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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” MONOGRAFIA AS CONSEQUÊNCIAS DO CAPITALISMO NA EVOLUÇÃO DO MUNDO MODERNO Por: Marcelo Gomes de Sena Orientador Prof. Marcelo Martins Saldanha da Gama Rio de Janeiro Fevereiro / 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

MONOGRAFIA

AS CONSEQUÊNCIAS DO CAPITALISMO NA

EVOLUÇÃO DO MUNDO MODERNO

Por: Marcelo Gomes de Sena

Orientador

Prof. Marcelo Martins Saldanha da Gama

Rio de Janeiro

Fevereiro / 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

AS CONSEQUÊNCIAS DO CAPITALISMO NA

EVOLUÇÃO DO MUNDO MODERNO

Objetivos:

A ganância dos capitalistas à época da Revolução

Industrial - século XIX - ainda é refletido nos dias atuais.

Houve uma considerável evolução daquele sistema

desumano de trabalho, porém, nunca houve uma

preocupação efetiva em relação à sustentabilidade de

nossas ações extrativistas. Existe uma preocupação

mundial no controle da emissão de gases nocivos ao

meio ambiente e à produção de lixo, porém, ainda não

alcançamos a velocidade ideal para a implementação de

medidas eficazes. As gerações futuras certamente

viverão em um ambiente pior que o nosso. A negação do

individualismo e uma reeducação social podem ser o

caminho para a valorização do fator humano e a

reavaliação de nossos valores. É nossa obrigação

propagar a conscientização ‘verde’, a fim de reduzir a

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emissão de resíduos tóxicos gerados pelo desnecessário

consumismo atual.

Marcelo Gomes de Sena

Fevereiro / 2010

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AGRADECIMENTOS

Aos autores das obras utilizadas, entrevistados, corpo

docente do Instituto “A Vez do Mestre, ao Prof. Paulo

José Gonçalves pela condução da matéria, ao Prof.

Marcelo Saldanha pela orientação do trabalho. Aos

alunos e pessoas que, direta e indiretamente

contribuíram para a confecção deste trabalho acadêmico

e suas atualizações.

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DEDICATÓRIA

Dedico este livro à minha família, que sempre me

incentivou a seguir a linha do conhecimento, a fim de

tornarem mais justas nossas decisões, com o respectivo

embasamento teórico.

Marcelo Gomes de Sena

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RESUMO

O presente estudo é focado em um alerta à degradação do meio

ambiente, pela simples valorização do fator humano e sua conscientização

ambiental. A função dos gestores não deve limitar-se a determinar ações e

metas a serem atingidas, mas coordenar meios onde o canal de comunicação

esteja frequentemente aberto. Para isso, é essencial que este profissional

esteja constantemente atualizado ao mercado e apto a ser administrador de

recursos humanos.

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METODOLOGIA

A Proposta deste trabalho é apresentar uma relação sustentável

entre os gananciosos métodos capitalistas atuais e sua influência na

preservação do meio ambiente através da mera auto-conscientização

dos funcionários de uma instituição, proporcionada pelo seu bem-estar

no local onde trabalha.

A fim de subsidiar este estudo, foram feitas pesquisas

bibliográficas (livros, entrevistas, websites) e observações de

comportamento no própiro ambiente de trabalho, que foram de grande

auxílio para fundamentar as informações adquiridas nas pesquisas

bibliográficas. Os principais autores consultados foram Richard Sennet

(A Corrosão do Caráter, 1999), Karl Polanyi (A Grande Transformação –

As origens da nossa época, 2000) e Alfie Kohn (Punidos pelas

Recompensas, 1998).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

ECONOMIA DE MERCADO 10

CAPÍTULO II

CICLO ECONÔMICO 17

CAPÍTULO III

VIVER BEM 30

CONCLUSÃO 39

ÍNDICE 42

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INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, as empresas passam por constantes ajustes,

enfrentando acirradas concorrências, inclusive externas.

Um dos maiores desafios das grandes empresas é formar líderes

capazes de manter a equipe de trabalho auto-confiante e aproveitar ao máximo

a capacidade e a criatividade de cada indivíduo.

Embora não haja meios rápidos para o atingimento dessa meta, existem

vários estudos que apontam a valorização do fator humano como fundamental

para manter uma equipe motivada.

Em contrapartida, sua desmotivação pode gerar crises existenciais,

descaso com as outras pessoas e prejuízos à instituição e ao mundo que a

cerca.

O simples e velho ‘feedback’, cada vez mais em desuso no meio

capitalista, ou a manutenção de um canal de comunicação aberto podem

elevar a moral do grupo e fazê-lo reconhecer a importância do capital humano.

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CAPÍTULO I

ECONOMIA DE MERCADO

“A comparação entre o ritmo da mudança e o ritmo

do ajustamento decidirá o que deve ser visto como

resultado líquido da mudança.” (Polanyi, 2000, p. 58)

1.1 - Definição

A Revolução Industrial foi apenas o início de toda uma adaptação de

idéias e procedimentos ocorridos na Inglaterra do século XVIII, que mudaram

para sempre os hábitos de toda a população. Porém, essa radical mudança

tinha um viés totalmente materialista, e defendia que todos os problemas

humanos seriam resolvidos com o acúmulo ilimitado de bens materiais.

Seria precipitado afirmar que o advento da máquina foi o grande

responsável pelas mudanças, porém, é certo que a utilização da grande

mecanização nos estabelecimentos fabris da época, e na produção em escala

comercial, deu início ao mercado auto-regulável.

O emprego dessas grandes maquinarias eram bastante dispendiosas e,

para que fosse vantajosa sua utilização, a fim de obter o ganho necessário

para bancar seus custos, teriam que produzir em grandes quantidades. Mas

como poderia ser garantida a venda dessas mercadorias em grandes

quantidades? E como garantir o fornecimento da matéria-prima necessária à

alimentação das máquinas? A resposta é relativamente simples: tudo que é

produzido deve estar à venda nas quantidades necessárias para aqueles que

possam pagar por eles.

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Agora, o lucro torna-se o principal atrativo, em detrimento da

subsistência. As transações comerciais são essencialmente monetárias,

modelo definitivamente introduzido nos intercâmbios do meio industrial. Toda

renda deve advir da venda de algum produto e, qualquer que seja a verdadeira

fonte de renda de uma pessoa, ela era vista como objeto de uma venda. Este é

o significado da expressão “sistema de mercado”. Após seu estabelecimento,

seu funcionamento deve ser garantido sem qualquer interferência externa. Os

mercadores passam a auferir seus lucros no mercado, não havendo mais a

garantia do número ‘certo’ de consumidores. Os preços têm a liberdade de se

auto-regularem. Esse sistema auto-regulável de mercados ficou conhecido

como “economia de mercado”.

Uma “economia de mercado” nada mais é que um sistema auto-

regulável de mercados, movida exclusivamente pelos preços do mercado. Um

sistema capaz de organizar um sistema econômico sem qualquer ajuda ou

interferência externa. Foi sob essa ótica que toda essa natureza acumulativa

ingressou na raça humana.

