universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … de oliveira faria.pdf · privatorum ao sistema da...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AGRAVO
Por: Cristiane de Oliveira Faria
Orientador
Prof. Dr. Jean Alves
Rio de Janeiro
2006
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AGRAVO
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Direito Processual Civil.
Por: Cristiane de Oliveira Faria
AGRADECIMENTOS
Ao Deus Eterno em primeiro lugar, ao meu
esposo, meus pais e minha irmã, que
contribuíram para mais uma conquista, no
incentivo, na confiança... enfim, sem os quais
o objetivo não teria sido alcançado.
DEDICATÓRIA
Dedico a Deus, sempre em primeiro lugar, ao meu esposo
Orivelson, aos meus pais Salvador e Eunice e a minha irmã
Viviane, pelo eterno incentivo.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo expor de forma clara o surgimento
do agravo, traçando suas origens, demonstrando sua evolução e suas constantes
transformações ao longo do tempo, até chegar a edição da nova Lei nº
11.187/2005.
É demonstrar principalmente as inovações trazidas por esta nova lei, seus
benefícios, o objetivo do legislador com a edição desta, se estes foram realmente
alcançados, destacando tanto a sua forma de procedimento, quanto as hipóteses
de cabimento, e, ainda, o perfil constitucional e o incentivo ao retorno da utilização
da interposição do Mandado de Segurança, para resguardar o direito das partes.
O posicionamento dos juristas, as críticas, o que é realmente
inconstitucional e o remédio adequado para buscar a solução do mesmo, são
destacados nesta obra.
A nova lei do agravo demonstra que o objetivo do legislador foi o de
diminuir o número de agravos interpostos no tribunal, atribuindo ao mesmo
algumas restrições para a sua interposição, impondo como regra geral a
interposição do agravo retido, mas ao mesmo tempo, impedindo a recorribilidade
das decisões do relator, gerando uma crescente interposição dos mandados de
segurança, o que parece não ter sido esperado pelo legislador.
METODOLOGIA
A metodologia adotada consistiu na leitura de livros, visita a bibliotecas,
pareceres de juristas, legislação, jurisprudência, e a resposta, após a coleta de
dados, tendo como base principal a pesquisa bibliográfica, contribuíram para a
conclusão desta obra, o que foram o objeto de observação e estudo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Noções Preliminares 09
CAPÍTULO II - Lei nº 11.187/2005 e suas Inovações 33
CAPÍTULO III – Da Garantia Constitucional e da Inconstitucionalidade 58
CAPÍTULO IV – Da Opinião dos Juristas sobre a Nova Lei do Agravo 62
CONCLUSÃO 79
ANEXOS 81
BIBLIOGRAFIA 96
ÍNDICE 97
FOLHA DE AVALIAÇÃO 99
INTRODUÇÃO
O Código Civil brasileiro teve, inicialmente, suas origens no direito
português, que evoluiu e trouxe várias modificações, principalmente no que diz
respeito aos recursos, notadamente o recurso de agravo.
Durante a sua trajetória, o agravo se dividiu em várias espécies. Algumas
foram abolidas no curso das modificações, restando atualmente somente as
seguintes espécies: agravo de instrumento, retido, interno e regimental.
A nova Lei nº 11.187/2005 veio com o objetivo de desafogar os tribunais
com a redução do número de agravos de instrumento, mas incentivou o retorno da
interposição de mandados de segurança, contra as decisões proferidas pelos
relatores, consideradas como irrecorríveis.
No campo do agravo de instrumento, para a sua interposição, foram
determinadas algumas formas de interposição, das quais, quando não forem
identificadas, o agravo a ser interposto é o retido. Em regra, o agravo deve ser
retido, devendo ser observado o princípio da oralidade nas audiências de
instrução e julgamento.
Alguns juristas entendem que as inovações trazidas pela nova lei do agravo
vieram para melhor, reduzindo o número de agravos de instrumento nos tribunais,
através das restrições que lhe foram impostas. Outros, entendem que esta, apesar
da intenção do legislador ter sido a de regularizar o seu procedimento e formas de
interposição, veio cheia de defeitos, trazendo inconstitucionalidade e incentivando
o retorno da interposição do mandado de segurança, o que provavelmente deverá
ser revisto posteriormente.
CAPÍTULO I
NOÇÕES PRELIMINARES
...Deus é maior que todos os obstáculos.
1.1 – Parte histórica
Inicialmente, importante se faz traçar as raízes do agravo, eis que tem a
sua origem no processo romano e no germânico.
O início da história do direito romano ocorreu no ano de 754 a.C. Este é o
ano em que se considera o início da história do direito romano, tendo em vista a
divisão do direito romano, que tem por base as formas de governo, e, ainda,
critérios que partem das fases de desenvolvimento do direito privado.
O direito processual civil romano é dividido em três fases:
a) período das legis actiones (de 754 a.C. até cerca de 149 a.C.);
b) período do processo formulário (de 149 a.C. até 209 d.C.);
c) período da extraordinaria cognitio (de 209 d.C. até 568 d.C.).
O Processo Civil em Roma é o processo enquanto meio de resolução de
conflitos em que estavam envolvidos predominantemente direitos privados.
A história do direito romano, de uma forma geral, pode ser dividida a partir
de critérios consistentes nas diferentes formas de governo, tais como:
a) período real (de 754 a.C. até 510 a.C.) das origens de Roma até a
queda da realeza;
b) período republicano (de 510 a.C. a 27 a.C.) O fim deste período é
marcado pela circunstância de o Senado investir Otaviano no poder
supremo, com a denominação de princeps;
c) período do principado (de 27 a.C. a 285 d.C.). No ano de 285 d.C. teve
início o regime do Dominato, com Diocleciano;
d) período do Dominato (de 285 d.C. até 565 d.C.). Este período se
estende até a morte de Justiniano.
No período da realeza, tinha-se o rei como o magistrado único, vitalício, e
não era passível de ser responsabilizado por seus atos, embora na doutrina se
discuta se seu poder era ou não absoluto.
Já a jurisprudência, no sentido de ciência do direito, era um monopólio dos
pontífices, na posse de quem estavam as fórmulas com que se celebravam os
contratos ou com que se intentavam as ações.
A República caracterizou-se, no início, pelo regime de dois magistrados,
iudices ou pretores, eleitos anualmente, que detinham o imperium real (poder de
supremacia do Estado). Nesta fase, o Senado, apesar de ser um órgão consultivo,
era de grande importância.
Ressalte-se que estes movimentos culminaram com a Lei das XII Tábuas, a
qual continham dispositivos de direito público e privado (450 e 449 a.C.). Já em
367 a.C. teve lugar a lei “Licinia de Magistratibus”, em que permitia o plebeu ser
cônsul.
O Principado começa com Otaviano (27 a.C.) e se estende até o início do
Dominato (285 d.C.). Nesta fase, existiam as instituições políticas da República.
Em 27 a.C. ocorreu o fim do agitado período de crise da “República”
romana, começando uma nova era mais próspera e gloriosa da civilização
romana, o Principado, que constituiu uma realidade sui generis, onde o príncipe
estava acima de qualquer sistema, órgão ou norma jurídica.
As principais modificações deste período de transição ocorreu no plano
político, no qual os amplos poderes que ficavam concentrados nas mãos de
príncipes acabaram por gerar o sucumbimento do senso crítico e da índole
democrática, que foram o marco da era republicana.
Em 17 a.C., houve a substituição do sistema da legis actiones pelo
processo por fórmulas, A sentença passou a ser o ato que exprimia a vontade do
Estado, tornando público o processo, passando de sistema ordo iudiciorum
privatorum ao sistema da extraordinaria cognitio.
A grave crise que eclodiu com o fim do Principado, tendo morrido o último
imperador (Alexandre Severo), iniciou-se a investidura de Diocleciano, que
instituiu o “Dominato”, implantando a monarquia absoluta, reorganizando o Estado,
obra que foi completada por Constantino. Nesta fase, a máquina administrativa do
Estado era amplamente burocrática. Em seu topo, estava o imperador, que, a
partir de Constantino, passou a ser concebido como dominus, por vontade de
Deus. Ocorreu, ainda, a decadência da jurisprudência, e o Senado perdia
paulativamente a relevância.
Constantino introduziu a monarquia por graça divina, ou monarquia
teocrática.
Havia, apenas, uma fonte atuante de criação organizada do direito: a
Constituição Imperial (Lex), que vigia juntamente com o costume e normas de
períodos anteriores que não tivessem sido revogadas.
Em 527 d.C. assume o trono o imperador Justiniano, empreendendo
diversos trabalhos legislativos (Digesto e Institutas), e seu objetivo principal era
reunir toda a sua obra num corpo único, sendo que acabou por morrer antes de
fazê-lo, tendo o romanista francês Dionísio Gogofredo, em 1538, editado o
Digesto, as Institutas, o Codex e as Novelas (reunião das constituições
promulgadas posteriormente, por Justiniano) e o chamou de Corpus Juris Civilis.
A história interna do direito romano se divide em três:
a) período do direito antigo ou pré-clássico – das origens até a “Lei Aebutia” – 754
a.C. até 149 a 126 a.C. diz respeito especificamente ao processo civil romano, ou
seja, período das legis actiones. Os conceitos de ius e actio eram inseparáveis,
não havia ação sem direito e vice-versa. Havia um acentuado formalismo e nítida
preocupação com a precisão; era o processo oral, e as fórmulas eram escritas. No
processo romano, a decisão final denominava-se sententia (irrecorrível por meio
de recurso de apelação), e as proferidas no curso do feito, interlocutiones
(recorrível).
b) período do direito clássico, até o término do reinado de diocleciano, em 305
d.C.;
c) período do direito pós-clássico ou romano-helênico, até a morte de Justiniano,
em 565 d.C.
Depois da invasão bárbara, houve um retrocesso, em relação à
racionalidade que havia sido atingida pelo direito romano. O sistema probatório
passou a ser o ordálico e se confundiam os processos civil e penal. O processo já
se iniciava na fase executiva. Antes da fase declaratória, a autoridade que presidia
assistia o duelo que havia entre as partes.
Ressurgiu a represária como forma de resolver os conflitos. Renasceu o
duelo propriamente dito.
O processo romano-barbárico perdurou desde a queda do Império Romano
até cerca de 1.110 e caracterizou-se pela decadência, abrindo-se espaço para a
jurisdição eclesiástica.
O direito começou a reflorescer na Idade Média, principalmente na
Península Ibérica (depositária do que havia restado da cultura jurídica romana).
Fundou-se a Universidade de Bolonha, e a esta sucederam-se muitas outras
universidades européias.
Dois séculos antes de Cristo, a Península Ibérica foi invadida pelos
romanos. Já no século V, depois de Cristo, foi invadida por bárbaros. Um século
depois foi invadida por uma tribo bárbara, os visigodos, que acabou por dominar
os nativos e as outras tribos bárbaras que lá já tinham se instalado. Ressalte-se
que, sob a dominação visigótica, houve duas leis de inspiração romana (em 506 o
“Breviarium Alaricianum”, e em 693 o “Fuero Juzgo” ou “Forum Juditium”). Já em
1139, destacou-se na península o “Condado Portucalense”, base político-
geográfica do que é hoje Portugal (regeu-se pelo “Fuero Juzgo”).
A invasão árabe na Península Ibérica ocorreu no ano de 711, sendo os
últimos árabes expulsos em 1492, nada digno de nota do ponto de vista jurídico.
No século XIII, D. Afonso III, rei de Portugal, estudou em Paris e procurou
reorganizar a justiça e o processo.
Em 1380, D. Dinis fundou a Universidade de Lisboa, que constituiu um
grande centro de estudos jurídicos.
Cabe ressaltar algumas considerações de caráter geral a respeito do
aspecto histórico do agravo:
Com relação ao direito romano, a estrutura do procedimento formulário não
permitia a existência de uma verdadeira decisão interlocutória, anterior à
sentença, pois o processo se esgotava no pronunciamento único do pretor. No
período pós-clássico, ao se fazer a distinção entre a sentença definitiva e a
interlocutio, coloca-se a indagação do meio de vulnerar cada uma. Esse período
corresponde à época da extrardinaria cognitio.
Nos períodos da República e primórdios do Principado, a sentença do index
é inapelável.
Tem-se que a primeira notícia de recurso das interlocutórias é da época dos
Severos, quando se permitia a apelação. Com a legislação justinianéia e mesmo
antes, no Código Theodosiano, surge a proibição de apelar, a não ser de sentença
definitiva.
No direito canônico havia restrição ao direito secular, a admissibilidade de
apelação contra as decisões proferidas no curso do processo. Com o Concílio de
Trento (1563), passou o direito canônico a acompanhar o secular, proibindo-se as
apelações antes da sentença definitiva.
No direito português só se pode falar em processo civil a partir do reinado
de D. Afonso III, em que o único recurso cabível das sentenças que podiam ser
proferidas no processo, que eram as interlocutórias e as definitivas, era o de
apelação. Até essa época, a ordem judicial era marcadamente imperfeita.
Muitos consideram impossível precisar a época em que o agravo surgiu no
direito português. Tem-se notícia que os séculos XI e XII o Código visigótico ou
Liber Judicum era fonte de direito aplicado, e era conhecido pelos espanhóis como
Fuero Juzgo, promulgado em 563, e teve como um de seus legisladores o Bispo
de Saragoça.
Nesse código se encontravam duas leis: de D. Flávio Rescindo e de D.
Ricardo, que permitiam os bispos emendar as decisões proferidas por juízes ou
alcaides, sem qualquer menção, e era o meio pelo qual o injustiçado provocava o
exercício desse poder.
Havia um uso ilimitado das apelações, direito este que foi limitado por uma
lei posterior, a Lei das “Siete Partidas”, já no século XIII. Com isso, se duas
apelações se interpusessem sucessivamente, e se houvesse três resultados
coincidentes, contando-se com a sentença, não caberia mais recurso algum.
Foi com o reinado de Afonso II (1211 a 1223) que o Código Visigótico
passou a não mais ser invocado como fonte de direito, tendo em vista o
fortalecimento da justiça do Rei.
No século XIII havia duas espécies de sentença: a definitiva e a
interlocutória, e o único recurso cabível destas sentenças era o de apelação. Já
contra sentença proferida por juiz hierarquicamente superior ao de primeira
instância (sobre-juiz) cabia o recurso de “sopricação” (tem origem no direito
clássico).
O sistema romano possuía decisão final proferida por dignatários do
Estado, que estavam no topo do escalão das pessoas que exerciam a função
judiciária, considerados como os hierarquicamente superiores a todos os outros, e
com isso não ensejavam a parte o direito de recorrer, pois havia um rigor neste
sistema, razão pela qual foram criadas as supplicationes, para temperá-lo, era a
Casa da Suplicação, que segundo a doutrina, deve ter surgido por volta de 1425 a
1429.
Sem pôr em dúvida a justiça do julgado e sem afrontar a autoridade que
proferia a decisão, a parte agravada pedia pela supplicatio que novamente se
conhecia da causa, ou seja, suplicava, implorava, à mesma autoridade prolatora
da sentença, que reexaminasse a causa, abrandando os feitos da decisão.
Cabia agravo ordinário das sentenças definitivas e das interlocutórias com
força de definitivas, equivalente as supplicatio.
Na Casa da Suplicação se julgavam as apelações e as suplicações. Até
então era o recurso de agravo totalmente desconhecido. Mais tarde, o recurso de
“sopricação” passou a ser chamado de “agravo ordinário”.
O agravo ordinário nasceu da “sopricação”, de origem romana, e que
substancialmente equivalia à apelação.
Podemos destacar algumas diferenças entre o agravo ordinário e apelação:
a) O agravo ordinário era de “direito restrito”, e a apelação não o era;
b) A apelação devolvia ao juízo superior o conhecimento inteiro da causa e
aproveitava mesmo a quem não apelasse, enquanto no agravo ordinário o juiz
só podia dar provimento ao objeto do agravo;
c) O apelante podia beneficiar-se da restitutio in integrum, enquanto que no
agravo ordinário se dava essa restituição em favor de menores.
Até 1832, o agravo ordinário integrou o sistema de recursos lusitano e veio
a desaparecer em maio deste ano, com o Decreto nº 24.
Com D. Afonso IV, ficou estabelecido que as interlocutórias não seriam mais
apeláveis, salvo algumas excessões expressas, como por exemplo, se houvesse
perigo de dano irreparável à parte.
Surgiram, já nesta época, antes das Ordenações Afonsinas, as “querimas”
ou “querimônias”. Eram as queixas, reclamações, acompanhadas de informações
colhidas e apresentadas pela parte, que se julgava prejudicada, dirigidas ao
magistrado hierarquicamente superior ou ao Soberano. Era uma espécie de apelo
ao Príncipe, ou seja, queixas que eram entregues ao Monarca, quando este
percorria o reino, e eram apreciadas por “cartas diretas” e se davam “cartas de
justiça” aos que se haviam queixado, com a alteração da decisão, pelo próprio juiz
que as tinha proferido. O que ocorria é que as decisões tinham que ser
modificadas, se as coisas tivessem ocorrido tal como descritas nas informações.
E, ainda, quando as cartas eram exibidas aos Juízes da Terra, a verdade destas
informações era posta em dúvida pelo magistrado, e as partes procediam, então, a
todo um trabalho, com o escopo de demonstrar a verdade.
Em 1446, foram instituídas as Ordenações Afonsinas, por Afonso V,
estabelecendo-se a regra de que todo juiz poderia revogar sua sentença
interlocutória, antes de proferir a definitiva.
Por determinação de D. Duarte, foi proibido que se dirigissem estas queixas
por “cartas diretas”, pois na maioria das vezes as informações dos litigantes não
coincidiam com o que constava dos autos, surgindo assim a necessidade de que
um oficial supervisionasse a instrução dessas “queixas”.
