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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA NATAÇÃO PARA BEBÊS. Por: Caroline Corrêa da Costa Orientador Prof. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA NATAÇÃO PARA

BEBÊS.

Por: Caroline Corrêa da Costa

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA NATAÇÃO PARA

BEBÊS.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade

Por: Caroline Corrêa da Costa.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, a minha família, que me permitiu estar e chegar

até aqui, através do amor, incentivo, cooperação e apoio.

Aos meus amigos de turma, pelos momentos de ajuda e cooperação, e

também pelos momentos de felicidades fora e dentro da sala de aula.

E a Deus, por minha existência, e sem ele não estaria aqui em busca de um

maior conhecimento e sabedoria.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores, que me passaram seus

conhecimentos atuais sobre a Psicomotricidade de uma forma tão carinhosa,

em especial a Professora Fátima Alves pela atenção e apoio dado.

Agradeço ainda, aos alunos por confiarem tanto em nosso trabalho e

nos fazer feliz, por isso.

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EPIGRAFE

Há um menino, há um moleque

morando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto fraqueja

ele vem pra me dar à mão.

(Milton Nascimento)

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RESUMO

O presente estudo abordou como tema A influência da Psicomotricidade

na natação para bebês, tendo como estudo as aulas de natação para bebês

que são executadas em muitos clubes e academias pelo mundo . Se tem como

objetivo neste estudo analisar a importância da Psicomotricidade nessas aulas

citadas já acima. Foi abordado um embasamento teórico , buscando na

literatura a Psicomotricidade dentro da água , dando assim um maior auxilio

aos profissionais que atuam nessa área.

Palavras chaves: Psicomotricidade . Água . Bebês , Relacional afetivo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Meio Liquido 12

CAPÍTULO II –Conceito da Psicomotricidade 14

2.1 - Conceitos de Funcionais 14

2.2 - Conceitos Relacionais 17

CAPÍTULO III - Desenvolvimento Motor 20

3.1 - Movimentos Reflexos 25

3.2 - Desenvolvimento Cognitivo 29

3.3 - Desenvolvimento Psicossocial 34

CAPÍTULO IV Importância da Participação da Mãe 38

CAPÍTULO V – Ludicidade 39

CAPÍTULO VI– Reflexos em Função da Natação 40

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 44

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Problematização

A vida começou na água, e o retorno ao mesmo elemento recria uma

associação de lugar e de tempo, ajudando a fazer renascer a memória tão viva

das múltiplas posições fetais intra-uterinas. Depois dos nove meses de vida

aquática, o bebê torna-se momentaneamente um ser incapaz de se deslocar

por seus próprios meios na terra, mas potencialmente apto a encontrar uma

motricidade, uma desenvoltura na água. E o que isso tem a ver com a natação

para bebês? Os desenvolvimentos podem ser auxiliados e estimulados na

natação.

O bebê já é adaptado ao meio líquido desde a gestação, são capazes de

executar diversos movimentos natatórios, demonstrando uma série de reflexos,

comuns na primeira infância. Tudo através de estímulos estereoceptivos, ou

seja, atividades que busquem facilitar o desenvolvimento dos órgãos sensoriais

das crianças, como o tato, a audição, o olfato, e a visão. O ideal é que a

musicalidade também faça parte das aulas, pois estimulam a memória e

aumenta o vocabulário significativamente.

Um dos momentos mais importantes na natação, segundo Ferreira

(2002), é o exercício constante que se faz com a mãe. É a inteligência

emocional que através de atividades específicas, faz uma aproximação entre

todos os bebês, seus familiares e o professor. Esse contato é de extrema

importância para o desenvolvimento afetivo, já que se sabe que o controle

emocional é basicamente formando aos 02 anos de idade. As aulas são um

momento de partilha entre a mãe e filho, o que faz com que a relação entre

eles se fortaleça. A natação para bebês faz parte fundamental de estudos da

psicomotricidade e através do seu conceito que se faz todo o planejamento.

A partir dos seis meses de idade, o bebê já está apto a fazer natação,

mas para que ocorra a prática saudável, é necessário que a criança passe por

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um exame médico com o pediatra, para que seja avaliada e habilitada a

desempenha ·tais esporte.

A natação é um esporte que estimula o desenvolvimento neurológico da

criança, coordenação motora fortalece sua autoconfiança, além de ser uma

ótima opção de lazer para pais e filhos.

Considerando que o mercado atual para atividade física infantil encontra-

se em fase de expansão, devemos reconhecer a abrangência e as

possibilidades que surgem para as academias com o trabalho de natação para

bebês.

Podemos destacar inúmeros benefícios comprovados aos bebês. Eles

melhoram sua saúde de uma forma geral; desenvolvem as qualidades físicas,

como: força, equilíbrio, agilidade, resistência muscular e cárdio-respiratória;

previnem-se de problemas circulatórios, ortopédicos e respiratórios; descobrem

o prazer nas atividades aquáticas e esportivas; estreitam a relação com seus

pais e adaptam-se naturalmente às atividades de imersão.

De acordo com Ferreira (2002), tendência mundial para a educação

infantil é a valorização da liberdade de expressão, do prazer no aprendizado e

do desenvolvimento espontâneo.

Na natação para bebês isso se reflete dentro da piscina em um ambiente

que estimula a criatividade e as descobertas através da experimentação.

Com a presença das mães na piscina trazemos às crianças tranqüilidade e

felicidade. A turminha de bebês permite que eles iniciem o relacionamento

social com o mundo. Assim destacamos nosso interesse pelos bebês como

Seres Humanos, com emoções, desejos e necessidades sociais e

psicomotoras.

Não objetivam a sobrevivência aquática do bebê. Para reagir em uma

situação de perigo, seria necessário treinar e condicionar o bebê. Limitaríamos

então as diversas e ricas experiências vividas pelo bebê empobrecendo o

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aprendizado e tornando-o mais desgastante, em uma fase do desenvolvimento

psicomotor onde a variedade e o prazer percebido em cada experimentação

têm imenso valor. Salientamos, portanto, que mesmo os bebês que praticam

aulas de natação, devem estar sempre sob a observação de adultos em

piscinas, mesmo que rasas.

Se nós, profissionais da área possibilitarmos as condições ideais

para a prática da Psicomotricidade nas aulas de natação para bebês cada vez

teremos bebês e pais felizes e estaremos certos de contribuir para um

desenvolvimento saudável desta futura geração.

1.2. Problema

Como é trabalhada a Psicomotricidade na natação para bebês?

1.3. Hipótese

A Psicomotricidade na natação tem uma influência no restante da vida dos bebês?

1.4. Objetivo

Investigar a presença da Psicomotricidade na atividade aquática para bebês

1.5 Objetivo específico:

Analisar a Psicomotricidade desenvolvida dentro da água com bebês, explorar

a Psicomotricidade no meio líquido, verificar o comportamento dos bebês

através dessa atividade.

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1.6. Relevância do Estudo

Explorar de certa forma esse tipo de atividade aquática que vem a ser a

natação para bebês, já que possui uma referência bibliográfica ainda um pouco

restrita. Dar uma contribuição para um melhor embasamento teórico para

profissionais atuantes que dirigem esses tipos de aula de natação para bebês.

