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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE DISLEXIA Por Penha Cristina da Silva Freitas Orientador Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

DISLEXIA

Por

Penha Cristina da Silva Freitas

Orientador

Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

DISLEXIA

OBJETIVO:

Apresentação de Monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para a

conclusão do curso de Pós-Graduação “Latu

Sensu” em Psicopedagogia Institucional.

Por: Penha Cristina da Silva Freitas

Rio de Janeiro

2004

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AGRADECIMENTOS

A todos os autores, corpo docente do Projeto “A Vez do

Mestre”, a Orientadora Educacional do Colégio da

Providência Helena Rodrigues Mazzei que muito

contribuiu com conteúdos sobre o tema da minha

monografia, à amigona de curso Solange Coelho Corrêa

que muito ajudou-me na confecção desta, gentilmente

formatando-a para mim e ao meu Professor orientador

Luiz Cláudio Lopes Alves que tanto colaborou na

organização e aperfeiçoamento desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia cujo tema é Dislexia a minha

família que muito me incentivou para que eu fizesse o

curso de Psicopedagogia, o qual muito contribuiu na

minha vida profissional com os ensinamentos adquiridos

bem como na minha vida em particular mediante às

pessoas as quais conheci e passei a admirar muito,

especialmente meus professores.

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EPÍGRAFE

DISLEXIA

A dislexia é uma coisa Para isso só é preciso Que faz a pessoa pensar Saber como se portar Que é diferente das outras Mantendo a disciplina E que não dá para mudar. Para o sucesso alcançar Mas se você pensar bem Pois o grande cientista Verá que ninguém é igual Albert Einstein era disléxico Cada pessoa é de um jeito E formulou uma lei física E também cada animal De raciocínio complexo

Existe gato manhoso E como ele outros mais Que só gosta de carinho Com dislexia também E tem o gato levado Brilharam e tiveram sucesso Que vive dando pulinho Acima de quem não a tem Cada pessoa também Por isso só é preciso Tem seu jeito interessante Em você acreditar Umas lentas, outras ligeiras Esforçando-se e persistindo Mas cada uma é importante Par o sucesso alcançar Pois tudo na natureza Você é especial Tem o seu real valor Importante e inteligente É isto que forma a beleza Acredite sempre nisso De um grupo desigual E viva feliz e contente Eu sei o que você sente Quando vê um amiguinho Correndo na sua frente E rindo do seu jeitinho O que o amiguinho não sabe É que você vai chegar No mesmo lugar que ele Sem correr nem se cansar Beth Portela

( Presente da autora para AMACAD )

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RESUMO

Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem?

Problemas de aprendizagem são as múltiplas varetas de amplo guarda-chuva.

Dislexia é apenas uma delas, mas muito especial. É mais fácil defini-la pelo que não é e

pelo que é. Com certeza não é um problema de inteligência, tampouco uma deficiência

visual ou auditiva, muito menos um problema afetivo-emocional. Então, o que é?

Dislexia é um problema específico de linguagem, que se apresenta na língua

escrita e emerge nos momentos iniciais de aprendizagem da leitura e da escrita, mas já

se encontrava subjacente a este processo. É uma dificuldade para reconhecer,

reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das letras. É, certamente,

de um modo peculiar de funcionamento dos centros de linguagem, mas não é uma

doença neurológica.

Para evitar que o disléxico passe a vida sem diagnóstico diferencial, carregando

frustrações, o ideal é que haja orientação profissional adequada. As associações

brasileiras que pesquisam o assunto estão à altura de suas congêneres internacionais. No

Rio de Janeiro, o suporte teórico e prático é oferecido através da Associação Nacional

de Dislexia (AND), entidade sem fins lucrativos e que é constituída por fonoaudiólogos,

psicopedagogos, psicólogos e neuropediatras, para os quais dificuldade não define o ser

humano, sendo apenas um detalhe de uma paisagem rica e complexa.

Portanto, ao estudar o problema da dislexia , entendi que a mesma é uma

dificuldade de aprendizagem caracterizada por problema na linguagem receptiva e

expressiva, oral ou escrita. As dificuldades podem aparecer na leitura e na escrita,

soletração e ortografia, fala e compreensão e em Matemática.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica através de livros

didáticos e pesquisa em sites da Internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................9 CAPÍTULO I DISLEXIA.......................................................................................................................11 CAPÍTULO II GRAFIA E DISGRAFIA.................................................................................................32 CAPÍTULO III A DISLEXIA E OUTROS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM...............................46 CAPÍTULO IV DISLEXIA: PROBLEMA, SÍNDROME, MÁ ALFABETIZAÇÃO ?...........................51 CAPÍTULO V O PAPEL DA ESCOLA..................................................................................................61 CAPÍTULO VI TROCANDO AS LETRAS.............................................................................................65 CAPÍTULO VII COMO IDENTIFICAR UM ALUNO DISLÉXICO.......................................................71 CONCLUSÃO.................................................................................................................75 ANEXOS.........................................................................................................................77 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................80 ÍNDICE............................................................................................................................82

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INTRODUÇÃO

A dislexia tem sido muito discutida até por quem quer provar sua inexistência.

Nós, professores, deparamos com conceitos e teorias que entram em choque entre si,

pois questionam o próprio nome: DISLEXIA.

Percebemos, portanto, que a comunidade científica de diversos países e diversas

profissões se encontra dividida em torno da questão. Muito se tem dito e pouco se tem

feito no sentido de definir a questão.

Pretendo, neste momento, analisar algumas dessas vertentes, dentro de um

enfoque psicopedagógico.

Conforme cito na minha monografia, a escola tem sua parcela de culpa, mas ela

não pode arcar sozinha com as desadaptações encontradas em suas classes. Alguns

alunos vão para as escolas com diversos déficits, com níveis de maturidade desiguais ou

inferiores ao que se espera em sua idade cronológica.

Muitos levam uma bagagem cultural, social, intelectual, neurológica muito

defasada em relação aos seus companheiros e isto constitui desvantagens às vezes

cruciais para a aprendizagem da leitura, escrita e cálculo.

Neste contexto é que se situa o problema que pretendo abordar: a dislexia.

Esta monografia pretende mostrar o perfil dos professores com relação aos seus

alunos disléxicos nos dias atuais, onde vivemos em conturbada agitação que a sociedade

nos impõe.

Portanto, o objetivo do presente trabalho é mostrar aos educadores que uma

criança disléxica, embora seja especial, pode progredir tanto ou mais que uma criança

não disléxica e que devemos ter tato para lidar com elas, tratá-las com carinho,

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procurando realçar seus esforços e nunca desapontá-la, principalmente perante os

outros, pois sua auto-estima cairá e quem sabe nunca mais poderá ser resgatada.

No Capítulo I apresento a definição de dislexia, seu diagnóstico, suas causas,

mostras de algumas produções textuais escritas por crianças disléxicas bem como

alguns erros de ortografia freqüentes cometidos por tais crianças.

No capítulo II apresento, bem minuciosamente, definições e as diferenciações de

grafia e disgrafia.

No capítulo III apresento a dislexia mais no campo científico, onde cito a mesma

como uma patologia.

No capítulo IV apresento as opiniões de alguns estudiosos que muito

pesquisaram sobre a dislexia, questionando se a mesma é apenas um problema, uma

síndrome ou má alfabetização.

No capítulo V apresento o papel da escola, ou seja, o relacionamento professor-

aluno.

No capítulo VI apresento as características de um aluno disléxico desde os seus

primeiros anos escolares.

No capítulo VII apresento algumas dicas de como um professor pode identificar

um aluno disléxico.

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CAPÍTULO I

DISLEXIA

“ A palavra Progresso não terá qualquer

sentido enquanto houver crianças

infelizes.”

Albert Einstein ( um dos nossos

disléxicos mais famosos )

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DISLEXIA

1.1 - Definição

Ao ingressar no meio escolar, a primeira grande conquista da criança é a

aquisição das habilidades de leitura e escrita. Para tal, é necessário que o aprendiz preste

atenção nos aspectos da linguagem que não eram importantes até o início de sua vida

acadêmica.

A criança precisa perceber que a linguagem falada é composta de sentenças e

palavras separadas, e que estas quando inseridas em um registro escrito correspondem a

unidades da fala. Considerando que fazemos parte de um sistema de escrita alfabética, é

fundamental que a correspondência entre a letras e os fonemas seja observada. É

necessário tomar consciência dos fonemas, visto que estes por serem a menor unidade

sonora, podem alterar o significado de uma palavra.

Entretanto, é importante frisar, que uma boa capacidade auditiva não garante o

pleno entendimento dos fonemas, da mesma forma que os equívocos na escrita, como

por exemplo, a troca de letras, não são conseqüências exclusivas de um problema na

coordenação visomotora do indivíduo. Estas relações de causa e efeito são muito

simples para serem capazes de representar as variáveis que compõem este problema.

Ter a capacidade de inter-relacionar os fonemas às letras é uma conquista, sendo

necessário todo um processo de construção mental para que este objetivo seja

alcançado.

Aprender a língua escrita, portanto, pressupõe a aquisição de um complexo

conjunto de habilidades que permita a construção das relações entre representações

fonológicas e as representações ortográficas da língua, o reconhecimento de palavras

impressas, a determinação de um significado e a coordenação destes significados dentro

de um contexto.

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Percebe-se que a língua escrita não é apenas um código de transcrição gráfica. É,

sim, um sistema de representação, uma atividade simbólica pela qual o sujeito afeta a

sua própria ação e a do outro. Além disto, a escrita possibilita uma maior sistematização

e organização do próprio conhecimento e a incorporação de critérios lógico-verbais

implicados na estrutura do discurso.

“Aprender a ler e a escrever é, portanto, uma tarefa complexa

para todas as crianças, mas é comum encontrarmos algumas que

apresentam mais dificuldades, principalmente aquelas que em

testes de inteligência obtém resultados mais baixos. No entanto,

observa-se que existem crianças que apresentam uma

discrepância entre a aprendizagem da leitura e da escrita e seu

nível intelectual, ou seja, apresentam dificuldades na aquisição

dessas habilidades, mesmo sendo crianças que apresentam uma

inteligência igual ou até maior que as outras da mesma idade

cronológica.” (SANTOS, 2001, p.54 )

A essa lacuna inesperada entre o progresso na leitura e na escrita e a inteligência

da criança dá-se o nome de dislexia. As crianças disléxicas mesmo possuindo

capacidade intelectual normal, recebendo motivação adequada e tendo as mesmas

oportunidades socioculturais que as outras crianças têm para aprender a ler e a escrever,

apresentam um progresso na alfabetização muito mais lento que as outras da mesma

idade e nível intelectual

A dislexia, pode ser causada por uma alteração nos neurotransmissores cerebrais

que dificultaria a leitura e a compreensão do que se esta lendo. As crianças disléxicas

não teriam, com isto, as mesmas condições internas responsáveis pela aquisição da

habilidade de leitura e escrita que as outras da mesma faixa etária.

Por ser um problema cognitivo que afeta as habilidades lingüisticas associadas à

leitura e à escrita, a dislexia normalmente envolve uma incapacidade de decodificação

do material escrito ou de compreensão do que é reconhecido. O reconhecimento é o

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mais básico destes processos, uma vez que uma palavra deve ser reconhecida antes de

ser compreendida.

De acordo com o DSM-IV, um dos critérios de diagnóstico para as crianças que

apresentam perturbação da leitura é o rendimento na leitura substancialmente abaixo do

nível esperado para a idade cronológica do sujeito, quociente de inteligência e

escolaridade própria para a sua idade. Este deve ser medido através de provas

normalizadas de exatidão ou compreensão da leitura, aplicadas individualmente.

Santos, por sua vez, estabeleceu critérios que eliminam possíveis explicações

para a dificuldade de leitura dessas crianças. Para ser diagnosticada como disléxica, a

criança deve ter uma boa acuidade visual e auditiva e apresentar um QI de 90 ou acima

nas escalas verbais ou de desempenho no teste WISC. Além disto, esta não pode ser

portadora de deficiências neurológicas ou físicas graves, nem apresentar problemas

sociais ou emocionais significativos.

Conforme foi exposto, o conceito de dislexia implica a existência de um

conjunto de comportamentos que distingue a dislexia dos outros tipos de dificuldades de

leitura, além de conferir a idéia de que se trata de uma síndrome de origem genética.

No entanto, existem autores que contestam essas idéias, que acreditam não haver

evidências para sustentar a existência de uma síndrome especial e única de dislexia

como distinta de outros casos de dificuldades específicas da leitura. Se a dislexia fosse

de origem genética seria pouco provável que ela afetasse seletivamente o grupo de

crianças que apresentam uma discrepância entre aquisição de leitura e inteligência.

Haveria, sim, a probabilidade de afetar as crianças que possuem dificuldades mais

gerais além da dificuldade de leitura.

Pode-se notar que não há um consenso entre as definições formuladas e

defendidas pelos diversos pesquisadores da área para a dislexia. É comum o uso de

inúmeros termos para descrevê-la, afirmando ser a dislexia um problema, um transtorno,

um perturbação, uma síndrome, uma deficiência, um distúrbio ou uma dificuldade de

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aprendizagem relacionada à linguagem. Esta falta de consenso referente à definição está

diretamente ligada aos distintos métodos utilizados para a classificação e avaliação da

dislexia.

Neste trabalho, far-se-á uso do conceito de dislexia visto como uma dificuldade

específica de aprendizagem na qual a capacidade de uma criança para ler ou escrever

está abaixo de seu nível de inteligência. Levar-se-á em consideração que todas as

crianças, disléxicas ou não, aprendem a ler e escrever basicamente do mesmo modo,

porém, algumas superam as dificuldades dessa aprendizagem mais facilmente do que

outras

“A partir do que foi exposto, pode-se concluir que a

aprendizagem da língua escrita é tida como objetivo fundamental

de qualquer sistema educativo, já que além de ser um novo objeto

de conhecimento, é, também, a base indispensável para a

aprendizagem de outros campos do saber como a geografia, a

história e, até mesmo, a matemática “(Ibidem, p.76 ).

