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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA HERICA DE OLIVEIRA STIVAL Professor orientador (a): Maria Esther de Araujo Goiânia 2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO APOIO A SAÚDE DA

FAMÍLIA

HERICA DE OLIVEIRA STIVAL

Professor orientador (a): Maria Esther de Araujo

Goiânia

2015

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · (MINAYO, 2007;LAKATOS et al, 1986). Os principais autores pesquisados foram (MOTA,2007), (COSTA,1998) e ( VASCONCELOS, 2003)

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO APOIO A SAÚDE DA

FAMÍLIA

AUTOR: HERICA DE OLIVEIRA STIVAL

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial

para a obtenção do título de especialista em saúde da família

Orientador: Maria Esther de Araujo

Goiânia

2015

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METODOLOGIA

Tratará de um estudo do tipo bibliográfico, descritivo-exploratório e

retrospectivo, com análise integrativa, sistematizada e qualitativa.

O estudo bibliográfico será baseado em literaturas estruturadas, obtidas

de livros e artigos científicos provenientes de bibliotecas convencionais e

virtuais. O estudo descritivo-exploratório visa à aproximação e familiaridade

com o fenômeno-objeto da pesquisa, descrição de suas características, criação

de hipóteses e apontamentos, e estabelecimento de relações entre as variáveis

estudadas no fenômeno (MINAYO, 2007;LAKATOS et al, 1986).

Foi realizada uma revisão de literatura nas principais bases de dados

científicos: Medline, Lilacs, Cochrane, Scielo e Pubmed. Utilizando os termos:

“saúde”, “família”, “assistência social” e “saúde família”. O passo seguinte foi

uma leitura exploratória das publicações apresentadas no sistema latino-

americano e do caribe de informação em ciências da saúde - lilacs, national

library of medicine – medline – bdenf, scientific electronic library online – scielo,

caracterizando assim o estudo retrospectivo, em todos os idiomas, buscando

as fontes virtuais, os anos, os periódicos, os idiomas, os métodos e os

resultados comuns.

Para o resgaste histórico serão utilizados livros e revistas impressas que

abordassem o tema e possibilitassem um breve relato da evolução do assunto

relacionado a saude.

Realizei a leitura exploratória e seleção do material, principiou a leitura

analítica, por meio da leitura das obras selecionadas, que possibilitou a

organização das idéias por ordem de importância e a sintetização destas que

visou a fixação das idéias essenciais para a solução do problema da pesquisa

(MINAYO, 2007;LAKATOS et al, 1986). Os principais autores pesquisados

foram (MOTA,2007), (COSTA,1998) e ( VASCONCELOS, 2003).

Após a leitura analítica, iniciei a leitura interpretativa que tratou do

comentário feito pela ligação dos dados obtidos nas fontes ao problema da

pesquisa e conhecimentos prévios. Na leitura interpretativa houve uma busca

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mais ampla de resultados, pois ajustaram o problema da pesquisa a possíveis

soluções. Feita a leitura interpretativa se iniciou a tomada de apontamentos

que se referiram a anotações que consideravam o problema da pesquisa,

ressalvando as idéias principais e dados mais importantes (MINAYO,

2007;LAKATOS et al, 1986).

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RESUMO: O presente trabalho aborda o serviço social com sua atuação

junto à Política de Assistência Social como direito de cidadania, na direção da

universalização dos direitos sociais, tendo as questões sociais e suas múltiplas

determinações como objeto de intervenção. Com o processo de

municipalização das políticas sociais públicas, o assistente social passa a

assimilar novas funções, crescendo assim suas possibilidades de intervenção e

seus desafios na construção de novas práticas e saberes. No campo da

Atenção Primária à Saúde, o Saúde da Família como estratégia estruturante do

SUS, vem sendo um espaço de grande aprendizado para o assistente social,

que atua em equipes de saúde, através do Curso de Residência em Saúde da

Família de Sobral, agregando seus conhecimentos teóricos‐metodológicos ao

de outros profissionais e contribuindo para a inversão do modelo de atenção à

saúde. A prática interdisciplinar e intersetorial, necessária para o enfrentamento

dos determinantes sociais do processo saúde‐doença é um desafio que faz

desta experiência uma oportunidade de ampliação de seu espaço profissional,

fortalecendo o seu projeto político e, especialmente, contribuindo para a

conquista dos direitos sociais da população.

PALAVRAS- CHAVES: serviço social, saúde publica, atenção basica.

ABSTRACT: This paper addresses the social service with its work with the

Social Assistance Policy as a right of citizenship, towards the universalization of

social rights, and social issues and their multiple determinations as intervention

object. With the municipalization process of public social policies, the social

worker happens to assimilate new functions, thus increasing their intervention

possibilities and challenges in building new practices and knowledge. In the

field of primary health care, the Family Health as a structuring of the NHS

strategy, has been a big learning space for the social worker, who works in

health teams, through the Residency Program in Health Sobral family, adding

their theoretical and methodological knowledge to other professionals and

contributing to the reversal of the health care model. The interdisciplinary and

intersectoral practice necessary for addressing the social determinants of the

health-disease is a challenge that makes this experience an opportunity to

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expand your professional space, strengthening its political project and

especially contributing to the achievement of social rights population.

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SUMÁRIO

Introdução........................................................................................08

Capítulo I. A importância da saúde da família na atenção básica...11

Capítulo II. Atribuições do profissional de serviço social na saúde

pública............................................................................................ 19

2.2. Competências e atribuições do assistente social..........25

Capítulo IIl. Campos de inserção do serviço social

.......................................................................................................30

3.1. ações assistenciais........................................................30

3.2. ações em equipe............................................................33

3.3. ações sócio educativas...................................................34

3.4. ações de mobilização, participação e controle social.....35

3.5. ações de investição, planejamento e gestão...................37

3.6. ações de assessoria, qualificação e formação

profissional.......................................................................................39

Capítulo IV. Contribuição do serviço social para a saúde

pública.............................................................................................41

Conclusão........................................................................................44

Referencia bibliográfica...................................................................45

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INTRODUÇÃO

No Brasil a saúde tem sido pauta de intensos debates e constantes

movimentos com vistas a assegurar a garantia de acesso, a integralidade

da atenção e o equilíbrio entre recurso e demanda (OHARA, et al., 2008).

A forma como se estrutura o Sistema Único de Saúde (SUS), o coloca

enquanto acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção,

proteção e recuperação da saúde. Por sua vez, nos processos de implantação

de novas práticas de se "fazer saúde" no país, têm-se demonstrado

dificuldades no convencimento dos êxitos e das possibilidades, inclusive dentro

dos preceitos de modernidade, que hoje se apregoam com mais economia e

com mais efetividade, em um processo mais público e transparente para os

conjuntos sociais. (MERHY; ONOCKO, 1997, p.11)

Neste contexto, a preocupação com a resolutividade dos sistemas

públicos nacionais de saúde amplia as pesquisas sobre modalidades de

atenção inovadoras, sedimentando uma nova visão analítica sobre o processo

saúde-doença, a partir do reconhecimento de determinantes sociais neste

processo. Nessa linha de pensamento, além dos tradicionais esquemas de

prevenção e cura, vem ocupando um lugar de destaque, e se constituindo

como um campo abrangente de práticas de distintas disciplinas, a promoção da

saúde, acrescida de adensamentos conceituais que dão conta de responder ao

modelo de atenção à saúde proposto pelo SUS. (MOTA, et al, 2007, p.219)

O processo de trabalho do Assistente Social exige a constituição de

instrumentos que operacionalizem sua prática profissional com vistas a sua

intervenção. É através do conhecimento dos recursos disponíveis ao

profissional em instrumentos de trabalho que se torna possível o alcance de

resultados na intervenção profissional, visto que “ao se objetivarem pelo

trabalho, ao transformarem os objetos em instrumentos e meio para a

satisfação de suas necessidades, plasmando neles as suas finalidades, os

homens desenvolvem uma forma de práxis, que é a práxis produtiva”.

(GUERRA, 2000, p.11).

