precisam ser repensados, a fim de valorizar a aprendizagem

biológica ou sináptica, mas também a subjetiva, a afetiva, a emocional, a social...”

(Revista Psique, número 64, pg. 45 ano 2011)

Não somente isso, mas também é indispensável ampliar o acesso dos educando

a outros ambientes fora da sala de aula, e neles propor desafios, pesquisas,

experiências, atividades livres ou dirigidas do corpo em movimento referidas nesse

estudo da ludicidade pedagógica, entrevistas, visitas e passeios, observação,

exploração e aproveitamento dos outros espaços disponíveis para acesso dos alunos

na escola, como a sala de leitura, o laboratório de informática, a brinquedoteca etc.

Em virtude dessas considerações, a educação assume perspectivas mais

abrangentes e define uma concepção integral de sujeito aprendiz como o sujeito

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cerebral em sua totalidade que inclui a percepção, a cognição, a psicomotricidade, a

afetividade e a emoção, sendo, portanto, necessário redimensionar o conceito de

aprendizagem não fragmentada, mas concisa, interativa e prazerosa.

A imagem anterior extraída do artigo científico intitulado “Áreas encefálicas

relacionadas com as emoções”, publicado no site da Psiquiatria Geral, mostra o

processamento da informação emocional em movimento, denominado Circuito de

Papez, a ser analisado com mais precisão no item a seguir.

2.1.1- Estruturas relacionadas no circuito límbico de recompensas, e as atividades lúdicas O sistema límbico é o responsável pela experiência emocional. Composto por

estruturas que formam um anel ou uma borda que circunda o tronco encefálico, na

parede medial do encéfalo.

As estruturas interconectadas anatomicamente desse sistema desempenham ação

no processamento da informação emocional, originada no hipotálamo e conduzida até

ao neocórtex, e deste, ao hipotálamo.

Acredita-se que a função do hipotálamo seja decisiva no comando da

experiência emocional, e que o neocórtex atue racionalizando as emoções.

Basicamente, os estudiosos e pesquisadores apontam resultados de experimentos

realizados que sugerem a participação do hipotálamo e da amígdala cerebral na

expressão de diversos tipos de emoção, e que o lobo límbico assuma importante papel

no aprendizado e na memória.

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A experiência das emoções envolve estruturas que se estendem desde o sistema

nervoso central até ao sistema neurovegetativo, e essas emoções reagem como resultado

da interação dos estímulos sensoriais captados do ambiente, do processamento da

informação emocional através do Circuito de Papez, da memória emocional de

experiências passadas, e da ação dos sistemas modulatórios difusos localizados no

encéfalo em que são liberados os neurotransmissores inibitórios e excitatórios.

Assim, as estruturas anatômicas apontadas como integrantes do sistema límbico

são: giro do cíngulo, hipocampo, hipotálamo, os núcleos anteriores talâmicos, amígdala

cerebral, o córtex orbitofrontal, partes dos núcleos da base, e o núcleo medial dorsal do

tálamo, os quais de fundamental importância regulam o comportamento emocional

humano.

Uma observação de extrema relevância a ser feita nesse texto é que as emoções

ou um evento significativo intensificam a formação das memórias de longa duração,

devido ao forte componente emocional do evento que envolve o indivíduo.

Essa observação traz á luz a íntima relação entre memória, emoção e

aprendizagem escolar, no tocante às ações pedagógicas desenvolvidas, que promovam

boas interações neuroquímicas, gerando bom humor, diversão, prazer, alegria, e, por

conseguinte, a segurança no educando de sentir-se capaz de aprender, e

desbloqueando as possíveis resistências ao novo, apresentadas pelas crianças com baixa

autoestima.

Sob esse aspecto, as vivências escolares das atividades lúdicas modulam o

sistema límbico e as estruturas interconectadas de recompensa.

As emoções experimentadas ao longo das brincadeiras propiciam a

expressividade corporal através do comportamento motor voluntário, e das expressões

faciais de alegria infantil extravasada, que evidenciam as intrínsecas emoções

processadas em movimento interno no sistema nervoso central.

As vivências das atividades lúdicas na infância são fundamentais para

desenvolver a ação do corpo em movimento, como resposta aos comandos neurológicos

em vias de maturação no cérebro da criança, e contribuem para que o educador

identifique possíveis problemas ou dificuldades de aprendizagem das habilidades

motoras, e oferecem amplas oportunidades de observação do comportamento, e de

intervenções alternativas que auxiliem o aluno com dificuldade.

O comportamento emocional do educando sinaliza os seus interesses, gostos,

preferências, desejos, ímpetos, que servem como ponto crucial para o investimento da

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ação pedagógica, porquanto a aprendizagem das habilidades perceptivas, cognitivas, e

psicomotoras perpassa pelo vínculo afetivo, e o cérebro emocional armazena na

memória de longa duração somente o que promove impacto emocional.