As dificuldades de leitura mais do que outras dificuldades específicas de

aprendizagem, impedem o progresso educacional em várias áreas já que a leitura é via

de acesso para uma grande variedade de informações, funcionando como mola

propulsora para todas as restantes aprendizagens

Assim, uma criança com dificuldade nesta área apresentará lacunas em todas as

demais matérias, o que muito provavelmente provocará um desinteresse cada vez mais

acentuado e uma diminuição da sua auto-estima.

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1.2 - Diagnóstico

Segundo o DSM-IV, nos EUA, a estimativa da prevalência de dificuldade na

leitura em crianças com idade escolar é de 4%. Alguns estudos mostram que 40% dos

irmãos de crianças disléxicas apresentam dificuldade semelhante. Além disto, uma

criança cujo pai seja disléxico apresenta um risco oito vezes superior à da população

média de também ter dislexia. Nos vários estudos realizados até então, constata-se uma

relevante desproporção entre meninos e meninas disléxicas, para cada oito meninos

diagnosticados como disléxicos, encontramos uma menina na mesma situação.

Segundo Santos, para um diagnóstico de dislexia estar correto, deve-se,

primeiramente, verificar se há na história familiar, da criança em questão, casos de

dislexia ou de alguma dificuldades de aprendizagem. Além disto, é importante observar

se ao longo do desenvolvimento da criança ocorreu algum atraso na aquisição da

linguagem.

“ O diagnóstico precoce é imprescindível para o desenvolvimento

das crianças disléxicas. A partir do reconhecimento dessas

primeiras características, é possível evitar anos de dificuldades e

sofrimentos, o que provocaria nesta criança o desinteresse pela

escola e a tudo relacionado a ela. Pode-se, inclusive, gerar

quadros aversivos desta criança em relação à tarefas que exijam

a leitura e a escrita..”( Ibidem, p.94 )

Apesar de alguns estudos estarem se desenvolvendo em prol de um diagnóstico

precoce da dislexia, existem autores que não acreditam nesta possibilidade, afirmam que

não se pode falar de dislexia antes dos 7 anos, ou ainda antes de pelo menos um ano de

escolaridade, pois anteriormente a esta idade, erros similares são banais pela sua

freqüência. Quando há uma dificuldade específica da aprendizagem, ela está associada a

um Q.I. elevado, a criança pode estar no nível dos seus companheiros durante os

primeiros anos escolares, e esta não se manifestar completamente antes do 4º ano de

escolaridade, ou mesmo posteriormente.

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Como foi visto, só podemos diagnosticar uma criança como disléxica quando

esta tiver uma oportunidade adequada de instrução e mesmo assim, continuar

apresentando um atraso na aquisição das competências da leitura e escrita

A história pessoal de um disléxico, geralmente, traz traços comuns como o

atraso na aquisição da linguagem, atrasos na locomoção e problemas de dominância

lateral. Além disto, outros sintomas podem estar associados a dislexias, como por

exemplo, problemas de motricidade fina, de percepção visuo-espacial e de organização

espaço-temporal.

No âmbito da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou

palavras com diferenças sutis de grafia como "a-o", "e-c", "h-n" e "u-v", por exemplo.

As crianças disléxicas também apresentam dificuldades com letras com grafia similar,

mas com orientação espacial inversa como "b-d", "d-p", "b-q", "d-q", "n-u" e "a-e". e

com palavras com um ponto de articulação comum e cujos sons são próximos

acusticamente como "d-t" e "c-q. As inversões de sílabas ou palavras também são

dificuldades dessas crianças, assim como a adição ou omissão de palavras como

"dormia- doromia" e a repetição de sílabas como “poderes- podederes”.

No nível da produção escrita, verifica-se a presença de sérios erros ortográficos,

a não utilização de acentos gramaticais e a irregularidade do desenho das letras. Além

disto, observa-se uma tendência a uma escrita descuidada, desordenada com letras

rasuradas e às vezes incompreensíveis, o que pode, em alguns casos, levar a criança a

perder a concentração, fluidez de raciocínio, gerando lacunas na estruturação e

sequênciação lógica das idéias

Na leitura, nota-se confusões de grafemas cuja correspondência fonética é

próxima, além disto, os disléxicos tendem a realizar uma leitura silábica, lenta e

hesitante, sem modulação, sem ritmo e com bastantes correções. As crianças disléxicas

podem confundir algumas letras e não ter o domínio da compreensão/interpretação do

texto lido

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Não obstante, pode-se observar nos disléxicos dificuldades de memória, de

manusear dicionários e mapas , assim como na cópia de palavras do quadro ou de livros.

Essas crianças também podem apresentar dificuldades de entender o tempo passado,

presente e futuro.

Evidentemente, não é necessário que todos estes indicadores estejam presentes

simultaneamente para que seja diagnosticada um caso de dislexia. Há, inclusive, estudos

que tentam provar a existências de subgrupos dentro do que consideramos dislexia.

Alguns autores afirmam que as crianças disléxicas podem apresentar uma

dificuldade ou um atraso em três áreas. A primeira grande dificuldade se refere à

produção de sons particulares. Elas também podem experienciar dificuldades na

sequenciação dos sons ou ainda serem incapazes de expressar coerentemente suas

idéias. Seguindo este raciocínio, existem três tipos distintos de dislexia: dislexia

disfonética, dislexia diseidética e grupo misto.

As crianças que apresentam dislexia disfonética possuem habilidades para

reconhecer palavras de uma forma global mas confundem o som das palavras que estão

tentando ler ou soletrar, ou seja, não conseguem dividir as palavras em sons, parecendo

ser insensíveis a eles. Os disléxicos do tipo diseidético apresentam potencialidades e

fraquezas opostas: sua habilidade para compreender e decompor as palavras em sons é

razoável, no entanto, têm dificuldades para reconhecer e lembrar a aparência das

palavras como um todo, principalmente, daquelas com grafia irregular. O grupo misto é

composto por crianças que apresentam dificuldades em ambas as habilidades

Como se pode observar, o diagnóstico de dislexia não é algo simples, visto que

implica na investigação de uma série de variáveis que permeiam o desenvolvimento da

criança. Além disto, freqüentemente, o diagnostico preciso de dislexia esbarra na

formação insatisfatória dos profissionais das diversas áreas que estão em contato com o

universo infantil e na falta de informação por parte dos pais e da população, de uma

forma geral, do que vem a ser este problema.

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1.3 - Causas

Antes de analisar as possíveis causas da dislexia, acredita-se ser de suma

importância fazer duas considerações. A primeira diz respeito à dificuldade de se

estabelecer uma relação de causa e efeito quando se trata de um problema que, como já

foi exposto, atravessa direta ou indiretamente todos os campos de conhecimento.

Os estudos sobre a dislexia permitiram a investigação de inúmeras variáveis que

poderiam ser causa deste problema. Foram tantas as hipóteses levantadas que, por

vezes, somos levados a crer que a causa da dislexia pode ser de qualquer natureza.

Entretanto, a medida em que é realizada uma análise mais profunda destes estudos,

constata-se que os estudos não são ainda conclusivos. Quando se pretende realizar

estudos com o intuito de encontrar as causas de um problema, deve-se, sempre, levar em

consideração alguns fatores que podem agir indiretamente, mascarando a verdadeira

causa

O segundo ponto que merece destaque é que alguns autores, ao observarem a

existência de uma variedade de possíveis causas para a dislexia, apostam na idéia de

que os disléxicos encontram dificuldades e obstáculos diferentes daqueles que

normalmente seriam encontrados pelas outras crianças. Entretanto, não há nenhum

estudo que comprove que as crianças com dislexia cometam erros exclusivos. Além

disto, como desde o início deste trabalho está sendo considerado que as dificuldades

para aprender a ler e a escrever são encontradas por todas as crianças, pretende- se

trabalhar com a idéia de um contínuo, ou seja, as crianças disléxicas cometem o mesmo

tipo de erro que as crianças que lêem e escrevem normalmente, no entanto, o fazem com

maior freqüência. Poderíamos afirmar, portanto, que a dislexia consistiria em uma

diferença quantitativa entre as crianças com aprendizado normal e as crianças

disléxicas, visto que estas apresentariam mais dificuldade

Este problema envolvendo a natureza da dislexia é muito importante, visto que

acarreta conseqüências diretas para a direção do tratamento dessas crianças. Caso a

diferença entre as crianças disléxicas e as que obtém sucesso na aprendizagem da leitura

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e da escrita seja quantitativa, então, é necessário que se realize um trabalho respeitando

o tempo dessas crianças, que é mais lento. Se, por outro lado, existirem diferenças

qualitativas entre as crianças, deve-se mudar o método de ensino, direcionando-o para

os obstáculos específicos das crianças disléxicas.

Visto isto, poderemos passar para uma análise histórica das possíveis causas da

dislexia. Algumas hipóteses foram levantadas a fim de provar que as crianças disléxicas

não dispunham de alguma habilidade importante para a aquisição da leitura. Num

primeiro momento, os pesquisadores voltaram-se para as habilidades visuais (que hoje

já são consideradas periféricas) que, segundo eles seriam deficitárias nessas crianças.

Estas poderiam apresentar problemas visuais e como a linguagem escrita requer a

tradução de linguagem falada em símbolos visuais, poderia ser esta a causa da dislexia.

As crianças disléxicas teriam um desenvolvimento neurológico imperfeito, o que

acarretaria em uma confusão entre os lados direito e esquerdo, o que contribuiria para

uma dificuldade com as letras e palavras simétricas. Além disto, poderia haver uma

menor ou uma ausência de dominância cerebral nas crianças disléxicas, levando-as a

apresentar uma dificuldade na distinção entre esquerda e direita. Muitos autores

realizaram estudos regidos por essa idéia, no entanto, a hipótese de que um déficit

perceptual seria a causa da dislexias não foi corroborada.

Considerando que a leitura é uma atividade lingüística, partiu-se, num segundo

momento, para a investigação de hipóteses que apontavam para uma natureza mais

central, uma natureza cognitiva e lingüistica e não periférica como a perceptual do

problema da dislexia.

Diversos autores começaram a comparar os escores das tarefas verbais e não-

verbais contidas nos testes de QI, e verificaram que as crianças disléxicas obtinham

resultado pior nas tarefas verbais. Começaram a levantar hipóteses sobre quais seriam as

dificuldades lingüisticas especificas que afligiriam as crianças disléxicas.

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As crianças com dislexia quando comparadas às outras apresentam dificuldades

na memória de palavras, na aprendizagem de novos rótulos verbais para padrões

específicos e levam mais tempo para realizar tarefa que envolvem dizer o nome de

figuras ou objetos, adjetivos ou símbolos familiares. Além disto, elas apresentam

dificuldades em fazer julgamentos gramaticais explícitos e usá-los como recurso durante

a leitura. Essas crianças também são especialmente fracas na leitura de palavras

inventadas e no reconhecimento e produção de rimas.

Algumas pesquisas foram realizadas a fim de constatar se os atrasos verbais

gerais apresentados pelas crianças disléxicas poderiam resultar em atrasos específicos

da leitura. Entretanto, por deficiências metodológicas, apesar de se poder estabelecer

uma comparação entre estes dois fatores, não se pode afirmar uma relação causal entre

eles.

A partir de muitos estudos podemos, portanto, afirmar que existe uma correlação

entre determinadas habilidades como por exemplo, a memória verbal, a consciência da

gramática, a consciência fonológica e a dislexia.

Constata-se, portanto, que dois aspectos são de suma importância para o estudo

da dislexia: a consciência explícita de regras gramaticais e a consciência da estrutura

fonológica de palavras e sílabas.

A consciência fonológica é fundamental à compreensão do código alfabético.

Algumas crianças tornam-se conscientes dos sons com mais facilidade do que outras, o

que levaria um desempenho superior na leitura. Estudos mostraram que as crianças

disléxicas apresentam diferenças de natureza quantitativa quanto ao nível de consciência

fonológica e a leitura quando comparadas com seus pares.

Dentro desta resenha sobre as teorias da dislexia, cabe ainda mencionar as que

fazem referência aos problemas afetivos como condicionantes das aprendizagens da

leitura. Partidários destas teorias defendem a hipótese de que um vínculo afetivo mãe-

filho deficiente pode retardar a necessidade da linguagem, e mais tarde a aprendizagem

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da leitura e escrita. No entanto, algumas pesquisa forma realizadas com o intuito de

mostrar o que a afetividade é um fator secundário ao problema da dislexia e não a sua

causa. Na realidade, é a incompreensão familiar e da escola quanto às suas dificuldades

escolares que são ao fatores desencadeantes dos possíveis distúrbios afetivos.

1.4 - Produções Textuais

As crianças muito antes da aquisição da língua escrita ou falada são apresentadas

ao universo das histórias, sejam aquelas contadas nos livros infantis, sejam as que de

fato aconteceram em seu convívio social. Ao ingressarem no meio escolar, as crianças

sistematizam seu conhecimento sobre as histórias, percebendo que estas possuem

componentes e convenções lingüisticas próprias, além de uma seqüência lógica: início,

meio e fim. São textos que sempre descrevem eventos nos quais estão inseridos

protagonistas praticando algumas atitudes em determinadas cenas.

Como as crianças desde muito pequenas têm o hábito de contar histórias, tende-

se a ter a falsa impressão de que esta competência seria um ato natural, inerente à todos

os seres humanos. Entretanto, isto não constitui a verdade, visto que a habilidade de

contar histórias é algo aprendido, construído. E esta construção ocorre informalmente,

estando implícita nas situações do cotidiano. Além disto, é importante deixar claro, que

a aquisição desta habilidade não ocorre de forma repentina, ela é fruto de um processo

gradual, que sofre influência de algumas variáveis como a idade, a escolaridade e as

diversas interações sociais.