O remédio previsto nas ordenações Afonsinas para a recusa do juiz em
revogar a interlocutória simples era o “ir queixar-se a el Rei”. Estes recursos
tiveram origem nas “queixas” ou “querimônias”, que eram expostas de forma oral
ao rei na presença de sua corte.
Como as “queixas” eram apresentadas de forma unilateral pelos litigantes.
Começou-se a exigir que tivessem a intervenção de um oficial público,
coordenando suas peças, sendo as “querimas” encaminhadas à autoridade
Judiciária superior, com a resposta do magistrado inferior.
Ressalte-se que o agravo de instrumento começou a delinear-se com certa
nitidez nas Ordenações Afonsinas, e foi o rei D. João I (1385 a 1433) o criador de
um tribunal de segundo grau, a Casa Civil, cujos magistrados eram os Sobre-
Juízes e o presidente, o Regedor Civil.
Com o objetivo de facilitar a solução das demandas que se multiplicavam,
passou-se a utilizar o instrumento escrito das “querimônias” verbais, para vulnerar
a interlocutória simples. Ressalte-se, por importantíssimo, que se identifica aqui o
“embrião do recurso de agravo”, ainda nas Ordenações Afonsinas, que, segundo
Moacyr Lobo da Costa, diz que:
“É o instrumento de agravo (gravame), mas ainda não é o
agravo de instrumento.”
Nessa época só se conhecia a apelação e a sopriação. O agravo só
adquiriu caracteres definitivos com as Ordenações Manuelinas, que surgiram em
1521, na qual havia três tipos de sentença: as interlocutórias (podia caber
suplicação – agravo ordinário – se fossem proferidas por autoridade
hierarquicamente superior, e, ainda, cabia agravo que podia ser de instrumento ou
de petição), as interlocutórias mistas e as definitivas (podia caber recurso de
apelação se proferida pelo juiz de primeiro grau).
Nas Ordenações Manuelinas não havia ainda o “agravo no auto do
processo”, mas já havia o “agravo nos autos” (ficava nos autos a espera de subir),
recurso com o escopo específico de impugnar a decisão do juiz anterior quando
este indeferia a apelação.
Era indubitavelmente trabalhosa a formação do instrumento, e logo se
percebeu que podia ser suprimida, quando fosse curta a distância entre os órgãos
“a quo” e “ad quem”. Nestes casos, agravava-se por petições, sendo remetidos os
próprios autos à instância superior, tendo este recurso efeito suspensivo.
A palavra agravo significa lesão ou prejuízo. Passou a usar-se este nome
para significar o recurso que tem por objetivo superar a lesão ocorrida.
Aparecem os três agravos na Carta Régia de 5.7.1526, de D. João III, na
época das Ordenações Manuelinas. Nesta se confirmava a interponibilidade do
recurso de agravo ordinário contra as sentenças definitivas, e nascia o “agravo no
auto do processo”.
O agravo no auto do processo era o meio de que a parte se valia para se
insurgir contra superior sentença ou despacho interlocutório, e seria conhecido
pelo magistrado superior quando os autos subissem, porque qualquer outro
recurso tinha sido interposto.
As Ordenações Filipinas datam de 1603, e o Código Filipino vigeu em
Portugal por mais de dois séculos e meio, e os recursos tiveram lugar mais de 200
anos após sua entrada em vigor.
Foi o Decreto nº 24 de 16.5.1832, que restringiu os recursos cabíveis das
sentenças interlocutórias ao agravo no auto do processo, desaparecendo, assim,
os agravos de instrumento, de petição e o ordinário.
Os Decretos de 29.11.1836 e de 13.01.1837, conhecidos como “Reforma
Judiciária”, serviu para restabelecer rapidamente o agravo de instrumento.
Quatro anos depois, veio o Decreto de 21.05.1841. Era a “Nova Reforma
Judiciária” e serviram para renovar o agravo de petição.
Quando houve a “Novíssima Reforma” de 21.05.1841, o agravo era o
recurso cabível das sentenças interlocutórias.
A partir destas reformas, principalmente de 1832, extinguiu-se,
definitivamente, o agravo ordinário que estava previsto na versão original das
Ordenações Filipinas, e nunca mais foi restabelecido.
A Carta de Lei de 16.04.1874, do Rei D. Luís, autorizou que o agravo de
petição fosse interposto contra despachos interlocutórios com força definitiva.
O primeiro Código de Processo Civil português foi publicado em
08.11.1875, no qual os recursos foram ordenados e sistematizados neste diploma
legal.
Em seguida, aboliu-se o agravo no auto do processo, restando, dessa
forma, a apelação, interponível contra sentença de mérito e o agravo de petição,
das demais, não sendo recorrível os despachos de mero expediente, nem os que
tinham por objetivo regular os termos do processo ou que tinham por função
determinar o cabimento do agravo de instrumento ou de petição.
Em 1907, surgiu um decreto criando um regime diferente para o agravo,
que dava ao juiz, imediatamente, a chance de reparar o agravo e, não o fazendo,
retinha-se o recurso nos autos, para que fosse examinado com a apelação; porém
o mesmo possuía algumas exceções.
Depois veio o Código de Processo Civil de 1939, no qual os casos de
apelação eram expressamente determinados, enquanto que os do agravo eram
determinados por exclusão. Nesta fase, eram irrecorríveis os despachos de mero
expediente, e os atos judiciais praticados no uso legal de poder discricionário.
Surgiu o Decreto lei 47.690 de 11.05.1967, que veio para alterar cerca de
500 artigos do Código de Processo Civil de 1961, dando origem ao Código de
Processo Civil de 1967. Neste último, houve alterações quase que totalmente
despidas de importância no que diz respeito ao agravo.
Ressalte-se que o Código vigente, em Portugal, ainda é o do ano de 1967.
Já no que diz respeito ao agravo de instrumento no direito brasileiro, tem-se
que em 03.05.1823, instalou-se no Brasil uma Assembléia Constituinte, com o
escopo de elaborar um sistema de direito positivo brasileiro, sendo que, em
20.10.1823, promulgou uma lei em que se determinava que seria vigente no país o
sistema positivo português então em vigor, na medida em que seus dispositivos
não ofendessem a nova situação de independência brasileira.
No Brasil Colonial aplicava-se as regras do processo português, e assim
permaneceu por um longo período, mesmo depois de sua independência, pelo
fato da impossibilidade prática de o legislador brasileiro tratar de uma diversidade
de matérias em um curto espaço de tempo.
Passaram a ter vigência no Brasil de então as Ordenações Filipinas e leis
extravagantes portuguesas.
Tem-se que, no ano de 1832, iniciou-se o que se tem chamado de “primeiro
período do direito processual civil brasileiro”. Entrou em vigor o Código de
Processo Criminal do Império, que continha “Disposição Provisória Acerca de
Administração de Justiça Civil”. Este revogava a legislação processual portuguesa
no Brasil.
Segundo dispunha o art. 14 desse ato administrativo, os agravos de
instrumentos e os agravos de petição eram reduzidos ao agravo no auto do
processo, e o agravo ordinário desapareceria. Ocorre que esta situação foi
alterada pela Lei 261 de 3.2.1841, que no seu art. 120, determinava a revogação
do supracitado art. 14 da Lei de 19.11.1832. Dessa forma, os dois primeiros foram
logo restabelecidos (1841), subsistindo a orientação segundo a qual deveriam
distinguir-se pelo critério territorial.
Naquele momento, além da apelação, existiam as seguintes espécies de
agravo: o de petição, de instrumento, no auto do processo, de ordenação não
guardada e o ordinário.
O Decreto 143, de 15.03.1842, baniu da legislação positiva o “agravo de
ordenação não guardada”, que era aquele recurso usado contra quaisquer
despachos e mesmo de sentenças definitivas.
Ressalte-se que modificações legislativas ocorridas em 1842, com o
Decreto 143, limitaram os agravos a apenas três espécies: o de petição, o de
instrumento e no auto do processo.
Distingue-se o agravo de petição e o agravo de instrumento por um critério
territorial.
O Regulamento 737 de 25.11.1850 não alterou substancialmente o regime
do Decreto 143, que teve vigência até a edição dos códigos estaduais, tendo-os
significativamente influenciado.
Em 1850, o regulamento 737 passou a reger o processo comercial e em
1890, o processo civil, por força do Decreto 763. Durante quarenta anos o
processo civil manteve-se regido pelas Ordenações Filipinas (que em Portugal foi
revogada em 1868) e por leis posteriores, reunidas na Consolidação realizada
pelo Conselheiro Joaquim Ribas, tornada obrigatória por Resolução, em 1876, que
mantinha essencialmente a estrutura do regulamento 737: cabia apelação contra
as sentenças definitivas e interlocutórias, e os agravos eram de petição e de
instrumento, além do agravo no auto do processo, abolido em 1886 pelo Decreto
9.549.
A tendência até à promulgação da Constituição da Republica de 1891, e
mesmo depois, foi a de alargarem-se por meio de leis extravagantes, as hipóteses
de cabimento dos agravos de instrumento e de petição.
Ressalte-se que quase todos os códigos estaduais eram inspirados no
Regulamento 737. Todos os ordenamentos processuais que passaram a ter
vigência nos Estados previam a figura do agravo de instrumento.
Com o advento do Código de Processo Civil brasileiro de 1939, o agravo de
petição passou a caber das sentenças terminativas, sendo a apelação reservada
às sentenças de mérito. Esse sistema recursal de 1939, era reconhecidamente
imperfeito.
Os diplomas processuais regionais prevaleceram no âmbito da Justiça
Estadual, até o advento do Código de Processo Civil de 1939, que veio a
contemplar o agravo de instrumento, o agravo de petição, o agravo no auto do
processo (art. 841), o agravo interno (arts. 836 e 860) e do agravo contra decisão
denegatória de recurso extraordinário (art. 868).
De acordo com esse código, cabia agravo no auto do processo das
decisões: 1) que julgassem improcedentes as exceções de litispendência e coisa
julgada; 2) que não admitissem a prova requerida ou cerceassem a defesa do
interessado; 3) que concedessem, na pendência da lide, medidas preventivas; 4)
que considerassem, ou não, saneado o processo, ressalvando-se, quanto à última
hipótese, o disposto no art. 846 (art. 851).
Já no que diz respeito ao agravo de instrumento, esse era cabível contra
decisões: 1) que não admitissem a intervenção de terceiro na causa; 2) que
julgassem a exceção de incompetência; 3) que denegassem ou concedessem
medidas requeridas como preparatórias da ação; 4) que não concedessem vista
para embargos de terceiros, ou que os julgassem; 5) que denegassem ou
revogassem o benefício de gratuidade; 6) que ordenassem a prisão; 7) que
nomeassem, ou destituíssem inventariantes, tutor, curador, testamenteiro ou
liquidante; 8) que arbitrassem, ou deixassem de arbitrar a remuneração dos
liquidantes ou a vintena dos testamenteiros; 9) que denegassem a apelação,
inclusive a de terceiro prejudicado, a julgassem deserta, ou a relevassem da
deserção; 10) que decidissem a respeito de erro de conta; 11) que concedessem,
ou não, a adjudicação ou a remissão de bens; 12) que anulassem a arrematação,
adjudicação ou remissão cujos efeitos legais já tinham produzidos; 13) que
admitissem, ou não, o concurso de credores ou ordenassem a inclusão ou
exclusão de créditos; 14) que julgassem, ou não, prestadas as contas; 15) que
julgassem os processos de que tratavam os Títulos 15 e 17, ou os respectivos
incidentes, ressalvadas as exceções expressas; 16) que negassem alimentos
provisionais; 17) que, sem caução idônea, ou independente de sentença anterior,
autorizassem a entrega de dinheiro ou quaisquer outros bens, ou a alienação,
hipoteca, permuta, sub-rogação ou arrendamento de bens (art. 842).
E sobre o agravo de petição, esse era admitido das decisões que
implicassem a terminação do processo principal sem a resolução do mérito,
ressalvados os casos expressos de agravo de instrumento (art. 846).
Ressalte-se que as sentenças de mérito desafiavam o recurso de apelação,
enquanto as sentenças processuais, conhecidas como decisões interlocutórias
mistas, eram impugnadas mediante o recurso de agravo de petição.
Já o Código de Processo civil de 1973 suprimiu o agravo de petição,
mantendo o agravo de instrumento, criando como modalidade deste o agravo
retido.
Com a recente reforma processual, voltou o Código a denominar agravo
(art. 496, II) o que antes era denominado agravo de instrumento, mantendo as
modalidades de agravo retido (art. 523) e agravo de instrumento (art. 524), cuja
sistemática foi inteiramente modificada.
O recurso de agravo, em especial o de instrumento, é aquele que sofreu
maiores modificações após a vigência do Código de Processo Civil de 1973.
Dessa forma, todas as decisões interlocutórias tornaram-se impugnáveis
pela via do agravo (art. 522), enquanto as sentenças de qualquer natureza,
processuais (art. 267) ou de mérito (art. 269), passaram a desafiar o recurso de
apelação (art. 513).
Foram contempladas duas espécies de agravo: o agravo de instrumento
(art. 522, § 2º) e o agravo retido (art. 522, § 1º), além do agravo interno (art. 532) e
do agravo contra decisão denegatória de seguimento de recurso extraordinário,
depois estendido ao recurso especial (art. 544).
No início era interposto no prazo de cinco dias, perante o juízo a quo, sendo
a responsabilidade pela formação do instrumento, ou seja, a extração das cópias,
atribuída aos cartórios. O agravante e o agravado apenas indicavam as peças que
deveriam ser transladadas. Ao agravo não era possível conferir o “feito
suspensivo”.
Este procedimento ocasionava dois problemas significativos: 1) a
morosidade do trâmite do recurso em primeiro grau de jurisdição, ocupando
indevidamente os cartórios com extração de cópias, conferência de documentos,
autuação etc.; 2) a constante utilização do mandado de segurança visando à
obtenção do citado “efeito suspensivo”. Protocolada a petição de interposição do
agravo em primeiro grau, o recorrente anexava-a ao mandado de segurança e o
impetrava no Tribunal de Justiça com o objetivo, como dito, de “emprestar efeito
suspensivo ao recurso”.
A escolha do regime instrumental ou retido cabia ao agravante, exceto
quando se mostrasse evidente a falta do interesse recursal no regime retido.
Neste sentido, surgiu a lei 9.139/1995 para modificar o cabimento dos
agravos de instrumento e retido. Inicialmente, foi substituído o termo “agravo de
instrumento” por “agravo”, quando utilizada como gênero. Foi incluído o § 4º no
art. 523, para exigir o regime retido quanto aos agravos interpostos das decisões
posteriores à sentença, ressalvando o caso da inadmissão da apelação.
Antes da lei 9.139/95, o agravo de instrumento era interposto perante o juiz
que proferiu a decisão interlocutória, o instrumento seria formado e, caso não
houvesse retratação, os autos seriam enviados ao Tribunal. Depois desta lei o
recurso passou a ser interposto no próprio Tribunal, cabendo ao agravante o prazo
de três dias, comunicar ao juiz que interpôs o recurso, para que houvesse a
possibilidade de retratação.
Ressalte-se, ainda, os objetivos de tais mudanças: 1) procurou-se agilizar o
processamento do recurso, atribuindo ao agravante o ônus da formação do
instrumento e suprimindo o procedimento moroso, no qual a própria parte se dirige
ao tribunal respectivo e protocola o seu recurso, instruindo-o com todas as peças
necessárias, indicadas no Código de Processo Civil; 2) procurou-se evitar a
utilização demasiada e incorreta do mandado de segurança. Interposto o recurso e
distribuído in continenti, o relator sorteado, desde que requerido pelo recorrente,
pode, estando presentes os requisitos, conceder o efeito suspensivo,
liminarmente, impedindo a produção de efeitos da decisão agravada até o
julgamento final do recurso de agravo pela Câmara.
Dessa forma, o processamento do agravo de instrumento tornou-se mais
ágil, reduziu-se em muito o tempo de seu julgamento. Já o mandado de segurança
também deixou de ser utilizado em tais situações.
A Lei nº 9.139/95 acabou por proporcionar outros transtornos, em especial
em um aumento significativo do número de agravo de instrumento, a ponto de os
tribunais deixarem para um segundo plano o julgamento de recursos mais
importantes, como o recurso de apelação.
Antes da referida lei, bastava preparar a peça de interposição do recurso e
protocolá-la em primeiro grau, e todo o restante ficava a cargo do próprio cartório,
e nem mesmo o preparo era recolhido naquele momento.
Assim sendo, acrescente-se a isso que, paralelamente, foi introduzida, com
a reforma de 1994, a antecipação dos efeitos da tutela no procedimento ordinário
(art. 273), circunstância que aumentou consideravelmente a quantidade de
medidas liminares proferidas. Com o aumento destas medidas, o reflexo quanto
ao agravo de instrumento foi imediato e na mesma proporção.
Neste mesmo ano, inseriu-se um inciso III, no art. 280 do CPC, segundo o
qual, no procedimento sumário, das decisão sobre matéria probatória ou das
decisões proferidas em audiência o agravo seria sempre o retido.
Foi criada a lei 10.352/2001, que veio alterar a redação do § 4º do art. 523,
para dizer que seria retido o agravo da decisões interlocutórias proferidas em
audiência de instrução e julgamento e das posteriores à sentença, salvo nos casos
de dano de difícil e de incerta reparação, nos de inadmissão de apelação e nos
relativos aos efeitos em que a apelação é recebida.
