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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE APRENDIZAGEM E AFETO Por: Jemima Cardoso de Souza Professor-orientador: Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2004 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

APRENDIZAGEM E AFETO

Por: Jemima Cardoso de Souza

Professor-orientador: Fabiane Muniz

Rio de Janeiro 2004

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

APRENDIZAGEM E AFETO

Objetivo: Estabelecer

vínculos entre

professores e alunos.

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DEDICATÓRIA

As amigas mais chegadas que irmãs:

Ana Maria M. P. Desiderio Reis

&

Vania Santamarinha

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AGRADECIMENTOS

Á equipe do Colégio Guido de Fontgalland que me recebeu de braços

abertos;

Á equipe do Colégio Santamarinha que é puro afeto;

À minha mãe que atura todo o meu pouco humor quando tenho prazos

pequenos para entrega de trabalhos ;

À toda a minha família que está sempre torcendo pelo meu sucesso!

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EPÍGRAFE

Se a gente grande soubesse

Billy Blanco

Se a gente grande soubesse

O que consegue a voz mansa

Como ela cai feito prece e vira flor

No coração de criança.

A gente grande que tira

O meu brinquedo da mão

Tirou do músico a lira

Interrompeu a canção.

De tanto não que escuto

O não eu vivo a dizer

Se eu não sossego um minuto, é natural

Eu não parei de viver.

A gente apenas repete

Tudo o que escuta e que vê

Pois gente grande eu queria ser, um dia

Todo igualzinho a você.

Pois gente grande eu queria ser, um dia

Todo igualzinho a você.

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RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido para educadores, pais e

pessoas que se interessam pelo investimento da afetividade nas relações.

Nesta pesquisa bibliográfica, será destaca a importância da afetividade

relacionada à aprendizagem dentro do ambiente escolar. Veremos como a

afetividade estabelece um vínculo maior na relação professo-aluno e confere

a ambos uma qualidade maior de aprendizagem.

Este trabalho tem como objetivo, buscar na literatura atualizada

e pertinente, algumas questões levantadas, ou seja, como o afeto e a

aprendizagem podem caminhar juntos.

Conclui-se que a afetividade é um elemento valioso no

processo mencionado acima.

O importante é que professores e alunos tenham experiências

diretas com a vida,que sejam felizes.

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METODOLOGIA A metodologia utilizada envolveu uma pesquisa bibliográfica

para embasar o presente trabalho, envolveu livros, revistas educacionais e

registros de palestras educacionais.

“Não há ninguém que não tenha conseguido nada pelo estudo”

Marcus Fabius Quintilianus

A proposta desta pesquisa é buscar na literatura atualizada, um

trabalho qualitativo e mais prazeroso.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I 14 ARTETERAPIA 14 CAPÍTULO II 16 APRENDIZAGEM: REFLETINDO SOBRE O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS 16 CAPÍTULO III 20 AFETIVIDADE: É POSSÍVEL UTILIZÁ-LA EM SALA DE AULA 20 CAPÍTULO IV 25 IMPORTÂNCIA DA MÚSICA: CAMINHO DEMOCRÁTICO PARA A APRENDIZAGEM 25 CAPÍTULO V 28 BRINCAR É PRECISO: CRIANÇA NÃO É MÁQUINA 28 CONCLUSÃO 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34

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(...) É preciso reinventar o mundo, e só existe um método de reinvenção do

mundo: a solidariedade, o olho no olho, porque, por mais que possamos

interpretar a razão de estarmos neste planeta, existe uma razão fundamental

a que todo mundo responde, que é fato de que estamos aqui para nos

encontrarmos uns com os outros. (...) estou falando do sentimento básico

humano, que é o sentido básico humano, que é o sentido de encontrar.

(...) Temos que definir a vida como este ato de encontrar-se como diferentes

uns dos outros e de e ter a coragem de entender que a solidariedade é

aquele ato em que olhamos no olho do nosso contemporâneo e dizemos:

“este é tão diferente que é tão humano que nem eu.”

( Betinho, 1992)

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INTRODUÇÃO

“... Não busco a formação matemática,

busco a formação humana e esta só nasce no amor.”

Johann Heinrich Pestalozzi Vive-se hoje num mundo em plena transformação em todos os

níveis culturais. Os homens se encontram perplexos diante da velocidade e

da profundidade dessas mudanças, principalmente os educadores que,

pelas suas próprias funções, têm que sair da sensação de impacto que a

situação acarreta e partir em busca de outros caminhos para a educação.

Considerando o atual modelo de sociedade, onde a

competitividade encontra-se cada vez mais complexa, é de suma

importância que os educadores valorizem a relação afetiva entre os alunos

para que eles se tornem indivíduos capazes de pensar em uma nova escola,

onde todos os seus componentes estejam comprometidos com valores

éticos , morais e que exerçam plenamente a cidadania.

É um mundo complexo, com imensos desafios. Entender essa

complexidade e enfrentar esses desafios é uma necessidade para que o

homem supere a condição de objeto e passe a ser sujeito, individual e

coletivamente considerado.

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A educação, como parte da realidade, tem que ser revista

criticamente para abandonar seus aspectos coerentes ainda com

paradigmas antigos, resgatar aqueles que ainda podem servir a nossa

situação e buscar alternativas que, efetivamente, a façam cumprir sua

principal função: permitir que o homem visto em sua totalidade e pela prática

consciencial, seja capaz de mudanças para construir um mundo melhor para

ele mesmo e para todos.

A aprendizagem que envolve afeto conduz o aluno a se auto-

avaliar, respeitar o próximo, enfim a ser feliz, procurando suprir suas

necessidades consciente de seu papel.

O desenvolvimento de uma relação de qualidade entre

professor e aluno, desestrutura alguns educadores, pois leva a refletir sobre

o seu próprio agir dentro do processo ensino-aprendizagem.

Uma das principais preocupações da educação deveria ser a

luta de um ambiente acolhedor dentro dos estabelecimentos de ensino, para

que todo educando pudesse sentir-se seguro.

É tempo de ensino, para que todos os educandos pudessem

sentir-se seguro.

É tempo de desafio. Tempo de darmos oportunidades aos

alunos de se desenvolverem integralmente.

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Acompanhando esta linha de reflexão, definiram-se os objetos

desta pesquisa bibliográfica, que são:identificar a importância de uma

relação de qualidade entre educador e educando e propor uma exploração

criativa das diferentes áreas de conhecimento.

É da responsabilidade da educação ajudar na formação do

cidadão.

Desta maneira, cada indivíduo vai construindo sua visão de

mundo. Só que esta construção fica mais fácil, quando conseguirmos ter a

visão de que a escola não é apenas o lugar onde adquirimos

conhecimentos, mas onde se pode sonhar, imaginar, criar e acima de tudo

ser feliz.

Ultimamente, temos nos preocupado muito com os métodos de

ensino. Qual é o melhor ou o que podemos fazer para melhora-los? Será

esta atualização capaz de invocar uma escola mais humana?

No presente trabalho ao selecionar-se um tema “aprendizagem

e afeto”, propõe-se o repensar dos reais valores norteadores de uma

sociedade justa, fraterna e mais humana.

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CAPÍTULO I

ARTETERAPIA

“Definir é matar, sugerir é criar” Stephane Mallarmé

A arteterapia preocupa-se em estimular a capacidade criativa e

imaginativa de uma pessoa , a fim de que se consiga, através da utilização

de materiais plásticos chegar a finalização de sua obra.

A criatividade faz parte do indivíduo, enquanto ser, na medida

que ele vive dentro de um ambiente que exige dele respostas às situações

emergentes.

Criar significa “dar origem a”, “tirar do nada”, “fazer brotar”,

"surgir” (Aurélio Buarque de Holanda).Em todas as definições relacionadas

existe o elemento desafiador que oferece oportunidade de desenvolver a

criatividade.

A criatividade é resultante da necessidade de auto-expressão e

dos estímulos do meio ambiente.

A arteterapia, construção de alteridade, apresenta ao sujeito

novas possibilidades de acoplamentos estruturais, novas possibilidades de

autopoiese.O cérebro é o único órgão consciente que possibilita o ser

humano entrar em contato com a realidade externa através dos nossos

sentidos e com eles as sinapses acontecem.

Por isso vale acreditar na grande influência do meio no

gerenciamento do ser, não descartando a genética pois ela apresenta

tendências a reações e transformações corporais.

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CAPÍTULO II

APRENDIZAGEM: REFLETINDO SOBRE O PAPEL DA ESCOLA NA

FORMAÇÃO DOS ALUNOS

“A tarefa de todo educador, não apenas do professor, é a de formar seres

humanos felizes e equilibrados” (Gabriel Chalita)

Como é importante quando “abrimos” nosso dia com a turma

dizendo, com um sorriso: “Bom dia!”

Sempre que nos referimos à sala de aula, pensamos no local

onde aprendemos, no lugar onde existem carteiras e um professor para nos

ensinar conteúdos.

Quem ousa falar em afeto comum conteúdo programático tão

grande a ser vencido? Ou melhor, como pedir que as crianças expressem

seus anseios se a experiência pessoal não é considerada?

Zaguri (2000) nos fala abraço de corpo e alma/relato casual,

sem exageros, do fato positivo/sorriso verdade.

Temos sorrido para nossas crianças?

Contribuímos com a aprendizagem dos alunos quando nos

disponibilizamos, abrimos o canal de comunicação e demonstramos atenção

para com o processo da criança. Quando ao final do dia ao passear pelas

mesas, dizemos para cada um: “tudo bem”? Sua letra está bonita. Está mais

tranqüilo? Se precisar de alguma coisa me fale.

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Não podemos saber o que seria razoável esperar enquanto não

sabemos como são as crianças em geral. Não só devemos saber, como

também devemos conhecer as preocupações que têm a cada fase de

crescimento.

Auto-estima é “A maneira pela qual uma pessoa se sente em

relação a si mesma” Aurélio Buarque.

Quando se tem uma boa auto-estima, não se perde tempo e

energia tentando impressionar os outros; já se conhece seu próprio valor.

A auto-estima não é de caráter definitivo, embora uma vez

formada, não seja fácil modificá-la. Um novo reflexo, uma nova experiência,

leva a um novo êxito ou fracasso, que por sua vez leva a uma concepção

revista de si mesmo.

O adulto ajuda a construção da auto-estima da criança quando

coloca limites, dá uma bronca ou orientação com firmeza e afeto. Sem

exageros, sem gritos, sem mensagens negativas para a criança. Dentro de

um limite, é possível passar mensagens positivas.

Podemos citar aqui duas necessidades básicas:

Ser amado;

Sentir-se valorizado.

Segundo Briggs (2000), a saúde mental vem da qualidade das

relações entre a criança e aqueles que desempenham papel significativo

em sua vida.

Assim como existem os conteúdos escolares a serem

trabalhados, proponho que existam também “conteúdos afetivos”. E instituir

tais atitudes como “planejamento” da área afetiva.

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Acreditamos que podemos começar a mudar. É importante não

confundirmos uma escola sisuda com a escola responsável. Professor e

aluno podem brincar e ser alegres, fazendo as atividades com seriedade.

Freire (1989) nos leva a pensar:

Sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais

vire sisuda. A seriedade não precisa ser pesada. Quanto

mais leve é a sociedade, mas eficaz e convincente é ela.

Sonhamos com uma escola que porque séria, se

dedique ao ensino de forma competente mas que seja

uma escola geradora de alegria (p.37).

A afetividade tende a mudar algo, mudar também a realidade

que nos cerca.

Basicamente, o homem necessita utilizar a percepção que

advém dos seus sentidos e também da sua própria intuição e sensibilização.

Precisamos levar em conta os novos tempos e as

competências que valem a pena, visando modificar a realidade em prol de

uma formação mais prazerosa.

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CAPÍTULO III

AFETIVIDADE: É POSSÍVEL UTILIZÁ-LA EM SALA DE AULA

“ Pensamos demasiadamente, sentimos muito pouco.Necessitamos mais de humildade

que máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso a vida

se tornará violenta e tudo se perderá.” Charles Chaplin

É especialmente na prática, no cotidiano da sala de aula que

estão as possibilidades de atuação efetiva do educador. Mas a relação

professor-aluno está cada dia mais desgastada, vem perdendo seu vínculo

afetivo, e assim, dar aulas se torna um fardo pesado e os alunos não

suportam as aulas cansativas e desinteressantes. Esta, é na maioria das

vezes, a realidade entediante da escola.

É fundamental que os professores assumam um compromisso

com a tarefa educacional. O aluno precisa ver sentido no ato de aprender. A

aprendizagem tem que ser prazerosa. Alves (1988) utiliza uma comparação

muito clara - a aprendizagem deve ser como saborear uma comida gostosa

e, não, ter que engolir uma comida deteriorada (p.106).

É imprescindível que o aluno viva seus momentos de

aprendizagem, que os sinta parte de seu mundo. Dentro da sala de aula

existem possibilidades de crescimento e transformação.

Freire, em diálogo com Gadotti (1989), admite que a felicidade

propicia melhor produção, logo, estar bem é fundamental. Preocupar-se com

a dimensão humana, mantendo um clima de afetividade, não diminui a

seriedade de estudar.

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Snyders (1988), destaca que não há uma separação entre o

cognitivo e o afetivo, que formam uma unidade dialética. Deve haver uma

relação prazerosa em conhecer o mundo.

Não basta que o professor entre em sala de aula, despeje

conteúdos e exercícios. O aluno precisa se desenvolver como um todo -

mente, corpo e emoção.

A relação professor-aluno é uma questão básica. Segundo

Pereira (1992):

É através da linguagem que se cria o elo entre

professor e aluno,mas não é apenas a linguagem

verbal. Quando a professora segura, com carinho, a

mão pequenina de um de seus alunos ou lhe sorri com

simpatia, expressa-se sem palavras, expressão essa

que encerra força maior do que muitas palavras (p.

20).

Tornar mais prazeroso o trabalho de sala de aula e criar

vínculos na relação professor-aluno é uma necessidade no processo

educacional.

A relação educador-educando é bilateral. Para Freire (1987), a

educação bancária impossibilita esta relação, pois o educador é o sujeito do

processo educativo, enquanto os educando são simples objetos. Como nos

bancos, o saber é depositado. O educador fala, o educando escuta. Não há

diálogo, não há troca. Assim, não há clima para aprendizagem , nem para a

afetividade. Pereira, já citada diz com muita propriedade :

A educação se enriquece com a troca constante, com

a multiplicidade de linguagens, com a comunicação

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efetiva e global . Educar é comunicar,é utilizar a

palavra-princípio-Eu - tu .Sem isso ,definha,apodrece ,

morre .Educação é uma construção solidária , nunca,

solitária (P.55).

Como destaca Gadotti (1988), temas ligados à educação como

afetividade , fantasia , arte ,brinquedo,movimento e corpo, entre outros não

tem merecido muita atenção, no entanto são imprescindíveis para aqueles

que vivem o dia-dia da escola .

O prazer da escola não deve acontecer apenas na hora da

recreação, deve fazer parte das atividades do dia-dia.A aprendizagem deve

ser gostosa .

Gadotti (1985), citando Gusdorf, salienta aspectos importantes

da relação educador educando. Diz ele:

A verdadeira relação mestre-discípulo é (...) uma

relação de pessoa a pessoa.(...) A reciprocidade

processa-se por menor .Nem mesmo a dificuldade de

uma tal relação numa classe grande ,permite invalidar

esta perspectiva (...) (p.63)

A prática do professor exige que ele queira bem os seus

alunos. É preciso coragem para estabelecer vínculos. Freire (1988), coloca:

Esta abertura ao quere bem não significa, na verdade,

que, porque professor, me obrigo a querer bem a

todos os alunos de maneira igual.Significa, de fato,

que a afetividade não me assusta, que não tenho

medo de expressa-la. Significa esta abertura ao querer

bem a maneira que tenho de autenticamente selar o

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meu compromisso com os educandos, numa prática

específica do ser humano. (p.159).

Diríamos que, a afetividade faz parte da nossa vocação. O

professor não tem condições de entrar e sair da sala de aula sem

estabelecer vínculos. Ele lida com seres humanos, e portanto, com

emoções, sentimentos, desejos, medos...

Lidamos com gente. Só assim, com esta visão e compromisso,

entenderemos que ensinar e aprender nos traz alegria.

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CAPÍTULO IV

IMPORTÂNCIA DA MÚSICA: CAMINHO DEMOCRÁTICO PARA A APRENDIZAGEM

A música tem sido, através dos séculos, uma das formas de

comunicação entre os indivíduos. As tribos mais importantes e os povos

mais antigos a usavam nos momentos mais importantes da vida. Pode-se

afirmar que a evolução do homem tem sido acompanhada pela música, uma

vez que ela é o veículo ideal para a manifestação de seus sentidos.

O primeiro contato da criança com a música realiza-se através

da percepção do ritmo e da melodia em toda a natureza: na maneira de cada

pessoa falar, andar ou rir. Nas batidas do coração, nas ondas do mar, na

respiração, no vento, nas folhas que caem.

O som, com sua infinita gama de variações, é percebido desde

o nascimento, e os bebês pouco a pouco utilizam sua voz e seu corpo para

produzi-lo.

A música precisa estar presente no dia a dia da criança,

principalmente na escola. A música excita, acalma, motiva a esta ou aquela

atividade, desenvolve naturalmente o ritmo da criança, aguça a criatividade e

é fator importante de integração, contribuindo para a boa socialização.

Através da música podemos desenvolver, de maneira

agradável, coordenação motora, esquema corporal, psicomotricidade,

atenção, audição, ritmo, percepções, equilíbrio, lateralidade e criatividade,

dando a criança consciência de seu próprio corpo com todos os movimentos

do lugar e posição que ele pode ocupar no espaço.

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É muito importante a aplicação de exercícios musicados como

parte integrante das atividades escolares bem como o cultivo pelo gosto

artístico através da audição e apreciação de boas músicas.

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CAPÍTULO V

BRINCAR É PRECISO: CRIANÇA NÃO É MÁQUINA

“Brincar com criança não é perder tempo, é ganha-lo;

se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados, em salas sem ar, com exercícios

estéreis, sem valor para a formação do homem.” Carlos Drummond de Andrade

Jogo, sonho e fantasia sempre estiveram associados a coisas

pouco sérias ou sem importância. Nossa sociedade insiste em dois mundos

opostos onde, de um lado, estariam a brincadeira, os sonhos, a imaginação

e, de outro, o mundo sério da razão, do trabalho.

Esta cultura justifica o descaso, tão freqüente na cultura adulta,

pelo ato de brincar. Mas adulto também brinca.

Podemos afirmar que, independente das diferenças individuais,

todo adulto precisa de brincadeira para viver.

O pediatra e psicanalista inglês Winnicott, afirma que a

brincadeira está relacionada com sua capacidade de lidar, de forma lúdica,

com seus próprios pensamentos.

O espaço da criatividade é a brincadeira do adulto.

Alguns teóricos vêm, nos últimos anos, se dedicando ao estudo

da atividade lúdica e sua importância, não só no desenvolvimento cognitivo

da criança, como também na constituição do sujeito.

Segundo Vygotsky, as atividades lúdicas não estão

simplesmente ligadas ao prazer. A imaginação e as regras são

características definidoras das brincadeiras. Não existe brinquedo sem

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organização e sem motivo. A situação imaginária tem uma lógica,

previamente estabelecida, mesmo não sendo formal.

A capacidade de brincar abre, para a criança, um espaço para

a investigação e construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o

mundo.

Nas escolas isto é comumente esquecido. Brincadeira e

aprendizagem são consideradas ações com finalidades bastante diferentes

que não habitam o mesmo espaço. Ou se brinca ou se aprende. Na melhor

das hipóteses o professor cria um espaço para que a brincadeira aconteça,

sem atrapalhar as aulas. São os recreios, os movimentos livres ou as horas

de descanso. No entanto constata-se que é através da brincadeira que a

criança reproduz o discurso externo e o interioriza, construindo seu próprio

pensamento.

A origem e a natureza da brincadeira é puramente social.

Através do jogo de faz-de-conta, as crianças assimilam e recriam a

experiência cultural dos adultos. Brincando, sozinhas ou em grupos,

procuram compreender o mundo e as ações humanas.

A atividade lúdica é importante para o ser humano em qualquer

idade, mas a criança brinca para se conhecer e também para compreender o

mundo que a cerca. Brincando a criança aprende a se constituir como um

ser pertencente a um grupo social, construindo assim a sua identidade

cultural.

As crianças precisam ter variadas oportunidades de pensar, de

refletir, de duvidar, de agir, discutir, criar e imaginar.

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CONCLUSÃO

“ O hábito desaparece, a razão vence,

a verdade encontra lugar.” Wolfganga Ratke

Todos nós adultos já fomos crianças. Trazemos portanto, na

nossa memória, todas as relações que vivemos quando pequenos. Sejam

relações na escola ou na família, ficam marcadas para o resto das nossas

vidas.

Se a educação é o meio que realiza o homem como pessoa, o

processo educativo, em seu agente sistemático, a escola, tem que ser

praticado através de experiências conscienciosamente planejadas e

executadas. Dentre essas experiências, o afeto unido a educação,

contribuirá para o crescimento do educando, para sua auto-realização e sua

formação como cidadão.

É claro que auto-realização e cidadania só se revelam em

ambientes democráticos. Uma escola democrática é aquela que prioriza o

elemento humano em todas as circunstâncias, valorizando as capacidades

de cada um respeitando as diferenças. Gosto muito do poema de Paulo

Freire que diz:

Escola é...

o lugar onde se faz amigos,

não se trata só de prédios,

salas, quadros,

programas, horários,

conceitos...

Escola é, sobretudo, gente,

gente que trabalha, que estuda,

que se alegra, se conhece, se estima.

O diretor é gente,

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O coordenador é gente,

O professor é gente,

O aluno é gente,

cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

na medida em que cada um

se comporte como colega,

amigo, irmão.

Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”.

Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir

Que não tem amizade a ninguém,

Nada de ser como tijolo que forma a parede,

indiferente, frio, só.

Importante na escola não é só estudar,

não é só trabalhar, é também criar laços de amizade,

é criar ambiente de camaradagem,

é conviver, é se “amarrar nela”!

Ora, é lógico...

numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer,

fazer amigos, educar-se,

ser feliz.

Diante destas considerações, sobre tal pensar , fica uma

questão: O que podemos transformar a partir de nós mesmos? Poderá ser

algo novo para nós? E o novo é sempre um desafio?

A relação ensino-aprendizagem que envolve afeto abre espaço

para completude, para uma percepção mais ampla da vida e de suas

relações. O importante é que professores e alunos tenham experiências

diretas com a vida, que sejam felizes.

Precisamos fazer o que é do nosso dever exatamente porque o futuro é

incerto”. Martinho Lutero

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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