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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O ENSINO DE ARQUIVOLOGIA NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: HISTÓRIA, CONTEXTO E POSSIBILIDADES Por: Marcelo Nogueira de Siqueira Orientadora Professora Diva Nereida Marques Machado Maranhão Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O ENSINO DE ARQUIVOLOGIA NAS UNIVERSIDADES

BRASILEIRAS: HISTÓRIA, CONTEXTO E POSSIBILIDADES

Por: Marcelo Nogueira de Siqueira

Orientadora

Professora Diva Nereida Marques Machado Maranhão

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O ENSINO DE ARQUIVOLOGIA NAS UNIVERSIDADES

BRASILEIRAS: HISTÓRIA, CONTEXTO E POSSIBILIDADES

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior.

Por: Marcelo Nogueira de Siqueira

3

AGRADECIMENTOS

A conclusão dessa pós-graduação só foi possível graças aos inúmeros

apoios que recebi durante os doze meses de sua duração. Deixo aqui

registrado minha gratidão para com essas pessoas.

Aos meus amigos de trabalho do Arquivo Nacional, em especial a

Ramon Henrique, Rodrigo Queiros, Rodrigo Rangel, Sheila Mueller, Julia

Pontes e Brenda Rocco, que sempre que puderam me ajudaram com

incentivos, apoio e informações valiosas para a elaboração de trabalhos e

desta monografia.

Aos meus amigos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,

a UNIRIO, em especial a Tatiane Balbino, que se dispuseram a me repassar

dados que imprescindíveis em minhas pesquisas.

Aos meus antigos professores da graduação, em especial a Professora

Doutora Anna Carla Mariz, Professora Doutora Julia Belesse, Professor Doutor

Franklin Leal e Professor Doutor Luiz Cleber Gak, que hoje são verdadeiros

amigos e colegas de trabalho, pelos incentivos, conselhos e pelo

acompanhamento desta monografia.

Aos professores e amigos do curso de Docência do Ensino Superior da

Universidade Cândido Mendes.

4

Aos meus amigos Thiago Vieira e Paola Bittencourt, pelo

companheirismo e cumplicidade.

A minha mãe por tudo que fez e faz por mim, ao meu pai que me

ensinou a ser um homem de bem, a meus filhos que me enchem de orgulho a

cada dia e a minha mulher Suzana, da qual a minha vida é conseqüência.

5

DEDICATÓRIA

“Eu te darei o céu meu bem

E o meu amor também...”

Para Suzana e Marlene

6

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar o ensino de Arquivologia

nas universidades brasileiras, contextualizando seu surgimento, historicisando

seu desenvolvimento e avaliando seu momento atual, refletindo sobre o

desenvolvimento da área.

Destaca a crescente demanda mercadológica do profissional arquivista

que se contrapõe a ausência de cursos de graduação em Arquivologia em

inúmeros estados e regiões do Brasil, bem como a falta de professores

arquivistas nestes cursos e da quase inexistência de cursos de pós-graduação

em Arquivologia no país, provocando um empecilho na consolidação da área.

7

METODOLOGIA

A metodologia deste estudo baseou-se na pesquisa bibliográfica

(artigos, textos, livros, etc.) sobre Arquivologia, educação superior, educação a

distância, mercado profissional e concursos públicos em arquivologia,

entrevistas com professores e coordenadores de cursos de arquivologia, de

profissionais arquivistas e de diretores de associações profissionais, de

análises estatísticas de dados coletados junto ao Ministério da Educação,

universidades e associações profissionais.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO --------------------------------- 09

CAPÍTULO I - Breve História dos Arquivos --------------------------------- 12

CAPÍTULO II - Educação Superior no Brasil --------------------------------- 18

CAPÍTULO III – O Ensino de Arquivologia ---------------------------------- 27

CONCLUSÃO ---------------------------------- 33

BIBLIOGRAFIA ---------------------------------- 36

INDICE ---------------------------------- 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO ---------------------------------- 40

ANEXO – ATIV. CULTURAIS ----------------------------------- 41

9

INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso nasceu do inevitável e constante

questionamento de pessoas das minhas mais variadas esferas de

relacionamento sobre a Arquivologia. O que é Arquivologia? O que faz um

arquivista? Existe faculdade de Arquivologia? São necessários quatro anos

para se graduar em Arquivologia? O que se aprende? Existe mercado de

trabalho?

