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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O CAMINHO DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL ENTRE PAIS E FILHOS EM MEIO A UMA GERAÇÃO EM COLAPSO Por: Daiana de Souza Leite Antunes Orientador Profº. Fabiane Muniz Niterói 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O CAMINHO DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL ENTRE PAIS E

FILHOS EM MEIO A UMA GERAÇÃO EM COLAPSO

Por: Daiana de Souza Leite Antunes

Orientador

Profº. Fabiane Muniz

Niterói

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O CAMINHO DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL ENTRE PAIS E

FILHOS EM MEIO A UMA GERAÇÃO EM COLAPSO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

psicopedagogia

Por: Daiana de Souza L. Antunes

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AGRADECIMENTOS

Aos amigos da pós pela amizade que

construímos durante esses meses, aos

professores pela dedicação e exemplos

profissionais e aos meus familiares que

sempre me apóiam nos momentos que

preciso.

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais pelo carinho e

incentivo. Ao meu marido pelo carinho,

compreensão, paciência e apoio

fundamental para realização desse

trabalho. A minha amiga Thais pelo

companheirismo, amizade e incentivo.

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RESUMO

As dificuldades atuais têm contribuído para que o relacionamento

entre pais e filhos se torne cada vez mais difícil. A sociedade

contemporânea tem criado jovens pervertidos, que cada vez mais se

deixam levar por prazeres e pela orientação de seus pares. De um lado,

observamos os pais numa constante luta para criar os seus filhos,

temerosos, impotentes diante do grande abismo que se abre entre eles.

Por outro lado os filhos estão cada vez mais estressados, confusos, sem

limites, distantes dos pais. Analisando a história da família podemos

observar as grandes mudanças ocorridas até os dias de hoje, a queda

da tradição familiar a mudança dos papéis e a influência culturais e

econômicas que interferiram no modelo familiar. Percebemos também

que atualmente torna-se cada vez mais difícil o relacionamento entre pais

e filhos devido à falta de vínculo, que constitui um elemento fundamental

para o sucesso deste relacionamento. A falta desses vínculos tem

resultado numa busca cada vez mais freqüente por seus pares,

substituindo a orientação de seus pais. Os educadores, similarmente se

deparam com a difícil tarefa de formar crianças e jovens sociáveis,

buscando através da sua prática elementos que propiciem o

amadurecimento emocional e intelectual dos jovens. Apesar de tantos

obstáculos é possível que os pais recuperem o vínculo e estabeleçam um

relacionamento sólido com seus filhos.

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METODOLOGIA

O presente trabalho será desenvolvido através de estudos bibliográficos,

abordando aspectos fundamentais sobre o relacionamento entre pais e filhos.

Este estudo conterá contribuições de diversos autores que examinaram com

profundidade tal assunto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Breve História:

as gerações passadas e a sociedade moderna 11

CAPÍTULO II

A relação entre pais e filhos, por que está tão difícil? 17

CAPITULO III

Professores: Contribuindo para a formação

da geração em colapso 30

CAPÍTULO IV

Há solução ou caminho possível para recuperar

o relacionamento com os filhos? 36

CONCLUSÃO 43

ANEXOS 45

BIBLIOGRAFIA 51

ÍNDICE 52

FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

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INTRODUÇÃO

”Criar filhos, hoje em dia, está cada vez mais difícil”. Esta é uma frase

corriqueira em nossa sociedade.

Dia após dia, no nosso meio familiar, no trabalho, na escola, nas ruas,

não é difícil ouvirmos tal frase. O relacionamento familiar (pais e filhos) está

desestruturado. Muitos pais se encontram em total desespero, pois perderam o

controle sobre seus filhos, não tem mais autoridade sobre eles. Obter uma

relação saudável, vivendo em meio a uma geração em conflito constitui-se um

desafio para os pais. Sendo assim surge questões tais como: Como os pais

podem obter um bom relacionamento com os filhos tendo que enfrentar os

desafios da sociedade contemporânea, que tanto os afetam nos dias de hoje,

e como os educadores podem estar contribuindo para o sucesso desse

relacionamento?

O colapso da sociedade atual tem afetado diretamente pais, filhos e

educadores. Os pais estão confusos, gerando e criando filhos com conflitos.

Os jovens estão cada vez mais sem limites, deixando prazeres momentâneos

destruírem suas emoções. Os pais têm se sentido cada vez mais impotentes

perante seus filhos.

“Os pais temem que o mundo tenha se tornado menos seguro para os

filhos, e sentem que tem poder para protegê-los. O abismo que se abre entre

crianças e adultos muitas vezes podem parecer intransponíveis.” (Neufeld e

Maté, 2006, p. 19).

O estresse, a ansiedade, a depressão tem frequentemente atingido a

milhões de jovens, “muitos perderam a habilidade de se adaptar, de aprender

coma s experiências negativas e amadurecer. Um número sem precedentes de

crianças e adolescentes agora tomam remédios para depressão, ansiedade e

uma série de outras complicações.” (Neufeld e Maté, 206, p. 20)

Sendo assim este trabalho analisará mais especificamente o panorama

social e cultural da atualidade. No capítulo I, observamos historicamente as

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mudanças ocorridas na sociedade ao longo dos séculos, os aspectos culturais

que influenciaram na queda da tradição familiar.

No capítulo II, mostramos porque a relação entre pais e filhos hoje está

tão difícil, o que vem interferindo nessa relação, bem como o que está faltando

no relacionamento entre pais e filhos.

No capítulo III, apresentamos a situação dos educadores que

paralelamente estão enfrentando grandes desafios ao lidar com jovens e

crianças cada vez mais desmotivadas, entediadas, menos respeitosas e

receptivas.

Por isso faz-se necessário que os professores desenvolvam hábitos e

estabeleçam vínculos com seus alunos.

Essas ferramentas são fundamentais para estimularem as crianças e

os adolescentes contribuindo para o amadurecimento e formação dos jovens,

mesmo diante dos desafios de hoje.

No capítulo IV, analisamos os caminhos possíveis para os pais serem

bem-sucedidos no relacionamento com seus filhos que estão mais distantes,

agressivos e desobedientes.

Portanto, o principal foco de pesquisa desta monografia é investigar

profundamente os desafios que os pais enfrentam ao se relacionar com os

filhos na atualidade, reconhecendo até que ponto os educadores também

estão envolvidos nesta relação.

No decorrer do trabalho identificaremos os obstáculos mais freqüentes

que os pais enfrentam no relacionamento com os filhos, reconhecendo como

se dá o rompimento do vínculo entre eles. Será avaliado o impacto que a

cultura de pares exerce sobre os jovens e crianças. Refletiremos sobre o

estreito relacionamento que deve haver entre pais / filhos. Forneceremos

meios possíveis de formar crianças e jovens sociáveis e felizes, apresentando

soluções ou caminhos de como pais e professores podem construir uma boa

relação e contribuir para o amadurecimento dos jovens, estabelecendo limites

que ajudam nesse amadurecimento.

Observaremos a importância dos pais criarem vínculos sólidos e

profundos com seus filhos.

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Muitos pais procuram satisfazer os desejos dos filhos, dando-lhes

presentes, falando coisas maravilhosas, mais esquecem do afeto. Com o

tempo cria-se um abismo emocional entre pais e filhos. Por isso é fundamental

que os pais atentem para a relação com seus filhos, e estabeleçam vínculos,

pois apesar das perdas e dificuldades tão comuns, é possível criar uma

relação de alicerce e de confiança.

Os educadores, ao se depararem com jovens tão despreparados para

a vida precisam ensiná-los a proteger sua emoção, precisam atuar no infinito

mundo da personalidade de seus alunos, a fim de formarem seres humanos

felizes, inteligentes, sociáveis, capazes de sobreviver nesta sociedade

estressante.

Esse estudo monográfico terá como objeto de estudo os pais, filhos e

profissionais da educação, os quais estão diretamente envolvidos na busca por

um relacionamento saudável.

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CAPÍTULO I

Breve histórico:

As gerações passadas e a sociedade moderna.

As mudanças nas condições de vida em nossa sociedade provocaram

mudança no modelo tradicional de família nuclear. Este modelo de família

nuclear moderno – pai, mãe e filhos - da maneira como é definida hoje em dia,

não foi sempre assim. Contudo, sendo a família uma instituição social, que

desempenha um papel fundamental na vida de cada um que a compõe e para

que possamos entender a importância de uma relação saudável entre pais e

filhos, faz-se necessário analisarmos um pouco da história da família. Como

ela era organizada no passado e como ela se organiza hoje na sociedade

moderna?

Portanto, no presente capitulo será mostrado brevemente aspectos

históricos relevantes e fundamentais para tal entendimento.

