universidade cÂndido mendes instituto a vez do … · 2012-06-18 · leitura e a escrita através...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO INFANTIL E MÚSICA
A HARMONIA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
ALESSANDRA APARECIDA DOS SANTOS
ORIENTAÇÃO: PROFESSORA MARIA DA CONCEIÇÃO
MAGGIONI POPPE
BELO HORIZONTE, 18 DE DEZEMBRO DE 2009
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO INFANTIL E MÚSICA
A HARMONIA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto A Vez do Mestre, como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Educação Infantil e Desenvolvimento.
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
ALESSANDRA APARECIDA DOS SANTOS
3
AGRADECIMENTO
“Os meus sinceros agradecimentos às professoras,
coordenadoras e direção da Escola Municipal
Professora Helena Abdalla, que tanto apoiaram e
contribuíram para a efetivação deste trabalho.”
4
DEDICATÓRIA
“Educar é semear com sabedoria
e colher com paciência”. (Augusto Cury)
Dedico este trabalho a todos as professoras da
educação infantil e das séries iniciais, por seu
incansável trabalho na alfabetização de nossas crianças.
5
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar a importância da música, como
recurso didático a ser utilizado no processo de alfabetização de turmas de
educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, sob a luz das teorias
da aprendizagem, formuladas por Jean Piaget, Emília Ferreiro, Lev Vygotsky e
Howard Gardner, que embasam as propostas e o fazer pedagógico nas
escolas. Uma breve reflexão sobre a atual legislação referente à educação
infantil se faz necessária, a fim de auxiliar na compreensão do modelo
pedagógico adotado pelas escolas e da necessidade da busca e uso dos mais
variados recursos que possam contribuir para a alfabetização das crianças.
6
METODOLOGIA
O presente estudo desenvolveu-se através de pesquisa bibliográfica sobre a
legislação vigente referente à educação, as teorias da aprendizagem que
embasam a prática pedagógica, a concepção de infância e seu significado na
educação infantil atualmente, e a relevância do uso da música como recurso
didático capaz de despertar a criatividade na criança.
Para analisar as contribuições de um recurso didático na aprendizagem das
crianças é necessário buscar compreender como ocorre essa aprendizagem.
Nesse sentido, as teorias construtivista de Jean Piaget, a sócio-histórico-
cultural de Vygotsky, da aprendizagem da leitura e da escrita de Emília Ferreiro
e das múltiplas inteligências de Howard Gardner que explicam, por caminhos
diferentes, as formas pelas quais se concretiza o processo de aprendizagem,
auxiliam essa análise e podem apontar maneiras de utilização de um suporte
didático nas aulas.
Como fonte de pesquisa foram observadas duas turmas de uma escola
municipal de Belo Horizonte, por um período de quatro meses. Foram
observadas e analisadas atividades de leitura e escrita a partir das diversas
canções exploradas durante as aulas, da realização de jogos e brincadeiras
cantadas e nos momentos na rodinha.
7
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO.......................................................................................08
2- EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE.........................................................11
3- EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA .........18
4- A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL............................................22
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................26
6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................28
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INTRODUÇÃO
O tema deste estudo é resultado da observação de alunos, de 5/6 anos de
idade, recém-chegados ao ensino fundamental, apresentando uma postura, em
alguns momentos, rígida e em outros, imatura e inquieta. Demonstravam
postura rígida quando, no início do ano, questionavam e exigiam das
professoras aulas tradicionais, onde a escrita era a ação que atestava, para o
aluno e sua família, que o mesmo havia ingressado na educação básica e
formal. A postura imatura e inquieta podia ser percebida naquelas crianças
que, apesar de já estarem alfabetizadas ou adiantadas nesse processo, não
tinham desenvolvido habilidades básicas como coordenação motora,
concentração e percepção.
A educação é um direito garantido a todo cidadão na Constituição Federal, e
deve ser oferecida de forma integral e qualificada, proporcionando, desde à
educação infantil, condições para que criatividade, raciocínio, autonomia,
criticidade, e tantas outras habilidades sejam trabalhadas e desenvolvidas
efetivamente, a fim de garantir ao aluno o desenvolvimento de capacidades
que permitam sua transformação em um cidadão capaz de intervir em sua
realidade, promovendo modificações na sociedade em que vive.