Tais questionamentos, invariavelmente, vinham acompanhados de certa

ironia jocosa. Coube a nós arquivistas a defesa de nossa área apresentando-a

como um campo de conhecimento onde os arquivos e as informações neles

contidos são nossos objetos de estudo e de trabalho.

A Arquivologia, que para muitos é uma ciência, para outros uma técnica

e para os que usam de diplomacia uma disciplina, por ser uma atividade

genuinamente interdisciplinar oferece para quem deseja enveredar-se por ela

uma ampla gama de opções profissionais. Em qualquer atividade é produzido

registros de seu funcionamento, ou seja, qualquer instituição, seja ela pública

ou privada, de grande ou pequeno porte, a produção, o recebimento ou o

acúmulo de documentos é necessário e obrigatório. Empresas, escolas,

hospitais, na administração pública e privada, em qualquer lugar onde seja

10

promovida algum tipo de atividade, os documentos serão produzidos, sejam

eles na forma de recibos, cartas, memorandos, ofícios, fotografias, discos, fitas

de vídeo, películas cinematográficas, documentos eletrônicos ou digitais.

Para a gestão dessa documentação, produzida, recebida ou acumulada,

para sua correta ordenação, respeitando princípios arquivísticos, para o

controle daquilo que deve ser guardado e daquilo que deve ser descartado,

para o auxílio na administração, para tornar acessível informações relevantes

através da descrição e da indexação, para o auxilio no processo de

conservação e reformatação, o profissional arquivista cada vez mais é

necessário nas instituições que almejam uma otimização em sua gestão

informacional ou na disponibilização das informações para o público em geral.

Há exatos trinta anos, ou seja em 1977, o Curso Superior de Arquivos

oferecido pelo Arquivo Nacional passou a ser oferecido pela FEFIERJ, hoje

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, a UNIRIO. Atualmente dez

universidades públicas oferecem o curso de Arquivologia pelo Brasil, contudo

inúmeros estados brasileiros não dispões de destes cursos e a Região Norte

do país não dispõe de nenhum.

Nas últimas décadas o ensino de Arquivologia tem passado por diversas

transformações, resultantes das próprias necessidades do mercado, em busca

de profissionais habilitados a atuar na produção, no uso, na disseminação e no

armazenamento da informação.

11

Esta monografia tem por objetivo analisar o ensino de Arquivologia nas

universidades brasileiras, contextualizando seu surgimento, historicisando seu

desenvolvimento e avaliando seu momento atual, refletindo sobre o

desenvolvimento da área.

Destaca a crescente demanda mercadológica do profissional arquivista

que se contrapõe a ausência de cursos de graduação em Arquivologia em

inúmeros estados e regiões do Brasil, bem como a falta de professores

arquivistas nestes cursos e da quase inexistência de cursos de pós-graduação

em Arquivologia no país, provocando um empecilho na consolidação da área.

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CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRIA DOS ARQUIVOS

Conhecer a história dos arquivos e sua conceituação atual é

imprescindível para que tenhamos uma maior compreensão do tema estudado

e com isso termos uma abordagem crítica acerca da necessidade da formação

profissional qualificada e do surgimento dos cursos de graduação em

Arquivologia no Brasil .

A história dos arquivos no mundo ocidental vem desde o que se

convencionou chamar de antiguidade oriental (3000 a 500 a.C.) quando, entre

os povos sumérios, egípcios, assírios e babilônios, os arquivos estavam

exclusivamente a serviço das autoridades, eram arquivos reais, religiosos,

diplomáticos, onde se achavam leis, tratados, normas e preceitos, tendo sido

encontrados, nas escavações arqueológicas, também documentos privados

como contas, receitas terapêuticas, etc.

