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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PARA UMA APRENDIZAGEM COLABORATIVA EM REDE Por: Denize de Souza Amorim Orientador Profa. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PARA UMA APRENDIZAGEM COLABORATIVA EM REDE

Por: Denize de Souza Amorim

Orientador

Profa. Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PARA UMA APRENDIZAGEM COLABORATIVA EM REDE

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Tecnologia Educacional.

Por: Denize de Souza Amorim

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AGRADECIMENTOS

À Deus, minha Família e Mestres da

Graduação e da Pós-Graduação que

tornaram esse trabalho possível.

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DEDICATÓRIA

Ao meu Marido Murilo e aos meus Filhos,

Pietro e Valeska, que foram paciência,

força e inspiração nos momentos em que

mais precisei nesta caminhada; e a minha

querida mãe, Maria da Penha, que de

onde estiver, compartilha de mais essa

etapa de minha vida, pois é o seu

exemplo que me guia no objetivo de ser

um ser humano melhor.

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RESUMO

O presente trabalho inicialmente busca conhecer as características da

sociedade contemporânea, as transformações ocorridas com o advento das

mídias digitais e das interações sociais que elas possibilitam, as relações que

ocorrem no espaço virtual - aqui denominado de ciberespaço - e o surgimento

de novas práticas pedagógicas nesse novo espaço.

A partir daí procuramos entender as atuais necessidades do aluno que

vive “em rede” e as novas relações que ele tece com a informação e com o

conhecimento com a mediação das mídias digitais. Procuramos também

compreender o potencial da inteligência coletiva e da aprendizagem

colaborativa em rede, onde o aluno aprende junto com outro, através da

interação e da troca de saberes nesse novo espaço onde ele torna-se, além de

consumidor, produtor e disseminador de informações.

Em seguida estudamos a utilização das tecnologias digitais na EAD

com metodologias tradicionais de ensino para apontar as potencialidades da

convergência de mídias com o objetivo de possibilitar uma aprendizagem

colaborativa. Finalmente, apresentamos possíveis formas de utilização do

ciberespaço como um ambiente virtual de aprendizagem através das

possibilidades disponíveis na Web 2.0.

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METODOLOGIA

Foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, onde foi realizada uma

leitura crítico-reflexiva de livros, periódicos e artigos da internet sobre o tema,

que serviram de fundamentação teórica para este estudo, com o objetivo de

conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o assunto.

Posteriormente, foram pesquisadas as ferramentas da Web 2.0 e as atuais

metodologias empregadas na EAD através de ambientes virtuais de

aprendizagem de cursos a distância, bem como de redes sociais e das

diversas interfaces da Internet. Os dados foram coletados qualitativamente à

luz do paradigma crítico-dialético, onde se levou em consideração os

condicionantes históricos e as contradições intrínsecas às ferramentas

tecnológicas utilizadas nos cursos de Graduação a distância.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - AS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE

EM REDE 11

CAPÍTULO II - COMPARTILHANDO INFORMAÇÕES E

CONSTRUINDO CONHECIMENTO: APRENDENDO

EM REDE 25

CAPÍTULO III - BEBENDO DE TODAS AS FONTES:

A CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS E O CIBERESPAÇO

COMO UM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM 36

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA 58

WEBGRAFIA 60

ÍNDICE 62

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INTRODUÇÃO

Muito além do consumo da informação, o aluno contemporâneo tem ao

seu alcance a produção e a veiculação, passando de passivo consumidor à

protagonista do mundo comunicacional. Vivemos hoje na cultura da

convergência e nela há uma colisão entre velhas e novas mídias (sejam elas

analógicas ou digitais, massivas ou pós-massivas), produzindo interfaces e

possibilidades entre elas, gerando novas opções e meios de se obter

informação. Nessa convergência, o indivíduo é estimulado, através da

utilização de vários meios tecnológicos, a participar na busca por informação, a

desenvolver conexões de conteúdos nas diferentes plataformas e a interagir

com os outros de forma participativa e coletiva. Ou seja, vivemos numa era de

inteligência coletiva, onde alunos não são mais ouvintes ou espectadores, não

se contentam em ser passivos, mas querem ajudar a construir seu

aprendizado, ser participativo e convergir junto com as mídias.

Na Educação a distância (EAD), as Tecnologias da Informação e

Comunicação (TIC) apresentam-se como instrumentos mediadores da

aprendizagem, oferecendo novas perspectivas para o desenvolvimento do

processo educacional, facilitando o acesso ao conhecimento através de suas

múltiplas linguagens: auditivas, hipertextuais, multimídicas e visuais. Por isso,

verifica-se a necessidade de se combinar mídias distintas através de uma

variedade de narrativas para se apresentar os conteúdos, combinando

diversas linguagens e meios que levem os alunos a produzir, interagir e

participar.

A Convergência de Mídias pode e deve ser utilizada na EAD, mudando

a forma como a cultura e o conhecimento vêm a ser produzidos e consumidos,

pois ela potencializa a aprendizagem colaborativa e as novas competências e

habilidades da sociedade atual, visto que o atual momento social requer mais

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do que produzir informação, requer que estas sejam disseminadas, trocadas e

compartilhadas através dos mais diversos meios a nossa disposição.

Assim, o presente trabalho tem como objetivo principal conhecer as

características da cultura da convergência e da cultura participativa para

identificar as potencialidades e contribuições da Convergência de Mídias para

a EAD e refletir sobre novas práticas pedagógicas no atual cenário da Cultura

da Convergência. Outros objetivos deste trabalho são: identificar formas de

convergir novas e antigas mídias na EAD; conhecer novas práticas que

estimulem a aprendizagem colaborativa e; entender como a inteligência

coletiva, através do compartilhamento de informações, pode ampliar o

processo ensino-aprendizagem. Para isso, buscaremos responder ao seguinte

questionamento: como utilizar os variados recursos da Web 2.0 para novas

práticas pedagógicas na EAD de modo a suprir as atuais demandas da

sociedade da informação?

O trabalho é dividido em 3 capítulos: O primeiro, “As transformações

da Sociedade em Rede”, busca situar o leitor em nosso atual momento social

com informações sobre Ciberespaço, Cibercultura, novas noções de tempo e

espaço, a virtualização do texto e da leitura e as transformações da educação

a distância na Cibercultura.

O segundo capítulo, “Compartilhando informações e construindo

conhecimento: aprendendo em rede”, busca compreender as novas formas de

aprender em rede através da aprendizagem colaborativa e da inteligência

coletiva, reflete sobre a mediação das mídias digitais e o poder de autoria

possibilitado pelo ciberespaço.

O terceiro e último capítulo “Bebendo de todas as fontes: a

Convergência de Mídias e o Ciberespaço como um Ambiente Virtual de

Aprendizagem”, pesquisa as metodologias utilizadas na EAD tradicional e os

novos desafios da educação pós Web 2.0, procura situar leitor na atual cultura

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da convergência e apresentar as potencialidade da convergência de mídias na

EAD e do Ciberespaço como um Ambiente Virtual de Aprendizagem.

As obras de Castells, Freire, Kenski, Lemos, Lévy, Moran, Santaella,

Santos e Silva serão a base do referencial teórico deste trabalho.

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CAPÍTULO I

AS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE EM REDE

“Numa cultura de caçadores, as crianças brincam com

arco e flecha. Na sociedade da informação, elas brincam

com a informação” (JENKINS, 2011, p. 185).

A sociedade contemporânea está imersa em variadas e intensas

transformações pela utilização constante das novas tecnologias digitais de

informação, processamento e comunicação que afetam a política, a economia,

a cultura e, consequentemente, a educação. CASTELLS (2011) dá à revolução

tecnológica que estamos vivendo a mesma importância da Revolução

Industrial, afirmando que ambas penetraram e transformaram todos os

domínios das atividades humanas. Ele compara ainda o papel das tecnologias

da informação na atual revolução ao papel das novas fontes de energia nas

revoluções industriais sucessivas.

Essa revolução vem acontecendo ao longo da história, desde os livros,

a partir dos tipos móveis de Gutenberg, passando pelo telefone, o rádio, a TV e

o computador, que revolucionaram o mundo de maneiras diferentes e

transformaram as formas de comunicação entre as pessoas e a forma como a

informação chegava a essas. Hoje, a internet está mudando a nossa cultura,

pois, por seu alcance global e a possibilidade de integração de variadas

mídias, proporciona a troca de informações de/para qualquer lugar, em

qualquer tempo, a partir de variadas interfaces e de forma rápida e interativa.

A atual revolução tecnológica e o atual momento social são

caracterizados pela imensurável oferta de informações, que são trabalhadas,

traduzidas e compartilhadas de formas diversas e através de diversos meios

onde o conhecimento é partilhado e realimentado através da rede, inovando as

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formas de comunicação, interação e uso das tecnologias, bem como a maneira

como a sociedade se comporta.

Assim, a internet apresenta-se como um meio para a comunicação

interativa, que modifica a forma como a informação é recebida e integra-se

inclusive aos meios de massa, mudando também as plataformas de difusão e

de produção de seus conteúdos por meio das tecnologias digitais. É um

sistema de comunicação que cresce freneticamente, que se integrou à nossa

vida modificando relações e ações sociais, criando teias de conhecimento e

promovendo a integração global de mídias, pessoas, informações e

conhecimentos. Eis a Cibercultura, que nasce e desenvolve-se através das

redes, no Ciberespaço.

Nesse contexto de mudanças em todas as esferas sociais - induzidas

pelas tecnologias digitais - as tradicionais formas de educação inevitavelmente

transformam-se junto com a sociedade, em especial a educação a distância

que modifica não só os meios nos quais disponibiliza seus conteúdos, como

também a forma como seus alunos interagem entre si e com a informação.

1.1- Cibercultura: novas formas de se relacionar com as

Tecnologias e com o outro

A cultura contemporânea apresenta uma inovação nas relações com

as tecnologias, fazendo dessas, parte integrante e indissociável de seu meio e,

através delas, modificando a forma como a vida social se desenvolve. LEMOS

(2010) situa o nascimento da cibercultura no surgimento da microinformática,

através dos impactos socioculturais trazidos por ela, quando a necessidade de

novas formas de socialização transforma as relações do homem com a

informática que passa a convergir com as telecomunicações e faz surgir o que

hoje chamamos de sociedade da informação, onde sujeito e objeto integram-

se, moldam-se e são moldados uns pelos outros. Assim,

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“A cibercultura forma-se, precisamente, da convergência

entre o social e o tecnológico, sendo através da inclusão

da sociabilidade na prática diária da tecnologia que ela

adquire seus contornos mais nítidos. Não se trata,

obviamente, de nenhum determinismo social ou

tecnológico, e sim de um processo simbiótico, onde

nenhuma das partes determina impiedosamente a outra.”

(LEMOS, 2010, p. 88-89).

A cibercultura pode ser caracterizada pelos três aspectos que

descreveremos abaixo, que LEMOS (2003) apresenta-nos como “leis da

cibercultura”: reconfiguração, liberação do polo de emissão e conectividade

generalizada.

Reconfiguração: uma mesma informação ou conteúdo pode ser

difundido através de diferentes interfaces, sem substituir ou excluir nenhuma

delas.

