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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA COMO RECURSO NO ATENDIMENTO ÀS
MULHERES CODEPENDENTES AFETIVAMENTE.
Por: Luciana Alexandrina Jucá
Orientador
Prof. Deyse Serra
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA COMO RECURSO NO ATENDIMENTO ÀS
MULHERES CODEPENDENTES
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de Especialista em Arteterapia
em Educação e Saúde.
Por: . Luciana Alexandrina Jucá
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La Loba
“Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as
montañas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de
ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto
inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela
escultura branca da criatura está disposta a sua frete, ela se
senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se
da criatura , ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a
cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo
começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se
cobrrir de pêlos. La Loba canta um pouco mais, e uma
proporção maior de criatura ganha vida. Seu rabo forma
uma curva para cima, forte e desgrenhado.
La Loba canta mais, e a criatura-lobo começa a
respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade
que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo
abre os olhos dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela
velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer
pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco,
o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre
livre na direção do horizonte.”
Clarissa Pinkola Estes, Trecho do Livro: Mulheres que correm com os Lobos
4
AGRADECIMENTOS
À Deus, à minha família, e às
minhas amigas da especialização
em Arteterapia. Agradeço o apoio, o
carinho, a inspiração, e os quilos a
mais na balança! Dedico à vocês
também meu novo olhar ao lápis
cera.
5
DEDICATÓRIA
Dedico à Deus mais uma vitória.
6
RESUMO
Esta monografia é produto da observação de uma realidade que é o
constante encaminhamento de mulheres com perfil de codependência
afetiva que buscavam tratamento no ambulatório de saúde mental adulto
para recursos sociais como ONGs e irmandades de apoio mútuo ou centros
sociais.
Colocamos os recursos da Arteterapia como possibilidade de
ampliação dos atendimentos de Serviço Social viabilizando um direito social
e o protagonismo das usuárias na solução de seus problemas.
Acreditamos que a partir da visibilidade dos atendimentos dentro das
unidades de saúde outras possibilidades podem ser encontradas e os
benefícios podem se estender a toda a sociedade.
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METODOLOGIA
O questionamento da forma como eram encaminhadas as mulheres
com perfil de codependência afetiva no ambulatório de saúde mental adulto
de Nova Iguaçu, no período em que trabalhei como assistente social desta
equipe, me ver que elas não eram absorvidas no serviço frente outros
paciente com diagnóstico em saúde mental considerado mais grave.
Pude perceber que negávamos a estas mulheres o atendimento
solicitado e as encaminhávamos muitas vezes para instituições de apoio
mútuo entre outras fora do serviço de saúde. Perdíamos a possibilidade de
atender a este grupo e também de estudar e encaminhar situações de
violência e seu impacto nas famílias, no mercado de trabalho e na
sociedade.
Através da leitura do material de apoio do MADA, de literatura da
Arteterapia e da Lei Maria da Penha pude perceber as possibilidades que
poderiam ser exploradas dentro dos ambulatórios de saúde mental pelo
Serviço Social e pela própria equipe de saúde, bem como de outros recursos
e direitos que poderiam ser acionados para o atendimento.
Para a pesquisa utilizei essencialmente a bibliografia e a observação
do problema na Unidade de Saúde da qual fiz parte (o Ambulatório de Saúde
Mental Adulto em Nova Iguaçu, especialmente o que funcionava em Santa
Eugênia).
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Arteterapia em três abordagens 10
CAPÍTULO II - A codependência afetiva e
as irmandades de apoio mútuo. 20
CAPÍTULO III – As possibilidades do Serviço Social
e da Arteterapia no atendimento às usuárias dos
serviços de saúde mental com perfil de
codependencia afetiva 24
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
ANEXOS 37
ÍNDICE 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO 45
9
INTRODUÇÃO
Como assistente social no ambulatório de saúde mental do Município
de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro e diante de uma demanda crescente e
continuadamente reprimida frente a outros sofrimentos psíquicos que tem
impacto de forma mais visível na sociedade, percebi ser continuadamente
negligenciado o sofrimento das mulheres que buscavam atendimento.
Diante do advento da Lei Maria da Penha e da ampliação de
instituições que objetivam o atendimento às questões relativas à violência
contra a mulher, bem como seu impacto nas políticas públicas: como o
aumento da demanda nos serviços de saúde (especialmente de saúde
mental) torna-se necessário ampliar as possibilidades de atendimento que
não somente possam garantir de um direito social (acesso ao serviço de
saúde mental), como também oferecer com as técnicas da arteterapia o
desenvolvimento de potencialidades criativas, da autonomia e o aumento da
resiliência como capacidade fundamental à saúde mental.
Este trabalho busca as possibilidades da arteterapia no atendimento
em serviço social às mulheres codependentes.
10
CAPÍTULO I
A Arteterapia em três abordagens.
A arte em contexto terapêutico ganhou cunho profissional a partir da
crise da modernidade quando se questionou o projeto iluminista do
desenvolvimento da humanidade a partir da razão e do raciocínio lógico.
Especialmente após a Primeira Guerra Mundial.
Segundo Ciornai (2004,p.22), com o advento do conceito Freudiano
do inconsciente e da subjetividade que questionam a representação do ser
humano como puramente racional e expondo o quanto nossas decisões são
influenciadas por outros parâmetros além do pensamento cartesiano, outras
formas de se avaliar a importância da emoção e da subjetividade tiveram
seu lugar no tratamento e na busca pelo desenvolvimento das
potencialidades do sujeito em sofrimento.
No final do século XIX , em oficinas de terapia ocupacional, os
trabalhos plásticos de pacientes internados em hospitais psiquiátricos
começaram a despertar interesse em psiquiatras europeus e norte-
americanos, segundo Carrano, “Após nascer na Europa a Arteterapia
atravessou o atlântico, se espalhou pelas Américas chegando ao Brasil, há
aproximadamente 30 anos.”(s.d.):
Em 1876 Max Simon, médico psiquiatra, analisou e publicou
pesquisas sobre as manifestações artísticas de doentes mentais,
classificando-as de acordo com as patologias diagnosticadas.
Até Freud em 1910 outros estudiosos trabalharam sobre as
produções artísticas de doentes psiquiátricos. Freud analisou algumas obras
de grandes artistas como Leonardo Da Vinci e Michelangelo atribuindo às
mesmas relações com questões da infância ou ao relacionamento com
contemporâneos.
