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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO AVM TERAPIA DE FAMÍLIA EM SAÚDE MENTAL Leila Regina da Silva Pretes Orientador: Profa. Fabiane Muniz RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO AVM

TERAPIA DE FAMÍLIA EM SAÚDE MENTAL

Leila Regina da Silva Pretes

Orientador:

Profa. Fabiane Muniz

RIO DE JANEIRO

2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO AVM

TERAPIA DE FAMÍLIA EM SAÚDE MENTAL

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Terapia da Família

Por: Leila Regina da Silva Pretes

3

AGRADECIMENTOS

A Deus por estar sempre ao meu lado

A minha família pelo apoio e incentivo

A todos os professores, pelos ensinamentos prestados

A Profa. Fabiane Muniz pela orientação deste estudo

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DEDICATÓRIA

A todas as pessoas que sofrem com transtornos mentais

5

RESUMO

Este estudo tem por objetivo analisar a participação da família no tratamento do

doente mental, entendendo que a reforma psiquiátrica veio para mudar a forma de a

família lidar com seu familiar portador de transtorno mental. A pesquisa explora a

discussão que envolve as dificuldades da família, tanto de aceitar seu familiar

doente, quanto de saber como deve agir, de maneira que o doente não fique

prejudicado nem tão pouco o núcleo familiar.

Palavras chave: Terapia familiar, Transtorno Mental, Reforma Psiquiátrica

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METODOLOGIA

A pesquisa será desenvolvida através de uma revisão de literatura, a qual os

dados serão pesquisados em livros e artigos científicos. O local de pesquisa serão

bibliotecas universitárias, de instituições especializadas, aquisição própria e Banco

de Dados disponíveis na Internet.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1. Conceitos sobre terapia familiar 10

CAPÍTULO 2. Intervenção familiar no aparecimento dos transtornos mentais 18

CAPÍTULO 3. Participação da família nos projetos terapêuticos dos sérvios

de saúde mental

25

CONCLUSÃO 39

REFERÊNCIAS 40

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

8

INTRODUÇÃO

Em desenvolvimento ao problema da pesquisa, o estudo tem como objetivo

geral analisar a participação da família no tratamento do doente mental.

Ter na família um membro com quadro psicótico agudo é uma experiência

sem igual que muitas vezes envolve outras pessoas que não os familiares, como

vizinhos, polícia, bombeiros e serviço médico. Ser obrigado a internar um familiar em

uma unidade para doentes mentais é no mínio doloroso e cheio de surpresas nem

sempre agradáveis. O sofrimento torna-se maior ainda quando se reconhece que

internar não é o procedimento mais adequado para o paciente, mas que,

infelizmente, em muitas situações, por falta de opção de tratamento ambulatorial, a

internação é a única opção disponível.

Não obstante às múltiplas fontes de sofrimento, a maioria dos cuidadores

considera que a experiência mais dramática e a maior fonte de sofrimento é a

percepção das angústias e da vida cada vez mais “empobrecida” do paciente.

Muitos não se conformam em ver um parente, que até então era brilhante, cheio de

projetos de vida e socialmente bem integrado, se transformar numa pessoa

comprometida, dependente, desprotegida e tomada por limitações de toda natureza.

A presença do familiar do doente obriga os cuidadores a refazer os seus

planos de vida e a redefinir integralmente os seus objetivos. À medida que a idade

avança, as preocupações com o destino do paciente se tornam inevitáveis. Com o

passar dos anos e com a conscientização da proximidade da morte, os pais acabam

aprisionados por uma angústia insolúvel que é fruto das incertezas que cercam o

futuro do filho. Após observar a freqüência e a semelhança das experiências

vivenciadas pelos familiares, Um tipo de preocupação é observado no nosso meio,

com os cuidadores expressando as suas angústias com frases do tipo “e depois que

eu me for”.

A família, sobretudo na fase inicial do transtorno mental, tem um papel

fundamental na construção de uma nova trajetória para seu ente enfermo, mas seus

recursos emocionais, temporais e econômicos e seus saberes têm que ser bem

direcionados, cabendo aí uma contribuição importante dos trabalhadores e dos

serviços psiquiátricos.

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A participação da família é fundamental na manutenção do doente fora da

instituição psiquiátrica, reforçando a idéia da necessidade dela ser preparada e

apoiada pelos profissionais de saúde da área de Saúde Mental com vistas ao seu

convívio com o portador de transtorno mental.

Portanto, justifica-se a abordagem do tema, no sentido de que após a reforma

psiquiatra a família ocupa um papel fundamental no tratamento do doente mental.

Além do que, a família necessita interagir-se melhor com os transtornos mentais, de

maneira que possibilite sua sobrevivência.

Para o desenvolvimento de um estudo é fundamental que se tenha um foco

central, isto é, uma problemática a ser desenvolvida, assim esta pesquisa tem como

problema o seguinte questionamento: Qual a importância da participação familiar no

tratamento em saúde mental?

. Na forma de objetivos específicos o estudo propõe-se à: conceituar terapia

familiar; discutir a questão da intervenção familiar no tratamento dos transtornos

mentais; discutir sobre a importância da família participar de grupos de familiares de

doentes mentais.

O tema será desenvolvido em três capítulos, agora apresentados:

O primeiro capítulo conceitua a terapia familiar, posicionando algumas

questões como: aprender a lidar com as psicoses e com os problemas, envolvimento

de todos os familiares com as doenças mentais e sobre a comprovação da terapia

familiar.

O segundo capítulo discute sobre a intervenção familiar no tratamento de seu

ente com transtorno mentais, buscando mostrar sua fundamental importância.

O terceiro capítulo aborda a questão referente à necessidade da família fazer

parte de grupos familiares de doentes mentais, de forma que essa família consiga

seguir seu caminho de forma saudável e também para que tenha condições de

oferecer um ambiente familiar adequado para o convívio com seu doente mental.

10

CAPÍTULO I – TERAPIA FAMILIAR

Este capítulo tem por finalidade dar uma noção geral ao leitor sobre o

significado de terapia familiar, priorizando a informação como a única forma de

conseguir lidar melhor com as situações que envolvem a família que possui um

membro com transtorno mental.

1.1 Conceitos iniciais

Segundo Wagner et al (1999), a terapia familiar está indicada para situações

clínicas nas quais se verifica que os sintomas apresentados por um determinado

elemento da família resultam de uma disfunção no próprio sistema familiar. Nesta

situação, existe um paciente identificado (que revela os sintomas), mas a

intervenção deve ter como foco a própria família e a relação entre os diversos

elementos e subsistemas dentro da família.

Cecchin (apud ELKAIM, 2000) diz que as disfunções que envolvem o sistema

familiar podem ser de diversos tipos, como problemas de comunicação, alianças

entre elementos de diferentes subsistemas contra um ou mais elementos da família,

etc. A disfunção pode abarcar todos os subsistemas familiares ou apenas um. É

necessário que os diversos elementos estejam disponíveis para a terapia e para

efetuarem mudanças.

Este tipo de terapia pode ser aplicado, por exemplo, quando a família se

encontra com dificuldades em adaptar-se a uma fase de aquisição de maior

autonomia por parte de um dos membros, como acontece durante a adolescência. A

terapia familiar facilita a comunicação entre os diversos subsistemas familiares e

ajuda a família a reorganizar-se e a alterar os padrões de funcionamento anteriores.

(CHECHIN, apud ELKAIM , 2000)

Segundo Andolfi (1981, p. 12)

A terapia familiar tem um marcado cunho de intervenção social, visto que, por definição, considera sistematicamente a família como um sistema inserido num contexto mais vasto que é o da sociedade. A escolha da família como unidade da intervenção justifica-se por duas razões. Em primeiro lugar, a família é o primeiro representante da sociedade com que cada um de nós se defrontou. A segunda relaciona-se com a profunda ligação emotiva que caracteriza os

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veículos familiares que mais cedo ou mais tarde intervém numa ação no campo da saúde mental.

Assim, a terapia familiar não é uma solução para todos os problemas da

Saúde Mental, mas uma forma por vezes extremamente eficaz de resolver algum

deles. O caráter de prevenção primária também atua sobre toda a família, evitando-

se, muitas vezes que determinadas perturbações venham a surgir.

Andolfi (1981, p.12) diz ainda que “a intervenção em terapia familiar não visa

“curar” ou “fortalecer” a família, mas antes devolver-lhe a sua capacidade de

resolução da crise, que existe em maior ou menor graus em todas as famílias.”

1.2 Psicose e terapia familiar

Conforme aponta Bassit (apud D’INÁCIO, 1992), a terapia familiar para a

psicose não se restringe apenas a falar sobre o "tratamento" ou culpar a família -

não há evidência alguma de que a influência de uma família pode causar psicose.

