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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU MAYARA GOMES COELHO ADOÇÃO: A FAMÍLIA COMO ELO FUNDAMENTAL NO PROCESSO ADOTIVO ORIENTADORA: Professora Fabiane Muniz Niterói, 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

MAYARA GOMES COELHO

ADOÇÃO: A FAMÍLIA COMO ELO FUNDAMENTAL NO PROCESSO

ADOTIVO

ORIENTADORA: Professora Fabiane Muniz

Niterói, 2016

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MAYARA GOMES COELHO

ADOÇÃO: A FAMÍLIA COMO ELO FUNDAMENTAL NO PROCESSO ADOTIVO

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de

especialista em Terapia de Família

ORIENTADORA: Professora Fabiane Muniz

Niterói, 2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus por mais essa conquista; Aos meus

familiares que sempre estiveram presentes comigo nessa caminhada; Ao meu

marido que persistiu em me fortalecer nas dificuldades; Aos meus amigos pelo

companheirismo e entendimento; a todos que de alguma forma contribuíram para o

meu sucesso profissional.

.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha mãe Alcinéa, que sempre esteve do meu

lado, me direcionando e me encaminhando para que eu terminasse esse curso.

Dedico ao meu irmão Leandro e minha cunhada Cidinha que fazem parte

desde o meu nascimento até o meu crescimento individual e profissional.

Dedico ao meu marido Eduardo, pelo apoio incondicional quando eu mais

queria desistir do curso, e pelo incentivo aos meus estudos.

Dedico a minha amiga, companheira Patrícia, que estudou comigo

durante 5 anos consecutivos, e que sempre esteve me ajudando para que

completássemos mais essa etapa juntas.

.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo entender o processo de adoção e sua importância

para a família adotante, e para a criança inserida no contexto social e familiar. A

motivação principal para o estudo do tema, é a busca da imagem positiva do

processo de adoção, atentando-se as burocracias existentes, porém pertinentes e as

perspectivas sobre o olhar das famílias adotantes e para as crianças que são

inseridas nessas famílias. Com a pesquisa, foi designado o seguinte problema: Qual

a importância da família no processo de adoção de uma criança? Então, sob

diversos pontos importantes situados na pesquisa, a resposta se traduz onde a

importância da família no processo de adoção na vida de uma criança, seja na idade

que for, é essencial na busca do desenvolvimento dessa criança. Todos os aspectos

de sua vida, serão norteados por esta nova família, e todos os seus problemas

poderão ser minimizados com o processo de entendimento e compreensão a criança

que foi abandonada e que tem a nova chance de ser feliz. O processo de adoção

por mais burocrático que pareça ser, é necessário para que possa ser assegurado a

boa convivência entre família e criança, sem que haja nenhum obstáculo ou

impedimento que venha a prejudicar a adaptação das famílias com essa nova

realidade.

Palavras-Chave: Adoção. Família. Criança.

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METODOLOGIA

Será feita uma pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir de artigos,

livros ou sites que explorem o tema abordado. Na metodologia utilizada no trabalho

haverá como instrumento uma entrevista com uma família que adotou uma criança,

onde serão abordados os principais aspectos do trabalho.

O trabalho será desenvolvido de forma a explorar a importância de cada

um dos atuantes, e os papéis de cada um deles no processo de adoção.

A pesquisa tem como referencial bibliográfico, autores como BRAUNER,

M. C. C. que tem um livro intitulado como: O direito de família descobrindo novos

caminhos; FERREIRA, A. B. H., PAIVA, L.. D.; alguns artigos de sites, o Estatuto da

Criança e do Adolescente e alguns outros livros que serão contextualizados no

trabalho e estarão representados na bibliografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7

1. ASPECTOS HISTÓRICOS E LEGAIS SOBRE A ADOÇÃO........................... 9

1.1 O processo atual para adoção de uma criança ........................................ 9

2. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA ADOÇÃO .............................................. 17

2.1 O papel da família na vida da criança adotada.......................................... 17

3. A CRIANÇA ADOTADA E SUAS PERSPECTIVAS ....................................... 25

3.1 A importância de cada criança nas novas famílias................................... 25

3.2 Adoção por casais homoafetivos ............................................................... 29

CONCLUSÃO ...................................................................................................... 38

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 41

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INTRODUÇÃO

A adoção pode ser definida como um procedimento pelo qual uma criança

é levada para dentro de uma família onde os seus pais biológicos não fazem parte,

mas que são reconhecidos pela lei como seus pais. Podemos assinalar que a

adoção é também pode ser vista como uma maneira de atenuar a ansiedade vivida

pelas crianças na ausência dos pais biológicos e acima de tudo retirá-las das ruas,

instituições e favelas, proporcionando o que lhes é de direito: uma família e a

afetividade presente em seu interior.

Esse trabalho busca esclarecer algumas questões, do ponto de vista

psicológico, sobre a família e a sua função na adoção. Através deste estudo se

objetiva ter uma visão mais clara sobre o processo de adoção. Além de proporcionar

aprendizado e conhecimentos necessários para a formação dos profissionais

atuantes e também busca constituir um estudo auxiliar, de certa forma, a esclarecer

para a sociedade alguns aspectos importantes sobre a adoção.

O trabalho de conclusão apresentado diz respeito a proposta da pesquisa

teórica, sustentada por autores que contextualizam o processo de adoção e que

enfatizam a importância de cada um no processo, levando em consideração o

reconhecimento de pai e filho, mesmo que não biológico, mas de coração.

Importante ressaltar que, com base em toda a pesquisa realizada, o que

se pretende demonstrar é que a adoção não deve ser encarada como uma

alternativa social para dar solução ao caso dos menores abandonados, mas, sim,

deve ser atendida para fins de constituição familiar, sempre ensejando o real

interesse da criança e adolescente, no atendimento de seus direitos humanos

fundamentais, que possam ser atendidos e exercidos em lar substituto, através do

instituto da adoção.

Ao iniciar o primeiro capítulo, podemos identificar os aspectos históricos e

legais sobre a adoção, visto que esse é de vital importância para todo o processo

adotivo e estabelece os direitos dos filhos e os deveres dos pais para com filhos

adotivos. Esclarecendo também o processo atual de adoção de uma criança e

também alguns pontos a serem destacados como relevantes nesse processo.

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No segundo capítulo, temos a importância da família no processo de

adoção, os papéis que esta possui na vida da criança adotada e a importância e

relevância que tem para os adotantes.

No terceiro capítulo, foi pontuado sobre a criança, sobre o seu

desenvolvimento na família adotante, suas perspectivas, e a abordagem que elas

enxergam sobre os seus novos pais. E para exemplificar este capítulo, em anexo há

uma entrevista com uma adolescente que foi adotada com 4 anos de idade por uma

família que poderia ter mais filhos, mas fez a opção de adotar por amor.

A decisão de se adotar uma criança é muito importante e deve ser

analisada com muita seriedade pelo adotante, pois adotar é reconhecer no filho

gerado por outro, o próprio filho; é inserir uma criança em uma família, de forma

definitiva e com todos os vínculos próprios da filiação e, principalmente, porque o ato

de adotar é irrevogável, isto é, não pode ser alterado. Foi exposto também um pouco

sobre um tema bastante polêmico e atual, que é adoção por casais homoafetivos, e

a importância que estes tem e representam na vida de cada criança adotada.

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1. ASPECTOS HISTÓRICOS E LEGAIS SOBRE A ADOÇÃO

O estudo pretende analisar os aspectos e o processo existente e

pertinente a adoção, sendo abordado todos os documentos, análises investigativas,

e informações convenientes para que a família consiga adotar uma criança.

É um capítulo para que o leitor tenha a oportunidade de conhecer a

abordagem dos profissionais e também é uma forma de interagir com a lei, para

descobrir tudo que é necessário para uma adoção.

1.1. O processo atual para adoção de uma criança

Inicialmente, é necessário esclarecer a origem do termo “adoção”, que

conforme WEBER (2011), adoção é uma palavra derivada do latim “adoptione”, que

significa escolher, considerar. Ou seja, a palavra adoção é o ato dos pais

escolherem filhos para que sejam seus, já que não podem os ter biologicamente.

Porém, também há casos que a família adota por buscar a adoção como um sonho,

ou seja, pode ter filhos, mas deseja mesmo assim adotar uma criança. O ECA traz

uma perspectiva nova à adoção: buscar pais para crianças que os perderam, seja

por orfandade ou destituição do pátrio poder.

Segundo Ferreira (1999, p. 54) a adoção é “ação ou efeito de adotar;

aceitação voluntária e legal de uma criança como filho”. Ou seja, é você buscar e

conseguir algo que procura por espontânea vontade, aceitando a ideia de ter um

filho diante do processo legal pertinente.