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CAPÍTULO I

MEIO LÍQUIDO

Para agir e interagir no meio líquido a criança terá que adaptar-se com

diversas propriedades físicas da água como, por exemplo, a densidade, a

densidade relativa, a flutuação, a pressão hidrostática, a fricção, dentre outras.

De acordo com Velasco (1994-a), a densidade é a relação entre a

massa e o volume de uma substância. Ela pode variar de acordo com a

temperatura da água, ou seja, quanto maior a temperatura, maior a densidade.

Baseado nesta propriedade é aconselhável que a temperatura da água em

turmas de adaptação ao meio líquido seja elevada (aproximadamente 32◦), o

que irá facilitar a flutuação. Já a densidade relativa é a relação entre a massa

de um dado volume da substância e a massa do mesmo volume de água

deslocada; todo corpo com densidade relativa menor que 1 pode flutuar (desde

que a densidade relativa da água seja aproximadamente 1).

A flutuação (Princípio de Arquimedes) é caracterizada pelo fato de

quando um corpo está completa ou parcialmente imerso em um líquido em

repouso, ele sofre um empuxo para cima igual ao peso líquido deslocado. É a

força experimentada como empuxo para cima, que atua em sentido oposto á

força da gravidade (VELASCO, 1994-a).

A pressão hidrostática pode ser definida segundo a Lei de Pascal que

afirma que “A pressão do líquido é exercida igualmente sobre todas as áreas

da superfície de um corpo imerso em repouso, a uma dada profundidade”. A

pressão aumenta com a densidade do líquido e com a profundidade. Já sobre a

fricção pode-se destacar o fato de que a diferença sentida na pele do corpo no

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ar para a água é de 790 vezes maior, por isso o ritmo de execução de

movimentos no meio aquático é mais lento que no terrestre.

Na água, a todo instante a criança recebe informações provenientes da

visão, do tato, da audição, dos músculos, da gravidade, da impulsão e das

propriedades citadas acima que serão enviadas ao cérebro e processadas para

que surja uma resposta adaptável e segura; caso estas informações não sejam

interpretadas adequadamente surgirá um comportamento aquático indesejável

(VELASCO, 1994-a)

Desta forma é muito importante que o professor esteja preparado para

oferecer e preservar as condições de segurança e conforto em um meio até

então instável e inseguro para a criança em adaptação. Segundo Velasco

(1994, p.46)

“A aprendizagem da natação para bebês ou crianças, não pode orientar-se como uma simples iniciação desportiva, na medida em que ela se deve basear científica e pedagogicamente no desenvolvimento psicomotor de um ser evolutivo, único e unitário, onde os fatores emocionais, motores e cognitivos devem ser respeitados criteriosamente, pois só assim, tal aprendizagem poder contribuir para uma manutenção holística da sua totalidade dinâmica.”

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CAPÍTULO II – Conceitos da Psicomotricidade

2.1. Conceitos Funcionais

Segundo Bueno (1998) os conceitos funcionais são aqueles cuja ação,

qualidade e mensuração podem ser percebidas e que juntos fazem parte da

formação integral da criança em um tempo e espaço enquadrado. Dentre eles

estão a coordenação dinâmica global, a coordenação motora fina, a postura, o

tônus, o equilíbrio, a respiração, o esquema corporal, a imagem corporal, a

lateralidade, o relaxamento, a organização espacial, a organização temporal, o

ritmo, a estruturação espaço-temporal e as percepções (auditiva, visual, tátil,

olfativa e gustativa).

Todos estes conceitos devem ser levados em consideração pelo

professor de natação desde o momento da adaptação ao meio líquido até o

ensino dos e posterior aperfeiçoamento dos 4 estilos.

De acordo com Bueno (1998), a coordenação dinâmica global é a

capacidade de controle dos movimentos amplos do corpo; divide-se em

coordenação estática, a qual se refere a um bom controle postural e

coordenação dinâmica que se refere ao uso simultâneo de diversos

grupamentos musculares para a execução de movimentos voluntários. Já a

coordenação motora fina é a capacidade de controlar os pequenos músculos

para exercícios refinados; envolve a coordenação viso-manual, viso-motora e

musculofacial.

A postura, segundo a mesma autora, está diretamente relacionada com

o tônus constituindo uma unidade tônico-postural cujo controle facilita a

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possibilidade de canalizar a energia tônica necessária para realizar os gestos,

prolongar uma ação ou levar o corpo a uma posição determinada.

O tônus é a resistência de um músculo à distenção e está presente tanto

nos músculos em repouso quanto em movimento. Segundo Costallat (1990

apud BUENO, 1998), o tônus está subdividido em: muscular que se refere ao

movimento executado; afetivo que está relacionado ao estado de espírito

apresentado e mental que se associa à capacidade de atenção no momento da

ação.

O equilíbrio é a noção de distribuição do peso em relação a um espaço e

a

um tempo e em relação ao eixo de gravidade. Pode ser estático ou dinâmico.

A respiração compreende duas fases: a inspiração e a expiração; a

primeira é responsável pela entrada de ar para a aquisição do oxigênio

necessário para a realização de movimentos e a segunda é responsável pela

eliminação do dióxido de carbono o qual e altamente tóxico para o corpo

humano. Quando a criança tem uma respiração deficiente, o nível de energia é

menor e consequentemente os movimentos ficam prejudicados e

desorganizados (BUENO, 1998).

Segundo Vayer (1984 aputd BUENO, 1998), o esquema corporal

caracteriza-se pela organização das sensações relativas ao próprio corpo, em

relação com os dados do mundo externo. Isso significa dizer que é o

conhecimento cognitivo das diversas partes do corpo e suas respectivas

funções. É um fator muito importante para a formação da personalidade da

criança pois reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e a maturidade.

A imagem corporal, por sua vez, é a impressão que a criança tem de si mesma

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(se é baixa, alta, gorda, magra, etc.), ou seja, é como ela percebe seu próprio

corpo em relação ao espaço dos objetos e das pessoas.

Segundo Bueno (1998), a lateralidade é caracterizada pela capacidade

motora de percepção integrada dos dois lados do corpo. Normalmente por volta

dos 2 anos a lateralidade já está constituída na criança, mas a afirmação se ela

é sinistra ou destra só pode ser feita por volta de 6 a 7 anos.

O relaxamento procura ocasionar uma regulação dos ritmos orgânicos

como respiração e a circulação, dentre outros, levando a descontração

muscular. Caracteriza-se pela noção de tenso, relaxado, duro e mole, e a

criança transfere essas noções para o próprio corpo (BUENO, 1998).

A organização espacial é a capacidade de situar-se em relação ao

mundo exterior, relacionar as coisas entre si e de organizar-se em função do

espaço do qual se dispõe. Segundo Bueno (1998, p.63)

“É a tomada de consciência da situação das coisas entre si. É a possibilidade, para a pessoa, de organizar-se perante o mundo que a cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em seu lugar, de movimentá-las. É ter a noção de direção (acima, abaixo, à frente, atrás, ao lado), e de distância (longe, perto, curto, comprido) em integração. Toda nossa percepção do mundo é uma percepção espacial na qual o corpo é o termo de referência.”