As famílias podem, no entanto, desempenhar um papel importante em ajudar

alguém a se recuperar e ficar bem. Ela pode ajudar os membros da família lidar com

alguns dos problemas que podem resultar de viver com ou apoiar alguém com

psicose, e pode dar aos parentes as habilidades para trabalhar mais em colaboração

com profissionais de saúde.

O comportamento confuso e perturbado que pode ser um sintoma de psicose

afeta a todos na família. Cuidar de alguém com psicose exige muito

emocionalmente: os familiares podem sentir vergonha, raiva, ansiedade,

preocupação intensa, frustração ou sentimento de culpa – como se fossem

responsáveis pela doença de seu familiar. Alguns desses sentimentos e emoções

às vezes podem se refletir em relativa irritação com a pessoa que está doente. Não

é raro perceber que alguns membros da família, na tentativa de melhorar as coisas,

assumem uma posição de super protetores, o que não é bom para o paciente e nem

para a própria família. (CAMPOS, 2002)

O autor ainda coloca que estas reações são completamente compreensíveis,

especialmente no curto prazo, quando há uma crise. No entanto, no longo prazo,

pode ser difícil para alguém com psicose para lidar com essas reações familiares -

elas podem fazê-los sentirem-se mais ansiosos e deprimidos, e dificultar a

recuperação.

12

Campos (2002) diz que a terapia familiar é mais proveitosa quando ocorre na

casa das pessoas, ou seja, quando a família recebe a visita de terapeutas, pois

facilita o trabalho de reconhecimento dos problemas e da melhor forma de lidar com

eles. O terapeuta, conhecendo o ambiente familiar, terá condições de junto com a

família desenvolver estratégias adequadas para as situações que se apresentam,

levando a uma atmosfera mais favorável e acolhedora. Dessa forma, o paciente terá

mais condições de progresso em seu tratamento e seus parentes de se sentiram

mais positivos e mais eficazes em, seus papéis coadjuvantes.

1.3 Aprender sobre os transtornos mentais

Almeida (2011) explica que os parentes costumam ter dificuldade para obter

informações de profissionais de saúde mental sobre a pessoa que está doente. Às

vezes isso é devido a questões de confidencialidade, ou seja, esbarra com as

questões éticas profissionais de não revelar situações íntimas colocadas pelos

pacientes em suas sessões individuais. Por isso, as sessões conjuntas (família,

paciente e terapeuta), podem ser muito úteis no esclarecimento de algumas

questões que devem ser trabalhadas em conjunto.

Se as famílias recebem informações sobre as causas das psicoses, seus

sintomas, a medicação e os efeitos colaterais, eles podem entender mais sobre o

porquê da pessoa que está doente se comportar dessa ou daquela maneira. A

Informação adequada pode ajudar as famílias a compreender, por exemplo, que eles

não são os culpados pela doença; que o comportamento causado pelos sintomas de

psicose nem sempre pode ser ajudado; que alguns dos sintomas geralmente não

respondem aos medicamentos imediatamente; que delírios e alucinações são reais

(e muitas vezes assustadores) para a pessoa que está passando por eles.

(ALMEIDA, 2011)

Bassit (apud D’INÁCIO, 1992) mostram em seus estudos que a convivência

familiar com psicótico sofre um enorme bloqueio em função dos estigmas que

envolvem a doença mental como um todo. A falta de informação leva a família a

generalizar seus conceitos no sentido de considerar todos os transtornos mentais

iguais e, consequentemente todos os pacientes. Assim, não importa qual transtorno

envolve seu familiar, ele é dito como louco e pronto. Esta constatação familiar gera

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comportamentos de super proteção, de incapacidade de realização e de isolamento.

A família entende que seu membro é doente mental e que não tem condições de

viver uma vida produtiva, nem tão pouco pode conviver em sociedade.

Os autores afirmam que somente a informação, o esclarecimento sobre o tipo

de transtorno mental pode modificar essa teoria de incapacidade criada pela família.

Muitas vezes, a intenção da família é proteger seu membro de passar por situações

que ela considera desagradáveis, como o olhar curioso, o olhar de pena e até

mesmo de medo, que as outras pessoas têm para com seu familiar doente. Com

isso, o familiar doente fica cada vez mais isolado e subestimado em sua capacidade

de aprendizagem e até mesmo de produtividade.

Cecchin (2000) explica que a família não pode ser considerada culpada por

adotar um tratamento inadequado para com seu familiar adoecido mentalmente, pois

os estigmas criados ao longo dos anos de que os loucos são completamente

incapazes, que são perigosos e agressivos e que não possuem qualquer

possibilidade de cura, ficaram enraizados na mente humana de tal forma que

somente o acesso à informação plena terá condições de modificar.

Atualmente com a Reforma Psiquiátrica esses conceitos de incapacidade e de

inabilidade total e absoluta estão sendo desmanchados. A família, passando a

conhecer melhor o transtorno que envolve seu familiar, e as possibilidades de

melhoras existentes, além de modificarem sua forma de lidar com o doente, abre

espaço para que esse doente possa desenvolver suas habilidades e ocupar seu

espaço na sociedade. Melman (2003) diz que não se pode exigir que a família

modifique seu comportamento de uma hora para outra, que entenda claramente que

seu doente pode ser tratado com igualdade perante ela mesma e a sociedade.

Entretanto, defende a ideia de que sua interação com a equipe multidisciplinar do

local onde seu paciente é atendido, conferirá condições para que as mudanças

ocorram devagar e com conhecimento das possibilidades e limitações de seu

paciente.

Lefley (2002) diz que o comportamento dos psicóticos pode afetar

diretamente o seio familiar, e até mesmo adoecer a família de forma que ela perca

seu rumo e também fique doente. O cuidador do psicótico, ou seja, aquele familiar

que tem a responsabilidade de cuidar do doente mental, tende a absorver algumas

manias doentias e, pensando em ficar mais próximo do seu doente, adotar atitudes e

comportamentos que o transformarão também em ser adoecido. Daí a necessidade

14

de que esse membro seja orientado quanto à forma de comportar-se perante o

doente e perante a família. Ele precisa ser muito bem informado sobre o transtorno

de seu familiar e como pode ajudá-lo, sem precisar adotar o mesmo comportamento

que ele tem, pois muitas vezes o cuidador age dessa forma pensando que se entrar

para o mundo dos loucos, ou seja, o mundo de seu familiar, terá mais condições de

entendê-lo e assim satisfazer suas necessidades. O autor é categórico na

explicação de que o mundo do doente mental poderá ser o mesmo que o mundo da

sua família ou do seu cuidador, basta que ele seja conduzido para este mundo.

Assim Lefley (2002) conclui que o conhecimento sobre a patologia que

acomete o familiar, sobre suas consequências e sobre a forma adequada de lidar

com os problemas que surgem, é a forma mais proveitosa da família conseguir lidar

com as questões que envolvem o convívio com do doente mental, tornando a vida

familiar e com a sociedade mais saudável.

Lancetti (2000) diz que o equilíbrio da família, a aceitação da doença mental

que envolve seu familiar é fundamental para a recuperação do paciente. Além do

que, para que a sociedade aceite esse doente mental somo membro ativo e capaz

de produzir, é preciso primeiro que a família o aceite. A sociedade tende a agir da

mesma forma que a família, se esta aceita seu doente mental e convive com ele de

forma saudável, consequentemente, a sociedade o verá da mesma forma. O

relacionamento da sociedade com o doente mental é influenciado diretamente pela

forma que a família trata seu paciente.

Conforme Ornelas (2004) a família, sobretudo na fase inicial do transtorno

mental, tem um papel fundamental na construção de uma nova trajetória para seu

ente enfermo, mas seus recursos emocionais, temporais e econômicos e seus

saberes têm que ser bem direcionados, cabendo aí uma contribuição importante dos

trabalhadores e dos serviços psiquiátricos. Muito embora, na eclosão das primeiras

crises psiquiátricas, a família tenda a ser mais receptiva às orientações dos

trabalhadores em saúde mental e adira ao tratamento com maior facilidade – apesar

de, por desconhecimento, ter receio de os psicofármacos produzirem dependência –

, é importante frisar que ela, em geral, só procura um serviço social porque se

encontra em crise, uma crise já instalada, com uma história e várias tentativas de

debelá-la.

Vê-se que há necessidade da família em encontrar “um local no cérebro” na

tentativa de entendimento do processo incompreensível da doença que não

15

apresenta dor física como sintoma principal. A experiência do sofrimento psíquico é

a da intermitência entre o sofrimento e o não sofrimento, havendo assim períodos de

diminuição dos sintomas, deixam a família confusa. Ornelas (2004) comenta sobre

algumas narrativas que mostram como oscilações referentes aos sintomas e as

condutas apresentadas pela pessoa com transtorno mental podem confundir os

integrantes do núcleo familiar causando conflitos. Assim, por exemplo, relata um

familiar:

eles não sabem, não sabem o caminho. E eu estou perdendo o controle né? Todo mundo de casa fica afastado (...) Eu fico mais perto mas eu tô perdendo o controle; O irmão dele não acha que é doença, acha que é malandragem, imagina!; os meus filhos acham que ele faz malandragem.