Para que o processo de ensino-aprendizagem alcance as metas mencionadas,
torna-se imprescindível fazer deste um momento único e abrangente. Portanto,
deve ser objetivo primordial, na educação infantil, introduzir a criança no mundo
da educação formal, pautando-se no desenvolvimento de habilidade que
preparem o aluno para ir além da leitura de palavras. É necessário capacitá-lo
a fazer a leitura do mundo.
Percebe-se, há um certo tempo, uma tendência em introduzir, na educação
infantil, a alfabetização, colocando a criança, precocemente, em contato com a
9leitura e a escrita através de exercícios repetitivos e maçantes. Essa prática
vem sendo adotada, na maioria das vezes, visando atender aos pais que, por
não compreenderem as especificidades do processo ensino-aprendizagem e
da alfabetização especificamente, anseiam por ver os filhos lendo e
escrevendo o mais cedo possível.
Dessa forma, instituições que optam por essa prática negam a seus alunos o
direito de vivenciar, de forma qualificada, o processo de desenvolvimento de
habilidades, próprias da infância, que influenciam diretamente na formação do
futuro cidadão.
Nesse cenário, a música apresenta-se como um importante recurso didático, a
ser utilizado em sala de aula, desde a educação infantil, uma vez que, todas as
especificidades que a compõem, servem como instrumento para trabalhar
competências e habilidades que se encontram na base da aprendizagem. O
ritmo, a harmonia e a melodia são alguns aspectos desenvolvidos através do
contato com a música.
Aplicar esse conhecimento no processo ensino-aprendizagem na educação
infantil pode significar um ganho no rendimento das crianças, bem como na
qualificação do ensino.
A pesquisa desenvolvida teve como objetivo principal identificar a música como
um valioso suporte didático para turmas de educação infantil, apontando as
contribuições que o desenvolvimento de capacidades como ritmo, sensibilidade
e criatividade, podem propiciar ao educando no processo de aprendizagem.
O estudo desenvolvido foi baseado na revisão literária da legislação existente
sobre educação no Brasil, bem como da legislação específica referente à
educação infantil, buscando explicitar a concepção de infância que permeia as
propostas do Referencial Curricular Nacional para a Educação infantil e a
influência das matrizes teóricas desenvolvidas por Piaget, Vygotsky, Ferreiro e
Gardner na práxis pedagógica dos profissionais da educação
10Uma vez que as turmas observadas pertenciam à uma escola da Rede
Municipal de Belo Horizonte, fez-se necessário analisar as proposições
curriculares que embasam o fazer pedagógico do referido sistema de ensino, e
dessa forma, buscar estabelecer, através da pesquisa bibliográfica sobre a
música na escola e da observação in loco, as mais variadas formas de
aplicação desse recurso didático como facilitador do processo de ensino e
aprendizagem na educação infantil.
11
EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE
A lei Nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – em seu
artigo segundo concebe a educação como uma obrigação da família e do
Estado, tendo por objetivo o pleno desenvolvimento do indivíduo, sua
qualificação para o trabalho e para o exercício da cidadania. Baseando-se
nesse artigo, os responsáveis por pensar e desenvolver o processo
educacional têm, por obrigação, elaborar propostas de trabalho, que
possibilitem a todo indivíduo, a oportunidade de vivenciar momentos, os quais
vão despertá-lo e prepará-lo para a vida em sociedade. Cabe ressaltar que
esse processo deve ocorrer em todos os âmbitos, seja na família, igreja,
clubes, escola e trabalho, de forma processual e contínua.
Portanto, é um processo que tem início desde a concepção do ser humano. A
Constituição Federal de 1988 em seu artigo 208, inciso IV, estabelece a
educação infantil como um dever do Estado e um direito da criança, o que
também é apontado no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). A LDB
(título V, capítulo II, seção II, art. 29) considera a educação infantil como a
primeira etapa da educação básica, tendo por finalidade o desenvolvimento
integral da criança até os 6 anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade.
