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Quantidade de “enter” para posicionar o cabeçalho, apague em seguida <> <> <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA <> <> <> <> <> NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM: ELEMENTOS FACILITADORES DA APRENDIZAGEM E DA MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO <> <> <> Por: Renan Almeida da Silva <> <> <> Orientador Prof.ª Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2012

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Quantidade de “enter” para posicionar o cabeçalho, apague em seguida

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

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NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM: ELEMENTOS

FACILITADORES DA APRENDIZAGEM E DA MODIFICAÇÃO DO

COMPORTAMENTO

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Por: Renan Almeida da Silva

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Orientador

Prof.ª Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

<>

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NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM: ELEMENTOS

FACILITADORES DA APRENDIZAGEM E DA MODIFICAÇÃO DO

COMPORTAMENTO

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Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Neurociência Pedagógica

Por:. Renan Almeida da Silva

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AGRADECIMENTOS

Dedico à minha família, em especial e

minha mãe Suely que foi sempre fonte

de apoio e inspiração. Agradeço à

minha noiva Gabriela pela paciência e

compreensão nas muitas horas de

estudo que dediquei para este trabalho.

Agradeço também aos meus

professores deste curso que trouxeram

muitos conhecimentos importantes

para minha carreira com muita

maestria e didática, especialmente à

coordenadora Profª Marta Relvas por

acreditar no meu potencial e me

estimular sempre. E finalmente

agradeço aos amigos com quem pude

contar com apoio nas horas difíceis.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe Suely,

como uma singela forma de agradecer a

grandiosidade da sua importância.

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RESUMO

Tendo em vista a falta de embasamento neurocientífico do sistema de

ensino atual no Brasil, e a metodologia arcaica utilizada em grande parte das

instituições de ensino de todos os níveis, esta pesquisa justifica-se como forma

de obter informações relevantes para uma metodologia com maior

fundamentação neuropedagógica, trazendo uma visão mais ampla do aluno

possibilitando maior aproveitamento de suas potencialidades.

Este trabalho objetiva compreender como o cérebro e o SNC funcionam

em relação à aquisição de conhecimento e modificação do comportamento.

Descrever algumas ferramentas que podem facilitar o processo de

aprendizagem. Investigar como estas ferramentas atuam, em nível

neurológico, na catalisação da aprendizagem.

A partir do conhecimento de como o cérebro funciona e as estruturas

envolvidas no processo de aprendizagem, é possível desenvolver estratégias

para facilitar a aquisição de informações.

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METODOLOGIA

Este trabalho tem como metodologia a pesquisa bibliográfica por meio

de livros, periódicos e revistas científicas. A metodologia a ser utilizada é

caracterizada como uma abordagem exploratória do tema proposto por meio

de pesquisa bibliográfica, análise e reflexão do conteúdo explorado.

Como referência no campo da neurociência destacam-se neste trabalho

as contribuições de Damásio, Gazzaniga, Izquierdo, Kandel e Lent. Como

apoio nas pesquisas de neurociência aplicada à educação destacam-se Caine

e Caine, Cosenza e Guerra, Lefrançois e Relvas.

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SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 3

DEDICATÓRIA................................................................................................... 4

RESUMO ........................................................................................................... 5

METODOLOGIA ................................................................................................ 6

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 11

O SISTEMA NERVOSO E A BIOLOGIA DA MEMÓRIA .................................. 11

CAPÍTULO II .................................................................................................... 23

TEORIAS DA APRENDIZAGEM ...................................................................... 23

CAPÍTULO III ................................................................................................... 34

NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO ..................................................................... 34

CONCLUSÃO .................................................................................................. 43

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 45

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INTRODUÇÃO

O trabalho abordará educação, aprendizagem, memória e os elementos

facilitadores da aprendizagem sob a perspectiva da neurociência. Embora

muitos autores vejam aprendizagem e educação como sinônimas, elas

possuem uma sutil diferença que é fundamental para compreender os

fundamentos biológicos envolvidos em cada processo.

Segundo o dicionário Larousse Ilustrado da Língua Portuguesa (2006)

educação é:

“1. Ato ou efeito de educar (-se). 2. Processo de desenvolvimento da capacidade intelectual, moral e física do ser humano. 3. O ensinamento ou a aptidão assimilados desse método. 4. Instrução, ensino. 5. Nível ou tipo de ensino. 6. Civilidade, polidez”. (p. 311)

Esta definição evidencia que educação é um processo que envolve a

transmissão da cultura de uma sociedade para um sujeito. Para esta

transmissão cultural estão associadas uma série de funções superiores e de

modulação comportamental de modo que sua atuação é predominante no

córtex pré-frontal. Segundo Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006), o córtex pré-

frontal é responsável pelo planejamento e execução do comportamento e

possui importante participação na memória de trabalho. Para Vargas,

Rodrigues e Fontana (2008) além de estar relacionado ao planejamento motor,

o córtex pré-frontal direciona o comportamento para um objetivo, regula a

atenção e é considerado o supervisor de monitoramento das ações.

Já aprendizado, segundo o dicionário Larousse Ilustrado da Língua

Portuguesa (2006), é:

“o conjunto de processos de memorização colocados em ação pelo animal ou pelo homem, para elaborar ou modificar comportamentos específicos sob a influência de seu desenvolvimento e de sua experiência”. (p. 55)

Aprendizagem é um processo associado à sobrevivência e perpetuação

da espécie que utiliza predominantemente o sistema límbico que coordena as

emoções os processos motivacionais além de ser o responsável pela formação

das memórias (COSENZA e GUERRA, 2011; IZQUIERDO, 2011). Embora a

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memória esteja presente tanto no processo de educação como no processo de

aprendizagem, esta última pressupõe a habilidade de mudar o nosso

comportamento por meio da aquisição de novos conhecimentos (RELVAS,

2009).

Todo processo de educação passa necessariamente pelo processo de

aprendizagem, mas não necessariamente em toda aprendizagem ocorre o

processo de educação. A educação envolve faculdades superiores enquanto a

aprendizagem envolve mais as estruturas primitivas do sistema nervoso que

herdamos geneticamente de nossos ancestrais. Em ambos os casos a

memória é elemento importante, pois segundo Izquierdo (2011) é “aquisição,

formação, conservação e evocação de informações”.

Há uma associação entre e emoção e memória, pois os seres humanos

são capazes de recordar por mais tempo, e com mais detalhes, eventos que

tiveram uma forte emoção envolvida (IZQUIERDO, 2011b). Como parte da

estrutura que coordena as emoções também coordena a memória é natural

que essas duas funções estejam relacionadas. Eventos, situações ou

informações com baixa carga emocional dificilmente são transferidas para

memória de longo prazo. O aprendizado ocorre de maneira mais consistente

quando há emoção envolvida, pois esta facilita o processo de consolidação da

memória.

O sistema nervoso está sempre se adaptando ao ambiente. Esta

adaptação é conhecida como plasticidade cerebral e é fator premente no

processo de modificação do comportamento. Toda aprendizagem produz uma

reorganização do sistema nervoso central, pois a integração de novas

informações oriundas do ambiente estimula a formação de novas conexões

sinápticas. Os estímulos que chegam do ambiente, através do órgãos dos

sentidos, são processados pelo cérebro que, para produzir uma resposta

adaptativa, provoca modificações nas conexões neurais e, desta forma, novos

circuitos são estabelecidos em resposta aos estímulos do ambiente (RELVAS,

2009).

Aprendizagem e memória ocorrem no cérebro e conhecer o

funcionamento do cérebro possibilita ajudar o aluno a melhorar a qualidade de

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sua aprendizagem. O desenvolvimento do sistema nervoso central, que é

moldado pelos estímulos do ambiente, afeta o processo de educação e

aprendizagem, pois estes estímulos levam os neurônios a formar novas

sinapses. Aprendizagem nada mais é do que uma reação do cérebro às

informações do ambiente, ativando e intensificando as sinapses, tendo como

consequência a retenção de informação (NOBRE, 2004).

A neurociência e a neuropsicologia fornecem subsídios para novos

conhecimentos em educação que levarão às salas de aula práticas mais

eficientes. A interface entre neurociência e a prática educacional é uma

tendência para as novas propostas deste século com fundamentação

consistente de pesquisas de neurociência cognitiva. Este conhecimento é

necessário a todos os envolvidos na área de educação, para que toda a

sociedade seja beneficiada.

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CAPÍTULO I

O SISTEMA NERVOSO E A BIOLOGIA DA MEMÓRIA

O sistema nervoso pode ser divido em sistema nervoso central

(SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). Segundo Lent (2008) o SNC é a

parte do sistema nervoso contido em estruturas ósseas, ou seja, o encéfalo

que está contido no crânio e a medula espinhal que está inserida na coluna

vertebral. Já o SNP está distribuído por todo o organismo é constituído pelos

nervos e gânglios, que fazem a comunicação entre o SNC e os órgãos

sensoriais.