Com esta narrativa estes sujeitos evidenciam a vulnerável estabilidade

emocional do contexto familiar que diminui a capacidade individual de interação com

o paciente e aumenta a tensão deste contexto. Ornelas (2004) volta a enfatizar que

a maioria dessas angústias relatadas por familiares poderiam ser amenizadas se

eles tivessem mais conhecimentos sobre a patologia do seu ente querido e como

agir diante dela.

Ornelas (2004) diz ainda que a observação e os estudos têm mostrado que a

família tenta resolver os problemas que emergem em seu seio inicialmente de

maneira privada, recorrendo a seus próprios conhecimentos e estratégias de

atuação que se mostraram anteriormente eficazes. Há uma pressão social para que

a família não torne público seu problema, não remeta para a arena das políticas

públicas, a sua situação. Até como uma forma de proteção ou de falta de

conhecimento, a sociedade procura afastar-se da doença mental, como se ela fosse

um animal perigoso que se deve manter à distância.

Rosa (2003, p.77/78) diz que a partir da convivência com a pessoa com

transtorno mental a rotina dos membros da família é alterada, em especial no que

tange ao cuidador mais próximo, podendo trazer desesperança quanto à perspectiva

de vida, como se não houvesse caminhos além do ser doente mental. Há pelo

menos dois sentidos da palavra saúde: de modo absoluto, como “conceito normativo

que define um tipo ideal de estrutura e de comportamento orgânico”; e a saúde

adjetivada, como conceito descritivo que define certa disposição e reação de um

organismo individual em relação às doenças possíveis”. Desse modo, dependendo

16

do modelo utilizado pelos profissionais de saúde e pela família, o modo de lidar com

as questões inerentes ao convívio com a pessoa com transtorno mental contribuem

para determinar as dinâmicas familiares.

Melman (1998, p.65) diz que a dificuldade de comunicação e de interação

gera impotência diante deste descompasso que infringe o convencional, e produz

inúmeros desgastes relacionais entre as pessoas envolvidas no interior do núcleo

familiar. O desajustamento nos horários habituais é trazido na narrativa: “fica no

quarto, dorme de dia, fica no quarto, não dorme de noite, liga a televisão a noite

inteira, assim não consegue estudar, não consegue trabalhar”.

Este descompasso dificulta a participação no jogo social, trazendo também

como conseqüência a marginalidade frente ao movimento da vida e um existir

apático, sem conciliação com os ciclos naturais: passado, presente e futuro. “Olha

eu acho que ela está dormindo porque não está participando da vida”. Ao elaborar a

estória do desenho este sujeito conta: “é tão feio... é tão triste”. (MELMAN, 1998,

p.65)

Sendo o fator temporal organizador das vivências pessoais e elemento

importante para a apreensão da realidade, pode-se pensar que a dificuldade de

comunicação do paciente denota um sofrimento psíquico, ou mesmo uma

dificuldade no processo de representação de si mesmo. As narrativas mostram que

no interior do convívio da família as diferentes vivências do tempo propiciam

desajustes nas relações, desencontros de ritmos para cada elemento do núcleo:

“com esse descontrole todo mundo sofre... ele não tem horário, parece que não está

ali é parado e vai se isolando. (MELMAN, 2998, p.66)

Este sujeito parece referir à dificuldade de convivência com alguém que vive

um tempo sem mudança, sem movimento, sem história. Tal cena estática pode ser

estendida para a dinâmica da família; assim, a repetição das cenas faz com que o

cotidiano familiar acabe reproduzindo um universo temporal extremamente reduzido,

sem passado e sem futuro

Melman (1998, p.66) explica que o pouco conhecimento sobre a doença

mental é trazido pelos sujeitos, como elemento de desavença e de aumento de

sobrecarga:

E muita gente não acredita! (...) Nem quem eu tenho bem próximo que é minha irmã, não acredita! Não acredita na doença, acha que

17

ela finge, acha que ela quer que fique paparicando. Isso maltrata mais ainda e eu não concordo.

Este mesmo sujeito estende a falta de compreensão ao atendimento médico

recebido e acredita que as trocas promovidas nos grupos de familiares podem

contribuir para a melhoria no entendimento dos sintomas apresentados pelo doente:

Então eu acho que é falta de compreensão de tudo, né? (...) mas também dos médicos que querem internar, da falta de compreensão da família. Por exemplo, aqui tem reunião né? Só que os que tem que vir não vêm, não entendem a doença, não participam e isso que é duro. Porque a pessoa está doente e a gente sofre junto né?; Ela gosta de fazer as coisas que faz aqui, pulseirinha, caixinha, chega em casa, mostra e a minha irmã que não acredita fala que é ridículo, que é bobagem, ela não ajuda, critica....

Os autores que serviram de base para a construção desse capítulo foram

enfáticos em esclarecer os conceitos iniciais sobre terapia familiar e, especialmente,

caracterizar a informação como peça fundamental para a família conseguir manter-

se saudável, mesmo tendo no convívio do seu dia a dia um membro com transtorno

mental.

18

CAPÍTULO II A INTERVENÇÃO FAMILIAR NO

APARECIMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

Este capítulo trata de situações em que as famílias ou membros dela, agem

de forma a propiciar o aparecimento ou a manutenção de alguns transtornos

mentais.

2.1 Estimulação de sentimentos de preocupação, remorso e/ou

culpa

Segundo Scazufca (1998), um tipo comum de agressão emocional é a que

se dá sob a autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar

emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção e de

importância da pessoa que agride. A intenção do agressor histérico é mobilizar

outros membros da família, tendo como chamariz alguma doença, alguma dor,

algum problema de saúde, enfim, algum estado que exija atenção, cuidado,

compreensão e tolerância.

No histérico, o traço prevalente é o “histrionismo”, palavra que significa

teatralidade. O histrionismo é um comportamento caracterizado por colorido

dramático e com notável tendência em buscar contínua atenção. Normalmente a

pessoa histérica conquista seus objetivos através de um comportamento afetado,

exagerado, exuberante e por uma representação que varia de acordo com as

expectativas da platéia. Mas a natureza do histérico não é só movimento e ação;

quando ele percebe que ficar calado, recluso, isolado no quarto ou com ares de

“não querer incomodar ninguém” é a atitude de maior impacto para a situação,

acaba conseguindo seu objetivo comportando-se dessa forma. (SCAZUFCA, 1998)

Continua o autor dizendo que os pacientes histriônicos exageram seus

pensamentos e sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e

acusações sempre que percebem não serem o centro das atenções ou quando não

recebem elogios e aprovações. Há grande possibilidade das “doenças” do histérico

piorarem quando sente que alguém da família não está reservando parte de sua

vida para preocupar-se com ele, quando alguém está se preparando para passear,

sair, divertir-se. Representar papéis é a especialidade mais meritosa da pessoa

19

histérica, assim sendo, com muita propriedade, ela representa a mãe zelosa e

preocupada, podendo estar sofrendo do coração, piorando quando fica “nervosa”,

“passando mal” quando contrariada ou preocupada, e assim por diante.

Essa tentativa (e sucesso) da pessoa histérica em conseguir quase tudo

através da mobilização emocional dos demais membros da família causa,

cronicamente, um expressivo Sofrimento Emocional. O sentimento de culpa

aparece quando alguém percebe que o histérico da família “adoeceu” por sua

causa.

Wagner (1999) diz que se forem os pais os histéricos, normalmente tendem

a chamar atenção quando o(s) filho(s) saem, arranjam namorado(a), deixam de

cumprir seus compromissos, se comportam de maneira não esperada, etc. A

postura histérica, com suas características de somatizações, surge ainda quando

não há reconhecimento festivo de seus esforços para manter a família, da maneira

heróica com que lidam com a vida.

Os sintomas histéricos acabam resultando em sentimentos de culpa ou

remorso quando, sabidamente, aparecem se a pessoa ficar contrariada. Os

familiares acabam sabendo que aquele mal estar e sofrimento da pessoa doente

poderiam ser evitados se a pessoa não se aborrecesse, se todos não a deixassem

nervosa. Wagner (1999) diz que sendo histéricos os filhos, a teatralidade aparece

como justificativa, mais que plausível, pelos fracassos e falhas do cotidiano, pela

impotência na solução dos problemas e eventuais insucessos. Para melhor clareza

das atitudes histéricas e sua relação com a busca de solidariedade e apoio por

parte dos outros membros da família, veja o seguinte exemplo relatado por Wagner

(1999, p.12)

A paciente X queixa-se, logo que entra no consultório: - Doutor, essa noite não dormi e não deixei ninguém dormir. - Porque? Perguntei, já imaginando a resposta. -Sentia dores pelo corpo e um mal estar esquisito... Tentando um misto de ironia e correção, arrisquei... -Então, depois de ter acordado a todos, suas dores melhoraram. - Não. Continuei sentindo mal até de manhã, como vem acontecendo há muito tempo. - Mas então, porque acordou a todos se as dores e o mal estar, como de costume, não melhoram quando você acorda todo mundo? Sem pensar ou, pior, com a crítica ofuscada pelo egoísmo típico dos histéricos, respondeu: - Mas o senhor queria, então, que eu sofresse sozinha?