Daí, os educadores usarem de cautela na organização e na seleção dos

conteúdos, na elaboração dos objetivos e na qualidade da interação afetiva que

vivenciam com os educandos, pois as substâncias químicas produzidas pelo sistema

límbico podem servir como bloqueadores ou estimuladores da aprendizagem.

O excesso de cortisol e de adrenalina liberados na corrente sanguínea servem

como bloqueadores do potencial de aprendizagem do educando, pois ativam as funções

do sistema nervoso autônomo simpático, que aceleram os batimentos cardíacos,

produzem a sudorese e acionam a dilatação das pupilas dos olhos, entre outras. Toda

essa reação do organismo que entra em estado de alerta para a “fuga” por conta do

medo, é controlada pelas ações homeostásicas combinadas entre a glândula hipófise e o

hipotálamo.

Assim, o que se pode esperar em termos de aprendizagem de um educando com

“medo de aprender”, “recalcado”, “reprimido”, que foi condicionado pelo medo dos

gritos, através de uma educação baseada em ameaças, em ações autoritárias e

arbitrárias, a apresentar um comportamento emocional moldado por valores sociais

distorcidos? Muito não se pode esperar, principalmente quando esse tipo de

comportamento é ignorado; entretanto, muito investimento pode ser feito no cérebro

desse educando, com a intenção de reverter esse quadro.

Sabe-se que as memórias emocionais são armazenadas de forma instantânea,

sejam positivas, ou negativas. Eliminar as recordações dos traumas vividos que

perpetuam o sofrimento seria difícil, mas é necessário investir, a fim de que o cérebro

emocional do sistema límbico libere neurotransmissores envolvidos numa

aprendizagem construtiva, que promova a transformação do comportamento.

Quando o sistema límbico emocional torna-se excitado ou estimulado, há

produção de neurotransmissores como catecolamina, assim como noradrenalina. A

ação dos neurotransmissores no processo de aprendizagem e no estado afetivo está

relacionada ao circuito de recompensa do sistema límbico; sendo, portanto, relevante

mencioná-la aqui, mesmo que de forma sucinta, pois esse assunto será retomado no

capítulo 3 desse trabalho, que abordará a ação das sinapses neurais eletroquímicas.

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Portanto, cabe aqui citar as ondas eletromagnéticas que permeiam a

membrana plasmática dos neurônios e fazem com que os circuitos cerebrais fiquem

mais rápidos, facilitando a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica. Essas

substâncias químicas são responsáveis pelos estados emocionais, e atuam na

aprendizagem.

O glutamato, por exemplo, acessa uma rede inteira de neurônios, reunindo as

memórias e promovendo a aprendizagem, sendo vital para estabelecer as conexões

entre os neurônios, que são células nervosas funcionais da aprendizagem no cérebro.

A dopamina controla os níveis de estimulação e de controle motor em muitas

áreas do cérebro. A serotonina, responsável pelas sensações de bem-estar, pelo

humor, pelas sensações de prazer, está diretamente relacionada à motivação, sem a

qual não acontece a aprendizagem.

A acetilcolina controla as atividades cerebrais relacionadas à atenção,

aprendizagem e memória. Já a noradrenalina induz á excitação física e mental, pois

atua sobre as taxas de conversão de glicogênio em energia para o organismo.

Assim, em vista de todas essas considerações, percebe-se que a

anatomofisiologia do sistema límbico está envolvida em muitas ações cerebrais, entre as

quais, na aprendizagem escolar, que é o objeto de interesse desse trabalho monográfico.

2.2- Avaliações dos níveis de aprendizagem e de rendimento escolar decorrentes do prazer de aprender Segundo a professora Elvira Souza Lima em seu livro Desenvolvimento e a

Aprendizagem na Escola, pg. 25, ano 1998, a emoção exerce influência no

desenvolvimento do aluno, sob a perspectiva da psicologia, com respaldo nas

neurociências, e apresenta esse argumento usando das seguintes palavras:

“Ao entender que a emoção é constituinte do desenvolvimento humano, a psicologia propõe um modelo que extrapola a noção de que o indivíduo que aprende na escola é um ser cognitivo. (...) O funcionamento do cérebro mobiliza em toda a ação as áreas cerebrais da emoção.”

Esse argumento permite considerar a seriedade do trabalho pedagógico que

utiliza como instrumento o lúdico, através do qual a criança é mobilizada pela sua

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motivação, demonstrada em ações intencionais de livre escolha das brincadeiras que

resultam em satisfação e sorriso.

Também, cabe ressaltar aqui a pesquisa da autora Tizuko Kichimoto Morshida

apresentada no capítulo intitulado “O jogo e a educação infantil” do livro “Jogo,

brinquedo, brincadeira e a educação, no qual alguns pontos importantes são assinalados

sobre a flexibilidade do ato de brincar, quando acontece sem a interferência de alguma

pressão do meio, favorecendo a exploração e a investigação que instiga a busca de

alternativas que solucionem problemas, uma vez que para isso ocorrer, é necessário que

as crianças usem de iniciativa e liberdade de ação.