O sistema nervoso é capaz de perceber variações do meio externo ou

interno do organismo. Ele analisa essas variações e organiza comportamentos

que constituam uma resposta adequada ao estímulo que foi apresentado ao

indivíduo (MILL, 2004).

1.1 - Neurônios

É possível identificar duas classes predominantes de células no

sistema nervoso que são: neurônios e células gliais (neuroglia). Estas últimas

são as células de sustentação do sistema nervoso e se diferenciam dos

neurônios por não gerarem sinais elétricos e por serem menores sendo

responsáveis por nutrir e auxiliar na condução elétrica do neurônio.

O tecido nervoso é constituído por células chamadas de neurônios que

são essenciais para a atividade cerebral. Uma pesquisa realizada por Lent

(2011) utilizando a “regra de escala” contabilizou que o encéfalo humano

possui 86 bilhões de células nervosas. Os neurônios destacam-se das outras

células do organismo por (1) serem capazes de conduzir sinais elétricos por

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longas distâncias e (2) por possibilitar a conexão com outras células nervosas

e também células cardíacas e glandulares.

Os neurônios podem ser divididos em três componentes importantes:

1) Corpo celular, ou soma, que é onde estão concentradas as

organelas e o material genético da célula que fornece informações de como ela

se desenvolve e funciona;

2) Axônio é a parte responsável pela condução do impulso nervoso

para o neurônio seguinte. Alguns axônios são cobertos por células gliais

conhecidas por bainha de mielina, que auxiliam na propagação destes sinais

por longas distâncias; e

3) Dendritos são estruturas que se ramificam formando conexões

com outros neurônios para receber informações deles. Os dendritos possuem

receptores que captam os estímulos elétricos ou químicos transmitidos pelas

terminações do neurônio anterior.

1.2 - Sinapses

As células nervosas estão interligadas umas às outras e

constantemente trocam informações. As informações trafegam pelos neurônios

como pulsos elétricos e em suas terminações convertem-se em substâncias

químicas conhecidas como neurotransmissores. Quando os

neurotransmissores chegam aos receptores do neurônio seguinte, são

novamente convertidos em sinais elétricos (DAMÁSIO, 1996).

A comunicação entre os neurônios ocorre nos dendritos ou no corpo

celular enquanto o sinal elétrico deixa a célula nos terminais axoniais. Os

neurônios recebem e avaliam a informação, transmitindo-a para o neurônio

seguinte. Moura-Neto e Lent (2008) definem sinapse como o contato formado

pelo prolongamento de um neurônio pré-sináptico e outro neurônio dito pós-

sináptico e sua finalidade é a transmissão química da informação de um

neurônio para o outro. Entre o neurônio pré-sináptico e o pós-sináptico existe

minúsculo espaço chamado fenda sináptica por onde substâncias químicas,

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denominadas neurotransmissores (ou neuromediadores), são liberadas. Cada

neurônio pode possuir até milhares de sinapses em sua superfície. Elas podem

ser excitatórias, quando provocam disparo no neurônio pós-sináptico que se

propaga pelo seu axônio, ou inibitórias quando impedem este disparo.

1.3 - Encéfalo

O encéfalo é a parte do sistema nervoso central contido na caixa

craniana que compreende o cérebro, o cerebelo e o tronco cerebral. Ao ser

observada a superfície do encéfalo, é perceptível a existência dos hemisférios

cerebrais separados pelo sulco longitudinal. Uma característica do cérebro

humano é seu córtex com um volume entre 2.200 e 2.400 cm² com dezenas de

dobras, denominadas giros, o que possibilita o cérebro se acomodar na caixa

craniana. Outra vantagem deste córtex dobrado é que a disposições dos

neurônios os deixam muito próximos um dos outros, o que economiza distância

axonial e, consequentemente, reduz o tempo de condução do impulso nervoso

às diferentes áreas (GAZZANIGA, IVRY e MANGUN, 2006).

O córtex é a parte mais desenvolvida das regiões do encéfalo e, entre

outras funções, coordena nossa percepção, linguagem, planejamento, atenção

voluntária e concentração que são conhecidas como funções superiores

(KANDEL, 2009). O neuropsicólogo russo Alexander Luria (1902 – 1977) que

propôs uma divisão do córtex no que ele chamou de “unidades funcionais”.

Luria sugeriu que o cérebro possui uma unidade funcional receptora, presente

na região posterior do cérebro, que recebe, analisa e armazena as

informações sensoriais. A outra unidade funcional é chamada de executora,

pois está envolvida no planejamento, regulação e execução das ações

motoras. A unidade executora está localizada nas porções anteriores do

cérebro (COSENZA e GUERRA, 2011).

Para Luria o cérebro funciona de maneira integrada e nenhuma parte é

totalmente responsável por uma função. Qualquer área do cérebro pode

participar de inúmeros sistemas funcionais ao mesmo tempo. Sistemas

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funcionais para Luria é integração de áreas em funcionamento no cérebro com

a finalidade de produzir determinado comportamento, ou seja, o

comportamento é o resultado da comunicação integrada de sistemas que

abrangem várias áreas do cérebro (FONSECA, 2011).

O cerebelo é a outra estrutura que compõem o encéfalo ocupando

cerca de 30% do volume cerebral. Assim como o córtex, possui sua superfície

enrugada constituída de folhas, correspondentes aos giros do córtex, e as

fissuras, que correspondem aos sulcos. Apresenta em sua composição a

substância cinzenta e possui dois lobos cerebelares, que lembrar os

hemisférios cerebrais.

O cerebelo tem importante participação (1) na regulação e

coordenação dos movimentos corporais, (2) no controle do tônus muscular e

(3) no equilíbrio da postura corporal. Recentes pesquisas indicam que esta

estrutura, apresenta funções mais complexas, além do controle da motricidade.

A aprendizagem motora e a memória procedimental também fazem parte de

suas funções. A antecipação das consequências sensoriais e possíveis ajustes

da força e do tipo de movimento também são outras funções desempenhadas

pelo cerebelo (LENT, 2008).

Por fim, o tronco cerebral (ou tronco encefálico) é composto por três

estruturas principais que são: o bulbo, a ponte e o mesencéfalo. De um modo

controle da respiração, dos batimentos cardíacos e a digestão. Também tem

sob sua responsabilidade o controle do ritmo circadiano (sono e vigília), assim

como o espirro, a tosse, o vômito e a deglutição.

1.4 - Lobos Cerebrais

Os anatomistas agrupam o córtex em regiões chamadas lobos que

podem ser distinguidos, não muito claramente, por limites anatômicos como os

sulcos e giros. Estas regiões possuem distintas características funcionais e

seus nomes correspondem ossos do crânio que o cobrem. Lent (2008) sugere

a divisão dos lobos em cinco, sendo quatro visíveis externamente e um

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posicionado no interior do sulco lateral. Os quatro visíveis são: frontal, parietal,

occipital e temporal. O quinto lobo é o mais interno chamado de ínsula e só

pode ser visto afastando-se as margens do sulco lateral. Cada lobo dispõe de

uma variedade de funções no processamento cerebral, embora grande parte

destas funções utilize tanto componentes corticais como subcorticais.

O lobo frontal, como mencionado anteriormente, possui um importante

papel no planejamento e execução motora. Além disso, sua parte mais anterior

(córtex pré-frontal) esta associado ao planejamento e execução do

comportamento, ou seja, habilidades como memória de trabalho, atenção,

concentração, controle da emoção, raciocínio e julgamento moral.

No lobo parietal encontra-se o processamento somatossensorial que

recebe e envia informações sobre dor, temperatura, vibração, pressão, dor,

tato e propriocepção. Estímulos táteis são transformados em percepções neste

lobo tendo cada parte do corpo uma representação no córtex

somatossensorial, ou seja, existe um mapeamento de todo o corpo neste

córtex. O primeiro a realizar o mapeamento das partes do corpo no cérebro foi

o neurocirurgião canadense Wilder Penfield. Além de descobrir a

correspondência de áreas do corpo com segmentos do córtex

somatossensorial, ele também descobriu que a distribuição de receptores pelo

corpo é desproporcional, e que o tamanho da área do cérebro correspondente

tem tamanho proporcional à quantidade de receptores da área. Informações

oriundas do lado esquerdo do corpo são processadas pelo lado direito do

cérebro e vice-versa.

O processamento visual é de responsabilidade do lobo occipital

(também conhecido como córtex visual). Este lobo é subdividido em seis áreas

que são responsáveis por registrar cada componente da informação visual

como forma, localização, movimento, luminosidade, cor e profundidade. Estes

componentes se combinam para formar a imagem completa.