1.1 – A família no passado

Na Grécia e na Roma antiga as famílias já estavam constituídas e

recebiam suas leis a partir das crenças religiosas, pelas quais eram

submetidas. A família naquele período era composta por um pai, uma mãe,

filhos e escravos. O pai exercia a autoridade principal da família com afirma

PALADINO:

“O Pai era como mensageiro de Deus, exercendo uma

autoridade quase divina. A família e o culto religioso

perpetuavam-se por seu intermediário, pois só o pai

representava a cadeia de seus descendentes” (2005, p.

101).

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Diante da posição que o pai ocupava no cerne da família, a mulher

consequentemente exercia um papel menor. “A família, a partir desse modelo,

organizou-se em torno da figura do pai, fechada em sua intimidade e com um

determinado padrão de educação para seus filhos.” (Lzymansky,2003,p.14)

Depois que casava, a mulher era subordinada ao marido, porém isso lhe

produzia dignidade. O adultério era imperiosamente proibido pela religião, que

colocava o homem e a mulher unidos eternamente.

O filho na família também estava submetido à autoridade patriarcal,

sendo imprescindível sua presença nos cultos religiosos. A autoridade do pai

era tamanha que lhe dava o poder de vender ou condenar o filho à morte.

Na cidade antiga cada família tinha sua propriedade, a qual tinha para a

família um valor sagrado:

“No espaço físico estava o divino e o sagrado,

representado por um deus que a protegia e a seus

membros individualmente, escutando suas preces e

acatando seus desejos. A casa era o santuário da

família” (PALADINO, 2005, p. 105).

Foi por volta do século XVIII que a família passou a delimitar uma parte

maior da sua vida particular. Com o tempo certo números de famílias formaram

grupos. Esses grupos alargavam suas idéias religiosas, promulgava seus

decretos e suas leis. As associações à medida que iam se expandindo e

segundo o mesmo princípio iam criando as tribos, as tribos debaixo da

condição do culto de cada uma delas ser respeitada, se aliavam e assim

formou-se a cidade.

A partir do século XVI a mulher começa a ser retratada na iconografia

da idade média:

“Surge à mulher seja como dama do amor cortes ou

como dona de casa observamo-la acompanhando os

cavalheiros a caça, como camponesa ou atendendo, por

exemplo, aos trabalhadores” (PALADINO, 2005, p. 106).

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O homem portando, não estava mais sozinho, a mulher e a família

participavam do trabalho, estando mais tempo ao lado do homem.

E a educação como era administrada? Como mostra PALADINO:

“Apesar de a escola existir para situações especiais

(clérigos, por exemplo), de modo geral, a transmissão do

conhecimento de uma geração para outra era garantida

pela participação familiar das crianças na vida dos

adultos” (2005, p. 107).

Os laços familiares começaram a ser reconhecidos socialmente e “a

educação e a criação de crianças nascidas da união de um casal passa a ser,

cada vez mais, da responsabilidade da família.” (Áries,1973,p.194)

O pintor Pieter Bruegel que viveu no século XVI, em jogos infantis,

retrata como era a educação na Idade Média (anexo 1). As crianças passavam

a maior parte do tempo com os adultos. Era dever da família educar os filhos,

portanto as brincadeiras das crianças faziam parte do mundo dos adultos.

De modo lento a educação que fazia parte do mundo dos adultos, foi

progressivamente caminhando para a escola, instrumentalizando a iniciação

social da infância à condição de adulto. Certamente estas mudanças ocorridas

na organização familiar fortaleceram o sentimento da família.

Da família medieval a do século XVII modificações importantes

aconteceram, embora tenham se limitado aos nobres, burgueses, artesãos e

lavradores ricos. O sentimento de casa/lar aproximou o sentimento de família,

que sofreu poucas mudanças a partir do século XVIII e até o fim do século XX.

Sem dúvida diante deste cenário, observamos uma organização

imutável, submetida à autoridade patriarcal. E na sociedade atual, como se

organiza a família?

O modelo familiar mudou!

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1.2 – A família na sociedade moderna

A partir dos anos 1960, surge a família dita contemporânea. A

transmissão da autoridade vai se tornando cada vez mais difícil, não há

respeito, não há diálogo a medida que as separações e as reorganizações

conjugais aumentam.

Hoje a valorização se dá em questões simbólicas como regras de

aliança, filiação e relações entre os irmãos. Valoriza também a divisão do

trabalho entre os cônjuges e coloca a criança como centro, delegando aos pais

a responsabilidade em encaminhá-la para a educação, agora

institucionalizada.

Diante dessa nova ordem, o poder patriarcal antes autoridade máxima,

hoje não desempenha um papel tão coercitivo. Após a segunda guerra

mundial, a ciência desenvolveu métodos como pílula, e outros

anticoncepcionais que fizeram com que as mulheres pudessem, com muita

luta, abrir mais espaço para seu desejo. Assim, a mulher, progressivamente,

foi se individualizando. Os divórcios, “produções independentes”, passam a ser

comuns contribuindo para o declínio da função paterna. As mulheres podem se

observadas na condição “mono parental”, administrando seus lares, criando

seus filhos, sem que precise da presença do pai. A quebra do modelo familiar

anterior, com a perda da autoridade paterna e a inclusão da mulher no

mercado de trabalho, são fatores que contribuíram para a crise familiar atual.

Em caráter sagrado, a família moderna se mostra totalmente frágil. Nesse

aspecto concordamos com PALADINO quando diz:

“A família moderna assemelha-se a uma tribo insólita, a

uma rede, assexuada, fraterna, na qual cada um se

sente autônomo ou funcionalizado” (2005, p. 114)

Na nossa sociedade a relação entre pais e filhos esta cada vez mais

insólita, os pais e os filhos não mais dependem uns dos outros. A educação

dos filhos não é dada somente pela família, ou pelo “pai”, essa educação

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extrapola o contexto familiar, advindo também dos meios de comunicação, dos

pares (companheiro da escola) e de sua experiência pessoal.

Sendo assim o princípio da autoridade no seio da família, visto como

referencial, encontra-se em crise, o que nos aponta para um cenário decaído

onde os jovens solicitam referencias diante do abandono (perda da autoridade

paterna e a inclusão da mulher no mercado de trabalho) em que se encontram,

necessitando buscar elementos importantes para o fortalecimento da sua

identidade, como diz PALADINO:

“O Clima de liberdade que encontraram com sua família,

a extensa gama de opções e estímulos e fontes de

informação que a sociedade contemporânea tem

oferecido e o acesso aos especialistas na “retaguarda”

de sua formação parecem não garantir a necessidade de

proteção e acolhimento” (2005, p. 116).

A queda da tradição da vida familiar acarretou até mesmo na duvida dos

pais em criar seus filhos, cada vez mais os pais tendem a acreditar no excesso

de conselhos que a mídia apresenta. Como mostra Paladino, “surge uma

espécie de ‘terceirização’ das funções materna e paterna” (2005, p. 128).

Não raro observamos, filmes, comerciais, novelas, que dão dicas, de

como se criar filhos, normas ou podemos dizer, receitas para os pais e filhos

lidarem uns com os outros. A mídia tem ditado as regras, glamourizando o

consumo e a estética. Sendo assim, o adulto perdido diante das normas

educacionais especializadas bem como das pressões ao consumo se vêem

em um grande conflito quanto aos limites e os valores pessoais que serão

transmitidos aos seus filhos. Esta é a tensão da relação entre pais e filhos na

sociedade atual.

Como vimos anteriormente, a autoridade sobre as relações entre pais e

filhos se limitava exclusivamente aos pais, porém com o desenvolvimento do

capitalismo mudanças significativas ocorreram, interferindo assim neste

modelo familiar.

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Diante da compreensão das mudanças relevantes que ocorreram no

âmbito familiar de geração para geração, buscou-se o entendimento da

organização familiar em dois momentos: passado e presente. Portanto,

reconhecendo à queda na tradição da vida familiar e a substituição da mesma

por excesso de conselhos e pressões externas, a relação entre pais e filhos

tem sido bastante conturbada. O que então pode estar dificultando tal

relacionamento? O que está faltando na relação pais e filhos?

No capítulo a seguir será analisada a relação entre pais e filhos

ameaçada pela cultura de pares e falta de vínculos, bem como as

possibilidades de facilitar tal relação.

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CAPITULO II

A relação entre pais e filhos, por que está tão difícil?

Vez após outra ouvimos relatos de rebeldia adolescentes, e de pais

preocupados com os comportamentos de seus filhos, de pais que buscam

conselhos sobre como agir diante da mudança de comportamento dos filhos.

Esses relatos nos dão evidência de quão turva tem sido a relação entre

pais e filhos. Cabe-nos então perguntar: Por quê? Seriam os pais os maiores

culpados, ou seriam os filhos? Seria a falta de limite os se trata apenas de uma

rebeldia momentânea? Para entendermos tais questões é necessário analisar

o papel de cada um dos envolvidos nessa relação bem como o contexto social

no qual estão inseridos.