Quando se pretende estudar como se dá a produção de textos narrativos,

podemos fazer de inúmera formas: atendo-se aos motivos que levaram o sujeito a contar

aquela história ou ao conteúdo das mesmas e o que ele representa. Pode-se ainda levar

em consideração outro aspecto que é a forma como esta história foi contada e as idéias

do narrador organizadas.

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No presente trabalho, optou-se por dar uma ênfase maior a este último item. A

análise dos textos será feita, portanto, visando a compreensão de como as crianças

organizam suas idéias e as desenvolvem ao longo de seus textos narrativos. Para tal,

abordaremos alguns aspectos da língua que são fundamentais para a produção de uma

narrativa bem elaborada: coerência, coesão e ortografia.

A coerência é uma instância manifestada macrotextualmente de natureza

temático- semântica, ou seja, está ligada ao sentido e à interpretação do texto. Ela se

refere à forma como componentes do texto se unem de modo a propiciar uma cadeia de

sentidos organizados e, consequentemente, uma compreensibilidade maior da unidade

textual.

Um texto para ser coerente deve manter, ao longo de sua narrativa, o tema que

será desenvolvido, além disto, os episódios narrados deverão ter relação entre si e com o

desfecho da trama. Alguns autores propuseram que a qualidade narrativa de uma

história dependeria da existência de um protagonista, de uma situação-problema, de

uma solução para o mesmo e da explicitação de como isto foi realizado.

Alguns estudos foram realizados visando o entendimento de como se daria o

desenvolvimento de narrativas coerentes. A partir disto, elaboraram um esquema que

nos permite classificar as crianças em quatro níveis, que variam de acordo com o grau

de coerência da história contada. Neste trabalho faremos uso deste esquema para

analisar e classificar as produções textuais feitas tanto de forma manuscrita como no

computador. Estes níveis estão divididos da seguinte maneira:

Nível I: São histórias caracterizadas por mudanças de tópicos e de eventos. Estes

não apresentam uma continuidade de sentidos, dificultando a compreensão.

Nível II: O tema central tende a ser mantido, entretanto, não há um evento

principal bem definido e sim, vários pequenos eventos que não apresentam

muita ligação entre si. O desfecho pode nem existir e quando existe não tem

ligação com o evento narrado anteriormente.

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Nível III: Há a manutenção do tema central e dos eventos desenvolvidos no

decorrer da trama, sem ficar claro, no entanto, qual seria o principal. O desfecho

não se encontra em perfeita conexão com os eventos narrados.

Nível IV: Tanto o tema quanto o evento principal são mantidos ao longo da

narrativa. O desfecho está intimamente relacionado aos eventos ocorridos na

história.

É importante destacar, visto que este trabalho é voltado para crianças de 1a à 4a

série, que estudos realizados mostram que, normalmente, crianças a partir de 8 anos já

possuem a competência necessária para produzir uma narrativa oral com estrutura bem

elaborada.

Evidentemente, esta correlação entre a idade e o nível de coerência da narrativa

não é simples, existem outras variáveis, tais como a escolaridade e o ambiente familiar,

que podem influenciar na aquisição dessa habilidade.

Inúmeros autores vêem estudando quais seriam os fatores que propiciariam uma

narrativa estruturalmente bem elaborada e coerente. Percebeu-se que, além dos fatores

já citados, a situação de produção também exercia um importante papel na qualidade da

narrativa. Portanto, dependendo de como for feita a proposta para a elaboração da

história, ela poderá ficar melhor ou pior.

Visto isto, este trabalho se propõe a verificar se haveria alguma diferença entre a

produção feita de forma manuscrita e no computador. Pretendeu-se focalizar a produção

textual das crianças disléxicas, observando se estas melhorariam a qualidade de sua

narrativa quando esta é proposta para ser realizada no computador.

Um outro aspecto importante na realização desta analise, é o grau de coesão dos

textos destas crianças. A coesão é manifestada no nível microtextual e é verificada a

partir do uso de recursos lingüisticos que possibilitam estabelecer uma relação entre os

eventos que compõem o texto. Quando estes elos lingüisticos, que são as conjunções,

referências anafóricas e catafóricas, elipses e substituições, não estão presentes, acabam

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prejudicando o entendimento do texto. A coesão é, portanto, um conceito semântico que

garante a continuidade e a unidade do texto.

Assim como a aquisição da competência para a produção de uma estrutura

narrativa mais coerente e estruturada é algo complexo, que envolve inúmeros fatores, o

mesmo ocorre com a habilidade para usar adequadamente os recursos coesivos. Esta

aquisição se dará ao longo do desenvolvimento e será influenciada não só pela idade e

escolaridade, mas também pelo tipo de texto que será produzido e a situação de sua

produção.

Alguns autores observaram que dependendo de como é a proposta para a

produção textual, isto é, a situação de produção, a criança poderá usar mais ou menos

elos coesivos. Além disto, é pertinente salientar que há uma relação entre uma narrativa

bem elaborada, portanto, coerente, e o uso apropriado dos recursos coesivos. Talvez por

uma necessidade de integrar uma maior quantidade de eventos narrados, os textos mais

elabora - dos também são aqueles acompanhados de um maior e mais diverso número

de coesivos.

Uma outra forma de se observar a progressão da coesão textual é através do uso

de cadeias coesivas. As cadeias coesivas, como o próprio nome diz, referem-se a uma

seqüência de recursos coesivos (referentes) que estão ligados a uma matriz, que será o

primeiro item lexical a aparecer no texto. Por exemplo, no trecho do texto: "Num

castelo, muito antigamente, existia um colar de pérolas que pertenceu a uma rainha.

Quando ela morreu o castelo foi abandonado, junto com o colar..." Podemos selecionar

três cadeias coesivas:

Cadeia 1: Castelo- castelo

Cadeia 2: Colar de pérolas- colar

Cadeia 3: Rainha- ela

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Cada cadeia tem sua matriz e seus referentes. No caso da cadeia 1 é castelo e

castelo, na cadeia 2 é colar de pérolas e colar e na cadeia 3 é rainha e ela,

respectivamente.

A partir desta idéia, identifica-se nos textos de crianças três tipos de cadeias

coesivas:

Tipo 1: quando ocorre a repetição da matriz. Esta repetição pode ser integral

(quando o referente é idêntico à matriz), parcial (quando o referente mantém a

mesma base morfológica da matriz) ou mista (quando acontecem os dois tipos

de repetição). No caso do exemplo citado, na cadeia 1 há uma repetição integral

e na cadeia 2, uma repetição parcial.

Tipo 2: quando há substituição da matriz. Esta substituição pode ser por

referência (uso do pronome pessoal), por sinonímia (quando referente tem

significado semelhante), por superordenação (quando o eferente está contido

numa classe superordenada), por nome próprio (quando o referente é substituído

por um nome próprio) ou mista (quando acontecem os dois ou mais tipos de

substituição). No caso do exemplo citado, na cadeia 3 há uma substituição por

nome próprio.

Tipo 3: quando ocorre tanto repetição como substituição na mesma cadeia.

Neste estudo, a análise dos textos das crianças também levará em consideração o

uso apropriado das cadeias coesivas e a quantidade em que estas são empregadas em

suas narrativas.

Por fim, o último aspecto que será usado para analisar as produções textuais dos

alunos, será a ortografia. Tanto nos textos feitos no computador como naqueles

produzidos manuscritamente, será feito um levantamento dos erros de grafia das

crianças. A hipótese deste trabalho é que as crianças, disléxicas ou não, cometerão

menos erros diante do computador. Isto, devido ao fato de que elas poderão fazer uso do

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corretor de texto que é uma ferramenta muito utilizada quando se escreve um texto no

computador.

Este item é de extrema importância, pois acredita-se, que as crianças disléxicas,

por apresentarem uma série de dificuldades no que diz respeito à grafia correta das

palavras, poderão ter um melhor desempenho, na medida em que não tenham que se

preocupar tanto com este aspecto, que como vimos, é apenas um de tantos outros que

envolvem a produção de um bom texto.

1.5 - Dislexia específica

Uma das causas mais freqüentes de dificuldades para a aprendizagem da fala, da

leitura e da escrita é o que chamamos de dislexia específica. Também identificada como

dislexia de evolução, a dislexia específica pode ser reconhecida como sendo um

conjunto de sintomas que revelam uma disfunção parietal ou parietal occipital,

geralmente hereditária ou, às vezes, adquirida, que afeta a aprendizagem da fala e da

leitura, estendendo-se do sintoma leve ao severo.

Como decorrência, a dislexia é acompanhada de transtornos na aprendizagem da

escrita, de gramática, da elaboração textual, afetando meninos em maior proporção que

meninas.

Para estabelecer as características de dislexia específica, diferenciando-a de

outras dificuldades da fala e da leitura, é conveniente reportarmo-nos às seguintes

orientações:

• a dificuldade para falar e ler persiste até a idade adulta;

• os erros na leitura e na escrita de natureza peculiar e específica, por

exemplo, inversões totais ou parciais de partes de palavras (sílabas),

substituição de palavras por outras de estrutura similar ou expressões

similares ( saltou por salvou ou era por ficava); adição ou omissão

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de sons, desorganização da palavra como um todo, leitura silabada ou

palavreada, etc.;

• existe incidência familiar de tipo hereditário da síndrome;

• a dificuldade se associa, também, à interpretação de outros símbolos,

por exemplo, troca de significação de sinais de trânsito, de cores de

semáforo, etc.

Pode-se identificar um disléxico pela sua história, reveladora de antecedentes do

tipo:

• existe familiar próximo que apresenta ou tenha apresentado

problemas na linguagem;

• houve problemas no parto ( anoxia, prematuridade ou

hipermaturidade );

• houve doenças infectocontagiosas com febre alta, vômitos,

convulsões e/ou perda de consciência;

• houve atraso na aquisição da fala ou perturbação na articulação dos

sons e no locomover-se;

• há problemas de dominância lateral.

Existem inúmeros estudos relacionados à dislexia, origens, sintomas,

tratamentos, com grande variedade de técnicas terapêuticas que visam ao saneamento do

distúrbio e que são da competência de especialistas habilitados para tal atividade.

1.6 -Dislexia visual e auditiva

Tendo em vista que a aprendizagem e o desenvolvimento da fala, da leitura e da

escrita prevê em discriminação visual e auditiva adequadas, observamos que os dois

tipos de dislexia que se evidenciam especialmente na leitura são a dislexia visual e a

dislexia auditiva.

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Não se trata aqui de falarmos sobre as deficiências de visão e audição, tais como

estrabismo, miopia, hipermetropia e outros otites, otoses, otoscleroses ou outras. Essas

são deficiências de ordem fisiológica, passíveis de serem corrigidas e/ou minimizadas

por um oftalmologista ou por um otorrinolaringologista. Essas dificuldades de visão e

audição são as responsáveis, muitas vezes, pela sensibilidade exagerada da criança, pelo

seu retraimento e inibição, pela falta de atenção ou rebeldia no atendimento a ordens,

por defeitos na articulação, pela agressividade ou apatia e, inclusive, pela falta de

segurança em si e no outro. Na maioria dos casos, sanado o problema físico,

desaparecem as conseqüências.

Vamos, porém, refletir sobre perturbações ou disfunções psiconeurológicas,

responsáveis pelas percepções visual e auditiva defeituosas ou comprometidas.

Para maior esclarecimento, podemos estabelecer também, que, há distinção

entre:

• dislexia escolar verdadeira que é aquela que não se corrige

espontaneamente e necessita de um processo reeducador, no caso, de

um reeducador de linguagem, especializado para tal fim;

• dislexia escolar natural que os alunos podem apresentar quando

iniciam a aprendizagem da leitura e da escrita e que desaparece

espontaneamente ou com o auxílio do professor. A dislexia visual,

caracterizada como um dos distúrbios que, freqüentemente,

interferem na habilidade para leitura, é proveniente da deficiência da

percepção visual apresentada por crianças que vêem, que enxergam o

texto, as palavras, mas que não discriminam, não diferem, não

memorizam ou não interpretam palavras e texto: não decodificam o

sistema da língua. Sem dúvida, a dislexia visual é uma disfunção com

origem no sistema nervoso central.

A criança disléxica visual, normalmente:

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• confunde letras e palavras de grafias semelhantes, tendo, portanto,

dificuldade em discriminação visual;

• examina lenta e demoradamente a palavra, porque não a reconhece,

de imediato, como sendo igual ou diferente de outra, pois sua

velocidade de percepção é reduzida;

• faz espelhamento ao ler, isto é, ao invés de ler data, lê bata;

• faz inversão ao ler, isto é, ao invés de ler escola, lê secola;

• tem dificuldade de ordenar uma seqüência de palavras ou de letras, a

partir de um modelo dado, apesar de conhecer as palavras e as letras

do modelo;

• tem dificuldade de lembrar ou, até mesmo, não lembra experiências

verbais e não-verbais, evidenciando problemas de memorização

visual de palavras;

• faz, sempre, desenhos sem apresentar detalhes relevantes, apesar de

serem objetos conhecidos e de seu próprio ambiente;

• tem dificuldade de montar um quebra-cabeça, evidenciando

problemas de relação do todo com as partes e das partes com o todo (

análise e síntese );

• tem preferência por atividade auditiva, porque é mais hábil para ouvir

do que para ler;

• tem dificuldade de acompanhar jogos, porque não consegue

acompanhar a trajetória da bola, num jogo de futebol, por exemplo;

• tem dificuldade ou, mesmo, não é capaz de associar uma palavra ao

seu significado.

A dislexia auditiva, caracterizada, também, como um dos distúrbios que interfere

na fala e na leitura, é proveniente da deficiência da percepção auditiva apresentada por

criança que ouve mas não distingue semelhanças e diferenças entre sons, não discrimina

sons em palavras, não divide palavras em sílabas, etc.