Na antiguidade clássica (gregos, de 1500 a.C. a 146 d.C., e romanos, de

753 a.C. a 476 d.C.), os arquivos continuaram a serviço das autoridades, mas

os cidadãos começaram a já poder ter alguma aproximação com seus

registros, ao menos através dos arquivos notariais. O direito romano vai

imprimir grande importância aos arquivos, por causa do peso, na sua

normativa, do ato escrito.

13

Na idade média (476 a 1453), com a vinda dos povos bárbaros para a

Europa ocidental, a decadência da vigência do direito romano e das

autoridades centralizadas, os arquivos circunscrevem-se às autoridades

feudais. No século XII, passa a haver um certo renascimento das provas

documentais escritas, surgindo os títulos e registros como armas jurídicas,

sobretudo relativamente aos direitos sobre as propriedades de terras, dando

origem aos arquivos de autoridades feudais.

Com a criação e evolução dos estados modernos na Europa, na idade

moderna (1453 a 1789), surge à centralização do poder e passam a existir

grandes arquivos reais e também os arquivos notariais organizados. O uso dos

arquivos ainda é totalmente jurídico-administrativo, não havendo a utilização

para a pesquisa histórica. Os países da Europa ocidental, dos quais vai derivar

a arquivística na América, tais como a França, Itália, Espanha, Portugal,

Vaticano, Alemanha, Holanda e outros, nesta época já tem uma organização

arquivística, que inclui legislação própria.

O início da idade contemporânea, em 1789, com a Revolução Francesa,

é uma baliza na história dos arquivos. Isso porque ocorre uma certa abertura

dos arquivos públicos aos cidadãos e se procede à reunião da documentação

oficial dispersa, em Paris, criando-se um arquivo nacional, o primeiro da

história com esse caráter. O uso, no entanto, prosseguia sendo o jurídico-

administrativo, isto é, os documentos servindo somente como instrumentos de

14

informação administrativa e como arsenal de testemunhos das relações

Estado-cidadão.

Na segunda metade do século XIX, surge, nos arquivos, a pesquisa feita

por historiadores, na esteira da “história científica”, da história positivista, cujas

práticas então se iniciavam e nas quais era dado um valor excessivo e único

aos dados contidos nos documentos de arquivo. Durante o século XIX, foram

nascendo os arquivos nacionais, em vários países (inclusive o nacional

brasileiro, nascido Arquivo Público do Império), todos destinados a recolher e

organizar a documentação inativa existente nas diversas dependências

governamentais.

No século XX, pouco a pouco, vai se desenvolvendo, em paralelo, o

aperfeiçoamento dos arquivos administrativos, correntes, ligados à área da

administração pública e privada, e o dos chamados arquivos históricos, ligados

à pesquisa. Somente em 1946, nos Estados Unidos, foi viabilizada uma

aproximação entre o valor primário e o valor secundário dos documentos, isto

é, entre a fase do primeiro uso, o jurídico-administrativo, e a fase do uso pela

pesquisa, dos documentos já inativos do ponto de vista jurídico (BELLOTTO,

2004). Estudou-se nesse país, no interior de uma comissão especial designada

para tratar desta questão, a possibilidade de um fluxo contínuo entre eles.

Surgiu, então, a melhor definição da atuação das duas áreas: de um lado,

records management (gestão de documentos), e de outro, archives

administration (administração de arquivos históricos). Deveria a primeira

15

ocupar-se pontualmente da criação, planificação, controle, organização

(classificação, arquivamento, armazenamento), utilização primária (pela

administração) e destinação (avaliação, eliminação e/ou transferências e

recolhimentos aos arquivos intermediários e/ou históricos); e a segunda, do

arranjo, descrição, difusão e utilização secundária (pela pesquisa) dos

documentos chamados permanentes ou “históricos”. As duas áreas já não

atuariam isoladamente, mas ambas buscando a possibilidade de fluxo.