20

Waidman; Jouclas; Stefanelli (1999) dizem que na prática clínica observa-se,

ainda, casos curiosos onde a esposa adoece cada vez que o marido agenda uma

pescaria, ou na hora do jogo de futebol com os amigos... Também o homem passa

mal quando tem contas a pagar, é demitido, não consegue resolver problemas do

cotidiano, etc. Esse tipo chantagista e histérico de produzir agressão emocional

pode ocorrer de vários modos. Tem aqueles casos de manipulação clássica e

franca, onde o agressor é capaz de falar claramente coisas do tipo “você vai

acabar me matando...”, “não dormi a noite toda esperando você chegar...”, etc.

Existem, por outro lado, os agressores que não falam, mas sugerem

continuadamente e com muita eficiência tudo aquilo que querem transmitir.

Comportam-se “doentemente”, colocam a mão no peito para sugerir dor no coração

mas, perguntados se sente alguma coisa, apressam-se a dizer que não. Na

realidade estão torturando os outros duas vezes; primeiro por deixar todo mundo

apreensivo sobre essa misteriosa dor no peito, e em segundo, por transmitir a

impressão de que não se queixam, logo, nunca saberão se está com dor ou não.

(WAIDMAN; JOUCLAS; STEFANELLI, 1999)

Ainda tem aqueles que se comportam placidamente, resignadamente,

“quietinhos em seu canto”, deixando claro seu mal estar e profundo aborrecimento

com alguma coisa que está ocorrendo no lar. Esses são piores porque querem que

todos saibam o que estão querendo sem que tenham de dizer. E como se fizessem

um “joguinho de adivinhação com a família”. (WAIDMAN; JOUCLAS; STEFANELLI,

1999)

Segundo Wagner (1999, p.13), estimular sentimentos de preocupação,

remorso e/ou culpa pode aparecer em pais nas seguintes diante (entre outras) das

seguintes situações que envolvam:

- Noras ou genros não plenamente desejados; - Filhos ou filhas que preferem (naturalmente) a convivência com o cônjuge; - Filhos ou filhas que saem muito à noite; - Filhos ou filhas que bebem ou usam drogas; - Maridos que saem muito; - Maridos que bebem; - Maridos que vão pescar com amigos; - Esposas que gastam muito; - Na falta de colaboração de todo mundo para afazeres domésticos...

21

Wagner (1999, p.13) completa dizendo que estimular sentimentos de

preocupação, remorso e/ou culpa pode aparecer em filhos nas seguintes diante

(entre outras) das seguintes situações que envolvam:

- Reprovação na escola; ·- Acidente de carro; - Falta de iniciativa para arranjar emprego; - Ciúme dos irmãos; - Separação do(a) namorado(a); - Fracassos em geral...

Todos esses comportamentos mostram de uma forma ou de outra a

necessidade de chamar a atenção de uma outra pessoa ou da família toda.

Atitudes que reforçam a necessidade que o ser humano tem, especialmente os

adolescentes, de serem o centro das atenções.

2.2 Estimulação de sentimentos de inferioridade e/ou dependência

Wagner (1999) diz que fazer o outro se sentir inferior e/ou dependente é um

dos tipos de agressão dissimulada mais terríveis. A mais virulenta atitude com esse

objetivo é fazer tudo corretamente, não com o propósito de ensinar, mas para

mostrar ao outro o tamanho de sua incompetência.

Normalmente é o tipo de agressão dissimulada pelo pai em relação aos

filhos homens, quando esses não estão saindo exatamente do jeito que o pai

idealizou. Alguns comentários “inocentes” e falsamente destinados à orientação

paterna podem ser do tipo: (WAGNER, p.14)

- Na sua idade eu já era... - Deixa que eu faço, meu bem (enfatizando o ‘meu bem’) - Você não tem noção sobre isso, mas não é sua culpa... - Sabia que iria acontecer isso... - Gostaria que você fizesse só isso para mim, só isso...

A atitude do agressor que faz sentir inferior e/ou dependente, além da

agressão verbal irônica e mordaz, também pode ser através de atitudes que

sugerem ter resolvido tudo de forma “natural”, sem esforços. Essa atitude é

costumeiramente reforçada com postura autoritária e imperiosa, como se o outro

tivesse que pagar, por sua inferioridade e dependência, através da obediência e

22

solicitude. Dessa forma o agressor procura ser tratado “com tudo nas mãos”,

exigindo que os outros o atendam serviçalmente. É como se fosse uma forma de

fazer o outro sentir-se menor, isto é, como menos valor. (WAGNER, 1999)

2.3 Comportamento opositor e aversivo

Lancetti (2000) diz que outro tipo de agressão emocional é o comportamento

de oposição e aversão. As pessoas que pretendem agredir se comportam

contrariamente àquilo que se espera delas. Demoram no banheiro quando

percebem que se espera que saiam logo, deixam as coisas fora do lugar quando

isso é reprovado, etc. Até as pequenas coisinhas do dia-a-dia podem servir aos

propósitos agressivos, como deixar uma torneira pingando, apertar o creme dental

no meio do tubo e coisas assim. Mas isso não serviria de agressão se não fossem

atitudes reprováveis por alguém da casa.

Esses agressores estão sempre a justificar as atitudes de oposição como se

fossem totalmente irrelevantes, como se estivessem corretas, fossem inevitáveis

ou não fossem intencionais. Entretanto, sabendo que são perfeitamente

conhecidos as preferências e estilos de vida dos demais, atitudes irrelevantes e

aparentemente inofensivas podem estar sendo propositadamente agressivas.

Enfim, as agressões emocionais do tipo comportamento opositor e aversivo

são muito variadas, de acordo com as características de cada família. E nem

sempre é apenas a atitude ativa que agride. A não-atitude também pode ter

propósitos agressivos; o silêncio e o emudecimento podem agredir, assim como a

apatia, a omissão, desinteresse e o não-fazer-nada. (LANCETTI, 2000)

Algumas pessoas têm a incrível necessidade de provocar emoções

negativas nos outros quando, elas próprias, estão emocionalmente complicadas. É

como se “o condenado se consolasse na dor do semelhante”. Assim sendo,

quando essas pessoas estão irritadas, magoadas, contrariadas, será muito pior sua

irritabilidade, mágoa e contrariedade se não tiverem, ao seu redor, pessoas com

iguais ou piores sentimentos. (WAIDMAN; JOUCLAS; STEFANELLI, 1999)

A maior evidência de que os comportamentos opositores são agressivos na

medida em que causam mal estar emocional no outro, é a ausência deles na

ausência do espectador que se quer agredir. Um marido irritado, por exemplo, que

23

chega em casa de péssimo humor e, descontente com a comida, atira o prato o

chão, jamais teria esse comportamento se estivesse sozinho em casa ou se não

houvesse perspectiva de vir alguém para assistir a cena ou os cacos do prato no

chão. (WAIDMAN; JOUCLAS; STEFANELLI, 1999)

Wagner (1999, p.15) diz que os agressores emocionais de oposição e

aversão possuem o hábito ter usar frases costumeiras, como por exemplo, as do

tipo:

- Mas porque sou eu quem tem de mudar? - Será tão difícil ter um pouco de paciência comigo? - Acho que deveriam cuidar de suas vidas e deixar eu cuidar da minha. - Nessa casa sempre fui tratado de maneira diferente. - Porque meu irmão pode fazer isso e eu não? - Os incomodados que se mudem...

No caso da agressão que estimula remorso e culpa os agressores são,

predominantemente, mulheres (mães e irmãs, nessa ordem), mas na agressão de

oposição e aversão os homens são mais capazes.

Scazufca (1998) diz que em relação às pessoas que fazem tratamento

psiquiátrico as agressões emocionais intrafamiliares têm características especiais.

Nesses casos, aplica-se perfeitamente o conceito que se tem sobre famílias de alta

emoção expressa, visto acima.

Para essas pessoas, normalmente, as agressões emocionais aparecem sob

a forma de falsos conselhos bem intencionados. De fato tais conselhos têm

objetivo de censurar, repreender, diminuir, envergonhar, humilhar, culpar,

constranger, enfim, a intenção real de causar dor moral no outro. Um agravante e a

sempre presente consciência do agressor sobre os efeitos reais de seus

comentários, embora diga que “eu apenas disse que...” ou “não sabia que você era

tão sensível, desculpe”. (SCAZUFCA, 1998)

Scazufca (1998, p.79) relata alguns poucos comentários pinçados no

cotidiano que, muitas vezes, os familiares de pacientes psiquiátricos fazem,

motivados pela intenção de agredir dissimulada através de comentários

“inocentes”.