Essa teoria parte do fundamento inquestionável de que o jogo infantil

proporciona recreação, além de contribuir para a educação, pois favorece o ensino de

conteúdos escolares da matemática, da geografia e da história, possibilita o

conhecimento da personalidade infantil, e acima de tudo, pode servir como recurso que

relacione o ensino ás necessidades das crianças, criando situações de desenvolvimento

da inteligência e da construção do conhecimento:

“Entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores, nos brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas, nos brinquedos de encaixe, que trabalham noções de sequência, de tamanho e de forma, (...) móbiles destinados à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora; parlendas para a expressão da linguagem; brincadeiras envolvendo músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica. (Tizuko Morchida Kishimoto em Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação, pg. 40, ano 2011)

O jogo infantil proporciona espontaneidade e liberdade á criança que desenvolve

a linguagem, a recriação e a expressão das suas qualidades naturais.

Portanto, todas as argumentações até aqui apresentadas relacionam o lúdico ao

interesse e necessidades da criança, o que ratifica a abordagem de Leonor Rizzi e de

Regina Célia Haydt referida no livro “Atividades lúdicas na educação da criança”, ano

2007.

Essas autoras sugerem o jogo como recurso pedagógico no processo de ensino-

aprendizagem, e o apontam como suporte indispensável ao trabalho docente, baseando-

se em quatro razões.

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Na primeira, o jogo como impulso natural da criança, atende ás suas

necessidades de desenvolvimento, e esse argumento conta com a unanimidade dos

autores mencionados nesse trabalho.

Na segunda, o jogo comporta características que o definem enquanto atividade

lúdica e tais características envolvem o prazer e o esforço espontâneo, pois o prazer

surte em emoção que gera principalmente a motivação, evidenciada pelos estados de

euforia, de vibração e entusiasmo.

Na terceira razão, a prática do jogo aciona os esquemas mentais com suas

funções psiconeurológicas, como as operações mentais de ordenação e de formação do

pensamento, porquanto o jogo é uma maneira de organizar o tempo, o espaço e os

movimentos. Essa organização é fixada pelas regras, é claro.

E finalmente, a quarta razão remonta às anteriores, e expõe uma abrangência

integral do jogo em várias dimensões da personalidade do ser, a saber: a afetiva, a

cognitiva e a motora, já apontadas nesse trabalho.

Assim, há muitos jogos sugeridos pelas autoras no sentido de investir no

desenvolvimento infantil. Tais jogos estão classificados de acordo com as suas

especificidades. Por exemplo, os jogos sensório-motores são atividades de exploração e

de movimentos com o corpo. Envolvem as seguintes funções psiconeurológicas: a

coordenação motora ampla, a orientação espacial, a discriminação visual e auditiva, a

coordenação visomotora, a orientação temporal-ritmica, a coordenação motora fina, e a

noção de ritmo.

Já os jogos de representação simbólica desenvolvem a formação das imagens

mentais a partir da imitação, da imaginação e da linguagem. As funções

psiconeurológicas acionadas durante esses jogos são: a linguagem oral, a memória, a

observação, a memória visual e auditiva, o esquema corporal, a orientação espacial e

temporal, a coordenação motora, a atenção, a coordenação visomotora, a análise e a

síntese, a classificação e a seriação.

Há também os jogos de regras que apresentam a combinação entre os jogos

sensório-motores e os de representação simbólica ou os intelectuais, que são

regulamentados por regras e que incluem as mesmas funções psiconeurológicas escritas

anteriormente.

Entre as obras analisadas dos autores citados até o presente momento, nenhuma

delas determinou resultados estatísticos de pesquisas realizadas sobre os índices de

rendimento escolar decorrentes do prazer de aprender. Contudo, todas as abordagens

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apresentadas nos livros lidos partem do mesmo fundamento que relaciona a importância

da atividade lúdica ao prazer e á motivação, para a aprendizagem escolar na classe de

educação infantil.

Assim sendo, não resta nenhuma dúvida sobre o enfoque principal do trabalho

docente na educação infantil, baseado em atividades que promovam diversão e alegria,

excitando o sistema nervoso central a desempenhar as funções psiconeurológicas de

extrema relevância ás crianças em fase de desenvolvimento afetivo, cognitivo, motor, e

de aquisição da leitura e da escrita.

Fonte: Atividades lúdicas na educação da criança, pg. 64, ano 2007

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Capítulo 3- A ação da ludicidade pedagógica na formação das sinapses neurais da aprendizagem escolar

Para que ocorra a aprendizagem, a atividade cerebral a cargo das conexões

neurais precisa acontecer. Então, se as sinapses não forem consolidadas,

consequentemente, o sujeito integrante do processo ensino-aprendizagem deixará de

construir o conhecimento.