No lobo temporal encontramos predominantemente áreas de

processamento auditivo e algumas áreas de associação que são responsáveis

pela compreensão da linguagem, reconhecimento de rostos, coordenação de

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impulsos visuais com informações auditivas e, de alguma forma, se relacionam

também com a olfação e memória.

1.5 - Memória

Memória é o processo pelo qual as informações sensoriais

provenientes do ambiente são adquiridas, formadas, conservadas e evocadas.

Aprendizagem é justamente quando ocorre a aquisição da informação, pois

não há aprendizagem sem memória (IZQUIERDO, 2011b). Desta forma fica

claro que aprendizagem e memória são elementos relacionados entre si, onde

um não ocorre sem o outro. As memórias são adquiridas a partir da percepção

sensorial externa ou pelo processamento interno de memórias existentes,

modificadas ou não. Quando a aprendizagem ocorre, o conjunto de neurônios

acionados para produzir a experiência são modificados e tendem a disparar

juntos no futuro. Este disparo futuro reconstitui a experiência original

produzindo o que é conhecido por lembrança. A reconstituição repetida de um

fato o torna mais fácil de ser lembrado posteriormente.

Estudos realizados por Brenda Milner fornecem três importantes

informações sobre as memórias. Primeiramente Milner define a memória como

uma faculdade mental diferente de outras capacidades cognitivas, motoras e

sensoriais. Em segundo lugar, evidências sugerem que as memórias de longa

e curta duração podem ser armazenadas separadamente. E por último foi

constatada a possibilidade de localizarmos no cérebro as partes responsáveis

por armazenar e processar cada tipo de memória (KANDEL, 2009). Estes

achados nos sugerem que as memórias são, de fato, armazenadas em áreas

diferentes do cérebro. Desta forma é possível que uma lesão em determinada

área do cérebro não afete todas as memórias, pois dois tipos de memórias

requerem sistemas anatômicos distintos.

Segundo Izquierdo (2011a), as memórias podem ser classificadas

quanto ao conteúdo (declarativas e de procedimento), quanto a duração

(imediata, curta e longa), quanto a função (memória de trabalho, priming,

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demais memórias) e pelos sistemas sensoriais utilizados na evocação (visuais,

auditivas, olfativas, táteis, gustativas, proprioceptivas, de linguagens e

musicais).

1.5.1 - Memória de Trabalho A memória de trabalho, ou operacional, funciona como uma interface

entre a percepção consciente do mundo externo e a formação, ou evocação,

das memórias. Ela é conhecida como “sistema gerenciador de informações do

cérebro”. Esta memória mantém a informação durante o tempo necessário

para sua análise. Este tipo de memória, diferentemente das demais, não

produz registros e é descartada depois de utilizada.

A memória de trabalho tem acesso às memórias preexistentes para

certificar-se de que se a informação recebida por meio dos sentidos já está

registrada na memória de longo prazo. Caso seja uma informação nova ela

poderá ser armazenada no cérebro, de acordo com sua natureza, e, então,

formar-se-á uma nova memória (aprendizagem). Por sua duração a memória

de trabalho é uma memória imediata.

O processamento da memória de trabalho ocorre predominantemente

no córtex pré-frontal que recebe axônios de regiões vinculadas com a

regulação das emoções e dos níveis de consciência. Isto explica o fato do

estado de humor influenciar na formação da memória (IZQUIERDO, 2011b).

1.5.2 - Memórias declarativas e de procedimento As memórias declarativas são fatos, eventos ou conhecimentos que

podemos declarar e podem ser divididas em episódicas e semânticas.

Memórias declarativas são o que entendemos de fato como memória, pois

correspondem a fatos e informações que são adquiridos por meio da

aprendizagem e que podem ser conscientemente evocadas (NOBRE, 2004). A

memória episódica reconstrói experiências passadas a partir do ponto de vista

pessoal, por isso alguns autores se referem a ela como autobiográfica.

A memória episódica é fragmentada, e cada elemento da experiência é

registrado em circuitos localizados em diferentes regiões do cérebro, formando

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uma rede neural. Ao lembrar-se de um evento os fragmentos desta memória

são reconstituídos para evocar a experiência original integralmente. As

imagens do evento ativam as áreas visuais do cérebro, enquanto os sons e as

vozes ativam o córtex auditivo e as sensações ativam o córtex somestésico. O

hipocampo e áreas adjacentes ao córtex temporal são muito importantes na

coordenação e consolidação destas memórias, realizando conexões entre os

neurônios dos circuitos cerebrais envolvidos nas regiões corticais (COSENZA e

GUERRA, 2011). Quando as memórias episódicas possuem componente

emocional, estes são armazenados na amígdala.

A memória semântica são memórias referentes a fatos e

conhecimentos gerais. Esta categoria de memória pode ser ativada

juntamente com a memória episódica, pois além de lembrar os fatos, pode-se

lembrar o momento em que tais informações foram aprendidas. Segundo

Izquierdo (2011ª, p. 112), “adquirimos as memórias semânticas a partir de

episódios”. O hipocampo está relacionado com os aspectos espaciais e

contextuais das memórias episódicas e semânticas, enquanto o núcleo basal e

lateral da amígdala é responsável pelos aspectos emocionais ou de alerta.

Para a correta aquisição e evocação da memória semântica e

episódica, deve haver uma boa memória de trabalho e, por tanto, um bom

funcionamento do córtex pré-frontal. Os principais responsáveis pelas

memórias episódicas e semânticas, são o hipocampo e o córtex entorrinal que

trabalham juntos e comunicam-se com outras regiões como o córtex cingulado

e o córtex parietal e com os núcleos basal e lateral da amígdala (IZQUIERDO,

2011b).

As memórias de procedimento estão associadas à capacidade motora

e sensorial comumente conhecidas como hábitos. Estão relacionados a este

tipo de memória comportamentos realizados automaticamente na vida diária.

De maneira geral as memórias de procedimento são adquiridas de modo

implícito, ou seja, automaticamente sem intervenção consciente. Pelo fato da

aquisição da memória de procedimento ser implícita, fica difícil descrever como

desempenhar determinada habilidade motora, como andar de bicicleta ou jogar

tênis. Por isso a memória de procedimento é classificada como não declarativa

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(GAZZANIGA, IVRY e MANGUN, 2006). A maioria das memórias de

procedimento se forma inicialmente no hipocampo passando posteriormente o

controle para o cerebelo que fica responsável pela coordenação fina; para o

núcleo caudado que armazenam as ações instintivas e o putâmen que

armazena as habilidades aprendidas.

1.5.3 – Priming O priming, segundo Izquierdo (2011a, p. 113), “é uma forma de

memória que requer, para sua evocação, a exposição do sujeito a aspectos

parciais dela...”. Embora este tipo de memória tenha, inicialmente, sido

classificada como memória de procedimento, estudos baseados em

ressonância magnética apontam a participação de regiões diferentes das

memórias de procedimento, como o córtex pré-frontal e áreas associativas.

Esta categoria de memória funciona da seguinte forma: se uma pessoa

que teve uma experiência prévia com determinado estímulo, ou conjunto de

estímulos, poderá se recordas da experiência completa pela simples

apresentação de fragmentos deste estímulo. Isto quer dizer que elementos

parciais de determinada lembrança, levam a pessoa a se recordar da

lembrança como um todo, como quando parte de uma música nos faz lembrar

a música inteira.

1.5.4 - Consolidação das memórias A aprendizagem só ocorre de fato quando há retenção da experiência

aprendida. E não basta só haver a retenção, pois uma memória só é útil se a

mesma puder ser evocada. Para que haja retenção e evocação é necessário

um processo complexo para transformar a experiência em registros sensoriais

que podem ser acessados, consciente ou inconscientemente. Sendo assim,

algo precisa acontecer para que os estímulos sensoriais recebidos e

interpretados pelo cérebro sejam retidos e permaneçam disponíveis para futuro

resgate.

Após uma informação ser registrada sensorialmente pelos órgãos dos

sentidos, ela fica armazenada na memória de trabalho e é passível de

interferências. Pesquisas apontam que as informações recém-adquiridas são

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suscetíveis a interferência (KANDEL, 2009; IZQUIERDO, 2011b). A

consolidação das memórias envolve processos metabólicos no hipocampo,

que podem durar algumas horas, pois segundo Kandel (2009), a memória de

longo prazo necessita de síntese de novas proteínas. Quando a informação é

reforçada através da repetição, os neurônios desenvolvem mais conexões

sinápticas originando, desta forma, a memória de longo prazo.

Um dado relevante sobre a formação das memórias, é que nas

memórias de curto prazo, a informação recebida provoca uma modificação

funcional, enquanto nas memórias de longo prazo as modificações se

processam em nível anatômico. A maneira como uma memória é registrada e

quais áreas estão envolvidas, depende de sua natureza, mas de fato o que faz

com que as informações sejam armazenadas é a capacidade plástica do

cérebro, em especial do hipocampo, tendo em vista que a experiência é capaz

de produzir modificações nas respostas das células nervosas. A manifestação

da plasticidade pode ser observada comportamentalmente por meio da

formação de memória, ou seja, do processo de aprendizagem.