- Você deve reagir, ter pensamentos positivos, fortes... - Sua irmã sim, tem a cabeça boa. - Acho que se você se ocupasse de alguma coisa...

24

- Já passei por situações piores e nunca fiquei assim, como você. - Acho que seu remédio não está fazendo efeito. - Não te contei porque você não pode passar nervoso. - Veja como seus irmãos se comportam e procure fazer o mesmo. - Não posso me dar ao luxo de ficar doente como você. - Se você tivesse metade de minhas preocupações... - Se alguém nessa casa faz tratamento, não sou eu... - Por causa de seu nervoso, daqui pra frente não conto mais nada pra você... - O médico disse pra eu ter muita paciência com você. - ... mas para sair de casa você está normal, não é? - ... se um dia você ficar normal eu prometo que...

Finalizando, é bom ter em mente que o bem estar psicológico dos membros

da família não depende apenas da sucessão de eventos proporcionada pelo

destino, não apenas das adversidades materiais, mas, sobretudo, da

intencionalidade expressa ou dissimulada de agredir os demais.

Neste capítulo os autores usaram de relatos de experiência própria, com o

acompanhamento de famílias que mostram transtornos de comportamento que

podem levar ao desenvolvimento de transtorno mentais mais sérios.

25

CAPÍTULO 3 A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NOS

PROJETOS TERAPEUTICOS DOS

SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL

Neste capítulo pretende-se discutir sobre a inserção da família nos serviços

de saúde, ou seja, nos projetos que envolvem estes serviços. Acredita-se que para

melhor entendimento da participação familiar nos serviços de saúde mental no

Brasil, seja interessante conhecer um pouco sobre esses serviços.

3.1 O lugar da família nos serviços de assistência psiquiátrica

Neste tópico o que se pretende é analisar a família a partir de uma concepção

sociológica. Assim, é apreendida como

conjunto de pessoas ligadas por laços de sangue, parentesco ou dependência que estabelecem entre si relações de solidariedade e tensão, conflito e afeto (...) e (se conforma) como uma unidade de indivíduos de sexos, idades e posições diversificadas, que vivenciam um constante jogo de poder que se cristaliza na distribuição de direitos e deveres. (BRUSCHINI, 1989, p. 8)

Várias disciplinas definem o que é família, cada qual destacando aspectos

relativos a seu conjunto de saberes e práticas. Apesar das diferenças, todos os

ramos do saber reconhecem a família como grupo histórico, determinado por

instâncias macroeconômicas, mas que também cria determinações e as remete à

sociedade. É assujeitada e é sujeito do processo histórico.

Nesse sentido, os processos de desinstitucionalização, que mostram a

falência das instituições totais (manicômios, prisões, asilos, orfanatos) e buscam

propostas alternativas que assegurem direitos a grupos específicos da população e

valorizem os serviços abertos e comunitários, têm a família como parceira, como

mediadora entre seus membros e a sociedade. (BRUSCHINI, 1998)

Assim, há uma tendência de a lógica da cidadania ser ampliada da proteção

ao indivíduo para a proteção ao grupo familiar. Nessa direção a Portaria n. 251/GM

do Ministério da Saúde, de 31 de janeiro de 2002, que estabelece diretrizes e

normas para a assistência hospitalar em psiquiatria e reclassifica os hospitais

26

psiquiátricos, constitui um dispositivo para a mudança das relações entre os serviços

psiquiátricos e a família, à medida que prevê, no desenvolvimento dos projetos

terapêuticos, o preparo para o retorno à residência/inserção domiciliar e uma

abordagem dirigida à família, no sentido de garantir orientação sobre o diagnóstico,

o programa de tratamento, a alta hospitalar e a continuidade do tratamento (BRASIL,

2004).

A família que não consegue resolver um problema internamente chega a um

serviço psiquiátrico com sentimentos de impotência, exaustão, culpa, desespero. Na

pedagogia dos hospitais psiquiátricos, como visto, a tendência predominante foi

abordar a família como informante da enfermidade, da trajetória do portador de

transtorno mental, e como visita. Todavia, parte dos hospitais psiquiátricos se

modernizou e viu-se impelida a incluir a família em seus projetos terapêuticos, de

acordo com a Portaria 251. (BRASIL, 2004)

Ramos (2003) diz que esse dispositivo legal parece restringir o âmbito da

abordagem da família/cuidador ao aspecto instrumental da enfermidade e do

tratamento. O legislador foi perspicaz, estabelecendo padrões mínimos de qualidade

assistencial, sobretudo para hospitais psiquiátricos. Isso não quer dizer que tais

serviços devam se limitar a esse mínimo, embora na tradição brasileira de gestão o

mínimo tende a se transformar em máximo. De qualquer maneira, exige-se que

todos os serviços assistenciais em psiquiatria tenham uma abordagem voltada para

a unidade ou o grupo familiar/cuidador.

Ramos (2003) fala da experiência no Piauí que tem mostrado que,

freqüentemente, oferece-se ao familiar/cuidador um atendimento, com orientações

individuais ou grupais. São comuns as reuniões semanais com a família. Alguns

serviços promovem visitas domiciliares, mas são os centros de atenção psicossocial

que as desenvolvem de maneira mais sistemática, como parte inerente a seu projeto

terapêutico.

Tais reuniões tornam-se importantes para o cuidador doméstico, pois muitas

vezes são a maneira mais efetiva para tirar suas dúvidas sobre a enfermidade, o

cuidado e o diálogo com os profissionais. Mas, geralmente, são os novos serviços,

abertos e comunitários, que são desafiados a implementar práticas diferenciadas

com a família, a criar novas tecnologias de abordagem e, sobretudo, a dar

visibilidade e valorizar sua condição de provedora de cuidados domésticos.

(RAMOS, 2003)

27

Desse modo, conforme comenta Ramos (2003), os serviços tradicionais, mais

precisamente os hospitais psiquiátricos, têm que oferecer uma abordagem não

estabelecida pela portaria ao grupo familiar/cuidador. O que está apontado

explicitamente na portaria é o conteúdo mínimo que o serviço tem que trabalhar com

a família. Assim, a família pode permanecer ou não passiva, como mera recebedora

de informações e consumidora de um serviço, com baixo, nulo ou grande impacto

sobre o cuidado doméstico ao portador de transtorno mental ou sobre sua cidadania,

dependendo da abordagem. A abordagem da família cuidadora, na condição de

parceira e co-responsável pelo cuidado, está em processo de construção, e seus

limites, potencialidades e desafios vão depender de cada contexto.

3.2 Algumas limitações no trabalho com a família de baixa renda

Segundo Scott (2001), trabalhar com famílias de baixa renda implica lidar com

várias limitações, decorrentes, sobretudo de dupla estigmatização: a de serem

pobres, em uma sociedade que só recentemente, depois da Constituição de 1988,

reconheceu formalmente os pobres como cidadãos detentores de direitos; e de

terem em seu meio um portador de transtorno mental, enfermidade carregada de

imagens de periculosidade e incapacidade.

O deslocamento do familiar/cuidador até o serviço assistencial psiquiátrico, no

geral, é complicado para esse segmento social, tendo em vista suas dificuldades

econômicas, que o obrigam muitas vezes a andar a pé ou de bicicleta. Contudo, unir

os familiares cuidadores parece ser uma estratégia interessante, por propiciar a

troca de experiências e mostrar que é possível conviver com o portador de

transtorno mental de diferentes maneiras. Se, por um lado, os familiares cuidadores

podem ser homogeneizados em sua condição de vida e na forma como enfrentam

os desafios cotidianos, por outro lado há muita riqueza nos encontros. (SCOTT,

2001)

Mas, mesmo nas reuniões semanais, uma das principais dificuldades é

assegurar a presença dos familiares. A sobrecarga das tarefas domiciliares,

sobretudo para o cuidador do portador de transtorno mental, que tende a ser o único

cuidador direto no grupo, e as dificuldades econômicas da família explicitam-se na

alta rotatividade nas reuniões. Alguns serviços disponibilizam vale-transporte para o

28

cuidador doméstico comparecer a elas, mas é raro algum deles manter freqüência

semanal, apesar de as considerar importantes e participarem ativamente delas.

(SCOTT, 2001)

Por outro lado, as dificuldades com transporte nos serviços psiquiátricos,

sobretudo nos hospitais, a lógica de organização de muitos deles e a sobrecarga

dos profissionais impedem um trabalho mais sistemático na comunidade, no espaço

doméstico, na rede de relações sociais do portador de transtorno mental, que corre o

risco de ficar em segundo plano. Nesse sentido, os centros de atenção psicossocial

têm inovado no trabalho com a família, com as associações de moradores, com as

rádios comunitárias, com grupos de mulheres e com conselhos de políticas públicas.