Não se sabe quando e nem onde o tema surgiu, porém no decorrer da

história há relatos sobre a adoção de crianças e bebês. Paiva (2004, p. 35)

menciona a história de Moisés como uma das mais conhecidas:

Aproximadamente no ano de 1250 a.C., o faraó determinou que todos os

meninos israelitas que nascessem deveriam ser afogados. A mãe de um pequeno

hebreu decidiu colocá-lo dentro de um cesto de vime e deixá-lo à beira do rio Nilo,

esperando que se salvasse. Térmulus, filha do faraó que ordenara matança, achou o

cesto quando se banhava nas águas do rio, recolheu-o e decidiu criar o bebê como

seu próprio filho. Amamentado por sua mãe biológica, serva da filha do faraó,

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Moisés viveu anos como egípcio, transformando-se mais tarde em herói do povo

hebreu.

Observamos que o histórico de adoção já existe desde a antiguidade, não

de uma forma legal, porém esta já fazia parte da história da humanidade e com o

passar dos anos a essência da adoção permanece a mesma.

De acordo com o artigo 50, do ECA, de acordo com as novas regras:

§ 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período

de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da

Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis

pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

Ou seja, é extremamente importante a orientação e preparação para o

casal adotante, para que a criança ao pertencer a nova família, sinta-se acolhida e

segura.

§ 4º Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3º

deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar

ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação,

supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude,

com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela

execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de

crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais

habilitados à adoção.

Atualmente, para que a adoção seja realizada é necessário:

– Homem ou mulher maior de idade, qualquer que seja o estado civil e

desde que 16 anos mais velho do que o adotando; os cônjuges ou concubinos, em

conjunto, desde que sejam casados civilmente ou mantenham união estável,

comprovada a estabilidade da família; os divorciados ou separados judicialmente,

em conjunto, desde que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que

o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal;

tutor ou curador, desde que encerrada e quitada a administração dos bens do pupilo

ou curatelado; requerente da adoção falecido no curso no processo, antes de

prolatada a sentença e desde que tenha manifestado sua vontade em vida; família

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estrangeira residente ou domiciliada fora do Brasil; todas as pessoas que tiverem

sua habilitação deferida, e inscritas no cadastro de adoção.

- Documentação:

Identidade;

CPF;

Requerimento conforme modelo;

Estudo social elaborado por técnico do Juizado da Infância e da juventude

do local de residência dos pretendentes;

Certidão de antecedentes criminais;

Certidão negativa de distribuição cível;

Atestado de sanidade física e mental;

Comprovante de residência;

Comprovante de rendimentos;

Certidão de casamento (ou declaração relativo ao período de união

estável) ou nascimento (se solteiros);

Fotos dos requerentes (opcional);

Demais documentos que a autoridade judiciária entender pertinente;

Percebemos que a adoção, atualmente é um processo bem burocrático,

mas que é necessário em um contexto tão importante e profundo como o de adotar

uma criança.

Em abordagem à figura do adotante, é necessário ressaltar que o

essencial requisito é de natureza subjetiva, qual seja a vontade de adotar uma

criança, reconhecendo-a como seu próprio filho, oferecendo-lhe saúde, lazer, família

educação e amor. Após o processo de documentação ser finalizado e aceito, haverá

o estágio de convivência, ou a convivência da criança com a família adotada.

O estágio de convivência é o momento em que deverá ser observado se

haverá adaptação no relacionamento familiar entre adotando e adotante e, caso seja

afirmativo, efetivar-se-á a adoção, instituto que estabelece a filiação de maneira

irrevogável.

O prazo para o estágio de convivência será fixado pelo juiz, de acordo

com as peculiaridades de cada caso, no entanto, não há fixação legal de prazo

máximo ou mínimo, a flexibilidade do prazo dar-se-á de acordo com as diversas

situações existentes.

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Nos casos em que o interessado recebe uma criança ou adolescente sem

intervenção judicial para, posteriormente, pleitear a adoção, o estágio de convivência

deverá ser de prazo superior à convivência nos casos em que o adotado não tiver

mais de um ano de idade, ou, qualquer que seja a sua idade, já esteja na companhia

do adotante durante tempo suficiente para poder avaliar o relacionamento entre

ambos. Sobre o assunto citados no artigo 46, § 1º e 2º do Estatuto da Criança e

Adolescente.

O artigo 46, em seu parágrafo 1º, trata da dispensa do estágio de explica

o autor Valdir Sznick (1999, p. 379):

Quanto menor, na idade, a criança, mais fácil será a sua adaptação ao novo lar, pois do lar antigo poucas são suas recordações; quanto menor, mais fácil de ser amoldada e plasmada conforme a educação e ambiente dos pretendentes.

Ou seja, quanto mais nova for a criança, mais facilidade ela terá de lidar

com a nova família, e com a sua nova vida. E as perspectivas dela serão bem

maiores, e as da família também, em poder de fato, ensinar desde o início todas as

coisas. E é claro, a criança ao se desenvolver, somente terá as lembranças do seu

novo lar, porque para ela será o seu primeiro sempre.

A necessidade de uma família é indispensável não somente para os

bebês, mas para todos, sejam crianças, adolescentes ou adultos. É na família que

está a base do ser humano, sua fortaleza, de onde se adquire valores que

futuramente serão transmitidos. A família, o lar deve representar segurança e

proteção e deve ser repleta de respeito e de amor entre seus entes. Privar crianças

ou adolescentes da convivência em família é o mesmo que deixá-las abandonadas

“à própria sorte.”

De acordo com o que foi acima exposto espera-se que a Nova Lei

Nacional de adoção consiga diminuir essa triste realidade. Que a sociedade também

se conscientize, principalmente, os governantes e autoridades judiciárias fazendo

com que os direitos sejam realmente defendidos e respeitados. A partir da

realização do trabalho percebe-se que realmente há burocracia no procedimento da

adoção por parte das autoridades, há descaso por parte do Estado, mas também há

muito preconceito em nossa sociedade. Descartar uma criança porque ela não tem a

cor, a idade ou a saúde desejada é perder uma oportunidade de mudar a vida de

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alguém. É desperdiçar a chance, talvez única, de ser muito mais realizado, muito

mais completo, muito mais feliz.

É importante entender que não importa a origem de uma criança, porque

ela tem direitos iguais a todas, e se o adotante realmente o faz por amor, somente

transformará a vida dessa criança e consequentemente, transformar-se e criará

oportunidades para que a felicidade seja plena em seu lar.

Em relação à proteção da criança, a adoção se apresenta como uma das

possibilidades, porém Solon (2006, p.147) alerta que:

Uma vez colocada a criança em família adotante, não se pode assumir que esta seja a solução para a vida daquela criança e deixar de acompanhá-la, pois a construção das relações familiares não se dá de forma instantânea. Essa construção vai se dar de forma particular, a depender das redes de significações que se estabelecem em cada família.

De acordo com Levinzon (2006), o auxílio da orientação psicológica aos

pais adotivos se apresenta como um recurso importante para prevenir distúrbios na

relação familiar e no equilíbrio emocional do filho, pois se faz necessário que estes

pais compreendam que a construção do relacionamento com seu filho, se dá no

cotidiano, que possibilita vivenciar, progressivamente, as singularidades e cuidados

de um processo adotivo. Porque é preciso uma orientação profunda acerca dos

envolvidos em uma adoção para que se construa uma relação de amor e paz entre

ambos.

No que tange à adoção, uma prática comum utilizada no Brasil é a

denominada “adoção à brasileira.” Um dos motivos mais relevantes que levam à

prática da mesma é a questão do excesso de burocracia que existe no processo

judiciário de adoção. A adoção à brasileira, no conceito de Eduardo Oliveira Leite

(2005, p. 255) consiste em:

[...] registrar o filho de outra pessoa como sendo próprio sem passar pelos trâmites adotivos legais, o que, além de constituir crime de falsidade ideológica punível por lei, de fato expõe os pais adotivos à ausência de proteção legal no caso de os pais ou mãe biológicos desejarem ter seu filho de volta.

Nesse tipo de adoção, a mãe biológica entrega seu filho diretamente à

outra família ou pessoa para que essa possa cuidar da criança e tê-la como filho,

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sem passar pelos ditames legais. O que ocorre nesse tipo de adoção, é que a mãe

biológica entrega o seu filho a uma família ou pessoa escolhida por ela mesma, sem

o mínimo de segurança legal, principalmente no tocante à irrevogabilidade da

adoção.

Em muitos casos, a adoção à brasileira ocorre devido a certa demora no

processo legal que trata do instituto da adoção e, alguns pretendentes à adoção

aproveitam-se da situação de mães que querem se desfazer logo do vínculo

maternal e utilizam-se dessa prática ilegal.

O que pode acontecer com essa prática, é que os pais biológicos podem

melhorar de condição financeira ou por outros motivos quaisquer que sejam e querer

seu filho de volta. E como a família adotante não está amparada por lei, sobre a

adoção, perderá o seu filho para seus pais biológicos, porque o direito continua

sendo deles.

O amor parental adotivo, como qualquer forma de amor, é algo

construído. Sendo assim nem todos os casais que se tornam pais sentem de

imediato o amor pelo filho e vice-versa. Este amor parental seja ele constituído por

laços de sangue ou não, está sujeito a imperfeições e oscilações, pois ainda hoje a

ciência com a sua evolução não pode garantir que filhos gerados biologicamente

serão felizes, que amará e será amado pelos seus pais. Não há garantias de que

este filho será saudável e inteligente, o que vem a confirmar que não desejar um

filho adotado por que este pode estar mais predisposto a desenvolver “problemas”

não passa de um mito preconceituoso cultivado pela sociedade, que se mostra

extremamente evoluída e moderna de um lado e absolutamente homeostática de

outro.

Resumindo, a adoção é um ato de amor que possibilita que duas partes

das que compõe este fenômeno saiam ganhando: a criança entregue para adoção

que ganha uma família e a família que ganha a oportunidade de amar uma criança

que foi rejeitada por algum motivo.

Desde a Constituição de 1988, a adoção no Brasil é vista como uma

medida protetiva à criança e ao adolescente. Isso quer dizer que, muito além dos

interesses dos adultos envolvidos, a adoção é um processo que prioriza o bem-estar

das crianças e dos adolescentes que estão em situação de adoção. O ponto

determinante para o juiz que julgará o processo de adoção é se o processo trará

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para a criança oportunidades de desenvolvimento físico, psicológico, educacional e

social.

Aqueles que decidem entrar com o pedido de adoção devem iniciar um

longo processo. Entre reunir documentos, comprovar aptidão, estabilidade

psicológica e financeira e entrar na longa lista de espera, podem passar anos.

Entretanto, a felicidade da paternidade e a possibilidade de proporcionar um lar

afetivo e seguro para que uma criança possa crescer e se desenvolver plenamente é

razão suficiente para todos aqueles que decidem abrir suas vidas para uma criança

ou um adolescente, vítimas de grande sofrimento em um momento tão prematuro de

suas vidas.

O direito é a mais eficaz técnica de organização da sociedade. Cabe ao

Estado organizar a vida em sociedade e proteger os indivíduos, devendo intervir

para coibir excessos e impedir colisão de interesses (AZEVEDO, 2009, p.22).

Para Alves (2008, p.482) “o direito de família atende a necessidade de

enlaçar, no seu âmbito de proteção às famílias, todas elas, sem discriminação, sem

preconceitos”.

O tema adoção faz parte do Direito de Família, está alinha-se entre os

mais complexos temas do conjunto de conhecimentos específicos que tem por

centro o ser humano em formação. É um assunto que nos leva a uma grande

reflexão, pois não se trata apenas de um procedimento legal para ganhar

legitimidade em relação a uma criança ou a um adolescente, muito pelo contrário, a

adoção nos leva a dar e receber muito amor do nosso semelhante.

A primeira vez que a adoção pareceu em nossa legislação foi em 1828, e

tinha como função solucionar o problema dos casais sem filhos (PAIVA, 2004). Esta

foi, também, outra influência cultural de nossos antepassados: associar adoção

como recurso para casais sem filhos, como se esta forma de filiação se prestasse

apenas para solucionar o caso do casal infértil.

A adoção passou a ser vista como a opção de continuar o ciclo familiar

daquelas famílias que não possuíam quem garantisse o culto doméstico. Através de

uma crença existente naquela época afirmavam serem os vivos governados pelos

mortos. Com base nisso, os ancestrais falecidos ofereciam preces e sacrifícios para

que pudessem proteger seus descendentes. A adoção, assim, veio a ser a

responsável por perpetuar a família e sua religiosidade.

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Ao falar de adoção independente do nível social, há algo que infelizmente

tem se mantido presente nesse tema, um verdadeiro inimigo que deve ser eliminado

tanto dos que pretendem adotar quanto dos que são adotados, é o que chamamos

de preconceito. Aquele revestido de hipocrisia e egoísmo sem medida, aquele que

prefere o abandono social e afetivo esquecendo o amor incondicional e sincero.

Entre os questionamentos e pensamentos individualistas encontramos a

curiosidade sobre a origem do adotado e a necessidade de semelhança dos traços

físicos do adotante ou até mesmo, os traços vistos pela sociedade como padrões a

serem desejados. É como se a criança fosse praticamente um objeto de consumo e

os “consumidores” buscassem aquele que mais se adequasse aos seus desejos, é o

olhar sob a “embalagem” que determina a primeira impressão se você vai levar ou

não o “produto”. O que é caracterizado como um absurdo, a criança é um ser digno,

cheio de vida e esperança, que espera ser feliz em uma família que o proteja, cuide,

e o ame acima de todas as coisas.

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2. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA ADOÇÃO

O estudo acerca desse segundo capítulo remete a importância da família

no processo de adoção, mas principalmente a importância que esta tem na vida da

criança que está sendo adotada. A função da família, seus deveres, a necessidade

dessa estruturação na vida de cada criança.

Fazer parte de um grupo familiar, uma família, é algo vital para que a

criança possa se constituir subjetivamente. A família tem responsabilidade de

transmitir os valores ideológicos, a cultura, os costumes e bem como, proporcionar

condições para o indivíduo adquirir a linguagem e, dessa forma, se inserir e tomar

parte do mundo.

2.1 O papel da família na vida da criança adotada

Segundo Ferreira (1986, p. 755) o termo família designa: 1. Pessoas

aparentadas que vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e

os filhos. 2. Pessoas do mesmo sangue.

A família surge inicialmente com um grupo natural de indivíduos unidos

por uma dupla relação biológica: a geração, que dá os componentes do grupo; as

condições do meio que o desenvolvimento dos jovens postula e que mantém o

grupo na medida em que os adultos geradores asseguram sua função (LACAN,

2008, p. 7).

De acordo com Lacan (2008), nos animais essa função é substituída por

comportamentos instintivos, que por muitas vezes se apresentam de formas

complexas. Não se pode obter das relações familiares outros fenômenos sociais

observados nos animais. Estes se apresentam, ao contrário, muito diferentes dos

instintos familiares, de forma que em pesquisas mais recentes, são aproximadas de

um instinto original, chamado de interação.

A família é o primeiro grupo ao qual o indivíduo pertence, antigamente a

família era formada por pai, mãe e filhos, este considerado o modelo padrão. Porém,

atualmente existem novos arranjes familiares, novos modelos de famílias, que de

sangue ou não, buscam essa interação incessante pelo bem-estar de todos os seus

membros. As famílias padrões foram sendo desestruturadas para darem espaço a

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novas opções, novas formas que antes eram chamadas de inadequadas e hoje, são

aceitas não com tanta naturalidade para uns, mas para uma parcela significativa de

pessoas que acreditam que o verdadeiro sentimento e o sentido de família não está

somente no sangue, e muito menos nos padrões que a sociedade normalmente

impõe. Está na valorização do ser humano, de seu espaço individual ali naquele

ambiente familiar, onde devem-se cuidar uns dos outros e zelar pela harmonia dessa

família que surgiu para ser estruturada diferentemente de padrões “adequados”.

Ariès (2006) explica que no século XVII desenvolveu-se por diversos

países da Europa o costume de se valorizar o sentimento de família formada por

pais e filhos, sendo exaltada a comparação das semelhanças físicas, ou seja,

biológicas, entre os genitores e seus descendentes. Embora houvesse uma

valorização do laço familiar que unia aquelas pessoas, não deixava de haver uma

busca pela semelhança com os laços biológicos porque a criança seria a

representação, a imagem viva, dos seus pais.

Para Vargas (1998a), especialmente nas adoções tardias, "é de

fundamental importância a preparação e o acompanhamento da família, específico à

situação de crise que se instala a partir da formação do novo grupo familiar" (p. 14).

Segundo Vargas (1998b), num trabalho de preparação, com aproximações

sucessivas, pode-se chegar a uma adequação da família sonhada com a família

possível.

Notamos que a família é um grupo tão importante, que na sua falta, as

crianças ou adolescentes precisam de uma “família substituta” ou devem ser

abrigados em uma instituição que cumpra as funções materna e paterna. A família

também reconhecida como um lugar de procriação — é responsável pela

sobrevivência física e psíquica das crianças.

