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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A DEPRESSÃO E QUAL A IMPLICAÇÃO DA FAMÍLIA – DA
PREVENÇÃO AO TRATAMENTO
Por: Renata da Silva Gaspar Lucas
Orientadora
Prof. Fabiane Muniz
Niterói
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A DEPRESSÃO E QUAL A IMPLICAÇÃO DA FAMÍLIA – DA
PREVENÇÃO AO TRATAMENTO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Terapia de Família.
Por: Renata da Silva Gaspar Lucas
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me dado
forças para prosseguir nessa
caminhada.
A minha família que sempre me
apoiou nas minhas escolhas.
A Orientadora Fabiane Muniz pela
atenção e a todos os professores que
muito contribuíram para o meu
aprendizado.
Aos amigos que fiz durante o curso
Norma Mello, Elizangela Rodrigues,
que com certeza já fazem parte da
minha vida e em especial a Marcia
Lima por sua generosidade em
compartilhar comigo sua sabedoria.
Aos meus pacientes, pois sem eles
não seria possível à realização deste
trabalho.
4
DEDICATÓRIA
... dedico a minha família que sempre me
apoiou e me incentivou para que eu
pudesse me aprimorar cada vez mais na
busca de conhecimentos. Sem vocês eu
nada seria.
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RESUMO
Este trabalho abrange o conceito da depressão, contendo dados de sua
etiologia e descrições clínicas. Serão, abordados, as classificações deste
transtorno como, distimia, ciclotimia, transtorno bipolar, depressão ansiosa,
depressão pós-parto.
Faremos uma trajetória do conceito que Freud deu sobre a melancolia
relacionando-a ao luto como afeto, com a diferença de que no luto a
perturbação da autoestima está ausente; como também sobre o ponto de vista
psicológico, que a depressão tem uma relação fundamental com as
experiências de perda. Passando por Lacan que diferentemente de Freud, que
nomeou o objeto como perdido, ele preferiu chamar de subtraído.
Quanto ao tratamento há uma exposição no que diz respeito à
farmacologia, apresentando os antidepressivos tricíclicos, ISRS – Inibidores
Seletivos de Recaptação da Serotonina, Inibidores Seletivos de Recaptação de
NA e SE, IMAO – Inibidores Seletivos da Mono Amino Oxidase,
Benzodiazepínicos (BDZ) e os moduladores do humor. E a importância das
psicoterapias, onde serão abordadas: psicoterapia Analítica, Psicoterapia
Breve, Psicoterapia Comportamental, Psicoterapia Familiar, Psicoterapia de
Apoio e a Psicoterapia em Grupo. A psicoterapia vai ajudar o paciente na
busca do seu autoconhecimento e na redescoberta de sua individualidade
reintegrando-o a sociedade. São tratamentos complementares e o quanto é
importante o paciente e a família procurar ajuda nestas duas áreas.
O trabalho vai mostrar também o quanto é importante à família para a
autoestima do paciente e qual o seu papel fundamental durante este processo.
6
Este trabalho poderá servir de instrumento para suscitar futuras
pesquisas servindo de fio condutor no desenvolvimento e aprofundamento dos
conceitos aqui abordados.
7
METODOLOGIA
O presente trabalho tem como objetivo, responder a questão: será que a
família está preparada para entender e aceitar a sua participação dentro desse
distúrbio?
Minhas fontes de levantamento de dados necessários para a elaboração
do trabalho serão: livros, artigos, sites, que abordem sobre a depressão,
priorizando os conceitos da Psicologia, Psicanálise, Neurociência, Psiquiatria.
Os principais autores e teóricos utilizados para a realização desta
pesquisa foram Freud, Françoise Dolto, Lacan, Paulo Delgalarrando, Paulo
Miguel Velasco, Haim Grunspun, Sofia Bauer, entre outros.
Palavras chave: Depressão, Afeto, Autoestima, Prevenção, Tratamento,
Família.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - ENTENDENDO O QUE É A DEPRESSÃO 11
CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO 32
CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA 42
CONCLUSÃO 56
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59
ÍNDICE 63
9
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância de conhecer e
entender melhor sobre a depressão, seus sintomas, causas e tratamentos
como também demostrar o papel fundamental da família, da prevenção ao
tratamento de um de seus membros, sobre esse mal que tem afligido cada vez
mais a população.
As síndromes depressivas são atualmente reconhecidas como um
problema prioritário de saúde pública. Segundo a organização mundial de
saúde (OMS), a depressão afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo
todo, sendo considerada a primeira causa de incapacidade entre os problemas
de saúde.
A depressão vem se destacando como a principal doença do século
atual, a ponto de ser considerada pela ciência hoje como a quarta doença mais
frequente, podendo ser a segunda ou a primeira na próxima década.
O indivíduo que sofre desse transtorno é vítima muitas vezes de
preconceito, e por incrível que pareça esse preconceito vem primeiro por parte
da família, que por não entender o que se passa com o seu familiar e não
saber o que é a depressão acaba por fazer julgamentos errôneos, contribuindo
ainda mais para a baixa autoestima do paciente, que é uma das características
principais do portador dessa patologia, como também o sentimento de culpa,
por às vezes saber o motivo de sua depressão mais não saber como sair da
mesma.
O presente trabalho consta de três capítulos. O primeiro busca definir e
explicar o conceito de depressão e suas formas existentes. No segundo
capítulo mostraremos a importância do tratamento, destacando a psiquiatria
com a parte medicamentosa e as psicoterapias existentes para melhor ajudar o
10
paciente e a família neste processo. E no terceiro capítulo, abordaremos a
autoestima e o que a família tem haver com isso, qual a influencia dela sobre o
familiar como causada e como causadora da depressão, qual é o seu papel
diante e durante esse transtorno, chamando a atenção para o risco de suicídio
fazendo um alerta como a família pode ajudar e ser ajudada.
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CAPÍTULO I
ENTENDENDO O QUE É A DEPRESSÃO
“Podemos facilmente perdoar uma criança que
tem medo do escuro; a real tragédia da vida é
quando os homens tem medo da luz.” (Platão).
A depressão do ponto de vista psicopatológico tem como elemento
central o humor triste. Entretanto, ela se caracteriza por uma multiplicidade de
sintomas instintivos, cognitivos, neurovegetativos, relativos à autovaloração, a
psicomotricidade e por sintomas afetivos.
O termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de
vivências afetivas como o humor, as emoções e os sentimentos. É a
afetividade quem dá valor e representa a nossa realidade. Sem afetividade a
vida mental se torna vazia, sem sabor, “a fronteira entre a percepção e a
afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma
fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando, 2000, pg.100).
O termo afeto é usado também para designar, qualquer estado de
humor, sentimento ou emoção.
Assim sendo, a depressão é um transtorno afetivo (ou do humor),
caracterizada por uma alteração psíquica e orgânica global, com consequentes
alterações na maneira de valorizar a vida.
Como a depressão é uma doença afetiva, abordaremos primeiramente o
afeto para que possamos melhor compreende-la.
1.1- O Afeto
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O afeto é a parte de nosso psiquismo responsável pela maneira de sentir
e perceber a realidade. A afetividade é então, a parte psíquica responsável
pelo significado sentimental de tudo aquilo que vivemos. Se as coisas que
vivenciamos estão sendo agradáveis, prazerosas, angustiantes, causam medo
ou pânico, todos esses valores são atribuídos pela nossa afetividade. Será
através de nosso afeto que o mundo, no qual vivemos, chega até nossa
consciência com o significado emocional que tem para nós.
“Um afeto inclui, em primeiro lugar, determinadas inervações
ou descargas motoras e, em segundo lugar, certos
sentimentos; estes são de dois tipos: percepções das ações
motoras que ocorreram e sensações diretas de prazer e
desprazer que, conforme dizemos, dão ao afeto seu traço
predominante. Não penso, todavia, que com essa enumeração
tenhamos chegado à essência de um afeto. Parecemos ver em
maior profundidade no caso de alguns afetos e reconhecer que
o cerne que reúne a combinação que descrevemos é a
repetição de alguma experiência significativa determinada.”
(Freud, Vol.XVI pg. 396)
A afetividade funciona como as lentes dos óculos através das quais
enxergamos emocionalmente nossa realidade. Através dessas lentes podemos
perceber nossa realidade com maior clareza ou não, com mais colorido ou não,
com mais esperança ou não e assim por diante. Existem alguns estados em
que a pessoa enxerga sua realidade como se estivesse usando óculos
escuros, ou seja, tudo é percebida de maneira cinzenta, escura e nublada.
Outros percebem a realidade como se estivessem usando óculos cor-de-rosa,
onde tudo parece mais exuberante. Alguns veem o mundo através de uma
lupa, onde as questões adquirem dimensões maiores.
Tendo em vista o fato, da afetividade, ser diferente entre as pessoas
alguns sofrerão mais que outros diante de um mesmo problema. Devido a essa
sensibilidade pessoal diferente para com a realidade, cada um de nós reagirá a
13
essa realidade também de maneira muito pessoal. Aqueles que se sentem
ameaçados reagem de uma forma, aqueles que se percebem inseguros de
outra, os tímidos, os expansivos e por aí a fora, cada um reagindo à vida de
maneira própria e pessoal.
“Além disso, deve-se recordar que nas experiências que
conduzem a uma neurose traumática o escudo protetor contra
os estímulos externos é desfeito e quantidades excessivas de
excitação incidem sobre o aparelho mental, de forma que
temos aqui uma segunda possibilidade — a de que a
ansiedade está não apenas emitindo sinais como um afeto,
mas também sendo recriada a partir das condições
econômicas da situação.” (Freud, Vol. XX pg.129).
Deve ficar claro que a afetividade não pode ser simplesmente submetida
à influência da vontade, portanto, ninguém deseja ter um afeto depressivo,
assim como, também, dificilmente alguém conseguirá melhorar seu estado
afetivo simplesmente porque um amigo ou pessoa de sua intimidade lhe dê
bons conselhos e palavras de otimismo.
A afetividade pode ser melhorada e adequada mediante dois
procedimentos: com a utilização de medicamentos que atuam nos
neurotransmissores e nos neuroreceptores cerebrais e, através de práticas
psicoterápicas.
Devido ao afeto depressivo e negativo, as sensações físicas corriqueiras
e habituais em qualquer pessoa são valorizadas pessimistamente nos
deprimidos. Uma simples tontura, por exemplo, apesar de ser um
acontecimento perfeitamente trivial na vida de qualquer pessoa, é percebida
como algo mais sério pelo deprimido, como uma ameaça de desmaio ou coisa
assim. Por causa do afeto depressivo as pessoas passam a observar com
certo exagero para o funcionamento de seus organismos. Ora verificando o
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ritmo intestinal, ora prestando muita atenção às sensações vagas, as
indisposições, palpitações e assim por diante.