Embora tais intervenções sejam fundamentais, a família demanda um preparo para

o cuidado doméstico ao portador de transtorno mental e para enfrentar suas próprias

questões, múltiplas e multifacetadas. (SCOTT, 2001)

3.2.1 A necessidade de atendimento à família na assistência psiquiátrica

Rosa (2003) diz que a abordagem da família é um encargo de toda a equipe

dos serviços de assistência psiquiátrica. Nenhum profissional pode deter monopólio

ou exclusividade. Tem-se observado que cada serviço ou equipe se organiza de

maneira própria para abordar a família. Historicamente, nos hospitais psiquiátricos o

assistente social era o principal encarregado das questões relacionadas à família,

possivelmente porque os pacientes geralmente eram pobres. Tudo o que não era da

alçada estritamente clínica era remetido ao assistente social. Ainda hoje ocorre esse

entendimento.

Em alguns centros de atenção psicossocial, como no caso estudado por

Ramos (2003) no Ceará, o assistente social é considerado pelas equipes como o

“profissional da família”. Geralmente, o interesse pessoal de determinado

profissional, a capacitação individual de cada agente e a condição de classe da

unidade familiar têm definido quem se sente apto ou desejoso de trabalhar com a

família.

Quando se identifica o aparecimento de um portador de transtorno mental no

seio de uma família, ocorre um momento de crise, uma ruptura de rotinas, um

conflito de papéis, pois cuidar de uma pessoa adulta, dependente, em geral está fora

do previsto na história do grupo e de seu repertório de respostas. A família tem que

29

reconstruir sua unidade, aprender a se relacionar com o transtorno mental, com os

serviços de saúde mental e com a linguagem dos técnicos, que geralmente não

estão preparados para dialogar com a população que não teve acesso à educação

formal. (ROSA, 2003)

Nos serviços comunitários abertos, com internação parcial, de início se supõe

maior interação da família com o serviço psiquiátrico, posto que o portador de

transtorno mental permanece no máximo de sete a oito horas por dia na instituição,

retornando no final da tarde para seu domicílio.

Ramos (2003) diz que no Piauí, há uma chamada para reunião com familiares

uma vez por semana, com duração média de uma hora. No hospital psiquiátrico, no

regime de internação integral, a reunião com a família, em geral, apresenta menor

número de participantes. Já nos serviços com internação parcial, a participação de

familiares é sempre maior. Nessas reuniões, várias questões são observadas.

Embora chamadas de reuniões de família, freqüentemente agregam cuidadores,

pessoas que, no interior do grupo familiar, são responsáveis pelos cuidados diretos

do portador de transtorno mental. No geral esse cuidador é a única pessoa da

família a se encarregar desses cuidados.

Rosa (2003) diz que outro aspecto que chama atenção é a presença feminina

no grupo de familiares/cuidadores, constatada nas reuniões nos serviços de saúde

mental. Historicamente, as mulheres ficaram identificadas com o trabalho de cuidar

dos outros, tanto na esfera privada quanto na pública. Não são raros os homens

nessas reuniões, mas comparecem sempre em pequena quantidade. Nesse sentido,

parece ser natural atribuir à mulher tal incumbência, por caber-lhe também os papéis

de engravidar e amamentar.

No dia-a-dia da abordagem com a família, vários riscos permeiam a atuação

do profissional. O primeiro é ele se dispor a fazer um trabalho com a família sem o

devido preparo teórico-metodológico e ético. Nesse sentido, ele pode se sentir como

“doutor em família”, por ter vivido e sofrido a vida toda a influência das relações

familiares. Desse modo, “naturalmente”, pode acreditar que entende de família.

(ROSA, 2003)

Segundo Campos (2002), a ação conjunta de dois ou mais profissionais de

diferentes categorias também pode trazer problemas. Se todos não tiverem preparo

mínimo e maturidade, podem reproduzir conflitos que a família vivencia. Podem

30

entrar em um jogo de disputa por competência ou para angariar a simpatia da

família.

É comum em um serviço de saúde, até em um CAPs, a família sentir que não

foi atendida se não falar ou passar por uma consulta com um psiquiatra, mesmo

tendo sido assistida por todos os demais profissionais da equipe de nível superior.

Às vezes, a atuação desses profissionais é mais intensa com os cuidadores

domésticos, mas é comum, em reuniões ou assembléias, estes elogiarem ou

reconhecerem publicamente apenas a ação médica. (CAMPOS, 2002)

Em muitos serviços, além dos vínculos precários de trabalho e dos baixos

salários, há um baixo nível de recompensa simbólica, como o reconhecimento pelo

trabalho realizado, que os profissionais esperam e muitas vezes não têm, da parte

dos cuidadores domésticos. Não é rara a decepção e a fala indignada de

profissionais que não se sentem reconhecidos. É preciso maturidade, bom senso e,

acima de tudo, comportamento ético para enfrentar essa situação. (SCOTT, 2001)

Os conflitos interprofissionais também podem ser reproduzidos na intervenção

com os familiares/cuidadores, quando os profissionais querem apresentar soluções

e mostrar-se úteis para a família. Muitas vezes as disputas acabam reproduzindo

conflitos vivenciados entre os membros de cada grupo familiar. A carência afetivo-

simbólica do profissional pode acabar se sobrepondo às necessidades das pessoas

e grupos vulnerabilizados. É necessário muita auto-vigilância nas práticas com a

família. O espaço das supervisões é fundamental para equacionar divergências

entre categorias profissionais e para apontar conflitos interpessoais. (SCOTT, 2001)

Scott (2001) volta a dizer que outro aspecto importante é a relação com

famílias de baixa renda. Poucos profissionais são capacitados academicamente para

trabalhar com a família e, quando o são, parte significativa está preparada para lidar

apenas com a família de classe média, de consultório, em uma realidade próxima à

de sua experiência pessoal. Nesse contexto, quando o profissional olha para a

família dos segmentos de baixa renda, em estado de crise, muitas vezes só

consegue ver desorganização, desestruturação. Mas é justamente nessa situação

que ela busca um profissional ou um serviço de saúde mental. O profissional está

pouco habituado a entender códigos culturais, lingüísticos e comportamentais que

não sejam os de sua classe social, confundindo pobreza econômica e material com

pobreza cultural.

31

Lancetti (2000) diz que os familiares/cuidadores, em geral, trazem para os

profissionais e serviços de saúde, além da crise psiquiátrica, todos os seus

problemas existenciais. A crise psiquiátrica apenas intensifica os dramas vividos

pelas famílias, vulnerabilizadas pelo contexto de pobreza e exclusão/destituição

social. Nessas circunstâncias, o profissional corre o risco de só ver pobreza e

impotência, ficar paralisado como a família e não vislumbrar outras possibilidades.

Na crise, o grupo familiar costuma mostrar toda sua fragilidade, mas podem

também aflorar capacidades que às vezes não se consegue identificar. É o momento

em que o profissional pode observar a dinâmica familiar de forma exponenciada, na

solidariedade ou na ausência dela, nas tentativas de encontrar saídas, nos recursos

ou na falta deles. É também o momento de observar se a família conta com uma

rede social com oportunidades para obter suporte. (LANCETTI, 2000)

Diante da família em crise e que quer transferir a resolução de seus

problemas para aqueles que “estudaram e entendem disso” (do cuidado com o

portador de transtorno mental), é comum o profissional se ver diante do dilema de

ter que dar uma resposta, seja qual for, até para aliviar sua própria angústia ou

demonstrar competência para lidar com o caso que tem diante de si. (LANCETTI,

2000)

Segundo Ramos (2003), para o médico, parece ser mais tranqüilo prescrever

uma medicação ou requisitar um exame. Para os demais profissionais, existe a

tendência de utilização dos recursos da comunidade, que muitas vezes assume uma

postura de transferência de responsabilidade, e não de compartilhamento de

soluções. A família cuidadora coloca o profissional como o solucionador de

problemas familiares, e muitos profissionais incorporam tal encargo.

Ao assumir o exercício da profissão como “doutor”, a atenção pode deslizar

para uma atitude autoritária, caso o profissional considere que sabe tudo e, por isso,

pode tudo resolver, sem dialogo e interlocução com a família/cuidador, tendo uma

resposta para todas as questões, a fim de se manter nesse lugar. Essa atitude

autoritária permeia as intervenções e coloca o profissional como única pessoa capaz

de solucionar os problemas. Daí também a prática do “aconselhamento”1 ser

1 Muitos profissionais assumem, tacitamente ou não, fazer aconselhamento sem definir tal conceito e sem ter preparo específico para tanto, limitando-se a prescrever condutas, sem avaliar o impacto de sua atuação sobre a família/cuidador. “Aconselhar” não deixa de ser uma estratégia para aliviar a angústia de muitos profissionais, que acreditam com isso mostrar competência ou dar “resolutividade” à questão trazida pelos usuários de seus serviços.