Conforme Lacan (2008), de todos os grupos humanos, “a família

desempenha um papel primordial na transmissão da cultura, pois a família

predomina na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua

acertadamente chamada de materna”. Dessa forma, preside os processos

fundamentais do desenvolvimento psíquico.

Antes do nascimento de um filho, os pais têm a preocupação com a cor

da roupa, azul ou rosa, a escolha do nome. A espera de uma menina é diferente da

espera de um menino. Podemos notar que desde já a criança vai ocupando um lugar

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na família, no cenário social e o que a espera são os hábitos da cultura

metabolizados pela sua família.

E quando toda essa relação não se dá, ou seja, quando os pais não

podem ter filhos, ou até mesmo quando escolhe adotar uma criança, eles buscam

esse mesmo sentido. Buscam priorizar o desenvolvimento daquela criança em um

lar em que ela mereça estar, para que cresça uma pessoa de bem, guiada por bons

condutores e que saibam respeitar ao próximo e lutar por seus ideais. É esta a

função da família no processo de adoção, a de cuidar, de zelar por seus filhos, de

proteger aquele ser das coisas perversas, de olhar cautelosamente aos cuidados

daquela criança, de entender, compreender, dar limites, dar espaço para que cresça,

de ter paciência para as suas fases, de saber apreciar que é o seu filho ou filha que

está buscando seu próprio espaço no mundo, e que de sangue ou não, o amor que

há envolvido não tem que ser diferente. Somente não foi gerado por aquela mãe,

mas é mãe do mesmo jeito. Porque a verdade é que mãe é aquela que cria, que

protege, que dá sua vida pelo seu filho.

Podemos dizer que a família reproduz, em seu interior, a cultura que a

criança internalizará. Segundo Bock (1999, p. 251):

é importante considerar aqui o poder que a família e os adultos têm no controle da conduta da criança, pois ela depende deles para sua sobrevivência física e psíquica. Basta lembrar que uma criança de oito meses depende de alguém para obter alimentos e que uma criança de três anos depende de alguém para levá-la ao médico, A criança necessita, também, das ligações afetivas estabelecidas com seus cuidadores e as quais ela não quer (não pode!) perder. O medo de perder o amor (e os cuidados) desses adultos que lhe são tão importantes é um poderoso controlador de sua conduta e ela, pela “vigésima” vez, recita para o vizinho aquela poesia que tanto a aborrece, mas faz a alegria do pai no exercício de exibição dos dotes do seu filho.

Sabemos que a primeira educação é muito importante, porque ela auxilia

na formação do ser humano, e por isso é necessário observar que a família tem em

suas mãos o controle da vida da criança, porque é nesta família que a criança

cresce, se desenvolve, e se espelha. Por isso a importância dos exemplos positivos,

dos valores de bem, porque a criança necessita compreender que o seu mundo está

sendo formado, não só pela sua personalidade, mas pelas atitudes das pessoas ao

seu redor.

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A adoção tem como finalidade responder as necessidades das crianças e

dos pais, permitindo que ela encontre uma nova família, um ambiente afetivo

satisfatório e ao mesmo tempo formativo. A adoção, por sua vez, representa uma

possibilidade para pais que não podem ter filhos e que desta maneira tem a

possibilidade de exercer este papel. Supomos então que todo casal possui o desejo

de ser pai/mãe e constituir uma família. Ter um filho significa ter disponibilidade de

amar e assumir responsabilidades, desejar, oferecer carinho e proteger esse filho.

Educar filhos é uma tarefa complexa, independentemente da forma de

filiação. O processo de desenvolvimento de qualquer criança – biológica ou adotada

– acontece diariamente, onde diferentes fases se sucedem a outras, trazendo para

os pais constantes desafios e a necessidade de adaptar-se a novas demandas que

vão surgindo no cotidiano familiar.

Todas as famílias, adotivas ou biológicas, inevitavelmente, sofrem

influências marcantes da contemporaneidade e da complexidade da vida atual,

porque o contexto está pautado em valores que estimulam o consumo exagerado,

onde supervaloriza a individualidade e o egocentrismo que parece uma marca dessa

geração. A mídia com toda certeza, é a parte primordial de toda essa transformação,

pois é através da comunicação que a criança se apropria de um mundo “criado para

ela”, mas que não é o dela.

A psicóloga Lidia Natália Dobriankyj Weber, (2003) em seu livro Aspectos

Psicológicos da Adoção, cita que tanto os pais como os filhos adotivos dizem ter

sentido dificuldades durante o processo de adaptação. Os pais relataram que

tiveram mais dificuldades nas questões relativas a educação, pois as crianças um

pouco maiores já possuíam um certo discernimento e sabiam dizer não para

algumas coisas e tentavam impor suas vontades diante de questões que não

estavam satisfeitas. Entretanto, essas dificuldades também podem acontecer com

um filho biológico e corresponde às fases de desenvolvimento em que a criança está

e os pais não vivenciaram a experiência de serem pais desde o início, posto que

começaram sua jornada com crianças com vontades e opiniões.

No caso do filho biológico, os vínculos de amor e confiança se iniciam na

vida intrauterina e se fortalecem diariamente durante a formação da criança e às

vezes, como o de respeito, só se consolidam na fase adulta. Quanto maior a idade

do adotando, maior será o tempo necessário para estabelecer os novos vínculos e

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romper os vínculos anteriores, uma vez que estes estarão mais fortemente

impressos e presentes na sua personalidade e comportamento.

Berthoud (1998) afirma que, ao considerarmos as expectativas sociais, os

desejos inconscientes e as possibilidades de vivência da função parental, há sempre

uma conotação idealizada no modo como esta função é buscada e sentida,

independentemente do tipo de paternidade (biológica ou afetiva). Também para ela,

os elementos afetivos e cognitivos constituintes da maneira como o indivíduo

assume a função parental vão se integrando e alterando ao longo das diferentes

fases do ciclo vital. Desmistificar a paternidade/maternidade ao assumir que esta

pode se dar ou não, independentemente dos laços consanguíneos, capacita a

conceber a adoção como uma possibilidade de se exercer/assumir a função

parental.

Adotar é dar a uma criança a oportunidade de ter um lar, uma família de

forma definitiva, com todos os vínculos próprios da filiação, a oportunidade de

crescer, crescer para a vida, a adoção deve ser vista como a oportunidade de se ter

um filho que se decidiu ter.

É um ato que se faz por vias legais, pelo qual se criam laços semelhantes

à filiação biológica, ou seja, o filho adotivo tem todos os diretos e deveres que um

filho biológico teria, a adoção não poderá ser alterada, é irrevogável, é um ato de

amor e não um simples contrato, não é sentimentalismo, nem caridade, razão pela

qual deverá ser o resultado de uma decisão muito bem pensada e madura.

Um filho se adota por amor, os pais adotam e também são adotados por

esse filho, para amá-lo não é preciso que ele saia de seu ventre, nem que seu

esperma e seu óvulo tenham colaborado para que ele viesse ao mundo, ele não

precisa ser gerado dentro das paredes de sua casa para ser amado, as raízes se

formarão na alma humana, tornando-se um amor incondicional.

Os padrões de interação entre pais e filhos diferem, onde alguns

merecem ser destacados, conforme Helen Bee (1996) nos cita, “o tom emocional da

família, a expansividade do progenitor em relação à criança, a maneira pela qual o

controle é exercido e a qualidade e quantidade de comunicação” (p.372). Estas são

características da dimensão familiar responsável pela qualidade do relacionamento

onde se for trabalhado de forma adequada, mantém o sucesso da interação,

passando a ser segura e satisfatória. Ou seja, é de extrema importância que sejam

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analisadas as maneiras com que os pais lidam com seus filhos, porque é da maneira

de educá-los que eles se formarão e crescerão bem, com um bom caráter e uma

vida plena.

Filho (1995), afirma que “a adoção de filhos se insere na atitude e nos

atos de criação no seu sentido físico e afetivo. O filho, que era sonho, e por ser

sonho, tinha 26 a condição fundamental de ser realidade, afirma- se como filho, não

pelo processo biológico e fisiológico do nascimento, mas pela adoção afetiva dos

pais que, incondicionalmente, o amam” (p. 48). Tal afirmação tem a reforçar a

afirmativa de que aceitar não só a criança, mas também a sua história é condição

essencial para o sucesso da adoção. Questões importantes a serem trabalhadas em

famílias adotivas abrangem alguns aspectos, tais como: a qualidade do

relacionamento com o filho, com o cônjuge e com os irmãos. Sabe-se que embora

se tenha vários irmãos criados na mesma família, cada um tem sua particularidade e

personalidade, podendo ser bastante diferentes, mesmo sendo filhos biológicos.