Na década de 20 Carl Jung iniciou o tratamento de seus pacientes
usando a arte como instrumento. Segundo Carrano, para Jung, a criatividade
11
é uma função psíquica não apenas fruto de sublimação de instintos sexuais
e agressivos. Passou então a trabalhar o fazer artístico e forma de
integração da personalidade. Arte com esta finalidade materializa a energia
psíquica através de representação simbólica.
Em 1946 Nise da Silveira, psiquiatra, aluna de Jung e pioneira da
psicologia Junguiana no Brasil posicionava-se de forma contrária a
tratamentos agressivos, como o isolamento em hospitais psiquiátricos,
eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia. Tornou-se pioneira também na
pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais (co-
terapeutas). Fundou a Sociedade Internacional de Expressão
psicopatológica (Societé Internationale de Psychopathologie de l’Expression)
com sede em Paris. Pesquisou a relação entre a Terapia Ocupacional e as
imagens do inconsciente o que deu origem a filmes, documentários,
conferências ...
Carl Jung a orientou a estudar mitologia como meio de compreensão
dos trabalhos dos pacientes.
Fundou também, em 1946, o Museu de Imagens do Inconsciente e
criou a Casa da Palmeiras, um projeto inovador de reabilitação de antigos
pacientes de instituições psiquiátricas.
Outro Nome importante no histórico de criação da Arteterapia é
Margaret Naumburg, fundadora da Escola Walden.
“Defendendo a importância da expressão dos
conteúdos e motivações inconscientes para a
educação e o desenvolvimento da personalidade, essa
escola inovou os currículos escolares tradicionais da
época implementando atividades livres e prática da
expressão artística espontânea em sua metodologia
educacional.” (CIORNAI, 2004,p.24)
12
No entanto Naumburg foi se interessando pelas pontes entre o
trabalho na escola e o campo da psiquiatria e da psicoterapia e em 1947
publicou sua pesquisa “Estudos sobre a expressão ‘livre’ na arte de crianças
e adolescentes com problemas de comportamento como meio de
diagnóstico e terapia” que foi republicado em 1973 com o título Introdução à
Arteterapia (o primeiro da Arteterapia).
Embora Naumburg não tenha sido a primeira a utilizar o termo
“Arteterapia” foi a primeira a diferenciá-lo como um campo específico e
fundamentá-lo, ficando conhecida como “mãe da arteterapia” e liderou a
corrente da abordagem psicanalítica em Arteterapia, que, segundo Ciornai,
aproximava-se mais do referencial junguiano para a compreensão do
inconsciente e da função simbólica.
“(...)para ela [Naumburg], o arteterapeuta deve esperar
que o próprio cliente atribua significado às imagens
simbólicas que produziu. Defendendo este princípio ao
criticar os terapeutas que impõe um tipo particular de
interpretação a seus clientes.” (CIORNAI, 2004, p.26)
Edith Kramer representa outra corrente da Arteterapia que se
concentra no valor do processo terapêutico e do fazer artístico :
“Arteterapia é concebida primariamente como um meio
de fortalecer o ego, desenvolver o senso de identidade
e o amadurecimento de forma geral. Sua função
básica é vista no poder da arte de contribuir para o
desenvolvimento de uma organização psíquica capaz
de funcionar sob pressão sem fragmentar-se ou
recorrer a medidas defensivas nefastas. Assim
concebida, a arteterapia torna-se um componente
essencial do contexto terapêutico e uma forma de
terapia que complementa ou aóia a psicoterapia mas
13
não a substitui.“ (KRAMER, 1971 apud CIORNAI,
2004.p28-29)
Mas em comum com Naumburg tinha a preocupação social e
acreditava no ensino da arte e expressão livre como promoção da saúde
coletiva.
Ciornai afirma que Janie Rhyne é a “terceira via” entre os que
defendiam a “arte em terapia” e a “arte como terapia”, uma vez que
acreditava que o “valor terapêutico da atividade artística está tanto no
processo de criação quanto nas possíveis reflexões e elaborações
posteriores sobre os trabalhos realizados”.(CIORNAI.,2004,p.28)
Embora as abordagens sejam diversas e a Arteterapia possa se dar
em diferentes contextos com orientações teóricas diferentes e modos de
abordagem e campos de atuação de diferentes profissionais, baseia-se:
“na crença de que o processo criativo envolvido na
atividade artística é terapêutico e enriquecedor da
qualidade de vida das pessoas. Arteterapia é o uso
terapêutico da atividade artística no contexto de uma
relação profissional por pessoas que experienciam
doenças, traumas ou dificuldades na vida, assim como
por pessoas que buscam desenvolvimento pessoal.
Por meio do criar em arte e do refletir sobre os
processos e trabalhos artísticos resultantes, pessoas
podem ampliar o conhecimento de si e dos outros,
aumentar sua auto-estima, lidar melhor com os
sintomas, estresse e experiência traumáticas,
desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais
e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.”
(CIORNAI, 2008,p.08)
Segundo Medeiros e Branco a Arteterapia se define como:
14
“Processo terapêutico que utiliza técnicas de atividades
plásticas como facilitadora do processo de expressão.
Nela a palavra surge, durante o processo terapêutico,
como efeito do desenvolvimento de uma consigna,
tornando-se discurso por meio da expressão plástica.”
(2008,p.23)
Existem ainda outras definições que tomam o efeito terapêutico como
resultado da comunicação verbal em torna da obra ou ainda do processo de
criação. O uso de materiais plásticos para a expressão de si viabilizaria uma
comunicação a partir da transformação da matéria na criação de um objeto
novo, que se torna materialização de símbolos e trazem à consciência do
sujeito o que estava oculto.
Segundo Urrutigarai:
“Por meio de uma praxe particular, aplicada a uma
matéria apta para sofrer transformações, é possível
criar um objeto novo. A função desse objeto não vem
do uso que se faz dele nem de seu fim. Sua função é
tornar-se signo, assim dizendo, de colocar o sujeito
compreensível na ordem de um código e, ao mesmo
tempo, torná-lo significante pela diferença que ela
impõe a esse mesmo código.” (MEDEIROS E
BRANCO, 2008,p.23)
O papel do Arteterapeuta será então possibilitar situações onde possa
observar e facilitar o sujeito vivenciar uma experiência nova através da
comunicação viabilizada pela transformação dos materiais plásticos, e
através desse processo reconstruir a si próprio.
