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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA CONTOS DE FADAS: SIMBOLOGIA E VIDA Por: Joanna Pereira de Souza Netto Orientadora Prof. Ms. Fátima Alves Co-orientadora Prof. Ms. Dina Lúcia Chaves Rocha Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CONTOS DE FADAS: SIMBOLOGIA E VIDA

Por: Joanna Pereira de Souza Netto

Orientadora

Prof. Ms. Fátima Alves

Co-orientadora

Prof. Ms. Dina Lúcia Chaves Rocha

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CONTOS DE FADAS: SIMBOLOGIA E VIDA

Apresentação de monografia à AVM Faculdades

Integradas como requisito parcial para obtenção do

grau de Especialista em Arteterapia em Educação e

Saúde.

Por: Joanna Pereira de Souza Netto

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AGRADECIMENTOS

Agradeço...

A Deus;

Aos meus pais, meus Semi-deuses (Heróis);

Ao meu namorado Pedro Henrique, meu Ogro;

A minha afilhada Catarina, minha Princesa;

A minha afilhada Nina, minha Boneca;

E a professora Dina Lucia, a Bruxinha boa.

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DEDICATÓRIA

Dedica-se aos meus pais, namorado e

afilhadas.

“Tentei lhe dizer muitas coisas, mais acabei

descobrindo que amar é muito mais sentir do

que dizer. E milhões de frases bonitas, jamais

alcançariam o que eu sinto por você.”

(autor desconhecido)

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Carl Gustav Jung

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RESUMO

Os contos de fadas surgiram de uma variação da fábula (conto popular), cujo

objetivo era reproduzir histórias curtas que transmitisse valores culturais,

passando de geração para geração. Por este motivo, os contos sempre

começam com “Era uma vez...”, enfatizando que os temas não são

cristalizados e seus personagens fazem parte do seu conflito, medos e sonhos

atuais. Suas narrações buscam sempre a realização pessoal do personagem,

tornando assim seu núcleo existencial. Os contos de fadas fazem com que

possamos lidar com os sentimentos, pensamentos etc., diferenciados nas

etapas da vida, e assim, permite criar formas para a convivência e vivencia

com o mundo externo. Assim sendo, os contos de fadas permitem simbolizar

os conflitos inconscientes, indicando um olhar e uma forma de ser e estar no

mundo. Através dos contos, as crianças, que ainda não delimitou as fronteiras

entre o imaginário e o real, se identificam com os personagens e compõe um

repertório próprio para abordar os enigmas do mundo real.

Palavras – chave: contos de fadas, mito, simbolismo.

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ABSTRACT

Fairy tales have emerged from a variation of the fable (folk tale), whose goal

was to play short stories to convey cultural values from generation to

generation. For this reason, the stories always start with "Once upon a time ...",

emphasizing the themes are not crystallized and its characters are part of their

conflict, fears and dreams today. His stories are always pursuing the realization

of the character, thus making its existential core. Fairy tales can make dealing

with the feelings, thoughts, etc.., In different stages of life, and thus allows you

to create forms for the coexistence and experiences with the outside world.

Thus, fairy tales allow symbolize the unconscious conflicts, indicating a look and

a way of being in the world. Through the stories, the children, who still did not

define the boundaries between the imaginary and real, they identify with the

characters and compose our own music to address real-world puzzles.

Keywords: fairy tales, myth, symbolism.

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METODOLOGIA

A pesquisa será desenvolvida através de livros, arquivos, revistas,

sites de pesquisas online etc., tais como: Fadas no Divã: Psicanálise nas

histórias infantis - Diana Linchtenstein Corso e Mário Corso -Ed. Art med;

Contos de fadas: Vivências e técnicas em arteterapia - Adriana Medeiros e

Sonia Branco - Ed. Wak; Mitos e arquétipos na arteterapia: Os rituais para

alcançar o inconsciente - Organizadora: Ligia Diniz - Ed. Wak; Deuses e fadas:

Arteterapia e arquétipos no dia-a-dia - Sonia Branco - Ed. Wak; Brincando com

a criatividade: contribuições teóricas e práticas na arteterapia e na educação -

Dina Lúcia Chaves Rocha - Ed. Wak; Jung – Psicologia analítica e o resgate do

sagrado - Revista viver mente e cérebro – coleção memória da psicanálise -

Editora Duetto – Edição especial n°.: 2; O livro de ouro da Mitologia: Histórias

de deuses e heróis - Thomas Bulfinch - Ed. Ediouro; etc.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Arteterapia 12

CAPÍTULO II - Contos de fadas 18

CAPÍTULO lll - Trabalhando com os Contos: A Teoria na Prática 28

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42

WEBIOGRAFIA 43

ANEXO 44

ÍNDICE 49

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INTRODUÇÃO

Contar história é uma atividade simples e fundamental no nosso

desenvolvimento, desde os primórdios até os dias atuais, os mitos, fábulas e

contos, são narrados para as crianças com o intuito de transmitir valores

humanos e normas de sua sociedade. Profissionais de diversas áreas estudam

e valida à narração das histórias, como uma orientação educacional,

pedagógica e psicológica para com as crianças. Sua importância e atuação são

peças decisivas no desenvolvimento do psiquismo humano.

A humanidade encontrou nos mitos, contos e fábulas, uma forma de

expressar suas experiências mais significativas e objetivas, surgindo assim,

como uma maneira de ensinar e/ou repassar as experiências vividas pelos

homens para seu povo. Essas histórias nos narram acontecimentos externos e

estabelece uma cultura para seus grupos étnicos. Não podemos esquecer-nos

de ressaltar a importância de que todo o conto de fadas, em múltiplas

variações, obtém sempre uma mesma estrutura e falam da busca de uma

plenitude do ser, uma totalidade psíquica.

Na psicologia, encontram-se alguns teóricos pesquisadores dos

contos de fadas e sua importância e simbologia. Na psicanálise, temos Freud,

que interpreta os sonhos como uma representação simbólica do processo

individual do psiquismo. Já para o pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung,

os mitos, lenda e contos de fadas, são representações simbólicas (arquétipo)

do inconsciente coletivo, uma herança arcaica, ou seja, com a própria palavra

de Jung: “Os mitos e contos de fadas dão expressão a processos

inconscientes, e sua narração provoca a revitalização desses processos,

restabelecendo a conexão entre o consciente e o inconsciente”. Com isso, o

psicólogo Jung dedicou seus estudos nos conteúdos implícitos dos contos

Os contos de fadas permitem trazer ao consciente aquilo que estava

obscuro, no inconsciente, simbolizando assim os conflitos internos e

personificando nosso Eu no mundo externo. Através dos contos, obtenha-se

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uma integração com as crianças, onde as mesmas se identificam com as

histórias narradas e reconhecem sentimentos e pensamentos contidos em seu

inconsciente. Os contos oferecem uma reflexão consigo mesmo, e esta

favorece o encontro das crianças com o mundo externo.

Como todas as possibilidades da linguagem, o conto de fada,

permitem compor o repertório imaginário de que cada criança necessita para

chegar aos enigmas do mundo externo e do desejo.

Assim sendo, no primeiro capítulo falará sobre os aspectos da

arteterapia e sua simbologia e objetivo no processo arteterapetico, a

importância dos símbolos e a visão Junguiana na arteterapia. No segundo

momento, o surgimento dos contos de fadas, a importância dos contos na

construção do imaginário infantil e a simbologia do conto de fada A Bela e a

Fera juntamente, com o mito Eros e Psiquê. No terceiro momento, a prática,

técnicas com contos de fadas.

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CAPÍTULO I

ARTETERAPIA

“A finalidade da arte não é agradar. O prazer é aqui um meio; não é, neste caso, um fim. A finalidade da arte é elevar.” (Fernando Pessoa, 1995)

1.1 Simbologia e Objetivo

Existem várias referencias teóricas no campo da arteterapia, os

conceitos são semelhantes, mas pode diferenciar de acordo com a abordagem

que o arteterapeuta segue. Em um todo, arteterapia é o processo terapêutico

que utiliza técnicas de atividades plásticas e sensoriais, trabalhando com a

integração do mundo interno (imaginário) com o externo (imagem produzida),

através da simbologia, assim sendo, um facilitador do processo de expressão

do conteúdo inconsciente (pessoal e/ou coletivo).