1.2- A Depressão
Estamos vivendo a democratização da tristeza em sua dimensão mais
aguda. Não é mais uma forma de se situar no mundo, porém uma
característica do homem da atualidade. Globaliza-se um estado d’alma.
A depressão é uma das grandes doenças do século, tem sido
denominada como, “o grande mal do século”.
Segundo Paulo (2005), a depressão é um conceito amplo que se
estende da psiquiatria a psicanálise e suas inúmeras correntes e as definições
variam de acordo com o enfoque teórico utilizado.
De acordo com Peres (2006) a psicanálise privilegia o termo melancolia
e confronta-nos com a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade de clareza
diagnóstica. Por isso, é colocada do lado ou das psicoses ou das neuroses.
Freud apresenta uma nova maneira de pensar e designá-la como “Neurose
Narcísica”, categoria que pode franquear os limites rígidos entre a neurose e a
psicose.
A autora nos diz que hoje a melancolia cede terreno à depressão, que
implica diminuição, redução e decréscimo. A psiquiatria introduz o uso dessa
palavra que melhor se aplica a um estado de doença do que a romântica
melancolia. Mas o que define de fato, essa forma de mascarar a tristeza?
Como transformar em doença a dor de existir?
Segundo Paulo (2005) as definições da depressão que se encontram
nos trabalhos de psiquiatria se baseiam no DSM- IV (AMERCAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994) e no CID – 10 (Organização Mundial de
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Saúde, 1996) onde se descreve os sintomas expressos e observados no
paciente, dá presença de um padrão de sintomas com duração e curso, que
descreve esse quadro clínico.
A depressão é uma doença tipicamente traçada por mudanças no
comportamento, no ânimo, no pensamento, compromete o físico, e
principalmente, nos estados de humor dos indivíduos portadores da doença.
Interage no metabolismo orgânico, provocando distúrbios diversos,
afetando com mais seriedade a região neurocerebral, podendo causar com o
tempo, distúrbios psíquicos e doenças psicossomáticas de variados níveis.
A depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a
realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o
prazer com a vida. Afetando a maneira como a pessoa se alimenta e dorme,
como se sente em relação a si próprio, e como pensa sobre as coisas.
“Esse quadro de um delírio de inferioridade (principalmente
moral) é completado pela insônia e pela recusa de se
alimentar, e – o que é psicologicamente notável – por uma
superação do instinto que compele todo ser vivo a se apegar à
vida.” (Freud, vol.XIV pg.252).
A depressão é uma doença afetiva ou do humor, não é simplesmente
estar na “fossa” ou com “baixo astral”, os sentimentos de tristeza predominam
mais que os outros sintomas decorrentes da depressão, e nem sempre, tem
um motivo especial. Não é sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos
ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou
com esforço. Os não depressivos sabem lidar com seus problemas seja de que
natureza for, sem que isso atrapalhe os seus propósitos de vida. As pessoas
com doença depressiva não podem, simplesmente, melhorar por conta própria
e através de pensamentos positivos, conhecendo pessoas novas, viajando,
passeando ou tirando férias. Sem tratamento, os sintomas podem durar
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semanas, meses ou anos. A pessoa deprimida sabe e tem consciência das
coisas boas da vida, sabe que tudo poderia ser bem pior, pode até saber que
os motivos para seu estado sentimental não são tão importantes assim,
entretanto, apesar de saber isso tudo e de não desejar estar dessa forma,
continua muito deprimido.
Segundo Velasco (2009), estudos mostram que o desencadeamento das
crises depressivas é em virtude dos múltiplos fatores, variando de pessoa para
pessoa, dependendo de maior ou menor tendência à doença em pauta.
O autor destaca que existe uma tendência de predisposição hereditária
como fator desencadeante das crises depressivas. As pessoas tendem a se
deprimir com facilidade, até mesmo sem motivos agravantes, um exemplo, uma
pessoa que fica desempregada, o que não quer dizer que todas as pessoas
que ficarem desempregadas terão depressão, mas aquelas com predisposição
estarão mais sensíveis ao desencadeamento do distúrbio depressivo.
O autor ainda alerta para o fato de que todas as pessoas podem
desenvolver a doença. A depressão não escolhe uma pessoa para atuar.
Podendo acontecer com pessoas de qualquer idade, classes e raças
diferenciadas, independente do sexo. No entanto, a maioria das pessoas que
sofrem com depressão são aquelas que não procuram ajuda e nem tratamento
adequado, acarretando conseqüências graves, da incapacitação total até o
suicídio.
Qualquer pessoa com maior senso de observação poderá notar quando
um indivíduo está triste e quando essa tristeza persevera por longo tempo.
É preciso constatar se a pessoa se sente melancólica na maior parte dos
dias, sem querer demonstrar sequer, nenhum momento de reação. A
inatividade é um dos destaques no comportamento do depressivo. O
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depressivo despreza-se como ser humano, considera-se um “zero à esquerda”
no convívio social e familiar, sente-se culpado injustificavelmente.
“O paciente representa seu ego para nós como sendo
desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e
moralmente desprezível; ele se repreende e se envilece,
esperando ser expulso e punido. Degrada-se perante a todos,
e sente comiseração por seus próprios parentes por estarem
ligados a uma pessoa tão desprezível.” (Freud, idem).
A falta de esperança toma conta dele, deixando-o incapaz e sem
vontade de viver, podendo levar a pessoa depressiva ao suicídio.
De acordo com Freud (1917[1915]), ele afirma que na melancolia pode
haver uma perda de objeto, claramente constatada, como no caso de alguém
querido, mas, também pode ocorrer uma perda de objeto, só ao nível do ideal;
há ainda, diz Freud, a perda de objeto que nem o sujeito sabe dizer qual é. E
conclui: “Isso sugeriria que a melancolia está de alguma forma relacionada a
uma perda objetal retirada da consciência”. (Freud, Vol.XIV pg. 251).
Segundo Ferrari (apud Lacan 2006), no melancólico, como o objeto a
enquanto subtração de gozo (o que faz o dinamismo da libido) enquanto causa
de desejo está fora do jogo, o que fica é a pura perda e a sombra da morte que
cai sobre o sujeito que passa ao ato suicida, joga-se pela janela, isola-se na
indiferença, no desapego, na abulia, no silêncio, na catatonia, na vivência de
perda, de culpa, na dor de existir.
De acordo com Ferrari (2006), Lacan conclui que a perda e culpabilidade
andam juntas na melancolia e levam o sujeito à construção delirante de sua
indignidade moral, a que ele chamou de dor de existir em estado puro, ou seja,
o sujeito que não é culpado pela perda se responsabiliza por ela e se sente
culpado e indigno. Essa culpa enfatiza Lacan, não é relativa à insuficiência do
gozo, mas ao injustificado da vida, do gozo da vida.
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1.2.1- Os Sintomas da Depressão
O DSM-IV e o CID-10 descrevem os principais sintomas de depressão
como:
Rebaixamento do humor ou humor depressivo a maior parte do dia;
redução da energia e da atividade; diminuição do interesse ou prazer nas
atividades (anedonia); rebaixamento da capacidade de concentração;
irritabilidade; fadiga acentuada, mesmo após um mínimo esforço; significativa
perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia quase todos os dias, ou
despertar matinal precoce, várias horas antes do habitual; agitação ou retardo
psicomotor; desinteresse por atividades laborativas; redução ou perda da libido;
diminuição da autoestima e autoconfiança; sentimento de desesperança;
sentimento de menos valia ou culpa imprópria; sentimento de indignidade;
choro constante ou dificuldade de chorar; diminuição da habilidade para pensar
e tomar decisões; pensamentos recorrentes de morte; ideias suicidas ou
tentativas suicidas.
A depressão pode se manifestar como Depressão Típica ou Depressão
Atípica.
A Depressão Atípica é a maneira disfarçada da depressão se
apresentar. Acontece em pessoas que não se permitem a sentimentos sem
motivos e, apesar de já terem freqüentado vários consultórios médicos com
queixas diversas, continuam achando que a medicina ainda não descobriu a
causa de seus problemas.
A Depressão Típica se manifesta com todos os sintomas emocionais e
típicos. A depressão pode ser entendida como um estado afetivo rebaixado.
Porém, o que mais se constata neste tipo de depressão é um cansaço ou
inibição das atividades físicas e psíquicas como se ocorresse uma perda de
energia geral. Para pessoas deprimidas todas as atividades parecem mais
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cansativas e tediosas. Havendo inclusive um comprometimento para as
atividades que deveriam dar prazer.
A Depressão Típica se apresenta através de sintomas afetivos. Podendo
haver angústia, acompanhada ou não de ansiedade, tristeza, desânimo, apatia,
desinteresse e irritabilidade. Não sendo obrigatória a presença de todos esses
sintomas ao mesmo tempo.
Na parte intelectual, o pensamento torna-se lento e trabalhoso. Havendo
diminuição da memória, dificuldade para resolver problemas antes
considerados fáceis e tendência a pensamentos negativos ou pessimistas.
Surgindo assim, insegurança e autoestima diminuída.
Na parte física, pode aparecer indisposição geral, apatia, sensação de
peso ou pressão na cabeça, zonzeira e queixa de “bolo na garganta”. É comum
também impotência sexual ou frigidez, devido ao desinteresse ou mesmo falta
de energia para o sexo. Todo o organismo é prejudicado, podendo haver até
maior tendência à infecções viróticas ou bacterianas (herpes, resfriados, etc.).
Outros problemas físicos que já existiam podem piorar na depressão,
como, gastrite, diarréia, intestino preso, diabetes, hipertensão arterial,
enxaquecas, labirintites e outros. Aparecem queixas físicas vagas, como, falta
de ar, dores incaracterísticas, crises de sudorese, tremores etc. Esses
sintomas físicos, apesar de serem comuns nas Depressões Atípicas, também
aparecem nas Depressões Típicas.
De acordo com Ballone (2005), a depressão proporciona ao paciente um
estado que pode ser chamado de Inibição Psíquica Global, uma espécie de
lentificação de todos os processos mentais, como uma preguiça cerebral geral.
Essa baixa performance psíquica resulta em dificuldades para resolução dos
afazeres do cotidiano e para tomar decisões. Para a pessoa deprimida tudo
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parece mais difícil como se não houvesse energia suficiente comprometendo
até a vontade.
A perda do interesse do deprimido típico é um sintoma marcante. Em um
estado normal a pessoa está constantemente ligada aos acontecimentos da
vida em geral, já a pessoa deprimida não quer saber nem daquilo que antes a
interessava.
