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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA AUTOR ALINE VIEIRA ORIENTADOR PROF. ANSELMO SOUZA RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA

AUTOR

ALINE VIEIRA

ORIENTADOR

PROF. ANSELMO SOUZA

RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Público e Tributário. Por: Aline Vieira.

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Agradeço a Deus, por tudo que Ele me proporcionou até hoje.

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Dedico este trabalho ao meu filho Gabriel.

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RESUMO O imposto sobre a renda ou imposto sobre o rendimento é um imposto existente em

vários países, onde cada indivíduo é obrigado a deduzir um determinado percentual

estabelecido por lei de sua renda média mensal ou anual para o governo federal.

Referido percentual pode variar de acordo com a renda média anual, ou pode ser fixo

em um determinado percentual único.

No Brasil, o Imposto de Renda de Pessoa Física - IRPF é um imposto federal que

incide sobre a renda de todos os indivíduos que tenham obtido um ganho acima de um

determinado valor mínimo. O contribuinte sujeito à tributação pelo imposto de renda

pessoa física é obrigado a prestar informações através da Declaração de Ajuste Anual,

com o intuito de apurar possíveis débitos (diferenças de imposto a serem recolhidas)

ou créditos (restituição de imposto).

O Imposto de Renda Pessoa Física no Brasil é pago pelas pessoas físicas, sendo

calculado com base em sua renda. A alíquota é variável e proporcional à renda

tributável (tabela progressiva). Contribuintes com renda até determinado valor estão

isentos de recolher imposto sobre a renda.

Historicamente, o imposto de renda brasileiro, desde a sua criação, sofreu diversas

alterações até chegar ao modelo atual (regido pelo Regulamento do Imposto de Renda

– Decreto n° 3.000/1999).

O Imposto de Renda Pessoa Física é um assunto que, atualmente, tem chamado a

atenção dos estudiosos, pois muito se tem falado acerca da distribuição da carga

tributária e uma possível reforma tributária.

Um outro ponto que também chama a atenção e é alvo de discussões atualmente é

acerca das incidências e das deduções permitidas por lei. O tema vem sendo

amplamente discutido e debatido pela doutrina, gerando a criação de novas teses e

decisões acerca das deduções permitidas por lei e das parcelas que podem ou não ser

deduzidas a base de cálculo do imposto de renda pessoa física.

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METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se em uma descrição detalhada das

características relativas ao Imposto de Renda Pessoa Física no Brasil e os detalhes

acerca da base de cálculo do imposto e as deduções permitidas pela legislação.

O estudo que ora se apresenta foi levado a efeito a partir do método da

pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em diversos tipos de

publicações, como livros e artigos em jornais, revistas e outros periódicos

especializados, além de publicações oficiais da legislação atualmente em vigor e da

jurisprudência.

A pesquisa que resultou nesta monografia também foi empreendida através

do método dogmático, tendo em vista que tomou como base e referencia a dogmática

desenvolvida pelos estudiosos que já se debruçaram sobre o tema anteriormente. A

pesquisa buscou ainda identificar a realidade através de estudo acerca do tratamento

jurídico e sobre as tendências do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais sobre a

matéria.

Adicionalmente, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se

principalmente com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir

conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa

qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e

qualificação dos fenômenos estudados; identifica-se, ainda, com a pesquisa

exploratória, porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão

proposta, além da pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um resultado

puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 9

CAPÍTULO I - PRINCIPAIS ASPECTOS DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA ..................................................................................................................... 10

1.1 – TRIBUTO FEDERAL ..................................................................................... 10

1.2 – REGIME CAIXA ............................................................................................. 10

1.3 – ANTECIPAÇÃO MENSAL ............................................................................ 11

1.4 – APURAÇÃO ANUAL ..................................................................................... 12

1.5 – MODALIDADES DO IMPOSTO ................................................................... 14

1.6 – ALÍQUOTAS E PRAZO DE RECOLHIMENTO .......................................... 16

1.7 – DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL .......................................................... 18

CAPÍTULO II – GANHO DE CAPITAL ............................................................. 23

2.1 – CONCEITO ...................................................................................................... 23

2.2 – VALOR DE ALIENAÇÃO .............................................................................. 24

2.3 – CUSTO DE AQUISIÇÃO ................................................................................ 24

2.4 – ALÍQUOTAS E PRAZOS DE RECOLHIMENTO ......................................... 25

2.5 – ISENÇÕES DO GANHO DE CAPITAL ......................................................... 26

CAPÍTULO III – DEDUÇÕES PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO .................... 29

3.1 – CONCEITO ...................................................................................................... 29

3.2 – DEDUÇÕES MENSAIS .................................................................................. 29

3.3 – DEDUÇÕES ANUAIS E DEDUÇÕES DO IMPOSTO DEVIDO ................. 33

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 37

BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... 38

ÍNDICE .................................................................................................................... 40

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um estudo sobre os aspectos relativos ao Imposto de

Renda Pessoa Física.

Nesse contexto, o estudo dedica-se a identificar as características acerca do

Imposto de Renda Pessoa Física no Brasil e das deduções permitidas em lei, bem

como visando identificar qual seria o entendimento e a tendência do Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) acerca de alguns assuntos já sumulados.

Deste modo, o presente estudo apresenta os procedimentos necessários

para estudar e analisar os aspectos relativos ao Imposto de Renda Pessoa Física.

O estudo do tema Imposto de Renda Pessoa Física e das questões

analisadas em torno do mesmo justifica-se pelo fato de que atualmente referido tema

vem sendo alvo de discussões devido ao fato de estar em evidencia a cobrança por

uma reforma tributária, bem como devido ao fato de não haver entendimento

pacificado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais acerca de alguns

montantes que devem ou não ser considerados como parcelas dedutíveis da base de

calculo do imposto de renda.

A pesquisa que precedeu esta monografia teve como ponto de partida o

pressuposto de que há muitas discussões acerca das possibilidades de inclusão de

novas deduções.

Nesse sentido, a pesquisa objetivou verificar as principais características

do Imposto de Renda Pessoa Física.

Visando um trabalho objetivo, a presente monografia dedica-se,

especificamente, às questões relativas à análise do Imposto de Renda Pessoa Física e

seus principais aspectos.

O tema em questão está inserido no campo do Direito Tributário e foi

estudado focando-se a temática no presente.

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CAPÍTULO I

PRINCIPAIS ASPECTOS DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA

1.1 – TRIBUTO FEDERAL

É sabido que o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) é um imposto

sobre a renda e proventos de qualquer natureza e é de competência da União1.

Deste modo, como é de competência da União, a criação, extinção, isenção,

majoração de alíquotas e benefícios referentes a ele apenas podem ser concedidos por

lei federal. Caso algum destes eventos seja promovido por lei que não seja federal, esta

será considerada inconstitucional.

Tendo em vista tratar-se de um imposto, a receita oriunda de sua

arrecadação não possui um destino específico e ingressa nos cofres públicos com o

intuito de cobrir as diversas despesas públicas.