De acordo com o texto recentemente atualizado no site da AARJ

(Associação Arteterapeuta do Rio de Janeiro) a AATA, American Association of

Art Therapy (Associação Americana de Arteterapia) diz:

A arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo

envolvido na atividade artística e terapêutica é enriquecedor da

qualidade de vida das pessoas. Arteterapia é o uso terapêutico

da atividade artística no contexto de uma relação profissional

por pessoas que experienciam doenças, traumas ou

dificuldades na vida, assim como por pessoas que buscam

desenvolvimento pessoal. Por meio do criar em arte e do

refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes,

pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros,

aumentar sua auto-estima, lidar melhor com sintomas, estresse

e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos,

cognitivos e emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do

fazer artístico. Arteterapeutas são profissionais com

treinamento tanto em arte como em terapia. Têm conhecimento

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sobre desenvolvimento humano, teorias psicológicas, práticas

clínicas, tradições espirituais, multiculturais e artísticas e sobre

o potencial curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos,

avaliações e pesquisas, oferecendo consultoria a profissionais

de áreas afins. Arteterapeutas trabalham com pessoas de

todas as idades, indivíduos, casais, famílias, grupos e

comunidades. Oferecem seus serviços individualmente e como

parte de equipes profissionais em contextos que incluem saúde

mental, reabilitação, instituições médicas, legais, centros de

recuperação, programas comunitários, escolas, instituições

sociais, empresas, ateliês e prática privada (AATA, 2003 apud

AARJ, 2011).

A palavra arte vem de “ars”, que significa ter habilidade para fazer

alguma coisa. Mas para fazer arte, não basta ser apenas habilidoso, precisa-se

expressar emoção, emitir fantasia e despertar a imaginação. A arte serve para

explicar, educar, desfrutar e conhecer o mundo e a si mesmo. Por isso, como

arteterapeutas, usamos a arte como principal ferramenta de trabalho. Mas que

fique claro, que a arte só funciona como terapia, quando a imagem produzida

revela algo no/para o ser humano, onde a arte em si não importa a beleza e

perfeição, mas sim o sujeito da ação, buscando o significado e a

transformação, para atingir a “cura” através desta arte.

Por tanto, a função do arteterapeuta é de facilitador do processo de

conhecimento e reconhecimento das diversas linguagens expressivas

representadas.

Jung considerava a arte como parte do tratamento psicoterapêutico

e como a expressão mais pura do inconsciente, por considerar a arte um

instrumento essencial no desenvolvimento humano. Estas imagens facilitam

que o individuo chegue a sua singularidade (essência), e a arteterapia sua

simbologia, acessando, cuidadosamente, o mundo interno de cada individuo.

Apenas aquele aspecto da arte que existe no processo de

criação artística pode ser objeto da psicologia, não aquele que

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constitui o próprio ser a arte (JUNG, 1997 apud SANDRA

REGINA SANTOS (org.), 2008. P.144)

Assim sendo, a arteterapia trabalha com a integração do imaginário

com o seu comportamento (imagem produzida). E cabe ao arteterapeuta,

resgatar o processo criador, auxiliar e resgatar as raízes em busca do

autoconhecimento do sujeito através do símbolo, visando à reestruturação do

ser.

1.2 A importância dos símbolos

O símbolo, é o fruto da energia psíquica, é onde possibilita o

compreender e conhecer do mundo interno de cada um. Em sua etimologia,

símbolo vem do grego, symbállon (jへたくてそてち), onde seu significante representa

algo abstrato. Segundo Edinger: “símbolo é uma palavra originaria do grego,

resultante da combinação de SYM + BOLON, significando aquilo que é

colocado junto”. Ou seja, entende-se por símbolo aquilo que por sua forma ou

natureza, determina, representa e/ou substitui aquele objeto ausente.

Os símbolos têm o poder de representar aquilo que as palavras não

conseguem alcançar. Fazem parte do autoconhecimento e transformação. Esta

expressão é utilizada como meio de comunicação do inconsciente para o

consciente do individuo.

O símbolo, as imagens e os mitos revelam aspectos da realidade, os

mais profundos, e desafia qualquer outro meio de conhecimento. São

responsáveis pela revelação dos arquétipos mais secretos do ser, e por isso, o

estudo dos símbolos nos permite conhecer o homem na sua singularidade.

Urrutigaray diz que:

“A função desse objeto não vem do uso que se pode fazer dele

nem de um fim. Sua função é torna-se signo, assim dizendo, de

colocar o sujeito compreensível na ordem de um código e, ao

mesmo tempo, torná-lo significante pela diferença que ela

impõe a esse mesmo código. (URRUTIGARAY, 2003 apud

SONIA BRANCO, 2008, p. 23)

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Na psicologia analítica (Jung), o símbolo se manifesta através do

inconsciente, e pode ser empregado como uma idéia consciente. Essas

manifestações ocorrem através dos sonhos, fantasias e/ou pela imaginação

ativa (técnica). Mas essa revelação simbólica só é permitida através do EGO,

que permite que os conteúdos simbólicos atravessem a barreira do

inconsciente e torna-se consciente, a partir da associação e lembranças do

sujeito.

Por tanto, segundo Jung “o símbolo não seria racional, nem

irracional, mas as duas coisas ao mesmo tempo.” (JUNG, 1964 apud SANDRA

REGINA SANTOS (org.), 2008, p. 48), ou seja, são expressões significativas,

para as quais, ultrapassa a capacidade de formular conceitos.

1.3 Abordagem Junguiana

O homem primitivo usava a arte como meio de comunicação,

desenhava em parede, no chão e fabricava objetos e utensílios rudimentares,

criando assim, símbolos para se comunicar. Assim, perceberam que a arte é

transformadora desde que o mundo é mundo, porém este conceito só foi

considerado após o século 5 a.C, onde existe relatos que na Grécia havia

trabalhos artísticos usados para recuperação e manutenção da saúde. Já na

psicologia, a arte teve seu marco no século XX, retratando problemas

existentes na sociedade, sendo um facilitador da reconstrução sociocultural.

A arte, como terapia na psicologia analítica (Jung), é voltada para o

individuo, fornecendo a ele o acesso para as fronteiras mais profundas de cada

um, ou seja:

Apenas aquele aspecto da arte que existe no processo de

criação artística pode ser objeto da Psicologia, não aquele que

constitui o próprio ser da arte. (JUNG, 1997 apud SANDRA

REGINA SANTOS (org.), 2008, p. 144).

Para Jung, esta arte, seja primitiva ou moderna, vem da essência do

inconsciente coletivo e se manifestam através dos arquétipos.

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Inconsciente apresenta duas camadas: coletivo e pessoal. A camada

mais superficial, que constitui de lembranças reprimidas ou perdidas, e de

percepções sensoriais é o inconsciente pessoal. A camada mais profunda da

psique, constituída de materiais herdados, com traços funcionais (imagens) é o

inconsciente coletivo.

Para Jung, é de total clareza a dificuldade de distinguir os conteúdos

coletivos e pessoais, tendo em vista que ambos estão intimamente ligados.

Os conteúdos do inconsciente pessoal são reconhecidos através das

fantasias e sonhos, no entanto, o inconsciente pessoal e a consciência

“surgem” do inconsciente coletivo, onde guarda todas as pré-disposições do

“vir-a-ser” do Homem em forma de arquétipos.

[...] o inconsciente contém não só componentes de ordem

pessoal, mas também impessoal, coletivo, sob a forma de

categorias herdadas, ou arquetípicas. (JUNG, vol. VII apud

SONIA REGINA SANTOS (org.), 2008, p. 41)

O termo arquétipo vem do grego “archetpon”, que significa “mais

reais do que as próprias coisas” (Platão), o que é original. Assim, arquétipo é

uma aptidão inata que reproduz, constantemente, imagens míticas e fantasias

que surgem a partir do inconsciente coletivo – que se origina das imagens

universais e fazem parte da construção psíquica de toda humanidade. Por toda

via, Jung considera o arquétipo como parte fundamental do processo de

individualização e subjetivação.

A arteterapia proporciona ao individuo o desenvolvimento do

processo de individualização e a se conectar com o seu EU interior e criador,

onde o arteterapeuta, por meio das técnicas expressivas (colagem, pintura,

mosaico, expressão corporal etc.) ou por técnicas que promovem o acesso

psíquico (mitos, contos de fadas e imaginação ativa), desperta e traz para o

mundo externo, conteúdos inconscientes não verbais do ser humano. As

técnicas são ferramentas que os arteterapeuta possuem como um facilitador da

comunicação entre o Psiquê (self) e o Ego.