Na Depressão Atípica a pessoa não se percebe deprimida e sem a
maioria das queixas contidas na Depressão Típica. Algumas pessoas
acreditam que para ter a depressão precisa-se ter um motivo de vida
existencial. Quando esse motivo justo não existe acham impossível manifestar
um sentimento depressivo. Acreditam que se estivessem deprimidas sem
motivo, seriam considerados emocionalmente descontrolados.
Por uma questão biológica e natural, as emoções não obedecem à razão
e, apesar de sabermos racionalmente não haver motivos suficientes para
depressão, esta alteração afetiva acaba aparecendo mascaradamente e com
sintomas diferentes da Depressão Típica. Sintomas estes que representam um
sinal de alerta sobre uma falência psíquica ou esgotamento. Portanto, as
alterações do humor aparecem independentemente de nosso eventual
controle.
Segundo Ballone (2005), estima-se que até 40% dos portadores de
depressão tem, como manifestação principal, a ansiedade. Porém, como a
ansiedade apresenta um quadro mais exuberante que o sintoma depressivo, os
depressivos atípicos acabam se achando ansiosos e não depressivos. Esse
quadro de ansiedade é reconhecido como sendo um quadro de esgotamento.
As Depressões Atípicas podem ser divididas em dois grupos, um com
sintomas predominantemente físicos e outro com sintomas psíquicos.
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Sintomas de natureza física são quando aparecem em qualquer órgão;
quando são psíquicos se manifestam em determinadas emoções que
equivalem aos sentimentos depressivos. Os sintomas físicos ou psíquicos
serão predominantes em cada caso, porém a mesma pessoa pode apresentar
tanto um quanto o outro sintoma ao mesmo tempo. Acontecendo com maior
freqüência, a pessoa além da ansiedade, da fobia ou do pânico que são os
sintomas psíquicos, apresentar ainda palpitação, taquicardia, hipertensão que
são sintomas físicos e assim por diante.
1.2.2 – As Causas da Depressão
As causas da depressão, quanto à medicina, esta declara que a
provável explicação esta no desequilíbrio da bioquímica cerebral,
principalmente, nos controladores dos estados de humor.
De acordo com Bauer (2010), as pessoas que tem tendência à
depressão ou doenças correlatas tem deficiência de fabricação de serotonina.
Assim, o neurônio vizinho, que fabrica noradrenalina é acionado para substituir
o companheiro. Mas, infelizmente, o neurotransmissor secretado não será a
serotonina e, sim, a noradrenalina. Também foi comprovado pela ciência que
os antidepressivos interagem de forma satisfatória para a melhoria dos
pacientes. E são os antidepressivos que irão aumentar a baixa de serotonina
na fenda sináptica no cérebro.
O estresse físico e emocional também é apontado como fator
desencadeante, mas nem por isso, pode ser considerado responsável
diretamente pela depressão. O estresse se instala com facilidade em pessoas
que se encontram vulneráveis e predispostos emocionalmente,
desencadeando, assim, os episódios depressivos. A vida urbana é considerada
um fator de risco para desencadear a depressão. O desemprego como já foi
citado anteriormente, lembrando que como o exemplo acima, pode ser um fator
de risco para desencadear a depressão e não criá-la.
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Segundo Ballone (2007), a depressão frequentemente ocorre junto com
certas doenças orgânicas, como por exemplo, o derrame ou Acidente Vascular
Cerebral (AVC), doença cardíaca, esclerose múltipla, câncer, doença de
Parkinson, doença de Alzheimer e diabetes. Este tipo de depressão é chamado
de depressão co-ocorrente ou depressão comórbida e é importante que ela
seja tratada juntamente com a doença física, pois, observa-se com freqüência
a formação de um círculo vicioso: doença – depressão – demora para sarar –
depressão – piora da doença.
Doenças graves e deteriorantes também podem levar à depressão na
medida em que são dolorosas ou que oferecem perspectivas sombrias.
De acordo com Lima (2011) ela chama atenção para as alterações dos
hormônios, pois também podem predispor à depressão se os níveis de alguns
hormônios entrarem em desequilíbrio, como por exemplo, os hormônios
tireoidianos. Assim, o tratamento clínico-medicamentoso é feito com hormônios
tireoidianos (em particular o T4) e não com antidepressivos, pois necessita ser
tratado antes de qualquer intervenção psicoterapêutica.
Segundo Ballone (2007) um dos fatores preditores da depressão é a
própria biografia afetiva da pessoa, ou seja, quem já teve um quadro
depressivo tem maior probabilidade de desenvolver um segundo episódio.
O autor ainda nos diz que existem vários estados psicopatológicos com
componentes hereditários e/ou familiares. Quanto maior o número de
antecedentes deprimidos entre familiares, maior a probabilidade de
desenvolver uma depressão de natureza constitucional. Há uma significativa
porcentagem de filhos de pais deprimidos que desenvolve a doença, assim
como, os suicídios em membros da família a probabilidade dessa atitude se
repetir em descendentes.
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O autor alerta que alguns medicamentos, como os anti-hipertensivos,
antituberculosos, medicamentos para labirintite, podem causar depressão.
Assim, como o álcool e algumas drogas ilegais podem piorá-la. Não é
recomendável que os deprimidos façam uso dessas substâncias.
1.3- As Classificações da Depressão
1.3.1 – Classificação dos Transtornos do Humor
De acordo com o DSM-IV e a CID-10 entre os transtornos mentais e de
comportamento encontram-se os transtornos de humor, nos quais a principal
alteração refere-se ao estado de humor ou do afeto para depressão com ou
sem ansiedade associada. Entre os transtornos de humor estão às desordens
depressivas que podem ser ainda diagnosticadas mais especificamente em
depressão maior, moderada, leve, episódio recorrente e distimia.
Como o objetivo deste trabalho não é se aprofundar no diagnóstico
psiquiátrico e sim na abordagem psicológica desses quadros será feito uma
síntese do que é relevante à compreensão da depressão.
Ø Depressão Melancólica ou Endógena = predominam os sintomas
endógenos, sendo uma depressão de natureza mais neurobiológica,
mais independente de fatores psicológicos. Os sintomas típicos são:
• Anedonia
• Hiporreatividade geral
• Tristeza vital
• Lentificação psicomotora
• Perda de apetite e do peso corporal
• Depressão pior pela manhã, melhorando ao longo do dia.
• Insônia terminal (indivíduo acorda de madrugada e não consegue
mais dormir)
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• Diminuição da latência do sono REM (inversão da arquitetura do
sono)
• Ideação de culpa.
Ø Depressão Psicótica = é uma depressão grave, ocorrem um ou mais
sintomas psicóticos (além dos sintomas depressivos). Os sintomas
psicóticos podem ser congruentes (culpa, morte, doença, punição) ou
incongruentes (delírio de perseguição, inserção de pensamentos,
autorreferentes, etc.).
Ø Estupor Depressivo = é um estado grave, no qual o paciente
permanece dias em uma cama, em estado de catalepsia (imóvel,
geralmente rígido), com negativismo que se exprime pela ausência de
respostas às solicitações ambientais, via de regra em estado de
mutismo, recusando a alimentação, frequentemente urinando e
defecando no leito. O paciente nesse estado precisa ser internado, pois
pode vir a falecer por desidratação, pneumonia, etc.
Ø Depressão Secundária = é uma síndrome depressiva causada ou
associada a uma doença ou quadro clínico somático, primariamente
cerebral ou sistêmico. Doenças como hipo ou hipertireoidismo, doença
de Parkinson, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), apresentam com
muita freqüência um quadro depressivo.
Ø Distimia = significa “mau humor”. É uma depressão crônica, geralmente
de intensidade leve, mas muito duradoura, com sintomas permanecendo
intensos durante pelo menos dois anos para ser diagnosticada. É
caracterizada por sintomas depressivos leves, e prolongados. Os
pacientes com o transtorno são introspectivos e introvertidos, podendo
delinear quadros hipomaníacos, ou seja, tendências de humor
deprimido, chamada de Disforia Temperamental. Diferente da neurose
depressiva quando os pacientes exibem-se ansiosos, obsessivos e
propensos à agressividade.
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Os pacientes para serem considerados distímicos devem apresentar
pelo menos quatro dos sintomas a seguir:
• Insônia e hipersonia
• Baixa autoestima
• Déficit de concentração
• Dificuldades de tomar decisões
• Falta de esperança
• Perda do apetite e apetite em excesso.
É uma doença que afeta em maior número as mulheres. Estudos apontam
que as pessoas que tem a Distimia apresentam perda do prazer ou do
interesse, isolamento social e inadequação a lugares desconhecidos.
Ø Ciclotimia = é um distúrbio considerado como um leve gênero de
transtorno bipolar. A variação de humor que descreve quadros
hipomaníacos concomitantemente com episódios depressivos é a sua
característica.
Nas teorias de Emil Kraepelin e Kurt Schneider (Velasco apud Emil K. e
Kurt S., 2009), as fases ciclotímicas demonstram alterações de personalidade e
oscilações no estado psíquico. Emil Kraepelin subdividiu os transtornos de
personalidade em quatro etapas:
• Depressivo
• Maníaco
• Irritável
• Ciclotímico
Emil Kraepelin concluiu que a personalidade maníaca é o principal
transtorno desencadeante da ciclotimia.
O ciclotímico tem sensações de bem-estar o que faz com que ele evite
auxílio médico. Pacientes hipotímicos extravasam energia física e mental,
26
tornando seu estado de humor elevado. Porém, os graus de indícios negativos
são constantes descontroles emocionais, como a explosão de temperamento,
levando-o a depressão.
Ø Depressão Pós-Parto = é um distúrbio emocional que se inicia entre os
primeiros cinco dias após o nascimento do bebê, reduzindo-se pela
segunda semana de nascido, e aproximadamente, 50% das mulheres
apresentam esses distúrbios emocionais. Caracteriza-se por
sentimentos de tristeza e choros, com variações da sobrecarga
doméstica com os cuidados com o bebê, e às vezes sem motivo
justificável que explique esses sentimentos.
As manifestações emocionais e clínicas são as mesmas características das
outras depressões.
O quadro perseverante pode abranger outra forma de distúrbio como a
“Psicose Puerperal”, se apresentando em formas de alucinações e delírios,
persistindo desde os primeiros dias após o parto, até três meses depois,
podendo se arrastar por mais tempo.
Os sintomas da depressão pós-parto são:
• Irritação
• Tristeza permanente
• Alterações no apetite
• Choro incontrolável
• Insônia
• Desinteresse pelo bebê
• Medo de machucar o bebê
• Sentimento de culpa
• Variações drásticas do humor.
27
Ø Depressão Agitada ou Ansiosa = depressão com forte componente de
ansiedade e inquietação psicomotora. O paciente se queixa de uma
angústia intensa associada aos sintomas depressivos, irritado, insone,
inquieto, andando de um lado para o outro e acaba por se desesperar.
Neste caso corre-se grande risco de suicídio.
Ø Transtorno Afetivo Bipolar = a depressão e a mania são apontadas
como transtornos afetivos, porém a patologia em questão é a do humor.
A mania é especificada como um comportamento de super excitação do
sistema psíquico, caracterizado pela elevação do humor e pelo aumento da
coordenação psicomotora.
No DSM-IV, os eventos maníacos devem apresentar, uma semana de
permanência no mínimo, ou pelo menos, três sintomas classificados na tabela
global.
O DSM-IV subdivide os transtornos bipolares em:
Transtorno Bipolar I = episódios depressivos leves a graves, intercalados com
fases de normalidade e de fases maníacas bem caracterizadas.
Transtorno Bipolar II = sua principal característica é a trajetória clínica com
acontecimentos de um ou mais quadros depressivos seguidos por, no mínimo,
uma passagem hipomaníaca, porém não confundido com dias de humor
equilibrado que acompanham a trajetória do evento depressivo maior. Podendo
ser coordenados com eventos ocorridos mais recentemente como, episódio
recentemente maníaco ou episódio recentemente depressivo.
Transtorno Bipolar III = é determinado pela influência de eventos depressivos
em pacientes com históricos familiares de mania. O destaque é a seriedade do
evento recente e a freqüência ou não da psicose.
28
As causas do transtorno maníaco podem ser de origem hormonal,
neuroquímica ou genética.
1.3.2 – Classificação da Depressão Nas Fases Existenciais
Ø Depressão Infantil
A depressão na infância é comum quando as relações da vida afetiva
das crianças são acometidas por diversos fatores que desencadeiam a
depressão, como a separação dos pais, o falecimento de parentes próximos,
abandono dos pais e outros.
Segundo Velasco (2009), a depressão infantil é um transtorno do
comportamento e do desenvolvimento da criança, apresentando baixo
rendimento, dificultando sua mobilidade, tanto na sociedade, no lar, quanto na
escola. Com sintomas de perda ou aumento de apetite; insônia ou hipersonia;
fadiga; sentimento de inutilidade e culpa; falta de atenção e concentração; fobia
escolar; isolamento; tristeza; pensamento recorrente sobre morte; choro
freqüente; ansiedade; mal estar estomacal; cansaço matinal; dores abdominais
e etc., e que poucas vezes, são diagnosticados de forma correta.
Algumas crianças apresentam comportamento de rebeldia, irritabilidade
e agressividade.
“Esses sentimentos são considerados atípicos por
representarem simbolicamente uma “máscara” de seus
verdadeiros sentimentos, e esses quadros não são
reconhecidos com exatidão pelos pediatras, pais e familiares.
Por isso, é importante que a criança seja também avaliada por
profissionais da área de saúde mental.” (Velasco, 2009 pg.26).
O autor relata que a crescente evolução da depressão infantil tem sido
objeto de preocupação entre profissionais da área de saúde mental,
principalmente dos neuropediatras por motivos de suspeita de complicações
29
mais sérias no desenvolvimento mental da criança, onde a conservação da
saúde é ponto factível para um bom funcionamento mental adulto.
Embora seja rara a intenção de suicídio na criança, esse fato também
tem sido objeto de preocupação.
Ø Depressão na Adolescência
O Adolescente é aquela pessoa que ainda não se descobriu como adulto
dotado de responsabilidades.
A adolescência é um momento de profundas transformações, tanto no
corpo quanto no convívio com a sociedade. A psicanálise define essa fase
como sendo a relação do jovem com o luto, quando o mesmo tem um
desligamento com os seus pais, caracterizando-se assim um extremo
rompimento com a fantasia infantil.
Segundo Silva e Silva (2012), nossa sociedade define a inserção do
adolescente no mundo adulto a partir dos seus relacionamentos com
maturidade, a independência, autodeterminação, a responsabilidade e a
atividade sexual efetivamente adulta. O adolescente é uma pessoa em crise,
no momento em que está desestruturando e reestruturando tanto seu mundo
interior quanto o exterior.
A depressão nos adolescentes traz implicações bastante sérias, uma vez
que não diagnosticadas corretamente no início do seu desenvolvimento, podem
provocar grandes sequelas.
Segundo as autoras a depressão dos adolescentes está mais presente no
sexo feminino.
As principais causas que levam um adolescente à depressão são a falta
de diálogo com os pais, casos de divórcio, maus tratos infantis, conflitos
30
matrimoniais, pais inflexíveis ou autoritários, ausência dos mesmos,
dificuldades econômicas e a utilização de bebidas alcoólicas pelos pais.
De acordo com Barbosa e Gaião (1999), os principais sintomas da
depressão nos adolescentes são a irritabilidade, crises de explosão, raiva e
graves problemas de comportamento, insônia, pesadelos e terrores noturnos,
vertigens, tremores e sudorese, tiques, taquicardia, palpitações, falta de ar,
anorexia ou bulimia. Quando o adolescente está em depressão, segundo a
psicanálise, ele pode estar querendo se afastar do mundo para encontrar
novas escolhas para a sua vida.
Segundo Grunspun (1992) os adolescentes podem procurar
experiências que sejam compensatórias de suas sensações de vazio. Sessões
poéticas, sessões musicais, álcool, maconha e outras drogas, promiscuidade
sexual e perversões diversas, na tentativa de aliviar os sintomas mais
profundos, procurando fugir de si mesmos.
De acordo com Velasco (2009), o autor alerta para as práticas suicidas
nos adolescentes que acaba sendo praticado pelo jovem, por não superar as
dificuldades que o próprio desencadeou, e sucumbe perante as dores físicas e
morais que o acometem. “A imagem da morte é leve para o jovem, porque a
morte ou passa silenciosamente ou caricaturizada (na televisão). Daí uma
representação mágica da morte, concebida como não irremediável”. (Dolto,
1990 pg.259)
Conforme Velasco (2009) o índice de morte entre os adolescentes por atos
suicidas é considerado alarmante pelas pesquisas realizadas na última década
com altíssimos índices de crescimento divulgados nos últimos 25 anos. As
ocorrências de óbitos dos jovens por suicídio variam na faixa de 14 a 20 anos
de idade.
Ø Depressão no Idoso
31
A idade avançada é, relacionada fatidicamente com sintomas
depressivos.
Segundo Velasco (2009) nos casos de depressão, a atenção se concentra
na distinção dos aspectos episódicos depressivos nas situações senis,
involutivas, pré-senis etc. Se o idoso já apresentava distonias ou episódios
depressivos em seu histórico clínico, é considerada a predisposição como fator
decisivo para a sua inclinação.
O autor pontua que o principal sintoma que diferencia a depressão do idoso
das outras faixas etárias é a hipocondria. Se ele sente uma dor no peito, por
exemplo, ele logo associa a uma cardiopatia e com isso, acelera o processo
depressivo causando piora na enfermidade.
A baixa do humor é devido às perdas exacerbadas de amigos e entes
queridos, desatenção da família, problemas físicos, baixa resistência
imunológica, problemas de locomoção, dependência financeira, perda do status
ocupacional, isolamento em asilos etc.
Nos quadros depressivos o idoso apresenta variados sintomas como
retraimento, redução de atividades sociais, dificuldades nas relações
interpessoais, pouco reflexo psicomotor, desesperança, perda de memória,
perturbações do sono, retardo psicomotor, perda de interesse pela vida e até
mesmo idéia suicida.
32
CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO
“Se durante nossa própria vida, assistimos a
uma deterioração corporal irreversível, a
brevidade de nossa existência só faz torná-la
mais excitante. Uma flor conhece apenas por
uma noite sua plena floração, mas nem por
isso sua eclosão nos parece menos suntuosa”.
(Sigmund Freud)
A forma correta de ajudar um depressivo é incentivando-o a procurar um
profissional capacitado, para que seja possível um tratamento específico ao
doente.
A depressão jamais poderá ser curada em casa ou até mesmo com o
tempo, acreditando que tratamento médico e psicoterápico é “coisa para
maluco” e que com o tempo o indivíduo irá se equilibrar, bastando se distrair,
ocupar a mente ou algo parecido.
De acordo com Velasco (2009) o equilíbrio bioquímico do cérebro só
será controlado com a assistência médica necessária.
O tratamento para a depressão é a psicoterapia ou análise e com a
ajuda dos medicamentos antidepressivos que são prescritos pelo psiquiatra. E
destacando que o paciente deve tomar a medicação sem interrupção.
O autor nos diz que os medicamentos antidepressivos tem função de
regular os componentes substancias do cérebro, trazendo alívio temporário ao
paciente que se anima com o resultado parcial se empenhando ao máximo
para a solução do problema, o que não quer dizer que ele deva interromper o
tratamento, pois poderá haver recaída grave do mesmo.
33
O uso do medicamento pode levar meses ou anos, dependendo de cada
caso, levando de quatro a oito semanas para fazer efeito desejado no
organismo, também dependendo de cada caso.
O autor enfatiza que a psicoterapia também necessita de um tempo para
obter melhora esperada. Os dois tipos de tratamento são fundamentais e
devem ser feitos conjuntamente para melhor atuação do bem-estar do
paciente.
.
2.1- Psiquiátrico
É fundamental o tratamento medicamentoso para o equilíbrio físico e
mental do paciente. Sabemos que a psicofarmacologia nos oferece recursos
para a supressão de sintomas da depressão. Uma parte importante do
tratamento do paciente será feita com a medicação.
De acordo com Bauer (2010) são muitos modelos de antidepressivos e eles
trabalham para manter a fenda sináptica cheia de serotonina. Entre eles: os
Antidepressivos Tricíclicos; os IMAO – Inibidores Seletivos da Mono Amino
Oxidase; os Antidepressivos ISRS – Inibidores Seletivos de Recaptação de
Serotonina; e os Antidepressivos ISRNaSe – Inibidores seletivos de
Recaptação de Noradrenalina e Serotonina
Ø Tricíclicos = vão fazer o aumento de três neurotransmissores na fenda
sináptica: serotonina, noradrenalina e dopamina de forma
indiscriminada. Existem vária drogas, como Cloimipramina (anafranil),
Imipramina (tofranail), Amitripitilina (tryptanol), entre outras.
Essa categoria de antidepressivos é antiga e bem testada, mais
infelizmente traz inúmeros efeitos colaterais. Engordam, deixam a boca seca,
intestino preso, sonolência e outros.
34
Ø ISRS – Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina = uma
segunda geração de antidepressivos surgiu fazendo apenas aumentar a
fenda sináptica em especial, a serotonina. Como o nome já diz, eles
não deixam que pouca serotonina que você fabrica vá embora pela
degradação que o próprio neurônio faz recaptando a que ele próprio
soltou na fenda para comunicar sua mensagem. Esse mesmo neurônio
libera a serotonina que se comunica com a célula seguinte e, logo em
seguida, ela é recaptada de volta e degradada por suas enzimas
celulares. Transforma-se em lixo. São elas: Fluoxetina (prozac, verotina,
fluoxene, daforin etc.); Sertralina (zoloft, assert, tolrest, serenata, etc.);
Citalopran (cipramil, procimax, cittá, alcytam etc.); Paroxetina (aropax,
paxil, cebrilin, pondera, paxtrat etc.); Lovoxamina (luvox); Escitalopran
(lexapro, exodus).
Cada uma das drogas citadas acima tem um perfil diferente para cada tipo
de pessoa, a fluoxetina, por exemplo, deixa a pessoa mais ligada, tirando o
sono. A sertralina é a mais indicada de todas, pois traz bons resultados. A
paroxetina é a que mais acalma podendo ser indicada para pacientes com
depressão ansiosa, em compensação como efeito colateral ela engorda. O
citalopran e o escitalopram são ótimas opções principalmente para pacientes
que tem pressão alta e sofrem do coração, pois elas não tem tanto efeito
colateral. E a luvoxamina tem como efeitos colaterais, tonteira, dor de barriga,
insônia ou sonolência, retardo na ejaculação, diminuição da libido para
algumas pessoas, anorgasmia e pequenos formigamentos no início do
tratamento em algumas pessoas. Os ISRS são os medicamentos mais
comumente prescritos.
Ø Inibidores Seletivos de Recaptação de NA e SE = essas medicações
são muito usadas no caso de depressões mais severas e no transtorno
de ansiedade generalizado. Seu princípio básico é o mesmo, mas
recaptam também a noradrenalina, antes mesmo que ela venha a ser
descarregada abruptamente. Se já tiver um pouco de noradrenalina na
35
fenda sináptica pronta pra ser usada, seus neurônios não vão precisar
dar uma descarga violenta. Os seguintes medicamentos são:
Venlafaxina (efexor, venlift, venlaxin); e Desvenlafaxina (pristiq);
Duloxetina.
A Venlafaxina tem como efeito colateral, observado em alguns casos, um
aumento de pressão arterial e aumento de apetite. Porém, sua eficácia é
sensacional. Por isso, é recomendado quando se tem um caso grave de
depressão associado. A Desvenlafaxina é um metabólito da venlafaxina,
melhorado. Com a vantagem de não interferir na libido e nem engordar. Já a
Duloxetina é semelhante à venlafaxina e tem ótimos resultados com a
depressão.
Ø IMAO – Inibidores Seletivos da Mono Amino Oxidase = ao
bloquearem a desanimação oxidativa das mono-aminas
neurotransmissoras pelo Monamino Oxidase (MAO), aumentam a
biodisponibilidade de dopamina, noradrenalina e serotonina. Não
havendo metabolização intracelular, maior quantidade de
neurotransmissores se armazena nas vesículas que, ao se romperem
na fenda sináptica, liberarão uma maior quantidade de aminas
biogênicas que entraram em contato com receptores pré e pós-
sinápticos. São eles: Tranilcipromina e Moclobemida que possui
sintomas físicos como efeitos colaterais.
Segundo Bauer (2010) existe também os Benzodiazepínicos (BDZ) que
são mais prescritos pela classe médica e são comumente chamados de
ansiolíticos. Seus nomes de droga terminam em “an”. São utilizados em
pacientes para diminuir a ansiedade que comumente os acometem quando
iniciam a medicação com os antidepressivos. Eles funcionam como uma “fita
isolante” no neurônio pós-sináptico, vedando a entrada e a comunicação da
noradrenalina com esse segundo neurônio na hora do derramamento desta
substância. Dependendo da dose usada, a pessoa pode ficar mais ou menos
“lerda”, ou calma. O uso contínuo dessas substâncias não é recomendado, pois
36
causam tolerância e podem também causar dependência. Não é uma regra,
mas pode acontecer. Entre eles estão o Clonazepan (Rivotril); Alprazolan
(frontal, apraz etc.); Bromazepan (lexotan, somalium, etc.); Lorazepan (lorax
etc.); Cloxazolan (olcadil, cloxazolan etc.).
A autora pontua que existem outras modalidades de medicamentos que
podem ser usados nos casos de transtorno bipolar do humor, são os chamados
moduladores de humor. Nesses casos, a medicação se torna necessária para
acalmar o cérebro, que fica muito mais agitado do que o normal. São eles os,
Divalproato de Sódio (depakote), Carbamazepina (tegretol), Oxcarbazepina
(trileptal). Todos são excelentes medicamentos no tratamento do espectro
bipolar, bem como no transtorno bipolar e para o ciclotímico já que este é uma
forma atenuada do transtorno bipolar.
2.2- Psicoterapias
Os tratamentos psicoterapêuticos funcionam como apoio e
complementação da terapêutica psiquiátrica, obtendo com isso, uma
intervenção mais efetiva e prevenindo recidivas ou recorrências e restauração
do funcionamento psicossocial. Segundo Moretti (2006) o autor afirma que,
além disso, algumas pessoas com formas mais leves de depressão podem
evoluir bem somente com psicoterapia apenas.
O atendimento psicoterapêutico se faz necessário para o paciente
retornar suas atividades normais, para construção de um processo de
aprendizagem de novas atitudes não só do paciente como também a família
aprender novos comportamentos e novas estratégias de atuação. No
tratamento da depressão cada caso é um caso, isto é, esta doença requer uma
abordagem individualizada, já que cada um recebe os acontecimentos de
maneira única, levando em conta todos os fatores, morais, éticos, hereditários
e etc.
37
A grande dificuldade em tratar o paciente depressivo vem pela própria
falta de motivação do mesmo. Pois, este se sente desmotivado, sem iniciativa e
muito menos consegue enxergar uma perspectiva de melhora, que são um de
seus traços característicos. Para essas pessoas é um grande desgaste de
energia. E muitas vezes acabam desistindo do tratamento no meio do caminho,
achando que não estão conseguindo alcançar os resultados desejados.
É importante que o paciente procure um profissional qualificado para o
tratamento da depressão. Para que este possa reconhecer os sintomas para a
realização de um diagnóstico correto, se, por exemplo, o paciente apresenta a
chamada Comorbidade, ou seja, uma doença orgânica coexiste com uma
doença psíquica de modo independente ou a primeira desencadeia a segunda
(por exemplo, o distúrbio ansiedade-depressão).
“Os fatores psíquicos podem influenciar ou
comprometer a doença orgânica: vários estudos
demonstraram que a sobrevivência depois de
infarto cardíaco ou após diagnostico de tumor é
significativamente reduzida por depressão
simultânea”. (Revista Mente e Cérebro Ed. Especial
14 – Linguagem do corpo, 2008).
Citaremos alguns dos tratamentos psicoterápicos, são eles:
Ø Psicoterapia Analítica = auxilia consideravelmente o entendimento das
resistências à medicação, e, com isso, consolida a aderência. Visando á
importância aos processos inconscientes da mente, trabalhando
conflitos, sentimentos, sonhos, fantasias, associada à primeira infância.
Esta terapia é geralmente conduzida por vários anos. Ela é a
modalidade psicoterapêutica orientada para distimia, onde o insight é
considerado principal registro para subsídios terapêuticos.
38
Ø Psicoterapia Familiar = A terapia familiar tem sido bastante eficaz,
auxiliando tanto o paciente quanto a família, a desenvolverem métodos
de apoio e a lidarem melhor com os sintomas da depressão. É um
trabalho de grande valia no tratamento do transtorno bipolar, em função
de os episódios maníacos afetarem o relacionamento familiar. Esses
pacientes tendem a gastar grande volume de dinheiro ou atuar com
promiscuidade no sexo, gerando sentimentos de ódio, culpa e
humilhação na família, e esses fatos podem ser amenizados com esse
tipo de terapia. Essa terapia pode auxiliar a compreensão dos
transtornos e a distinção dos fatores desencadeantes.
Ø Psicoterapia Comportamental = é mais eficaz na terapêutica de
pacientes hospitalizados, para auxiliar o emprego de limitações do
temperamento impulsivo, agressivo ou explosivo, por meio de métodos
comportamentais de suporte positivo ou negativo.
Ø Psicoterapia Breve = é um tratamento de natureza psicológica, de
inspiração psicanalítica, cuja duração é limitada, buscando obter uma
melhora na qualidade de vida em curto prazo, escolhendo um
determinado problema mais premente que a pessoa esteja passando no
momento e focando esforços na sua resolução. Como por exemplo, ela
é indicada especialmente no tratamento da depressão situacional, ou
seja, as que foram causadas por reações a situações inesperadas como
o luto pela morte de alguém próximo, uma doença inesperada dentre
outras. Estas situações geram um desconforto emocional que precisam
ser trabalhadas o mais rápido possível para não se correr o risco de um
desequilíbrio psíquico.
Ø Psicoterapia Breve de Apoio = trata-se de um processo de ação
terapêutica que tem como objetivo diminuir a ansiedade de um
paciente. Recomendada exclusivamente para as fases de crises
crônicas. Poucos pacientes aceitam somente esta modulação de
tratamento.
39
Ø Psicoterapia de Grupo = funciona também como a psicoterapia de
família. Também contribui em termos de superação de problemas
interpessoais na sociedade pelo seu caráter apoiador, educativo e
terapêutico.
2.3- Relaxamento
Apesar dos inúmeros medicamentos antidepressivos e das demais
técnicas de tratamento para depressão, um grande percentual dos pacientes
acaba procurando algum tipo de ajuda complementar ao tratamento
convencional.
De acordo com Moretti (2006) atualmente tem se dado maior
importância para a opinião do paciente no que diz respeito ao seu próprio
tratamento, sendo essa opinião um requisito importante para o sucesso
terapêutico.
O uso de técnicas complementares exige, assim como num plano de
tratamento padrão, um rigoroso critério de elegibilidade e precisa de tantas
pesquisas quanto às desenvolvidas com medicamentos e com as
psicoterapias.
Algumas modalidades terapêuticas que podem favorecer o paciente
deprimido são Acupuntura, Massagem e Relaxamento entre outros. De acordo
com o autor, não foi feita citação a estes tratamentos em pacientes com
transtornos depressivos de caráter bipolar. E a modalidade que daremos
destaque neste trabalho é o Relaxamento.
Apesar da origem relativamente nova dos procedimentos de
relaxamento, seus antecedentes históricos são antigos. Nos murais da
40
Babilônia, encontravam-se evidencias do uso do relaxamento e da hipnose,
assim como os egípcios já praticavam o relaxamento e o hipnotismo.
As técnicas de relaxamento constituem um conjunto de procedimentos
de intervenções úteis também no âmbito da Psicologia Clínica. O relaxamento
engloba algumas técnicas responsáveis por promover um estado de equilíbrio
da ansiedade e da tensão muscular, oferecendo alternativas de como lidar com
o estresse e com as alterações somático-mentais.
A prática de meditação deve ser realizada entre 10 e 20 minutos, de
uma a duas vezes ao dia. Deve ser realizada na posição deitada ou sentada,
num lugar calmo a meia luz. Além disso, um aspecto interessante da meditação
é que o paciente pode gerir seu próprio tratamento.
Grande parte das técnicas de relaxamento preocupa-se com a
concentração e com a respiração, sendo estas partes importantíssimas do
relaxamento.
O paciente deve ser orientado a imaginar que as energias negativas são
retiradas de seu corpo e que seu sangue está ficando oxigenado e limpo.
Pede-se ao paciente que imagine partes de seu corpo em diferentes e diversos
momentos e a dor e o incomodo devem ser esquecidos. O próximo passo é
pedir que o indivíduo imagine-se em um lugar que se sinta bem e longe de
seus problemas de cotidiano e que, provavelmente, estejam causando seu
desconforto. O paciente deve ser sempre influenciado com pensamentos e
palavras boas.
Outra possível técnica de tratamento para a depressão é o relaxamento
progressivo pode ser praticado em posição deitado ou sentado com a cabeça
apoiada. Cada músculo ou agrupamento muscular é tensionado de 5 a 7
segundos e então relaxado, de 20 a 30 segundos. Este procedimento é
41
repetido pelo menos uma vez. Se determinada região continuar tensa, pode-se
praticar até cinco vezes.
Segundo Moretti (2006) devemos lembrar que a técnica de relaxamento
e as outras citadas acima, são apenas para complementação no tratamento
caso seja o desejo do paciente, pois ainda não existe um consenso criterioso
sobre a utilização devida destas técnicas como sendo único recurso para o
tratamento do paciente depressivo.
42
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
“Não se deve ser mesquinho com o afeto, o
que se gasta das reservas é renovado pelo
próprio ato de gastar”. (Sigmund Freud)
A depressão é uma doença castigada socialmente. Muitas vezes a
família é a primeira a discriminar o paciente, por não saber e entender o que
está acontecendo com este. É sempre considerada como se o indivíduo não
tivesse força de vontade para reagir; como se fosse preguiça ou coisa
parecida. Esse estigma associado à depressão dificulta não apenas o
diagnóstico como também a própria percepção do problema pela pessoa
doente.
A depressão está muitas vezes ligada a uma mudança de
comportamento. Os doentes muitas vezes revelam dificuldades em se
relacionar com os outros. A sua conversação pode ser dominada por
pensamentos negativos, incluindo a tristeza e o desespero.
A depressão pode também ter um impacto significativo no padrão de
comportamento dos outros membros da família. Como exemplo, a depressão é
muitas vezes acompanhada por um aumento das discussões conjugais. O
humor, afeta as relações criando um padrão negativo de comportamento,
levando o deprimido a cada vez mais ter sua autoestima baixa. Outro fator que
os familiares têm que estar atentos é que as pessoas com depressão tem
maior risco de suicídio.
Alguns estudos mostram que o envolvimento e o apoio familiar pode ter
grande influência no decurso da doença depressiva. Pois, da mesma forma que
a família muitas vezes recrimina o doente ao mesmo tempo é ela quem pode
ajudá-lo, levando-o a procurar ajuda especializada de profissionais habilitados
43
como um psicoterapeuta e um psiquiatra, tratando de forma adequada não
agindo como se fosse apenas uma tristeza profunda e que irá passar com o
tempo.
3.1 – Autoestima
O conceito de autoestima reside no cerne do nosso ser. É o que eu
penso e sinto sobre mim mesmo, não o que o outro pensa e sente sobre mim.
A autoestima é a soma da autoconfiança com o autorrespeito. Ela
reflete o julgamento implícito da nossa capacidade de lidar com os desafios da
vida, entender e dominar os problemas, e o direito de ser feliz respeitando e
defendendo os próprios interesses e necessidades.
Ter uma autoestima elevada é sentir-se confiantemente adequado à
vida. Ter uma baixa autoestima é sentir-se inadequado a vida, errado como
pessoa.
Segundo Branden (2008) quando crianças, nossa autoconfiança e nosso
autorrespeito podem ser alimentados ou destruídos pelos adultos – conforme
tenhamos sido amados, respeitados, valorizados e encorajados a confiarmos
em nós mesmos. Mas, em nossos primeiros anos de vida, nossas escolhas e
decisões são muito importantes para o desenvolvimento futuro da nossa
autoestima. Estamos longe de sermos receptáculos da visão que as outras
pessoas têm sobre nós. E de qualquer forma seja qual tenha sido nossa
educação, quando adultos o assunto está em nossas mãos.
Todos deveriam desfrutar de um alto nível de autoestima, vivenciando
tanto a autoconfiança intelectual como a forte sensação de que a felicidade é
adequada. Entretanto infelizmente, uma grande maioria de pessoas não se
sente assim. Muitas sofrem de inadequação, insegurança, dúvida, culpa e
44
medo de uma participação plena na vida, um sentimento vago de “eu não sou
suficiente”.
É o que acontece com os pacientes deprimidos. Além de problemas
biológicos, não tem como não se pensar em uma única dificuldade psicológica
que não esteja relacionada com uma autoestima negativa.
Uma pessoa com baixa autoestima se enxerga de maneira negativa,
mas consegue levar uma vida normal. Quem tem depressão, além dessa visão
negativa, perde a motivação para viver. “Mas o indivíduo com depressão
sempre tem autoestima baixa, pois essa sensação de incapacidade é um dos
aspectos que podem torna-lo depressivo”. (João Freire Filho, 2011).
Em muitos pacientes deprimidos encontram-se sentimentos profundos
de menos-valia, de redução da autoestima e auto-depreciação. O indivíduo se
sente sem valor, não merece viver e ser amado deveria morrer para deixar de
incomodar os outros. Aqui, torna-se patente a dimensão de fracasso
existencial, relativo à realização de um destino pessoal. Limitado fisicamente e
mentalmente tende a sentir-se sem valor, como um peso para a família, um
fracassado, um inútil, o que muitas vezes, vem associado a um descuido
crônico de si mesmo, autonegligência, falta de higiene e, mesmo, atos e
condutas suicidas.
“Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo
profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo
externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e
qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de
autoestima a ponto de encontrar expressão em auto-
recriminação e auto-envilecimento, culminando numa
expectativa delirante de punição”. (Freud vol.XIV, pg.250)
Segundo Branden (2008) ele nos pergunta como nós podemos fazer
para elevar a nossa autoestima? E responde dizendo que precisamos aprender
45
novos comportamentos; e precisamos tomar medidas específicas em assuntos
onde nos sentimos verdadeiramente culpados, para resolvê-los ao invés de
apenas sofrer passivamente.
E com o depressivo não é diferente. O depressivo pode estar
vivenciando o conforto do conhecido – estar acostumado com as crises de
ansiedade e depressão, e achar que crescer em autoestima é abandonar
aquela zona de segurança e entrar no desconhecido. Pois, acredita que
mesmo com as crises mantém o controle da situação.
O autor ainda alerta que diante desse processo de crescimento da
autoestima o depressivo terá que ter cuidado com os boicotes familiares, pois o
depressivo não está mais naquela posição de bode expiatório.
Porém, o autor enfatiza que de um modo ou de outro, a vida não será
mais como era. E assim o paciente depressivo estará em busca de seu amor
próprio, maior autoconfiança e autoaceitação.
3.2 – A Influência da Família
O conceito de família vem sofrendo grandes mudanças nas últimas
décadas, acompanhando as tendências de desenvolvimento nos âmbitos
econômico, tecnológico, político e cultural. No Brasil, principalmente após a
entrada da mulher no mercado de trabalho, podemos observar grandes
transformações nos papéis familiares, relação de poder, valores individuais e
coletivos, estrutura e capacidade de decisões referentes à família.
Segundo Baptista, Baptista e Dias (2001) a família pode ser descrita
como sendo um processo no qual ocorre o desenvolvimento psicológico do
indivíduo, de um estado de fusão/ indiferenciação para um estado de
separação/ individualização cada vez maior. Este ciclo é determinado não
apenas por estímulos biológicos e pela interação psicológica, mas também por
46
processos interativos no interior do sistema familiar. Igualmente, o curso da
história futura do indivíduo pode ser prevista à base do clima emocional
predominantemente na família de origem. Porém, nem sempre a família é
bastante flexível para proporcionar este desenvolvimento, de acordo com as
mudanças das contingências que ocorrem, principalmente na passagem da
fase da infância para adolescência.
Os autores destacam que várias pesquisas objetivaram a estudar as
relações familiares e algumas características de adolescentes, bem como a
influência da família na etiologia e manutenção de problemas pessoais,
distúrbios e transtornos desenvolvidos ou acentuados na fase da adolescência.
Dentre eles podemos citar: abuso de drogas, violência familiar associada à
depressão, performance escolar, abuso de álcool e suicídio além de outros. O
divórcio entre os pais é um dos fatores determinantes também para
desencadear alguns transtornos principalmente a depressão. Pois, representa
para a criança perda da segurança e instabilidade quanto ao futuro dos
mesmos, ocasionando sentimentos negativos além de influenciar no
autoconceito dos adolescentes, no que diz respeito atitudes sociais e
autocontrole.
De acordo com Hoffman (2005) quando somos crianças aprendemos
comportamentos positivos e negativos através da programação dos pais.
Infelizmente, a maioria teve pais que exprimiam padrões de comportamentos
negativos, e por infelizmente não sabermos nada melhor adotamos esses
comportamentos de modo inconsciente como nossos para comprar o amor dos
pais. O adulto que nos tornamos depois age com atitudes da infância.
“Alguns perderam o pai ou a mãe na infância por separação ou
morte. Outros foram abandonados por um ou ambos os pais,
viveram com pais substitutos ou em instituições. A ausência
dos pais biológicos e a falta do sustento e do amor deles, a
despeito de quanto amor vocês possam ter recebido dos
substitutos, é a causa básica de sua inabilidade de se
47
relacionar amorosamente com vocês mesmos e com os outros.
Muitos tiveram pais que estavam fisicamente presentes, mas
emocionalmente ausentes. O resultado é o mesmo, pois, vocês
não receberam um consciente fluxo de amor e de aceitação
incondicionais dos seus pais e por isso sentem que não
merecem amor. Desta forma nasce à falta de autoestima
acompanhada de sentimentos de desmerecimento e
incapacidade de amar.” (Hoffman, 2005).
Segundo Baptista, Baptista e Dias (2001), foi feito um estudo com
famílias intactas que tenderam a favorecer maior estabilidade e afeto para seus
filhos do que famílias reconstituídas ou divididas. A autoestima dos
adolescentes em famílias intactas era significativamente mais alto do que
proveniente de famílias reconstituídas ou divididas.
“A relação família-depressão, tem-se fundamentado nos
princípios da aprendizagem e sugerem que os relacionamentos
familiares, para contribuírem de forma positiva para o
tratamento do adolescente depressivo devem dar uma atenção
especial nas condições afetivas, que são experenciadas por
todos os integrantes da família. A experiência de, amar e ser
amado são uma das condições essenciais para o
desenvolvimento sadio do homem, um sólido alicerce de amor
paterno durante a infância dá ao jovem recursos incalculáveis
ao ingressar na adolescência, assim, o adolescente se sente
amado, não corre o risco de se sentir rejeitado pela família,
facilitando uma visão satisfatória sobre o suporte familiar,
proporcionando sentimentos de bem estar no adolescente, o
que se torna inconsciente com a depressão.” (Baptista;
Baptista; Dias apud Gonçalves, 2006 pg.42).
De acordo com Baptista, Baptista e Dias (2001) os sintomas
depressivos, podem ser influenciados por consequência da insatisfação do
indivíduo com o suporte fornecido pelo seu grupo social. Quanto maior a
48
depressão apresentada por adolescentes, maior o número de problemas que
os mesmos tiveram na infância. Relacionamentos sociais construtivos com os
membros da família e amigos podem propiciar sentimentos de bem-estar no
adolescente, o que é preventivo a depressão. Os relacionamentos pessoais, os
primeiros relacionamentos seguros e a relação pais-criança durante a infância,
propiciam um crescimento com sentimentos de maior autoestima e autoeficácia
na vida de um indivíduo.
Os autores dizem que em geral, o comprometimento do bem estar dos
pais debilita o sistema de suporte familiar. A depressão dos pais, conflitos
familiares e infelicidades conjugais afetam negativamente a qualidade afetiva
dos relacionamentos familiares e, particularmente, o relacionamento entre mãe
e filha. Os níveis de tolerância das famílias em relação à individualidade e
intimidade de seus filhos possui ligação com o futuro ajustamento pessoal do
adolescente, além de correlação com as variáveis: depressão e ansiedade.
Quanto maior o controle da família em relação ao adolescente, menor a
capacidade que ele terá para enfrentar as situações, por ter menor capacidade
de desenvolver sua individualidade.
Segundo Dolto (1990) a juventude atual tem mais dificuldade do que as
gerações precedentes em encontrar seu lugar na sociedade. E a sociedade por
seu turno encontra dificuldades para enfrentar esse mal estar. O adolescente
não se acha necessário à sociedade, nem de ser verdadeiramente desejado.
Os pais não possuem mais tempo para exercerem a função de pais. Por outro
lado, sobre os adolescentes fragilizados, os pais exercem uma pressão
fantástica onde eles têm que entrar para uma boa escola, fazer a escolha da
carreira certa, conseguir resultados superiores ao dos seus colegas, esperando
que seu filho consiga resultados acima da média, o que é totalmente absurdo.
Quanto aos colegas, querem que o adolescente se inicie tão cedo no sexo e na
droga que criam outro tipo de tensão. Tornando a vida complexa e intolerável.
49
De acordo com Barbosa e Gaião (1999) pais ansiosos são os que mais
criticam os filhos, levando-os a apresentar conduta disruptiva. Pais com caráter
autoritário e/ ou permissivo tem forte influência na incidência da depressão
infantil, apresentando sintomas mais frequentes de choros, obesidades, apatia,
e outros.
Os autores chamam atenção para a forte evidência de um continuum
entre a deficiência do funcionamento social do adulto, e antecedentes de
transtornos de ansiedade e depressão, quando na idade adulta. A ansiedade
da criança implicará em um mau ajustamento na idade adulta. Ansiedade e
depressão precoces são associadas com baixo nível de aprendizagem, baixa
autoestima, tentativas de suicídio e depressão recorrente no adulto. Estes
adultos que tiveram ansiedade e depressão precoces na infância apresentaram
inadequação de competência social, relações defeituosas ou anômalas com
amigos, familiares e esposas/os, ou seja, apresentam comprometimento na
área afetiva.
É importante observar a fundamental importância que existe na relação
entre a família e o adolescente depressivo, afinal, essa influencia e é
influenciada pelo adolescente, tendo grande destaque neste processo. A
relação familiar pode vir a influenciar a origem, a evolução e recuperação do
adolescente depressivo, sendo que não existe apenas um fator isolante e sim
um conjunto de fatores, no qual o suporte familiar faz parte.
Parece haver uma coerência teórica e prática em dizer que o suporte
familiar pode ser considerado como um importante preditor de transtornos
afetivos em crianças, adolescentes e adultos, pois ele influencia diretamente de
forma como o indivíduo se autoavalia e como avalia as informações provindas
do meio exterior.
3.3- O Papel da Família
50
De acordo com a Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e
Bipolares (ADEB), falaremos sobre o papel da família, como esta poderá ajudar
o depressivo e se ajudar diante desse transtorno que afeta á todos de uma
maneira geral.
Primeiramente reconhecer que a pessoa está doente e que o tratamento
é prioritário.
Quando alguém está com sintomas de depressão, a melhor forma de
lidar com a doença é estar preparado. E isso significa aprender a cerca da
depressão e dos seus efeitos, para ajudar a compreender o que está
acontecendo e desenvolver estratégias de atuação. Como também discutir
estas estratégias com um profissional de saúde, seja o psiquiatra ou o
psicoterapeuta, porque eles estão aptos a fornecer mais ideias ou a mostrar
modos de usá-las no seio de um ambiente familiar específico.
É importante que os familiares possam fornecer a pessoa deprimida um
ambiente carinhoso e de apoio. É natural que se espere que os sintomas da
depressão desapareçam rapidamente, mas é preciso reconhecer que o doente
irá progredir ao seu próprio ritmo. Tente não se colocar a si e a pessoa
deprimida em situações que possam provocar desapontamentos e tente não
pressionar o doente a animar-se.
Lembre-se que o primeiro tratamento pode não ser a melhor resposta
para a depressão e que o processo de tentativa e erro pode levar algum tempo.
Encoraje o deprimido, faça vê-lo suas melhoras. Como o depressivo tem uma
visão negativa da vida, os familiares necessitam de compreender e de tentar
encontrar maneiras para lidar com a frustração que poderá surgir de vez em
quando.
51
O desânimo provocado pela depressão pode levar o doente a pensar
que não vale a pena consultar um médico ou tomar medicação. Ajude-o a
seguir as orientações do médico.
Procure ser sensível com o doente. Trate a pessoa normalmente quanto
possível, mas não o faça como se nada estivesse acontecendo. A pessoa
deprimida apreciará que não se ignore sua doença.
É importante destacar também o impacto que a depressão tem nas
relações conjugais. Os cônjuges de pessoas deprimidas tem tendência a
ficarem frustrados com estes. Muitas vezes o paciente deprimido apresenta
redução do desejo sexual, e se o parceiro/a não compreende, pode causar
desentendimentos conjugais.
No geral, as relações das pessoas deprimidas com os seus cônjuges
são caracterizadas por um maior nível de irritação e hostilidade. Os problemas
conjugais parecem ter uma forte influência no decurso da depressão.
É preciso que o cônjuge não julgue as atitudes e sim compreenda, pois o
deprimido está fazendo o melhor que ele pode fazer. Esta pessoa já se sente
só, ficará realmente desamparada, e na companhia dos piores sentimentos que
poderá experimentar.
Um apoio conjugal forte poderá resultar em melhorias mais rápidas e
duradouras dos sintomas depressivos. De igual modo, o apoio e participação
de outros familiares podem ser essenciais na diminuição desses sintomas. A
colaboração de todos os familiares poderá ajudá-los a lidar com os seus
sentimentos e a fortalecer a sua relação.
Algumas vezes os familiares precisarão se ajustar a divisão dos afazeres
de casa, pois com a depressão a capacidade do doente em realizar as tarefas
diminui, e os familiares poderão ter dificuldades em se adaptá-las. Tornando
52
mais flexível, por exemplo, preparando refeições mais simples. O cônjuge e os
filhos poderão assegurar mais tarefas domésticas.
Lembre-se que procurar tratamento é um sinal de força e é o primeiro
passo para se sentir melhor. Reconheça que a melhoria sintomática é uma
etapa em direção a um objetivo mais global – resolver os problemas
relacionados com o episódio depressivo, melhorando o relacionamento e os
aspectos afetivos e emocionais que terão conduzido à depressão.
Este processo demora algum tempo, mas pode levar a uma vida mais
saudável e feliz.
É importante que a família também se envolva no processo de
recuperação. Segundo Grunspun (1992) ele faz um alerta no caso de crianças
onde diz que “a criança não toma remédio; a família é que dá o remédio;
portanto na prescrição, cuidar da família.” (Grunspun, 1992, pg.440).
Algumas famílias se beneficiam da participação em terapia familiar ou
aconselhamento. Trabalhar com um terapeuta pode também ajudar os casais e
famílias a aprenderem estratégias de comunicação mais eficazes e a melhorar
a maneira de combater a depressão em casa.
Um grupo de apoio para pessoas com doença depressiva e seus
familiares pode também tranquilizar e informar, assim como serem encorajados
por outros que tenham vivido experiências semelhantes.
Os familiares não deverão ficar surpreendidos se se sentirem mais
fatigados ou menos tolerantes, uma vez que a depressão pode ser
acompanhada de um aumento do nível de estresse na família. Por isso, é
importante que os familiares mantenham as suas rotinas normais e que
dispensem tempo, para cuidarem de si próprios.
53
3.3.1- O Suicídio
Como já foi falado anteriormente, sobre o suicídio e as tentativas do
mesmo não são infrequentes em pacientes de todas as idades e principalmente
em crianças e adolescentes.
Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o
comportamento suicida destaca-se pelo impacto e pelos números de suicídios
entre as seguintes faixas-etárias: de 15 – 20 – 35 anos está entre as três
maiores causas de morte. E recentes pesquisas mostram que nos últimos
anos, a mortalidade global por suicídio vem migrando de grupos idosos para
grupos mais jovens, entre 15 a 45 anos. A faixa-etária de indivíduos entre 15 a
44 anos, o suicídio é a sexta causa de incapacitação. E entre cada suicídio
existem em média, 5 a 6 pessoas próximas ao falecido que sofrem
consequências emocionais, sociais e econômicas.
Segundo Dolto (1990) do ponto de vista sociológico, as estatísticas
concernentes ao suicídio nem sempre são fiéis. A polícia prefere falar em
acidente em vez de suicídio e também para não atormentar a família. Só é
falado em suicídio quando a vítima deixa uma carta explicando suas intenções,
o que constitui uma pequena minoria. Se a constatação legal fosse menos
recatada, perceberíamos que o fenômeno é bem mais grave do que as
estatísticas fazem crer.
Conforme Grunspun (1992) a própria família faz questão de esconder o
ato suicida praticado pelo familiar, primeiramente, por ser visto como um ato
punível, chegando o indivíduo a ser visto como perigoso, e por não
compreenderem o verdadeiro motivo pelo qual o levou a cometer tal ato.
De acordo com as pesquisas, o suicídio hoje é compreendido como um
transtorno multidimensional, que resulta de uma interação complexa entre
fatores ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos e biológicos. Estima-se que o
54
risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com depressão é de 15%. E
uma grande parte delas morre sem nunca terem ido a um profissional da área
de saúde mental. Assim, a melhora na detecção, referenciamento e manejo
dos transtornos psiquiátricos e psicológicos na atenção primária são passos
importantes na prevenção do suicídio.
Segundo Nogueira (2012) a depressão não está sendo tratada
corretamente pelos brasileiros, pois, na maioria das vezes as pessoas não
buscam tratamento por confundi-la com uma tristeza profunda.
Por isso, o autor chama atenção para os aspectos psicológicos
predisponentes ao suicídio que são as perdas recentes; perda de um amigo ou
parente próximo; crítica dos familiares; dinâmica familiar conturbada; ameaça
de separação dos pais ou a separação em si; impulsividade, agressividade,
humor lábil entre outros.
No caso dos adolescentes, a sucessão de momentos alternantes entre
excitação e depressão, caracterizando uma oscilação de humor, é um fator
importante a se considerar nessa fase. Esses momentos podem ser de longa
duração e há um período de profunda tristeza, pessimismo, diminuição de
atividade e isolamento são característicos. Os conflitos de gerações com os
pais, além da autodesvalorização podem levá-los a passar por sentimentos de
culpa, que aumentam ainda mais os aspectos depressivos nessa fase.
“A análise da melancolia mostra agora que o ego só pode se
matar se, devido ao retorno da catexia objetal, puder tratar a si
mesmo como objeto – se for capaz de dirigir a si mesmo a
hostilidade relacionada a um objeto, e que representa a reação
original do ego para com os objetos do mundo externo.” (Freud,
vol.XIV pg.257)
55
De acordo com Nogueira (2012) as pesquisas mostram que a maioria
das pessoas com idéia de morte comunica seus pensamentos e intenções
suicidas, direta ou indiretamente aos amigos, familiares e colegas de trabalho.
Segundo Lima (2011) no senso comum dizem que “quem ameaça não
se mata”. Pura inverdade. Não há critérios estatísticos que confirmem isso,
muito ao contrário: os casos de tentativa de suicídio (em que, portanto o doente
pode se manifestar e expressar os sentimentos depois do ato) foram
previamente sinalizados e avisados a parentes próximos e/ ou amigos. Por
isso, fiquem atentos aos sinais como, por exemplo, frases do tipo “eu não sirvo
pra nada”; “eu sou um perdedor e um peso pros outros” e assim por diante.
Todos esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados. “O suicídio é o ato de
matar a si mesmo”. (Grunspun, 1992 pg.322)
“Existem alguns mitos a respeito do suicídio. Principalmente o
mito que pretende que o suicídio “não avisa”. O que é uma
inverdade. O candidato ao suicídio emite sinais de angústia e
espera que alguém consiga captá-los” (Dolto, 1990 pg.259).
Se um familiar com depressão expressou pensamentos suicidas, chame o
seu psiquiatra imediatamente. Não menospreze ou espere que a crise passe,
embora seja importante não entrar em pânico nesta situação. Mantenha uma
comunicação aberta com o seu familiar, colocando questões diretas e que
mostrem sua preocupação. Deixe que a pessoa deprimida saiba que a vida
dela é muito importante e valiosa para si. Procure não atribuir culpas. Lembre-
lhe que estes pensamentos são sintomáticos de uma doença médica e que
existem tratamentos disponíveis e eficazes.
Uma vez que nem sempre é possível prevenir o suicídio, o torne mais
difícil, retirando de casa armas, álcool e medicamentos desnecessários. Os
membros da família devem procurar aconselhamento para serem ajudados
perante o choque que é ter um membro da família com uma doença que pode
levar ao suicídio como a depressão.
56
CONCLUSÃO
A depressão do ponto de vista psicopatológico tem como elemento
central o humor triste. E se caracteriza por uma multiplicidade de fatores
biológicos, genéticos e neuroquímicos. A depressão surge com muita
frequência após perdas significativas: de uma pessoa querida, de um emprego,
do status socioeconômico, ou de algo puramente simbólico.
A depressão sendo um problema tão relevante de saúde pública, devido
a sua alta incidência em todas as idades, sexos e classes sociais, necessita de
tratamento psiquiátrico e psicoterápico. Devendo se trabalhar conjuntamente
em busca do êxito e da cura do paciente. Existem outras técnicas de
tratamento que são complementares como a do relaxamento, lembrando que
cada técnica possui sua aplicação específica e a preferência do paciente é um
fator de grande valia.
A forma apática do depressivo o prejudica consideravelmente nas suas
atribulações da vida social, no trabalho, no sono, no relacionamento familiar e
social, nos hábitos alimentares, no desejo sexual e em tudo que possa
ocasionar gozo na vida. A depressão promove crises de tristeza profundas,
levando o indivíduo à prostração, dependendo do grau ou da intensidade com
que se manifesta.
A família deve orientar a procurarem tratamentos com profissionais
capacitados que possam fazer o diagnóstico preciso. Se tratados corretamente
e com determinação, as chances de obterem a cura são equivalentes às de
outra doença qualquer. A depressão tem cura na maioria dos casos em
tratamento.
Existe uma grande resistência por parte dos familiares sejam os
cônjuges, passando a tratar o outro com indiferença por não representarem em
57
suas vidas e que “de repente” deixou de ser; filhos que não conseguem aceitar
que suas mães deixaram de cuidar e tiveram que ser cuidadas pelos mesmos;
pacientes depressivos que relatam como eram tratados por seus pais de forma
pejorativa no qual justifica hoje sua baixa autoestima acreditando serem seres
inferiores e familiares que arranjaram vários outros significados e explicações
para o que pode estar acontecendo negando a realidade.
A família precisa entender que sua participação é importante tanto na
instalação do problema; na prevenção; no tratamento do paciente; como
também entender que precisa de ajuda tanto quanto este.
Ela precisa ter consciência da doença, sair da negação para começar
ajudar o doente.
As rápidas mudanças sociais e, principalmente familiares, que estão
ocorrendo atualmente parecem ter alguma relação com a prevalência de
depressão na população adolescente. É claro que seria ingênuo pensar que
somente estes fatores estariam contribuindo para isto, porém não deve ser
desprezado que a família funciona como um amortecedor para os eventos
estressores, pelos quais os adolescentes enfrentam no seu cotidiano.
Quanto aos afetos, somos o que nossos pais representam para nós,
porém devemos lembrar que sem intenção nos programaram, embora sendo a
causa, não são culpados.
O depressivo pode e tem condições de trabalhar sua autoestima, pois
com a autoestima elevada o indivíduo terá condições de buscar alternativas
que o ajudem na busca de novas estratégias para o enfrentamento de
situações de dificuldade. Pois, a depressão pode ser utilizada pelo indivíduo
como refúgio, numa tentativa de justificar o medo de enfrentar desafios e os
riscos da vida. Muitas vezes a tristeza e a angústia são chamadas de
“depressão”, sendo tratadas como doença, dignas de serem curadas. Sentindo-
58
se diferentes dos outros, o doente geralmente é excluído e se exclui das
possibilidades que os outros gozam, e como consequência, permanece isolado
e ilusoriamente protegido.
Considera-se que para a causa do suicídio haveria um conjunto de
fatores intrínsecos que se agrupam, constituídos por uma vertente social e uma
vertente individual, uma interferindo na outra, com múltiplos fatores
determinantes.
O clínico e as autoridades ligadas à área de saúde precisa, estar atentos
e desenvolverem projetos ligados à prevenção de depressão em adolescentes,
utilizando como um grande aliado à família, pois, a sociedade prefere especular
sobre as causas e os remédios em vez de investir em programas de
prevenção.
Primeira medida de prevenção é assegurar a criança um lar caloroso e
harmonioso. Depois, associar o adolescente as atividades da coletividade a fim
de que ele se sinta útil. E finalmente, reforçar ou criar a comunicação entre pais
e filhos. É preciso que os pais fiquem realmente à escuta do filho. E acima de
tudo entender que não é um capricho, e que as pessoas são diferentes e que
cada um recebe os fatos de formas e maneiras diferenciadas.
Quando se tem um entendimento sobre o assunto a família pode
perceber sua importância neste tratamento, desde seu primeiro sintoma até a
descoberta do diagnóstico, até onde ela foi à causada ou a causadora desse
distúrbio. Incentivando o tratamento, sabendo da importância do mesmo, tanto
medicamentoso quanto psicoterápico.
59
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63
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - ENTENDENDO O QUE É A DEPRESSÃO 11
1.1 - O Afeto 11
1.2 - A Depressão 14
1.2.1 - Os Sintomas da Depressão 18
1.2.2- As Causas da Depressão 21
1.3 – As Classificações da Depressão 23
1.3.1- Classificação dos Transtornos do Humor 23
1.3.2- Classificação nas Fases Existenciais 28
CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO 32
2.1- Psiquiátrico 33
2.2 – Psicoterápico 36
2.3 – Relaxamento 39 CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA 42
3.1- Autoestima 43
3.2- A Influência da Família 45
3.3- O Papel da Família 49
3.3.1- O Suicídio 53
CONCLUSÃO 56
64
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59
ÍNDICE 63