1.2 – REGIME CAIXA

O Imposto de Renda Pessoa Física, diferentemente do imposto sobre a

renda de pessoas jurídicas, incide com base no regime de caixa, conforme descrito

abaixo no artigo 2o do Decreto n° 3.000/19992 e não com base no regime de

competência:

“Art. 2º As pessoas físicas domiciliadas ou residentes no Brasil, titulares de disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza, inclusive rendimentos e ganhos de capital, são contribuintes do imposto de renda, sem distinção da nacionalidade, sexo, idade, estado civil ou profissão (...)

1 Conforme Artigo 153, III da Constituição Federal c/c Artigo 43, caput da Lei n° 5.172/66 (CTN). 2 Conforme Artigo 2o, § 2o do Decreto n° 3.000/99.

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2º O imposto será devido à medida em que os rendimentos e ganhos de capital forem percebidos (...).”

O regime de caixa determina a tributação no momento em que a renda é

disponibilizada e auferida pelo contribuinte, ou seja, a renda é considerada tributável

no momento em que é recebida.

Apenas a título de comparação, nos EUA, o regime caixa é conhecido

como PAYE (pay as you earn) e significa que o imposto de rende é pago à medida em

que a renda é auferida. Já o regime de competência (accrual basis), que é o regime

adotado pelo fisco americano) consiste na tributação da renda no momento em que ela

é registrada, mesmo que não ocorra o recebimento físico3.

1.3 – ANTECIPAÇÃO MENSAL

Conforme mencionado anteriormente, o imposto sobre a renda das pessoas

físicas é devido através do regime caixa, ou seja, os rendimentos auferidos durante o

período são sujeitos à tributação à medida que são percebidos.

Cabe destacar que as antecipações do imposto sobre a renda são feitos em

bases mensais, conforme descrito no artigo 38, parágrafo único do Decreto n°

3.000/1999:

“Parágrafo único. Os rendimentos serão tributados no mês em que forem recebidos, considerado como tal o da entrega de recursos pela fonte pagadora, mesmo mediante depósito em instituição financeira em favor do beneficiário.”

Deste modo, os rendimentos auferidos em determinado mês pelo

contribuinte estão sujeitos à tributação naquele próprio mês. Consequentemente, caso

3 CEIA. Nathália. IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física. Coordenação: Luiz Cezar Quintans. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2007.

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não haja pagamento do imposto devido, haverá incidência de penalidades (multa de

mora e juros) pelo atraso no pagamento.

1.4 – APURAÇÃO ANUAL

Embora seja aplicada a antecipação mensal para fins de recolhimento, o

imposto de renda pessoa física deve ser apurado em bases anuais, ou seja, o IRPF é

devido com base na renda anual auferida pelo contribuinte e é apurado através da

Declaração de Ajuste Anual, através da qual há o reporte de todos os rendimentos

auferidos ao longo do ano e do respectivo imposto que foi antecipado, bem como das

deduções permitidas em lei.

Vejamos um acórdão do antigo Conselho dos Contribuintes: “IRPF.

APURAÇÃO. O imposto de renda pessoa física é devido mensalmente como

antecipação do imposto devido na declaração de ajuste, que é anual e onde se

determina a tributação definitiva (Ac. 1o 104-18609 em 21/02/2002).”

Deste modo, o imposto devido anualmente é apurado através da

Declaração de Ajuste Anual baseado na renda auferida pelo contribuinte ao longo do

ano. Do total dos rendimentos tributáveis é deduzido o imposto de renda que já foi

pago antecipadamente ao longo do ano, bem como todas as demais deduções previstas

em lei que serão analisadas no próximo capítulo.

A diferença entre o imposto devido na declaração e o imposto que já foi

antecipado, se positiva, gerará um saldo de imposto a pagar na Declaração e, se

negativa, gerará um saldo de imposto a restituir na Declaração de Ajuste Anual.

O prazo para entrega da Declaração de Ajuste Anual se encerra sempre no

ultimo dia útil do mês de abril do ano seguinte ao ano nos quais os rendimentos foram

auferidos. Deste modo, para o ano-calendário 2011, o período para entrega da

Declaração de Ajuste Anual se encerrará em 30 de abril de 2012. Ainda neste capítulo

será apresentadas algumas características da Declaração de Ajuste Anual.

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Importante destacar que no Brasil não é aplicável a tributação sobre o

patrimônio, sendo existente apenas a tributação sobre a renda. Deste modo,

diferentemente do que ocorre em outros países, como Espanha e Argentina4, por

exemplo, as alterações patrimoniais de um ano para outro não representam fato

gerador do imposto de renda.

Contudo, é importante destacar que caso a variação patrimonial não seja

suportada pelos rendimentos declarados, referida variação estará sujeita à tributação

pelo imposto de renda, conforme artigo 33 da Instrução Normativa SRF 15/2001

abaixo transcrito:

“Art. 33. Constitui rendimento tributável na Declaração de Ajuste Anual o valor correspondente ao acréscimo patrimonial não justificado pelos rendimentos tributáveis, não-tributáveis, isentos, tributáveis exclusivamente na fonte ou de tributação definitiva.”

Nesses casos, presume-se que houve omissão de rendimentos.

Cabe enfatizar que na Constituição Federal de 1988 há uma previsão em

seu artigo 153 para criação de um imposto sobre Grandes Fortunas. Entretanto, para

tanto é necessária a elaboração de uma lei complementar que defina as diretrizes de

referido imposto.

No que tange ao fato gerador, destaca-se que o fato gerador do imposto de

renda pessoa física é a aquisição da renda, ou seja, é a disponibilidade jurídica ou

econômica da renda, conforme previsto no artigo 43 da Lei n° 5.172/66 (Código

Tributário Nacional):

“Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos;

4 CEIA. Nathália. IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física. Coordenação: Luiz Cezar Quintans. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2007.

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II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.”

Lembrando que a disponibilidade econômica ou jurídica ocorre quando os

recursos estão à disposição do beneficiário em moeda ou em crédito em conta corrente

bancária.

Ademais, entende-se como renda o fruto do capital, do trabalho ou de

ambos e proventos de qualquer natureza o acréscimo patrimonial não compreendido

pelo fruto do capital ou trabalho.

1.5 – MODALIDADES DO IMPOSTO

As principais modalidades de imposto de renda pessoa física são o

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), o Carnê-leão, o Mensalão e o Livro-caixa.

1.5.1 – Imposto de Renda Retido na Fonte

O Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) é aplicado nos casos de

rendimentos pagos no Brasil por pessoas jurídicas ou físicas a pessoas físicas. Neste

caso, a responsabilidade pela retenção e respectivo recolhimento do imposto é da fonte

pagadora do rendimento.

É possível mencionar como exemplo do imposto de renda retido na fonte o

imposto devido sobre os salários pagos a empregados devidamente registrados em

folha de pagamento.

Destaca-se que nesses casos a fonte pagadora é a responsável pela retenção

e devido recolhimento do imposto devido apurado sobre o rendimento bruto pago à

pessoa física. Entretanto, a responsabilidade pela retenção se extingue no momento da

entrega da Declaração de Ajuste Anual pela pessoa física beneficiária do rendimento.

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Tal matéria já é sumulada pelo Conselho Administrativo de Recursos

Fiscais pela Súmula 185.

Nesse caso, cabe à pessoa física reportar os rendimentos auferidos, bem

como o imposto retido em sua declaração de ajuste anual para que ocorra o devido

ajuste do imposto e eventuais diferenças (retenção a maior ou a menor) possam ser

ajustadas.

1.5.2 – Carnê-leão

Já a modalidade denominada carnê-leão é considerada uma antecipação

mensal do imposto devido na declaração de ajuste anual e é aplicável em casos de

imposto devido sobre rendimentos auferidos no exterior por pessoas físicas ou

quaisquer outros rendimentos auferidos por pessoas físicas mensalmente, tais como

aluguéis, pensão alimentícia etc.

Neste caso, a responsabilidade pelo recolhimento do imposto devido é da

própria pessoa física beneficiária dos rendimentos.

Tanto os rendimentos auferidos quanto o imposto pago devem ser

reportados na Declaração de Ajuste Anual para que ocorra o ajuste, assim como ocorre

no caso do imposto retido na fonte.

1.5.3 - Mensalão

No caso do Mensalão, esta é uma modalidade de recolhimento que é

totalmente opcional, cabendo ao contribuinte a decisão de efetuar o recolhimento.

O principal objetivo do Mensalão é antecipar o imposto devido na

declaração de ajuste anual.

5 Súmula 18: “Constatada a omissão de rendimentos sujeitos à incidência do imposto de renda na declaração de ajuste anual é legitima a constituição de crédito tributário na pessoa física do beneficiário, ainda que a fonte pagadora não tenha procedido à respectiva retenção”.

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1.5.4 – Livro-Caixa

Por fim, a modalidade livro-caixa é o imposto incidente sobre rendimentos

do trabalho auferidos por pessoas físicas que não possuem vínculo empregatício. São

exemplos os médicos, advogados, leiloeiros etc. Neste caso, é permitida a dedução das

despesas necessárias à execução dos serviços, conforme previsto no artigo 51 da

Instrução Normativa SRF n° 15/2001:

“Art. 51. O contribuinte que receber rendimentos do trabalho não-assalariado, inclusive o titular de serviços notariais e de registro e o leiloeiro deve registrar as receitas e as despesas em livro Caixa, podendo deduzir, da receita decorrente do exercício da respectiva atividade, as despesas escrituradas, a saber:

I - a remuneração paga a terceiros, desde que com vínculo empregatício, e os respectivos encargos trabalhistas e previdenciários;

II - os emolumentos pagos a terceiros, assim considerados os valores referentes à retribuição pela execução, pelos serventuários públicos, de atos cartorários, judiciais e extrajudiciais;

III - as despesas de custeio pagas, necessárias à percepção da receita e à manutenção da fonte produtora.

Deste modo, o contribuinte está obrigado a reportar na Declaração de

Ajuste Anual as receitas e despesas escrituradas em livro-caixa ao longo do ano-

calendário.

Destaca-se que é necessário manter todos os documentos relativos as

receitas e despesas reportadas que serão necessários para o caso de fiscalização.

1.6 – ALÍQUOTAS E PRAZOS DE RECOLHIMENTO

As alíquotas e os prazos de recolhimento variam se o contribuinte é

residente fiscal ou não no Brasil. No presente trabalho, considera-se para todos os fins

apenas o caso dos residentes fiscais no Brasil.

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1.6.1 – Alíquotas

O imposto de renda sobre os rendimentos de trabalho e demais

rendimentos é calculado com base na tabela progressiva mensal e ajustado na

declaração de ajuste anual com base na tabela progressiva anual. Abaixo se encontram

ambas as tabelas válidas para o ano 2011:

Tabela Progressiva Mensal6

Base de cálculo mensal em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$ Até 1.566,61 - -

De 1.566,62 até 2.347,85 7,5 117,49

De 2.347,86 até 3.130,51 15,0 293,58

De 3.130,52 até 3.911,63 22,5 528,37 Acima de 3.911,64 27,5 723,95

Tabela Progressiva Anual7

Base de cálculo anual em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$ Até 18.799,32 - -

De 18.799,33 a 28.174,25 7,5% 1.409,96

De 28.174,26 a 37.566 15% 3.523,02

De 37.566,01 a 46.939,56 22% 6.340,47

Acima de 46.939,57 27,5% 8.687,45

Deste modo, a tabela progressiva deve ser aplicada sobre a base de cálculo

do imposto, sendo esta definida através do somatório dos rendimentos sujeitos à

tributação excluindo-se as deduções permitidas em lei.

A tabela progressiva é aplicável às quatro modalidades de imposto

apresentada neste capítulo: IRRF; carnê-leão; mensalão e livro caixa.

Atualmente a tabela progressiva é reajustada todos os anos, através de

publicação de instrução normativa emitida pela Secretaria da Receita Federal.

6 Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/contribfont.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2011. 7 Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/contribfont.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2011.

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1.6.2 – Prazos de Recolhimento

A data limite para o recolhimento do imposto depende da modalidade

deste. Influenciam também a espécie do rendimento auferido, bem como a residência

fiscal do indivíduo (lembrando que no presente trabalho, será analisado apenas o caso

dos residentes fiscais no Brasil).

No caso do Imposto de Renda Retido na Fonte, o prazo para o

recolhimento do imposto devido é até o último dia útil semana subseqüente à da

ocorrência do fato gerador8.

Já no caso do carnê-leão, o imposto devido deve ser recolhido até o último

dia útil do mês subseqüente ao da percepção dos rendimentos9.

Com relação ao mensalão, ou imposto complementar, o mesmo é

facultativo e o contribuinte que deseja efetuar o recolhimento complementar, pode

realizá-lo dentro do curso do ano-calendário, até o último dia útil do mês de

dezembro10.

Por fim, no caso do livro caixa, o prazo para recolhimento do imposto

devido deverá ser pago até o último dia útil do mês subseqüente àquele em que os

rendimentos ou ganhos forem percebidos11.

Destaca-se abaixo um quadro resumo considerando os prazos de

recolhimento das quatro modalidades de imposto apresentadas neste capítulo:

Prazos de Recolhimento

Modalidade do Imposto Prazo de Recolhimento IRRF Até o último dia útil da semana seguinte a

que os rendimentos foram pagos

Carnê-leão Até o último dia útil do mês seguinte ao qual o rendimento foi auferido

Mensalão Pode ser recolhido até o ultimo dia útil do mês de dezembro

8 Artigo 58, inciso I da Instrução Normativa SRF n° 15/2001. 9 Artigo 58, inciso II da Instrução Normativa SRF n° 15/2001. 10 Artigo 58, inciso III da Instrução Normativa SRF n° 15/2001. 11 Artigo 852 do Decreto n° 3.000/1999.

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Livro Caixa Até o último dia útil do mês seguinte ao qual o rendimento foi auferido

1.7 – DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL

A Declaração de Ajuste Anual é o documento através do qual o

contribuinte apresenta às autoridades fiscais os seus rendimentos auferidos ao longo

do ano, o imposto pago, os pagamentos, bem como as dívidas e os bens e direitos

mantidos no Brasil e no exterior.

As declarações são enviadas via internet e nenhum documento deve ser

anexado. Entretanto, o contribuinte deve manter em seu poder durante um prazo de

cinco anos todos os documentos relativos às informações reportadas na Declaração

para o caso de possíveis fiscalizações.

Após a entrega, as declarações são submetidas à análise por parte da

Secretaria da Receita Federal que poderá solicitar esclarecimentos aos contribuintes

durante um período de até cinco anos. Nesse período, as autoridades fiscais podem

solicitar documentos comprobatórios, efetuar lançamentos suplementares de imposto e

emitir autos de infração se restar comprovada alguma irregularidade fiscal.

1.7.1. Obrigatoriedade de Entrega

Para o ano-calendário 2011, está obrigado a apresentar Declaração de

Ajuste Anual o residente fiscal no Brasil que12:

a) recebeu rendimentos tributáveis, sujeitos ao ajuste na declaração, cuja

soma foi superior a R$ 22.487,25 (vinte e dois mil, quatrocentos e oitenta e

sete reais e vinte e cinco centavos);

b) recebeu rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados

exclusivamente na fonte, cuja soma foi superior a R$ 40.000,00 (quarenta

mil reais);

12 Artigo 2o da Instrução Normativa SRF n° 1.095/2010.

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c) obteve, em qualquer mês, ganho de capital na alienação de bens ou

direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas

de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas;

d) relativamente à atividade rural:

i) obteve receita bruta em valor superior a R$ 112.436,25

(cento e doze mil, quatrocentos e trinta e seis reais e vinte e

cinco centavos);

ii) pretenda compensar, no ano-calendário de 2010 ou

posteriores, prejuízos de anos-calendário anteriores ou do

próprio ano-calendário de 2010;

e) teve, em 31 de dezembro, a posse ou a propriedade de bens ou direitos,

inclusive terra nua, de valor total superior a R$ 300.000,00 (trezentos mil

reais);

f) passou à condição de residente no Brasil em qualquer mês e nesta

condição se encontrava em 31 de dezembro; ou

g) optou pela isenção do Imposto sobre a Renda incidente sobre o ganho

de capital auferido na venda de imóveis residenciais, cujo produto da

venda seja aplicado na aquisição de imóveis residenciais localizados no

País, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados da celebração do

contrato de venda, nos termos do art. 39 da Lei nº 11.196, de 21 de

novembro de 2005.

Deste modo, as pessoas físicas que não se enquadrem em nenhum das

hipóteses previstas acima estão desobrigadas de apresentar a Declaração de Ajuste

Anual.

1.7.2. Prazo, Forma e Modelos de Entrega

De acordo com a legislação fiscal, a Declaração de Ajuste Anual deve ser

entregue até o último dia útil do mês de abril do ano seguinte ao período da apuração.

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20

Caso o contribuinte não entregue a Declaração dentro do prazo estipulado

pela legislação, ele estará sujeito a uma multa de 1% ao mês sobre o imposto devido.

O valor de multa mínimo a ser pago é de R$ 165,7413.

Até o ano calendário 2010, a Declaração de Ajuste Anual poderia ser

entregue em formulário de papel ou pela internet. Atualmente, a Declaração apenas

pode ser entregue via internet por todos os contribuintes que estejam obrigados a sua

apresentação.

A Declaração de Ajuste Anual pode ser entregue em dois modelos:

completo ou simplificado, cabendo ao contribuinte a escolha de qual modelo seja mais

vantajoso do ponto de vista fiscal.

O modelo completo é indicado para os contribuintes que desejam

aproveitar todas as deduções permitidas em lei, conforme será comentado no capítulo

3 deste trabalho.

Já o modelo simplificado é mais vantajoso para os contribuintes que não

possuam deduções a serem aplicadas e descontadas da base de calculo do imposto.

Neste caso, será permitido ao contribuinte uma dedução de 20% dos rendimentos

tributáveis limitada ao valor de R$ 13.317,0914 em substituição a todas as deduções

legais permitidas na declaração completa.

Conforme mencionado, a escolha acerca do modelo é facultada ao

contribuinte não havendo nenhum requisito necessário a ser cumprido.

Importante destacar que caso haja alguma informação incorreta por parte

do contribuinte, a Declaração de Ajuste Anual pode ser retificada a qualquer

momento, dentro de um período de cinco anos e desde que a mesma não esteja sob

fiscalização por parte das autoridades fiscais. Entretanto, após o prazo para entrega da

Declaração, não é permitido ao contribuinte retificar a declaração alterando o modelo

originalmente entregue.

13 Conforme artigo 88 da Lei n° 8.981/1995. 14 Conforme Instrução Normativa SRF n° 1.095/2010.

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1.7.3. Saldo de Imposto a Pagar ou a Restituir

Conforme mencionado, ao final do ajuste a Declaração de Ajuste Anual

pode apurar um saldo de imposto a pagar ou a restituir.

No caso de imposto a pagar, o mesmo deve ser recolhido nas agencias

bancárias através do documento de arrecadação de receitas federais (DARF) sob o

código 0211. O prazo para recolhimento do imposto é o mesmo para entrega da

Declaração, ou seja, até o ultimo dia útil do mês de abril do ano subseqüente ao

período de apuração.

Nesse caso, o imposto a pagar pode ser parcelado em até oito parcelas

iguais, mensais e sucessivas devendo a primeira ser quitada até o ultimo dia útil do

mês de abril e as demais até o ultima dia útil dos meses subseqüentes. Nesse caso, as

parcelas são atualizadas pelos juros SELIC.

Caso o contribuinte não pague o imposto apurado na Declaração até o

prazo estipulado ele estará sujeito ao pagamento de multa de mora no montante de

0.33% por dia de atraso, limitada a 20%, bem como juros SELIC acrescido de 1% no

mês do pagamento.

No caso de restituição apurada, esta será devolvida ao contribuinte de

acordo com o cronograma de pagamento das restituições divulgado pela Secretaria da

Receita Federal. Nesse caso, a restituição será atualizada pela SELIC acumulada desde

a data de entrega da Declaração até o mês do pagamento da restituição.

Para o recebimento da restituição, o contribuinte deve informar em sua

Declaração de Ajuste Anual sua conta e agencia bancária (em seu nome) para que

ocorra o crédito do valor tão logo a restituição seja liberada pelo fisco.

Caso o contribuinte não possua conta bancária, ele receberá sua restituição

através do Banco do Brasil através da abertura de uma conta temporária. Caso o valor

relativo à restituição não seja resgatado dentro de um período de doze meses contados

da data do depósito, o valor retornará para a Secretaria da Receita Federal e apenas

através de abertura de um processo administrativo será permitido o pagamento ao

contribuinte.

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22

CAPÍTULO II

GANHO DE CAPITAL

2.1 – CONCEITO

O ganho de capital pode ser definido como a diferença positiva entre o

valor de venda e o valor de aquisição de um bem ou direito15.

Em termos de legislação, a Instrução Normativa SRF nº 84/2001 consolida

as normas relativas à apuração e tributação do ganho de capital auferido por pessoas

físicas na alienação de bens ou direitos. Já a Lei nº 11.196/2005 incorporou os

benefícios da MP nº 252/2005, conhecida por "MP do Bem"16.

A Instrução Normativa SRF nº 599/2005 regulamentou os benefícios ao

Imposto de Renda incidentes sobre ganhos de capital das pessoas físicas, previstos na

Lei nº 11.196/2005.

No Brasil, eventuais prejuízos (valor de venda inferior ao valor de

aquisição) não são tributáveis, bem como não há possibilidade de compensar tais

perdas com eventuais ganhos futuros.

Pode-se afirmar que estão sujeitas à apuração de ganho de capital no Brasil

as operações que tratem de17:

a) alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa

de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por compra e venda,

permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, procuração em causa

própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de

direitos e contratos afins;

15 Artigo 2° da Instrução Normativa SRF n° 84/2001. 16 Entre 16 de junho de 2005 e 13 de outubro de 2005 esteve em vigor a Medida Provisória nº 252/2005, conhecida como "MP do Bem", que trazia em seu texto os benefícios incorporados à Lei nº 11.196/2005. Apesar da perda de sua eficácia, por falta de aprovação, considerando que o Congresso Nacional não editou, em 60 dias um decreto legislativo disciplinando as relações jurídicas dela

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b) transferência a herdeiros e legatários na sucessão causa mortis, a

donatários na doação, inclusive em adiantamento da legítima, ou atribuição a ex-

cônjuge ou ex-convivente, na dissolução da sociedade conjugal ou união estável, de

direito de propriedade de bens e direitos adquiridos por valor superior àquele pelo qual

constavam na Declaração de Ajuste Anual do de cujus, do doador, do ex-cônjuge ou

ex-convivente que os tenha transferido.

Os contribuintes do imposto sobre o ganho de capital são as pessoas físicas

residentes fiscais no Brasil que realizaram uma operação de venda com ganho de

capital de um bem localizado no Brasil ou no exterior. Caso um indivíduo não

residente para fins fiscais no Brasil realize uma venda de um bem localizado no Brasil,

o eventual ganho apurado também está sujeito à tributação.

2.2 – VALOR DE ALIENAÇÃO

Em termos gerais, o valor de alienação é o preço efetivo da operação de

venda. No caso de impossibilidade de comprovação do valor efetivamente pago em

caso de fiscalização, op valor de alienação poderá ser arbitrado pela autoridade

fiscalizadora.

2.3 – CUSTO DE AQUISIÇÃO

O custo de aquisição é o valor de aquisição do bem, expresso em reais.

Em caso de impossibilidade de determinação do custo de aquisição, o

valor do custo de aquisição pode ser calculado considerando-se também o valor

indicado para efeito do pagamento do imposto de transmissão, o valor da avaliação

disposta no inventário ou arrolamento ou o valor corrente do bem na data da aquisição.

Podem integrar o custo de aquisição, quando comprovados com

documentação hábil e idônea e discriminados na Declaração de Ajuste Anual, entre

outros18:

decorrentes no período em que esteve em vigor, estas relações constituídas conservar-se-ão por ela regidas, ou seja, são plenamente válidas. 17 Artigo 3° da Instrução Normativa SRF n° 84/2001. 18 Artigo 17° da Instrução Normativa SRF n° 84/2001.

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a) os dispêndios com a construção, ampliação e reforma, desde que os

projetos tenham sido aprovados pelos órgãos municipais competentes, e com pequenas

obras, tais como pintura, reparos em azulejos, encanamentos, pisos, paredes;

b) os dispêndios com a demolição de prédio construído no terreno, desde

que seja condição para se efetivar a alienação; as despesas de corretagem referentes à

aquisição do imóvel vendido, desde que tenha suportado o ônus;

c) os dispêndios pagos pelo proprietário do imóvel com a realização de

obras públicas, tais como colocação de meio-fio, sarjetas, pavimentação de vias,

instalação de redes de esgoto e de eletricidade que tenham beneficiado o imóvel;

d) o valor do imposto de transmissão pago pelo alienante na aquisição do

imóvel;

e) o valor da contribuição de melhoria;

f) os juros e demais acréscimos pagos para a aquisição do imóvel;

g) o valor do laudêmio pago; e

h) os dispêndios realizados com a conservação e reparos, a comissão ou a

corretagem quando não transferido o ônus ao adquirente, os juros e demais acréscimos

pagos.

2.4 – ALÍQUOTAS E PRAZOS DE RECOLHIMENTO

2.4.1. Alíquota

O ganho de capital decorrente de operações de alienação de bens ou

direitos mantidos no Brasil ou no exterior por residentes fiscais no Brasil está sujeito à

tributação definitiva mediante aplicação da alíquota de 15% sobre o ganho efetivo

(Ganho de Capital = valor de venda menos o custo de aquisição).

2.4.2. Prazo de Recolhimento

No caso dos residentes fiscais, o prazo para recolhimento do imposto

devido é o último dia útil do mês subseqüente ao mês da venda. Já para os não

residentes fiscais que alienam bens localizados no Brasil, o prazo para recolhimento do

imposto é sempre a própria data da alienação.

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2.5 – ISENÇÕES DO GANHO DE CAPITAL

Destacam-se abaixo as principais isenções previstas em lei para o imposto

sobre ganho de capital.

2.5.1. Bens de Pequeno Valor

A partir de dezembro de 2005, com a promulgação da Instrução Normativa

SRF n° 599, passou a ser isento de imposto de renda o ganho de capital auferido na

alienação de bens e direitos de pequeno valor, cujo preço unitário de alienação, no mês

em que esta se realizar, seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), no caso

de alienação de ações negociadas no mercado de balcão e R$ 35.000,00 (trinta e cinco

mil reais), nos demais casos (antes não estava sujeita à apuração do ganho de capital a

alienação de bens ou direitos por valor igual ou inferior a R$ 20.000,00.

Cabe destacar que os limites acima são considerados em relação19:

a) ao bem ou direito ou ao valor do conjunto de bens ou direitos da mesma

natureza, alienados em um mesmo mês;

b) à parte de cada condômino ou co-proprietário, no caso de bens

possuídos em condomínio, inclusive na união estável;

c) a cada um dos bens ou direitos possuídos em comunhão e ao valor do

conjunto dos bens ou direitos da mesma natureza, alienados em um mesmo mês, no

caso de sociedade conjugal.

Com relação aos bens e direitos da mesma natureza, estes são considerados

aqueles que guardam as mesmas características entre si (por exemplo automóveis,

motocicletas, imóveis etc).

19 Artigo 17° da Instrução Normativa SRF n° 599/2005.

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2.5.2. Alienação de Único Imóvel

Além dos bens de pequeno valor, não está sujeita à apuração do ganho de

capital a alienação, por valor igual ou inferior a R$ 440.000,00 (quatrocentos e

quarenta mil reais), do único imóvel que o titular possua, individualmente, em

condomínio ou em comunhão, desde que, nos últimos cinco anos, não tenha efetuado

alienação de imóvel, a qualquer título, tributada ou não.

Esse limite de R$ 440.000,00 (quatrocentos e quarenta mil reais) é

considerado em relação à parte de cada condômino ou co-proprietário, no caso de bens

ou direitos possuídos em condomínio ou ao imóvel possuído em comunhão, no caso de

sociedade conjugal.

2.5.3. Venda de Imóvel Residencial para Compra de Outro

Também com a publicação da Instrução Normativa SRF n° 599/05, passou

a ser isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente no País

na venda de imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e

oitenta) dias contados da celebração do contrato, aplique o produto da venda na

aquisição, em seu nome, de imóveis residenciais localizados no País.

Destaca-se que a opção por referida isenção é irretratável e o contribuinte

deverá informá-la no respectivo Demonstrativo da Apuração dos Ganhos de Capital da

Declaração de Ajuste Anual.

Ademais, o contribuinte somente poderá usufruir do benefício de que trata

este item uma vez a cada cinco anos, contados a partir da data da celebração do

contrato relativo à operação de venda com o referido benefício ou, no caso de venda

de mais de um imóvel residencial, à primeira operação de venda com o referido

benefício.

No caso de venda de mais de um imóvel, o prazo será contado a partir da

data de celebração do contrato relativo à primeira operação.

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Na hipótese acima, estarão isentos somente os ganhos de capital auferidos

nas vendas de imóveis residenciais anteriores à primeira aquisição de imóvel

residencial.

De acordo com referida Instrução Normativa, a aplicação parcial do

produto da venda implicará tributação do ganho, proporcionalmente, ao valor da

parcela não aplicada.

No caso de aquisição de mais de um imóvel, a isenção aplicar-se-á ao

ganho de capital correspondente à parcela empregada na aquisição de imóvel

residencial.

Relativamente às operações realizadas à prestação, aplica-se esta isenção,

observado as seguintes condições20:

a) nas vendas a prestação e nas aquisições à vista, à soma dos valores

recebidos dentro do prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data da celebração

do primeiro contrato de venda e até a data da aquisição do imóvel residencial;

b) nas vendas à vista e nas aquisições a prestação, aos valores recebidos à

vista e utilizados nos pagamentos dentro do prazo de 180 (cento e oitenta) dias,

contado da data da celebração do primeiro contrato de venda;

c) nas vendas e aquisições a prestação, à soma dos valores recebidos e

utilizados para o pagamento das prestações, ambos dentro do prazo de 180 (cento e

oitenta) dias, contado da data da celebração do primeiro contrato de venda.

Enfatiza-se que não integram o produto da venda, para efeito do valor a ser

utilizado na aquisição de outro imóvel residencial, as despesas de corretagem pagas

pelo alienante.

Por fim, cabe mencionar que a isenção aplica-se também aos contratos de

permuta de imóveis residenciais, imóveis em construção ou na planta. Contudo, não se

aplica no caso de venda ou aquisição de terrenos.

20 Artigo 2° da Instrução Normativa SRF n° 599/2005.

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CAPÍTULO III

DEDUÇÕES PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO

3.1 – CONCEITO

Conforme apresentado anteriormente, o imposto de renda pessoa física é

devido em bases mensais, devendo as eventuais diferenças (a maior ou a menor) ser

ajustadas na Declaração de Ajuste Anual.

A renda bruta deve ser submetida à tributação sendo permitida a dedução

da base de cálculo dos valores relativos às deduções legais.

As deduções legais podem ser mensais ou anuais, conforme descrito

abaixo.

3.2 – DEDUÇÕES MENSAIS

As deduções mensais são facultativas e podem ser aplicadas mensalmente

quando do calculo da antecipação mensal do imposto. Ou seja, a legislação permite a

dedução da base de cálculo de determinadas parcelas reduzindo, desta forma, o valor

do imposto a ser recolhido.

Ao final do ano, quando do preparo da Declaração de Ajuste o Anual, o

contribuinte informará as deduções aplicadas ao longo do ano para que sejam

submetidas ao ajuste anual.

Segue abaixo a descrição das deduções mensais permitidas pela legislação.

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3.2.1 - Previdência Oficial (INSS)

De acordo com o artigo 74 do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto

n° 3.000/1999), poderão ser deduzidos mensalmente os valores relativos às

contribuições efetuadas à Previdência Social da União, Estados e Municípios:

“Art. 74. Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal do imposto, poderão ser deduzidas:

I - as contribuições para a Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;”

Caso o contribuinte recebe rendimentos de fonte pagadora, cabe à fonte

fazer a dedução quando do calculo do imposto de renda. Entretanto, caso o

contribuinte não receba rendimentos de uma fonte pagadora e seja contribuinte da

Previdência Social, ele poderá efetuar a dedução quando do calculo do imposto de

renda mensal.

3.2.2 – Dependentes

Já o artigo 77 do Regulamento do Imposto de Renda dispõe acerca da

dedução mensal relativa aos dependentes.

“Art. 77. Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal do imposto, poderá ser deduzida do rendimento tributável a quantia equivalente a noventa reais por dependente21.”

O parágrafo 1o do referido artigo descrimina os indivíduos que podem ser

considerados dependentes, quais sejam:

a) o cônjuge;

b) o companheiro ou a companheira, desde que haja vida em comum por mais de cinco anos, ou por período menor se da união resultou filho;

21 O valor relativo à dedução de dependentes é atualizado anualmente através de Instrução Normativa. Para o ano-calendário 2011, o valor mensal a ser deduzido foi R$ 150,69 para os meses de janeiro a março e R$ 157,47 para os meses de abril a dezembro.

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c) a filha, o filho, a enteada ou o enteado, até vinte e um anos, ou de qualquer idade quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho;

d) o menor pobre, até vinte e um anos, que o contribuinte crie e eduque e do qual detenha a guarda judicial;

e) o irmão, o neto ou o bisneto, sem arrimo dos pais, até vinte e um anos, desde que o contribuinte detenha a guarda judicial, ou de qualquer idade quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho;

f) os pais, os avós ou os bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal;

g) o absolutamente incapaz, do qual o contribuinte seja tutor ou curador.

Destaca-se que a partir do ano-calendário 2010 (exercício 2011) a

Secretaria da Receita Federal permitiu a inclusão de companheiros homossexuais

como dependentes na Declaração de Ajuste Anual.

Importante mencionar que a dedução referente a um dependente apenas

pode ser utilizada por um dos cônjuges.

Ademais, os eventuais rendimentos auferidos pelos dependentes

reportados devem ser informados para que sejam devidamente tributados.

3.2.3 – Despesas Escrituradas no Livro Caixa

O artigo 75 do Regulamento do Imposto de Renda dispõe acerca da

dedução mensal relativa às despesas escrituradas em livro caixa.

De acordo com referido artigo, poderão ser deduzidos da base de cálculo

do imposto de renda mensal as despesas relativas à remuneração paga aos empregados

que possuam vínculo empregatício (carteira assinada), bem como os emolumentos e as

despesas de custeio necessárias à percepção da receita e manutenção da fonte

pagadora:

“Art. 75. O contribuinte que perceber rendimentos do trabalho não-assalariado, inclusive os titulares dos serviços notariais e de registro, a que se refere o art. 236 da Constituição, e os leiloeiros, poderão deduzir, da receita decorrente do exercício da

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respectiva atividade (Lei nº 8.134, de 1990, art. 6º, e Lei nº 9.250, de 1995, art. 4º, inciso I):

I - a remuneração paga a terceiros, desde que com vínculo empregatício, e os encargos trabalhistas e previdenciários;

II - os emolumentos pagos a terceiros;

III - as despesas de custeio pagas, necessárias à percepção da receita e à manutenção da fonte produtora.”

Lembrando que as receitas e despesas devem estar devidamente

escrituradas em livro caixa e a documentação devem estar à disposição das autoridades

no caso de fiscalização.

3.2.4 – Pensão Alimentícia

A dedução relativa aos valores pagos a título de pensão alimentícia está

disposta no artigo 78 do Regulamento do Imposto de Renda, conforme descrito

abaixo:

“Art. 78. Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal do imposto, poderá ser deduzida a importância paga a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão judicial ou acordo homologado judicialmente, inclusive a prestação de alimentos provisionais.”

Conforme disposto no referido artigo, é permitida a dedução do valor pago

como pensão alimentícia, desde que devidamente homologada e em face de decisão

judicial.

Importante destacar que os valores recebidos a título de pensão alimentícia

pelo alimentando são rendimentos tributáveis e, portanto, devem ser oferecidos à

tributação pelos beneficiários.

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3.3 – DEDUÇÕES ANUAIS E DEDUÇÕES DO IMPOSTO DEVIDO

Conforme mencionado anteriormente, além das deduções mensais, os

contribuintes têm a opção de abater da base de cálculo de sua Declaração de Ajuste

Anual as deduções anuais permitidas pela legislação.

As deduções anuais podem ser cumulativas com as deduções mensais que

foram utilizadas ao longo do ano, mas não podem ser utilizadas em bases mensais,

apenas quando do preparo da Declaração de Ajuste Anual.

As principais deduções anuais constantes na legislação são as relativas às

despesas médicas e despesas com instrução.

Ademais, os valores pagos a título de incentivo às atividades culturais e

artísticas, valores relativos a contribuições à previdência privada (PGBL) e valores

relativos ao INSS de empregados domésticos podem ser abatidos do imposto devido

na Declaração de Ajuste Anual.

Abaixo estão descritas as particularidades de cada um.

3.3.1 – Despesas Médicas

A permissão para deduzir os valores relativos às despesas médicas está

prescrita no artigo 80 do Regulamento do Imposto de Renda:

Art. 80. Na declaração de rendimentos poderão ser deduzidos os pagamentos efetuados, no ano-calendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias.”

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Importante destacar que podem ser deduzidas as despesas com tratamento

do próprio contribuinte e de seus dependentes reportados na declaração de ajuste

anual.

Ademais, a dedução limita-se a pagamentos especificados e comprovados,

com indicação do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas

Físicas - CPF ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ de quem os recebeu,

podendo, na falta de documentação, ser feita indicação do cheque nominativo pelo

qual foi efetuado o pagamento. Deste modo, no caso de fiscalização, o contribuinte

deve apresentar os documentos acima para que seja comprovada a efetiva despesa.

Destaca-se ainda que não há limites para o abatimento das despesas

médicas, podendo ser deduzidas em sua totalidade desde que devidamente

comprovadas através de documentação idônea e desde que tenham ocorrido dentro do

mesmo ano-calendário.

Conforme descrito no artigo 80 acima mencionado, são consideradas como

despesas médicas os pagamentos efetuados a médicos, dentistas, psicólogos,

fisioterapeutas, fonoaudiólogos, bem como as despesas com exames laboratoriais,

serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses, desde que não tenham sido

reembolsadas.

3.3.2 – Despesas com Instrução

Já a dedução relativa às despesas com instrução está elencada no artigo 81

do Regulamento do Imposto de Renda:

“Art. 81. Na declaração de rendimentos poderão ser deduzidos os pagamentos efetuados a estabelecimentos de ensino relativamente à educação pré-escolar, de 1º, 2º e 3º graus, cursos de especialização ou profissionalizantes do contribuinte e de seus dependentes, até o limite anual individual de um mil e setecentos reais22.”

22 Para o ano-calendário 2011, o valor máximo a ser deduzido é de R$ 2.958,23, conforme Lei 12.469/2011.

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Assim como no caso das despesas médicas, podem ser deduzidos os

pagamentos realizados com educação própria e com educação dos dependentes

reportados na declaração.

Não são passíveis de dedução as despesas com uniforme escolar,

transporte, material, bem como cursos de língua estrangeira, dança, natação, ginástica

e assemelhados.

Assim como no caso das despesas médicas, no caso de fiscalização o

contribuinte deve comprovar todas as despesas com instrução através de

documentação hábil e idônea.

3.3.3 – Contribuições à Previdência Privada

A dedução do montante pago a título de previdência privada está previsto

no artigo 74, inciso II do Decreto n° 3.000/1999.

Nesse caso, o limite para dedução é de no máximo 12%23 do total dos

rendimentos reportados na Declaração de Ajuste Anual.

Destaca-se que apenas as contribuições efetuadas pelo contribuinte a título

de PGBL – Programa Gerador de Benefício livre em benefício do próprio contribuinte

ou dos dependentes reportados na Declaração são passíveis de dedução.

Nesse caso, devem ser reportados os pagamentos efetuados dentro do ano-

calendário não devendo ser informados os saldos da conta. Já no caso do VGBL –

Vida Gerador de Benefício Livre, os pagamentos efetuados não são passiveis de

dedução, mas o contribuinte deve reportar o saldo dos benefícios em 31 de dezembro

do ano-calendário.

23 Conforme artigo 82 do Decreto n° 3.000/1999.

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3.3.4 – Incentivo às Atividades Culturais e Artísticas

São passiveis de dedução do imposto devido na Declaração de Ajuste

Anual os valores gastos pelo contribuinte em beneficio de projetos culturais aprovados

pelo Ministério da Cultura na forma de doação ou patrocínio, conforme artigo 90 do

Decreto n° 3.000/1999.

N esse caso a doação ou patrocínio efetuado pelo contribuinte deve estar

relacionado com as seguintes atividades:

a) projetos culturais em geral aprovados pelo Programa Nacional de

Apoio à cultura (PRONAC) e

b) produção cultural nos seguintes seguimentos: artes cênicas; livros de

valor artístico, literário ou humanitário; música erudita ou

instrumental; circulação de exposições de artes plásticas e doações de

acervos para bibliotecas públicas e para museus.

O valor da dedução fica limitado a 80% das doações e 60% dos patrocínios

no caso do item “a” acima e ao valor efetivo das doações no caso do item “b” acima.

3.3.5 – Despesa com INSS do Empregado Doméstico

A Lei n° 11.324/2006 determinou a possibilidade de deduzir o montante

relativo à contribuição patronal paga à previdência social (INSS) em beneficio do

empregado doméstico.

A dedução fica limitada a um empregado doméstico por declaração,

podendo ser deduzido apenas o valor total recolhido de INSS dentro do ano-

calendário.

Cabe mencionar que a dedução contempla apenas a parcela paga a título de

contribuição patronal, não sendo permitido deduzir o valor que é descontado do

empregado doméstico.

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Ademais, o valor da dedução não pode exceder o montante da contribuição

previdenciária patronal calculada sobre um salário mínimo mensal, sobre o 13o salário

e sobre as férias, ainda que o empregado perceba um salário superior ao salário

mínimo.

Por fim, é considerado empregado doméstico aquele que presta serviços de

natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou família no âmbito

residencial desta24.

24 Conforme artigo 1o da Lei n° 5.859/1972.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho apresentou estudo acerca dos aspectos relativos ao

Imposto de Renda Pessoa Física e a composição de sua base de cálculo.

Nesse contexto, o trabalho dedicou-se a evidenciar os detalhes e as

características aplicáveis ao imposto de renda pessoa física, buscando identificar as

alíquotas, base de cálculo e deduções aplicáveis. Buscou ainda identificar quais seriam

as deduções permitidas ou não, bem como as parcelas integrantes e não integrantes da

base de calculo do imposto de renda.

Deste modo, o primeiro capítulo buscou demonstrar os aspectos básicos do

imposto de renda pessoa física no Brasil, destacando todas as alíquotas, base de

cálculo, fato gerador e prazos de recolhimento, bem como as características da

Declaração de Ajuste Anual.

Já o segundo capítulo visou apresentar os aspectos inerentes ao ganho de

capital, apresentando os fatos geradores, as alíquotas, as bases de cálculo e os prazos

de recolhimento.

Por fim o terceiro capítulo buscou demonstrar as deduções permitidas pela

legislação fiscal Brasileira. Foram apresentadas as deduções mensais e anuais, bem

como suas características tais como limites e requisitos.

Concluiu-se, portanto, que o tema é muito abrangente e pode ser utilizado

para diversas discussões e debates.

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BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Decreto nº 3.000 de 26 de março de 1999. Regulamenta a tributação,

fiscalização, arrecadação e administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de

Qualquer Natureza.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Atualizada até a

Ementa Constitucional nº 66/10.

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das

Leis do Trabalho – CLT.

BRASIL. Lei n° 8.212 de 24 de julho de 1991. Aprova a organização da Seguridade

Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências.

BRASIL. Instrução Normativa SRF n° 15 de 06 de fevereiro de 2001. Dispõe sobre

normas de tributação relativas à incidência do imposto de renda das pessoas físicas.

BRASIL. Instrução Normativa SRF n° 84 de 11 de outubro de 2001. Dispõe sobre a

apuração e tributação de ganhos de capital nas alienações de bens e direitos por

pessoas físicas. (Alterada pela IN SRF nº 599, de 28 de dezembro de 2005).

BRASIL. Instrução Normativa SRF n° 599 de 28 de dezembro de 2005. Dispõe sobre

os arts. 38, 39 e 40 da Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, relativamente ao

Imposto de Renda incidente sobre ganhos de capital das pessoas físicas.

BRASIL. Instrução Normativa SRF n° 1.095 de 10 de dezembro de 2010. Dispõe

sobre a apresentação da Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda

referente ao exercício de 2011, ano-calendário de 2010, pela pessoa física residente

no Brasil.

CEIA. Nathália. IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física. Coordenação: Luiz Cezar

Quintans. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2007.

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MACHADO. Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 12ª Ed. São Paulo:

Malheiros, 1997.

ATALIBA. Geraldo. Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: RT,

1968.

CASTRO. Carlos Alberto Pereira de. LAZZARI, João Batista. Manual de Direito

Previdenciário. 3a Ed. São Paulo: LTr, 2001.

IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 15ª Ed. Rio de Janeiro:

Impetus, 2010.

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INDICE

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 8 CAPÍTULO I - PRINCIPAIS ASPECTOS DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA ..................................................................................................................... 10 1.1 – TRIBUTO FEDERAL ..................................................................................... 10 1.2 – REGIME CAIXA ............................................................................................. 10 1.3 – ANTECIPAÇÃO MENSAL ............................................................................ 11 1.4 – APURAÇÃO ANUAL ..................................................................................... 12 1.5 – MODALIDADES DO IMPOSTO ................................................................... 14 1.5.1 – Imposto de Renda Retido na Fonte ............................................ 14

1.5.2 – Carnê-leão .................................................................................. 15 1.5.3 – Mensalão .................................................................................... 15 1.5.4 - Livro-Caixa ................................................................................. 15

1.6 – ALÍQUOTAS E PRAZO DE RECOLHIMENTO .......................................... 16 1.6.1 – Alíquotas .................................................................................... 16

1.6.2 – Prazos de Recolhimento ............................................................ 17 1.7 – DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL ......................................................... 18

1.7.1 – Obrigatoriedade de Entrega ....................................................... 19 1.7.2 – Prazo, Forma e Modelos de Entrega .......................................... 20 1.7.3 – Saldo de Imposto a Pagar ou a Restituir .................................... 21

CAPÍTULO II – GANHO DE CAPITAL ............................................................ 23 2.1 – CONCEITO ..................................................................................................... 23 2.2 – VALOR DE ALIENAÇÃO ............................................................................. 24 2.3 – CUSTO DE AQUISIÇÃO ............................................................................... 24 2.4 – ALÍQUOTAS E PRAZOS DE RECOLHIMENTO ........................................ 25

2.4.1 – Alíquota ...................................................................................... 25 2.4.2 - Prazo de Recolhimento ............................................................... 25

2.5 – ISENÇÕES DO GANHO DE CAPITAL ........................................................ 26 2.5.1 – Bens de Pequeno Valor ............................................................. 26 2.5.2 – Alienação de Único Imóvel ....................................................... 27 2.5.3 – Venda de Imóvel Residencial para Compra de Outro ............... 27

CAPÍTULO III – DEDUÇÕES PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO .................... 29 3.1 – CONCEITO ...................................................................................................... 29 3.2 – DEDUÇÕES MENSAIS .................................................................................. 29

3.2.1 – Previdência Oficial ..................................................................... 30 3.2.2 – Dependentes ............................................................................... 30 3.2.3 – Despesas Escrituradas no Livro Caixa ....................................... 31 3.2.4 - Pensão Alimentícia ..................................................................... 32

3.3 – DEDUÇÕES ANUAIS E DEDUÇÕES DO IMPOSTO DEVIDO ................. 33 3.3.1 – Despesas Médicas ...................................................................... 33 3.3.2 – Despesas com Instrução ............................................................. 34 3.3.3 – Contribuições à Previdência Privada ......................................... 35 3.3.4 – Incentivo às Atividades Culturais e Artísticas ........................... 35 3.3.5 - Despesa com INSS do Empregado Doméstico

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CONCLUSÃO.......................................................................................................... 37 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 38 ÍNDICE ....................................................................................................................40