Como vimos no capítulo anterior, a família contemporânea tem vivido

uma grande crise, portanto a responsabilidade desta como principal geradora

de padrões morais e éticos tem sido cada dia que passa maior. Sem dúvida,

arcar com essa enorme responsabilidade se torna uma tarefa mais e mais

difícil e muitas vezes podem parecer até mesmo impossíveis de ser alcançada.

O sentimento de insegurança, culpa e preocupação fazem parte do dia-

a-dia de muitos pais. Como se sentem os pais vendo o caos em que se

encontra a sociedade atual? Impunidade, desonestidade, violência,

desrespeito, insegurança, etc.

Frente a tudo isso, os pais, repentinamente se sentem receosos e

inseguros. Soma-se a tudo isto as influências extremamente fortes dos meios

de comunicação de massa, incentivando o consumismo, a adoção de valores

materiais imediatistas. Além disso, mudanças rápidas na tecnologia têm

permitido que uma cultura comercial e enlatada chegue às casas e a mente do

filhos. A mudança mais significante dos últimos tempos é a tecnologia da

comunicação. Essa tecnologia instantânea até mesmo substitui o que

antigamente era passado por meio dos costumes e tradições, de geração para

geração como mostra Zagury:

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“O que não se pode é ignorar que a mídia eletrônica é

um veículo que tem, por força do poder da imagem (que

vale mais do que mil palavras, como sabido), capacidade

de inculcar idéias, costumes, modas e valores” (2004, p.

74).

Assim os pais se defrontam com um contexto que os leva a questionar

valores até então incorporados e transmitidos geração após geração, quase

automaticamente. Por isso se perguntam sobre o instrumental correto que se

devem dar aos filhos para que haja uma relação segura entre eles. Os pais se

vêem frustrados diante da tarefa árdua de criar filhos segundo Neufeld e Maté:

“Nós lutamos para viver de acordo com a maneira

idealizada de se criar os filhos. Ao não alcançar os

resultados que esperavam, os pais suplicam, adulam,

subornam, recompensam ou castigam... Sentimos nossa

frieza em momentos de crise, exatamente quando, na

verdade, gostaríamos de convocar nosso amor

incondicional. Como pais, ficamos magoados e nos

sentimos rejeitados. Colocamos a culpa em nós mesmo

por falhar na tarefa de criar os filhos...” (2006, p. 19).

Os pais não se sentem capazes de guiar os filhos para que eles

alcancem com suas próprias pernas o seu potencial máximo. O temor de que o

mundo se tornou menos seguro e que eles não terão poder para proteger os

filhos o consomem, mesmo que inconscientemente. Assim muitas vezes,

perseguidos por essa insegurança tendem como diz Zagury: “Deixar as coisas

correrem mais frouxas” (2004, p. 23).

Essas atitudes, são reflexo da impotência que os pais se vêem, assim

lançam mão de soluções simplistas ou autoritárias.

E os filhos, como reagem diante da incansável tentativa dos pais em

criá-los. Como se comportam os jovens hoje?

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As atitudes dos filhos também têm mudado de geração para geração.

Se os nossos avós viviam reclamando dos nossos pais, que eram menos

respeitosos e disciplinados do que eles naquela idade, hoje os nossos pais

reclamam ainda mais de seus filhos, eles sabem intuitivamente quando alguma

coisa esta errada.

Os filhos de hoje estão cada vez mais rebeldes é o que afirma Neufeld e

Maté:

“As crianças de hoje não são mais como na nossa

época. Elas já não aceitam tanto a orientação dos

adultos e não tem mais medo de se meter em apuros.

Elas também parecem menos inocentes e ingênuas e

perderam aquela curiosidade que leva uma criança a se

interessar pelo mundo... Muitas crianças parecerem

artificiais e até mesmo estressadas, tentando estar

maduras antes da hora.” (2006, p. 18).

Como vimos têm se tornado cada vez mais difícil criar filhos, é difícil

lidar com eles. Muitos jovens em desenvolvimento estão sem “chão”, perderam

ser porto seguro, seja nas casas, escolas ou comunidade. Muitos estão mais

propensos à alienação, ao uso de drogas, a violência, não tem se quer um

objetivo na vida, não fazem planos.

Os jovens têm autocontrole.

Sisto e Martinelli definem o autocontrole quando diz:

“O autocontrole é uma variável que pode ser definida

como uma forma de controlar o próprio comportamento

em situações de conflito, de acordo com padrões

definidos pela sociedade” (2006, p. 145).

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Principalmente na adolescência, os jovens passam por uma verdadeira

crise e conflitos. A psicanálise considera a transição adolescente associada a

mudanças fisiológicas e psíquicas tão importantes, que acaba por gerar uma

visível desestabilização.

Como mostra Paladino:

“A partir da puberdade, o corpo infantil é deixado de lado,

e toda carga hormonal do futuro adulto entra em ação,

determinando a entrada num novo ciclo, em que um novo

corpo e novas sensações, trazem também uma

percepção e pensamentos mais sofisticados. Cargas

pulsionais conflitivas, ligadas aos conflitos da infância,

nesta fase podem voltar à tona com força total, gerando

questões psíquicas intensas.”” (2005, p.48 ).

Os jovens fazem parte de uma sociedade em crise. No primeiro capitulo,

observamos como a sociedade contemporânea é, e como essa sociedade em

crise afeta o contexto familiar.

Não queremos com isso culpar a sociedade por todos os problemas

existentes na relação entre pais e filhos. No entanto, não podemos negar que

vivemos em uma “sociedade depressiva” (Roudinesco, 2000).

A sociedade oferece aos jovens uma gama de opções e estímulos,

trazendo-lhes a impressão de liberdade. Essa diversidade de opções deixa os

jovens em um grande vazio, sem estabilidade. Desta forma, os jovens passam

a buscar na vida social e na vida com grupos, os seus modelos e referências.

Nessa constante busca cada vez mais os pais tem perdido a posição de

orientadores dos filhos. O lugar tem sido preenchido pelo grupo de pares.

Embora os pais sejam bem intencionados, compreensivos, é preciso

tem uma base sólida para se criar os filhos.

Há um tipo de relacionamento, pelo qual é possível conseguir uma base

sólida. Esse tipo especial de relacionamento é chamado pelos cientistas que

estudam o desenvolvimento humano como: relacionamento de vínculo.

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2.1 – A falta de vínculo

Para que uma criança queira se tornar próxima a um adulto, queira

manter um contato com ele, e se mostre disposta a ser educada, precisa ter

um vínculo com ele, segundo Neves:

“O vínculo é uma estrutura dinâmica em continuo

movimento, englobando sujeito e objeto. A todo momento

é estabelecido pela totalidade da pessoa” (sem data).

No começo da vida, esse sentimento de vínculo é muito mais físico – a

criança literalmente se agarra aos pais e precisa de que eles a segurem, ela

tem o desejo de manter uma proximidade com os pais.

Quando as crianças não possuem esse tipo de conexão com aqueles

que são seus responsáveis, tornam-se muito mais difícil criá-las, e muitas

vezes até ensiná-las.

Como mostra Neufeld e Maté:

“Quando uma criança tem um vínculo forte conosco,

somos seu porto seguro do qual ela lança para desbravar

o mundo, seu esconderijo se ela decidir recuar, sua fonte

de inspiração. Nem todas as técnicas e criação dos filhos

no mundo podem recompensar a falta de um

relacionamento de vínculo.” (2006, p. 21, 22).

Devido essa importância do vínculo entre pais e filhos, que esse

relacionamento precisa ser durável, pelo menos enquanto ela dever ser criada.

È nesse momento que surgem os empecilhos.

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Pais e filhos não têm recebido o apoio necessário da cultura e da

sociedade para que o vínculo entre eles perdure. Mesmo quando esses

relacionamentos parecem ser fortes, a princípio cheio de cuidados, a qualquer

momento podem ser abalados, quando os filhos ingressam em um mundo que

não valoriza nem encoraja essa ligação.

No campo psicológico, o vínculo é o centro dos relacionamentos e da

dinâmica social, e no aspecto humano, pode-se dizer que o vínculo é a busca

e a preservação do que é próximo, íntimo e ligado, tanto no âmbito físico,

comportamental, emocional ou psicológico. Em sentido material, embora o

vínculo seja invisível, é fundamental para nossa existência, pois sem ele uma

família não pode existir.

O vínculo faz funcionar os instintos tanto dos filhos como dos pais.

Quando o vínculo funciona é preciso apenas seguir automaticamente nossos

instintos. No entanto, quando os vínculos estão comprometidos, os instintos

também estarão.

Se isso acontecer é preciso agir!

Portanto “se os pais desejam manter um relacionamento de vínculo

saudável com seus filhos não devem apenas ter consciência do vínculo, mas

sim precisam conhecê-lo de perto. Temos de sentir o vínculo na pele.” (Neufeld

e Maté, 2006).