“Devemos evitar a lógica da substituição ou do

aniquilamento. Em várias expressões da cibercultura,

trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas,

espaços, sem a substituição de seus respectivos

antecedentes.” (LEMOS, 2003, p. 8).

Liberação do polo da emissão: Através da digitalização da informação

e de sua distribuição através da Rede, o usuário cria voz, disponibiliza a

informação aos demais usuários que podem debatê-la e redistribuí-la em rede

de modo que informação passa a ser parte da rede e pode ser compartilhada

para todo o mundo.

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“As diversas manifestações socioculturais

contemporâneas mostram que o que está em jogo, com o

excesso de informação, nada mais é do que a

emergência de vozes e discursos anteriormente

reprimidos pela edição da informação pelos mass media.

A liberação do polo da emissão está presente nas novas

formas de relacionamento social, de disponibilização da

informação e na opinião e movimentação social da rede.

Assim, chats, weblogs, sites, listas, novas modalidades

midiáticas, e-mails e comunidade virtuais, entre outras

formas sociais, podem ser compreendidas por essa

segunda lei.” (LEMOS, 2003, p. 9).

Conectividade generalizada: A Rede, antes fixa através do PC

(Personal Computer), tornar-se móvel através CC (Computador Conectado),

possibilitando a reconfiguração e principalmente a liberação do polo de

emissão já citados anteriormente, pois potencializa novas formas de relações

sociais, rompe as fronteiras de tempo e espaço e dá aos seus usuários a

possibilidade de produzir e distribuir a informação, possibilidade esta,

impossível sem a conexão em rede.

“... começa com a transformação do PC em CC, e desse

em CC móvel. As diversas redes sociotécnicas

contemporâneas mostram que é possível estar só sem

estar isolado. A conectividade generalizada põe em

contato direto homens e homens, homens e máquinas,

mas também máquinas e máquinas, que passam a trocar

informação de forma autônoma e independente. Nessa

era da conexão, o tempo reduz-se ao tempo real e o

espaço transforma-se em não espaço, mesmo que por

isso a importância do espaço real, como vimos, e do

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tempo cronológico, que passa, tenham suas importâncias

renovadas.” (LEMOS, 2003, p. 9).

A tecnologia digital - que é a base da cibercultura – pela sociabilidade

e pela emancipação que possibilita, não só introduz novas formas de

socialização, mas desenvolve novos meios para a sua utilização e para a

utilização de tecnologias antecedentes. Assim, o ciberespaço amplia, por

exemplo, as potencialidades da oralidade e da escrita, dando a estas novas

formas de expressão através do hipertexto, das multimídias e das formas de

interação que surgem com as comunidades virtuais e redes sociais que são

importantes interfaces com enorme potencial para a educação a distância.

1.2- Ciberespaço: o Hipertexto mundial interativo

O ambiente onde o usuário interage através da internet e das

tecnologias da informação e comunicação em rede, passou a ser chamado de

ciberespaço. Este é um ambiente aberto, flexível, informal, interativo, onde a

informação não está centralizada em nenhum lugar, mas disponível e acessível

a todos em qualquer momento, a partir de qualquer lugar. Sua palavra de

ordem é “interação”, que transforma o sentido de “recepção”, pois a informação

recebida aqui é analisada, transformada e compartilhada em rede.

Assim, o ciberespaço apresenta-se como um ambiente de magia, sem

tamanho ou lugar, onde tudo acontece em tempo real, de forma instantânea,

como se o mundo pudesse ser manipulado através de um clique, um avançar

de páginas, um “compartilhar”. Esse excesso de possibilidades, obviamente,

leva a algumas apropriações inadequadas de suas ferramentas – como, por

exemplo, os vírus de computador. Porém, como qualquer revolução, a

revolução tecnológica que acontece no ciberespaço não está isenta de

utilizações distorcidas e erradas de suas possibilidades, o que não tira o mérito

de sua capacidade transformadora.

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Nesse contexto, LÉVY (1999) apresenta dois fatos para entendermos o

crescimento e utilização do ciberespaço:

“Em primeiro lugar, que o crescimento do ciberespaço

resulta de um movimento internacional de jovens ávidos

para experimentar, coletivamente, formas de

comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas

nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a

abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe

apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas

deste espaço nos planos econômico, político, cultural e

humano.” (LÉVY, 1999, p. 11).

Portanto, entendemos que o ciberespaço surge a partir da conexão dos

computadores em rede e desenvolve-se a partir dos usos que os praticantes

fazem dele, ou seja, no centro da rede não estão os computadores e os meios

digitais, mas os usuários e as relações que estes estabelecem com as

tecnologias, com as informações e uns com os outros. E é nesse novo espaço

que a educação a distância, mediada pelas tecnologias digitais, cria novas

formas e ganha novo sentido.

1.3- Tempo e espaço virtuais

Espaço e tempo são modificados por esse novo ambiente de

informação e pelas práticas sociais que ocorrem através dele. Através da rede,

o espaço de lugares perde seu sentido geográfico e torna-se o que CASTELLS

(2011) denomina de “Espaço de fluxos” onde a velocidade do tempo gira de

acordo com as necessidades de seus usuários, onde a instantaneidade da

informação é o diferencial. Para ele,

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“O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases

principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a

diversidade dos sistemas de representações

historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real,

onde o faz-de-conta vai se tornando realidade”

(CASTELLS, 2011, p. 462).

Assim, o ambiente comunicacional do ciberespaço torna-se intemporal

e desterritorializado e isso impacta todas as estruturas sociais que se

desenvolvem em rede. Isso não quer dizer que as coisas não tenham mais

lugar ou que passado, presente e futuro deixam de existir, mas que seus

significados mudam no ambiente virtual que dá novos sentidos a ele.

A transformação do sentido de tempo e espaço que vivenciamos pode

ser verificada atualmente pela mobilidade proporcionada pelos telefones

celulares, iPhones, iPods, etc., que rompe com fronteiras materiais que

anteriormente impossibilitavam o fluxo de informação e a troca destas. A

comunicação torna-se móvel e essa mobilidade modifica nossa compressão de

tempo, espaço e organização social.

“Estamos cruzando distâncias e tempos de uma maneira

que o nosso corpo físico sozinho não seria capaz. Se

trouxermos isso para o contexto urbano, naquele em que

nos movemos a pé, observamos ininterruptamente

pessoas praticando o espaço virtual nos seus celulares,

iPods, PDAs. Essas práticas de acesso estão também

construindo um novo espaço de misturas inextricáveis

entre o virtual (o ciberespaço) e os ambientes físicos em

que nosso corpo biológico circula.” (SANTAELLA, 2011,

p. 217).

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O acesso instantâneo à informação e a possibilidade de acessá-la de

qualquer lugar, através da mediação das tecnologias digitais, oferece novos

meios, novas interfaces e novas potencialidades à modalidade de educação a

distância que os meios de massa anteriormente utilizados não poderiam

proporcionar. O diálogo em tempo real dos chats, a reunião de pessoas de

locais distintos num mesmo ambiente virtual, a interação assíncrona dos

fóruns, a construção coletiva das wikis, etc., são instrumentos facilitadores que

rompem com barreiras de tempo e espaço e facilitam o compartilhamento de

informações e a troca de conhecimentos, potencializando uma inteligência

coletiva.

1.4- A virtualização do texto e da leitura: do texto à hipermídia,

passando pelo hipertexto

As formas de expressão e de disseminação da informação foram

sendo ampliadas e modificadas através dos tempos. A linguagem oral, em

outras épocas, já foi o único meio de transmitir a informação e o conhecimento

de uma geração à outra. Com a escrita, as descobertas e as experiências

passaram a ser registradas e deixadas para as gerações seguintes. Com a

invenção de Gutenberg elas puderam ser disseminadas e várias outras

tecnologias foram surgindo para a criação e a veiculação de textos e, assim, o

texto começou a sua caminhada do oral para o escrito em diversas tecnologias

rumo ao que hoje chamamos de digital, onde ele se apresenta em telas de

computadores, tablets, kindles, celulares, etc.

A Linguagem digital tem como base o hipertexto e une as

características das duas anteriores em uma nova conjuntura, expressando-se

através das múltiplas tecnologias e formas de interação. Segundo KENSKI

(2010. p. 62), “o texto eletrônico caracteriza-se por apresentar uma nova forma

de linguagem, síntese e mediação entre o oral, o escrito, o imagético e o

digital, o hipertexto.”

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O texto clássico, impresso, não deixa de apresentar características

hipertextuais que levam à alinearidade do texto, visto que através de seus

dispositivos paratextuais como índice, sumário, notas de rodapé, bibliografia,

numeração de páginas, glossário, etc., o leitor interage com o livro. Porém os

diferenciais do texto digital, que corre em rede, é que a informação contida

nele toma novas formas, o acesso a suas referências é instantâneo e ele

torna-se transportável, mutável e dinâmico e integra-se a outras mídias como

sons, imagens e vídeos, dando ao leitor a possibilidade de interagir com ele.

Para SANTAELLA (2011, p. 306) “São muitos os traços que definem o

hipertexto. Para sintetizá-los, podemos enfatizar dois deles: sua alinearidade e

a interatividade que propicia”. A alinearidade e interatividade podem ser

entendidas pelo fato de que num hipertexto, nenhum de nós fará o mesmo

caminho, cada um escolherá a forma como tecerá a teia do conhecimento. Os

links que o hipertexto nos proporciona funcionam como pontes para novas

informações e somos nós que escolhemos o caminho a seguir. Assim, o texto

original serve apenas como base para que possamos trilhar novos caminhos,

estabelecer novas conexões, interagir com a informação. Dessa forma, o leitor

navega e cria novos links, reescreve o hipertexto e torna-se autor deste,

interage com ele.

Os “nós” constroem o hipertexto. Através de cada nó um documento é

vinculado a outro, que gerará novos links, que levarão o usuário a outros links

determinados não por quem escreveu o texto, mas por quem o está lendo.

Está aí a interatividade do hipertexto: na possibilidade de imersão do leitor em

sua navegação. Quando esses links levam a vídeos, sons, imagens ou outras

interfaces, não temos mais um hipertexto, mas sim uma hipermídia.

Na hipermídia, as múltiplas linguagens integram-se e acontecem

associações complexas, onde o verbal, o oral, o textual, o sonoro e o visual

convergem e formam novos meios de acessar e transmitir a informação. Essas

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associações só farão sentido para quem as faz, pois ao interagir com o

hipertexto ou com a hipermídia, o usuário a recria, escolhe novos links e tece

novas teias que outros não tecerão.

“O hipertexto, hipermídia ou multimídia interativo levam

adiante, portanto, um processo já antigo de artificialização

da leitura. Se ler consiste em selecionar, em

esquematizar, em construir uma rede de remissões

internas ao texto, em associar a outros dados, em integrar

as palavras e as imagens a uma memória pessoal em

reconstrução permanente, então os dispositivos

hipertextuais constituem de fato uma espécie de

objetivação, de exteriorização, de virtualização dos

processos de leitura.” (LÉVY, 1996, p. 43).