Essa nova lei, ao dar nova redação ao inciso II do art. 527, permitiu ao
relator converter o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se
tratasse de provisão jurisdicional de urgência ou houvesse perigo de lesão grave e
de difícil ou incerta reparação.
Em seguida a esta lei, veio a Lei 10.444/2002 para eliminar o inciso III do
art. 280, excluindo a obrigatoriedade do regime retido no procedimento sumário,
das decisões sobre matéria probatória e das proferidas em audiência.
Assim sendo, o legislador procurou indicar ao aplicador do direito que o
agravo interposto deveria ser o retido, exceto quando faltasse interesse na
interposição dessa modalidade de agravo.
Ocorre que, na prática, o legislador de 2001/2002 não obrigou os
agravantes a interporem agravo retido, nem muito menos obrigou os relatores a
converterem os agravos de instrumento interpostos em agravos retidos. Mesmo
porque a decisão do relator, que convertia o agravo de instrumento em agravo
retido, desafiava agravo interno, consoante antiga redação do inciso II do art. 527
do CPC.
Essa opção pelo agravo retido, feita pelo legislador, advém da circunstância
de o mesmo não comprometer a rápida e célere prestação da tutela jurisdicional.
Esse é interposto, permanece nos mesmos autos sem a necessidade de intimação
da parte contrária para oferecer contra-razões e ainda é julgado juntamente com
recurso de apelação. Tendo o recorrente a possibilidade de utilização do agravo
retido, não pode optar pelo agravo de instrumento.
Concretizadas as mudanças já citadas, ainda assim não houve a redução
pretendida do número de agravos de instrumento. O legislador, com o objetivo de
reduzir o número de agravo de instrumento, editou a Lei nº 11.187, em 19 de
outubro de 2005. Esta lei, apesar de implementar até mesmo modificações de
ordem meramente procedimental, tem como objetivo principal restringir, ainda
mais, o intitulado “regime de opção”, fazendo com que o agravo de instrumento se
apresente como uma exceção, utilizada unicamente nos casos de não- cabimento
de agravo retido.
Por fim, a lei 11.187/2005, procurando direcionar o recorrente ao regime
retido, modificou a redação do parágrafo único do art. 527 para proibir a
interposição do agravo interno contra a decisão pela qual o relator converte o
agravo de instrumento em agravo retido, além de alterar a redação do art. 522
para agora, de maneira incisiva, dizer o seguinte: “Das decisões interlocutórias
caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar
de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem
como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento”.
1.2 – Modalidades
Atualmente, a lei processual civil aponta como adequado à impugnação das
decisões interlocutórias o “recurso de agravo” (art. 496, II, do CPC). Das decisões
interlocutórias proferidas em primeiro grau de jurisdição, o agravo pode ser retido
(art. 523) ou por instrumento (art. 524), não sendo possível o procedimento de
cada um deles quando a interlocutória tiver sido proferida nos tribunais.
Nos tribunais contra a decisão de não admissão dos recursos excepcionais
(extraordinário ou especial), prevê o art. 544 o cabimento do recurso de agravo de
instrumento, mas com particularidades que o tornam diferente daquela espécie de
primeiro grau.
Há ainda o chamado “agravo interno” ou “agravo inominado” ou agravinho”.
É previsto na legislação processual contra determinadas decisões interlocutórias
proferidas pelos relatores, tal como prevêem os arts. 545, 557, § 1º, 532 do CPC,
entre outros.
Ressalte-se, por oportuno, que há ainda a possibilidade de “agravo
regimental”, cuja disciplina do procedimento encontra-se prevista nos regimentos
internos dos tribunais e não constam da legislação processual.
É importante observar o procedimento estabelecido pelo legislador, fazendo
com que cada um deles tenha peculiaridades marcantes e inconfundíveis.
Começando pelo agravo de instrumento (art. 524 e s.) tem procedimento
caracterizado pela formação de um “instrumento” que correrá no tribunal,
enquanto tramita o processo em primeiro grau. A interlocutória produzirá os seus
efeitos, e o processo terá curso normal enquanto pende de julgamento o recurso
no tribunal.
Já o agravo retido, tem duas características essencialmente marcantes: 1)
ele é interposto, sem o pagamento de preparo; 2) não processado em primeiro
grau. Salvo a excepcionalidade da retratação, este recurso ficará nos próprios
autos e somente será apreciado se for interposta apelação e, nas razões ou
contra-razões, o recorrente solicitar sua apreciação pelo tribunal.
Dessa forma, em regra, não haverá julgamento do agravo retido, nem
mesmo mera possibilidade, de imediato. O processo terá o seu curso normal em
primeiro grau, com a superação de todas as fases do procedimento, inclusive com
a prolação da sentença, sem que o agravo seja sequer lembrado.
Dessa forma, por ocasião da interposição do recurso de apelação, caso o
apelante seja também agravante, deverá ele, como condição para julgamento do
retido, requerer expressamente sua apreciação pelo tribunal (art. 523, § 1º, do
CPC). Ressalte-se que se o agravante for vitorioso, deverá, nas contra-razões de
apelação, requerer a apreciação do retido, caso o tribunal venha a reformar a
sentença que o favoreceu.
Pode-se destacar três características fundamentais e marcantes do agravo
retido: 1) função precípua de impedir a preclusão; 2) a incompatibilidade com as
tutelas de urgência; 3) a circunstância de ser utilizado em procedimentos em que
haverá a possibilidade de ser reiterado na apelação.
O agravo retido serve para ser utilizado contra decisões prolatadas em
primeiro grau de jurisdição que não atacáveis naquele momento. Serão
alcançadas pela preclusão e impossível de revisão pelo próprio juiz ou mesmo no
julgamento da apelação. Ressalte-se que mesmo que a análise do agravo retido
só venha a ser feita muito tempo depois da sua interposição, a sua utilização
naquele momento é imprescindível para tanto.
É incontestável a incompatibilidade do agravo retido com as tutelas de
urgência, eis que não será julgado enquanto não for decidida a causa em primeiro
grau de jurisdição.
Já o agravo de instrumento, propiciará o julgamento desta questão pelo
tribunal imediatamente, sem vinculação com o trâmite procedimental em primeiro
grau.
1.3 – Conceito
Inicialmente, cabe apontar o conceito de agravo no posicionamento de
Alexandre Freitas Câmara, no qual diz que:
“Este pode ser definido como o recurso cabível contra as
decisões interlocutórias”. (Câmara, Alexandre Freitas, Lições
de Direito Processual Civil, volume II, 12ª edição, Rio de
Janeiro, Editora Lumen Juris, 2006, pg. 96)
Já do ponto de vista do ilustre jurista João Roberto Parizatto, o mesmo
conceitua agravo como:
“O agravo pode ser conceituado como o recurso processual
cabível contra as decisões proferidas no processo, em
prejuízo dos direitos das partes, excluindo-se, pois, as
sentenças e os despachos de mero expediente, dos quais
não cabe recurso. Abrange, assim, as decisões
interlocutórias proferidas no processo de conhecimento, de
execução, cautelar, nos procedimentos comuns e nos de
jurisdição voluntária ou contenciosa”. (Parizatto, João
Roberto, Recursos no Processo Civil, 2ª edição, São Paulo,
Editora Saraiva, 1997, pg. 52)
E, para o tão conceituado jurista, J. E. Carreira Alvim, falar em agravo de
instrumento significa dizer que:
“o agravo é o recurso destinado à impugnação de decisões
interlocutórias, prestando-se também para viabilizar recursos
inadmitidos e reformar decisões singulares de relatores nos
tribunais.” (Alvim, J.E., Agravo, Belo Horizonte, Editora Del
Rey, 1996, pg. 36)
Como se vê, do conceito de agravo de instrumento mencionado por alguns
renomados juristas, podemos concluir que o conceito de agravo se resume na
impugnação, através de recurso, de decisões interlocutórias proferidas no
processo de conhecimento, de execução, cautelar, nos procedimentos comuns e
nos de jurisdição voluntária ou contenciosa, destacando-se que em cada uma
delas possuem características próprias.
Por oportuno, cabe conceituar as modalidades de agravo, quais sejam:
1) Agravo de Instrumento: é aquele recurso interposto contra decisões
interlocutórias, que tem como característica a formação de um instrumento, eis
que não se processa nos próprios autos em que foi proferida a decisão
impugnada, porém em autos apartados.
2) Agravo Retido: É o recurso interposto das decisões interlocutórias
proferidas pelo juízo de 1º grau, o qual permanecerá retido nos autos, em caso de
não haver retratação pelo magistrado, que será posteriormente apreciado pelo
Tribunal, caso seja requerido pela parte, em fase de recurso de apelação, razões
ou contra-razões.
3) Agravo Interno ou Inominado: é aquele interposto contra decisões
interlocutórias proferidas pelos relatores nos Tribunais, ou seja, é um recurso
utilizado contra decisões de 2ª instância e se encontra na legislação federal.
4) Agravo Regimental: é o recurso utilizado contra decisões monocráticas
proferidas nos Tribunais, e o seu procedimento é disciplinado pelos regimentos
internos dos respectivos Tribunais, não se achando na lei processual civil.
CAPÍTULO II
LEI Nº 11.187/2005 E SUAS INOVAÇÕES
2.1 – Da Obrigatoriedade do Agravo Retido (art. 522, caput)
Redação anterior do art. 522
“Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de dez
dias, retido nos autos ou por instrumento.”
Redação atual pela Lei nº 11.187/2005
“Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de dez
dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão
suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação
e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida,
quando será admitida sua interposição por instrumento.”
Destaca-se que o novo art. 522 traz em sua essência a intenção de se
privilegiar a utilização do agravo retido, impedindo que a parte tenha a opção de
escolher entre ambas as formas recursais (instrumento ou retido).
O artigo antigo disciplinava que este recurso, seja por instrumento, ou
retido, tinha cabimento contra as decisões interlocutórias. Em seguida, regulava o
processamento do retido no art. 523 e do instrumento nos arts. 524 a 529.
Com a nova redação dada ao art. 522 pela Lei nº 11.187, diz-se que das
interlocutórias cabe unicamente o agravo retido, salvo quando existir urgência e
contra as decisões que apreciam os efeitos da apelação ou que exercem seu juízo
de admissibilidade. Nestes casos, será admitida a sua interposição por
instrumento.
Esta já era a intenção de legislador desde a publicação da Lei nº
10.352/2001, quando restringiu ainda mais a utilização do agravo de instrumento e
permitiu a sua conversão, pelo relator, em retido.
Há críticas no sentido de não ter o legislador percebido que não basta
implementar modificações no requisito do cabimento; deveria atentar para a
circunstância de o retido ser uma espécie de agravo que comporta
particularidades quanto ao requisito do interesse recursal.
Em que pese prescrever o cabimento indiscriminado do agravo retido contra
todas as decisões interlocutória, é que ele possui limitações, dadas determinadas
características que lhe são próprias e inerentes. É da ratio essendi do agravo
retido ter a função precípua de: 1) impedir a preclusão, 2) ser incompatível com as
tutelas de urgência, e 3) limitar-se a determinados procedimentos em que há
possibilidade de ser julgado como preliminar da apelação. Mesmo que o
legislador, disciplinando seu cabimento, procure ampliar sua utilização, tal
pretensão é absolutamente ineficaz, uma vez que outras limitações permanecem
inalteradas.
Se tivermos um olhar mais crítico, quanto a nova redação do art. 522 do
CPC, não haveria necessidade de excepcionar o cabimento do agravo retido nas
hipóteses ali previstas, isto porque, em todas elas, o agravo retido já não teria o
seu mérito conhecido por falta de interesse recursal.
Quanto à “decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação”, pelo que já se expôs e devido à incompatibilidade do agravo retido
com elemento “urgência”, o mesmo não proporcionará ao recorrente o benefício
pretendido.
Já no que diz respeito à decisão de “inadmissão da apelação”, também falta
interesse no agravo retido, dada a impossibilidade de ser julgado posteriormente,
como preliminar de apelação.
O mesmo se pode dizer quanto à decisão relativa “aos eleitos em que a
apelação é recebida”. A falta de utilidade na interposição do agravo retido contra
essa espécie de decisão reside na circunstância de a existência ou não de efeito
suspensivo estar relacionada diretamente à possibilidade da ocorrência de dano
irreparável de difícil reparação (urgência).
Como todos os recursos têm o chamado efeito devolutivo, a decisão
prevista no art. 518 do CPC, relaciona-se unicamente com o efeito suspensivo,
mesmo porque, em nosso ordenamento jurídico, a regra é de que o recurso de
apelação seja dotado do efeito suspensivo, ressalvadas a essa regra os incisos
520 do CPC.
Para obtenção do efeito suspensivo ao recurso de apelação, deverá o
apelante demonstrar a fundamentação relevante e a possibilidade da ocorrência
de um evento danoso, ou seja, a impossibilidade de aguardar até o julgamento do
recurso de apelação. A fundamentação do apelante deverá vir calcada,
necessariamente, na premissa de não poder suportar os efeitos produzidos pela
sentença até o julgamento do recurso de apelação.
Ressalte-se que a parte continuará a não utilizar do agravo retido, por falta
de interesse recursal, contra decisões que envolvam urgência (já previstas no art.
522 do CPC); aquelas que não são alcançadas pela preclusão; assim como as
que envolvam situações em que não haverá possibilidade desse recurso ser
julgado como preliminar de apelação. O rol de exceções contempladas no art. 522,
portanto, não é taxativo, devendo ser estendido para todas as hipóteses que
contemplem a mesma natureza e finalidade.
A permissão do legislador à utilização do agravo de instrumento adveio do
fato de naquelas situações excepcionadas não ser útil o agravo retido. Logo, não
podendo a parte ser privada do direito de recorrer, garante-se a ela a possibilidade
de interpor o recurso de agravo de instrumento. Proferida interlocutória e não lhe
permitindo seu controle mediante o agravo retido, o sistema confere o direito de
utilização de outro procedimento que permita alcançar tal fim.
Importante destacar que não permitir a utilização do agravo de instrumento,
unicamente em decorrência da interpretação literal da nova redação do art. 522,
significa afronta direta ao texto constitucional (art. 5º, LV), que garante aos
litigantes o direito à ampla defesa.
Por tudo isso, conclui-se que uma interpretação teleológica do art. 522
conduz inevitavelmente a uma conclusão, no sentido de que a parte atualmente
estará obrigada a utilizar-se do agravo retido todas as vezes em que puder ter o
seu mérito apreciado. Nessa hipótese, excluído estará o cabimento do agravo de
instrumento. De outro lado, o agravo de instrumento poderá ser interposto, por
conseqüência, quando a parte não puder lançar mão do retido. Todas as vezes
que a parte puder lançar mão do agravo retido, de imediato excluída estará a
utilização do agravo de instrumento.
Esse critério consagra dois elementos imprescindíveis para o cabimento do
agravo de instrumento: a existência da urgência ou o não-oferecimento ao
recorrente de outra forma de impugnação da decisão recorrida.
Importante frisar que o agravo de instrumento, a partir da Lei nº
10.532/2001, somente vai ser admitido se: a) estivermos diante de uma tutela de
urgência, ou b) o agravante não puder utilizar-se, pela ausência de interesse, do
agravo retido contra a decisão interlocutória.
A tutela de urgência é incompatível com o agravo retido, de modo que
somente tem sentido falar no interesse neste recurso diante da inexistência da
tutela de urgência.
A interpretação pura e simples da lei conduziria a uma série de
inconvenientes, ao exigir-se unicamente a urgência, como diante de decisões
interlocutórias proferidas em sede de processo de execução. De nada adiantaria
ao recorrente a conversão do agravo de instrumento em retido no processo de
execução, na medida em que não há sequer interesse no julgamento do agravo
retido.
No processo de execução, nunca se poderá admitir a conversão do agravo
de instrumento em agravo retido, pois haverá uma nítida violação ao princípio do
devido processo legal (art. 5º, LV, da CF/88), o qual garante a todos o direito de
utilização dos recursos.
Cabe destacar que, antes da reforma de 2005, o Código já exigia que fosse
retido o regime do agravo contra decisão interlocutória proferida na audiência de
instrução e julgamento, podendo o recorrente optar pela interposição oral, na
própria audiência de instrução e julgamento, ou pela interposição escrita, no prazo
de dez dias.
A Lei 11.187/2005 continuou a exigir a retenção do agravo contra a decisão
interlocutória proferida em audiência de instrução e julgamento, mas eliminou a
faculdade de interposição escrita, no prazo de dez dias, ao exigir que o agravo
retido, em tal situação, seja interposto oral e imediatamente. Eis que, descumprida
a norma, o agravo retido não será admitido.
A regra resgata o princípio da oralidade em sentido estrito, mas na prática
pode criar sérios empecilhos à economia e à celeridade do processo em primeira
instância, pois a necessidade de uma apresentação oral das razões e das contra-
razões em audiência de instrução e julgamento estenderá demasiadamente o
tempo de duração desta, principalmente se o juiz aplicar por analogia o prazo do
debate oral previsto no art. 454 do CPC – “20 (vinte) minutos para cada um,
prorrogável por 10 (dez), a critério do juiz”.
Por outro lado, o agravo retido interposto exatamente após a prolação da
decisão interlocutória pode facilmente perder o objeto até o final da audiência de
instrução e julgamento, pelo próprio encaminhamento desta, razão pela qual, mais
uma vez, essa exigência contraria os princípios da economia e da celeridade
processual.
Ressalte-se que a lei 11.187/2005 pôs termo ao § 4º do art. 523,
substituindo-o pelo caput do art. 522, tendo o legislador deixado as decisões
posteriores à sentença, como hipóteses de retenção obrigatória.