O hipocampo tem um papel importante na consolidação da memória.

Embora as memórias não fiquem gravadas nele, ele ajuda a definir a

selecionar as informações relevantes, atuando como um filtro além de

determinar onde estas informações serão gravas, nas diferentes regiões do

córtex cerebral (RELVAS, 2009). A amígdala tem forte atuação na formação de

memórias, especificamente de eventos de alto teor emocional. Eventos de

grande carga emocional são identificados e registrados pelos núcleos basal e

lateral da amígdala, nos deixando em estado de alerta, o que

consequentemente aumenta nosso foco de atenção e facilita a retenção da

informação. O córtex pré-frontal responde pela consolidação e evocação da

informação, além de modular nossa atenção para aquilo que desejamos

aprender. A atenção leva os neurônios que registram o estimulo a serem

ativados com maior frequência o que vai tornando a experiência mais intensa,

aumentando sua possibilidade de ser armazenada na memória de longo prazo.

Quanto mais um neurônio for ativado, mais forte a conexão estabelecida com

outros neurônios. Quanto mais neurônios envolvidos no processamento do

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estimulo, mais fácil é sua evocação e com mais detalhes será lembrado. O

córtex temporal, como mencionado anteriormente, armazena tanto o

conhecimento semântico quanto episódico.

Carew e Kandel (1971 apud KANDEL, 2009) descobriram que o

treinamento repetido auxilia no prolongamento das informações adquiridas.

Isto se deve pelo fato de que a repetição leva os neurônios a desenvolverem

novas terminações e fortalece a conexão entre outras células nervosas. Estas

mudanças estruturais podem ativar sinapses inativas ou desativas sinapses

ativas que, como resultado, provocarão uma modificação comportamental. Por

meio da repetição a memória de curto prazo vai gradualmente evoluindo para a

memória de longo prazo. Estas mudanças na força das interações sinápticas

entre neurônios é que é a memória propriamente dita. Além da repetição

pesquisas apontam (CAINE e CAINE, 1994) que experiências sensorialmente

ricas são essenciais para uma aprendizagem significativa, pois cada evento

complexo fornece ao cérebro informações que são associadas às experiências

já armazenadas para que a partir de conexões já existentes, novas conexões

possam ser formadas. Devemos também levar em consideração na formação

das memórias, as emoções associadas a estas experiências preexistentes que

facilitam a potencialização sináptica das novas conexões. O que é aprendido

sofre influência e é organizado pelas emoções.

Algumas pesquisas (COSENZA e GUERRA, 2011) apontam ainda que

a consolidação da memória tem seu melhor funcionamento durante o sono.

Tais pesquisas mostraram que a privação do sono prejudica a aprendizagem,

pois durante o sono os mecanismos eletrofisiológicos e moleculares para a

formação de sinapses mais estáveis estão em funcionamento.

A aprendizagem e a memória são processos complexos que

dependem um do outro e de várias funções cognitivas, afetivas, sensoriais e

motoras. As experiências que serão armazenadas na memória são

processadas separadamente por diferentes áreas do cérebro e registradas nas

áreas pertinentes à sua natureza, ou característica. Quando uma experiência é

recordada cada parte é reorganizada e montada para reproduzir a experiência

original. A retenção da memória depende de fatores como atenção e emoção

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que conseguem aumentar o potencial sináptico para poder fortalecer as

conexões e fazê-las durar por mais tempo.

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CAPÍTULO II

TEORIAS DA APRENDIZAGEM

“Porque aprender a viver é que é o viver mesmo” (Guimarães Rosa).

Como mencionado anteriormente, aprendizagem é um processo

baseado na experiência, que resulta numa mudança de comportamento

relativamente permanente (GERRIG e ZIMBARDO, 2005; LEFRANÇOIS,

2008; MYERS, 2006; NOBRE, 2004). Embora pareça simples, o termo

aprendizagem é complexo e envolve uma ampla variedade de implicações e

variáveis. Mudanças de comportamento provocadas por lesões no sistema

nervoso, ingestão de drogas ou substâncias psicoativas, alteração hormonal ou

doença nãosão consideradas formas de aprendizagem; embora tenha ocorrido

uma modificação do comportamento, que pode ser duradoura, ou não.

Teorias da aprendizagem são modelos conceituais que descrevem

como a informação é absorvida, processada e retida durante a aprendizagem.

É um ramo da psicologia que busca sistematizar e organizar os conhecimentos

sobre a aprendizagem humana na tentativa de explicar, prever e controlar o

comportamento.

2.1 - Teorias Behavioristas ou Comportamentalistas

A psicologia moderna tem suas raízes nos trabalhos de John Watson

(1878 – 1958) que fundou o movimento behaviorista, ou comportamentalista. O

objetivo do behaviorismo é estudar o comportamento observável, ou seja, o

que é objetivamente verificável. Para Watson a aprendizagem estava baseada

no modelo de condicionamento clássico (ou aprendizagem por substituição) de

Pavlov (LEFRANÇOIS, 2008). Podemos entender como condicionamento uma

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forma de aprendizagem na qual um comportamento (resposta) é produzido

pela associação entre um estímulo, inicialmente neutro, com outro estímulo

biologicamente significativo. Watson verificou a utilidade do condicionamento

clássico com o intuito de explicar a aprendizagem das respostas emocionais.

Ele também defendia que as variáveis ambientais são determinantes para o

comportamento, pois desta forma, um comportamento adquirido pelo

condicionamento, também pode ser eliminado por ele (LEFRANÇOIS, 2008).

2.2 - Condicionamento Clássico

Ivan Pavlov (1849 – 1936) foi um fisiologista russo que durante seus

estudos sobre o papel dos sucos gástricos na digestão, descobriu

acidentalmente o condicionamento clássico. Para explicar cientificamente a

salivação dos cães antes da alimentação, ele expunha a comida para provocar

a salivação do animal. Mais tarde ele percebeu que, com o tempo, não só a

exposição do alimento provocava a salivação, mas também qualquer estímulo

diferente associado com uma frequência à comida eliciava a salivação, mesmo

sem a presença do alimento.

No centro do condicionamento clássico residem os reflexos que são

uma reposta que não envolve aprendizado, de base biológica. Qualquer

estimulo que produz um reflexo é conhecido como estímulo incondicionado (EI)

porque a aprendizagem não foi condição para o estimulo controlar o

comportamento. Uma resposta provocada por um estímulo incondicionado,

como uma reação muscular ou endócrina, é chamada de resposta

incondicionada (RI). O estímulo condicionado (EC) inicialmente não produz

uma resposta particular, mas após o condicionamento ele elicia uma resposta

condicionada (RC).

A apresentação do EI provoca uma RI. No caso do experimento de

Pavlov, a apresentação do alimento (EI) provoca a salivação do cão (RI). O

condicionamento ocorre quando um estímulo neutro, como o som de uma

campainha, é pareado, ou emparelhado, com o EI transformando-o em

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estímulo condicionado (EC). A repetição frequente deste processo fará com

que, no futuro, o som da campainha (EC) provoque a salivação (RC) sem a

presença do alimento (EI). O organismo passa a responder ao EC como se ele

fosse o próprio EI.

Diferentes estruturas neurais compõem este tipo de aprendizagem. As

informações dos EC e EI trafegam dos órgãos sensoriais para o tálamo. No

tálamo há projeções para o núcleo basoalteral da amígdala. No interior da

amígdala há conexões com o núcleo central da amígdala. Neste núcleo as

informações são distribuídas para as diversas áreas-alvo que disparam as

respostas condicionadas de medo. As vias que processam o conteúdo

emocional da experiência são extremamente rápidas e conduzem as

informações do tálamo até o núcleo basolateral da amígdala em

milissegundos, o que possibilita uma rápida reação, geralmente não acessível

conscientemente (CALLEGARO e LANDEIRA-FERNANDEZ, 2008).

As implicações diretas do condicionamento clássico na educação, pois é

por meio dos processos não conscientes do condicionamento que os

estudantes passam a gostar ou desgostar de determinada disciplina. Após um

tempo de experiência com um professor em sala de aula, a disciplina pode se

tornar um estímulo condicionado associado a reações positivas ou negativas,

dependendo do estímulo incondicionado com o qual é repetidamente

associado. Partindo deste ponto de vista, é importante os professores

buscarem aumentar a frequência dos estímulos incondicionados positivos em

sala de aula e diminuir os estímulos negativos. O educador deve ter

consciência das associações realizadas em sala de aula para reduzir o

comportamento aversivo.