A organização temporal é a capacidade de a criança situar-se em função

da sucessão dos fatos (antes, durante, depois); da duração de intervalos (hora,

minuto, aceleração, freada, andar, correr); da renovação cíclica de certos

períodos (dias da semana, meses, anos, estações); do caráter irreversível do

tempo (noção de envelhecimento, plantas e pessoas).

Já a estruturação espaço-temporal é a relação existente entre os

acontecimentos e o local onde estes ocorrem. Segundo Bueno (1998, p.68),

“Ela permite ao indivíduo não só se movimentar e se reconhecer no espaço, mas também relacionar e dar seqüência a seus gestos, localizar as partes de seu corpo e situá-las no espaço, coordenar sua

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atividade e organizar sua vida cotidiana. Dentro da organização espaço-temporal estão incluídos o tempo, o espaço e o ritmo.”

O ritmo, de acordo com a mesma autora, está presente em todas as

atividades humanas, caracterizando-se por uma sucessão de movimentos

diferentes. A atividade rítmica regulariza a força nervosa e proporciona prazer,

permitindo a flexibilidade, o relaxamento, a independência segmentaria, os

quais são indispensáveis para a aquisição de uma autonomia psicomotora.

2.2. Conceitos Relacionais

Os conceitos relacionais estão ligados a uma visão holística da criança,

ou seja, é a forma como ela interage com o meio, com o espaço, com os

objetos, consigo mesmo e com os outros corpos que estão ao seu redor.

Segundo Bueno (1998), alguns destes conceitos são a expressão, a

afetividade, a agressividade, a comunicação e o limite.

De acordo com a mesma autora, a expressão, seja ela facial ou corporal

é uma forma encontrada pela criança para expor seus sentimentos e a partir

daí o professor poderá observar suas dificuldades e satisfações. É importante

que no processo de adaptação ao meio líquido o professor esteja atento a

todos os tipos de expressões que o bebê manifesta e a partir daí direcionar as

suas tomadas de decisão.

A comunicação, seja ela verbal ou não verbal, é de suma importância

para que a criança estabeleça uma relação com os objetos e as pessoas que a

rodeiam.

Segundo Bueno (1998), “ouvir significa na psicomotricidade ouvir os

sons e captar a forma do mundo interno da pessoa”, sendo assim, muitas

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vezes a comunicação corporal torna-se mais importante que a verbal,

principalmente no que diz respeito ao processo de adaptação para bebês, onde

a linguagem verbal obsoleta não consegue expressar o que realmente sentem.

O professor deve ter a sensibilidade para tentar entender o que cada bebê, na

sua individualidade, tenta comunicar com suas expressões faciais e corporais e

tornar as primeiras experiências na piscina as mais agradáveis possíveis.

A afetividade é muito importante para o desenvolvimento da criança e é

sentida pelo bebê na vida intra-uterina e após o nascimento nas relações mais

íntimas com a sua mãe; com o passar do tempo a criança busca essa

sensação de prazer na relação com outros corpos, e para que a afetividade

ocorra entre bebê e professor é necessário que ambos os corpos estejam

disponíveis, dessa forma, segundo Bueno (1998, p.76)

“para se entrar em contato com a criança, não basta ter excelentes materiais se o principal material que é o seu corpo (o do educador) está em desarmonia, é desconhecido, sem interação com o outro e com o que o outro pode trazer”.

A agressividade é vista segundo Bueno (1998) como uma forma

encontrada pela criança de se comunicar com o outro. Não deve ser levada

pelo professor para o lado pessoal e sim encarada como uma forma que a

criança usa para assumir-se e afirmar sua identidade, não devendo, portanto

ser reprimida e sim orientada. Desta forma, o professor deve atentar para estas

atitudes e tentar direcioná-las para um plano simbólico. Assim, a criança irá

começar a dominar essa demanda agressiva e adaptar-se ao outro, no caso o

professor, que será o responsável pelo processo de adaptação ao meio líquido.

Segundo a mesma autora, o limite não é encarado como sinônimo de

repressão, mas sim baseado na liberdade com responsabilidades. Sendo

assim, cabe ao professor proporcionar o equilíbrio entre o permitir e o proibir.

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Ao chegar ao novo ambiente, a piscina, a criança ainda não conhece os limites

externos desse território, ou seja, o referente às noções espaciais, temporais, à

relação entre os desejos das pessoas, etc., desta forma, o professor terá a

responsabilidade em mostrar a ela tais limites, facilitando assim a sua

adaptação. Outro tipo de limite é o interno, que se refere a nossa essência e

esta relacionada ao toque, ao prazer ao desprazer, ao desafeto e a todas as

experiências impressas em nosso corpo. É muito importante que o professor

respeite esse limite interno da criança, não sendo invasivo e nem insistente no

que diz respeito a essa comunicação corporal, pois isso pode afetar

negativamente todo o processo de adaptação.

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CAPÍTULO III - Desenvolvimento Motor

Para que o processo de adaptação ao meio líquido seja efetivo, é

necessário que o profissional envolvido tenha consciência das fases de

desenvolvimento motor de seus alunos. Além disso, ele também deve se

apropriar do conhecimento que:

Cada criança é um indivíduo único que nunca reagirá exatamente da mesma maneira. O ambiente hereditário e empírico das crianças e as exigências específicas das tarefas motoras têm efeito profundo no índice de obtenção das habilidades motoras rudimentares da primeira infância. (Gallahue e Ozmun (2003, p.192)

Sendo assim, o profissional deve ter uma visão holística de seus alunos

e não esperar que todos executem o que foi proposto com a mesma eficiência,

ainda que tenham a mesma idade.

Segundo ainda estes autores, nos primeiros estágios de

desenvolvimento o bebê interage com o ambiente basicamente através dos

movimentos. Desta forma ele deve começar a dominar três categorias básicas

de movimentos: a estabilidade, a locomoção e a manipulação.

A estabilidade está ligada à relação do corpo do bebê com a força da

gravidade; o controle da musculatura em oposição à gravidade ocorre de forma

céfalo-caudal, ou seja, antes de chegar à postura em pé ereta o bebê deve

dominar a musculatura da cabeça, do pescoço e daí pra baixo em direção ao

tronco e às pernas. Desta forma o bebê deverá primeiro controlar a cabeça e o

pescoço, controlar o tronco, sentar-se e aí sim conseguir ficar de pé.

De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), a idade cronológica

aproximada em que as tarefas de estabilidade aparecem estão na tabela

abaixo.

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Tabela 1 Seqüência de Desenvolvimento das tarefas de estabilidade e idade

cronológica aproximada.

Tarefas de Estabilidade Idade Cronológica Aproximada

Controle da cabeça e do pescoço do nascimento aos 5 meses

Controle do tronco do 2º ao 8º mês

Sentar do 3º ao 8º mês

Ficar de pé do 10º ao 12º mês

Sendo assim é importante que o profissional dê o estímulo correto

respeitando a idade cronológica do bebê.