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O Serviço Social como campo de atuação da Saúde vem contribuir para

efetivação das propostas do SUS, sobretudo, no que se refere à prática

educativa voltada para a consecução da Saúde Pública no Brasil. É importante

que se diga, que a profissão de Serviço Social regulamentada pela lei nº

8.662/93, por meio da Resolução nº 218 de 06/03/1997, do Conselho Nacional

de Saúde (CNCS) colocou entre as categorias de profissionais de nível

superior que são considerados como profissionais de saúde, o assistente

social, bem como através da Resolução CFESS N° 383/99 de 29/03/1999, que

o caracteriza como profissional da saúde.

No Código de Ética profissional e na lei que a regulamenta, levando-a a

possuir um compromisso profissional com os direitos sociais, as políticas

públicas e a democracia. Pode-se assim, dizer que o Serviço Social

fundamenta-se em leis que garantem os direitos dos usuários ( Wagner e

Muniz, 2002).

Motta (2007) defende, que outro fator importante de ser considerado ao

pensar a relação Saúde Pública e Serviço Social é que, o Serviço Social tem

um conhecimento acumulado por problemas de natureza diversas que tornam

os seus debates um verdadeiro desafio para aqueles que se propõem realizá-

lo. Como também, em termos genéricos, são as precárias condições de vida e

acesso às riquezas produzidas e a bens e serviços, que enquanto expressão

das desigualdades coloca-se como questões sociais que interferem na eficácia

dos programas de saúde, tais questões transformaram-se em problemas que

comprometem a própria política de saúde.

Para uma melhor exposição do tema este estudo foi dividido em quatro

capítulos sendo que o capítulo I procurou-se enfatizar a importância da

inserção do programa de saúde da família na atenção básica junto a

comunidade, visto que este é o principal modelo de organização de atenção

primária à saúde do Brasil. E, através de uma equipe multiprofissional e

infraestrutura adequada, a abordagem torna-se mais integral e resolutiva no

atendimento a comunidade.

O capítulo II abordará as principais atribuições do assistente social

dentro do programa saúde, visto que o trabalho deste, evidencia uma grande

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importância na conscientização e seleção do atendimento oferecido,

individualizando o atendimento, este é umas das propostas do sistema único

de saúde no atendimento a comunidade.

O capítulo III enfatizará a importância da inserção do assistente social

dentro do programa de saúde da família, que atua principalmente na

identificação das demandas presentes na sociedade, visando formular

respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando

as novas articulações da saúde publica no Brasil.

O capítulo IV abordará as principais atribuições do assistente social

quando inserido no programa saúde da família, visto que o mesmo atua na

democratização do acesso as unidades e aos serviços de saúde, buscando

uma estratégia de aproximação das unidades de saúde com a realidade de sua

comuniade.

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CAPITULO 1. A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA

NA ATENÇÃO BÁSICA

A Atenção Básica – e de maneira especial, a ESF, para sua consecução

– necessitam de diretrizes que apoiem as diferentes atividades a elas

relacionadas. A definição de território adstrito, tão cara à sua organização,

coloca-se como estratégia central, procurando reorganizar o processo de

trabalho em saúde mediante operações intersetoriais e ações de promoção,

prevenção e atenção à saúde (MONKEN; BARCELLOS, 2005), permitindo a

gestores, profissionais e usuários do SUS compreender a dinâmica dos lugares

e dos sujeitos (individual e coletivo), desvelando as desigualdades sociais e as

iniquidades em saúde (GONDIM, 2012). O território define em si a adstrição

dos usuários, propiciando relações de vínculo, afetividade e confiança entre

pessoas e/ou famílias e grupos a profissionais/equipes, sendo que estes

passam a ser referência para o cuidado, garantindo a continuidade e a

resolutividade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado (BRASIL,

2011).

A ideia de que os cuidados dispensados na Atenção Básica são simples

há muito deixou de ser realidade, se é que algum dia o foi. Estes são

complexos e precisam dar conta das necessidades de saúde da população, em

nível individual e/ou coletivo, de forma que as ações influam na saúde e na

autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde da

comunidade.

A ação na Atenção Básica, principal porta de entrada do sistema de

saúde, inicia-se com o ato de acolher, escutar e oferecer resposta resolutiva

para a maioria dos problemas de saúde da população, minorando danos e

sofrimentos e responsabilizando-se pela efetividade do cuidado, ainda que este

seja ofertado em outros pontos de atenção da rede, garantindo sua

integralidade (BRASIL, 2011). Para isso, é necessário que o trabalho seja

realizado em equipe, de forma que os saberes se somem e possam se

concretizar em cuidados efetivos dirigidos a populações de territórios definidos,

pelos quais essa equipe assume a responsabilidade sanitária.

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Na ESF o trabalho em equipe é considerado um dos pilares para a

mudança do atual modelo hegemônico em saúde, com interação constante e

intensa de trabalhadores de diferentes categorias e com diversidade de

conhecimentos e habilidades que interajam entre si para que o cuidado do

usuário seja o imperativo ético-político que organiza a intervenção técnico-

científica, entretanto, essas relações muitas vezes são conflituosas,

acarretando a seus membros competitividade, conflitos e hostilidade, situações

que podem ser superadas com a construção de um projeto comum em que

seja definida a responsabilidade de cada membro, assim como a disposição

em ouvir e considerar as experiências uns dos outros, sendo a comunicação a

principal ferramenta para que esses conflitos sejam convertidos em

crescimento para a equipe e em um trabalho multiprofissional e interdisciplinar

que redunde na gestão do cuidado integral do usuário (FRANCISCHINI;

MOURA; CHINELATTO, 2008; BRASIL, 2011).

O crescimento no número de equipes de saúde da família e a melhoria

da qualidade da assistência na atenção básica por meio da Saúde da Família

fazem parte das prioridades do Ministério da Saúde. O Programa de Saúde da

Família busca superar os modelos de assistência centrados exclusivamente na

doença. Procura desenvolver práticas de gerencia de serviço e assistência à

população de cunho participativo por meio do trabalho em equipe que se

responsabilizam pela assistência de populações em territórios delimitados.

Os princípios mais importantes da atenção básica no Brasil são:

integralidade (definir o que deve ser atendido), qualidade, eqüidade (usado

para garantir na prática a igualdade na assistência a todos os cidadãos) e a

participação social (participação da população para definir as prioridades no

atendimento e fiscalizar o funcionamento do serviço). Por meio da definição do

número de pessoas a serem atendidas, as equipes de Saúde da Família

estabelecem vinculo com a população, possibilitando o compromisso e a co-

responsabilidade destes profissionais com os usuários e a comunidade.

Os principais resultados esperados para o PSF são:

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1-atuar como porta de entrada de um sistema hierarquizado (atenção

primaria,secundaria e terciaria) e regionalizado (abrangendo um conjunto de

municípios) de saúde;

2- atuar em território definido e em população delimitada sob a sua

responsabilidade;

3- intervir sobre os fatores que interferem na saúde da comunidade

(fatores de risco aos quais a comunidade está exposta);

4- prestar assistência para as principais doenças que atingem a

população (assistência integral) continuamente e com qualidade;

5- realizar atividades de educação e ações para manutenção e melhoria

da saúde (promoção da saúde).

6- estabelecer vínculos de compromisso na assistência e de co-

responsabilidade na manutenção da saúde da população;

7- estimular a organização das comunidades para exercerem o controle

social sobre as ações e os serviços de saúde;

8- utilizar sistemas de informação (por exemplo, o Sistema de

Informação da Atenção Básica SIAB) para o monitoramento da população

assistida e a tomada de decisões;

9- atuar de forma a estabelecer parcerias com outras instituições que

não as da área da saúde (atuação intersetorial) como, por exemplo, as escolas,

os serviços de assistência social para intervir em situações que apesar de

interferirem na saúde das pessoas não se vinculam diretamente as instituições

de saúde, como a coleta de lixo, a obtenção de aposentadoria, do passe livre o

transporte coletivo para idosos, a educação escolar para hábitos e boas

praticas em saúde.

A Atenção Básica constitui-se em um conjunto de ações que dão

consistência prática ao conceito de Vigilância em Saúde, referencial que

articula conhecimentos e técnicas provindos da epide¬miologia, do

planejamento e das ciências sociais em saúde, redefinindo as práticas em

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saúde, articulando as bases de promoção, proteção e assistência, a fim de

garantir a integralidade do cuidado (SANTANA; CARMAGNANI, 2001).

A partir da promulgação da Constituição Federal em 1988, foram

definidas como diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) a universalização,

a eqüidade, a integralidade, a descentralização, a hierarquização e a

participação da comunidade. Ao ser desenvolvido sobre esses princípios, o

processo de construção do Sistema Único de Saúde visa reduzir o hiato ainda

existente entre os direitos sociais garantidos em lei e a capacidade efetiva de

oferta de ações e serviços públicos de saúde à população brasileira. Apesar de

esses princípios ainda não terem sido atingidos em sua plenitude, é impossível

negar os avanços obtidos na última década no processo de consolidação do

SUS, dentre os quais se destaca a descentralização com efetiva

municipalização, são eles os princípios do SUS: (SOUSA, 2000).

Universalidade: A Saúde é reconhecida como um direito fundamental do

ser humano, cabendo ao Estado garantir as condições indispensáveis ao seu

pleno exercício e o acesso a atenção e assistência à saúde em todos os níveis

de complexidade.

Eqüidade: É um princípio de justiça social porque busca diminuir

desigualdades. Isto significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais

onde a carência é maior.

Integralidade: Significa a garantia do fornecimento de um conjunto

articulado e contínuo de ações e serviços preventivos, curativos e coletivos,

exigidos em cada caso para todos os níveis de complexidade de assistência.

Engloba ações de promoção, proteção e recuperação da saúde.

Descentralização e comando único: Um único gestor responde por toda

a rede assistencial na sua área de abrangência, conduzindo a negociação com

os prestadores e assumindo o comando das políticas de saúde.

Resolutividade: É a capacidade de dar uma solução aos problemas do

usuário do serviço de saúde de forma adequada, no local mais próximo de sua

residência ou encaminhando-o aonde suas necessidades possam ser

atendidas conforme o nível de complexidade.

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Regionalização e hierarquização: A regionalização é a aplicação do

princípio da territorialidade, com foco na busca de uma lógica sistêmica,

evitando a atomização dos sistemas locais de saúde. A hierarquização é

expressão desta lógica, buscando entre outros objetivos, a economia de

escala.

Participação popular: Como forma de garantir a efetividade das políticas

públicas de saúde e como via de exercício do controle social, é preciso criar

canais de participação popular na gestão do SUS, em todas as esferas,

municipal, estadual e federal.

O modelo assistencial ainda predominante no país caracteriza-se pela

prática "hospitalocêntrica", pelo individualismo, pela utilização irracional dos

recursos tecnológicos disponíveis e pela baixa resolubilidade, gerando alto

grau de insatisfação para todos os partícipes do processo gestores,

profissionais de saúde e população que utiliza os serviços (OLIVEIRA, 2006).

O bom senso milenar do "prevenir para não remediar" foi sendo reescrito

com o abandono da prevenção e promoção da saúde em todas as suas

dimensões. Sob esse raciocínio, a rede básica de saúde, constituída pelos

postos, centros ou unidades básicas de saúde, passou a ser assessória e

desqualificada. Com isso, perdeu seu potencial de resultados, alimentando a

própria lógica que a excluía de antemão. O que era para ser básico se tornou

descartável e o topo da cadeia de atenção se transformou em porta de entrada.

Essa situação não se consubstanciaria se não houvesse o mínimo de

resultados. No entanto, a síntese desse quadro é um modelo caro, ineficiente e

desumano, que degrada a prática profissional e não atende às necessidades

da população. Ao longo dos anos, diversas pesquisas indicaram que unidades

básicas de saúde, funcionando adequadamente, de forma resolutiva, oportuna

e humanizada, são capazes de resolver, com qualidade, cerca de 85% dos

problemas de saúde da população. O restante das pessoas precisará, em

parte, de atendimento em ambulatórios de especialidades e apenas um

pequeno número necessitará de atendimento hospitalar (OLIVEIRA, 2006).

Concomitante, a ESF é um modelo que procura reorganizar a Atenção

Básica de acordo com os preceitos do SUS (BRASIL, 1997) e com o apoio do

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NASF, estrutura vinculada à Atenção Básica de Saúde que busca ampliar,

aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na ESF, privilegiando a construção

de redes de atenção e cuidado, constituindo-se em apoio às equipes de saúde

da família e ampliando sua resolutividade e sua capacidade de compartilhar e

fazer a coordenação do cuidado (COSTA; CARBONE, 2009).

O Programa de Saúde da Família - PSF - foi concebido pelo Ministério

da Saúde em 1994, com o objetivo de proceder "a reorganização da prática

assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional

de assistência, orientado para a cura de doenças e no hospital. A atenção está

centrada na família, entendida e percebida a partir do seu ambiente físico e

social, o que vem possibilitando às equipes da Família uma compreensão

ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que

vão além de práticas curativas" (NOGUEIRA, 2000).

A Atenção Básica – e de maneira especial, a ESF, para sua consecução

– necessitam de diretrizes que apoiem as diferentes atividades a elas

relacionadas. A definição de território adstrito, tão cara à sua organização,

coloca-se como estratégia central, procurando reorganizar o processo de

trabalho em saúde mediante operações intersetoriais e ações de promoção,

prevenção e atenção à saúde (MONKEN; BARCELLOS, 2005), permitindo a

gestores, profissionais e usuários do SUS compreender a dinâmica dos lugares

e dos sujeitos (individual e coletivo), desvelando as desigualda¬des sociais e

as iniquidades em saúde (GONDIM, 2012).O território define em si a adstrição

dos usuários, propician¬do relações de vínculo, afetividade e confiança entre

pessoas e/ou famílias e grupos a profissionais/equipes, sendo que estes

passam a ser referência para o cuidado, garantindo a continuidade e a

resolutividade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado (BRASIL,

2011).

O PSF não isola a alta complexidade, mas a coloca articuladamente a

disposição de todos. Racionalizar o uso, nesse sentido, é democratizar o

acesso., com base nesta premissa, o Programa Saúde da Família representa

tanto uma estratégia para reverter à forma atual de prestação de assistência à

saúde como uma proposta de reorganização da atenção primaria como eixo de

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reorientação do modelo assistencial, respondendo a uma nova concepção de

saúde não mais centrada somente na assistência à doença, mas, sobretudo,

na promoção da qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam em

risco pela incorporação das ações programáticas de uma forma mais

abrangente e do desenvolvimento de ações intersetoriais. Caracteriza-se pela

sintonia com os princípios da universalidade, eqüidade da atenção e

integralidade das ações. Estrutura-se, assim, na lógica básica de atenção à

saúde, gerando novas práticas e afirmando a indissociabilidade entre os

trabalhos clínicos e a promoção da saúde (CAMPOS, 2001).

A ideia de que os cuidados dispensados na Atenção Básica são simples

há muito deixou de ser realidade, se é que algum dia o foi. Estes são

complexos e precisam dar conta das necessidades de saúde da população, em

nível individual e/ou coletivo, de forma que as ações influam na saúde e na

autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde da

comunidade.

O Programa de Saúde da Família configura, também, uma nova

concepção de trabalho, uma nova forma de vínculo entre os membros de uma

equipe e os demais membros da comunidade, diferentemente do modelo

biomédico tradicional hospitalar, permitindo maior diversidade das ações e

busca permanente do consenso. Sob essa perspectiva, o papel do profissional

de saúde é aliar-se à família no cumprimento de sua missão, fortalecendo-a e

proporcionando o apoio necessário ao desempenho de suas

responsabilidades, jamais tentando substituí-la.

Para que essa nova prática se concretize, faz-se necessária a presença

de um profissional com visão sistêmica e integral do indivíduo, família e

comunidade, um profissional capaz de atuar com criatividade e senso crítico,

mediante uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolve ações

de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação. Um

profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações

que respondam às reais necessidades da comunidade, articulando os diversos

setores envolvidos na promoção da saúde. Para tanto, deve realizar uma

permanente interação com a comunidade, no sentido de mobilizá-la, estimular

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sua participação e envolvê-la nas atividades todas essas atribuições deverão

ser desenvolvidas de forma dinâmica, com avaliação permanente, pelo

acompanhamento de indicadores de saúde da área de abrangência (SOUSA,

2000).

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CAPITULO 2. ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE

SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE PÚBLICA

O acolhimento dos usuários deve garantir escuta qualificada e

encaminhamentos resolutivos para que o vínculo, uma das peças-chave da

ESF, ocorra de forma efetiva. Importante lembrar que a atenção ao usuário

deve ser realizada não apenas no âmbito da Unidade de Saúde, mas em

domicílio, em locais do território, quando as visitas se tornarem essenciais para

o andamento do cuidado (BRASIL, 2011).

O Serviço Social é uma profissão liberal de nível superior,

regulamentada pela Lei nº 3.252 de 27 de agosto de 1957. As mudanças

políticas sofridas pela sociedade brasileira no final dos anos 70 e início da

década de 80, marcadas por lutas pela democracia e garantia de direitos

sociais acumulam debates no interior da categoria culminando com a

necessidade de proposição de nova lei regulamentadora da profissão (Lei nº

8.662, de 07/06/1993) que viesse estabelecer novas atribuições e

compromissos para o Serviço Social.

O profissional de Serviço Social está presente em instituições públicas,

filantrópicas e privadas de âmbito federal, estadual e municipal, empresas,

organizações populares, entidades e organizações não governamentais e

instituições de ensino e pesquisa em Serviço Social.

Historicamente vinculados à implementação das políticas públicas, na

linha de frente da luta pela efetivação da política de assistência social, os

assistentes sociais passam, com o processo de municipalização das políticas

sociais públicas, a assimilar novas funções, crescendo assim suas

possibilidades de intervenção. Amplia‐se, assim, seu espaço profissional para

atuação voltada também ao planejamento e gestão, formulação,

gerenciamento, monitoramento, assessoramento e avaliação das políticas

públicas no âmbito social. Assim, novos desafios são postos à categoria.

O Serviço Social como campo de atuação da Saúde vem contribuir para

efetivação das propostas do SUS, sobretudo, no que se refere à prática

educativa voltada para a consecução da Saúde Pública no Brasil. É importante

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que se diga, que a profissão de Serviço Social regulamentada pela lei nº

8.662/93, por meio da Resolução nº 218 de 06/03/1997, do Conselho Nacional

de Saúde (CNCS) colocou entre as categorias de profissionais de nível

superior que são considerados como profissionais de saúde, o assistente

social, bem como através da Resolução CFESS N° 383/99 de 29/03/1999, que

o caracteriza como profissional da saúde.

O Serviço Social contribui efetivamente para a consolidação de direito a

saúde, transcendendo o conceito de saúde/doença para consolidar-se de

acordo com os princípios do SUS. Para desenvolver suas ações, os

profissionais buscam se fundamentar na legislação social brasileira, como, por

exemplo, nas LOAS, LOS, ECA, Política Nacional do Idoso, Política Nacional

para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e outros. Sendo que estas

são leis que regulamentam os direitos sociais instituídos na Constituição

Federal de 1988 (WAGNER e MUNIZ,2002).

Por outro lado, para Sarmento apud Dal Prá (2003), nas duas últimas

décadas, o Serviço Social como profissão, materializou novas conquistas

teórico-práticas e ético políticas rompendo com as fundamentações tradicionais

e conservadoras, reafirmando um novo perfil que substituiu o perfil

predominante histórico do assistente social que implementa e executa, de

forma terminal, as políticas sociais e que atua diretamente com a população

usuária por um profissional competente teórica, técnica e politicamente.

Mota (2007) defende, que outro fator importante de ser considerado ao

pensar a relação Saúde Pública e Serviço Social é que, o Serviço Social tem

um conhecimento acumulado por problemas de natureza diversas que tornam

os seus debates um verdadeiro desafio para aqueles que se propõem realizá-

lo. Como também, em termos genéricos, são as precárias condições de vida e

acesso às riquezas produzidas e a bens e serviços, que enquanto expressão

das desigualdades coloca-se como questões sociais que interferem na eficácia

dos programas de saúde, tais questões transformaram-se em problemas que

comprometem a própria política de saúde.

Na saúde, os avanços conquistados pela profissão no exercício

profissional são considerados insuficientes, pois o Serviço Social chega à

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década de 1990 ainda com uma incipeite alteração do trabalho institucional;

continua enquanto categoria desarticulada do Movimento da Reforma Sanitária,

sem nenhuma explícita e organizada ocupação na máquina do Estado pelos

setores progressistas da profissão (VASCONCELOS, 2003).

O projeto privatista vem requisitando ao assitente social, entre outras

demandas, a seleção socioeconomica dos usuários, atuação psicossocial por

meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde,

assistencialismo por meio da ideologia do favor e prodominio de práticas

individuais.

O projeto da reforma sanitária vem apresentando como demandas que o

assistente social trabalhe nas seguintes questões: democratização do acesso

as unidades e aos serviços de saúde; estratégia de aproximação das unidades

de saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens

grupais; acesso democrático às informações e estímulo à participação popular.

Considera-se qua o Código de Ética da profissão apresenta ferramentas

imprescindiveis para o trabalho dos assistentes sociais na saúde em todas as

suas dimensões: na prestação de serviços diretos à população, no

planejamento, na acessoria, na gestão e na mobilização e participação social.

Pensar hoje uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área

da saúde consiste em:

- estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de

usuários que lutam pela real efetivação do SUS;

- facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da

Instituição, bem como de forma compromissada e criativa não submeter à

operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos

que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido no

projeto de Reforma Sanitária;

- tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores

da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos

trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas;

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- elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar

assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como estar

atento sobre a possibilidade de investigações sobre temáticas relacionadas à

saúde;

- efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim

de potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de

democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação da

população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando

o aprofundamento dos direitos conquistados.

No entanto, na maioria das vezes, as ações de saúde mesmo com estes

avanços significativos pós Constituição de 1988 e implantação do SUS, nos

quinze anos de existência não conseguiu efetivar o Projeto de Reforma

Sanitária. Estudos científicos sobre o assunto apontam empecilhos na

realização dos princípios da legislação da saúde, sobretudo, pela presença

ainda marcante do modelo médico-hegemônico que direciona suas ações para

as atividades da clínica médica curativa individual, o que acaba por

secundarizar e desqualificar as ações e atividades profissionais que não se

constituem objeto de práticas privilegiadas por este modelo assistencial.

(BRAVO, 2004, p.51)

O Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo que não tenha sido

implantado na sua plenitude como garante a Constituição de 1988, como

política descentralizada, com a execução de serviços, prioritariamente, pelos

municípios, constitui-se, dentro da Seguridade Social, a única política pública

universal, mantendo Conselhos de Saúde funcionando nos três níveis do

sistema e financiamento, ainda que não respeitados, garantidos legalmente.

(BRAVO, 2004, p.49)

A discussão da Saúde como Política Pública foi iniciada a partir da VIII

Conferência Nacional de Saúde em 1986, onde a questão da saúde perpassou

a análise micro, ganhando uma dimensão macro, em consonância com as

demais questões que se apresentavam como problemática da saúde. Essa

conferência abordou as propostas do Movimento de Reforma Sanitária

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Brasileira, lutando pela democratização da saúde e fixando novas definições

para o atendimento à população.

Bravo (2004) enfatiza que, o Conselho Nacional de Saúde vem

respeitando a integralidade das ações e a participação social, afirma a

importância da ação interdisciplinar no âmbito da saúde, e reconhece como

imprescindíveis às ações realizadas por diferentes profissionais. Segundo a

Resolução nº 218 de 06 de Março de 1997 do Conselho Nacional de Saúde:

São reconhecidos como profissionais de saúde os assistentes sociais,

os biólogos, os profissionais de educação física, os enfermeiros, os

farmacêuticos, os fisioterapeutas, os fonoaudiólogos, os médicos, os médicos

veterinários, os nutricionistas, os odontólogos, os psicólogos e os terapeutas

ocupacionais.

A partir dos anos de 1990, com a política neoliberal, o Projeto de

Reforma Sanitária perde espaço para um novo projeto pautado nos ideais

privatistas, ou seja, esse novo projeto volta-se para a Política de Ajuste "que

tem como principais tendências à contenção dos gastos com racionalização da

oferta; descentralização com isenção de responsabilidade do poder central"

(Parâmetros para Atuação do Assistente Social na Saúde, 2009 p.11).

Contudo, nesse novo projeto fica a cargo do Estado garantir os serviços

mínimos de saúde aos que não podem pagar, e o setor privado responsabiliza-

se pelo atendimento aos que têm acesso ao mercado ( BERNARDINO, 2006).

Conduzido por essa idéia, nos anos 1990, o Estado promove a

fragmentação das políticas sociais no enfrentamento da questão social - que se

agudiza cada vez mais no bojo das políticas neoliberais, negando os conflitos

de classe; transferindo suas responsabilidades a setores da sociedade civil;

apelando para a solidariedade na busca de soluções imediatas para os

problemas sociais; aderindo a um amplo processo de privatização das políticas

sociais. Assim, o corte nos direitos sociais incorpora a estratégia neoliberal de

"redução do Estado", visando diminuir o ônus do capitalismo nas condições

gerais da ordem vigente.

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É no bojo dessa nova conjuntura que o Serviço Social tem articulação

com outros profissionais da Saúde e os movimentos sociais organizados busca

garantirem a defesa do projeto sanitarista criado em meados nos 1970, visto

que mudanças nas políticas sociais e na saúde só se efetivam com a um amplo

movimento organizado, que questione a cultura política da crise gestada pelo

sistema capitalista.

Enfim, não existem fórmulas prontas na construção de um projeto

democrático e a sua defesa não deve ser exclusividade apenas de uma

categoria profissional. Por outro lado, não se pode ficar acuado frente aos

obstáculos que se apresentam na atualidade e nem desconsiderar que há um

leque de pequenas, mas não menos importantes, atividades e alternativas a

serem desenvolvidas pelos profissionais de Serviço Social. Mais do que nunca,

os assistentes sociais estão desafiados a encarar a defesa da democracia, das

políticas públicas e consubstanciar um trabalho – no cotidiano e na articulação

com outros sujeitos que partilhem destes princípios.

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2.2. COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE

SOCIAL

As atribuições e competências das(os) profissionais de Serviço Social,

sejam aquelas realizadas na saúde ou em outro espaço sócio-ocupacional, são

orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes no Código de Ética

Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão, que devem ser

observados e respeitados, tanto pelas(os) profissionais, quanto pelas

instituições empregadoras. No que se refere aos direitos das(os) assistentes

sociais, o artigo 2º do Código de Ética assegura:

- garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de

Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;

- livre exercício das atividades inerentes à profissão;

- participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na

formulação e implementação de programas sociais;

- inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,

garantindo o sigilo profissional;

- desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

- aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos

princípios deste Código;

- pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar

de assuntos de interesse da população;

- ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar

serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou

funções;

- liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os

direitos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

No que se refere aos deveres profissionais, o artigo 3º do Código de

Ética estabelece:

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- desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e

responsabilidade, observando a Legislação em vigor;

- utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da

profissão;

- abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura,

o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando

sua ocorrência aos órgãos competentes (VASCONCELOS, 2003).

O perfil do assistente social para atuar nas diferentes políticas sociais

deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, que

reforçam as práticas conservadoras que tratam as situações sociais como

problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmente. O

reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional

demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada

na identificação dos determinantes sociais, econômicos e culturais das

desigualdades sociais.

As competências e atribuições das(os) assistentes sociais, nessa

perspectiva e com base na Lei de Regulamentação da Profissão, requisitam

do(a) profissional algumas competências gerais que são fundamentais à

compreensão do contexto sócio-histórico em que se situa sua intervenção, a

saber:

- apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das

relações sociais numa perspectiva de totalidade;

- análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as

particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país e as

particularidades regionais;

-compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento

sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as

possibilidades de ação contidas na realidade;

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- identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular

respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando

as novas articulações entre o público e o privado (ABEPSS, 1996).

São essas competências que permitem ao profissional realizar a análise

crítica da realidade, para, a partir daí, estruturar seu trabalho e estabelecer as

competências e atribuições específicas necessárias ao enfrentamento das

situações e demandas sociais que se apresentam em seu cotidiano.

A Lei de Regulamentação da Profissão estabelece no seu Artigo 4 como

competências da(o) assistente social:

-elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto à órgãos da

administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações

populares;

-elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que

sejam de âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade

civil;

-encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à

população;

-orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de

identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de

seus direitos;

-planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais;

-planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da

realidade social e para subsidiar ações profissionais;

-prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta,

indireta, empresas privadas e outras entidades;

-prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às

políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais

da coletividade;

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-planejamento, organização e administração de Serviço Social e de Unidade de

Serviço Social;

-realizar estudos sócio economicos com os usuários para fins de benefícios e

serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta,

empresas privadas e outras entidades.

No Artigo 5, apresenta como atribuições privativas da(o) Assistente Social:

- coordenar, planejar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas,

planos, programas e projetos na área de Serviço Social;

-planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço

Social;

-assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta,

empresas privadas e outras entidades em matéria de Serviço Social;

-realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres

sobre a matéria de Serviço Social;

O Código de Ética Profissional (1993) também apresenta ferramentas

fundamentais para a atuação profissional no cotidiano, ao colocar como

princípios:

- reconhecimento da liberdade como valor ético central:

- defesa intransigente dos direitos humanos;

- ampliação e consolidação da cidadania, com vistas à garantia dos direitos

civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras;

- defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização política e

da riqueza socialmente produzida;

- posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure

universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e

políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

- empenho na eliminação de todas as formas de preconceito;

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- garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais

democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o

constante aprimoramento intelectual;

- opção por um projeto vinculado ao processo de construção de uma nova

ordem societária, sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero;

- articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que

partilhem dos princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores;

Assim, compreende-se que cabe ao Serviço Social – numa ação

necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o

aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) – formular estratégias que

busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o

direito social à saúde, atentando que o trabalho do assistente social que queira

ter como norte o projeto-ético político profissional tem que, necessariamente,

estar articulado ao projeto da reforma sanitária (Matos, 2003; Bravo & Matos,

2004). Considera-se que o código de ética da profissão apresenta ferramentas

fundantes para o trabalho dos assistentes sociais na saúde em todas as suas

dimensões: na prestação de serviços diretos à população, no planejamento e

na assessoria.

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CAPITULO 3. CAMPOS DE INSERÇÃO DO SERVIÇO

SOCIAL

O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundamentação

enquanto especialização do trabalho. Nessa perspectiva, a atuação profissional

deve estar pautada em uma proposta que vise o enfrentamento das

expressões da questão social que repercutem nos diversos níveis de

complexidade da saúde, desde a atenção básica até os serviços que se

organizam a partir de ações de média e alta densidade tecnológica.

O atendimento direto ao usuário se dá nesses espaços, que na estrutura

da rede de serviços brasileira, ganham materialidade a partir dos postos e

centros de saúde, policlínicas, institutos, maternidades e hospitais gerais, de

emergência e especializados, incluindo os universitários, independente da

instância a qual é vinculada seja federal, estadual ou municipal.

O assistente social tem ampliado sua ação profissional, transcendendo a

ação direta com usuários e atuando também em planejamento, gestão,

assessoria, investigação, formação de recursos humanos e nos mecanismos

de controle social (conselhos e conferências). As atribuições a serem

explicitadas podem ser desenvolvidas nos diversos espaços, havendo,

entretanto, predominância de determinadas ações a partir das áreas de

trabalho.

Considera-se que o profissional na saúde desenvolve suas ações

profissionais nas seguintes dimensões, que são complementares e

indissociáveis: Assistencial; em Equipe; Socioeducativa; Mobilização,

Participação e Controle Social; Investigação, Planejamento e Gestão;

Assessoria, Qualificação e Formação Profissional.

3.1. AÇÕES ASSISTENCIAIS

As ações sociais têm-se constituído nas principais demandas aos

profissionais de Serviço Social. Segundo Costa (2000), a inserção dos

assistentes sociais nos serviços de saúde é mediada pelo reconhecimento

social da profissão e por um conjunto de necessidades que se definem e

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redefinem a partir das condições históricas sob as quais a saúde pública se

desenvolveu no Brasil. A implementação do SUS, a partir dos anos 1990, vai

exigir novas formas de organização do trabalho em saúde, a partir das

reivindicações históricas do movimento sanitário que são exemplos a

universalização, a descentralização e a participação popular.

Entretanto, contradições são criadas com a contra- reforma na saúde,

que não viabiliza o SUS constitucional, acarretando, no cotidiano dos serviços,

diferentes questões operativas: demora no atendimento, precariedade dos

recursos, burocratização, ênfase na assistência médica curativa, problemas

com a qualidade e quantidade de atendimento, não atendimento aos usuários.

Estas questões vão aparecer no cotidiano dos serviços por meio das seguintes

demandas explícitas:

- solução quanto ao atendimento (facilitar marcação de consultas e exames,

solicitação de internação, alta e transferência);

- reclamação com relação a qualidade do atendimento e/ou ao não

atendimento (relações com a equipe, falta de medicamento, entre outros)

Outras demandas referem-se às condições reais de vida dos usuários

que se apresentam como: desemprego e subemprego; ausência de local de

moradia; violência urbana, doméstica e acidentes de trabalho; abandono do

usuário.

As ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais devem

transpor o caráter emergencial e burocrático, bem como ter uma direção

socioeducativa através da reflexão com relação às condições sociohistoricas a

que são submetidos os usuários e mobilização para a participação nas lutas

em defesa da garantia do direito à Saúde.

O profissional precisa ter clareza de suas atribuições e competências

para estabelecer prioridades. O conjunto de demandas emergenciais, se não

forem reencaminhadas para os setores competentes por meio do planejamento

coletivo elaborado na unidade, vai impossibilitar ao assistente social o enfoque

nas suas ações profissionais. A elaboração de protocolos que definem o fluxo

de encaminhamentos para os diversos serviços na instituição é fundamental.

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A avaliação socioeconomica dos usuários tem por objetivo ser um meio

que possibilite a mobilização dos mesmos para a garantia de direitos e não um

instrumento que impeça o acesso aos serviços. Ou seja, não deve a avaliação

socioeconomica funcionar como critério de elegibilidade e/ou seletividade

estrutural.

As principais ações a serem desenvolvidas pelo assistente social são:

- prestar orientações (individuais e coletivas) e /ou encaminhamentos quanto

aos direitos sociais da população usuária, no sentido de democratizar as

informações;

- identificar a situação socioeconômica (habitacional, trabalhista e

previdenciária) e familiar dos usuários com vistas a construção do perfil

socioeconômico para possibilitar a formulação de estratégias de intervenção.

- realizar abordagem individual e/ou grupal, tendo como objetivo trabalhar os

determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares e acompanhantes;

- criar mecanismos e rotinas de ação que facilitem e possibilitem o acesso dos

usuários aos serviços, bem como a garantia de direitos na esfera da

seguridade social;

- realizar visitas domiciliares quando avaliada a necessidade pelo profissional

do Serviço Social, procurando não invadir a privacidade dos usuários e

esclarecendo os objetivos das mesmas;

- realizar visitas institucionais com objetivo de conhecer e mobilizar a rede de

serviços no processo de viabilização dos direitos sociais.

- trabalhar com as famílias no sentido de fortalecer seus vínculos, na

perspectiva de torná-las sujeitos do processo de promoção, proteção,

prevenção e recuperação da saúde.

- criar protocolos e rotina de ação que possibilitem a organização,

normatização e sistematização do cotidiano do trabalho profissional.

- registrar os atendimentos sociais no prontuário único com objetivo de formular

estratégias de intervenção profissional e subsidiar a equipe de saúde quanto as

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informações sociais dos usuários, resguardadas as informações sigilosas que

devem ser registradas no prontuário social.

Ao se buscar analisar sobre a relação Saúde Pública e Serviço Social,

parte-se da premissa de que área de saúde constitui um espaço de inserção e

atuação do assistente social na formulação e implementação da Política de

Saúde. Tendo em vista que, no contexto da Saúde Pública assiste-se a busca

pela consolidação da reordenação no modelo de atenção à saúde, e se tomar

como o desafio repensar o lugar da rede básica como um espaço de trabalho

em saúde, deve-se considerar que as ações individuais e coletivas devem fazer

parte do rol das intervenções profissionais, entre esta a do assistente social.

3.2. AÇÕES EM EQUIPE

O assistente social, ao participar de trabalho em equipe na saúde,

dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação das condições

de saúde do usuário e uma competência também distinta para o

encaminhamento das ações, que o diferencia do médico, do enfermeiro, do

nutricionista e dos demais trabalhadores que atuam na saúde.

A equipe de saúde e / ou os empregadores, frente às condições de

trabalho e/ou falta de conhecimento das competências do assistente social,

tem requisitado diversas ações aos profissionais que não são atribuições dos

mesmos, a saber:

• marcação de consultas e exames;

• solicitação e regulação de ambulância para remoção e alta;

• identificação de vagas em outras unidades nas situações de

necessidade de transferência hospitalar;

• pesagem e medição de crianças e gestantes;

• convocação do responsável para informar sobre alta e óbito;

• comunicação de óbitos;

- emissão de declaração de comparecimento na unidade quando o atendimento

for realizado por quaisquer outros profissionais que não o Assistente Social.

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- montagem de processo e preenchimento de formulários para viabilização de

Tratamento Fora de Domicílio (TFD), medicação de alto custo e fornecimento

de equipamentos (órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção) bem

como a dispensação destes.

O assistente social tem tido, muitas vezes, dificuldades de dialogar com

a equipe de saúde para esclarecer suas atribuições e competências face à

dinâmica de trabalho imposta nas unidades de saúde em decorrência das

pressões com relação a demanda e da fragmentação do trabalho ainda

existente. Entretanto, estas dificuldades devem impulsionar a realização de

reuniões e debates entre os diversos profissionais para o esclarecimento de

suas ações e estabelecimento de rotinas e planos de trabalho.

3.3- AÇÃO SÓCIO EDUCATIVA

Estas ações consistem em orientações reflexivas e socialização de

informações realizadas através de abordagens individuais, grupais ou coletivas

ao usuário, família e população de determinada área programática.

Devem se constituir em eixo central de atuação do profissional de

Serviço Social e recebem também a denominação de educação em saúde. O

seu enfoque abrange diversos aspectos: informação e debate sobre rotinas e

funcionamento das unidades tendo por objetivo a democratização da mesma e

as necessárias modificações; análise dos determinantes sociais da situação

apresentada pelos usuários; democratização dos estudos realizados pela

equipe (com relação à rede de serviços, perfil epidemiológico, socioeconomico

e cultural dos usuários); análise da política de saúde e dos mecanismos de

participação popular.

O profissional de Serviço Social deve utilizar, segundo Vasconcelos

(1997), a prática reflexiva possibilitando ao usuário a análise e desvendamento

da situação vivenciada pelo mesmo por meio de reflexões estimuladas pelo

assistente social, de forma que o usuário consiga captar, na medida do

possível, o movimento da realidade social e, consequentemente, participar do

processo de transformação dessa realidade enquanto ser histórico. Esse

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processo deve ser coletivo, em grupo, pois possibilita a troca de experiência

entre os sujeitos.

Dentre as principais atividades a serem efetivadas, destaca-se:

• criar grupos socioeducativos e de sensibilização junto aos usuários, sobre

direitos sociais, princípios e diretrizes do SUS;

• desenvolver ações de mobilização na comunidade objetivando a

democratização das informações da rede de atendimento e direitos sociais;

• realizar debates e oficinas na área geográfica de abrangência da instituição;

• participar de campanhas preventivas, realizando atividades socioeducativas;

• realizar ações coletivas de orientação com a finalidade de democratizar as

rotinas e o funcionamento da unidade;

• desenvolver atividades nas salas de espera com o objetivo de socializar

informações e potencializar as ações socioeducativas;

• elaborar e/ou divulgar materiais socioeducativos como folhetos, cartilhas,

vídeos, cartazes e outros que facilitem o conhecimento e o acesso dos

usuários aos serviços oferecidos pelas unidades de saúde e aos direitos

sociais em geral;

• mobilizar e incentivar os usuários e suas famílias para participar no controle

democrático dos serviços prestados;

• realizar atividades de grupos com os usuários e suas famílias, abordando

temas de interesse dos mesmos.

3.4- AÇÕES DE MOBILIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

Estas ações estão voltadas prioritariamente para a inserção dos

usuários, familiares e trabalhadores de saúde nos espaços democráticos de

controle social e construção de estratégias para fomentar a participação e

defesa dos direitos pelos usuários e trabalhadores nos conselhos, conferências

e fóruns de saúde e de outras políticas públicas.

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Um dos espaços criados para estabelecer a comunicação entre os

usuários e a instituição é a “ouvidoria”. A ouvidoria no SUS é um canal de

articulação entre o cidadão e a gestão pública de saúde, que tem por objetivo

melhorar a qualidade dos serviços prestados. Entre suas atribuições estão:

receber as solicitações, reclamações, denúncias, elogios e sugestões

encaminhadas pelos cidadãos e levá-las ao conhecimento dos órgãos

competentes. Algumas reflexões devem ser levantadas sobre este canal de

comunicação direto entre o usuário e a instituição. As críticas e sugestões são

apresentadas individualmente, sem levar em consideração que as dificuldades

e impasses vividos pelos usuários são coletivos, resultante da não efetivação

do SUS e, portanto, exige respostas coletivas.

As principais ações desenvolvidas nesse âmbito são:

• socializar as informações e mobilizar os usuários e familiares para a

luta por melhores condições de vida, de trabalho e de acesso aos serviços de

saúde;

• mobilizar usuários, familiares, trabalhadores de saúde e movimentos

sociais para a participação em fóruns, conselhos e conferências de saúde e de

outras políticas públicas;

• contribuir para viabilizar a participação de usuários no processo de

elaboração, planejamento e avaliação nas unidades de saúde e na política

local, regional, municipal, estadual e nacional de saúde;

• participar da ouvidoria da unidade com a preocupação de democratizar

as questões evidenciadas pelos usuários através de reuniões com o conselho

diretor da unidade bem como com os conselhos de saúde (da unidade, se

houver, e locais ou distritais), a fim de coletivizar as questões e interferir no

planejamento da instituição de forma coletiva;

• participar dos conselhos de saúde (locais, distritais, municipais,

estaduais e nacional), contribuindo para a democratização da saúde enquanto

política pública e para o acesso universal aos serviços de saúde;

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• contribuir para a discussão democrática e a viabilização das decisões

aprovadas nos espaços de controle social;

• estimular a educação permanente dos conselheiros de saúde, visando

o fortalecimento do controle social, através de cursos e debates sobre

temáticas de interesse dos mesmos, na perspectiva crítica;

• instituir e/ou fortalecer os espaços coletivos de participação dos

usuários nas instituições de saúde através da criação de conselhos gestores de

unidades e outras modalidades de aprofundamento do controle democrático;

• favorecer a participação dos usuários e movimentos sociais no

processo de elaboração e avaliação do orçamento da saúde;

• participar na organização, coordenação e realização de pré-

conferências e / ou conferências de saúde (local, distrital, municipal, estadual e

nacional);

• democratizar junto aos usuários e demais trabalhadores da saúde os

locais, datas e horários das reuniões dos conselhos de políticas e direitos, por

local de moradia dos usuários bem como das conferências de saúde, das

demais áreas de políticas sociais e conferências de direitos.

• estimular a participação dos usuários e trabalhadores de saúde nos

diversos movimentos sociais.

3.5. AÇÕES DE INVESTIGAÇÃO, PLANEJAMENTO E GESTÃO

Estas ações têm como perspectiva o fortalecimento da gestão

democrática e participativa capaz de produzir, em equipe e intersetorialmente,

propostas que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos usuários e

trabalhadores de saúde, na garantia dos direitos sociais.

O processo de descentralização das políticas sociais vem requisitando

aos profissionais de Serviço Social a atuação nos níveis de planejamento,

gestão e coordenação de equipes, programas e projetos. Tal atuação deve ser

embasada pela realização de estudos e pesquisas que revelem as reais

condições de vida e as demandas da classe trabalhadora, além dos estudos

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sobre o perfil e situação de saúde dos usuários e/ou coletividade. As

investigações realizadas têm por objetivo alimentar o processo de formulação,

implementação e monitoramento do planejamento do Serviço Social, da política

institucional, bem como da política de saúde local, regional, estadual e

nacional.

Considera-se importante a ocupação desses espaços pelos assistentes

sociais, tendo como diretriz o projeto ético-político profissional, com vistas às

seguintes ações:

• elaborar planos e projetos de ação profissional com a participação dos

profissionais;

• interferir na elaboração do planejamento estratégico das instituições de

saúde procurando garantir a participação dos usuários e trabalhadores da

saúde;

• participar da gestão das unidades de saúde de forma horizontal,

procurando garantir a inserção dos diversos segmentos na gestão;

• utilizar a documentação técnica a fim de produzir conhecimento no

âmbito do SUS;

• manter sistema de registro e estudos das manifestações da questão

social que chegam aos diversos espaços do Serviço Social;

• registrar as ações realizadas com a elaboração de relatórios

periódicos, a fim de possibilitar a análise e avaliação do plano de ação;

• participar nas Comissões e Comitês temáticos, a saber: ética, saúde do

trabalhador, mortalidade materno-infantil, DST/AIDS, humanização, violência

contra a mulher, criança e adolescente, idoso, entre outras, respeitando as

diretrizes do projeto profissional do Serviço Social;

• realizar estudos e investigações com relação aos determinantes sociais

da saúde;

• realizar pesquisas sobre a relação entre os recursos institucionais

necessários e disponíveis, perfil dos usuários e demandas (reais e potenciais),

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objetivando identificar e estabelecer prioridades entre as demandas e contribuir

para a reorganização dos recursos institucionais;

• participar de estudos relativos ao perfil epidemiológico e condição

sanitária das regiões;

• realizar investigação de determinados segmentos de usuários

(população de rua, idosos, pessoas com deficiências, entre outros), objetivando

a definição dos recursos necessários, identificação e mobilização dos recursos

existentes e planejamento de rotinas e ações necessárias;

3.6. AÇÕES DE ASSESSORIA, QUALIFICAÇÃO E FORMAÇÃO

PROFISSIONAL

As atividades de qualificação profissional consistem em treinamento,

preparação e formação de recursos humanos voltados para a educação

permanente de funcionários, representantes comunitários, chefes

intermediários e conselheiros. Pretende qualificar os trabalhadores de saúde na

esfera operacional da unidade, além de instrumentalizar a formação de

equipes, gestores, supervisores e conselheiros de saúde. Estas ações devem

ser realizadas com a participação de outros profissionais, e não isoladamente.

Faz parte destas ações também a participação na formação profissional

através da criação de campo de estágio, supervisão de estagiários, bem como

a criação e/ou participação nos programas de residência multiprofissional e/ou

uniprofissional. A articulação com as unidades de formação acadêmica é

fundamental para o desenvolvimento destas atividades.

A assessoria é uma ação desenvolvida por um profissional com

conhecimento da área que toma a realidade como objeto de estudo e detém

uma intenção de alterá-la. O assessor pode estar vinculado a uma proposta

que vise a emancipação desses trabalhadores e a ampliação da ação do

Estado com relação às políticas sociais, ou a dominação destas e a redução da

esfera estatal (Matos, 2006).

As principais ações a serem realizadas neste âmbito de intervenção são:

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• prestar assessoria aos conselhos em todos os níveis na perspectiva de

fortalecimento do controle democrático;

• garantir assessoria aos assistentes sociais na busca de qualificação do

seu de trabalho;

• organizar e coordenar seminários e eventos para debater e formular

estratégias coletivas para a política de saúde tanto nas instituições como nas

outras esferas;

• Supervisionar diretamente estagiários de serviço social e estabelecer

articulação com as unidades acadêmicas;

• participar ativamente dos programas de residência, desenvolvendo

ações de preceptoria, coordenação, assessoria ou tutoria, contribuindo para

qualificação profissional da equipe de saúde e dos assistentes sociais, em

particular;

• garantir a educação permanente da equipe de serviço social na

instituição e demais trabalhadores, bem como participar dos seus fóruns;

• participar de cursos, congressos, seminários, encontros de pesquisas,

objetivando apresentar estudos e pesquisas realizadas e troca de informações

entre os diversos trabalhadores da saúde;

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CAPITULO 4. CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

PARA A SAÚDE PÚBLICA

Os assistentes sociais têm sido chamados para viabilizar junto com

outros trabalhadores da saúde esta política. Uma das questões fundamentais é

ter clareza das diversas concepções de humanização, pois a mesma envolve

aspectos amplos que vão desde a operacionalização de um processo político

de saúde calcado em valores como a garantia dos direitos sociais, o

compromisso social e a saúde, passando pela revisão das práticas de

assistência e gestão (Casati e Correa, 2005).

Atualmente, com a política focalista do Estado Neoliberal ganha

visibilidade à questão da exclusão de acesso aos serviços e benefícios

garantidos na Constituição Federal, tanto no que se refere à assistência e

previdência, como na saúde. Este quadro não só demonstra a dificuldade da

efetivação da universalização de direitos, como deixa evidente a necessidade

de se ter no contexto da equipe multiprofissional da Atenção à saúde, o

profissional do Serviço Social, haja vista, que este tem na "questão social" a

base de sua fundação enquanto especialização do trabalho.

A partir da Constituição de 1988, postula-se que não é possível

compreender ou definir as necessidades de saúde sem levar em conta que

elas são produtos das relações sociais e destas com o meio físico, social e

cultural. Dentre os diversos fatores determinantes das condições de saúde

incluem-se os condicionantes biológicos (idade, sexo, características herdadas

pela herança genética), o meio físico (que inclui condições geográficas,

características da ocupação humana, disponibilidade e qualidade de alimento,

condições de habitação), assim como os meios socioeconômicos e culturais,

que expressam os níveis de ocupação, renda, acesso à educação formal e ao

lazer, os graus de liberdade, a possibilidade de acesso a serviços e outros.

(MOTA, 2007).

Cabe ao Serviço Social numa ação necessariamente articulada com

outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de

Saúde (SUS) formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências

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nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde, atentando que o

trabalho do assistente social que queira ter como norte o projeto-ético político

profissional tem que, necessariamente, estar articulado ao projeto da reforma

sanitária (MATOS, 2003).

É importante lembrar, que o Serviço Social tem na questão social a base

norteadora, do seu trabalho enquanto profissão especializada. Como

conseqüência disso, a prática profissional deverá pautar-se numa proposta que

vise o enfrentamento das questões sociais que se apresentam "nos diversos

níveis de complexidade da saúde, desde a atenção básica até os serviços que

se organizam a partir de ações de média e alta densidade tecnológica."

(Parâmetros para atuação do Assistente social na Saúde, 2009, p.20).

A formação profissional do assistente social propicia instrumentos

teóricos capazes de identificar a dinâmica do cotidiano social. E ao projetar

suas ações, tornam-se "recurso vivo", contribuindo desse modo, com os

usuários no intuito de transformar as condições de vida e de trabalho, ou seja,

promover a saúde destes.

Acredita-se que a profissão de Serviço Social, muito tem a contribuir

para a efetivação do direito à Saúde Pública, através de uma intervenção

técnico-operativa, bem como atuar no sentido de fiscalizar para que se

cumpram as leis que garantem os direitos aos usuários, fundamentado no

Código de Ética Profissional e nas leis que definem os direitos concernentes

aos usuários da saúde, demandatários do Serviço Social.

Segundo Vasconcelos (2003), na saúde, os avanços conquistados pela

profissão no exercício profissional são considerados insuficientes, pois o

Serviço Social chega à década de 1990 ainda com uma incipeite alteração do

trabalho institucional; continua enquanto categoria desarticulada do Movimento

da Reforma Sanitária, sem nenhuma explícita e organizada ocupação na

máquina do Estado pelos setores progressistas da profissão.

O projeto privatista vem requisitando ao assitente social, entre outras

demandas, a seleção socioeconomica dos usuários, atuação psicossocial por

meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde,

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assistencialismo por meio da ideologia do favor e predominio de práticas

individuais.

O projeto da reforma sanitária vem apresentando como demandas que o

assistente social trabalhe nas seguintes questões: democratização do acesso

as unidades e aos serviços de saúde; estratégia de aproximação das unidades

de saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens

grupais; acesso democrático às informações e estímulo à participação popular.

Considera-se qua o Código de Ética da profissão apresenta ferramentas

imprescindiveis para o trabalho dos assistentes sociais na saúde em todas as

suas dimensões: na prestação de serviços diretos à população, no

planejamento, na acessoria, na gestão e na mobilização e participação social.

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CONCLUSÃO

Com este estudo bibliográfico, constatou-se sobre a relação entre a

Saúde Pública/ Saúde da familia e o Serviço Social como possível e

fundamental para um serviço publico de qualidade. Com a ampliação do

conceito de saúde pós Constituição de 1988, ou seja, resultado das condições

econômicas, políticas, sociais e culturais, não é possível ignorar a dimensão

social do processo saúde/doença. Conseqüentemente, o Serviço Social como

membro da equipe multidisciplinar encontra nesta Política espaço entre as

profissões necessárias para intervenção junto aos fatores que desencadeiam

esse processo, bem como na recuperação e promoção da saúde.

Algumas contradições presentes no processo de reorganização do SUS,

constituem no principal vetor das demandas ao Serviço Social. Sobre este

assunto Costa (1998, p.12) enfatiza que as necessidades da população

confrontam-se com o conteúdo e a forma de organização dos serviços. Nesse

sentido, ao atender às necessidades imediatas e mediatas da população, o

Serviço Social na saúde interfere e cria um conjunto de mecanismos que

incidem sobre as principais contradições do sistema de saúde pública no Brasil

a favor do cidadão carente da assistência em saúde.

Identificou-se que as principais ações desenvolvidas pelos profissionais

de Serviço Social é justamente identificar as tensões e conflitos do sistema, o

que implica no redimensionamento dessas ações para quem realmente

necessita de intervenções na área da saúde, a partir da qualificação técnica e

política desses profissionais.

Portanto, o propósito do trabalho do assistente social para a Política de

Saúde Pública é determinado tanto pela concepção de saúde prevalecente no

SUS, como pelas condições objetivas da população usuária dos serviços.

Nesse sentido, no decorrer da história da organização do trabalho coletivo em

saúde, vem se ampliando o espaço dos assistentes sociais no interior do

processo de trabalho em saúde.

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