Sendo assim, com o objetivo de fundamentar essa afirmação, é necessário

analisar as definições inter-relacionadas no que tange à aprendizagem e às conexões

neurais.

Em princípio, o conceito de aprendizagem diz respeito à “construção do saber,

à retenção de informações, à aquisição de habilidades, e a uma concepção mais ampla:

“aprendizagem é transformação de atitudes.”

Até aqui essas definições expõem apenas os resultados obtidos no ato de

aprender. Mas, onde se dá o aprendizado? Como ocorre esse processo? Quais fatores

servem como facilitadores e mediadores da aprendizagem?

Em resposta às perguntas imediatamente anteriores, a aprendizagem se dá no

SNC, em especial no cérebro, que contém cerca de 100 bilhões de neurônios, as

principais células do aprendizado. Por quê?

Os neurônios ou células nervosas possuem “forma estrelada e alongada”, têm a

propriedade de “receber e transmitir informações, permitindo ao organismo

responder a alterações do meio”.

Os canais sensoriais absorvem e enviam através dos nervos os estímulos do

meio ambiente aos neurônios aferentes localizados em áreas especializadas do

cérebro para recebê-los.

Já aqui, nasce a importância do uso variado de recursos pedagógicos que sejam

funcionais em sala de aula e explorados durante o processo de ensino e aprendizagem;

pois o aluno, com a personalidade assinalada por características subjetivas, e inserido

num contexto sócio-cultural onde adquire saberes constituintes de seus pré-requisitos

de conhecimentos, resultantes de experiências vividas na sua própria realidade,

necessita de estímulos que sejam coerentes com sua história de vida.

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O uso dos recursos com dinamismo, exploração das riquezas de detalhes e

significados, “despertam a curiosidade, estabelecem a interação afetiva, estimulam a

liberação de neuroquímica” (Relvas) e proporcionam o prazer de aprender liberado

pelo sistema límbico, analisado no capítulo 2 desse trabalho.

Apesar disso, o olhar atento do (a) professor (a) consciente avalia o ritmo de

aprendizagem individual, uma vez que, segundo Relvas,

“cada estudante é único, e que mesmo o seu tempo de aprendizagem é diferente, tanto na elaboração quanto na compreensão das informações que passam pelos sentidos biológicos e chegam até o cérebro”. (Neurociência e Educação pg.61, ano 2009)

Essa sinalização muito importante feita pela professora Marta desperta a

necessidade de o professor entender que para o neurônio impulsionar a informação

através das ondas de despolarização, é preciso que o estímulo a ser recebido esteja

“acima do limiar”. Chama-se a isso de “lei do tudo ou nada”: se o estímulo absorvido

estiver abaixo do limiar, o neurônio não efetuará a transmissão dos impulsos nervosos

e tampouco assimilará a informação.

Entretanto, quando o estímulo acima do limiar de excitação no SN é recebido

pelo neurônio, então começa o processo de estruturação da informação transformada

em elétrons. A culminância desse processo resultará em conexões neurais ou sinapses,

que promovem a comunicação entre os neurônios.

O sistema nervoso central gerencia as atividades cognitivas, afetivas e motoras.

A aprendizagem se dá nesses aspectos, e especialmente pela afetividade, pois o

estímulo afetivo também ativa a propriedade de irritabilidade do neurônio e favorece

a realização de mais sinapses, através das quais a informação passa de um neurônio a

outro, formando uma rede de conexões neurais reforçadas pelas células gliais.

Uma vez consolidada a informação na forma de um novo conhecimento, o

objeto da aprendizagem será armazenado na memória, que varia de acordo com a

durabilidade e o grau de motivação.

A fim de que novas conexões, reconexões neurais e aprendizagens sejam

efetuadas, é indispensável que o professor aproveite os conhecimentos prévios dos

alunos, estabeleça “ganchos” a partir dos quais o SNC possa acessar na memória a

informação solicitada. Assim, será possível propor e expor o “novo”, pois o processo

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do aprendizado eficiente é

proposta de ensino a inten

esperadas (habilidades) men

Portanto, o cérebro

apenas os neurônios sensit

responsáveis pelas associaç

sons etc, uma vez que a ap

graças ás conexões neurais e

Sem atividade neur

das sinapses é, sem dúv

conhecimento.

3.1- As sinapses neurais O processamento da

fala, acontece através de pe

ao longo da membrana neur

A membrana neuron

por proteínas que bombeiam

para dentro, a fim de que

Essa descrição está ilustrad

Sistema Nervoso, pg. 83, ano

te é progressivo e contínuo. E justamente a

intencionalidade da ação pedagógica (objetivo

mencionadas no capítulo 1 desse trabalho.

bro apto a receber o novo durante o aprendiza

nsitivos e motores, mas também as funções

ciações que se encarregam das projeções das

a aprendizagem se dá por associação. Tudo isso

ais e à capacidade de plasticidade cerebral.

eural não haverá aprendizagem, porquanto

dúvida, decisiva e fundamental para a c

o da informação sensorial, perceptiva, motora, e

e percursos ou circuitos movidos por ondas ele

neuronal.

uronal delimita o citoplasma no interior da célul

beiam substâncias de dentro para fora do neurô

ue aconteçam os eventos bioquímicos no inte

strada na imagem abaixo, extraída do livro D

, ano 2008

Além disso, a

confere ao neurônio a

transportar os sinais

função de sua permeab

pelo potencial de ação

que permite a entrada e

cátions e ânions, possib

os impulsos nervosos.