É válido dizer que esse tipo de disfunção auditiva pode prejudicar ou mesmo

impedir o desenvolvimento das habilidades da fala e da leitura. Porém, a dislexia

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auditiva relacionada à leitura nem sempre tem correlação com a relacionada à fala,

tendo em vista que as capacidades auditivas necessárias à leitura ( relações seqüência

temporal/seqüência viso-espacial ) são diferentes das necessárias à fala ( relações

seqüência temporal/seqüência motora ).

A criança disléxica auditiva é capaz de associar a palavra à realia ou à gravura,

depois de vê-la diversas vezes, porém não relaciona os componentes visuais da palavra (

símbolos gráficos ) com os respectivos componentes auditivos ( sons ). Não é capaz,

também, de fazer relações de uma parte da palavra ( sílaba ) com o todo, realizando,

portanto, a aprendizagem de cada palavra nova como um todo único. Não faz, portanto,

generalizações, tão necessárias nas aprendizagens.

A criança disléxica auditiva, normalmente:

• apresenta distúrbios na percepção e discriminação auditiva,

evidenciando inabilidade do ouvir sons semelhantes ou diferentes no

início e no fim das palavras; são evidentes, também, as dificuldades

em relação às vogais, uma vez que palavras como bola/bolo, não são

identificadas como diferentes;

• apresenta dificuldade de lembrar o som, sendo incapaz, portanto, de

dizer a palavra ao olhar para a mesma, apesar de identificar o seu

significado; muitas vezes, é capaz, inclusive, de substituir uma

palavra por outra de significado semelhante, omitindo-se de

pronunciar aquela que está escrita no texto para leitura, porque não

lembra os sons constitutivos da mesma; esse fato favorece o disléxico

auditivo na leitura silenciosa;

• apresenta dificuldade em reter a seqüência de sons e em seguir ritmo;

• faz opção por atividades que envolvem percepção visual.

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CAPÍTULO II

GRAFIA E DISGRAFIA

“O conhecimento - e não os olhos - é o verdadeiro órgão da visão.”

Panchatantra

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GRAFIA E DISGRAFIA A escrita é um dos temas que produz preocupação e polêmica tanto para os

profissionais da área de Educação, quanto aos de Saúde. Temos e sempre teremos uma

série de discussões que jamais serão esgotadas ou solucionadas, pois a cada dia a

sociedade evolui, se transforma e consequentemente, suas necessidades, seus critérios e

problemas são outros, o que podemos inferir que a leitura e escrita estarão sempre em

evolução, como ocorreu desde os nossos primórdios.

Sendo uma atividade convencional e codificada a escrita é estabelecida e

socializada em determinado ambiente, que coloca as regras e normas da expressão

gráfica, impondo exigências quanto à caligrafia, legibilidade e rapidez. Exigências

sociais até certo ponto arbitrária, mas que só podem ser transpostas pela utilização de

métodos de aprendizagem adequados às possibilidades de cada criança.

Tanto a escrita como a leitura são símbolos em relação ao que ela significa,

significação adquirida pelo sujeito através da aprendizagem escolar e do

desenvolvimento psicofisiológico geral. Portanto, a escrita não é somente resultado de

uma aprendizagem socialmente imposta, mas também fruto de um certo grau de

amadurecimento afetivo, intelectual e motor.

2.1 - Grafia

Os fenícios foram os primeiros a utilizar um verdadeiro alfabeto, um código de

letras que representava sons. Comerciantes fenícios trouxeram do Egito a escrita egípcia

e, baseando-se nela, criaram um alfabeto completo de 22 letras, cada uma representando

um som diferente.

Os gregos receberam dos fenícios o alfabeto, aumentando-lhe o número de letras

para 26, os romanos receberam-no dos gregos. Baseado neste alfabeto, executando-se as

variações, temos atualmente o nosso alfabeto. A partir da evolução, apareceu também

na Grécia, o sistema de escrever da esquerda para a direita, em vez da direita para a

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esquerda (usual entre os hebreus). Mais tarde surgiram as letras maiúsculas e

minúsculas.

Historicamente, há um simbolismo que envolve a mão direita e a mão esquerda,

que está relacionado a valores da época e a falta de informação sobre o cérebro.

Antigamente, os canhotos eram obrigados, nas escolas, a escreverem com a mão direita,

pois era considerada a mão boa e correta para se escrever e, consequentemente, a

esquerda era a má para escrever. Isto ocorreu devido a associação que as pessoas faziam

com valores bíblicos onde os bons e os justos sempre estarão à direita e, os maus do

lado oposto (esquerda).

Com este simbolismo de época, criou-se transtornos tremendos em relação à

aprendizagem da leitura e escrita, pois os canhotos tiveram sua dominância lateral

contrariada. Percebemos que há necessidade de se expandir o conhecimento sobre o

cérebro, dominância lateral para que estes não sejam desrespeitados.

O ato de escrever, também é um ato motor, resultante da maturação neurológica

refinada e complexa, que compreende a micromotricidade e perícia manual, que

segundo encontra-se na última etapa e terceira unidade funcional de maturação do

cérebro, na área oito, que abrange as funções de programação, regulação e verificação

das atividades preensivas e manipulativas mais complexas, ocupando dois quartos da

superfície do córtex motor, apenas para a atividade de mão.

A escrita é a linguagem visual expressiva, que faz uso de uma série de operações

cognitivas, e a que mais tempo leva para ser adquirida, tanto em seu aspecto

ontogenético como filogenético. Esta linguagem expressiva, faz uso dos recursos de

percepção auditiva, visual, discriminação tátil, cinestésica, de output que envolve a

análise, ou seja, um sistema visual - simbólico, que converte pensamento, sentimentos e

idéias em símbolos gráficos.

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2.1.1 - Fundamentação científica da escrita

A palavra escrita é importante como meio de comunicação, compreensão e

relacionamento entre as pessoas; porém, a necessidade de legibilidade seja óbvia, cada

pessoa escreve conforme as respostas inconscientes aos seus impulsos cerebrais. O ato

de escrever é uma resposta inconsciente a impulsos cerebrais que estimulam os

músculos flexores e extensores do antebraço a contrair e esticar os dedos. Nasce no

cérebro seguindo pelo antebraço, braço, mão e dedos, que são somente instrumentos

para realizar a grafia.

2.1.2 - Evolução do grafismo

Em relação à postura, a motricidade infantil se divide basicamente em estática e

dinâmica. Havendo o envolvimento de vários músculos que propiciam o equilíbrio.

Com a integração de estímulos visuais e propioceptivos dos músculos em ação,

temos o ajustamento do tônus muscular, necessário para a realização dos movimentos

para a escrita.

A evolução da motricidade manual, ocorre nos seis primeiros anos de vida da

criança, sem déficit intelectual ou motora da seguinte forma:

• 1 ano - manipula e pega objetos longos e delgados com

destreza; utiliza as pontas dos dedos; ao utilizar os objetos

para golpear ou esfregar, pega com maior apoio e firmeza,

segurando-a com a palma da mão; maneja o lápis com ação

total do braço (em bloco).

• 2 anos - começa a manipular o lápis com os dedos; imita

traços verticais e horizontais.

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• 3 anos - procura inibir ou diminuir os movimentos do braço ao

manipular o lápis; faz maior uso dos dedos ao tentar

“escrever”.

• 4 anos - enquanto manipula o lápis, há o movimento do pulso;

enquanto manipula o lápis com uma mão a outra torna-se

apoio ou suporte; desenha círculos mais redondos, copia cruz

e tenta traçar outras figuras; esta idade é formativa de

representação gráfica.

• 5 anos - a forma de pegar o lápis é parecida com a do adulto;

há maior destreza e perícia manual ao copiar algo; os dedos

são mais ágeis e precisos.

• 6 anos - há movimento da esquerda para direita (movimento

da leitura escrita).

A partir destas fases faz-se uma descrição das fases do grafismo, que

basicamente se dividem em:

Fase da pré-escrita:

• aos 3 anos utiliza o lápis com intenção lúdica, pois há descarga “motriz” do cérebro

que é revelada pelos movimentos do lápis sobre a folha de papel;

• aos 4 anos, conforme seu nível intelectual a maturação grafomotriz, seus

movimentos são aprimorados.

Fase da escrita:

• aos 5 anos, já se inicia o processo de leitura e escrita, transformando a escrita em

uma atividade dinâmica, fluída, que segundo Ajuriaguerra ( 1984, p. 64 ), atravessa

várias etapas descritas a seguir:

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Fase pré-caligráfica:

• entre 5 e 8 anos desenvolve a 1a fase de aprendizagem da leitura e escrita, na qual

começa a copiar letras isoladas e palavras curtas e frases simples, com caligrafia mal

controlada devido à falta de maturidade motora, que ao final desta começa a

regularizar-se, permitindo maior fluidez.

Fase caligráfica:

• dos 8 anos até a puberdade há o domínio das dificuldades do ato motor da escrita,

que por volta dos 10 anos é bem marcada, pela maior fluidez e regularidade na

forma e dimensão da escrita.

Fase pós-caligráfica:

• devido a necessidade de maior fluidez e velocidade, e ao enriquecimento do

pensamento do adolescente, há alteração na escrita, produzindo a simplificação da

ligadura entre as letras, proporcionando também, o surgimento do estilo pessoal na

escrita.

Pré-Requisitos para a Escrita:

- Correta integração sensorial;

- Ausência de transtornos motores intensos;

- Suficiente desenvolvimento;

- Da inteligência;

- Da linguagem compreensiva e expressiva;

- Memória visual;

- Expressão gráfica de idéias;

- Capacidade de análise de formas;

- Motricidade manual;

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- Motricidade global;

- Desenvolvimento perceptivo adequado;

- Ausência de transtornos, como:

agonias, apraxias e transtornos de atenção.

Observou-se que quanto maior a capacidade de ajuste do corpo físico e mental

em elaborar e antecipar respostas posturais compensatórias, haverá maior e melhor

aperfeiçoamento das habilidades motoras grossa e fina. Pois, as habilidades motoras

superiores que serão a cada ano de vida, e conforme a necessidade de cada indivíduo,

cada vez mais refinadas.

2.2 - Conceito de disgrafia

Há polêmica em se definir os termos disgrafia e disortografia. Encontramos

classificações e definições contraditórias de acordo com cada autor, mas basicamente os

conceitos movem-se em dois contextos:

• Contexto neurológico relativo às afasias: é uma das manifestações da afasia e tem

evidente condicionamento do tipo neurológico.

• Enfoque funcional da disgrafia: trata-se de transtornos funcionais apenas e não a

lesões cerebrais ou problemas sensoriais.

Mas para se definir a disgrafia se faz necessário a delimitação do termo, ou seja,

somente podemos considerar disgráfico o indivíduo com Q.I. normal, ausência de

transtornos neurológicos, sensoriais ou afetivos graves, e com adequada estimulação

ambiental.

As disgrafias podem ser denominadas como:

• Primária: quando a criança apresenta apenas a letra defeituosa, sem que haja causas

do tipo funcional ou maturativa.

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• Secundária: quando há manifestação sintomática de um transtorno de maior

importância, com componente pedagógico, neurológico ou sensorial.

Pérez ( 2000, p.213 ), propõe o termo pré-disgrafia para crianças que apresentam

alterações perceptivo-motoras entre 4 ou 5 anos de idade, ou seja, são crianças com alto

risco de se tornarem disgráficas.

Dependendo do enfoque do autor, a disgrafia pode ser conceituada sob três

aspectos distintos:

• Nível Simbólico( envolvendo simbolismo verbal): o paciente tem dificuldade para

escrever o que pensa (quadro das afasias), devido a dificuldade de codificação.

• Integração viso-motora: havendo distúrbio de integração viso-motora ( com

problemas de transferência de informação auditiva e/ou visual ao apropriado tipo

motor ), pertence ao quadro das apraxias.

• Nível psicomotor: apresenta dificuldade na execução do ato motor destinado à

escrita.

2.2.1 - Classificação das disgrafias

Há dois tipos de disgrafias: disgrafia léxica e disgrafia caligráfica.

A disgrafia léxica é a alteração simbólica da linguagem escrita como

conseqüência das dificuldades disléxicas da criança, podendo este tipo de disgrafia ser

considerada como “projeção disléxica”, pois afeta o conteúdo da escrita e os erros

cometidos são similares aos dos indivíduos disléxicos:

• omissão de letras, sílabas ou palavras;

• confusão de letras com sons semelhantes, com orientação simétrica similar;

• inversão ou transposição de ordem das sílabas;

• inversão de palavras ou paragrafia escrita;

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• agregação de letras e sílabas;

• uniões e separações indevidas de sílabas, letras ou palavras.

A disgrafia motora ou caligráfica, não afeta a capacidade de simbolização, mas

sim a forma das letras e qualidade da escrita em seus aspectos perceptivo – motores e as

manifestações desse tipo de disgrafia são:

• transtorno da forma das letras;

• transtorno do tamanho das letras;

• deficiente espaçamento entre as letras dentro de uma palavra, entre palavras e entre

as margens;

• inclinação defeituosa das palavras que conformam a palavra;

• transtorno da pressão ou colorido da escrita por excesso ou falta;

transtorno da fluidez e do ritmo da escrita;

• transtorno da direção dos giros da escrita das letras;

• alterações tônico – posturais;

• fadiga muscular.

Há também outras classificações de disgrafia:

Disgrafia Ideomotora: há disfunção na elaboração dos movimentos gráficos,

apresentando dificuldade de organização nos movimentos direcionais das letras, que

apresenta as seguintes características:

• a criança cai e tropeça muito;

• deixa cair objetos com facilidade;

• há dificuldade para vestir-se ou calçar-se;

• imagem corporal deficitária;

• inabilidade para manusear objetos;

• inabilidade para subir e descer escadas.