32

generalizada. Freqüentemente o profissional acha que sabe o que é melhor para

todas as famílias que chegam a seu consultório/serviço ou se encontram sob sua

responsabilidade. (CECCHIN, 2000)

Nesse horizonte, é importante registrar as reações do profissional, ao se

deparar com o grupo familiar e seus problemas. Cecchin (2000, p. 73) aponta cinco

respostas básicas do profissional em relação à família:

- ele tem necessidade de se tornar útil para a família. Nesse cenário, quanto mais é útil, mais a família se sente inútil, desamparada e impotente, pois não constrói novas soluções para seus problemas; - alguns se colocam como professores, prescrevendo comportamentos, “aconselhando” sem a família/cuidador ter solicitado. Nesse sentido, quanto mais for professoral, menos a família/cuidador aprende e menor qualidade interacional existirá entre ambos; - o profissional deseja controlar o grupo, disciplinar o processo interativo, deixando os membros dependentes ou apáticos; - o profissional quer proteger as pessoas, percebidas por ele como desorganizadas, infelizes, desestruturadas, e toma para si a tarefa de reorganizar e cuidar do grupo. Nesse sentido, não há um aprendizado do grupo na resolução de seus problemas; - o profissional manifesta, consciente ou inconscientemente, o desejo de punir a família quer dar uma lição a quem ele considera um mau marido, má mãe, má filha, mau cuidador.

Nas formas acima esboçadas de oferecer resposta ao grupo familiar/cuidador,

o profissional arrisca-se a exercer a cruel compaixão, pois, sob pretexto de auxiliar o

grupo a sair de sua crise, substitui o papel dos membros da família, subtrai a

competência própria da família, desconsidera os recursos e a necessidade da

família de construir sua história e sentir-se suficientemente capaz para resolver suas

questões.

Assim, como visto, embora permeado por limitações, o trabalho com a família

nos remete a reflexões que podem apontar possibilidades e desafios. (SZASZ, 1994)

3.3 Conhecendo um pouco dos serviços de saúde mental no Brasil

3.3.1 Saúde Mental

Segundo Pitta (2001) saúde mental é o pleno bem-estar psíquico, estilo de

vida saudável, relações harmônicas entre famílias, amigos, amantes, povos, nações.

33

Conforme a autora, a complexa dinâmica de interação entre técnicos, pacientes,

espaço físico e comunidade tem implicado em resultados desafiadores possibilitando

um constante recriar e aprender.

Segundo Galli (1990, p. 34):

Saúde mental é um estado de relativo equilíbrio e integração entre os elementos conflitivos constitutivos do sujeito da cultura e dos grupos, com crises previsíveis e imprevisíveis, registrado objetiva e subjetivamente, no qual as pessoas ou os grupos participam ativamente em suas próprias mudanças e nas do contexto social.

O conceito de saúde mental se insere no campo psicossocial, na medida em

que, incorpora a dimensão social à dimensão biológica e psicológica do processo

saúde e doença.

De acordo com Roeder (2003), o impacto da doença na vida de uma pessoa

depende de vários fatores, nem sempre controláveis. É um conceito que considera a

percepção, refletindo as diferentes formas que o indivíduo pode ver o mundo e seus

objetivos pessoais. A Organização Mundial de Saúde enfatiza a importância do

aspecto emocional na atenção à saúde quando cita que é impossível alcançar saúde

se não se cuida das necessidades emocionais. Entende-se que saúde mental é

qualidade de vida onde interagem fatores, tanto internos quanto externos, que

podem influenciar o indivíduo, tanto de forma positiva como negativa.

3.3.2 Conceito de transtorno mental

Sabe-se que os transtornos mentais afetam as pessoas, independente de

classe social e que essas pessoas sofrem um processo de exclusão social. De

acordo com Rosa (2003), transtorno mental significa comprometimento das funções

mentais do indivíduo, interferindo na atenção e nas atividades diárias.

Existe uma grande polêmica entre transtorno mental e loucura, pois as

pessoas costumam generalizar dizendo que todos são loucos e, na verdade, o louco

é completamente fora da realidade, nem mesmo se conhece, e o portador de

transtorno mental não é assim.

Segundo Roeder (2003), o transtorno mental pode provocar prejuízos na vida

da pessoa comprometendo o seu modo de vida e influenciando negativamente o seu

crescimento.

34

3.3.3 Atenção básica à pessoa

O fortalecimento da atenção básica é considerado de importância

fundamental pelo Ministério da Saúde para a efetiva concretização dos princípios

constitucionais de universalidade, eqüidade e integralidade no contexto do sistema

de saúde. No Brasil o termo atenção básica sustenta-se no princípio da

integralidade, que está inserido na articulação de ações de promoção da saúde e

prevenção, tratamento e reabilitação de doenças. O pensamento da atenção

primária no mundo apresenta-se desde o primeiro nível de atenção, passando pela

idéia de um tipo de serviços, uma filosofia de atendimento, até uma estratégia de

organização dos sistemas de saúde. (ROEDER, 2003)

De acordo com Tenório (2002), a atenção básica tem um papel importante no

processo de reinserção social dos usuários com transtornos psiquiátricos graves, já

que também está imersa no território e é, afinal, um espaço de produção de saúde

em geral, tanto para os usuários, quanto para suas famílias.

3.3.4 Atenção aos transtornos mentais

No caso dos transtornos mentais a atenção tem impacto crucial no futuro do

paciente, portanto, se faz necessário uma força de trabalho compatível com as

necessidades dos pacientes. É preciso reforçar a inserção nos programas

informativo-pedagógicos, de medidas que visem a promoção da saúde em geral, por

meio de atendimentos alternativos em saúde mental. Faz-se necessário, portanto,

dar prioridade à prática assistencial voltada para o cuidado dos pacientes com

transtorno mental assistindo suas necessidades básicas, pois só assim será possível

trabalhar para o tratamento e a reabilitação. (TENÓRIO, 2002).

3.3.5 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

O modelo preconizado pelo Ministério da Saúde é o atendimento em Centros

de Atenção Psicossocial (CAPS) e a desinstitucionalização dos pacientes de longa

permanência, entendidos como aqueles internados por período superior a um ano,

por meio de projeto terapêutico voltado para a reinserção social. Segundo o

Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), o Brasil adota como diretriz para saúde mental

35

as propostas da Reforma Psiquiátrica, procurando diminuir o número de hospitais

psiquiátricos e aumentar os CAPS para atender a essa população.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), entre todos os dispositivos de

atenção à saúde mental, teve valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica

Brasileira. O primeiro CAPS do país surgiu em março de 1987 e representa a

implementação de um novo modelo de atenção em saúde mental atendidos na rede

pública (TENÓRIO, 2002).

Os Centros de Atenção Psicossocial - CAPS prestam um serviço de atenção

diária que se destina ao trabalho mais voltado para a reabilitação social, com

pacientes de várias internações. Constituem um serviço comunitário que tem como

papel cuidar de pessoas que sofrem com transtornos mentais. Surgiram no Brasil na

década de 80, como serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, realizando

o acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas.

Conforme o autor, a função dos CAPS é prestar atendimento clínico em

regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos;

promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações

intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na

sua área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica

(TENÓRIO, 2002).

3.3.6 Saúde pública no Brasil

As últimas décadas passaram por um processo de reestruturação em relação

à saúde pública no Brasil, que inclui vários ramos de atuação, (medicina, psiquiatria,

odontologia, psicologia, enfermagem, assistência social, terapia ocupacional, etc. As

políticas públicas em saúde integram o campo de ação social do Estado orientado

para a melhoria das condições de saúde da população. No Brasil, as políticas

públicas de saúde orientam-se desde 1988, conforme a Constituição Federal, pelos

princípios de universalidade e eqüidade no acesso às ações e serviços e pelas

diretrizes de descentralização da gestão, de integralidade do atendimento e de

participação da comunidade, na organização de um sistema único de saúde no

território nacional. (BRASIL, 2004)

A reestruturação do setor saúde no Brasil, promovida a partir da Constituição

Federal de 1988, tem como um dos seus pilares a criação do Sistema Único de

36

Saúde (SUS), fundamentado nos princípios básicos de: universalidade, integralidade

e eqüidade, com ênfase na participação popular e na estruturação da rede de

serviços de saúde de forma descentralizada, regionalizada e hierarquizada. De

acordo com Tenório (2002) é de suma importância trabalhar com o compromisso do

poder público, por um lado, e co-responsabilização da população, por outro.