Para a criança que está em desenvolvimento, o vínculo é o fator mais

importante na vida psicológica, assim como na vida de muitos adultos.

O vínculo é crucial para educar os filhos, criá-los, ou seja, o vínculo

permite uma ajuda ao relacionamento com os filhos, ele fornece um ponto de

referência para quem busca o vínculo. Concordamos com Neufeld e Maté

quando diz:

“As crianças precisam ficar vinculadas emocionalmente a

nós até que possam tocar a própria vida, pensar por si

mesmo e escolher uma direção a seguir” (2006, p. 36).

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Os pais, sem dúvida, são os melhores pontos de referência que a

criança pode ter. A escolha do ponto de referência é uma questão de vínculo.

Os filhos buscam essa orientação em quem estão mais próximos deles.

Quando são orientados por seus pares são eles que ditam, por exemplo, o que

é bom, o que está na moda, o que irão vestir. Se os pais não conseguem ter

um relacionamento de vínculo saudável com seus filhos, os seus pares (os que

estão mais próximos deles) serão seus pontos de referência.

Como já mencionado, os filhos, principalmente os adolescentes se

encontram muitas vezes desorientados. Até certo ponto é natural que aconteça

desta forma. Por vários motivos já mencionados eles se encontram num vazio.

Desta forma pode-se dizer que os vínculos estabelecidos pelos filhos com seus

pares funcionam como uma maneira de não se sentirem perdidos e

desnorteados.

Contudo para que os pais possam ajudar os filhos, eles precisam

entender o ponto de vista dos filhos. Compreendendo o vínculo isso se torna

mais fácil, pois os pais conseguirão identificar nos seus filhos sinais e

comportamento que evidenciam esses tipos de vínculos.

Os autores Neufeld e Maté apresentam seis tipos de vínculos que os

filhos empregam. Esses vínculos vão do mais simples ao mais complexo. São

eles:

2.1.1 – Sentidos

Esse tipo de vínculo refere-se à proximidade física. Mesmo começando

na infância esse desejo de se aproximar fisicamente de alguém nunca

desaparece. À medida que a pessoa amadurece mais se apoiará nesse

vínculo. Para Neufeld e Maté a criança precisa sentir a pessoa na qual possui

ligação, seja através do toque, do cheiro, da visão, ou audição. Torna-se uma

necessidade manter tal contato. Quando há um rompimento desta

proximidade, a criança dará sinais de protesto.

2.1.2 – Uniformidade

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O sinal deste tipo de vínculo se dá quando a criança está aprendendo

andar, pois ela busca assumir jeitos, expressões por imitação ou por rivalidade

de quem ela está mais próxima.

A identificação também é um modo de desenvolver um vínculo por meio

da uniformidade. Pois quando nos identificamos com alguém ou com alguma

coisa é como se tornássemos aquela pessoa ou coisa. Ou seja, é muito mais

fácil nos identificarmos com alguém que nos sentimos próximos. O grau de

intensidade desta identificação será medido de acordo com o grau de

dependência dessa pessoa. “Portanto quanto mais dependente uma criança

for, mais intensa essas identificações podem ser”.(Neufeld e Maté,2006)

2.1.3 – Posse e lealdade

Assim como o primeiro tipo de vínculo este aparece quando a criança

está aprendendo a andar. A criança sente a necessidade de ficar próxima a

alguém. Para ela é como se a pessoa lhe pertencesse.

Estabelecido o vínculo com tal pessoa ou coisa, a criança se sentirá no

direito de reivindicar a posse. Entre os adolescentes e crianças isso é muito

comum. A velha história de quem é o amigo de quem, é uma questão que gera

muitos conflitos entre eles.

No encalço da posse vem a lealdade. A fidelidade ou lealdade é vital a

quem estamos vinculados. Segundo, Neufeld, mesmo a lealdade sendo

profunda ou intensa, se o vínculo da criança muda, os sentimentos de posse e

lealdade também serão afetados.

2.1.4 – Importância

Quando somos próximos ou ligados a alguém, buscamos a importância.

Precisamos sentir que fazemos a diferença para tal pessoa. Ser querido, ficar

perto de quem gostamos, é algo que faz parte da natureza humana. O perigo,

portanto, se dá quando não fazemos diferença para a pessoa que

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gostaríamos. Esse tipo de vínculo pode causar dores ou mágoas para a

criança. Buscar satisfação e importância nem sempre pode resultar em bem-

estar. Pois, como diz Neufeld “pedir a aprovação de alguém pode levar a

criança a se machucar, se houver sinais de reprovação.” (2006, p.43)

2.1.5 – Sentimento

Vínculo e emoção estão sempre ligados. Buscamos proximidade a

alguém por meio de sentimentos de carinho, amor e de afeição. Para a criança

que está em idade pré-escolar, que sente tudo profundamente, é muito

importante essa intimidade emocional. Depois que a criança experimenta esta

intimidade ela carrega a imagem da pessoa a qual está vinculada.Segundo

Neufeld, geralmente as crianças acabam se apaixonando pela pessoa a quem

estão vinculadas. No caso dos pais, os filhos guardam a imagem em sua

mente, encontrando apoio, segurança e conforto.

2.1.6 – Ser conhecido

Geralmente esse tipo de vínculo acontece quando a criança entra na

escola. De modo similar ao vínculo por meio dos sentidos, a criança precisa

ser ouvida e ser vista. Porém as sensações agora são mais psicológicas do

que físicas.

“Sentir-se próximo de alguém é também ser conhecido por esta pessoa.”

(Neufeld e Maté, 2006, p.44). Se expor psicologicamente para alguém nos

deixa, até certo ponto vulneráveis demais. Por isso, os filhos muitas vezes

relutam em compartilhar suas preocupações e suas inseguranças mais

profundas, temendo serem mal compreendidos.

Todavia, não há maior proximidade, que a sensação de se sentir

conhecido, querido, bem vindo e convidado a existir.

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Esses seis tipos de vínculos revelam um único desejo, desenvolver uma

ligação com alguém. Se o desenvolvimento acontece de maneira saudável, diz

Neufeld e Maté:

“Esses vínculos se entrelaçam em uma forma de ligação

mais forte, que preserva a proximidade mesmo sob as

circunstâncias mais adversas.” (2006, p. 45).

Quando uma criança esta vinculada a alguém haverá muitas maneira de

se manter próximas, mesmo que fisicamente ela esteja distante. O vínculo

entre pais e filhos só trará benefícios para ambos. Isto porque, os pais são

vistos pelos filhos como principal ponto de referencia e o relacionamento com

eles continuará a ter prioridade. Por isso torna-se necessário que os pais

invistam nessa relação com os filhos.

Cury ressalta a importância do vínculo:

“A única maneira de educara emoção é criar vínculos

sólidos e profundos” (2003, p. 22).

Assim o vínculo é fundamental tanto para formação da personalidade

quanto para o relacionamento duradouro entre pais e filhos. Ele assegura a

dependência da criança em relação aos pais. Os pais que construírem um

relacionamento de vínculo forte poderão ser pais bem sucedidos e

competentes.

Como já analisado, por vários motivos os pais tem perdido o lugar como

orientadores de seus filhos. Esse lugar tem sido competido com os pares de

seus filhos, através de um relacionamento de vínculo importante: O vínculo

com os seus pares.

2.2 – A orientação por pares

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A orientação, ou o desejo de saber e conhecer o que, quem está ao

nosso redor, onde estamos, é uma necessidade fundamental do ser humano.

Crianças e jovens precisam ser direcionadas por alguém, devido a um instinto

de orientação que é inato. Paladino confirma:

“Durante a juventude acrescenta-se a necessidade de

companheiro, enquanto modelos indispensáveis para o

aprendizado...” (Paladino 2005, p. 57 apud Sullivan 1953,

pp. 290-291).

Entretanto, os jovens não têm procurado orientação dos pais ou adultos

responsáveis, mais sim de seus próprios pares, ou seja, em pessoas que

nunca tiveram a intenção natural de assumir esse papel. Quando o filho

percebe que não há um adulto ao seu lado ou por perto, a tendência é que ele

busque a orientação de quem está mais próximo a ele. O vínculo e a

orientação estão entrelaçados de modo inseparável, portanto quanto maior for

o vínculo da criança com seus pares, mais propícia estará para receber a

orientação por eles.

Segundo Neufeld e Maté:

“Quando uma criança se torna tão ligada a seus pares

que gostaria de ser como eles e ficar com eles o tempo

todo, os pares, em grupo ou isoladamente, se tornam

seu ponto de referencia. É nos pares que ela irá buscar

proximidade. Ela irá procurar nos pares a dica para saber

como agir, o que vestir, como montar seu visual, o que

dizer, o que fazer. É nos pares que a criança irá buscar

intimidade. Seus pares ditarão o que é bom, o que esta

na moda, o que é importante e até mesmo a maneira

com a criança se enxerga ” (2006, p. 38).