Sabendo da importância dessa fase da vida, é imprescindível que todos se
sensibilizem face à educação infantil, uma vez que essa etapa é fundamental
ao sucesso de todo processo educativo. Essa preocupação embasou a
construção do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que
aponta como objetivos específicos, desta etapa do processo educacional,
promover a ampliação das experiências infantis, o desenvolvimento integral da
12criança e a contribuição para que a interação e convivência social sejam
produtivas e marcadas pelos valores da solidariedade, liberdade, cooperação e
respeito.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, no volume I, p. 13,
propõe que as experiências oferecidas às crianças, nessa etapa da
escolarização, devem ser embasadas nos seguintes princípios:
> o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas
nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais,
étnicas, religiosas, etc;
> o direito das crianças a brincar, como forma particular de
expressão , pensamento, interação e comunicação infantil;
> o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis,
ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à
expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à
ética e à estética;
> a socialização das crianças por meio de sua participação e
inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem
discriminação de espécie alguma;
> o atendimento aos cuidados essenciais associados à
sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade.
Buscando colocar em prática os princípios e objetivos destacados tornou-se
imprescindível repensar as instituições responsáveis por esse atendimento –
creches e escolas pré-escolares, uma vez que o atendimento institucional para
a educação infantil surgiu, inicialmente, visando atender crianças pobres e com
caráter estritamente relacionado ao cuidado na ausência dos pais.
13A mudança na concepção da educação infantil como etapa inicial da
escolarização básica gerou uma transformação na constituição e organização
das instituições responsáveis por oferecer esse tipo de atendimento. Dessa
forma, surgiu a necessidade de organizar a prática pedagógica, de modo a
garantir a formação da criança, pautada nos aspectos físicos, emocionais,
afetivos, cognitivos e sociais. Para tanto, foi preciso estruturar o trabalho
pedagógico objetivando a aquisição de conteúdos específicos, permitindo,
assim, a inserção do educando no mundo do conhecimento formal, tendo como
ponto de partida o lúdico e o desenvolvimento sócio-afetivo. A diversidade de
experiências oferecidas, nessa fase, propicia condições claras para o
desenvolvimento de habilidades e capacidades que contribuem para a
construção do conhecimento.
Atualmente, entre os profissionais da educação, concretizou-se a idéia de
construção do saber, contrapondo à vertente da simples transmissão, difundida
no século passado, onde o professor se apresenta como um observador
atento, mediando e intervindo no processo ensino-aprendizagem. Para
alcançar sucesso na empreitada esse profissional deve atentar para a
necessidade de oferecer conteúdos significativos e próximos à realidade do
aluno, permitindo que este elabore e experimente suas hipóteses, o que facilita
sua compreensão.
A análise e compreensão das diversas teorias de aprendizagem são de suma
importância para a organização do fazer pedagógico baseado na construção do
conhecimento. Ao longo dos últimos dois séculos pensadores desenvolveram
diversas teorias visando explicar as formas pelas quais um indivíduo aprende.
A teoria inatista defendia a idéia de que a aprendizagem acontecia de dentro
para fora, ou seja, era um fenômeno relacionado à capacidade congênita do
sujeito de desempenhar tarefas ou de assimilar um conhecimento.
No outro extremo a teoria ambientalista considerava a aprendizagem como
fenômeno determinado pelo meio no qual a criança estava inserida,
acontecendo de fora para dentro. Nesse caso a aprendizagem era considerada
14como um processo relativo às respostas que o indivíduo dava aos estímulos
gerados pelo meio.
A teoria interacionista surgiu como ponto de equilíbrio entre as duas primeiras,
ao defender a aprendizagem como um processo de interrelação entre o sujeito
e o objeto. É a partir da interação entre sujeito e objeto que o aprendiz absorve
as informações que deseja daquilo que se quer conhecer. Dentre o conjunto de
teorias que defendia a idéia da interação, destacou-se como um apoio
importantíssimo aos educadores, as teorias construtivistas elaboradas por Jean
Piaget e por Emília Ferreiro.
Piaget estudou a origem do conhecimento, o que é possível compreender ao
analisar o significado das palavras que nomeiam sua teoria: Epistemologia
Genética – epistemo significa conhecimento, logia, estudo, e genética vem da
palavra gênese, significando origem. Piaget buscou respostas observando
crianças, o que lhe permitiu explicar como uma pessoa constrói o
conhecimento, desde o nascimento até a fase adulta.
Por ser um psicólogo, Piaget elaborou uma explicação psicológica para o
desenvolvimento da inteligência humana. Porém, a pedagogia e seus
profissionais apropriaram-se dessas informações para conhecer e entender a
forma como os alunos aprendem.