Institucionalmente isso se tornou possível, primeiramente, nos Estados Unidos

(em sistemática logo adotada por outros países), com a criação formal dos

chamados arquivos intermediários, que se encarregavam de gerir o desejado

fluxo onde parte da documentação aguardava seu prazo de guarda para

posterior eliminação ou recolhimento para permanente guarda.

Alguns conceitos de arquivo:

“Arquivo é o conjunto de documentos que,

independentemente da natureza ou do suporte, são reunidos

por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou

jurídicas, públicas ou privadas”.

(Dicionário de Terminologia Arquivística, 1996)

“Arquivo é um sistema (semi-) cerrado de informação

social materializada em qualquer tipo de suporte, configurado

por dois fatores essenciais – a natureza orgânica (estrutura) e

16

a natureza funcional (serviço / uso) – às quais se associa um

terceiro: a memória, imbricada nos anteriores”.

(Silva, 1998)

“1.Designação genérica de um conjunto de documentos

produzidos e recebidos por uma pessoa física ou jurídica,

pública ou privada, caracterizado pela natureza orgânica de

sua acumulação e conservado por essas pessoas ou por seus

sucessores, para fins de prova ou informação. 2.O prédio ou

uma de suas partes, onde são guardados os conjuntos

arquivísticos. 3. Unidade administrativa cuja função é a de

reunir, ordenar, guardar e dispor para o uso, conjuntos de

documentos, segundo os princípios e técnicas arquivísticas”.

(Paes, 1986)

“1. Conjunto de documentos produzidos e acumulados

por uma entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou

família, no desempenho de suas atividades,

independentemente da natureza do suporte. 2. Instituição ou

serviço que tem por finalidade a custódia, o processamento

técnico, a conservação e o acesso a documentos. 3.

Instalações onde funcionam arquivos. 4. Móvel destinado à

guarda de documentos”.

(Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, 2006)

17

Segundo Bellotto (2004):

“A natureza dos arquivos é administrativa, é jurídica, é

informacional, é probatória, é orgânica, é serial, é contínua, é

cumulativa. É esta natureza, soma de todas estas

características, que faz do arquivo uma instituição única e

inconfundível”.

18

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

Para uma maior compreensão do ensino de Arquivologia pelas

universidades brasileiras, um maior conhecimento sobre a educação superior

no Brasil torna-se imprescindível.

A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, sendo

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, segundo o Artigo 5º

da Constituição Federal promulgada em 1988. Entre os níveis da educação

formal brasileira está a Educação Superior, ministrada em Instituições de

Ensino Superior, públicas ou privadas.

Entre os níveis da educação formal brasileira está a Educação Superior,

ministrada em Instituições de Ensino Superior, públicas ou privadas.

Segundo Duarte(1986):

“Educação Superior é o grau de

ensino que tem por objetivo a pesquisa, o

desenvolvimento das ciências, letras e artes e

a formação de profissionais de nível

universitário”

19

As diretrizes gerais do sistema educacional brasileiro estabelecidas pela

Constituição Federal de 1988 foi redefinida pela Lei Nº 9.394 de 20 de

dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, definindo que a Educação Superior tem por finalidade:

“I - estimular a criação cultural e o

desenvolvimento do espírito científico e do

pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes

áreas de conhecimento, aptos para a inserção

em setores profissionais e para a participação

no desenvolvimento da sociedade brasileira, e

colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e

investigação científica, visando o

desenvolvimento da ciência e da tecnologia e

da criação e difusão da cultura, e, desse

modo, desenvolver o entendimento do homem

e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de

conhecimentos culturais, científicos e técnicos

que constituem patrimônio da humanidade e

comunicar o saber através do ensino, de

20

publicações ou de outras formas de

comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de

aperfeiçoamento cultural e profissional e

possibilitar a correspondente concretização,

integrando os conhecimentos que vão sendo

adquiridos numa estrutura intelectual

sistematizadora do conhecimento de cada

geração;

VI - estimular o conhecimento dos

problemas do mundo presente, em particular

os nacionais e regionais, prestar serviços

especializados à comunidade e estabelecer

com esta uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à

participação da população, visando à difusão

das conquistas e benefícios resultantes da

criação cultural e da pesquisa científica e

tecnológica geradas na instituição”.