1.2 – Início do ciclo linear de consumo

Esse novo posicionamento ideológico certamente iria desorganizar as

relações humanas e ameaçar seu próprio habitat. De fato, o pior aconteceu, e

seu verdadeiro caráter degradativo foi exposto através das leis que governam

o mercado auto-regulável.

Não houve uma verdade satisfatória para essa mudança de

comportamento ou ideologia. Ainda hoje, os regulamentos que governavam a

riqueza e a pobreza, chamados lei dos salários e lei da população não foram

bem explicados. A exploração da mão-de-obra da época foi apresentada com

outra conotação, tanto para a riqueza como para a pobreza, incapaz de

encontrar resposta para o fato de os salários nas favelas industriais serem mais

altos do que os de quaisquer outras áreas. Falava-se em um conjunto de

causas, que também não é satisfatório.

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Era unânime o ponto de vista dos conservadores, liberais, capitalistas e

socialistas da época que referiam-se às condições sociais da Revolução

Industrial como um grande abismo da degradação humana.

Os centros urbanos medievais eram organizações de burgueses, e

somente eles tinham o direito de exercer a cidadania. O próprio sistema

separava os burgueses dos não-burgueses, onde nem os camponeses nem os

mercadores de outras cidades faziam parte da melhor classe.

1.3 – Acúmulo de riquezas

A exemplo de uma tribo indígena que habita uma ilha da Melanésia

Ocidental, a reciprocidade é o que move a organização da sociedade. É o

homem que sustenta a irmã e a família dela, e as entrega sua melhor colheita.

Não recebe qualquer benefício imediato, porém, ganha prestígio pelo seu

comportamento. Em contrapartida, haverá a reciprocidade em benefício da sua

mulher e seus filhos, havendo a devida compensação econômica pela sua

virtude. A exibição dos alimentos em um clima cerimonial, tanto na horta como

na entrega aos familiares, garante seu nome como produtor de boa qualidade.

Uma parcela de toda a produção é entregue pelos chefes das aldeias

ao chefe geral, que as armazena. Como toda a atividade comum se resume a

festas e danças, é aí que é feita a distribuição do excedente. Essa

redistribuição é particularmente importante àqueles que têm uma chefia em

comum e possuem um caráter territorial.

O princípio da reciprocidade serve para salvaguardar sua produção e

subsistência familiar. O princípio da redistribuição garante a sobrevivência de

toda a aldeia. A ausência de mercados ou de moeda não afetam

necessariamente o sistema econômico da sociedade primitiva. Os mercados

são instituições que funcionam principalmente fora de uma economia. Servem

de locais de encontro para o comercio de produtos vindos de longa distância.

Os mercados locais são irrelevantes e não têm o caráter competitivo, bem

como os mercados de longa distância.

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O acúmulo de riquezas entre as diferentes organizações “civilizadas” se

baseia na livre circulação da moeda, bens e trabalho, exigindo uma

especialização cada vez maior das tarefas realizadas pelos indivíduos

envolvidos na produção. Com o aparecimento de livres mercados, surgem

também as divisões do trabalho na sociedade. E é exatamente na

especialização da função produtiva que regem as distorções numéricas em

quantidade de bens gerada ou no acúmulo financeiro.

1.4 – Fordismo no mundo atual

No capitalismo, aqueles que mais trabalham são os que menos

recebem, se pensarmos pelo lado da unidade produzida. Por essa necessidade

de produção em grandes quantidades, aqueles que estão desempenhando o

trabalho limitam-se a poucas operações, e bastante simples, o tornando um ser

estúpido e ignorante o suficiente para continuar fazendo aquele mesmo

trabalho a vida toda.

Como consequência de tamanha irresponsabilidade, o sentimento

espontâneo e natural de bem-estar ou de identificar-se com as necessidades

de outras pessoas é enrijecida pela rotina e pela moral baixa que acompanha o

indivíduo. Aos poucos, nosso caráter vai sendo formado, levando-se em conta

toda nossa história e vivência. Uma vez estabelecida uma rotina, não teremos

mais muita chance de construirmos uma história saudável e desenvolvermos

um caráter satisfatório. Para o seu desenvolvimento, é necessária a fuga da

rotina.

Henry Ford acreditava que bons salários eram suficientes para manter a

produção indefinidamente a todo vapor, uma vez que as pessoas tinham tudo

que precisavam para ter uma vida com qualidade, que era a remuneração

acima do mercado.

Não eram levadas em consideração as condições a que eram

submetidos seus funcionários, dentro da empresa. Ele só não imaginava que

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uma pessoa desestimulada poderia reduzir sua produtividade em consequência

da depressão ou tédio.

Sua lógica era simples, quanto maior, mais eficiente. Todos os setores

envolvidos na produção deveriam estar localizados no menor espaço possível,

economizando energia, tempo no transporte de materiais, e mantinha a devida

proximidade com os administradores e executivos.

Obviamente não devemos diminuir o mérito do grande mentor que foi

Ford no fim do século XIX e início do XX. Porém, sua forma de administrar

certamente não seria bem aproveitada nos dias atuais.

Exemplos de casos de sucessos não deixam dúvidas de que nenhum

processo de mudança acontece apenas em um nível. É necessário o

envolvimento de todos, do dirigente ao executor, nas tarefas mais simples,

atingindo toda a extensão da pirâmide.

A consciência de que é preciso mudar tornou-se uma constante. Quanto

mais mudanças ocorrerem, mais aumenta a necessidade de mudar, alimentada

pela concorrência, pelas demandas de clientes, pelas condições de trabalho e

pelo bem-estar dos funcionários.

Porém, ela só será bem recebida se houver claro entendimento, em

todos os níveis, de sua real necessidade. O atingimento dessa percepção

passa, necessariamente, por vários estágios de conversas e negociações, pelo

simples motivo de que toda organização é formada por gente que tem

habilidades e emoções.

1.5 – Ser necessário

A idéia de responsabilidade resulta na preocupação com o outro, uma

vez que ele conta comigo. Para sermos dignos de confiança, devemos nos

sentir necessários, e esse outro precisa estar em necessidade para a

correlação de interesses. Mas o grande questionamento do capitalismo

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contemporâneo é se existe alguém que precise de um outro. O sistema irradia

indiferença.

Nas instituições modernas, onde são empregados altíssimos

investimentos em tecnologia, os traços de caráter dos magnatas capitalistas de

risco e dos “experts” em reengenharia empresarial têm qualidades além do

implacável e ganancioso.

A falta de apego a logo prazo, a capacidade de desprender-se do próprio

passado, e confiança para aceitar fragmentação são traços de pessoas

realmente à vontade no novo capitalismo.

Bill Gates, que não devemos citar como um exemplo de consciência

social, possui o próprio perfil do capitalismo moderno, de competidor ferrenho,

pouco se importando com os problemas que ocorrem à sua volta. Tamanha

sua ganância, dedicou míseros milhares de dólares ao bem público, face aos

seus bilhões que engordam sua conta bancária. Falta-lhe um pouco de

maturidade responsável a todo o processo que envolve sua indústria digital.

