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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO A SOBREVIVÊNCIA DAS FAMILIAS MONOPARENTAIS FEMININAS: O DESAFIO DAS FAMILIAS POBRES. CRISTIANE FERREIRA SOARES SÃO PAULO

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O presente trabalho teve como objetivo conhecer as formas de sobrevivência das mulheres chefes de famílias pobres, que são atendidas pelo Centro Infantil Clara de Assis - CICA. O trabalho foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas e empíricas.

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Page 1: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

A SOBREVIVÊNCIA DAS FAMILIAS MONOPARENTAIS

FEMININAS: O DESAFIO DAS FAMILIAS POBRES.

CRISTIANE FERREIRA SOARES

SÃO PAULO

2012

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CRISTIANE FERREIRA SOARES

A SOBREVIVÊNCIA DAS FAMILIAS MONOPARENTAIS

FEMININAS: O DESAFIO DAS FAMILIAS POBRES.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Nove de julho - UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social sob a orientação, da Professora Mestre Rosemeire dos Santos.

SÃO PAULO

2012

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CRISTIANE FERREIRA SOARES

A SOBREVIVÊNCIA DAS FAMÍLIAS MONOPARENTAIS

FEMININAS: O DESAFIO DAS FAMÍLIAS POBRES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Nove de Julho - UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Banca examinadora

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

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FICHA CATALOGRÁFICA

SOARES, Cristiane

A Sobrevivência das Famílias Monoparentais Femininas: O desafio das Famílias Pobres / Cristiane Soares; Orientadora Rosemeire Santos.

São Paulo, 2012- 67 p.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Nove de julho - UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

1. Família; 2.monoparientariedade; 3.mulheres chefes de família.

Page 5: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Dizem que a mulherÉ o sexo frágil

Mas que mentiraAbsurda!

Eu que faço parteDa rotina de uma delas

Sei que a forçaEstá com elas...

Mulher! Mulher!Na escola

Em que você foiEnsinada

Jamais tirei um 10Sou forte

Mas não chegoAos seus pés...

Mulher (Sexo Frágil)

Erasmo Carlos

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Dedico aos meus pais

Maria e Luiz pelo apoio nos

momentos difíceis.

Ao meu filho Alekssy pelo

carinho, e sua dedicação nos

instantes que precisei.

A minha eterna cunhada

Cilene e sobrinha Samira pelas

palavras de incentivo.

Page 7: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Maria e Luiz, que me ensinaram nunca desistir,

mesmo nos momentos difíceis.

Ao meu filho amado Alekssy, por sua compreensão pelas as

minhas ausências.

À minha cunhada Cilene pelas suas palavras de incentivo,

naqueles momentos que somente ela sabe.

À minha sobrinha querida, pelo seu carinho e amizade.

Ao meu amigo Carlos, pela sua amizade sincera, e compreensão

pelos momentos de nervosismo.

Ao meu chefe pela compreensão dos meus pedidos de ausência.

Ás minhas colegas de trabalho pela amizade, e palavras de apoio

que a mim dedicaram.

Aos professores de graduação que muito me ensinaram nessa

trajetória, Sergio, Alessandra que através de sua disciplina Estruturas

Familiares no Brasil, me deu inspiração para esta pesquisa, Alan,

Michelly pelos esclarecimentos no momento de dúvidas.

Á minha eterna amiga de graduação Cristina Camargo, que

infelizmente já não está entre nós.

Á minha supervisora de campo de estágio, Fernanda Fioretti, que

muito me ensinou.

Ás mulheres sujeitas desta pesquisa.

Á Assistente Social, do Centro Infantil Clara Assis, pela sua

colaboração para minha pesquisa.

Page 8: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Á minha querida orientadora Rosemeire Santos, pela sua

brilhante orientação, principalmente pela compreensão pelos momentos

de cansaço. Obrigada por me fazer acreditar que seria capaz.

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo conhecer as formas de sobrevivência das

mulheres chefes de famílias pobres, que são atendidas pelo Centro Infantil Clara de

Assis - CICA. O trabalho foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas e

empíricas. A pesquisa bibliográfica foi o que deu subsídio para a construção teórica

desta pesquisa. E a de campo teve como sujeito da pesquisa quatro mulheres

chefes de famílias, que são atendidas pela Instituição citada a cima, e também

recebeu a colaboração da Assistente Social que exerce trabalho com estas famílias,

localizado no bairro Bela Vista, na cidade de São Paulo. Os resultados obtidos

com a pesquisa foram que as famílias chefiadas por mulheres sobrevivem através

da ajuda mútua e dos benefícios de transferência de renda. Constatamos que essas

famílias sobrevivem porque os integrantes em idade de trabalho, já estão no

mercado de trabalho formal e informal, também dependem dos repasses de

instituições e obras assistenciais.

Palavras Chaves: Família; monoparientalidade, mulheres chefes de família.

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ABSTRACT

The present study aimed at learning the survival of women heads of poor households

that are served by Children’s Centre Clare of Assisi - CICA. The work was developed

through research and empirical literature. The literature search was what gave

allowance for the theoretical construction for this research. And the field was the

research subject four female heads of households, which are served by the institution

mentioned above and also received the collaboration of the Social Worker who has

work with these families, located in Bela Vista, São Paulo. The results obtained in

this research were that families headed by womem survive through mutual aid and

benefits of transfer income.We found that these families survive because members of

working age, are already in the labor market formal and informal, also depend on

transfers from institutions and charities.

Key words: family, monoparientalidade, female heads of household.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CICA- Centro infantil Clara de Assis

CEAS- Centro de Estudos e Ação Social

CRAS- Centro de referencia da Assistência Social

CAPS- Centro de atenção psicossocial

CCA- Centro da criança e adolescente

ECA- Estatuto da Criança e do adolescente

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LBA- Legião Brasileira de Assistência

MPAS- Ministério da Previdência e Assistência Social

MDS- Ministério do Desenvolvimento social

PNAS- Politica de Assistência Social

SEFRAS- Serviço Franciscano de Assistência Social

SMADS- Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO---------------------------------------------------------------------------------12

CAPITULO I – AS TRANSFORMAÇÕES FAMILIARES NO

MUNDO CONTEMPORÂNEO. -----------------------------------------------------------16

1.1- AS FAMÍLIAS MONOPARENTAIS -------------------------------------24

CAPÍTULO II - A FAMÍLIA CHEFIADA POR MULHERES E SEUS

DESAFIOS PARA A SOBREVIVÊNCIA------------------------------------------------29

2.1- O TRABALHO FEMININO E AS TRANSFORMAÇÕES

NO SEU COTIDIANO-----------------------------------------------------------------38

CAPÍTULO III- HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E O INÍCIO

DA ASSISTÊNCIA ÀS FAMILIAS POBRES-----------------------------------44

3.1 - ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO

INFANTIL CLARA DE ASSIS (CICA)---------------------------------------------51

3.2- PROCEDIMENTO DA PESQUISA--------------------------------------51

3.3- CENÁRIO DA PESQUISA------------------------------------------------52

3.4- PERFIL DAS FAMÍLIAS---------------------------------------------------55

CONSIDERAÇÕES FINAIS---------------------------------------------------------------59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS----------------------------------------------------60

APÊNDICE I - ENTREVISTA COM AS FAMILIAS---------------------------------65

APÊNDICE II- ENTREVISTA COM A ASSISTENTE SOCIAL------------------66

APÊNDICE III- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO - TCLE--------------------------------------------------------------------67

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INTRODUÇÃO

No decorrer dos semestres da graduação em Serviço Social, foi possível

perceber que havia uma afinidade com a disciplina Estruturas Familiares no Brasil,

em que a mesma trazia no seu contexto a história e as mudanças na conjuntura

familiar. Isso foi o que motivou o interesse pelo tema a sobrevivência das famílias

monoparentais femininas: o desafio das famílias pobres. Com isso coloquei como

indagação ‘’como sobrevivem às famílias pobres chefiadas por mulheres?’’ Que

possibilitou a pesquisa e a construção dessa monografia.

Esta pesquisa teve como objetivo geral conhecer as formas de sobrevivência

das famílias monoparentais femininas pobres. Em que os objetivos específicos

foram verificar e consequentemente analisar como essas famílias sobrevivem e

quais as formas de sobrevivência e aprimorar os conhecimentos sobre o tema em

questão.

As famílias monoparentais pobres femininas brasileiras, expostas nesta

pesquisa sobrevivem da ajuda mútua e dos benefícios de transferência de renda.

Constatou-se que essas famílias também sobrevivem porque os integrantes com

idade de trabalho estão no mercado de trabalho formal e informal, e ainda que essas

famílias dependem de repasse material de instituições e obras assistenciais.

A pesquisa social apresentada teve uma abordagem qualitativa e descritiva,

com caráter exploratório. A pesquisa qualitativa possui preocupação com o nível de

realidade que não pode ser quantificado, respondendo a questões que são

reservadas.

Para a coleta dos dados empíricos, contou-se com a colaboração das

mulheres chefes de famílias atendidas pelo CICA (Centro Infantil Clara de Assis),

localizado no bairro Bela Vista, na cidade de São Paulo. Os instrumentos utilizados

para a coleta de dados contou com entrevistas, com perguntas abertas,

semiestruturadas e a observação. Buscou-se também conhecer o trabalho da

Assistente Social no CICA, desenvolvido com essas famílias, onde utilizamos os

mesmos instrumentos de pesquisa.

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Para enriquecimento da pesquisa foi feito levantamento bibliográfico sobre o

assunto em livros, arquivos científicos e em trabalhos que já foram desenvolvidos

sobre o tema. Procurou-se levantar elementos de como essas famílias sobrevivem,

e quais suas estratégias diante de suas dificuldades financeiras, além do problema

na busca de trabalho, muitas vezes pela falta de qualificação.

Vale ressaltar, que no momento da utilização dos dados da pesquisa foram

usados nomes fictícios para todos os participantes. Para a primeira entrevistada foi

escolhido o nome de Mônica, baseado na personagem de Maurício de Souza, que

representa uma menina autoritária e independente. A segunda Magalí, personagem

de uma garota esperta. A terceira é representada pela Aninha, menina batalhadora.

Para a quarta usamos Marina, personagem que possui inteligência brilhante. E para

nossa quinta entrevistada que foi a Assistente Social, representamos com o nome

de Mafalda, personagem criada pelo Argentino Quino que representa uma menina

questionadora e preocupada com a humanidade. Lembrando que todas as

entrevistadas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para a

elaboração da referida pesquisa.

A monografia conta com três capítulos: o primeiro capítulo trata sobre o

conceito de família e suas transformações na sociedade, fazendo um resgate na

história da origem da família, e suas modificações no seu âmbito familiar, e naquele

que a chefia. Foram descritas a passagem da família sindiásmica para a

monogâmica. Procuramos para um melhor entendimento, informações sobre as

mudanças ocorridas na sociedade brasileira que serviram de reflexos para essa

transformação, já que a família não é um elemento estático e tudo que acontece ao

seu redor interfere na sua dinâmica.

Com isso, o que se observa não é o seu enfraquecimento, como o senso

comum afirma, e sim o surgimento de novos arranjos. Em que foi possível constatar

diante de vários fatores o crescimento significativo das famílias monoparentais, em

especial a feminina. Foram apresentados nessa pesquisa, ainda, modelos de

famílias que foram impostos pela sociedade, como, por exemplo, as famílias

patriarcais. Nas quais o homem tinha o poder de decisão, pois era quem ditava as

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ordens e a mulher tinha a função de cuidar da casa, e da educação dos filhos. Tal

modelo é considerado tradicional, característico da época colonial.