A composição da Educação Superior é constituída por cursos de

graduação, sendo fundamental, conforme a Constituição de 1988 em seu

Capítulo III, Art. 207, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão,

21

incluindo-se ainda em educação superior a pós-graduação strictu-sensu e lato-

sensu, os cursos seqüenciais, os cursos tecnológicos e os cursos de extensão.

No Brasil os sistemas de ensino estão organizados em colaboração

entre o sistema federal, estaduais e municipais. Ao sistema federal cabe a

organização e manutenção do ensino superior, garantido qualidade e igualdade

de oportunidades. Ao sistema estadual cabe a gestão do ensino médio e

fundamental, este último sendo de responsabilidade também dos municípios.

Porém, há alguns anos os governos estaduais vêm atuando também na gestão

do ensino superior, como por exemplo no caso do Estado do Rio de Janeiro

que possui a Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.

Os sistemas de ensino têm sua estruturação dada pela Constituição

Federal de 1988, pela Lei 9.394 de 1996 e por diversos Decretos e outras

regulamentações. A educação superior no Brasil compreende nos dias atuais

um sistema complexo e diversificado de instituições públicas e privadas com

diferentes tipos de cursos e programas, incluindo vários níveis de ensino,

desde a graduação até a pós-graduação lato-sensu e stricto-sensu.

22

O Sistema de Educação Superior está organizado em:

• Universidades

• Universidades Especializadas

• Centros Universitários

• Centros Universitários Especializados

• Faculdades Integradas

• Faculdades

• Instituições Superiores ou Escolas Superiores

• Centros de Educação Tecnológica

23

Entre o sistema de ensino superior encontram-se os cursos de nível

superior, que estão divididos em:

• Cursos seqüenciais que tem como finalidade obtenção ou atualização

de qualificações técnicas, profissionais ou acadêmicas. É dividido em 2

modalidades: curso superior de formação específica e curso superior de

complementação de estudos. Podem ter duração de até dois anos e é

possível, posteriormente, fazer curso de graduação com aproveitamento

dos créditos correspondentes às disciplinas já cursadas.

• Cursos de graduação que podem possuir diferentes habilitações de um

mesmo curso e devem, necessariamente, compartilhar um núcleo

comum de disciplinas e atividades. A maioria com quatro anos de

duração, havendo, porém, cursos de formação tecnológica, com dois ou

três anos de duração, e cursos com cinco ou seis anos, como os de

engenharia e de medicina.

24

• Curso Superior de Formação Específica: com formação de estudantes

em qualificações técnicas, profissionais ou acadêmicas, que confere um

diploma aos concluintes. É constituído por um conjunto de disciplinas e

atividades organizadas, com carga horária e duração mínimas de 1.600

horas e 400 dias letivos, respectivamente.

• Curso Superior de Complementação de Estudos: com formação de

estudantes em qualificações técnicas, profissionais ou acadêmicas, com

destinação coletiva ou individual,é vinculado a curso de graduação

existente na IES e confere certificado. É constituído por um conjunto de

disciplinas e atividades com finalidade educacional definida pela

instituição.

• Concluída a graduação, há uma série de opções para a pós-graduação:

� Pós-graduação lato sensu (cursos de especialização e MBA ou

equivalentes)

� Programas de pós-graduação stricto sensu, compreendendo o

Mestrado (Acadêmico e Profissional) e o Doutorado.

Os cursos de nível superior possuem ainda diferentes tipos de

diplomação, sendo:

25

• Graduação: conferem diploma com o grau de Bacharel (ex.: Bacharel

em Física), Licenciado (ex.: Licenciado em Letras), Tecnólogo (ex.:

Tecnólogo em Hotelaria) ou título específico referente à profissão (ex:

Médico).

• O Bacharelado ou o título específico referente à profissão habilita ao

exercício de uma profissão de nível superior.

• A Licenciatura habilita para o magistério no ensino fundamental e

médio.