Neste sentido, entenderam os ilustres juristas Daniel Amorim Assumpção
Neves, Glauco Gumerato Ramos, Rodrigo da Cunha Lima Freire e Rodrigo
Mazzei, em seu livro “Reforma do CPC”, Editora Revista dos Tribunais, edição
2006, pg. 52, que o legislador agiu corretamente ao afirmarem que:
“Agiu corretamente. As decisões posteriores à sentença
dificilmente desafiariam agravo retido, pois normalmente
dizem respeito a matérias urgentes, ao não recebimento da
apelação, aos efeitos em que esta foi recebida ou incidentes
na execução da sentença. Por isso, na maioria das vezes,
faltaria interesse recursal para a admissão do agravo retido
contra as decisões posteriores à sentença.”
A alteração implementada em decorrência da nova redação do art. 522, foi
a revogação do § 4º do art. 523. Este dispositivo assim dispunha:
“Art. 523..................................................................................
§ 4º Será retido o agravo das decisões proferidas na
audiência de instrução e julgamento e das posteriores à
sentença, salvo nos casos de dano de difícil e de incerta
reparação, nos da inadmissão da apelação e nos relativos
aos efeitos em que a apelação é recebida.”
Sua revogação se deu por várias razões: 1) porque seu conteúdo foi
distribuído nos arts. 522 e 523, § 3º. Aquele, como visto, faz referência ao
cabimento unicamente do retido para as hipóteses de “dano de difícil e de incerta
reparação nos da inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida, ao passo que este dispôs a respeito das decisões proferidas
na audiência de instrução e julgamento.
O legislador corrigiu a obrigatoriedade de interposição do agravo retido
após a prolação da sentença, que há muito tempo era alvo de críticas. Na época,
a intenção do legislador foi evitar o desperdício com a movimentação da máquina
judiciária, com o recurso que seria rapidamente apreciado, devido à proximidade
do julgamento de apelação. A solução, pelo retido, seria a obrigatoriedade de um
recurso mais econômico, que atenderia aos interesses do recorrente.
Deixou-se ao critério da parte, diante das limitações impostas pelo art. 522,
a interposição do recurso de agravo, na forma retida ou por instrumento.
No que diz respeito à obrigatoriedade da interposição do agravo retido
oralmente, a Lei nº 9.139/95, que disciplinou o novo regime do agravo, inovou ao
permitir a interposição do agravo retido na forma oral, na própria audiência. Este
recurso passou a ser o único com a possibilidade de ser interposto sem petição.
Proferida a interlocutória na audiência, o recorrente tinha a opção de aguardar o
prazo de dez dias para recorrer, por escrito, mediante petição, ou de insurgir-se na
própria audiência, oralmente, constando do respectivo termo as razões recursais e
o pedido de reforma.
A Lei nº 11.187/2005 veio para interferir nesse direito, que o recorrente tinha
de optar, pela forma de interposição do recurso de agravo retido contra as
decisões proferidas em audiências. A alteração veio pela nova redação dada no
art. 523, § 3º, na forma a seguir:
Redação anterior do art. 523
“§ 3º Das decisões interlocutórias proferidas em audiência
admitir-se-á a interposição do agravo retido, a constar do
respectivo termo, expostas sucintamente as razões que
justifiquem o pedido de nova decisão.”
Redação atual pela Lei nº 11.187/2005
“§ 3º Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de
instrução e julgamento, caberá agravo na forma retida,
devendo ser interposto oral a imediatamente, bem como
constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas
sucintamente as razões do agravante.”
Ocorre que o requisito do cabimento recursal já vem disciplinado no art.
522. Por meio deste, concebe-se que há obrigatoriedade da utilização do agravo
retido, quando este é capaz de proporcionar ao recorrente a reforma da decisão
interlocutória.
Na Lei nº 9.139/95, art. 522, é redundante quando diz caber agravo retido
das decisões proferidas na audiência de instrução e julgamento. Logo, o que se
estabelece é a obrigatoriedade de o agravo retido ser interposto sob a forma oral
contra as decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e
julgamento. Acaba-se com o direito de escolha quanto à forma de interposição:
oral ou por escrito.
Caso seja hipótese de oitiva do agravado para se manifestar a respeito do
agravo retido, interposto na audiência, o mesmo também deverá respondê-lo,
oralmente, constando sua manifestação do respectivo termo.
É cediço que a única hipótese em que há contra-razões no agravo retido
(art. 522, § 2º) ocorre quando o juiz, diante das razões constantes do recurso,
percebe que convém fazer nova análise da decisão por ele próprio proferida.
Havendo, em tese, a possibilidade de retratação, esta tendo em vista o princípio
do contraditório (art. 5º, LV, CF/88), não poderá ser feita, sob pena de nulidade,
sem a oitiva da parte contrária.
Interposto por escrito, havendo necessidade, o agravado terá dez dias para
responder ao passo que, interposto oralmente, a resposta também deverá ser oral,
na própria audiência.
Destaca-se, ainda, outro aspecto importante quanto à alteração
implementada em que não há referência à audiência preliminar (art. 331), mas
unicamente à audiência de instrução e julgamento.
Com efeito, o legislador já havia feito a distinção entre as duas audiências,
com a Lei nº 10.352/2001, quando dispôs ser obrigatória a utilização do agravo
retido apenas nas audiências de instrução e julgamento. A nova lei segue o
mesmo escopo, referindo-se unicamente a esta última audiência, de modo que
não torna possível, nem mesmo obrigatória, a interposição do agravo retido na
forma oral das decisões proferidas na audiência preliminar (art. 331).
Dessa forma, as decisões interlocutórias proferidas na audiência preliminar
(art. 331) encontram-se disciplinadas pela regra geral do art. 522. Deverá a parte
utilizar-se obrigatoriamente de agravo retido, quando lhe for útil, mas somente por
escrito, uma vez que, no que tange à regularidade formal, a interposição oral foi
apenas prescrita quanto às decisões proferidas na audiência de instrução e
julgamento.
Assim, não há como elogiar a restrição imposta pelo legislador à
interposição oral unicamente das decisões interlocutórias proferidas na audiência
de instrução e julgamento. Não existem razões jurídicas razoáveis que
determinam a interposição oral exclusivamente nesta audiência. Se o objetivo é
privilegiar o princípio da oralidade, deveria o legislador prescrever simplesmente a
obrigatoriedade da interposição oral dos agravos retidos contra decisões
proferidas em audiências.
Conclui-se que a discussão quanto à obrigatoriedade do agravo retido, na
forma oral, somente pode ser aventada diante de situações em que ele pode
proporcionar a reforma da decisão agravada, eis que proferida decisão
interlocutória na audiência, preliminar ou de instrução e julgamento, contra a qual
não é útil o agravo retido, sempre caberá o agravo de instrumento.
2.2 – Conversão do Agravo de Instrumento em Retido
Inicialmente, cabe destacar que a Lei nº 10.532/2001 introduziu a
possibilidade de conversão do agravo de instrumento em agravo retido como meio
de desestimular a utilização daquela espécie recursal. Buscou-se priorizar a
interposição do agravo na forma retida, evitando-se desnecessariamente a
movimentação da máquina judiciária.
Redação anterior do art. 527
“II – poderá converter o agravo de instrumento em agravo
retido, salvo quando se tratar de provisão jurisdicional de
urgência ou houver perigo de lesão grave e de difícil ou
incerta reparação, remetendo os respectivos autos ao juízo
da causa, onde serão apensados aos principais, cabendo
agravo dessa decisão ao órgão colegiado competente.”
Redação atual do art. 527
“II – converterá o agravo de instrumento em agravo retido,
salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à
parte lesão grave de difícil reparação, bem como nos casos
de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao
juiz da causa. “
Dessa forma, somente deve ser aceita a conversão do agravo de
instrumento em agravo retido quando este puder proporcionar à parte a reforma
de decisão recorrida. Se este não puder ser admitido, por falta de um dos
requisitos de admissibilidade, de nada adiantará a sua conversão. Assim, o
legislador apenas explicitou algo que já devia ser obrigatoriamente analisado pelo
relator.
No que diz respeito à interpretação teleológica do inciso II do art. 527, o
critério do legislador para impedir a conversão é a falta de interesse recursal no
agravo retido. Necessariamente, todas as situações que assim se apresentam,
também devem ter o mesmo tratamento.
2.3 – Conversão do Agravo Retido em Agravo de Instrumento
Por uma interpretação invertida do disposto no inciso II do art. 527 do CPC,
a conversão do agravo retido em agravo de instrumento estaria fora de cogitação,
mas no entendimento dos juristas Daniel Amorim Assumpção Neves, Glauco
Gumerato Ramos, Rodrigo da Cunha Lima Freire e Rodrigo Mazzei, em seu livro
“Reforma do CPC”, Editora Revista dos Tribunais, edição 2006, pg. 60, na
existência de um fato superveniente em que haja falta de interesse no agravo
retido, este poderá ocorrer, no qual afirma que:
“Mas se ocorrer um fato superveniente que faça desaparecer
o interesse no agravo retido, exigindo uma pronta resposta
do Tribunal, que só pode ser dada no agravo de instrumento,
o agravo de instrumento poderá ser convertido em agravo de
instrumento, por uma interpretação do inciso II do art. 527 do
CPC realizada em conjunto com os arts. 462 e 517 do
mesmo Código.”
De forma a aclarar o posicionamento, os ilustres juristas justificam seu
entendimento de forma exemplificativa, que ora se transcreve:
“a parte interpõe agravo retido contra a decisão pela qual o
juiz indeferiu o requerimento de produção de prova
testemunhal; acontece que a testemunha é acometida de
grave enfermidade, exigindo a produção antecipada da prova
testemunhal, caso seja deferida; o autor não pode requerer
outra vez a produção da prova testemunhal, porque o juiz já
se manifestou a respeito do assunto e a decisão em nada se
altera com a situação de urgência que agora se apresenta; a
conversão do agravo retido em agravo de instrumento se
mostra indispensável, sob pena de o agravo retido perder o
objeto e a parte não poder interpor agravo de instrumento
devido à inexistência de nova decisão interlocutória.”
Ressalte-se, ainda, por importantíssimo, que o princípio da fungibilidade
dos recursos para a conversão de agravo de instrumento em retido interposto em
uma situação de dúvida sobre o regime adequado, apesar de tal princípio não
estar previsto expressamente no Código, ao contrário da fungibilidade entre as
tutelas antecipada e cautelar (§ 7º do art. 273 do CPC) e da fungibilidade entre os
interditos possessórios (art. 920 do CPC), a jurisprudência o tem admitido
pacificamente.
Segundo o entendimento de Teresa Arruda Alvim Wambier, em Anotações
sobre a Teoria Geral dos Recursos, p. 60, pode-se afirmar que o requisito
fundamental à aplicação do princípio da fungibilidade é a “dúvida objetiva”, que
consiste, fundamentalmente, na existência de divergência doutrinária ou
jurisprudencial acerca do recurso cabível.
Alguns entendem, ainda, em ausência de erro grosseiro, na ausência de
má-fé e na tempestividade como requisitos para a aplicação do princípio da
fungibilidade recursal, porém: a dúvida objetiva pressupõe a ausência do erro
grosseiro; a má-fé não pode ser presumida e, de qualquer forma, o recorrente
pode se valer da via recursal e agir de má-fé; a dúvida quanto ao recurso implica
dúvida sobre o respectivo prazo, inexoravelmente.
É preciso reconhecer que as sucessivas alterações legislativas, no caso
específico do agravo retido e do agravo de instrumento, tem contribuído para que
dúvidas surjam a respeito do regime adequado em um razoável número de
situações concretas.
Ocorre que o próprio sistema parece excluir a fungibilidade, já que não
deixa o agravante descoberto nas chamada zonas de penumbra entre os regimes
instrumental e retido: bastando que o agravante interponha o agravo de
instrumento, visto que o relator apenas o converterá em agravo retido, caso o
considere manifestamente inadequado. E se o relator agir de maneira incorreta,
convertendo em retido um agravo que deveria ser de instrumento, poderá o
agravante impetrar mandado de segurança.
Caso o agravante desista do agravo retido erroneamente interposto para
interpor o adequado agravo de instrumento, ainda que este último seja interposto
no prazo de dez dias, em tal situação ocorrerá a preclusão consumativa, pois o
recurso é um só, o agravo, e este já foi interposto, ressalte-se, que este também é
o entendimento de Teresa Arruda Alvim Wambier.
Frise-se, ainda, que o Tribunal jamais deve presumir a má-fé de quem
optou pelo regime instrumental, em detrimento do regime retido: 1) porque a má-fé
não se presume; 2) porque o Código diz que o relator converterá o agravo de
instrumento em agravo retido, exceto em determinadas situações específicas; 3)
porque a vaga conceituação do periculum in mora, além das diversas situações
duvidosas que ainda perduram em decorrência da economia ou da celeridade
processual, da eventual falta do interesse recursal na interposição do agravo
retido e do ambiente de instabilidade gerado pelas reformas do CPC, justificam
plenamente a escolha do agravo de instrumento, até mesmo como forma de
precaução.
2.4 – Irrecorribilidade (Hipóteses dos incisos II e III do art. 527)
A inovação que ocasionará maiores repercussões consiste na
impossibilidade de utilização do agravo interno ou também chamado como
inominado, contra a decisão do relator que converter o agravo de instrumento em
retido, assim como aquela que concede o efeito suspensivo ou defere, em
antecipação de tutela, a pretensão recursal.
Tal prescrição advém da exclusão da parte final do inciso II do art. 527 e da
inclusão do parágrafo único do mesmo artigo, cuja redação é:
“Parágrafo único. A decisão liminar proferida nos casos dos
incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de
reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o
próprio relator a reconsiderar.”
Assim sendo, o dispositivo transcrito faz referência aos incisos II e III do art.
527, dizendo que a decisão limiar neles prevista somente será passível de reforma
quando do julgamento do próprio agravo.
Destacam-se três pontos críticos importantes:
1) Consiste no fato de não existir a possibilidade de concessão de medida
liminar na hipótese do inciso II do art. 527. Este inciso cuida expressamente da
decisão interlocutória, não liminar, que converte o agravo de instrumento em
agravo retido. Assim, é estranha a previsão constante do inciso II quanto a
existência de decisão liminar.
2) Decorre da existência de reforma da decisão que converte o agravo de
instrumento em retido (inciso II do art. 527) quando do julgamento do próprio do
agravo. Convertido o agravo de instrumento em retido, este será julgado
preliminarmente na apelação. Logo, não se coaduna com seu procedimento a
possibilidade de ser reformada a decisão de conversão. A redação do parágrafo
único do art. 527 foi idealizada unicamente para a hipótese constante do inciso III
deste artigo, quando então compreende-se a existência de decisão liminar
passível de reforma no momento do julgamento do agravo.
3) Advém da circunstância de existir, no inciso III do art. 527, a possibilidade
de decisão interlocutória, proferida pelo relator, sem natureza de liminar. Permite a
concessão do efeito suspensivo ou o deferimento, em antecipação da tutela, da
pretensão recursal. Sendo deferido o pedido formulado pelo agravante,
inequivocamente, estar-se-á diante de uma decisão liminar. Contra ela não caberá
recurso, como quer o legislador atual.
Tratando-se de regra de exceção, a interpretação dever ser restrita.
Havendo o legislador se referido unicamente à decisão liminar, somente esta, e
não qualquer uma outra, é que ficaria submetida à irrecorribilidade.
No que diz respeito à interpretação gramatical, esta deve ceder espaço à
interpretação teleológica. O escopo é impedir a recorribilidade de decisões
proferidas pelos relatores, nos agravos de instrumentos que apreciam, sejam para
conceder ou negar, o requerimento de efeito suspensivo ou de concessão,
mediante antecipação de tutela, da pretensão recursal e as que determinam a sua
conversão em agravo retido. É de se afastar qualquer razoabilidade na
interpretação que procura restringir unicamente a irrecorribilidade às decisões que
concedem o efeito suspensivo e permitir recursos contra aquelas que negam.
2.5 – Ausência de Cabimento, Admissão e Vedação do Agravo
Interno
Entende-se por agravo interno ou inominado aquele previsto pelo legislador
federal como destinado a atacar decisões interlocutórias prolatadas pelos relatores
nos tribunais.
Antes da entrada em vigor da Lei 11.187/2005, o Código admitia
expressamente, na parte final do inciso II do art. 527, o cabimento do agravo
interno contra as decisões pela qual o relator convertia o agravo de instrumento
em agravo retido.
Já com relação à decisão do relator a respeito do pedido de efeito
suspensivo ou de efeito ativo no agravo de instrumento, essa não era muito clara.
A nova redação do parágrafo único do art. 527 do CPC, aboliu a
possibilidade de se interpor agravo interno contra decisão pela qual o relator
converte o agravo de instrumento em agravo retido (inciso II do art. 527 do CPC)
ou decide o pedido de efeito suspensivo ou de efeito ativo do agravo de
instrumento (inciso II do art. 527 do CPC).
O relator pode, ainda, reconsiderar a decisão ou esta ser reformada no
momento do julgamento do agravo, mas o Tribunal já não pode mais reformar a
decisão pela qual o relator converte o agravo de instrumento em retido por ocasião
da decisão do agravo retido, nem faz qualquer sentido o Tribunal reformar a
decisão pela qual o relator julgou o pedido de efeito suspensivo ou de efeito ativo
no momento da decisão do agravo de instrumento.
Neste caso, o único recurso admitido são os embargos de declaração,
desde que a decisão do relator seja omissa, contraditória ou obscura, como
dispõem os incisos I e II do art. 535 do CPC.
A parte poderá, ainda, impetrar mandado de segurança para impugnar a
decisão do relator que converteu o agravo de instrumento em agravo retido ou
decidiu o pedido de efeito suspensivo ou ativo no agravo de instrumento.