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Assim sendo, para Jung, a simbolização do inconsciente ocorre

através dos símbolos, e a criatividade um dom inato do ser humano, e com

isso, na medida em que pode estruturar o pensamento, possui uma função em

si mesma. A arteterapia na abordagem junguiana, acredita que a arte é um

instrumento essencial para o desenvolvimento humano e promove a

conscientização da criatividade, criando uma relação de transformação interna

de cada individuo.

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CAPÍTULO II

CONTOS DE FADAS

"Mitos e contos de fadas dão expressão a processos inconscientes e sua narração provoca a revitalização desses processos, restabelecendo assim conexão entre o consciente e o inconsciente.” (JUNG, 1997)

2.1 Contos de fadas e mitos: Diferença

Em diversas culturas, o mito e os contos de fadas são comparados

pela população, não apenas por terem sido originadas através do povo, mas

também por expressar uma realidade coletiva, individual e cotidiana. As

historias ilustram temores, idéias ou desejos que nutrimos inconscientemente,

e por isso, em certas ocasiões essas histórias iluminam os cantos obscuros do

nosso ser. Mas como diferenciar contos de fadas de mitos?

Os contos de fada são variações do conto popular ou fábulas e

podem ou não, contar com a presença de fadas, mas faz parte de sua

característica, a magia, metamorfose e encantamento. Seu núcleo é

existencial, ou seja, os personagens (herói ou heroína) buscam a realização

pessoal e por assim dizer, os contos de fadas oferecem um palco de

possibilidades para representar os conflitos internos de casa individuo,

havendo uma projeção inconsciente, ricos em arquétipos, permitindo uma

comunicação universal, verbal e não-verbal do/para o individuo. Além disso, os

contos de fadas são narrados, lidos ou vistos por diferentes culturas.

São narrativas representativas do inconsciente coletivo, oriundas de

tempos históricos e pré-históricos, que remete ao comportamento da espécie

humana. Os contos de fadas apresentam temas com as idéias religiosas

(dogmas) e os mitos, que fornece símbolos, onde ajuda os conteúdos

inconscientes canalizar para a consciência, e assim, interpretados, integrados e

transformados.

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Já o surgimento do mito se dá para a funcionalidade e

esclarecimento dos fatos, e tem o objetivo de registrar e fixar as tradições.

Possui uma linguagem abrangente, e por isso é atemporal. O mito é uma

narrativa de caráter simbólico e de produção cultural, que determina uma

civilização, procurando sempre explicar a realidade, os fenômenos naturais e a

origem do mundo e do Homem por meio dos Deuses. São apresentadas de

maneiras explicitas, facilitando a interpretação de suas idéias. Com uma

estrutura básica, se liga ao consciente coletivo através do elemento arquetípico

construído numa expressão formal. Por ser fragmentado, facilita a interpretação

do material histórico conhecido e se aproxima do consciente.

Mito é um sistema dinâmico de símbolos e arquétipos (...), que

tende a se compor em relato, ou seja, que se apresenta sob

forma de história. Por esse motivo já apresenta um início de

racionalização. [...] O mito é um relato fundamente da cultura:

ele vai estabelecer as relações entre as diversas partes do

universo, entre os homens e o universo, entre os homens entre

si. [...] É ainda função do mito fornecer modelos de

comportamento, ou seja, permitir a construção individual e

coletiva da identidade. (PITTA, 2005 apud SONIA REGINA

SANTOS (org.) , 2008, p. 31)

Os contos de fadas se diferenciam dos mitos, em suas

características de origem, modo de narração e cultura. Mas em toda via, na

arteterapia, ambos são ricos em arquétipos e facilitam o conhecimento interno

de cada individuo, possibilitando a autotransformação.

Por conseguinte:

Os mitos projetam uma personalidade ideal agindo na base

das exigências do superego, enquanto os contos de fadas

descrevem uma integração do ego que permite uma satisfação

apropriada dos desejos do id. Esta diferença responde pelo

contraste entre o pessimismo penetrante dos mitos e o

otimismo essencial dos contos de fadas (BETTELHEIM, 2002,

p. 42).

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Podemos dizer que os contos de fadas, lendas, fábulas e mitos, são

projeções dos nossos medos, anseios e de todos os sentimentos detidos na

sombra. Afinal, suas histórias são desenvolvidas em torno de temas

arquetípicos.

O mundo dos contos, fábulas, mitos, lendas etc., precisa ser

encarada como tendo extensão idêntica ao mundo da psique. Assim:

[...] a principal tarefa da psicologia de base arquetípica é de

(re)mitologizar a consciência e desliteralizá-la, para que possa

restaurar a conexão com modelos míticos e metafísicos.

(HILLIMAN, 1992 apud SONIA REGINA SANTOS (org.), 2008,

p. 33)

Assim sendo, Jung afirma que o através dos contos de fadas e dos

mitos, pode-se como profissional, estudar comportamentos arquetípicos em

análise de grupo e/ou individual.

2.2 O papel dos Contos de Fadas na construção do imaginário

infantil

Por serem narrativas universais, os contos de fadas trazem em sua

bagagem diferentes simbologias e possibilidades de trabalho terapêutico com

diversas faixas etárias. Na psicologia analítica os contos de fadas e mitos estão

fortemente vinculados ao inconsciente coletivo e seu papel é fundamental no

desenvolvimento da consciência.

Os contos de fadas são utilizados nos encontros arteterapêuticos

como uma forma de sensibilizar o individuo e fazer com que ele chegue ao seu

interior e transmita o seu significado para cada símbolo.

Segundo Bettelheim, no livro A psicanálise dos Contos de Fadas:

Os contos de fadas deixam à fantasia da criança o modo de

aplicar a ela mesma o que a estória revela sobre a vida e a

natureza humana. O conto de fadas procede de uma maneira

consoante ao caminho pelo qual uma criança pensa e

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experimenta o mundo; por esta razão os contos de fadas são

tão convincentes para ela. (...) Uma criança confia no que o

conto de fada diz por que a vida de mundo aí apresentada está

de acordo com a sua. (BETTELHEIM, 2002, p. 44)

Quando as histórias são narradas há uma produção de imagens no

nosso imaginário, e estas vão se unindo umas às outras como uma conexão de

significantes. Quando essas conexões são feitas, começamos a expressar

sentimentos que nos identifica com o personagem narrado. A partir da

expressão de sentimentos identificados nos personagens apresentados.

A arte tem o poder de explicar, educar, fantasiar, imaginar e nos

fazem conhecer o mundo, sem ao menos sair do lugar. Através dos contos,

durante anos e anos, fomos educados a aprender qual o caminho certo e o

errado, mostrando o comportamento das pessoas boas e ruins e as quais são

as consequências dos atos de cada individuo.

Nos conjuntos da literatura infantil, nada é de extrema importância

quanto ao conto de fadas, pois eles ensinam, implicitamente, o aprender a lidar

com os problemas interiores dos seres humanos, e se enquadra em qualquer

sociedade.

Como o Homem está exposto à sociedade em que vive, certamente,

desde criança, aprenderá a enfrentar as condições que lhe são próprias, desde

que seus recursos interiores o permitam. Exatamente porque a vida volta e

meia, desconcerta a criança.

Os contos de fadas possibilitam o individuo a chegar a um mundo

jamais habitado, descobrindo sua identidade e o que busca perante a vida.

Cada um vivencia cenas, que jamais viveram e após, pensam sobre o mundo

em que vivem; qual seu papel diante dele, e principalmente, qual personagem

escolheu como identidade para encarar os problemas no mundo externo.

Os contos agem como um facilitador, um mecanismo de ajuda dos

processos internos de cada individuo, ou seja, os contos fazem com que esses

processos internos, sejam exteriorizados.

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Perante a isso, a criança se identifica com o personagem, e se

reconhece nele de acordo com o problema presente, trazendo para o

consciente aquilo que o inconsciente transmite, simbolizando o que cada

personagem realmente significa para cada individuo. Nesse processo,

obtenhamos uma transformação do EU interior e um autoconhecimento da

criança.

2.3 A simbologia do conto e do mito: A Bela e a Fera e Eros e

Psiquê

O conto A Bela e a Fera (anexo 1), e o mito Eros e Psiquê (anexo 2),

falam dos personagens (máscaras) desfigurados e escondidos na escuridão.

Assim como Eros, a Fera guarda a verdadeira essência do amor, mas pela

aparência, de um deus ou de um monstro, escondem sua verdadeira

identidade. Por medo, Psiquê e Bela acreditam que serão devoradas por um

monstro, mas cedem ao destino e se entregam ao amor incondicional, levando-

as ao sacrifício deste sentimento.