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Disgrafia Ideográfica: há uma dificuldade específica para grafar, ou seja, ocorre

incoordenação entre o que a pessoa se propõe a escrever e a respectiva ação gráfica,

tendo como características:

• incoordenação de movimentos;

• repasses, rasuras;

• alterações direcionais das letras;

• escrita espelhada;

• letra muito grande, ininteligível, traçado leve e débil;

• dificuldade para copiar da lousa para o caderno;

• lentidão para executar tarefas ou para escrever;

• caderno desorganizado.

2.2.2 – Etiologia das disgrafias

Na etiologia das disgrafias dificilmente encontramos causas isoladas, mas sim a

associação de fatores maturativos, afetivos e pedagógicos. Não pretendemos esgotar

todas as causas, porém esclarecer as principais. Pérez ( 2000, p. 222 ) agrupou em cinco

grandes grupos as principais causas de disgrafias:

• Causa do Tipo Maturativo: a dificuldade é de origem de maturidade

neuropsicológica, tendo quatro fatores como causa: transtorno da deficiência

psicomotora, transtorno do esquema corporal e das funções percepto-motoras e, por

último, os transtornos de expressão gráfica da linguagem.

• Causas Características: a escrita instável, com proporções inadequadas, deficiente

espaçamento e inclinações, é característico de crianças com conflitos emocionais. É

a chamada disgrafia característica que vem acompanhada de dificuldades percpeto –

motoras de lateralização e que é produto de tensões psicológicas das crianças.

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• Disgrafia Característica Pura: trata-se de quadro disgráfico em

crianças com conflitos emocionais importantes, as quais de forma

inconsciente, usam a escrita para chamar a atenção pela “letra

defeituosa”.

• Disgrafia Característica Mista: apresenta conflitos emocionais

associados à déficits neuropsicológicos. Neste caso, a disgrafia é

reforçada pela imaturidade psicoafetiva e pelos déficits percepto –

motores. Este tipo de disgrafia é a mais freqüente.

• Disgrafia Característica Reativa: são casos relacionados a transtornos

maturativos, pedagógicos ou neurológicos que inicialmente não

possuem componentes de alterações emocionais. O ambiente escolar

ou familiar que pressiona ou exige a “letra bonita”, pode acabar por

desencadear uma reação neurótica ou desaptativa, que convertem a

escrita em causador direto do problema.

• Causa Pedagógica: A escola é um dos maiores detonadores de disgrafia, tanto de

modo direto como indireto, e isto ocorre devido a : déficit do processo de passagem

da letra impressa para a cursiva; e inadequação do programa pedagógico.

• Causa Mista: Quando há fatores múltiplos no quadro disgráfico. Neste quadro quase

sempre a disgrafia motora é muito acentuada.

• Pseudo-disgrafia: são transtornos da escrita causados tanto ao nível formal como

simbólico ocasionados por déficits sensoriais ( visão/audição ) ou rebaixamento

intelectual. São subdivididos em:

1 – Funcionais( emocionais ):

• carência afetiva;

• ansiedade;

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• rejeição;

• superproteção;

• conflitos externos;

• privação de atividades motoras;

• restrição ou ausência de estimulação e atividades lúdicas pré-caligráficas.

2 – Orgânicas ( De origem neurológica ):

• distúrbios da psicomotricidade;

• problemas de lateralidade;

• disfunção cerebral mínima;

• lesões centrais ( ataxia, espasticidade, distonia, parexia ou sineinesias )

3 - Outras:

• déficits visuais;

• imobilização do membro dominante;

• lesões congênitas;

• T.C.E.;

• Problemas ortopédicos, etc.

4 - Outros fatores que intervêm na traçado gráfico:

• imaturidade percepto-visual;

• conhecimento do próprio corpo;

• lateralidade;

• imaturidade emocional: é fator condicionante, porém não justifica como causa;

• tônus;

• má estruturação espaço-temporal.

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2.2.3 - Sintomatologia

Descreveremos sucintamente os principais sintomas que os disgráficos apresentam

que podem ser subdivididos em:

1 - Características emocionais ou de comportamento:

• insegurança;

• frustração;

• isolamento ou hiperatividade;

• agressividade;

• auto-estima baixa;

• cai e tropeça muito;

• deixa cair objetos facilmente;

• imagem corporal deficitária;

• dificuldade para vestir-se, calçar-se, subir e descer escadas e manusear objetos.

2- Características de Evolução Motora:

• evolução motora prejudicada em relação à aquisições posturais e de equilíbrio;

• alterações espaciais;

• escrita espelhada;

• exagerada lentidão na escrita;

• dificuldade para copiar tanto na plano vertical como no horizontal;

• traçado muito leve ou muito forte;

• letra muito grande e ininteligível;

• incoordenação dos movimentos;

• alterações direcionadas das letras.

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2.2.4 – Intervenção psicomotora nas disgrafias

A intervenção psicomotora deverá considerar as particularidades dos diversos

quadros de disgrafia.

Devido ao fato da escrita ser um ato motor altamente especializado e refinado,

ou seja, último estágio de maturação neuromotora se faz necessários que todas as etapas

do desenvolvimento psicomotor estejam cumpridas, portanto o psicomotricista deverá

contemplar os seguintes aspectos:

• força;

• equilíbrio estático e dinâmico;

• controle do tônus muscular;

• dissociação progressiva dos membros superiores (sentido próximo-dista );

• esquema corporal;

• organização temporal;

• organização temporal – espacial;

• simbolização;

• lateralidade;

• coordenação viso – motora;

• ritmo.

Deve-se iniciar o trabalho com movimentos amplos; exploração do espaço;

utilização dos planos vertical e horizontal; usar grandes folhas de papel e

progressivamente ir diminuindo seu tamanho até chegar ao convencional. Visando dar

ao sujeito força muscular e flexibilidade articular necessárias aos diferentes movimentos

da escrita.

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CAPÍTULO III

A DISLEXIA E OUTROS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

“O processo de educação pode se prolongar a vida toda, sendo que o período escolar representa o fundamento do qual a estrutura da vida pode se apoiar e crescer.”

Robert H. Jackson

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A DISLEXIA E OUTROS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

A Dislexia é uma alteração nos neurotransmissores cerebrais que impedem uma

criança de ler e compreender com a mesma facilidade com que o fazem as crianças da

mesma faixa etária, independente de qualquer causa intelectual, cultural ou emocional.

Todo o desenvolvimento da criança é normal, até entrar na escola. É um problema de

base cognitiva que afeta as habilidades lingüísticas associadas à leitura e à escrita.

Pessoalmente questionamos a terminologia Dislexia porque produz uma

sonoridade de patologia, o que não o é. Não se fala em cura ou tratamento ou

medicamentos quando se fala em dislexia, não é portanto uma doença. Ser disléxico é

como ser canhoto. Acreditamos que pessoas são disléxicas e não estão disléxicas. Esta

é uma condição natural, pessoas nascem disléxicas ou não-disléxicas, e assim

permanecem por toda a vida. Os canhotos sofreram por muitos anos a discriminação e

tentativas de “tratamento”: colocar gesso na mão dominante é hoje considerado um

crime, mas não era assim há alguns anos atrás. As bancas escolares eram feitas apenas

para os destros, depois foram adaptadas para os canhotos também, assim é ser disléxico.

O atual sistema escolar é desenvolvido para a maioria que é não-disléxica. Os disléxicos

ficam à margem de um sistema educacional que os exclui e os aprisiona.

A grande polêmica acerca do tema Dislexia é por seu comprometimento

neurológico, mas precisamos entender que pertencem à área da Saúde apenas a causa e

a diagnose. O reconhecimento das características precocemente, as conseqüências, as

soluções e as adaptações pertencem à Educação. Não existem os disléxicos entre os

analfabetos. É nas salas de aula que a dislexia se faz presente e o que é pior: de uma

forma catastrófica e algumas vezes irreparável.

As grandes dificuldades aparecem por volta dos 8 ou 9 anos de idade, quando a

criança começa enfrentar temas acadêmicos mais complexos, as notas baixas e fraco

desempenho escolar são características básicas na vida escolar de crianças disléxicas.

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Manifestações de decepção, desaprovação, de cólera, de ridicularização, de

humilhação por parte dos grupos a que pertencem, afetam mortalmente a auto-estima

destas crianças. Elas são humilhadas em todos os sentidos e por todos os grupos em que

está inserida: pelos pais, pelos irmãos, pelos colegas, pelos professores. Com sua auto-

estima extremamente abalada, elas certamente desenvolverão distúrbios de conduta: da

agressividade à timidez intensa ou depressão, e daí para a marginalidade propriamente

dita, para a delinqüência, é apenas um passo. Isso indica um desajustamento social com

graves conseqüências para a sociedade como um todo. Não existe orgulho nem

satisfação em destacar-se na escola por problemas de aprendizagem, nem pelas notas

baixas recebidas.

As estatísticas indicam que de 15% a 30% das crianças em idade escolar sofrem

com suas dificuldades acadêmicas, 15% delas são disléxicas. É um índice muito alto

para continuarmos com olhos fechados. Sem a assistência e o apoio necessários estas

crianças desestimulam-se, perdem-se e por fim desistem. Pergunto-me se este não seria

um bom motivo para que investigassem os altos índices de reprovação e de evasão

escolar.

Leitura lenta sem modulação, sem ritmo e sem domínio da compreensão /

interpretação do texto lido; confundir algumas letras; sérios erros ortográficos;

dificuldades de memória; dificuldades no manuseio de dicionários e mapas;

dificuldades de copiar do quadro ou dos livros; dificuldades de entender o tempo:

passado, presente e futuro; tendência a uma escrita desordenada e às vezes

incompreensível; não utilização de sinais de pontuação / acentuação gramaticais;

inversões; omissões; reiterações e substituições de letras, palavras ou sílabas na leitura e

na escrita, problemas com conseqüências. Essas são apenas algumas das características

disléxicas que podem ser observadas nas crianças com dificuldades de ler / compreender

e escrever corretamente à ausência de problemas intelectuais ou de outro tipo de

problemas que possam dar uma explicação alternativa ao problema apresentado, então

podemos suspeitar de uma possível dislexia. Numa primeira etapa da aprendizagem,

algumas crianças podem apresentar estas características, e esses são considerados erros

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normais dentro do processo de aprendizagem, é preciso distinguir essas dificuldades das

dificuldades disléxicas que são mais profundas, constantes e contínuas. Crianças com

expressivas dificuldades de leitura não são necessariamente disléxicas, mas todas as

crianças disléxicas têm um sério distúrbio da leitura. O diagnóstico precoce é

imprescindível para o desenvolvimento contínuo das crianças disléxicas. Reconhecer as

características é o primeiro passo para que se possam evitar anos de dificuldades e

sofrimentos, induzindo esta criança, fatalmente ao desinteresse pela escola e a tudo o

que está em torno dela, gerando às vezes “quadros-fóbicos”, desta criança em relação às

tarefas que exijam a leitura e a escrita. Crianças com dificuldades escolares seja qual for

a raiz do problema, necessitam de educação, atenção e ensino diferenciados para que

possam desenvolver suas habilidades, e quanto mais cedo for detectado o problema,

melhores serão os resultados.

Uma das grandes frustrações dos pais é saber que seu filho tem problemas

escolares. O certo seria procurar apoio nas escolas, com os professores, mas estes

também muitas vezes não sabem o que fazer. Isso porque não foram instruídos para tal.

As universidades não capacitam os educadores para lidar com os sérios problemas de

aprendizagem. Este é um problema muito complexo, mas certamente todos apontam o

dedo para o aluno, ou para os seus pais, ou para a escola.

Como pais precisamos ultrapassar os limites da culpabilidade e enfrentarmos,

junto com nossos filhos, suas dificuldades e mostrarmos que nosso amor por eles não

existe em função de suas notas escolares. Essa é uma associação muito perigosa.

Como educadores precisamos caminhar, por conta própria, em busca das

informações necessárias para que este quadro se modifique. Não podemos esperar que

as informações cheguem às nossas mãos através da Escola. Elas não chegarão. As

universidades não preparam seus alunos, futuros professores, para atender às

necessidades das crianças disléxicas. E elas existem. Estão por aí em todas as salas de

aula. Até que desistam.

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Necessita-se instaurar dentro das escolas medidas preventivas essenciais para a

reestruturação do aluno em sua forma mais abrangente, evitando assim, as situações

traumatizantes que os problemas de aprendizagem escolar causam em algumas crianças

que neste atual momento não são, ao menos, respeitadas. Toda e qualquer dificuldade

escolar tem uma causa e uma solução. Ninguém nasce com dificuldades escolares, elas

aparecem ao longo do caminho e precisam ser observadas, respeitadas e solucionadas.

É tarefa de todo e quaisquer educadores, sejam eles os pais ou os professores, ter

como base ética o compromisso de ver desenvolver-se dignamente e efetivamente a

aprendizagem acadêmica de seu(s) educando(s), buscando novas formas de

aprendizagem, novos programas e processos de ensino que possam colaborar para a

inclusão destas crianças no mundo das letras, ajudando0as a sobreviver dentro deste

único modelo de escola que se nos apresenta. Não podemos mais continuar contribuindo

para que nossa sociedade padeça com as conseqüências que a desinformação dos

problemas escolares promove; não podemos mais fechar os olhos e calar. Precisamos

urgentemente lutar para que as informações e as novas formas de aprender cheguem

dentro das escolas, aos educadores e aos pais.

Precisamos restaurar a dignidade humana a nível nacional, mas só o faremos

quando pudermos compreender as graves conseqüências sociais que o insucesso escolar

provoca, gerando uma relação inadequada entre esta criança e o Mundo.

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CAPÍTULO IV

DISLEXIA: PROBLEMA, SÍNDROME,

MÁ ALFABETIZAÇÃO?