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Talvez nos perguntemos: Até que ponto a companhia de colegas, ou de

outras pessoas pode ser prejudicial? Ou o que há de errado de um filho ser

orientado pelos seus pares?

A orientação (seja por quem for) sob a criança é natural. É possível e

até desejável que as crianças desenvolvam uma relação de vínculo também

com seus pares, contanto que os vários vínculos não compitam entre si. Para

Neufeld e Maté, quando há uma competição entre estes vínculos um deles sai

perdendo. É difícil obter sucesso em um relacionamento no qual há vários

pontos de referência, ou seja, no relacionamento com os pais os filhos

recebem valores, mensagens, conselhos que são exclusivos do seu meio

familiar. Com seus pares as crianças também são expostas a outros tipos de

valores. Assim a competição entre estes relacionamentos de orientação, com

valores e mensagens conflitantes, acaba por deixar à criança confusa, sem

motivação.

A criança ou jovem, diferente do adulto amadurecido sentem muito mais

necessidade de desenvolver vínculos. Por serem imaturas não conseguem

tolerar duas formas de orientação com a mesma força, uma delas não terá

sucesso. Desta forma a competição pode ser prejudicial, pois o filho pode se

aproximar dos colegas e desligar-se dos pais.

Neste sentido concordamos que:

“Nada é neutro quando se trata de vínculo. O vínculo

divide o mundo da criança entre as pessoas que ela

gosta e as outras que são indiferentes para elas, as

pessoas que a atraem e a que elas repelem, as pessoas

com que ela busca proximidade e as outra que devem

ser evitadas” (Neufeld e Maté, 2006, p. 49).

Como vimos até aqui, a falta de vínculos no relacionamento entre pais e

filhos, pode gerar graves conseqüências. Conscientes da turbulência que

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vivemos em nossa sociedade atual, das influências que os filhos sofrem, dos

meios de comunicação de massa, da violência, das drogas, e tantas outras

que observamos todos os dias, é mais que urgente que os pais tentem reverter

a situação. Desde cedo os pais devem estar preocupados com a relação entre

eles e seus filhos, pois os problemas que afetam os filhos enquanto

adolescente rumo à vida adulta podem ser amenizados ou até solucionados

durante a infância.

O colapso da cultura atual não está a favor dos pais que buscam um

relacionamento com seus filhos. Já que a cultura dominante não guia os filhos

na direção certa, os pais são mais importantes que nunca nesta tarefa. O

relacionamento entre pais e filhos precisa estar em seu devido lugar. Se este

ocupa o centro da dificuldade no que se refere à criação e a educação dos

filhos, precisa estar também no centro da solução do problema.

O impacto da cultura tem afetado não só a relação pai/filho, mais também a do

professor/aluno. O próximo capítulo abordará a contribuição dos educadores

para a formação da geração atual.

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CAPITULO III

Professores: Contribuindo para a formação da geração

em colapso.

Dentro de um novo contexto social e cultural, não é de se estranhar a

decadência na relação professor – aluno. A dificuldade no relacionamento dos

jovens com seus orientadores se instalaram na escola. Nem mesmo os

professores têm obtido êxito na formação de cidadãos sociáveis.

A gradual e radical queda na tradição familiar bem como a influência da

cultura dominante, dos meios de comunicação de massa e dos seus grupos de

companheiros tem refletido na educação. Como mostra Mrech:

“... atualmente, um sintoma social que atinge a maior

parte dos processos educacionais: a falência na relação

professor-aluno. Por falência estamos entendendo a

situação em que o professor se vê impossibilitado em dar

comprimento às suas obrigações por sentir que lhe

faltam determinados conteúdos, sejam eles de base

emocional, teórico – prático ou financeiras.” (2003, p. 39).

Constitui-se um grande desafio, educar uma geração doentia,

pervertida. A educação tornou-se fria, seca, sem tempero emocional. Nunca os

conhecimentos médicos e psiquiátricos foram tão grandes e tão consultados.

Adolescentes e crianças desenvolvendo obsessão, depressão, fobias,

agressividade. Outros se drogando em busca de momentos de prazer. Jovens

e adultos sempre estressados.

Não existe educação sem desafio!

É preciso superar a crise, afim de que se possa atuar com eficiência no

mundo dos jovens, desenvolver hábitos que contribuam para formação de um

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indivíduo pleno e capaz. É necessário, estabelecer vínculos a fim de que haja

um relacionamento de confiança e respeito com os alunos.

Vivemos em tempos de crise, portanto:

“Precisamos ser educadores muito acima da média, se

quisermos formar seres humanos inteligentes e felizes,

capazes de sobreviver nessa sociedade estressante.”

(Cury, 2003, p. 16).

A seguir discutiremos hábitos e caminhos possíveis pelos quais os

educadores poderão lançar mão com o objetivo de formar cidadãos

responsáveis e sociáveis.

3.1 – Hábitos que formam educandos sociáveis

Os educadores que desejam contribuir para a formação dos seus

educandos precisam primeiramente ter consciência dos empecilhos que

atingem diretamente a relação professor – aluno e tentar vencê-los. A

sociedade valoriza e estimula os adolescentes e crianças a terem atitudes

individualistas. Em contrapartida os professores podem dar aos estudantes

caminhos para que reconheçam seus sentimentos e atitudes, tornando-os mais

responsáveis e contribuindo para o seu crescimento.

Cury defende alguns hábitos que os professores podem adquirir para

estimular as crianças e adolescentes.

Apresentaremos alguns deles a seguir:

3.1.1 – Conhecer o funcionamento da mente

Conhecendo o funcionamento da mente podem educar melhor, trazendo

informações que enriquecem o aluno, transformam o conhecimento em

experiência.

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O sistema social tem estimulado assustadoramente o pensamento dos

jovens. Para Cury, a juventude hoje não pensa como as de antigamente.

Entendendo a mente do aluno, o professor pode utilizar ferramentas que

atendam a necessidade dos alunos.

3.1.2 – Usar a sensibilidade

Com sensibilidade os professores protegem a emoção dos alunos sob

tensão, não deixando que tensões, agressividade e atitudes impensadas dos

alunos tirem sua tranqüilidade. Procura compreendê-los e acolhê-los. Esse

hábito contribui para o desenvolvimento da auto-estima e favorece a

socialização. Segundo Cury,o professor precisa ser o mestre da sensibilidade.

3.1.3 – Ser um mestre inesquecível

Esse hábito influencia os alunos a ponto de deixar marcas para sempre

um suas vidas, claro que marcas positivas. Quando um mestre é inesquecível,

deve-se ao fato de ter consciente ou inconscientemente deixado sementes que

jamais serão esquecidas. Como afirma Cury, “ser um mestre inesquecível é

formar seres humanos que farão diferença no mundo.” (2003, p.72).

Ao considerarmos tais hábitos, talvez pareça utópico, aplicá-los no

cotidiano da sala de aula, principalmente nos dias de hoje. Porém podemos

perceber uma carga de afetividade que perpassa cada um deles.

Para formar educandos sociáveis, é extremamente importante e

necessário entender o que é afetividade, e por que ela é fundamental na

formação de pessoas felizes, éticas, seguras e sociáveis.

Piaget considera que na conduta humana estão presentes aspectos

afetivos:

“À afetividade caberia então o papel de uma fonte de

energia da qual dependeria o funcionamento da

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inteligência, porém não suas estruturas...” (1954/1994, p.

188 apud Sisto e Martinelli, 2006, p. 32).

Portanto, para Piaget no funcionamento da inteligência, a afetividade é

fundamental. Isso deixa claro que todo comportamento humano envolve tanto

inteligência como afetividade. A afetividade é uma energia que sustenta as

ações do sujeito. (anexo 02)

Então porque não deixar que a afetividade impulsione nossas ações

como educadores? Porque não usamos a afetividade como uma mola

propulsora para formar cidadãos sociáveis?

Há de se concordar que temos bons motivos para isso.

No capítulo anterior foi abordada a importância do vínculo na relação

entre pais e filhos. De modo similar, no relacionamento professor/aluno o

vínculo se torna imprescindível.

3.2 – Os vínculos e a relação professor / aluno

Quando uma criança estabelece vínculo com alguém é porque ela se

sente próxima desta pessoa. Ela confia, se sente segura a ponto de ser

orientada por tal. A pessoa pela qual a criança está vinculada passa ser o seu

ponto de referência.

Quando o professor está disposto em criar vínculos com seus alunos, a

aprendizagem do aluno estará mais propensa a ser bem-sucedida.