A Constituição estabelece que a saúde deva ser entendida como direito de

todos e dever do Estado, devendo ser garantida mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução dos riscos de doenças e outros agravos e o

acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e

recuperação da saúde. O fortalecimento da atenção básica é considerado de

importância fundamental pelo Ministério da Saúde para a efetiva concretização dos

princípios constitucionais de universalidade, eqüidade e integralidade no contexto do

sistema de saúde. (BRASIL, 2004)

Com a constatação de que os recursos públicos são escassos e há grandes

desigualdades sociais e regionais é crucial políticas públicas adequadas para

atender a população. Entende-se que para haver eqüidade no uso de serviços de

saúde é condição importante diminuir as desigualdades existentes entre os

diferentes grupos sociais. (BRASIL, 2004)

3.3.7 Programa Saúde da Família (PSF)

Segundo rosa (2003), a Saúde da Família é entendida como uma estratégia

de um novo modelo de orientação assistencial, operacionalizada mediante a

implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. O

Ministério da Saúde criou, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF). Este

programa tem o compromisso da integralidade da atenção à saúde e vem investindo

na promoção da saúde da população e na prevenção de doenças, alcançando

resultados importantes para a saúde coletiva.

O PSF propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços e ações

de saúde, bem como sua relação com a comunidade e entre os diversos níveis de

complexidade assistencial. Essa estratégia assume o compromisso de prestar

assistências universais, integrais, equânimes, contínuas e resolutivas à população,

tanto nas unidades de saúde quanto nos domicílios, identificando os fatores de risco

aos quais ela está exposta e neles intervindo de forma apropriada (ROSA, 2003).

37

O Programa Saúde da Família busca desenvolver ações de atenção básica à

saúde, dirigida não somente para a cura e prevenção de doenças, mas

principalmente buscando promover a qualidade de vida e valorização do papel dos

indivíduos no cuidado com sua saúde, de sua família e de sua comunidade. De

acordo com esta perspectiva, o PSF visa atender todo e qualquer indivíduo,

independente de ser portador ou não de alguma patologia e/ou deficiência (BRASIL,

2004).

O PSF tem por finalidade facilitar o acesso aos serviços de saúde a toda

comunidade, reduzindo, assim, o fluxo de atendimento nos hospitais. O programa

conta com uma rede de Agentes Comunitários de Saúde que fazem visitas

periódicas às famílias repassando informações importantes para a prevenção de

doenças e encaminhando pacientes para o serviço médico (BRASIL, 2004).

Segundo Costa Neto (2000), a estratégia de saúde da família propõe uma

nova dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde, bem como a sua relação

com a comunidade, reconhecendo a saúde como um direito à cidadania e expressa

pela qualidade de vida. Para o autor a dinâmica proposta para o PSF no Brasil

envolve a sua relação com a comunidade e com os diversos níveis de complexidade

assistencial. Portanto a estratégia do PSF assume o compromisso de prestar uma

assistência universal, integral, equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva para

a população, na unidade de saúde e no domicílio.

Continua o autor esclarecendo que os princípios da promoção da saúde,

através do fortalecimento da atenção básica, tendo o PSF como seu eixo

estruturante, permitem a construção da saúde através de uma troca solidária, crítica,

capaz de fortalecer a participação comunitária, o desenvolvimento de habilidades

pessoais, a criação de ambientes saudáveis e a reorganização de serviços de

saúde, entre outros. Assim, a implementação do Programa de Saúde da Família visa

construir práticas e estratégias mais eficazes para enfrentar as necessidades de

saúde e a carência da população.

Segundo orientações do Ministério da Saúde, no PSF as ações são

estruturadas no trabalho em equipe e buscam humanizar as práticas de saúde, com

o objetivo de obter a satisfação do usuário através do estreito relacionamento dos

profissionais com a comunidade. Nesse sentido, o perfil dos recursos humanos em

saúde deve estar voltado para o desenvolvimento de um processo de formação e

capacitação permanente de todos os profissionais envolvidos. (BRASIL, 2004)

38

3.3.8 Programa de Saúde da Família e Atenção Básica à Saúde Mental

Segundo Tenório (2002), a implantação do PSF, no Brasil, iniciou-se nos anos

90 com o objetivo de tomar a família, em seu contexto sociocultural de vida, como

alvo central da atenção. Com relação às ações de saúde mental no PSF estas se

concretizam quando há respostas às necessidades sociais que pedem por

transformações na assistência psiquiátrica tradicional. As equipes são responsáveis

pelo acompanhamento de um número definido de famílias e se propõem a atuar com

ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e

agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade.

A implementação de uma Política de Saúde da Família como estratégia de

apoio ao SUS em resposta às demandas do movimento pela a Reforma Sanitária

propiciou o repensar das práticas profissionais no âmbito da saúde e uma profunda

reflexão sobre os valores e conhecimentos de todos os envolvidos no processo de

produção social da saúde (TENÓRIO, 2002).

Pitta (2001) afirma que é preciso que haja uma mudança total em toda política

dos serviços de saúde mental, devendo englobar os profissionais de saúde mental,

os usuários, as famílias dos usuários e a comunidade. Da mesma forma que o

portador da doença mental, a família precisa ser incluída na terapia de atenção ao

doente mental no PSF. A falta de informação sobre os transtornos mentais podem

aumentar as complicações, portanto, o PSF precisa interagir com o paciente e seus

familiares.

39

CONCLUSÃO

Após a leitura dos textos que permitiram o desenvolvimento deste estudo,

algumas conclusões puderam ser equacionadas, como as que envolvem a terapia

familiar.

Acredita-se que a terapia familiar propicia aos familiares o acesso a Uma

grande parte das informações que precisam sobre transtornos mentais e sobre o

diagnóstico específico dado para o seu familiar doente. Estas sessões permitem a

todos fazer perguntas e aprender mais sobre a doença, para que eles possam

compreender adequadamente as dificuldades colocadas por seus sintomas e o

comportamento da pessoa que está doente. Muitas vezes, o indivíduo que tem

problemas consegue também falar sobre seus sintomas, e assim, facilita para a

família entendê-lo melhor.

A terapia familiar também incentiva a discussão sobre problemas particulares

e a melhor forma de resolvê-los, e ainda leva a discussão sobre planos de

recuperação. Os terapeutas devem encorajar todos a ouvir uns aos outros e

considerar a opiniões de todos, inclusive do doente.

Entende-se que a mudança das diretrizes da assistência em saúde mental,

optando pelo atendimento em regime aberto, implica em uma importante mudança

da relação do profissional de saúde mental com as famílias dos pacientes,

importantes parceiras no processo de reabilitação. A falta de orientação às famílias

pode fazer com que eclodam conflitos e descompassos entre o paciente e a

dinâmica familiar, com prejuízos para o processo terapêutico.

As famílias estão se deparando com sérios desafios advindos tanto de SUS

demandas internas quanto do seu meio social. À medida que não conseguem

soluções adequadas para os desafios, elas expressam suas dificuldades por meio

de inúmeros problemas (dificuldades de relacionamento, membros problemáticos,

doenças). A compreensão dessas dificuldades dentro da ótica apontada coloca

como fundamental o deslocamento do eixo do atendimento dos obstáculos

individuais para os familiares. Isto requer uma revisão dos processos de atenção aos

grupos familiares (espaço institucional, modelo assistencial, políticas sociais), para

que estes possam colocar a família e não os seus membros individualmente no

centro de suas propostas.

40

REFERÊNCIAS

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42

INDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO 1 – TERAPIA FAMILIAR 10 1.1 Conceitos iniciais 10 1.2 Psicose e terapia familiar 11 1.3 Aprender sobre os transtornos mentais’ 12 CAPÍTULO 2 – A INTERVENÇÃO FAMILIAR NO APARECIMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

18

2.1Estimulação de sentimentos de remorso, preocupação e/ou culpa 18 2.2 Estimulação de sentimentos de inferioridade e/ou dependência 21 2.3 Comportamento opositor e aversivo 22 CAPÍTULO 3 – A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NOS PROJETOS TERAPÊUTICOS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL

25

3.1 O lugar da família nos serviços de assistência psiquiátrica 25 3.2 Algumas limitações no trabalho com a família de baixa renda 27 3.2.1 A necessidade de atendimento à família na assistência psiquiátrica

28

3.3 Conhecendo um pouco sobre os serviços de saúde mental no Brasil 32 3.3.1 Saúde mental 32 3.3.2 Conceito de transtorno mental 33 3.3.3 Atenção básica à pessoa 34 3.3.4 Atenção aos transtornos mentais 34 3.3.5 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 34 3.3.6 Saúde pública no Brasil 35 3.3.7 Programa de Saúde da Família 36 3.3.8 Programa de Saúde da Família e Atenção Básica à Saúde Mental 38 CONCLUSÃO 39 REFERÊNCIAS 40 INDICE 42

43

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Universidade Cândido Mendes

Terapia de família em saúde mental

Leila Regina da Silva Pretes

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