Nesse turbilhão de informações disponíveis e acessíveis no

ciberespaço, onde o usuário, através do hipertexto, vai escrever o trajeto de

sua navegação, é necessário que haja uma leitura crítica quanto ao que é

realmente significativo, ao que é realmente conhecimento e, na educação a

distância, o papel do professor será o de orientar a aprendizagem de seus

alunos, de gerenciar a pesquisa e estimular o aluno para uma análise crítica

dos conteúdos. MORAN (2010, p. 29-30) orienta que:

“A aquisição da informação, dos dados, dependerá cada

vez menos do professor. As tecnologias podem trazer,

hoje, dados, imagens, resumos de forma rápida e

atraente. O papel do professor – o papel principal – é

ajudar o aluno a interpretar esses dados a relacioná-los, a

contextualizá-los.”

Esse é um dos desafios da educação contemporânea: orientar os

usuários dos novos meios comunicacionais para utilizá-los de forma crítica e

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para que consigam analisar as informações disponíveis e apropriar-se do que

realmente gera conhecimento.

1.5- As transformações da educação a distância: novas

práticas pedagógicas na cultura digital

Transformação é uma das palavras mais lidas neste trabalho até

então, porém esta é uma palavra que se faz presente a todo o momento

quando falamos da atual Sociedade em Rede, pois esta é uma sociedade que

vive em uma mutação constante. Diante disso, as tradicionais formas de

educação inevitavelmente transformam-se junto com a sociedade, é preciso

lançar-se ao novo, reinventar novas formas de aprender e ensinar, atualizar

metodologias, currículos, técnicas e tecnologias para acompanhar o novo ritmo

da informação. Nesse contexto, LÉVY (1999, p. 170) assinala que “as

características da aprendizagem aberta a distância são semelhantes às da

sociedade da informação como um todo (sociedade de rede, de velocidade, de

personalização, etc.).”

A EAD já foi vista como uma modalidade de ensino auxiliar, uma opção

de educação utilizada em circunstâncias particulares e com modelo tecnicista.

Porém o advento da Internet e as novas Tecnologias da Informação e

Comunicação, somados à nova demanda por profissionalização,

especialização, formação inicial e continuada, inspiraram o interesse das

instituições e dos governos pela implementação do ensino a distância e, em

1996, a Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB,

oficializou esta modalidade de ensino no Brasil.

As novas formas de interação possibilitadas pelas tecnologias digitais

vieram suprir algumas carências apresentadas na EAD mediada pelos meios

de massa, e a EAD online tornou-se um importante referencial para a

implementação de algumas mudanças necessárias à educação brasileira,

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ampliando as possibilidades de acesso ao ensino superior. São muitas as

expectativas, porém esta modalidade de ensino ainda enfrenta muitos desafios

na implementação de seus programas, no desenvolvimento e utilização de

novas metodologias e na formação de profissionais capacitados para lidar com

elas, visto que a EAD herdou várias carências do modelo tradicional de ensino

e muitos de seus cursos ainda as reproduzem.

Isso ocorre porque, historicamente, a EAD utiliza as mídias de massa

para a mediação do aprendizado, onde os alunos interagem apenas com os

materiais didáticos sem a possibilidade de criação e trocas com seus colegas e

professores. Assim, através da autoaprendizagem, os alunos têm nas mídias

de massa o seu elo com a aprendizagem, onde informação e conhecimento

são a mesma coisa e o foco principal está no material instrucional que prende

o aluno ao que é disponibilizado e não abre novas conexões com outros

materiais, outras pessoas e outras inteligências.

No novo espaço pedagógico possível para a EAD, a internet

apresenta-se como uma ponte para o acesso a variadas fontes de informações

na rede, onde surgem os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) que

apoiados por interfaces como correio eletrônico, fóruns, galerias, banco de

dados, chats, links, etc., potencializam as experiências pedagógicas em um

espaço onde é possível produzir, organizar, disponibilizar, pesquisar, manipular

e intervir nos conteúdos utilizados no curso. Nesse espaço, SANTOS (In:

SILVA, 2010a, p. 46) orienta que “Os materiais didáticos e as diversas

tecnologias devem ser pré-textos para que novos textos sejam construídos.

Mesmo assim, estes pré-textos devem ser obras abertas a cultura das

diferenças”.

A EAD avança cada vez mais, torna-se cada vez mais complexa, seus

modelos evoluem e se multiplicam, porém KENSKI (2010) nos afirma que a

teoria pedagógica ainda não está dando inteiramente conta dessa nova

realidade educacional, que acabamos fazendo adaptações de antigas teorias e

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a realidade nos escapa. Assim, os currículos contemporâneos da EAD

precisam utilizar as tecnologias digitais com foco em novas metodologias de

ensino, explorando as potencialidades do hipertexto, da hipermídia, da

comunicação interativa proporcionada pela rede, favorecendo aprendizagens

em ambientes de troca onde a inteligência coletiva seja o diferencial, onde o

aluno aprenda através da interação com o outro nos AVA, nas comunidades

virtuais, nas redes sociais e em todas as plataformas que a Web 2.0 lhes

proporciona, sem deixar de levar em conta a individualidade de cada um.

Entendemos que a evolução das tecnologias digitais e as novas formas

de interação que elas proporcionam, possibilitam o desenvolvimento de novas

metodologias para a EAD, que tem na interação entre os alunos o seu

diferencial, interação que antes era impossível através dos meios de massa e

que, por já se desenvolver em diversas ações da vida em sociedade, não pode

ficar de fora do ambiente educacional. Nesse contexto, não é possível utilizar

práticas tradicionais na EAD, pois ela tem em si intricada a necessidade de

novas práticas, novas propostas pedagógicas que não subutilizem as

tecnologias digitais.

As possibilidades da EAD são inúmeras, por ela se apresentar como

uma modalidade que se ajusta a emergência da cibercultura, pela

possibilidade de “não-presença” física, pela possibilidade de ser praticada de

forma móvel, por permitir a interação ao mesmo tempo, em tempo real, bem

como de forma assíncrona, sem a necessidade de os alunos estarem no

mesmo local ou ao mesmo tempo. Porém, para que todas essas possibilidades

façam sentido, é necessário que suas metodologias se abram às mudanças

estruturais que as tecnologias possibilitam e às mudanças paradigmáticas que

a sociedade em rede enseja.

As tecnologias necessárias existem e já são usadas no cotidiano dos

usuários, as mídias estão convergindo, assim como as interfaces da Web 2.0.

Porém, apesar de muitos cursos já terem se apropriado das potencialidades

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das tecnologias digitais, são necessárias muitas mudanças paradigmáticas

para que a EAD esteja realmente em rede, para que ela se aproprie das

tecnologias digitais, para que o hipertexto seja o diferencial entre o aluno

receptor e aluno autor.

“A educação na modalidade online é uma realidade cada

vez mais reconhecida e globalizada. Seu crescimento

vem junto com o crescimento da web e toma uma

dimensão tal que a faz diferenciar-se essencialmente da

modalidade via meios unidirecionais, rádio e televisão.

Enquanto a modalidade via meios unidirecionais separa

emissão e recepção no tempo e no espaço, a modalidade

online conecta professores e alunos nos tempos síncrono

e assíncrono, dispensa o espaço físico, favorece a

convergência de mídias e contempla bidirecionalidade,

multidirecionalidade, estar-junto "virtual" em rede e

colaboração todos-todos.” (SILVA, 2010a, p. 11).

Assim, entendemos que o digital está possibilitando à EAD a

oportunidade de deixar de ser uma modalidade que foca na autoinstrução, em

materiais instrucionais engessados que focam nos conteúdos disponibilizados

e não percebe seus alunos como alguém que pensa, critica e tem a

necessidade de se autorizar, de imergir, navegar e transformar o que lê, de

modo que isso faça sentido em sua vida prática. Estamos avançando, e a

tendência é que novas práticas surjam através do ciberespaço e que o “a

distância” da educação a distância se transforme em um “estar junto” sem

estar presente, em compartilhar tudo, ao mesmo tempo, de qualquer lugar,

através da rede, formando uma inteligência coletiva.

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CAPÍTULO II

COMPARTILHANDO INFORMAÇÕES E CONSTRUINDO

CONHECIMENTO: APRENDENDO EM REDE

“[...] não importa qual forma o corpo virtual possa

adquirir, sempre haverá um corpo biológico junto,

ambos inseparavelmente atados. O virtual pode

estar em outro lugar, e o outro lugar ser um ponto de

vista privilegiado – mas a consciência permanece

firmemente arraigada no físico. Historicamente, o

corpo, a tecnologia e a comunidade se constituem

mutuamente.” (SANTAELLA, 2011, p. 217).

Segundo SANTOS (2011, p. 77), a Cibercultura é, “a cultura

contemporânea estruturada pelo uso das tecnologias digitais em rede nas

esferas do ciberespaço e das cidades”. Nela, novas práticas sociais se

desenvolvem e dão forma a um novo espaço de informação, onde a sociedade

conecta-se através das redes do ciberespaço e faz uso das tecnologias para

ampliar a comunicação e proporcionar trocas e interações, num espaço onde a

informação é produzida e compartilhada através de um clique, em tempo real,

entre pessoas diversas, de lugares diversos, com objetivos diversos, que

tomam o poder da emissão em suas mãos, onde o leitor e o autor podem ser a

mesma pessoa através do hipertexto e onde a informação chega em tempo

real e tem a forma, o tamanho e o lugar que o usuário escolher. É esse espaço

que o aluno contemporâneo habita, é aí que ele desenvolve suas relações

sociais através da interação com o outro e com as mídias e é aí que a

educação online se desenvolve. Assim, conhecendo as interações que o aluno

pratica nesse espaço, podemos desenvolver as metodologias necessárias para

utilizar todas as suas potencialidades para a educação a distância, visto que

esta metodologia naturalmente habita o Ciberespaço.

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2.1- Aprendizagem Colaborativa em Rede e Inteligência

Coletiva

Como vimos, o ciberespaço concebe a possibilidade de novas formas

de organização, leitura, análise e difusão da informação que valorizam a

diversidade e a inteligência coletiva por meio das diversas conexões que

acontecem através das relações sociais disponibilizadas pelas redes sociais e

as comunidades virtuais, que se apresentam como meios inovadores para a

expressão livre das imposições antes estabelecidas pelos meios tradicionais.

Assim, “em um mundo saturado de objetos técnicos, será nesta forma técnica

(as redes telemáticas) que a vida social vai impor o seu vitalismo.” LEMOS

(2010, p. 85).

A inteligência se forma culturalmente e em sociedade e, como assinala

KENSKI (2010, p. 21), “O homem transita culturalmente mediado pelas

tecnologias que lhe são contemporâneas.” Nesse contexto, na cibercultura, as

tecnologias digitais transformam as diversas formas de interação social, dentre

elas as suas formas de comunicação e de aquisição do conhecimento, onde a

inteligência não pertence a uma única pessoa, ela está disponível para ser

partilhada e não mais transmitida. Através da rede, ela chega a qualquer lugar,

em qualquer tempo, através das mentes e dos computadores individuais que

juntos formam um coletivo onde a informação é distribuída num ambiente de

partilha e mediada pelas tecnologias digitais.