2.3 - Condicionamento Operante

O condicionamento operante também é conhecido como

condicionamento instrumental é uma forma de aprendizagem que,

diferentemente da teoria de Pavlov, baseia-se no princípio do reforço. Esta

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forma de aprendizagem foi sistematizada por B. F. Skinner (1904 – 1990), que

foi um psicólogo americano, behaviorista, que através dos seus estudos

mostrou como comportamentos são adquiridos ou extintos através de como o

ambiente os reforça, ou deixa de reforçar. Skinner foi influenciado pelos

estudos de Pavlov e também pela teoria evolucionista de Darwin.

O condicionamento operante investiga como aprendemos determinados

comportamentos em função de suas consequências. Enquanto o

condicionamento clássico pressupõe que um estímulo no ambiente elicia uma

resposta no organismo, o condicionamento operante sustenta a ideia de que

as respostas emitidas pelo organismo produzem alterações no ambiente. A

maioria dos comportamentos produzem consequências no ambiente. Estas

consequências são percebidas como alterações ambientais que influenciam

nas futuras ocorrências deste comportamento. Para o condicionamento

clássico o organismo reage ao ambiente, enquanto no condicionamento

operante o organismo age no ambiente. Em síntese o condicionamento

respondente explica que os comportamentos são eliciados como respostas a

estímulos e surgem involuntariamente; e no condicionamento operante, os

comportamentos são emitidos como ações instrumentais e surgem

voluntariamente.

Na aprendizagem operante quando um reforçador ocorre após uma

resposta (comportamento), a consequência é o aumento da probabilidade da

ocorrência deste comportamento no futuro. Neste caso esta teoria não se

baseia no principio estímulo-resposta (E-R), pois um operante nunca é eliciado.

A ocorrência de um comportamento, ou sua extinção, é dependente de como

este comportamento é reforçado.

Para Skinner, o elemento reforçador é “um evento que se segue a uma

resposta e altera a probabilidade de que determinada resposta ocorra

novamente” (LEFRANÇOIS, 2008, p. 110). Há dois tipos de elementos que

alteram o comportamento: reforço e punição. Reforço é todo evento que

aumenta a probabilidade de dado comportamento ocorrer no futuro. A punição

é o evento que diminui a ocorrência futura de um comportamento.

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O reforço é um termo que designa a relação entre o comportamento e o

ambiente que inclui pelo menos três componentes: (1) as respostas devem ter

consequências; (2) as respostas devem tornar-se mais prováveis de acontecer

e; (3) a probabilidade da ocorrência do comportamento aumenta porque a

resposta tem essa consequência e não por outra razão (CATANIA, 1999).

Atendidas estas condições, diz-se que a resposta foi reforçada e que o

estímulo era um reforçador. Este mesmo estímulo poderá ser um reforçador de

outras respostas em outras situações.

Como o reforço, a punição é definida por seus efeitos, mas neste caso

seu efeito não fortalece o comportamento, mas o suprime. O termo punição,

assim como reforço, é utilizado como referência para operações e processos,

pois é a resposta, e não o organismo, que é punido. Desta forma a punição

reduz a ocorrência de um comportamento o levando, na maioria das vezes, à

extinção. No entanto se a punição for interrompida antes da extinção, ocorre,

gradualmente, a recuperação do comportamento.

Tanto o reforço como a punição, em sua aplicação, podem ser positivo e

negativo. No que diz respeito ao reforço, seu resultado é sempre agradável

para o organismo. No reforço positivo (recompensa) é introduzido, após o

comportamento que se deseja reforçar, um estímulo agradável. No reforço

negativo (alívio) elimina-se um estímulo aversivo, após a apresentação do

comportamento. Quando um aluno recebe um elogio ao tirar uma nota boa

está sendo utilizado um reforço positivo. O alívio que dá ao retirar um sapato

apertado que foi usado o dia inteiro funciona como um reforço negativo.

A punição sempre resulta num resultado desconfortável ou incomodo

para o organismo. A punição positiva (castigo) acontece quando é introduzido

um estímulo aversivo após a emissão de um comportamento. Na punição

negativa (penalidade) é retirado um estímulo agradável para o organismo.

Quando, por exemplo, alguém dá uma tarefa chata para um aluno fazer como

castigo por algo errado que ele fez, essa pessoa está utilizando a punição

positiva. Quando uma criança faz bagunça e ela é impedida de utilizar o

computador, está sendo utilizada a punição negativa, pois é retirado da rotina

da criança algo que é prazeroso para ela.

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Em resumo, o reforço faz a resposta reforçada aumentar do mesmo

modo que a punição faz a resposta punida diminuir. O termo positivo significa

que a consequência da resposta é a adição de um estimulo ao ambiente do

organismo. O termo negativo sugere que a consequência da resposta é a

retirada de um estímulo do ambiente do organismo. Reforçadores e punidores

são estímulos e não a ausência deles (CATANIA, 1999).

Dentre as estruturas cerebrais relacionadas com a recompensa, está em

evidencia a área tegmentar ventral, que, ao ser ativada, libera dopamina no

nucleus acumbens, que junto com o núcleo caudado e o putamen formam o

corpo estriado. O corpo estriado juntamente com o globo pálido constituem os

núcleos da base (ou gânglios da base). O nucleus acumbens atua como um

intermediário entre o sistema motor e o sistema límbico, tendo importante

participação no condicionamento operante (CALLEGARO e LANDEIRA-

FERNANDEZ, 2008).

Skinner fez algumas objeções em relação ao uso da punição. Em

primeiro lugar, é pouco provável que a punição por si só produza um

comportamento adequado, pois punir desvia a atenção para o comportamento

indesejável e não direciona para o comportamento adequado. Em segundo

lugar o não reforçamento é melhor que a punição, pois ele resulta na extinção

deste comportamento. E por último lugar a punição pode produzir estados

emocionais negativos, que com o tempo podem associar-se a quem esta

punindo (LEFRANÇOIS, 2008).

No campo da educação o condicionamento operante é muito útil, pois os

professores podem deixar seus alunos mais estimulados por meio do reforço.

A aplicação de estímulos reforçadores em sala de aula direciona o aluno a

obter melhores resultados e incentiva o aluno a progredir no seu desempenho.

O educador precisa ser um bom observador para que identifique quais

estímulos são reforçadores para cada aluno e aplique estes estímulos cada

vez que o aluno apresentar bons resultados para que aumente a probabilidade,

no futuro, do aluno ter desempenho igual, ou melhor. A utilização de reforço

favorece à autoestima e, em longo prazo, estimula o aluno a estudar, mesmo

sem a presença do reforço.

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2.4 - Aprendizagem Social

Teoria da aprendizagem social é uma perspectiva que afirma que as

pessoas aprendem dentro de um contexto social. A aprendizagem é facilitada

através de conceitos como modelagem e aprendizagem por observação (ou

imitação). Esta teoria baseia-se no modelo de condicionamento operante de

Skinner. É por meio da imitação que ocorre uma variedade de aprendizagens

sociais. Os comportamentos que são aprendidos por observação podem ser

estimulados pelo reforço ou inibidos pela punição, seja diretamente ou através

de um modelo. Para a teoria da aprendizagem social, toda a aprendizagem é

resultado da interação social, a partir da observação de quais comportamentos

são esperados e aceitáveis numa dada cultura.

Segundo a teoria da aprendizagem social, os modelos são uma

relevante fonte para a aprendizagem de novos comportamentos e para

alcançar a mudança de comportamento em contextos institucionalizados.

Teoria da aprendizagem social foi desenvolvida a partir do trabalho do

psicólogo americano Albert Bandura (1925 - ), que propôs que a aprendizagem

observacional pode ocorrer em relação a três classes de respostas, também

conhecidos por “três fatores da imitação”: efeito modelador, efeitos inibitório e

desinibitório, e efeito eliciador.

Entende-se por efeito modelador quando novas respostas são

aprendidas por meio da imitação de um modelo. Comportamentos imitativos

são respostas sujeitas às leis da aprendizagem operante. Modelos podem ser

pessoas ou padrões simbólicos transmitidos pela cultura através da religião,

TV, livros, escola, etc.

Os efeitos inibitório e desinibitório, não têm relação com aprendizagens

de novas respostas, como no efeito modelador. Eles podem cessar ou iniciar

um comportamento já aprendido. Quando o observador vê um modelo sendo

punido o efeito inibitório atua cessando, ou impedindo o comportamento. O

efeito desinibitório acontece quando o observador vê o modelo ser

recompensado e passa a iniciar este comportamento.

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O efeito eliciador tem a ver com o que Bandura chama de reforço

vicário, ou seja, quando um comportamento é estimulado ao observar outra

pessoa que executou o mesmo comportamento ser reforçada. Isto quer dizer

que quando um modelo sendo reforçado ao emitir um comportamento é

observado, o observador tende a incorporar este comportamento, ou similar,

esperando ser reforçado no futuro.