Existe uma certa cultura norte-americana pela necessidade de

demonstração de “status” individualista a fim de a pessoa ser respeitada até

por ela mesma, pela posição ocupada.

Aqueles que vislumbram um regime flexível são deixados para trás, com

toda sua lamentação pelo que se tornou a relação humana. Os “novos

senhores” rejeitaram a orientação para a conduta de uma vida comum,

observadas nas velhas carreiras. Os caminhos das ações duráveis e

constantes, agora, tornaram-se territórios estrangeiros.

Onde cada um faz uma tarefa independentemente do todo, sem visão de

conjunto, não existe a engrenagem necessária ao atingimento de resultados

satisfatórios e duradouros. O desempenho tende a ser medíocre e estático,

sem projeções a curto prazo.

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Caso aqueles que estão lotados no topo da pirâmide empresarial

propusessem o fim da economia de mercado, esse grande passo poderia

gerar o início de uma era de liberdade sem precedentes. Alcançaríamos uma

certa autonomia jurídica, abrangendo uma liberdade mais ampla e mais geral

do que em qualquer outra época. A autoregulação e o autocontrole poderiam

atingir a liberdade para todos, não apenas para alguns. Não teríamos um tipo

de liberdade como um simples complemento de privilégio, com todos aqueles

velhos vícios contidos em sua origem, mas a teríamos como um direito

consagrado, estendida muito além dos limites do meio político a ponto de

atingir a organização no interior da própria sociedade.

“Um regime que não oferece aos seres humanos motivos

para ligarem uns para os outros não pode preservar sua

legitimidade por muito tempo.” (Sennett, 1999, p. 176).

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CAPÍTULO II

CICLO ECONÔMICO

2.1 – O consumismo moderno

O mundo moderno está acostumado a valorizar pessoas que sejam

consumidoras. Aqueles que não consomem, simplesmente não têm valor. A

moda é uma grande responsável por esse costume. A própria vaidade é levada

ao consumo desenfreado. Os produtos são feitos para durarem pouquíssimo

tempo, em razão de haver substitutos melhores em menos de um ano da

aquisição do anterior.

O governo incentiva o alto consumo para que a economia permaneça

saudável. Pelo menos aos olhos dos grandes produtores. Os líderes

governistas atuais, no mundo ocidental, não governam para o povo, mas para

as grandes indústrias e corporações, que, em contrapartida, são as maiores

contribuintes.

Estamos esquecendo que não precisamos de grandes contribuições.

Não temos como aceitá-las, se a contrapartida é o consumo desenfreado. Em

razão dessa ganância, estamos ficando sem recursos naturais. Nas últimas

três décadas, degradamos mais de 30% dos nossos recursos naturais.

Todo nosso tempo é dedicado ao trabalho, uma vez que precisamos de

recursos para permanecermos em constante consumo. Não temos mais tempo

livre. Só temos três destinos no mundo moderno: casa, trabalho, e mercado.

O que não está sendo avaliado, nesse ciclo, é que existe uma origem e

um destino para todo esse processo. Toda matéria prima extraída, toda energia

gasta para o processamento e todo lixo produzido poderiam estar sendo

minimizados, pela simples educação e valorização do fator humano. Cerca de

99% de tudo que compramos são descartados no período de 6 meses. Não

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precisamos seguir modismos ou comprar aparelhos eletrônicos a cada três

meses. Devíamos, sim, exigir durabilidade prolongada dos produtos e só

comprar dos fabricantes que considerássemos ecologicamente comprometidos

com as necessidades do mundo moderno.

2.2 – Êxodo rural

Ao contrário do que se espera de um posicionamento politicamente

correto, a devastação dos sistemas locais (para obtenção de matéria-prima),

que sustentaram famílias por gerações, hoje já as tornam sem outra alternativa

senão migrar para locais onde possam desempenhar algum meio de

subsistência, nos pólos industriais. Não só o meio-ambiente está sendo

destruído. As comunidades rurais também estão em extinção.

Mas ainda existe uma parte ruim: todo esse êxodo rural desempenhará

papel operário nas fábricas. Após uma entrevista, são colocados para

exercerem tarefas simples e repetitivas, a fim de produzirem mais no menor

tempo possível.

Após a devastação ambiental e a poluição gerada no processo da

produção, ainda temos que levar em consideração a mão-de-obra empregada,

retirada das lavouras, que serão potencialmente afetadas pelas doenças

provenientes de atividades pouco complexas.

Não temos mais uma profissão à qual devemos nos orgulhar e defender

seus méritos ante a sociedade, como engenheiros, professores ou agricultores.

Agora somos simplesmente consumidores.

As autoridades governistas mantêm a política de incentivo ao consumo,

uma vez que são as maiores beneficiadas pelo recolhimento dos impostos.

Mas, incrivelmente, não enxergam que nesse sistema linear de extração,

produção e descarte, haverá um momento em que não teremos sequer água

para beber.

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2.3 – Surgimento de novas necessidades

Se há cinqüenta anos uma pessoa consumia em média a metade do que

consome hoje, como explicar esse crescimento das nossas necessidades?

Simplesmente, naqueles tempos, a boa gestão a poupança e a engenhosidade

eram valorizadas. Esse desejo de consumo desenfreado não “aconteceu”

simplesmente. Houve todo um estudo e planejamento após a Segunda Guerra

Mundial, promovido pelas grandes instituições, a fim de impulsionar a

economia.

A pauta era transformar o consumo em estilo de vida, satisfazer o ego

das pessoas através da compra de novos bens e formar um ritual para sua

utilização e satisfação espiritual, para serem descartadas em um ritmo cada

vez maior. E o Maquiavelismo funcionou.

O própiro George Bush, após a crise no World Trade Center,

solicitou que fizessem compras, ao invés de declarar luto ou momentos de

reflexão.

O principal objetivo de uma sociedade organizada não é mais

proporcionar um bom sistema de saúde ou de ensino, redes seguras de

transportes ou incentivo à sustentabilidade e justiça. Na sociedade capitalista

do mundo atual, nosso principal foco é produzir bens de consumo. O pior é que

tornam-se obsoletos em tão pouco tempo que não nos resta outra alternativa

senão jogá-los no lixo, sejam copos plásticos, vassouras, churrasqueiras ou

microcomputadores.

Lamentavelmente, nossa consciência a respeito do que nos é

necessário foi modificada com o passar do tempo e a forma encontrada para

que sejamos forçados a comprar outra nova, mesmo que a antiga esteja em

perfeito funcionamento, é a simples alteração da aparência do novo bem.

Como somente somos bem aceitos na sociedade capitalista

proporcionalmente ao que usamos e vestimos, torna-se constrangedor

utilizarmos um “modelo ultrapassado”. Não estaríamos contribuindo

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satisfatoriamente com a economia da nação. O modismo, em sociedades mais

esclarecidas, já são quase um problema do passado.