Nota-se receio em algumas famílias adotivas, não se falando a respeito

de adoção, seja pelo fato de privar a criança/adolescente de relembrar seu passado,

seja por ela não conhecer ainda sua história, como se isso fosse algo danoso e

prejudicial à criança. Muitas delas, ao tomar conhecimento de sua história, sentem-

se aliviadas e participantes da família e a partir do momento em que foi revelado seu

histórico, não manifestam mais interesse em falar sobre o assunto, pois se sentem

reconhecidas, valorizadas e aliviadas. Outras, no entanto, podem se sentir

inferiorizadas, necessitando de cuidados especiais.

A ansiedade que vive a família em relação ao filho é intensa onde se pode

destacar suas expectativas em relação à criança que vão desde a capacidade de

andar até a sua capacidade cognitiva, no anseio de constatar a normalidade da

criança. Tal atitude pode se tornar uma ameaça à estabilidade emocional dos pais.

A fim de satisfazer as necessidades do filho, pais são capazes de ir além

de suas limitações, proporcionando à criança seus desejos, seja do ponto de vista

material e social, trazendo como consequências a falta de limites, pois está

habituada a sempre atenderem seus pedidos em seu natural imediatismo, tudo isso

para poupá-la de sofrimento, sendo importante destacar que a frustração é inerente

à vida.

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Segundo Shinyashiki (1992), “sem limites, a criança desenvolve a imagem

de que é dona do mundo, e, a cada vez que algo a contraria, tende a agir como

ditadora. Ela vai sofrer muito por não saber elaborar as frustrações que a vida lhe

apresentará a toda hora” (p.27). Ou seja, a criança que estiver no lugar dos centros

das atenções o tempo todo, futuramente terá muitas dificuldades de enfrentar os

obstáculos da vida, porque tudo lhe foi dado sem sacrifícios, sem reconhecimento.

Muitos deles tendem a assumir comportamento compensatório onde

procuram ao máximo evitar o sofrimento, angústias e frustrações, tendo uma

dedicação exagerada e superproteção, prejudicando sua independência, autonomia,

iniciativa e decisão. O que a criança necessita é de afeto, de amor e da presença da

família, principalmente dos pais, tornando-a confiante, contribuindo assim para o seu

desenvolvimento.

O mundo de hoje exige dos pais o conhecimento de alguns mecanismos e

instrumentos para fazer face às pressões de uma realidade difícil. Nas relações

pessoais e familiares, o conhecer é impulsionado pelo afeto, assim como o afeto se

projeta no conhecer. Rollo May (1988) observa que “a relação etimológica entre

conhecer e amar é extremamente próxima. Conhecer outro ser humano, assim como

amá-lo, implica uma forma de união, uma participação dialética com o outro” (p.154).

Significativamente, descobre-se a necessidade da criança ser recebida dentro desse

clima onde a convivência passa a ser um mecanismo de troca.

Diante do que foi exposto, percebe-se o grau de importância que o

diálogo e a verdade exercem na vida da família adotante e principalmente na

criança. Sendo assim, para um melhor ajustamento e sucesso familiar, a revelação é

necessária, devendo ser feita com cautela e no momento adequado, dando à

criança segurança, pois se sabe que o adiamento ou revelação tardia são

prejudiciais, acarretando situações conflitantes, como a revolta, depressão e até

mesmo efeitos negativos nas relações entre adotado e família adotiva. Marmitt

(1993), afirma que a “a condição do adotado tem de ser dada ao conhecimento

desde cedo, por vezes paulatinamente, durante o estágio de convivência e antes do

ingresso na vida escolar” (p. 47). Deve ser revelado aos poucos, com carinho e

cuidado para que a criança possa assimilar a verdade, recebendo a notícia e

aceitando sem prejuízo psíquico. Afinal, nada melhor do que a sinceridade e a

segurança para que a criança sinta-se reconhecida e pertencedora à família. A

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descoberta da adoção por si mesmo e em tempo tardio pode provocar choques

psíquicos. Por isso, um dos aspectos mais perturbadores da adoção para os pais é o

dilema: contar ou não contar ao filho que ele é adotado. Os especialistas não têm

mais dúvidas: deve-se contar sempre.

Os pais não devem se negar a conversar franca e abertamente a respeito

do assunto ajudando os filhos a recuperarem sua história. Suas atitudes devem ser

repletas de amor, tolerância e firmeza (sabendo impor limites), não devendo

compensar as “perdas” anteriores desse filho adotivo por meio de superproteção.

Essa atitude leva a família a construir o presente e pensar no futuro sem negar o

passado. Afinal, uma família saudável é aquela em que as pessoas se sentem

protegidas ao experimentar novas condutas, amadas e compreendidas na sua

individualidade.

A criança adotada geralmente é sinônimo de dúvida, incerteza e

preconceito e ao analisar a relação entre tais limitações, pode-se fazer uma

correspondência entre as dificuldades dos pais e a resposta comportamental dos

filhos. Por isso, a necessidade de se abordar com a família a necessidade do amor

como emoção fundamental. Nem sempre os filhos naturais são esperados e, muitas

vezes, menos ainda preparados estão os casais para essa vinda; quanto aos

adotivos, há não somente uma relativa espera, mas também a possibilidade de uma

madura preparação. Afinal, todos os filhos precisam, necessariamente, ser adotivos

para que se tornem verdadeiramente filhos.

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3. A CRIANÇA ADOTADA E SUAS PERSPECTIVAS

O objetivo do estudo deste terceiro capítulo é enfatizar primordialmente o

lado da criança, principalmente os aspectos sociais, emocionais e comportamentais

em relação a sua adoção e a nova família que lhe é apresentada.

O ambiente familiar deve prover as necessidades de afeto, atenção e

segurança da criança, de modo que se possam estabelecer relações de confiança.

Além disso, é necessário que se saiba o que se pode ou não fazer, havendo clareza

e coerência nos limites estabelecidos e, fundamentalmente, que estes sejam

sustentados e cumpridos.

Os limites constituem um ponto de fundamental importância no contexto

familiar, bem como fora dele, quando se pensa em educação. Assim como na

sociedade, na família devem existir certas regras e limites que garantam a

sobrevivência e a boa convivência de todos.

3.1 A importância de cada criança nas novas famílias

A família desempenha um papel de extrema importância no

desenvolvimento da criança, uma vez que é através desta que se constroem

pessoas adultas com uma determinada autoestima e onde estas aprendem a

enfrentar desafios e a assumir responsabilidades. Esta deve assegurar a

sobrevivência dos filhos, o seu crescimento saudável e sua socialização dentro dos

comportamentos básicos de comunicação. Deve acarinhar e estimular as crianças

no sentido de transformá-las em seres humanos com capacidade para se relacionar

competentemente com o seu meio físico e social, assim como para responder às

exigências necessárias à sua adaptação ao mundo.

Para Arón (1994), o lar, primeiro contexto social da criança é considerado como a

matriz social em que são aprendidos os primeiros comportamentos interpessoais. A

família é vista como a maior agência de socialização em nossa sociedade e constitui

para a criança o primeiro ambiente significado.

O estudo da criança contextualizada possibilita que se perceba que, entre

os seus recursos e os de seu meio, instala-se uma dinâmica de determinações

recíprocas: a cada idade estabelece um tipo particular de interações entre o sujeito e

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o ambiente. E que vários fatores são determinantes para o seu desenvolvimento que

são eles: fatores afetivos emocionais – existe uma grande influência dos fatores

afetivos emocionais na vida do ser humano. Não resta dúvida de que todos nós

estamos sujeitos a perturbações emocionais no decorrer de nossas vidas.

As primeiras experiências educacionais da criança geralmente são

proporcionadas pela família. Após o nascimento, a criança começa a sofrer

influências familiares que, aos poucos vão modelando seu comportamento. Sendo

que após a adoção, esse contexto muda. Porque a criança será remodelada de

acordo com as influências da sua família adotiva. A maior parte das influências que

os pais exercem sobre os filhos é inconsciente. Alguns não têm consciência de que

seus comportamentos, sua maneira de ser e de falar, de olhar para outros, de

cumprimentar as pessoas, tem enorme influência sobre o desenvolvimento do filho.