Ao definir o processo de desequilíbrio, assimilação, acomodação e equilíbrio
como etapas do ato de aprender, Piaget explicitou como um sujeito passa de
um estágio de conhecimento a outro mais elaborado, passando do
desequilíbrio ao equilíbrio, através de assimilações e acomodações constantes.
Segundo Piaget, o que nos move para a aprendizagem é o desequilíbrio entre
o que conhecemos e o que há para ser conhecido.
Essas etapas são facilmente observadas em qualquer pessoa. Um exemplo
prático é uma criança que chega na escola desconhecendo totalmente o código
alfabético e, com o passar do tempo, sente-se inquieta e insatisfeita
conhecendo algumas letras. Essa inquietação leva a criança a buscar
15informações que lhe permitam escrever outras palavras, através de erros e
acertos. Dessa forma, a criança vai modificando e reorganizando seus
conhecimentos, adquirindo condições para avançar.
Seguindo as idéias elaboradas por Jean Piaget, a psicóloga Emília Ferreiro
propôs um novo olhar sobre a alfabetização baseada no que nomeou de
Psicogênese da Língua Escrita. A pesquisa se deu em torno do
desenvolvimento da linguagem infantil e foi motivada pelos altos índices de
fracasso escolar observados nas escolas mexicanas. Ferreiro investigou, junto
com Ana Teberosky, a forma pela qual as crianças constroem hipóteses
lingüísticas sobre o sistema de escrita. De acordo com os estudos de Emília
Ferreiro, toda criança passa por cinco fases de desenvolvimento, nas quais
constrói hipóteses diferenciadas sobre a leitura e a escrita, designadas por fase
das garatujas, pré-silábica, silábica, silábica-alfabética e alfabética.
Ao considerar a criança como um ser ativo em sua ação de conhecer e
construtora de suas hipóteses sobre a leitura e a escrita, Ferreiro aponta o
professor como medidor no processo ensino-aprendizagem, uma vez que,
segundo esses estudos, o ato mais importante nesse processo é o de
aprender, é a ação do aprendiz sobre aquilo que deseja conhecer que o torna
agente da sua própria aprendizagem.
A aprendizagem, de um modo geral, permite e estimula o processo de
desenvolvimento do indivíduo, pois, envolve quem ensina, quem aprende, e as
relações estabelecidas através de objetos e do meio no qual se dá tal
processo. Essa idéia foi a base da teoria sócio-histórico-cultural da
aprendizagem, desenvolvida por Lev Vyotsky. Segundo o teórico, a
aprendizagem se dá a partir das interações sociais realizadas pelo sujeito que
aprende.
Pensando a aprendizagem como um produto da interação do indivíduo com
outros e com o meio, Vygotsky elaborou o conceito de zona de
desenvolvimento proximal, a partir de outros dois conceitos: nível real e nível
potencial de desenvolvimento.
16O nível real diz respeito ao ciclo de desenvolvimento já completado, onde o
sujeito é capaz de realizar algo de forma independente, demonstrando
aquisição clara e significativa de determinado conhecimento. O nível potencial,
por sua vez, refere-se a um conhecimento em fase de amadurecimento, aquilo
que o sujeito pode fazer mediante auxílio de outro.
Vygotsky caracteriza a zona de desenvolvimento proximal como a distância
entre os dois níveis, configurando-se como um domínio em constante
transformação, uma vez que, o aprendiz que recebe auxílio para realizar uma
tarefa em um dado momento, no outro, já o faz de modo autônomo (OLIVEIRA,
1993).
A escola visando contextualizar e dar significado real à aprendizagem dos
alunos deve pautar o fazer pedagógico nessas idéias, considerando que o
sucesso do trabalho estará embasado na reconstrução e reelaboração
constantes, por parte dos alunos, dos conhecimentos que são culturalmente
construídos e socialmente transmitidos.
Para Rego (2002, p. 71),
...o desenvolvimento pleno do ser humano depende do
aprendizado que realiza num determinado grupo cultural, a partir
da interação com outros indivíduos da sua espécie. Isto que dizer,
por exemplo, um indivíduo criado numa tribo indígena, que
desconheça o sistema da escrita e não tem nenhum tipo de
contato com um ambiente letrado, não se alfabetizará. O mesmo
ocorre com a aquisição da fala. A criança só aprenderá a falar se
pertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, as condições
orgânicas (possuir o aparelho fonador), embora necessárias, não
são suficientes para que o indivíduo adquira a linguagem.