Como afirma Neufeld e Maté:

“A capacidade de qualquer aluno de ser ensinado é o

resultado de muitos fatores: um desejo de aprender e

entender, um interesse pelo desconhecido, uma

disposição de correr riscos e uma abertura para ser

influenciado e corrigido. Também requer uma conexão

com o professor, uma inclinação a prestar atenção, uma

disposição de pedir ajuda aspirações para alcançar e se

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inspirar, e, não menos importante, uma propensão ao

trabalho. Todos esses fatores estão enraizados no

vínculo ou afetados por ele.” (2006, p. 231).

Como vimos o vínculo ajuda os jovens no seu processo de

aprendizagem. Se o professor cria uma conexão, um vínculo com seu aluno,

ele os conquista, ele adquire um poder natural de orquestrar o comportamento

dessa criança, instigando boas intenções, mostrando os valores da sociedade,

guiando-os nos caminhos para uma boa educação.

Os professores quando tem algum vínculo com seus alunos tem o poder

de guiar seus alunos para dois caminhos inversos: o da má educação e o da

boa educação, pois os alunos tendem a seguir aqueles com quem têm algum

vínculo. Portanto, cabe aos educadores, analisar, até que ponto, está desejoso

de comprometer-se com a formação de seus alunos.

Educadores comprometidos com sua prática docente podem ser bem-

sucedidos no relacionamento com seus alunos, ao estabelecerem vínculos.

Giacom, professor de história, atribuiu o seu sucesso nas aulas a

seguinte postura:

“Tenho um vínculo afetivo com a classe, uma relação de

amizade” (2005, p. 47).

Este professor é um exemplo de que é possível criar vínculo com os

alunos.

Diante do que está sendo analisado verificamos que apesar de tanta

barreira, o relacionamento entre pais e filhos nessa sociedade pode ser

mudado para melhor. Os professores e os educadores podem estar

contribuindo para isso. Isto se deve a posição que cada um ocupa, perante os

jovens.

Pais e professores ocupam funções sociais de autoridade, que impõe

grandes responsabilidades, entre as quais negarem certas coisas e impor

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limites. Os professores devem guiar seus alunos numa conduta baseada no

bom senso, na sensibilidade, na observação e conexão constante com aluno.

Quando os limites, são oferecidos, precisam ao menos fazer parte do

estilo, da personalidade deste filho ou aluno, aplicado ao contexto de vida da

criança e do jovem, mais não como uma imposição, remetendo a uma

perspectiva ditatorial, não conciliatória.

Os limites são essenciais na formação das pessoas bem como nas

práticas educativas. A ausência deles acarretará em danos na formação da

personalidade das crianças e jovens.

No que diz respeito à necessidade dos limites, Ricotta explica:

“Os limites são fronteiras necessárias para o respeito

mútuo entre pessoas. Capaz de proporcionar um vínculo

de confiança entre quem estabelece e quem se beneficia

dele.” (ano 4. nº 23, p. 05).

Todavia é imprescindível para nossa consciência e desenvolvimento

crítico, vivenciar limites. Tantos os pais como os educadores precisam

compreender que os limites estão assegurados quando passarem a se

constituir aprendizados internalizados, no processo diário e constante de ações

educativas. Os professores podem sim conduzir o processo de formação dos

jovens, contribuindo para melhor funcionamento das relações entre eles e seus

pais, vencendo situações mais adversas nesses tempos de crise.

Diante das informações consideradas até agora temos razões para

acreditar no relacionamento saudável entre pais e filhos. Que caminhos ou

soluções estão disponíveis para os pais recuperarem o relacionamento com

seus filhos? É o que veremos a seguir.

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CAPITULO IV

Há solução ou caminho possível para recuperar o

relacionamento com os filhos?

No decorrer deste trabalho foi possível perceber que o relacionamento

entre pais e filhos está realmente difícil. A sociedade perdeu o contato com

seus instintos de paternidade, os filhos não estão mais se conectando com os

seus pais, mas sim com os pares.

De modo inconsciente os pais têm permitido que as pressões da

sociedade atual tenham desgastado o relacionamento de vínculo.

Mas, agora temos de olhar para as soluções, para os caminhos que

levam ao resgate dessa situação. È hora de retomar o relacionamento entre

pais e filhos. Os pais precisam colocar como prioridade a tarefa de acolher os

seus filhos, atraindo-os para debaixo de suas asas, fazendo com que eles

queiram pertencer-lhos e ficar junto deles.

Por mais que os pais criem os seus filhos com amor e com a melhor das

intenções, é necessário estar atento, pois o laço entre eles pode não perdurar

por muito tempo.

Como diz Neufeld e Maté:

“Enfrentamos competições de mais. Para compensar o

caos cultural dos nossos tempos, precisamos criar o

hábito de reconquistar nossos filhos diariamente e

repetidamente...” (2006, p. 245).

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A função mais essencial para os pais que tem o objetivo de atrair os

seus filhos, é reconquistar e acolher. Porém nessa difícil tarefa, os pais devem

usar a sua instintiva, e na maioria das vezes muitos pais deixam os seus

instintos de lado, principalmente depois que os filhos passam da infância.

No entanto, para educar os filhos e os alunos precisamos dar a devida

atenção a esses instintos, concentrando-nos conscientemente neles.

Sem dúvida, pais que desejam reconquistar seus filhos da infância até a

adolescência devem seguir alguns passos:

4.1 – Ficar próximo à criança – de maneira amigável.

Atrair os olhos da criança, construir um relacionamento com ela é o

principal objetivo. Esse objetivo deve permanecer da infância até adolescência.

Quanto mais a criança cresce, maior a necessidade de precisarmos entrar em

contato com elas, somente quando estiver algo errado, para que possamos

corrigi-la ou orienta-la.

No entanto, mesmo devendo zelar pela segurança e o bem-estar dos

filhos, os pais devem se aproximar deles de maneira carinhosa e convidativa,

estimulando-os a todo tempo manter um relacionamento. Desta forma

concordamos em Neuféld e Mate:

“Se nos concentrarmos no objetivo a longo prazo de

relacionamento carinhoso, poderemos descobrir

instintivamente o que fazer para chegar até o nosso

objetivo” (2006, p. 248).

Os pais não devem hesitar em errar, ou reconquistar seus filhos.

Experimentar, explorarem não necessários. Mesmo que os pais já estejam por

algum tempo separados por seus filhos, não devem exitar, pois sua intenção é

restabelecer o contato, é manter-se sempre próximo.

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4.2 – Fornecer algo a que a criança possa se agarrar.

Para prender o instinto de vínculo da criança, devemos dar algo para

que ela estabeleça um vínculo conosco. Precisamos lhe dar algo para criarem

afeição, algo que fique em seu coração, a ponto que não queiram mais largar.

Por isso, o que os pais derem aos filhos deve vir deles próprios, pois ao se

agarrarem aquilo, estarão agarrando aos pais.

É nesse momento que a atenção e o interesse têm o papel fundamental

para iniciar esta conexão entre pais e filhos. O vinculo é ativado com o calor

emocional. Mostrar que se importa que eles são especiais e que tem valor para

os pais, se torna imprescindível para os filhos se agarrarem aos pais.

O contato físico para os filhos também é fundamental. Abraçar, beijar é

importante para a criança, ela quer se sentir amada, querida, importante,

valorizada.

Cury, neste sentido nos faz um convite:

“De vez em quando, chame um dos seus filhos sozinho e

almoce ou faça programa diferente com ele. Diga o

quanto ele é importante para você. Pergunto como esta a

vida dele.” (2003, p. 26).

Contudo, há um fator que merece nossa atenção. Tudo que um adulto

(pai, mãe, professores, etc.) tem de dar à criança deve ser espontâneo.

Somente assim a criança se agarrará aos pais emocionalmente. O presente de

amor aos filhos deve ser sempre incondicional.

Sendo assim é oportuno dizer que:

“Ao conquistar uma criança, o elemento de iniciativa e

surpresa é vital. Dar-lhe algo para que se agarre é mais

eficiente quando ela não esta esperando.” (Neufeld e

Maté, 2006, p. 253).

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Portanto transmitir satisfação espontânea à criança quando ela não está

pedindo algo é um meio de vincular a criança aos pais. A atenção e o tempo

pedido pelo filho nunca é satisfatório, pois deixa a incerteza de que os pais só

respondem ao pedido e não se entregam de modo voluntário. Assim os pais

devem tomar iniciativa, expressar interesse e entusiasmo.

O elogio também contribuiu para o relacionamento de vínculo, e para a

auto-estima dos filhos.

Como diz Zagury:

“A auto-estima começa a se formar muito cedo. Desde

bem pequena a criança, em interação com o meio,

através das experiências, vai incorporando idéias sobre

si, que influenciarão suas atitudes posteriores. Nem

preciso dize o quanto nós pais e professores, temos peso

na formação desse conceito.” (2004, p. 36).