Segundo os mesmos autores, a locomoção está relacionada á

movimentação do bebê pelo ambiente, o que irá facilitar a exploração do

mundo a sua volta, e desenvolve-se apoiada na estabilidade. Esta categoria

básica de movimento ocorre na seguinte seqüência: arrastar-se (entre o 4º e 6º

mês), engatinhar e andar sozinho (entre o 12º e 13º mês).

A terceira categoria básica de movimentos, segundo Gallahue e Ozmun

(2003) é a manipulação, a qual está relacionada à obtenção de contatos

significativos com os objetos do ambiente onde vive o bebê e ocorre na

seguinte seqüência: alcançar, pegar e soltar.

De acordo ainda com estes autores, idade cronológica aproximada em

que estas tarefas ocorrem estão na tabela abaixo:

Tabela 2 Seqüência de Desenvolvimento das tarefas de manipulação e idade

cronológica aproximada.

Tarefas Manipulativas Idade Cronológica Aproximada

Alcançar do 1º ao 6º mês

Pegar (preensão) Pegada reflexiva- nascimento

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Pegada voluntária- do 3º ao 5º mês

Pegada de pinça- 9º mês

Pegada controlada- a partir do14º mês

Soltar Soltura básica- 12º ao14º mês

Soltura controlada- 18º mês

Os professores de natação, principalmente os que trabalham com

adaptação ao meio líquido, devem ter uma visão global dos seus alunos e

trabalharem juntamente com as habilidades específicas do esporte, estas

habilidades motoras rudimentares a fim de otimizar o desenvolvimento de seus

alunos.

Segundo Bueno (1998) há características psicomotoras marcantes de

acordo com a idade cronológica, as quais também devem ser consideradas

pelo profissional no processo de adaptação, para que este se torne mais

efetivo. Dentre elas pode-se citar:

Tabela 3 Características Psicomotoras e Idade Cronológica Aproximada

Idade Cronológica Características Psicomotoras

1º Mês

Reação de atenção inata, começa a olhar, deixa de chorar quando alguém se aproxima; Comunica suas necessidades através do choro;

2º Mês

Segue estímulos com os olhos; Emite sons vocais; Brinca com as mãos; Figuras combinadas podem gerar um sorriso;

3ºMês

Sacode o chocalho involuntariamente; Sorri em resposta a outro sorriso; Sai do estágio reflexo entrando no mundo humano pela comunicação do sorriso;

4ºMês

Aproxima-se dos objetos, apalpando-os; Ri alto, esconde-se; Rola; Começa a orientar-se no espaço;

5ºMês

Pega objetos ao seu alcance; Senta-se com apoio; Leva os pés à boca; O desenvolvimento da preensão muda a visão de mundo;

6ºMês Utiliza seu corpo e objetos no espaço;

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Balbucia;

7º e 8º meses

Procura objetos caídos, joga-os; Simboliza presença e ausência; Simboliza a aceitação e a rejeição, sorrindo ou chorando; Preensão ativa do polegar; Chora quando a mãe não está perto; Reconhece-se alegremente no espelho; Transfere objetos de uma mão para a outra; Imita os atos que lhe interessa; Começa demonstrar compreensão das palavras e emite sons; Engatinha; Vocaliza sílabas;

9º Mês

Mantém-se de pé com apoio; Pega objetos escondidos a sua frente; Movimento de pinça; Primeiras palavras de 2 sílabas para nomear tudo, instituindo-se assim a memória;

10ºMês

Coloca-se em pé sozinho; Repete sons ouvidos; Interrompe a ação ao ouvir ordens; Aprende a falar as primeiras palavras usando sílabas; Instituem-se a noção de defesa e proibição;

11º e 12º meses Desenvolvimento da marcha com noção do espaço físico e simbólico; Entende frases curtas;

15º ao 18º meses Anda sozinho; Maturação neurológica para controle esfincteriano;

2 anos

Noção de totalidade corporal (mas não relaciona as partes); Reconhece diferença sexual; Salta com os dois pés juntos; Real confuso com a fantasia; Controle total dos esfíncteres; Aumento do vocabulário.

Segundo Gallahue e Ozmun (2003) a criança de dois anos, encontra-se

no início da infância, fase onde a brincadeira é sua principal ocupação e de

suma importância para o seu desenvolvimento. Desta forma, o processo de

adaptação ao meio líquido deve ser encarado por ela como mais uma

brincadeira e para que isso ocorra o professor deve estar preparado para

proporcionar as experiências mais agradáveis possíveis, tornado o ambiente

aquático um local onde ela irá poder fazer o que mais gosta, ou seja, brincar.

Além disso, de acordo com estes autores, neste período a criança

começa a desenvolver o sentido de autonomia e o de iniciativa. A autonomia é

caracterizada pela crescente independência que pode ser observada no

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negativismo presente nesta faixa etária, ou seja, a criança responde não a

quase toda pergunta direta como forma de afirmar a sua capacidade de

escolha. Durante o processo de adaptação é comum que ela responda de

forma negativa às sugestões feitas pelo professor e se ele não for sensível o

suficiente, não irá perceber até que ponto aquela criança realmente não quer

fazer o que está sendo proposto ou se respondeu de forma negativa apenas

para afirmar a sua autonomia. É importante então, que o professor atente para

este fato para não retardar a entrada na piscina de uma criança que já esteja

pronta para tal.

A iniciativa pode ser observada na curiosidade e no comportamento

exploratório e muito ativo das crianças dessa faixa etária; elas se envolvem

facilmente com novas experiências pelo simples fato de sentirem-se capazes

de fazer o que está sendo proposto. Sendo assim, o professor pode usar a

iniciativa espontânea da faixa etária como um facilitador no processo de

adaptação ao meio líquido, oferecendo materiais e vivências que interessem e

desperte na criança a vontade de participar (GALLAHUE, OZMUN, 2003).

No aspecto físico e motor, as habilidades perceptivo-motoras estão

desenvolvendo-se rápido, mas ainda existe confusão na consciência corporal,

espacial e temporal; as crianças são muito ativas e preferem correr a andar,

precisando, porém de períodos curtos de descanso. A coordenação motora fina

ainda não está totalmente estabelecida, porém a global desenvolve-se

rapidamente (GALLAHUE, OZMUN, 2003).

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3.1. Os Movimentos Reflexos

Segundo Gallhue e Ozmun (2003), os reflexos são as primeiras formas

de movimento humano e fornecem dados interessantes sobre o processo de

desenvolvimento motor, surgindo e sendo inibidos em um período previsível

tanto em termos de ritmo quanto de seqüência. Muitos movimentos reflexos

depois de determinado tempo tornam-se movimentos voluntários, à medida que

o córtex cerebral gradativamente amadurece. Sendo assim é importante que o

profissional que trabalha com bebês conheça os principais deles, a fim de

otimizar o processo de adaptação ao meio líquido.

Dentre eles pode-se citar os reflexos primitivos e os posturais. Dentre os

primitivos estão: o reflexo de moro, que segundo ainda os mesmos autores

está presente desde o nascimento até o sexto mês de vida e caracteriza-se por

uma repentina distenção e dobramento dos braços e expansão dos dedos; as

pernas e dedos dos pés realizam as mesmas ações, mas com menos vigor.

Este reflexo pode ser provocado quando o bebê é colocado em posição supina

e são dadas leves batidas em seu abdome ou quando é produzido um

sentimento de insegurança.

O reflexo de Babinski o qual está presente até o quarto mês de vida e é

provocado por um choque na sola do pé, onde a pressão causa distensão dos

dedos. A medida que o sistema neuromuscular amadurece este reflexo é

substituído pelo reflexo plantar, o qual pode persistir até o 12º mês, que

consiste na contração dos dedos dos pés quando a sola é estimulada.

Ainda segundo Gallahue e Ozmun (2003) há também o reflexo tônico

assimétrico e simétrico do pescoço. O primeiro ocorre quando ao virar a

cabeça para o lado do estímulo, os membros do lado facial do bebê estendem

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e os do lado oposto flexionam. O segundo se dá em uma posição sentada e

apoiada, quando a distenção da cabeça e do pescoço produz a distenção dos

braços e flexão das pernas e se a cabeça e o pescoço estiverem flexionados

os braços irão flexionar e as pernas estender. Estes reflexos estão presentes

desde o nascimento, se convertendo em automatismo com a sustentação da

cabeça.

Dentre os reflexos posturais os autores destacam: o reflexo corretivo

labiríntico que pode ser provocado quando seguramos o bebê em posição

ereta, inclinado para frente, para trás ou para o lado. Ele vai reagir tentando

manter a cabeça ereta, movendo-a em sentido oposto ao do deslocamento do

seu tronco. O reflexo corretivo visual ocorre da mesma forma, porém pode-se

observar os olhos do bebê acompanhando a direção para cima da cabeça. O

reflexo corretivo labiríntico aparece no segundo mês de vida e persiste até o

sexto quando dá lugar ao reflexo corretivo da visão, o qual continua até o

primeiro ano de vida. Ambos os reflexos ajudam o bebê a manter eretos a

cabeça e a postura corporal, contribuindo para o movimento para frente do

bebê, por volta do final do primeiro ano.

O reflexo de pára-quedas ocorre em reação a uma súbita força

deslocadora ou quando o equilíbrio não pode mais ser mantido. Desta forma

quando o bebê é seguro verticalmente no ar e inclinado em direção ao solo, ele

estende os braços para baixo como se quisesse amortecer a queda, ou quando

o bebê é seguro na posição ereta e rapidamente abaixado em direção ao solo

os membros inferiores estendem-se, enrijecem-se e abduzem-se. Estas

reações aparecem por volta do 4º mês. Outra forma de manifestar este reflexo

é quando na posição sentada empurramos levemente o bebê gerando um

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desequilíbrio para frente ou para trás. Cada uma destas reações estará

presente além do primeiro ano de vida e são necessárias para que o bebê

aprenda a andar.

O reflexo corretivo do pescoço ocorre quando o bebê é colocado em

decúbito dorsal com a cabeça voltada para um lado; ele tende a mover o

restante do corpo para a mesma direção da cabeça. Primeiro os quadris e

pernas e depois o tronco. Este reflexo desaparece por volta dos 6 meses de

idade. O reflexo corretivo do corpo é exatamente o oposto, quando posto em

deitado na posição lateral, com pernas e tronco voltados para certa direção, o

bebê voltará sua cabeça na mesma direção e colocará o corpo em alinhado

com a cabeça. Este reflexo aparece por volta do 6º mês e continua até

aproximadamente 18 meses de idade. É este reflexo que forma a base para o

rolamento voluntário que ocorre no final do 5ºmês.

Ainda de acordo com os autores, o reflexo de engatinhar pode ser

observado quando o bebê é colocado em posição inclinada e aplicamos uma

pressão sobre a sola de um dos pés; ele irá engatinhar usando tanto membros

superiores quanto inferiores. Este reflexo está presente desde o nascimento

até aproximadamente o 4º mês de vida. É importante ressaltar que há um

intervalo entre o ato reflexivo e o voluntário de engatinhar; o último ocorre por

volta dos sete meses.

O reflexo primário de caminhar está presente desde as primeiras

semanas de vida até aproximadamente o quinto mês e manifesta-se quando

colocamos o bebê seguro em postura ereta, com o tronco inclinado para frente;

ele irá reagir “caminhando” com um movimento que envolve somente as

pernas.

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O reflexo de natação ocorre quando colocamos o bebê em posição

inclinada, imerso ou um pouco acima do nível da água e ele realiza

movimentos rítmicos extensores e flexores de natação nas pernas e nos

braços. Este reflexo está presente desde o nascimento até aproximadamente o

quarto mês de vida.

Segundo Damasceno (apud Depelseneer (1989), Coriat (1977) e

Cirigliano(1981), ainda há outros reflexos que devem ser de conhecimento dos

profissionais que lidam com bebês. Dentre eles estão: o reflexo palpebral que

ocorre quando qualquer objeto (neste caso a água) toca na superfície da

córnea, conjuntiva ou cílios e como resposta há a contração do músculo

orbicular das pálpebras com conseqüente fechamento das mesmas. Este

reflexo está presente desde o nascimento até os dois anos de idade.

O reflexo de precipício ou de efeito visual ocorre quando o bebê

encontra-se em uma situação de precipício ou abismo visual e como resposta

ele percebe a profundidade evitando o local. Este reflexo está presente entre

os três e seis meses de vida. Daí atitude de alguns bebês de lançar o corpo

para trás quando, ao se encontrarem sentados na borda da piscina, perdem o

equilíbrio. E até mesmo o medo que outros apresentam de entrar na piscina, a

qual naquele momento tem para eles o significado de um abismo, de algo

fundo e desconhecido como um precipício. É neste momento que o professor

deve estar preparado para entender os medos deste bebê e tentar tornar o

processo de adaptação o mais prazeroso possível.

O reflexo de Gerônimo caracteriza-se pela atração pelo vazio, ou seja

pelo espaço físico que gere algum tipo de atrativo para o bebê, fazendo com

que a criança lance-se a ele. Mais uma vez o profissional deve estar de

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prontidão a fim de evitar que algum bebê pule na piscina sem sua inspeção.

Este reflexo está presente entre os cinco e nove meses de idade.

Ainda segundo Damasceno (1994) há também o reflexo de bloqueio de

glote e o reflexo à precipitação. O primeiro é estimulado por qualquer agente

físico que entre de repente em contato com o rosto do bebê; como resposta ele

irá realizar um leve bloqueio da glote. Este reflexo está presente desde o

nascimento até aproximadamente o 12º mês de vida, podendo estender-se em

crianças que desmamam tardiamente. É importante que o profissional tenha

conhecimento desde reflexo para que no momento da imersão ele esteja

orientando àquelas mamães mais inseguras que a probabilidade do bebê

engolir água é muito pequena devido à existência desde reflexo. O segundo

reflexo é estimulado quando qualquer atitude desafiar a estabilidade do bebê;

ele como resposta estende os braços colocando as palmas das mãos abertas

sobre o plano de apoio. Este reflexo está presente entre o 5º e 6º mês e tem

extinção tardia.

3.2. Desenvolvimento cognitivo

No aspecto cognitivo existe uma habilidade crescente de expressar

pensamentos e idéias verbalmente, desta forma o professor pode usar este

artifício, ouvindo e participando da conversa como uma forma de criar vínculos

com a criança e posteriormente conquistar a sua confiança para a entrada na

piscina.

Segundo Piaget (1926), o desenvolvimento cognitivo se realiza em

estágios, onde ocorre a construção contínua de estruturas mentais cada vez

mais complexas, oriundas de interação indivíduo e meio. São quatro os

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estágios de evolução intelectual: o primeiro é o sensório-motor que se inicia

quando a criança nasce; o segundo é o pré-operacional, que vai dos dois aos

sete anos; o terceiro é o das operações concretas, que vai dos sete aos doze

anos e o quarto é o operatório formal, que começa por volta dos doze anos e

estende-se até a vida adulta. Como este trabalho limita-se à crianças de até

dois anos, só haverá ênfase nos dois primeiros estágios.

Segundo o autor, no estágio sensório motor a atividade intelectual é de

natureza sensorial e motora: o bebê percebe o ambiente e age sobre ele; o ato

de aprender se confunde com a ação e o desenvolvimento da inteligência está

subordinado ao agir, isto é, o bebê só conhece aquilo que toca, amassa,

lambe,etc. Este estágio apresenta seis subestágios. O primeiro é o ‘Reflexo’

que vai de zero a um mês, onde o bebê exerce os reflexos presentes no

nascimento. O segundo o de ‘Reação Circular Primária’ que vai de um a quatro

meses e envolve a coordenação de reflexos e reações. Os movimentos das

mãos passam a coordenarem-se com o dos olhos; o bebê olha para aquilo que

ouve; tenta alcançar objetos, agarra-os e chupa-os. O terceiro é o de ‘Reação

Circular Secundária’ que vai dos quatro aos doze meses e caracteriza-se por o

bebê começar a prever as conseqüências de suas ações e repetir

intencionalmente as reações que produzem resultados interessantes. Baseado

nisso, o professor deve ter a sensibilidade suficiente para não retirar o bebê da

piscina toda vez que ele chorar, pois ele irá associar o ato do choro à saída da

piscina. Neste estágio, o bebê passa a interessar-se pelo mundo objeto e

começa a procurar por objetos que tenha perdido de vista.

O quarto subestágio, segundo Piaget (1926) é o da ‘Coordenação de

Esquemas Secundários’ que vai dos dez aos doze meses, onde o bebê

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começa a combinar ações para conseguir o que deseja, como pular da

plataforma para pegar um objeto que esteja boiando na piscina. O quinto é o

das ‘Reações Circulares Terciárias’ que vai dos doze aos dezoito meses e

caracteriza-se pela experimentação ativa, a exploração, a variação e

modificação do comportamento; não raro é encontrar bebês nesta idade que

um dia chegam muito bem dispostas à piscina e no outro não querem nem

entrar na água. Nesta fase o bebê parece estar muito interessado em

novidades e manifesta uma grande dose de curiosidade, o que pode ser

utilizado pelo profissional como gancho para criar uma empatia com a criança,

oferecendo-lhe materiais atrativos.

O sexto e último subestágio é o ‘Início do Simbolismo’ que vai desde os

dezoito meses até dois anos, onde o bebê começa a representar mentalmente,

usa imagens, palavras ou ações para dar significado aos objetos e

acontecimentos, mesmo àqueles que não são imediatamente observáveis. É

nesta fase que o bebê começa a apresentar um pensamento rudimentar e seu

universo será ampliado com o início da aquisição da linguagem.

Para Piaget (1926), o estágio pré-operacional vai desde os dois anos de

idade até aos seis ou sete. Nesta fase a criança desenvolve a capacidade

simbólica, onde não há a dependência única de suas sensações, de seus

movimentos, de suas interações diretas com o ambiente (como ocorre no

estágio sensório-motor); ela é capaz de manipular símbolos mentais (imagens

ou palavras) que representam o ambiente. A criança além de perceber,

discrimina, representa mentalmente, sonha, inventa, é extremamente

fantasiosa e mágica; dá vida, movimento, alma, vontade e poder às coisas que

a rodeiam. Os animais e os objetos andam, falam, cantam têm poderes e

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características humanas, ela não discrimina a realidade externa da fantasia.

Daí a importância do professor em fazer com que este novo ambiente, a

piscina, esteja inserido em um plano de faz de contas, onde a criança possa

imaginar tudo aquilo que a água pode ter de bom como peixes, sereias,

príncipes e princesas.

Existem ainda neste estágio, segundo o mesmo autor, algumas

características do pensamento como o egocentrismo, a centralização, os

estados e transformações, a irreversibilidade, a concreção, o raciocínio

transdutivo, o antropomorfismo, o animismo e o finalismo.

O egocentrismo carateriza-se pelo fato de a criança de dois anos

considerar quase tudo em função de si mesma, ou seja, o que acontece ao seu

redor está totalmente vinculado a ela e às suas vontades; ela é incapaz de

raciocinar qualquer outro ponto de vista que não seja o seu (PIAGET, 1926).

Por isso a maioria das crianças precisa de um período de adaptação quando

passa de um trabalho individual para um em grupo, na turma, onde terão que

dividir não só os materiais, mas principalmente o professor que até então tinha

toda atenção voltada só para ele. Para crianças nessa faixa etária, ainda é

muito difícil entender que além dela existem outros ao seu redor

compartilhando dos mesmos interesses e recebendo a mesma atenção. Cabe

então ao professor tornar a passagem para esta nova etapa a mais agradável

possível mostrando a essa criança que ela é tão importante quanto às demais

do grupo e, não rotulá-la como egoísta e manhosa.

Segundo Bueno (1998), o trabalho em grupo é de suma importância no

que diz respeito ao processo de sociabilização e integração da criança em seu

meio social. Em grupo, a criança é desenvolve a comunicação, o saber

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esperar, o seu limite e o do outro, enfim essa vivência provoca um

amadurecimento essencial para a vida futura.

A centralização relaciona-se com a tendência que a criança tem de

centrar a sua atenção em uma dimensão do estímulo, sendo incapaz de levar

em consideração mais de uma dimensão ao mesmo tempo (PIAGET, 1926)

Os estados e transformações caracterizam-se pela tendência da criança

em focalizar os sucessivos estados de um acontecimento, em vez de fazê-lo

em relação às transformações pelas qual um estado muda para o outro. Ou

seja, ela não consegue reconhecer uma transformação (PIAGET, 1926).

De acordo com Piaget (1926), a irreversibilidade refere-se à

incapacidade da criança de voltar ao ponto de origem, entender que certos

acontecimentos são reversíveis e a concreção caracteriza-se pelo fato da

criança desta idade, embora consiga manipular símbolos, apresentar-se

essencialmente concreta. Ela apenas examina rapidamente os símbolos,

procurando acontecimentos como se participasse deles. Por exemplo: a

criança ao vir o maiô ou a sunga, imediatamente, relaciona com a ida à

natação.

O raciocínio transdutivo refere-se ao fato da criança chegar a conclusões

partindo do particular para o particular e não do particular para o geral ou vice-

versa; ou seja, para ela se dois fatos ocorrem ao mesmo tempo, um é causa do

outro (Piaget, 1926). Baseado nesta característica, o professor deve estar

atento às suas tomadas de decisão para que a criança não associe a presença

no meio líquido como causa de situações desagradáveis.

O antropomorfismo é a atribuição de características humanas a seres

não humanos e o animismo é a tendência a conceber as coisas como vivas,

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com qualidades e características humanas (Piaget, 1926). O professor pode

valer-se desta característica para tornar a adaptação mais prazerosa,

atribuindo aos materiais disponíveis características humanas, como por

exemplo: dizer que a prancha vai ficar muito chateada se ela (a criança) não

quiser entra na água para brincarem juntas.

O finalismo é caracterizado pelo fato da criança querer saber a finalidade

das coisas. É quando aparecem os “porquês” (Piaget, 1926).

3.3. Desenvolvimento psicossocial

Erickson (1980, apud, GALLAHUE, 2003) concentrou-se na influência da

sociedade sobre o desenvolvimento. Sua teoria descreve oito estágios

colocando-os em série contínua, enfatizando os fatores ambientais como

propiciadores de alterações e não a hereditariedade. Erickson deixa clara a

importância de experiências motoras, orientadas com sucesso, com o propósito

de ajustar as crises desenvolvimentistas que toda pessoa enfrenta.

Sua teoria chama-se Teoria de Desenvolvimento Psicossocial e é

dividida em oito estágios que estão diretamente relacionados à experiência.

São os seguintes: confiança versus desconfiança; autonomia versus dúvida e

vergonha; iniciativa versus culpa; atividade versus inferioridade; identidade

versus confusão de papéis; intimidade versus isolamento; produtividade versus

auto absorção e integridade versus desespero. Como este trabalho está

relacionado às crianças de até dois anos, será dada ênfase apenas aos dois

primeiros estágios.

O estágio de aquisição de um senso de confiança básica versus falta de

confiança ocorre durante o período neonatal e está diretamente relacionada às

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experiências entre o bebê e sua mãe. A última ao satisfazer as necessidades e

exigências do neonato através do movimento, como dar banho, embalar para

dormir, brincar, etc, criará um vínculo de confiança entre ambos, entre o bebê e

o ambiente e entre o bebê e si mesmo. Este vínculo deve estar baseado em

um sentimento de conforto físico e no mínimo possível em medo e incertezas,

os quais poderão levar à desconfiança. A criança que possui um sentimento de

confiança básica, será um indivíduo mais receptivo à novas experiências.

Baseando-se na teoria de Erickson, os profissionais que trabalham com

crianças, devem ter um olhar diferenciado quando seu aluno recusar-se a

realizar uma atividade nova, não devendo rotulá-los de “manhosos e cheios de

vontade”. De repente esta criança pode não ter tido este sentimento de

confiança básica no período neonatal o que gerou a desconfiança diante de

uma nova experiência.

Ainda de acordo com Erickson(1980), o segundo estágio é o de

aquisição de um sentimento de autonomia versus dúvida e vergonha e ocorre

durante a primeira infância, ou seja até os dois anos. É importante que durante

esta fase a criança afirme sua autonomia como um estágio normal do

desenvolvimento psicossocial, tendo orientação e apoio, e não crie uma

dependência contínua a qual pode levar à dúvida, à vergonha e a falta de

consciência de si mesma como um ser autônomo.

Sendo assim é importante que o profissional esteja atento para não

adotar um comportamento excessivamente repressor o qual pode levar à

dúvida e à vergonha e permitir que em alguns momentos a criança afirme sua

vontade e estabeleça um rudimentar senso de independência como por

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exemplo deixar que lê escolha a forma como quer nadar até a outra borda da

piscina, ou com que cor de prancha ela quer nadar, etc.

Outra característica interessante nesta fase, segundo Erickson(1980) é

que “as crianças violam a confiança mútua que foi estabelecida com outros, a

fim de estabelecer sua autonomia em áreas distintas.” Desta forma por mais

que o profissional conheça seu aluno, ele não deve pedir por exemplo para que

ele fique sentado na borda e não pule na piscina e dar às costas para essa

criança, pois devido à característica citada acima, é bem provável que ela pule

e possa sofrer algum tipo de trauma físico ou psicológico, criando assim um

empecilho no processo de adaptação.

Segundo Gallahue e Ozmun (2003), no aspecto afetivo, observa-se que

a criança frequentemente tem medo de situações novas, por isso a

necessidade da adaptação ao meio líquido ser efetiva, uma vez que é um

ambiente desconhecido por ela. Nessa idade ela está aprendendo a distinguir o

certo do errado e apresenta comportamento instável, devendo o professor estar

consciente desta irregularidade comportamental e direcionar a adaptação da

melhor maneira possível.

Segundo Gesell (1992, apud, MASSAUD; CORREA, 2004), aos dois

anos, a criança tem uma maior maturidade e prontidão para fazer aquilo que é

capaz, sem tentar teimosamente fazer aquelas coisas que não consegue. Além

disso, está segura de si tanto no domínio motor quanto no da linguagem.

Emocionalmente desenvolveu a capacidade de esperar e de suportar ligeiras e

temporárias frustrações. Aos dois anos e meio, ela se encontra em

desequilíbrio acentuado. A criança desta idade tende a ser rígida e inflexível

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Outra característica desta faixa etária é o fato da criança iniciar o

aprendizado do controle das funções fisiológicas que envolvem a área motora:

comer sozinho, controle dos esfíncteres.

Segundo Freud (1973), a criança elabora fantasias sobre seus produtos,

principalmente quando defeca, desenvolvendo o sentimento de que tem coisas

suas que ela produz e que pode ofertar ou negar ao mundo.

Quando o relacionamento é sadio e a criança sente que ama e é amada

pelos pais, o controle dos esfíncteres ocorre naturalmente. O sentimento básico

que fica estabelecido a levará, nas fases seguintes, a sentir confiança em si e

no grupo, devido ao sentimento de aceitação.

No processo de adaptação é necessário também que a criança confie no

professor, o qual deve passar o máximo de segurança para o aluno. Não raro

são as crianças que defecam na piscina, quando esse sentimento não está

bem definido para ela.

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CAPÍTULO IV Importância da Participação da Mãe

A participação da mãe no primeiro contato do bebê com a água é de

extrema importância, pois possibilitará que a criança não estranhe tanto o local

e as pessoas novas que o cercam, com isso, o trabalho de adaptação ficará

facilitado além de fortalecer ainda mais relação mãe-filho.

O bebê é muito sensível aos anseios e à confiança dos pais, ele percebe

e procura corresponder a essa expectativa.