“Se ao olhar para as sementes plantadas pelo tempo você souber dizer qual grão irá brotar e qual não irá, diga.”

William Shakespeare

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DISLEXIA: PROBLEMA, SÍNDROME, MÁ ALFABETIZAÇÃO?

Existe uma concordância de opiniões entre os estudiosos segundo a qual é dever

pesquisar os motivos que levam uma criança a não aprender. Eles divergem, entretanto,

quando começam a discutir as causas da não aprendizagem e a relevância dos fatores

que podem perturbar o aprendizado do aluno, sem dúvida.

Muitas crianças, no início da aprendizagem da leitura e da escrita, apresentam os

mais variados “erros”. Trocam letras, às vezes “escrevem em espelho”, não conseguem

aglutinar palavras. Isso já é esperado e tende a desaparecer à medida que forem

assimilando os conceitos necessários a essas habilidades.

Há casos, porém, em que os “erros” persistem e a criança, mesmo apresentando

uma inteligência normal, tem dificuldade de ler e escrever. Ela pode estar apresentando

o que muitos educadores chamam de “dislexia”.

A criança disléxica tem dificuldade de compreender o que está escrito e de

escrever o que está pensando, consequentemente pode perturbar a mensagem que recebe

ou que expressa. Quando tenta expressar-se no papel, o faz de maneira incorreta, o que

torna difícil para o leitor compreender as suas idéias. Por causa disso, muitos

professores confundem dislexia com debilidade mental. Essas duas questões não têm

relação entre si. A debilidade mental apresenta-se como um retardo global, enquanto o

disléxico, muitas vezes, tem um nível intelectual normal e até superior. Normalmente

produz bem em todas as disciplinas e só se defronta com dificuldades quando precisa ler

e escrever.

A descoberta sobre a existência do quadro de dislexia deu-se entre o final do

século passado e início deste. Ao longo destes anos, muitos estudos foram realizados

com o objetivo de se compreender melhor este problema.

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Em 1895, um cirurgião oftalmologista inglês, James Hinshelwood ( in

CONDEMARIN, 1989, P. 45 ), analisando alguns casos de adultos que, por

traumatismo craniano, perderam a faculdade de ler, deu o nome a esta enfermidade de

“cegueira verbal”. Mais tarde, chamou de “cegueira verbal congênita” o problema de

algumas crianças que não aprendiam ou tinham dificuldade para ler. Afirmava que

muitas delas, para compensar, memorizavam certas palavras.

Na época de Hinshelwood, a ciência médica, no que se referia ao estudo direto

do cérebro, era muito limitada e foi incapaz de verificar a analogia que acreditava

existir entre o defeito no relato lingüístico e algum defeito cerebral. Mesmo assim,

tentou provar que a cegueira verbal congênita era uma possível causa dos problemas de

linguagens, por exclusão de outras influências. Embora possamos questionar sua lógica,

não podemos deixar de lhe atribuir o devido valor. Ela deu uma grande contribuição no

sentido de incentivar estudos sobre os adultos e crianças que apresentavam dificuldades

de leitura e escrita.

Samuel Orton ( in CONDEMARIN, 1989, p. 154 ), um neurologista americano,

preocupado com os problemas de trocas de letras e confusões de imagens especulares,

chamou o quadro de “estrefossimbolia”. Segundo ele, essas distorções dos símbolos que

as crianças apresentavam eram devidas à simetria dos hemisférios cerebrais direito e

esquerdo. Existe, portanto, uma conexão entre eles de forma que:

“...A mensagem captada referente a uma letra em um hemisfério

é a imagem em um espelho da mensagem captada sobre a mesma

letra no outro hemisfério. A criança, assim, tem duas imagens,

sendo uma a imagem em espelho da outra e isto tem a tendência

de confundi-la quando ela precisa distinguir imagens especulares

verdadeiras, tais como “p” e “q”, “b” e “d”.”( Ibidem, p.126 )

A criança normal, para ele, seria aquela que tem uma maior maturidade cerebral,

pois à medida que cresce, seus hemisférios esquerdo e direito desempenham funções

distintas e assim ela supera as confusões de imagens em espelho. A criança com

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dificuldade de leitura, portanto, seria aquela que ainda está presa a estas confusões

cerebrais em razão de uma maior lentidão do desenvolvimento do cérebro.

Orton atraiu perto de si diversos seguidores e sua teoria ainda hoje é discutida.

Para Conderman ( op.cit., p.167 ), no entanto, o princípio em que aquele estudioso

fundamentou sua teoria já estava errado, pois Orton viu apenas um tipo de erro de

leitura, que nem todas as crianças com atraso de leitura apresentam.

Para esses autores, Orton teve valor à medida que propôs ensinar às crianças

com dificuldades de leitura, métodos multissensoriais, com o objetivo de entrelaçar os

sentidos de movimento, tato, audição e visão no desenvolvimento da leitura e da escrita.

Este tópico sobre a dislexia tem suscitado diversas polêmicas no mundo todo,

pois alguns autores negam e outros confirmam a existência deste quadro.

Citarei, agora, algumas das idéias mais marcantes as quais encontrei num dos

meus momentos de pesquisa sobre o assunto abordado:

• Para Santos (2001, p.23), Dislexia em um sentido restrito, designa

somente dificuldade diante da leitura e da escrita dos indivíduos sem

problemas outros sem aprendizagem e sem déficit sensorial ou de

adaptação.

Neste sentido, ele vê a dislexia como síndrome pedagógica e apresenta os

distúrbios que podem vir associados: distúrbios da fala e da linguagem, da estruturação

espaço-temporal, do esquema corporal, do sentido de direção, da percepção do ritmo.

Em sentido amplo, a dislexia significa quaisquer dificuldades que as crianças possam

apresentar na aprendizagem da leitura, não importando a causa.

O Centro de Pesquisa da Educação Especializada e de Adaptação Escolar

(CRESAS) na França formulou a seguinte questão a diversos autores:

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Existe uma patologia da aprendizagem da Língua escrita?

Launay ( in Ajuriaguerra, 1984, p.115) faz uma distinção entre doença, que para

ele significa “entidade específica com causa determinada” e síndrome, que define como

“uma associação de sintomas cuja origem é necessário procurar em fatores múltiplos de

maneiras diversas”. Launay opta pela segunda concepção afirmando ser a dislexia não

somente uma dificuldade para adquirir como também uma

“...freqüência e reprodução de confusões de sons e de inversões,

a incapacidade para organizar a língua escrita. (...). A Dislexia é

concebida como um distúrbio psicopedagógico. Entre os fatores

do meio ocupa um lugar o fator pedagógico, e não certamente

porque uma pedadogia inadequada possa por si só criar uma

dislexia, mas porque pode encaminhar uma criança com uma

maturidade medíocre para o caminho da dislexia.”( Ibidem,1984,

p.120)

Chiland ( in Ajuriaguerra, 1984, p.125 ) dá maior ênfase às desigualdades entre

as crianças que entram na escola, desigualdades estas provenientes de seu meio

sociocultural e familiar. Ele afirma que “os termos dislexia e disortografia não

deveriam utilizar-se em outro sentido senão aquele puramente descritivo, sem

pressupor uma enfermidade de dislexia ou um distúrbio constitucional hereditário.”

Dugas (in Ajuriaguerra, 1984, p.130), diante da discussão entre o normal e o

patológico, distingue alguns casos em que se pode detectar realmente uma patologia. “É

o caso de crianças que apresentam um quadro de deficiência intelectual ou

personalizada muito conturbada, ou ainda deficiência intelectual ou personalidade

muito conturbada, ou ainda deficiência auditiva, que origina uma incapacidade para

adquirir uma articulação normal.”

Na dislexia, as crianças fracassam na leitura e ortografia, mas possuem grande

êxito em cálculo. Isto pode vir a contrariar o enfoque de quadro patológico impingindo

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ao problema. Outro fator é a ausência de perturbações sensoriais, intelectuais ou afetivas

anteriores às dificuldades.

Dugas afirma, ainda, ser difícil tentar situar o limite entre o patológico e o

normal, e condena toda a classificação como ilusória e antiquada.

Pode-se distinguir três tipos de dislexia:

• dislexias constitucionais: que acompanham grandes perturbações

como, por exemplo, a lateralização mal estruturada, perturbações da

palavra e da linguagem;

• dislexias afetivas que são provocadas por bloqueios afetivos. Ele cita

algumas causas da dislexia como retardos e perturbações do

desenvolvimento da criança e neste sentido entram em jogo a

lateralização, o esquema corporal, a orientação espaço-temporal e a

estabilização dos valores; igualmente os atrasos da linguagem, as

defici6encias da percepção auditiva, visual e as causas pedagógicas,

em especial nos casos em que a criança aprende a ler muito cedo,

antes de atingir a maturidade para isso. Ele não acredita que o método

pedagógico adotado nas escolas possa ser caso de dislexia porque

então os distúrbios da leitura seriam muito mais constantes;

• dislexia de evolução, que são detectadas por ocasião das primeiras

letras e que podem ser provocadas por métodos de aprendizagem

defeituosa.

Alguns autores acreditam que existem problemas de aprendizagem em razão das

desordens localizadas dentro das agnosias, mas também reconhecem que, em todos os

outros casos, a dislexia é utilizada apenas como um nome mais elegante para traduzir

simplesmente a dificuldade para aprender a ler e/ou escrever.

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Diante de toda a polêmica que foi exposta, parece-nos que se deve distinguir, as

dislexias causadas por um problema mais grave como deficiência intelectual,

deficiência auditiva ou visual grave, problemas estes que podem ser provocados por

lesões corticais, traumatismos cerebrais, por exemplo. Neste caso, a dislexia estaria

acompanhada por outros quadros patológicos, fáceis de identificar e, provavelmente,

permanecerem constantes, sendo apenas suavizados por uma redução. E por outro lado,

a dislexia apresentada por uma criança com uma inteligência normal ou superior que

apresenta dificuldades em leitura e escrita, particularmente em relação aos seguintes

erros: inversões, confusões de letras, omissões, repetições, distorções de letras e sílabas,

contaminações de palavras, escrita em espelho, trocas de letras, de sílabas ou de

palavras.

“Existe um caráter sistemático dos erros, isto é, repetições

constantes do mesmo tipo de erros e concomitância destes erros

com os distúrbios citados, possibilitando claramente a

diferenciação deste quadro de um simples atraso pedagógico com

o qual é muitas vezes confundido.”( SCOZ, 2000, p. 135 )

Salienta-se ainda que o método de alfabetização pode levar a uma dificuldade de

aprendizagem, mas não se encaixa no quadro de dislexia. Os erros pedagógicos mais

comuns são as confusões entre “ç” e “ss”, entre “l” e “u”, entre “s” e “z”, “m” antes de

“p” ou “b”, ou no final das palavras como por exemplo: “mossa” em vez de “moça”,

“auma” em vez de “alma”, “meza” em vez de “mesa”, “canpo” em vez de “campo”.

A seguir, especifica-se alguns erros mais freqüentes que as crianças “ditas”

disléxicas apresentam, apontados por diversos autores:

a) confusão no reconhecimento de sinais orientados diferentemente (letras simétrica ): d

e b; n e u: p e q.

b) discriminação auditiva pobre que se traduz pela confusão entre letras foneticamente

semelhantes: t e d; f e v; p e b; ch e f.

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c) leitura escrita em espelho ( imagem especular ).

d) repetição de palavras ou sílabas: a meninamenina correu..., a menina correu...

e) na escrita, união das palavras: umdiaeu fuipassear;

f) inversão na ordem das palavras por falta de orientação temporal: crote por corte;

g) omissão de letras, palavras, sílabas: o meno gostou bolo do menino gostou do bolo;

h) confusão das letras de formas parecidas: l e i; t e f; g e j; a e o; v e u;

i) pular uma linha ou perder a linha quando lê, sem perceber;

j) substituição de palavras por outras ou criação de palavras com significado diferente:

soltou por salvou; bebeu por deu;

k) adições ou omissões de sons, sílabas ou palavras: canecão – cação, viver por viaver;

l) ilegibilidade na escrita;

m) leitura silábica, hesitante, com voz monótona.

4.1 - ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO

O propósito nessa monografia não é criar a expectativa no sentido de que o

educador diagnostique uma provável “dislexia” ou qualquer outro problema neurológico

mais sério vivido por seu aluno. O seu campo de atuação é psicopedagógico e, portanto,

deve se limitar a ele. Não se trata de catalogar ou rotular as crianças, mas de

compreender o problema de forma global, sem se ater a um ponto de vista somente.

Reconhecendo que existem algumas crianças que apresentam maior número de

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dificuldades em leitura e escrita, pode o professor auxiliá-las no sentido de tentar

corrigir ou minimizar essas dificuldades.

“Será que o contingente de alunos inadaptados na escola é

possuidor de uma síndrome? Será que o sistema como um todo

seja fruto de uma síndrome de não saber ensinar?”

( SCOZ,2000, p.152)

Como educadores e psicopedagogos, não podemos esquecer de outras

indagações igualmente importantes: Será que não estamos deparando com crianças que

realmente têm alguma limitação? Dislexia é somente um nome elegante que se atribui

às dificuldades de leitura e escrita. Existirá realmente uma patologia?

Não podemos ficar esperando que todas as respostas a estas perguntas sejam

respondidas. Algo tem de ser feito nesse sentido.

Enquanto os teóricos põem em discussão estas questões, muitas crianças estão

“repetindo” o ano escolar, estão se frustrando dada sua dificuldade de ler e escrever e

estão saindo da escola. O professor também se frustra por não ter conseguido fazer que

seus alunos tenham aprendido.

Temos de nos preocupar também com uma visão prática: o que podemos fazer

por estas crianças? Não podemos mais ficar somente no plano teórico, procurando os

culpados para o não aprender. Algo tem de ser feito e “já”. A dificuldade de

aprendizagem, uma vez instalada, tem de ser pesquisada e sanada.

Muitos professores em classes numerosas não conseguem dar conta de algumas

crianças que “resistem” em aprender, sejam disléxicas ou não. Elas precisam ser

compreendidas, trabalhadas, se não para cura-las, ao menos para minimizar suas

dificuldades e auxilia-las a conviver com elas e criar estratégias e formas de atuação

satisfatórias.

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A Psicopedagogia, neste sentido, tem uma grande contribuição a dar. Seu

objetivo primordial é compreendê-las enquanto aprendizes, e levá-las a reintegrar-se à

vida escolar normal.

O psicopedagogo, ao centralizar sua tarefa no aluno, tem como objetivo

aumentar suas potencialidades, propiciando o desenvolvimento de sua capacidade de

aprender. Instrumentaliza também o professor, sugerindo, por exemplo, diferentes

formas de apresentação de conteúdos, propondo a busca de materiais e recursos

alternativos para auxiliar a criança a reintegrar-se à vida acadêmica.

Seu objetivo é desenvolver estratégias, procurando as condições mais

satisfatórias para que os alunos possam aprender.

Se um psicopedagogo estiver atento às dificuldades dos alunos e se preocupar

verdadeiramente com aqueles que não acompanham a classe, saberá descobrir o que

pode estar afetando sua aprendizagem. Saberá, também, descobrir os meios que

facilitariam um melhor desenvolvimento acadêmico.

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CAPÍTULO V

O PAPEL DA ESCOLA

“Como sou capaz de ensinar aos outros quando não tenho controle nem sobre mim mesmo?”

François Rabelais

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O PAPEL DA ESCOLA

Freqüentemente verificamos que existe uma porcentagem significativa de

crianças que têm encontrado dificuldades em apresentar um bom desempenho

acadêmico segundo as exigências escolares. Como conseqüência desses fracassos,

ocorrem as desadaptações e, com elas, ansiedades e problemas emocionais.

Esta frustração continuada leva as crianças a deixar o sistema educacional.

Abandonam as escolas, entretanto, com a sensação de perda, de fracasso, com o

sentimento de que são incapazes de assimilar qualquer coisa que seus professores lhes

proponham ensinar. Ou então, são encaminhadas para os diferentes profissionais que

“de fora” tentam fazer seu reajuste e sua reintegração nos bancos escolares.

Alguns autores afirmam que algumas crianças possuem um “obstáculo

invisível”, pois apresentam-se normais em vários aspectos, exceto nas suas limitações

no progresso da escola.

O número de crianças que apresentam dificuldades para ler, ortografar, soletrar,

escrever, calcular, pensar, privando-se, com isto, de um acesso maior à cultura e ao seu

meio social, é muito grande.

Sabemos que os objetivos da Escola de Integração da criança na sociedade estão

cada vez mais esquecidos por muitos que se dizem “educadores”. Ela tem excluído

duramente as crianças que têm menos facilidade de aprender. Muitas vezes são as que

mais precisam dela, pois são provenientes de um meio sociocultural desprivilegiado.

A Escola também segrega as crianças que já estão suficientemente segregadas

em razão do meio sócio-econômico-cultural. Acaba reproduzindo os mesmos controles

da sociedade e, com isto, “expulsa”, dos meios de comunicação e cultura, crianças que

têm maior dificuldade em se comunicar.

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Vemos muitos professores com programas, procedimentos de ensino, materiais

de instrução totalmente inadequado e desestimulantes, e especialmente carente da

flexibilidade necessária para adaptar os objetivos do ensino às diferenças individuais

dos alunos. Muitas das atividades em sala de aula são sem sentido para as crianças e,

assim, as aprendizagens tornam-se difíceis e desmotivadoras.

O relacionamento professor-aluno também é outro fator que pode influenciar no

processo ensino-aprendizagem. O professor tem de ser aberto às perguntas e indagações

dos alunos e trata-los com respeito, não importa a idade que tenham. As classes

superlotadas também podem dificultar o conhecimento mais individualizado que o

educador pode ter em relação à sua classe. Por meio do controle rígido, o professor vai

selecionando e punindo crianças que não conseguem realizar as tarefas que propõe.

A base que a escola oferece depende do que cada criança traz como bagagem no

momento da aprendizagem, e as diferenças encontradas acabam ocasionando uma maior

dificuldade daquela criança que já se acha defasada em seu desenvolvimento.

O fracasso escolar é atribuído unicamente ao aluno, o qual é apontado como

aquele que não quer aprender. Este aluno é freqüentemente castigado e ameaçado tanto

pelos professores quanto por seus pais.

Essas altas taxas de fracasso escolar são muitas vezes atribuídas à própria

criança, sendo explicadas por “doenças” que ele possuiria. É por este motivo que ela é

sempre encaminhada para inúmeras clínicas de reeducação.

Uma ressalva temos de fazer quanto quanto à responsabilidade da escola diante

das dificuldades acadêmicas do aluno. Como falamos acima, a Escola tem sua parcela

de culpa, mas ela não pode arcar sozinha com as desadaptações encontradas em suas

classes. Alguns alunos vêm para as escolas com diversos déficits, com níveis de

maturidade desiguais ou inferiores ao que se espera em sua idade cronológica.

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Muitos trazem uma bagagem cultural, social, intelectual, neurológica muito

defasada em relação aos seus companheiros e isto constitui desvantagens às vezes

cruciais para a aprendizagem da leitura, escrita e cálculo.

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CAPÍTULO VI

TROCANDO AS LETRAS

“Todas as coisas possuem sinais; um sábio consegue aprender sobre um objeto a partir da observação de outro”.

Plotino

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TROCANDO AS LETRAS

A Dislexia costuma afetar a auto-estima e a segurança de seus portadores. Mas

não impede que eles construam carreiras brilhantes.

Estúpido, limitado, lento, indolente. Nos primeiros anos escolares, esses termos

grosseiros fazem parte do dia a dia de algumas crianças. As letras, para elas, surgem

como fantasmas. A professora está mais para personagem de filme de terror e todos os

colegas parecem mais inteligentes e melhores. Afinal, eles podem ler e escrever sem

misturar o “p” com o “b”, sem gaguejar e não precisam repetir várias vezes o texto para

entender. Depois da aula, é a hora de fazer a lição de casa - o momento da tortura diária

- e ouvir a mãe reclamando que nada mais adianta. Os anos passam e, com alguns

truques, o problema da leitura e da escrita consegue passar despercebido, mas a

insegurança está longe de desaparecer. Por mais que a carreira seja brilhante e que as

provas de competência intelectual estejam fora de moda, as palavras “estúpido””,

“limitado” e “indolente” ainda fazem eco na cabeça de muitos adultos - incluindo

executivos e empresários bem-sucedidos.

Essa síndrome - a dislexia - atinge cerca de 10% da população mundial.

Atormenta, em muitos casos, homens e mulheres de sucesso, pessoas de destaque no

mundo corporativo ou no meio artístico - personalidades que despertaram justamente

pela inteligência ou pela criatividade acima do normal. Nomes como Albert Einstein,

Michelangelo e Leonardo da Vinci fazem parte da galeria dos gênios disléxicos. Entre

os representantes desse clube no mundo corporativo estão o banqueiro Charles Schwab;

John Chambers. CEO da Cisco Systems: o inglês Richard Brason, fundador da Virgin

Records e Craig McCaw, um dos barões americanos das telecomunicações.

A dislexia, por si só, não comprometeu suas carreiras. Mas, em muitos casos,

deixou resquícios - sobretudo traumas psicológicos - que dificultaram seus caminhos no

ambiente de trabalho.

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Ainda pouco conhecido entre os brasileiros, o distúrbio de linguagem como

também é chamada a dislexia tem origem genética e é mais freqüente em homens do

que em mulheres ( a proporção é de três para um ). Os estudos sobre o que ocorre no

cérebro de um disléxico ainda estão engatinhando, o que retarda a identificação precoce

do problema, prejudicando o tratamento. Os sintomas mais nítidos, dificuldade para ler,

escrever e soletrar palavras, costumam ser confundidos com preguiça, indolência e

limitação intelectual. Segundo uma pesquisa realizada em março de 2003 pelo Instituto

Americano, ainda relacionam os distúrbios e aprendizado com retardamento mental.

Pela própria falta de conhecimento, muitas vezes a dislexia é diagnosticada

quando o adulto já conheceu todas as formas de disfarçar suas falhas e esconder o

problema. “É muito comum o pai descobrir que é disléxico quando leva o filho para

uma consulta”, diz o neurologista Luiz Celso Vilanova, chefe do setor de neurologia

infantil da Escola Paulista de Medicina. “Nesse momento ele começa a entender todas

as dificuldades pelas quais passou quando pequeno.”

Sem o apoio escolar, alunos disléxicos não conseguem ir muito longe. Tiram

sucessivas notas baixas e costumam ser alvo de piadas dos colegas de classe. Migrar de

escola em escola nessa fase da vida é algo comum.

“Repetir a primeira série três vezes e meus pais decidiram me transferir de um

colégio para outro”, diz o paulista Maurício Abdalla, de 59 anos, dono da Convivium,

empresa de eventos. “Numa das escolas, a professora dividia a sala em três turmas,

conforme o nível de cada aluno: aviões, automóveis e carros de boi. Eu ficava sempre

na última.” ( CARDOSO, 2001, p.. 92 )

Abdalla escondeu o distúrbio durante boa parte de sua vida. Sempre leu com

muita dificuldade e trocava ou subtraía letras ao escrever. Aos 23 anos, após várias

reprovações escolares, fez um teste vocacional para descobrir qual sua aptidão

profissional. “ O psicólogo disse que eu não tinha condições de fazer uma faculdade”.

Diz: “Acabei optando por um curso técnico.” Sem gostar da área que escolheu, e mesmo

duvidando do sucesso no vestibular, decidiu concorrer a uma vaga no curso de

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economia da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Foi um dos mais bem

classificados no exame. “Sempre tive que estudar mais que os outros para entender o

conteúdo das matérias”, diz Abdalla. Na faculdade, não foi diferente. Precisou gravar

algumas aulas, já que não pretendia prestar atenção e escrever ao mesmo tempo. Os

trabalhos eram feitos com dias de antecedência para que tivesse tempo suficiente de

pesquisar ( ele chega a ler três vezes um texto para entender o assunto ). Abdalla

terminou a faculdade em quatro anos, fez mestrado em Madri e chegou a dar aulas na

Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo ( FEA-USP ).

Apesar do sucesso profissional e da carreira acadêmica em ascensão, ele não se sentia

seguro para assumir novas funções. “Rejeitava as promoções, dizendo que havia alguém

mais bem preparado para assumir a “vaga”, afirma. “Acabava agindo na retaguarda.

Pior do que não ser promovido seria falar sobre o seu problema.”

Isoladamente, a dislexia não causaria graves danos à carreira profissional. Mas

suas conseqüências podem ser funestas no dia a dia do trabalho. A insegurança é a mais

comum - e talvez a pior - delas. “Conheço adultos bem sucedidos e com carreira

brilhante que continuam a sofrer com o estigma da insegurança”, diz a fonoaudióloga

paulista Lúcia Conde, que estuda distúrbios de aprendizado há 25 anos. “Isso depende

muito do equilíbrio profissional, mas geralmente eles apresentam a auto-estima

prejudicada.”

Insegurança, sensação de incompetência, medo de tomar decisões e de falar em

público são algumas das seqüelas mais comuns na vida profissional dos disléxicos. Para

driblar o problema, os executivos costumam buscar apoio na tecnologia ( o corretor

ortográfico do computador, um gravador ) ou em auxiliares discretos ( uma secretaria

que corrija eventuais erros e filtre algumas de suas falhas ). “Tentei fazer mais de dez

cursos de inglês, mas não consegui aprender o idioma.” Diz Abdalla. “A solução foi

contratar uma secretária bilíngüe, que, além de suprir minha carência, corrige alguns

dos meus textos em português.”

O mineiro Renato Costa, de 30 anos, executivo de uma empresa de informática

em São Paulo, utiliza três ferramentas que ele considera fundamentais para o bom

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andamento de sua carreira: o Delta Talk, um programa que converte o texto escrito em

fala, o corretor ortográfico ( queridinho dos disléxicos ) e o Power Translator, que

traduz textos do inglês para o português automaticamente. “Sem eles, seria praticamente

impossível trabalhar”, afirma Costa, que descobriu a dislexia há apenas dois anos,

quando levou a filha para fazer um exame a fim de diagnosticar o distúrbio. Como a

maioria dos disléxicos, Costa passou por humilhações no colégio, tirou notas baixas,

repetiu várias vezes de ano e sempre se achou diferente da turma. “Não entendia por que

não conseguia aprender como os outros”, diz ele.

Sentir-se os últimos dos mortais faz parte da vida dos disléxicos. Afinal, nada

parece mais simples do que ler e escrever, e os adultos, principalmente os que atingiram

altas posições na carreira em geral não entendem esse tipo de limitação. Pior, sentem-se

envergonhados ao declarar que são incapazes, por exemplo, de redigir uma carta. “A

pergunta que sempre ronda o universo daquele que sofre do distúrbio é: “Porque todos

conseguem e eu não?”, diz Lúcia. “Isso é um tormento para eles.”

Era exatamente o que sentia o americano Charles Schwab, criador da maior

empresa de investimentos online do mundo. Excelente aluno nas disciplinas de

Matemática, Ciências e Esportes, ele era uma negação nas aulas de Inglês. Não

conseguia ouvir o professor e escrever ao mesmo tempo, memorizar quatro palavras de

uma só vez ou ler fluentemente um romance. “Deus, eu realmente devo ser um estúpido

nessa matéria”, costumava dizer Schwab em sua época de estudante. Ele escondeu até

cinco anos atrás esse distúrbio, quando criou uma fundação que ajuda os pais de

crianças com dislexia. “Você não quer que as pessoas descubram suas fraquezas”, diz

ele. “Dislexia era um verdadeiro peso para mim.”

Embora existam controvérsias no meio médico, a maioria dos especialistas

acredita numa cura quase total do distúrbio. Para isso, é necessário acompanhamento de

um psicopedagogo e de um fonoaudiólogo, que costumam trabalhar nas principais

deficiências do paciente. Em alguns casos é possível melhorar em até 80% as falhas do

disléxico, diz Maria Ângela, coordenadora da Associação Brasileira de Dislexia ( ABD

), “Alguma dificuldade com leitura ou escrita, porém, o paciente sempre vai ter.”

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6.1 - Alguns diléxicos que fizeram história

• JOHN CHAMBERS, presidente mundial da Cisco Systems

• JÚLIO CÉSAR, general e imperador romano

• THOMAS A. EDSON, inventor e fundador da General Eletric

• WHOOPI GOLDBERG, atriz americana

• FRANKLIN D. ROOSEVELT, presidente dos Estados Unidos

• PABLO PICASSO, pintor espanhol

• GEORGE WASHINGTON, Líder da independência dos EUA

• CHARLES SCHWAB, fundador da MAIOR EMPRESA DE

INVESTIMENTOS ONLINE

• CRAIG McCAW, pioneiro da telefonia celular nos EUA

• WALT DISNEY, o pai do Mickey Mouse

• NAPOLEÃO BONAPARTE, GENERAL FRANCÊS

• BILL HEWLETT, co-fundador da HP

• CHARLES DARWIN, o pai da teoria da evolução

• SCOTT ADAMS, o criador do Dilbert

Entre outros...

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CAPÍTULO VII

COMO IDENTIFICAR UM ALUNO DISLÉXICO

“Só aquele que é digno faz coisas

importantes, ensina como podem ser feitas,

ou descreve-as com grandeza quando elas

são realizadas.”

John Milton

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COMO IDENTIFICAR UM ALUNO DISLÉXICO

A aprendizagem da fala e, consequentemente, da leitura e da escrita é um

processo progressivo, no qual a criança vai integralizando experiências auditivas,

verbais e visuais, diferenciando sons e símbolos, uns dos outros, atribuindo-lhes

significados e armazenando-os na memória.

Para isso, Nora Cecília Bocaccio Cinel, especialista de Sistemas Educacionais -

Porto Alegre/ RS nos apresenta algumas dicas de como identificar um aluno disléxico

para que possamos trabalhar melhor em sala de aula e até mesmo poder ajudar tal aluno

em suas dificuldades com mais embasamento.

Mesmo com todas as dificuldades que a dislexia pode trazer para a vida escolar

de uma criança, é possível contornar o problema. O mais importante é que os pais – e

principalmente os professores – estejam sempre atentos. O grau da doença varia muito e

os sinais costumam ser inconstantes. A seguir algumas das características mais comuns:

• A criança é inteligente e criativa – mas tem dificuldades em leitura, escrita e

soletração.

• Costuma ser rotulado de imaturo ou preguiçoso.

• Obtém bons resultados em provas orais, mas não em avaliações escritas.

• Tem baixa auto-estima e se sente incapaz.

• Tem habilidade em áreas como arte, música, teatro e esporte.

• Parece estar sempre sonhando acordado.

• É desatento ou hiperativo.

• Aprende mais facilmente fazendo experimentos, observações e usando recursos

visuais.

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7.1 - Visão, Leitura e Soletração

• Reclama de enjôos, dores de cabeça ou estômago quando lê.

• Faz confusões com as letras, números palavras, seqüências e explicações verbais.

• Quando lê ou escreve comete erros de repetição, adição ou substituição.

• Diz que vê ou sente um movimento inexistente quando lê, escreve ou faz cópia.

• Parece ter dificuldades de visão, mas exames de vista não mostram o problema.

• Lê repetidas vezes sem entender o texto.

• Sua ortografia é inconstante.

7.2 - Audição e Linguagem

• É facilmente distraído por sons.

• Tem dificuldades em colocar os pensamentos em palavras. Às vezes pronuncia de

forma errada palavras longas.

7.3 - Escrita e Habilidades Motoras

• Dificuldades com cópia e escrita. Sua letra muitas vezes é ilegível.

• Pode ser ambidestro. Com freqüência confunde direita e esquerda ou acima e

abaixo.

7.4 - Matemática e Gerenciamento do Tempo

• Tem problemas para dizer a hora, controlar seus horários e ser pontual.

• Depende dos dedos ou outros objetos para contar. Muitas vezes sabe a resposta, mas

não consegue demonstrá-la no papel.

• Faz exercícios de aritmética, mas considera difícil problemas com enunciados.

• Tem dificuldade em lidar com dinheiro.

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7.5 – Memória e cognição

• Excelente memória a longo prazo para experiências, lugares e rostos. No entanto

têm memória ruim para seqüências e informações que não vivenciou.

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CONCLUSÃO

Após pesquisar a fundo sobre o problema da Dislexia, conclui-se que no início

da alfabetização é comum que apareçam dificuldades de leitura e compreensão de

palavras. Mas, se permanecerem, podem indicar um distúrbio de aprendizagem de

origem genética, a dislexia.

Epistemologicamente, dislexia é uma alteração dos neurotransmissores cerebrais

que impede uma criança de ler e compreender com a mesma facilidade com que o

fazem as crianças da mesma faixa etária, independente de qualquer causa intelectual,

cultural ou emocional. Todo o desenvolvimento da criança é normal, até entrar na

escola. É um problema de base cognitiva que afeta as habilidades lingüísticas associadas

à leitura e à escrita.

Segundo a Federação Mundial de Neurologia (World Federation of Neurology)

dislexia “trata-se de uma desordem (dificuldade) manifestada na aprendizagem da

leitura, independentemente de instrução convencional, adequada inteligência e

oportunidade sócio-cultural. É, portanto, dependente de funções cognitivas, que são de

origem orgânica na maioria dos casos.”

Entendemos que dislexia é uma dificuldade de aprendizagem caracterizada por

problema na linguagem receptiva e expressiva, oral ou escrita. As dificuldades podem

aparecer na leitura e na escrita, soletração e ortografia, fala e compreensão e em

Matemática.

As crianças disléxicas apresentam a leitura lenta, trabalhosa e isso interfere na

compreensão do texto lido. Em geral, sofrem com a discalculia (dificuldade de

calcular), porque não entendem os enunciados das questões.

Ao estudar o termo disgrafia notei o quão é complexo e controvertido, uma vez

que alguns autores consideram o quadro como um distúrbio puramente motor ( apraxias

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), outros associam a quadros disléxicos, ou seja, o distúrbio motor vem acompanhado de

trocas grafêmicas e, outros ainda, colocam a disgrafia associada a quadros afásicos.

Em virtude dessa controvérsia, concluí desta amostragem que a disgrafia é vista

como um distúrbio da escrita por dificuldade motora de execução, caracterizada por

letra de déficit traçado e em alguns momentos ilegíveis.

Quanto a dislexia em si, conclui que é uma dificuldade específica para ler,

escrever, soletrar ou enumerar. Está associada a deficiências de memória imediata. As

pessoas disléxicas costumem ter problemas de coordenação e de auto-organização. As

pesquisas intensivas as quais realizei para concluir minha monografia revelou-me que a

estrutura do celular do cérebro disléxico é diferente. Existe, além disso, um fator

hereditário e, segundo pesquisas mais recentes, tem igual importância um componente

genético.

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ÍNDICE DOS ANEXOS ANEXO 1 MENSAGEM PARA OS PROFESSORES QUE LIDAM COM DISLÉXICOS ..........78

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ANEXO 1

MENSAGEM PARA OS PROFESSORES QUE LIDAM COM DISLÉXICOS

• Interesse-se pelo seu aluno disléxico. Ele se sente inseguro e preocupado com as

suas reações. • Dê-lhe atenção individualizada sempre que possível. Ele deverá saber o que pode

perguntar sobre o que não compreende. • Estabeleça critérios para seus trabalhos em termos concretos para que possa

entender, sabendo que realizar um trabalho sem erros está fora de suas possibilidades. Avalie seu progresso em comparação com ele mesmo, com seu nível de possibilidades. Avalie seu progresso em comparação com ele mesmo, com seu nível especial, não com o nível dos demais em suas áreas deficientes, ajude-os nas áreas em que ele precisa melhorar.

• Esteja certo que ele entendeu as tarefas. Divida as lições em partes e comprove passo a passo se ela entendeu. O disléxico não é INCAPAZ! Ele compreende muito bem as instruções se você for dando passo a passo.

• As informações novas, deve-se repeti-las mais de uma vez, devido ao seu problema de memória de curto prazo.

• Ele requer mais “prática” que um estudante sem dislexia. • Ele necessita de ajuda para relacionar conceitos novos com conceitos anteriores. • Dê-lhes mais tempo: para organizar seus pensamentos, para terminar o seu trabalho. • Se não há limites de tempo, estará menos nervoso e em melhores condições de

mostrar o seu trabalho. • Alguém pode ajuda-lo lendo-lhe o material de estudo e em especial as provas.

Muitos disléxicos compensam os primeiros anos com esforços de pais e professores pacientes em ler-lhes e passar-lhes as lições oralmente. Se tem que se ler para aprender ou praticar, tem que ser feito em livros, que estão em seu nível. Alguns podem ler em voz alta e assim mesmo não compreender o significado do texto.

• Evite a correção sistemática de todos os erros em sua escrita. • Se possível, faça exames orais, evitando as dificuldades que se sobrepõe de sua

leitura, escrita e capacidade de organização. • Deve-se levar em conta que se levará mais tempo para fazer as tarefas de casa que

os demais alunos da classe. Se cansa mais que os outros. Procure dar-lhes um trabalho mais rápido que os demais alunos da classe. Não aumente suas frustrações.

• É fundamental fazer observações positivas sobre o seu trabalho. Orientá-lo sobre o que está ao seu alcance poderá ajudá-lo. Elogiar e estimular sempre que possível.

• É fundamental ser consciente da sua necessidade de desenvolver sua alta estima. Deverá dar-lhe oportunidades.

• Para destacar-se em sua classe, evite compará-lo a outros alunos em termos negativos. Não fazer jamais chacotas sobre suas dificuldades.

• Não fazê-lo ler em voz alta, em público contra a sua vontade. É uma boa medida encontrar algo que a criança se sente boa e estimular sua auto-estima mediante estímulo e êxito.

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• Deve considerar, como dito antes, avalia-lo sobre suas possibilidades, esforços e êxitos, em vez de avaliá-lo a respeito dos outros alunos da classe. É o sentimento de obter êxito que o leva ao sucesso. O fracasso lhe conduz ao fracasso.

• Permita-lhe aprender com as maneiras que lhe são possíveis, com instrumentos alternativos a leitura e a escrita; dicionários, calculadoras, tabuadas, computador, etc...

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BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO.........................................................................................................2

AGRADECIMENTO .......................................................................................................3

DEDICATÓRIA ...............................................................................................................4

EPÍGRAFE .......................................................................................................................5

RESUMO ..........................................................................................................................6

METODOLOGIA..............................................................................................................7

SUMÁRIO ........................................................................................................................8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................9

CAPÍTULO I

DISLEXIA.......................................................................................................................11

1.1 - Definição ................................................................................................................12

1.2 - Diagnóstico .............................................................................................................16

1.3 - Causas .....................................................................................................................19

1.4 – Produções textuais .................................................................................................22

1.5 – Dislexia específica .................................................................................................27

1.6 – Dislexia visual e auditiva .......................................................................................28

CAPÍTULO II

GRAFIA E DISGRAFIA.................................................................................................32

2.1 – Grafia .....................................................................................................................33

2.1.1 – Fundamentação científica da escrita ...................................................................35

2.1.2 – Evolução do grafismo .........................................................................................35

2.2 – Conceito de disgrafia .............................................................................................38

2.2.1 – Classificação das disgrafias ................................................................................39

2.2.2 – Etiologia das disgrafias .......................................................................................41

2.2.3 – Sintomatologia ....................................................................................................44

2.2.4 – Intervenção psicomotora nas disgrafias ..............................................................45

CAPÍTULO III

A DISLEXIA E OUTROS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM...............................46

CAPÍTULO IV

DISLEXIA: PROBLEMA, SÍNDROME, MÁ ALFABETIZAÇÃO ?...........................51

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4.1 – Enfoque psicopedagógico ......................................................................................58

CAPÍTULO V

O PAPEL DA ESCOLA..................................................................................................61

CAPÍTULO VI

TROCANDO AS LETRAS.............................................................................................65

6.1 – Alguns disléxicos que fizeram história ..................................................................70

CAPÍTULO VII

COMO IDENTIFICAR UM ALUNO DISLÉXICO.......................................................71

7.1 – Visão, leitura e soletração ......................................................................................73

7.2 – Audição e linguagem .............................................................................................73

7.3 – Escrita e habilidades motoras ................................................................................73

7.4 – Matemática e gerenciamento do tempo .................................................................73

7.5 – Memória e cognição ..............................................................................................74

CONCLUSÃO.................................................................................................................75

ÍNDICE DOS ANEXOS.................................................................................................77

Anexo 1 – Mensagem para os professores que lidam com os disléxicos .......................78

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................80

ÍNDICE ...........................................................................................................................82

FOLHA DE AVALIAÇÃO ............................................................................................83

Page 84: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … CRISTINA DA SILVA FREITAS.pdf · No entanto, existem autores que contestam essas idéias, que acreditam não haver evidências para

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da monografia: DISLEXIA

Autora: Penha Cristina da Silva Freitas

Data da entrega:

Rio de Janeiro, _______ de Janeiro de 2004.

Avaliado por: _________________________ Conceito: ______________

Avaliado por: _________________________ Conceito: ______________

Avaliado por: _________________________ Conceito: ______________

Conceito final: _______________________________________________