Na visão de Renata Barbosa, adoção é:

A adoção é a forma mais conhecida, porque mais antiga, de filiação socioafetiva. Consiste em, por escolha, tornar-se pai e/ou mãe de alguém com quem, geralmente não se mantém vínculo biológico nenhum [...]. (ALMEIDA, 2012, p.368)

Não se pode entender a adoção como meio de pena quando uma criança

é abandonada, ou resolver problemas de casais em conflito que esperam que tendo

um filho possam continuar sendo uma família, por vezes de aparência, mais sim,

com a visão voltada para as crianças, em ajudar a fazer o bem aquelas que foram

desprovidas por terem sido abandonadas ou destituídas pela perda de poder familiar

por alguma negligência dos pais, para que consigam ter uma segunda chance,

dentro de um novo lar substituto ao do biológico, em caráter definitivo, para oferecer

o que elas necessitam que é: conforto, amor, carinho e suprir suas necessidades

básicas. Para poder concluir todas as intenções do casal, tenham eles que serem

aprovados por entrevistas, pela assistência social, seu estágio de convivência, o

modo de tratar a criança, entre outros. (GRANATO, 2013, p. 29 e 30)

Sigolo (2004) ainda descreve a família como "espaço de socialização

infantil", pois se constitui em "mediadora na relação entre a criança e a sociedade"

(p. 189). Nas interações familiares “padrões de comportamentos, hábitos, atitudes e

linguagens, usos, valores e costumes são transmitidos” e "as bases da

subjetividade, da personalidade e da identidade são desenvolvidas" (p. 189).

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De acordo com Tiba (2007, p.35) a ligação dos pais com os filhos é muito

forte que supera até a razão. Muitas vezes os pais acabam sendo superprotetores

das crianças, que não conseguem enxergar o erro e sim, pensam que o errado é

sempre o outro. Os pais devem tomar muito cuidado seja na hora de cobrar algo do

filho ou de protegê-lo para não atropelar, ou atrapalhar na educação do mesmo. As

crianças precisam ser protegidas e cobradas. As atitudes, os comportamentos que

as crianças veem de seus pais consequentemente serão o mesmo que eles terão

quando crescerem. A família é um reflexo um espelho para as crianças. Por isso um

bom exemplo em casa é o que ecoa por toda a vida.

Quando esgotados todos meios pelos quais o menor não pode

permanecer na família natural, primeiramente o estado tem o dever de agir e

encaminhá-lo para uma família que se comprometa a cuidar dele de forma integral e

digna. Nesse contexto destaca Jeferson Moreira de Carvalho:

[…] o dever da família, da sociedade e do Estado de assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (CARVALHO, 2012, p. 2)

Bossa (1998) ressalta que mais do que responsáveis pela qualidade de

vida, os pais são construtores do aparelho psíquico dos seus filhos. Nascendo numa

condição de total incompletude, o ser humano depende totalmente dos adultos que

estão a sua volta, especialmente de seus pais ou daqueles que fazem função

paterna e materna. Embora trazendo uma carga genética que também interfere no

seu destino, o fator genético será menos influente, quanto mais influente for a

educação.

Lubi (2003) explica que o desenvolvimento de habilidades sociais na

primeira infância está vinculado de forma intensa ao contexto familiar, às vivências e

às práticas educacionais. Considerando a importância dessas práticas como um

fator de proteção e de maximização do desenvolvimento infantil. É importante,

lembra a autora, que a família continua a ser a principal influência norteadora do

desenvolvimento da personalidade da criança e, por isso, as relações que

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porventura sejam inadequadas entre os pais e suas crianças constituir-se-ão em um

campo fértil de estressores para seus membros.

Ingberman (2001) relaciona alguns aspectos da dinâmica familiar que

contribuem para o ajustamento de seus membros. O primeiro indica a comunicação,

qualquer comportamento verbal ou não verbal manifestado por seus membros. O

segundo aspecto refere-se às regras familiares: a introdução da disciplina na vida da

criança envolve um contexto de interação entre pais e filhos, em que a criança

começa a ser confrontada com as regras das práticas educativas parentais.

Os autores explicam que os relacionamentos no contexto familiar

possibilitam à criança observar quais comportamentos são adequados e quais não

são. As crianças que não são capazes de relacionar-se com as pessoas de maneira

afetuosa e confiante – crianças que são distantes, retraídas e desconfiadas –

tornam-se isoladas e dificilmente estão disponíveis a ouvir as outras pessoas e

devem contar apenas com seus próprios pensamentos ou experiências.

A perspectiva contextual explica que o desenvolvimento humano só pode

ser compreendido dentro de um contexto social. A pessoa é parte inseparável do

ambiente, atua sobre ele modificando e, em contrapartida, o ambiente, em constante

mutação, também atua e muda a pessoa. Atualmente, a complexidade social e os

novos riscos com os quais a família se depara (ambiente) impõem uma atenção

particular ao papel dos pais. O papel da família e do ambiente em geral,

proporcionam condições estimuladoras ao desenvolvimento infantil, e evidencia a

importância de atividades de apoio às famílias, com a finalidade de auxiliá-las na

estruturação, organização e enriquecimento do ambiente de desenvolvimento dos

filhos adotivos.

Por mais que a família seja o centro do mundo social da criança, ela

demonstra grande interesse por pessoas fora do vínculo familiar, particularmente por

sujeitos de seu próprio tamanho, construindo, aprendendo e imitando umas as

outras.

Segundo Eizirik (2001) um desenvolvimento saudável está intimamente

ligado ao tipo de apego que se estabelece desde o início da relação entre a mãe e a

criança, sendo que aos poucos essa tarefa vai evoluindo junto ao filho. Ou seja, é

muito importante a interação da mãe e do filho, mesmo que não seja biologicamente,

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porque já percebemos que na verdade o que realmente conta é a criação, educação

e interesse em buscar o melhor para seus filhos.

Considerando tais aspectos, este estudo objetiva compreender a partir do

infantil, como é estabelecida a interação entre vínculo social e apego, tanto no

contexto familiar, como no social, para melhor entender questões que se fazem

presentes em torno da criança e seu mundo.

3.2 Adoção por casais homoafetivos

A homoafetividade sofre preconceitos desde os primórdios, por razões

sociais, culturais e religiosas, uma vez que estás concebiam o casamento como um

meio de procriação. No entanto, a relação entre pessoas do mesmo sexo é uma

realidade cada vez mais latente, ou seja, essa orientação afetiva está se expandindo

paulatinamente.

Cabe ressaltar que a família contemporânea resulta de laços amorosos e,

assim, independe da existência de filhos biológicos e da capacidade de procriação

dos companheiros. Hodiernamente, já se tem o reconhecimento da união entre

pares homoafetivos, inclusive, valem-se dos mesmos direitos que os heterossexuais.

A família caracteriza-se pela união de laços sanguíneos e afetivos e surge

de forma natural. Grande parte dos seres humanos, historicamente preza pela vida

em conjunto. Porém, a família de hoje difere bastante das antepassadas, tendo em

vista que esta não se constitui somente pelo matrimônio, mas associa-se a outros

fatores (DENCSUK; DOMENICO, 2015). Ainda de acordo com Dencsuk e Domenico

(2015), o elemento primordial das entidades familiares é o afeto, portanto, assim

como o casamento, a união estável também é amparada juridicamente.

Inicialmente, “o instituto familiar era formado por um modelo convencional

entre um homem e uma mulher, unidos pelo casamento. Ampliou-se o instituto

conforme o surgimento da prole” (ALMEIDA, 2012, p. 11). Diante disto, a família foi

crescendo, mas essa realidade mudou. Hoje, todos já estão acostumados com as

famílias que se distanciam do perfil tradicional.

Observa-se que mesmo ainda sem lei que regulamente tal assunto, já

houve decisões que favorecem casais homossexuais no ato de adotar em conjunto

uma criança ou adolescente. Isto se dá porque os juízes que decidiram os casos se

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pautaram nos princípios fundamentais da dignidade humana, igualdade e no melhor

interesse da criança e adolescente de serem adotados (DANTAS, 2013). Ou seja, o

mais importante de tudo é a proteção, cuidado e educação que podem oferecer as

crianças que precisam de um lar.

O Estado em sua condição de protetor da sociedade deve possibilitar a

todos, inclusive aos casais homossexuais, condições integrais e eficazes que

acolham seus interesses, como exemplo, a adoção, com amparo nos princípios da

dignidade do ser humano e da igualdade em derivação de sexo e ou preferência

sexual, tendo em vista sempre o bem-estar social e a justiça. A adoção é um

assunto já bem discutido há bastante tempo, todavia, a adoção por casais

homossexuais ainda é um tema bastante atual e polêmico.

Muitas crianças e adolescentes já estão inseridos em famílias

homossexuais compostas por dois pais ou duas mães, no entanto, em função da

dificuldade que um casal homossexual tem de conseguir a adoção, apenas um deles

pleiteia este ato, e o menor acaba sendo adotado por apenas um dos membros do

casal. Este fica desprotegido juridicamente, não sendo privilegiado com vários

direitos que teria, caso fosse filho, legalmente, das duas pessoas (ROSTIROLLA,

2015).

Ainda de acordo com Rostirolla (2015), há muitos casais homossexuais

que formam uniões estáveis, dispostos a adotarem juridicamente um menor. Porém,

há uma crença ainda conservadora de que a falta de referências comportamentais

de ambos os sexos possa ocasionar danos de ordem psicológica e social, além de

dificuldades na identificação sexual do adotado, havendo tendência a tornar-se um

homossexual.

A questão da possibilidade da adoção por casal formado por pessoas do

mesmo sexo gera muitos conflitos, ainda mais em função de que o legislador

silenciou frente às uniões homoafetivas. Hoje em dia, a mídia tem tocado muito no

assunto, muitos profissionais das ciências humanas e sociais e psicólogos

posicionam-se favoravelmente à educação de menores por homossexuais (DIAS,

2005). Porque a verdade, é que para muitos, no tocante a educação e bem estar da

criança, o que importa não é se os seus pais são do mesmo sexo, o que importa é

aquilo que eles podem oferecer e contribuir para o seu desenvolvimento.

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Assim, Gagliano e Pamplona Filho (2013, p. 424) aludem que a união

estável é conceituada “como uma relação afetiva de convivência pública e duradoura

entre duas pessoas, do mesmo sexo ou não, com objetivo imediato de constituir

família”, todavia, essa concepção abre brecha para o reconhecimento de uniões

homoafetivas.

Em suma, é necessário enfrentar esses fenômenos sociais livre de

preconceito, pois, “a homossexualidade não é uma doença e nem uma opção livre”,

assim, a discriminação não erradicaria essas relações Não obstante, aumentam-se

decisões judicias que acoplam consequências jurídicas a essas relações, entretanto,

o reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo como entidade familiar

implicará em: direito real de habitação, partilha de bens e por fim, direitos

sucessórios (DIAS, 2009, P. 48).

A adoção por casais homoafetivos têm fundamento nos princípios

constitucionais, em especial no da dignidade do ser humano, isonomia, melhor

interesse da criança e do adolescente e, consequentemente, da afetividade. Como

se pode notar, a afetividade é o elemento principal para preservação da família,

outrossim, esse é um tema eivado de polêmicas e divergências doutrinárias.

A união entre pessoas de mesmo sexo encontrou resistências quanto à

inserção no contexto familiar.

O magistrado, a fim de proteger o infante, deve fazer uma análise prévia

das circunstâncias sociais, morais e psicológicas dos adotantes, em prol do bem-

estar da criança ou adolescente. Somente avaliando o caso concreto será possível

definir se a adoção é viável ou não, contudo, a orientação sexual dos adotantes não

deve influenciar a decisão (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2013, p. 505). Toda a

criança ou adolescente tem direito a ter um lar, assim como toda a pessoa tem

direito à paternidade. Logo, desde que presente os requisitos necessários para a

formalização da adoção, não há razão legítima para impedir que casais

homoafetivos se valham desse instituto.

A maioria da população crê que a adoção por casais de mesmo sexo

afetaria o desenvolvimento sadio da criança, ou seja, por influxo dos pais, o adotado

se tornaria homossexual. Por outro lado, é pertinente informar que a Organização

Mundial da Saúde emprega a homossexualidade como “uma das livres

manifestações da sexualidade humana”, todavia, a homossexualidade é tão natural

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como a heterossexualidade (VECCHIATTI, 2012. p. 503). A adoção realizada no

relacionamento homoafetivo não modifica a definição de família, e sim o modelo de

família tradicional. Deve-se pensar no bem-estar das crianças que serão

presenteadas com um lar, uma família, com carinho, atenção. O ambiente sadio é

aquele onde se encontram pessoas comprometidas em criar e educar o adotando.

É de fundamental importância a garantia de que as famílias adotantes

dediquem ao adotado educação e amor. Dessa forma, qualquer casal independente

da orientação sexual, estimulará a construção do caráter e personalidade da criança

ou adolescente. E possível visualizar algumas vantagens acerca de crianças

adotadas por homossexuais, como o apoio que essa família ocasionará as crianças

adotadas, incluindo educação e formação de pessoas mais tolerantes. Evitando que

as crianças se tornem nos futuros adultos preconceituosos, já que o preconceito é

um problema social do nosso país.

Com a convivência com pessoas do mesmo sexo a criança adquire

características de umas pessoas mais fraterna e tolerante, compreendendo que o

amor independe de características físicas e sexuais, aprendendo a aceitar a relação

dos pais ou das mães de forma normal, compreendendo que seus “pais” o amam

como quaisquer pais héteros. Ao crescer a criança se tornará uma pessoa mais

compreensiva. Ao longo do tempo, esse tipo de adoção teria grande influência na

relação de preconceito de nossa sociedade, pois esse trabalho seria feito o início da

formação da criança ou do adolescente.

Com o passar do tempo, as relações homoafetivas vêm conquistando

aceitação e respeito É crescente o número de pessoas que assumem publicamente

e sem temor a sua orientação homossexual. No espaço público, concorridas

passeatas e manifestações, em diferentes capitais do país, simbolizam a vitória

pessoal de homens e mulheres que derrotam séculos de opressão para poderem

ostentar sua identidade sexual, desfrutar seus afetos e buscar a própria felicidade”

(BARROSO, 2012, p. 4). No que diz respeito a forma com que a sociedade enxerga

as pessoas com orientação sexual, sem distinção de opção, a orientação

homossexual é um fato da vida de cunho privado, de interesse da pessoa que a

escolheu, que não pode ser contrariado pelo direito, e, portanto, a homoafetividade

existirá independentemente da positividade estabelecida pelo Estado.

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Segundo Gonçalves (2010, p. 372), “a adoção por homossexual,

individualmente, tem sido admitida, mediante cuidadoso estudo psicossocial por

equipe interdisciplinar que possa identificar na relação o melhor interesse do

adotando”.

O que realmente interessa é a percepção do cuidado e olhar atento pela

equipe, para que o melhor pela criança seja feito. E não importa qual é a formação

da família, desde que zelem por sua educação e princípios.

O atual processo de socialização dos homossexuais é a maior conquista

registrada na história, pois em uma determinada época a homossexualidade era

considerada crime e depois passou a ser vista como doença. Foi verificada que o

processo de socialização não se deve ao afrouxamento dos valores e sim ao estado

democrático, que não pode desrespeitar seus princípios, “servindo sua lei maior para

assegurar a realização dos direitos e liberdades fundamentais” (DIAS, 2001).

O fundamento para negar juridicidade à relação homoafetiva é que

desvalorizaria o sentido social do sexo, a base da vida familiar, sendo o casamento

heterossexual é a base central da sociedade moderna. Há, porém, uma certa

corrente que considera o casamento, instituição criada pela burguesia após a

Revolução Francesa, extremamente liberticida. Seria uma contradição ao liberalismo

e uma interferência indevida do Estado. Sullivan, um escritor americano, aponta a

conveniência do casamento gay. Os casais se incorporariam aos esforços para

restaurar os valores familiares. Os casamentos heterossexuais se fortaleceriam, pois

não seriam realizados por mera conveniência. Ao serem absorvidos, seriam tão

conservadores como os heterossexuais. (DIAS, 2000).

Ocorre que ainda há muito preconceito em inserir uma criança ou um

adolescente em uma família formada por pais homossexuais:

A homofobia, discriminatória em sua essência, muitas vezes busca legitimar-se em

um aparente discurso de legalidade. É a chamada homofobia liberal. Tolerância é

sua palavra de ordem. Mas há grande distância entre tolerar e reconhecer. Uma

coisa é tolerar comportamentos íntimos, outra bem diferente é reconhecer direitos

iguais (FIUZA; POLI, 2013, p. 16). Ainda, no mesmo sentido, entende-se que “Os

homossexuais estão a pedir nada mais do que os heterossexuais já têm desde

sempre: a liberdade de constituir-se como família e, consequentemente, todos os

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direitos daí decorrentes, inclusive a adoção conjunta e a possibilidade de

casamento” (FIUZA; POLI, 2013, p. 16).

Por todo o exposto, conclui-se que o conceito de família mudou muito no

transcurso da história humana, havendo, hodiernamente, formas familiares diversas,

porém nem todas contempladas na legislação. Para além da discriminação, há que

se considerar que todo ser humano tem direito a viver consoante o modo que o faça

feliz e essa felicidade perpassa pelo aspecto de formar uma família, inclusive com

filhos. Os legisladores muitas vezes tratam estas pessoas como invisíveis, pois

acreditam que podem ser rotulados como homossexuais e perder o conceito político,

em que caso se manifestem sobre o assunto que ainda é um tabu na sociedade, por

isso, preferem se manter na obscuridade. Então, foi necessário que a justiça se

manifestasse mais uma vez, criando medidas protetivas e favoráveis aqueles

considerados "diferentes". (DIAS, 2012, p. 2)

Há muitas vezes um pré-conceito quando o assunto é a adoção por

casais do mesmo sexo, pois alguns acreditam que isso possa ferir a parte

psicológica da criança ou do adolescente, que possa os influenciar a

homossexualidade, ou seja, que possa causar algum tipo de dano. Maria Berenice

(2014, p. 203) salienta: Existe a injustificável crença que a criança ficaria sujeita a

dano potencial futuro por ausência de referências e comportamentos de ambos os

sexos. Também o temor da ocorrência de prejuízos de ordem psicológica. Há até o

mito de que os filhos de homossexuais teriam a tendência a se tornarem

homossexuais. Mas vale lembrar que os homossexuais, de um modo geral, são

frutos de relacionamentos heterossexuais [...] o direito de gerar e criar filhos está

vinculado à própria dignidade do ser humano, com o conceito de que ela tem de si

própria como indivíduo inserido em uma sociedade. Trata-se da busca por uma

felicidade, pela realização do ser humano como recriador. A restrição a

homoparentalidade afeta o mais sagrado de todos os direitos fundamentais, o direito

a personalidade, no qual está inserido o direito de ter filhos, pois a maternidade e a

paternidade fazem parte do ideário humano, de seu espectro de realização como

seres humanos.

A partir do momento em que um indivíduo se aceita e assume sua opção

sexual perante a sociedade, ele necessita ser forte para encarar a todos,

necessitando de muita força para ir atrás de sua felicidade. Após ser aceita a união

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estável e, o casamento, eles passam a lutar pelo direito de constituírem uma família,

como quaisquer outros indivíduos. A adoção e a utilização da barriga solidária são

os meios para que este sonho se realize. Ao ganhar liberdade para expressar seus

verdadeiros sentimentos, abriu-se um maior espaço, aos poucos a sociedade vai

aceitando e, modernizando-se conforme os direitos dos homoafetivos que estão

tipificados.

Na verdade, a homossexualidade é presente na história humana e na

própria natureza, em todas as espécies de mamíferos, motivos pelo qual não

subsidia a argumentação de antinatural imputado à tais relacionamento. Igual falha

argumentativa resta aos que são contra o reconhecimento jurídico das relações

homossexuais, pelo fundamento de que não se gera prole. Há muito que as relações

afetivas e juridicamente familiares não exige-se a origem de prole, tanto que há

milênios a adoção é forma alternativa aos que não querem ou não podem ter filhos

biológicos.

Segundo Silva Júnior (2008), independente da terminologia jurídica

oferecida à união homossexual, os direitos que lhes vem sendo conferidos geram,

inevitavelmente, pelo princípio da igualdade, a necessidade de equiparação entre os

vínculos homoafetivos e os convencionais, em sede de tratamento familiar: “a

tendência inevitável, sem dúvida, é a plena inserção de tais vínculos estáveis

homossexuais na órbita do Direito de Família – no que tange à doutrina, à produção

legislativa e à competência dos tribunais ou varas específicas (SILVA JÚNIOR,

2008, p. 75)”

Analisando o que está disposto, em nenhum momento cita-se que o casal

homossexual fica impedido de adotar uma criança e as demais leis visam apenas o

bem-estar da criança, exigindo somente que o casal adotante esteja em reais

condições para proporcionar um lar sadio para o menor. Devido o amplo número de

crianças desamparadas em abrigos, a jurisprudência principiou a admitir a adoção

de crianças por casais homossexuais, levando em conta não a sexualidade em si,

mas o amor, o respeito e o direito do casal que tem reais condições de acompanhar

o crescimento de uma criança, ensinando-a os reais valores de um indivíduo de

bem.

O que se observa é que a instituição familiar desde sua concepção até os

dias atuais vem passando por inúmeras modificações, principalmente no que se

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refere a sua forma de organização. As famílias constituídas por adoção possuem a

mesma proteção e direitos que as constituídas biologicamente. Sendo assim, uma

vez que restou estabelecido que a união por tais casais, considera-se como família,

não resta dúvida que o direito à adoção também é garantido.

O Direito Brasileiro deve sempre acompanhar os anseios da sociedade,

de forma a acolher a possibilidade da adoção por casais homossexuais, vez que há

uma omissão legislativa a esse respeito, razão pela qual deverá ser aplicado

analogicamente o Direito Consuetudinário, além de garantir a aplicação dos

princípios gerais de direito, sempre atentando aos fins sociais da lei e as exigências

do bem comum.

No Estatuto da Criança e do Adolescente, o fim social que se busca é

acima de tudo, resguardar e proteger a dignidade da criança e do adolescente.

Cumpre ressaltar, que existe sim a possibilidade de uma pessoa de

orientação sexual diferente adote isoladamente. Tal direito não lhe pode ser negado,

mas o que infelizmente se vê na prática é que à orientação sexual dos adotantes

interfere no que diz respeito à adoção. Entretanto não se pode levar isso em

consideração ao determinar o deferimento do pedido de adoção, caracterizando

discriminação quando assim não ocorrer.

Sendo assim, pode-se concluir que, o convívio afetivo gera a ideia de

família e de acordo com a garantia constitucional estabelecida é possível que casais

homossexuais tenham o direito de adotar, vez que deve se levar em consideração

sempre o bem-estar do adotado, assim como seu melhor interesse. Para a criança é

muito mais vantajoso sua inserção em um convívio familiar do que permanecer em

orfanatos ou no abandono das ruas, submetendo-se a violência e a toda sorte de

degradação pessoal.

A dúvida maior que reside na sociedade, se assenta na possibilidade da

orientação sexual dos pais interferir no desenvolvimento da afetividade dos filhos, ou

seja, filhos criados por homoafetivos, invariavelmente serão homoafetivos. Noutra

vertente, seria a falta de referenciais básicos (pai/mãe) na educação, e ainda, a

convivência social da criança ou adolescente criado por esses pares. Evidente, que

não se há como negar essas possibilidades, num raciocínio mais duro e tradicional.

Este processo evolutivo refletiu nos interesses dos homossexuais que

desejam constituir uma família, mesmo contando com a impossibilidade biológica de

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gerar filhos, recorrendo ao instituto da adoção. Fato é que a frustração tem sido

amenizada, já que o sistema judiciário brasileiro tem se inclinado a deferir os

pedidos feitos. Não se compreende, portanto, porque alguns magistrados ainda se

posicionam de forma diversa. Nesta situação é fácil perceber como os princípios da

igualdade e dignidade do ser humano encontram-se feridos sem pudor, uma vez que

não há legislação alguma que proíba expressamente a concessão deste benefício.

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CONCLUSÃO

Nesse momento de transformações que a humanidade está vivendo, com

a globalização e com a valorização do aspecto social, nota-se uma evolução nos

relacionamentos afetivos, onde as pessoas se propõem a buscar relações mais

profundas e significativas.

No entanto, no que se refere a Adoção, se percebe ainda um certo

preconceito e falta de conhecimento a respeito, fazendo-se necessária

simultaneamente um trabalho de conscientização sobre sua importância, um esforço

para desmitificar a associação genérica e errônea entre adoção e fracasso. A

Adoção carrega o mito da dúvida sobre o acerto da escolha, levando muitas pessoas

a assumirem uma atitude preconceituosa e, portanto, inadequada sobre o seu futuro.

Por isso torna-se importante também o preparo para a adoção, evitando dificuldades

para a criança pelo fato dela ser o sujeito principal desse processo. A criança

adotada geralmente é sinônimo de dúvida, incerteza e preconceito e ao analisar a

relação entre tais limitações, pode-se fazer uma correspondência entre as

dificuldades dos pais e a resposta comportamental dos filhos.

Por isso, a necessidade de se abordar com a família a necessidade do

amor como emoção fundamental é integralmente importante para o desenvolvimento

da criança adotada.

Enfim, o objetivo deste instrumento é demonstrar que a relação dos pais

com seus filhos adotivos se fundamentam no contato destes com sua história de

adoção, como também no estabelecimento de uma abrangente ligação de afeto.

Muitas vezes, menos ainda preparados estão os casais para essa vinda; quanto aos

adotivos, há não somente uma relativa espera, mas também a possibilidade de uma

madura preparação, porque é um ato sonhado, e a criança foi desejada por aquele

casal. Afinal, todos os filhos precisam, necessariamente, ser adotivos para que se

tornem verdadeiramente filhos.

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