Assim, de acordo com LÉVY (1999), as relações não ocorrem entre as

tecnologias e a cultura, mas entre as pessoas, que interagem com as técnicas

e com os condicionamentos que estas estabelecem em suas formas de

interação com o social. “A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e

favorece uma evolução geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de

uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas.”

LÉVY (1999, p. 25). Ao dizer que a técnica condiciona, ele procura diferenciar

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“condicionar” de “determinar”, pois a técnica não determina a cultura e as

relações sociais, visto que, ao condicionar, ela estabelece novas e reais

possibilidades que não seriam possíveis sem ela.

“Em nossas interações com as coisas,

desenvolvemos competências. Por meio de nossas

relações com os signos e com a informação

adquirimos conhecimentos. Em relação com o

outros, mediante iniciação e transmissão, fazemos

viver o saber. Competência, conhecimento e saber

(que podem dizer respeito aos mesmos objetos) são

três modos complementares do negócio cognitivos,

e se transformam constantemente uns nos outros.

Toda atividade, todo ato de comunicação, toda

relação humana implica um aprendizado. Pelas

competências e conhecimentos que envolvem um

percurso de vida para alimentar um circuito de troca,

alimentar uma sociabilidade do saber.” (LÉVY, 1999,

p. 27).

Nas comunidades virtuais de aprendizagem os usuários reúnem-se

com objetivos comuns de trocar experiências, compartilhar conhecimentos e

interesses específicos e criar uma inteligência coletiva que favoreça o

aprendizado de todos os envolvidos. Para JENKINS (2011, p. 30) “Num de nós

pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as

peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades.” Assim,

o aprendizado colaborativo é o diferencial desse novo momento social que

vivenciamos, onde o outro sabe algo que eu não sei e eu sei algo de que o

outro necessita e juntos trocamos experiências, interagimos, compartilhamos

ideias, completamos pensamentos, combinamos expertises e transformamos

nosso conhecimento.

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Nessas comunidades, o conhecimento não está reunido em uma única

pessoa que o compartilha, ele é coletivo e nasce da união de pensamentos,

experiências e potencialidades. No ciberespaço as discussões circulam em

rede e as competências são reforçadas a partir do momento em que os

saberes se tornam coletivos.

O potencial da inteligência coletiva é que através da interação os

saberes se complementam, um indivíduo aprende em grupo o que não

aprenderia, da mesma forma, sozinho. Ou seja, através da troca, da

aprendizagem colaborativa, o conhecimento gerado será maior do que um

conhecimento individual ou a soma de vários conhecimentos. Assim, aprender

colaborativamente não é somar conhecimentos individuais, é unificá-los e

transformá-los numa única inteligência, a inteligência coletiva.

Um novo cenário comunicacional está em evidência, onde a lógica da

transmissão perde sentido e a interatividade toma forma. O emissor não é mais

o detentor do conhecimento, o receptor não é mais um depósito de saberes.

No contexto educacional, seria a lógica indicada por FREIRE (1994, p. 48)

quando diz que “A educação autêntica não se faz de “A” para “B” ou de “A”

sobre ”B”, mas de “A” com “B”, mediatizados pelo mundo.”

Nesse contexto, a cultura educacional contemporânea demanda um

novo estilo pedagógico que una as diferenças, que compreenda a necessidade

do aprendizado personalizado e que favoreça a construção do conhecimento

em rede, aproveitando-se plenamente das condições e das potencialidades da

sociedade da informação. Seu desafio principal é reconhecer a importância

das tecnologias na vida social do aluno contemporâneo e tornar-se mediadora

de seus usos, de modo que estes se apropriem delas de forma crítica e

possam utilizá-las para a aquisição do conhecimento.

“São múltiplas as formas de integração virtual das

pessoas conectadas nas comunidades virtuais. Três

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possibilidades, no entanto, são importantes nas

comunidades que possuem fins educativos: a

interação, a cooperação e a colaboração on-line.”

(KENSKI, 2010, p. 108-109).

As redes sociais, as comunidades virtuais e outras diversas interfaces

da web 2.0, como os blogs, chats, fóruns, wikis, etc., são interfaces que

ampliam a inteligência coletiva e potencializam o aprendizado colaborativo,

pois favorecem a troca, a interação e a criação colaborativa dos alunos, num

ambiente onde o conhecimento coletivo guiará o diálogo, a critica, a

compreensão do conhecimento do outro, do que ele pensa em relação ao que

aprendeu e onde ampliamos, modificamos ou atualizamos a percepção de

determinado assunto. Assim, a aprendizagem que ocorre nos espaços do

ciberespaço não é um mero somatório de ações individuais, mas um diálogo,

uma interação mútua, uma troca de saberes, opiniões e experiências que

geram a inteligência coletiva.

2.2- A mediação das mídias

Vivemos rodeados de ferramentas e máquinas que tem como função a

realização de alguma tarefa, funcionando como amplificadores de nossas

habilidades, pois aumentam a rapidez e a precisão com que realizamos as

atividades cotidianas. Essas máquinas têm evoluído ao longo do tempo e,

consequentemente, as formas como nos relecionamos com elas se modificam.

SANTAELLA (1997) apresenta 3 níveis de relação homem-máquina e salienta

que a presença de um não tem como consequência a ausência da outro. São

eles: (1) O nível muscular-motor: é a relação com as máquinas capazes de

substituir a força física do homem, que servem como extensões dos nossos

músculos, uma alavanca, por exemplo; (2) o nível sensório: a relação com

aparelhos que funcionam como extensões dos sentidos humanos, como a

máquina fotográfica e; (3) o nível cerebral: onde a relação se dá a partir das

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potencialidades do digital e através dos computadores que seriam extensões

do nosso cérebro.

As extensões citadas pela autora nos apresentam como a relação

homem-máquina vem se desenvolvendo ao longo dos tempos de acordo com

as tecnologias que lhe são contemporâneas. Entendemos que a autora, ao

comparar o computador ao cérebro humano, o faz a partir da análise de todas

as interações que ocorrem com o digital e também pelo fato de que a

capacidade do computador de processar símbolos simula processos mentais e

amplia o processamento de informações do ser humano, tornando-o mais

rápido e preciso.

“Desde o advento da revolução industrial,

começando com a câmera fotográfica, foram

aparecendo máquinas que funcionam como

extensões de órgãos sensórios humanos

especializados, a saber: extensões do olho e do

ouvido, da visão e da escuta. [...] Quando chegamos

à segunda geração de máquinas inteligentes, ou

seja, as máquinas cerebrais como são os

computadores, a relação simbiótica entre o ser

humano e a máquina torna-se mais íntima. O

computador não é uma máquina mecânica como era

a máquina fotográfica tradicional. Ele não é um

simples simulador de nossos gestos e sentidos, mas

da nossa mente.” (SANTAELLA, 2011, p. 66-67).

A interação do homem com as tecnologias ocorre em todas as etapas

do desenvolvimento humano visto que a tecnologia faz parte da vida social e

nós realizamos as nossas atividades mediadas por elas. Interagimos com as

variadas tecnologias, desde uma faca, uma máquina fotográfica ou um

Smartphone. Porém, a interação que ocorre hoje com os novos meios digitais

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diferencia-se das antigas interações pelo fato de que ela corre em rede,

através de aparelhos criados não só para potencializar as nossas habilidades

como também para facilitar a nossa comunicação e a relação com os outros,

proporcionando um fluxo de informações e conhecimentos ininterrupto e

instantâneo.

No contexto educacional, as tecnologias digitais, precisam ser

consideradas a partir da comunicação bidirecional que possibilitam entre

grupos e pessoas, deixando para trás o formato unidirecional dos meios de

massa - que centraliza a informação -, favorecendo um novo modelo de

estrutura educacional aberta, flexível, interativa e simultânea.

Assim, é necessário que não coloquemos o foco da interação nas

mídias, elas são sim instrumentos mediadores da interação, mas não há

diálogos entre máquinas, ou entre pessoas e máquinas. O diálogo, a troca e a

interação ocorrem entre as pessoas, de acordo com seus objetivos e

necessidades. Devemos ainda frisar que nem todo sistema que se propõe

interativo realmente o é, nem toda mídia que promete interação fornece meios

para isso, bem como nem todos os programas educacionais de EAD que

dizem promover a interação entre os alunos o fazem.

Um ambiente virtual de aprendizagem não é composto apenas por

tecnologias digitais, ele se constrói através das relações entre os sujeitos e

entre esses e as ferramentas ali disponibilizadas que vão agir nesse processo

como mediadoras da aprendizagem, através das quais imagens, textos, vídeos

e sons conectam-se e conectam pensamentos de pessoas que irão interagir e

criar uma inteligência coletiva.

Na EAD, para que ocorram interações mútuas, antes de mídias

interativas é necessário utilizar-se de metodologias que problematizem, que

levem os alunos à interação e à troca de experiências. Utilizar em cursos

online apenas apostilas digitais, avaliar com testes de múltipla escolha, solicitar

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o envio de tarefas pré-definidas e sem nenhuma mediação pedagógica é

subutilizar interfaces com potenciais interativos, trazendo para o online

metodologias tradicionais de ensino. Em cursos online, o aluno participa do

processo ensino-aprendizagem e participação é sinônimo de interferência, de

escolha, de modificação e de construção e isso só ocorre na colaboração com

o outro. Responder sim ou não a questões sugeridas põe por terra toda a

proposta pedagógica válida para a educação a distância online.

Segundo PRIMO (2008, p. 30)

“Ao estudar-se a interação mediada por computador

em contextos que vão além de mera transmissão de

informações (como na educação a distância), tais

discussões tecnicistas são insuficientes. Reduzir a

interação a aspectos meramente tecnológicos, em

qualquer situação interativa, é desprezar a

complexidade do processo de interação mediada. É

fechar os olhos para o que há além do computador.

Seria como jogar futebol olhando apenas para a

bola, ou seja, é preciso que se estude não apenas a

interação com o computador, mas também a

interação através da máquina”.

Assim, entendemos que as máquinas ampliam nossas capacidades,

mas têm limitações, visto que são extensões do homem e de suas

capacidades físicas e cognitivas. Entendemos também que as mídias digitais

potencializam a interação entre as pessoas, mas somos nós, seres humanos,

que temos a capacidade de dar sentido e significado às informações

disponíveis em rede, de produzir linguagens, de fazer cultura e de construir

conhecimento através da troca com o outro.

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2. 3- A autoria no Ciberespaço

“A partir do hipertexto, toda leitura tornou-se um ato

de escrita”.

(LÉVY, 1996, p. 46).

A rede proporcionou o nascimento de um espaço virtual, que acessado

por computadores e celulares possibilita o acesso a uma infinidade de

informações nos mais diversos formatos. O poder da informação virtual está

em estar presente e poder ser acessada em qualquer tempo, de qualquer lugar

e na ordem que o usuário escolher. O lugar, o tempo e a ordem nos quais a

informação foi emitida perde sua importância, visto que o digital nos traz uma

nova forma de interação com a informação através do hipertexto, que dá a

quem recebe a informação o poder de autoria diante dela.