2.4 – Bens duráveis

Hoje, através das redes de comunicação, vemos mais publicidade em

um ano que as pessoas eram capazes de assistir em toda sua vida, há cerca

de cinqüenta anos. O objetivo de toda essa poluição visual é dizer-nos que

estamos infelizes com tudo que temos. Nossa pele, cabelo, cheiro e eletrônicos

estão ultrapassados ou fora de moda, e tudo se resolve através da ida ao

mercado para comprarmos a solução daquele problema.

Porém, o que a mídia não mostra é a extração, produção e o fim de toda

essa tralha que compramos diariamente e que são descartadas na natureza

todos os dias. Essa parte do processo fica fora do nosso campo de visão.

Felizmente, começamos a dar os primeiros passos para entendermos

que os bens materiais que temos não suprem nossas verdadeiras

necessidades afetivas, e são exatamente essas que proporcionam a plena

felicidade: amigos, família, lazer, tempo livre. Já existem declarações de

analistas informando termos, no capitalismo moderno, tempo livre similar ao da

época da atividade feudal, na Europa Medieval, ou seja, na Europa do século

IX, quando a quase totalidade de tudo que era produzido nos “feudos” da

época eram cedidos em forma de impostos.

Nossa vida tornou-se o ciclo entre ver televisão e fazer compras. Toda

essa quantidade de bens já obsoletos não cabem em nossas casas e só resta

um destino para elas: o lixo.

Todo esse lixo produzido é colocado em aterros, poluindo nosso solo.

Ou, para ganhar espaço, é incinerado antes, causando um mau maior, agora

não só ao solo, mas também ao ar, à água e ao clima. O pior é que para cada

saco de lixo que deixamos na esquina, foram deixados outros 70 necessários

para produzir aquele saco de lixo nosso. Mesmo que reciclássemos 100% do

nosso lixo, não chegaríamos próximo à solução do problema.

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Novamente, a resposta está nas mãos das próprias pessoas. Temos que

procurar necessidades comuns, onde haja a cooperação entre os grupos, a fim

de enxergarem o problema como coletivo. Temos que transformar esse

sistema linear em algo novo, num método que não desperdice recursos ou

pessoas.

Essa mentalidade capitalista de usar e jogar fora deve ser colocada de

lado para sempre. Já existe um conjunto de medidas capazes de não gerar

resíduos, utilização de química verde, produção num ciclo fechado (desde a

exploração de recursos até a devolução do produto ao meio ambiente).

Como era de se esperar, existe uma corrente resistente que defende

ser, essa nova ideologia irreal e utópica. Porém, irrealizável é a continuidade

do consumismo exagerado do, agora, velho capitalismo. Fomos nós que o

criamos, mas não precisamos conviver com ele, assim como fazemos com a

força da gravidade.

2.5 – Planejamento estratégico

Um planejamento estratégico para melhorar esse desequilíbrio

consumista deve vir da evolução de informações geradas pela própria pessoa

humana. A solução do problema só terá aplicabilidade se começarmos a

enxergar o fator humano como a principal ferramenta de toda instituição.

Nosso caráter, pelo qual buscamos o devido valor das outras pessoas, é

onde guardamos nossos traços pessoais e comedimos nossas ações. Uma vez

desafiados, pode gerar graves consequências à sociedade. Uma delas é a

degradação ao meio ambiente.

Principalmente nos países capitalistas de primeiro mundo, os ‘recém-

graduados’ têm uma expectativa média de mudança de emprego por onze

vezes ao longo de sua carreira, e de trocar sua aptidão básica por pelo menos

outras três vezes, durante seus quarenta anos de dedicação profissional, dada

a velocidade das mudanças.

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Não existe mais a estabilidade que outrora se buscava. A ordem de

“longo prazo” tem vida curta, sob a ótica do novo modelo econômico. Mas seria

essa sede de mudanças o caminho para a valorização do capital humano? A

confiança e “expertise” não advêm com o tempo?

Segundo o sociólogo Mark Granovertter, as instituições modernas têm a

característica de “laços fracos”, reafirmando o modelo atual de associação

passageira, consideradas mais úteis no ambiente de trabalho que ligações

mais duradouras. Tais laços fracos são observados nos locais onde existe o

rodízio de tarefas a desempenhar e substituição de funcionários. Laços sociais

como a amizade, lealdade e interatividade deixam de ser praticados e exigidos

para a manutenção do bom clima organizacional. Sob essa ótica, laços mais

fortes tornam-se uma espécie de labirinto sem saída, onde o foco é justamente

o oposto.

Se um empregado nota que, levando-se em consideração a necessidade

de crescimento imediato, não pode contar com o apoio da empresa em que

trabalha, certamente se colocará à disposição de uma outra que possa melhor

atender a seus propósitos.

2.6 – Individualismo nas empresas modernas

O que podemos notar, na maioria das empresas, é que o distanciamento

afetivo e a cooperação essencial à manutenção dos serviços são as armas

para lidar com a realidade do mundo moderno. Esse capitalismo de curto prazo

acaba por minar o caráter das pessoas, principalmente no aspecto ligado à

ajuda mútua, tornando cada um auto-sustentável.

Porém, focando sob um aspecto positivo, nesse capitalismo

contemporâneo ocorre a busca pela substituição da burocracia por modelos

mais flexíveis, em formato mais horizontal, ao invés do verticalismo hierárquico

de comando.

A grande tendência é de uma organização em rede onde todos

conheçam o que cada um produz. Em uma eventual necessidade de

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redefinição de tarefas, o bom andamento da produção não ficará afetada. As

promoções e demissões terão parâmetros nítidos e pouco ou nada

contestáveis. A própria rede é a responsável pela organização da sua

estrutura.

Um fato que podemos parar um pouco para pensar é que toda essa

incerteza gerada pelo capitalismo atual surgiu sem um desastre histórico que a

justifique. Talvez a corrosão desses laços mais duradouros seja uma

conseqüência inevitável, enfraquecidos os aspectos cooperativos no ambiente

de trabalho, e, pelo visto, já tenhamos que encarar a instabilidade como um

estado normal nas relações de trabalho.

2.7 – Autoridade gerencial

Ao assumir uma função gerencial, a pessoa está sendo investida de uma

autoridade outorgada pela instituição, através da qual exerce a direção e o

controle das ações a serem desencadeadas por seus subordinados. Essa

autoridade só acontece se o empregado aceitá-la, na condição de subordinado.

Se por um lado a autoridade é a essência da função gerencial, sem a

qual as atividades de direção, coordenação, controle e integração não

passariam de meras intenções, por outro lado, existe a necessidade da

aceitação e desempenho do papel de subordinado pelos indivíduos executores.

A aceitação da autoridade ou o grau de influência sobre o subordinado

depende essencialmente da forma como a liderança estiver sendo exercitada.

Isto se revela pelo estilo gerencial adotado, são expressões de valores,

atitudes e concepções que o gerente manifesta na atribuição de suas funções.

O maior ou menor grau de influência que o líder exerce sobre os

subordinados traduz-se, na prática, em maior ou menor poder. Quanto mais a

liderança do administrador for reconhecida, maior será o seu poder dentro da

organização. Grande parte das nossas relações humanas constituem relações

de poder, principalmente as que se manifestam nos ambientes institucionais.

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O poder, sob esse ponto de vista, aflora com naturalidade e é necessário

para a implementação de ações que visem o crescimento da empresa. O poder

sem liderança, no entanto, não passa de autoritarismo e as ações emanadas

dessa forma não fazem crescer a organização e as pessoas que nela

trabalham.

O dirigente que construir seu modelo gerencial calcado na idéia de que,

antes de tudo, o gerente tem as funções de projetista, de guia e de professor,

certamente edificará uma organização de aprendizagem na qual as pessoas

terão oportunidade de expandir continuamente sua capacidade de entender a

complexidade organizacional, de definir objetivos e de aperfeiçoar modelos

mentais.

A capacidade do dirigente em ser um líder natural apresenta-se como

resultado de uma vida inteira de esforços para desenvolver técnicas

conceituais e de comunicação, de refletir sobre valores pessoais e alinhar o

comportamento pessoal com esses valores, de aprender a ouvir e apreciar

exemplos bem sucedidos de outros dirigentes, bem como de buscar subsídios

nas idéias de todos os membros da organização.

2.8 – Contra-empreendedorismo

É importante imergirmos um pouco mais na questão da liderança.

Ocorre que muitas vezes é definido como líder o dirigente que adota atitudes

individualistas e não sistêmicas, como as figuras que assumem o comando em

tempos de crise.

Esse líder salvador e herói que tudo planeja, organiza, comanda,

coordena e controla, que se mostra autônomo e auto-suficiente, que nada

compartilha, é, na realidade, um exemplo claro de estrutura patriarcal em que

alguém manda e os demais ficam submissos às ordens emanadas.

Na verdade, é confortável ser conduzido. Quando algo sai errado, é fácil

apontar o culpado, o que deixa os subordinados tranquilos, e o fato de

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pagarem por essa tranquilidade com sua própria impotência é um preço

pequeno.

Ao mesmo tempo, à medida que a organização cresce, aumenta a

necessidade de coordenação, controle e consistência, o que faz proliferar uma

mentalidade de dependência.

O preço que pagamos por essa dependência é nossa própria sensação

de impotência, especialmente quando ficamos à espera de instruções claras

antes de agir. Essa situação é o oposto do espírito empreendedor.

Aliado à mentalidade de dependência, há também a crença nas

organizações que adotam esse tipo de relacionamento autoritário com seus

empregados de que a falta de liderança redunda em anarquia. Como se

existisse um pensamento comum afirmando que, sem uma liderança forte e

bem definida, sem pessoas de um nível mais elevado apontando o caminho e

nos dizendo como agir, não podemos alcançar nossas metas.

A alternativa para romper esse modelo gerencial passa necessariamente

pela adoção de uma política empreendedora. Cada empregado deve pensar e

agir como se toda organização da qual faz parte seja efetivamente sua. Então,

sendo o negócio seu, será também sua a tarefa de decidir. É quando começa a

manifestar-se o espírito de liderança.

Todos nós precisamos nos sentir apoiados em nossa auto-expressão, na

confiança em nossa intuição e na aceitação do lado emocional de nossa

existência. O líder dever ser um empreendedor. Suas atitudes devem inspirar

nas pessoas um clima de paixão, de energia e de motivação para o trabalho.

Um verdadeiro líder deve saber adaptar-se a situações imprevisíveis, às

saídas de rotina, às exigências individuais dos clientes. Deve reagir com

energia positiva e ter o interesse da organização no coração.

Quanto ao poder existente nas pessoas, liderar pode ser resumido

em canalizar esse poder com a finalidade de tornar as pessoas capazes de

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exercer sua criatividade, auto-realização e visualização de um futuro melhor

para si próprias e para a organização que trabalham. Essa essência de

liderança não está apenas no fato de obter poder, mas em transferi-lo aos

demais a fim de traduzir suas intenções em realidade e sustentá-las ao longo

do tempo.

2.9 – Chefias verticais e lideranças horizontais

Os antigos modelos de chefes autoritários estão cada vez mais sendo

colocados de lado, uma vez que já é nítido ser ineficiente esse seu método

verticalizado de comando.

Nesses novos tempos, os altos escalões das empresas tornam-se

escravos das tarefas e esquecem de coisas que parecem simples e sem

importância, como escutar os subordinados da equipe à qual está

coordenando, por exemplo, que é de fundamental importância para o sucesso

de todo o grupo.

Toda atividade deve ser colocada em prática por um profissional de

recursos humanos, gestores e líderes de equipe, que são as pessoas

diretamente ligadas aos operadores.

O profissional que não entende sua função como essencial à empresa

no sentido de angariar conhecimento e administrar de acordo as práticas de

gestão de recursos humanos não está preparado para assumir um cargo de

gerência.

Pequenas mudanças, como a flexibilização do horário de trabalho, por

exemplo, tornaria o trânsito menos tumultuado e agrediríamos menos a nossa

atmosfera, uma vez que os veículos emitiriam diariamente menos gases

tóxicos ao meio-ambiente, melhorando todo o cenário ao nosso redor, sem

contar no aumento da satisfação de todas as pessoas que enfrentam horas de

engarrafamento costumeiramente. Teríamos mais tempo para a prática de

alguma atividade física, seríamos mais bem-humorados e, consequentemente,

produziríamos mais.

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Todos esses motivos tornam as pessoas mais susceptíveis à

cooperação e à conscientização do lado bom da vida. O dominador

desinteresse à socialização gerado pelo capitalismo, no sentido mais amplo da

preservação do bem-estar em cada canto do planeta onde tal regime é

utilizado, seria menos evidente.

No atual regime capitalista, a quase totalidade dos administradores

focam o lucro acima dos interesses individuais, e do bem-estar coletivo como

um todo. Em uma empresa ideal, a primeira mudança a ser adotada seria a

admissão de pessoas realmente capazes de administrar recursos humanos

com sólido conhecimento teórico, associado ao bom senso inerente ao líder,

não ao chefe.

Sábias medidas, como a contratação de líderes ao invés de chefes,

podem tornar a vida de todos nós muito mais saudável e motivadora, uma vez

que não haveria mais ambientes de bajulação e competição desnecessária no

ambiente de trabalho.

Todo o excesso de serviço seria melhor absorvido, uma vez que a

cooperação mútua seria melhor aproveitada. O “stress”, a doença do século,

motivo de outras dezenas de doenças como o câncer e a depressão, seria

naturalmente combatido pela vontade de fazer toda a máquina funcionar com

toques de reuniões e busca pela melhoria dos fluxos de trabalho. O equilíbrio é

o melhor método para manter nossa integridade saudável, bem como toda vida

que nos cerca.

Até bem poucos anos, as empresas costumavam valorizar e promover

os funcionários mais técnicos. Atualmente já existe uma conscientização da

necessidade da qualidade de liderança nos funcionários alçados para os

cargos de chefia.