No desenvolvimento do segundo capitulo, foram abordadas a chefia feminina

domiciliar e suas formas de sobrevivência. Procurou-se conhecer melhor suas

estratégias, já que são mulheres sozinhas, que buscam o sustento para a sua

família, como também são as únicas responsáveis pelo cuidado dos filhos. As

mulheres que são as provedoras do lar enfrentam alguns obstáculos no seu

cotidiano, como o preconceito, por fazerem parte de uma sociedade machista e não

igualitária.

Ainda no segundo capítulo, fala-se sobre as mudanças ocorridas na vida da

mulher através da sua entrada no mercado de trabalho. Apesar das mudanças que

já ocorreram nessa área, a mulher além de competir, no mercado de trabalho,

também luta pela a igualdade de salário, e na maioria das vezes, ela ocupa funções

de menor remuneração ou exerce a mesma função que o homem, mas recebendo

salário ainda menor.

Outro fator importante para a vida da mulher que abordamos, foi o controle do

seu corpo, diante do surgimento da pílula anticoncepcional, sobre a qual ela obteve

o poder de opção sobre ter ou não filhos. Esta mudança foi significativa, já que a

mulher na sua história sempre esteve destinada para ser uma boa esposa e mãe.

Nesta pesquisa buscou-se entender o contexto sócio histórico da profissão do

Serviço Social no Brasil, para tanto, foi desenvolvido um pequeno histórico sobre a

profissão e o início da Assistência aos pobres. Lembrando que o Brasil em 1930

passava por um momento crescente de expressões da questão social, em que os

operários estavam insatisfeitos com a jornada extensa de trabalho, e os salários

baixos que recebiam, e as famílias estavam vivendo de maneira precária.

Acredita-se que a situação fez com que criassem o CEAS (Centros de

Estudos e Ação Social) como resposta a esta condição. E com ajuda do CEAS foi

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criada a primeira escola de Serviço Social em São Paulo. Sobre a ajuda a famílias

pobres, tornou-se essencial, falar nessa monografia sobre os aspectos da

Assistência no Brasil, como a criação em 1942 da Legião Brasileira de Assistência

(LBA), cuja finalidade era prestar serviços sociais às famílias dos brasileiros que

estava na Segunda Guerra Mundial. Sua criação aconteceu no governo Getúlio

Vargas, e quem estava à frente da LBA era sua esposa, a primeira dama Darcy

Vargas.

Também no terceiro capítulo, foi descrito todo o desenvolvimento da

pesquisa, e do cenário em que estava sendo realizada. Falou-se dos instrumentos

utilizados para coleta de dados, tais como: a entrevista, e a observação. Entendeu-

se que seria importante, nesse terceiro capítulo, fazer uma abordagem da atuação

do Assistente Social, em especial seu trabalho desenvolvido no CICA (Centro Infantil

Clara de Assis).

A abordagem com a Assistente Social do CICA buscou conhecer seus

instrumentos de trabalho, e também conhecimento da rede de assistência social que

buscam para efetivação de sua intervenção. A intenção, além de conhecer como era

desenvolvido o trabalho do Assistente Social com essas famílias, também era

entender como essas famílias sobrevivem, dentro de suas limitações financeiras e

até mesmo psicológicas, sendo que as mesmas passam por dificuldades no âmbito

familiar, algo que determina um esforço cada vez maior por parte de todos os seus

componentes.

Por fim de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),

as famílias chefiadas por mulheres aumentam a cada dia na sociedade brasileira, o

que faz ressaltar a relevância do estudo sobre este assunto, levando em conta que a

família é uma instituição social fundamental para todas as áreas que estão assim

relacionadas ao Serviço Social.

16

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CAPITULO I – AS TRANSFORMAÇÕES FAMILIARES NO

MUNDO CONTEMPORÂNEO.

Observando a familia na atualidade, pode-se dizer que esta esteve sempre

em constante mudança, desde o início de sua formação. Diante deste fato serão

relatados alguns conceitos e também descritos quais fatores foram importantes para

suas transformações.

Para que se entenda melhor o assunto ‘’família’’, a PNAS (Política Nacional

de Assistência Social), a define como ‘’grupos de pessoas que se acham unidos por

laços consanguíneos, afetivos e, ou de solidariedade’’. (PNAS, 2004, p-35).

Entende-se que atualmente, para a família sejam mais importantes os vínculos

afetivos do que os consanguíneos.

Constata-se também, que o conceito de familia para o IBGE (2002, p-04), é o

’’conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou

normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que

mora só em uma unidade domiciliar. ’’

É compreendida por dependência doméstica a relação de pessoas que são

referência na família, ou que moram juntas mesmo não estando ligadas por laços

sanguíneos. Já as famílias conviventes, são no mínimo duas pessoas que residam

juntas em unidade particular ou coletiva. Essas famílias dividem o mesmo espaço

físico.

A expressão “família” foi inventada pelos romanos para designar um novo

organismo social, cujo chefe mantinha sob seu poder a mulher, os filhos e certo

número de escravos, com o pátrio poder romano e o direito de vida e morte sob

todos eles. O primeiro efeito do poder exclusivo dos homens no interior da família, já

17

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entre os povos civilizados, a família patriarcal1, uma forma de família que assinala a

passagem do matrimônio sindiásmico à monogâmica.

Já a família monogâmica, nasce no período de transição entre a fase média e

superior da barbárie, é expressão da “grande derrota histórica do sexo feminino em

todo o mundo”. (ENGELS, 2009, p.46-48) 2.

Neste período, para Engels, o homem tornou sua paternidade inquestionável

momento que baseava- se na procriação, com a finalidade de tornar seus filhos

herdeiros direto. Agora eles entrariam como herdeiros dos bens de seu pai, sem

nenhum questionamento da sociedade. Situação em que o homem exigia castidade

e fidelidade da mulher.

Diante disso solidifica-se a família patriarcal, a herança da propriedade pela

linhagem paterna, e a exigência da virgindade e de fidelidade feminina de forma a

garantir a legitimidade dessas heranças, seja em família monogâmica ou poligâmica.

Como já fora mencionado, a família passou por algumas mudanças desde a

sua origem. Claro que as modificações ocorridas na sociedade vieram contribui para

esta transformação. A seguir será abordado um pouco do período colonial tempo em

que as famílias seguiam o ‘’modelo patriarcal’’, também conhecido como família

extensa.

Para se falar deste modelo de família torna-se importante que se volte à

época do Brasil colonial. Onde segundo Freyre, (1993), em sua obra Casa Grande e

Senzala, representa todo sistema econômico, social, político, retratando esse

modelo onde:

1 ‘’Patriarcado’’, ’’Patriarcalismo’’, daí ‘’família patriarcal’’ - Tipo de sociedade ou organização social antiga, existente, por algum tempo, entre os romanos os hebreus e os outros povos, em que o chefe de família (patriarca) tinha poderes quase absolutos

sobre a esposa e filhos, sendo mesmo o sacerdote do lar. (ver em As famílias brasileiras e o patriarcado, Narvaz, Martha Giudice, 2006, p-51).2Morgan (1982), nos seus estudos sobre a família chega à conclusão que existiu uma época em que havia um comércio sexual, de forma que a mulher pertencia a todos os homens e cada homem igualmente a todas as mulheres. Onde apenas as mulheres eram as genitoras. Tendo um grande apreço. Com a monogamia a mulher passou a pertencer apenas a um homem. Exigia fidelidade apenas da mulher. Sendo a escravização de um sexo pelo outro. Em que o homem, tinha total domínio sob a mulher.

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[...] reunia em si toda a sociedade, e não era só o elemento dominante da época formado pelo senhor e sua família nuclear, mas também os elementos mediadores constituídos pelo enorme número de bastardos e dependentes, além da base de escravos domésticos e, na ultima escala da hierarquia, os escravos da lavoura. (FREYRE, 1993.p-366).

Tal modelo era imposto e mais aceito pela sociedade da época. Vale lembrar

que as famílias tinham que segui-lo ou estariam fora dos padrões para época. O

homem tinha o poder de decisão, era quem ditava as ordens, enquanto à mulher

cabia o cuidado da casa, e a educação dos filhos. Esse era o modelo tradicional da

época colonial.

Alem disso, o mundo familial é palco de muitas interpretações. Conforme

Szymanski,(2003), descreve que a sociedade produz alguns significados para os

modelos em familias. Onde produz:

’’teorias’’ambíguas e incompletas que descreve aquele mundo particular das relações. Exemplos ‘’mulheres são... ’’, ‘’homens são... ’’, os filhos devem... ’’, ’’só existe amor se... ’’ou se for sempre boazinha e assim por diante, esse discurso vem sendo construído em cada mundo familial, dando-lhe uma feição própria, mesmo que sob um modelo. (SZYMANSKI, 2003, p-25)

É importante que se entenda que cada familia possue sua própria maneira de

viver e de interpretar seus significados, além da questão da cultura propria, a qual

leva esas familias terem seus próprios rituais e regras, o que exige que todos as

respeitem.

Para Santos (2010), a família a que hoje nos referimos como família

tradicional, é para Engels:

Resultado do surgimento da propriedade privada, pois nos estudos por ele apresentados, fica evidente a transição para a família monogâmica a partir da necessidade de garantir aos herdeiros dos bens e propriedades adquiridas pelo homem durante sua vida produtiva. (ENGELS apud SANTOS, 2010, p-62).

A exigência da transição da família sindiásmica para a monogâmica seria a

forma encontrada para garantir o direito sobre a herança paterna. Fase na família

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19

onde houve maior preocupação com seus descendentes e o futuro das

propriedades.

Como já fora mencionado, na sua história, a familia patriarcal era imposta

pela sociedade e por entidades religiosas, na qual o homem tinha o poder absoluto.

Momento que historicamente o pai era o provedor e o que tinha o domínio total do

domicílio.

A familia patriarcal burguesa do período colonial era à base desses sistema mais amplo e, por suas características quanto à composição erelacionamento entre seus membros, estimulava a depedência na autoridade paterna e a solidariedade entre os parentes. (SAMARA, 1983, p-10).

As famílias patriarcais também eram influenciadas pela Igreja, isso explica

porque, por muito tempo, elas eram reconhecidas apenas pelo casamento religioso.

A Igreja tinha influência até mesmo no comportamento dessas famílias, exigindo que

vivessem de acordo com seus princípios.

Quando se fala em termo de organismo social, a família é o mais antigo. No

entanto, segundo Oliveira, ‘’ela sempre existiu a partir do momento em que passou a

existir o primeiro homem no seu exemplo mais rudimentar de que se tem

conhecimento’’. (OLIVEIRA, 2002, p-22).

Esse fato demonstra que a família passou por um extenso processo de

transformações no caminho de sua evolução e que ainda hoje é continuo. Portanto,

pode-se assim considerar a família um elemento ‘’ativo’’.

Para Tercioti, (2010, p-39) a família após suas transformações, ‘’deixa de ser

vista como um núcleo econômico, patrimonial e passa a ser uma entidade que se

funda no afeto’’. . É nela que o indivíduo adquire seus valores, e desenvolve sua

personalidade. Hoje, a família pode ser uma unidade formada por laços afetivos.

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20

Segundo Court, (2005, p-27) a ‘’ família representa para a vida social e

pessoal uma experiência única de sociabilidade humana... ’’. Isso acontece porque é

na família onde se aprende a viver em sociedade, aprende-se também as regras de

convívio, e a viver como seres sociáveis.

No decorrer dos estudos sobre família, a imagem da família patriarcal vem

sendo desfeita constantemente. Remetendo-nos a pensar quais fatores que

contribuíram para este processo de mudanças. Sabe-se que as famílias em seu

âmbito, se transformam de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade, pois

as mesmas são reflexos de tudo que acontece ao seu redor.