A obtenção dos diplomas de Bacharel e de Licenciado conjuntamente é

possível caso seja cumprido os currículos específicos de cada uma destas

modalidades. Além das disciplinas de conteúdo da área de formação, a

licenciatura requer também disciplinas pedagógicas e 300 horas de prática de

ensino.

Todos os tipos de cursos e habilitações do ensino superior seguem

regras determinadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

conforme seu artigo 47, sendo:

Art. 47. Na educação superior, o ano

letivo regular, independente do ano civil, tem,

no mínimo, duzentos dias de trabalho

acadêmico efetivo, excluído o tempo

reservado aos exames finais, quando houver.

26

§ 1º As instituições informarão

aos interessados, antes de cada período

letivo, os programas dos cursos e demais

componentes curriculares, sua duração,

requisitos, qualificação dos professores,

recursos disponíveis e critérios de avaliação,

obrigando-se a cumprir as respectivas

condições.

§ 2º Os alunos que tenham

extraordinário aproveitamento nos estudos,

demonstrado por meio de provas e outros

instrumentos de avaliação específicos,

aplicados por banca examinadora especial,

poderão ter abreviada a duração dos seus

cursos, de acordo com as normas dos

sistemas de ensino.

§ 3º É obrigatória a freqüência

de alunos e professores, salvo nos programas

de educação a distância.

§ 4º As instituições de educação

superior oferecerão, no período noturno,

cursos de graduação nos mesmos padrões de

qualidade mantidos no período diurno, sendo

obrigatória a oferta noturna nas instituições

públicas, garantida a necessária previsão

orçamentária.

27

CAPÍTULO III

O ENSINO DE ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

A formação dos profissionais de arquivo no Brasil começou a funcionar

de maneira regular a partir de 1958, com o Curso Permanente de Arquivos do

Arquivo Nacional, na direção de José Honório Rodrigues.

O Conselho Federal de Educação, em 1972, autorizou a criação de

cursos de graduação em Arquivologia, concedendo às universidades brasileiras

o poder de organizar programas de graduação em Arquivologia.

A formação de arquivistas no Brasil recebeu mandato universitário

quando o Curso Permanente de Arquivos do Arquivo Nacional, estabelecido a

partir de 1960, passa a ser reconhecido pela Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ) em 1973. No ano seguinte o currículo mínimo do curso de

graduação em Arquivologia é aprovado. Este currículo deveria ser

obrigatoriamente cumprido nos cursos de Arquivologia e foi constituído de doze

matérias que deveriam ser desdobradas em disciplinas nos cursos plenos. São

elas:

Ü Introdução ao Direito

28

Ü Introdução ao Estudo de História

Ü Noções de Contabilidade

Ü Noções de Estatística

Ü Arquivo I, II, III e IV

Ü Documentação

Ü Introdução à Administração

Ü Paleografia e Diplomática

Ü Introdução à Comunicação

Ü Notariado

Ü História Administrativa, Econômica e Social do Brasil

Ü Língua Estrangeira Moderna

O Conselho Federal de Educação, nessa mesma resolução, fixou um

mínimo de 2.160 horas-aula, distribuídas entre três e cinco anos, aí incluído o

estágio supervisionado em instituições especializadas com 10% do total das

horas previstas. Além da habilitação geral, possibilitava-se criar habilitações

específicas, como Arquivos Históricos, Arquivos Empresariais, Arquivos

Escolares, Arquivos Científicos, etc.

A partir do ano de 1977 o Curso Permanente de Arquivos passa então a

integrar a FEFIERJ – Federação das Escolas Federais Isoladas do Rio de

Janeiro, antiga FEFIEG – Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado

da Guanabara. Pela Lei 6.655 de 5 de junho de 1979 a FEFIERJ é

29

transformada em UNIRIO – Universidade do Rio de Janeiro, hoje Universidade

Federal do Estado do Rio de Janeiro.

No mesmo ano de 1977 é criado o curso de Arquivologia na

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Em seguida na Universidade

Federal Fluminense – UFF, em 1979. E o quarto curso em 1991, na

Universidade de Brasília – UnB.