Como qualquer conto, no final tudo se encaixa e todos vivem “felizes

para sempre”, e tanto Psiquê quando Bela percebem que o monstro na

verdade possui o mais sublime dos sentimentos: o amor. Este sentimento exige

confiança, desprendimento e o autoconhecimento, e ainda força para vencer os

obstáculos, mas não do amor carnal, mas sim da alma, o amor da Psiquê.

No mito Eros e Psiquê, Psiquê é apresentada como a mais bela de

três irmãs e que se sentia infeliz por ser exposta por essa característica. O

problema é desencadeado quando Afrodite, por inveja e ódio, pede ao seu filho

Eros que feche o coração da mortal para que ela se apaixonasse pela criatura

mais horrenda da face da terra, mas Eros não contava que o poder iria se virar

contra ele, e assim se apaixonaria por Psiquê.

Eros, com a ajuda dos deuses, consegue, em segredo, ficar com

Psiquê sem mostrar-se a ela. Onde diz para Psiquê: “O amor não vive sem

confiança.”

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Durante a permanecia de Psiquê no palácio, Eros a envolve de

afetos e bons cuidados, com mimos, e sempre à noite, protegido pela

escuridão, sem que Psiquê possa ver seu rosto, Eros espanta o medo de

Psiquê e se entrega a paixão. Assim Psiquê entrega-se ao amor cego de Eros

velado pela sobra da noite.

Até que um dia Psiquê, sentindo-se muito sozinha, pediu para Eros

ver suas irmãs. Após várias tentativas negadas, Eros mesmo advertindo de que

as irmãs não eram confiáveis, deixou Psiquê visitar-las. Suas irmãs ficaram

deslumbradas e encantadas com tanta riqueza e felicidade de Psiquê, e

rodeada pela inquietude e inveja das irmãs, que lhe diziam que seu marido

poderia ser a serpente cuja revelação do oráculo afirmava, Psiquê minada pela

dívida e curiosidade, em uma noite, leva uma lamparina até próximo ao rosto

de Eros para saber sua identidade, e ao ver um Deus, derrama um pouco de

óleo no ombro de Eros. O que a deixa ferido e ele volta para o convívio com a

mãe.

O amor não vive sem confiança, mas para haver confiança,

precisamos vencer o medo e a curiosidade. E neste ponto que entramos com o

conto “A Bela e a Fera”, onde a história se iguala.

Em “A Bela e Fera”, Bela também é a mais bonita das três irmãs, e a

única que não gostava de ostentação, era humilde, bondosa e amorosa com

todos, principalmente com seu pai, um mercador que perdeu toda a sua

fortuna. Apesar das dificuldades encontradas, Bela não se frustrava e ajudava

no que podia.

Um belo dia seu pai recebeu a noticias de bons negócios na cidade,

e resolveu partir, perguntando a cada uma de suas filhas o que elas queriam de

presentes. As mais velhas pediram vestidos e jóias, e a caçula Bela, pediu

apenas uma rosa.

Nesse primeiro momento, percebe-se que a personagem principal,

Bela, vive num estado de simbiose com seu pai, assim como Eros com a mãe,

Afrodite, o que pode simular, metaforicamente, um estado de caos

inconsciente.

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Na psicologia Junguiana, a mãe é a fonte da vida física, assim como

o inconsciente é a fonte da vida psicológica, logo, o impulso de retorno pode

ser visto como volta para o inconsciente, uma regressão. Neste processo

temos dois lados, um que pode levar às doenças psicológicas e outras serem

vista como um recuar para poder saltar melhor.

Outro ponto importante, é que Bela pede ao seu pai apenas uma

rosa, e o simbolismo da rosa é de extrema riqueza, e também comparando ao

mito, esta associada ao culto da deusa Afrodite (mãe de Eros). A rosa, para o

ego, é a busca da perfeição no processo de individuação, além disso, assim

como as demais flores, a rosa possui um formato circular, que representa a

totalidade, o Self.

Para Jung, a rosa esta disposta em quatro raios, representando a

união dos opostos e a busca pela totalidade, assim como as mandalas (região

oriental).

A meta da contemplação dos processos representados na

mandala é que o iogue perceba (interiormente) o deus, isto é,

pela contemplação ele se reconhece a si mesmo como deus,

retornando assim a ilusão da existência individual à totalidade

universal do estado divino. (JUNG, 2006, p. 353)

Outra simbologia da rosa é a representação do “despertar” da vida,

tendo em vista que a floração exprime o retorno ao centro, ao estado

primordial, a alma e o cento espiritual.

No conto “A Bela e a Fera”, a rosa é o elemento instigador da

história, pois é por conta da rosa, que tudo se transforma. Não apenas a rosa

roubado do jardim da Fera, pelo pai de Bela, mas também pela rosa enfeitiçada

de Fera.

Voltando ao conto: Voltando para casa, o mercador foi surpreendido

por uma tempestade e assim se abrigou em um castelo, ao raiar do dia, viu um

jardim cheio de rosas e lembrou-se do pedido de sua filha. Ao apanhar a rosa,

se deparou com um monstro horrível, que lhe impôs uma condição para

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continuar vivo: uma de suas filhas. Após contar tudo para suas filhas, Bela se

ofereceu e partiu para a casa de Fera.

Ao invés de ser devorada, Bela encontrou luxo, beleza e todas as

suas vontades realizadas, sendo tratada como uma verdadeira princesa. Fera

só a fez um pedido, não entrar em seu quarto.

Um belo dia, Bela (assim como Psiquê), se sentiu muito sozinha e

pediu para visitar sua família. Fera, mesmo não gostando da idéia deixa sua

amada partir com a promessa de retornar em uma semana.

Bela ao chegar a casa, contou para seu pai e suas irmãs tudo que

viveu naquele tempo longe, e seu convívio com o “mostro”, mas instigada pelas

invejosas irmãs, ao voltar para casa, entra no salão proibido e descobre o

segredo de Fera, traindo sua confiança. Sem esquecer, que Bela também em

visita as irmãs, que a segura em casa, deixando Fera em estado de quase

morte por amor.

Percebe-se que em ambas as histórias é a dúvida (desconfiança)

que rompe o encanto da união. A ferida causada pela cera da vela de Psiquê e

a quase morte de Fera pela ausência de Bela, é simbolicamente, a

materialização do desapontamento.

Nos contos de fadas a redenção nos leva designadamente, às

ocorrências nas quais alguém que tenha sido amaldiçoado ou enfeitiçado é

liberto por meio de certas contingências ou sucesso durante o decorrer da

história. Nesse caso, tanto a o mito de “Eros e Psiquê”, quanto o conto “A Bela

e a Fera”, tiveram que alcançar a redenção.

Sendo assim, Psiquê submete-se a servir às vontades de Afrodite

(mãe de Eros) que cria provas impossíveis, com o objetivo não de matar

Psiquê e sim destituí-la de beleza.

Entretanto, com o auxílio de outras personagens, solidários à

Psiquê, ela cumpre as provas. Mas Psiquê, ao carregar o que acreditava ser

uma poção de imortalização da beleza, e querendo mostrar-se bela para seu

amado, Psiquê não resiste à vaidade e, mais uma vez a curiosidade, abre a

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caixa e acaba sendo atingida pela poção do sono. Ao pressentir o

desfalecimento de sua amada, Eros rompe com sua mãe, e luta por Psiquê,

pedindo aos deuses que a transformem em uma deusa para que possam se

unir.

E é assim que Psiquê torna-se, na mitologia, o símbolo da união do

amor e da sabedoria, arquétipos de indivíduos diferentes.

Já o abandono de Bela a levou ao sofrimento e à busca interior

(simbolizando o sonho), e desta forma, pôde voltar ao palácio e aceitar o amor

como ele se apresentava, um monstro, mas com uma riqueza sem igual: o

amor perfeito. E assim, A Fera pôde voltar a sua forma original, a forma do

amor, e voltar a ser um lindo príncipe.

A busca do amor próprio, é essencial no processo do

autoconhecimento e amadurecimento, só assim encontra-se no outro o

sentimento verdadeiro, como projeção deste amor. Nas duas narrações, os

personagens buscam o caminho da individualização, onde Psiquê e Bela pôde

reaver o seu amor por Eros e Fera.

Enquanto Eros, o mais belo dos deuses se esconde na escuridão

para amar, a Fera se esconde por trás de sua feiúra. Essa imagem da sombra

nos traz a falta do reconhecimento do EU, e a projeção do OUTRO nos olhos

de quem nos vê.