A afetividade é muito importante para o desenvolvimento da criança e é

sentida pelo bebê na vida intra-uterina e após o nascimento nas relações mais

íntimas com a sua mãe; com o passar do tempo a criança busca essa

sensação de prazer na relação com outros corpos, e para que a afetividade

ocorra entre bebê e professor é necessário que ambos os corpos estejam

disponíveis, dessa forma, segundo Bueno (1998, p.76)

Segundo Le Boulch (1982), período que geralmente os bebês entram na

natação, a presença materna é de suma importância para que o bebê sinta-se

seguro e dê continuidade às experiências com o mundo ao seu redor, além

disso, a mãe através da forma de olhar, de tocar, de falar, de brincar com o seu

filho irá estimular seus atos expressivos e sociais. Sendo assim, ela poderá

atuar como uma coadjuvante no processo de adaptação e juntamente com o

professor, transmitir toda segurança necessária para que aos 2 anos ele possa

estar pronto para freqüentar sozinho a turma.

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CAPÍTULO IV – A Ludicidade nas Atividades Aquáticas

As atividades lúdicas na água têm o intuito de levar uma maneira mais

rápida e simples, o prazer e a alegria nas aulas de natação.

Almeida (1998), comenta que os movimentos poderão ser de forma

espontânea e/ ou provocada através destas atividades, para que as crianças

possam realizar em gestos simples, a sua locomoção ao meio líquido.

As aulas de natação no seu aspecto lúdico estão mais voltadas para

orientar e facilitar a capacidade de explorar, de descobrir com a vivência,

dando condições à criança a desenvolver a possibilidade de conhecimento e o

uso do seu próprio corpo com certa autonomia e harmonia.

A importância, enfim, da natação dentro da visão lúdica para crianças na

fase de adaptação é ser um espaço de experimentação, para que a criança

vivencie situações de qualidades variadas, sensações de alternância de tensão

e distensão, prazer e desprazer, acompanhadas da necessidade de

expressividade motora. Tudo isso vai fazer com que a criança perceba seu

próprio corpo a nível motor, cognitivo e afetivo.

O envolvimento lúdico utiliza-se de vários argumentos, interpretações de

personagens conhecidos, histórias, músicas e brincadeiras que despertem a

memória e atenção, e despertando primeiramente o motivo para que a criança

goste de ficar na água e goste também da companhia.

As atividades são caracterizadas pela ausência de vencedores,

procurando imitar situações conhecidas, onde ajudará a desenvolver sua

aprendizagem, utilizando as formas básicas de movimento, como: andar, saltar,

e, os mais específicos na água: flutuação, deslocamento e respiração.

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CAPÍTULO VI– Reflexos em Função da Natação

Segundo Depelseneer (1989); Cirigliano (1981) e Ramaldes (1999), os

reflexos arcaicos espontâneos dos primeiros tempos de vida se bem

aproveitados podem favorecer o desenvolvimento da criança. Quanto mais

cedo o contato com a água melhor aprendem a aplicá-los. Entre eles podemos

citar:

Moro (0 a 4 meses): som alto, mudança repentina, o bebê moverá rapidamente

seus braços para fora.

Palpebral (0 a 24 meses): qualquer objeto (água) que roce a superfície da

córnea, conjuntiva ou cílios, ativa a contração do músculo orbicular das

pálpebras com conseqüência oclusão palpebral defensiva.

Tônico Cervical (até sustentar a cabeça): estimulação das terminações

nervosas dos músculos do pescoço que promove a extensão dos membros

para os quais se orienta a face.

Bloqueio da Glote (0 a 6 meses): qualquer agente físico que de súbito entre em

contato com o rosto do bebê leva ao bloqueio da glote.

Gerônimo (5 a 9 meses): espaço físico atrativo faz com que o bebê se lance a

ele.

Para - Queda (6 a 24 meses): qualquer atitude que desafie a estabilidade da

criança faz com que estenda os braços colocando as palmas das suas mãos

abertas sobre o plano de apoio.

Repetição (a partir de 9 meses): qualquer apoio de um plano firme contra a

planta dos pés quando a criança está em decúbito ventral leva a extensão

sucessiva e sincronizada dos membros inferiores.

Saltador (7 até ficar de pé): o que estimula é desconhecido (impulso

psicológico de descoberta do corpo). Já a resposta é rápida e sucessivas

extensões e flexões dos membros inferiores.

Preensão (2 a 3 meses); tocar no meio das palma da mão, os dedos fecham-se

firmemente em torno do que o tocou.

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CONCLUSÃO

Após o desenvolvimento do estudo proposto, conclui-se que a

Psicomotricidade aplicada nas aulas de natação para bebês, tem uma enorme

influência para o desenvolvimento motor do bebê. Interfere não só no momento

da aula como contribui para o restante dos seus momentos diários e terá um

enorme valor em relação a bagagem oculta dessa criança que virá a conviver

com o mundo externo posteriormente.

O profissionais da área de Psicomotricidade tem um grande potencial

para desenvolver os aspectos supracitados e fazer um grande trabalho nesse

tipo de atividade que é a natação para bebês ,a ludicidade das aulas, aliado

com o trabalho mais concreto e não abstrato, facilita o processo de

socialização dos bebês, facilita também nos aspectos psicomotores e

cognitivos que farão a diferença com as demais crianças que não realizaram as

aulas citadas acima.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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CORRÊA, C. R. F. Atividades Aquáticas para bebês. Rio de Janeiro:

Sprint,1999. CORRÊA, C. R. F. & MASSAUD, M. G. Escola da natação – montagem e

administração, organização pedagógica do bebê à competição. Rio de Janeiro: Sprint, edição/2002.

FRANCO, P. Programa de Educação Aquática para Bebês. Convenção Internacional Fitness Brasil, 2002.

GUTIERRES FILHO, P. A psicomotricidade relacional em meio aquático.

Barueri, SP: Manole, 2003. LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até os 6 anos –

A psicocinética na idade pré escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982, 7ª edição/2001.

LEITE, A . Aqui nasce um campeão. Rio de Janeiro: Aqua Baby LTDA, 1989.

LEITE, A . Técnicas de aulas para natação de bebês.Rio de Janeiro: Aqua

Baby LTDA, 1992. LEITE, A . Natação para bebês. Rio de Janeiro: Aqua Baby LTDA, 1995. NAKAMURA, O. F. & SILVEIRA, R. H. S. Natação para bebês. São Paulo:

Ícone,1998.

QUEIROZ, C. A . Recreação Aquática. Rio de Janeiro. Sprint, 1998. RAMALDES, A. M. Natação – cem aulas bebês à pré-escola. Rio de Janeiro:

Sprint, 2ª edição, 1999.

TISI, L. Estimulação precoce para bebês. Rio de Janeiro: Sprint, 2004.

VELASCO, C.G Natação segundo à psicomotricidade Rio de Janeiro: 1994 Sprint.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

DEDICATÓRIA 03

AGRADECIMENTO 04

EPIGRAFE 05

RESUMO 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Meio Liquido 12

CAPÍTULO II - Conceitos de Psicomotricidade 14

2.1 - Conceitos de Funcionais 14

2.2 - Conceitos Relacionais 17

CAPÍTULO III - Desenvolvimento Motor 20

3.1 - Movimentos Reflexos 25

3.2 - Desenvolvimento Cognitivo 29

3.3 - Desenvolvimento Psicossocial 34

CAPÍTULO IV - Importância da Participação da Mãe 38

CAPÍTULO V – Ludicidade 39

CAPÍTULO VI – Reflexos em Função da Natação 40

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 43

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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