Atualmente são dez cursos de Arquivologia no país, nas seguintes

universidades

Ü UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Ü UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

Ü UFF – Universidade Federal Fluminense

Ü UnB – Universidade de Brasília

Ü UEL – Universidade Estadual de Londrina

Ü UFBA – Universidade Federal da Bahia

Ü UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Ü UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Ü UNESP – Universidade Estadual de São Paulo

Ü UEPB – Universidade Estadual da Paraíba

Os dez cursos oferecem, aproximadamente 500 vagas por ano. A forma

de admissão é o vestibular, mas a UNIRIO já oferece há alguns anos a opção

30

de ingresso pelo ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. A duração dos

cursos é de quatro anos e é exigida a entrega de trabalho de conclusão de

curso em todos as universidades.

Os cursos somam aproximadamente 1600 alunos regularmente

matriculados e por ano são formados cerca de 300 novos arquivistas. A maioria

dos cursos de graduação em Arquivologia está ligado a departamentos de

Biblioteconomia, ou de Ciência da Informação. O único curso independente de

áreas afins é o da UNIRIO.

Dois cursos estão no Rio de Janeiro (UNIRIO e UFF), dois no Rio

Grande do Sul (UFSM e UFRGS), um no Paraná (UEL), um em São Paulo

(UNESP), um no Espírito Santo (UFES), um na Bahia (UFBA), um no Distrito

Federal (UnB) e um na Paraíba (UEPB). Ou seja, quatro cursos na Região

Sudeste, três na Região Sul, dois na Região Nordeste e um na Região Centro-

Oeste, não havendo nenhum curso na Região Norte do país.

Também não existem programas de pós-graduação sricto-sensu em

Arquivologia. Os cursos de especialização em arquivos são poucos, com

destaque para o da Universidade de São Paulo e o da Universidade Federal

Fluminense que matem uma parceira em forma de convênio com o Arquivo

Nacional.

31

O Brasil, que possui 5 regiões, 27 estados e 5.561 municípios têm

apenas dez cursos de graduação em Arquivologia, três especializações e

nenhum mestrado ou doutorado. A ausência de cursos leva à falta de

profissionais, tanto para o mercado quanto para a área acadêmica, e

conseqüentemente a ausência de profissionais se reflete na formação do corpo

docente dos poucos cursos existentes, onde grande parte dos professores são

graduados em História e Biblioteconomia, e na estruturação de um corpo

docente para abertura de novos cursos.

A ausência de profissionais com perfil e habilidades para desenvolver

carreira acadêmica é resultado também da ausência de incentivo por parte do

governo, tanto político quanto econômico. Tal fator tem como conseqüência

direta à falta de docentes para implantação de curso superior em Arquivologia

em qualquer modalidade, presencial ou à distância.

A necessidade de implantação de cursos de graduação em Arquivologia

é urgente. À medida que aumenta a complexidade de organização do Estado e

que se desenvolvem órgãos públicos e privados, com o objetivo de suprir as

necessidades sociais, torna-se maior a carência de programas de educação a

distância que contemplem o ensino superior de Arquivologia.

A educação à distância pode ser encarada como uma solução imediata

para um problema que exige soluções a curto e médio prazo na área da

Arquivologia. A implantação de cursos de graduação a distância na área pode

32

suprir as necessidades de mercado em regiões do país como Norte não possui

nenhum curso de graduação e onde as dificuldades de implantação de cursos

presenciais são ainda maiores do que em outras regiões do país.

Principalmente pela ausência de profissionais com formação básica em

Arquivologia para integrar o corpo docente, conforme citado anteriormente.

As perspectivas da graduação em Arquivologia à distância é uma

iniciativa que deve ser encarada não apenas como forma de atender as

necessidades do mercado, mas também para que se possa estimular a

produção científica e a formação de professores para que futuramente se tenha

condições estruturais de implantação de cursos de graduação presenciais de

Arquivologia em regiões mais afastadas do centro do país.