O legislador, ao proibir o agravo interno contra as decisões que digam
respeito à conversão do agravo de instrumento em agravo retido e ao julgamento
do requerimento de efeito suspensivo ou de efeito ativo no agravo de instrumento,
através do parágrafo único do art. 527 do CPC, reconheceu o cabimento do
agravo interno contra todas as outras decisões monocráticas proferidas pelos
integrantes de tribunais.
Isto posto, desde que entrou em vigor a Lei 11.187/2005, que deu nova
redação ao parágrafo único do art. 527 do CPC, deixou de fazer qualquer sentido
a discussão sobre a necessidade de previsão legal ou regimental casuística das
hipóteses de cabimento do agravo interno.
Ressalte-se que somente em duas hipóteses o agravo interno encontra-se
vedado, exatamente as mencionadas no parágrafo único do art. 527 do CPC.
O legislador atual mudou a redação antes conferida ao art. 527 e no
parágrafo único introduzido vedou a recorribilidade da decisão proferida pelo
relator. O escopo de tal reforma foi imprimir maior agilidade no julgamento dos
agravos de instrumento, impedindo que seja levado ao órgão colegiado aquele
pronunciamento que determinou sua conversão. Esta é a vontade do legislador,
mesmo que sua incidência faça com que haja o retorno da utilização do mandado
de segurança, e não se pode pretender interpretar o parágrafo único do art. 527
em decorrência de suas conseqüências.
Já no que diz respeito à vedação do parágrafo único do art. 527 do CPC
fala em “decisão liminar”, proferida nos casos dos incisos II e III do “caput”,
enquanto o inciso III diz que o relator “poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso
(art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão
recursal”.
Dessa forma, cabe agravo interno quando o juiz indeferir o pedido de efeito
suspensivo ou de efeito ativo, mas não cabe esse mesmo agravo quando o juiz
deferir o pedido de efeito suspensivo ou ativo, pois viola o princípio fundamental
da igualdade (caput do art. 5º da CF e inciso I do art. 125 do CPC).
Conclui-se que a modificação mais grave consiste na prescrição de
irrecorribilidade também para as hipótese em que o relator concede ou nega o
chamado efeito suspensivo ao agravo de instrumento (art. 527, III). Aqui a
irrecorribilidade ainda mais insustentável, porque sempre se estará diante de
hipótese em que se discute a respeito de tutela de urgência, naturalmente envolta
com a ocorrência de dano irreparável ou de difícil reparação.
2.6 – A Constituição Federal e o parágrafo único do art. 527 do
CPC
Inicialmente, destaca-se que o parágrafo único do art. 527 apenas exclui a
possibilidade de a lei instituir o agravo interno, mas não restringiu o “dever que
têm os tribunais de admitir a provocação do interessado para que os colegiados
examinem as decisões monocráticas de seus membros.
E, neste sentido, é o entendimento dos ilustre juristas Daniel Amorim
Assumpção Neves, Glauco Gumerato Ramos, Rodrigo da Cunha Lima Freire e
Rodrigo Mazzei, em seu livro “Reforma do CPC”, Editora Revista dos Tribunais,
edição 2006, pg. 67, que entendem:
“...quanto à inconveniência da limitação imposta à
recorribilidade das decisões monocráticas proferidas pelos
relatores dos recursos, especialmente no que diz respeito à
instabilidade jurídica que proporcionam, oposta à função dos
próprios Tribunais, e ao desprestígio de uma maior justiça,
proporcionada pela colegialidade das decisões, em nome da
celeridade, como se esse fosse o único valor em jogo.”
Cabe dizer que, tanto as decisões interlocutórias proferidas pelos juizes de
primeira instância quanto as decisões proferidas monocraticamente pelos
integrantes dos Tribunais, desafiam agravo.
E uma das espécies de agravo é justamente o agravo interno, também
conhecido como agravo inominado ou agravinho, interposto contra as decisões
singulares proferidas pelos integrantes de Tribunais.
Ressalte-se que este agravo não necessita de previsão legal específica,
nem de previsão regimental, até porque o inciso I do art. 22 da CF, diz que
compete exclusivamente à União legislar sobre matéria processual.
Já o parágrafo único do art. 527 do CPC, ao proibir o agravo interno contra
as decisões que digam respeito à conversão do agravo de instrumento em agravo
retido e ao julgamento do requerimento de efeito suspensivo ou de efeito ativo do
agravo de instrumento, acabou por reconhecer o cabimento do agravo interno
contra todas as outras decisões monocráticas proferidas pelos integrantes de
Tribunais.
Porém, por outro lado, alguns regimentos internos de Tribunais disciplinam
a interposição do agravo interno – que passa, então, a receber o inadequado
nome de agravo regimental – devido à escassez de normas legais que prevêem
casuisticamente este recurso, como o parágrafo único do art. 120, o art. 532 e o §
1º do art. 557 do CPC.
Ressalte-se que, em alguns Tribunais, o agravo interno recebe o nome de
agravo legal, quando previsto especificamente na lei, e agravo regimental, quando
previsto especificamente no regimento interno.
Já o parágrafo único do art. 527 do CPC proibiu a interposição do agravo
interno contra a decisão singular pela qual o relator converte o agravo de
instrumento em agravo retido ou julga o pedido de concessão de efeito suspensivo
ou de efeito ativo no agravo de instrumento, e, como o agravo regimental é
rigorosamente um agravo interno inutilmente previsto no regimento interno de um
Tribunal, sua interposição está também proibida nessas mesmas situações, não
se podendo dizer, data venia, que o parágrafo único do art. 527 do CPC contrariou
a alínea a do inciso I do art. 96 da CF.
Portanto, restará, a parte que se considerar prejudicada, impetrar o
mandado de segurança, devendo ressaltar que dificilmente os requisitos de
admissibilidade do mandado de segurança não estarão preenchidos quando o
relator agir de maneira incorreta ao converter o agravo de instrumento em agravo
retido ou ao decidir o pedido de efeito suspensivo ou de efeito ativo.
O próprio princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional permite que
a parte promova outras ações autônomas de impugnação, como a ação anulatória
prevista no art. 486 do CPC, formulando pedido de tutela de urgência,
especialmente em casos extremos.
Por fim, cabe ressaltar que se a decisão do relator criar uma situação
irreversível, somente nesse caso, o parágrafo único do art. 527, interpretado como
vedação do acesso ao colegiado, será inconstitucional, porque o colegiado, e não
o relator, é o juiz natural para julgar o agravo retido e o agravo de instrumento,
conforme determina o art. 555 do CPC.
2.7 – Do Agravo Regimental
O agravo regimental é uma espécie de recurso de agravo, interposta contra
decisões monocráticas proferidas nos tribunais, com procedimento disciplinado
pelos regimentos internos dos respectivos tribunais.
Não se confunde com o agravo interno porque o procedimento deste
encontra-se na legislação federal, tal como se verifica nos arts. 4º da Lei nº
4.348/64 e nos arts. 557 e 532, ambos do CPC.
Ressalte-se que, ante a ausência de previsão de cabimento do agravo
interno contra as várias decisões interlocutórias proferidas nos tribunais, é antiga e
larga a utilização dos agravos regimentais. Basta observar que são incontáveis as
hipóteses não consagradas pelo CPC, tais como indeferimento liminar da petição
inicial de ação rescisória; indeferimento liminar de petição inicial de ação cautelar
inominada; indeferimento liminar de petição inicial de mandado de segurança;
deferimento ou indeferimento de medida liminar numa dessa decisões;
indeferimento ou deferimento de provas em ação rescisória, etc.
Dessa forma, diante da prescrição contida no parágrafo único do artigo 527,
não poderá ser utilizado o agravo regimental para as decisões previstas nos
incisos II e III do art. 527.
Já no que diz respeito ao inciso III, não há, como antes, omissão, quanto ao
cabimento do agravo interno, capaz de justificar a interposição do agravo
regimental. O legislador não parou por aí, prescreveu a impossibilidade da
utilização de recursos contra aquelas interlocutórias, retirando assim competência
dos tribunais para regular o procedimento daquele.
O legislador federal estabeleceu a irrecorribilidade de determinada decisão
interlocutória proferida, ipso facto, excluída está a competência dos tribunais para
regulamentar o procedimento do agravo, em decorrência da inexistência de
previsão legal do cabimento recursal.
Por essas razões, é impossível, após a vigência da Lei nº 11.187/2005, a
interposição do agravo regimental contra as decisões dos relatores que concedem
ou negam efeito suspensivo ao agravo de instrumento ou que deferem, em
antecipação de tutela, a pretensão recursal.
2.8 – Da Possibilidade de Reconsideração
O parágrafo único do art. 527 diz que, mesmo não sendo cabível recurso
contra as decisões ali previstas, é possível que as mesmas sejam modificadas
pelo relator, ou seja, que o relator reconsidere ou modifique a decisão por ele
proferida.
Ressalte-se que, ao prescrever a possibilidade de reconsideração, é
cabimento da figura chamada de “pedido de reconsideração”. Este instituto nada
mais é do que uma simples petição por meio da qual se provoca o juiz para que
faça o reexame da questão por ele decidida, a respeito da qual poderia fazê-lo até
mesmo de ofício, em razão de inexistir a figura de preclusão pro judicato. O pedido
de reconsideração tem incidência naquelas situações em que o juiz pode rever
suas decisões, independentemente de qualquer provocação.
Os pedidos de reconsideração não são recurso, mas uma simples petição,
por meio da qual se provoca o juiz a decidir novamente questões das quais
poderia conhecer independentemente desta provocação.
Dessa forma, não possuindo natureza recursal, não há que se cogitar da
necessidade do preenchimento dos requisitos de admissibilidade para sua
utilização. Não há prazo, nem pagamento de custas, nem mesmo um
procedimento específico existe. De um modo geral, proferida a decisão
interlocutória, a parte prejudicada protocolará petição em juízo, requerendo, diante
dos argumentos ali constantes, que o relator a reconsidere, modificando a decisão
por ele anteriormente proferida.
Destaca-se que não cabe agravo regimental contra a decisão do relator que
indefere o pedido de reconsideração ou mesmo que o acolhe, pois o que busca o
legislador é a inexistência de recurso contra decisões proferidas, com amparo nos
incisos II e III do art. 527, não importando que elas sejam tomadas indiretamente,
mediante a apreciação dos pedidos de reconsideração. Desse modo, quando o
relator acolhe o pedido de reconsideração contra decisão que concedeu efeito
suspensivo, corresponde, qualitativamente, à situação que ocorreria caso tivesse
negado inicialmente a concessão do citado efeito suspensivo.
Conclui-se que, apesar de permitir, por meio de reconsideração, que as
partes possam buscar a modificação de situação que lhe é contrária, de fato
faltou, uma vez mais, técnica processual do legislador ao cuidar da sistemática
recursal.
2.9 – Da Juntada de Documentos pelo Agravado
Inicialmente, cabe destacar que, no inciso V do art. 527, o legislador
preferiu substituir a expressão “facultando-lhe juntar cópias das peças que
entender convenientes” por “facultando-lhe juntar a documentação que entender
conveniente”.
Dessa forma, tem entendido os juristas Daniel Amorim Assumpção Neves,
Glauco Gumerato Ramos, Rodrigo da Cunha Lima Freire e Rodrigo Mazzei, em
seu livro “Reforma do CPC”, Editora Revista dos Tribunais, edição 2006, pg. 62,
que:
“Isso significa que agora o agravado está autorizado pelo
Código a juntar à contraminuta do agravo de instrumento os
documentos ou cópias de documentos que não se encontram
nos autos do processo.”
Ressalte-se que sobre tal entendimento existem divergências, devendo
prevalecer o entendimento de Teresa Arruda Alvim Wambier, em Revista de
Processo, REPRO 134, ano 31, abril/2006, pg. 107, na qual defende que:
“Na nova lei, se diz que o agravo de instrumento poderá
juntar a documentação que entender conveniente. Mas, é
óbvio, que conste dos autos. Só podem ser juntados
documentos que não constem dos autos se o agravado ainda
não contestou ou se não os juntou na contestação por força
maior.”
Há, ainda, aqueles que entendem que somente deve ser admitida a juntada
de documentos novos por ocasião da resposta do agravado, quando se destinar a
fazer prova de fatos deduzidos depois dos articulados ou contrapô-los aos que
foram produzidos nos autos, conforme o art. 397 do CPC, ou quando foram
documentos novos na acepção utilizada na ação rescisória, eis que, neste sentido,
têm entendido os juristas Antônio Notariano Jr. e Gilberto Gomes Bruschi.
Por outro lado, o relator deverá ouvir o agravante, no prazo de cinco dias,
em atenção ao princípio fundamental do contraditório, consagrado pelo inciso LV
do art. 5º da CF.
Tendo em vista o princípio fundamental da isonomia, previsto no caput do
art. 5º da CF e no inciso I do art. 125 do CPC, a regra se estende ao agravante,
pois o inciso II do art. 525 do CPC, diz que o agravante pode juntar à petição do
agravo de instrumento outras peças que entender úteis.
Ressalte-se, ainda, que a norma inserta no inciso V do art. 527 do CPC,
também se aplica ao agravo retido, e não apenas ao agravo de instrumento, eis
que, em primeiro lugar, porque a lei não transformaria o agravo retido num recurso
de segunda categoria, e em segundo lugar, porque o relator pode converter o
agravo de instrumento (com os documentos ou as cópias de documentos que não
se encontram nos autos do processo) em agravo retido, conforme dispõe o inciso
II do art. 527 do CPC.
2.10 – Do Ministério Público
Inicialmente ressalte-se que, anteriormente à reforma de 2005, o inciso VI
do art. 527 do CPC, dizia que o relator ouviria o representante do Ministério
Público, ultimadas as providências previstas nos incisos I ao V. Já com a Lei
11.187, o inciso VI do art. 527 do CPC, teve a sua redação alterada, para que o
relator ouça o representante do Ministério Público, ultimadas as providências
previstas nos incisos III ao V, ou seja, após a atribuição de efeito suspensivo ou
ativo (antecipação dos efeitos da tutela recursal), a requisição de informações ao
juiz da causa e a intimação do agravado.
Porém, se o relator negar seguimento, negar provimento ou der provimento
ao agravo de instrumento (inciso I do art. 527 do CPC), não haverá razão para
ouvir o representante do Ministério Público.
Dessa forma, se for o caso de converter o agravo de instrumento em agravo
retido (inciso II do Art. 527 do CPC), o representante do Ministério Público será
ouvido em momento posterior.
Já no que diz respeito à decisão do efeito suspensivo ou do efeito ativo
(inciso III do art. 527 do CPC), deve anteceder a intimação do representante do
Ministério Público, devido à urgência alegada, enquanto a requisição de
informações ao juiz da causa (inciso IV do art. 527 do CPC) e a intimação do
agravado (inciso V do art. 527 do CPC) devem anteceder à intimação do
representante do Ministério Público, para que este melhor ofereça o seu parecer,
bem como para que se preserve o princípio fundamental da igualdade (caput do
art. 5º da CF e inciso I do art. 125 do CPC).
CAPÍTULO III
DA GARANTIA CONSTITUCIONAL E DA
INCONSTITUCIONALIDADE
3.1 – Do cabimento do Mandado de Segurança como garantia
constitucional
Destaca-se no inciso II, do art. 5º, da Lei 1.533/1951 que não caberá
mandado de segurança quando se tratar de despacho ou decisão judicial quando
haja recurso previsto nas leis processuais ou possa ser modificado por via de
correção.
A Súmula 267, do STF diz que: “Não cabe mandado de segurança contra
ato judicial passível de recurso ou correição”, já a Súmula 202, do STJ diz que: “A
impetração de mandado de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se
condiciona à interposição de recurso”.
Quando não houver previsão legal de recurso ou de correição parcial, para
impugnar despacho ou decisão, caberá mandado de segurança.
Ressalte-se que, é exatamente o que ocorre com a decisão pela qual o
relator converte o agravo de instrumento em retido ou julga pedido de atribuição
de efeito suspensivo ou de efeito ativo ao agravo de instrumento. Tendo em vista o
art. 527 do CPC, não cabe recurso para impugná-la, surgindo a possibilidade de
impetração de mandado de segurança no prazo de cento e vinte dias.
A reforma de 2005 ressuscitou a excessiva utilização do mandado de
segurança como sucedâneo recursal, que o próprio Código de 1973 (Lei 9.139) e
de 2001 (Lei 10.352) procuraram restringir, primeiramente admitindo o cabimento
do agravo contra todas as decisões interlocutórias (Código de 1973) e depois
permitindo que o relator concedesse, no próprio agravo de instrumento, efeito
suspensivo (reforma de 1995) e efeito ativo ou antecipação da tutela recursal
(reforma de 2001), desde que presentes os requisitos legais para tanto.
Antes da entrada em vigor da nova Lei 11.187/20005, já se admitia o uso de
mandado de segurança contra atos jurisdicionais, em situações tidas como
excepcionais, mas que de certa forma foram adquirindo espaço ao longo do tempo
em razão da interpretação jurisprudencial.
As hipótese do parágrafo único, do art. 527 do CPC, conversão de agravo
de instrumento em retido e decisão de pedido de efeito suspensivo e ativo no
agravo de instrumento, contribuíram para o crescimento considerável da
impetração de mandado de segurança contra atos jurisdicionais, principalmente,
se os relatores dos agravos de instrumento aplicarem esse dispositivo sem se
darem conta dos princípios da economia e celeridade processual e das situações
em que falta interesse recursal para a admissão do agravo retido.
O mandado de segurança contra ato do relator do agravo de instrumento
deverá ser impetrado no próprio Tribunal ao qual ele pertence, destacando-se a
Súmula 624, do STF e a Súmula 41, do STJ.