O impulso nerv

pelas ondas elétricas pe

33

te aqui, nasce na

etivos) e as ações

dizado ativará não

ões dos neurônios

das imagens, dos

isso só é possível

to a contribuição

a construção do

ra, emocional, e da

s eletromagnéticas

célula e é revestida

eurônio, e de fora

interior da célula.

ro Desvendando o

, a membrana

o a capacidade de

ais elétricos, em

eabilidade ativada

ção do neurônio,

a e a saída de íons

ssibilitando assim,

nervoso acionado

s percorre todo o

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neurônio até chegar ao ter

quais estão armazenados os

fenda sináptica (o espaço en

A esse processo de transmis

nome de sinapse eletroquím

Fonte: Des

Aqui, interessa saber

pré-sináptico, há um recapta

Os neurotransmissor

“divergente” ou “convergen

como acetilcolina, noradren

Fonte: Des

terminal sináptico, que contem as vesículas

s os neurotransmissores ou substâncias química

o entre um neurônio e outro) e recebidas por o

smissão da informação de uma célula nervosa a

uímica.

Desvendando o sistema nervoso, pg. 134, ano 2008

aber que, para cada neurotransmissor liberado

aptador ou neuroreceptor no neurônio pós-siná

issores produzem efeitos diversos, dependend

rgente”, e os mais conhecidos já foram citados n

renalina, glutamato, dopamina, serotonina, e ca

: Desvendando o Sistema Nervoso, pg. 26, ano 2008

34

las sinápticas, nas

micas, liberadas na

or outro neurônio.

sa a outra se dá o

ado pelo neurônio

sináptico.

endo da sua ação

os nesse trabalho,

e catecolamina.

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Assim, como é possível perceber na imagem acima, os neurônios comunicam as

informações ou sensações recebidas no seu corpo celular a outros neurônios, e acionam

as respostas somáticas transportadas pelo axônio: filamento neuronal que pode variar de

espessura de acordo com a camada de proteína e de gordura que o reveste denominada

bainha de mielina, intercalada pelos nódulos de Ranvier, sem os quais não ocorreria a

condução saltatória da informação.

Como já se sabe, para ocorrerem os impulsos nervosos, os neurônios operam

graças à neurotransmissão elétrica, pois metaforicamente, “o cérebro é um hardware

onde vários softwares são “rodados” por meio das ondas eletromagnéticas.”

(Neurociência e Educação pg. 60, ano 2009)

Portanto, basicamente, o neurônio apresenta duas partes: o soma ou corpo

celular de onde partem os dendritos (pequenas ramificações receptoras da informação) e

o axônio, que pode variar tanto em espessura quanto em comprimento.

A fisiologia neuronal é apoiada pelas células gliais, cuja função, entre outras, é a

de oferecer suporte ao neurônio para que permaneça suspenso no seu lugar. Sem a glia,

o encéfalo não funciona adequadamente.

As células gliais existentes no encéfalo são os astrócitos e os oligodentrócitos.

Os astrócitos preenchem os espaços entre os neurônios, e esse preenchimento é

de conteúdo químico. Também, regulam a concentração de íons potássio no fluído

extracelular.

Já os oligodentrócitos e as células de Schuann formam a camada isotérmica do

axônio chamada bainha de mielina citada anteriormente, sendo que os oligodentrócitos

estão presentes apenas no sistema nervoso central, e as células de Shuann somente no

sistema nervoso periférico.

3.2- Contribuições da neurociência para a pedagogia

A neurociência ampliou de forma significativa o conhecimento de como o ser

humano se desenvolve e aprende.

O alcance desse conhecimento é fornecido pela tecnologia, através da qual as

áreas do cérebro podem ser visualizadas a cada tarefa que a pessoa realizar.

Hoje, a neurociência dispõe conhecimentos a respeito dos processos internos de

modificação cerebral quando ocorre aprendizagem, como o cérebro funciona e reage ás

mudanças do ambiente, e á mudanças na relação entre a pessoa e o contexto em que está

inserida.

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Além disso, há a íntima associação entre aprendizagem e a formação de

memórias, pois o objetivo da educação é formar memórias dos conhecimentos novos e

de metodologias de estudo, como pesquisa e análise.

“O processo de aprender conhecimentos organizados em sistema (como é o caso de todas as áreas das ciências, como as das artes) tem como resultado uma mente acostumada a observar, categorizar, analisar. Estas capacidades vão ser utilizadas na vida cotidiana, por exemplo, nos processos de tomada de decisão: a pessoa disporá da possibilidade de considerar um evento de vários pontos de vista, refletir, estabelecer relações entre os fatos, hierarquizá-los, antes de tomar uma decisão.” (Neurociência e aprendizagem, pg. 6, 2007)

O cérebro é constituído por células neurais apoiadas pela glia. Apresenta divisão

anatômica em lobos com funções determinadas; também, conta com os componentes

químicos, já mencionados nesse trabalho.

Aqui, portanto, cumpre assinalar a formação das redes neuronais criadas pelas

sinapses entre os neurônios.

Essas redes neuronais são estabelecidas em função da experiência pessoal de

cada indivíduo. Assim, entende-se que “cada ser humano é único, pois as redes

neuronais formadas são próprias e específicas da história de vida de cada pessoa.”

(Neurociência e aprendizagem, pg. 7)

Embora cada área cortical assuma diferentes funções, o cérebro funciona

integradamente, porquanto, várias áreas do cérebro se articulam a fim de elaborar uma

resposta ás informações aferentes, como por exemplo, a produção da fala.

O cérebro apresenta uma propriedade denominada plasticidade cerebral já

citada nesse trabalho.

A plasticidade cerebral é a ampla possibilidade de formação das sinapses

neurais. Isso significa que o cérebro apresenta a ampla capacidade de realizar

aprendizagens nas várias áreas do conhecimento.

O cérebro aprende, se organiza e se reorganiza em decorrência das experiências

de vida de cada um.

É a experiência de vida individual responsável pela modulação cerebral que vai

apontar alternativas de atividades lúdicas pedagógicas para provocar o potencial de

ação do neurônio, a fim de que posteriormente a aprendizagem seja sistematizada, com

o objetivo de exercitar a mente dos educandos a partir da observação, da categorização e

da análise.

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Assim como já foi abordada, a aprendizagem se concretiza através da formação

das novas memórias guardadas pela redes neuronais ampliadas.

Portanto, o conhecimento sobre o cérebro auxilia e esclarece ao professor quanto

a elaborar propostas pedagógicas que se ajustem aos processos mentais, de acordo com

o período de desenvolvimento dos educandos. No caso do presente estudo, o período de

desenvolvimento refere-se ao infantil, que requer o exercício de atividade lúdicas, que

atendam ás necessidades da criança, como já tem sido exposto nesse trabalho

monográfico.

3.2.1- Neurociência, atividades lúdicas e aprendizagem

Quando brinca, a criança estimula áreas do cérebro que funcionam

integradamente para favorecer a aquisição dos conhecimentos formais escolares.

Quando a criança brinca se movimentando com o corpo, as sinapses neurais são

formadas no córtex motor, devido aos movimentos repetitivos.

Esses exercícios criam a perícia de certos movimentos a serem utilizados no ato

de escrever.

Além dessas considerações, as brincadeiras acionam a atenção das crianças, que

aprendem a ouvir, a esperar a sua vez, a aguardar a outra criança a concluir o

movimento para começar o seu.

Algumas brincadeiras requerem agilidade e concentração. Basta propô-las,

levando-se em conta os objetivos elaborados a elas relacionados. E em seguida, importa

consolidar as memórias formadas durante as brincadeiras, através de atividades que

organizem e sistematizem o conhecimento adquirido. Isso no sistema nervoso central

significa reforçar os percursos sinápticos formados pelas comunicações e trocas de

componentes químicos entre os neurônios, evocando a lembrança desse conhecimento.

Portanto, a aprendizagem corresponde a uma mudança biológica na conexão

entre os neurônios, que formam percursos sinápticos interligados que podem ser

evocados e lembrados .

3.2.2- Memória e imaginação

A memória e a imaginação são bastante importantes ao desenvolvimento da

aprendizagem do ser humano.

A imaginação é a capacidade de criação, que amplia as múltiplas oportunidades

de aprendizagem, e a memória é a própria possibilidade de aprender.

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Sabe-se que a aprendizagem acontece a partir da formação de novas memórias e

da ampliação daquelas existentes.

É interessante observar que a imaginação utiliza elementos guardados na

memória para criar, inventar, e que essas habilidades cognitivas estão vividamente

presentes nos cérebros das crianças, quando representam personagens em peças teatrais,

em outras dramatizações, nas artes plásticas e nas artes visuais.

“Para Elvira Souza Lima em seu livro “Memória e imaginação” pg. 6, ano 2007,

imaginar implica promover outras conexões a partir dos elementos percebidos e retidos,

re-utilizando esses elementos em outras configurações.”

Nessa definição, percebe-se a importância da imaginação no processo de

aprendizagem, uma vez que o aprender requer o estabelecimento de conexões das

informações, conciliando-as, formando uma configuração de significados para a vida do

educando. Portanto, importa que a imaginação da criança seja desenvolvida.

Como no capítulo 2 do presente trabalho monográfico foi tratada a importância

da memória para a aprendizagem escolar e a sua relação com as emoções, aqui, nesse

texto, o enfoque maior é dado à imaginação, uma função psicológica indiscutivelmente

inerente ao processo de desenvolvimento natural da criança, e também muito importante

ao estabelecimento das sinapses neuronais, pois é a imaginação que, além de criar o

novo, conecta os conhecimentos dantes fragmentados, e os integra entre si na forma de

significados correlacionados, graças às ações das áreas associativas do cérebro.

A criatividade, estado mental resultante da imaginação, ocorre em cérebros com

redes complexas de formações neuronais, fornecendo amplas possibilidades de novas

combinações, porquanto a plasticidade cerebral garante a modificação dessas redes.

A imaginação infantil, que importa a esse trabalho, está presente nas

brincadeiras de faz-de-conta, nas narrativas que as crianças produzem, nas idéias e

explicações que formulam no cotidiano de suas vidas. As idéias criadas pelas crianças

aproximam-se da fantasia. Isso significa que a imaginação delas é bem fértil.

Entretanto, busca-se uma definição de imaginação mais apropriada ao

desenvolvimento humano e da aprendizagem, principalmente da aprendizagem escolar,

considerando que a imaginação difere de acordo com a fase de desenvolvimento.

Assim sendo, a criança pequena usa o corpo, a voz, os movimentos, os objetos e

materiais de apoio para exercer a sua imaginação. Quando for maior, depois da

maturação do corpo caloso ( estrutura formada por fibras nervosas que une o hemisfério

direito ao hemisfério esquerdo do cérebro, garantindo a comunicação entre as áreas

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corticais situadas em cada um deles) e da modificação do funcionamento da memória,

ela será capaz de mentalmente, exercitar a imaginação, mesclando as estruturas mentais

e os objetos de suporte usados nesse exercício.

Portanto, após verificar a importância da imaginação no processo de

aprendizagem, há três dimensões da imaginação a considerar: a imaginação está na

origem da construção do conhecimento a ser ensinado, está na origem da construção do

conhecimento que o aluno realizará, e está na origem do conhecimento futuro.

A imaginação está na origem da construção do conhecimento a ser ensinado

justamente devido ás possibilidades de criação registradas em vários períodos da

história do desenvolvimento do homem. Esses registros comportam conhecimentos

formais que no currículo estão adaptados às diferentes etapas de escolarização.

A imaginação está na origem da construção do conhecimento que o aluno

realizará, se estiver motivado, interessado e envolvido com a aprendizagem, e do ponto

de vista pedagógico, a imaginação se relaciona com a motivação. E um exemplo disso

diz respeito à mobilização da imaginação através da problematização, a partir de um

levantamento de hipóteses e da elaboração de inferências sobre o conhecimento a ser

gerado. Essa atividade, na certa, desenvolve a liberdade de pensamento e a capacidade

de organização das informações.

A imaginação está na origem do conhecimento futuro, levando-se em conta que

parte do conhecimento futuro vem do presente e das idéias do passado. Sob esse

aspecto, a imaginação pode ser entendida como parte do conhecimento do pensamento,

da integração das informações e da construção de categorias.

A importância da imaginação é óbvia. No entanto, em relação às demais funções

psicológicas superiores, vem sendo ignorada no processo de ensino e aprendizagem da

escola, limitando-se a atividades bem específicas.

É necessário afirmar que a imaginação desempenha uma função muito

importante para as aprendizagens escolares. Por isso, é preciso que a imaginação seja

considerada no planejamento, na administração do tempo de todas as atividades a serem

realizadas dentro e fora da sala de aula, e o desenvolvimento dessa função psicológica

deve ter lugar entre os objetivos pedagógicos.

3.3- Outras considerações sobre o cérebro

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O cérebro, capaz de “alta flexibilidade, adaptabilidade e aprendizagem”, se

mostra fisiologicamente preparado para aumentar ao máximo a sua potencialidade,

sendo devidamente estimulado a isso.

“Antigamente pensava-se que o cérebro de um adulto era semelhante a um computador, permanecendo estável e imutável, com memória e capacidade fixa. Atualmente, os estudos da Neurociência descobriram que o cérebro muda durante a vida e que esta mudança é benéfica.” (Neurociência e Educação pg. 39 ano 2009)

O cérebro, devido à neuroplasticidade, pode expandir capacidades, adquirir e

aprimorar habilidades, e se reorganizar quando alguma área cortical sofrer lesão.

Também, possui faculdades mentais superiores, e ainda promove sensações,

percepções, formação de imagens, simbolização e conceituação.

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CONCLUSÃO Em virtude de todas as considerações realizadas, o presente estudo apresenta

questões pertinentes à ação da ludicidade pedagógica na formação das sinapses neurais

da aprendizagem escolar. Assim, no capítulo 1, são identificadas as estruturas

anatômicas do cérebro potencializadas durante as atividades lúdicas. Também, há

referências sobre o desenvolvimento das habilidades intencionalmente planejadas pelo

professor. No capítulo 2, buscou-se compreender a anatomofisiologia do sistema

límbico de recompensa relacionado á vivência das diversas modalidades lúdicas, e a

avaliação dos níveis de produtividade e de rendimento escolar decorrentes do prazer de

aprender. Finalmente, o capítulo 3 expõe a análise do potencial de ação do neurônio

estimulado pela ludicidade pedagógica.

Assim, é certo que as estruturas anatômicas do cérebro são potencializadas

durante as atividades lúdicas, e as habilidades intencionalmente planejadas pelo

professor se desenvolvem através da ludicidade pedagógica. No capítulo 1 desse

trabalho, cada estrutura cortical é identificada com a sua respectiva função definida.

Já no capítulo 2, a abordagem está voltada às diversas modalidades lúdicas

vivenciadas durante a infância, e o estudo comprovou que as tais proporcionam o prazer

de aprender, liberado no cérebro pelo sistema límbico de recompensa, resultando em

aprendizagem com produtividade e amplas alternativas de intervenção pedagógica.

Infelizmente, não foram encontrados dados estatísticos a respeito dos altos índices de

rendimento escolar, nas fontes bibliográficas referidas nessa monografia.

E, no capítulo 3, o estudo pormenorizado e aprofundado do neurônio definiu a

resolução da questão central sobre as conexões neuronais, estabelecidas a partir de

estímulos relacionados ás brincadeiras.

Esta conclusão declara que a hipótese elaborada no plano de pesquisa é

verdadeira, a saber: que a ludicidade pedagógica estimula o potencial de ação

neuronal, e que contribui para a formação das sinapses neurais, promovendo a

aprendizagem escolar, favorecida pelo prazer inerente às atividades lúdicas, uma

vez que o brincar atende ás necessidades da criança e ao desenvolvimento pleno durante

a infância, e serve como excelente estímulo ao cérebro do aluno na educação infantil.

Entende-se que sem atividade neural, não há aprendizagem, porquanto as

sinapses são, sem dúvida, decisivas e fundamentais para a construção do conhecimento

a ser proposto pelo educador.

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Portanto, já não resta dúvida alguma em relação às questões levantadas nesse

trabalho monográfico.

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Bibliografia consultada

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO...............................................................................................2 AGRADECIMENTO...............................................................................................3DEDICATÓRIA......................................................................................................4RESUMO……………………………………………………………………………...5METODOLOGIA……………………………………………………………………..6SUMÁRIO..............................................................................................................7 INTRODUÇÃO......................................................................................................9

CAPÍTULO I - A potencialização das estruturas anatômicas do cérebro da criança

durante as atividades lúdicas, e o desenvolvimento das habilidades intencionalmente

planejadas.......................................................................................................................11

1.1- A importância do lúdico para o desenvolvimento infantil normal..........................11

1.2- Estruturas e áreas anatômicas do cérebro potencializadas durante as brincadeiras 12

1.2.1 – Córtex pré-frontal...............................................................................................14

1.2.2 – Cíngulo anterior..................................................................................................15

1.2.3- Cerebelo................................................................................................................15

1.2.4- Lobo Parietal........................................................................................................15

1.2.5- Córtex auditivo....................................................................................................16

1.2.6- Córtex visual........................................................................................................16

1.2.7- Hipocampo...........................................................................................................17

1.2.8- Hemisfério direito do cérebro...............................................................................17

1.2.9- A área de Broca e a área de Wernicke..................................................................18

1.2.10- Córtex motor.......................................................................................................18

1.3 - A intencionalidade da ação pedagógica, e as ações executadas com as habilidades

desenvolvidas pela criança durante as brincadeiras........................................................19

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CAPÍTULO II - As diversas modalidades lúdicas vivenciadas com prazer durante a

infância: estímulos que acionam o sistema límbico e a relação deste sistema com a

aprendizagem e o rendimento escolar.............................................................................21

2.1- A anatomofisiologia do Sistema Límbico................................................................22

2.1.1- Estruturas relacionadas no circuito límbico de recompensas, e as atividades

lúdicas.............................................................................................................................24

2.2- Avaliações dos níveis de aprendizagem e de rendimento escolar decorrentes do

prazer de aprender...........................................................................................................27

Capítulo III - A ação da ludicidade pedagógica na formação das sinapses neurais da

aprendizagem escolar......................................................................................................31

3.1- As sinapses neurais..................................................................................................33

3.2- Contribuições da neurociência para a pedagogia....................................................35

3.2.1- Neurociência, atividades lúdicas e aprendizagem...............................................37

3.2.2- Memória e imaginação........................................................................................37

3.3- Outras considerações sobre o cérebro....................................................................39

CONCLUSÃO...................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.......................................................................43

ÍNDICE.............................................................................................................44