O hipertexto é feito para ser lido da forma como leitor escolher. Sua

leitura é uma navegação, ele se alimenta das escolhas de seus usuários e das

descobertas destes através dos “nós” que a rede permite. Para SILVA (2011,

p. 94) O leitor do ciberespaço seria “não mais o que se submete às récitas da

emissão, mas o que, não se identificando apenas como receptor, interfere,

manipula, modifica e, assim, reinventa mensagem.” Assim, o ciberespaço

apresenta-se como um grande hipertexto, que conecta informações infinitas

que são acessadas por nós através de nossas seleções, onde a ação de

leitura torna-se também uma ação de escrita.

Um hipertexto é construído por seu autor original e reconstruído pelo

leitor de acordo com suas necessidades de informação, dessa forma, para

seguir o seu caminho, o leitor questiona, reflete, critica e escolhe seu percurso.

Ele une textos, imagens, sons, vídeos e vai formando uma conexão de

informações, interfaces e mídias independentes entre si, de modo a suprir as

suas necessidades. Assim, os caminhos a serem percorridos em rede

modificam-se de leitor para leitor onde as teias que o usuário tece gera um

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novo hipertexto e cada um vai se tornando autor de sua leitura.

“Qualquer conhecimento opera por seleção de

dados significativos e rejeição de dados não

significativos: separa (distingue ou disjunta) e une

(associa, identifica); hierarquiza (o principal, o

secundário) e centraliza (em função de um núcleo de

noções-chaves); estas operações, que se utilizam da

lógica, são de fato comandadas por princípios

“supralógicos” de organização do pensamento ou

paradigmas, princípios ocultos que governam nossa

visão das coisas e do mundo sem que tenhamos

consciência disso.” (MORIN, 2011, p. 10).

Mas não é apenas através do hipertexto que o usuário se torna autor

no ciberespaço. Conforme já mencionamos no capítulo anterior, uma das leis

da cibercultura é a liberação do polo de emissão proporcionada pelo digital,

onde a informação digitalizada percorre a rede, dá voz ao usuário que a

produziu e permite que este seja ao mesmo tempo receptor e emissor de

mensagens. A mobilidade proporcionada pelos aparelhos celulares é um dos

exemplos de autoria no ciberespaço, onde o usuário pode produzir a

informação em qualquer lugar e disponibilizá-la na rede e, sem as imposições

e proibições dos mass media, a informação flui, é vista e compartilhada para

todo o mundo de acordo com a receptividade que tem entre os usuários.

Algumas vezes essas informações ganham tamanha dimensão, que os

meios de massa as reproduzem e acontece a reconfiguração onde uma

informação compartilhada em rede ganha novos meios que as disseminam de

uma forma que antes não seria possível, visto que essa informação não teria a

importância que ela passa a ter em rede quando é compartilhada através da

conexão generalizada.

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Assim, percebe-se que as leis da cibercultura potencializam a autoria

do usuário do ciberespaço onde os papéis de produtor e receptor mesclam-se

nos ambientes virtuais e nas redes sociais onde cada navegação gera uma

nova informação que se espalha, se transforma e gera novos conhecimentos.

“A difusão da tecnologia amplifica seu poder de

forma infinita, à medida que os usuários apropriam-

se dela e a redefinem. As novas tecnologias da

informação não são simplesmente ferramentas a

serem aplicadas, mas processos a serem

desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-

se a mesma coisa.” (CASTELLS, 2011, p. 69).

A leitura crítica, que transforma a informação em conhecimento, é

fundamental para que o aluno possa analisar os conteúdos que lhe são

disponibilizados e as informações que são compartilhadas pelo outro. Assim,

na EAD, essa visão crítica precisa ser trabalhada e a mediação pedagógica

terá o papel principal de levar o aluno à reflexão, à crítica e à percepção do

que é realmente importante no turbilhão de informações disponíveis em Rede.

O ambiente virtual de aprendizagem onde ocorre a EAD online é um

espaço aberto para autoria, onde o aluno pode gerar hipóteses, questionar,

pesquisar, dividir sua pesquisa e suas dúvidas com os demais sujeitos que

muitas vezes vivem em outros contextos e têm outras hipóteses, outras

dúvidas e outras conclusões que analisadas colaborativamente vão gerar um

aprendizado coletivo onde todos os envolvidos se autorizam a questionar,

pesquisar, supor e tornar-se co-autor de sua aprendizagem em parceria com o

outro, com a mediação pedagógica e por intermédio das mídias digitais.

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CAPÍTULO III

BEBENDO DE TODAS AS FONTES: A CONVERGÊNCIA

DE MÍDIAS E O CIBERESPAÇO COMO UM AMBIENTE

VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

“Bem-vindo à cultura da convergência, onde as

velhas e as novas mídias colidem, onde mídia

corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o

poder do produtor de mídia e o poder do consumidor

interagem de maneiras imprevisíveis.” (JENKINS,

2011, p. 29).

3.1- Novas tecnologias e antigas metodologias

Como vimos, estamos rodeados de novas tecnologias e interfaces que

impulsionam o desenvolvimento de atividades inovadoras em EAD, como as

disponibilizadas nos AVA (blogs, wikis, fóruns, chats, etc.), nos locais de

compartilhamento de informações e de construção colaborativa (Youtube,

Wikipedia, Slideshare, Flick, etc.), assim como em outras interfaces do

ciberespaço e redes sociais. Porém MORAN (2010, p. 59) nos orienta que “Há

um predomínio de interação virtual fria (formulários, rotinas, provas, e-mail) e

alguma interação online”. Assim, apesar de termos à nossa disposição

interfaces e ferramentas audiovisuais e digitais que podem e devem ser

usadas em conjunto para ampliar as possibilidades da EAD, o que se vê ainda

são formas predominantemente escritas, seja em sites estáticos, em

instrucionais que em nada se diferem de livros didáticos ou em simulações de

comunicação digital através de fóruns, chats ou e-mails que reproduzem a

comunicação falada, onde o poder do digital é subutilizado e as mídias digitais

tornam-se novos instrumentos para uma antiga forma de se fazer educação.

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Entendemos que as possibilidades do espaço virtual são inúmeras,

porém há ainda modelos que focam unicamente no conteúdo, outros que não

objetivam uma formação integral, alguns que buscam a auto-instrução do

aluno, outros que ainda focam no professor para produzir conhecimento.

Assim, é necessária a criação de ambientes virtuais realmente interativos, com

ferramentas que objetivem a colaboração, a participação e a construção do

conhecimento. Não adianta utilizar a internet e as TIC para oferecer aos alunos

conteúdos estáticos, exercícios prontos, com respostas pré-estabelecidas. A

interação é a base do ambiente virtual da educação on-line.

“A grande revolução do ensino não se dá apenas pelo

uso mais intensivo do computador e da internet em sala

de aula ou em atividades a distância. É preciso que se

organizem novas experiências pedagógicas em que as

TICs possam ser usadas em processos cooperativos de

aprendizagem, em que se valorizem o diálogo e a

participação permanentes de todos os envolvidos no

processo”. (KENSKI, 2007, p. 88).

As Tecnologias digitais vêm auxiliar a colocar em prática os

ensinamentos de Freire, Vygotsky, Piaget, dentre outros, quando nos sinalizam

para a necessidade de uma educação dialógica, do compartilhamento de

informações, do papel do professor como mediador da aprendizagem e da

participação do aluno em seu aprendizado. Esse professor facilitador não é

mais uma fonte de conhecimento, mas um guia para se chegar a este. Ele

utiliza-se das tecnologias para instigar a curiosidade do aluno e incentivá-lo à

pesquisa. Seu falar-ditar é reduzido no ambiente on-line que torna-se um

ambiente aberto à exploração que irá conduzir à criação, onde o aluno deixa

de ser expectador, deixa de receber passivamente a informação; ele ouve,

contextualiza, critica, constrói, reconstrói e modifica o conhecimento.

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“Estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria

pergunta, o que se pretende com esta ou com aquela

pergunta em lugar da passividade em face das

explicações discursivas do professor, espécies de

respostas a perguntas que não foram feitas. Isso não

significa realmente que devamos reduzir a atividade

docente em nome da defesa da curiosidade necessária, a

puro vai-e-vem de perguntas e respostas, que

burocraticamente se esterilizam. A dialogicidade não nega

a validade de momentos explicativos, narrativos em que o

professor expõe ou fala do objeto. O fundamental é que o

professor e alunos saibam que a postura deles, do

professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa,

indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto

ouve. O que importa é que professor e alunos se

assumam epistemologicamente curiosos.” FREIRE (2002,

p. 33).

Avaliar nesse novo momento educacional também requer uma

modificação de critérios. Assimilar e contextualizar a informação serão fatores

fundamentais num ambiente onde o aluno possa selecionar o que lhe é

pertinente e gerar conhecimentos novos para sua vida. É fato que a legislação

em vigor estabelece a obrigatoriedade de avaliações presenciais nos cursos de

graduação a distância, mas muitos cursos se valem desta premissa para

continuar utilizando metodologias tradicionais de avaliação, como por exemplo,

provas objetivas escritas, que se resumem a perguntas e respostas que visam

avaliar o conteúdo assimilado e não levam em conta o desenvolvimento, a

participação e a evolução do aluno em relação a temática e sua efetiva

utilização. A avaliação nos cursos a distância deve ser contínua, abranger

todas as fases do curso, as metodologias utilizadas, as pesquisas

desenvolvidas e a produção coletiva.

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Temos ainda a problemática da infoexclusão, onde a inclusão digital

limita-se ao acesso ao computador, sem dar aos seus usuários a apropriação

crítica dessas ferramentas. Diferenciar inclusão digital de letramento digital, ou

apropriação crítica das mídias, seria, por exemplo, diferenciar uma pessoa

alfabetizada de uma pessoa letrada. Uma pessoa alfabetizada sabe ler e

escrever e uma pessoa letrada lê, escreve e contextualiza o aprendizado, tem

uma visão crítica do conhecimento adquirido e o põe em prática nos atos que

pratica em seu cotidiano. Na EAD online, professores e alunos necessitam não

só dominar as Tecnologias da Informação e Comunicação, eles precisam

saber atuar nesse ambiente, torná-lo um ambiente propício à aprendizagem,

onde se desenvolvam processos cooperativos que ampliem a participação de

todos em novas experiências pedagógicas. “Não basta ter acesso a

tecnologias digitais on-line, é preciso saber operá-las não mais como um

receptor da mídia clássica. A internet é uma mídia interativa; dela, somos

espectadores e participantes ao mesmo tempo. SILVA (In: RANGEL, Mary e

FREIRE, Wendel (orgs.), 2010, p. 132).

A tão difundida Autonomia do aluno nos cursos online, representada

pela possibilidade de poder realizar suas atividades de qualquer lugar e a seu

tempo, é outro fator que algumas vezes tem a sua função distorcida em alguns

cursos. A autonomia é sim um diferencial na EAD; porém, para que essa

autonomia seja bem utilizada, os objetivos das atividades propostas precisam

ser apresentados de forma clara, através de materiais instrucionais bem

desenvolvidos e da mediação pedagógica do tutor/professor. Entretanto,

alguns cursos focam na autoaprendizagem forçada, utilizando-se de materiais

instrucionais que prendem o aluno e não abrem novas conexões com outros

materiais, outras pessoas e outras inteligências e onde a mediação

pedagógica inexiste ou simplesmente existe para tirar dúvidas de questões

previamente estabelecidas, sem levar em conta as necessidades dos alunos.

Nesses casos, autonomia torna-se sinônimo de solidão e ninguém aprende

sozinho.

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Assim, entendemos que não é a utilização das tecnologias digitais ou

estar num ambiente online que propiciará ao aluno a possibilidade de uma

prática educativa enriquecedora. As tecnologias são apenas instrumentos que

irão auxiliar a prática educacional, mas ensinar e aprender são desafios

complexos e envolvem muito mais que ferramentas, envolvem pessoas, e é a

forma como estas irão interagir com as tecnologias que definirão como

ocorrerá a aquisição do conhecimento. Os recursos estão à nossa disposição

para serem utilizados, mas é a estrutura pedagógica presente nos cursos que

irá motivar a interação entre os sujeitos e entre estes e os objetos de

aprendizagem disponibilizados.

3.2- Mídias de massa e mídias digitais na EAD: a convergência

de mídias para uma aprendizagem colaborativa

A educação a distância tem suas raízes no material impresso, nos

cursos por correspondência, depois via rádio e televisão. No Brasil, ela surgiu

no inicio do século XX para ofertar cursos técnicos, sem a exigência de

escolarização anterior. Depois, as instituições privadas e o governo passaram

a ofertar cursos de alfabetização de adultos e cursos supletivos utilizando-se

dessas mídias para alcançar o maior número de pessoas. Mas esses cursos

visavam certificar em massa, e não havia uma preocupação com as

metodologias utilizadas e com a formação dos aprendizes. Com o advento das

novas tecnologias e após o reconhecimento da EAD como uma modalidade de

ensino válida para a formação superior, muitas instituições de ensino privado

se lançaram a ela com a impressão de que este era um mercado barato, com

público-alvo garantido e de fácil implementação. Segundo MORAN:

As características deste modelo de massa são:

Quantidade, escalabilidade, atendimento a muitos,

ao mesmo tempo, abrangência nacional e

internacional, produto interessante para a maioria,

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bem dimensionado e aceito, preço baixo, fortes

ações de captação e marketing. (MORAN, in

<http://www.eca.usp.br/prof/moran/estrategica.html>

Ocorre que o aluno contemporâneo tem novas necessidades e novas

mídias colocadas ao seu dispor para supri-las. Ele busca informações em

fontes variadas e plataformas de mídia diferentes, ele troca informações com

outras pessoas e se utiliza da inteligência coletiva para ampliar a sua

compreensão sobre as informações colhidas. Surge assim um novo modelo de

EAD, como consequência das transformações da sociedade, das novas

relações do homem com o meio em que vive e do aperfeiçoamento das

técnicas e recursos tecnológicos. O conceito de videoaulas, por exemplo,

tende a manter o padrão da narrativa linear, sendo um reflexo da educação

presencial; porém, as necessidades da sociedade atual demandam um novo

modelo e, nesse novo modelo, a EAD rompe com os limites impostos por um

formato específico.

A evolução do ensino a distância é consequência do que CASTELLS

(2011) chama de “revolução tecnológica”, conforme apresentamos no primeiro

capítulo, que é reflexo de um movimento de evolução social e cultural onde

tudo se organiza em torno das tecnologias, das redes, da comunicação, da

interação e da interligação entre pessoas de lugares diversos, onde as

tecnologias têm um papel primordial na vida dos indivíduos e onde a oferta de

informações e a forma de circulação desta muda a forma como a sociedade

constrói o conhecimento. Assim, a EAD é o modelo de educação que mais se

ajusta às necessidades dessa sociedade que hoje vive “em rede”.

O digital amplia o processamento da informação de forma rápida e

precisa, e permite que estas informações - antes difundidas através de meios

diversos, que variavam de acordo com o seu formato - possam convergir em

uma multimídia, onde é possível acessar e produzir vídeos, sons, imagens,

textos, etc., em um único ambiente. O advento da informática possibilitou que o

computador se tornasse um único suporte de variadas formas de produção e

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veiculação da informação. E foi aí que a mídia de massa (TV, rádio, cinema e

imprensa) passou a dar lugar a novas formas de interação, onde a circulação

de informação, antes caracterizada pelo formato um-todos, tornou-se múltipla,

transformando-se numa interação todos-todos, onde não há uma hierarquia

entre quem comunica e quem recebe a comunicação.

A Internet consolidou-se como um espaço de conexão e interação

entre pessoas como nenhum outro meio conseguiu, e a educação precisa

aproveitar suas potencialidades como um ambiente propício à comunhão de

conhecimentos e ideias que possibilitam uma aprendizagem colaborativa

capazes de gerar uma inteligência coletiva.

“A internet tem tido um índice de penetração mais

veloz do que qualquer outro meio de comunicação

na história: nos Estados Unidos, o rádio levou trinta

anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a

TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a

internet o fez em apenas três anos após a criação

da teia mundial.” CASTELLS (2011, p. 439).

Porém, o advento de novas mídias não tem como consequência o

desaparecimento das mídias que as antecederam ou da cultura que estas

geraram. O que as mídias que surgem em cada nova cultura fazem é modificar

o poder que as anteriores têm na forma como as pessoas se comunicam

cotidianamente e, consequentemente, na forma como constroem o

conhecimento. Atualmente, as novas mídias vêm integrando cada vez mais as

diversas outras mídias (novas e antigas) de forma que, ao se unirem, geram

um novo paradigma, o paradigma da convergência. JENKINS (2011, p. 43)

assinala que “a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final.”

Assim, hoje, as novas e as antigas tecnologias existem simultaneamente e as

tecnologias digitais não decretaram nem decretarão o fim da oralidade, da

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escrita, da impressa ou das mídias de massa. Na cibercultura elas convergem,

completam-se e penetram umas nas outras.

“Se o paradigma da revolução digital presumia que

as novas mídias substituiriam as antigas, o

emergente paradigma da convergência presume que

novas e antigas mídias irão interagir de formas cada

vez mais complexas [...] a convergência é, nesse

sentido, um conceito antigo assumindo novos

significados.” JENKINS (2011, p. 32-33).

Nos contatos que acontecem na rede, mediados pelas tecnologias, o

texto eletrônico, por exemplo, resgata meios de comunicação e transmissão da

informação que vinham perdendo espaço na sociedade através da mídia de

massa. A escrita, por exemplo, volta a ter a importância de tempos atrás visto

que ela é o suporte do texto eletrônico e, mesmo sem a presença física, temos

uma espécie de retorno à oralidade pela forma instantânea como as trocas

acontecem e pela utilização de recursos como os emoticons que simulam

expressões faciais que expressam sentimentos como vergonha, alegria,

tristeza, surpresa, etc. Com o e-mail, por exemplo, estabelecemos

comunicação com pessoas distantes fisicamente, mas, diferentemente do

suporte papel, as palavras se apresentam na tela e essa mensagem pode ser

recebida no mesmo instante em que é enviada, pois não percorre mais

estradas cruzando espaços físicos, ela percorre um espaço de fluxos, corre em

rede de forma instantânea, promovendo a interação entre os participantes do

diálogo.

SANTAELLA, (2011) defende a necessidade de se distinguir seis tipos

de lógicas culturais, que se apresentaram em momentos distintos da história e

que se mesclaram no atual momento social: a cultura oral, a escrita, a

impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cibercultura. Ela

aponta a cultura das mídias (quando as mídias começaram a convergir e dar

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ao usuário o poder de opção diante das mídias de massa), como o período de

transição da cultura das massas para a atual Cibercultura:

“Foi a multiplicação das mídias e dos processos de

recepção que elas engendram que prepararam a

sensibilidade dos usuários para a chegada dos meios

digitais, cuja marca principal está na busca dispersa,

alinear, fragmentada, mas certamente uma busca

individualizada da mensagem e da informação. Portanto,

a cultura das mídias constitui-se em um período de

passagem, de transição, funcionando como uma ponte

entre a cultura de massa e a mais recente cibercultura”

SANTAELLA (2011, p. 125).

A partir do momento em que o usuário entende a diferença entre

receber a informação e interagir com ela, os meios de massa passam a perder

o seu domínio, visto que é a partir da multimídia - da mídia que propicia a

simultaneidade e a convergência de mídias - que o usuário imerge na

informação, tem o poder de transformá-la, de interagir com ela e de recriar

sentido a partir dos links que faz. A multimídia para LEMOS (2010, p. 69),

“tanto como sua vertente off-line (CD-ROM), como on-line (internet), é hoje o

exemplo mais claro dessa simultaneidade e convergência”. Então, esse

usuário, que passa a interagir com a informação comercial, com tudo que faz

parte do seu cotidiano, não aceita mais receber da educação uma informação

unilateral. Ele quer interagir com os conteúdos que lhe são apresentados, quer

repensá-los, criticá-los, compartilhá-los e recriá-los de acordo com a sua

necessidade.

Assim, na educação a distância, não é o uso ou não de uma ou de

variadas mídias que irá fazer a diferença na interação, mas a compreensão e

utilização do potencial de cada uma delas de acordo com os objetivos

propostos. A questão aqui não é fazer uso exclusivo do digital e suas múltiplas

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mídias em detrimento da oralidade ou a escrita, é transitar de uma educação

focada no paradigma da transmissão do modelo um-todos, caracterizada pelos

mass media, para o paradigma convergente, que não se caracteriza apenas

pela convergência de mídias, mas principalmente, pela convergência de

saberes, estes sim compartilhados, analisados e transformados com a

mediação de variadas mídias.

Ao propor convergir mídias distintas na EAD estamos propondo que os

alunos leiam e discutam o mesmo assunto, mas cada um se utilizará do

dispositivo que melhor se ajusta a sua necessidade, que melhor comunga com

a sua visão e os debates serão mais ricos, pois pode ampliar a curiosidade do

outro para pesquisar uma mesma temática através de uma mídia diferente, de

modo a rever e/ou ampliar o conhecimento. Num hipertexto, por exemplo, cada

um escolherá o caminho a ser percorrido na construção do seu conhecimento.

Assim, vejamos quão rico é um texto hipermídia que leva os alunos a vídeos,

imagens, grupos de discussão, sites, blogs e textos que levarão a novos

textos, etc.

É necessário implantar modelos pedagógicos em que os cursos

possibilitem momentos de interação onde a facilidade de comunicação seja o

diferencial, onde falar, ouvir e ver seus parceiros, colaboradores e colegas de

qualquer lugar e a qualquer momento motive a busca pelo conhecimento.

Esses cursos precisam ser flexíveis, avançados, variados e adaptados a cada

realidade. SILVA (2010b) aponta que potencializar a sala de aula como um

local onde se valoriza a realidade do aluno e sua inteligência é primordial em

qualquer investimento em interatividade aplicada à educação. Assim, um

material de EAD, mesmo impresso, precisa ser desafiador. Um material

impresso torna-se desafiador quando leva ao aluno a criar “links” com outros

materiais e com outras mídias, levando-o a avançar em sua pesquisa quando

abre novas possibilidades e serve de “ponte” para outros materiais.

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“A sala de aula interativa seria o ambiente em que o

professor interrompe a tradução do falar/ditar,

deixando de identificar-se como o contador de

histórias, e adota uma postura semelhante a do

designer de software interativo. Ele constrói um

conjunto de territórios a serem explorados pelos

alunos e disponibiliza coautoria e múltiplas

conexões, permitindo que o aluno também faça por

si mesmo.” (SILVA, 2010b. p. 27)

Assim, entende-se que a convergência envolve não apenas mídias, e

não ocorre apenas entre estas, é uma transformação muito maior do que unir

todas as mídias numa só ou de produzir uma informação para ser acessada

em várias mídias. Trata-se de unir e transformar a forma como os meios de

comunicação se comportam e também a forma como o usuário os

“consomem”.

As tecnologias digitais, se utilizadas na EAD tendo como objetivo a

interação e a troca de ideias e conhecimentos entre os alunos, orientarão

novas práticas pedagógicas que estimularão o compartilhamento de

informações e a análise crítica dessas a partir do momento em que as

plataformas de EAD passarem a convergir não só mídias, mas também

interfaces do ciberespaço. Como exemplo dessa convergência, podemos citar

as redes sociais - que possuem diversas e ampliadas possibilidades de

utilização que podem trazer aos alunos novas formas de convergir os meios

dos quais já fazem uso em seu cotidiano com o ambiente virtual no qual

aprendem. “Os AVAs agregam uma das características fundantes da Internet:

a convergência de mídias, ou seja, a capacidade de hibridizar e permutar

várias mídias em um mesmo ambiente.” SANTOS (In: SILVA, 2010a, p. 38).

A Educação, em especial a educação a distância online, precisa

assumir as potencialidades dos meios digitais e integrá-los aos seus projetos

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pedagógicos. A mobilidade proporcionada pelas novas gerações de telefones

celulares caracteriza-se não só pelo fato de que este minúsculo aparelho está

junto de seus usuários em todos os lugares e em seus usos cotidianos,

caracteriza-se também, e principalmente, pela possibilidade de conexão

permanente que proporciona. A conexão móvel estabelecida através dos

celulares possibilita ao usuário estar sempre ao alcance de quem desejar

encontrá-lo e ao mesmo tempo tecer relações com pessoas a partir de

qualquer lugar, tornando o lugar um espaço transitório. Estou aqui ou estou ali,

mas estou sempre ao alcance, visto que estou conectado. É essa conexão

generalizada que caracteriza a cibercultura e é ela que deve ser aproveitada

pela educação para gerar novas plataformas e meios de interação e

construção coletiva do aprendizado entre seus alunos.

A reflexão sobre a utilização das mídias em processos pedagógicos

deve partir da análise das potencialidades de cada uma delas em consonância

com o contexto social e com as características de cada usuário. As mídias de

massa, em seu formato padrão, possibilitam apenas a interação “um-todos”

onde o seu caráter transmissor permite somente que “A” se comunique com

“B” e que “B” receba a informação de “A” como uma informação pronta e

imutável. As mídias digitais permitem a transformação das mídias antigas ao

convergi-las com as novas mídias e, juntas, potencializam a interação “um-um”

e a interação “todos-todos” onde a informação é compartilhada, modificada e

adaptada às necessidades individuais de seus usuários. Na educação, esta é a

possibilidade de “A” não mais transmitir para “B”, mas trocar com este,

aprender com este, deixar que “B” seja receptor e emissor da informação, que

possa analisá-la, modificá-la e recriá-la e para que juntos possam convergir

conhecimentos e informações coletivamente.

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3.3- O uso pedagógico do Ciberespaço: a educação a distância

no contexto da Web 2.0

Na primeira fase da internet, para utilizá-la era necessário saber

manipular diversas linguagens de programação que tornavam a produção e o

compartilhamento de informações um processo trabalhoso e impossível para

muitos. Em sua segunda fase, na web 2.0, qualquer pessoa com um mínimo

de instrução em informática é capaz de produzir e publicar na rede.

Com a Web. 2.0, nossa atitude diante da informação é transformada a

partir do momento em que nos apropriamos da rede, onde nos percebemos

autores, onde damos sentido e significado às informações que recebemos e,

por meio delas, produzimos linguagens e construímos conhecimento através

das teias que são tecidas por diferentes interfaces e com diferentes pessoas.

Com o advento da Web. 2.0 foram surgindo diversas interfaces que

facilitaram e ampliaram as possibilidades pedagógicas do ciberespaço.

Inicialmente o e-mail possibilitou a criação das listas de discussão e, em

seguida, interfaces como chats e fóruns tornaram o compartilhamento da

informação e a troca de saberes em rede uma realidade do mundo virtual.

Segundo SANTAELLA (2011) as palavras e ordem do ciberespaço

são: disponibilizar, expor-se, trocar e colaborar. Onde “disponibilizar” significa

colocar a disposição de outros uma variedade de formatos de informações e

linguagens que dão sentido à hipermídia. “Expor-se” significa utilizar suas

interfaces, como o blog, como um meio de propagar ideias e pensamentos

pessoais na rede. O termo “trocar” é utilizado nesse espaço literalmente, pois o

compartilhamento de informação é o que alimenta esse espaço. “Colaborar”

compreende a construção de autorias coletivas, visto que no ciberespaço

surgem a cada dia novas comunidades virtuais sobre os mais variados temas

com o objetivo de mesclar informações e dar significados a elas, construindo

um espaço de colaboração e construção coletiva de pensamentos.

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“Com a Web 2.0 podemos vivenciar mais

concretamente a inteligência coletiva porque

dispomos de soluções informáticas concretas,

gratuitas e de acesso livre, e também, a fenômenos

culturais estruturados por e com essas tecnologias,

como as redes sociais mediadas por interfaces

digitais e software sociais, a exemplo dos blogs, das

Wikis, Orkut, MSN, Skype e dos ambientes on-line

de aprendizagem.” SANTOS (In: RANGEL, Mary e

FREIRE, Wendel (orgs.), 2010, p 124).

Assim, a Web 2.0, suas interfaces e os dispositivos nela integrados

tornaram possíveis vários avanços nas práticas educativas e passaram a ser

utilizados por estudantes e professores em suas práticas e para a produção e

compartilhamento de conteúdos educacionais. Surgem assim os Ambientes

Virtuais de Aprendizagem, que se caracterizam pelo uso das mídias digitais no

processo ensino-aprendizagem na EAD.

Nos ambientes virtuais de aprendizagem, desenvolvem-se processos

cooperativos de aprendizagem, onde as tecnologias e as formas de

comunicação disponíveis são exploradas e utilizadas como suportes para

aquisição de novos conhecimentos, novas formas de ensinar, de aprender, de

avaliar e de tratar a informação. Nos AVA, o processo ensino-aprendizagem

diferencia-se do modelo presencial e/ou tradicional de ensino por três

características: interatividade, hipertextualidade e conectividade onde, segundo

KENSKI (2007, p. 95):

“Esses espaços virtuais de aprendizagem oferecem

condições para a interação (síncrona e assíncrona)

permanente entre os usuários. A hipertextualidade –

funcionando como sequências de textos articulados e

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interligados, entre si e com outras mídias, sons, fotos,

vídeos, etc., - facilita a propagação de atitudes de

cooperação entre os participantes para fins de

aprendizagem. A conectividade garante o acesso rápido à

informação e à comunicação interpessoal, em qualquer

tempo e lugar, sustentando o desenvolvimento de

projetos em colaboração e a coordenação das

atividades.”

O Ambiente virtual de aprendizagem deve garantir ao usuário o

sentimento de pertencimento àquele espaço, tornando um ambiente acolhedor,

propício ao aprendizado e, principalmente, navegável, disponível e explorável,

de modo que o usuário possa “se achar” nele. A Integração do AVA com as

interfaces do ciberespaço pode garantir um ambiente que contemple todas

essas características, visto que o usuário já as utiliza em seu cotidiano, o que

torna o processo de convergência muito mais harmônico.

As interfaces do ciberespaço possibilitam a convergência de diversas

mídias e linguagens que modificam a forma como recebemos o conteúdo

presente nelas, pois elas nos remetem a diversos links em gêneros textuais

variados que nos fazem selecionar a informação e ao mesmo tempo nos

tornam autores de nossa leitura, “ao contrário da televisão, os consumidores

da internet também são produtores, pois fornecem conteúdo e dão forma à

teia”. CASTELLS (2011, pg. 439).

”Nós, professores, que temos mestres educadores

que valorizam a dialógica e a colaboração, podemos

aprender também com o digital e com interfaces da

web como chat, fórum, blog, wiki. Podemos

aprender que na tela do computador e do celular,

um site, um ambiente de rede social ou um ambiente

de docência e aprendizagem não devem ser

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assistidos como TV. A tela digital conectada à

internet não é meramente um plano de irradiação;

ela pressupõe adentramento, operatividade,

compartilhamento e colaboração do usuário,

experiência incomum nas mídias unidirecionais que

separam emissão e recepção.” (SILVA, 2010b, p.

252-253).

O Moodle é um ambiente virtual de aprendizagem utilizado por

diversas instituições de EAD online, e seu diferencial está no fato de ser um

ambiente aberto, gratuito, capaz de integrar tecnologias e interfaces diversas,

internas e do ciberespaço e, principalmente, por ter todas as características

que possibilitam a produção e a socialização de conhecimentos. Vídeos do

Youtube podem ser inseridos diretamente nele ou acessados através de links,

bem como comunidades em redes sociais como o Facebook podem ser

criadas com o objetivo de ampliar a discussão sobre um tema debatido num

chat. Essas são algumas das possibilidades de convergir o AVA com o

ciberespaço e possibilitar que alunos dispersos geograficamente, se conheçam

melhor e troquem ideias e conhecimentos em seu “habitat natural”, o

ciberespaço, e com a mediação pedagógica.

“Para que o ciberespaço possa agregar AVA é

fundamental discutirmos o currículo dos cursos on-

line para além das clássicas discussões sobre EAD.

Argumentos como: a) a e-learning permite que mais

pessoas tenham acesso a informações com baixos

custos, b) que a e-learning acaba com as distâncias

geográficas dos alunos; c) que permite aos sujeitos

excluídos em outros processos e políticas tenham

acesso a informação, d) que a e-learning respeita o

ritmo de cada aluno; e) que a Informática agrega ao

conteúdo uma estética mais interativa; não são

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argumentos suficientes e que justifiquem uma

mudança qualitativa nas práticas de ensino-

aprendizagem mediadas por tecnologia e AVA.”

SANTOS (2003, p. 19-20).

Os links, possibilitados pelo hipertexto ou a hipermídia permitem fazer

de um AVA um ambiente aberto à navegação, a partir do momento em que o

aluno passa a ligar, por exemplo, um texto em pdf disponibilizado num AVA à

conteúdos internos presentes no ambiente, como vídeos, imagens, fóruns e

conteúdos externos presentes no ciberespaço, como blogs, sites, comunidades

virtuais, redes sociais, etc. Abaixo listamos algumas interfaces dos AVA e do

ciberespaço que tem o potencial de integrar-se e proporcionar a convergência

desses dois espaços.