Caso seja denegada a segurança, ou seja, extinto o processo sem a
resolução do mérito ou o pedido julgado improcedente, pelo TJ ou pelo TRF,
caberá recurso ordinário para o STJ (alínea b, do inciso II, do art. 105 da CF e
alínea a, do inciso II, do art. 539 do CPC); e ainda, denegada a segurança pelo
Tribunal Superior de Justiça, caberá recurso ordinário para o Superior Tribunal
Federal (alínea a, do inciso II, do art.102 da CF e inciso I, do art. 539 do CPC).
3.2 – Da Inconstitucionalidade
Inicialmente, pode-se destacar à dificuldade de, ocasionalmente, uma
eventual lesão a direito gerada pelo decisum proferido em sede liminar pelo relator
se adequar aos estreitos limites do mandado de segurança, hipótese em que,
restaria evidenciada a inconstitucionalidade do dispositivo, por violação ao
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, que se encontra hospedado
no art. 5º, XXXV, da Lex mater.
Ressalte-se que, não é aplicável a todos os casos, pois hipóteses haverá,
em que contra a decisão liminar do relator proferida nos moldes do art. 527, II e III
do CPC, em razão da violação a direito líquido e certo, surgirá a via impugnativa
do mandado de segurança.
Considerando o mando de segurança como uma ação de eficácia
potenciada, não se pode concluir ser ele um instrumento absoluto, que poderá
corrigir quaisquer ilegalidades praticadas pelo relator no exercício de seus novos e
amplíssimos poderes, até porque a própria Constituição que o delimitou também
estabeleceu limites: a proteção de direito líquido e certo, e não de qualquer direito.
Destaca-se que, na medida em que o novo dispositivo permite que
determinadas situações de lesão e direitos, causadas pelo relator do agravo de
instrumento, permaneçam cristalizadas em suas mãos, durante dado lapso
temporal e excluídas do controle jurisdicional, surge o perecimento de direito, com
a anuência do sistema processual, o que viola a Constituição da República, ao
denegar ao jurisdicionado a tutela jurisdicional adequada. Pois situações haverá
em que a tutela adequada será a suspensão da decisão liminar do relator.
Já a questão relativa à subtração ao juiz natural, ao tratar da necessária
recorribilidade da decisão singular do relator, sustenta que a lei ordinária ou
regimento interno de tribunal que negar o acesso ao colegiado acaba por subtrair
à parte o acesso ao seu juiz natural, o que, implica em inconstitucionalidade
material.
Ocorre a ofensa ao juiz natural, porque esse princípio constitucional não se
vincula exclusivamente à decisão final, mas a qualquer decisum que deva ser
prolatado para assegurar a prestação jurisdicional tempestiva, efetiva e adequada.
Importante destacar, ainda, a irrecorribilidade estatuída pelo parágrafo
único, do art. 527, que terá duas faces: uma inconveniente e outra inconstitucional.
A inconveniente ocorre quando a vexata quaestio encerrar direito líquido e
certo, pois o novo dispositivo ensejará a impetração do mandado de segurança,
contra o decisum do relator, que trará o surgimento de inúmeros recursos
propícios a assoberbar, ainda mais, os Tribunais. E inconstitucional, quando não
estiver em jogo direito líquido e certo, pois, nesse caso, haverá verdadeira
restrição ao direito de ação.
Verifica-se que em ambos os casos, a subtração do exame do recurso do
colegiado, que é seu juiz natural, corrobora a tese da inconstitucionalidade.
CAPÍTULO IV
A OPINIÃO DOS JURISTAS SOBRE A NOVA LEI DO
AGRAVO
4.1 – A opinião de Teresa Arruda Alvim Wambier
Seu posicionamento com relação à reforma trazida pela Lei 11.187/2005
parece ser a mais acertada, com relação aos demais juristas, eis que inicialmente
comenta que o surgimento desta reforma se deu pelo excessivo volume de ações
e recursos, em que as principais causas deste fenômeno consiste no crescimento
da litigiosidade, na expansão da informação e na garantia constitucional de acesso
à justiça, além de um expressivo crescimento do ponto de vista quantitativo com
relação à sociedade brasileira.
De uma forma resumida, pode-se traçar os pontos marcantes de seu
entendimento sobre a reforma do agravo, em que constatou que o perfil do
recurso cabível contra decisões interlocutórias proferida pelo juízo de 1º grau, sob
regime de instrumento ou de retenção, não vem produzindo resultados desejados,
até o presente momento, em virtude da quantidades de alterações que vem
sofrendo, tanto no seu procedimento quanto, a rigor, em suas hipóteses de
cabimento.
O aumento do número de agravos não deveria ter surpreendido a
comunidade jurídica, já que cresceram significativamente também as hipóteses de
decisões capazes de gerar sérios e graves prejuízos às partes contra as quais são
proferidas. Ressalte-se, ainda, que se tem em conta que estas decisões são
proferidas com base em prova não exauriente, potencialmente os danos podem
ser considerados ainda maiores.
Destaca que hoje, com a nova lei, a fungibilidade que havia entre os
regimes da retenção e do instrumento praticamente desapareceu. Em certos
casos, o recurso cabível é o agravo de instrumento: caso a parte esteja correndo o
risco de sofrer lesão grave e de difícil reparação, caso se trate de decisão que
indefere a apelação ou declare em que efeitos está sendo recebida. Nos demais
casos, será retido. Tendo a parte feito a opção errada, cabe ao relator converter o
agravo de instrumento em retido, por meio de decisão de que não cabe recurso.
Entende que o agravo retido é regra, de acordo com a nova lei, cujo
entendimento ora se transcreve:
“Mas agravar retidamente, sem dúvida alguma, uma vez em
vigor a nova norma, é regra. Resta saber se, com o ter-se
tornado regra a interposição do agravo no regime de
retenção, nos casos em que não há urgência, em que se
inadmite a apelação ou em que se declara em que efeitos
esta estará sendo recebida, haverá, realmente, a desejada
diminuição considerável do número de agravos. Em nosso
entender, trata-se de opção elogiável, já que não fere o
direito das partes, e, ao mesmo tempo, pode gerar o efeito
desejado desde que, é claro, se selecionem com serenidade
e no interesse do jurisdicionado, as hipóteses em que
realmente há urgência, não tornando a urgência
característica exclusiva dos agravos interpostos contra
medidas liminares concedidas ou não. As liminares não
esgotam todas as possíveis situações de urgência no
processo. Ou seja, pensamos que pode haver decisões a
respeito de matéria probatória que, dependendo do caso
concreto, podem envolver urgência e, assim, se justificaria a
opção pelo regime do instrumento. O mesmo se diga quanto
a decisão que resolvem incidentes relativos à competência.
Por isso é que nos parece ter andado bem o legislador em
não limitar a opção pelo regime do instrumento a casos de
concessão ou não concessão de medida liminar, em que a
urgência está praticamente implícita.” (Wambier, Teresa
Arruda Alvim, Revista de Processo, REPRO 134, ano 31,
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, abril/2006, pg. 106)
Neste caso, a urgência que se exige do recorrente, que se requer para que
o agravo seja de instrumento, não é a mesma urgência, sob o ponto de vista da
intensidade que se espera ver demonstrada pela parte, para obter efeito
suspensivo. Se assim fosse, a todo agravo de instrumento dever-se-ia conceder
efeito suspensivo. A urgência para a obtenção de efeito suspensivo há de ser mais
aguda.
Destaca que o agravo interposto das decisões proferidas em audiência
deve ser retido e oral, de acordo com a nova lei. Embora a regra geral seja a da
interposição oral de agravo retido quanto às decisões proferidas em audiência,
ressaltando-se que nesta fase ou momento processual o juiz também pode proferir
decisões que geram urgência. Pode negar ou conceder uma liminar, e aquele que
a pleiteou tem urgência em sua concessão. E, sendo a liminar absolutamente
descabida, em relação àquele que pretende revogá-la, existe uma espécie de
urgência presumida.
Já no que tange à juntada de documentos que entender conveniente,
entende esta jurista que somente é cabível a juntada daqueles que já constem dos
autos, só podendo ser juntados documentos que não constem dos autos se o
agravado ainda não contestou ou se não os juntou na contestação por força maior.
Destaca, ainda, como a alteração mais relevante da nova reforma a de
dispor quase que expressamente sobre a irrecorribilidade da decisão que concede
ou que não concede efeito suspensivo ou “ativo” ao agravo. Diz o art. 527,
parágrafo único, in verbis: “a decisão (...) somente é passível de reforma no
momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relatos a reconsiderar”.
Tem-se que não cabe recurso desta decisão, mas fixa um momento para
que se redecida o assunto, em que eventual alteração do teor da decisão
anteriormente proferida seria de integral imprestabilidade para o recorrente.
Alguns entendem que esta é inconstitucional. Mas o que resta à parte é
formular um pedido de reconsideração, eventualmente apresentar embargos de
declaração, e em caos mais graves, em que o erro do tribunal seja gritante,
impetrar mandado de segurança.
Neste sentido, entende que é preciso uma reflexão acerca da possível
revitalização do mandado de segurança, sendo empregado de modo pouco
ortodoxo, bastante criticado pela doutrina tradicional, com o objetivo de impugnar
atos do Poder Judiciário. Não é ocioso lembrar que a primeira alteração do
agravo, nesta última onda reformatória do Código de Processo Civil, ocorreu
justamente para evitar o uso do mandado de segurança contra ato judicial.
Entende, ainda, que é como se estivesse andando em círculo.
Por fim, seu entendimento retrata que é interessante a possibilidade de
haver uma decisão dita complexa, proferida pelo Juízo de primeiro grau, e que
abranja uma parte consubstanciada em decisão que enseja recurso que deva ser
imediatamente julgado, e outra parte, de que o recurso pode ser retido, sem
problemas. Entende, ainda, que o correto seria a interposição de dois agravos;
entretanto, se a parte interpuser o de instrumento, parece que a conversão parcial
do agravo em retido envolve dificuldade de caráter procedimental, que podem
tornar tudo muito mais complexo do que o desejado. Isto posto, deve o agravo ser
admitido como instrumento, para ambas as partes da decisão.
4.2 – Do posicionamento de Dierle José Coelho Nunes
O posicionamento do ilustre jurista é no sentido de que a reforma trazida
pela Lei 11.187/2005 se apresenta como uma tentativa de diminuir os recursos de
agravo, sob a esperança de que estes percam o seu objeto no curso do processo,
destacando que:
“Percebe-se que a reforma tornou absolutamente
conveniente a demonstração fundamentada nas minutas (de
agravo de instrumento) da relevância da decisão recorrida
para a implementação da tentativa de aceitabilidade de
recorribilidade imediata das interlocutórias.” (Nunes, Dierle
José Coelho, Revista de Processo, REPRO 134, ano 31,
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, abril/2006, pg. 73)
Destaca, ainda, que a barreira implementada para a interposição do agravo
por instrumento (verificação da relevância da decisão) deve ser aplicada pelos
Relatores com muita parcimônia, e numa perspectiva constitucional.
Dá ênfase aos direitos fundamentais, como o contraditório (e o direito
constitucional ao recurso), que possuem a característica de clamar por uma
aplicação efetiva, sendo que barreiras instrumentais a eles impostas conduzem ao
seu exercício por vias processuais alternativas.
Entende, ainda, que o legislador, na tentativa de diminuir a análise de
recursos de agravo pelos Tribunais, pode, ao contrário, ampliar os seus trabalhos,
pois na nossa história processual constata-se que todas as vezes que há uma
mitigação ou supressão de determinados recursos, abrem-se as portas para a
utilização de sucedâneos recursais.
E, caso o relator dê uma aplicação inadequada à cláusula geral (lesão
grave e de difícil reparação), além dos possíveis efeitos expansivos externos,
decorrentes do possível acatamento futuro do recurso, poderá ser gerada uma
quebra do contraditório e da ampla defesa que ressuscitará a utilização anômala
do Mandado de Segurança, como sucedâneo recursal, aumentando o trabalho
atual dos Tribunais.
Isto posto, espera-se que os Tribunais permitam uma aplicação
procedimental da cláusula geral (lesão grave e de difícil reparação), levando-se
sempre em consideração a discussão endoprocessual e o contributo crítico das
partes. Neste sentido entendeu que:
“Dizer que o agravo na modalidade por instrumento só vai
ser cabível em casos de lesão grave e de difícil reparação é
dizer pouco e, por vias nebulosas, obstar o que a alteração
processual desejava (obtenção de celeridade), pois o que se
implementou fora a necessidade de verificação da relevância
da decisão.” (Nunes, Dierle José Coelho, Revista de
Processo, REPRO 134, ano 31, Editora Revista dos
Tribunais, São Paulo, abril/2006, pg. 73/74)
E, por fim, faz as últimas considerações apontando um possível
retardamento processual, que ora se transcreve:
“E, mediante as ponderações suscitadas, vislumbra-se que a
decisão terá relevância quando com base na análise do caso
concreto houver a potencialidade de geração dos efeitos
expansivos externos, com a possibilidade de desfazimento
de atos processuais posteriores à decisão. De modo, que
nessas hipóteses impor-se-á a admissão do recurso de
agravo em sua modalidade por instrumento, sob pena de que
a possível conversão em agravo retido com o (possível)
futuro acatamento do recurso crie um enorme retardamento
processual.” (Nunes, Dierle José Coelho, Revista de
Processo, REPRO 134, ano 31, Editora Revista dos
Tribunais, São Paulo, abril/2006, pg. 74)
4.3 – Segundo Luiz Manoel Gomes Júnior
Entende que o excesso de agravo de instrumento motivou a edição da Lei
11.187/2005, alterando o recurso do agravo.
Neste novo ordenamento foi mantida a necessidade de reiteração do
agravo retido, podendo ser tanto nas razões de apelação, como nas contra-
razões, se o caso, sob pena de não conhecimento.
Contudo, ao contrário do regime anterior, o agravo retido contra decisões
proferidas em audiência deve ser interpretado imediatamente, com a indicação
das razões do inconformismo, oralmente, sendo reduzido a termo, sob pena de
preclusão. Neste sentido, traço seu comentário, que ora se transcreve:
“A mencionada alteração merece severas críticas. Somente
quem desconhece a realidade forense, com audiências em
regra longas e com horários excedidos, pode encontrar
utilidade em permitir a interposição de vários recursos, em
alguns casos, nesta oportunidade.
De outro lado, se as razões devem ser apresentadas
imediatamente, o mesmo tratamento deve receber o agravo,
ou seja, deve ser manifestar na mesma oportunidade,
também sob pena de preclusão. Como já decidido pelo STJ:
“Constitui cerceamento do direito de defesa a não-abertura
de vista ao agravado para impugnação do agravo retido,
mormente quando resta patenteado o prejuízo sofrido em
face do acolhimento daquele recurso pelo Tribunal estadual
ad quem.” Se forem vários os agravados o tumulto será
certo.” (Gomes, Luiz Manoel Júnior, Revista de Processo,
REPRO 134, ano 31, Editora Revista dos Tribunais, São
Paulo, abril/2006, pg. 115/116)
Ressalte-se que se o agravado não estiver presente, mas era a mesma
obrigatória, terá ocorrido a preclusão, podendo o juiz retratar-se sem que tenha
havido violação ao Princípio Constitucional do Contraditório.
Entende que o Princípio Processual da Oralidade, adotado pela nova lei,
está equivocado, não se vislumbrando qualquer impedimento para que a parte
possa, melhor analisando a questão após a audiência, verificar se é necessário o
recurso, inclusive fundamentando-o adequadamente. Na dúvida, a regra será
sempre recorrer, até para evitar a preclusão, o que vai contra a posição de tentar
restringir a quantidade de recursos.
Destaca-se que, ao contrário do regime anterior, a conversão do agravo de
instrumento em retido deve ser obrigatória (art. 527, do CPC), salvo nos casos
excepcionados, de forma expressa pelo legislador (se o tema for urgente e
necessitar de imediata apreciação, contra a decisão que inadmitir a apelação ou
relativa aos seus efeitos).
Entende, ainda, que conta a decisão que determina a conversão ou a que
defere ou indefere a antecipação da tutela recursal, não caberá recurso.
Destaca dois pontos que merecem análise: o primeiro deles é a evidente
inutilidade da regra do parágrafo único do art. 527 do CPC. Mas não é só, eis que
sendo incabível qualquer recurso, ficará aberta a via do mandado de segurança,
justamente o que sempre se almejou evitar e que justificou a adoção do sistema
atual do agravo de instrumento através da lei 8.950/94.
E, ainda, a alteração do art. 527, do CPC, teve como finalidade, apenas,
deixar clara a possibilidade do agravado juntar toda e qualquer documentação que
entenda conveniente e, sendo nova, deve ser dada vista ao agravante, pois
apesar de não haver regra infraconstitucional expressa, decorre de mandamento
constitucional (contraditório e ampla defesa – art. 5º, LV, da CF/88)
Restou, também, expresso que somente deve ser determinada a
manifestação do Ministério Público nos processos em que tal manifestação seja
realmente obrigatória, se for o caso de julgamento do agravo de instrumento, após
a manifestação do agravado.
E, neste caso, se o relator determinar a conversão, não haverá qualquer
oportunidade para a manifestação do Ministério Público. Entende que antes da
conversão será sempre necessária a manifestação do órgão ministerial, caso
entenda o relator, em princípio, que será o caso de converter, sob pena de
nulidade.
Por fim, em suas conclusões, no que diz respeito à nova lei do agravo,
verifica-se que:
“O sucesso das alterações ora analisadas vai depender de
um único fator, qual seja, a quantidade de mandados de
segurança que forem impetrados contra a decisão do relator
que determinar a conversão do agravo de instrumento em
agravo retido.