15
Medeiros e Branco afirmam que a obra não importa como estética, o
foco é o sujeito e sua “busca de significação e reestruturação para atingir a
cura.” (2008,p.24). A atividade criadora seria então resultado da
concretização de algo novo como “reflexo de sua observação do mundo
exterior, de informações cerebrais, ou do sentimento interno manifestado
apenas no próprio ser humano. (2008,p.24)
Segundo Joya Eliezer , o uso da arte no contexto terapêutico viabiliza
várias possibilidade: a expressão de si socialmente aceita para quem produz
e para quem recebe; o desenvolvimento da criatividade e a elaboração
estética, possibilitando uma vida com maior equilíbrio, bem como permitir o
pertencimento a uma identidade socialmente mais valorizada. “Mudar a
posição de doente mental para artista, funciona como um passaporte para a
integração social” (Ciência & Vida – Psique, Ano 1, no. 12. p. 31)
Joya afirma que a arte como instrumento terapêutico reabilita e inclui
socialmente pessoas com deficiências ou ainda pessoas excluídas
socialmente como os desempregados, aposentados, idosos e outros grupos
que passariam de uma identidade negativa a uma culturalmente mais bem
aceita: a pessoa que produz arte.
Embora o objetivo não seja encontrar artistas, como coloca Rose
Campos, na edição 12 da Ciência & Vida a expressão artística proporciona
autoconhecimento, aceitação e a possibilidade de corrigir-se na sua obra.
Selma Ciornai expõe que:
“A formação em arteterapia além das matérias de arte
e psicologia necessárias, compreende também um
corpo teórico e metodológico próprios, que abrange
conhecimentos da história da arteterapia e dos autores
pioneiros e contemporâneos de maior proeminência na
área, conhecimentos dos processos psicológicos
gerados tanto no decorrer da atividade artística como
na observação dos trabalhos de arte, conhecimento
16
das relações entre processos criativos, terapêuticos e
de cura, conhecimento das propriedades terapêuticas
dos diferentes materiais e de técnicas, conhecimentos
dos fundamentos teóricos e metodológicos da
abordagem, estudo de pesquisas e trabalhos
realizados por arteterapeutas em diversos campos de
atuação, vivência pessoal e prática supervisionada por
profissionais com experiência na área.” (2004,p.7-8)
Embora as abordagens sejam diversas e a Arteterapia possa se dar
em diferentes contextos com orientações teóricas diferentes e modos de
abordagem e campos de atuação de diferentes profissionais, baseia-se:
“na crença de que o processo criativo envolvido na
atividade artística é terapêutico e enriquecedor da
qualidade de vida das pessoas. Arteterapia é o uso
terapêutico da atividade artística no contexto de uma
relação profissional por pessoas que experienciam
doenças, traumas ou dificuldades na vida, assim como
por pessoas que buscam desenvolvimento pessoal.
Por meio do criar em arte e do refletir sobre os
processos e trabalhos artísticos resultantes, pessoas
podem ampliar o conhecimento de si e dos outros,
aumentar sua auto-estima, lidar melhor com os
sintomas, estresse e experiência traumáticas,
desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais e
desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.”
(CIORNAI, 2008,p.08)
17
CAPÍTULO II
A codependência afetiva e
as irmandades de apoio mútuo.
A Codependência afetiva é o objeto de tratamento de duas grandes
irmandades de apoio mútuo: o MADA (Mulheres que Amam Demais
Anônimas) e o CoDA (Codependentes Anônimos).
O CoDA é “uma irmandade de homens e mulheres cujo propósito comum é
aprender a desenvolver relacionamentos saudáveis.” (www.codabrasil.org)
No Brasil foi inaugurado em 06 de Dezembro de 1997 na Rua João Moura,
425 em Pinheiros – São Paulo, por iniciativa de indivíduos que faziam parte
do Al-Anon e Nar-Anon. Hoje tem 12 anos de criação, com entidade jurídica
e CNPJ e vinte grupos espalhados pelo Brasil, sendo mais concentrados no
Rio de Janeiro e em São Paulo.
O MADA é:
“um programa de recuperação para mulheres que tem
como objetivo primordial se recuperar da dependência
de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se
relacionar de forma saudável consigo mesma e com
os outros.” (www.grupomada.com.br)
O MADA foi criado tendo como referência o livro “Mulheres que
Amam Demais” de 1985, por Robin Norwood. A autora é psicóloga e
terapeuta familiar e escreveu com base em sua própria experiência e de
outras centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos,
percebendo um padrão de comportamento comum.
18
Segundo o site www.grupomada.com.br o primeiro grupo foi aberto
em São Paulo por uma mulher casada com um dependente químico que se
identificou com o livro de Robin Norwoord.
O Grupo MADA tem hoje 45 reuniões semanais no Brasil, uma em
Portugal e três na Venezuela. O MADA coloca que é necessário que se
assista a seis reuniões para a recém chegada a avaliar se é uma adicta a
pessoas e se quer permanecer no grupo.
“As reuniões são para partilhar a experiência, fortaleza
e esperança de cada mulher. A ajuda vem da “terapia
de espelhos” – os depoimentos: alguém fala sobre
uma situação que se assemelha à de MAD (Mulher
que Ama Demais). A partir dessa experiência pessoal
e, sem dar conselhos ou fazer interpretações
psicológicas, a mulher é ajudada através da
identificação com outras mulheres que sofrem com os
efeitos da sua dependência de pessoas. O propósito
do Grupo é o de que mulheres dependentes de
relacionamentos possam ter relacionamentos
saudáveis.” (www.grupomada.com.br)
Ambas (CoDA e MADA) baseiam-se nos doze passos e doze
tradições adaptadas do AA -Alcoólicos Anônimos (vide anexos 1,2 e 3).
Assim como na definição do Transtorno de Personalidade
Dependente (no site psicologia.com.pt/instrumentos) onde existe “uma
necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um
comportamento submisso e aderente e ao medo da separação.”, o MADA e
o CoDA tomam por referência a dependência de relacionamentos
destrutivos:
Originalmente, a palavra foi usada para descrever a
pessoa ou as pessoas cujas vidas foram afetadas
19
como resultado de estarem envolvidas com alguém
quimicamente dependente. O cônjuge, filho ou amante
de alguém quimicamente dependente, era visto como
tendo desenvolvido um padrão de lidar com a vida que
não era saudável, como reação ao abuso de droga ou
de álcool por parte do outro. (SUBBY e FRIEL apud
BEATTIE, 2002, p.46)
Embora as demandas por psicoterapia e medicação apresentadas
por várias mulheres no ambulatório de saúde mental venham
acompanhadas por um adoecimento visto pelas usuárias como
conseqüência “do outro que se recusa a mudar” (a agressividade, a
indiferença, a relação com drogas, com dinheiro...), a busca por atendimento
é minimizada diante do fato que muitas usuárias permanecem com suas
atribuições diárias, do cuidado da casa, da família. Muitas, apesar do
sofrimento psíquico, continuam a trabalhar.
O comprometimento ou a incapacidade para manter as atribuições
da vida cotidiana é visto como um indício do quão grave está a saúde
psíquica dos usuários. Assim as usuárias que buscam atendimento e não
estão incluídas nesta avaliação são orientadas a buscar recursos sociais,
como o MADA, o CoDA, ou ainda orientadas a buscar outras atividades
sociais (atividades manuais, atividades de voluntariado, e no caso de
mulheres idosas, centros de convivência).
Ainda que se compreenda, ou que se considere o fato de que a
demanda supera muito o número de profissionais para atendimento em
instituições públicas como pude acompanhar no Ambulatório de Saúde
mental Adulto em Nova Iguaçu, pude perceber também que não existe
nenhum esforço para promover recursos para esta demanda, apesar da
crescente procura.
Em parte esse comportamento pode ser explicado pela inserção em
um sistema capitalista patriarcal que considera adoecimento grave aquele
que compromete a capacidade produtiva mas desconsidera a busca pela
20
qualidade de vida, ou ainda quando de alguma forma a doença pode ser
produtiva para o meio em que a mulher vive, uma vez que a busca pela
independência feminina ainda é um processo que avança lentamente
considerando que as mulheres ainda necessitam de uma lei que proteja sua
integridade física e emocional diante de relacionamentos que se
desenvolvem em ciclos de violência que terminam em delegacias, unidades
de saúde ou no silêncio dos envolvidos.
A Lei Maria da Penha (Lei 11.340) publicada em Agosto de 2006 é
consequência da luta das mulheres e uma necessidade diante da visibilidade
de registros nas Delegacias antes mesmo da aprovação da Lei.
A criação do CIAM (Centro Integrado de Atendimento à Mulher)
Márcia Lyra, conseqüência da grande demanda evidenciada durante o
funcionamento de um projeto piloto, em âmbito governamental que
funcionava em uma sala do CEDIM/RJ (Conselho Estadual dos Direitos da
Mulher), resultou hoje em um número de instituições cada vez maiores que
se dedicam a esta demanda, como nos mostra a cartilha distribuída pelo
próprio CIAM:
“Hoje o estado do Rio de Janeiro conta com 24
Centros de Atendimento, 9 DEAMs, 4 Casas Abrigo, 1
Núcleo de Atendimento à Mulher Vítima de Violência –
NUDEM e 4 Juizados Especiais de Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Estão em
andamento projetos de implantação de mais serviços
nos municípios, de forma a ampliar a rede de
atendimento a mulheres em situação de violência.”
(Cartilha CIAM Márcia Lyra, p. 10)
Se considerarmos que a Lei Maria da Penha coloca como obrigação
que:
21
“Cabe a família, à sociedade e ao poder público (grifo
nosso) criar as condições necessárias para o efetivo
exercício dos direitos enunciados no caput.”
Na Lei, transcrita na cartilha do CIAM:
“direito à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade,
à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária” (Lei Maria da Penha)
Cabe também às instituições públicas de saúde, o atendimento em
situações de violência contra a mulher, não é uma demanda dirigida apenas
as instituições de segurança pública.
Uma das reclamações mais recorrentes em unidades de
emergência em saúde e de segurança pública está no que o CIAM define
como “Ciclo de Violência” (vide anexo 4), onde a mulher se submete à
violência através do silêncio. Nesta situação profissionais da saúde e da
segurança sentem-se impotentes perante a violência a que é submetida ou
submete-se a mulher.
Neste ponto percebe-se a necessidade de intervenção das equipes
saúde no sentido de fortalecer a auto-estima, a saúde psicológica e
integridade emocional dessas mulheres para que as mesmas se
reconheçam como portadoras de direitos e sejam as primeiras a lutar por
eles.
A Lei Maria da Penha, enquanto instrumento de defesa dos direitos
da mulher e o tratamento da Codependencia Afetiva são duas faces da
mesma moeda. Excluindo-se as situações onde a violência foi pontual e é
imediatamente combatida pelo comportamento da mulher, não se incluindo
portanto, no ciclo de violência já citado, em outras situações, onde a mulher
retoma relacionamentos onde se coloca em risco, seja porquê silencia,
22
“retira a queixa” ou insiste em relacionamentos destrutivos, ou de outras
formas submete-se, existe a necessidade de intervenção das instituições de
saúde, especialmente as de saúde mental.
Essa submissão é o foco do trabalho. É nesse sentido que o MADA
e o CoDA propõe a necessidade de acompanhamento e é nesse sentido
também que as unidades de saúde mental podem contribuir para o resgate
da integridade emocional destas mulheres.
O MADA e o CoDA são irmandades de apoio mútuo e podem
contribuir, porém as instituições de saúde pública devem contribuir para o
tratamento e recuperação dessas mulheres sob o risco de incorrer em
violência institucional como coloca a Cartilha CIAM: “Quando organizações e
serviços privados ou públicos discriminam e tratam com desrespeito as
mulheres” (Cartilha CIAM, p. 07).
Instituições públicas e privadas evidenciam suas filosofias através
das normas que estabelecem, e para definir qual o público alvo dos
atendimentos. Se os ambulatórios de saúde mental excluírem as mulheres
com perfil de codependencia afetiva vão contribuir para o aumento dos
casos de violência, uma vez que mulheres com este perfil se submetem a
perpetuação do Ciclo de Violência.
Considerando ainda que o CoDA e o MADA são irmandades que
não fazem uso do trabalho de profissionais mas da experiência de outras
codependentes em recuperação, estas não fazem estatísticas, pesquisas ou
estudos de demanda com o objetivo de ampliar recursos sociais e
profissionais nas regiões com maior número de violência como estabelece a
Lei Maria da Penha em seu art. 38:
“As estatística sobre violência doméstica e familiar
contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança
a fim de subsidiar o sistema nacional de dados e
informações relativo às mulheres”
23
Nesse sentido o atendimento a essa demanda por tratamento no
ambulatório de saúde mental ou em outras instituições de atendimento
psicossocial possuem o respaldo legal e os instrumentos necessários para
promover pesquisas e notificar (através das fichas de notificação de
violência), bem como fornecer laudos e subsidiar direitos dos cidadãos,
como por exemplo: licença médica e laudos para obtenção de benefícios
previdenciários/ trabalhistas.
Como informado no site da Previdência Social, os documentos
exigidos para contribuinte individual e facultativo que deseja requerer o
auxílio doença, além daqueles que comprovem a inscrição na previdência
são:
“Atestado médico, exames de laboratório, atestado de
internação hospitalar, atestados de tratamento
ambulatorial, dentre outros que comprovem o
tratamento médico.” (www.previdenciasocial.gov.br)
Portanto não incluir os usuários que buscam atendimento nos
ambulatórios de saúde mental pode contribuir para exclusão de outros
direitos sociais aos quais teriam acesso se necessário.
24
CAPÍTULO III
As possibilidades do Serviço Social e da
Arteterapia no atendimento às usuárias dos serviços
de saúde mental com perfil de codependencia afetiva.
O Serviço Social como profissão que tem inserção na área da saúde
tendo como objeto a questão social e suas refrações, “no conjunto de
desigualdades que se originam do antagonismo entre a socialização da
produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho” (Orientação
profissional: Informações básicas para o Assistente Social. .2008. pág. 08).
O Assistente Social tem sua intervenção no cotidiano social por
meio de ações de sócio-educativas e de prestação de serviços. Neste
trabalho procuro explorar alguns princípios fundamentais do exercício
profissional do Assistente Social que devem ser considerados no
atendimento aos portadores de codependencia afetiva com os instrumentos
da arteterapia, a saber:
“● Reconhecimento da liberdade como valor ético
central e das demandas políticas a elas inerentes –
autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;
● Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa
do arbítrio e do autoritarismo.;
● Ampliação e consolidação da cidadania,
considerada tarefa primordial de toda a sociedade,
com vistas á garantia dos direitos civis, sociais e
políticas das classes trabalhadoras;
● Defesa do aprofundamento da democracia,
enquanto socialização da participação política e da
riqueza socialmente produzida;
25
● Posicionamento em favor da equidade e da justiça
social, que assegure universalidade de acesso aos
bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como sua gestão democrática.
● Empenho na eliminação de todas as formas de
preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à
participação de grupos socialmente discriminados e à
discussão das diferenças.
● Opção por uma projeto profissional vinculado ao
processo de construção de uma nova ordem
societária, sem dominação-exploração de classe, etnia
e gênero.
● Exercício do Serviço Social sem ser discriminado,
nem discriminar por questões de inserção de classe
social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção
sexual, idade e condição física.” (Orientação
profissional: informações básicas para o Assistente
Social, 2008,p.37-38)
Diante do exposto no Capítulo II, acreditamos que os valores como
reconhecimento da liberdade, defesa dos direitos humanos, ampliação e
consolidação da cidadania e exercício profissional sem discriminar estejam
consoantes com a proposta da Lei Maria da Penha e o objetivo de
universalidade do acesso aos bens e serviços socialmente produzidos, e
democratização do acesso como preconiza a proposta da Reforma Sanitária.
“A principal proposta da Reforma Sanitária é a defesa
da universalização das políticas sociais e a garantia de
direitos sociais. Nessa direção, ressalta-se a
concepção ampliada de saúde, considerada como
melhores condições de vida e de trabalho, ou seja,
com ênfase nos determinantes sociais (...)”
26
(Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na
Política de Saúde, 2010,p. 17)
A universalização do acesso é um objetivo a ser buscado nos
atendimentos no SUS (Sistema Único de Saúde) tendo em vista a ampliação
dos direitos sociais dos cidadãos, e não apenas dos mais pobres, como vem
ocorrendo diante da precarização e do desfinanciamento da Seguridade
Social.
A concepção de saúde como um direito, é avessa a lógica que
afirma o SUS para os mais pobres e o setor privado para aqueles que
podem comprar os serviços. Processo similar vem ocorrendo no
atendimento aos portadores de codependencia afetiva, onde as ações que
deveriam ser complementares passam a essenciais uma vez que o
atendimento é redirecionado às ONGs, irmandades de mútuo apoio (como
MADA e CoDA) e instituições filantrópicas.
O adoecimento decorrente de situações que envolvam
comprometimento emocional são habitualmente vistos com preconceito e
devem ser alvo observação e estudo das equipes de saúde, uma vez que
comprometem a qualidade de vida dos cidadãos e são continuadamente
negadas em instituições de saúde, onde as consequências mais evidentes
aparecem sob a forma de colapso emocional, uso abusivo de medicação,
tentativas de suicídio e o constrangimento e a humilhação provocadas pela
exposição dos resultados (marcas físicas) das agressões.
Negligenciar o atendimento de codependentes é uma forma de
impedir o acesso e a visibilidade deste para a formulação de políticas
públicas e adequação de recursos.
O Serviço Social é chamado a se articular a outros profissionais de
saúde, compondo as equipes e nesse sentido pode propor formas de
atendimento que incluam à família, bem como os responsáveis (no caso de
crianças/adolescentes, e pessoas impossibilitadas de responder por si)
viabilizando o esclarecimento a respeito de benefícios, direitos sociais, bem
27
com participar de ações sócio-educativas, bem como realizar a notificação
(junto com a equipe de situações de violência constatada ou presumida).
Mas é nas ações socioeducativas, eixo central da atuação do
Assistente Social, que acreditamos ser maiores as possibilidades da
utilização das técnicas de arteterapia no atendimento aos portadores de
codependencia afetiva:
“As ações socioeducativas e/ou educação em saúde
não devem pautar-se pelo fornecimento de
informações e/ou esclarecimentos que levem a
simples adesão do usuário, reforçando a perspectiva
de subalternização e controle dos mesmos. Devem ter
como intencionalidade a dimensão da liberdade na
construção de uma nova cultura e enfatizar a
participação dos usuários no conhecimento crítico da
sua realidade e potencializar os sujeitos para a
construção de estratégias coletivas.” (Parâmetros para
a atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde.
2010. p.53)
O Assistente Social pode estimular através da prática que leve a
reflexão, a formação da consciência crítica das situações vivenciadas pelos
usuários, e o desvelamento da realidade social a qual estão inseridos,
priorizando o atendimento em grupo de forma a fortalecer a identidade social
e a consciência de grupo possibilitando a participação consciente em seu
tratamento e nos processo de transformação da sua realidade.
Neste sentido insere-se uma dimensão importante da arteterapia
onde o uso de suas técnicas (o uso de contos e mitologias, as técnicas de
artes plásticas, o favorecimento da criatividade e da linguagem da arte) pode
favorecer a integração das pessoas, o acesso à informação, o debate de
novas possibilidades com outros recursos além dos grupos onde o uso da
28
palavra é o único recurso e onde muitas vezes se transformam em palestras
unilaterais que não favorecem a participação ou o protagonismo do usuário.
Considerando que a codependencia afetiva se concretiza nas
relações sociais e que as mulheres na nossa cultura patriarcal ainda são as
responsáveis primeiras pela educação dos filhos, seu tratamento possibilita
um ganho para toda a sociedade uma vez que isso pode significar uma
quebra geracional na educação para a codependencia. O que significaria
que no futuro outras gerações poderiam se relacionar de forma mais
saudável e autônoma.
Nesse sentido o conceito de resiliência:
“Capacidade humana para enfrentar e vencer e ser
fortalecido ou transformado por experiências de
adversidade” (MELILLO; OJEDA, 2005, p. 15)
Deve fazer parte dos projetos e oficinas que tenham por objetivo o
desenvolvimento da autonomia, pois como afirma Robin Norwood: “crescer
como mulher nessa sociedade e em famílias desajustadas, pode gerar
padrões previsíveis” (1987,p. 23)
Para existir resiliência é necessário que tenham existido situações
adversas e quando uma mulher busca ajuda, das irmandades ou das
instituições públicas de saúde mental existe o reconhecimento, ainda que
inconsciente, de não conseguir mais lidar com uma situação relacional.
Em muitos casos as situações adversas fazem parte do cotidiano de
violência, então promover a resiliência é função da instituição que a acolhe
promovendo saúde mental.
“O papel da resiliência é desenvolver a capacidade
humana de enfrentar, vencer e sair fortalecido de
situações adversas e transformado. È um processo
que excede o simples “superar” essas experiências, já
29
que permite sair fortalecido por elas, o que
necessariamente afeta a saúde mental.” (MELILLO;
OJEDA, 2005, p. 18)
Ao se trabalhar com grupos reflexivos sobre a codependencia
afetiva deve considerar que muitas mulheres gravitam em torno da vida do
companheiro ou das pessoas com quem desenvolveram relação de
codependência, abandonando a si e seus projetos pessoais, depositando
toda a expectativa de bem-estar no outro. Sendo assim é preciso incentivar
atitudes e parcerias que reforçem outros contatos sociais a fim de fortalecer
fatores de resiliência como aponta Grotberg:
“ Eu tenho (apoio)
• Pessoas do entorno em quem confio e que me querem
incondicionalmente.
• Pessoas que me põem limites para que eu aprenda a
evitar os perigos ou problemas.
• Pessoas que me mostram, por meio de sua conduta, a
maneira correta de proceder.
• Pessoas que querem que eu prenda a me desenvolver
sozinho.
• Pessoas que me ajudam quando estou doente, ou em
perigo, ou quando necessito aprender.
Eu sou (e estou – relativo ao desenvolvimento da
força intrapsíquica)
• Uma pessoa pela qual os outros sentem apreço e
carinho.
• Feliz quando faço algo bom para os outros e lhes
demonstro meu afeto.
• Respeitoso comigo mesmo e com o próximo
Eu estou
• Disposto a me responsabilizar por meus atos
30
• Certo de que tudo sairá bem
Eu posso (aquisição de habilidades interpessoais e
resolução de conflitos)
• Falar sobre coisas que me assustam ou inquietam.
• Procurar a maneira de resolver os problemas.
• Controlar-me quando tenho vontade de fazer algo errado
ou perigoso.
• Procurar o momento certo para falar com alguém.
• Encontrar alguém que me ajude quando necessário.”
(MELILLO; OJEDA, 2005, p. 17)
È necessário que várias instituições se unam nesse propósito uma
vez que sem integração muitas instituições abordam parcialmente algumas
questões.
È evidente que o MADA e o CoDA promovem o encontro de
mulheres que compartilham uma vivência parecida do problema e promovem
que o integrante do grupo ouça outros com o mesmo problema. Assim como
promovem laços de solidariedade, porém quando se tem o objetivo de
fortalecer também identidades positivas (e não apenas a identidade de MAD,
ou de codependente) é necessário que se incentive a reinserção social
através de outros grupos que possam acolher outros interesses da mulher.
È fundamental conhecer a realidade das usuárias, fortalecer
vínculos familiares e comunitários e mobilizar a rede de serviços de saúde e
culturais possibilitando assim o crescimento do circulo de relações afetivas
que sejam suporte além das instituições de saúde mental.
O serviço de saúde mental público deve assumir o papel de
integrador e protagonista no atendimento ainda que busque parcerias com
outras instituições para ampliar a qualidade e o potencial para abarcar toda a
diversidade de desafios que envolvem a codependencia feminina e a
violência doméstica conseqüentemente.
A valorização do feminino, o resgate de valores familiares e
comunitários, o estímulo à criatividade e o aproveitamento de recursos
31
sociais são objetivos que podem ser incluídos em oficinas trabalhadas pelo
serviço social com as técnicas da arteterapia, em especial as que busquem
a valorização da criatividade e de novas formas de avaliar uma situação
diante dos recursos disponíveis, tornando visível a autonomia na solução
dos problemas pessoais e o fortalecimento de vínculos positivos.
É preciso considerar que promover a resiliência nas mulheres
adultas portadores de codependencia afetiva é viabilizar a mudança de
qualidade de vida não somente delas próprias mas também de seus filhos
que podem usufruir então de uma educação e convivência familiar mais
voltada para a construção de relações saudáveis.
Promover a reflexão com base na discussão dos contos repassados
por várias gerações como aponta Carrano:
“A essência da alma humana guarda elementos
carregados de símbolos que estão aprisionados e
precisão ser libertados. Nos contos de fada, esse
elementos são representados pelos mais variados
personagens, desde animaizinhos bem pequininos até
feras mais devoradoras, por duendes, fadas, príncipes e
princesas. Os contos de fada, por meio da sua
linguagem simbólica, falam-nos da nossa trajetória
arquetípica, da busca do herói pela sua individuação,
permitindo uma maior compreensão, em um sentido
mais profundo da totalidade psíquica.”
(PELLEGRINI,2009,p.26)
È viável, num grupo de reflexão, fazendo uso de uma técnica da
Arteterapia (como a utilização dos contos com objetivo terapêutico),
promover a discussão sobre o papel de homens e mulheres na nossa
sociedade, do adoecimento decorrente da rigidez de comportamentos e da
submissão da liberdade à violência.
32
Ou ainda como aponta Bello, referindo-se à outra técnica utilizada
na Arteterapia - A Pintura Espontânea:
“A Pintura Espontânea também está interessada em
promover a transformação social, ajudando cada
indivíduo a descobrir sua essência única e seu objetivo
de vida. Ela ajuda cada pessoa a entrar em contato e
a expressar seus próprios potenciais e a manifestar
sua presença autêntica e sua contribuição à
sociedade. È uma forma de Arte cujo significado está
totalmente integrado á vida diária do pintor.” (BELLO,
2007, p.12)
Podemos ver que através das técnicas utilizadas na Arteterapia
outros recursos podem ser acionados. Inclusive oficinas de convivência onde
podem ser trabalhadas em grupos as questões relativas a valores sociais ou
ainda outros objetivos que acrescentem ao tratamento proposto pela equipe
de saúde.
È necessário que as equipes de saúde estejam também conscientes
de que a cultura na qual estamos inseridos promove atitudes inconscientes
de discriminação, nesse sentido é fundamental posicionar-se e estabelecer
formas de atendimento que ativamente se proponham a defender a
liberdade, o respeito a autonomia e a democracia. Como coloca Bello é
importante perceber que estamos vivendo um novo momento histórico, onde
“a hierarquia autoritária do poder” está sendo substituída por uma
“organização social de parceria, onde ambos os sexos compartilham os
mesmos papéis sociais.” (2007,p.30). Sendo assim:
“Os efeitos do ressurgimento da influência feminina na
estrutura de poder refletem-se na receptividade e
aceitação de outros modos de conhecimento, em
33
adição do pensamento dedutivo lógico.”
(BELLO,2007,p.30)
È claro que todo projeto que envolve mudanças nas formas de
atendimento demandam transformações no cotidiano dos profissionais
envolvidos, esforços de inclusão, enfrentamento de preconceitos e recursos
materiais, que se tratando de serviços públicos significa mobilização para
adequação de verbas e também muita criatividade para aproveitar os
recursos disponíveis.
No que diz respeito à criatividade na utilização de recursos é preciso
permitir espaço para o conhecimento dos profissionais que fazem uso de
materiais recicláveis e recursos naturais:
“Não só o paciente, mas também o arteterapeuta,
deverão se habituar a buscar sempre novos potenciais
em objetos e materiais descartados, abandonados,
desfigurados, e inusitados. Imprescindível a
simplicidade, para perceber através de um simples
olhar, a possível transformação de um material -
independente de sua riqueza ou aceitação - em algo
nobre, fruto da criatividade.
Sempre será necessário abrir os olhos da
imaginação, do fantástico, do magnífico, da arte, da
cultura, e fechar os olhos do receio, da vergonha, da
incapacidade, do preconceito, pois ser criativo se
constitui em não somente propor, mas elaborar novas
estratégias frente a situações desafiadoras,
possibilitando assim novas relações entre o sujeito e
suas questões.
Torna-se imprescindível a utilização da visão e da
imaginação, e o desenvolvimento da comunicação
imagética - ver, imaginar o porquê, e se perguntar
34
como. Indagar é preciso: os olhos como instrumentos
da razão captando formas e figuras, e a mente com o
olhar voltado à criação, colocando-se no lugar do
artífice transformador. Será necessário criar, através
da comunicação dos sentidos, uma ligação com a
matéria - a arte, exposta e posta como um produto da
mente que brinca; como um produto de um indivíduo
em desenvolvimento; como um produto de um ser
trilhando seu processo de individuação.”
(NAGEM,2006,p.39)
Além do aspecto gratificante da transformação dos
materiais que antes seriam descartados em materiais plásticos e objetos de
transformação e arte , é preciso considerar os poucos recursos financeiros
da população usuária dos serviços públicos de saúde permitindo que estes
contribuam com o que encontram em casa, nas ruas, em objetos e utencílios
que podem ser utilizados em oficinas de criação nos grupos de convivência,
reflexão ou ainda em oficinas de geração de renda, ampliando assim as
possibilidades criativas no atendimento e também as possibilidades de
transformação da realidade de sofrimento do usuário e melhora da qualidade
de vida.
35
CONCLUSÃO
A codependencia afetiva, como outras codependencias estão
continuadamente sem suporte adequado de instituições públicas, boa parte
da rede de atendimento para tratamento se constitui de instituições
filantrópicas e ONG’s que reconhecidamente tem seu valor porém não
incluem o usuário na condição de portador de direitos. Instituições como o
MADA e o CoDA não possuem estatística ou estudos sobre o perfil ou as
necessidades correlacionadas ao público que atende. Nesse sentido excluir
essas usuárias (as mulheres codependentes afetivas) do atendimento do
serviço público de saúde mental termina por excluí-las do acesso a
informações e recursos fundamentais para o tratamento e para a
constituição de uma sociedade mais justa, sem violência.
A não absorção dessas usuárias pelo serviço público também
inviabiliza que elas forneçam informações fundamentais para os bancos de
dados públicos que possibilitariam a ampliação de políticas públicas para
esta demanda.
Para o serviço social é fundamental trabalhar questões para a
busca de ampliação dos direitos sociais e o desenvolvimento da autonomia
dos usuários, sem contudo abandoná-los nesse processo à instituições
filantrópicas que podem interromper o acompanhamento a qualquer
momento deixando o usuário sem referência ou suporte no tratamento do
seu sofrimento.
As técnicas de arteterapia somam ao serviço social no sentido em
que enriquecem as possibilidades da comunicação e o potencial vivencial
das experiências em grupo, viabilizando novos olhares para uma realidade
de isolamento e violência, bem como favorecem o protagonismo dos
usuários na solução de seus problemas.
O objetivo não é isolar o serviço público como único a atender a
demanda da codependência afetiva mas reafirmá-lo como protagonista e
principalmente como difusor dos direitos e dos recursos sociais disponíveis,
36
incluindo as instituições como parceiras fundamentais no processo de
atendimento da demanda.
37
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Os Doze Passos de CoDA
Anexo 2 >> Os Doze Passos de MADA Anexo 3 >> Os Doze Passos dos Alcoólicos Anônimos Anexo 4 >> Ciclo de Violência – Cartilha do CIAM – Márcia Lyra
38
ANEXO 1
Os Doze Passos de CoDA -Codependentes Anônimos foram adaptados dos 12 Passos de Alcoólicos Anônimos
Informações retiradas do site codabrasil.org.br
1. Admitimos que éramos impotentes perante os outros - que nossas vidas haviam se tornado incontroláveis.
2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós, poderia nos devolver a sanidade. 3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidado de Deus como nós O
concebíamos. 4. Fizemos um destemido e minucioso inventário moral de nós mesmos. 5. Admitimos perante a Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata
de nossas falhas. 6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter. 7. Humildemente rogamos a Deus para que nos livrasse de nossas imperfeições. 8. Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a
reparar os danos a elas causados. 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, exceto
quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem. 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal, e quando nós estávamos errados, nós o
admitíamos prontamente. 11. Procuramos através da prece e da meditação melhorar nosso contato consciente com Deus
como nós O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e força para realizar essa vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos levar esta mensagem para outros codependentes e praticar estes princípios em todos as nossas atividades.
39
ANEXO 2
Informações retiradas do site: grupomada.com.br
Mulheres Que Amam Demais Anônimas
OS DOZE PASSOS DE MADA
1. Admitimos que éramos impotentes perante os relacionamentos e que tínhamos perdido o controle de nossas vidas.
2. Passamos acreditar que um poder superior a nós mesmas poderia nos devolver a sanidade.
3. Decidimos entregar nossas vidas aos cuidados de Deus, na maneira como O concebíamos.
4. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmas.
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmas e outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
6. Nos dispusemos inteiramente a deixar que Deus removesse os defeitos do nosso caráter.
7. Humildemente, pedimos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
8. Fizemos uma lista de todas as pessoas que prejudicamos e nos dispusemos a reparar os erros que cometemos com elas.
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos erradas, nós o admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e forças para realizar essa vontade.
12. Graças a esses passos, experimentamos um despertar espiritual e procuramos transmitir essa mensagem a outras mulheres, dependentes de pessoas. Procuramos praticar esses princípios em todas as nossas atividades. Nada, absolutamente nada, acontece por equívoco no mundo de Deus.... A não ser que eu aceite a vida totalmente do jeito que ela é, não poderei ser feliz. Preciso me concentrar menos no que é preciso mudar no mundo e mais no que eu preciso mudar em mim e nas minhas atitudes.
-OS DOZE PASSOS DE MADA (Adaptados de A.A.)
40
ANEXO 3
Retirados do site da Wikipédia
Os Doze Passos de AA:
Os Doze Passos (para os Alcoólicos Anônimos) são:
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. 5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a
natureza exata de nossas falhas. 6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses
defeitos de caráter. 7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. 8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos
dispusemos a reparar os danos a elas causados. 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que
possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem. 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós
o admitíamos prontamente. 11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato
consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses princípios em todas as nossas atividades.
41
ANEXO 4
Retirado da Cartilha CIAM Márcia Lyra:
42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
___________. Cartilha: Uma Vida sem Violência é um Direito das
Mulheres. CIAM Márcia Lyra.
_______________. Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na
Política de Saúde 2. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas de
Sociais. Brasília: CFESS, 2010.
_______________. Orientação Profissional: Informações Básicas para o
Assistente Social. 2ª.ed.,Rio de Janeiro: CRESS 7ª. Região,2008.
MELILLO, Aldo; OJEDA, Elbio Nestor Suárez. Resiliência – descobrindo as
próprias fortalezas. Porto Alegre, Artmed Editora, 2005.
CIORNAI, Selma (org.). Percursos em arteterapia: arteterapia gestaltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Editora Summus, 2004.
MEDEIROS, Adriana; BRANCO, Sonia. Contos de Fada: vivências e técnicas em arteterapia. Rio de Janeiro: WAK Ed.,2008
CARRANO. Eveline. Histórico do uso da arte em terapia. s/d.
CAMPOS, Rose. Terapia da Arte. In. Psique- Ciência & Vida. Ano 1.No. 12 SILVA. Luciana Pellegrini Baptista (org). Bruxas e Fadas – Sapos e Príncipes – Os Contos de Fadas em Experiências Arteterapêuticas. 2ª. Ed, Rio de Janeiro: Wak Ed.,2009. BEATTIE, Melody. Co-dependência Nunca Mais. Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Record,2003.
43
NAGEM, Denise. Caminhos da Transformação–Transformar par Integrar: Da
restauração à reciclagem. Rio de Janeiro, ISEPE, 2006. Disponível em:
<http://arteterapia.org.br/caminhosdetransforma_o_monografiacompleta.pdf>
Acesso em: 03/01/2011.
BELLO, Susan. Pintando sua alma: Método de desenvolvimento da
personalidade criativa. 3ª. Ed, Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007.
FIGUEIREDO-MODESTO,Claudia; ROSA,RenataMarçal.MADA:a construção de identidade na telenovela Mulheres Apaixonadasatravés do marketing social. Disponível em: <http://www2.metodista.br/unesco/1_Celacom%202010/arquivos/Trabalhos> Acesso em: 20/11/2010.
www.psicologia.com.pt/ instrumentos/dsm_cid/dsm.php
www.grupomada.com.br
www.previdenciasocial.gov.br
http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_de_12_passos
44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 4
DEDICATÓRIA 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
(A Arteterapia em três abordagens.) 10
CAPÍTULO II
(A codependência afetiva e
as irmandades de apoio mútuo.) 17
CAPÍTULO III
(As possibilidades do Serviço Social e da Arteterapia
no atendimento às usuárias dos serviços de saúde
mental com perfil de codependencia afetiva) 24
CONCLUSÃO 35
ANEXOS 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
ÍNDICE 44
45
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: