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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE Ivacilda Souza Kropf de Abreu Agosto de 2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

Ivacilda Souza Kropf de Abreu

Agosto de 2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO SURDO E SUAS

DIFICULDADES

Esse trabalho monográfico tem por objetivo desenvolver a profundidade

de conteúdos e a reflexão de possíveis soluções na Educação

Inclusiva.

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AGRADECIMENTOS

A todos que me auxiliaram e

contribuíram para a realização

desse trabalho acadêmico.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho

introdutório a minha filha Michelle

que neste semestre iniciou uma nova

etapa de sua vida e ao meu pai Francisco

que durante a elaboração deste texto se

afastou definitivamente de nosso convívio.

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ÍNDICE

Folha de rosto ................................................................................................1 Agradecimentos .............................................................................................3 Dedicatória ....................................................................................................4 Metodologia ...................................................................................................6 Resumo .........................................................................................................7 Introdução .....................................................................................................9

I- Um pouco da Fonoaudiologia:...........................................................12

II- O papel do professor no aprendizado de surdos ....................................15 III- O porquê incluir o surdo na Escola Regular............................................20 IV- A importância da LIBRAS na educação dos surdos...............................26 Conclusão....................................................................................................40 Bibliografia...................................................................................................44 Atividades Culturais.....................................................................................50

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METODOLOGIA

Para dar subsídios a este trabalho de revisão bibliográfica fez-se necessário

buscar conhecimentos teóricos em livros, revistas e artigos que abordassem pontos

importantes referentes ao tema. Pretende-se, com este trabalho mostrar a

importância do aluno especial na educação inclusiva e o quanto ainda tem-se a

desenvolver na prática. Com o objetivo de maior entendimento sobre o tema

escolhido, efetivou-se uma intensa leitura da bibliografia proposta buscando

posteriormente uma análise crítica das informações encontradas, ampliando assim

minha visão.

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RESUMO

Após uma longa revisão bibliográfica o objetivo desse trabalho é a reflexão

quanto a importância da língua de sinais como primeira língua para surdos e para o

ensino-aprendizagem e de sujeitos que tiveram acesso tardio a língua de sinais.

Tendo como base uma pesquisa realizada por uma das autoras, verificou-se o

desconhecimento de sujeitos surdos quanto à diferença existente entre a língua

brasileira de sinais (LIBRAS) e a língua portuguesa, embora todos fossem usuários

da primeira. Concluiu-se que há a necessidade de que movimentos sejam realizados

para que uma real transformação dos sujeitos possa ser empreendida,

principalmente no que se refere ao reconhecimento da LIBRAS em seu valor social,

pois se este processo não for realizado, aos surdos cabe, apenas, a submissão ao

português, na medida em que esta língua continua a ocupar um papel sócio-

ideológico central na constituição dos processos lingüísticos e da subjetividade

desses sujeitos. Esta mudança só poderá ocorrer se uma transformação nas

relações estabelecidas por estes sujeitos nas diversas esferas sociais for objetivada.

Desse modo, a LIBRAS poderá assumir o lugar independente do período de vida em

que ela for desenvolvida, determinando uma transformação quanto aos lugares

assumidos pelos surdos na sociedade.

Na escola regular, a inclusão dos deficientes auditivos vem sendo abordada

a partir de diferentes perspectivas, dentre elas os direitos da pessoa com deficiência

e o exercício da cidadania, a exposição à língua de sinais ou ao português e a

modalidade de ensino. Havendo ainda há pouca discussão sobre a implantação da

inclusão escolar, em especial sobre a percepção dos professores envolvidos.

Focando desta forma, vê-se a surdez como diferença e não deficiência. Os

novos paradigmas estão nos moldando, para que tenhamos novos conceitos com

relação aos portadores de necessidades especiais, pois a inclusão é um processo

constante e que pensemos nela, não como uma ação inalcançável e sim praticá-la o

tempo inteiro.

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Devemos ver a deficiência uma incapacidade do indivíduo de exercer

determinadas funções, mas que nada impede dele conduzir sua vida dentro dos

padrões da normalidade e para isso é necessário a ajuda de profissionais

competentes, éticos, criativos que possibilitem condições adequadas com a

realidade em que o portador está inserido. Não há dúvidas que o novo assusta,

intimida e, muitas vezes imobiliza. Talvez, o obstáculo para a mudança esteja dentro

de cada um de nós.

O principal para superação dos obstáculos é o reconhecimento de que toda

pessoa é única e diferente, com suas competências, aptidões inaptidões, erros e

acertos. Daí a importância de respeitar as diferenças e valores de cada um,

assinalando a riqueza da diversidade e da pluralidade, sabendo que essa diferença

é fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade.

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INTRODUÇÃO

A inclusão dos deficientes auditivos na escola regular vem sendo

abordada a partir de diferentes perspectivas, dentre elas os direitos da pessoa

com deficiência e o exercício da cidadania, a exposição à língua de sinais ou ao

português e a modalidade de ensino. Porém, ainda há pouca discussão sobre a

implantação da inclusão escolar, em especial sobre a percepção dos professores

envolvidos nesse processo. Nessa medida como a política de educação inclusiva

e o seu processo de implantação junto ao aluno com deficiência auditiva tem sido

sutilmente colocados em prática por professores da Educação Infantil e Ensino

Fundamental da rede municipal de ensino.

A inclusão de surdos na escola regular tem gerado discussões e

polêmicas entre muitos estudiosos, profissionais e familiares que buscam uma

melhor qualidade de ensino para estes alunos.

O termo inclusão ainda se confunde com integração. Prática

desenvolvida nas décadas de sessenta e setenta, a integração tinha como foco

de atenção a deficiência e visava à modificação da pessoa deficiente na direção

da normalidade, para que, assim fosse aceita pela sociedade.

Já o movimento de inclusão, que iniciou nos anos oitenta, pressupõe

mudanças na sociedade, para que esta se torne capaz de receber e acolher

adequadamente às pessoas portadoras de necessidades especiais. Nessa

perspectiva, a diversidade é considerada como própria condição humana e o

sujeito com deficiência, parte integrante da sociedade, com direito às mesmas

oportunidades, pois só assim suas potencialidades poderão ser desenvolvidas.

Tendo em vista os inúmeros problemas apresentados por crianças

diferentes ao acesso a qualquer instituição educacional, este trabalho introdutório

merece estudos aprofundados sobre a parceria entre a Fonoaudiologia e a

Educação que atualmente afetam diversas modalidades.

Serão abordadas questões relacionadas problemática encontrada na

inserção, integração de crianças que estão em processo de desenvolvimento da

aprendizagem.

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Serão enfatizadas situações pelas quais as crianças passam durante este

processo que muitas das vezes é de origem institucional. Foram surgindo algumas

escolas especiais e centros de reabilitação.

O não atendimento especial aos portadores de deficiência em qualquer

situação constitui uma barreira absolutamente marcante, produzindo efeitos que

poderão acompanhar a criança desde a infância ou por toda a sua vida adulta.

O fonoaudiólogo tem a percepção do quanto o ambiente em que a criança

está inserida tem papel fundamental no processo de socialização.

O fonoaudiólogo trabalha com a linguagem verbalizada, e entende-se

claramente sobre a importância do foco educacional em relação dos surdos.

A escola tem a preocupação central com o ensino da fala como pré-requisito

para as demais aprendizagens. O ensino da articulação oral do português sempre

esteve na preocupação dos profissionais dentro das escolas de surdos.

Grande parte das crianças que ingressam na Escola Infantil ou de

Ensino Fundamental apenas chega com o diagnóstico de deficiência auditiva,

sem a utilização de aparelho de amplificação sonora (AASI), além de não

estarem inseridas a nenhum processo terapêutico para o desenvolvimento de

uma língua, quer seja na modalidade oral ou de sinais.

Tal situação tem gerado problemas na implantação da educação

inclusiva dos surdos, pois, sem terem se apropriado da língua oral, língua de

sinais ou escrita, o trabalho dos professores fica limitado, comprometendo assim

o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, os procedimentos de ensino

baseiam-se na língua oral e, muitas vezes, o aluno não consegue desenvolvê-la.

De fato, este aspecto tem sido apontado por diversos autores como grande

entrave para a inclusão do aluno surdo no âmbito escolar.

Serão abordadas no primeiro capítulo, um pouco sobre a história da

Fonoaudiologia.

Serão abordadas no segundo capítulo, questões relacionadas ao papel do

professor no aprendizado dos surdos, com ênfase especial no que o surdo é capaz.

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No terceiro capítulo, serão abordadas questões relacionadas a concepções

sobre linguagem e surdez e porquê incluir (inserir) o surdo na escola regular.

No quarto capítulo será abordada a importância da LIBRAS na educação

dos surdos dando ênfase a oralização, ou seja ao bilingüismo.

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CAPÍTULO 1

Um pouco da Fonoaudiologia

A história da Fonoaudiologia no Brasil era vista como Educação Especial, na

época do Império se pensava na reabilitação. Em 1912 o médico escolar Augusto

Linhares foi o grande iniciador da Fonoaudiologia no Brasil, no momento em que

proporcionava o inicio das pesquisas de reabilitação dos distúrbios da comunicação

e também cursos para orientação a professores. Na década de 1930, o professor

era visto como um profissional especializado que atuaria dentro da escola como

medida de prevenção e correção dos vários vícios de linguagem e defeitos da fala

de crianças.

Em 1930 e 1940, Souza Mendes e Júlio Vieira publicaram trabalhos a

respeito dos problemas da voz.

Pedro Bloch (RJ) e Mauro Spinelli (SP) trouxeram a Foniatria para o Brasil

como especialidade médica. No Rio de Janeiro, o Instituto de Educação de Surdos

(INES) ficou com responsabilidade da escolarização de deficientes auditivos, mas

também tinha preocupação voltada para os problemas da voz, fala e linguagem. São

Paulo ficou mais voltado para os problemas de escolaridade decorrentes da surdez,

mas ambos os estados tratavam dos problemas de comunicação. Nas décadas de

40 e 50 manifestava-se a concretização do profissional especializado que era a

professora, atuando na eliminação dos problemas de fala, surgindo então a palavra

ORTOFONIA que significa pronúncia normal e correta, ruído de vozes ou a arte de

combinar sons, conseqüentemente a palavra Ortofonia foi substituída por Terapia da

Palavra. Nesta mesma época, Pedro Bloch fez a reeducação dos problemas da fala

e voz, criando o setor de Foniatria da Associação Brasileira Beneficente de

Reabilitação (ABBR). Em 1947, Mauro Spinelli no Serviço de Otorrinolaringologia

(USP) iniciou o atendimento educacional à criança com problemas de linguagem. As

professoras de surdos Rute Pereira e Ivete Vasconcelos encontram-se na

Sociedade Pestalozzi e se dedicaram ao estudo da surdez. Em 1947 Ivete

Vasconcelos vai para o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Em 1963

Ivete se apresenta no XII Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e em 1964 no

Congresso Mundial do México. Em 1965 é criado o Centro de Terapia da Palavra, da

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Secretaria de Educação e na década de 80 esse centro teve seus trabalhos

absorvidos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Em 1964 na Sociedade Pestalozzi do Rio de Janeiro encontram-se Lúcia

Bentes e Rute Pereira, ambas de trajetória paralela trabalhando no magistério

primário e os “diferentes”. O distúrbio de linguagem é o que as aproxima e

recebendo uma bolsa da Organização dos Estados Americanos (OEA) vai para o

México, freqüentar o Instituto Mexicano de Audição e Linguagem e na Educação dos

Surdos. No Brasil formaram três cursos de Terapia da Linguagem, que foram

reconhecidos pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC). Em 1965, com a morte

de Lúcia Bentes o curso foi extinto e Rute Pereira cria o Setor de Reabilitação da

fala no Instituto de Reabilitação Motora.

O curso de Logopedia foi criado em 1965 por Júlio Ferreira de Souza,

Hermínio de Lima e Edir Pinheiro Alves na cadeira de otorrinolaringologia do

Hospital São Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em 1961 Edmée Brandi atuava como especialista em voz e audição da

Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), inicialmente com

atendimento aos alunos e funcionários da faculdade.

Nas décadas de 60 e 70 profissionais atuantes na área de comunicação

começaram a lutar pela regulamentação da profissão e legitimar o perfil desse

profissional. Em 1961 com a criação dos cursos da Universidade de São Paulo, foi

dado o inicio ao ensino da Fonoaudiologia no Brasil vinculado à clínica de

otorrinolaringologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Pontifície

Universidade Católica (PUC), de São Paulo. No Rio de Janeiro é criado o primeiro

serviço especializado de terapia da palavra pela Secretaria de Educação dentro das

escolas municipais e oficializadas pelo Governo Estadual.

Em 1969 foi implantado no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, o setor

de foniatria no Serviço de Saúde. Nos anos 70, profissionais atuantes na área da

comunicação passaram a lutar com movimentos pelo reconhecimento dos curso e

regulamentação da profissão. Só em 1977 o curso de Fonoaudiologia da

Universidade de São Paulo (USP), foi o primeiro a ter funcionamento autorizado.

Em Brasília, no dia 09 de dezembro de 1981, o então presidente João

Batista Figueiredo, de acordo com o Ministério da Saúde, finalmente aprova a lei n°

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6965/81, regulamentando a profissão de fonoaudiólogo que, de acordo com a

referida lei, o fonoaudiólogo é o profissional com graduação plena que atua em

pesquisa, prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológica na área da comunicação

oral e escrita, voz e audição, bem como aperfeiçoamento dos padrões da fala e da

voz.

Em 1985 a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro criou o quadro

de fonoaudiólogos e somente em 13/04/1996que a resolução n° 157 determinou os

critérios de concessão do título de especialistas em quatro áreas distintas:

Audiologia, Motricidade oral, Linguagem e Voz.

A Fonoaudiologia, que começou com técnica, hoje faz parte das ciências de

comunicação, pesquisando comunicação patológica, estudando teorias, auxiliando

na atuação diante dos novos paradigmas impostos pelos projetos implementados na

reforma do sistema educacional brasileiro, de forma eficiente e eficaz.

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CAPÍTULO - 2

O Papel do Professor no Aprendizado dos Surdos

Os surdos precisam de mais tempo para se familiarizar com a escrita. Eles

trabalham muito com o visual, portanto precisam, ler estudar muito, ler muito o

dicionário, para entender esse universo que eles não conseguem ouvir.

Tudo leva tempo. É com a experiência que eles aprendem. E o papel do

professor é muito importante para esse aprendizado.

Todo surdo é capaz de ter fluência na escrita e na leitura se for trabalhado

com maior interferência do outro, seja professor, família ou fonoaudiólogo.

É preciso que os professores tenham conhecimento da surdez e percebam

que precisam utilizar em sala de aula mais estratégias visuais e contextualizadas, já

que a utilização somente da fala fará com que esses alunos não participem das

aulas da mesma forma que os ouvintes. Além disso, como em geral o surdo baseia-

se na língua brasileira de sinais (libras) para escrever, vestígios dessa língua

aparecerão na sua escrita, por isso o professor deve ter conhecimento de todo esse

processo e realizar uma avaliação diferenciada da escrita desses alunos.

É possível chegar a um resultado positivo desde que sejam observadas

algumas especificações. O processo de aquisição da linguagem escrita baseia-se na

interação com o outro deve ser um parceiro, interprete, mediador na produção da

escrita, deve interferir no processo quando necessário. Se preciso for deve construir

o texto em conjunto, comentando, discutindo, preenchendo as lacunas que faltam,

modificando as estruturas truncadas, aproximando o texto do português padrão.

A falta de conhecimento da língua brasileira de sinais é tida como um

dificultador no processo de aprendizado. Nem todo surdo tem domínio da língua de

sinais.Dessa forma, alguns chegam ao ensino regular sem uma língua partilhada

com o professor, ou seja sem utilizar de forma fluente a língua português ou a língua

de sinais. É importante que o professor partilhe uma língua com os surdos, pois será

por meio dessa língua que poderão interagir. No caso do surdo que domina a língua

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de sinais, é fundamental que seu professor também a domine, pois essa língua irá

permitir que seus enunciados sejam interpretados.

Para que o trabalho dê resultado, as escolas devem priorizar um trabalho

com linguagem escrita. Atividades como: leitura de vários materiais escritos ou

visuais (seqüencias de figuras, fotos, histórias, jornais, livros, filme em vídeo). Após

a leitura e a explicação do texto, o professor pode solicitar ao aluno que escreva

algo a respeito, como sua opinião, uma narrativa, um poema. Além disso, o

professor pode partir de assuntos trazidos pelo próprio aluno, como filmes,

programas de televisão, assuntos do dia-a-dia, noticias, receitas, cartas, piadas,

experiências. Após a discussão sobre cada assunto o professor pode solicitar ao

aluno que escreva uma noticia, faça um cartaz para a escola, monte um jornalzinho,

invente um novo final para uma história ou escreva uma carta.

Somente a partir 1990, as propostas inclusivas com deficiência passaram a

ser discutidas na Política Nacional de Educação. O Art. 208 da Constituição define

ser dado, preferencialmente, na rede regular de ensino. A inclusão de surdos no

ensino regular, o Ministério da Educação propõe que as escolas regulares ofereçam

atividades em classe comum, com professores capacitados para o atendimento às

necessidades educacionais dos alunos. Com o apoio de professor de educação

especial, se for o caso, do intérprete libras /língua portuguesa, em concordância com

o projeto pedagógico da instituição. Também deve ter serviços de apoio

especializado, complementado domiciliar,também em sala de recursos, em classes

especiais no atendimento domiciliar, ou outros contextos definidos pelo sistema de

ensino.

As salas de recurso são situadas nas escolas regulares e devem contar com

a participação de professor preparado para o atendimento. Os alunos devem

freqüentar as salas de recursos retoma constantemente os conteúdos trabalhados

em classe comum, utilizando Libras para repassar informações complementares da

disciplina e dando ênfase à língua portuguesa escrita.

Com relação às classe especiais, localizada nas escolas regulares, essas

são recomendadas aos alunos que não apresentam condições de freqüentar classes

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comuns. Essas salas são compostas por cerca de dez alunos surdos, que devem

ser atendidos por um professor que, de preferência, possua especialização na área

de ensino para surdos e conhecimento da língua de sinais.

Mas a criação de classes especiais ou salas de recursos para surdos ainda

não foi efetivada devido à falta de recursos financeiros e humanos. Portanto o

Governo Federal lançou o Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos

(PNAES), destinado a viabilizar a implementação, em todo o território nacional, de

Centros de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas

com Surdez (CAS).Tais centros, localizados nas capitais, objetivam qualificar

professores de municípios menores, elaborar material didático específico para a

educação bilíngüe, assim como orientar familiares e profissionais envolvidos com

surdos.

O Ministério da Educação propôs a atuação de intérprete nas classes

regulares, a profissão ainda não está regulamentada em todo Brasil. Infelizmente

ainda são poucos os locais do Brasil que tem experiência com a prática de

intérpretes em sala d aula, principalmente no ensino fundamental. A formação de

intérpretes em libras é algo recente e só aqueles que freqüentam os grandes centros

urbanos têm acesso; por essa razão, ainda é escasso o número de pessoas

habilitadas para cumprir essa função. Além disso, nota-se que grande parte dos

professores que atuam em escolas regulares ainda não está preparada para receber

os alunos surdos, pois existem dificuldades de comunicação entre o professor e o

aluno, o que restringe as possibilidades de aprendizagem do surdo.

O aprendizado na vida de um surdo é constante, pois ele está sempre

aprendendo, construindo vocabulário.

O estímulo da família, dos professores e dos profissionais é muito importante

para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, pois basta que todos trabalhem

com profissionalismo e empenho.

As dificuldades de cada criança, relatadas na ocasião da matrícula ou

percebidas pelos professores, são analisadas pelas equipes técnicas do Instituto

Municipal Helena Antipoff. É claro que o progresso das crianças depende

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principalmente do empenho das partes envolvidas e o professor tem o papel

fundamental nesse caminho.

Nas escolas municipais, alunos especiais são integrados nas classes

regulares conforme os critérios do Instituto Municipal Helena Antipoff.

Na área da saúde, a população pode utilizar os Núcleos de Atendimento

integral.

As deficiências dos alunos da Rede Municipal devem ser informadas pelos

responsáveis na ocasião do preenchimento da ficha de matrícula. Há casos em que

elas são identificadas pelas equipes de acompanhamento específico. A orientação

dada segue sempre a direção da inclusão das crianças e adolescentes especiais, as

quais dispõem das chamadas salas de recursos, uma espécie de atendimento

complementar à rotina escolar.

O Instituto Municipal Helena Antipoff, além de ser um centro de pesquisas,

dá atendimento a alunos, oferecendo várias atividades como braile, dança, música,

teatro e artes em geral.

O importante é que as famílias tenham consciência da importância do

trabalho da escola e dos hospitais. E, quanto mais cedo este trabalho começar,

maiores as chances de sucesso e integração social da criança.

Hoje, em pleno século 21, há famílias que escondem seus deficientes, por

preconceitos ou vergonha de exibi-los à comunidade, o que é inadmissível.

No que se refere ao âmbito escolar, segundo documento do MEC (2004) , a

partir da década de oitenta ocorreram alguns eventos e fatos marcantes ligados à

democratização do ensino, objetivando um processo mais significativo de

formação para os indivíduos portadores de deficiência. Dentre eles, destacam-se

a Conferência Mundial de Educação para todos ( Tailândia, 1990 ), a Conferência

Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e qualidade

(Espanha, 1994) e a Convenção dos Estados Americanos (Guatemala, 1999) (

Brasil,2004).

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Foi proclamada a Declaração de Jomtiem, segundo a qual a

“educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as

idades, no mundo inteiro”. Ao assinar tal declaração, o Brasil assumiu perante a

comunidade internacional o compromisso de erradicar o analfabetismo e

universalizar o ensino fundamental no país. Para cumpri-lo, vem criando

instrumentos norteadores da ação educacional inclusivos, nas diferentes esferas

públicas: municipal, estadual e federal.

A Declaração de Salamanca, 1994, veio reafirmar tal proposta ,

defendendo que as pessoas de necessidades especiais devem ter acesso às

escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na

criança, capaz de atender a essas necessidades. Essa política representa o meio

mais eficaz de combater atitudes discriminatórias, de criar comunidades

acolhedoras, construir uma sociedade integradora e oferecer educação para

todos (Brasil, 2004).

Com intuito de definir políticas públicas nacionais, e em consonância

com as recomendações desses dois importantes documentos, em 1996 o Brasil

elaborou a Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional, LDB/9394/96. A

partir dessa lei,aos municípios brasileiros foi atribuída a responsabilidade de

universalizar o ensino público para todos os cidadãos de 0 a 14 anos de

idade.Assim passou a ser papel do município formalizar a decisão política e

desenvolver os passos necessários para implementar, em sua realidade

sociogeográfica, a educação inclusiva, âmbito da Educação Infantil e Ensino

Fundamental (Brasil, 2004).

Porém, apesar das políticas educacionais atuais advogarem a

inclusão escolar dos alunos portadores de necessidades educacionais especiais,

sua implementação e operacionalização tem sido difíceis para o aluno surdo.

Quais seriam, então, os fatores que estariam criando obstáculos para a

inclusão do surdo na educação formal?

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CAPÍTULO – 3

Porque incluir o Surdo na Escola Regular?

3.1 Concepções sobre linguagem e surdez

As principais abordagens teóricas utilizadas para explicar questões

relativas à aquisição da linguagem em crianças ouvintes vêm contribuindo para a

compreensão desse processo em crianças surdas, permitindo refletir também

sobre suas conseqüências na intervenção terapêutica ( Alcântara, 2000).

Basicamente, as grandes linhas teóricas que tratam do tema são:

comportamentalista, inatista, cognitivas, pragmática e interacionista.

Na visão comportamentalista, a linguagem é considerada como

resultado de aprendizado, que se dá através da cadeia de estimulo-resposta-

reforço, sendo que o reforço se faz presente para garantir a presença de um

determinado comportamento, no caso verbal (Alcântara, 2000).

Segundo esse modelo, como destacam Lacerda e Mantelatto (2000),

conhecer uma língua significa ligar sentenças, associá-las umas às outras. Os

enunciados emitidos vão sendo modelados por meio de reforço e, cada vez mais,

vão se tronando aceitáveis. O aprendizado se dá por aquisição de vocábulos e de

estruturas frasais, havendo uma hierarquia das mais simples para as mais

complexas. Espera-se, então, que a criança percorra esse caminho para adquirir

linguagem.

Aplicada à questão da deficiência auditiva, a grande preocupação

dessa linha teórica é desvendar como a criança surda deve ser ensinada a falar.

Nesse contexto, o adulto tem como função estimular a aprendizagem das

estruturas da língua de forma gradual, priorizando aspectos lexicais e

morfossintáticos.As práticas de ensino de intervenções terapêuticas baseadas no

comportamentalismo tendem a fragmentar a língua, promovendo atividades

padronizadas que focalizam a imitação, memorização e substituição e que devem

ser generalizadas para a formação de estruturas frasais. Trata-se de um trabalho

tecnicista de treinamentos, mais formal, sintético e orientado (Lacerda e

Mantelatto,2000).

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Diferentemente do comportamentalismo, no inatismo a predisposição

para a aquisição de linguagem é vista como uma capacidade inerente ao

organismo humano, conhecendo-se a existência de uma gramática universal já

inscrita na mente do indivíduo. Esse mecanismo seria ativado por meio da

exposição à fala do outro, permitindo à criança gerar as regras da língua

(Alcantara, 2000)

e previamente, condições para desenvolver a gramática da língua à qual

está sendo esta decorrente de uma predisposição inata. Ou seja, não é

necessária a medição do adulto.Os componentes sintáticos da língua são mais

enfatizados, e o segmento da gramática se dá, principalmente, quando a criança

começa a combinar dois vocábulos.Nesse sentido, a recepção precede a

emissão, uma que a segunda depende da primeira (Lacerda e Mantelatto, 2000).

No caso das crianças surdas, a adoção do modelo inatista implicou

em se assumir que, assim como as ouvintes, elas nasceriam com um dispositivo

para adquirir linguagem, mas precisariam de uma exposição ao input lingüístico.

Nessa concepção, enfatiza-se a necessidade de um trabalho precoce, na

tentativa de oferecer à criança surda uma exposição continua e adequada à

língua durante os primeiros anos devida, período considerado ideal para adquiri-

la (Trenche, 1995).

Na análise dos trabalhos com linguagem voltados a crianças surdas,

Rosa (1998) critica as propostas da intervenção que investem no aspecto

acústico-articulatório. A autora aponta que algumas abordagens enfatizam a

percepção auditiva com pré-requisito para a linguagem, outras reconhecem a

necessidade de uma exposição sistemática a estruturas frasais, obedecendo a

uma hierarquia de complexidade morfossintático-semântica, esperando que, por

meio da repetição as crianças surdas venham a dominar uma língua. Subjacente

a tais práticas, parece estar uma concepção que reduz a linguagem à

comunicação.

Há também uma outra concepção de linguagem, que se estrutura na

teoria genética de Piaget. Embora este autor tivesse como foco aspectos do

Desenvolvimento cognitivo humano, seus estudos inspiraram vários

autores que se dedicam a linguagem.

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Na concepção piagetiana, a criança constrói a compreensão do modo

como o mundo funciona, primordialmente, por meio de suas ações. Passa então,

por uma série de estágios que seguem uma seqüência fixa, sendo os principais

deles: sensório motor (do nascimento aos 18 meses), pré-operacional ( dos 18

meses aos 7 anos), operações concretas (dos 7anos aos 11 anos), das

operações formais (dos 11 anos e diante). Nessa visão, o desenvolvimento da

linguagem é limitado pelo desenvolvimento cognitivo; ou seja, há aspectos da

linguagem que a criança só será capaz de dominar depois de atingir um nível

correspondente de controle cognitivo (Elliot, 1982).

Também Lacerda e Mantelatto (2000) afirmam que, do ponto de vista de

Piaget, a linguagem não pode emergir antes que certas operações motoras

tenham sido adquiridas, pois é na interação motora do sujeito com suas meio

estruturas cognitivas se desenvolvem. Nessa abordagem, a função da linguagem

é representar o mundo; contudo, a cognição percebe a linguagem, uma vez que a

criança fala sobre aquilo que já manipula em níveis não lingüísticos.

Ainda de acordo com essa concepção, a linguagem faz parte de uma

função mais ampla, a semiótica, que emerge no final do período sensório motor e

possibilita à criança, por meio de um signo ou de imagem simbólica, evocar

objetos ou fatos ausentes, ultrapassando assim o nível de ação (Alcantara,

2000).

Outra visão que trouxe novas reflexões para a área da aquisição da

linguagem, que influenciou o trabalho voltado à criança surda, foi a pragmática.

Nessa concepção, que surgiu na década de setenta, o importante é o uso da

linguagem na comunicação; ou seja, a aquisição acontece no diálogo. Nele a

criança teria oportunidade de se apropriar das regras e praticar os aspectos

sintáticos, semânticos e pragmáticos em contextos significativos, adquirindo

também as regras que regulam o uso desse conhecimento na comunicação com

os outros (Alcantara, 2000).

Esses estudos apontam a criança surda com interlocutor capaz de se

comunicar, porém, poucos consideram o papel que o adulto desempenha nesse

processo como co-autor na construção do diálogo.

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No inicio dos anos oitenta, a interação social passou então a ser

considerada, tendo-se como base as idéias de Vygotsky (1987,1989, apud

Alcantara, 2000). Nessa perspectiva, o desenvolvimento das funções cognitivas

aconteceria na interação da criança com membros mais experientes, que seriam os

mediadores entre as crianças e o mundo.

Fundamentada em Vygotsky, De Lemos propõe que a aquisição de

linguagem pela criança se dá na interação com um interlocutor privilegiado,

geralmente a mãe.Os trabalhos da autora (1981,1982, apud Alcantara, 2000)

instauram a questão da interação adulto/criança, sendo que, como resultado da

ênfase nessa interação, o diálogo, e não os enunciados isolados, passa a ser

considerado como unidade de análise nos estudos sobre aquisição de linguagem.

Considerada mais abrangente, a visão sócio-interacionista’ compreende

a linguagem humana como constitutiva do sujeito, focalizando então as

interações entre os interlocutores e os modos como se desenvolvem as práticas

discursivas. Nessa perspectiva, a língua não é um sistema de que o sujeito se

apropria para usá-la, mas é reconstruída na atividade de linguagem.

Como a inclusão não é igualdade, percebe-se que hoje os adultos

portadores de necessidades especiais estão preocupados com as crianças especiais

por que no futuro, essas crianças não venham enfrentar tantas barreiras como hoje

eles enfrentam.

A inclusão diz respeito a cada pessoa se capaz de ter oportunidades de

escolha e autodeterminação. Em educação, isso significa ouvir e valorizar o que a

criança tem a dizer, independentemente de sua idade ou de rótulos.

Em busca de definições é necessário falarmos da diferença essencial entre

inclusão e integração. Embora os termos sejam, muitas vezes, usados com se

fossem sinônimos, há uma diferença real de valores e de prática entre eles.

A integração envolve preparar os alunos para serem colocados nas escolas

regulares, o que implica em conceito de “prontidão” para transferir o aluno da escola

especial para a escola regular. O aluno deve adaptar-se à escola, e não há

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necessariamente uma perspectiva de que a escola mudará para acomodar uma

diversidade cada vez maior de alunos. A integração significa tornar as escolas

regulares em escolas especiais para o sistema regular de ensino, mesmo quando

eles parecem não ser necessários.

A inclusão implica uma reforma radical nas escolas em termos de currículo

avaliação, pedagogia e formas de agrupamento dos alunos nas atividades de sala

de aula.Ela é baseada em um sistema de valores que faz com que todos se sintam

bem-vindos e celebra a diversidade que tem como base o gênero, a nacionalidade, a

raça a linguagem de origem, o nível de aquisição educacional, o ambiente social ou

a deficiência.

As escolas regulares não podem recusar a matrícula de um aluno especial

argumentando não estarem preparado. As leis sobre diversidade:

- Em 1990 o ECA ( Estatuto da Criança e do Adolescente) garante o direito à

igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, sendo o Ensino

Fundamental obrigatório e gratuito.

- Em 1994 veio a Declaração de Salamanca, que tem efeito de lei, diz que

também devem receber atendimento especializado as crianças excluídas da escola

por motivos como o trabalho infantil e abuso sexual. As que têm deficiência graves

devem ser atendidas no mesmo ambiente de ensino que todas as medidas.

- Em 1996, a LDB no seu parágrafo 2° do Artigo 59 provocou confusão,

dando como entender que dependendo da deficiência, a criança só podia ser

atendida em escola especial.

Em 1998 a Constituição da República garante o direito à escola para todos e

prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

- Em de 2000 Lei N° 10.048 e N° 10.098 A primeira garante atendimento

prioritário de pessoas com deficiência nos locais públicos. A segunda estabelece

sobre acessibilidade física e define como barreira obstáculos nas vias e no interior

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dos edifícios, nos meios de transporte e tudo o que dificulte a expressão ou o por de

mensagens por intermédio dos meios de comunicação, sejam ou não de massa.

- Em de 2001 Decreto N° 3.956 ( Convenção da Guatemala) Põe fim às

interpretações confusas da LDB, deixando clara a impossibilidade de tratamento

desigual com base na deficiência. O acesso ao Ensino Fundamental é, portanto, um

direito humano e privar pessoas em idade escolar dele, mantendo-as unicamente

em escolas ou classes especiais, fere a convenção e a Constituição.

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CAPÍTULO - 4

A importância da língua de sinais na educação de surdos

O reconhecimento formal da língua de sinais ocorreu em 1984 quando a

UNESCO declarou que as línguas de sinais deveriam ser reconhecidas como

sistema lingüístico legitima. Pessoas surdas e com grave impedimento auditivo

devem ser reconhecidas como uma minoria lingüística, com o direito especifico de

ter sua língua de sinais nativa aceita como sua primeira língua oficial e como o meio

de comunicação e instrução (Wrigley, 1996).

É importante , porém que os surdos, além de habilidosos na língua de sinais,

aprendem também a língua oral dos país onde vivem, para fazerem valer os seus

direitos diante da sociedade ouvinte.Nesse sentido, a educação de surdos , no

Brasil, deve trilhar com caminho bilíngüe no qual a Libras deva ser atendida como a

primeira língua da pessoa surda e o português como a segunda língua, a ser

ensinada institucionalmente.

Conclui-se, portanto, que a questão do ensino do português para surdos

reside na utilização de uma metodologia de ensino da segunda língua, cuja

preocupação não deve ser esclarecido também quanto ao ensino do português

como segunda língua , cuja preocupação não deve se deter a adaptações

curriculares, mas sim à substituição do português como segunda

língua.(Faria,2001).

Outro ponto deve ser esclarecido também quanto ao ensino do português

para os surdos. O português não é a língua estrangeiras para eles, no entanto

metodologia de ensino é a mesma de uma língua estrangeira. Separa-se, contudo,

uma metodologia de ensino para a língua oral e outra metodologia de ensino para a

língua escrita, tendo em vista a diferença crucial da modalidade de língua, ou seja, a

língua de sinais brasileira é uma língua de modalidade espaço-visual, e as demais

línguas , de modalidade oral-auditiva. Ao professor de português para surdo, caberá

ensinar o português escrito como segunda língua.

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Vale ressaltar que é muito importante a escolha de metodologia adequada,

pois freqüentemente a literatura relacionada à educação em resultado com as

práticas educacionais se adapta a realidade do aluno. É partindo-se do conteúdo

partilhado do aluno, que, na interação social com colegas e professores, se constrói

o conteúdo novo. A educação de surdos precisa voltar-se também à realidade dos

seus sujeitos. Nesse sentido, a literatura e a cultura surdas têm sido eixo

fundamental nas discussões na educação de surdos.

As crianças desconhecem os processos e os produtos que determinados

grupos de surdos geram em relação ao teatro, ao brinquedo, à poesia visual e À

literatura em língua de sinais em geral, à tecnologia, etc. Elas tem direito à entrada

nessa comunidade ( Skliar, 1998).

Segundo Quadros ( 2000), o processo de alfabetização de surdos tem duas

chaves preciosas: o relato de histórias e a produção literária infantil em língua de

sinais e não sistemas de comunicação artificial, português sinalizado ou qualquer

outra metodologia que não seja LBS..

A produção artística em sinais não obteve a atenção merecida nas

entidades de surdos, uma vez que a própria língua de sinais não é usada nas

salas de aula pelos professores.

É importante esclarecer que, diferentemente das crianças ouvintes,

que vivenciam e que respondem pela aquisição incidental de conhecimento, para as

crianças surdas esse tipo de situação muitas vezes é limitada em função da falta de

língua comum a ser compartilhada com os ouvintes. Por não terem acesso à

oralidade, a maioria é antão privada de atividades que envolvem a linguagem, o que

também ocorre no âmbito escolar, dificultando o processo de aprendizado da leitura

e escrita.

De fato, a prática pedagógica está toda perpassada por problemas que

envolvem as relações dialógicas entre professor ouvinte e aluno surdo, os

educadores procuram usar diversos recursos comunicativos para estabelecer

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uma interação com o aluno surdo, mas nem sempre conseguem se fazer

entender, o que torna o trabalho em sala de aula muito difícil.

Dessa forma, há uma tendência em centralizar a ação educativa na

utilização de recursos comunicativos, deixando-se em segundo plano a prática

pedagógica, que se transforma, assim, em uma prática comunicativa, como tem

sido o ensino do português para o surdos no Brasil.

Até o final dos anos 80, predominou na escola a concepção de linguagem

enquanto instrumento de comunicação, segundo a qual um emissor transmite a

um receptor uma mensagem.De acordo com essa concepção, cabe à escola

ensinar as regras que regem o uso da língua, com o objetivo de melhorar a

qualidade da produção lingüística dos alunos. Dessa forma, muitos exercícios

tinham como objetivo o reconhecimento e a memorização da nomenclatura

gramatical (Pereira, 2006).

Na educação de surdos, a adoção da concepção de língua como código

resultou no ensino sistemático e padronizado de estrutura frasal, uma vez que,

diferentemente das crianças ouvintes, grande parte das crianças surdas chega à

fase escolar sem domínio da língua, cabendo a escola ensiná-la.

Lucheis ( 2003 ) também aponta que a educação especial para surdos

reduzia a linguagem em emissão e recepção, apresentando-a de modo

fragmentado e de acordo com uma ordem crescente de dificuldades : vogais,

encontros vocálicos ( onomatopéias ) e assim por diante, até chegar à construção

de frases complexas. Nesse sentido, a linguagem oral ficava reduzida à fala – ato

fisiológico de produção de som – sendo função do professor, portanto

desenvolvê-la, embora acreditasse que, dessa maneira, estivesse trabalhando

com a linguagem oral em sua complexidade.

A linguagem escrita, entendida como transição da fala, segue os mesmos

princípios.

No final dos anos 80, sob influência de Vygotsky e Bakhtin, a linguagem

passou a ser conhecida como atividade social, como lugar de interação humana,

de interlocuções, entendidas como espaço de produção e de constituição de

sujeito (Pereira, 2006).

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Com o surgimento da lingüística textual na década de 60, os fatores de

produção, recepção e interpretação dos textos enquanto unidades de

comunicação são colocadas em primeiro plano. Nessa concepção produzir

linguagem significa produzir discurso, sendo que este se manifesta

linguisticamente por meio de texto, que é considerado produto da atividade

discursiva oral e escrita (Kaufman e Rodrigues, 1995 apud Pereira , 2006).

Pereira (2006) destaca que coube à escola viabilizar o acesso do aluno

ao universo dos textos que circulam socialmente, bem como ensinar a produzi-los

e interpretá-los.

Dessa forma, assim como ocorreu na educação de ouvintes a adoção de

uma concepção interacionista e discursiva pela escola também acarretou

mudanças no ensino do português para os alunos surdos.O professor passou a

expô-los à língua em funcionamento, sem a preocupação de ensiná-los,

acreditando, que assim, poderiam se constituir como interlocutores. Nessa

perspectiva, a sistematização da gramática ocorre mais tarde, quando os alunos

já estão usando a língua.

Também Trenche (1995) discute as concepções de linguagem que

norteiam as práticas pedagógicas com os alunos surdos. Em muitas situações, a

linguagem é vista apenas como um modo de avaliar a aprendizagem, sem que se

atente para a sua participação na própria construção dos conhecimentos.

Por outro lado, alguns estudos vêm sido discutidos quanto as práticas

pedagógicas apoiadas em diversos recursos comunicativos e suas limitações no

que diz a respeito à construção de conhecimentos (Lacerda, 1996; Góes, 1996;

Góes e Souza, 1998).

A corrente de Comunicação Total propõe o uso de recursos lingüísticos e

não lingüísticos, combinando sinais, oralização, leitura orofacial, gestos,

linguagem escrita, datilologia (soletração manual) pantomima, desenho.

(Evans,1992; Ciccone , 1990; Moura, 1993 apud Góes, 1996).

Góes (1996) acrescenta que, freqüentemente, na implementação das

diretrizes da comunicação total, o trabalho pedagógico envolve interlocuções em

sala de aula centradas em práticas bimodais, compostas a partir de elementos da

línguas falada e de sinais ( em nossa realidade , do Português e da Língua

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Brasileira de Sinais / Libras), usados concomitantemente; também podem ser

incluídos outros recursos, tais como a soletração manual.

Em uma sala de aula que adotou a diretriz da Comunicação Total,

Lacerda (1996) observou o modo pelo qual se caracterizavam as instâncias

dialógicas entre o aluno surdo e professor ouvinte. A prática pedagógica está

toda perpassada por problemas que envolvem relações dialógicas. Na questão

da interlocução entre professor-aluno, prevalecem situações de não-diálogo,

sendo que a intenção de partilhar sentidos não se realiza de maneira eficaz.

Entretanto o professor e o aluno seguem utilizando os vários recursos semióticos,

buscando manter a comunicação, mas sem que o impasse e descompasso

vivenciados fossem abordados, discutidos ou assumidos. No geral, o professor

leva em consideração a lentidão e a dificuldade do aluno surdo em progredir nos

conteúdos pedagógicos, mas atribui tais dificuldades às características do surdo

e não aos acontecimentos cotidianos em sala de aula.

Góes e Souza (1998) também abordam as interações em sala de aula

entre educador ouvinte e aluno surdo baseadas na comunicação total. Lidar com

dois sistemas lingüísticos, sem que os professores ouvintes tenham

conhecimento dos sinais e sem que os alunos surdos compreendam o português,

acarreta uma série de problemas na prática pedagógica, tais como, o uso de

combinações indiscriminadas de recursos semióticos de natureza muito diversa,

como a pantomima, o desenho, a dramatização, a escrita, os sinais, os gestos

ditos naturais, a língua oral. No dia a dia da escola, há uma instrumentação

desses recursos, o que acaba por produzir o acontecimento dialógico ao uso de

estratégias comunicativas.

Outro aspecto destacado na literatura por autores como Soares (1990);

Bueno(1994); Francisco (1994); Illiano (2002)e Luchesi (2003)diz respeito ao fato

de, na escola especial para alunos surdos, ter ocorrido uma histórica

sobreposição do trabalho clínico em relação ao trabalho pedagógico. No

passado, dentro da abordagem oralista, a atividade clínica foi assumida pelos

professores de deficientes auditivos, que colocam o trabalho pedagógico em

segundo plano.

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Soares (1990) adverte que a escola não deve assumir o trabalho clínico,

pois só assim tomará uma atitude política e recuperará a função o professor

como aquele que propicia ao aluno o conhecimento socialmente produzido, ao

mesmo tempo em que denuncia que a população de baixa renda é privada do

acesso a serviços de saúde, cujo direito está previsto na Constituição.

Ao analisar a Educação Especial no Brasil e, nem particular, a educação

do deficiente auditivo, Bueno (1994) aponta que a falta de uma clara delimitação

entre as responsabilidades dos serviços de saúde e de educação especial

impede o estabelecimento de políticas que respondam efetivamente a essas

necessidades. Quando os programas de reabilitação são incorporados pelo

sistema escolar, sob a capa de programas de educação precoce ou de atividades

específicas de linguagem, as duas áreas de ação, saúde e educação, se

confundem. Com isso, a transmissão dos conhecimentos socialmente valorizados

perde sua primazia no âmbito escolar.

Francisco (1994) ressalta que, quando a escola trabalha com crianças

deficientes auditivas incorpora serviços que são do âmbito da saúde, contribui

para manter a situação de desigualdades de oportunidades. Assim, em vez de

colaborar para o acesso aos direitos de cidadania, camufla os problemas

existentes, na medida em que induz os usuários a pensarem que, de certa forma,

ao ingressarem ao ensino especial, receberão escolarização e tratamento.

Porém, geralmente, ao desativar – se da função educativa, a escola especial não

consegue cumprir adequadamente a escolarização e nem tratar os deficientes

auditivos, pois não tem competência para tal.

Essa indefinição entre escolarização e socialização / tratamento os

deficientes, parece perpassar toda história da educação especial. No que diz a

respeito à educação de surdos apresenta marcas fundamentais nos processos de

habilitação / reabilitação da linguagem promovida nas instituições escolares

especiais. Considera, ainda, que a ênfase na linguagem, expressa em toda a

história da educação dos surdos na modernidade, retrata a ambigüidade entre os

processos de reabilitação e de escolarização oferecidos nas instituições

especializadas, e essa ambigüidade minimiza a questão de uma adequação

curricular que pudesse visar o crescimento e o desenvolvimento do seu alunado.

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Luchese (2003) conclui que a idealização do individuo surdo, normal e

abstrato, perpassa toda a educação especial, que assume o trabalho de

reabilitação como uma ação pedagógica, estabelecendo uma interdependência

entre o desenvolvimento da linguagem oral e a aquisição dos conteúdos

escolares.

Com advento da língua de sinais como forma predominante de

comunicação dos surdos, a escola incorporou o trabalho clínico para o

desenvolvimento dessa língua, o que levou ao detrimento do trabalho com o

conteúdo escolar propriamente dito. Em função disso, como destaca Dantas

(2006), os alunos não conseguem um nível de proficiência razoável de

comunicação e nem escolarização.

.Porém o método a ser adotado em alfabetização, tanto na escola comum

como na especial, não levam em conta as concepções das crianças sobre a

escrita, e sua participação ativa no processo de aprendizagem.

Essas práticas pedagógicas convencionais já foram discutidas por vários

autores, como Lacerda (1995).Autores criticam os trabalhos que preconizam o

bom desempenho na oralidade como um dos aspectos necessários para a

alfabetização, tanto de crianças consideradas normais como especiais. Nessa

perspectiva, elas são estimuladas e desenvolver uma boa articulação e a se

comunicar bem oralmente, sendo que aquelas que não falam, ou que apresentam

dificuldades para tanto são vistas como incapazes de se alfabetizar.

Outros trabalhos, como os de Oliveira (1996), apontam que, mesmo

quando os alunos deficientes auditivos são inseridos no ensino regular, os

processos de escolarização, da forma como lhes são oferecidos, contribuem mais

para sua segregação do que para sua integração, pois a maioria não ultrapassa

os níveis iniciais de alfabetização.

De fato, a educação do surdo tem sido considerada um fracasso por

alguns estudiosos. Segundo Almeida (2000), um dos grandes problemas é a

pobreza de experiência e trocas comunicativas envolvendo a linguagem oral, que

levam a dificuldades no domínio de vocabulário, das regras gramaticais, na

clareza e coesão dos enunciados, prejudicando toda a compreensão do processo

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de leitura. Não se tratando de déficits de cognição e pensamento por parte da

criança portadora de deficiência auditiva.

.Gonçalo (2004) adverte, porém, que as crianças surdas inseridas em

sociedades letradas, assim como as demais crianças, chegam à escola com uma

bagagem de experiências com a língua escrita e, certamente, também criam

hipóteses sobre esta. Entretanto, a aquisição da escrita pelos surdos não deve

ser concebida como semelhante à dos ouvintes; para o primeiro grupo, a língua

portuguesa escrita representa uma segunda língua e não apenas uma

modalidade de sua própria língua, como acontece com o segundo grupo.

A maneira que o professor concebe o processo de aprendizado e orienta

suas ações em sala de aula comum poderá afastar ou aproximar a criança de

eventos de letramento, em diferentes contextos sociais, nos quais a leitura e a

escrita são valorizadas. Além disso, as poucas experiências significativas com

esse sistema de linguagem podem dificultar sua aprendizagem. Em situação

analógica, encontra – se a criança surda, para quem o aprendizado da língua

oficial do país nem sempre é possível. Geralmente, na maior parte dos casos, os

alunos irão ingressar no aprendizado da leitura e escrita, na educação básica, a

partir de um domínio deficitário de uso de um sistema lingüístico convencional,

quer seja oral ou gestual.

Nas décadas de 70 e 80, como apontam Trenche e Balieiro (2006),

muitas crianças com deficiência auditiva tiveram o processo de alfabetização

retardo porque a escola, de um modo geral, pressupunha que a oralidade fosse

pré – requisito para a aquisição da escrita. Assim, a oralização era considerada

uma condição intrínseca da leitura; escrever implicava transformar sons em sinais

gráficos, e ler, transformar sinais gráficos em sons. As relações entre a fala e a

escrita centravam – se principalmente no código. O domínio da escrita era

analisado quanto às habilidades de leitura e escrita, com ênfase no

reconhecimento, organização e memorização dos mecanismos grafo – fonêmico

dessa modalidade, com passagem obrigatória pela oralidade. Porém, esta

raramente era dominada por crianças com deficiência auditiva acentuada na

idade de sete anos, quando geralmente se indica o processo formal de aquisição

da escrita.

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4.1 - O surdo, a leitura e a escrita

A maioria dos trabalhos sobre as práticas escolares utilizadas com alunos

surdos indica que a apropriação da linguagem escrita tem sido a grande

preocupação dos educadores de surdo, pois muitos acreditam que a surdez

acarreta dificuldades de compreensão na leitura e de produção escrita.

Porém, a análise do processo de ensino da leitura e da escrita de alunos

surdos leva a crer que muitos dos resultados insatisfatórios obtidos decorrem da

falta de uma língua constituída, com base na qual possam constituir a escrita.

Em seu estudo sobre o processo de aprendizagem de leitura dos alunos

deficientes auditivos.Cárnio (1989) constatou que de modo geral, eles conseguem

aprender, com relativa felicidade, a decodificar os símbolos gráficos. Entretanto,

devido às limitações de exposição à linguagem oral, apresentam dificuldades na

compreensão dos textos, não percebendo ambigüidades, insinuações, ironias; ou

seja, percebem a estrutura superficial das orações, mas não compreendem a

estrutura profunda das mesmas.

Cruz (1992) salienta que um dos aspectos importantes que devem ser

analisados na alfabetização de crianças surdas é a escolha do método a ser

adotado pelo professor. Critica – se a concepção tradicional que encara a leitura e

a escrita como uma tarefa que deve ser ensinada à criança segundo uma

hierarquia, que vai do mais fácil para o mais difícil, de acordo com o ponto de vista

do adulto, Prepondera, nessa visão, a idéia dos pré – requisitos ( a chamada

prontidão) para esse aprendizado, que, no caso do surdo, envolve, além dos

aspectos esperados para a criança ouvinte, o desenvolvimento satisfatório da

linguagem oral.

Ainda segundo Cruz (1992), para escolher o método a ser utilizado na

alfabetização de crianças surdas, estas são divididas em dois grupos distintos – as

não–oralizadas e as oralizadas. No geral, as não–oralizadas são alfabetizadas por

métodos analíticos–sintéticos, pois, não apresentando conhecimentos lingüísticos

suficientes deverão aprender a ler e a escrever por um processo inicial de

decifração, com maior apoio na percepção visual em relação à auditiva, para

depois chegarem à compreensão do texto. Já as oralizadas são, com freqüência,

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alfabetizadas por métodos analíticos, por apresentarem repertório oral suficiente

para aprender por meio de estruturas de linguagem mais globais.

Porém, essas discussões sobre o método a ser adotado em alfabetização,

tanto na escola comum como na especial, não levam em conta as concepções das

crianças sobre a escrita, e sua participação ativa no processo de aprendizagem.

Essas práticas pedagógicas convencionais já foram discutidas por outros

autores, como Lacerda (1995). Há autores que criticam os trabalhos que

preconizam o bom desempenho na oralidade como um dos aspectos necessários

para a alfabetização, tanto de crianças consideradas normais como especiais.

Nessa perspectiva, elas são estimuladas a desenvolver uma boa articulação e a se

comunicar bem oralmente, sendo que aquelas que não falam, ou que apresentam

dificuldades para tanto são vistas como incapazes de alfabetizar.

Segundo um autor, essa é uma prática freqüente na escola tradicional e

recebe atenção redobrada nas propostas de alfabetização para educação especial.

Góes (1996) acredita que, mesmo depois de terem passado por longo

período de escolarização, as crianças surdas apresentam dificuldades no uso da

linguagem escrita. Porém, o autor salienta que as limitações nessa esfera não são

exclusivas das experiências escolares de surdos, nem inerentes à condição de

surdez: um dos principais problemas está nas medições sociais dessa

aprendizagem, mais especificamente, nas práticas pedagógicas que fracassam

também na alfabetização de ouvintes. No caso do aluno surdo, ocorre que essa

questão mais geral sobrepõe – se, muitas vezes, complexas demandas adicionais,

como uso restrito da língua implicada nas atividades de leitura e escrita.

Outros trabalhos, como os de Oliveira (1996), apontam que, mesmo quando

os alunos deficientes auditivos são inseridos no ensino regular, os processos de

escolarização, da forma como lhes são oferecidos, contribuem mais para sua

segregação do que para sua integração, pois a maioria não ultrapassa os níveis

iniciais de alfabetização.

De fato, a educação do surdo tem sido considerada um fracasso por alguns

estudiosos. Segundo Almeida (2000), um dos grandes problemas é a pobreza de

experiências e trocas comunicativas envolvendo a linguagem oral, que levam a

dificuldades no domínio de vocabulário, das regras gramaticais, na clareza e

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coesão dos enunciados, prejudicando toda a compreensão do processo de leitura.

Não se trata, pois, de déficits de cognição e pensamento por parte da criança

portadora de deficiência auditiva.

Também Cárnio, Couto e Lichtig (2000) consideram que as dificuldades dos

surdos em lidar com a escrita decorrem não só da perda auditiva, mas também da

interferência do contexto educacional. A escola introduz um modelo único de texto

com estruturação direcionada para regras gramaticais do português, tornando a

escrita reduzida e descaracterizada de sentido. Conseqüentemente, essa

linguagem, que deveria ter um papel importante na vida do surdo, por ser um

veículo que permitiria sua integração junto à comunidade ouvinte majoritária, passa

a ser um fator de discriminação e rejeição. Assim, os surdos julgam – se

despreparados e incompetentes para utilizar a língua escrita por não conseguirem

alcançar o modelo ideal fornecido pelas escolas e pela sociedade em geral.

Gonçalo (2004) adverte, porém, que as crianças surdas inseridas em

sociedades letradas, assim como as demais crianças, chegam à escola com uma

bagagem de experiências com língua escrita e, certamente, também criam

hipóteses sobre esta. Entretanto, o autor chama a atenção para o fato de que a

aquisição da escrita pelos surdos não deve ser concebida como semelhante à dos

ouvintes; a língua portuguesa representa uma segunda língua.

Martins (2005) aponta que a maneira pela qual o professor concebe o

processo de aprendizado e orienta suas ações em sala de aula comum poderá

afastar ou aproximar a criança de eventos de letramento, em diferentes contextos

sociais, nos quais a leitura e a escrita são valorizadas. Além disso, as poucas

experiências significativas com esse sistema de linguagem podem dificultar sua

aprendizagem. Em situação análoga, encontra – se a criança surda, para quem o

aprendizado da língua oficial do país nem sempre é possível. Geralmente, na

maior parte dos casos, os alunos irão ingressar no aprendizado da leitura e escrita,

na educação básica, a partir de um domínio deficitário de uso de um sistema

lingüístico convencional, quer seja oral ou gestual.

Um estudo feito nas práticas docentes de professores do ensino regular

junto a alunos surdos, Oliveira (2005) observou que os professores das classes

regulares não acreditavam que os alunos surdos pudessem aprender e continuar

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seus estudos. Face a essa visão de incapacidade, adotavam práticas pedagógicas

diferenciadas que pouco contribuíam para a ampliação das possibilidades de

aprendizagem desses alunos. Parece haver, então, um discurso novo sobre a

capacidade de aprendizagem do surdo, porém, ainda arraigado em práticas

antigas.

Também Pereira (2006), ao analisar o processo de ensino da leitura e da

escrita de alunos surdos, afirma que muitos dos resultados insatisfatórios obtidos

não decorrem de dificuldades de lidar com os símbolos escritos, mas da falta de

uma língua constituída com base na qual possam construir a escrita.

As crianças ouvintes vivenciam situações diárias e que respondem pela

aquisição incidental do seu conhecimento. Entretanto, o caso da criança surda,

essas situações são limitadas em função da falta de uma língua partilhada com os

ouvintes, pois geralmente não tem acesso à oralidade, sendo privadas das

atividades que envolvem a linguagem, como conversas e histórias.

O mundo dos surdos não é uma calmaria só porque nele não existem sons.

As pessoas que não escutam são sensíveis à ruídos e vibração do ar causada pelos

ruídos e têm uma percepção extra que as faz reconhecer ritmos e notar quando

alguém se aproxima.

Além de se comunicar por libras, o surdo também pode aprender a falar pela

metodologia da oralização. Nela treina o reconhecimento de ruídos e sons e escrita

a respiração e os órgão que ajudam na fala. A família estimula o uso de aparelhos

que amplificam os sons. Mas é preciso sentir-se compatível. “Aprender a falar não

pode ser uma imposição, como foi no Brasil até a década de 1990, resultando em

graves problemas escolares”. Somente nessa época começou a ser aceito o

bilingüismo, que é se comunicar em língua de sinais e ser alfabetizado na língua

dominante. Há ainda a metodologia da Comunicação Total, que permite a oralização

e uso de gestos. Um exemplo é a língua portuguesa sinalizada, um código gestual

para a estrutura do tem sistema do idioma ( diferentemente de libras, que tem

sistema lingüístico próprio).

Sabemos que a criança surda apresenta todas essas técnicas, a visão é para

ela o sentido mais importante. Por meio dela, entende o mundo. Isso a torna

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imprescindível no processo de aprendizagem. O ideal seria a escola contar com a

presença de três profissionais especializados que usariam recursos visuais

diariamente: a instrutora de libras (que ensina língua de sinais); um professor com

conhecimento em libras responsável por explicar os conceitos das diversas

disciplinas com sinais) e a professora de língua portuguesa, com a segunda língua

do aluno surdo, que o ajudaria a memorizar a estrutura do idioma para usar nos

textos escritos.

A educação dos surdos tem gerado importantes discussões, pois embora

as propostas educacionais direcionadas a esse grupo tenham como objetivo

proporcionar o desenvolvimento pleno de suas capacidades, não é isso que se

observa na prática. No geral, as diferentes propostas pedagógicas apresentam

uma série de limitações, de modo que, ao final da escolarização básica, esses

sujeitos não se mostram capazes de ler e escrever satisfatoriamente ou ter um

domínio adequado dos conteúdos acadêmicos.

Com o surgimento dos estudos sobre a língua de sinais e o bilingüismo, o

surdo passou a ser visto como uma pessoa que possui uma forma de comunicação

que deve ser respeitada, e a linguagem oral, vista como uma segunda língua, que

só será aprendida se for de seu interesse.

O modelo bilíngüe propõe, então, um olhar sobre a formação da pessoa

surda que afirma seu direito a uma experiência educativa e preconiza a exposição,

o mais precocemente possível, à língua de sinais. E também que a língua da

comunidade ouvinte na qual o surdo esta inserido, em sua modalidade oral e/ou

escrita, seja ensinada com base nos conhecimentos adquiridos por meio da língua

de sinais. Esta proposta educacional permite o desenvolvimento rico e pleno de

linguagem, possibilitando ao surdo um desenvolvimento integral.

Um dos aspectos discutidos diz a respeito à importância do contato com a

língua de sinais e de seu desenvolvimento; entretanto, a maior parte dos surdos é

filha de pais ouvintes e não tem acesso à língua de sinais como primeira língua;

isso só ocorre tardiamente, sendo necessário, então, que algum tipo de contexto

especial seja providenciado para que essa aquisição se dê.

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CONCLUSÃO

Estamos vivendo o mais desafiador de todos os tempos, são muitos os

desafios, o tema é complexo, a inclusão de crianças surdas no ensino regular

tem gerado polêmica não só entre os pesquisadores, mas também entre os

professores.

O problema principal reside na falta de uma língua comum entre os

ouvintes e os surdos. Porém os participantes não parecem ter clareza de que

compartilhar uma língua, com ou sem intérprete, é necessário para viabilizar a

dinâmica da sala de aula. Eles se esforçam para serem compreendidos pelos

surdos, porém, acabam utilizando diversos recursos de forma improvisada e

pouco criteriosa.

Além disso, parecem entender a linguagem como código, reduzindo sua

função à transmissão de informações, investindo assim em estratégias

pedagógicas baseadas em metodologia tradicional. Com isso, acaba promovendo

poucas situações dialógicas significativas e interações entre os interlocutores.

Esses educadores tendem a valorizar somente o esforço de comunicação

do surdo, apresentando uma baixa expectativa em relação ao desempenho

acadêmico desse aluno. Com isso, acabam considerados que a inclusão ocorre

de forma satisfatória, acrescentando, ainda, que os surdos se esforçam e

conseguem a acompanhar as atividades propostas em sala de aula sem

problemas. Parece, então, que faltam ao educador parâmetros para avaliar esses

alunos e suas condições de desenvolvimento.

Outro aspecto importante de ser destacado diz respeito a idéia de alguns

professores de que bastaria a presença de um intérprete da língua de sinais em

sala de aula para resolver as dificuldades de inclusão do aluno surdo. Essa

postura nos parece equivocadas. A simples inserção desse agente não é

suficiente para garantir uma inclusão satisfatória. Em primeiro lugar, seria

necessária também a presença de educadores surdos para ensinar Libras às

crianças surdas. É fundamental pensarmos, ainda, em uma adequação curricular

que contemple as particularidades destes alunos no que diz respeito aos

aspectos didáticos e metodológicos, além da necessidade de informar sobre

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surdez e a língua de sinais, de envolver a família no aprendizado de Libras e

eliminar o mito de que a presença de um intérprete assegura a inclusão.

Acredito, então, que uma das principais questões a serem pensadas na

educação inclusiva dos surdos diz respeito os interlocutores com quem estes

alunos vão estabelecer trocas comutativas dentro de sala de aula e, a partir

desta, construir seus conhecimentos.

Nesse sentido, faz-se necessário esclarecer aos professores o quanto é

fundamental criar situações didáticas, tanto para ouvintes como para surdos, que

levem à reflexão sobre a língua, em situações de produção e interpretação e não

em atividades mecânicas e descontextualizadas.

Por fim, ressalto o quanto ficou evidente que a operacionalização de um

projeto que assegure uma educação de qualidade aos alunos surdos ainda

encontram obstáculos. Faltam recursos humanos e materiais, principalmente

quando se trata da inclusão pela língua de sinais, que, como bem advertem os

autores aqui citados, requer um grande investimento na formação dos

educadores. Uma mudança de perspectiva no que tem sido considerado como

formação continuada parece necessária, devemos ficar atentos para aspectos

que possam garantir não só situações de interação em uma determinada língua,

como também os objetivos acadêmicos no processo de escolaridade.

A escola que os surdos querem e a escola que o sistema “permite” ainda

não são convergentes. Apesar do diálogo estabelecido entre o Estado e os

grupos sociais surdos, a educação no Brasil ainda reflete os princípios da

educação tradicional, traduzido como a inclusão de surdos na rede regular que

ensina em língua portuguesa. Esse é o grande entrave do processo inclusivo dos

surdos na educação que reflete a incompatibilidade entre as propostas

governamentais e o anseio dos surdos.

Devemos estar atentos para as novas políticas públicas, certas práticas

geradas sob o paradigma da integração social como: a criação de subsistemas para

pessoas com deficiência, escolas especiais, classes especiais, reserva de vagas em

concursos, no mercado de trabalho, reserva de funções exclusivas, assentos em

transportes coletivos, etc. tais práticas são segregativas, discriminatórias e

reforçadas de estigmas.

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Em vez de separarmos pessoas em guetos ou delimitar espaços comuns,

deveríamos exigir a não descriminação e a disponibilidade de espaços acolhedores.

Precisamos educar a sociedade para que ela adote a visão inclusivista na

prática das políticas públicas.

Outro aspecto importante no paradigma da inclusão social consiste no papel

das pessoas dentro do processo de mudanças sociais, com os conceitos de

independência, autonomia e autodeterminação.

Um dos grandes desafios é manter a busca incessante da compreensão do

mundo em que os portadores de surdez estão inseridos, que é diferente do mundo

dos ouvintes.

Com a implantação da proposta, várias questões precisam ser

consideradas.

A implantação das providencias planejadas, das ações a partir do

acompanhamento do processo e da participação efetiva dos surdos é

fundamental para que o projeto político - pedagógico no Brasil de uma

perspectiva mais próxima aos mais diretamente evoluídos nessa política pública.

O espaço de negociação começa a ser deflagrado linguisticamente aditiva vai se

tornando uma realidade ao longo do processo resultado de ações. A partir desta

experiência, somando-se ao que vem sendo feito no plano federal , pode ser

processada uma aproximação entre “querer” e o fazer na educação.

Na literatura a escrita do surdo sendo interpretada como “desarrumada”,

com “erro”, me interessei por tentar compreender o processamento dessa escrita a

partir de uma abordagem que considera a interação as pessoas uma condição

necessária para o processo de desenvolvimento da linguagem, seja ela na

modalidade auditiva – oral, escrita ou visual – gestual.

Enfatizo também a importância da Língua de Sinais para a compreensão da

leitura /escrita. Pereira (2002, p.123) coloca que por ser uma língua de modalidade

visual – espacial , a língua de sinais não oferece nenhuma dificuldade aos surdos e

possibilita a constituição de conhecimento de mundo, tornando possível aos surdos

entender o que lêem, deixando de ser meros decodificadores da escrita. Já a língua,

por ser totalmente acessível à visão, é considerada uma fonte necessária pela qual

o surdo possa constituir suas habilidades de língua.

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Neste sentido, compreendo que para o que o sujeito se torne autor de seus

textos, é necessário que esteja exposto aos conhecimentos que a língua oferece,

seja ela de ordem oral ou gestual.

Em relação ao uso da gramática, concordo com Pereira (2002,p.114)

quando afirma que os professores deveriam corrigir as regras gramaticais para

facilitar o desenvolvimento sintático correto, em vez de tratar cada desvio sintático

isoladamente. Os professores juntos com fonoaudiólogos deveriam construir um

material de linguagem e de leitura apropriados ao conhecimento do surdo em

relação à sintaxe e ao nível de compreensão. Enfim, o papel do terapeuta seria o de

interagir com a criança na produção escrita, saindo do lugar que lhe era atribuído, o

de quem aprova e corrige um produto.

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Atividades Culturais

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