A fundamentação da teoria da aprendizagem social está em recentes

descobertas sobre os neurônios-espelho que foram encontrados no córtex pré-

motor, área motora suplementar, córtex somatossensorial primário e o córtex

parietal inferior. Estes neurônios são disparados tanto quando uma pessoa (ou

animal) emite um comportamento ou quando observa a mesma ação sendo

executada por outro. Estas células formam a base neural para a aprendizagem

por observação. Desta forma, não importa se uma pessoa esta realizando uma

ação ou observando alguém realizar a ação, os neurônios são disparados em

ambas as situações. Ao observar um comportamento, os neurônios-espelho

refletem o que o outro faz. Estas células-espelho são importantes para a

aquisição da linguagem em crianças, pois permitem que elas aprendam

apenas observando como imitar os movimentos da língua e dos lábios na

formação de novas palavras (MYERS, 2006).

Para Bandura (1969 apud LEFRANÇOIS, 2008) é impossivel explicar o

comportamento apenas tendo os estimulos internos ou externos como

referencia. Abmos estão envolvidos na maioria dos comportamentos. O

behaviorimso em geral preocupa-se com os acontecimentos externos

(ambiente) enquanto o cognitivismo tem como foco os eventos internos

(cognitivos). Na teoria da aprendizagem social, essas duas perspectivas são

integradas. Isto quer dizer que no ponto de vista de Bandura, o ambiente fisico

é, em partes, responsável pelo comportamento humano, embora os processos

internos que constituem o pensamento humano determinam parte dos nossos

comprotamentos.

Um dos conceitos mais conhecidos de Bandura é o de auto-eficácia,

que é um elemento importante do auto-conhecimento. Os julgamentos de auto-

eficácia são essenciais para o que uma pessoa pode ou não fazer, ou seja,

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uma elevada auto-eficácia dá às pessoas as ferramentas necessárias para

lidar com as situações que a vida lhe oferece. Pessoas que fazem baixas

avaliações da competência pessoal estão mais propensos a julgar

negativamente a si mesmos e desenvolver baixa autoestima. Desenvolver nos

alunos autoconceitos positivos e senso de poder pessoal, é uma tarefa para os

educadores.

A crença na eficácia influencia não somente o modo como as pessoas

sentem, pensam, se motivam e se comportam, mas também quanto esforço e

tempo dedicarão a uma tarefa, mesmo quando confrontado com dificuldade.

As pessoas não fazem as coisas nas quais esperam se sair mal. Por isso

quanto maior a autoeficácia, maior o desempenho nas suas atividades.

Quando o educador desenvolve a percepção da autoeficácia nos alunos é

notável a melhora no desempenho das atividades e também na facilidade com

que os alunos lidam com as adversidades.

Em sala de aula os professores usam modelos o tempo todo. O

comportamento do professor e de outros estudantes servem como modelos.

Pesquisas sugerem que nem todos os modelos influenciam as crianças com o

mesmo impacto. Crianças tendem a adotar modelos com os quais se

identificam e que são altamente valorizados por eles (LEFRANÇOIS, 2008).

É comum na sala de aula os educadores estabelecerem regras e

rotinas que viabilizam um convívio harmonioso. O estabelecimento de estímilos

claros em relação às rotinas, como instruções verbais, cartazes com avisos,

campainha e sinais auxilia no direcionamento do comportamento dos alunos e

na compreensão do que é esperado deles. Elogios e críticas bem feitas

também são importantes, pois serão estímulos que servirão como reforço para

o aluno e para toda a classe.

Educadores são importantes agentes da “influência persuasiva”. Isto

quer dizer que os comportamentos emitidos por eles têm um peso considerável

no julgamento do aluno e pode influenciar no desempenho do aluno.

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2.5 - Teoria da Gestalt

O principal argumento defendido pelos gestaltistas contra as teorias

comportamentais, que enfatizam a análise do comportamento, é que o

comportamento não pode ser compreendido por meio de suas partes. Para a

gestalt o todo é maior que a soma das partes. O significado das coisas não

está na soma das partes, mas na capacidade que temos de perceber sua

organização. Perceber esta organização, ou estrutura, é conhecido como

insight que é um conceito fundamental na psicologia da gestalt, e designa “a

percepção das relações entre os elementos de uma situação-problema”

(LEFRANÇOIS, 2008, p. 205). Para se chegar ao insight é necessário

organizar mentalmente o elementos de uma situação e produzir uma nova

organização destes elementos.

Gestalt é uma palavra de origem germânica que significa “todo” ou

“configuração”. A atenção dos gestaltistas está centrada nas leis que governam

a percepção (GERRIG e ZIMBARDO, 2005). Nessa teoria não há preocupação

quanto aos aspectos elementares da aprendizagem e do comportamento, nem

em descrever os estímulos e respostas do organismo, mas sim numa visão

geral que contempla a forma como as partes estão organizadas e compõem o

todo. O material aprendido pela pessoa, assim como qualquer informação

perceptual, sempre tende a adquirir a melhor estrutura possível, devido às leis

da organização perceptual. Aquilo que é lembrado nem sempre é o que foi

registrado, mas é geralmente uma organização melhor que o original. As

pessoas reagem mais à aparência do que à realidade (MYERS, 2006).

Estudos da gestalt sobre a memória (LEFRANÇOIS, 2008) concluiram

que mudanças estruturais da informação ao longo do tempo, envolve

processos de detalhamento e representação mais próxima possivel da

aparência real. Entretanto, os teóricos da gestalt diferenciam realidade externa

das percepções individuais. Não conhecemos a realidade. Apenas construimos

representações internas da realizada por meio das informações que nos

chegam pelos sentidos.

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A perspectiva da gestalt dá suporte ao que se chama em educação de

construtivismo. Assim como no construtivismo, a gestalt esta centrada no

aprendiz, pois entende que a informação significativa é construída por ele e

não dada diretament. O professor, segundo esta perspectiva, deveria

estruturar as situações de aprendizagem de forma que os alunos chegassem

ao insight. Decorar soluções e memorizar respostas colocam os alunos

propensos a desenvolver a “predisposição de respostas”. Essa predisposição a

respostas coloca o aluno pronto para responder ou perceber de modo

predeterminado.

Na teoria da gestalt é mais improtante o aluno ser encorajado a

compreender o problema do que decorar um cojunto de procedimentos e

fórmulas. Os educadores deveriam orientar os alunos a descobrir as soluções

por eles mesmos a partir de seus próprios insights.

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CAPÍTULO III

NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO

“A aprendizagem está intimamente ligada às forças químicas e biológicas que

controlam o cérebro humano” (HILEMAN, 2006, p. 18).

Educação envolve os processos de ensinar e aprender,

desenvolvendo novos conhecimentos e habilidades. Só há educação quando

há aprendizagem e esta é mensurada pela manifestação de comportamentos,

sendo estes produtos de atividades bioquímicas que ocorrem em nosso

sistema nervoso.

Educação não pode ser dissociada da neurociência, são áreas que

andam juntas, justamente pelo fato de cérebro ser elemento principal no

processo de ensino-aprendizagem. Nos últimos trinta anos a neurociência

evoluiu mais do que nos duzentos anos anteriores. A neurociência tem

contribuído para uma percepção mais clara dos elementos biológicos

subjacentes à aprendizagem e também para uma prática pedagógica

fundamentada em bases mais consistentes.

As estratégias pedagógicas nas instituições de ensino somada às

experiências de vida do aprendente, produzem modificações em sua estrutura

cerebral, o que é conhecido como neuroplasticidade. É devido à

neuroplasticidade que é possível o surgimento de novos comportamentos

facilitados pelo processo de aprendizagem. Desta forma é notória a

importância do cérebro no processo de ensino-aprendizagem, graças aos

avanços tecnológicos que proporcionaram à neurociência um exponencial

crescimento nas últimas décadas.

Os avanços logrados pela neurociência se estenderam além da área

médica e hoje dialoga com os mais variados ramos como artes, psicologia,

reabilitação, comunicação, marketing, computação e educação. Isso também

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se deve ao fato de que a divulgação científica veiculada pela TV, rádio, revistas

e jornais facilitou o acesso do publico geral a estas informações. Todos estes

aspectos facilitaram a conexão entre educação e neurociência, contribuindo

para práticas pedagógicas mais adequadas e eficientes, fundamentadas nos

processos biológicos subjacentes à aprendizagem.

Processos cognitivos, estados de humor, atenção, memória e

comportamentos são elementos envolvidos no processo de ensino-

aprendizagem e que totalmente dependentes do cérebro, mas também envolve

aspectos psicológicos, sociais, afetivos, familiares e condições de vida. No que

diz respeito à aprendizagem, a neurociência contribui apenas numa parte do

contexto educacional que ocorre dentro de um processo cultural mais amplo.