A falta de estatística no Brasil faz com que grande parte das
alterações legislativas seja feita com base em presunções e
meras opiniões, ou seja, sem dados concretos.” (Gomes,
Luiz Manoel Júnior, Revista de Processo, REPRO 134, ano
31, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, abril/2006, pg.
119)
Entende que vivemos em uma situação desesperadora de obter uma tutela
jurisdicional efetiva e ágil, o que acaba reclamando medidas desesperadas, ainda
que muitas delas não sejam desejadas pelos operadores do direito e pelas partes,
e que o ideal seria que todos os agravos pudessem ser julgados de forma
imediata, mas entende que é uma tarefa impossível atualmente.
4.4 – Na visão de Alexandre Freitas Câmara
Tendo em vista a Reforma do CPC, através das Leis nº 9.139/95 e
11.187/2005, o agravo passou a ser denominação de um gênero de recurso,
havendo a denominação de três espécies: o agravo de instrumento, o agravo
retido e o agravo interno (ou por petição).
Entende este jurista que deve ser destacado preliminarmente, como regra
geral, que o agravo deve ser interposto na forma retida. Só sendo admissível o
agravo de instrumento quando da decisão interlocutória recorrida puder advir dano
grave de difícil (ou impossível) reparação, ou, ainda, nos casos de decisão que
não recebe o recurso de apelação ou que declara os efeitos em que este é
recebido. Por todo o exposto, concluiu que apenas nesses casos é admissível o
agravo de instrumento, e em caso de ser interposto o agravo de instrumento
contra decisão que não se enquadre nessa hipóteses, o relator converterá o
recurso em agravo retido, por decisão irrecorrível.
Entende, assim, que o agravo de instrumento só pode ser apreciado nos
casos em que a retenção do agravo retiraria deste qualquer utilidade.
Destaca, ainda, a alteração do art. 527, II do CPC pela Lei nº 11.187/2005,
que antes de sua vigência dizia que o relator “poderia” converter o agravo de
instrumento em agravo retido, porém com esta lei, passou a dizer que o relator
“converterá” o agravo de instrumento em retido, tendo esta nova redação se
limitado a esclarecer o verdadeiro sentido do dispositivo.
Neste sentido, se posiciona comentando que:
“Pensamos que esse sistema é melhor do que o anterior à
Lei nº 11.187/2005, em que havia uma maior liberdade de
escolha na utilização do agravo retido ou por instrumento.
Deve tal sistema, porém, ser visto como mais um passo em
direção à abolição dos agravos (ressalvado apenas o caso
de decisão cuja imediata eficácia gere dano grave, de difícil
ou impossível reparação). Para os demais casos, não se
deveria admitir recurso contra a decisão interlocutória e, por
conseguinte, não ficariam as matérias nelas resolvidas
sujeitas à preclusão, tornando-se possível sua discussão em
sede de apelação.” (Câmara, Alexandre Freitas, Lições de
Direito Processual Civil, volume II, 12ª edição, Rio de
Janeiro, Editora Lumen Juris, 2006, pg. 97)
Já o agravo retido é interposto por petição, dirigido ao juízo a quo, não
estando sujeito a preparo e será juntado ao processo principal. O juiz receberá o
agravo retido e abrirá vista ao agravado para oferecer contra-razões, no prazo de
dez dias, após o qual o juiz poderá manter a sua decisão ou reformá-la através de
retratação. Caso venha o juiz a se retratar, o recurso terá alcançada o seu
objetivo. A nova decisão poderá ser atacada pela parte interessada através de
recurso próprio.
Caso o juiz não reforme a sua decisão, ficará o agravo retido nos autos, e o
processo seguirá o seu curso normal até que seja proferida a sentença, após a
qual, caberá ao agravante em fase de apelação ou nas contra-razões à apelação
interposta pela outra parte, requerer expressamente a apreciação, pelo Tribunal,
do agravo retido. Se não houver reiteração, haverá desistência tácita do agravo
retido que não será conhecido pelo Tribunal, só operando seu efeito devolutivo,
quando é reiterado pelo agravante.
No que diz respeito ao § 3º, do art. 523, esse vem regular a possibilidade
de interposição oral do agravo retido contra as decisões proferidas em audiência
de instrução e julgamento, ou seja, a lei admite que, uma vez proferida a decisão
interlocutória numa audiência de instrução e julgamento, será possível a
interposição do referido recurso, oralmente, devendo as razões do mesmo, bem
como o pedido nele formulado, ser reduzido a termo.
Antes da entrada em vigor da Lei nº 11.187/2005, alguns doutrinadores
entendiam que o agravo retido oral era opcional, podendo a parte interpor o
recurso por escrito, outros, porém, sempre consideraram (desde a vigência da Lei
nº 9.139/95) que as decisões interlocutórias proferidas em audiência deveriam ser
impugnadas de imediato, por agravo retido oral, sob pena de preclusão. Esta
posição sempre pareceu ser a mais acertada, por privilegiar o princípio da
oralidade.
A partir da entrada em vigor da nova Lei nº 11.187/2005, passou a se dar
mais valor à oralidade e à imediatidade, ou seja, das decisões interlocutórias
proferidas em audiência só se admite a interposição oral, não sendo possível
recorrer-se por escrito, nem se valer o recorrente do decêndio estabelecido no art.
522, caput.
Essa nova lei faz expressa menção a interposição do agravo retido em
audiência de instrução e julgamento, o que parece excluir as demais audiências.
Ocorre que, antes desta lei admitia-se a interposição tanto na audiência preliminar
quanto na audiência de instrução e julgamento.
Entende Alexandre Câmara, que não há qualquer razão aceitável em
excluir a admissão da interposição oral do agravo retido contra decisões proferidas
em audiência preliminar, ou em qualquer outra audiência que não a de instrução e
julgamento, cujo trecho ora se transcreve:
“Pensamos, assim, que esse dispositivo deve ser
interpretado extensivamente, e que só será admitido o
agravo retido oral contra decisões proferidas em audiência
(de qualquer natureza).” (Câmara, Alexandre Freitas, Lições
de Direito Processual Civil, volume II, 12ª edição, Rio de
Janeiro, Editora Lumen Juris, 2006, pg. 100)
Quando se tratar de decisão cuja imediata eficácia seja capaz de gerar
dano grave, de difícil ou impossível reparação, caso em que não se poderá admitir
agravo retido, mas apenas o agravo de instrumento (art. 522).
Interposto o agravo e considerando o relator que não é caso de rejeição
liminar do agravo de instrumento, deverá ele verificar se é caso de conversão do
mesmo em retido. Essa conversão se dará sempre que o agravo de instrumento
tenha sido interposto contra decisão interlocutória que não seja capaz de gerar
perigo iminente de dano grave e de difícil ou impossível reparação. Não haverá
conversão, ainda, se a decisão agravada deixou de receber apelação ou declarou
os efeitos em que a apelação foi recebida. A decisão do relator que converte o
agravo de instrumento em agravo retido é irrecorrível, não sendo admissível, pois,
a utilização do agravo interno. Nesse caso, pode ser requerido ao próprio relator
que se retrate.
Se não ocorrer a conversão do agravo de instrumento em agravo retido,
deverá o relator verificar se é caso de concessão de efeito suspensivo ao recurso,
ou de antecipar a tutela jurisdicional pretendida através do agravo de instrumento.
O agravo de instrumento é recurso que, em regra, não produz efeito
suspensivo (art. 497 do CPC). Excepcionalmente, admite-se a concessão de efeito
suspensivo ao agravo de instrumento toda vez que ocorrer alguma das hipóteses
previstas no art. 558 do Código de Processo Civil. A hipótese mais importante de
cabimento da concessão de efeito suspensivo é aquela em que da decisão
agravada “possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a
fundamentação” do recurso, ou seja, sempre que o agravante demonstrar
periculum in mora e fumus boni iuris, deverá ser concedido o efeito suspensivo. O
efeito suspensivo só poderá ser atribuído mediante requerimento do agravante.
Com base no art. 527, III, do CPC (redação dada pela Lei nº 10.352/2001),
o relator poderá conceder, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão. Trata-se do que vinha
sendo chamado de efeito suspensivo ativo e que já estava se incorporando à
prática dos Tribunais, embora ainda com algumas resistências.
Entende, ainda, que sempre que se interpuser um agravo de instrumento
haverá requerimento de concessão de efeito suspensivo ou de antecipação, e
sempre que não for o caso de concessão dos mesmos, estará caracterizado a
falta de urgência no julgamento do agravo, o que implicará, automaticamente, a
conversão do mesmo em agravo retido.
O art. 527, na redação que lhe deu a Lei nº 11.187/2005, com relação a
decisão do relator que deferir ou indeferir a concessão de efeito suspensivo ou de
antecipação da tutela recursal, é irrecorrível, e o fato de ser irrecorrível essa
decisão, pode abrir caminho para a utilização anômala do mandado de segurança
contra ato judicial.
E por fim, quanto ao art. 526 do CPC, a comunicação da interposição do
agravo tem duas finalidades: provocar o juízo de retratação e facilitar o exercício
do direito de defesa pelo agravado. Não se efetivando a comunicação de
interposição do recurso, ficará o juiz de primeiro grau impedido de exercer o juízo
de retratação e não poderá o tribunal conhecer do agravo de instrumento.
“A nosso sentir, não se poderá deixar de conhecer do agravo
de instrumento quando, não obstante o agravado tenha
argüido e provado que a comunicação a que se refere o art.
526 do CPC, não tenha sido feita, para ele não houver
resultado qualquer prejuízo.” (Câmara, Alexandre Freitas,
Lições de Direito Processual Civil, volume II, 12ª edição, Rio
de Janeiro, Editora Lumen Juris, 2006, pg. 100)
Entendeu, portanto, que a ausência de comunicação da interposição do
agravo de instrumento, prevista no art. 526 do CPC, só acarretará o não-
conhecimento do recurso, nos termos do parágrafo único desse artigo, quando o
agravado argüir a questão, cabendo-lhe comprovar não só a ausência da
comunicação, mas também o prejuízo que daí decorreu para ele.
4.5 – O que diz J. E. Carreira Alvim
Inicialmente, faz comentários ao art. 522, cuja redação acabou com a
obrigatoriedade de agravo retido das decisões posteriores à sentença, entendendo
que foi suprimida em boa hora, mesmo porque não tinha sentido algum, nem a
menor dose de razoabilidade, que as decisões posteriores à sentença ficassem,
obrigatoriamente, sujeitas a agravo retido, a ser julgado por ocasião da apelação,
sem que se soubesse se haveria ou não apelação da sentença.
Comenta, ainda, que antes dessa reforma, ele já entendia que essa
modalidade de agravo retido só poderia ser interposto pela forma oral, na própria
audiência, porquanto, seria contrário à boa-fé processual que a parte aceitasse a
decisão do juiz e, posteriormente, vindo a perder a demanda, pudesse impugnar
essa decisão por meio de agravo de instrumento, ocasião em que a causa já teria
sido decidida por sentença, sujeita a apelação.
Já a alteração imposta ao art. 523, § 3º, seguiu o seu entendimento, ao
estabelecer que o agravo deve ser interposto “oral e imediatamente”, ou seja, na
própria audiência em que tiver sido proferida a decisão, devendo constar do
respectivo termo, nele expostas sucintamente as razões do agravante. No entanto,
dizer que um recurso oral deva constar do respectivo termo é o mesmo que
“chover no molhado”, mesmo porque se o ato é oral a lógica é que só possa
constar do respectivo termo. Na prática, pode até não ser, porque se o juiz solicitar
ao advogado do agravante que elabore essa peça por escrito, fazendo-a juntar
aos autos, daí não restará qualquer nulidade ou prejuízo ao recorrente. Da mesma
forma, dizer que, no agravo, devem ser expostas sucintamente as razões do
agravante soa como uma recomendação de que o advogado, ao fundamentar o
agravo, o faça de forma sucinta, porquanto a fundamentação (ou motivação) é um
dos pressupostos recursais do agravo, e que não poderia faltar mesmo no silêncio
da lei.
Acredita que a nova lei melhorou sensivelmente o texto reformado do CPC,
que proibia a conversão quando se tratasse de urgência, quando a relevância para
justificar a impugnação por meio de agravo de instrumento, não decorria de ser
um provimento de urgência, senão de existir uma situação de perigo de a decisão
causar à parte lesão grave e de difícil reparação. Na mesma oportunidade,
suprimiu a nova redação dada ao inciso II, do art. 527, a possibilidade de agravo
(interno ou regimental) dessa decisão ao órgão colegiado competente.
Foi alterado pela nova lei o inciso V, do art. 527, simplesmente para inserir
a referência do art. 524, § 2º, explicitando que a resposta ao agravo se dará pela
mesma forma da interposição, hipótese antes contemplada no parágrafo único do
art. 527, além de facultar ao agravado juntar a documentação que entender
conveniente, quando, anteriormente, deveria juntar apenas cópias das peças que
entendesse conveniente. A referência a documentação permite a juntada de
documentos, que possam estar ou não nos autos, sendo mais extensa do que
peças, que são apenas os documentos já integrantes dos autos.
Na hipótese do inciso VI, do art. 527, o Ministério Público será ouvido, se
for o caso, para que se pronuncie no prazo de dez dias, apesar de muitas vezes
os agravos a ele remetidos retornarem sem o parecer, por entender o membro do
parquet que não ocorre nenhuma das hipóteses previstas no art. 82 do CPC.
Antes da nova lei, o parágrafo único, do art. 527, continha disposição
pertinente à forma de resposta ao agravo, passando com a nova lei a ter uma
nova redação. Este dispositivo permite mais de uma interpretação, fazendo supor,
de um lado, que a decisão liminar, uma vez proferida, só possa ser reformada por
ocasião do julgamento do agravo, salvo o poder reservado ao próprio relator de
reconsiderá-la, de ofício ou a pedido da parte, sendo objetivo dessa norma
eliminar de vez o agravo interno ou regimental; e, de outro lado, que a decisão
liminar, uma vez proferida, só possa ser reformada por ocasião do julgamento do
agravo, salvo se o relator, de ofício ou a pedido da parte, a houver reconsiderado,
caso em que teria cabimento o agravo interno ou regimental. Preferiu, Carreira
Alvim, esta última orientação, porque, de outra forma, todas as vezes que o relator
proferir uma liminar, positiva ou negativa que seja, e vier a reconsiderá-la, de
ofício ou a pedido da parte prejudicada a outra lançará mão do mandado de
segurança como sucedâneo recursal, na falta de recurso próprio para impugná-la.
Conclui-se, que do ponto de vista de Carreira Alvim, a nova lei foi criada
nos moldes de seu posicionamento, tendo, contudo, a sua intervenção e incentivo.
CONCLUSÃO
O estudo dirigido ao recurso de agravo, tendo em vista a nova Lei nº
11.187/2005, levou a conclusão de que está trouxe mudanças principalmente na
forma de interposição do agravo de instrumento, com algumas restrições que são:
quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, nos casos de inadmissão de apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida, quando será admitida sua interposição, ou seja, foram
criadas restrições a sua interposição com o objetivo de diminuir a interposição
deste tipo de recurso, nos tribunais. Sua característica principal é a urgência.
O agravo retido passou a ser regra geral contra as decisões interlocutórias
proferidas em audiência de instrução e julgamento, sendo observado o princípio
da oralidade.
Tem como característica marcante a função precípua de impedir a
preclusão, incompatibilidade com tutelas de urgência e haverá a possibilidade de
ser reiterada na apelação.
Não preenchidos os requisitos do agravo de instrumento este será
convertido em retido pelo relator. Ressalte-se que da decisão proferida pelo
relator, somente será passível de reforma quando do julgamento do próprio
agravo. Surgiu a impossibilidade de utilização do agravo interno contra as
decisões do relator que converte o agravo de instrumento em agravo retido, assim
como aquela que concede o efeito suspensivo ou defere em antecipação de tutela
a pretensão recursal. Com a nova lei do agravo esta decisão tornou-se irrecorrível.
Tal posicionamento deu origem ao retorno do mandado de segurança.
Com a edição da nova Lei nº 11.187/2005 é impossível a interposição do
Agravo Regimental contra as decisões dos relatores que concedem ou negam
efeito suspensivo ao agravo de instrumento ou que deferem, em antecipação de
tutela, a pretensão recursal. Mas é possível que esta seja modificada pelo relator
através do pedido de reconsideração.
O pedido de reconsideração não é recurso, mas uma simples petição pela
qual se provoca o juiz a decidir novamente questões por ele decidida.
Não cabe agravo regimental contra decisões do relator que indefere o
pedido de reconsideração.
Por todo o exposto, houve o incentivo do retorno a interposição do
mandado de segurança, o que parece não ter sido previsto pelo legislador, ao
tornar irrecorrível a decisão do relator, prevista nos incisos II e III do art. 527. Este
sucedâneo recursal é utilizado como garantia constitucional (art. 5º, LXIX, da
CF/88).
Se o objetivo do legislador era reduzir o número de recursos, como o de
agravo de instrumento no tribunal e a celeridade processual, esta intenção foi
frustada, em parte, pois desencadeou, repita-se, o retorno da interposição do
mandado de segurança e intensas discussões sobre a constitucionalidade das
decisões proferidas pelos relatores tidas como irrecorríveis.
Ressalte-se, por importantíssimo, que o agravo regimental encontra-se
disciplinado pelos regimentos internos dos respectivos tribunais, não se achando
amparado pela lei processual civil.
Conclui-se que a nova Lei nº 11.187/2005 trouxe algumas imperfeições,
porém essas não podem prevalecer em detrimento a proteção dos direitos das
partes, dessa forma, a utilização do mandado de segurança, é no momento, o
sucedâneo recursal mais indicado.