As princesas são as mais belas das irmãs, as mais bondosas e

humildes. São enganadas pelas irmãs para que não encontrem o amor

verdadeiro, mas vencem os obstáculos submetidos e impostos, encontrando

em seus opostos, uma completude.

Desse modo, Bela tem a vivência da coniunctio, a vivência dos

opostos, visto que a Fera não é mais um animal desprezível, mas sim, um ser

humano com sentimentos.

De acordo com o simbolismo alquímico, a coniunctio é o

objetivo do processo; é a entidade, a matéria, a substância que

é criada pelo processo alquímico quando ele finalmente obtém

sucesso em unir os opostos. É algo misterioso, transcendente,

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que pode ser expresso por imagens simbólicas. [...] (EDINGER,

2008, p. 21).

Em outras palavras:

[...]coniunctio era vista como uma alegoria do hierosgamos, a

união ritual de Sol e Lua. Dessa união nascia o filius sapientiae,

o philosophorum: O Mercurius transformado, considerado como

hermafrodita, devido à forma esférica de sua

completude.”(JUNG, 2003, p. 125)

Nos mitos e contos, onde se encontra heróis, o casamento é visto de

maneira distinta dos mitos e contos onde se encontra heroínas. Os heróis

matam monstros, representando uma cisão, ou seja, a construção do ego

“herói” versus o monstro “inconsciente”. Já com as heroínas, por ser um

princípio feminino e fazer parte do aspecto do inconsciente, lida na esfera da

relação e não da cisão. E por isso, nos contos de fadas, o casamento é a

simbologia perfeita do processo de individualização, da relação entre os

opostos.

Com isso, é importante resgatar a simbologia de cada história, conto

e mito, pensar nos aspectos ocultos das imagens e dos personagens. Jung nos

fala da importância do conhecimento dos símbolos, uma vez que a busca da

psicoterapia não se resume em achar sintomas, mas sim, na realização dos

processos de individuação:

[...] Neste caso o conhecimento dos símbolos é indispensável,

pois é nestes que se dá a união de conteúdos consciente e

inconsciente. Da união emergem novas situações ou estados

de consciência. Designei por isso a união de opostos pelo

termo “função transcendente”. A meta de uma psicoterapia que

não se contente apenas com a cura dos sintomas é a de

conduzir à personalidade a totalidade. (JUNG, 2006, p. 282).

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CAPÍTULO III

Trabalhando com os Contos:

A Teoria na Prática

"Meninas são bruxas e fadas; Palhaço é um homem todo pintado de piadas; Céu azul é o telhado do mundo inteiro; Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro...”. (O Teatro Mágico – Eu não sei na verdade quem eu sou)

3.1 Mosaico: A Bela Adormecida

Mosaico (moussen) é de origem alemã, e significa “próprio das

musas”, e tem como objetivo preencher algum tipo de plano, como pisos,

paredes e papel. A técnica consiste na colocação de pequenos fragmentos,

como por exemplo: pedras, mármore, plástico, papel etc., sobre qualquer

superfície.

Para obter melhor controle na elaboração da técnica, tenha pronto

papel de diversas cores já cortados e organizados em recipientes diferentes,

facilitando assim, a sua identificação do material e um controle do seu trabalho.

Esta é uma técnica facilitadora e prazerosa, que permite uma

variedade de possibilidade expressiva através dos diversos matérias tais como:

a cola, o papel, mármore etc., que podemos utilizar na montagem do mosaico.

É uma técnica projetiva de conteúdos inconscientes, onde estimula a

imaginação, a percepção e a criatividade do individuo.

Nesta técnica, há um aprofundamento maior no contato do EU

interior, onde pessoas são convidadas a simbolizar conteúdos inconscientes e

obter uma consciência maior de si mesmo.

3.1.1 Desenvolvimento da Atividade

O Arteterapeuta deve propor um relaxamento ao(s) participante(s),

com o objetivo de estabelecer um ambiente sereno e harmonioso. Como o

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conto que estamos trabalhando é da “bela adormecida”, podemos propor uma

canção de ninar como relaxamento, pedindo ao individuo ou grupo, que fique

em uma posição confortável e senta como se estivesse em um sonho profundo

e cheio de sonhos e fantasia.

Terminando a música, conte o conto da “Bela Adormecida”

calmamente, de preferência no mesmo ritmo da canção.

Ao terminar, peça para o(s) participante(s) se espreguiçar e ir

voltando para o ambiente calmamente, trazendo para a experiência a seguir,

todos os sentimentos dos sonhos e do despertar.

3.1.2 Narração do Conto: A Bela Adormecida

Na festa do batismo da tão desejada princesa, foram convidadas 12

fadas e como madrinhas desta ofereceram-lhe presentes como: a beleza, o

talento musical, a inteligência, entre outras bênçãos apreciadas. No entanto,

uma velha fada que foi negligenciada, porque o rei apenas tinha doze pratos de

ouro, interrompeu o evento e lançou-lhe como vingança feitiçaria cujo resultado

seria, a morte pelo picar do dedo num fuso quando a princesa atingisse a idade

adulta. Porém, restava o presente da 12ª fada. Assim sendo, esta suavizou a

morte, transformando a maldição da fada malvada num sono profundo de cem

anos, até ao dia em que seria despertada por um beijo proveniente de um amor

verdadeiro.

O rei proibiu imediatamente qualquer tipo de fiação em todo o reino,

mas em vão. Quando a princesa completou 16 anos, descobriu uma sala

escondida numa torre do castelo onde encontrou uma velha a fiar. Curiosa com

o fuso pediu-lhe para deixá-la fiar, picando-se nesse mesmo instante. Sentiu

então o grande sono que lhe foi destinado e, ao adormecer, todas as criaturas

presentes no castelo adormeceram juntamente, sob o novo feitiço da 12ª fada

que tinha voltado. Com o passar do tempo, cresceu uma floresta de urzes em

torno do castelo, isolando-o do mundo exterior e dando uma morte fatal e

dolorosa por uma picada em espinhos, a quem tentasse entrar. Assim muitos

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príncipes morreram em busca da tal Bela Adormecida cuja beleza era tão

falada nas redondezas.

Após cem anos decorridos, um príncipe corajoso enfrentou a floresta

de espinhos, mesmo sabendo da morte de outros tantos, e conseguiu entrar no

castelo. Quando encontrou a torre onde a princesa dormia, achou tão grande a

sua beleza que ficou apaixonado e não resistindo à tentação deu-lhe um beijo

que a despertou para a vida seguindo-se ao dela, o despertar de todos os

habitantes do reino que continuaram onde haviam parado há cem anos. O

príncipe e a Bela casaram-se secretamente e tiveram dois filhos: Aurora e Dia.

Quando a mãe do príncipe (de descendência de ogres) soube disso ficou com

vontade de comê-los, e ordenou a um caçador que os matasse e trouxesse,

mas o caçador colocou animais no lugar onde deveria ter as crianças. A rainha,

quando se apercebeu disso, enraivecida, mandou atirar as netas a um poço

cheio de serpentes, cobras e víboras durante a ausência do príncipe, seu filho,

que tinha ido caçar codornizes. Mas o príncipe chegou antes do tempo

previsto, e a rainha, que já não podia fazer o planeado, cheia de ódio e medo

ao filho, desequilibrou-se caindo dentro do poço onde morreu. A partir daí, a

princesa Bela e o príncipe "viveram felizes para sempre"!

(retirado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Bela_Adormecida_%28conto%29>,

Janeiro 2012)

3.1.3 Consigna

Propor a(s) participante(s) que escolha uma imagem do conto que

mais o sensibilizou e desenhá-la, com lápis grafite, em uma folha (oferecer

apenas A3, A4 ou A5). Em seguida, cobrir os desenhos, utilizando a técnica do

mosaico e os materiais disponíveis, tais como sementes, bolinhas de papel

crepom etc.

Após terminar, pedi ao participante que fale sobre o símbolo feito, o

que sentiu e o porquê da escolha daquela imagem. Caso seja em grupo, pedi

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aos participantes dialogar com todos do grupo esta experiência, e nesse caso,

nenhum integrante, poderá ficar de fora.

3.1.4 Material

Quadrados de papel espelho ou laminado de diversas cores 2x2cm

Cola branca

Lápis grafite

Cola colorida para relevo

Papel preto nos formata A3, A4 e A5

Copinho de café descartável

Pincel reto

Avental

Tesoura sem ponta

Papel crepom de diversas cores

Sementes diversas

CD de canção de ninar

CD player

Esteira

3.2 Argila: João e o Pé de Feijão

A argila pode ser encontrada próxima de rios, muitas vezes

formando barrancos nas margens. Apresenta-se nas cores branca e vermelha.

São classificas em duas categorias: Primárias e Secundárias (ou

sedimentares). As primeiras são formadas no mesmo local da rocha mãe e

possuem partículas mais grossas e coloração mais clara, já as secundárias são

as que têm sido transportadas para mais longe da rocha mãe pela água, pelo

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vento e incluindo ainda o desgelo, são mais finas e plásticas que as primárias,

podendo, no entanto conter impurezas ao se misturarem com outras matérias

orgânicas.

A argila tem a simbologia do nascimento, de vida e de morte.

Encontramos relatos nas religiões e na mitologia, desde Adão e Eva até

Prometeu, onde em ambos os relatos, utilizaram a argila do barro para moldar

o homem à imagem e a semelhança dos deuses e assim, povoar a terra.

Por fácil manuseio, a argila torna-se um instrumento facilitador na

arteterapia, possibilitando a expressão artística de cada individuo e um

representante real da vivência e do imaginário de cada um.

Trabalha com a parte motora (grossa e fina), as habilidades, o

equilíbrio, o esquema corporal e os quatro sentidos, além de estimular as

funções cognitivas.

Esta técnica permite a flexibilidade, maleabilidade e novas

possibilidades de transformações. Por ser de fácil manuseio, não há

preocupação com o fazer e desfazer, com o certo e o errado, o que ganha

espaço é a criatividade e se solidifica. Tem como característica fundamental a

concretude. Trabalha o tridimensional, a construção e a reconstrução e ainda,

estimula a catarse.

3.2.1 Desenvolvimento da Atividade

Nas atividades arteterapêuticas, é sempre bom começar com o

relaxamento. Por conseguinte, propor aos participantes que fique de pé e forme

uma roda e, durante a música deixe que o corpo fale por meio das expressões

corporais, sinta a música e deixa-a fluir em você.

Após a música, sentar-se em uma posição confortável para a

narração do conto “João e o Pé de Feijão”.

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3.2.2 Narração do Conto: João e o Pé de Feijão

Era uma vez uma pobre viúva. Ela tinha um filho muito rebelde e

esbanjador. O seu pai tinha sido um homem muito rico, até que um dia um

gigante roubou sua harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro. O pai

morreu pobre. O pouco que restou o menino acabou com tudo, por ser um

grande esbanjador.

A única coisa que sobrou foi uma vaquinha. Um dia não tendo mais

o que comer, a mãe pediu ao menino: – Vá à cidade e venda nossa vaquinha

para que possamos comprar pão.

Assim o menino foi levar a vaquinha ao mercado. No caminho

encontrou um açougueiro que lhe propôs: – Troco sua vaca por uns grãos

mágicos de feijão. O que acha?… João achando que fosse uma grande oferta,

acabou aceitando.

Quando o menino chegou a casa, a mãe ficou furiosa com a troca

que o menino havia feito. Ela pegou os grãos de feijão e os jogou pela janela. A

mãe foi dormir chorando porque não tinham o que comer.

Na manhã seguinte, João acordou bem cedo e com muita fome.

Ficou espantado quando viu um pé de feijão tão grande que chegava ao topo

do céu. João que gostava de aventuras resolveu subir nele.

Depois de subir algumas horas encontrou um castelo entre as

nuvens. A porta do castelo estava aberta e ele resolveu entrar. Dentro do

castelo encontrou o malvado gigante dormindo. Era o mesmo gigante que

tinha roubado a harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro.

O menino foi até a outra sala do castelo e encontrou a harpa mágica

e a galinha dos ovos de ouro. Quando o menino pegou a harpa e a galinha,

esta começou a cacarejar e o gigante despertou com o barulho.

O gigante ainda conseguiu ver o menino fugindo. O menino desceu mais

que depressa pelo pé de feijão. O gigante foi atrás, mas como não tinha

a mesma agilidade, o gigante não conseguiu alcançar João. Quando João

desceu, ele pegou um machado e cortou a árvore.

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A árvore caiu e o gigante levou um tombo muito grande. Com a

queda o gigante acabou morrendo. João contou a aventura para sua mãe que

ficou muito orgulhosa com a coragem do menino. De posse da harpa mágica e

da galinha dos ovos de ouro, João e sua mãe nunca mais sentiram fome.

Viveram felizes para sempre.

(retirado de: <http://www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/>, Janeiro

2012)

3.2.3 Consigna

Ao terminar a contação do conto, pedir para que cada participante

pegue um pedaço de argila e modele um objeto ou personagem que mais lhe

chamou a atenção no conto e/ou o que veio na cabeça naquele momento e que

tenha associação com o conto.

Após cada participante terminar seu personagem ou objeto do conto,

deve voltar à posição de roda, posicionar a argila pronta dentro dela e criar

uma história com aqueles objetos e personagens presentes na roda em forma

de argila.

Essa história não poderá surgir das idéias pessoais de cada um,

mas sim de um tema central estabelecido pelo grupo e das imagens criadas.

Ao concluir, cada individuo falará de sua vivencia e do desenvolvimento do

trabalho.

3.2.4 Material

Argila

Palito de picolé

Palito de dente

Retalhos de tecido

Jornais para cobrir as superfícies

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Bacias ou potes com águas

Sacos plásticos (para guardar as sobras da argila)

Colheres e garfos plásticos para modelar

CD com canções que fale sobre plantio e colheita

CD player

3.3 Marionete: Chapeuzinho Vermelho

Marionete surgiu na cultura ocidental em plena Idade Média, na

França (Europa), origina-se do termo “marionette” (do francês), como um

diminutivo de “marion” (Maria). Marionete são bonecas de fio ou fantoche, ou

seja, bonecos (pessoa, animal ou abjeto animado) movidos por meio de cordéis

(fios) manipulados por pessoas ocultas atrás de uma tela, em um palco em

miniatura.

Jung se inspirou no teatro, utilizando as máscaras, para criar o termo

“persona” (arquétipo da adaptação social), ou seja, cada individuo cria suas

“máscaras”, uma proteção, para estar no mundo. O problema é quando,

inconscientemente, o individuo “cola” esta máscara, confundindo-se com si

mesmo. Assim, a utilização do teatro na arteterapia, nos possibilita na

libertação do personagem habitual de cada individuo, tendo a chance de

“descolar-se” da máscara cristalizada e experimentar novos personagens. O

palco, torna-se um espaço onde o individuo se reconhece, acolhe e se

transforma e ao “sair de si”, podemos acessar o “outro” que moram em nós e

muitas vezes, são desconhecidos, mas também acessarmos nossos

sentimentos (bons e ruins), nossas lembranças e vivenciamos para uma

renovação, um deixar “morrer” para poder “viver” e se auto conhecer.

Esta técnica é adequada para todas as faixas etárias, pois a criação

da marionete é de fácil manuseio. Porém é importante sinalizar que o

arteterapeuta precisa enfatizar a interdependência dos personagens, sendo

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que todo o processo deverá ser submetido à análise e à aprovação de todo o

grupo.

Assim sendo, esta é uma técnica que favorece a harmonia,

participação e o desbloqueio. Atua no processo de elaboração simbólica e com

isso faz com que os participantes não fiquem inibidos e se sintam capazes de

criar e encenar.

3.3.1 Desenvolvimento da Atividade

Recomenda-se um relaxamento antes de qualquer atividade

arteterapêutica, e sempre de acordo com a atividade a ser elaborada. Neste

caso, convide os participantes a sentar-se em uma posição confortável e com o

som ambiente instrumental com sons de floresta, convide-os a “viajar” por meio

de uma floresta, com pássaros cantando, barulho de água (rios, cachoeiras), o

sol levemente acariciando a pele... e deixe fluir a imaginação, procurando

sempre sentir o som da mata e o cheiro.

Ao final da música, permaneça traga todos calmamente para o

ambiente, e quando todos abrirem os olhos, permanecer no mesmo lugar e

escutar o conto da “Chapeuzinho vermelho”.

3.3.2 Narração do Conto: Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho que

morava com sua mãe ao lado de uma floresta. Um dia, a mãe de Chapeuzinho

lhe pediu para levar uma cesta de frutas frescas e água mineral à casa de sua

vovozinha - não porque isso fosse trabalho de mulher, vejam só, mas porque

era um ato generoso e que propiciava à filha uma visão comunitária sobre a

vida.

Tenho a acrescentar que sua vovozinha não estava doente, mas em

plena saúde física e mental, sendo totalmente capaz de tomar conta de si

mesma como adulta madura que era.

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E assim Chapeuzinho Vermelho partiu de sua casa, com sua cesta,

floresta adentro. Muita gente acreditava que a floresta era um lugar cheio de

presságios e perigos, e nunca punha os pés lá. Chapeuzinho Vermelho, no

entanto, em sua sexualidade emergente, tinha confiança em si mesma e

nenhuma argumentação freudiana tão óbvia a intimidava.

No caminho para casa da vovozinha, Chapeuzinho foi abordada por

um lobo, que lhe perguntou o que havia na cesta.

Ela respondeu: “Alimentação natural e saudável para minha avó, que

é uma adulta amadurecida e, obviamente, capacitada a cuidar de si mesma.”

O lobo respondeu: “Sabe, querida, não é seguro para uma menina

andar pela floresta sozinha.”

Chapeuzinho retrucou: “Considero sua observação sexista e

extremamente ofensiva, mas vou ignorá-la, por você desempenhar um papel

tradicional de pária da sociedade. Agora, se você me desculpa, preciso seguir

caminho.” E Chapeuzinho foi andando pela estrada afora.

Como todos os quadrúpedes que habitam as florestas, e que não

conseguem se organizar política e socialmente, os lobos são desprovidos do

pensamento linear ocidental e, por isso mesmo, têm uma visão imediatista

sobre tudo o que os cerca. Sendo assim, o lobo não conseguia pensar em

Chapeuzinho Vermelho sem dissociá-la da imagem de algumas batatas e um

bom molho ferrugem!

E foi pensando nisto que ele pegou um caminho mais curto para

casa da vovó. Mal chegou, foi logo comendo a velhinha. Uma ação

inteiramente válida para o carnívoro que era. E, então, desvinculado de noções

rígidas e tradicionalistas do que é masculino e feminino, vestiu as roupas da

vovó e se meteu na cama.

Chapeuzinho Vermelho entrou na casinha e disse:

- “Vovó, trouxe alimentos desnatados e sem sal para lhe

homenagear como matriarca sábia e nutridora que é.”

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Da cama, o lobo disse suavemente: “Chegue mais perto, filha, para

que eu te veja melhor.”

E Chapeuzinho respondeu: - "Oh, ia me esquecendo que, como os

morcegos, a senhora é oticamente cega. Mas, vovó, que olhos grandes você

tem!”

- “Eles muito viram e muito perdoaram, minha querida.”

- “Vovó, que nariz grande você tem – relativamente, é claro e,

certamente, bonito a seu modo.”

- E o lobo respondeu com falsa modéstia: “Precisa ver o resto.....”

- “Vovó, que dentes grandes você tem!”

E o lobo disse: “Estou contente com quem eu sou, e com o que sou!”

Dito isso, saltou da cama e agarrou Chapeuzinho Vermelho, pronto

para devorá-la. A menina ficou assustada com o lobo vestido daquele jeito,

mas evitou fazer qualquer comentário ou dizer qualquer piada preconceituosa e

de mau gosto sobre a opção sexual do animal, mas pôs-se a gritar devido à

deliberada invasão de seu espaço pessoal.

Seus gritos foram ouvidos por um lenhador que passava (ou técnico

florestal, como ele mesmo preferia ser chamado). Quando entrou na cabana e

viu a luta, o lenhador tentou intervir. Mas, quando ergueu o machado,

Chapeuzinho e o lobo pararam.

- “E o que você pensa que vai fazer?”, perguntou Chapeuzinho.

O lenhador piscou e tentou responder, mas as palavras não vieram.

- “Invadindo nosso espaço como homem... Confiando em armas em

lugar do seu próprio pensamento!”, exclamou. Açougueiro de árvores! Como

ousa supor que mulheres e lobos não podem resolver seus problemas sem

ajuda de um homem?”

Ao ouvir o discurso passional de Chapeuzinho Vermelho, a vovó

pulou de dentro da boca do lobo, pegou o machado do lenhador e cortou-lhe a

cabeça.

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Superado esse contratempo, Chapeuzinho Vermelho, vovó e o lobo

sentiram uma comunhão de propósitos. Decidiram então estabelecer uma

comunidade alternativa, baseada no respeito mútuo e na cooperação, e

viveram juntos na floresta, felizes para sempre.

(retirado de: <http://grupocontoaconto.blogspot.com/2008/01/chapeuzinho-

vermelho.html>, Janeiro 2012)

3.3.3 Consigna

Ao contar a história, pedi aos participantes que se reúna, em um

único grupo, e definam quais participantes desempenharão os personagens e

quais farão a confecção do cenário.

Após as escolhas, os participantes que escolheram desempenhar os

personagens, deverão fazê-lo por meio de marionetes (técnica de marionete

plana) e os demais, em outro espaço, criarão o projeto cenário, utilizando a

técnica da pintura.

Em seguida, os dois grupos irão se reunir e apresentar a

dramaturgia do conto narrado, dando-lhe um final diferenciado. Ao concluir,

refletirão sobre as escolhas feitas (personagem e/ou cenário) e o final

escolhido para o conto.

3.3.4 Material

Sucatas

Palitos de churrasco

Tinta guache de diversas cores

Tesoura sem ponta

Pincéis de diversos números

Cola branca

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Retalhos de papéis e tecidos coloridos

Barbante

Algodão

Fitas adesivas

Fios de lã

CD com músicas da natureza

CD player

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CONCLUSÃO

Os contos de fadas e os mitos são geradores de sentimentos que

determinam arranjos e facilitam no entendimento de uma ou mais fantasias que

serão percebidas de várias maneiras. As interpretações desses símbolos

trazidos pelo indivíduo devem ser encaradas como um exercício diário para o

arteterapeuta, não só pelo fato de termos diversas linhas teóricas que estudam

a simbologia dos contos de fadas e dos mitos, mas por estarmos lidando com

pessoas, que por sua natureza, são distintas uma das outras.

O mito passa a existir para explicar os mistérios que excitam a

curiosidade e a imaginação do Homem, e por ser uma abordarem intrigantes,

os mitos estão presentes em várias culturas, propondo uma leitura de reflexão

sobre o mundo e a sua existência, sobre o nosso papel perante a ele e por isso

são ricos em símbolos.

Comparando os mitos com os contos de fadas, Bettelheim faz

algumas considerações:

Há uma concordância geral de que os mitos e contos de fadas

falam-nos na linguagem de símbolos representando conteúdos

inconscientes. Seu apelo é simultâneo à nossa necessidade de

ideais do ego também. Por isso é muito eficaz, e no conteúdo

dos contos, os fenômenos internos psicológicos recebem corpo

em forma simbólica (BETTELHEIM, 1980, p. 47).

Tais brincadeiras e narrações de mitos e/ou contos de fadas,

exercem o poder de subjetividade, ou seja, contribuem para auto-

reconhecimento e estimulando sua criatividade, fantasia e imaginação.

Deste modo, a função dos contos de fadas e mitos, é produzir

símbolos (arquétipos) que terão o papel de um agente curativo agindo como

uma ponte, em tentativa do inconsciente de levar a libido regressiva para um

ato criativo, mostrando assim o caminho para a solução do conflito.

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BIBLIOGRAFIA

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WEBIOGRAFIA BLOG - Euniverso Disponível em: <http://www.euniverso.com.br/Psyche/Psicologia/desenvolvimento/O_papel_dos_contos_de_fada.htm> Acesso em: 18/11/2011. BLOG – Arteterapia criando vínculos Disponível em: <http://nancyarteterapeuta.blogspot.com/> Acessado em: 03/01/2012. POMAR Disponível em: <http://www.arteterapia.org.br/UNIVERSO%20JUNGUIANO%20E%20ARTETERAPIA.pdf> Acessado em: 12/12/2011 WIKIPÉDIA - A ENCICLOPÉDIA LIVRE Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal> Acesso em: 03/10/2011. WIKIPÉDIA – A BELA E A FERA Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Bela_e_a_Fera> Acessado em: 15/02/2012

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ANEXOS 1. A Bela e a Fera

O conto originou-se na França, escrito por Gabrielle Suzanne

Brabot, onde seu nome original é “A Bela e o Monstro”, possui diversas versões

que diferem do original, mas se adapta a diferentes culturas e momentos

sociais.