O trabalho em sala de aula torna-se mais produtivo quando há um olhar

neurocientífico nas práticas educacionais e possibilita ao educador utilizar

recursos mais apropriados para lidar com cada caso em concreto, respeitando

as idiossincrasias, potencialidades e limitações de cada um. Os futuros

avanços dependem de um diálogo cada vez mais claro entre os profissionais

da educação e os profissionais da neurociência para que haja um estudo mais

profundo das aplicações da neurociência no cotidiano escolar, viabilizando

novos estudos que provoquem mudanças nas práticas educacionais. Apenas

saber o funcionamento do cérebro, não é o mesmo que saber as melhores

estratégias para auxiliar na aprendizagem dos alunos, logo neurociência e

educação devem evoluir juntas para trazer conhecimentos que beneficiem

educadores, pais, alunos e toda a comunidade.

A modificação do comportamento humano por meio da aprendizagem

converge estudos da psicologia cognitiva e da neuropsicologia e envolve

processos cognitivos complexos que necessitam de habilidades superiores

como atenção, processamento da informação, interpretação.

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3.1 - Aprendizagem baseada no cérebro

“A aprendizagem está intimamente ligada às forças químicas e

biológicas que controlam o cérebro humano” (HILEMAN, 2006, p. 18). Embora

algumas pessoas questionem esta afirmação, muitos profissionais da

educação algumas vezes negligenciam o papel do cérebro no processo de

aprendizagem. A atenção neste campo tem crescido nos últimos anos, pois

atualmente os cientistas possuem melhores recursos para estudar o cérebro.

Com este novo conhecimento é possível desenvolver a tendência natural de

aprendizagem do cérebro. Mais importante ainda são as pesquisas sobre o

brain-based learning (aprendizagem baseada no cérebro) que oferecem ideias

práticas para tornar a aprendizagem mais consistente.

A aprendizagem baseada no cérebro é uma abordagem abrangente

para ensino fundamentada em como o cérebro aprende naturalmente. Esta

teoria tem como referência as recentes pesquisas sobre as estruturas e

funções do cérebro nos diferentes estágios de desenvolvimento. Este tipo de

educação proporciona uma estrutura biologicamente dirigida para o ensino e a

aprendizagem, ajudando a explicar comportamentos recorrentes do

aprendizado. As técnicas da aprendizagem baseada no cérebro permitem ao

professor conectar o aprendizado às experiências de vida do estudante.

Os defensores da aprendizagem baseada no cérebro concluíram que

técnicas pedagógicas baseadas na neurociência de como o cérebro aprende

são eficazes na produção de memória de longo prazo . Seu objetivo é

estimular o processo da formação da memória por meio da aprendizagem

significativa. Novos conhecimentos sempre estão se relacionando com

conhecimentos preexistentes na estrutura cognitiva do aluno. A partir das

conexões já existentes no cérebro do aluno, é possível realizar novas

conexões que servirão para a compreensão de novas informações.

Saber como o cérebro trabalha melhor permite a educadores criar um

ambiente que facilite ao estudante uma alta probabilidade de sucesso na

aprendizagem. As práticas pedagógicas proporcionadas pela aprendizagem

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baseada no cérebro colaboram para superação dos desafios em sala de aula

melhorando significativamente o rendimento e desempenho escolar.

Estudantes têm diferentes estilos de aprendizagem. É importante estar

atendo ao modo como cada aluno percebe, organiza, processa e acomoda

informações. Há alunos que processam com mais facilidades os estímulos

visuais preferindo imagens, gráficos, figuras, mapas e cartazes. Alguns alunos

têm mais facilidade em assimilar os estímulos auditivos, lembrando-se com

mais facilidade do que ouviram e necessitam gravar as aulas ou estudar em

voz alta. e também há alunos que aprendem melhor por meio do envolvimento,

ou seja, necessitam estar "em contato" com os conteúdos para assimilar com

facilidade, preferindo atividades práticas.

O cérebro funciona melhor sob um estado emocional positivo. Alunos

precisam sentir-se fisicamente e emocionalmente seguros antes de seus

cérebro estarem prontos para aprender. Professores podem criar um ambiente

positivo para incentivar e encorajar os esforços dos alunos.

O cérebro aprende novas informações em blocos. Pesquisas em

neurociência demonstram que crianças entre cinco e treze anos aprendem

melhor quando informações são segmentadas de duas a quatro partes e sua

atenção é mantida num período entre cinco e dez minutos. Jovens com mais

de quatorze anos podem aprender com mais de sete blocos simultaneamente

e manter sua atenção num período entre dez e vinte minutos. Professores

deveriam planejar dentro destes limites, segmentando as informações em

pequenos blocos. A aprendizagem fica mais consistente quando os alunos têm

tempo para praticar o que aprenderam.

3.2 - Educação emocional

Santos (2000) propõe a educação emocional na escola, que tem por

objetivo desenvolver no aluno autoconhecimento e autoconsciência para

identificar e reconhecer emoções e sentimentos e exercer maior controle das

suas expressões emocionais e impulsos. Além disso, a educação emocional

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também busca desenvolver a habilidade de empatia que consiste em

reconhecer as emoções do outro e compreender seus sentimentos e

perspectivas, respeitando as diferenças individuais.

O benefício trazido pela educação emocional é o desenvolvimento do

córtex pré-frontal, na sua função de modular o comportamento emocional,

socializando os alunos e permitindo que a emoção seja um elemento facilitador

da aprendizagem e da modificação do comportamento. O caso de violência

nas escolas tem crescido consideravelmente, devido, em grande parte, pela

falta de limites impostos às crianças, que prejudica a formação do cérebro

social. O resultado de uma forte modulação do comportamento emocional são

alunos agindo de maneira pulsional e impulsiva, muitas vezes chegando a se

confundir falta de educação com transtornos comportamentais. O controle das

emoções é função do neocórtex que é uma parte do cérebro que é mais

desenvolvida nos humanos e tem relação com a nossa capacidade de viver em

sociedade, agindo como freio para nossos impulsos.

Pesquisas sugerem (SANTOS, 2000) que a educação emocional deve

ter inicio no âmbito familiar e que as crianças devem ser estimuladas a

expressar suas emoções e lidar com elas, tendo o apoio da família como

elemento reforçador. Além disso, técnicas de relaxamento muscular são muito

úteis no controle das emoções, pois o relaxamento provoca modificações em

nível neurológico e fisiológico, viabilizando uma redução da atividade simpática

o que é propício para a autoconsciência e o controle das emoções.

Crianças com preparo emocional são mais saudáveis, têm menos

problemas de comportamento e tem melhor desempenho escolar do que

crianças que não possuem controle emocional. Desta forma a educação

emocional atua positivamente no comportamento dos alunos em sala de aula e

fora dela também. A capacidade de aprender está relacionada com a

capacidade de gerenciar as emoções.

A emoção interfere no pensamento assim como o pensamento interfere

na emoção. Esta relação recíproca se deve ao fato de que neurônios da região

pré-frontal do neocórtex possuem projeções com a amígdala cerebral. Isto

fundamenta o fato dos pensamentos provocarem emoções e estas

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influenciarem o pensamento. Le Doux (apud SANTOS, 2000) considera que a

maior parte das emoções é processada inconscientemente, isso porque foi

descoberto por ele um feixe de neurônios que liga o tálamo à amígdala. Isto

permite à amígdala receber informações e produzir respostas orgânicas mais

rápido do que a percepção cortical. Ela tem ligações com várias áreas do

cérebro o que permite rápidas reações comportamentais em emergências

emocionais.

Quando estamos sob o efeito das emoções, estamos sob o domínio do

cérebro emocional, que controla nosso comportamento. Por isso o

desenvolvimento das funções executivas por meio da educação emocional é

importante e contribui sobremaneira para o processo de aprendizagem e

memória.

3.3 - Construção Social do Cérebro

O cérebro é dotado da capacidade de modificar suas estruturas e

funções de acordo com (a) as predisposições biológicas, herdadas

geneticamente e (b) as interações no contexto sociocultural do indivíduo. As

ideias de Vygotsky sugerem que as funções cognitivas superiores do ser

humano tem sua origem na relação entre a pessoa e seu ambiente, no

convívio com outras pessoas (RELVAS, 2009). Este autor foca nos aspectos

interacionistas da aprendizagem, que pressupõem que grande parte da

aprendizagem está associada à interação do indivíduo com o meio e também

com as condições histórias e sociais deste ambiente.

O cérebro, sob a visão sócio-interacionista de Vygotsky, é um sistema

plástico capaz de modificar sua natureza anatômica e funcional para adaptar-

se à experiência. A partir deste ponto de vista, as dificuldades de

aprendizagem devem ser analisadas sob uma perspectiva integral, levando-se

em consideração fatores biológicos e ambientais. Para Vygotsky (RELVAS,

2009) o ser-humano transforma o ambiente e ao mesmo tempo é transformado

por ele, numa relação dialética.

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Sob a ótica da neurociência, as experiências vividas vão modificando o

cérebro para que este esteja apto a receber, processar e responder aos

estímulos recebidos do ambiente. Estes estimulos externos chegam até o

cérebro por meio dos sentidos e são recebidos e processados por diversas

áreas do cérebro, cada uma especializada em um tipo diferente de estímulo.

Quanto mais rico for o ambiente deste aprendente, mais sinapses serão

construídas neste cérebro, possibilitando ampliação das capacidades

cognitivas e facilitando o processo de aprendizagem. A capacidade de

resposta compensatória, frente aos estímulos externos e internos, esta

relacionada com os vínculos entre a plasticidade cerebral e seu

desenvolvimento sócio-histórico-educativo.

A aquisição de habilidades e, por tanto, a modificação do

comportamento resulta da estimulação e fortalecimento de certas conexões.

Quanto mais utilizadas as conexões, mais facilmente a informação flui por elas,

enquanto que as sinapses menos estimuladas enfraquecem, dando lugar a

outras. O cérebro produz sinapses por toda a vida, porém a qualidade destas

sinapses vai depender da qualidade dos estímulos. Cada cérebro é único

porque o desenvolvimento ao logo da vida é único porque as experiências de

cada indivíduo vão moldando sua estrutura biológica limitando ou estimulando

suas capacidades cognitivas e comportamentais.

Na prática pedagógica, este conhecimento favorece a utilização de uma

metodologia que favoreça a interação entre os alunos e entre cada aluno e o

ambiente. Envolver ativamente os alunos produz uma diversidade de estímulos

que enriquece o processo de ensino-aprendizagem facilitando a integração dos

conteúdos e desenvolvendo das habilidades esperadas. A ação, por parte dos

alunos, implica na assimilação e incorporação dos conceitos já que as

interações sociais servem como um facilitador da aprendizagem.

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3.4 – Fisiologia e Aprendizagem

Pesquisas realizadas em nível molecular, celular e anatômico revelam

que há vários elementos que interferem no processo de aprendizagem e estão

envolvidos diretamente na modificação do comportamento. Hábitos

alimentares saudáveis, prática de atividade física, noites de sono bem

dormidas e prática regular de relaxamento são importantes para a regeneração

e revigoramento da atividade cognitiva.

A energia extraída dos alimentos fornece energia mecânica ao corpo e

às células. Como a aprendizagem tem bases celulares, hábitos alimentares

interferem na qualidade do aprendizado. A falta de proteínas dificulta a

produção de adrenalina e dopamina no cérebro, o que resulta em falta de

energia e dificuldade de concentração. Alimentação adequada favorece o

funcionamento cardiorrespiratório que consequentemente contribui para uma

melhor oxigenação cerebral e um melhor desempenho da memória (OECD,

2007).

Há indícios, segundo pesquisas, que o sono contribui para a formação

da memória, não só em seres humanos mais na maioria dos mamíferos, pois

se descobriu uma relação entre a quantidade de sono REM e a aprendizagem

de habilidades (OECD, 2007). A privação de sono pode levar a problemas na

formação de memórias de longo prazo, baixa na imunidade, danos em

algumas funções cognitivas e, ainda, o desenvolvimento de transtornos como

depressão e déficit de atenção.

A prática regular de atividade física além de contribuir para uma melhor

saúde cardiovascular é importante no processo de aprendizagem e na

prevenção de doenças degenerativas do sistema nervoso (OECD, 2007).

Atividade aeróbica ajuda o sangue a levar oxigênio para o cérebro e

melhorando a qualidade da atenção, percepção, concentração, coordenação

motora, além de estimular a produção de neurotransmissores facilitadores do

processo de aprendizagem e memória.

O estresse é o maior vilão nas salas de aula. Reações de estresse

liberam catecolaminas que além de enfraquecer a imunidade, disparam

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reações de alerta no corpo, dificultando a capacidade de concentração e de

retenção da informação. Técnicas como medicação, yoga e hipnose têm sido

utilizadas com sucesso para ajudar pessoas a aprender com mais qualidade.

Técnicas meditativas e hipnose atuam no sistema reticular ativador e inibem

parte do sistema límbico e córtex cerebral, atuando como inibidora nas

respostas de estresse.

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CONCLUSÃO

O avanço da neurociência possibilitou a expansão da pedagogia,

trazendo um novo olhar para o processo de ensino-aprendizagem. Os

substratos biológicos por de trás da aprendizagem se fazem necessários para

uma melhor prática pedagógica. A partir da evolução tecnológica foi possível

mapear o cérebro com mais precisão e aprender mais sobre como ele funciona

e como podemos utilizá-lo melhor para obter melhores resultados.

O progresso da ciência muda o saber e consequentemente as pessoas

mudam. Os alunos de hoje não são mais os mesmos, pois a sociedade

tecnológica atual produziram mudanças que estimularam uma nova forma de

se relacionar com o mundo. O educador necessita estar atualizado em relação

às práticas pedagógicas, principalmente com as descobertas que surgiram nos

últimos trinta anos.

O cérebro é, definitivamente, o órgão da aprendizagem. É por meio

dele que percebemos a realidade e processamos as informações que

recebemos dos órgãos dos sentidos. As emoções são produzidas no cérebro e

as memórias também são gerenciadas e armazenadas nele. Tudo isto está

integrado neste fabuloso órgão que tem suas próprias leis. Saber estas leis

facilita na forma como aprendemos, fazendo com que este processo seja

otimizado com maior eficácia.

Algumas técnicas, oriundas das descobertas da neurociência e das

teorias da aprendizagem, fazem com que o desempenho do educador em sala

de aula traga um maior aproveitamento por parte dos alunos. Trabalhar as

emoções e a estimulação sensorial em sala de aula produz melhores

resultados. E hoje sabemos que durante o processo de aprendizagem não

ocorrem só mudanças em nível cognitivo,mas também em nível anatômico. A

experiência modifica o cérebro.

A modificação do comportamento é a materialização da aprendizagem,

pois como foi visto toda aprendizagem pressupõem uma mudança

relativamente duradoura do comportamento. Isso se deve ao fato das

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estruturas cerebrais envolvidas no processo de aprendizagem, produzirem

modificações físicas no cérebro.

Hoje se sabe que a estimulação dos sentidos favorece o aumento da

plasticidade cerebral e melhora a qualidade da aprendizagem. Além disso, a

emoção é um elemento importante neste processo e deve ser gerenciado de

maneira adequada para que haja maior retenção dos conteúdos. Não há

aprendizagem sem emoção.

A utilização dos intervalos deve ser vista com bastante atenção, pois

facilita na retenção da informação e na consolidação das memórias. a

neurociência já concluiu que o cérebro necessita de um tempo para processar

as informações e armazenar os conteúdos, transformando memória de

trabalho em memória de longo prazo.

Desta forma o conhecimento neurocientifico pode contribuir para uma

melhor metodologia em sala de aula que facilite a superação das dificuldades

de aprendizagem e dá melhores resultados em sala de aula que deixa o aluno

mais motivado e entusiasmado.

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SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 3 DEDICATÓRIA................................................................................................... 4 RESUMO ........................................................................................................... 5 METODOLOGIA ................................................................................................ 6 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8 CAPÍTULO I ..................................................................................................... 11 O SISTEMA NERVOSO E A BIOLOGIA DA MEMÓRIA .................................. 11 1.1 - Neurônios ......................................................................................... 11 1.2 - Sinapses ........................................................................................... 12 1.3 - Encéfalo ............................................................................................ 13 1.4 - Lobos Cerebrais ............................................................................... 14 1.5 - Memória ............................................................................................... 16 1.5.1 - Memória de Trabalho ..................................................................... 17 1.5.2 - Memórias declarativas e de procedimento .................................... 17 1.5.3 – Priming .......................................................................................... 19 1.5.4 - Consolidação das memórias ......................................................... 19

CAPÍTULO II .................................................................................................... 23 TEORIAS DA APRENDIZAGEM ...................................................................... 23 2.1 - Teorias Behavioristas ou Comportamentalistas ................................... 23 2.2 - Condicionamento Clássico ................................................................... 24 2.3 - Condicionamento Operante ................................................................. 25 2.4 - Aprendizagem Social ........................................................................... 29 2.5 - Teoria da Gestalt .................................................................................. 32

CAPÍTULO III ................................................................................................... 34 NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO ..................................................................... 34 3.1 - Aprendizagem baseada no cérebro ..................................................... 36 3.2 - Educação emocional ............................................................................ 37 3.3 - Construção Social do Cérebro ............................................................. 39 3.4 – Fisiologia e Aprendizagem .................................................................. 41

CONCLUSÃO .................................................................................................. 43 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 45