Com as novas possibilidades de unir os alunos num ambiente repleto

de informações, propício à pesquisa e a troca de conhecimentos, em meados

dos anos 90 surgiu a metodologia Webquest, caracterizada por ser um espaço

de pesquisa coletiva orientada, que tem no ciberespaço a sua fonte de

pesquisa e desenvolvimento e que possibilita a convergência com outras

interfaces do ciberespaço. A Webquest é definida por SANTOS (In: RANGEL,

Mary e FREIRE, Wendel (orgs.), 2010, pg. 119) como:

“Uma atividade coletiva baseada na pesquisa

orientada, em que quase todos os recursos e as

fontes utilizadas para o desenvolvimento da

atividade são provenientes da web. [...]

Pedagogicamente, esta página é uma atividade

didática baseada na prática da pesquisa orientada,

na qual grupos de estudantes devem desenvolver a

pesquisa de forma colaborativa.”

A Wiki é outro exemplo das possibilidades de construção colaborativa

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em rede. A Wikipedia é o melhor exemplo de utilização dessa tecnologia, pois

é uma enciclopédia aberta, onde leitores produzem colaborativamente o seu

conteúdo no ciberespaço e podem distribuí-lo e utilizá-lo livremente. Num AVA,

uma wiki pode ser utilizada com o objetivo de levar um grupo de alunos a

produzir colaborativamente um texto sobre um tema proposto numa aula e já

debatido num fórum de discussão ou chat, por exemplo, integrando assim, as

várias interfaces disponíveis no ambiente de aprendizagem.

Os blogs, inicialmente utilizados como uma espécie de diário de seus

criadores, tornaram-se uma interface do ciberespaço propício a disseminação

de informações e da troca de conhecimentos, visto que possibilitam ao leitor

comentar cada postagem, interferindo assim na informação disponibilizada.

Seu formato hipertextual possibilita reproduzir diversas mídias e criar links com

outras interfaces. Esse espaço pode ser utilizado pedagogicamente para o

compartilhamento e análise de conteúdos postados pelo professor para que

seus alunos possam analisar, discutir e comentar o conteúdo e pode estar

presente tanto no AVA como no ciberespaço que hoje disponibiliza espaços

gratuitos para sua criação.

O fórum de discussão, amplamente utilizado nos cursos online,

possibilita não só a análise conjunta de um mesmo tema, mas também a troca

de conhecimentos onde o aluno é ao mesmo tempo emissor e receptor da

informação, pois cada aluno apresenta uma visão diferente do material

disponibilizado. Aspectos diferentes de um material são analisados e uma

leitura pode ser modificada pela postagem de outro que encontrou algo que

responde ao seu questionamento ou instiga a sua necessidade de ampliar a

pesquisa por trazer novas informações e novos questionamentos. O fórum

pode ser visto também como um grande hipertexto, visto que possibilita a

inserção de links, vídeos e imagens que são sugeridas entre os alunos e levam

quem recebe a informação a uma nova navegação. Por ser um ambiente

fecundo de informações e trocas, um fórum necessita de uma mediação

constante, onde a figura do professor/tutor é primordial para que não se perca

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o foco da discussão e para que o aluno não naufrague diante do dilúvio de

informações que ali surgem.

Os chats criam momentos de interação síncrona no formato todos-

todos onde os alunos podem debater sobre um assunto pré-determinado e

interagir instantaneamente. A instantaneidade do chat permite ao professor

perceber como seus alunos assimilaram determinado conteúdo, pois a

interação ocorre em tempo real e o debate flui naturalmente, possibilitando um

momento em que, de forma espontânea, os alunos interagem e trocam,

através de uma escrita sucinta, o seu ponto de vista que pode ser ampliado e

analisado pelo professor numa tarefa ou continuar num fórum ou grupo de

discussão numa rede social. Mais uma vez a figura do mediador é essencial,

primeiro para problematizar algo a ser debatido e, depois, para manter o foco

do debate e a clareza das discussões.

Outro diferencial da Web. 2.0 são as soluções “webtop”, que

caracterizam-se pela possibilidade de arquivamento “em nuvem”, ou seja, que

rodam direto da web, onde arquivos antes produzidos e arquivados num

computador pessoal podem ficar disponíveis e ser editados em rede, em

softwares gratuitos similares aos instalados em nossos computadores, mas

que permitem que diversas pessoas acessem um mesmo arquivo, trabalhem

colaborativamente nele e possam acessá-los de qualquer lugar. O GoogleDocs

é um exemplo de solução webtop que possibilita que documentos de textos,

planilhas, apresentações, dentre outros formatos de arquivos, possam ser

compartilhados e editados em rede.

Os dispositivos móveis atuais tornaram-se sinônimo de mobilidade e

convergência. A mobilidade apresenta-se não só pelo fato desses dispositivos

serem transportáveis, mas principalmente pelo fato de que a conectividade

generalizada, caracterizada por LEMOS (2003) como uma das leis da

cibercultura, possibilita ao usuário estar em qualquer lugar a qualquer tempo e

acessar e disponibilizar a informação de forma instantânea. Já a convergência

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caracteriza-se pelo fato de que aparelhos celulares e tablets tornaram-se

suportes de variadas mídias - com suas câmeras fotográficas, filmadoras,

leitores de textos e gravadores de áudio -, e também pela possibilidade de

acesso as interfaces da internet e suas redes sociais. Ou seja, esses

minúsculos aparelhos permitem que o usuário produza e distribua a

informação em tempo real.

“Nas redes do ciberespaço não só os caminhos são

móveis, como também os nós. Enquanto nas

conexões ancoradas, os computadores e telefones

ocupavam lugares fixo, nas conexões móveis e

contínuas os telefones representam pontos de

conexão móveis, mobilidade que lhes é dada pelo

usuário que circula pelos espaços físicos. Duplo

nomadismo e dupla mobilidade, portanto.”

SANTAELLA (2011, p. 236).

Entendemos que no ciberespaço as formas de aprendizagem na EAD

são inúmeras e os AVAS tornam-se espaço para novas possibilidades de

socialização de informações e saberes. Assim, um projeto educacional de EAD

precisa compreender o poder das interfaces virtuais, das variadas mídias que

elas podem integrar e convergir e do potencial interativo do hipertexto

possibilitado por elas.

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CONCLUSÃO

A sociedade contemporânea vive “em rede”, e as relações

estabelecidas entre as pessoas, as mídias digitais e as interfaces do

ciberespaço transformaram e continuam transformando o ritmo, o espaço, o

tempo e a forma como as pessoas se comunicam e como a informação é

produzida e consumida.

O aluno dessa sociedade conectada aprende em rede, com o outro, e

não admite mais ser um receptor passivo da informação. Ele descobriu-se

autor, colaborador, navegador e produtor de informações e quer construir seu

conhecimento junto com o outro, quer poder criticar, modificar, ampliar e

transformar a informação que recebe, trabalhando-a colaborativamente.

Nesse contexto, a autoaprendizagem que foi a característica da EAD

mediada pelas mídias de massa, já perdeu seu espaço para a interatividade e

a aprendizagem colaborativa proporcionadas pelas mídias digitais, que

permitem não só o encontro virtual de pessoas com o objetivo de aprender

juntas, mas também o encontro de saberes e a criação de uma inteligência

coletiva. Assim, educadores e gestores estão sendo desafiados a promover

uma EAD que utilize o ciberespaço como um ambiente virtual de

aprendizagem.

A interatividade possível nos AVA e a convergência que acontece no

ciberespaço trazem para a educação possibilidades e avanços para novas

metodologias que busquem a aprendizagem colaborativa e a construção de

uma inteligência coletiva. Essa mesma interatividade já é vivenciada pelos

alunos nos usos que fazem das interfaces do ciberespaço em seu cotidiano.

Porém, apesar de todas as tecnologias digitais, muitos AVA ainda trazem para

o ambiente virtual as práticas tradicionais de ensino, o que muitas vezes frustra

o aluno da EAD, que conhece e vivencia o potencial dessas tecnologias e não

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conseguem utilizá-las no processo de aprendizagem, visto que as atividades

desenvolvidas em muitos AVA as subutilizam. Assim, é necessário que os

desenhos didáticos dos cursos online ofereçam um território aberto à

exploração que leve o aluno a usufruir em suas práticas educacionais das

interfaces e ferramentas que ele utiliza em suas práticas sociais, convergindo

as mídias e as interfaces que o ciberespaço oferecem.

A convergência de mídias e as interfaces do ciberespaço são

potencialidades da cibercultura que devem ser utilizadas de forma conjunta na

EAD, de modo a romper com fronteiras de tempo, espaço, distância,

isolamento, massificação e diversas outras características que ainda limitam

esta modalidade de ensino.

Um AVA não deve ser visto apenas como um local que agrega

interfaces e ferramentas diversas que potencializam novas práticas

pedagógicas. Ele deve ser visto, principalmente, como um lugar que possibilita

a união de saberes, de pessoas que irão interagir e convergir essas

ferramentas e interfaces para produzir conhecimento coletivamente, aprender

juntos e criar de forma colaborativa. As interfaces e as ferramentas disponíveis

nos AVA irão mediar essa união de saberes, mas são as relações que

professores e alunos estabelecerão com elas que farão o diferencial de sua

utilização. Um AVA pode estar “recheado” de possibilidades, mas a utilização

de mídias e interfaces diversas não terão significado algum para o aluno se as

práticas pedagógicas presentes nele não forem utilizadas tendo por objetivo a

produção coletiva de saberes e a análise e utilização crítica das mídias.

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a distância da Universidade Castelo Branco. Disponível em:

<http://www.castelobranco.br/webcaf/> (acesso restrito). Acesso em:

07/06/2011.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

AS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE EM REDE 11

1.1- Cibercultura: novas formas de se relacionar

com as Tecnologias e com o outro. 12

1.2- Ciberespaço: o hipertexto mundial interativo 15

1.3- Tempo e espaço virtuais 16

1.4- A virtualização do texto e da leitura: do texto à

hipermídia, passando pelo hipertexto 18

1.5- As transformações da educação a distância: novas

práticas pedagógicas na cultura digital 21

CAPÍTULO II

COMPARTILHANDO INFORMAÇÕES E CONSTRUINDO

CONHECIMENTO: APRENDENDO EM REDE 25

2.1- Aprendizagem Colaborativa em Rede e Inteligência

Coletiva 26

2.2- A mediação das mídias 29

2. 3- A autoria no Ciberespaço 33

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CAPÍTULO III

BEBENDO DE TODAS AS FONTES:

A CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS E O CIBERESPAÇO

COMO UM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM 36

3.1- Novas tecnologias e antigas metodologias 36

3.2- Mídias de massa e mídias digitais na EAD: a

convergência de mídias para uma aprendizagem

colaborativa 40

3.3- O uso pedagógico do Ciberespaço: a educação a

distância no contexto da Web 2.0 48

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA 58

WEBGRAFIA 60

ÍNDICE 62