A parte técnica, apesar de importante, pode ser adquirida, o que não

acontece nas qualidades pessoais de liderança e relacionamento interpessoal,

que são mais difíceis de ser incorporados às características do ser humano.

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Cada pessoa reage diferentemente ao mesmo estímulo, e o líder deve

ter o discernimento necessário para lidar com essas emoções. Para a

manutenção do bem-estar da equipe, é necessário ser negociador, entender de

comunicação interpessoal, utilizar a linguagem adequada e gesticular

discretamente.

2.10 – Antigos capatazes

Vivemos em uma economia baseada no conhecimento, onde o grande

diferencial de mercado é a capacidade de inovar da empresa, que por sua vez,

vem do seu capital humano.

Os melhores administradores já percebem que o maior bem que ele

possui são seus funcionários. De nada adianta ter o melhor equipamento do

mundo se não existe quem manuseá-lo de forma otimizada.

Nos antigos engenhos feudais, o “Senhor de Engenho” nunca

conversava diretamente com seus “vassalos”. Sempre havia a figura do

“capataz”, que é desnecessário para o processo produtivo, mas que traduzia

aquilo que o Senhor de Engenho precisava obter de seus subordinados. Nos

dias atuais, esse capataz recebe o nome de “gerente”.

A partir do momento que soubermos nosso valor no mercado, um novo

modelo industrial pode surgir e o “capataz” torna-se obsoleto, uma vez que não

haverá mais motivo para reivindicações salariais e uma coordenação dos

trabalhos. O canal de comunicação vai estar diretamente aberto com o “senhor

de engenho”.

Finalmente, nessa nova estrutura, acaba a “escravidão”. Mas,

lamentavelmente, esse novo modelo ainda é para muito poucas empresas. Na

grande maioria dessas empresas tradicionais ainda existem “capatazes” e

“escravos”.

Precisamos de empresários conscientes, cidadãos, e ecologicamente

comprometidos. Esses empresários não contratam gerentes. Contratam

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líderes, somente quando encontram um. Não os interessa mais aqueles antigos

“capatazes”.

Seus funcionários provavelmente terão um perfil empreendedor,

motivados e, certamente, compromissados com a empresa. Além dessas

qualidades, terão uma visão mais ampla do empreendimento, conhecendo o

exato valor da ação da empresa e da sua própria no mercado que atua.

A postura do gerente deve ir além de suas atribuições formais. Exercer a

liderança requer, antes de tudo, conhecer as pessoas e o ambiente social em

que a empresa estiver inserida, pois a liderança é um fenômeno interpessoal.

Suas atribuições formais devem ser cercadas por atitudes coerentes e de

liderança, uma vez que será através delas que sua autoridade receberá o

devido reconhecimento.

A nova realidade imposta pelo mercado nos mostra que o trabalho em

equipe é um fato, ou seja, não se pode mais fugir dele. Isso coloca o gerente

numa situação que exige dele postura de liderança e empreendedora, não

autoritária. Todo executivo deve motivar e encorajar os funcionários, a fim de

conciliar suas necessidades individuais aos objetivos da empresa.

Esse é o grande entrave na motivação do indivíduo, a falta de

preocupação da empresa em proporcionar seu bem-estar, de cooperar com o

funcionário no atingimento de algum ideal. A partir do momento em que o

posicionamento da instituição mude e exista uma política voltada a satisfazer

essa preocupação, a empresa tende a conseguir alcançar suas metas de uma

forma muito mais fluida e sustentável.

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CAPÍTULO III

VIVER BEM

“As manifestações de simpatia – reino de tempo

espontâneo – nos empurram para fora de nossas

fronteiras morais normais. Nada há de previsível ou

rotineiro na simpatia.” (Sennett, 1999, p.42)

3.1 - Flexibilidade

O sentido do termo “flexível” foi obtido através da observação da

capacidade de as árvores dobrarem ao vento e voltarem à posição normal após

o sopro. Essa característica de poder ceder e recuperar-se que as árvores

possuem, pode ser adaptado ao comportamento flexível do ser humano. Seria

ideal que tivéssemos a mesma força, adaptável às mais variadas

circunstâncias, sem quebrar com o seu peso.

Nos dias de hoje, a sociedade vem buscando meios de destruir os

velhos males provocados pela rotina através da criação de instituições mais

flexíveis. Porém, essas “práticas de flexibilidade” não visam uma adaptação da

empresa às necessidades dos funcionários, estão mais preocupadas em

concentrarem-se nas forças capazes de dobrar as pessoas.

O modelo de ingerência que os tempos atuais estão exigindo nos mostra

que somente haverá espaço para o administrador dotado de aptidões que

contemplem maior flexibilidade de adaptação a mudanças.

Um administrador que saiba casar as diferentes habilidades e senso de

individualidade dos empregados, com um propósito comum e compartilhado

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que tenha como ponto alto o trabalho em equipe, o exercício da liderança

democrática e flexível, apoiado em iniciativas empreendedoras.

3.2 – Comunicação

A chave da passagem que dá acesso ao caminho que conduz a

organização ao seu objetivo almejado está na forma de lidar com o

comportamento humano. E isso muito tem a ver com a qualidade da conversa

praticada. O sucesso, portanto, depende de como as pessoas se comunicam.

A cultura organizacional surge através de conversas. Quando todos os

funcionários estiverem envolvidos no diálogo sobre crescimento, produtividade

e perpetuação da empresa, a comunicação fica dinâmica e ajustável às

necessidades.

A comunicação cria, portanto, um elo entre as pessoas. Através desse

elo é possível criar o ambiente onde os membros da organização se sentem

satisfeitas por estarem trabalhando. Essa satisfação é, na realidade, a

motivação para a busca dos objetivos da empresa.

Esses objetivos, uma vez tornados claros, fazem com que todos tenham,

também, a visão sobre o futuro, mais nítida. Isso acontecendo, cria-se o

compromisso do funcionário com essa visão e, como consequência, altera-se a

capacidade de gerar resultados da corporação.

Adotando-se, simultaneamente, a prática do reconhecimento das

pessoas que fazem a diferença, permite-se que as lideranças aflorem com

naturalidade, gerando sentimento de respeito e poder para a equipe. O

aumento da produtividade é uma consequência, pois a equipe está motivada.

3.3 - Desafios

Não devemos nos acostumar e permanecer no mundo do

condicionamento. Precisamos agir conscientemente e, além de sempre usar o

nosso bom senso, espalhar a idéia de que não é necessário vivermos da

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mesma forma por toda nossa existência, uma vez que ainda existam ajustes a

serem feitos.

Precisamos nos acostumar a analisar os diversos pontos de vista mais

friamente, questionar crenças, valores, preconceitos, ações pré-concebidas, e

sempre desejar fazer parte da construção de um ambiente mais justo e

agradável, onde o respeito e a integridade sejam regras.

Educar está muito além de ensinar a ler, escrever ou calcular. Não pode

limitar-se a treinar técnicas, rotinas ou metodologias. O ato de educar está mais

intimamente ligado a criar condições para que a pessoa possa desenvolver

conhecimento, autonomia de pensamento e consciência, conseguindo enxergar

seu espaço no universo que o cerca.

A compreensão fundamental sobre a aprendizagem pode ser traduzida

como uma experiência pessoal marcada pela iminência de equilíbrio entre as

antigas idéias, pensamentos, ações e aquelas que passaremos a utilizar. É um

processo que provoca mudanças de padrões estabelecidos de pensamento e

geram certa inquietação e desconforto.

Na atualidade, estamos sempre vivendo em profundas contradições

entre os melhores meios de construir a vida, exercer ingerência nas

organizações e nos relacionar como pessoas. Sob este ponto de vista, a

ajuda mútua é o elemento mais importante para a evolução. Numa equipe

cooperativa existe sinergia, onde um grupo de pessoas trabalha e pensa com

objetivos comuns. As idéias fluem com maior facilidade, e, por vezes nem se

sabe mais de quem é a idéia, tamanha sintonia. Uma sugere um ponto e as

outras vão aperfeiçoando, finalizando em soluções alavancadoras de bons

resultados.

3.4 – Desenvolvimento pessoal

Sempre que possível, devemos procurar desenvolver nossas habilidades

em planejamento, tomada de decisões, comunicação, relações interpessoais,

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trabalho em equipe, administração de conflitos, delegação de tarefas e

avaliação de desempenho.

As relações que acabam acontecendo no cotidiano operacional das

instituições geram efeitos sobre os sentimentos, valores, caráter, saúde,

consciência e no comportamento das pessoas.

A auto-motivação do indivíduo é a principal fonte de criatividade,

realizações e bons resultados. Esta “energização” é a resposta para a criação

de soluções e vontade de realização. Essa vontade é intrínseca, não pode ser

oferecida ou compartilhada, porém, pode-se proporcionar condições com esse

objetivo.

Em uma civilização voltada para o ganho, compulsivamente consumista

e sedenta pelo poder, toda tendência para o prazer é controlada e submetida a

uma via mais evidente que é a da produção. E, realmente, as técnicas

modernas de administração e divisão do trabalho geram uma maior

produtividade.

O grande problema dessa sobrevida econômica é o comportamento

destrutivo e opressivo inserido no contexto. Temos que nos policiar e nunca

deixarmos de ser éticos, sempre respeitar a pessoa humana e a natureza,

independentemente das experiências desagradáveis que a vida cotidiana

costuma nos oferecer.

3.5 – Elogios

O elogio oportuno e sincero é melhor meio de motivar um funcionário,

além de proporcionar melhoria no clima organizacional.

Se todos os executivos viessem dotados qualidades básicas como o

bom senso e a sensibilidade, o ato de elogiar e incentivar seriam práticas

cotidianas e naturais. Como esse dom é encontrado em poucos, a grande

maioria tem mesmo é que ser constantemente treinada. Cada funcionário quer

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ser reconhecido, e não há outra saída aos menos favorecidos pelo bom senso

se realmente pretender trabalhar com uma equipe motivada.

Existem três tipos de elogios que satisfazem aos diferentes grupos de

pessoas:

1. Aqueles indivíduos que necessitam de realizações, que fixam metas

desafiadoras, assumem riscos calculados e chamam a

responsabilidade para si. Para esses, o elogio pode ser dado

entregando-se um projeto ainda mais difícil ou desafiador;

2. O segundo grupo é daqueles com necessidades de associação, que

prezam a amizade, colocam as pessoas à frente das tarefas. Não

está muito preocupado com um elogio em público;

3. Os que buscam posições de liderança, prestígio e gostam de ser os

mentores da turma têm um outro tipo de necessidade, que é a de

influenciar. Se tiverem a opção de escolha, preferirão o elogio

público, na frente dos colegas.

O administrador moderno precisa ter a sensibilidade de detectar as

necessidades de cada um, ou incorrerá no erro de desmotivá-los. Um

elogio motiva a pessoa a dedicar-se mais ainda para que receba um

novo.

A tática do elogio, quando pertinente e bem executada, surte efeito e

provoca reações positivas. Porém, o reconhecimento pecuniário é um

apelo tão poderoso quanto uma homenagem em rede nacional.

Salários acima da média de mercado, bônus, promoções e

participações nos lucros e resultados são as moedas que mais induzem

os talentos a vestir a camisa da empresa.

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3.6 – Mudanças

Cada vez mais será necessário desenvolver conhecimentos sobre os

subordinados, suas habilidades humanas e suas motivações. Já não basta ao

dirigente e ao corpo gerencial dominar as habilidades técnico-administrativas.

Esse movimento de resgate do ser humano dentro da organização

empresarial está permitindo que o dirigente dê mais atenção ás proposições de

natureza criativa originárias da base da própria empresa. Isto faz com que as

estruturas, antes rígidas e inibidoras da expressão do comportamento humano,

cedam espaço a ambientes mais flexíveis que facilitam, inclusive, o exercício

da autogestão e do autocontrole de desempenho.

Sabe-se, também, que a mudança carrega consigo uma razoável

parcela de ônus, pois requer que a pessoa reveja sua forma de pensar, de se

relacionar e de agir. Mudar um sistema em que as regras são rígidas, porém

claras, para um modelo que envolve muito mais as pessoas e seu meio, pode

ser promissor, quanto ameaçador. Nem sempre a mudança de um ambiente,

onde predomina a apatia, para uma nova situação em que se busca a

motivação e o ânimo à participação, é algo fácil de implantar.

Gerenciar a mudança é defrontar-se com ambiguidades. Cabe ao

dirigente compreender rapidamente o sentido da direção dos acontecimentos.

O tempo para planejar, nesses casos, é mínimo. Muitas vezes é necessário

agir antes mesmo de se visualizar o sentido total da mudança e da garantia de

seu êxito.

Não podemos duvidar, no entanto, que mudanças estão acontecendo à

nossa volta e que as informações passaram a estar disponíveis em tempo real,

exigindo que as decisões se processem em crescente agilização por parte dos

responsáveis pelo destino das empresas. A solução, então, é buscar o caminho

que proporcione a adequação do ambiente empresarial à realidade que nos

cerca.

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3.7 – Sustentabilidade

Lutar pela vida é realmente importante, mas sempre contra condições

adversas e nunca entre nós mesmos. Devemos estar mais atentos aos atuais

discursos em ascensão, como a economia sustentável e inclusiva, pela breve

reconciliação entre o desenvolvimento econômico, as relações interpessoais e

a melhoria da qualidade de vida proporcionada pela proteção ambiental.

Principalmente nos países pobres, a necessidade de colocar alimento na

mesa é o principal foco das famílias. O fim da pobreza pela promoção do

desenvolvimento quase sempre ocasiona a agressão ao meio ambiente. Então,

como podemos conciliar o desenvolvimento com a proteção ambiental?

Obviamente, o ambiente sempre será aproveitado em benefício das

populações que nela vivem. Porém, o segredo é fazê-lo de forma muito

cuidadosa e preservando ao máximo, sem exageros, exatamente da forma

contrária ao praticado pelos modelos atuais de desenvolvimento.

Todos temos que procurar fazer a nossa parte, sempre que for possível

a fim de economizar recursos naturais e reciclar. Como exemplos práticos do

cotidiano, que podemos adotar como medidas imediatas, ou a título de

sobreaviso, temos:

1. Praticar a carona solidária, a fim de diminuir a emissão de poluentes;

2. Não desperdiçar água limpa, uma vez que nossos rios passam por um

processo de degradação intenso;

3. Utilização de lâmpadas frias, que consomem a quarta parte de uma

lâmpada incandescente;

4. O lixo jogado na rua, além de impedir o escoamento da água das

chuvas, polui rios e prejudicam a qualidade da água que consumimos;

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5. Proporcionar às novas gerações uma quantidade maior de

informações a respeito do aquecimento global e preservação do planeta, uma

vez que não foram suficientemente transmitidas às gerações anteriores;

6. Quando estivermos hospedados em hotéis, para a lavar a toalha,

basta jogá-la no chão. Deixando-as penduradas, não serão lavadas e

economizaremos energia elétrica e água;

7. Utilizar a luz do dia sempre que for possível;

8. Utilizar a escada ao invés de subir por elevador até 2 andares,

proporcionando um corpo mais saudável.

Sustentabilidade significa fazer escolhas pensadas, tendo conhecimento

para atingir objetivos, de um jeito que não arrisque o futuro de nosso planeta e

seus habitantes.

Nessa conjuntura atual, a miopia do curto prazo dita as ações pela

urgência e pelo lucro imediato, associada ao anonimato das redes mundiais de

empresas financeiras e industriais, as quais têm quase nenhuma

responsabilidade social, a não ser prestar contas a seus acionistas.

Infelizmente, o efeito dessas tendências é particularmente nocivo nas

economias periféricas, sempre a mercê da incapacidade dos governos para

desenvolverem políticas públicas.

Uma saída, seria desenvolver uma adequada educação ambiental nas

escolas e estabelecer um plano internacional de intercâmbio de conhecimentos

técnicos específicos na área ambiental.

Devemos proporcionar o fortalecimento de instituições capazes de

fiscalizar a preservação do meio ambiente através de uma revisão da

legislação para adequação à nova realidade mundial de consciência.

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É necessário desenvolver amplos estudos dos recursos naturais

existentes, instituindo parques e reservas ecológicas, conservando e dando

meios aos já existentes, fortalecendo suas condições de sobrevivência.

Precisamos direcionar o desenvolvimento industrial, mediante incentivos

fiscais, para a criação de pólos em áreas de menor impacto ambiental e

desenvolver uma educação sexual adequada aos parâmetros atuais de

ocupação demográfica, ou nossa projeção nunca será suficiente.

A crise social e ambiental que estamos experimentando abre espaço

para a construção de algo novo, algo que somente pode surgir quando a

sociedade for chamada a se expressar e participar. Fazer das camadas

populares, sujeitos políticos de seu ambiente material, social, econômico e

cultural. Esta é a sustentabilidade democrática.

O futuro da humanidade depende da criação de uma nova sociedade, do

desenvolvimento de uma perspectiva saudável, de uma nova filosofia de vida,

sem a qual, a raça humana estará fadada a sucumbir.

Mude o mundo, mude suas atitudes, mude seus hábitos, mude seus

conceitos, mude seus pré-conceitos, mude seus pensamentos, mude sua vida,

mude o futuro do planeta.

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CONCLUSÃO

É inevitável afirmar que ainda não existe uma consciência

ecologicamente sustentável na sociedade capitalista moderna. Não há a

preocupação do público em consumir bens produzidos por empresas

engajadas à preservação do meio ambiente. Para a maioria das pessoas, o

valor do produto ou serviço é determinante no momento da compra.

Como meta urgente para a humanidade do século XXI, devemos reduzir

o consumo desnecessário e voltar a produzir bens duráveis, em substituição

aos descartáveis, que são os responsáveis pela emissão de grande parte dos

resíduos tóxicos e exploração abusiva de recursos naturais. É bastante

obscuro o motivo pelo qual ainda não é obrigatória a utilização de energia limpa

nos novos veículos automotores, os quais já deveriam vir adaptados de fábrica

para esse consumo, uma vez que já existe tecnologia para tal fim.

Infortunamente, não temos mais cem anos para pensar em adaptações.

A resposta deve vir o mais breve possível, a fim de que todo esse processo

degradativo possa ter uma reversibilidade razoavelmente rápida.

O grande responsável por todo esse problema ainda é o homem. A

valorização do fator humano é a resposta para o problema. O capitalismo

herdado da revolução industrial do século XVIII é apenas um sintoma do

problema, que pode ser amenizado pela simples conscientização de nós

mesmos, devendo ser iniciada no interior de nossas casas e continuada na

escola e no ambiente de trabalho. É cada vez mais evidente a necessidade de

haver pessoas capazes de administrar recursos humanos em todas as fases da

vida.

Pequenas mudanças estão ocorrendo na conscientização da população

mundial, porém, ainda muito discretas. Já existe uma gama de consumidores

que preferem optar por consumir o produto de uma empresa ecologicamente

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correta, mesmo que o valor pago esteja acima de um outro bem produzido sem

essa prerrogativa. E, por esse motivo, tais empresas, aos poucos, estão

ficando em evidência e tomando mercado daquelas que ainda não aderiram à

consciência verde.

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BIBLIOGRAFIA

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Elsevier, 1998.

POLANYI, KARL. A Grande Transformação – As origens da nossa época. 13ª

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SENNETT, RICHARD. A Corrosão do Caráter. 2ª ed. RJ/SP: Editora Record,

1999.

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www.youtube.com, Aquecimento Global – Aquecimento Global e Nova

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INDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 4

DEDICATÓRIA 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

ECONOMIA DE MERCADO 10

1.1 Definição 10

1.2 Início do ciclo linear de consumo 11

1.3 Acúmulo de riquezas 12

1.4 Fordismo no mundo atual 13

1.5 Ser necessário 14

CAPÍTULO II

CICLO ECONÔMICO 17

2.1 O consumismo moderno 17

2.2 Êxodo rural 18

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2.3 Surgimento de novas necessidades 19

2.4 Bens duráveis 20

2.5 Planejamento estratégico 21

2.6 Individualismo nas empresas modernas 22

2.7 Autoridade gerencial 23

2.8 Contra-empreendedorismo 24

2.9 Chefias verticais e lideranças horizontais 26

2.10 Antigos capatazes 28

CAPÍTULO III

VIVER BEM 30

3.1 Flexibilidade 30

3.2 Comunicação 31

3.3 Desafios 31

3.4 Desenvolvimento pessoal 32

3.5 Elogios 33

3.6 Mudanças 35

3.7 Sustentabilidade 36

CONCLUSÃO 38