Resumidamente, o conto relata a história da filha mais nova de um

rico mercador, que tinha três filhas, porém, enquanto as filhas mais velhas

gostavam de ostentar luxo, de festas e lindos vestidos, a mais nova, que todos

chamavam Bela, era humilde, gentil, e generosa, gostava de leitura e tratava

bem as pessoas.

Um dia, o mercador perdeu toda a sua fortuna, com exceção de uma

pequena casa distante da cidade. Bela aceitou a situação com dignidade, mas

as duas filhas mais velhas não se conformavam em perder a fortuna e os

admiradores, e descontavam suas frustrações sobre Bela, que humildemente

não reclamava e ajudava seu pai como podia.

Um dia, o mercador recebeu notícias de bons negócios na cidade, e

resolveu partir. As duas filhas mais velhas, esperançosas em enriquecer

novamente, encomendaram-lhe vestidos e futilidades, mas Bela, preocupada

com o pai, pediu apenas que ele lhe trouxesse uma rosa.

Quando o mercador voltava para casa, foi surpreendido por uma

tempestade, e se abrigou em um castelo que avistou no caminho. O castelo era

mágico, e o mercador pôde se alimentar e dormir confortavelmente, pois tudo o

que precisava lhe era servido como por encanto.

Ao partir, pela manhã, avistou um jardim de rosas e, lembrando do

pedido de Bela, colheu uma delas para levar consigo. Foi surpreendido, porém,

pelo dono, uma Fera pavorosa, que lhe impôs uma condição para viver: deveria

trazer uma de suas filhas para se oferecer em seu lugar.

Ao chegar em casa, Bela, mediante a situação resolveu se oferecer

para a Fera, imaginando que ela a devoraria. Ao invés de a devorar, a Fera foi

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se mostrando aos poucos como um ser sensível e amável, fazendo todas as

suas vontades e tratando-a como uma princesa. Apesar de achá-lo feio e

pouco inteligente, Bela se apegou ao monstro que, sensibilizado a pedia

constantemente em casamento, pedido que Bela gentilmente recusava.

Um dia, Bela pediu que Fera a deixasse visitar sua família, pedido

que a Fera, muito a contragosto, concedeu, com a promessa de ela retornar

em uma semana. O monstro combinou com Bela que, para voltar, bastaria

colocar seu anel sobre a mesa, e magicamente retornaria.

Bela visitou alegremente sua família, mas as irmãs, ao vê-la feliz,

rica e bem vestida, sentiram inveja, e a envolveram para que sua visita fosse

se prolongando, na intenção de Fera ficar aborrecida com sua irmã e devorá-la.

Bela foi prorrogando sua volta até ter um sonho em que via Fera morrendo.

Arrependida, colocou o anel sobre a mesa e voltou imediatamente, mas

encontrou Fera morrendo no jardim, pois ela não se alimentara mais, temendo

que Bela não retornasse.

Bela compreendeu que amava a Fera, que não podia mais viver sem

ela, e confessou ao monstro sua resolução de aceitar o pedido de casamento.

Mal pronunciou essas palavras, a Fera se transformou num lindo príncipe, pois

seu amor colocara fim ao encanto que o condenara a viver sob a forma de uma

fera até que uma donzela aceitasse se casar com ele. O príncipe casou com

Bela e foram felizes para sempre.

(retirado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Bela_e_a_Fera>, Novembro 2011)

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2. Eros e Psiquê

O rei, pai de Psiquê, cujo nome é desconhecido, preocupado com o

fato de já ter casado duas de suas filhas, que nem de longe eram belas como

Psiquê, quis saber a razão pela qual esta não conseguia encontrar um noivo.

Consulta então o Oráculo de Apolo, que prevê, induzido por Eros (Cupido), ser

o destino de sua filha casar com um ente monstruoso.

Psiquê sendo resgatada por Eros, William Bouguereau,

"L'enlèvement de Psyché"

Após muito pranto, mas sem ousar contrariar a vontade de Apolo, a

jovem Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até

adormecer e ser conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnífico, que

daquele dia em diante seria seu.

Lá chegando a linda princesa não encontrou ninguém, mas tudo era

suntuoso e, quando sentiu fome, um lauto banquete estava servido. À noite,

uma voz suave a chamava e, levada por ela, conheceu as delícias do Amor,

nas mãos do próprio deus do amor...

Os dias se passavam, e ela não se entediava, tantos prazeres tinha:

acreditava estar casada com um monstro, pois Eros não lhe aparecia e,

quando estavam juntos, ficava invisível. Ele não podia revelar sua identidade

pois, assim, sua mãe descobriria que não cumprira suas ordens - e apesar

disto, Psiquê amava o esposo, que a fizera prometer-lhe jamais tentaria

descobrir seu rosto.

Passado um tempo, a bela jovem sentiu saudade de suas irmãs e,

implorando ao marido que permitisse que elas fossem trazidas a seu encontro.

Eros resistiu e, ante sua insistência, advertiu-a para a alma invejosa das

mulheres.

As duas irmãs foram, enfim, levadas. A princípio mostraram-se

apiedadas do triste destino da sua irmã, mas vendo-a feliz, num palácio muito

maior e mais luxuoso que o delas, foram sendo tomadas pela inveja.

Constataram, então, que a irmã nunca tinha visto a face do marido. Disseram

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ter ouvido falar que ela havia se casado com uma monstruosa serpente que a

estava alimentando para depois devorá-la, então sugeriram-lhe que, à noite,

quando este adormecesse, tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma

iluminaria o seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o mataria.

Psiquê resistiu os conselhos das imãs o quanto pôde, mas o efeito

das palavras e a curiosidade da jovem tornaram-se fortes. Pôs em execução o

plano que elas lhe haviam dito: Após perceber que seu marido entregara-se ao

sono, levantou-se tomando uma lâmpada e uma faca, e dirigiu a luz ao rosto de

seu esposo, com intenção de matá-lo.

A jovem, espantada e admirada com a beleza de seu marido,

desastradamente deixa pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro dele.

Eros acorda - o lugar onde caiu o óleo fervente de imediato se transforma

numa chaga: o Amor está ferido.

Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando

repetidamente: “O amor não sobrevive sem confiança!”

Psiquê fica sozinha, e desesperada com seu erro, no imenso

palácio. Precisa reconquistar o Amor perdido.

Eros voa pela janela e Psiquê tenta segui-lo, cai da janela e fica

desmaiada no chão. Então o castelo desaparece. Psiquê volta para a casa dos

pais, onde reencontra as irmãs que fingem piedade para com a irmã. Acreditam

que o lindo Eros, solteiro, as aceitaria e seguem em direção ao belo palácio.

Chamam por Zéfiro e, acreditando estar seguras pelo mordomo invisível, se

jogam e caem no precipício.

Psiquê caminha noite e dia, sem repouso nem alimentação. Avista

um belo templo no cume de uma montanha e acreditando encontrar seu amor

escalou a montanha. Ao chegar no topo depara-se com montões de trigo,

espigas de milho, cevada e ferramentas, todas misturadas e ela os separa e

organiza. O templo pertencia a deusa Deméter, grata pelo favor da bela moça

lhe diz o que fazer para reconquistar o marido. Primeiro ela precisaria

conseguir o perdão da sogra.

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(retirado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Psiqu%C3%AA>, Novembro 2011)

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 06

ABSTRAT 07

METODOLOGIA 08

SUMÁRIO 09

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Arteterapia 12

1.1 Simbologia e Objetivo

1.2 A importância dos símbolos

1.3 Abordagem Junguiana

CAPÍTULO II - Contos de Fadas 18

2.1 Contos de Fadas e Mitos: Diferença

2.2 O papel dos Contos de Fadas na construção do imaginário infantil

2.3 A simbologia do Conto e do Mito: A Bela e a Fera e Eros e Psiquê

CAPÍTULO lll - Trabalhando com os Contos: A Teoria na Prática. 28

3.1 Mosaico: A Bela Adormecida

3.1.1 Desenvolvimento da atividade

3.1.2 Narração do Conto: A Bela Adormecida

3.1.3 Consigna

3.1.4 Material

3.2 Argila: João e o Pé de Feijão

3.2.1 Desenvolvimento da atividade

3.2.2 Narração do Conto: João e o Pé de Feijão

3.2.3 Consigna

3.2.4 Material

3.3 Marionete: Chapeuzinho Vermelho

3.3.1 Desenvolvimento da atividade

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3.3.2 Narração do Conto: Chapeuzinho Vermelho

3.3.3 Consigna

3.3.4 Material

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42

WEBIOGRAFIA 43

ANEXOS 44

ÍNDICE 49