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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ALIMENTOS PROVISÓRIOS E ALIMENTOS PROVISIONAIS – SEGUNDO A LEGISLAÇÃO E DOUTRINA BRASILEIRA
AUTOR
HÉLIO CONDE DE SIMONE
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ALIMENTOS PROVISÓRIOS E ALIMENTOS PROVISIONAIS – SEGUNDO A LEGISLAÇÃO E DOUTRINA BRASILEIRA
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: Hélio Conde De Simone.
3
A todos os autores, professores e
colegas, que contribuíram para a
realização desse trabalho.
.
4
Dedico esse trabalho ao meu filho
Guilherme, razão de todo meu
esforço.
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RESUMO
O conhecimento dos institutos temas é de notaria relevância, posto que ambos salvaguardam o direito a alimentos, instituto de direito material, que incide diretamente na sobrevivência do indivíduo e que encontra guarida no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Insta frisar que os institutos em essência são idênticos, uma vez que, possuem o mesmo objetivo, que é o de garantir, mesmo que a título precário, a mantença de quem não pode suprí-la. Assim, os alimentos provisórios, que são aqueles regidos pela lei especial 5478/68, onde o credor tem prova pré-constituída da obrigação alimentar, ou seja, não se discute o dever de prestar alimentos, mas sim o quantum. Aqui observar-se a premissa de que existe a relação obrigacional entre as partes. Enquanto os alimentos provisionais são uma simples forma de antecipar os alimentos definitivos sem a necessidade de prova pré-constituída. Há muita semelhança entre ambos, entretanto existem particularidades que os diferenciam e dão o norte quanto a sua aplicação, ou seja, para utilizar-se do procedimento especial regido pela Lei 5478/68 é indispensável possuir prova inequívoca da obrigação de alimentar e na ausência desta, socorrer-se da medida cautelar do Código de Processo Civil. A tarefa de delimitar as diferenças destes institutos é árdua, pois neste aspecto a doutrina é divergente, onde um segmento entende que a parte processual da Lei de Alimentos (Lei 5478/68) foi revogada pelo Código de Processo Civil que é de 1973. Há quem sustente a coexistência pacífica entre eles e delimite a diferença quanto a sua natureza jurídica. Tese rebatida por um seleto grupo de doutrinadores que concordam com a convivência pacífica dos institutos, mas alegam que suas diferenças são terminológicas e fundamentalmente procedimentais, a qual o desenvolvimento deste estudo leva a crer que é a delimitação mais correta.
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METODOLOGIA
O presente trabalho analisa dois institutos de grande relevância social,
trazendo-lhes suas características, suas peculiaridades e suas eventuais
diferenças, uma vez que, substancialmente possuem o mesmo objetivo.
Para tanto, o presente estudo serviu-se de um método de pesquisa
bibliográfica criterioso, visando sedimentar conhecimento do tema na ótica de
doutrinadores de renome, dentre os quais citamos: Alexandre Camara, Humberto
Theodoro Júnior e Yussef Said Cahali, dentre outros. Onde se buscou desde o
conceito de alimentos, que é o direito material protegido pelos temas deste
estudo, como também os requisitos da obrigação alimentar, assim como os
posicionamentos jurídicos possíveis para os temas, como uma forma de traçar um
entendimento mais abrangente sobre os institutos estudados.
O estudo não ficou restrito somente aos livros de doutrina dos autores
citados, buscou também o conhecimento sobre o tema em publicações jurídicas,
sites da internet, na legislação e jurisprudência.
Como efeito desta pesquisa, surgiu o inevitável questionamento a
cerca de eventuais diferenças entre ambos os institutos, em razão de suas
semelhanças. Desta forma, fez-se necessário empregar uma metodologia
comparativa entre as obras pesquisadas para, com isso, delimitar eventuais
diferenças.
Destarte, o presente trabalho serviu-se de vários métodos de
pesquisas para que determinar uma melhor compreensão dos institutos temas
desta monografia, mas, não se limitando somente a isto, permitir interpretá-los
com correção, e com isso, facilitar suas aplicações na prática jurídica.
É mister frisar, fruto das pesquisas que ora resultaram no presente
trabalho, não tem o condão de exaurir o assunto, posto que trata-se de um
terreno fértil e amplo, passível de modificações e positivações de acordo com a
evolução da nossa sociedade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8
CAPÍTULO I
ALIMENTOS......................................................................................................... 10
1.1 – REQUISITOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR........................................... 11
CAPÍTULO II
ALIMENTOS PROVISIORIOS............................................................................. 15
CAPÍTULO III
ALIMENTOS PROVISIONAIS............................................................................. 20
CAPÍTULO IV
DIFERENÇAS ENTRE ALIMENTOS PROVISIORIOS E ALIMENTOS
PROVISIONAIS.....................................................................................................25
CONCLUSÃO...................................................................................................... 27
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 31
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho é um estudo sobre dois institutos de grande
relevância social, eis que estão intimamente ligados ao Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, consagrado em nossa Carta Magna e possuem em sua
substância a função de atender as necessidades vitais e sociais, futuras ou
presentes, independendo da idade ou sexo, de quem não pode provê-las
integralmente, por motivos diversos, tais como: incapacidade física ou mental,
atividades estudantis, idade avançada, entre outras possibilidades.
E note que seria impossível o estudo de institutos desta magnitude sem
traçar um entendimento do direito material que ambos resguardam.
Embora estes institutos possuam muitos pontos de contatos, também
possuem distinções que são analisadas ao longo do estudo.
A distinção entre eles é muito controvertida doutrinariamente,
possuindo diversas correntes de pensamento relacionadas no que tangência as
eventuais diferenças, sendo que para alguns estas não existem, posto que a Lei
de Alimentos (Lei 5.478/68), cujo o instituto dos Alimentos Provisórios encontra
guarida, teve sua parte processual revogada com a entrada em vigor do novo
CPC, em janeiro de 1974. Contudo, tal posicionamento doutrinário é muito
extremo.
Entretanto, outra corrente afirma que a diferença entre ambos reside na
sua natureza jurídica, atribuindo caráter satisfativo para um e cautelar para o
outro. Há quem sustente que ambos estão em vigor e que sua coexistência é
harmoniosa e creditam suas diferenças aos procedimentos adotados para
concessão e a sua terminologia.
Desta forma, o presente estudo é muito importante para compreensão
de ambos os institutos e suas peculiaridades.
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Portanto, impende conceituá-los detalhadamente com intuito de
entender sua morfologia que certamente facilitará na difícil tarefa de diferenciá-
los, observando seus procedimentos e requisitos de formação, bem como sua
aplicabilidade ao caso concreto.
Ou seja, temos que nos questionar se existem diferenças entres os
institutos temas do presente estudo?
A resposta é que sim, mas quais são?
A doutrina diverge sobre suas diferenças, sendo mais coerente
considerar basicamente terminológica e fundamentalmente procedimental.
Daí emerge outra questão: como saber qual deles utilizar no caso
concreto?
A resposta é simples: o procedimento da Lei de Alimentos (Lei
5.478/68) exige prova pré-constituída da obrigação de alimentar, tais como -
certidão de nascimento, em que conste o nome do demandado com pai do
alimentado, exigindo com isso, forte probabilidade da existência do direito
obrigacional.
Por óbvio, para as hipóteses de inexistência de tal prova, deve-se
recorrer ao procedimento ordinário, onde é possível a concessão mediante a uma
cognição sumária.
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CAPÍTULO I
ALIMENTOS
Há uma diversidade de conceitos sobre a expressão alimentos. Em
sentido amplo abrange não só gêneros alimentícios, ou seja, uma acepção
meramente fisiológica, mas inclui tudo que é necessário para a manutenção do
indivíduo, tais como: habitação, vestuário, saúde e educação - ou seja, as
necessidades vitais e sociais básicas.
Muito embora o legislador pátrio não tenha conceituado alimentos,
contudo fez entender que os mesmos são prestações.
Desta feita, vejamos como alguns notórios doutrinadores conceituam
alimentos:
Segundo Yussef Said Cahali: em sentido estrito é "tudo aquilo que é
necessário à conservação do ser humano com vida", e em latu sensu, "é a
contribuição periódica assegurada a alguém, por um título de direito, para exigi-la
de outrem, como necessário à sua manutenção"(Cahali, 2002, p.685).
Para Sílvio Rodrigues:
alimentos, em Direito, denomina-se a prestação fornecida a uma
pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às
necessidades da vida. A palavra tem conotação muito mais ampla
do que na linguagem vulgar, em que significa o necessário para o
sustento. Aqui se trata não só do sustento, como também do
vestuário, habitação, assistência médica em caso de doença,
enfim de todo o necessário para atender às necessidades da vida;
e, em se tratando de criança, abrange o que for preciso para sua
instrução (Rodrigues, 2004, p.418).
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Para Lourenço Mário Prunes denomina-se:
A prestação, fornecida por uma pessoa a outra, para que atenda às necessidades da vida, podendo compreender comida, bebida, teto para morar, cama para dormir, medicamentos, cuidados médicos, roupas, enxoval, educação e instrução, etc., sendo proporcionada no geral em dinheiro, cujo quantum corresponde às utilidades, mas podendo igualmente ser fornecida em espécie (Prunes, 1976, p.29).
Dos conceitos acima apresentados pode-se depreender o seguinte
entendimento sobre alimentos: são prestações que objetivam atender não só as
necessidades vitais, mas também as necessidades sociais do indivíduo, sejam
elas presentes ou futuras, pouco importam o sexo ou a idade, de quem não
possui condições de provê-las.
Cumpre ressaltar, com base nos Princípios da Dignidade da Pessoa
Humana, Solidariedade Familiar e Capacidade Financeira, que o direito à
prestação alimentar é recíproco, sendo devidos por ascendentes ou parentes em
grau próximo, cônjuges e companheiros, uns na falta dos outros, conforme dispõe
o Artigo 1696 do CC.
Os alimentos podem ser divididos em 2 espécies:
a) Naturais – que abrangem vestuário, alimentação e habitação;
b) Civis ou Côngruos – englobam educação, instrução e assistência
em geral.
1.1 – REQUISITOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR
A obrigação alimentar é pautada no binômio necessidade/possibilidade,
então vejamos:
a) Necessidade – é a necessidade do alimentado, e ocorre quando
aquele que pleiteia não dispõe de capacidade pelo seu próprio
trabalho de prover sua mantença;
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b) Possibilidade – aqui reside a capacidade do alimentante em
suportar o pleito do alimentado, sem por em risco sua própria
subsistência.
Não obstante a este dois requisitos, que são de grande relevância para
a questão dos alimentos, temos outros 2 que complementam o rol dos requisitos
da obrigação alimentar, são eles:
c) Proporcionalidade – realiza a dosagem entre a necessidade de um,
e a capacidade do outro. Desta forma, os alimentos devem ser
fixados na proporção das necessidades do alimentado e dos
recursos do alimentante.
d) Reciprocidade – existe no sentido de permitir que aquele que
demanda hoje pelo alimento, pode ser alimentante de amanhã,
caso haja mudança fática na situação dos envolvidos.
Alguns aspectos relevantes da obrigação alimentar são:
a) Irrenunciabilidade - conferida pelo artigo 1707 do Código Civil, que nos
informar que não existe possibilidade de se renunciar aos alimentos.
Então vejamos a redação do citado artigo:
“Art. 1707 – Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar
o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação e penhora.”
b) Impenhorabilidade - Neste mesmo artigo, observamos a presença da
impenhorabilidade. Ou seja, é impenhorável em razão da finalidade do
instituto, uma vez que se destina a prover a mantença do necessitado,
não sendo admissível, sob qualquer hipótese, que este responda por
eventuais dívidas, estando a pensão alimentícia isenta de penhora;
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c) Irrepetibilidade – o valor pago a título de alimentos não pode ser
devolvido a quem pagou, em razão de um entendimento doutrinário
de que a obrigação alimentar é um dever moral do alimentante;
d) Imprescritibilidade - o direito a alimentos é imprescritível. A todo
tempo o necessitado está autorizado a pedir alimentos. Contudo os
alimentos pretéritos prescrevem em 02 anos;
e) Irretroatividade – a ação de alimentos não tem o condão de
retroagir a datas anteriores ao seu ajuizamento, retroagindo
somente a data da citação;
f) Incedibilidade - o crédito alimentar não pode ser cedido a ninguém,
por ser direito personalíssimo. Com isso, torna-se inseparável da
pessoa do credor. Contudo, há flexibilidade no que tange as
prestações vencidas, vista que constituem divida comum;
g) Incompensabilidade - é incompensável, posto que admitida extinção
da obrigação alimentar por meio da compensação, constituir-se-ia
em privação do alimentando dos meios necessários a sua
sobrevivência. Com isso, se o devedor da obrigação alimentar se
tornar credor do requerente desta, não poderá opor-lhe o crédito
quando lhe for exigida a obrigação;
h) Divisibilidade – à medida que alimentando pode receber alimentos
de outros parentes, a obrigação torna-se divisível e deve ser fixada
em consonância com a capacidade econômica de cada envolvido;
Existem outros aspectos importantes, tais quais: periodicidade e
condicionabilidade, não menos importantes, mas que acabam sendo englobados
pelos ora explanados.
Por oportuno, deve-se considerar que modernamente mesmo cessada
a menoridade, serão devidos alimentos desde que preenchidos os requisitos da
obrigação. Entretanto, uma corrente clássica, tem o entendimento que só
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subsistirá a obrigação alimentar com a cessação da menoridade nas hipóteses do
alimentado continuar estudando.
A obrigação alimentar pode ser revista nos casos de sobrevir mudança
patrimonial de quem os recebe ou os supre, e, conforme o caso concreto pode até
ser exonerada, reduzida ou majorada conforme dispõe o artigo 1699 do Novo
Código Civil:
Art.1699 – Se, fixados os alimentos, sobrevir mudança na situação
financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o
interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias,
exoneração, redução ou majoração do encargo.
É mister frisar que o diploma legal supramencionado, também
resguardou os direitos do nascituro, que pode pleitear alimentos representados
pela mãe, nos termos do artigo 2º do CC/2002, que diz:
“Art. 2º - A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Entendido o conceito de alimentos e o significado da obrigação
alimentar, vejamos agora o que são os alimentos provisórios e os alimentos
provisionais.
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CAPÍTULO II
ALIMENTOS PROVISÓRIOS
Primeiramente é preciso saber o cunho da palavra provisório, que
segundo o site do Dicionário Aurélio significa:
adj. Transitório, interino, passageiro, temporário. Feito por provisão.
Do latim "provisus", quer literalmente designa o que é feito por
provisão. Nesta razão, o que é provisório é passageiro e não pode ser tido em
caráter definitivo.
Desta feita, para traçar uma linha de raciocínio, observemos o cunho
da palavra provisão conferido pelo mesmo dicionário:
s.f. Ato ou efeito de prover. / Abastecimento de coisas necessárias ou
úteis: provisão de água. / Carta pela qual o governo confere cargo, autoriza o
exercício de uma profissão ou expede instruções. / Prescrição, decreto, ordem,
disposição, providência.
Do latim "provisio", de "providere" (prover, acautelar-se) exprime,
geralmente, o ato pelo qual se provê a alguma coisa.
Este entendimento, aliado aos conceitos oportunamente mencionados
de alimentos, torna possível afirmar que alimentos provisórios seriam um
provimento temporário para mantença de alguém que não possa supri-los e que
deles necessite.
Para a doutrina, os alimentos provisórios são aqueles fixados
imediatamente pelo juiz através de decisão interlocutória, ao receber a inicial, na
ação do rito especial disciplinada pela Lei 5.478/68.
Tal comando emerge do artigo 4º da supramencionada Lei, o qual
transcrevemos in verbis:
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“Art.4º - Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos
provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente
declarar que deles não necessita”.
Contudo, só podem ser conferidos se o processo seguir dentro do
procedimento especial determinado pela Lei supramencionada. E para tal, é
requisito indispensável de prosseguimento prova pré-constituída da obrigação de
alimentar, como por exemplo: certidão de nascimento demonstrando o grau de
parentesco entre as partes.
Corroborando com essa tese, citamos alguns julgados de nosso TJ/RJ:
0018048-56.2010.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO - Julgamento: 22/07/2010 - QUINTA CAMARA CIVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM ALIMENTOS. DECISÃO QUE INDEFERIU A FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PROVA INEQUÍVOCA DE PARENTESCO, O QUE IMPÕE O RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE PARENTESCO POR SENTENÇA. APLICAÇÃO DO VERBETE SUMULAR Nº 59 DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
0030861-18.2010.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa
DES. EDSON VASCONCELOS - Julgamento: 13/07/2010 -DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL
ALIMENTOS PROVISÓRIOS - UNIÃO ESTÁVEL AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA - RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. A verossimilhança implica probabilidade do direito do autor, em ordem a viabilizar uma análise pelo juízo em cognição sumária, antes mesmo da dilação probatória. Não existem elementos probatórios suficientes a permitir em sede de cognição sumária a construção de juízo de valor a respeito da existência da união estável e da dependência econômica. Indispensável a abertura do contraditório, a fim de que seja permitida cognição processual que autorize um juízo de probabilidade, em ordem a projetar a verossimilhança na espécie. Negado seguimento ao recurso.
Com efeito da prova inequívoca requerida para admissão da lide no
procedimento especial, o despacho que defere o pedido de alimentos provisórios
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tem natureza de tutela antecipada, ou seja, antecipa nos autos os efeitos que
serão provocados por uma sentença favorável ao autor, motivado pela presença
dos tão falados “fummus boni iuris” e “periculum in mora”. Salvo se o autor
declarar expressamente que deles não necessita.
Os processos de alimentos têm uma ampla fase cognitiva,
demandando tempo para que sejam julgados definitivamente, entretanto os
alimentos possuem caráter emergencial. Com isso, para suprir as necessidades
do alimentado desde o início da lide é utilizado o instituto dos alimentos
provisórios, que duram enquanto não houver sentença que os torne definitivos.
Os alimentos provisórios são concedidos na própria ação principal, através de
uma antecipação de tutela.
O legislador buscou facilitar com esta Lei a posição do litigante de
menor poder aquisitivo, dilatando a via de assistência judiciária, tornando célere a
ação de alimentos e abolindo algumas formalidades de que se revestia a ação
correspondente.
As regras de competências para distribuição desta demanda seguem
os preceitos emanados do artigo 100 do Código de Processo Civil em seu
segundo inciso, in verbis:
Art. 100 – É competente o foro:
I – (...)
II – do domicilio ou da residência do alimentando, para ação que
em se pedem alimentos.
A petição inicial segue as regras determinadas pelo CPC no artigo 282
e incisos.
Verificadas as condições essenciais das ações e os requisitos
específicos desta é determinada a fixação do valor dos alimentos provisórios,
conforme explanado no item anterior, o juiz mandará citar o réu (alimentante).
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A citação é um simples comunicado do escrivão ao réu, efetuado via
postal, com AR (aviso de recebimento), sendo esta dotada de validade e com o
condão de gerar os efeitos necessários.
A citação deve ser remetida em 48 horas, sendo acompanhada da
segunda via da inicial e de cópia do despacho, que deve conter o dia e a hora da
audiência de conciliação e julgamento, conforme dispõe o artigo 5º e seus
parágrafos da Lei 5478/68:
Art. 5º - O escrivão, dentro em 48 (quarenta e oito) horas, remeterá ao devedor a segunda via da petição ou do termo, juntamente com a cópia do despacho do juiz, e a comunicação do dia e hora da realização da audiência de conciliação e julgamento.
§ 1º Na designação da audiência, o juiz fixará o prazo razoável que possibilite ao réu a contestação da ação proposta e a eventualidade de citação por edital.
§ 2º A comunicação, que será feita mediante registro postal isento de taxas e com aviso de recebimento, importa em citação, para todos os efeitos legais.
§ 3º Se o réu criar embaraços ao recebimento da citação, ou não for encontrado, repetir-se-á a diligência por intermédio do oficial de justiça, servindo de mandado a terceira via da petição ou do termo.
§ 4º Impossibilitada a citação do réu por qualquer dos modos acima previstos, será ele citado por edital afixado na sede do juízo e publicado 3 (três) vezes consecutivas no órgão oficial do Estado, correndo a despesa por conta do vencido, afinal, sendo previamente a conta juntada aos autos.
§ 5º 0 edital deverá conter um resumo do pedido inicial, a íntegra do despacho nele exarado, a data e a hora da audiência.
§ 6º 0 autor será notificado da data e hora da audiência no ato de recebimento da petição, ou da lavratura do termo.
§ 7º 0 juiz, ao marcar a audiência, oficiará ao empregador do réu, ou, se o mesmo for funcionário público, ao responsável por sua repartição, solicitando o envio, no máximo até a data marcada para a audiência, de informações sobre o salário ou os vencimentos do devedor, sob as penas previstas no Art. 22 desta Lei.
§ 8º A citação do réu, mesmo no caso dos arts. 200 e 201 do Código do Processo Civil, far-se-á na forma do § 2º do Art. 5º desta Lei
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Em seu despacho o juiz fixa de imediato os alimentos provisórios a
serem pagos pelo alimentante, salvo, se o alimentado declarar expressamente
que não os necessita.
Contudo, recomenda-se cautela aos magistrados porque a lei pode
induzí-los a injustiçar o requerido, posto que o requerente pode exagerar nos
ganhos da outra deste em sua peça exordial, e como os alimentos provisórios
resistem até a sentença de mérito, inclusive quando desafiados por recurso
extraordinário, o alimentante poderá ser obrigado ao pagamento de pensão fora
de suas possibilidades reais.
Como assevera Silvio Rodrigues :
Cautela é recomendável. O formalismo processual se, por um
lado, dificulta o andamento do feito, por outro, aumenta a garantia
dos litigantes. Em geral, cada vez que se desprezam requisitos
formais, diminuem-se a segurança dos contendores.
Os alimentos provisórios, sem prova pré-constituída do
parentesco são indevidos, de acordo com a Revista dos Tribunais
números 503/107, 527/56, 531/65, 546/54 e 546/223
(Rodrigues;Silvio, 2004,p. 372).
No que tange a duração desta medida, o artigo 13 da Lei 5478/68, em
seu parágrafo 3º nos informa que os alimentos provisórios são devidos até o
julgamento final da lide. Então aduz-se que, mesmo no caso de uma sentença
monocrática desfavorável ao requerente beneficiado com alimentos provisórios,
estes continuarão a ser devidos até do transito em julgado da demanda. Caso a
sentença monocrática seja mantida cessa a obrigação de prestar alimentos.
Também é possível, que os valores fixados de alimentos definitivos
pela sentença prolatada reduzam ou aumentem os valores conferidos aos
alimentos provisórios. Então, nestes casos, o valor devido será o da sentença.
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CAPÍTULO III
ALIMENTOS PROVISIONAIS
A própria terminologia da palavra provisional nos remete a idéia de
provisão. Desta feita, está claro que seu objetivo é prover ao requerente os meios
necessários para sua subsistência enquanto durar o processo.
Insta ressaltar que o objeto do presente instituto é muito semelhante ao
do instituto anterior e que poderemos observar ao longo do presente trabalho
vários pontos comuns.
Destarte, para os doutrinadores alimentos provisionais são aqueles
requeridos pelo cônjuge ao propor, ou antes de propor, a ação de separação
judicial, ou de divórcio direto, para fazer face ao seu sustento durante a demanda.
Hoje, com o advento da Emenda Constitucional nº 66, que alterou o
artigo 226 de nossa Carta Maior, suprimindo o lapso temporal necessário para
requisição ou conversão de separação judicial em divórcio, nos faz crer que esta
medida abrange na atualidade tão somente o divórcio, uma vez que não haverá
mais a figura da separação judicial.
A mesma nomenclatura (provisionais) também é atribuída aos
alimentos fixados na sentença de primeira instância, na ação de investigação de
paternidade, de acordo com o artigo 7º da Lei nº 8560/92 dispõe que: "Sempre
que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela se fixarão os
alimentos provisionais ou definitivos do reconhecido que deles necessite."
Ou seja, trata-se de medida cautelar que pode ser antecipatória ou
incidental, conforme veremos mais adiante e que possui uma natureza jurídica
controvertida doutrinariamente, senão vejamos:
1ª Corrente – capitaneada por ninguém menos que Humberto
Theodoro Junior, afirma que sua natureza é cautelar, pois a fundamentação da
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decisão que fixa o valores não são exatamente os mesmos daqueles que fixarão
os alimentos definitivos. Contudo, afirmam que tal decisão tem em seu bojo um
caráter satisfativo do direito debatido na demanda principal.
2ª Corrente – Para estes doutrinadores, nele podemos incluir o Des.
Alexandre Camara, esta medida possui caráter satisfativo, uma vez que inexiste
medida cautelar satisfativa. Não obstante a sua provisioriedade, peculiar as
demandas satisfativas, posto que os alimentos requeridos serão substituídos
pelos definitivos.
Para o Des. Alexandre Camara, defensor da corrente anterior:
“os alimentos proviosionais constituem-se, pois, em medida sumária
satisfativa, a ser prestada em processo de conhecimento, autônomo em
relação ao processo em que se busca a tutela jurisdicional definitiva, e
no qual se irá proferir sentença fundada em cognição
sumária.”(Camara, 2009, v.3, p.175).
Insta frisar que não se deve confundir a natureza satisfativa da medida,
bem defendida por doutrinadores de peso com o instituto da antecipação de
tutela.
Vale lembrar que os procedimentos são diferentes, enquanto os
alimentos provisionais são prestados através de processo autônomo, a
antecipação de tutela ocorre dentro do processo de conhecimento.
Aqui vislumbra-se uma vantagem, pois no processo de conhecimento a
sentença vai ser prolatada baseada em cognição exauriente (juízo de certeza), e
a antecipação de tutela fundamentada em cognição sumária (juízo de
probabilidade). No caso dos alimentos provisionais a sentença é prolatada através
de cognição sumária, observando-se a presença do fumus boni iuris e periculum
in mora, sendo que, o pedido de liminar, é apreciado através de cognição rarefeita
ou superficial, ou seja, através de um juízo de verossimilhança, o que
teoricamente, facilita a sua concessão.
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Impende salientar que em razão da inclusão do §7º do artigo 273 do
Código de Processo Civil, conferido a introdução do principio das tutelas de
urgência, possibilita o requerente solicitar os alimentos provisionais de forma
incidental ao processo principal, assemelhando-se a antecipação de tutela.
Independente da corrente, é mister salientar que aqui não há
necessidade de prova pré-constituída, mas faz-se necessário para sua concessão
a comprovação das figuras do fumus boni iuris e periculum in mora, entendimento
extraído do parágrafo único do artigo 854 do CPC.
Art. 854(...)
Parágrafo único. O requerente poderá pedir que o juiz, ao
despachar a petição inicial e sem audiência do requerido, lhe
arbitre desde logo uma mensalidade para mantença.
Os alimentos provisionais são regulados pelo Código de Processo Civil
nos artigos 852 a 854.
No artigo 852 e incisos do diploma legal supracitado encontramos as
suas hipóteses de cabimento, a saber:
O seu primeiro inciso aduz que serão cabíveis alimentos provisionais
nas ações de separação e anulação de casamento. Muito embora não conste
previsão expressa quanto ao divórcio, é possível servir-se esta medida, para
tanto, basta que o casal esteja separado de fato.
No que tange este assunto é mister lembrar que há um entendimento
de que com a promulgação da Emenda Constitucional nº 66, que alterou a
redação do artigo 226 da nossa Lei Maior, onde suprimiu-se o lapso temporal
exigido para requisição ou conversão da separação em divórcio, aduz-se que não
haverá mais a figura da separação judicial em nosso ordenamento pátrio.
Desta feita, depreende-se o entendimento que na atualidade a
abrangência do citado inciso ficou adstrita tão somente a anulação de casamento
e o divórcio.
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Contudo, isto é um assunto para um amplo debate doutrinário.
O inciso II nos remete ao cabimento da ação de alimentos provisionais,
nas ações de alimentos desde o despacho da peça exordial. Impende frisar que
os alimentos provisionais somente podem ser requeridos em ação de alimentos
em procedimento ordinário. Quando a demanda adotar o rito especial previsto
pela Lei 5478/68, por óbvio acompanhado de prova pré-constituída, o magistrado
determinará a concessão de alimentos provisórios nos termos do artigo 4º da Lei
de Alimentos (5478/68).
O inciso III traz a previsão de alimentos provisionais nos demais casos
previstos em Lei. Um bom exemplo é o caso de investigação de paternidade,
onde o artigo 7º da Lei 8560/92 faz tal previsão.
No tocante a competência para processar e julgar esta ação, além do
comando emanado do artigo 100 do CPC, que oportunamente transcrevemos, em
razão da possibilidade de uma medida preparatória, deve-se observar também as
regras contidas no artigo 800 do mesmo diploma legal, in verbis:
“Art. 800 – As medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa;
e, quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer a ação principal.”
Apenas é preciso observar a regra que se aplica no caso de medida
incidental quando houver recurso no processo de conhecimento. Neste casos
aplica-se o parágrafo único do mesmo artigo que nos informa acerca da
competência para o conhecimento do processo cautelar do tribunal não se aplica
para o julgamento dos alimentos provisionais.
Nesta esteira, o artigo 853 do mesmo diploma nos informa que a
competência para julgar o pedido de alimentos provisionais permanece no 1º
Grau de jurisdição.
Assim vejamos a redação do artigo:
24
“Art. 853 – Ainda que a causa principal penda de julgamento no
tribunal, processar-se-á no primeiro grau de jurisdição o pedido de alimentos
provisionais.”
No mais, a inicial deve conter os requisitos dos artigos 282 e 854 do
CPC.
O artigo 854 do CPC nos remete aos requisitos específicos conforme já
mencionamos.
O juiz pode deferir a liminar o pedido de alimentos provisionais,
podendo ainda solicitar audiência de justificação, para o caso de não estar
devidamente convencido da presença do fumus boni iuris e periculum in mora.
O requerido é citado para contestar ou oferecer exceções nos prazo de
cinco dias, conforme dispõe o artigo 802 do CPC: “Art 802 – O requerido será
citado, qualquer que seja a medida cautelar, para no prazo de 5(cinco) dias,
contestar o pedido, indicando as provas que pretende produzir.”
O prazo começa a contar na data da juntada do mandado aos autos,
nos termos do parágrafo único e incisos do artigo supracitado.
Vale frisar que a medida pode durar até o trânsito em julgado da
sentença prolatada no processo principal, muito embora não exista regra análoga
a dos alimentos provisórios ditada pelo artigo 13, §3º da Lei 5478/68.
Sendo deferido o alimento definitivo, este prevalecerá, mesmo no caso
de recurso de apelação, posto que este possuiria efeito meramente devolutivo, e
portanto, serão devidos alimentos até a decisão final.
Nas hipóteses de improcedência da ação principal, os alimentos
provisionais concedidos em sede de liminar continuam a vigorar até que seja
proferido acórdão declarando que não existe a obrigação alimentar, desde que
não caiba qualquer recurso com efeito suspensivo, como por exemplo acórdão
julgado por unanimidade dos votos.
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CAPÍTULO IV
DIFERENÇAS ENTRE ALIMENTOS PROVISIORIOS E ALIMENTOS
PROVISIONAIS
Preliminarmente, pode-se estabelecer como diferença o fato dos
alimentos provisórios serem regulados por legislação especial(Lei 5478/68) e os
alimentos provisionais regulados pelo CPC nos artigos 852 a 854.
Contudo, tais diferenças são objeto de divergência entre os
doutrinadores. Então vejamos:
1ª Corrente – sustenta que: quando o CPC entrou em vigor, em 1973,
houve a revogação das disposições processuais da Lei 5478/68(Lei de Alimentos)
que foi promulgada em 1968, e, desta forma só haveria possibilidade de
antecipação de alimentos através de ação autônoma prevista no CPC. Esta
corrente é defendida por Baptista da Silva(1996 apud Camara, 2009, v.3, p.177).
2ª Corrente – para José Ignácio Botelho de Mesquita, defensor desta
corrente, a diferença entre os dois institutos reside na natureza jurídica destes.
Assim, os alimentos provisórios possuem natureza jurídica satisfativa e os
alimentos provisionais natureza jurídica cautelar.(Cahali, 1993 apud Camara,
2009, v.3, p.177)
Contudo, a natureza jurídica cautelar dos alimentos provisionais é tema
emblemático entre doutrinadores de peso.
3ª Corrente – capitaneada pelo Des. Alexandre Camara(2009, v.3),
atribui-se a natureza jurídica satisfativa para ambos os institutos, onde estes
coexistem perfeitamente, sem o fantasma da revogação defendida pela primeira
corrente. Apenas possuem diferenças terminológicas e evidentemente
procedimentais.
Sendo assim, esta diferença procedimental consiste no fato de que os
alimentos provisionais, mesmo que de forma satisfativa, são prestados na forma
26
do CPC, sob o titulo de medidas cautelares, de forma autônoma, podendo ser
antecedente ou incidente ao processo principal onde são pleiteados os alimentos
definitivos. Enquanto os alimentos provisórios são prestados no processo principal
onde se buscam os alimentos definitivos, em consonância com a legislação
especial, Lei 5478/68.
Ademais, deve-se considerar o momento e os requisitos para utilização
de um ou outro instituto.
Então vejamos:
Os alimentos provisórios somente são concedidos em ação de
alimentos que seguir o rito de procedimento especial previsto na respectiva Lei. E,
para tanto, é imprescindível a existência de prova pré-constituída da obrigação de
alimentar.
Feito isto, o juiz nos termos do artigo 4º da lei especial (5478/68)
despacha o pedido fixando os alimentos provisórios, salvo se expressamente o
requerente declarar que deles não necessita. Com isso, aduz-se que a não
necessidade de provar o periculum in mora, pois dele já existiria uma presunção
relativa.
Com efeito, os alimentos provisionais são prestados para hipótese da
não existência de prova pré-constituída da obrigação de alimentar. Desta forma,
faz-se necessário a comprovação do fumus boni iuris e periculum in mora para
sua obtenção.
Os alimentos provisionais são requeridos corriqueiramente nas ações
de separação, que atualmente com a alteração do artigo 226 de nossa
Constituição Federal, deixa de existir o divórcio, anulação de casamento e de
investigação de paternidade. Neste último caso, são concedidos alimentos
provisionais antes da sentença de 1º grau, em casos excepcionais.
27
CONCLUSÃO
A pesquisa do tema demonstrou que os institutos analisados são
importantíssimos, pois buscam dentro de seu bojo a intenção de resguardar a
sobrevivência do individuo que não é capaz de prover sua própria mantença.
E não se limita somente a isto.
Ao percorrer o direito material defendido pelos objetos do presente
estudo, observa-se que sua abrangência é bem mais ampla do que o cunho da
palavra nos remete.
Ou seja, alimentos não se restringem em meramente gêneros
alimentícios, mas sim, possuem um sentido mais amplo que alcançam as
necessidades vitais e sociais básicas do individuo que não tem condições de
provê-las a custa do próprio trabalho, tais como: saúde, vestuário, educação e
habitação.
Ainda na esteira do direito material, observamos que a obrigação de
alimentar possui requisitos essenciais, tais quais: necessidade, possibilidade e
proporcionalidade, sendo que o binômio formado pelos dois primeiros norteia a
aplicação do direito material.
Assim, a necessidade do alimentado não pode ser superior a
possibilidade do alimentante em prestar a obrigação de alimentos, sendo o
inverso também verdadeiro.
Além dos requisitos o estudo aponta aspectos fundamentais na
prestação de alimentos, que são os da imprescritibilidade e da irrenunciabilidade.
Os aspectos citados nos informam que a prestação pode ser requerida
a qualquer tempo, por óbvio que não retroage para alcançar obrigação
supostamente pretérita, apenas atinge as devidas até o momento da citação.
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E também indicam que o credor pode não exercer o seu direito à
prestação alimentar, por mera faculdade, mas lhe é vedado a renunciar a este
direito.
Ultrapassada a elucidação do direito material, o estudo mergulha no
tema proposto, que é de direito processual, tratando os temas de forma individual
para com isso, fazer surgir as controvérsias doutrinárias acerca de suas
diferenças.
Então, na análise do instituto dos alimentos provisórios, o estudo leva a
crer que são as prestações devidas quando existe prova pré-constituída da
obrigação alimentar, condição sine qua non para adoção do procedimento
especial que determina a Lei de Alimentos ( Lei 5478, de 25 de julho de 1968).
Nela encontramos a previsão expressa dos alimentos provisórios em
seu artigo 4º, que são deferidos pelo juiz no momento do recebimento da inicial,
salvo se o requerente expressamente declara que deles não precisa.
Neste sentido, é possível observar que não há necessidade de
comprovação do periculum in mora, posto que este é presumido.
As regras de competência para julgar e processar são as contidas no
CPC, assim como os requisitos da petição inicial, sem particularidades.
A duração dos alimentos provisórios vai até o julgamento final da ação
de alimentos, com o trânsito em julgado da sentença que concede os alimentos
definitivos, conforme dispõe o artigo 13,§3º, da Lei 5478/68.
Nos alimentos provisórios não existe processo autônomo, a decisão
que os concede, é interlocutória e ocorre no próprio processo em que são
pleiteados os alimentos.
Os alimentos provisórios têm natureza jurídica satisfativa, pois em
realidade antecipação a pretensão autoral e se mantém até o julgamento dos
alimentos definitivos, que podem reduzir ou majorar o seu valor.
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No instituto dos alimentos provisionais, é utilizado nos casos de que
não há uma prova pré-constituída da obrigação de alimentar. Desta forma, não
possui o requisito essencial para que o processo siga o rito especial determinado
pela Lei de Alimentos.
Muito embora tal instituto encontre sua previsão expressa no capítulo
do CPC destinado a medidas cautelares nominadas, existe uma controvérsia
doutrinaria grande sobre sua natureza jurídica.
Onde parte atribui-lhe natureza de medida cautelar, pois os
fundamentos da decisão que fixam os alimentos provisionais, não são exatamente
iguais dos que fixam os alimentos definitivos. Contudo, conferem a essência da
decisão que antecipa os alimentos caráter satisfativo do direito pleiteado no
processo principal. A outra parte nega-lhe o caráter cautelar, uma vez que, é na
visão destes doutrinadores, impossível admitir a existência de uma cautelar
satisfativa.
Os alimentos provisionais são regulados pelos artigos 852 a 854 do
Código de Processo Civil.
Quanto a distinção de ambos o estudo aponta mais controvérsia, onde
se encontrou três posicionamentos distintos, sendo que a primeira corrente
defende que a parte processual da Lei 5478/68, foi revogada pela entrada em
vigor do Código de Processo Civil de 1973, ou seja, por advento de lei posterior.
A segunda corrente sustenta que os dois institutos são aplicados na
atualidade, sem problema e o que os difere é a natureza das demandas, onde os
alimentos provisórios possuem natureza satisfativa e os alimentos provisionais
natureza cautelar.
No entanto para a terceira corrente de pensamento, a corrente anterior
se equivoca ao atribuir a natureza cautelar aos alimentos provisionais, pois para
estes doutrinadores liderados por Alexandre Camara, não existe cautelar
satisfativa. Com isso, a diferença entre os institutos seria terminológica e
essencialmente procedimental, ou seja, um seguirá o rito da Lei Especial com os
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seus requisitos onde os alimentos provisórios serão prestados no mesmo
processo em que se pleiteiam os alimentos definitivos, enquanto outro seguirá os
comandos do CPC, onde os alimentos provisionais serão prestados através de
processo autônomo, independente do processo principal onde se discutem os
alimentos definitivos.
O presente estudo indica que esta última corrente parece mais
adequada para diferenciar os objetos tema da presente monografia.
31
BIBLIOGRAFIA
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Ementa Constitucional nº 66.
BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo
Civil. Atualizada até Lei nº 12.195, de 14 de janeiro de 2010
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Atualizada até a Lei nº 11.698, de 13 de junho de 2008.
BRASIL. Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968. Dispõe sobre ação de alimentos e
dá outras providências. Atualizada até Lei nº 6.014, de 27 de dezembro de 1973.
BRASIL. Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992. Regula a investigação de
paternidade dos filhos havidos fora do casamento e dá outras providências.
Atualizada até a Lei nº 12.010, de 03 de agosto de 2009.
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http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/dir-de-familia-
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32
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Navigandi, Teresina, ano 9, n. 501, 20 nov. 2004. Disponível em:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5938 Acesso em: 10/08/2010.
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TJRJ.http://www.tjrj.jus.br. Link: Consultas/Jurisprudência. Acesso em 10/08/2010.
.
33
ÍNDICE
RESUMO............................................................................................................... 5
METODOLOGIA.................................................................................................... 6
SUMÁRIO.............................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8
CAPÍTULO I
ALIMENTOS......................................................................................................... 10
1.1 – REQUISITOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR........................................... 12
CAPÍTULO II
ALIMENTOS PROVISIORIOS............................................................................. 16
CAPÍTULO III
ALIMENTOS PROVISIONAIS............................................................................. 20
CAPÍTULO IV
DIFERENÇAS ENTRE ALIMENTOS PROVISIORIOS E ALIMENTOS
PROVISIONAIS.....................................................................................................25
CONCLUSÃO...................................................................................................... 27
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 31