Diante disso Petrini,( 2005, p-42) descreve que ‘’a família participa das

relações sociais e sofre influência do contexto político, econômico e cultural no qual

esta imersa’’. A família é um elemento que esta sempre em transformação, não

possuindo forma fixa e a sociedade a influência diretamente.

A mulher, historicamente, na tradicional família patriarcal, sempre foi vista

como a responsável pela harmonia e o cuidado para com o marido e responsável

única pela família, além de cuidar da casa e dos filhos.

Dessa forma, a principal função atribuída à mulher, era a de ser mãe e desse

modo, como expõe Gilberto Freyre, a questão da´´submissão da mulher, tida pelo

homem em decorrência do desejo de se eliminar concorrência no jogo econômico e

político.´´ (FREYRE,1993,p-34,153).

Acredita-se que a submissão desta mulher estava de acordo com os padrões

da época, sendo esta a forma mais aceita pela sociedade. Para explicar melhor tal

submissão feminina, será mencionada a socialização da mulher, onde esta é

educada para cuidar do lar, ser esposa e mãe.

Até o século XV, como descreve Ariés (1975, p-231), na familia não possuía

sentimentos. Havia apenas o sentimento de procriação de sua espécie de forma

que:

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21

A familia era uma realidade moral e social, mais que sentimental [...] Sentimentalmente a familia quase não existia entre os pobres e quand havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem. (ARIÈS, 1975, p 231, apud SZYMANSKI,2006,p-25).

Para Ariés, (1975), as uniões eram apenas para desenvolvimento de sua

espécie, e também econômicas. Nesta época, as familias não pensavam nos valores

sentimentais, pois o interesse era a procriação da espécie, além da preocupação

com a moralidade perante a sociedade.

Quando as famílias mudam, torna-se importante identificar como alguns

processos contribuem para as mudanças na organização das mesmas, além de

identificar que fatores tiveram relevância neste processo. ’’ Entre uma das mudanças

é a chefia feminina que se evidencia nos dados demográficos, principalmente nas

classes mais empobrecidas’’. (AVILA, 2005, p-44). Situação mais comum entre as

famílias pobres do que em outras classes.

Para Leite, o que contribuiu para as mudanças ocorridas na família tendo a

mulher como referência, aconteceu devido ao:

[...] acesso da mulher ao mercado de trabalho, e o controle da concepção, do conhecimento de seu corpo e o domínio dos métodos contraceptivos que evitou gravidezes numerosas certas indulgencia social e as mudanças na legislação ordinária civil são elementos que contribuíram para este fenômeno. (LEITE, 2003, p 60).

É importante falar que a entrada da mulher no mercado de trabalho, tornou-se

uma conquista considerável, sendo um dos fatos importantes para sua emancipação

e uma mudança na sua história de submissão.

As últimas décadas têm se caracterizado por significativas mudanças na

família, tornando o modelo de pai, mãe e sua prole biológica apenas um dos

múltiplos arranjos possíveis.

Page 23: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

A família era vista pela sociedade, de forma moral e ética, pois a mesma tinha

que seguir padrões os quais eram aceitos e regulados por ela. Estando claro que

22

estas questões vinculadas a aspectos sociais interferiram diretamente na sua

evolução.

Segundo Tercioti, (2010, p-38), não se pode fixar um modelo uniforme de

família, porque os modelos acompanham os movimentos sociais, fazendo

adaptações de acordo com a época. Diante disso, é importante lembrar que como a

família esta inserida na sociedade, esta é influenciada por suas transformações

modificando sua esfera familiar.

Para Bilac, (2003, p-43) ‘’as mudanças ocorridas na família relacionam com a

perda do sentido tradicional’’. Sabe-se que as mudanças que ocorre na sociedade

interferem na dinâmica da família, causando transformações na sua forma de viver e

se relacionar.

Conforme Bilac, (2003), descreve em seu artigo que ‘’o amor, o casamento, a

família, a sexualidade e o trabalho, vividos a parti de papéis predeterminados,

passam a ser individualizados... adquire cada vez maior importância social’’.

Lembrando que a família na sociedade tradicional, não apresentava uma

convivência conflitiva, pelo fato de seus papéis já estarem definidos. Mas quando

essa individualidade da sociedade contemporânea surge, a dinâmica também se

transforma e os conflitos aparecem.

Concorda-se que as intensas mudanças, nas características da composição

da família na contemporaneidade, estão expressas na sua diversidade; alterações

no seu funcionamento, nas dinâmicas e hierarquias. A família obteve mudanças em

sua configuração, como também naquele que a chefia.

Para Goldani, (1994, p-22) “as explicações mais comuns para as mudanças

na família foi a crescente e marcante presença das mulheres brasileiras nos

espaços públicos, acompanhadas pelo o feminismo, desigualdade e direito da

mulher”.

Page 24: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

23

Acredita-se que todos esses fatores, entre outros elementos, foram

importantes nesse processo de compreensão, por motivo até mesmo de

sobrevivência. Fatores estes que estão ligados aos processos rápidos nos padrões

sociais, políticos e econômicos, fatores ocorridos na sociedade.

Contudo as modificações ocorridas na sociedade têm cooperado para as

mudanças na composição da família de forma que a C.F.de 1988 em seu art. 226, §

4º dispõe sobre o conceito de família monoparental “como entidade familiar a

comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.

A família natural é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. A família natural tem por base o casamento e as relações jurídicas dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e filhos. Se nesta época predominava uma visão sobre o convívio familiar [...]; não é a composição interna dessas famílias o elemento gerador da pobreza, mas sim a condição de trabalho das mulheres que as chefiam. (BUTTO, 1998, p-72)

É importante ressaltar que o modelo de família monoparental sempre existiu,

seja por viuvez, pois na maioria das vezes essas pessoas optavam por não casarem

novamente, ou por abandono, e até mesmo por divórcios.

Historicamente, a família sempre se transformou desde sua formação, sendo

possível verificar que na atualidade os modelos de famílias são diversos, fazendo

com que a mesma não tenha um padrão definido, não deixando de ser considerada

uma entidade familiar.

Para Petrini, (2005, p-29) ’’essas mudanças, concentradas e aceleradas,

repercutem significativamente na vida familiar’’. Diante do que diz o autor, acredita-

se que tudo que acontece na sociedade interfere na dinâmica das famílias, pelo fato

destas estarem inseridas nela.

Page 25: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

A família no seu contexto histórico sofreu muitas mudanças, na sua formação,

na constituição de seus membros, na sua quantidade. Na contemporaneidade não

há um padrão ou modelo de família a ser seguido, mas deve ser considerado a

multiplicidade de famílias apresentada na sociedade. A família que seguia um mode

24

lo patriarcal, aceito pela sociedade, possuía chefia do seu senhor e obediência de

sua senhorinha e dos demais. Na atualidade, esta família está sendo chefiada, na

maioria dos lares brasileiros pela mulher. Esta, que antes tinha a obrigação dos

cuidados dos filhos, marido e do lar.

1.1-AS FAMILIAS MONOPARENTAIS

Quando o assunto é família, vêm logo à cabeça aquela constituída por pai,

mãe e filhos. Mas na atualidade, encontram-se com diversas configurações e

conceitos de família, não existindo um modelo ideal, no qual se possam encontrar

exemplos como as famílias monoparentais. 3

Porém, a família monoparental ou unilinear, é reconhecida como entidade

familiar e desvincula-se da ideia de um casal relacionado com seus filhos, pois estes

vivem apenas com um dos seus genitores, em razão de viuvez, separação judicial,

divórcio, adoção unilateral, não reconhecimento de sua filiação pelo outro genitor,

produção independente, etc. (DINIZ, 2002, p.11). Estes foram alguns dos fatores

determinantes para a monopariedade, mas há ainda as famílias homoparentais,

anaparentais.

Diante de vários tipos e formas de famílias, torna-se importante falarmos que

antes do reconhecimento de sua terminologia ser definida como família

monoparental, muito foi discutido sobre sua nomenclatura, como ‘’situações de

ordem familiar ’’, ’’família unilinear’’, ‘’lar monoparental’’, chegando então a sua atual

definição. (LEITE, 1997, p-24)

3 Família formada por apenas um dos cônjuges e seus filhos. (ver sobre em DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil

brasileiro: direito de família. 17. Ed. São Paulo: Saraiva 2002. V. 5.)

Page 26: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Diante disso, mesmo sabendo seu conceito, não se pode definir com clareza

e limite suas formas de definições, até os membros que a compõem, pois se

deparam com diversos tipos e quantidade em sua composição.

25

A família deve ser apreendida enquanto unidade ativa, pois esta, ao longo de

sua história, sempre esteve em transformação, sendo constituída por pessoas que

possuem ou não laços sanguíneos, buscando atender ás necessidades materiais,

emocionais ou afetivas daqueles que a pertence.

De acordo com pesquisas sobre o assunto, foi possível entender que este

arranjo sempre existiu, mas só agora está mais em evidência. Entende-se que a

família passou por várias mudanças e as famílias monoparentais faz parte desse

contexto.

Contudo as modificações ocorridas na sociedade cooperaram para as

mudanças na composição da família de forma que houve um aumento considerável

deste arranjo, fazendo com que este tipo de família, fosse reconhecido pela C.F.de

1988 em seu art. 226, § 4º dispõe sobre o conceito de família monoparental “como

entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus

descendentes”.

As famílias monoparentais mesmo antes de serem reconhecidas como direito constitucional já existiam. Elas se originavam das rupturas de uniões, hoje reconhecidas como uniões estáveis. Onde essas enfrentaram os sérios problemas econômicos, isso porque o estado não dava qualquer proteção ou auxílio, a sociedade as discriminava de forma que nem mesmo os filhos escapavam da discriminação e da posição inferior perante os filhos frutos de matrimônios. A sociedade olhava a família monoparental como fracasso. (TERCIOTI, 2011, p-48)

Contudo, este tipo de família não advém somente de mulheres pobres.

Mesmo possuindo uma boa estabilidade financeira, muitas mulheres, hoje em dia,

estão optando por uma produção independente por meio da inseminação artificial,

pois elas não querem se prender a um casamento, mas não abrem mão da

maternidade.

Page 27: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Ocorre que a família não é um elemento estático, estando sempre em

transformação nas suas configurações e sendo influenciada pelo ambiente na

sociedade na qual está inserida. Observa-se que em todas essas circunstâncias a

família não está desorganizada, ela apenas está de maneira diferente.

26

Diante dessas transformações sociais ocorridas na sociedade, pode-se dizer

que foram reflexos nas formas de família, tendo forte influência no crescimento das

famílias monoparentais femininas, sendo uma característica nas classes mais

pobres, embora este fato não deixa de ser visto também entre outras classes

sociais.

O fato é que as famílias monoparentais estão relacionadas mais com as

mulheres do que aos homens. Segundo Novelino,( 2003,p- 02) ’’ há uma tendência

para o aumento da pobreza entre as mulheres, associada ao aumento das taxas de

domicílios por elas chefiados’’.

Diante disso, acredita-se que o aumento desses domicílios refira-se ás

transformações ocorridas nas famílias já mencionada nesta pesquisa como divórcio,

viuvez etc. E a pobreza, estando relacionada às mulheres, refira-se a falta de

qualificação das mesmas. Não se pode esquecer, ainda, que é comum mulheres

com as mesmas qualificações dos homens, ganharem salários inferiores aos deles.

Para isso, o reconhecimento e a definição da família monoparental como

família natural também é extraído do artigo 25, da Lei nº 8.069, de 13 de julho de

1990, quando dispõe que “entende-se por família natural a comunidade formada

pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes”. Desse modo, também se

percebe seu reconhecimento no Estatuto da Criança e do Adolescente. 4

Esta entidade familiar constituída de um genitor que educa e cria sozinho

seus filhos, é um fenômeno que sempre existiu:

4http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/revistajuridica/Artigos/PDF/JonabioBarbosa_Rev92.pdf.Pesquisado dia 10/03/2012 as 00; 34.

Page 28: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Sempre existiram viúvos e viúvas, mães solteiras e mulheres separadas ou abandonadas por seu marido que assumem, por inteiro, o encargo de sua progenitura. Mas o crescimento de divórcios, observado a partir dos anos 60 nos países industrializados, produziu um impacto sobre a configuração das famílias. Como a maioria dos casais desunidos tem filhos, os lares dirigidos por um só genitor sofreram um aumento considerável e uma intensa visibilidade. Os analistas sociais lhes atribuem, então, uma denominação inédita: famílias monoparentais. O neologismo é amplo e procura designar, 27

ao mesmo tempo, novas formas de monoparentalidade oriundas de rupturas voluntárias de uniões, bem como formas antigas (desaparecidas) decorrentes de falecimentos de deserções de cônjuges, como também os nascimentos extramatrimoniais. (TERCIOTI, 2011, p- 49).

Entende-se que na atualidade a família não esta definida apenas pelo modelo

de pai, mãe e seus filhos, muitas vezes a monopariedade é uma opção. Diante

disso, fica difícil determinar um único fator para a geração da monopariedade. Vê-se

que foram diversos os acontecimentos que contribuíram para a sua existência e

crescimento.

As mudanças ocorridas na sociedade têm contribuído para as modificações

na composição da família. Com isso, o que se observa não seja seu

enfraquecimento, mas o surgimento de novos modelos.

A sociedade civil, segundo Leite nas três ultimas décadas, teve uma

transformação considerável, onde a:

[...] monopariedade se impôs como fenômeno social, desde as três ultimas décadas, mas com maior intensidade nos últimos vinte anos, ou seja, período onde foi constatado maior número de divórcios. (LEITE, 2003, p-21).

Neste momento, é fato que o divórcio foi um fator determinante para o

crescimento deste novo arranjo familiar. Atualmente, as famílias monoparentais,

tiveram um número crescente junto às famílias de mulheres pobres5, chegando

assim ao crescimento expressivo das mulheres chefes de famílias.

Entretanto, segundo o IBGE (2006), esse tipo de família é representado

principalmente por mulheres com filhos e idade igual ou superior a 14 anos, podendo

encontrar mães solteiras com filhos já criados, ou até viúvas, cujos filhos

5 Cabe esclarecer que a palavra pobre aqui usada é no sentido, de indivíduos destituídos de instrumentos importantes para sociedade capitalista; educação, riqueza material e simbólica. Os quais são poder, prestígio, ascensão social.

Page 29: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

permanecem em casa por opção ou necessidade, ainda segundo o IBGE, de 1995 a

2005, a porcentagem de famílias chefiadas por mulheres com filhos e sem cônjuge

passou de 17,4% para 20,1% no Nordeste, e no Sudeste, de 15,9% para 18,3%.

28

Antes de se pensar que estas famílias chefiadas por mulheres sejam

características somente de mulheres pobres. É importante observar que na

atualidade mesmo possuindo uma boa estabilidade financeira, muitas mulheres

estão optando por uma produção independente, por meio da inseminação artificial,

não se prendendo a um casamento, e não querem abrir mão da maternidade, em

que tornam a monopariedade uma opção.

Page 30: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

29

CAPITULO II- A FAMÍLIA CHEFIADA POR MULHERES E SEUS

DESAFIOS PARA A SOBREVIVÊNCIA.

Nos últimos anos, cresceu o número de famílias chefiadas por mulheres.

Essas famílias são, na sua grande maioria, de baixa renda, sendo a mulher

provedora do lar, com baixa escolaridade, ou nunca tendo frequentado uma escola,

e não possuindo qualificação profissional.

Torna-se mais difícil quando esta mulher é a principal responsável nos

cuidados com os filhos e com as despesas do lar. Tal situação é fator predominante

para que aceitem trabalhos com baixas remunerações, ou até mesmo busquem

renda informal, para que possam manter o sustento da casa.

De acordo com Mônica ( 2012), uma das entrevistadas nesta pesquisa, a falta

de estudo e qualificação profissional, é o que dificulta encontrar um bom emprego,

em que a mesma diz ’’não tenho estudo, e nunca fiz nenhum curso sempre tive que

procurar ganhar algum dinheiro para ajudar pagar as contas’’.

As formas como essas famílias sobrevivem, é algo amplo e bastante

importante. Visto que a maioria das famílias monoparentais femininas de baixa

renda, procuram os programas de transferências de renda, ou buscam outras formas

de solidariedade entre elas.

Conforme Mônica, (2012) receber o benefício de transferência de renda é

’’uma ajuda a mais que tenho para pagar meu aluguel, já que não tenho emprego’’.

Diante disso pode-se constatar que as famílias pobres possuem nesses programas

de transferência de renda, mais uma ajuda para supri as necessidades da família.

Page 31: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

30

As famílias que possui como chefe a mulher pobre, em sua grande maioria,

trabalham na informalidade devido à falta de qualificação profissional, ou pelo fato

de não conseguirem lugares para deixar seus filhos enquanto trabalham. Isso torna

ainda mais difícil a busca por um trabalho formal.

De acordo com Magalí, (2012), ter um local para deixar sua filha quando esta

não esta na escola é:

‘’[...] o que me ajuda muito porque não tenho com quem deixar, quando ela não esta na escola... e preciso sair pra vender meus cosméticos e também faço faxina num barzinho.’’

A realidade dessas mulheres é algo preocupante, pois vivem a preocupação

quanto ao cuidado com os filhos e a falta de trabalho, principalmente de elas serem

as únicas provedoras do lar.

Para essas mulheres ter um local seguro para deixar seus filhos, enquanto

buscam seus meios de subsistência é algo importante. Essa é uma das

preocupações daquelas que possuem filhos pequenos e o que mais dificulta a

procura por um emprego.

Como relata Magali, ( 2012), ’’não tenho ninguém que posso confiar para

deixar minha menina... nem posso contar com ajuda do pai dela’’.

Segundo Azeredo, (2010), essas famílias na necessidade de buscar o

trabalho, possuem ainda o problema do cuidado com os filhos, devido à falta de

lugares para deixá-los. Sobre isso, ele descreve :

A realidade de conciliação entre a vida familiar e trabalho, dos precários rendimentos, de pais ausentes, de formas desiguais de responsabilidade familiar, entre outras causas sociais, tem possibilitado alterações na dinâmica das famílias. (AZEREDO, 2010, p-580).

Page 32: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Conforme esta problemática este seria um dos fatores que contribui para a

mulher pobre buscar o setor informal e ainda a aceite trabalhos precários, que

31

dificultam sua sobrevivência, levando estas famílias a uma vida em condições

insalubres.

Diante dessas questões Szymanski,( 1995), destaca:

O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. (SZYMANSKI, 1995, p. 27, apud AZEREDO, 2010, p-576).

Conforme a autora descreve, estas famílias buscam solucionar seus

problemas, dentro de suas possibilidades. Essas soluções acontecem diante das

dificuldades que vão surgindo, seja através da ajuda mútua entre familiares, ou

vizinhos.

É fato que a busca por trabalho com registro em carteira no Brasil, é algo

que fica cada dia mais difícil. O aumento do desemprego é que leva muitas famílias

optarem pelo trabalho informal, sem registro em carteira, onde trabalham por conta

própria, mas não montaram nenhuma empresa. São os conhecidos ‘’bicos’’, que na

verdade são alternativas de sobrevivência para muitos brasileiros.

Para exemplificar foi usado mais uma vez, Mônica, (2012), que diz ‘’já que

não tenho trabalho, sou cuidadora de criança, sem registro, cuido dos filhos dos

meus vizinhos... são quatro crianças, faço transferência delas de uma escola para

outra’’.

A falta de um trabalho faz com que muitas mulheres tracem estratégias de

sobrevivências, como podemos constatar com Mônica, mesmo sendo na

informalidade. A função de cuidadora de crianças é muito comum entre as famílias

pobres, sendo este um meio para consegui algum dinheiro.

Page 33: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

32

Diante da falta de registro em carteira, sendo contribuição para economia

informal6, há um problema, como segundo Fuser, (1997, p-105), relata é que ‘’como

o trabalhador informal não é registrado em carteira profissional [...] Não se beneficia

de uma série de direitos’’.

Entende-se que a concorrência no mercado de trabalho, e a não qualificação

profissional da população de baixa renda, elevam o trabalho informal. Além de ser

fator dominante no que direciona a procura por essas formas de trabalho, em que a

principal preocupação seria pela sobrevivência7. Também acarreta o não acesso aos

benefícios que teria direito se fosse um trabalho formal.

As estratégias que essas famílias utilizam no cotidiano para superar seus

problemas são diversas; elas buscam o fortalecimento através da união de seus

grupos familiares, e nas redes de solidariedade que as cercam. Essas famílias

costumam viver em aglomerados, preferem viver perto uma das outras, porque

acreditam que estando próximas facilitam a ajuda mútua.

Diante disso Mello, (2003, p-54) diz que ‘’para compreender esse aglomerado

é preciso ampliar o nosso conceito tradicional de família, pois família e parentes

designam três tipos de laços’’.

É preciso entender que os laços que a família das camadas populares é

composta são a nuclear própria, mais aquela que inclui parentes dos parentes e

compadres sem laços sanguíneos. Que por questões de sobrevivência preferem

habitar juntas.

Pode-se constatar que nas famílias pobres, os filhos em idade de trabalho, já

buscam sua inserção no mercado de trabalho como é o caso de Aninha, (2012),

outra entrevistada da pesquisa em que diz ‘‘... sou faxineira, moro com meus cinco

6 Economia informal é a que engloba todas as atividades econômicas não registradas que contribuem para o PIB. Ver economia subterrânea,( TANZI, 2009, p-25).7 Refere-se à maneira de garantir o mínimo necessário à subsistência individual ou de um grupo doméstico. Ver sobre isso em família: cotidiano e luta pela sobrevivência. (Gomes, 2003)

Page 34: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

filhos...tenho meu filho que já é maior de idade ele trabalha e me ajuda em casa

também’’.

33

É fato a ajuda entre os membros da família, em idade de trabalho. Em que um

vai buscando inserir os outros que chegarão à idade de trabalho, fortalecendo desse

modo, os vínculos e aumentando os meios de subsistência da família.

As dificuldades são uma constante na vida dessas famílias, formando assim

uma rede de solidariedade8 entre todos eles. Como relata Brant:

Existem entre essas famílias algumas formas de solidariedade, como aquela conterrânea ou parental que é expressa no cotidiano através dos empréstimos seja financeiro, para pagamento de dívidas, ou aquele que está no cuidado com os filhos. (BRANT, 2008, p-93).

Entendemos que essas famílias constroem um vínculo entre eles, se

solidarizando com as dificuldades um do outro. Todos se mobilizam para suprir as

necessidades daqueles que estão próximos. Em que segundo Aninha (2012), uma

das entrevistadas diz ‘’moro perto do meu irmão, nem penso em ficar longe porque

ele me ajuda muito... eu também faço tudo por ele’’.

Os problemas enfrentados pelas famílias, que inclui a mulher como

provedora, são diversos, ficando difícil sua sobrevivência na sociedade. Isso faz com

que encontrem na solidariedade o caminho para sobrevivência.

Para Sarti, (2010, p-67) ‘’cumprir o papel masculino de provedor não

configura, de fato, um problema para a mulher, acostumada a trabalhar, sobretudo

quando tem necessidade’’.

Diante disso, a mulher mesmo no seu domicílio sempre exerceu algumas

funções, como faxineira, cozinheira, lavadeira. Ela busca, nessa experiência, a

forma de manter sua família, além de assegurar a dimensão do respeito, tida pela

figura masculina, quando este era o provedor do lar.

8 s.f. Dependência mútua entre os homens. / Sentimento que leva os homens a se auxiliarem mutuamente.

Page 35: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

A mulher, mesmo diante da dificuldade de encontrar trabalho, procura suprir

as necessidades da família, mesmo tendo de submeter-se aos subempregos, á

34

exploração de seu trabalho e às baixas remunerações. Muitas vezes ela exerce as

mesmas funções dos homens, e seus ganhos são menores que os dele.

A rede familiar que ultrapassam as paredes do lar, é que garante a

sobrevivência dessas famílias, que tem a mulher como provedora, na qual existe

uma mobilização que visa suprir a necessidade daqueles que dela precisam.

A família busca atualizar os papéis que as estruturam, através da rede

familiar. Diante disso Sarti relata:

A família pobre não se constitui como núcleo, mas como ramificações que envolve a rede de parentesco como um todo, configurando uma trama e obrigações morais [...] viabilizam sua existência como apoio e sustentação básica. (SARTI, 2010, p-70)

Entende-se que essas famílias necessitam da ajuda de parentes, sendo

assim fundamental para sua sobrevivência financeira, sentimental ou moral. As

famílias se fortalecem quando ficam juntas.

Entre as mulheres pobres as formas de solidariedade estabelecidas são que

uma sempre pode contar com outras mulheres como ela, seja para o desempenho

dos trabalhos domésticos ou no cuidado dos filhos. Como ressalta Costa, ‘’isso

ocorre independentemente de haver ou não creches’’ (COSTA, 2002, p. 312, apud

AZEREDO, 2010, p-580). Essas situações são comuns entre essas mulheres

quando uma precisa trabalhar e não tem lugar para deixar seus filhos. Devido à falta

de acesso a instituições públicas que venham suprir esta necessidade.

Essa forma de ajuda sempre está disponível entre as famílias que não

possuem condições financeiras ou não podem contar com outro tipo de proteção

para seus familiares. Ainda, sobre este tipo de solidariedade, Fonseca, diz: ‘’trata-se

de uma prática onde cuidar das crianças não se limita à mãe, nem ao casal. Mobiliza

Page 36: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

uma rede de adultos que se estende para além do grupo de parentesco”

(FONSECA, 2002, p. 57).

35

Entende-se que as famílias pobres não tendo acesso aos benefícios das

políticas públicas sociais municipais, estaduais e tendo a necessidade de buscar seu

sustento elas procuram se mobilizar entre si, buscando suas próprias soluções.

No Brasil a solidariedade nunca foi algo descartável. Ela sempre foi e será

nas camadas populares, a sua forma de resistência e sobrevivência, sendo comuns

na família alargada, os conterrâneos, que, como diz Brant, 2003, são ‘’possibilidades

de maximização rendimentos, apoios, afetos e relações para obter emprego,

moradia, saúde...’’ (BRANT, 2003.p-17).

Entende-se que para essas famílias o fato de não possuírem condições

financeiras e a falta de acesso a políticas sociais é o que faz com que busquem

alternativas de apoio, solidariedade com aqueles em quem podem confiar.Diante

disso, torna-se importante lembrar que para os pobres, família são aqueles em quem

se pode confiar e contar nos momentos de dificuldades.

Um exemplo de confiança está na relação de uma das entrevistadas da

pesquisa, Marina, que busca nos vizinhos ajuda para o cuidado de sua filha, em que

a mesma diz’’... se não fosse a ajuda de minha vizinha, nem sei como seria, preciso

buscar o sustento da casa...sou diarista’’.(MARINA,2012). A ajuda entre vizinhos nas

famílias pobres é muito importante, pois são nesses que podem confiar.

Nestes casos existe a solidariedade apadrinhada, que é bastante comum

entre essas famílias. Aquela em que algum membro da família, possui com alguma

outra família de classe média e alta. Na qual este vínculo assegura um canal de

doações de roupas, eletrodomésticos, remédios.

Como relata Marina, (2012), uma das entrevistadas ‘’como faço trabalho em

casas de famílias, termino ganhando muitas coisas como roupas, calçados,

brinquedos e até móveis já ganhei’’. Esta é uma das formas de ajuda comum e

importante para estas famílias, já que seus ganhos, ás vezes, não são suficientes

para suprir todas as suas necessidades.

Page 37: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Na história das famílias que possuem a mulher como provedora, é comum

encontrarmos a busca por ajuda junto ás Igrejas. Segundo Brant, essa solidariedade

36

missionária seja ela Católica, Protestante, Espírita ou seitas afro-brasileiras sempre

fez parte da vida dessas famílias de baixa renda.

A Igreja é a instituição com maior credibilidade para a população, e na maioria das vezes, as instituições religiosas, mais que os partidos políticos ou os agentes políticos, que formam as bases para o salto organizativo da população, expresso nos movimentos de luta por moradia, saúde, saneamento, transporte etc.(BRANT, 2008, p-94).

A confiança que essas famílias possuem na Igreja de certa forma é enorme.

Em muitos momentos, são nesses locais onde elas buscam ‘’força’’ para continuar a

busca pela sobrevivência. Constata-se, ainda, que é nesse processo que nascem

projetos coletivos para satisfação de necessidades comuns.

Essas famílias buscam sobreviver através das mais diversas estratégias,

buscando melhores condições de vida para os demais, como comenta Pinto:

As estratégias de sobrevivência se colocam desta forma na construção do projeto de vida desses sujeitos, no sentido de buscarem o que querem e o que podem construir a partir dos recursos de que possuem. (PINTO, 2011, p.171).

Entende-se que essas estratégias são criadas por esses sujeitos, para

fortalecerem sua identidade, além de criarem suas próprias condições de continuar a

viver numa sociedade capitalista excludente onde a riqueza está na mão de poucos.

No Brasil, sempre foi comum os homens saírem do seu lugar de origem em

busca de melhores condições de trabalhos, ficando a mulher como responsável pelo

lar. Historicamente, ela tinha a função de cuidar da casa, do marido e de seus filhos.

Sobre o período de maior urbanização, no início do século XX, Fonseca,

(2000, p-528), afirma ‘’era intensa a mobilidade geográfica de homens e abandono

periódico de suas mulheres e famílias, como resultado de busca de melhores

empregos em outras cidades’’.

Page 38: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Entende-se que a busca por melhores condições era muito comum neste

período, visto que as melhores condições financeiras não eram privilégio de todos, e

37

sim apenas de alguns. Tal situação leva a ressaltar que a mulher por vários

momentos esteve à frente da chefia do lar.

A mulher para manter-se no mercado de trabalho, seja ele informal ou não,

faz-se necessário traçar algumas alternativas na realização de suas tarefas

domésticas, e nos cuidados com os filhos. Para suprir essa necessidade elas tecem

uma rede de apoio, seja entre parentes ou vizinhos. Dessa forma elas se fortalecem

diante das privações que vivenciam.

Desse modo, para a mulher conciliar seu trabalho doméstico, com sua

condição de mulher trabalhadora, ela precisa saber administrar seu tempo. Para isso

ela busca soluções na procura de escolas, creches, de modo auxiliar na sua

autonomia. Isso se faz necessário principalmente quando estas são as principais

responsáveis pelo domicílio.

Page 39: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

38

2.1- O TRABALHO FEMININO E AS TRANSFORMAÇÕES NO SEU

COTIDIANO.

Não se pode negar que a participação da mulher no mercado de trabalho,

teve aspecto positivo na sua emancipação, como a saída do âmbito doméstico. Tal

mudança terminou interferindo no convívio familiar e trouxe reflexões sobre sua

condição de subordinação. Nesse momento, a mulher também passou a ter mais

clareza dos seus direitos.

A inserção da mulher no mercado de trabalho proporcionou maior qualidade

de vida e um aumento educacional significativo, além do crescimento de vida. Claro

que não se pode esquecer que a da dupla jornada de trabalho, na qual a mulher

exerce trabalho dentro e fora de seu lar.

A mudança ocorrida na economia trouxe alterações em relação ao trabalho e

a inserção da mulher. Segundo Santos, (2008, p- 03), isso aconteceu logo após ‘’ a

Revolução Industrial, em que a agricultura não era mais o ponto fundamental da

economia... os salários oferecidos pelas indústrias não eram suficientes’’.

Entende-se que para a mulher essa mudança foi significante porque ela

deixou de exercer apenas as funções domésticas para qual sempre esteve

destinada. A mulher saiu do âmbito familiar e passou a ser valorizada, podendo

contribui financeiramente com as despesas do lar.

Para muitas, exercer um trabalho fora do lar faz com que tenham uma

sensação de ‘’liberdade’’ de empoderamento. Em muitos momentos a mulher é a

única a manter o lar, tal sentimento torna-se gratificante. Segundo, França e

Schimanski,2008, ’’foi a partir da década de 70 no século XX, que se deu uma

grande transformação desta conjuntura com a inserção das mulheres no mercado de

trabalho no Brasil.’’(FRANÇA, SCHIMANSKI, 2008, p-72).

Page 40: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

39

É preciso lembrar que primeiramente a mulher entrou no mercado de trabalho

devido às mudanças ocorridas no setor econômico, quando o homem não dava

conta de manter o lar e esta passou a trabalhar fora para complementar a renda

familiar.

Ainda, de acordo com França e Schimanski,(2008,p-73), ‘’diante desse novo

contexto social, a mulher passa a transpor novos horizontes e começa a competir

com o homem pelo espaço externo de trabalho. ‘’

Apesar das mudanças que já ocorreram no mercado de trabalho, a mulher

além de competir no mercado de trabalho, também luta pela a igualdade de salário,

pois na maioria das vezes ocupa funções de menores remunerações ou exerce a

mesma função do homem, recebendo remuneração menor.

Voltando ao subtítulo, a seguir serão descritos outros acontecimentos que

contribuíram para esta transformação na vida da mulher, através do trabalho,

apresentando alguns fatores que foram importantes na história do trabalho feminino.

Segundo Tercioti,( 2010), a passagem da economia agrária à industrial atingiu

as famílias, modificando sua convivência no lar;

[...] transformando-as e reduzindo o número de nascimentos nos países desenvolvidos O homem vai para as fábricas e a mulher sai em busca do trabalho fora do lar. A saída da mulher, no século XX, transformou sensivelmente a condição da família, porque os país passam há ter pouco tempo para convivência com os filhos. (TERCIOTI,2010,p-36).

Entende-se que esta mudança fez com que ocorressem alguns conflitos que

levaram ao divórcio, surgindo outros tipos de arranjos familiares, que depois de

algum tempo passaram a ser aceito tanto pela constituição como pela sociedade.

Para complementar vale ressaltar as palavras da Assistente Social do Centro

Infantil Clara de Assis:

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40

[...] Antes tínhamos aquele modelo padrão. Falarei através da minha visão das mulheres que aqui atendemos. Acredito que o abandono dos maridos e a inserção da mulher no mercado de trabalho, trouxeram uma independência financeira... hoje a sociedade deixou de ser conservadora, mudou seu olhar em relação à família. Atualmente essas mulheres sozinhas são vistas como a mulher batalhadora e que são capazes de manter suas famílias sem a presença masculina.

Quando se fala em trabalho feminino nos remete a uma época em que a mulher

jamais poderia se imaginar trabalhando fora de seu lar. Pois no Brasil, as mulheres

índias, negras ou brancas, ricas ou pobres, na sua história, tiveram uma grande luta

para serem aceitas, respeitadas como trabalhadoras no lar ou fora dele.

De acordo com Bruschini,( 1998), as modificações ocorridas a parti da década

de 1970, na vida da mulher, com a influência dos movimentos feministas, trouxeram

mudanças devido às:

[...] transformações nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher, intensificadas pelo impacto dos movimentos feministas desde os anos setenta e pela presença cada vez mais atuante das mulheres nos espaços públicos, alteraram a constituição da identidade feminina, cada vez mais voltada para o trabalho produtivo. (BRUSCHINI, 1998, p-3).

Diante disso, as transformações ocorridas na vida da mulher seriam não

apenas pela uma mudança econômica, mas também por padrões culturais de

valores sociais, tendo um impacto maior após os movimentos sociais, nas

reinvindicações dos direitos femininos.

Conforme a tradição de uma sociedade machista, a mulher era educada para

ser esposa, uma boa dona de casa e mãe, sendo comum, a uma sociedade que

considerava a família patriarcal e o casamento burguês como instituição inabalável.

Ao homem sempre foi designada a função de sustentar a casa e sua família.

Ser mulher numa sociedade tradicional não igualitária é ter sua identidade

feminina sempre vinculada à maternidade, ficando limitada à condição de mãe e

dona de casa.

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41

Segundo Cavalcanti, (2005, p-86) ‘’a discriminação contra a mulher não está

simplesmente impressa aos papéis modeladores e nas concepções hegemônicas

presentes na sociedade brasileira’’.

A sociedade atual possui também outras formas de discriminação como por

raça, etnia, classe social, confirmando assim uma exclusão não só econômica como

também social. E quando a mulher é negra, a situação torna-se mais grave.

As limitações para a mulher entrar no mercado de trabalho até a década

de1960, como descreve Toledo e Gancho (1997), eram de várias ordens: ‘’ a lei, a

ideologia machista, as poucas atividades femininas e a baixa remuneração’’.

(TOLEDO E GANCHO, 1997, p-66, 67).

Além de todos esses obstáculos, a mulher também era considerada como

individuo sem responsabilidade social, como o menor e o índio, e caso desejasse

trabalhar fora, deveria ter autorização do pai ou do marido. Fato que algum tempo

atrás havia uma lei que sustentava esta situação, referida no artigo 247 do código

civil de 1916.

Atualmente a mulher ingressa absolutamente no mercado de trabalho. É mãe,

chefe do lar, camponesa, operária, empresária, política. Apesar de exercer funções

que antes eram consideradas masculinas, continua sem receber o mesmo salário

que o homem.

Devido à importância de tal acontecimento, ainda ha muito que ser mudado

em relação ao salário feminino, visto que sua remuneração ainda esta abaixo da

masculina, mesmo exercendo funções iguais.

Diante disso, segundo Cavalcanti,(2005, p-95) relata que ‘’é determinante

ainda a tripla discriminação sofrida pelas mulheres na sociedade moderna... nas

esferas do emprego, precariedade nas condições de vida e remuneração.’’

42

Page 43: A sobrevivência-das-famílias-monoparentais-femininas-o-desafio-das-famílias-pobres

Para que melhor se entenda basta lembrar os empregos precários, que são

destinados para às mulheres, das desigualdades de gêneros e os baixos salários.

Pode-se constatar que o aumento do trabalho feminino foi significativo em

diversos países, mas isso não fez com que seus salários se igualassem aos dos

homens. Onde Antunes,( 2009), relata que:

Sabe-se que esta expansão do trabalho feminino tem, entretanto, significado inverso quando se trata da temática salarial... desigualdade salarial das mulheres contradita a sua crescente participação no mercado de trabalho...o mesmo ocorre aos direitos e condições de trabalho.

(ANTUNES,2009,p-105).

Numa sociedade conservadora, a mulher obter salário inferior ao do homem

termina sendo um fato comum, apesar das mudanças atingidas pelo setor feminino.

Esta continua exercendo dupla jornada de trabalho dentro e fora de casa. Isso leva a

refletir sobre o real mundo do capitalismo que revela tamanha desigualdade.

Diante disso, pode-se concordar com Antunes, (2009, p-106) quando o autor

descreve que ‘’no mundo capitalista existe uma divisão sexual do trabalho’’. Em que

as atividades de maior capital são destinadas aos homens, enquanto aquelas de

menor remuneração e qualificação são oferecidas as mulheres.

De acordo com Romanelli, (2006, p-77) ‘’é preciso considerar que a

participação da mulher no mercado de trabalho... redefiniu sua posição na família e

na sociedade.’’ Isso porque houve uma transformação na vida doméstica, mudando

a dinâmica familiar, tornando a mulher produtora de rendimentos financeiros.

Após a mulher ter se emancipado, devido à sua entrada no mercado de

trabalho, foi possível perceber que as transformações em sua vida foram grandes,

principalmente quando esta teve domínio do seu corpo através do surgimento das

pílulas anticoncepcionais.

43

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A importância do domínio do corpo através das pílulas anticoncepcionais,

para a mulher segundo Itaboraí,(2002), trouxe:

A possibilidade de a mulher continuar trabalhando... depois do nascimento de um filho certamente depende muito das possibilidades concretas de resolver o cuidado com filhos pequenos. As alternativas variam com a condição econômica da família e também com a disponibilidade de substitutos para a mãe no domicílio ou na rede de parentesco. (ITABORAI, 2002, p-15).

Diante disso, esse foi um fator importante que contribuiu para a liberdade da

mulher, a partir da década de 1960, quando a pílula anticoncepcional veio

proporcionar condições de escolha para a mulher em relação à maternidade e ao

número de filhos que gostaria de ter. Ela também poderia optar pela maternidade ou

não.

A mulher de hoje, não é aquela que no seu cotidiano exerce o trabalho

doméstico e cuida dos filhos, e sim aquela que exerce dupla jornada de trabalho, na

busca do sustento dos seus demais. É aquela que é vista como batalhadora,

trabalhadora e que se mostra capaz de manter um lar e cuidar da educação dos

filhos. Mesmo nos desafios que a vida proporciona, ela é capaz de traçar estratégias

para enfrentá-los.

44

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CAPÍTULO III. HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E O

INÌCIO DA ASSISTÊNCIA ÁS FAMILIAS POBRES.

Neste item será abordada através de um pequeno histórico, sobre a profissão

do Serviço Social e seu surgimento no Brasil. Também será descrito um breve

histórico do início da Assistência às famílias pobres.

De acordo com Albernaz e Silva (2009), o surgimento do Serviço Social no

Brasil ‘’ocorreu num contexto histórico social da década de 1930, com iniciativa da

Igreja Católica com referências europeias e a serviço das classes dominantes’’.

(ALBERNAZ; SILVA, 2009, p-167). Emergiu relacionado a uma necessidade de

criação de novas formas de controle, das manifestações da ‘’questão social’’9.

Quando o serviço social chegou ao Brasil veio com uma característica

assistencialista e controladora. Esse histórico contribuiu para dar mais força ao

capitalismo monopolista, porque a intenção era dominar o avanço do movimento

operário, pois a repressão policial já não conseguia contê-los. A intenção

primeiramente era controlar as classes que estavam insatisfeitas com a situação da

época.

Nessa mesma época, ’’ estavam sendo implantadas as Leis Sociais, que na

verdade se tratavam de leis trabalhistas de Getúlio Vargas ‘’(ALBERNAZ; SILVA,

2009, p-167). Esta foi a maneira que os governantes da época encontraram para

controle dos movimentos.

Isso ocorreu devido ao crescimento da classe operária e de suas famílias nos

cortiços, a insatisfação destes profissionais com a jornada de trabalho excessiva e

os baixos salários, obrigando o Estado a promover algumas concessões, tendo

como principal objetivo o controle das massas.

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9 Conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura. (IAMAMOTO, 2011, p-27).

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Neste mesmo período, segundo Martinelli, (2011, p-122) a ‘’luta pela vida,

pela sobrevivência, pelo trabalho, pela liberdade, levava o proletariado a avançar em

seu processo organizativo, o que era visto com apreensão pela burguesia’’.

Entende-se que a luta de classes, diante do quadro expressivo da época,

buscava seu espaço numa sociedade não igualitária, onde o proletariado era minoria

e viviam em constante conflito. A burguesia naquele momento tinha a preocupação

de controlar essas classes.

Para tanto, foi implantado o trabalho de agentes sociais para atuarem no

controle social das classes trabalhadoras e subalternas. O recrutamento destes

agentes era feito pela Igreja Católica, que escolhia membros das classes

dominantes e oferecia-lhes uma formação ideológica cristã. ’’ Os agentes eram

geralmente moças jovens, e, atuavam junto às mulheres e crianças dando-lhes

orientações de higiene, serviços domésticos, moral e valores normatizados pela

doutrina cristã. ’’ (ALBERNAZ; SILVA, 2009, p-168).

Diante de um conservadorismo evidente do serviço social da época, entende-

se que o trabalho social possuía uma visão assistencialista, em que estes exerciam

função paliativa, além de culpar o indivíduo pela a situação que estava vivendo.

Ficando assim evidente para Iamamoto e Carvalho, (2008) a necessidade de

formação técnica especializada na prestação de assistência, em que foi criada no

ano de 1932:

[...] os centros de estudos e ação social (CEAS), que eram ministradospela Igreja Católica, com a intenção de tornar mais técnica, efetiva e dar maior rendimento as iniciativas e obras promovidas pela filantropia das classes dominantes. (IAMAMOTO; CARVALHO. 2008 p-168).

Antes da criação desses centros, a assistência às famílias pobres era feita

através da Igreja e das famílias por meios de doações da sociedade local. Houve

então a necessidade de técnicas para a atuação junto ás suas atividades.

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A ideia da criação do CEAS (Centros de Estudos e Ação Social) se deu após

a visita da belga Adèle de Loneux da Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas,

que veio para o Brasil realizar palestras e participar de conferências em São Paulo e

Rio de Janeiro, apresentando pela primeira vez o Serviço Social. (IAMAMOTO;

CARVALHO, 2008 p-168). Após alguns anos o CEAS, teve importante colaboração

para a criação da Escola de Serviço Social no Brasil, em São Paulo.

O Brasil passava por um momento de muitos problemas sociais, os operários

estavam insatisfeitos com as muitas horas de trabalho, e os salários que recebiam.

As famílias estavam vivendo de maneira precária, e havia muito desemprego.

Acredita-se que a situação fez com que criassem o CEAS como resposta a esta

condição.

Como relata Iamamoto e Carvalho, (2008, p-175), Adèle de Loneux

apresentava o Serviço Social de acordo com o modelo europeu, conceituando este

como um “conjunto de esforços feitos para adaptar o maior número possível de

indivíduos à vida social ou para adaptar as condições da vida social às

necessidades dos indivíduos".

A forma como foi inserido no Brasil, o Serviço Social, tornou-se uma ação

contraditória, vindo a serviço do Capitalismo e não para atender a necessidade da

classe trabalhadora. Além disso, a realidade brasileira era diferente da européia.

De acordo com Iamamoto e Carvalho (2008), o objetivo central do CEAS era

’’a orientação para a formação técnica especializada de quadros para a ação social

e a difusão da doutrina da Igreja’’. (IAMAMOTO; CARVALHO. 2008 p-173). Diante

disso a formação nos CEAS era destinada ás moças católicas da sociedade.

Vinculava a mulher ao papel da ajuda considerada um lugar feminino pela Igreja e

coletividade.

O CEAS em 1937, ainda segundo Iamamoto e Carvalho, (2008), em sua

trajetória atua no Serviço de Proteção aos migrantes, ’’funcionando junto à diretoria

de terras, Colonização e Imigração’’. Em 1939, assina contrato com o departamento

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Serviço Social do Estado de São Paulo, para organização de três centros Familiares

em bairros populares.

Os Centros de Estudos e Ação Social ofereciam uma tríplice vantagem, que

seria o ponto de partida para seu desenvolvimento:

1º - São campos de observação e de prática para a trabalhadora Social que aí completa e aplica os seus estudos teóricos.

2º - São Centros de educação familiar, onde se procura estimular nas jovens operárias o amor ao lar e prepará-las para o cumprimento de seusdeveres nessa missão.

3º - São Núcleos de formação de elites que irão depois agir na massa operária. Com esse intuito não somente cuidamos de estimular nessas jovens uma fé viva e esclarecida, o sentimento do exato cumprimento do dever, como também despertar-lhes o espírito de apostolado da classe pela classe com a noção das... que lhes incubem nesse terreno. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008,171).

A Igreja enxergava o trabalho social como estritamente feminino, devido ao

fato da mulher ser designada para a educação, higiene, economia doméstica.

Fazendo da assistência um lugar da mulher. Acredita-se que venha desta visão o

estereótipo da profissão ser definida como feminina. A mulher era aquela que

deveria ajudar e compreender.

Para obter a técnica da profissão, segundo Iamamoto; Carvalho, ( 2008),

Adéle de Loneux em sua volta à Bélgica’’ foi acompanhada por Maria Kiehl e

Albertina Ramos, que foram buscar conhecimento e técnica no Serviço Social.

’’(IAMAMOTO; CARVALHO, 2008). Foram as primeiras brasileiras a receberem

formação na área, na Escola de Serviço Social de Bruxelas. Esta viagem consistia

na busca do aperfeiçoamento da técnica em Serviço Social.

Outro momento importante na Assistência no Brasil foi à criação em 1942 da

Legião Brasileira de Assistência (LBA) com a finalidade de prestar serviços sociais

às famílias dos brasileiros que estava na Segunda Guerra Mundial. Sua criação

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aconteceu no governo Getúlio Vargas, e quem estava à frente da LBA era primeira

dama Darcy Vargas.

Diante disso a assistência estava vinculada à mulher mais uma vez e é nesse

sentido, que para Torres “[...] o Estado se exime da sua responsabilidade e da sua

função de intervenção na chamada ‘questão social’, transferindo essa

responsabilidade para a própria sociedade sob a direção das primeiras-damas”

(TORRES, 2002, p.22, apud CISNE, 2007, p- 02).

A Assistência sempre esteve de certa forma atrelada à mulher e esta à

questão social, até mesmo quando esta assistência estava vinculada a Igreja. A

mulher era vista como paciente sensível tinha as qualidades para o cuidado com o

próximo.

De acordo com Yazbek, ( 2008,p-12), terminada a Segunda Guerra Mundial, a

LBA se volta para a Assistência à maternidade e à infância e já nesse momento se

inicia ‘’a política de convênios com as "beneméritas" instituições sociais... está na

raiz da relação simbiótica da Assistência Social brasileira que vai estabelecer com a

Filantropia e com a benemerência’’.

Conforme a autora, a ajuda às famílias pobres começa ser exercida neste

período após a Segunda Guerra Mundial, através do trabalho de instituições sociais

e políticas que se relacionavam com a assistência social.

Segundo Cisne, (2007), a LBA, ao expandir-se, passou a atuar em

praticamente todas as áreas da assistência social:

[...] influenciando significativamente a própria dinamização, estruturação e racionalização da assistência social brasileira. Apesar disso, não rompeu com as práticas assistencialistas que vigoravam no “enfrentamento” à questão social. (CISNE, 2007, p-02)

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Conforme Cisne, (2007, p-3) ’’os problemas e desigualdades sociais não eram

analisados, muito menos enfrentados, mediante os conflitos de classe, mas por meio

de um viés moralizante, ’’.

Entende-se que o trabalho da LBA segundo Cisne, era produzido com um

olhar moralizante, os conflitos eram vistos como desvios que deviam ser

controlados, ajustados em nome da ordem.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial a LBA passou a atuar na assistência a

maternidade e a infância. A criação da LBA proporcionou um aumento significativo

na assistência às famílias e foi fator importante na implantação do Serviço Social.

Para uma melhor compreensão do assunto Yazbek, (2008, p-12), diz que ‘’ A

LBA foi organizada... no engajamento do País na Segunda Guerra Mundial...

objetivo era o de prover as necessidades das famílias, cujos chefes haviam sido

mobilizados para a guerra’’.

Entende-se que a criação da LBA conforme a autora, se deu devido à falta de

condições das famílias daqueles que estavam a serviço na Guerra, em que os

familiares que ficavam não tinham condições financeiras de manter o sustento do

lar.

A instituição da LBA, mesmo dispondo de técnicos capacitados para a função,

tinha seu comando entregue às primeiras damas, caracterizando o aspecto

filantrópico, de ações clientelistas, conforme os interesses dos governos.

De acordo Simili, (2004, p- 05), com a finalização da LBA foi criado o

Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), ligado a Secretaria Nacional

de Assistência Social (SNAS) que seria responsável pela gestão da política Nacional

de assistência Social (PNAS) que assumiria o papel da LBA e do também extinto

Ministério do Bem Estar Social.

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Vale ressaltar, ainda, que a assistência social não contributiva é dever do

estado e direito de todo cidadão. Com a finalização da LBA, o governo teve que criar

novos rumos para a assistência social, para continuar a atender àqueles que dela

necessitassem.

A LBA teve significativa trajetória na assistência junto às famílias, mas de

acordo com Simili, (2004, p- 04), ’’no ano de 1995 o então presidente Fernando

Henrique Cardoso extingue a LBA por decreto, sendo que nenhuma outra instituição

foi criada com o objetivo de substituí-la’’.

Entende-se que todo governo prefere criar seus competentes projetos, não

dando assim continuidade aqueles que já foram criados pelos anteriores. A intenção

seria criar suas próprias ideias para simbolizar seu governo.

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3.1 - ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO INFANTIL

CLARA DE ASSIS (CICA).

Neste item serão detalhados todos os elementos utilizados para a elaboração

desta pesquisa, de forma que serão esclarecidos todos os instrumentos utilizados

para a realização da referente pesquisa.

3.2 -Procedimento da pesquisa:

A pesquisa realizada no Centro Infantil Clara de Assis (CICA), com o

Assistente Social teve uma abordagem qualitativa. Em que para sua realização

utilizamos os instrumentais como: entrevista, e a observação.

Para a construção da entrevista, foram feitas perguntas apenas abertas. O

que tornou possível uma melhor aproximação do entrevistado diante da intenção

que era conhecer o seu trabalho, o papel que este desenvolve na Instituição, e o seu

trabalho com famílias.

Na Instituição CICA, houve a possibilidade de observar a dinâmica do

ambiente, o que possibilitou melhor apreensão e visão do trabalho que nela é

desenvolvida.

Para o desenvolvimento da entrevista foram elaboradas perguntas abertas e

semiestruturadas, que na sua execução davam possibilidade do Assistente Social

ser flexível nas suas respostas. Isso possibilitou ainda melhor aproximação entre

entrevistador e entrevistado.

A entrevista foi realizada com horário e data devidamente agendados pelo

entrevistado após contato telefônico. Para uma melhor coleta de dados a entrevista

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foi gravada com o consentimento do entrevistado e posteriormente transcrita para

análise da pesquisa.

Vale ressaltar, ainda, que também nesta instituição foi realizada a entrevista

com quatro famílias, que por ela são assistidas. A escolha das mesmas foi de

acordo com o perfil da pesquisa. A realização das entrevistas com as famílias

aconteceu em dois dias, devido às possibilidades de agendamento com as mesmas.

Para a realização das entrevistas com as mulheres foram utilizados os

mesmos instrumentos que foram empregados na entrevista com o Assistente Social

com a diferença que a entrevista não pode ser gravada, devido a não autorização

destas famílias. Todos os envolvidos assinaram o termo de consentimento da

entrevista. Tais dados foram utilizados no 2º capítulo desta pesquisa. Os sujeitos

participantes da pesquisa, ficaram ciente que todos os dados seriam mantidos sob

sigilo.

3.3-Cenário da pesquisa:

A Instituição Centro Infantil Clara de Assis (CICA) é um trabalho realizado

pelo Serviço Franciscano de Assistência Social (SEFRAS), e fica localizada na Rua

Major Diogo, 836, Bairro Bela Vista.

O Centro Infantil Clara de Assis oferece atendimento a 85 crianças de 4 e 9

anos, que estão matriculadas na rede de ensino, filhos de famílias moradoras de

cortiços do bairro da Bela Vista. Os atendimentos são baseados no Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA). Em que realizam atividades socioeducativas e

culturais que garantem a proteção, o desenvolvimento e o incentivo a vida cidadã.

Durante a permanência das crianças no centro, são realizadas atividades

lúdicas, relacionadas ao meio ambiente, e á cultura. Ainda desempenham trabalho

de acompanhamento com as famílias, visando sempre o bem estar familiar.

A instituição atua há 12 anos na região e procura agir em três eixos: criança,

família e comunidade. Estimula ações que fortalecem a participação familiar e

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comunitária. Oferece oportunidade de acesso às informações sobre direitos e sobre

a participação cidadã estimulando a justiça social.

O trabalho desenvolvido no Centro Infantil Clara de Assis, segundo a

Assistente Social ‘’são diversos... algumas famílias nos procuram para suprir a falta

de creche na região. Mas aqui não é creche é um centro de convivência infantil’’.

(MAFALDA, 2012).

Entende-se que as famílias pobres não possuem condições financeiras, para

pagarem um local para seus filhos permanecerem enquanto buscam o sustento de

suas famílias, por isso buscam por estes lugares.

De acordo com o que Gomes, (2006, p-70) relata é que a criação de creches

é ‘’uma necessidade vital e urgente de maneira de manter o trabalho materno nos

bairros populares’’.

Diante da falta desse auxílio muitas mulheres ao terem seus filhos,

abandonam seu trabalho por não conseguirem ninguém ou local para deixá-los.

Conforme Gomes faz-se necessária à criação destes locais. Acredita-se que as

creches nos bairros populares dariam mais tranquilidade para as mulheres

buscarem trabalho.

Conforme a demanda de creches nos bairros, é preciso que se lembrem dos

direitos que essas mães possuem em ter locais onde possam deixar seus filhos.

Diante dessa necessidade, o Assistente Social é o profissional capacitado para

esclarecer o direito dessas famílias.

Onde diante disso a Assistente Social do Centro Infantil Clara de Assis relata

que:

[...] Com as mães, é realizado uma vez por mês, reuniões, abrindo a questão da falta de creches na região. Tentamos fazê-las refletir sobre o seus direitos, e sobre quais medidas devem adotar nesta busca. Através dos movimentos de bairros, abaixo assinados.

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É fato que os assistentes sociais trabalham com as manifestações da questão

social, no seu cotidiano nas mais diversas formas. Seja na saúde, educação, família,

trabalho, habitação etc.

De acordo com Iamamoto,( 2011), um dos maiores desafios do profissional do

Serviço Social, é;

[...] desenvolver a capacidade de decifrar a realidade e construí propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. (IAMAMOTO, 2011, p-20).

Entende-se que a realidade da sociedade na atualidade se transformou e que

estas mudanças trazem demandas diferentes das de outras épocas, o que faz

necessário um profissional propositivo, sensível a todas essas modificações.

O profissional de serviço social, para exercer sua profissão faz uso da

instrumentalidade10, para o atendimento das demandas e o alcance das respostas

para chegar a seus objetivos.

No CICA, o trabalho da Assistente Social não é diferente, ele também faz uso

da instrumentalidade em seus atendimentos conforme relato:

[...] utilizamos a entrevista social com as famílias, mas com as crianças usamos o estudo de anamnese social, onde buscamos saber tudo sobre a vida da criança, seu histórico... Fazemos também a visita domiciliar, estudo socioeconômico. Aqui procuramos atender às famílias de baixa renda e em vulnerabilidade social. Muitas famílias na tentativa de consegui a vaga, costumam pintar um quadro de miséria, por isso fazemos a visita domiciliar, para conhecer a sua realidade, e quando vamos visitar vemos que a realidade não é esta.( MAFALDA, 2012)

10 A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza

objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. Ver a respeito em: A instrumentalidade no trabalho do Assistente Social. (Yolanda Guerra, 2007).

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Entende-se que o direito é para todos aqueles que procuram o local, mas

diante da falta de espaço é preciso fazer tais procedimentos, sendo importante que o

profissional do Serviço Social tenha que ir além daquilo que lhe é proposto.

O profissional no momento da sua abordagem tem que está ciente de seu

papel, tendo que fazer uso de seus instrumentais, além de possuí a sensibilidade

diante das interpretações que irar decifrar por traz das palavras que não são

expostas num primeiro momento.

Diante das mudanças ocorridas na sociedade se torna necessário que o

profissional do Serviço social, esteja preparado para as inúmeras demandas que

surgem no cotidiano. Segundo Iamamoto, (2011), ’’é preciso manter os “olhos

abertos”, pois o profissional que a contemporaneidade exige deve ser criativo e

competente, teórica e tecnicamente, e comprometido com o projeto profissional’’.

(IAMAMOTO, 2011, p-110).

Então, diante dessas transformações, é preciso que o profissional do serviço

social esteja sempre se qualificando para acompanhar, atualizar seus

conhecimentos, para poder decifrar as demandas que surgem através da questão

social.

3-4-Perfil das famílias:

As famílias atendidas pelo CICA, em sua grande maioria,residem em cortiços

da região do bairro Bela Vista- SP. Boa parte dessas famílias atendidas pelo centro

é chefiada por mulheres, que migraram da região nordeste, por vários motivos sendo

a violência doméstica o maior fator nesses casos, e até mesmo o abandono de seus

companheiros. No CICA de 100% das famílias que são atendidas, 70% são de

famílias chefiadas por mulheres.

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No Centro Infantil são atendidas mulheres entre 18 e 60 anos, incluindo avós

que cuidam dos seus netos, devido ao abandono de suas mães que possuem

problemas com drogas e álcool. As crianças atendidas pelo CICA possuem entre 4 e

9 anos. Um dos principais requisitos para o atendimento nesse centro é que a

criança esteja frequentando a rede escolar.

O profissional do serviço social não trabalha sozinho, é preciso que este

execute seu serviço junto às redes de assistência social, que lhe darão suporte para

execução de sua ação.

No CICA o trabalho Social é executado, segundo relato do Assistente Social

em conjunto com a rede de Assistência social da região que são: CRAS- Sé, CRAS-

Bela Vista, Conselho Tutelar. Alguns casos de denúncia que precisam de

acompanhamento são encaminhados para os Centros de Atenção Psicossocial-

CAPS- Infantil/ Sé, para uma triagem psicológica.

Busca também a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento

Social- (SMADS), como ação articulada e integrada de proteção social especial a

pessoas e famílias em risco e vulnerabilidade social. Possui ainda parceria com o

Centro Comunitário de Adolescentes (CCA) do Padre Mariano, no Colégio Santo

Agostinho, onde são ministrados cursos profissionalizantes para os jovens.

Diante da diversidade de serviços executados pelo CICA, vale ressaltar o

trabalho desenvolvido com as famílias em que buscam trabalhar o fortalecimento

dos vínculos entre os familiares. Além dos auxílios prestados a estas famílias, são

feitas uma vez por mês, reuniões com todos os pais e comunidade para

esclarecimento sobre seus direitos sociais.

Segundo o Ministério de desenvolvimento Social (MDS), o Centro de

Referência da Assistência Social (CRAS), é uma unidade pública estatal localizada

em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao

atendimento socioassistenciais de famílias.

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57

O CRAS é o principal equipamento de desenvolvimento dos serviços

socioassistenciais da Proteção Social Básica. Constitui espaço de concretização dos

direitos socioassistenciais nos territórios, materializando a política de Assistência

Social.

De acordo com o MDS o CRAS destaca-se em algumas atuações como:

1º - Na prestação de Serviços Continuados na Proteção Social Básica de assistência social a famílias, seus membros e indivíduos em situação de vulnerabilidade social, por meio do PAIF tais como: Acolhimento, acompanhamento em serviços socioassistenciais e de convivência ou por ações socioassistenciais, encaminhamento para a redede proteção social existente no lugar onde vivem e para os demais.

serviços das outras políticas sociais, orientação na garantia dos seus direitos de cidadania e convivência familiar e comunitária;

2º- Articula e fortalece a Rede de Proteção Básica local;

3º- Previne que as situações de risco no território onde vive famílias em vulnerabilidade social apoiando famílias e indivíduos em suas demandas, inserindo-os na rede de proteção social e promover os meios necessários para que fortaleçam seus vínculos familiares e comunitários e acessem seus direitos de cidadania. 11

Para execução dos trabalhos com famílias em risco e vulnerabilidade social,

se faz necessária a colaboração de toda a rede de assistência social. Vale lembrar

que o trabalho do Assistente Social é multidisciplinar.

De acordo com a Assistente Social o trabalho que é desenvolvimento no

CICA, se faz necessário e precisa do apoio da rede de assistência social nesse

conjunto de forma que este é ‘’executado... com toda a rede, como CRAS- Sé,

CRAS- Bela Vista, Conselho Tutelar. Alguns casos de denuncia que precisam de

acompanhamento, procuramos o CAPS- infantil/ sé, para uma triagem psicológica’’.

(MAFALDA, 2012).

Entende-se que o trabalho do Assistente Social não é autônomo, necessita da

colaboração de várias redes da assistência. Essas redes complementam o trabalho

5811 Ver sobre o assunto em www.mds.gov.br

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do profissional do Serviço Social com as famílias que deste necessitam. Este

profissional possui conhecimento e clareza das técnicas e metodologias, além de

esgotar as possiblidades, traçar estratégias, ser propositivo na tentativa de

solucionar as demandas que irão surgir.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É claro que não pode ser esgotado o tema proposto nessa monografia. Como

todo objeto de pesquisa e de intervenção do Serviço Social, ele está relacionado

com a conjuntura sócio - histórica, o trabalho ora apresentado é um início de

discussão e traz a possibilidade de reflexão de assuntos relacionados com essa

temática.

Constata-se que diante das mudanças ocorridas na sociedade se torna

necessário que o Serviço Social, esteja atento a estas transformações societárias.

Também é indispensável à interferência do Estado através do investimento em

políticas públicas que atendam a demandas referentes à mulher chefe de família.

Deve-se levar em conta que as famílias que possui a mulher como

mantenedora aumenta a cada dia na sociedade brasileira, o que faz ressaltar a

relevância do estudo sobre este assunto. Relembrando que a família é uma

instituição social fundamental para todas as áreas que estão assim relacionadas ao

Serviço Social.

Portanto, fica claro que quando se decide pela profissão do Serviço Social

depara-se constantemente com demandas relativas às famílias, seja nas políticas de

saúde, de assistência social, de educação, de habitação, em empresas, no terceiro

setor, ou em qualquer campo de atuação profissional, a família acaba sendo o foco

do atendimento e intervenção. O que faz necessário o acompanhamento e as

reflexões sobre as transformações societárias ocorridas, para o atendimento e a

intervenção profissional.

Não se pretende por meio desta pesquisa, produzir uma metodologia de

trabalho com famílias a ser seguida, muito menos afirmar um modelo ‘’idealizado’’ de

família, mas sim contribuir para a produção e a reflexão no que tange a discussão

sobre família, colaborando também na efetivação das propostas das políticas sociais

no trabalho e na proteção social das famílias brasileiras.

60

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APÊNDICES

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APÊNDICE I- ENTREVISTA COM AS FAMÍLIAS.

1-Qual o grau de escolaridade?

2-Possui curso profissionalizante?

3-Exerce trabalho com registro em carteira?

4-Qual o papel que você desempenha na família?

5-Quantas pessoas residem no local de moradia? Quem são?

6-Reside em imóvel próprio, alugado ou cedido?

7-Quais suas estratégias de sobrevivência no cotidiano?

8-Como administra seus conflitos familiares, já que precisa trabalhar fora e cuidar dos filhos sozinhos?

9-Obtém ajuda de parentes, vizinhos ou conterrâneos?

10-Está inserida em algum programa de transferência de renda do governo federal, estadual ou municipal?

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APÊNDICE Il. ENTREVISTA COM A ASSISTENTE SOCIAL.

1-Nome.

2-Tempo de formação.

3-Quanto tempo atua com famílias?

4- Qual o trabalho realizado pelo Assistente Social com famílias chefiadas por mulheres nesta instituição?

5- Quais os instrumentos que utiliza para a realização do trabalho com essas famílias?

6- Quais as maiores dificuldades apresentadas pelas famílias?

7- Faixa etária dessas famílias atendidas pela instituição.

8- Quais os aspectos facilitadores para execução do trabalho do Assistente Social?

9- Quais contatos com a rede de Assistência Social a instituição possui? E quais encaminhamentos realizam?

10- O número de famílias chefiadas por mulheres aumentou. Quais fatores você acredita que tenha contribuído para esta transformação?

11- Como que a sociedade enxerga essas mulheres que vivem sozinhas e cuidam de seus filhos?

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APÊNDICE III - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Gostaríamos de convidá-lo como voluntário da pesquisa intitulada: “A Sobrevivência das Famílias Monoparentais Femininas: O desafio das Famílias Pobres’’, que se refere a um projeto de Pesquisa para a construção do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC dos (as) alunos (as) Cristiane Ferreira Soares, vinculadas ao Curso de Serviço Social da Universidade Nove de Julho - UNINOVE, orientada pela professora Ms. Rosemeire dos Santos. O objetivo deste estudo é: Conhecer as formas de sobrevivência das famílias pobres chefiadas por mulheres.

Durante a coleta de dados não haverá qualquer alteração de sua atividade, horário e função e o tempo requerido será determinado pelo voluntário em função de sua disponibilidade.

Todos os dados coletados serão tratados com sigilo e confidencialidade. Seu nome não será divulgado em qualquer fase da pesquisa o que garante seu anonimato. Não haverá custos, riscos nem desconfortos decorrentes de sua participação neste estudo. Também não estão previstos ressarcimentos ou indenizações, não haverá benefícios imediatos na sua participação. Sua participação é voluntária e o senhor (a) poderá recusar-se a participar ou retirar seu consentimento em qualquer momento da pesquisa, sem qualquer prejuízo ou desconforto.

Desde já agradecemos sua atenção e participação e colocamo-nos à disposição para maiores informações. Em caso de dúvida(s) em relação ao projeto e pesquisa poderá entrar em contato com o responsável principal:

Também poderá entrar em contato com a Orientadora: Profª. Ms. Rosemeire dos Santos Professora da Universidade Nove de Julho – UNINOVE pelo email: [email protected].

Ao aceitar participar, você deve assinar esse termo de consentimento, juntamente com os alunos pesquisadores o termo do qual você terá uma cópia. Agradeço por sua atenção.

CONSENTIMENTO

Confirmo que Cristiane Ferreira Soares, explicou-me os objetivos desta pesquisa, bem como, a forma de participação. As alternativas para minha participação também foram discutidas. Eu li e compreendi este Termo de Consentimento, portanto, eu dou meu consentimento e concordo em para participar como voluntário desta pesquisa.

São Paulo, ______ de __________ 2012.

Nome do Participante: ________________________________________________

Assinatura: _________________________________________________________

Nome dos (as) Pesquisadores (as): Cristiane Ferreira Soares

Assinatura dos (as) Pesquisadores (as):

__________________________________________________________