Com vimos, desde cedo os pais devem procurar elevar a auto-estima

dos filhos, porém, devem ter o cuidado para que esta auto-estima não seja

baseada na aprovação que ganham dos pais, por meio de realizações ou no

comportamento obediente. Mas sim, a base da verdadeira auto-estima de uma

criança é ser aceita, amada e apreciada pelos seus pais, exatamente como ela

é.

4.3 – Encoraja a dependência.

Quando os pais encorajam uma criança a depender deles mostram a ela

que podem confiar neles, contar com eles, apoiar-se neles e se entregar aos

seus cuidados, é tornar disponível a ela. Mas se os pais desejam que isso

aconteça precisam primeiramente ganhar confiança dos filhos.

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Muitos pais acham que quanto mais dependentes mais encalhados os

filhos ficarão e nunca crescerão. No entanto, não se pode atingir à

independência resistindo à dependência.

A independência é fruto do amadurecimento. Já a dependência dos

filhos, é tarefa dos pais satisfazer. Quando essa dependência for satisfeita, os

filhos estarão prontos para o amadurecimento.

Como confirma Neufeld e Maté:

“Somente quando as necessidades da dependência são

satisfeitas é que a procura pela verdadeira

independência começa. Resistindo à dependência

frustramos a iniciativa de independência e adiamos a sua

realização.” (2006, p. 257).

A única maneira de se tornar independente é por meio da dependência.

Os professores também devem estar encorajando a dependência, em

vez de empurrar o aluno em direção à independência. O professor excelente

busca fornecer assistência aos seus alunos de modo generoso, para que

futuramente, eles por si mesmos amadureçam e cheguem à independência.

4.4 – Agir como um ponto de referência da criança.

Como vimos no capitulo II, a criança tem a necessidade de ser orientada

por alguém, de ter um ponto de referência, ela estabelece vínculos justamente

com quem ela vê como ponto de referencia.

Sendo assim para reconquistar os filhos, tornando-os vinculados, os

pais precisam orientar seus filhos. Os adultos assumem essa função

automaticamente, sem nem percebê-la. No contexto escolar, o professor

também orienta a criança em diversos aspectos, intuitivamente.

O que acontece hoje, na maioria das vezes, é que os pais têm falhado

como guias e orientadores dos seus filhos enquanto eles ainda são

dependentes dos pais. Portanto é realmente importante, que os pais

entendessem o poder de desempenhar essa função na vida dos seus filhos,

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eles precisam reconhecer que o poder da orientação é primordial para o

vínculo.

Na verdade, o papel de orientador se perdeu.

“Os pais não conseguem mais entender o mundo dos filhos.” (Neufeld e

Maté,2006,p,259). São eles, que cada vez mais querem saber mais que os

próprios pais. As coisas mudaram demais para os pais continuarem os

guiando. Os pais perderam o controle sobre os filhos. Os hábitos, as músicas,

a língua, tudo parece ser diferente. A ponto dos pais se sentirem cada vez

mais incapazes ao orientar os filhos em seu mundo.

Devido a esse fato, é mais importante que nunca lançar mão da

confiança. Os pais devem retomar o papel como ponto de referência na vida

dos filhos. As crianças precisam de orientação e os pais devem lembrar que

são os melhores para isso.

O mundo pode mudar, mas o vínculo não. Quanto mais os pais

orientarem seus filhos, mais eles sentirão necessidade de ter os pais por

perto. Assumir o papel de guia e agir como ponto de referência engaja os

instintos de vínculo.

Contudo, quanto mais os pais conseguirem criar situações favoráveis

para que os filhos se tornem dependentes, mais fácil será estabelecer o

vínculo com ele.

Observamos anteriormente quatro passos para os pais reconquistarem

os filhos.

Como já mencionado antes, não há receita para um relacionamento

saudável entre pais e filhos, até porque, cada família, cada relacionamento é

diferente.

No entanto, quando falamos em caminhos nos remete a algo possível

de ser alcançado, percorrido, trilhado. Esse é o real objetivo desse trabalho,

apresentar caminhos possíveis para um bom relacionamento entre pais e

filhos.

O relacionamento entre pais e filhos é sagrado, por isso manter um

vínculo forte com os filhos e fazer com que esses vínculos permaneça

enquanto se dá a criação dos filhos é imprescindível.

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Muitos podem até mesmo dizer, que os valores são mais importantes.

Valores morais como integridade, solidariedade, dignidade, respeito, sem

dúvida são extremamente valiosos, devem fazer parte da educação dos filhos.

Mesmo sendo cada vez mais difíceis de ensinar na sociedade atual, esses

valores morais têm papel primordial na estruturação do caráter dos filhos.

Como diz Zagury:

“Resgatar a ética é hoje questão de sobrevivência. Que

jovem poderá resistir às pressões negativas de uma

sociedade em crise, senão aquele que tenha

internalizado o respeito por si próprio e pelo outro?”

(2004, p. 45).

É real a necessidade dos valores morais na educação dos filhos, porém

o mais fundamental valor é o vínculo. Quando temos um relacionamento forte,

sólido e quando interagimos com nossos filhos, podemos comunicar a eles

outros valores.

Criar filhos com o vínculo em mente significa não deixar que nada os

separe dos pais. Somente tendo ciência do vínculo os pais descobrirão o

comprometimento mais importante: àquele com a própria criança. Quando os

pais têm os filhos próximos deles, aumentam as oportunidades de empregar

seus instintos de vínculo e não de moldar o comportamento dos filhos. Se os

pais permitirem que os vínculos se afastem, a criança não terá em quem se

apoiar.

A sabedoria dos pais ficará evidente, à medida que usarem o poder do

vínculo para reconquistar os seus filhos.

Dessa forma, os pais que prezam o seu relacionamento com os filhos

estarão sempre em contato, familiarizados, observando que o seu

relacionamento com os filhos tem prioridade em suas vidas.

As atitudes e ações dos pais devem estar baseadas na certeza de que estão

fazendo o melhor para os filhos.

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CONCLUSÃO

Analisando profundamente a temática proposta, pudemos questionar

os desafios que os pais atualmente têm encontrado para ter um

relacionamento saudável com seus filhos, observamos diferentes obstáculos

pelos quais pais e filhos precisam vencer ao se relacionarem. Portanto,

considerando que é possível encontrar caminhos possíveis para um bom

relacionamento como foi mostrado no capítulo IV, os pais podem sim,

permanecer otimistas, pois é possível recuperar o relacionamento com seus

filhos.

O relacionamento familiar (pais e filhos) está desestruturado. Muitos

pais se encontram em total desespero, pois perderam o controle sobre seus

filhos, não tem mais autoridade sobre eles. Obter uma relação saudável,

vivendo em meio a uma geração em conflito constitui-se um desafio para os

pais. O colapso da sociedade atual tem afetado diretamente pais, filhos e

educadores. Os pais têm se sentido cada vez mais impotentes perante seus

filhos.

Neste trabalho, ficou bem nítido, a importância do vínculo, como

instrumento necessário para a relação pai / filho, professor / aluno. Talvez,

antes não tínhamos percebido o quanto ele é essencial.

Isso nos induz a continuar recorrendo aos nossos filhos e alunos com o

objetivo real de nos aproximar cada vez mais deles, de fazê-los sentir seguros,

acreditando que eles são importante, que os pais se preocupam com eles.

Mediante a insegurança dos adultos (pais, professores e etc.) as discussões

sobre o tema são relevantes. Como educadora observo que muitos pais já

desistiram de investir no relacionamento com seus filhos, já os rotulam desde

cedo, como se a criança já estivesse amadurecida.

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É importante que os pais comecem a investir na sua relação com os

filhos, pois muitas atitudes que os filhos demonstram podem se evitadas

quando os pais estão atentos ao que acontece com eles. No entanto, é

fundamental que os pais dediquem tempo para isso, não simplesmente

“desistam” dos seus filhos. Que eles reconheçam as possibilidades de um

relacionamento saudável, não como uma barreira, mas como um caminho a

ser trilhado.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Obra do pintor Peter Brugel;

Anexo 2 >> Entrevista;

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ANEXO 1

BRUGEL, Peter. 1560. Brincadeiras Infantis

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ANEXO 2

Revista da Universidade Federal de Minas Gerais Ano 2 - nº 4 - Maio 2004

Comportamento

Rebeldia em causa

Projeto da Psicologia ajuda pais e filhos a superarem

conflitos do cotidiano

Trabalhar as relações entre pais e filhos naquilo que elas têm de mais problemático é

a base do programa de “treinamento de pais”, que fez mudar o relacionamento entre

Eliane e Aristides da Silva e o filho Tiago, de seis anos. O casal participa de um grupo

de pais que investe na possibilidade de tornar menos conflituoso seu dia-a-dia com as

crianças. “Eu não sabia pedir ‘por favor’. Agora, nós dois (ela e Tiago) sabemos o

quanto isso é importante”, diz Eliane.