33

CONCLUSÃO

Observamos que nos trinta anos que separam a criação do primeiro

curso de arquivologia no Brasil com o momento atual, que o desenvolvimento

da área continua lenta.

O Brasil possui mais de 5000 municípios, todos têm ou deveriam ter

arquivos municipais. Se estes arquivos fossem geridos, ou se pelo menos

tivessem um arquivista em seus quadros funcionais, faltariam arquivistas no

país. Esta situação reflete o quadro em que se encontra a Arquivologia, pois ao

mesmo tempo em que existe uma grande demanda ao profissional arquivista,

há uma grande carência na formação do mesmo.

Em muitas universidades que oferecem o curso de Arquivologia, não há

entre docentes graduados em Arquivologia. Chega-se ao cúmulo de existir

mais professores graduados em outras áreas, como História e Biblioteconomia

do que os graduados em Arquivologia, isso se somarmos todos os docentes

que estão ligados ao cursos de Arquivologia no Brasil.

Existem várias razões para tal fato. Primeiro porque o curso de

Arquivologia é relativamente recente em comparação com os de História e os

de Biblioteconomia. Segundo porque existem muito mais cursos nessas áreas

do que os de Arquivologia. Terceiro porque o mercado de trabalho absorve

34

mais rapidamente o profissional recém formado o que impede, ou inibe, que

este profissional faça mestrado e doutorado e se dedique à vida acadêmica.

Como existem poucas universidades que oferecem o curso em

Arquivologia, logo existem poucas vagas nas universidades para docentes, o

que não acontece fora das universidades. Cada vez mais empresas e

instituições necessitam do profissional arquivista o que se reflete na criação

crescente de associações profissionais por todo o país, de congressos e

encontros em nível nacional e no considerável aumento no número de

concursos públicos, acarretando aumentos salariais e valorização profissional.

A ausência de cursos de pós-graduação é um empecilho para a

formação de arquivistas voltados para a academia, assim como o pequeno

número de universidades que oferecem a graduação impede um aumento do

número de arquivistas e futuros professores.

Na verdade existe um verdadeiro circulo vicioso nesse quadro. Como

não há um número maior de cursos de graduação da área, não há um grande

crescimento de profissionais arquivistas. Com um número reduzido de

profissionais o mercado rapidamente os absorve, inibindo uma continuação em

estudos acadêmicos o que viria a propiciar mestres e doutores arquivistas, que

são necessários para a abertura de novos cursos de graduação e primordiais

para a criação de programas de pós-graduação na área.

35

Ultimamente, com a valorização profissional do arquivista pelo mercado,

tem havido um aumento crescente na procura pelo curso de arquivologia,

assim como da busca de jovens formados por cursos de mestrado e doutorado.

Talvez seja aí a solução para esse dilema. Com a valorização do profissional, e

a conseqüente melhoria salarial, um novo perfil de estudantes oriundos do

ensino médio têm buscado o curso de Arquivologia. Este novo perfil poderá,

caso haja incentivo das universidades, estabelecer novos desafios e promover

uma revolução na área.

Somente com um maior número de cursos de graduação, com a

instalação de uma política de educação à distância em Arquivologia, com o

surgimento de mais cursos de pós-graduação e com a formação de

professores de Arquivologia que sejam arquivistas , é que, definitivamente

haverá uma amplo e contínuo processo de crescimento da área, promovendo

uma melhor gestão documental no Brasil.

36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AZEVEDO, Solange Coelho de; QUELHAS, Osvaldo Luís G. Uma visão

panorâmica da educação a Distância no Brasil. Tecnologia Educacional:

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Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases

da educação nacional. [Diário Oficial da República Federativa do Brasil],

Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-

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<http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/governo_e_gestafinal_michelangelo

giotto.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2007.

39

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I – Breve História dos Arquivos 12

CAPITULO II – Educação Superior no Brasil 18

CAPITULO III – O Ensino de Arquivologia no Brasil 27

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

ANEXO I – ATIVIDADE CULTURAIS 41

40

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

41

ANEXO I

ATIVIDADES CULTURAIS