Além de estar atento às condições sócio-culturais dos alunos, os profissionais
da educação estão focando suas atenções para a teoria elaborada por Howard
17Gardner. Trata-se da teoria das “Múltiplas Inteligências”, que define por
inteligência a capacidade de resolver problemas ou criar produtos que sejam
valorizados dentro de um ou mais espaços culturais. Gardner propõe a
existência de sete competências humanas ou inteligências, relativamente
independentes entre si. São elas: lingüística, lógico-matemática, musical,
espacial, interpessoal, corporal cinestésica e intrapessoal.
Por ser um estudo relativamente novo, esse conceito precisa ser aprofundado,
o que pode gerar a descoberta de outras inteligências. Porém, é inegável o fato
de que essa teoria tem auxiliado os professores na busca incessante por
resposta a cerca da facilidade / dificuldade dos alunos em aprender um ou
outro conteúdo, desenvolver determinadas habilidades e competências que
contribuem no processo ensino-aprendizagem.
Atualmente, os profissionais da educação, independente do nível de ensino
que atuam, enfrentam uma série de desafios, deparando-se cotidianamente
com uma gama de novos paradigmas que interferem diretamente na prática
docente. Desse modo, é de fundamental importância, a releitura das várias
teorias de aprendizagem desenvolvidas e já consolidadas no cenário científico,
bem como, uma constante atualização dos conhecimentos, ficando atento às
novidades que surgem e sua aplicabilidade à realidade educacional na qual
esteja inserido.
18
EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA
Antigamente, a criança era vista como um homem em miniatura, um ser
inacabado, sem valor positivo, ou qualitativamente diferenciado. Segundo
ARIÉS (1978) a descoberta da infância iniciou-se no século XIII, evoluindo ao
longo dos anos, com a contribuição importantíssima dos artistas, que passaram
a retratar as crianças. Essa exposição infantil modificou os costumes familiares,
colocando as crianças como o centro das atenções. A educação infantil
recebeu maior atenção, passando das mãos dos familiares para as instituições,
principalmente, a igreja.
A criança que era vista com uma certa imagem de “inocência”, de candura
moral, passou, atualmente, a ser percebida de forma mais realista. A
concepção de infância, hoje, é enriquecida por apropriações e releituras
baseadas nas teorias psicológicas e pedagógicas. Os defensores dessas
teorias, via de regra, defendem a idéia de que é imprescindível garantir espaço
para o brincar, o afeto e o limite na primeira infância, pois, entende-se que a
criança não é um mini-adulto. Ao contrário, é um ser em formação, capaz de
estabelecer relações com o mundo que a cerca. Por isso, a natureza das
relações sociais, emocionais e culturais deve ser o mais positiva possível para
garantir a formação de um ser consciente de seus direitos e deveres.
Ao considerar a criança como ser social e histórico, em constante
transformação, é preciso considerar, também, que a mesma é parte integrante
de uma organização familiar, inserida em uma sociedade, uma cultura e um
tempo histórico que determinam sua formação enquanto sujeito no mundo em
que vive.
A percepção da criança como sujeito e das especificidades de seu
desenvolvimento foi alvo de diversos estudos, gerando uma série de teorias a
respeito. A psicologia, através de vários pesquisadores, analisou a criança por
ângulos, os mais variados possíveis, proporcionando subsídios para uma maior
19compreensão de como se constitui o ser humano, desde o seu nascimento,
além de explicar as maneiras como o meio influencia esse processo.
Atualmente a educação das crianças fica a cargo, em primeira instância, da
família, e depois, da escola. À primeira cabe ensinar as noções de certo e
errado, os limites, as primeiras regras sociais, enfim, dar início ao processo de
socialização da criança. A segunda, por sua vez, deve ampliar as experiências
desse indivíduo, a fim de aprofundar esses conceitos, além de desenvolver a
aprendizagem do conhecimento formal.
Entretanto, a execução dessas tarefas não tem sido satisfatória, uma vez que a
família está, cada vez mais, transferindo suas responsabilidades para a escola,
pois, observamos crianças entrando, a cada dia, mais novas, para o sistema
educacional, seja ele no formato de creches ou de escolas infantis.
O ingresso precoce das crianças na escola se deve à crescente necessidade
dos pais em oferecer melhores condições de vida aos filhos, o que tem
obrigado pais e mães a sanar essas dificuldades através do trabalho fora de
casa. Outro fator que explica a transferência de responsabilidade da família
para a escola diz respeito ao grande número de atividades desenvolvidas pelas
crianças, tais como, escola de esportes e de línguas, o que as afasta de casa
e da companhia dos pais por um tempo maior.
A indefinição de papéis nas famílias, principalmente, naquelas em que as
crianças ficam sob a responsabilidade de empregadas, tias, avós, configura-se
como outro ponto crucial no processo de formação do indivíduo. Nesses casos,
geralmente, o adulto que passa maior tempo com a criança tem dificuldade em
se entender com os pais, no sentido de assumirem uma mesma postura diante
dos pequenos nos momentos difíceis e conflituosos. Essa indefinição de
posturas acaba por gerar dificuldades de percepção, por parte da criança, do
que é certo ou errado, e o estabelecimento, por parte dos pais, de limites e
regras.
20As crianças chegam à escola, trazendo consigo, toda expectativa dos pais, que
esperam que professores ensinem, além da leitura e escrita, as noções acima
citadas, regras de convivência, enfim, transformem os filhos em seres sociais.
Fica, para a escola, a grande tarefa de socializar através do desenvolvimento
de uma relação interpessoal mediada por regras que vão sendo ensinadas,
reelaboradas e praticadas nesse espaço.
Relatos de professoras de escolas infantis e de séries iniciais do ensino
fundamental, da Rede Pública de Belo Horizonte, revelam o perfil dos alunos
que estão chegando às salas de aula.
Há crianças extremamente infantilizadas, com fala e comportamento de bebês,
dependentes dos pais ao ponto de serem carregadas no colo na chegada e
saída da escola, sem autonomia, tímidas e inseguras.
Existem aquelas totalmente independentes, que vão para a escola sozinhas
desde os cinco anos, ficam sozinhas em casa ou acompanhadas apenas por
um irmão ou outra criança mais velha. Essas são, em sua maioria, falantes,
participativas, mas em alguns casos, são agitadas, sem limites, não
conseguem obedecer ordens / regras.
Um outro grupo é composto por crianças mimadas, cujos pais, na tentativa de
compensar sua ausência ou distância na criação dos filhos, acabam por
tornarem-se permissivos. Essas crianças demonstram baixa tolerância à
frustração e muita dificuldade em conviver e dividir o espaço com os colegas,
entre outras.
E por último, há um grupo onde pais e/ou acompanhantes conseguiram
desenvolver autonomia e independência nas crianças, de forma que toda
mudança é recebida com tranqüilidade. Tanto o processo de formação com as
famílias como o processo de escolarização acontecem de maneira
interdependentes, favorecendo o crescimento global dessas crianças.
Diante dessa diversidade de perfis é preciso ter ciência de que o trabalho do
professor será intenso e desafiador, pois, cada criança apresentará uma
21maneira particular de entender e perceber o mundo, uma vez que, a família
jamais deixará de ser uma referência fundamental na constituição desse perfil.
Dessa forma, pode se afirmar que a escola tem que se preparar para receber
indivíduos pensantes, com desejos próprios, que vivem em ambientes e
realidades as mais variadas possíveis, além de contribuir, efetivamente, para a
continuidade do processo de construção da identidade da criança.
22
A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
“A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas,
emocionais, e cognitivas. Tem desejo de estar próxima às
pessoas e é capaz de interagir e aprender com elas de forma que
possa compreender e influenciar seu ambiente. Ampliando suas
relações sociais, interações e formas de comunicação, as
crianças sentem-se cada vez mais seguras para se expressar,
podendo aprender, nas trocas sociais, com diferentes crianças e
adultos cujas percepções e compreensões da realidade também
são diversas”. (Ministério Da Educação e Do Desporto. Secretaria
de Educação Fundamental, 1998, V. 2, p.21).
Ao perceber a criança como um ser social, a escola deve considerar o meio
social e cultural, ao qual ela pertence, estabelecendo alguns critérios para o
fazer pedagógico, a fim de promover uma formação ampla e enriquecedora
para essa criança. Nesse sentido, o trabalho pedagógico na educação infantil e
nas séries iniciais, onde se processa a alfabetização, deve ser dinâmico e
promotor de uma variedade de experiências que permitam o despertar de
habilidades e capacidades no aprendiz.
Diante desse grande desafio, a música surge como valioso recurso didático,
sendo utilizada para acalmar e disciplinar as crianças, tornar uma aula mais
interessante e, principalmente, como estímulo de diversas áreas do cérebro e
facilitador da aprendizagem. Segundo a teoria defendida por Gardner, o ser
humano é dotado de várias inteligências, sendo uma delas a inteligência
23musical, que apresenta como componentes centrais o tom (melodia) e o ritmo
(sons emitidos em determinadas freqüências auditivas e agrupados conforme
um sistema prescrito). Sabe-se que a área do cérebro responsável pela música
encontra-se muito próxima à área cerebral responsável pelo raciocínio lógico-
matemático. A música é reconhecida como um dos estímulos mais potentes
para ativar os circuitos do cérebro, contribuindo para a compreensão da
linguagem e para o desenvolvimento da comunicação, para a percepção de
sons variados e aprimoramento de outras habilidades.
Implementar a música na educação infantil e séries iniciais do ensino
fundamental, representa a possibilidade de desenvolver diversas habilidades
ligadas às áreas motoras, cognitivas e afetivas, promovendo a formação
integral dos alunos.
(...) A iniciação musical deve ter como objetivo durante a idade
pré-escolar, estimular, na criança, a capacidade de percepção,
sensibilidade, imaginação, criação, bem como agir como uma
recreação educativa, socializando, disciplinando e desenvolvendo
a sua atenção (...) (WINN, 1975, p. 32)
O contato com a música na educação infantil deve possibilitar o
desenvolvimento da coordenação motora geral, através da execução de gestos
e movimentos corporais, e da percepção e discriminação auditiva, habilidades
imprescindíveis para aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita. No
cotidiano da sala de aula o professor pode utilizar a música também como uma
forma de prender a atenção e concentração dos alunos, principalmente, os
mais inquietos, assim como meio de promover a interação do grupo.
Os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil (1998, V. 3, p. 71)
recomendam o uso de jogos e brinquedos musicais próprios da cultura da
criança e que são transmitidos por tradição oral, uma vez que “possibilitam a
24vivência de questões relacionadas ao som, ao silêncio e à música”, e
proporcionam o “desenvolvimento expressivo musical”. Na relação de jogos e
brinquedos musicais temos os acalantos, as parlendas, as cantigas de roda,
advinhas, entre outros.
A experiência com música antes do aprendizado do código convencional é
muito importante, uma vez que esse recurso é entendido, num trabalho
pedagógico, como um processo contínuo de construção que envolve a
percepção, o sentir, experimentação, imitação, criação e reflexão.
Observando crianças de 5 e 6 anos, durante as aulas foi possível perceber
inúmeros benefícios proporcionados pelos momentos em que a música toma
conta das salas de aula.
O primeiro benefício, e o mais visível, diz respeito à serenidade e calma
despertada nos alunos. O ambiente da sala fica mais tranqüilo, mesmo sendo
uma cantiga mais agitada. Segundo as professoras das turmas observadas, a
hora da música é esperada por todos, e representa o momento do
relaxamento, onde as crianças se descontraem, exercitam o corpo de forma
prazerosa, experimentam variados gestos, trabalham a coordenação motora, o
ritmo e a dança. Enfim, é um momento de alegria, harmonia e interação entre
todos, pois, cantando coletivamente, a criança aprende a ouvir a si e aos
outros, além de desenvolver atenção, cooperação e espírito de coletividade.
O segundo benefício, apontado pelas professoras, refere-se à aprendizagem. A
música facilita a aprendizagem dos conteúdos trabalhados. Elas usam a
música para ensinar as letras, números e conceitos, brincando com as palavras
em forma de canção. Com esse trabalho a compreensão e a memorização
ficam mais fáceis. Foi possível observar algumas crianças cantarolando
baixinho uma canção, enquanto realizavam atividades de escrita durante a
aula.
A utilização da música, em sala de aula, propicia, ainda, o desenvolvimento da
linguagem oral, uma vez que, cantando, a criança aprende novas palavras,
25além de desenvolver a habilidade de falar corretamente, uma vez que cantar
exige a prática do exercício do ouvir, compreender, memorizar a canção e/ou
parte dela. Outro fator observado é o avanço na coordenação motora através
dos gestos que, normalmente, acompanham as canções usadas na educação
infantil. A percepção e a memória auditiva, bem como a criatividade, também
acabam beneficiadas nesse processo, pois, repetir uma canção exige da
criança perceber e memorizar detalhes como seqüência de palavras, ritmo e
momentos de silêncio, dentre outros. Já a criatividade pode ser trabalhada
através da interpretação, improvisação, criação de uma nova cantiga a partir de
uma melodia (paródia). Isso as crianças fazem com certa facilidade e é
defendido nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e
Ensino Fundamental. Segundo os mesmos:
“... a ampliação da capacidade das crianças de utilizar a fala de
forma cada vez mais competente em diferentes contextos se dá
na medida em que elas vivenciam experiências diversificadas e
ricas envolvendo os diversos usos possíveis da linguagem oral.
(Ministério Da Educação e Do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental, 1998, V. 3, p. 134).
Portanto, pode-se concluir que o uso da música como recurso didático, além de
promover o desenvolvimento de todos os aspectos já citados, pode garantir a
ampliação do conhecimento cultural da criança, uma vez que, o professor pode
apresentar a seus alunos diferentes autores, ritmos e estilos musicais,
promovendo, assim, o contato, tanto com o cancioneiro infantil, como também
com a produção musical da cidade, do estado, do país e do mundo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, diante dos desafios encontrados na prática docente e da
necessidade de apresentar bons resultados nas avaliações sistêmicas, cabe ao
professor, cada vez mais, ampliar e atualizar seus conhecimentos através da
produção científica que está em constante renovação, do compartilhar dúvidas,
fracasso e sucessos com outros profissionais.
Além disso, faz-se necessário despertar na família o desejo e o sentimento de
responsabilidade e co-participação na escolarização das crianças, no sentido
de contribuir efetivamente nesse processo.
É necessário redimensionar e acreditar no potencial criador das crianças, o que
só se efetivará através de atividades lúdicas, que propiciem o exercício pleno
das funções simbólicas, da intersubjetividade e da construção do
conhecimento. Para tanto, torna-se imprescindível informar e conscientizar as
famílias a respeito da linha metodológica adotada pela escola, a fim de evitar
inquietações e expectativas equivocadas dos pais em relação à aprendizagem
dos filhos. É preciso esclarecer todos os aspectos que envolvem o processo de
alfabetização, e que, porventura, possam representar dúvidas para a família.
Diante da diversidade sócio-cultural dos alunos, cabe ao professor observar,
analisar e encontrar o método mais adequado para alcançar os objetivos
propostos no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, é necessário
tornar esse, um momento prazeroso para todos, uma vez que a escola se
configura como um espaço onde o indivíduo passa grande parte de sua vida.
Hoje vemos as tradições orais esquecidas pelas famílias o que,
conseqüentemente, proporciona o esquecimento de antigas brincadeiras e
cantigas de roda que serviam, antes, como fonte de aproximação, contato e
comunicação entre as crianças e os membros mais velhos das famílias.
27O resgate dessas tradições, pela escola, além de promover a aproximação
entre professor e aluno, pode garantir a manutenção da cultura popular, tão
importante na construção e fortalecimento da identidade dos indivíduos de uma
sociedade. Dentro desse contexto a música apresenta-se como elemento
potencializador da aprendizagem, meio de difusão do saber historicamente
construído por um povo, além de servir como fonte de inspiração e
manifestação de habilidades nas crianças, muitas vezes, não desenvolvidas,
seja por desconhecimento de sua existência ou por falta de oportunidades.
Sendo a aprendizagem efetiva do aluno o principal objetivo buscado pela
escola, é importante e necessário que esse processo seja permeado de
satisfação e prazer, tanto para quem ensina, como para quem aprende. É
sabido que a música contribui, de forma intensa, para o aflorar dessas
emoções. Portanto, compreendê-la como forma de representação da realidade
é reconhecer sua potencialidade enquanto mobilizadora da atenção e da
sensibilidade dos alunos, bem como instrumento canalizador da ludicidade no
projeto pedagógico da escola.
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