Esse é um dos projetos desenvolvidos pelo Laboratório de Neuropsicologia do

Desenvolvimento (LND), do Departamento de Psicologia da UFMG. Iniciado em 2000,

como piloto, no Aglomerado da Serra – núcleo de favelas da região Centro-Sul de Belo

Horizonte –, foi aplicado, nos últimos dois anos, na Escola Municipal Maria das Neves,

no bairro São Lucas, Zona Leste da Capital. “O programa, tal como implementado no

LND, resulta de adaptações de um modelo norte-americano associado a uma

metodologia de treinamento de pais desenvolvida na Universidade de São Carlos”,

comenta o professor Vitor Geraldi Haase, coordenador do Laboratório.

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Alan Fontes Borges

Linguagem própria

Segundo Haase, nos Estados Unidos, havia muitas dúvidas quanto à adequação desse

modelo de intervenção, baseado em valores da classe média, para famílias oriundas de

outros contextos étnicos e culturais. “Essa era uma das principais questões que nos

motivaram a adaptar o programa para trabalhar com comunidades carentes no Brasil, ou

seja, saber até que ponto a metodologia poderia funcionar”. A experiência recente

responde a essa pergunta. Durante 2002 e 2003, a psicóloga Maria Isabel Pinheiro,

voluntária no LND, formou quatro grupos de pais – somando 55 pessoas,

preponderantemente mães – e trabalhou com eles métodos de interferir positivamente na

relação com os filhos.

O programa de treinamento desenvolvido por Maria Isabel, e que será objeto de sua

dissertação de mestrado na Universidade de São Carlos, foi montado para populações

carentes e adaptado a uma comunidade específica, tendo como preocupação o uso da

linguagem própria ao meio. “Todo programa de treinamento tem que estar sintonizado

com a demanda”, lembra ela.

As crianças afetadas por comportamentos inadequados, explica Maria Isabel, são

tratadas, nesse caso, por meio de uma mudança induzida nas atitudes dos pais. O mau

comportamento infantil pode ser caracterizado tanto por crises de birra e agressividade,

ausência de disciplina, quanto por hiperatividade. A família é orientada e treinada para

lidar com esses problemas e, também, para impedi-las ou, pelo menos, diminuir os

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conflitos nas relações. Os pais seguem nove “passos” ditados pela psicóloga durante

nove semanas. Por meio desses “passos”, eles vão aprendendo a reconhecer os

problemas e a agir diante deles.

Questões éticas

Contudo, a despeito do êxito da metodologia, uma intervenção comportamental como

a realizada no Aglomerado da Serra levanta, também, questões éticas, que precisaram

ser respondidas pelos responsáveis pelo projeto. Por exemplo: os pesquisadores não

estariam, eventualmente, induzindo comportamentos tidos, previamente, como positivos

em comunidades que talvez adotem valores diferentes dos seus?

“De fato, foi observada repetidamente uma discrepância entre os valores preconizados

pelo programa de treinamento de pais, quais sejam, uma disciplina baseada no elogio e

no incentivo – pedagogia do incentivo –, em vez da tradicional pedagogia da punição.

Em muitos casos, principalmente em famílias com nível educacional muito baixo e/ou

com psicopatologias associadas, foi constatada a alta prevalência de crenças

relacionadas com a necessidade de punir os filhos, equacionando educação com uma

disciplina rígida, etc.”, argumenta Haase.

Mas, segundo ele, “o programa objetiva justamente convidar as famílias a

experimentarem, na prática, a eficácia de um outro estilo disciplinar, baseado no

envolvimento, supervisão e incentivo da criança. O estilo disciplinar proposto é mais

trabalhoso e constitui-se em um desafio para muitos pais”.

Mais, ainda segundo Haase, “o principal argumento no que se refere à autonomia do

cliente no treinamento de pais tem a ver com o fato de que uma família enredada em

conflitos fica privada do poder decisório, presa em interações coercitivas. À medida em

que o treinamento ajuda as pessoas a romperem o ciclo vicioso dessas interações

coercitivas, em que os pais tentam controlar, sem sucesso, o comportamento dos filhos e

vice-versa, as partes interessadas se tornam mais livres para decidir como querem

viver”.

Recreio especial

De acordo com a metodologia do LNC, durante as nove semanas de treinamento, os

pais dedicam-se a práticas simples, como o “recreio especial”, em que devem brincar

com o filho durante um período curto, mas predeterminado. Essa atitude, afirma Maria

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Isabel, ajuda a criança a compreender que os pais não lhe dão atenção apenas durante as

crises de mau comportamento, como elas podem acreditar. No treinamento de

obediência, estimula-se o comando dos pais, ou seja, a forma como eles devem dar as

ordens aos filhos para serem ouvidos. Na relação com a escola, a família é despertada

para importância desse espaço no desenvolvimento da criança.

“É muito comum”, diz Maria Isabel, “os pais valorizarem mais as atitudes negativas

dos filhos e não perceberem que, às vezes, um ato que incomoda pode revelar, em

algum aspecto, uma atitude muito positiva”. A análise dos dados coletados durante a

execução do programa de treinamento mostrou a mudança de percepção e de atitude dos

pais diante dos problemas identificados por eles mesmos.

Quando iniciavam sua participação no programa, os pais respondiam a três

questionários. As mesmas perguntas, reapresentadas no final do programa, serviram de

comparação para identificação da mudança, ou não, de comportamento de pais e filhos.

De acordo com Maria Isabel, a diferença positiva foi claramente explicitada nos

resultados do projeto, pois, praticamente, todos os itens analisados como de mau

comportamento sofreram quedas nas graduações em relação ao grau de dificuldade de se

lidar com eles e, também, na identificação da situação como problema.

A explicação, diz Maria Isabel, está no fato de que os pais passaram, ainda, a perceber

melhor os filhos. “O que não era tido como problema foi identificado, durante o

programa, como tal. Mas, ao mesmo tempo, os pais souberam lidar melhor com a

situação”, argumenta.

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BIBLIOGRAFIA

Áries, Philip. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Editora

Jorge Lahar, 1973.

ABC educatio, a revista da educação, São Paulo. Criart, ano 4: nº 23

Bee, Helen. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmede, 2000.

Cury, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro:

Sextante, 2003.

Fermino Fernandes Sisto & Martinelli, Selma de Cássia, Afetividade e

dificuldades de aprendizagem, uma abordagem psicopedagógica

(organizadores) 1. ed. São Paulo: Vetor, 2006.

Masini & Col. O ato de aprender. I ciclo de estudos de psicopedagogia.

Machkenzie. São Paulo, Memnon, 1999.

Mrech, Leny. Psicanálise e educação novos operadores de leitura. São Paulo:

Pioneira, 2003

Neufeld, Gordon & Mate, Gabor. Pais ocupados filhos distantes; [tradução Ana Paula Corradini]. - São Paulo: Melhoramentos, 2006.

Paladino, Erane. O adolescente no conflito de gerações na sociedade

contemporânea.

São Paulo: Caso do Psicólogo: 2005.

Revista Nova Escola: março de 2005 – Editora abril

Revista Nova Escola: Junho/Julho de 2005 – Editora abril

Zagury, Tânia. Os direitos dos pais: Construindo cidadãos em tempos de crise.

Rio de Janeiro: Record, 2004.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Breve História:

as gerações passadas e a sociedade moderna 11

1.1 – A família no passado 11

1.2 – A família na sociedade moderna 14

CAPÍTULO II

A relação entre pais e filhos, por que está tão difícil? 17

2.1 – A falta de vínculo 21

2.1.1 – Sentidos 23

2.1.2 – Uniformidade 23

2.1.3 – Posse e lealdade 24

2.1.4 – Importância 24

2.1.5 – Sentimento 25

2.1.6 – Ser conhecido 25

2.2 – A orientação por pares 26

CAPITULO III

Professores: Contribuindo para a formação

da geração em colapso 30

3.1 – Hábitos que formam educandos sociáveis 31

3.1.1 – Conhecer o funcionamento da mente 31

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3.1.2 – Usar a sensibilidade 32

3.1.3 – Ser mestre inesquecível 32

3.2 – Os vínculos e a relação professor / aluno 33

CAPÍTULO IV

Há solução ou caminho possível para recuperar

o relacionamento com os filhos? 36

4.1 – Ficar próximo à criança de maneira amigável 37

4.2 – Fornecer algo a que a criança possa se agarrar 37

4.3 – Encoraja a dependência 39

4.4 – Agir como um ponto de referência da criança 40

CONCLUSÃO 43

ANEXOS 45

BIBLIOGRAFIA 51

ÍNDICE 52

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: O caminho de uma relação saudável entre pais e

filho em meio a uma geração em colapso

Autor: Daiana de Souza Leite Antunes

Data da entrega: 27/01/2007

Avaliado por: Fabiane Muniz Conceito: