exclusão e inclusão social: contribuições e experiências ... · (minayo, 2007; lakatos et al....

23
1 Exclusão e Inclusão Social: contribuições e experiências Inclusivas na educação física Luciane Pereira Fernandes 1 , Verônica Regina Müller 2 RESUMO Neste artigo temos o objetivo principal de refletir sobre os mecanismos de exclusão existentes na escola e a contribuição da disciplina de Educação Física como uma possibilidade de promoção da inclusão social, valorizando ações voltadas à participação do aluno, considerando a instituição escolar como espaço público, democrático, portanto, de direito de todos. Realizamos uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, seguida de pesquisa-ação, no Colégio Estadual Almirante Tamandaré do Município de Cruzeiro do Oeste, PR. A partir da experiência vivenciada pelos alunos, acredita-se que a escola apresente possibilidades de ser mais inclusiva, e que a disciplina de educação física pode contribuir de forma significativa com ações concretas ao exercício da cidadania, fortalecendo e humanizando as relações vivenciadas nos espaços escolares. Entendemos que a escola é excludente principalmente em relação à classe social, mas pode tornar-se mais inclusiva à medida que existam iniciativas no interior das escolas e que a sociedade vá se tornando, também com a participação ativa do professor, mais igualitária. Palavras chaves: Educação Física. Instituição Escolar. Inclusão. Exclusão. Participação. Alunos. Abstract In this article our main aim is to think deeply about exclusion mechanisms which exist in school and about the contribution of the subject physical education as a social inclusion promotion possibility, valuing actions targeting actions towards the students’ participation, considering the school institution as a public, democratic space and, therefore, everyone’s right. We have carried out a qualitative bibliographical research followed by a research-action in State High School Almirante Tamandaré in Cruzeiro do Oeste, PR. From the experiences lived by the students, it is suggested that the school has possibilities of being more inclusive and that the subject physical education can contribute significantly with concrete actions towards the exertion of citizenship, strengthening and humanizing the relations played in school spaces. We understand that school is exclusionary, chiefly because of social class, but it can become more inclusive in as much as initiatives within schools exist and society may become more equalitarian also with the teachers’ participation. Key words: Physical Education, School Institution, Inclusion, Exclusion, Participation, Students 1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná. 2 Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.

Upload: vuliem

Post on 16-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Exclusão e Inclusão Social: contribuições e experiências Inclusivas na educação física

Luciane Pereira Fernandes1, Verônica Regina Müller2

RESUMO

Neste artigo temos o objetivo principal de refletir sobre os mecanismos de exclusão existentes na escola e a contribuição da disciplina de Educação Física como uma possibilidade de promoção da inclusão social, valorizando ações voltadas à participação do aluno, considerando a instituição escolar como espaço público, democrático, portanto, de direito de todos. Realizamos uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, seguida de pesquisa-ação, no Colégio Estadual Almirante Tamandaré do Município de Cruzeiro do Oeste, PR. A partir da experiência vivenciada pelos alunos, acredita-se que a escola apresente possibilidades de ser mais inclusiva, e que a disciplina de educação física pode contribuir de forma significativa com ações concretas ao exercício da cidadania, fortalecendo e humanizando as relações vivenciadas nos espaços escolares. Entendemos que a escola é excludente principalmente em relação à classe social, mas pode tornar-se mais inclusiva à medida que existam iniciativas no interior das escolas e que a sociedade vá se tornando, também com a participação ativa do professor, mais igualitária. Palavras chaves: Educação Física. Instituição Escolar. Inclusão. Exclusão. Participação. Alunos. Abstract In this article our main aim is to think deeply about exclusion mechanisms which exist in school and about the contribution of the subject physical education as a social inclusion promotion possibility, valuing actions targeting actions towards the students’ participation, considering the school institution as a public, democratic space and, therefore, everyone’s right. We have carried out a qualitative bibliographical research followed by a research-action in State High School Almirante Tamandaré in Cruzeiro do Oeste, PR. From the experiences lived by the students, it is suggested that the school has possibilities of being more inclusive and that the subject physical education can contribute significantly with concrete actions towards the exertion of citizenship, strengthening and humanizing the relations played in school spaces. We understand that school is exclusionary, chiefly because of social class, but it can become more inclusive in as much as initiatives within schools exist and society may become more equalitarian also with the teachers’ participation. Key words: Physical Education, School Institution, Inclusion, Exclusion, Participation, Students

1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná. 2 Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.

2

INTRODUÇÃO

Neste artigo temos o objetivo principal de refletir sobre os mecanismos de

exclusão existentes na escola e a contribuição da disciplina de Educação Física

como uma possibilidade de promoção da inclusão social, valorizando ações voltadas

à participação do aluno, considerando a instituição escolar como espaço público,

democrático, portanto, de direito de todos.

Nossa sociedade passa hoje por muitos problemas e crises de ordem social,

moral, política e econômica.

ao situar a escola no contexto atual, verifica-se que ela está no meio de um turbilhão de fatos, acontecimentos, situações, fenômenos, episódios, processos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos, religiosos e outros mais, sofrendo terrivelmente os impactos das mudanças cada vez mais rápidas e vertiginosas da pós-modernidade (GOMES; CASAGRANDE, 2002, p.698).

Na instituição escolar não é rara a presença de problemas no cotidiano como

vandalismo, indisciplina, violência, falta de limites, desinteresse, baixa

aprendizagem, evasão e reprovação. São dificuldades enfrentadas por muitos

educadores no interior das salas de aulas no seu exercício profissional. Apesar de

todos esses fatores negativos observados na realidade da escola, também

encontramos considerações diferentes a estas, constatadas em estudos realizados

nos últimos anos.

Pesquisadores têm investigado a respeito da importância do processo de

escolarização da população, como meio de transformação e conscientização das

massas, principalmente das camadas sociais desfavorecidas, apontando a escola

como espaço fértil para as transformações sociais e o exercício da cidadania.

A escola e os projetos desenvolvidos no seu interior devem ser

contextualizados, atendendo as principais necessidades e características de seus

alunos, contribuindo para conscientização e valorização do conhecimento adquirido

no decorrer da sua vida escolar. Quando o aluno se identifica com as ações

desenvolvidas na escola, quando é valorizado, participa mais efetivamente no

desenvolvimento das atividades, a escola passa a ter outro significado e atrativo,

3

facilitando a aquisição do conhecimento científico e a ação do professor ao

desenvolver os conteúdos.

É preciso construir práticas organizacionais e pedagógicas que respeitem as características das crianças e jovens que atualmente freqüentam as escolas. A organização do ano letivo, dos programas ministrados, das aulas, a arquitetura dos prédios e das necessidades dos alunos, pois, quando a escola não tem significado para eles, a mesma energia que leva ao envolvimento, ao interesse, pode transformar-se em apatia ou explodir em indisciplina e violência. (ARAÚJO; CORREIA, 2008, p.3).

A escola é um espaço social privilegiado, onde podemos aprender, conhecer,

desenvolver e exercitar o cumprimento de nossos deveres e direitos, entretanto na

prática estas ações só serão concretizadas, se a mesma proporcionar um ensino de

qualidade.

Segundo Gadotti (2004, p. 38), “pode-se dizer que cidadania é essencialmente

consciência de direitos e deveres e exercício da democracia”. Para que a escola

possa concretizar e provocar transformações em nossa sociedade, o mesmo autor

nos apresenta os eixos norteadores da escola cidadã:

eixos norteadores da escola cidadã: a integração entre educação e cultura, escola e comunidade (educação multicultural e comunitária), a democratização das relações de poder dentro da escola, o enfrentamento da questão de repetência e da avaliação, a visão interdisciplinar e a formação permanente dos educadores

(GADOTTI, 2004, p. 40).

Dentro da área específica da educação física escolar, a principal temática

discutida neste estudo diz respeito à forma como as aulas de educação física são

trabalhadas na escola, que orientam as reflexões sobre práticas inclusivas e

participativas. Bracht (1992, p. 90), apresenta a educação física escolar no campo

da vivência social, numa perspectiva de educação transformadora, propondo em sua

pesquisa alguns procedimentos que contemplem: o incentivo e a possibilidade de

participação do aluno no planejamento das aulas; o incentivo aos alunos a

expressarem idéias para realização e modificação dos jogos; a condução de

reflexões e discussões com os alunos sobre as atividades desenvolvidas, levando-

os a um pensamento mais elaborado sobre suas vivências.

4

Dentro desta metodologia o professor abre mão da autoridade absoluta sem

abrir mão do direito e do dever de indicar o caminho e a direção a ser tomada,

trabalhando de forma crítica o desenvolvimento das atividades esportivas dentro do

contexto escolar.

METODOLOGIA

Este artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica qualitativa, seguida de

pequisa-ação. Nesta, os pesquisadores e participantes representativos da situação

ou dos problemas estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

(MINAYO, 2007; LAKATOS ET AL. 1986). A pesquisa-ação realizou-se na Escola

Estadual Almirante Tamandaré, do Município de Cruzeiro do Oeste, PR, com

alunos do Ensino Fundamental e Médio. A coordenação de todas as atividades

esteve sob responsabilidade da professora de educação física Luciane Pereira

Fernandes, que esteve participando do início ao fim das mesmas.

Os alunos foram consultados sobre qual atividade gostariam de realizar no

espaço escolar, e destacaram duas atividades principais: a primeira delas realizada

fora da escola, que seria a participação no JOCOPS (Jogos Colegiais do Estado do

Paraná), e a segunda atividade realizada dentro da escola, um espaço dedicado ao

aprendizado e ao aperfeiçoamento do jogo de xadrez.

Foram construídos e aplicados coletivamente dois planos de ação na

realidade escolar denominados: plano de ação JOCOPS, plano de ação Clube de

Xadrez escolar.

O plano de ação JOCOPS, foi realizado especificamente com trinta e quatro

alunos do Ensino Médio, nas modalidades futsal masculino, handebol masculino e

handebol feminino.

Para possibilitar a participação dos alunos, a professora de educação física,

fez um levantamento das principais dificuldades e limitações para a realização desta

atividade e as apresentou aos alunos, que em grupos discutiram e apresentaram as

possíveis soluções para enfrentá-las, bem como elaboração de normas disciplinares

e o compromisso de respeitá-las com responsabilidade, sendo concretizada

posteriormente a inscrição nos jogos.

Ao término da participação dos alunos neste evento esportivo, foi realizada

uma avaliação com os mesmos sobre sua participação individual e em grupo através

5

de um questionário, como também foi feita uma mesa redonda onde puderam expor

a experiência realizada.

Os resultados obtidos destas avaliações foram apresentados, posteriormente

à orientação escolar.

O plano de ação Clube de Xadrez Escolar foi realizado com alunos do Ensino

Fundamental e Médio, de ambos os sexos. Foi proposto aos alunos montar um

clube de xadrez, construir as normas e estatutos. O grupo se reuniu semanalmente

na escola no contra turno. Nestes encontros tiveram acesso ao material teórico

sobre a organização de um clube de xadrez, finalidades e cargos, elaboraram os

fundamentos teóricos do clube, jogaram xadrez, e se organizaram para participar de

eventos enxadrísticos.

Portanto, este estudo apresenta duas experiências participativas dos alunos

dentro da disciplina de educação física, além da investigação bibliográfica.

A escola é um mecanismo de inclusão ou de exclusão?

Muitos autores tem escrito sobre a escola e como a mesma se apresenta

contraditória na realização de suas práticas pedagógicas, fazendo com que exista

em seu interior ações que podem torná-la excludente ou inclusiva, e a sua

importância no processo de escolarização da população e para as transformações

que a sociedade necessita. Entre eles podemos citar: Paulo Freire3 (1963), com o

método de alfabetização de adultos, como forma de resgatar os trabalhadores

adultos excluídos do processo educativo; Celso Vasconcelos (2004), onde trata

principalmente do tema da indisciplina na escola e na forma de exclusão de muitos

alunos passam por meio do processo avaliativo; Dermeval Saviani (1991), com uma

visão crítica da escola e da sociedade.

Algumas questões se delineiam diante dos diferentes argumentos dos

estudiosos quando nos colocamos a lê-los tendo como conhecimento básico anos

de experiência prática em escolas. Não nos propomos a respondê-las neste artigo,

mas as apresentamos a seguir.

3 http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/pecas_culturais/redacao/uni03.html

6

Podemos afirmar que a escola ainda hoje é um dos mais eficientes

mecanismos de exclusão social, utilizado pelo mercado capitalista, para o controle

das classes populares economicamente mais baixas?

Os conteúdos escolares distribuídos nas diferentes disciplinas são

contextualizados dentro do meio sócio cultural da grande maioria dos alunos da

escola pública, ou são contextualizados de acordo com o meio sócio cultural das

elites e camadas minoritárias dentro deste sistema? Se a escola é um mecanismo

de exclusão, existem caminhos para que deixe de ser um mecanismo de exclusão, e

assim passe a ser democrática, cidadã, que todos tenham acesso, capaz de

transformar esta triste realidade que nos é apresentada?

Neste trabalho nos deteremos em buscar responder como a escola vem sendo

excludente, e como a disciplina de educação física pode contribuir com práticas que

a torne menos excludente e mais inclusiva.

Um dos aspectos preocupantes em nossa sociedade diz respeito ao acesso e

permanência de todos na escola, assegurando-lhes o direito à escolarização e a

educação de qualidade. Entretanto, nesse aspecto a escola não tem conseguido

cumprir seu papel. A escola existe em função do aluno e a não garantia do acesso e

permanência de todos na escola, é uma forma de exclusão escolar, de exclusão

social. Esta é uma das formas de se negar a cidadania à população infanto-juvenil.

O artigo. 205. da Constituição de nosso país diz: “A educação, direito de todos

e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício

da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

O art. 206 determina que o ensino será ministrado com base nos seguintes

princípios:

I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento,

a arte e o saber;

III- pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência

de instituições públicas e privadas de ensino;

IV- gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

7

A escola, segundo a lei, deve ser democrática, direito de todos, mas este

direito está longe de ser efetivado; todos devem igualmente dentro das diferentes

classes sociais, ter oportunidades de sucesso. Entretanto, não conseguimos efetivar

que os alunos das classes menos favorecidas alcancem o diploma do terceiro grau;

um grande número de alunos que está sendo expulso da escola são crianças

provenientes de um meio sócio cultural menos favorecido. A escola está sendo

instituída nos padrões da classe média e alta e não alcança a classe baixa.

Etnia e classe social

De acordo com o IBGE, com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio

(PNAD 2007), o Brasil apresentou um dos piores índices de Analfabetismo da

América Latina, atrás de países como Bolívia, Suriname e Peru.

Nosso país apresenta 2,4 milhões de analfabetos com idade entre 7e 14

anos, dos quais 2,1 milhões (87,2%) freqüentavam a escola, no ano passado, esta

estimativa faz parte da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. Entre as crianças

de 7 anos (29%) não sabiam ler e escrever, embora (90,8%) fossem estudantes. No

Nordeste, o percentual de jovens e crianças iletrados atingia (44%) da população

nessa idade e no Norte, (39,6%). Segundo a mesma fonte, na faixa etária dos 8 aos

14 anos (5,4%),1,3 milhão são analfabetos, sendo que 1,1 milhão estão na escola.

Nos dias atuais, quando o letramento está por toda parte, as crianças desde

muito cedo têm contato com a escola, com jogos, computadores, internet, e outros,

não podemos admitir com naturalidade que o trabalho desenvolvido pelas escolas,

apresente dados de aprendizagem tão baixos; não podemos aceitar que as crianças

passem pela escola e não aprendam. Existe a necessidade de se investigar as

causas desta não aprendizagem e insucesso de nossos estudantes.

Os índices de analfabetismo revelam que dos 14,4 milhões de analfabetos, 10

milhões eram negros ou pardos. Revela que a taxa de analfabetismo entre negros e

pardos (14%), seja mais que o dobro que entre brancos (6,5%). Se levarmos em

conta o analfabetismo funcional, o abismo racial se mostra ainda mais profundo,

atingindo (16,4%) dos brancos, e (27,25%) dos negros e (28,6%) dos pardos.

Os dados demonstram que a ampliação do acesso ao ensino superior, não

favoreceu de maneira igual, brancos, negros e pardos. Entre 1996 e 2006,

aumentaram em 25, 8 pontos percentuais o número de estudantes brancos de 18 a

8

24 anos matriculados no ensino superior de (30,2%) passou para (56%). Já a

participação dos negros e dos pardos nesse nível de ensino aumentou em 15 pontos

percentuais, de (7,1%) para (22%).

A diferença é ainda maior entre as pessoas com mais de 15 anos de estudo

suficientes para concluir o ensino superior em 2006, (78%) delas eram brancas, e

apenas (3,3%) negras.

Os setores da população mais marcados pelas desigualdades são as

populações negras, os mais excluídos, oriundos de meios sociais desfavorecidos,

crianças pobres, negras, de famílias menos estruturadas, carentes, sem condições

de moradia e sobrevivência, que normalmente trabalham muito cedo para suprir as

necessidades básicas da família, ou são os responsáveis pelas tarefas domésticas e

cuidados com irmãos menores, estão muito próximos da marginalidade, da

prostituição e da criminalidade.

Essa categoria de alunos são os primeiros a se evadirem da escola. Não se

adaptam as normas estabelecidas, não acompanham o ritmo da escola,

aprendizagem defasada, sentem-se deslocados, os conhecimentos e saberes

escolares estão distantes de sua dura realidade, não encontram afinidades entre

escola e seu meio social.

Cultura e classe social

Fatores de ordem cultural também têm um peso significativo quanto ao

aproveitamento por parte dos educandos. A escola pública antes elitizada, ao se

massificar passou a receber outra população, mais pobre, com mais dificuldades e

com uma cultura escolar diversa. Os sistemas de ensino acabaram mostrando

dificuldades em considerar a diversidade cultural de novos grupos sociais.

É necessário termos uma leitura crítica da realidade para podermos entender

o porquê desta situação. Primeiramente a escola oferece homogeneamente os

conteúdos, sem levar em consideração a diversidade cultural existente em cada

sala, nem todos estão no mesmo nível de aprendizagem, há de se entender e de se

buscar diferentes metodologias ao desenvolver conteúdos relacionando-os ao seu

meio social, o outro aspecto diz respeito às diferenças culturais e sociais entre

professores e alunos, existe um distanciamento entre os saberes, o professor não

consegue abaixar-se ir à raiz, ver o mundo social desses alunos, de onde vem quem

9

são seus familiares, seu bairro, sua moradia e histórias de vida, e os alunos também

não alcançam as dimensões trabalhadas pelo professor dentro de uma realidade

totalmente fora do seu contexto e de suas expectativas. Normalmente não se

organizam atividades ou projetos pedagógicos voltados para o meio social desses

alunos, sua cultura, valores e saberes são camuflados, ressaltando apenas o outro

extremo com os fatores negativos.

Podemos perceber a existência de muitas diferenças na educação voltadas à

cultura geral ligadas à classe social como: tempo e recursos para freqüentar

atividades complementares. Muitos residem em localidades distantes, como é o

caso dos alunos provenientes da zona rural, que dependem de transporte escolar no

contra turno (não existe); a necessidade de auxiliarem nos trabalhos domésticos e

pequenos serviços para subsistência da família (não estão liberados para atividades

extra-escolares), a falta de recursos financeiros para compra de materiais

necessários ao desenvolvimento de atividades extracurriculares.

Ainda são marcas de desvalorização de quem é pobre e de outra cultura, a

própria linguagem de ensino e o preconceito que perdura com relação às diferentes

manifestações, como as roupas usadas, bonés, adereços ao corpo, músicas e

expressões corporais manifestadas pelos alunos, a não valorização das

manifestações populares presentes nas festas religiosas, nas formas de lazer e

divertimento dessas populações, marcadas muitas vezes pelo desconhecimento e

falta de valorização por parte da escola.

A escola erra pelo não cumprimento de uma educação crítica, despertando

nos alunos a importância de valorizar conhecimentos além do seu cotidiano, de

ampliar os horizontes. É de responsabilidade da escola, mediar o acesso aos bens

culturais produzidos, sistematizados, e de relacioná-los aos diferentes saberes e

manifestações existentes, contextualizando essas formas de expressões, levando os

alunos a refletirem e a reorganizarem essas manifestações culturais.

Afinal, a escola pode ser inclusiva?

A escola ao mesmo tempo é vista como uma via de acesso à cidadania, à

capacidade crítica e ao mercado de trabalho, mas também é, em certos aspectos,

um mecanismo de exclusão social. O sistema educacional brasileiro, segrega os

alunos como vimos, segundo as classes sociais, as etnias, as culturas.

10

Como podemos constatar na citação de Mello:

Procurei entender como a escola opera a seletividade e a exclusão construindo o fracasso da criança pobre, e constatei que nesse processo entram em jogo dois elementos indissociáveis. Um deles é a incompetência técnica, o não saber ensinar, a falta de domínio do conteúdo do currículo e do manejo da situação de ensino. O outro, organicamente articulado a esta incompetência, é uma representação falsa- isto é, ideológica das camadas populares e de suas crianças. Esta ideologia serve DE álibi poderoso para descomprometer A escola com o fracasso dessas crianças. Ela não é propriamente matéria- prima de inculcação e sim desculpa para assumir responsabilidades. (MELLO, 2003, p.15).

No entanto, existe dentro da própria escola a esperança de resistir às

adversidades, e a mesma através de algumas ações, procura despertar nestes

alunos o sonho, a alegria e o desafio de superar as dificuldades presentes no seu

dia a dia fora da escola, como também nos diferentes obstáculos a serem

ultrapassados no decorrer das atividades desenvolvidas no seu interior. Através de

ações que valorizem o aluno, estimulando a desenvolver suas capacidades

cognitivas, corporais e sociais, sobretudo acreditando que a educação é um dos

caminhos mais eficientes e necessários para transformar e provocar profundas

mudanças no espaço em que vivemos e no nosso país.

O ato educativo não é tarefa fácil, a escola também necessita se modernizar,

os profissionais da educação precisam ser mais valorizados e oportunizados para

poderem oferecer uma educação de maior qualidade, para poder transformar e

despertar nos educandos o gosto pelos estudos e a valorização da escola pública.

Ainda assim, com todos estes resultados e contradições presentes em nosso

sistema educacional, os indicadores (IDEB) do Ministério de Educação (MEC)

apontam melhorias em 2007, comparados com anos anteriores. Porém, temos ainda

muito que melhorar para alcançar um desempenho mais adequado de

desenvolvimento educacional.

11

O que fazer?

Existem fatores de ordem mais geral e outros específicos que influenciariam

na caracterização de uma escola mais inclusiva. Um dos aspectos indiretos

relaciona-se com o professor: sua formação, carreira e remuneração.

Muitos professores com experiências buscam alternativas profissionais indo

para o ensino privado ou para outras ocupações, em função de baixos salários.

Professores mais jovens, com menos experiência e formação, acabam por ocupar

estes postos no ensino público. Por outro lado, uma melhor formação dos

professores é apontada como necessidade, conforme diz Cunha4 Assessor da

UNESCO no Brasil; “é preciso melhorar a formação dos professores, não se pode

deixar entrar em sala um professor que não domine o instrumental básico para

ensinar”. Já o Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do

MEC, André Lázaro prefere não falar em culpados, mas entende que a

responsabilidade é do Poder Público e não de professores ou alunos. O direito à

escolarização e o direito a uma sociedade menos excludente, só será possível se

esta sociedade que se diz democrática passar por mudanças significativas no

campo político, econômico e social.

Entendemos que de forma geral, o sistema educacional têm se diferenciado

em relação a outros tempos e outras administrações, apesar de existir ainda muito

por fazer. Há uma clara diferença de oportunidades para as crianças e jovens de

classes sociais diferentes, para as urbanas, rurais ou da floresta, para as etnias e

gêneros diferentes, para as que têm deficiências físicas e mentais. Mas defendemos

também que cada profissional tem uma grande responsabilidade de fazer o seu

melhor na escola que trabalha e que todas as disciplinas têm a possibilidade de

trabalhar de forma comprometida com as transformações sociais a favor da inclusão.

É possível fazer no micro sistema movimentos contrários aos do macro

sistema e que apresentem conseqüências válidas para as pessoas e o âmbito

comunitário envolvido.

4 Publicado em: O Globo, Na escola sem saber o bê-á-bá. Acesso em: 30/10/2008. Disponível em

http://aurora.proderj.rj.gov.br/resenha/resenha-imagens/2008-09-25_00158_page00001.pdf.

12

Quanto à educação física, em geral as atividades desenvolvidas nas aulas

exercem um grande fascínio sobre os alunos, e a mesma pode contribuir

positivamente para o desenvolvimento de práticas que tornem a escola mais

inclusiva, oferecendo uma melhor qualidade de ensino.

Há exclusão na educação física escolar?

Neste tópico nos referimos à prática pedagógica educação física dentro do

contexto escolar e às formas de exclusão que se manifestam em diferentes

momentos da aula ou nos eventos dos quais a escola participa.

Nossos anos de experiência têm evidenciado uma prática negativa e

excludente adotada pela escola, manifestada através do aspecto punitivo de excluir

os alunos das aulas e atividades de educação física, em decorrência de indisciplina

nas outras áreas. Outros professores usam a retirada do prazer do aluno para obter

determinado comportamento, utilizando-se da força e não da conscientização dos

mesmos. Os alunos considerados indisciplinados comumente são impedidos de

participar, como castigo, dos eventos extra-classe, excursões e visitas a outras

instituições educacionais, mais especificamente, das gincanas e festivais esportivos

e culturais. Os argumentos apresentados para justificar a não participação desses

alunos são comuns: não apresentam bom rendimento escolar ou esportivo, ou são

indisciplinados, portanto, devem ser punidos.

A escola negligencia a existência das diferenças e desigualdades,

mascarando e negando que no seu interior possui essa parcela específica da

população, que apresenta contradições, dificuldades. Um perfil diferente que não é

aceito e valorizado pela escola vigente, pelos órgãos públicos e autoridades. Há

uma falta de responsabilidade e falta de compromisso com essa população, que

certamente necessita de cuidados, de ações específicas e outras mais gerais para

sanar suas dificuldades.

O desenvolvimento dos conteúdos de educação física, trabalhados pelos

professores, devem ser contextualizados, dentro de uma proposta pedagógica

consistente, não voltada simplesmente para os resultados e para o destaque dos

mais habilidosos, o que pode provocar o desinteresse e a desmotivação dos alunos

ao participarem das atividades.

13

Vejamos como os conteúdos de educação física estão sendo desenvolvidos.

Conforme Bracht; Pires; Neves (apud STAVISKI; SILVA; OLIVEIRA; BELTRAME;

p.148, 2007):

a prática de uma modalidade esportiva nas aulas de educação física continua sendo uma das principais atividades desenvolvidas, a ponto de parecer o conteúdo determinante das aulas.

Em outro estudo realizado por Kravchychyn; Oliveira; Cardoso (p.138, 2007),

encontramos resultados semelhantes onde aparece a hegemonia de conteúdos

esportivos institucionalizados, visto que 68% dos alunos afirmaram ter vivenciado só

isso, “um esporte por bimestre”, “toda aula nós jogávamos basquete, vôlei, futebol

ou handebol”, modalidades, histórico, regras, as aulas sempre eram jogos, ou como

se jogava.

Em estudos realizados sobre o estilo de ensino utilizado pelos professores de

Educação Física, Régio; Junior (p.104, 2007), evidenciou-se que ”a iniciação

desportiva representa 37,50% do tipo de aula utilizado nas turmas de Educação

Física de Escolas Públicas e 43,75% nas escolas Particulares”. Realizado na cidade

de Maringá, Pr.

De acordo com estas investigações, as práticas esportivas aparecem de

forma predominante, como um dos principais conteúdos desenvolvidos nas aulas de

educação física escolar. Esta prática, quando ocorre, não deve limitar-se apenas ao

fazer corporal, e ao aprendizado de habilidades e destrezas motoras.

Segundo a Diretriz Curricular:

Ao trabalhar o conteúdo estruturante esporte, os professores devem considerar os determinantes histórico-sociais responsáveis pela constituição do esporte ao longo dos anos, considerando a possibilidade de recriação dessa prática corporal. Portanto, nestas Diretrizes, o esporte é entendido como uma atividade teórico-prática e um fenômeno social que, em suas várias manifestações e abordagens, pode ser uma ferramenta de aprendizado para o lazer, para o aprimoramento da saúde e para integrar os sujeitos em suas relações sociais. (DIRETRIZ CURRICULAR, p.33, 2008).

Entendemos que a escola não só reproduza saberes e conhecimentos, como

também produz conhecimentos e transforma saberes. A maneira como o esporte é

trabalhado dentro da escola, quando contextualizado e reinventado, de acordo com

14

as necessidades e anseios de seus praticantes, pode apresentar novas formas de

se manifestar e de se relacionar com a sociedade.

Deixando de ser reprodutor de conceitos e comportamentos, oferecendo

múltiplas leituras, é um campo fértil para criatividade e manifestações de valores e

sentimentos, aproximando as pessoas e transformando as relações, contribuindo

para que nos espaços escolares ocorram de forma concreta, o combate ao

preconceito e à exclusão como nos é colocado pela diretriz:

Na prática esportiva, é preciso combater signos sociais que expressam preconceito racial e/ ou étnico, discriminação entre gêneros, violência moral decorrente de singularidades entre o grupo. Assim, o esporte, como conteúdo de Educação Física, deve estar acessível em igualdade de condições para todos os alunos. (DIRETRIZ CURRICULAR, 2006, p. 23)

Não podemos enfatizar os jogos e competições como fins em si mesmos, em

busca apenas da exacerbação da competição, voltados a uma minoria de alunos.

Nossa aula de educação física não tem como objetivo preparar uma minoria de

alunos para as competições, excluindo os demais neste processo. A mesma Diretriz

que nos orienta a tratarmos o esporte de forma ampla contextualizada e crítica,

também nos coloca que:

O esporte na escola (Assis de Oliveira, 2001) pode contemplar os princípios da competição, mas principalmente, deve ser pensado para a coletividade, conforme as necessidades de toda turma, sejam elas de divertimento, de prazer e de recriação. (DIRETRIZ CURRICULAR, 2006 p.23).

Dentro desta perspectiva, e dentro destes princípios, após a revisão

bibliográfica, dando continuidade a este estudo, os alunos da escola Estadual

Almirante Tamandaré,. foram consultados sobre quais atividades gostariam de

realizar no espaço escolar, sendo destacadas duas atividades principais: a primeira

delas realizada fora da escola, que seria a participação no jogos colegiais do estado

do Paraná, e a segunda atividade realizada dentro da escola, um espaço dedicado

ao aprendizado e ao aperfeiçoamento do jogo de xadrez.

Apresentamos a seguir o processo pedagógico e a experiência dos alunos no

desenvolvimento desta atividade, vivenciada na disciplina de educação física dentro

do cotidiano escolar.

15

Experiências inclusivas na educação física: a participação dos alunos

Pela iniciativa dos alunos do Ensino Médio, houve em 2008, um grande

interesse de participarem dos Jogos Colegiais do Paraná. Esta competição era no

momento o maior anseio e interesse dos alunos. A Professora de Educação Física e

Direção foram procuradas e questionadas sobre a possibilidade deles estarem

participando deste evento esportivo.

Desta conversa com os alunos foram levantadas as principais dificuldades

encontradas como: a indisponibilidade de tempo para o professor preparar a equipe

(treinamento), como escolher os alunos, que critérios estabelecer para oferecer a

todos interessados as mesmas oportunidades de participação, a falta de professores

disponíveis para acompanhar os alunos, tempo curto para fazer as inscrições e

providenciar a documentação exigida pelo evento.

Deste diálogo com os alunos, foram avaliadas as reais condições de

participação, conscientizando-os sobre a necessidade de se estabelecer alguns

critérios e normas, bem como objetivo desta participação. Um dos argumentos

apontados pelos alunos da modalidade de futsal é que a maioria do grupo

participava da escolinha do município, e de certa forma, já estavam se preparando e

já tinham laços de grupo, facilitando desta maneira o convívio e entrosamento entre

a equipe. A equipe de handebol masculino e feminino, com o número inferior de

alunos que faziam parte da escolinha do município, também se comprometeu em

participar da mesma, fazendo a preparação básica necessária.

Ficou estabelecido que para participar, deveriam possuir número suficiente de

alunos inscritos com os documentos exigidos pela competição e condições técnicas

básicas; apresentarem autorização assinado pelo responsável, bem como ciência

das normas disciplinares apresentadas aos alunos.

A escola fez a inscrição das modalidades definidas por meio do Mapa Ofício.

Não foi possível efetuar a confirmação das Equipes de Handebol masculino e

feminino, pois até a data de confirmação não tinha o número de alunos suficientes

com a documentação necessária, e alguns não atendiam as condições técnicas

básicas, não cumprindo com o compromisso assumido acima.

Houve um descontentamento geral por parte dos alunos que apresentavam

os documentos e condições para participar e foi impedido em função dos demais

16

membros do grupo não possuirem a documentação. Novamente, individualmente e

em grupo, direção e professor foram questionados, as condições e informações

foram novamente lembradas, bem como as exigências legais do regulamento dos

jogos referentes a datas e documentação.

A Equipe de Futsal foi confirmada, sendo realizada uma reunião com os

alunos onde os mesmos tiveram informações a respeito do regulamento dos jogos,

bem como recebimento das normas disciplinares, entrega de autorização e

informações gerais. Após a participação nos jogos, foi solicitado aos alunos para

responderem um questionário.

Também foi elaborado aos alunos das equipes de handebol masculino e

feminino que não participaram dos jogos, um questionário, entretanto os mesmos

tiveram liberdade de escolha para responder ou não.

Podemos ressaltar que a abertura da escola para ouvir e a forma como foi

conduzida atividade dos alunos na participação da elaboração de normas e na

busca de soluções diante das dificuldades apresentadas, a disciplina de educação

física e a escola, cumpriram o seu papel, promovendo a participação do aluno neste

evento esportivo, atendendo o interesse do grupo, respeitando a atividade de sua

escolha, como também seguindo as orientações das diretrizes curriculares, inclusive

discutindo coletivamente as dificuldades encontradas e a busca pela solução,

aprimorando a capacidade crítica e visão da realidade, contribuindo desta forma

para formação educacional, ressaltando os valores educacionais, sociais e de

relacionamento.

Embora somente uma equipe tenha conseguido realizar o desejo de

participar, consideramos o processo pedagógico e a forma como foram organizadas

as atividades muito importantes, pois houve momentos de estranhamentos,

dificuldades que tivemos que rever, reavaliar e tomar decisões de acordo com as

necessidades e condições existentes. Para os alunos também foi um processo

importante, pois se a escola não estivesse aberta ao diálogo e sensível ao pedido

“que esta atividade era muito importante para os mesmos”, com certeza o grupo não

conseguiria participar do evento.

Entendemos que a escola da atualidade procura fazer, na teoria, com que os

alunos participem mais ativamente das decisões e tenham uma visão crítica da

realidade. Mas, na prática cotidiana, essa relação de poder e decisão dos alunos

ainda é uma exceção. A escola precisa avançar nestas práticas. Foi possível

17

constatar com esta experiência que em nossas atividades cotidianas, nós,

professores, ainda estamos tomando quase todas as decisões, centralizando as

ações na autoridade e poder, sem oportunizar a participação para as decisões dos

alunos. Esta experiência enriqueceu o processo educativo e ampliou de forma

concreta a relação entre professor e alunos, principalmente na troca de informações

e avaliação realizada no término da atividade, onde os alunos puderam se auto-

avaliar, trocar informações e experiências, dando um significado formativo à

experiência. Não participaram somente por participar.

Experiência Coletiva do Xadrez

O interesse dos alunos pelo jogo de xadrez, e a sua importância como

ferramenta pedagógica nos motivou a propor a eles a criação de um Clube de

Xadrez Escolar. Este processo iniciou-se em uma reunião com um grupo de alunos,

com a finalidade de iniciar a construção e fundamentação teórica do clube de

xadrez. Na ocasião, os alunos tiveram contato com o material teórico sobre a

organização de um clube de xadrez, finalidades e cargos necessários para o

funcionamento, e início da elaboração desses cargos de acordo com a realidade

local.

Este grupo reuniu-se semanalmente com a professora de Educação Física,

discutindo, sugerindo e registrando idéias, construindo os fundamentos teóricos

básicos do Clube de Xadrez Escolar. No total foram 14 encontros, sempre na

segunda-feira, no período das 13:30 às 15:00 h. A escolha da atividade definida

como Clube de Xadrez Escolar, atendeu ao interesse de uma parcela considerada

de alunos, um total de 12 alunos envolvidos diretamente na elaboração escrita,

sendo 7 alunos do ensino fundamental e 5 alunos do ensino médio, e indiretamente

participando das cinco etapas do circuito regional de xadrez e demais encontros

para a prática do jogo aproximadamente 30 alunos. Possibilitando um amplo alcance

coletivo, sendo possível à participação de todos indiscriminadamente, alunos do

ensino fundamental, médio e pós-médio como também poderá ser estendido

futuramente a toda comunidade escolar e local. Outro fator a ser considerado são os

Recursos Tecnológicos e Projetos já desenvolvidos pela SEED e disponíveis através

do Portal Educacional, bem como a disponibilidade de espaço físico e de demais

materiais acessíveis à realidade escolar. O NRE de Umuarama desenvolve o

18

Circuito Regional de Xadrez, oferecendo desta forma a oportunidade dos alunos

desenvolverem suas habilidades, essas atividades seriam motivadoras para

incentivá-los a aprendizagem e ao aperfeiçoamento do jogo, bem como o

intercambio e a socialização entre as diferentes cidades, no decorrer de todo ano

letivo.

Apresentamos a seguir a elaboração escrita dos fundamentos teóricos do

clube de xadrez de autoria dos alunos participantes. É importante destacar que nem

todos deste grupo sabem jogar xadrez, mas estão entusiasmados pela forma de

organizar e participar da construção deste plano de ação e de ver na prática como

será o seu desenvolvimento.

A linguagem do texto dos alunos passou por correções ortográficas e

gramaticais, entretanto foi preservada a essência dos conteúdos. Vejamos suas

principais contribuições nesta experiência de construção coletiva:

Uma das razões para organizar um clube de xadrez é criar uma alternativa para que com a prática do jogo melhoremos nossa capacidade analítica, concentração, raciocínio lógico e o espírito esportivo. O clube de xadrez é um ponto de encontro para rever e fazer novos amigos, seus membros deverão ter muita responsabilidade e respeito com os outros, para que no clube não haja brigas ou confusões. Com o clube haverá um estímulo para que o aluno goste da escola, comprometendo-se com os estudos, colaborando para a manutenção da ordem e cuidados pelos espaços escolares, mostrando que a escola além de ser um local de educação formal, pode também, ser aproveitado com o desenvolvimento de outras atividades, tais como: lazer, cultura e diversão, inclusive em horários diferentes ao horário de aula normal. Um espaço onde alunos, professores, membros da comunidade escolar e comunidade local, se reúnem com o objetivo principal de conhecer, aprender ou aperfeiçoar o conhecimento sobre o jogo de xadrez. Sua principal finalidade é o agrupamento de pessoas de diferentes idades e séries, que embora sejam diferentes, possui em comum o gosto pelo jogo de xadrez. No entanto, o clube de xadrez não será um lugar para “matar” o tempo, ou evitar atividades escolares, o clube de xadrez deve ser divertido, promover intercâmbio com outras pessoas, organizar torneios de xadrez, excursões, passeios. Organizar atividades educacionais, culturais, sociais e de lazer. (grupo de alunos do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, 2008).

Destacamos da citação, o entendimento e o conhecimento científico a

respeito da atividade realizada, bem como sua importância e valorização. A

necessidade de se relacionar em grupo, noção de responsabilidades, direitos e

19

deveres, conscientização que o espaço público pertence a todos, portanto, deve ser

conservado, tornando a escola num ambiente agradável, possível de realizar

atividades prazerosas e educativas, que com certeza influenciarão nas demais

relações vivenciadas no cotidiano escolar.

Este processo dos alunos se organizarem em grupo e não apenas para jogar

xadrez, mas pensar nesta atividade como um exercício cognitivo, interação e

discussão de assuntos pertinentes à escola e à educação, bem como o ato de ler e

escrever, também contribuiu de forma significativa para a apreensão do

conhecimento e foi, continua sendo, elemento significativo para a formação cidadã.

Conclusões:

As questões que precisam ser transmitidas pela escola ao aluno para que este se torne um cidadão consciente muitas vezes são deixadas de lado. A educação para a cidadania precisa muito mais do que uma mera criação de oportunidades na participação dos alunos em alguns eventos realizados pela escola, porém este pode ser um começo. Pode ser um ponto de partida para um envolvimento maior com o espaço público e uma possível identificação com o mesmo. Para que haja uma educação de cidadãos, é preciso acima de tudo que os indivíduos, igualmente vistos, tenham a oportunidade de expor seus anseios, dialogar, mostrar as suas opiniões e necessidades para que a escola passe a ser reconhecida como um agradável local de troca, de interação, e não de regras e imposições, que muitas vezes não correspondem com sua realidade. (Correa; Carneiro. p 3, 2008).

Após a experiência realizada, pode-se concluir que, embora a escola e a

sociedade estejam passando por muitas dificuldades para solucionar os problemas

existentes, é possível desenvolver práticas que tornem a escola inclusiva e não

excludente, como foi o caso dos dois projetos aplicados na realidade escolar,

principalmente pela participação efetiva dos alunos e pela possibilidade de diálogo,

discussão e avaliação realizada entre alunos, professores e escola.

Outro fato importante constatado com esta experiência é que quando nos

colocamos disponíveis e quando a atividade atende aos interesses dos alunos,

possibilitando aos mesmos que participem das tomadas de decisões, o trabalho é

mais interativo e participativo. Isto faz com que se identifiquem, e se comprometam

com mais responsabilidade nas demais atividades desenvolvidas no trabalho

cotidiano da escola. Conseguem ver-se como seres históricos dentro da Instituição,

20

fortalecendo os laços e o sentimento de fazer parte de um grupo, e a possibilidade

de poder opinar influenciando nas decisões definidas pelo grupo ao qual pertencem.

Além disso, acredita-se que a participação dos alunos em eventos como os

jogos, pode ser uma ferramenta pedagógica importante dentro da escola, e que a

mesma contribui de forma significativa para a aprendizagem e educação geral.

É muito importante os alunos terem uma vivência educacional que vá além

dos muros da escola. Estas experiências adquiridas no decorrer da vida escolar é

algo que ficará para sempre registrado na vida dos mesmos, contribuindo assim

para a formação da cidadania e para valorização da convivência social.

A elaboração do Clube de Xadrez Escolar possibilitou um amplo alcance

coletivo, sendo possível a participação de todos indiscriminadamente, alunos do

ensino fundamental, médio e pós-médio, como também poderá ser estendido

futuramente a toda comunidade escolar e local.

A culminância desta experiência deu-se no momento dos encontros

realizados na escola, quando era perceptível o entusiasmo dos alunos ao

elaborarem os fundamentos teóricos, e ao organizarem e planejarem as atividades a

serem desenvolvidas. Houve a oportunidade dos alunos ocuparem e utilizarem os

espaços escolares de forma prazerosa e educativa, transformando o ambiente

escolar em um local de encontro, em um espaço digno, conservado e organizado,

espaço comunitário onde as relações sociais se efetivam, contribuindo para a

formação democrática das pessoas e da sociedade.

Respondendo por fim a pergunta inicial, diríamos que a escola ainda é muito

excludente, porém apresenta possibilidades de ser mais inclusiva. Destacamos a

importância e a contribuição que pode vir da disciplina de educação física, com

práticas que promovam a aquisição do conhecimento e a participação dos alunos,

construindo ações que estimulem a reflexão e a valorização dos espaços escolares,

e de práticas que aproximem os alunos de forma efetiva dos saberes desenvolvidos

pela escola. Mas, definitivamente, a escola será mais inclusiva, quando a sociedade

deixe de ser tão excludente. Nós professores temos obrigação de participar desses

dois âmbitos de lutas, ou seja, uma escola melhor, uma sociedade melhor- e/ou-

uma sociedade melhor, uma escola melhor. Se não for assim, pode resultar numa

luta ingênua e inglória.

21

REFERÊNCIAS:

BARROS, Telma Bastos de. Conceitos em pesquisa científica. Disponível em:

http://webartigos.com. Acesso em: 30/10/2008.

BRACHT, Valter. A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...

capitalista. Revista Brasileira de Ciência do Esporte. 7(2) 62-68, 1986. Disponível

em: http://www.boletimef.org-e-mail: [email protected]. Acesso em:

27/11/2007.

______. Educação Física e Aprendizagem Social. Porto Alegre: Magister, 1992.

______. Sociologia Crítica do Esporte. 3ª ed. Ijui: Ed. Unijui, 2005.

CARNEIRO, Maria da Conceição Araujo; CORREA, Silvia Saldanha. Violência no

meio escolar: Desafio da Educação para a Cidadania. Disponível em:

http://www.webartigos.com/articles. Acesso em: 27/10/2008.

CHEQUER, Jamile. Violência Urbana. Disponível em: <http://by133

fd.hotmail.msn.com/cgi-bin/getmsg?msg=D517FD7C-703C-4851>. Acesso em: 01.

jun. 2007.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Editora Atlas, 1988.

CONTRIBUIÇÕES DOS ALUNOS DO COLÉGIO ESTADUAL ALMIRANTE

TAMANDARÉ. CRUZEIRO DO OESTE, 2008.

DIRETRIZES CURRICULARES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO

BÁSICA, 2006. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acesso em:

20/04/2007.

DIRETRIZES CURRICULARES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA OS ANOS FINAIS

DO ENSINO FUNDAMENTAL E PARA O ENSINO MÉDIO, 2008. Disponível em:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acesso em: 23/05/2008.

FLORENTINO, José. ; SALDANHA, Ricardo Pedrozo. Esporte, Educação e

Inclusão Social: reflexões sobre a prática pedagógica em educação física.

Disponível em: http://www.efdesportes.com/efd112/esporte-educação-e-inclusão-

social.htm. Acesso em: 09/09/2007.

GADOTTI, Moacir. Globalização e Educação. Foro Social Mundial Temático.

Jun.2003.

22

GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José Eustáquio. Autonomia da Escola: princípios e

propostas. 6. ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2004.

GOMES, JB ; CASAGRANDE, LDR. A educação reflexiva na pós-modernidade:

uma revisão bibliográfica. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rloenf. Acesso

em: 27/10/2008.

HAGUETE, Teresa Maria Frota. Metodologias Qualitativas na Sociologia. Vozes,

1987.

IBGE: Dois em cada três analfabetos brasileiros são negros ou pardos.

Disponível em: http://noticias.uol.com.br/educacao/ultnot/ult105u5898.jhtm. Acesso

em: 03/11/2008.

KRAVCHYCHYN, CLAUDIO. ; OLIVEIRA, A. A. B. D. ; CARDOSO, SONIA MARIA

VICENTI. A Educação Física no Ensino Fundamental na Visão de Alunos do

Ensino Médio: um diagnóstico para a reflexão docente. Revista da Educação

Física/UEM, Maringá, v. 18, p. 137-140, 2007.

OLIVEIRA, Cristina Borges. Mídia, Cultura Corporal e Inclusão: Conteúdos da

Educação Física Escolar. Disponível em: http://www.boletimef-org-e-

mail:[email protected]. Acesso em: 04/09/2007.

PINTO, Fábio Machado; MENDOÇA, Mariana Lisboa; JACOBS, Amanda. Da crítica

a educação física escolar à educação física escolar crítica. Disponível em:

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital- Buenos Aires- ano 9- nº60- mayo de

2003. Acesso em: 04/09/2007.

RÉGIO, A.R; JÚNIOR, JM. Estudo sobre o estilo de ensino desenvolvido por

professores nas aulas de educação física, em escolas públicas e privadas de

Maringá. Disponível em:

http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.ph/p. Acesso em 29/10/2008.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 2 ed.

São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991. (coleções polêmicas de nosso tempo;

v. 40).

SANTOS, Ivan Luís dos. ; LIMA, Luis Augusto Normanha. Aspectos Sócio-

Culturais do Movimento Humano. A- Formação Profissional. B- Intervenção

Profissional. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 18, p. 129-132, 2007.

23

SEABRA, JR, L.; ARAUJO, P. F. Educação Física e Inclusão: Considerações

sobre a ação docente no ambiente escolar. Disponível em:

http://www3.fe.usp.br/efisica/trabs/3/doc. Acesso em: 04/09/2007.

SILVA, Kátia Regina da; Salgado, Simone da S. Construindo Culturas de Inclusão

nas Aulas de Educação Física numa Perspectiva Humanista. Disponível em:

http://[email protected].. Acesso em: 04/09/2007.

STAVISKI, Gilmar; SILVA, Juliana da; OLIVEIRA, Anderson Castro de; BELTRAME,

Thaís Silva. A Motivação para as Aulas de Educação Física na Percepção de

Meninos e Meninas. Revista de Educação Física/ UEM, Maringá, v. 18, p. 145-149,

2007.

Tradução: REZENDE, Neide Luzia de. A Escola e a Exclusão. Cadernos de

Pesquisa, nº 119, p.29-45, julho/2003.

TRIVINOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo:

Atlas, 1987.

VAGO, Tarcísio Mauro. O “esporte na escola” e o “esporte da escola”: da

negação radical para uma relação de tensão permanente. Disponível em:

http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/2228/936. Acesso em:

25/11/2007.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação: superação da lógica classificatória e

excludente: do “é proibido reprovar” ao é preciso garantir a aprendizagem. 4ª

ed. São Paulo: Libertad, 2004.

VIEIRA, Pedro Carvalhais. Uma revolução chamada educação. Disponível em:

http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/pecas_culturais/redacao/uni03.html.

Acesso em: 02/12/2008.

WEBER, Demétrio. Na escola sem saber o bê-á-bá. Jornal o Globo, 2008.

Disponível em http://aurora.proderj.rj.gov.br/resenha/resenha-imagens/2008-09-

25_00158_page00001.pdf. Acesso em 30/10/2008.

WEBER, Demétrio. Na escola sem saber o bê-á-bá. Jornal o Globo, 2008.

Disponível em http://aurora.proderj.rj.gov.br/resenha/resenha-imagens/2008-09-

25_00158_page00001.pdf. Acesso em 30/10/2008.