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Lei 11.187/05;
Anexo 2 >> Atividades Culturais;
ANEXO I
LEI 11.187, DE 19 DE OUTUBRO DE 2005
Senado Federal PLC 72/2005(Número na Câmara - 4.727/2004)
AGRAVO DE INSTRUMENTO E RETIDO
Autor: Poder ExecutivoRelator na Câmara: Deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP)
Relator no Senado: Senador Edilson Lobão (PFL-MA)
Sumário desta publicação do IBDP: 1. Tramitação do projeto; 2. Exposição de motivos; 3. Texto do projeto; 4. Voto do relator; 5. Emenda aprovada; 6. Redação final da Câmara; 7. Redação final do Congresso Nacional.
1. TRAMITAÇÃO DO PROJETO
ATUALIZAÇÃO EM 23 DE JANEIRO DE 2006
Trata-se de projeto de lei que fez parte do “pacote republicano”, apresentado pelo Presidente da República no dia 15 de dezembro de 2004, em decorrência do trabalho que vem sendo feito pela Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça.
O IBDP participou da elaboração do projeto, cujo texto foi modificado posteriormente pelo governo.
O relator é o Deputado José Eduardo Cardozo, do PT-SP
Foi apresentada apenas uma emenda (ver texto infra) apresentada pelo Dep. Roberto Magalhães, do PFL-PE, aprovada pelo relator e pela Comissão.
O voto do relator é pela aprovação integral do projeto.
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou integralmente o projeto, bem como a única emenda apresentada.
Atualmente aguarda-se o prazo regimental para recurso. Não sendo apresentado recurso o projeto segue para apreciação pelo Senado Federal. Sendo apresentado recurso o projeto será apreciado, antes, pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Não foi apresentado recurso e a CCJ publicou a redação final.
Enviado ao Senado Federal em 19 de julho de 2005. Brevemente publicaremos esse projeto com o número atribuído pelo Senado Federal.
No Senado Federal o projeto tomou o número PLC 72/2005.
Relator no Senado Federal: Senador Edison Lobão, do PFL do Maranhão
O Projeto foi aprovado sem emendas pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Falta apenas a aprovação pelo Plenário do Senado Federal, para que seja definitivamente aprovado o PL 4.727, de 2004 (número da Câmara), de autoria do Governo.
Em 21 de setembro de 2005 o Projeto de Lei foi aprovado em definitivo, com 4 emendas de redação, pelo Congresso Nacional. Segue, agora, à sanção presidencial. (veja texto abaixo)
Sancionado no dia 19 de outubro de 2005, a nova lei tomou o número 11.187, tendo entrado em vigor no dia 19 de janeiro de 2006.
2. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
EM nº 00185 - MJ
Brasília, 19 de novembro de 2004
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Submeto à consideração de Vossa Excelência o anexo projeto de lei que “Dá nova redação aos arts. 523 e 527 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, relativos ao agravo de instrumento e ao agravo retido.”
2. Sob a perspectiva das diretrizes estabelecidas para a reforma da Justiça, faz-se necessária a alteração do sistema processual brasileiro com o escopo de conferir racionalidade e celeridade ao serviço de prestação jurisdicional, sem, contudo, ferir o direito ao contraditório e à ampla defesa.
3. De há muito surgem propostas e sugestões, nos mais variados âmbitos e setores, de reforma do processo civil. Manifestações de entidades representativas, como o Instituto Brasileiro de Direito Processual, a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação dos Juizes Federais do Brasil, de órgãos do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e do próprio Poder Executivo são acordes em afirmar a necessidade de alteração de dispositivos do Código de Processo Civil e da lei de juizados especiais, para conferir eficiência à tramitação de feitos e evitar a morosidade que atualmente caracteriza a atividade em questão.
4. A proposta tem o escopo de alterar a sistemática de agravos, tornando regra o agravo retido, e reservando o agravo de instrumento para as decisões suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, e outras especificadas na redação proposta da alínea “b”, do §4o do art.523 do Código de Processo Civil.
5. Ademais, prevê que, das decisões dos relatores, ao mandar converter os agravos de instrumento em retidos, ou ao deferir ou indeferir o chamado efeito ativo, não mais caberá agravo interno (que, aliás, na segunda hipótese vários tribunais já atualmente não admitem), sem prejuízo da faculdade de o relator reconsiderar sua decisão. É interessante evitar a superposição, a reiteração de recursos, que ao fim e ao cabo importa maior retardamento processual, em prejuízo do litigante a quem assiste a razão.
6. Estas, Senhor Presidente, as razões que me levam a submeter a anexa proposta ao elevado descortino de Vossa Excelência, acreditando que, se aceita, estará contribuindo para a efetivação das medidas que se fazem necessárias para conferir celeridade ao ritos do processo civil.
Respeitosamente,
Marcio Thomaz Bastos
3. TEXTO DO PROJETO DE LEI
Dá nova redação aos arts. 523 e 527 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, relativos ao agravo de instrumento e ao agravo retido.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1o Os arts. 523 e 527 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -Código de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 523.
§ 3o Nas decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento o agravo será retido, devendo ser interposto imediatamente e constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante.
§ 4o Será também retido o agravo das decisões:
I - não suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil reparação;
II - posteriores à sentença, salvo nos casos de não-admissão da apelação ou relativas aos efeitos em que a apelação é recebida.” (NR)
“Art. 527.
II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, nos casos previstos nos §§ 3o e 4o do art. 523, mandando remeter os respectivos autos ao juiz da causa;
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de dez dias (art. 525, § 2o), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente; nas comarcas sede de tribunal e naquelas cujo expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial;
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de dez dias.
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III, somente é passível de reforma quando do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar.” (NR)
Art. 2o Esta Lei entra em vigor noventa dias após a data de suapublicação.
4. VOTO DO RELATOR – Deputado José Eduardo Cardozo, PT-SP
I - RELATÓRIO
Trata-se de projeto de lei que pretende modificar a disciplina do agravo de instrumento e do agravo retido, alterando, para isso, os arts. 523 e 527 do Código de Processo Civil.
A primeira alteração sugerida refere-se ao §3º do art. 523 do diploma mencionado, que restringe as hipóteses de agravo retido às audiências de instrução e julgamento, ressaltando que o mesmo deve ser interposto imediatamente, expressão inexistente na redação atual.
No §4º mantêm-se, invertendo a ordem da redação, as atuais hipóteses que admitem agravo de instrumento.
No que atine ao art. 527, o projeto altera seu inciso II, para eliminar o cabimento de agravo ao colegiado competente em face da conversão do agravo de instrumento em agravo retido com remessa dos respectivos autos ao juízo da causa, e substitui o verbo “poderá” por “converterá” relativamente à faculdade do relator de converter o agravo de instrumento em retido; altera seu inciso V, para aperfeiçoar a redação em virtude das alterações propostas e permitir a juntada de qualquer documentação que for conveniente ao agravado em sua defesa; altera seu inciso VI para eliminar a necessidade de oitiva do Ministério Público, nos casos de decisão liminar do relator previstas nos incisos I (negativa de seguimento, nos casos do art. 557) e II (conversão de agravo de instrumento em agravo retido); e por fim acresce parágrafo único eliminando as hipóteses de recorribilidade de decisão liminar proferida nos casos dos incisos II e III, salvo no caso de o próprio relator a reconsiderar, tudo em consonância com o princípio da celeridade.
Aberto o prazo para emendas, uma foi oferecida pelo Deputado Roberto Magalhães tão somente para adaptar a técnica legislativa e explicitar que o agravo retido previsto no novo §3º do art. 523 será oral.
Compete a esta Comissão analisar o projeto, de forma conclusiva, no tocante à sua constitucionalidade, juridicidade, técnica legislativa e mérito, nos termos regimentais.
II - VOTO DO RELATOR
Há muito é sentida a necessidade de alterações em nossa Lei Adjetiva e muitas têm sido as iniciativas que, em diversos casos, levaram a cabo modificações importantes no sistema jurídico brasileiro, tendo em vista a implementação de nova processualística, mais eficaz e mais célere, para adequação da lei ao movimento atual de modernização do nosso processo civil.
A propositura em tela vai nesse sentido, e integra o Pacto por um Judiciário mais rápido e republicano, firmado em dezembro de 2004 que, em iniciativa inédita, reuniu os chefes dos três Poderes em torno de propostas e compromissos para aprimorar a prestação jurisdicional.
A análise acurada das alterações sugeridas permite vislumbrar os objetivos almejados.
Senão, vejamos.
Atualmente, ex vi do disposto no §3º do art. 523 do Código de Processo Civil, é admissível a interposição do agravo retido em qualquer audiência, seja de simples conciliação (CPC, art. 125, IV), seja preliminar (CPC, art. 331), seja de instrução e julgamento (CPC, art. 447 e segs), oralmente ou por petição, neste último caso, no prazo de dez dias (CPC, art. 522).
A alteração proposta no §3º do art. 523, quando especifica decisões interlocutórias proferidas “na audiência de instrução e julgamento”, restringe a hipótese de recorribilidade de decisões com a natureza referida àquelas ocorridas nestas audiências, limitando, outrossim, a possibilidade recursal ao uso tão somente de agravo na forma retida, impondo, ao mesmo tempo, interposição imediata do recurso, o que indica maior celeridade ao processo, sem prejuízo das garantias constitucionais reservadas aos contendores.
A emenda apresentada não confronta com o escopo da propositura, e, por tornar sua redação mais clara e precisa, é pertinente e adequada.
A alteração proposta no § 4o (com redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001) do mesmo dispositivo estabelece que será também retido o agravo das decisões: I - não suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil reparação; II - posteriores à sentença, salvo nos casos de não admissão da apelação ou relativas aos efeitos em que a apelação é recebida. Nesta parte, ao que parece, a proposta mantém o mesmo comando com nova redação, aprimorada, excluindo referência agora desnecessária à audiência de instrução e julgamento, dada a alteração proposta para o §3º já referido.
No que toca ao inciso II do art. 527, o projeto, ao eliminar o cabimento de agravo ao colegiado competente e determinar, de maneira expressa, a conversão do agravo de instrumento em retido, racionaliza o procedimento e inibe recursos protelatórios, que, na prática, acarretam na morosidade processual.
A modificação sugerida para o inciso V é pertinente e materializa o princípio da ampla defesa ao permitir que o agravado, em sua defesa, não só junte cópias das peças processuais convenientes, mas de toda e qualquer documentação importante para a efetivação do contraditório.
A redação indicada para o inciso VI é adequada, ao eliminar a necessidade de oitiva do Ministério Público, nos casos previstos (negativa de seguimento, nos casos do art. 557 e conversão de agravo de instrumento em agravo retido), ato processual que retarda a tramitação do feito.
Por fim, o parágrafo único proposto também reveste a tramitação de agravo de racionalidade e celeridade, ao eliminanar as hipóteses de recorribilidade de decisão liminar proferida nos casos dos incisos II e III.
Assim, da leitura dos dispositivos propostos, vê-se que apontam, juntamente com outras propostas normativas, para um novo regramento jurídico que se apresenta como promessa de implementação de uma sistemática processual mais eficaz e mais adequada às demandas do Direito Processual da atualidade.
Quanto à constitucionalidade, no que se refere à competência legislativa da União e iniciativa de propositura, a proposta encontra amparo nos arts. 22, I, 48, caput, e 61 da Constituição Federal, razão pela qual manifestamo-nos pela constitucionalidade, juridicidade e boa técnica legislativa do Anteprojeto de Lei apresentado, não vendo nenhum óbice para que a proposta receba a assinatura do titular desta Pasta.
De todo o exposto, o meu voto é pela constitucionalidade, juridicidade, adequada técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação do PL 4.727, de 2004e, consequentemente, pela constitucionalidade, juridicidade, boa técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação da emenda apresentada pelo Dep. Roberto Magalhães.
5. MENDA APROVADA
EMENDA 1 (substitutiva) – apresentada pelo Dep. Roberto Magalhães (PFL-PE)
Dê-se a seguinte redação ao Projeto de Lei 4727, de 2004:
“O Congresso Nacional decreta:
Art. 1o Os arts. 523 e 527 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -Código de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 523. ...........................................
§ 3.º Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante.
§ 4o Será também retido o agravo das decisões:
I - não suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil reparação;
II - posteriores à sentença, salvo nos casos de não-admissão da apelação ou relativas aos efeitos em que a apelação é recebida.” (NR)
“Art. 527.......................................
II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, nos casos previstos nos incisos I e II do § 4º art. 523, mandando remeter os respectivos autos ao juiz da causa;
.................
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de dez dias (art. 525, § 2º), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente; nas comarcas sede de tribunal e naquelas cujo expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial;
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de dez dias.
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III, somente é passível de reforma quando do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar.” (NR).
Art. 2º. Esta lei entra em vigor noventa dias após a data de sua publicação.”
JUSTIFICAÇÃO
A emenda ora proposta com relação ao art. 523 do Código de Processo Civil tem, tão-somente, a finalidade de conferir maior clareza ao citado dispositivo, tornando expresso que o recurso será oral.
Também objetiva adaptar o texto à boa técnica legislativa, fazendo a remissão correta aos incisos I e II do § 4º do art. 523.
6. REDAÇÃO FINAL DA CÂMARA
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Os arts. 523 e 527 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -Código de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 523
§ 3º Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante.
§ 4º Será também retido o agravo das decisões:
I - não suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil reparação;
II - posteriores à sentença, salvo nos casos de não admissão da apelação ou relativas aos efeitos em que a apelação é recebida.”(NR)
“Art. 527.
II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, nos casos previstos nos incisos I e II do § 4º do art. 523 desta Lei, mandando remeter os respectivos autos ao juiz da causa;
................
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10 (dez) dias (art. 525, § 2º), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente, sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas cujo expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial;
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V do caputdeste artigo, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar.”(NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua publicação.
7. REDAÇÃO FINAL DO CONGRESSO NACIONAL
Altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -Código de Processo Civil, para conferir nova disciplina ao cabimento dos agravos retido e de instrumento, e dá outras providências.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Os arts. 522, 523 e 527 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.
...................................................................................." (NR)
"Art. 523. ....................................................................
......................................................................................
§ 3º Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante." (NR)
"Art. 527. .....................................................................
......................................................................................
II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao juiz da causa;
......................................................................................
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10 (dez) dias (art. 525, § 2º), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente, sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas em que o expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial;
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V do caputdeste artigo, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar." (NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial.
Art. 3º É revogado o § 4º do art. 523 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
ANEXO II
BIBLIOGRAFIA
WAMBIER, Teresa Arruda Alvin, O Novo Regime do Agravo. São Paulo, Editora
Revista dos Tribunais, 1996.
ALVIM, J.E. Carreira. Agravo. Belo Horizinte, Editora Del Rey, 1996.
PARIZATTO, João Roberto. Recursos no Processo Civil. São Paulo, Editora
Saraiva, 1997.
WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves Comentários
à Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais.
2002.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 10ª
Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2002.
REPRO 130. Revista de Processo. ano 30. São Paulo. Editora Revista dos
Tribunais. dezembro/2005.
REPRO 134. Revista de Processo. ano 31. São Paulo. Editora Revista dos
Tribunais. Abril/2006.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção; RAMOS, Glauco Gumerato; FREIRE,
Rodrigo da Cunha Lima; MAZZEI, Rodrigo. Reforma do CPC. São Paulo. Editora
Revista dos Tribunais, abril/2006.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Volume II. 12ª
Edição. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris. 2006.
BUENO, Cassio Scarpinella. A Nova Etapa da Reforma do Código de Processo
Civil. São Paulo. Editora Saraiva. 2006.
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
NOÇÕES PRELIMINARES
1.1 – Parte Histórica 9
1.2 – Modalidades 28
1.3 – Conceito 30
CAPÍTULO II
LEI Nº 11.187/2005 E SUAS INOVAÇÕES
2.1 – Da Obrigatoriedade do Agravo Retido (art. 522, caput) 33
2.2 – Conversão do Agravo de Instrumento em Retido 41
2.3 – Conversão do Agravo Retido em Agravo de Instrumento 43
2.4 – Irrecorribilidade (hipóteses dos incisos II e III do art. 527) 45
2.5 – Ausência de Cabimento, Admissão e Vedação do Agravo Interno 47
2.6 – A Constituição Federal e o parágrafo único do art. 527 do CPC 49
2.7 – Do Agravo Regimental 52
2.8 – Da Possibilidade de Reconsideração 53
2.9 – Da Juntada de Documentos pelo Agravado 54
2.10 – Do Ministério Público 56
CAPÍTULO III
DA GARANTIA CONSTITUCIONAL E DA INCONSTITUCIONALIDADE
3.1 – Do Cabimento do Mandado de Segurança como Garantia Constitucional
3.2 – Da Inconstitucionalidade 60
CAPÍTULO IV
DO OPINIÃO DOS JURISTAS SOBRE A NOVA LEI DO AGRAVO
4.1 – A Opinião de Teresa Arruda Alvin Wambier 62
4.2 – Do posicionamento de Dierle José Coelho Nunes 65
4.3 – Segundo Luiz Manoel Gomes Júnior 68
4.4 – Na visão de Alexandre Freitas Câmara 71
4.5 – O que diz J. E. Carreira Alvim 76
CONCLUSÃO 79
ANEXOS 81
BIBLIOGRAFIA 96
ÍNDICE 97
FOLHA DE AVALIAÇÃO 99
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
T.ítulo da Monografia: Agravo
Autor: Cristiane de Oliveira Faria
Data da entrega: 09.10.2006
Avaliado por: Conceito: